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A forismo 1

O primeiro capítulo do livro que é um dos mais conhecidos, mais famosos, imponente diz o
seguinte:

“se o Tao que pode ser pronunciado não é o Tao eterno o nome que pode ser proferido não é
o nome eterno ao princípio do céu e da terra chamo de não ser a mãe dos seres individuais
chama o ser dirige-se para o não ser leva à contemplação da maravilhosa essência dirigir-se
para o ser leva à contemplação das limitações espaciais.”

Essa ideia de que o ser criador do universo não cabe num nome. Isso é bem recorrente porque
todo o nome é uma limitação. Qualquer coisa que eu diga de Deus estou colocando coisas fora
dele qualquer coisa que eu digo de deus eu estou gerando como se fosse um não deus e aí ele
fica dois, ele fica limitado pelo próprio nome e às vezes o fato de dar nome às coisas, Lao Tsé
fala que quando você dá nome às coisas você começa a excluir tudo que está fora daquele
nome e começa a gerar multiplicidade, dualidades e violência, algum tipo de exclusão que vai
gerar uma exclusão interna e vai gerar algum tipo de violência. Essa nomenclatura Tao a idéia
da tradição chinesa porque o nome é muito antigo é que o tao fosse um ser misterioso sem
nenhuma substância nem espiritual nem material que de dentro dele saísse um ser criador um
demiurgo e desse demiurgo saísse o espírito e a matéria que é a dualidade primordial.

Uma coisa que é importante você guardar em que vai ser muito útil o tempo todo é sequência
do 0 do 1 e do 2 de Pitágoras a chamada década pitagórica. Existe um 0 que foi representado
por muitas tradições. Para os egípcios era o caracol de Abydos. O 0 não representa um mero
símbolo para a contabilidade ou para a matemática, o 0 é a idéia de um ser que precede toda
manifestação e esse ser de dentro dele quando ele resolve manifestar o universo é como se
estivesse respirando ele expira e inspira. Quando ele expira ele manifesta o universo quando
ele inspira ele absorve tudo de novo para dentro de si. Ele é o primeiro ser. O vazio.

Uma sala, as quatro paredes dão o limite, mas vazio dentro dela que da utilidade, o vazio de
todas as coisas que dá utilidade de todas as coisas e o vazio é o mais verdadeiro. O homem
teme o vazio. Vazio é o 0, aquele que precede a manifestação.

Ele resolveu gerar as manifestações, vamos manifestar, vamos lá e eu criei um arquiteto


supremo um grande construtor um demiurgo, o 1. E esse 1 a partir de si mesmo se divide em
vai gerar o 2 que é o espírito e matéria e daí começa toda a história da multiplicidade, espírito
e matéria vão se combinando dentro de várias formas e geram toda a multiplicidade.

O tao é o vazio, o 0 onde todas as coisas se diluem onde tudo se encontrará novamente para
onde todas as coisas voltam e de onde tudo saiu as coisas saem do zero e no final voltam para
ele. Seria a manifestação total do universo um círculo completo de manifestação. Parece
abstrato mas vamos encontrar 1001 utilidades práticas para esse conselho, e ele vai dizer que
se não contemplamos isso nos tornamos materialistas, porque se você acredita que a
substância é real, vai querer possuí-la e se você vai querer possui-la vai ficar cheio de desejos e
se vai ficar cheio de desejos vai ser egoísta e a substância não é substância apenas material é
substância espiritual porque achar que somos especiais do ponto de vista espiritual gera uma
vaidade pior do que achar que somos especiais porque temos um carro novo, é mais difícil de
vencer. Então eu sou mais justo daqui eu não sou vaidosa não, mas a mais justa. Vocês não
percebem que isso é uma vaidade. E é uma vaidade mais difícil porque você pode comprovar
que seu carro é melhor do que o meu, não é muito difícil. Mas me comprovar que você é mais
justo do que eu, se eu não quiser ver eu não vou ver. É uma vaidade mais árdua de ser
derrubada. E também é uma sensação de posse também é separatividade, ou seja, vaidade
espiritual dizia Helena Blavatsky é mais complicada do que a física. Se você acha que a
substância existe você acha que ela pode ser sua e você vai se tornar egoísta. E se você vai se
tornar egoísta você vai tornar mundo um inferno e então acabou a história o resto a gente
conhece.

As presunções com as quais a gente trabalha sobre a vida determinam muito dos nossos atos e
a gente não sabe. Estão por trás das nossas motivações. Você já imaginou abrir os olhos na
cama de manhã e dizer o que eu vou fazer hoje? Vou possuir algo. Não tem nada para possuir.
Vou projetar o meu nome. Não tem nada para projetar eu não tenho um nome. O meu nome é
o grande nome já está projetado, já fizeram isso desde o início do universo por mim. Está
pronto o trabalho. Imaginem vocês ter uma motivação que não seja nenhum tipo de egoísmo,
nenhum tipo de vaidade. Provavelmente a gente não levantaria da cama. Estaríamos até agora
olhando para o teto pensando. E isso? Isso não. É vaidade. E isso? Isso não. É egoísmo. Isso?
Também é egoísmo.

Nós estamos tão viciados em acreditar na separatividade que a gente praticamente não
raciocina em outros termos. Mais cedo ou mais tarde caímos em algum tipo de egoísmo, em
algum tipo de agressão em algum tipo de violência. Essa raiz parece uma abstração inútil é
talvez o conhecimento mais útil de todos, pelo menos era assim que pensava Lao Tse.

Ele continua dizendo o princípio do céu da terra o zero chama de não ser a mãe de todos os
seres que é o um eu chamo de ser, mas mãe não era o uno não era o demiurgo? E se for una
esse for demiurga. Não tem feminino será? Não sei mas acabamos de inventar um.

Eles dizem que quando o universo se manifesta, o 1 é o espelho do zero é a contraparte do 0 e


o mundo manifestado, então é mais provável que ele seja feminino.

É uma substância que dentro dela têm espírito e matéria ainda não dividiu a grande mãe cujo
útero vai sair espírito e matéria, o grande demiurgo seria feminino pelo menos grande parte
da tradição universal fala disso, a primeira sombra do desconhecido, a primeira manifestação.
Então essa seria a raiz do ser. Se eu estou caminhando para uma coisa que é um mistério eu
preciso aprender a amar o mistério e não posso me apegar nem uma coisa nem outra.

Percebam que toda vez que na história a civilização negou a matéria somos só espiritualistas,
isso gerou a idade média. Não tudo que é material é pecaminoso = fanatismo. Caímos na idade
moderna e contemporânea negou espírito somos só materiais = fanático e dogmático.

Quando você nega uma das colunas o templo despenca você tem que ter duas colunas ou seja
o céu e a terra, o espírito e a matéria os dois são aspectos dessa grande mãe manifestada
nesse uno.

0 = sem substância nenhuma

1, o uno = o criador ou una

2 = espírito e matéria
Tudo é um jogo de formas no plano mais concreto ou no plano mais sutil tudo saiu desta
unidade primordial.

céu e terra, espírito e matéria = 2

o não ser = a mulher primordial é um o que é seu e terra é o

A partir do espírito e da matéria começa os seres limitados individuais que para ele é a grande
ilusão. Se a gente algum dia perceber que a separatividade é uma grande ilusão então nos
tornaremos fraternos. Enquanto a gente achar que você é um e eu sou o outro vou continuar
querendo que esse um tenha mais do que aquele um. A gente percebe que as divisões são
ilusórias, por que vou roubar de mim mesmo?

Poema de Cecília Meireles - Os cânticos

Tem uma passagem que diz:

“Sempre que dizes: ‘Isso é meu!’ Roubas-te a ti mesmo.”

Tudo é teu, porque selecionar um pedaço e quem é o meu nessa história? E quem é o meu?
Está roubando a quem? A si próprio. Você já é tudo. Então para Lao Tse essa percepção tem
que estar no final de todas as nossas buscas ainda que não a entendamos muito bem nesse
momento.

Estou trancada dentro da casa não gosto da luz do sol não quero nem saber da luz do sol eu
estou no escuro aí eu resolvo fazer as pazes com o sol. Abro as portas e as janelas só do fato de
eu resolver fazer as pazes com o sol a luz dele já me atinge onde eu estou embora a distância
não tenha mudado com a janela fechada ou a janela aberta. Só pela minha proposição de me
colocar em contato com ele.

E então eu me proponho conscientemente a me colocar em contato com o ideal de que não há


a separatividade eu já não tenho mais o mesmo direito egoísta que tinha antes porque o meu
objetivo é superar separatividade, ou seja, a luz do sol me atinge onde estou só pela minha
disposição de consciência está em contato com ela. Há uma distância enorme da gente
entender que o universo é um só. Sim, mas só o fato de você dizer eu vou descobrir, eu
entender isso, você já não é o mesmo. Abriu a janela foi isso o que você fez, portanto já tem
luz aqui dentro, embora a distância não tenha mudado. A distância matemática não tenha
mudado, mas a distância psicológica avançou uma enormidade. Há medidas e medidas no
universo.

A estrela de Davi representa esse casamento entre espírito e matéria. O pontinho no centro =
quando se descobre que espírito e matéria tem uma origem comum gira em torno de um
mesmo centro que é a unidade. O espírito e matéria nada mais são do que uma representação
no mundo dual de uma ideia que é a unidade e acima da unidade há o vazio. Isso é a
hierarquia de valores do Tao Te King.

... mistério dos mistérios é o portal por onde entram as maravilhas...

Tudo aquilo que a sua consciência imagina, qualquer coisa, você imaginou uma coisa separada,
imaginei o amor, imaginou um amor separado. A gente não consegue imaginar uma coisa sem
limites nossa mente ao criar uma imagem ela cria um limite.

Quando a gente se propõe a imaginar a primeira coisa que a gente gera é a separatividade e aí
qualquer coisa que você imagine é uma das maravilhas que vieram desse portal da unidade
quer seja no plano espiritual quer seja do plano material. Nossa mente tem muita dificuldade
de pensar em coisas sem linha. A gente precisaria desenvolver algo acima da mente. Um pouco
de intuição um pouco de visão direta das coisas mas em primeiro lugar vendo a nós mesmos
para depois praticar fora, em primeiro lugar achando-se dentro de si mesmo para depois
projetar isso fora.

Leonardo da Vinci – Mona Lisa - técnica sfumato – ela não tem linha, nada tem linha. As coisas
vão acentuando a cor depois vão difundido, mas as coisas são só uma concentração no espaço
infinito elas fazem parte deste espaço, mas não separadas do cenário no fundo.

É uma coisa desconcertante porque ela de fato não acaba em lugar nenhum. Nada nela acaba
o sfumato não tem linhas ela não era dividida do fundo.

Tudo que a gente pensa é dividido tudo que a gente pensa é fragmentado quer seja uma coisa
espiritual ou material é fragmentado e suas maravilhas que nós conhecemos.

A gente não pensa em nada que não seja dividido

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