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TRAUMAS DO CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO Fase do Batismo (séc.

XIX para XX): associada ao modelo do


1. Circunstância do nascimento do Contencioso: Revolução Estado Social. Jurisdicionalização do contencioso administrativo -
Francesa que é concedido como privilégio, destinado a defesa subordinação da Administração ao Direito. Afirmada pelo modelo do
dos poderes públicos e não a defesa dos direitos dos particulares. Estado Social: Administração prestadora - Estado providência novas
Surge pela via jurisprudencial da atuação do Conselho de Estado funções, tendo discricionariedade no quadro da sua atuação; levou ao
(TC de França). Após a Revolução Francesa, os tribunais comuns crescimento do aparelho administrativo; Estado de Administração -
ficam proibidos de perturbar a Administração Pública, ficando intervenção económica (influência do keynesianismo).
proibidos de julgar a Administração. Referem que estão a fazer A Administração tem a possibilidade de escolha quanto à forma de
uma separação de poderes, mas estão a fomentar a promiscuidade atuação mais adequada para reagir e tomar uma decisão de natureza
entre a Administração e a Justiça – a Administração autoanalisa- administrativa. Administração não diz o Direito nem o define, como
se, pervertendo a separação de podres. Portanto, o contencioso fim (isso cabe aos Tribunais), usa o Direito como meio para satisfazer
não era administrativo e havia uma justiça privativa para a as necessidades coletivas. O ato já não tem nada de definitivo (isso
Administração. Assistiu-se a uma confusão total, em que o órgão permanece dos traumas) e atribui bens aos cidadãos deixando de ser
decisor julgava os atos que tinha praticado. Basicamente, a executório e sem poder ser aplicado coativamente, sendo que há atos
Administração julgava-se a si mesma. Consequências: demora de realização coativa, como os da Polícia. Assiste-se a uma
até o Direito do Contencioso Administrativo ser uma realidade. desconcentração e descentralização dos poderes do Governo, não
Só no início do séc. XX, em Portugal em 1976 é que passa a ser podendo gerir a atuação da Administração.
uma realidade quando os Tribunais Administrativos passam a ter França: instituição que nasceu com o objetivo de proteger a
poder de ordenar e condenar a Administração administração do controlo dos tribunais, se ter transformado num
2. Circunstâncias em que foi afirmada a autonomia do Direito verdadeiro tribunal pela sua atuação (self-made court) – pela atuação
Administrativo: surge para justificar a necessidade de limitar a do Conselho de Estado. Em 1980: Conselho Constitucional Francês
responsabilidade da Administração perante uma criança de 5 anos reconhece que os Tribunais Administrativos são autónomos e
que foi atropelada por um pagão do Estado. Nega os direitos dos fundamentam essa concepção na lei da separação de poderes de 1789.
particulares. Surge como o Direito produzido pelo Contencioso Reino Unido: até ao séc. XIX não havia Direito Administrativo e a
privativo da Administração, salvaguardando os seus interesses Administração subordinava-se ao common law, sendo julgada pelos
(conceção autoritária). Sentença de Agnès Blanco, em 1873, Tribunais comuns. Com o Estado social surgem os Tribunais (≠
reconhece-se autonomia ao Direito Administrativo e a Courts) que são tribunais administrativos com poder de execução de
necessidade de se criar um ramo do Direito distinto do civil. decisões e de julgamento – promiscuidade da fase inicial tinha surgido
Torna-se necessário, criar uma legislação especial para proteção no Reino Unido, uma vez que estes são órgãos da Administração.
da Administração Pública, de forma a não estar sujeita à Surge depois uma Judicial Review – meio processual para apreciar atos
responsabilidade civil igual à dos particulares. Construção administrativos (anos 30 e 40). Por fim, um Administrative Court.
jurídica em que o particular não tem direitos perante a Alemanha: reconstrução pós-guerra do Estado de Direito deu origem
Administração, somente ao cumprimento da lei, o particular não à constitucionalização da Justiça Administrativa destinada à proteção
tinha direitos subjetivos perante a Administração. Consequência: plena e efetiva dos particulares.
Até 2004, fazia-se a distinção entre gestão pública e gestão
privada. Na opinião do VPS, tratava-se de uma esquizofrenia do Portugal: Só surge com a CRP 1976 – 268º/4 como o art. “mais-que-
contencioso da Responsabilidade Civil. Em 2004, consagrou-se o perfeito” porque tem mais do que deveria conter na CRP.
4º ETAF, na medida em que os tribunais administrativos são
competentes quando existir responsabilidade administrativa. Em Fase do “crisma ou da confirmação”: fase da tutela plena
2015, chega-se à conclusão que pelo 4º ETAF os tribunais administrativa, integral e efetiva dos direitos dos particulares face à
administrativos são sempre competentes. Menciona-se também a Administração. Representa a superação dos traumas do passado.
Lei 67/2007, da qual o Professor Marcelo Rebelo de Sousa, Estamos agora perante um contencioso subjetivista, de partes,
critica a lei, mas conforma-se. VPS afirma que ao referir “normas destinado a tutelar plena e efetivamente os direitos fundamentais, agora
e princípios do Direito Administrativo”, permite o controlo das o contencioso administrativo serve para proteger os particulares no
atuações de gestão privada, em virtude dos princípios presentes quadro das relações jurídicas administrativas. Ou seja, trata-se de uma
no CPA. fase de reafirmação da natureza jurisdicional do Contencioso e
aceitação da dimensão subjectiva com uma proteção plena e efetiva
EVOLUÇÃO DA JUSTIÇA ADMINISTRATIVA: dos direitos dos particulares (corresponde à fase do Estado Pós-social).
VPS: superação dos dois traumas. Podemos destacar dois períodos
Momento anterior ao Pecado Original: circunstância que tiveram desta última fase:
relevância, a separação de poderes (o Estado continua atrás da
Administração), medo da aristocracia, criação do Conselho do Rei e
- Fase da Constitucionalização [período das Constituições dos anos
Continuidade das Instituições. 70]: são as Constituições que vão introduzir a nova história do
Contencioso Administrativo, impondo um modelo constitucional
Fase do Pecado Original (séc. XVIII e XIX): apresenta que assenta na lógica da confirmação da natureza judicial do
configurações até chegar ao sistema de justiça delegada, modalidade processo, afirmando um contencioso destinado à tutela efetiva dos
que se impôs como paradigma do modelo do Estado Liberal. direitos dos particulares. A Alemanha foi o primeiro país europeu a
Promiscuidade do juiz-administrador, situação de justiça privativa para constitucionalizar um modelo de contencioso jurisdicionalizado e
a administração. VPS defende que há um privilégio de foro para a subjetivo, o que é compreensível, uma vez que a mesma tinha saído
Administração, concretizando uma confusão entre julgar e administrar. do pós-guerra, numa situação de eclipse do Estado de Direito, tendo
Tal é afirmado pelo novo modelo de Estado Liberal de Direito e por a administração pública sido usada enquanto instrumento totalitário
regimes autoritários, administração agressiva, realidade centralizada e de opressão dos cidadãos. Surge, então, na Alemanha o artigo
concentrada no Gov. Modelo do ato autoritário, definido perante os perfeito - 19º/4 da Lei Fundamental da República Federal da
particulares, executório e definitivo. Contradição dos revolucionários, Alemanha, que estabelece, uma lógica da tutela plena e efetiva dos
que não gostavam da administração e davam-lhe liberdade em tudo o controlos judiciais por parte da administração e da tutela plena e
que não fosse limitado pela lei, apenas se requeria a garantida da efetiva dos direitos dos particulares em face da Administração.
segurança e o primado da força física. Contudo VPS, a Administração Ainda hoje é um exemplo de um controlo integral da Administração
nunca pode ter liberdade, os seus poderes são os que a lei estabelece. e dos direitos dos particulares através do contencioso administrativo.
[1789 - 1799]: Promiscuidade Total, ou seja, não havia distinção Ainda que com problemas, é um modelo funcionalmente eficaz para
entre quem julgava e quem atuava; [1799 - 1872]: Justiça Reservada - todos os outros modelos. Esta constitucionalização da Justiça
Vigência do Conselho de Estado. Chefe de Estado tinha a última Administrativa implica a existência de meios processuais adequados
palavra ao homologar os pareceres do Conselho de Estado; [1872 – a essa mesma tutela.
1889]: Justiça Delegada - chefe de Estado delega no Conselho de - Fase da Europeização [decorrente desde os anos 80 até aos nossos
Estado os poderes de decisão. Para VPS, não é aqui que nascem os dias]: esta fase foi posta em causa pelo Brexit, uma vez que uma das
tribunais administrativos, uma vez que o Conselho de Estado ainda é consequências da europeização era a criação de um direito comum a
um órgão da Administração. Há transformações, mas ainda estamos no todos os Estados da União Europeia.Nos restantes países europeus,
sistema do administrador-juiz: nada muda na natureza do Conselho de com o surgimento do chamado Estado Pós-Social, forma-se um
Estado; vigora a teoria do “ministro-juiz”; meio processual para modelo de desenvolvimento assente na lógica keynesiana, que ao
controlar as decisões da Administração é o Recurso; Delegação de invés de trazer crescimento e desenvolvimento, trouxe estagnação e
Poderes. inflação, obrigando a repensar as políticas públicas e havendo uma
preocupação com a lógica da oferta e não só da procura. Assim, o

Estado assumiu uma dimensão judicial, deixando a Adm. de ser jurídicas subjetivas do interessado. Consagra-se o entendimento do
meramente prestadora passando a ser infraestrutural, criando Princípio da separação de poderes entre a Administração e os tribunais,
infraestruturas para os particulares das entidades públicas que o tipo e o grau de vinculação jurídica da atividade administrativa, o
desempenham funções administrativas de uma forma conjugada, conceito de interesse público (que engloba igualmente a consideração
através de instrumentos inseridos no quadro do exercício político e dos interesses privados em presença) ou as garantias fundamentais dos
administrativo. No quadro da realidade constitucional, as administrados. Atualmente, opta-se por um modelo subjetivista ainda
Constituições construíram ou tribunais novos modelos, mais que não puro, exemplificando o caso do contencioso de natureza
amplos, de controlo da administração pública, desligados do poder impugnatória (objetivo) não discute o direito do particular e não lhe
administrativo e com ênfase nos poderes do juiz. resolve o problema.
Em Portugal, consagra-se um sistema de justiça administrativa Modelos Organizativos: tendo em conta o órgão a quem é atribuída a
plenamente jurisidiconalizada em que os tribunais administrativos competência para decidir. Modelo Administrativista: é o modelo do
constituem uma jurisdição autónoma dentro do poder jurisdicional “administrador-juiz”, de “autotutela”, de “jurisdição reservada ou
(209º e 212º CRP). A função primordial dos tribunais consiste na conservada”, em que a decisão final dos litígios administrativos
defesa plena e efetiva dos direitos dos particulares (268º/4 e 5 CRP). compete aos órgãos superiores da Administração ativa. Modelo
Judicialista: a decisão das questões jurídicas administrativas cabe a
tribunais integrados numa ordem judicial, máxima segundo a qual
EUROPEIZAÇÃO DO CAT
“julgar a Administração é (ainda) verdadeiramente julgar”. Modelo
Nos últimos anos, a UE passou a ser a principal fonte de Direito Judicialista ou Quase-Judicialista: é o modelo de “jurisdição delegada
Administrativo, através da produção de normas que o vêm modificar e ou transferida”, em que a resolução dos litígios relativos à
uniformizar, introduzindo uma nova dimensão de superação dos Administração cabe a autoridades “judiciárias”, a órgãos
traumas que inicialmente marcaram o Direito Administrativo. administrativos que, embora independentes, são alheios à orgânica dos
Com o fenómeno da europeização, abandonou-se a estrutura tribunais judiciais.
estatocêntrica do Direito Administrativo e das suas garantias Modelos Mistos: Modelo Administrativista mitigado: a decisão final
processuais, procedendo-se a uma estrutura dual do movimento de sobre as questões contenciosas cabe a órgãos administrativos
europeização, através, por um lado, de mudanças ao nível das relações superiores (embora estes se designem por “tribunais administrativos”),
horizontais/ convergência, e, por outro, através de relações verticais/ embora implique um procedimento jurisdicionalizado que conta com a
integração. intervenção de órgãos administrativos independentes, a quem cabe dar
Ao nível das relações horizontais, podemos hoje testemunhar uma o seu parecer em ordem a temperar o arbítrio da atividade
maior comunicação de institutos e conceitos entre os diferentes administrativa e, desse modo, assegurar a garantia legal dos
sistemas nacionais. Quanto às relações verticais, podemos destacar a particulares; Modelo Judicialista mitigado: as decisões contenciosas
criação de um ius commune europeu. são dadas por verdadeiros tribunais judiciais, mas as sentenças por eles
Através da estrutura europeia, criou-se um sistema jurídico próprio ditadas não têm verdadeira força executiva ou esta encontra-se limitada
que se impõe a todos os Estados Membros e integra o Direito desses perante a Administração (esta sujeita a publicação por esta, ou
mesmos Estados Membros. Assim, criaram-se estruturas dependendo da boa vontade administrativa em executar).
administrativas a título europeu, do ponto de vista dos tribunais, do Os modelos administrativistas, puros ou mitigados, já não existem
direito legislado e da integração horizontal das fontes do Contencioso atualmente e a generalidade dos países adotou modelos organizativos
Administrativo. Judicialistas, tendo-se tornado inquestionável, com a emergência do
Relativamente aos Tribunais, a reforma portuguesa de 2004 está Estado de Direito social, a jurisdicionalização plena do Contencioso
fortemente associada a reformas europeias, em todos os países da UE. Administrativo.
Conforme refere o Professor Vasco Pereira da Silva, não houve
nenhum país europeu que não tenha levado a cabo uma reforma do
CRP E O PROCESSO ADMINISTRATIVO
CAT, alargando os poderes do juiz e estabelecendo a tutela cautelar.
Olhando para a CRP: O legislador português, quando trata do poder
Quanto à transformação da Administração, os atos administrativos,
judicial, estabelece a jurisdição administrativa como uma modalidade
hoje, já não são exclusivamente praticados por órgãos administrativos
de jurisdição e o juiz administrativo como qualquer outro juiz, com a
e podem ser praticados por entidades públicas ou privadas, bem como
integralidade de poderes em face da administração.
por particulares no exercício da função administrativa – atos que serão
apreciados pela jurisdição administrativa. Além disso, denota-se ainda, Até 1976: Estrutura do administrador-juiz. Os Tribunais
por influência europeia, um alargamento da legitimidade: dado que se Administrativos enquadravam-se numa lógica administrativa
notou uma transformação do modelo de relações jurídicas hierárquica, sendo um órgão integrado no Conselho de Ministros. Até
administrativas, existindo hoje relações multilaterais, todos aqueles 1977 não havia um processo jurisdicionalizado de execução de
que são afetados pelos atos têm legitimidade para recorrer à justiça sentenças, tratava-se de um Processo Administrativo Gracioso -
administrativa. Administração cumpria se quisesse. A expressão Processo
Administrativo era falsa, não havia um processo judicial.
Por fim, relativamente à integração horizontal, tal significa que os
atos administrativos de um EM sejam reconhecidos nos outros 1º Período CRP 1976 [1976 – 1986] : A CRP 1976 trouxe um novo
modelo jurídico-constitucional, jurisdição administrativa era uma
Existem diversas manifestações daquilo que hoje podemos chamar de
jurisdição facultativa. Em 1977 há reforma cirúrgica, estabelece-se o
verdadeiro “Processo Administrativo Europeu”, tais como o
Direito de Fundamentação, o deferimento tácito é mera ficção legal (e
reconhecimento pelo TJUE de um direito à tutela jurisdicional efetiva
não um ato administrativo). Por fim, estabelece-se processo de
nos casos de atividades administrativas internas contrárias ao DUE, um
execução das sentenças dos Tribunais Administrativos. Aqui surge
alargamento dos meios processuais à medida das necessidades de
verdadeiramente o CAT independente.
satisfação da integral aplicação do DUE e a disponibilidade de meios
processuais próprios de fonte europeia. Por fim, outro aspeto a reparar
é o reflexo desta europeização ao nível, por exemplo, do procedimento Revisão Constitucional 1982: Legislador cria uma referência à
pré-contratual urgente com a reforma de 2015, segundo a qual se dimensão subjetiva do processo. Com a alteração da legislação
procederam a relevantes alterações ao nível do âmbito objetivo de processual de 1984/85 (ETAF e LPTA), assiste-se a um alargamento do
aplicação deste meio processual (100º), a garantia do efeito suspensivo âmbito do contencioso administrativo e a uma intensificação da
automático da impugnação do ato de adjudicação (103º-A) e a proteção dos direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos
possibilidade de adoção de medidas provisórias (103º-B). (subjectivização do modelo de justiça administrativa). Manteve-se o
Ato Definitivo e Executório, mas acrescentou-se o Ato
Independentemente da sua Forma - alargou o conteúdo material do ato
MODELOS DE JUSTIÇA ADMINISTRATIVA
administrativo. Do ponto de vista PROCESSUAL, assiste-se a um
Conjunto institucional ordenado normativamente à resolução de aperfeiçoamento da tutela judicial dos cidadãos, que vêm a sua posição
questões de direito administrativo, nascidas de relações jurídico- ser mais equilibrada com a dos órgãos administrativos (o recurso é
administrativas externas, atribuídas à ordem judicial administrativa e a menos um “processo feito a um ato” e mais um “processo de partes”).
julgar segundo um processo administrativo específico. do ponto de vista FUNCIONAL, verifica-se uma intensificação dos
Modelos Objetivista/Subjetivista: Função do Contencioso: defesa da poderes do juiz administrativo no âmbito dos meios impugnatórios,
legalidade e do interesse público/tutela de direitos ou posições bem como uma ampliação da possibilidade de o juiz dirigir à
jurídicas individualizadas dos particulares. Objeto do Processo: versa Administração sentenças condenatórias, intimações e injunções,
sobre um ato ou sobre a legitimidade do exercício do poder decorrentes das novas ações e dos novos meios acessórios, contudo a
administrativo/processo que coloca a tónica na lesão das posições

jurisdição é limitada. VPS: mudanças pouco efetivas, ficou tudo funcionário ao serviço da Administração - quer tenha estatuto de
praticamente na mesma. funcionário ou estatuto de trabalhador privado.

Revisão Constitucional 1989: Acesso à justiça administrativa como [73º CPTA]


direito fundamental dos administrados a uma proteção jurisdicional
efetiva (substancial e procedimental). Institui-se a jurisdição Relacionado com a Impugnação de Normas Regulamentares, criação
administrativa como jurisdição obrigatória. Contudo, só se iniciou em de mecanismos processuais para controlar a validade dos regulamentos
1986: deixa-se cair o ato executório; fala-se em relação jurídica e proteger os direitos dos indivíduos, por eles afetados, é o corolário
administrativa; surge conceito de Partes. No plano SUBSTANCIAL, a necessário da proliferação de normas jurídicas emanadas de órgãos
jurisdição administrativa é considerada a jurisdição especializada nas administrativos. Regulamento = todas as disposições unilaterais que
questões jurídico-administrativas. No plano PROCESSUAL, reforça- sejam só gerais, ou só abstratas, para além das que possuam ambas as
se um Princípio de favorecimento do processo, admitindo-se, entre características. Critica-se legislador do CPA por ter estreitado o
outras medidas, as providências cautelares não especificadas. No plano regulamento ao dizer de forma expressa que regulamentos são gerais e
FUNCIONAL, a jurisdição administrativa deixa de poder ser abstratos porque em relação de realidade programáticas, a maior parte
considerada uma jurisdição diminuída em face da jurisdição dos outros das normas de qualificação tem uma destas caraterísticas não tem as
tribunais, os juízes passam a poder controlar o uso de poderes duas.
discricionários em função de um conjunto de princípios jurídicos Declaração da ilegalidade de normas regulamentares SEM força
fundamentais. VPS: Tribunais Administrativos comportam-se como se obrigatória geral. No 73º/2 – o autor invoca a inconstitucionalidade
nada tivesse mudado. Como é o caso do Recurso Hierárquico da norma impugnada e os tribunais declaram que a norma é ilegal, com
Obrigatório - era obrigatório para o particular ir a Tribunal; efeitos circunscritos à situação do interessado, subtraindo-o ao seu
âmbito de aplicação. VPS: não faz sentido que um processo destinado
a apreciar a legalidade de um regulamento, a título principal, tenha
Revisão Constitucional de 1997: avança-se no sentido da plena como resultado, verificada a existência dessa invalidade, uma
jurisdição administrativa, desde logo consagrando-se expressamente o declaração de ilegalidade de uma norma geral e/ou abstrata, mas que só
Princípio da Tutela Jurisdicional Efetiva dos direitos e interesses vale para aquele caso concreto. O conceito de “caso concreto” não é
legalmente protegidos dos cidadãos. 268º/4 e 5 da CRP - VPS: claro – se for um ator popular a defender a legalidade sem possuir
Revolução Coperniciana no CAT - tudo passa a girar em torno dos interesse direto na demanda, a lei equipara-o ao particular para efeito
direitos dos particulares. Criam-se ações e meios processuais de aplicação deste regime.
semelhantes aos do Processo Civil. Evolui-se num sentido de
aperfeiçoamento das garantias das posições jurídicas substantivas dos A declaração concreta da legalidade (geral e/ou abstrata) é
cidadãos. Neste sentido, abandona-se a ideia do recurso contra atos inconstitucional também por violação de bens e valores constitucionais
como contencioso-regra; possibilita-se ao juiz condenar a de natureza objetiva – nomeadamente os princípios, da legalidade, ao
Administração na prática de Atos Administrativos devidos; consagra-se admitir que a sentença de um tribunal possa declarar a ilegalidade de
uma proteção cautelar adequada; VPS: grande novidade é que uma norma jurídica, mas simultaneamente, deixá-la subsistir na ordem
particular já não vai meramente anular atos da Administração. Pede a jurídica, sem que isso resulte, da ponderação da igualdade (ao criar
condenação da Administração e obriga a fazer o que devia ter sido feito desigualdades inadmissíveis decorrentes da manutenção em aplicação
- faz valer os seus direitos. As sentenças deixam de ser meramente de de uma lei declarada ilegal). Afeta o Estado de Direito – já que permite
anulação: à anulação soma-se a condenação o Particular pede a a subsistência da ilegalidade, apesar dela ter sido declarada pela
satisfação do seu interesse e reconstituição da sua situação. sentença, pondo em causa os princípios da unidade e da coerência,
assim como da certeza e da segurança do ordenamento jurídico.

Reforma 2002/2004: Pontapé inicial para o processo de revisão do


CPTA, começou logo a discutir-se em 2000. Reforma surge em 2002 - MEIOS PROCESSUAIS E DISPOSIÇÕES FUNDAMENTAIS
após 2 anos da aprovação, a reforma entra em vigor em 2004, surgem 2 1º CPTA: o princípio segundo o qual as leis que regulam o
diplomas: o ETAF (4º alarga o âmbito do CAT a todas as relações contencioso administrativo não pretendem ser exaustivas.
Administrativas, mas o resto ainda tinha lógica do passado), CPTA 2º CPTA: desde 1997 que se concebe o CAT para tutelar os
respeitava a CRP e é parecido ao atual, o essencial mantém-se desde particulares. Garantia constitucional de acesso à Justiça
2004, onde ocorre uma mudança radical. O ETAF, estabelece que tudo Administrativa, os diferentes meios processuais que “giram” à volta do
o que corresponda a qualquer forma de atuação administrativa é princípio da tutela plena e efetiva dos direitos dos particulares. Trata-se
possível de ser tutelado na jurisdição administrativa. VPS: surge de um princípio idêntico ao do Processo Civil -– o princípio de que a
realidade esquizofrénica em que não havia diferença entre Ação CADA DIREITO DO PARTICULAR CORRESPONDE UM MEIO
Especial (ato e regulamento) e Ação Comum (outros). Isto é um PROCESSUAL ADEQUADO PARA O TUTELAR. Concretiza o
disparate porque a diferença era substancial e não processual; há aqui 268º/4 CRP.
uma confusão entre o critério substancial e o critério processual, a 3º CPTA: Princípio da Plena Jurisdição dos Tribunais
Ação Comum nunca era preenchida. Introduziu também, Providências Administrativos - pressupõe e ao mesmo tempo implica que aos
Cautelares, aberta e inominadas, contra o anterior princípio de numerus Tribunais Administrativos seja reconhecido o poder de emitir todo o
clausus, lógica de alargamento da justiça cautelar. Processo Urgente, tipo de pronúncias contra a Administração. 3º/2 CPTA: Numa lógica de
diferente das providências cautelares, pois aqui decide-se o fundo da controlo do poder discricionário tem que se coordenar o 3º com os 66º
causa. Contencioso a partir de 2004 é um contencioso pleno e em que e ss. – Tribunal pode dar indicações sobre o modo concreto de exercer
havia a possibilidade de serem tutelados todos os direitos. o poder discricionário, i.e., controlar a discricionariedade. VPS: sim,
mas o 71º permite ao juiz fazer mais do que isso – permite balizar as
Reforminha 2015: surge na sequência da revisão do CPA e não há opções do caso concreto, o juiz controla o poder discricionário, não
alterações de fundo, somente sendo alteradas algumas formulações. havendo liberdade na Administração. Sanções Compulsórias: tem
Houve uma valorização das Providências Cautelares: em todos os origem no Direito Francês, no seio do Contencioso Administrativo,
casos estabelecem-se regras para o juiz as decidir. 4º ETAF ultrapassou existindo agora no Direito Processual Civil Executivo. No âmbito
as visões clássicas do CAT, o legislador adotou todos os critérios para administrativo não se limita ao processo Executivo, existe logo no
introduzir na jurisdição administrativa tudo o que são relações de processo Declarativo e o juiz pode dizer qual o momento em que a
natureza administrativa, no quadro da função administrativa, veio Administração tem de cumprir, controlando o mérito, obrigando a
conciliar o universo do contencioso com o universo do direito Administração a cumprir ordens em certo prazo. 3º/3 CPTA: ideia de
administrativo, que era uma realidade que até aí estava desencontrada. urgência que tem a ver com controlo do mérito - determina-se o
Encontramos uma lista neste artigo, bastante abrangente: Critério dos momento da decisão. 3º/4 CPTA: o que está em causa não é Tribunais
Direitos – engloba tudo o que respeita a tutela de Direitos, há critérios Administrativos praticarem atos administrativos, é admitir sentença
ampliativos e tudo pode estar no âmbito do CAT. Lista muito ampla, ou que torne desnecessário o ato administrativo.
seja, realidades de Direito Administrativo especial são matérias de 4º CPTA: Princípio da Livre Cumulabilidade de Pedidos, tendo que
CAT, foi acentuado em 2015 pois as contraordenações agora aqui existir uma certa relação de conexão que justifique a cumulação. Deixa
também cabem, tipicamente são matéria de CAT, pelo que as de ser através de processos autónomos e separados, que eram feitos
contraordenações destas realidades deviam estar nos Tribunais sequencialmente. É possível cumular pedidos de várias atuações
Administrativos. VPS: situação do nº3 e 4 se excluírem relações administrativas e em relação a qualquer forma de atuação, para
laborais públicas. Materialmente elas são Direito Administrativo, uma determinar a integralidade da relação jurídica e permitir que ela seja
vez que tem a ver com as relações do Estado-empregador público o levada a juízo (PRINCÍPIO DA CONCENTRAÇÃO). Cumula-se por
razões de Autotutela da Administração leva a que particular se encontre

perante ato que já produziu efeitos. Ou seja, a Administração agiu e ato suscitadas pelas partes, não podendo deixar nenhuma de lado e
já foi executado, pelo que a mera impugnação ou anulação do ato já respondendo a todas até ao fim. Tribunal deve decidir todas a questões
não serve de nada, tendo de haver uma reparação dos prejuízos que as partes tenham submetido à sua apreciação e não pode ocupar-se
decorrentes do ato que já produziu efeitos. VPS: cumulação de pedidos senão das questões suscitadas, assim a causa de pedir deve ser
leva a que haja só uma ação, sendo isso o mais adequado. determinada em razão das pretensões dos sujeitos.
6º CPTA: O tribunal deve assim, na prossecução deste objetivo, 95º/1, 1ª parte - tem a dimensão acusatória. Particular alega todas as
atuar com imparcialidade, auxiliando e informando do mesmo modo questões que foram suscitadas, introduzindo lógica nova de que o CAT
qualquer uma das partes, em ordem a garantir a sua igualdade no não deve ser um contencioso de meras formalidades.
processo. 95º/1, 2ª parte - tem a dimensão inquisitória. Isto resolve trauma do
7º CPTA: VPS: necessidade desde artigo surge na sequência de, até CAT – incongruência entre o que se defendia e o que se praticava.
2004, os Tribunais Administrativos serem “juízos de formalidades” - Doutrina subjetivista – objeto do processo tem de ter em conta uma
atendia-se muito a vícios formais. Preceito promove o julgamento do conexão de ilegalidade com um direito subjetivo, que obrigava a
mérito das causas, fundado no princípio do in dúbio pro actione - analisar a ilegalidade não em abstrato, mas em função do direito que o
impõe ao juiz o dever de, em caso de dúvida, interpretar as normas particular levava a juízo.
processuais num sentido que favoreça a emissão de pronúncia sobre o 95º/3, 1ª parte - norma tem como objetivo que julgador aprecia a
mérito das pretensões formuladas. Solução que consagra que o CAT integralidade dos direitos alegados pelo particular, evitando-se que o
deve ser dirigido para uma justiça material e não uma justiça formal. juiz conheça apenas da primeira ilegalidade apreciada, a pretexto que
7º-A CPTA: Juiz recebe o objeto do processo tal como ele é isso, só por si, bastaria para inquinar a validade da atuação
configurado pelas partes. Isso não obsta a que ele tome todas as administrativa.
medidas de gestão processual para que o processo seja célere. 95º/3, 2ª parte - VPS: juiz não pode trazer factos novos, pois não é
8º CPTA: 8º/3 CPTA impõe-se à Administração o dever de remeter o uma parte – juiz identifica causas de invalidade distintas das alegadas,
processo ao tribunal e de lhe dar conhecimento das superveniências tendo sempre como limite os factos trazidos a juízo e o modo como
resultantes da sua atuação. Vem de uma discussão já desde a reforma foram trazidos pelas partes. Não se introduz factos novos e apenas se
de 1985, a administração não tinha o dever de contestar e remetia, sim, identifica/individualiza ilegalidades distintas das referenciadas pelo
o processo ao juiz – sendo isso um sucedâneo do ónus de impugnação. autor, desde que elas resultem das alegações das partes que
Mas, o ónus de impugnação existe sem ser sucedâneo e corresponde a introduziram os factos em juízo. Há 2 sentidos possíveis para este
um dever de contestar. VPS: ónus de contestar existe sempre e é uma preceito: 1. Juiz pode qualificar de forma diferente os factos alegados
decorrência do processo de partes. 8º/4 CPTA: já não se tem só em pelas partes, de acordo com o iure novit curia (valoração da causa de
conta o que acontece até à Ação. A Administração tem que comunicar pedir); 2. Juiz deve conhecer integralmente o que as partes levaram a
todos os atos que eventualmente pratique em relação àquela relação juízo (deve conhecer integralmente as ilegalidades da atuação
jurídica. O Juiz não se limita ao conhecimento dos factos tal como eles administrativa que está em causa (alarga os poderes do juiz)).
existiam no momento da sua apresentação, conhecendo integralmente MAA: juiz pode carrear factos novos para o processo (mas tem
o objeto. mudado a perspetiva ao dizer que é dentro do alegado pelas partes –
VPS: então não são novos). Isto não significa, contudo, como já se
OBJETO [PEDIDO + CAUSA DE PEDIR] referiu, que o juiz não tenha visto ampliados os seus poderes de
conhecimento do objeto do processo, sempre no limite dos direitos
Trata-se de assegurar a ligação entre a relação jurídica material e a
invocados pelas partes, ao ser-lhe permitido aceder direta e plenamente
relação jurídica processual, determinando quais os aspetos da relação
ao pedido e à causa de pedir alegados, sem a “mediação” objetivista e
jurídica substantiva, existente entre as partes, que foram trazidos a
limitadora dos vícios, e sem ter mesmo de se confinar apenas ao ato
juízo, questões jurídicas que os tribunais foram chamados a
administrativo impugnado.
pronunciar-se. Duas teorias:
- Substancialista: o que releva é o modo como a parte qualifica VPS: 95º/3 não é nenhuma exceção à regra do nº1. É uma
particularização dessa regra para os processos impugnatórios, tendo em
juridicamente aquilo que leva a juízo, o Pedido.
conta que os processos são de plena jurisdição. É a superação dos
- Processualista: o que releva são os factos levados a juízo, traumas: passagem da perspetiva do “processo ao ato” para a do
independentemente das qualificações jurídicas, a Causa de Pedir. “processo de partes”, que justifica a necessidade de uma norma
Uma noção adequada do objeto do processo deve proceder a uma especial para os processos impugnatórios, de forma a deixar claro que
ligação do pedido e da causa de pedir, considerando-os como dois o objeto do processo se alargou à proteção plena e efetiva das
aspetos do direito substantivo invocado. MAA: O objeto do processo pretensões dos sujeitos, deixando de estar limitado por
define-se por referência à pretensão formulada pelo autor - identificada condicionamentos objetivistas de alegação da causa de pedir, como era
pelo pedido e pela causa de pedir que por ele foram deduzidos. Antes o da doutrina dos “vícios do ato administrativo”. A possibilidade de
havia uma perspetiva dualista, consoante fosse contencioso de contraditório, em 10 dias, é mais um argumento que confirma a regra
anulação ou contencioso de ações, com a Reforma do CAT, deixou de do 95º/1, não só consagrando a regra geral de que o objeto do processo
ser assim. é delimitado em razão do princípio do contraditório como também se
estabelece que quando o juiz, no uso dos respetivos poderes, pretenda
Pedido: Enunciação da forma de tutela jurisdicional pretendida pelo “ir mais além” do que as partes direta e expressamente alegaram (mas
autor e do conteúdo e objeto do direito a tutelar. Pedido Imediato: sempre no âmbito do objeto, por elas delimitado), as deve ouvir sobre
efeito pretendido pelo autor (aquilo que o particular solicita ao juiz); isso – o que constitui uma exigência acrescida de respeito pelo
Pedido Mediato: direito que esse efeito visa tutelar (Direito que o contraditório.
particular faz valer nesse processo). Atualmente, temos de considerar o
pedido tanto na sua vertente imediata como na sua vertente mediata, AÇÃO ADMINISTRATIVA COMUM E ESPECIAL
tanto no que respeita aos efeitos pretendidos pelas partes como às Ação administrativa tutela alguns dos mais importantes direitos
posições jurídicas subjetivas que tais efeitos visam proteger - 2º/2 subjetivos das relações administrativas. Tem um vasto âmbito de
CPTA. aplicação e permite a formulação de uma grande variedade de pedidos,
O CAT hoje significa que todos os direitos das relações correspondendo a uma grande diversidade de efeitos das sentenças.
administrativas (e fiscais) são suscetíveis de proteção jurídica e que, Contudo, a circunstância de haver uma única forma de processo não
para a respetiva tutela, podem ser formulados todos os pedidos, de significa uma unificação total dos processos administrativo, nem
acordo com as formas processuais adequadas. mesmo ao nível da respetiva tramitação.
Com a revisão de 2015 todos os processos passam a ser submetidos a
Causa de Pedir: Doutrina Clássica: que relevava para a determinação uma única forma de processo: Ação Administrativa (37º). Mesmo após
da causa de pedir eram as alegações do autor referentes ao ato 2015 continuou a distinguir-se as pretensões relativas a atos
administrativo, nomeadamente a saber qual o tipo de invalidade que o administrativos e a regulamentos, havendo pressupostos processuais
ato enferma e qual a forma dessa invalidade. A causa de pedir, no específicos e um regime próprio que não se aplica aos demais tipos de
âmbito de um sistema em que todos os meios processuais são de plena pretensões. Integração numa única forma de processo de uma série de
jurisdição, deve ser sempre entendida, não em termos absolutos ou pedidos: através da ação administrativa pode pedir-se uma série de
abstratos, mas de forma conexa com as pretensões formuladas pelas situações. Escapa apenas à ação administrativa os regimes de urgência:
partes, podendo corresponder a direitos subjetivos dos particulares. O 5 formas (97º e ss.).
95º define em termos adequados o que é o objeto do processo quanto à Ação Administrativa é a irmã da Ação Declarativa Comum do CPC,
causa de pedir. VPS: juiz deve decidir todas as questões que foram hoje também sujeita a uma forma comum, na qual convivem alguns

processos especiais. Desde 2015 que no CAT se passa o mesmo: há quando se entende ter havido receção do duplicado do requerimento.).
uma forma processual única onde entram todos os pedidos. Esta Ação Entende-se que opera com a citação no processo cautelar (117º).
Administrativa única veio substituir uma dualidade/dicotomia: opunha Durante este período, a entidade não pode iniciar ou prosseguir a
Ação Administrativa Especial à Ação Administrativa Comum, havia execução do ato e aqueles que eventualmente pratique podem ser
dificuldade em conciliar um pedido de impugnação de um ato e um declarados ineficazes pelo tribunal. Opera extrajudicialmente, sem
pedido de indemnização na sequência dessa impugnação. estar dependente da decisão do juiz (ao contrário do 131º). Em comum
Em 2015 esta dicotomia é extinta - estabelece-se um modelo único com o 131º tem a intenção de evitar o periculum in mora do processo
de tramitação, verifica-se uma unificação das formas do processo cautelar.
declarativo não-urgentes nos 35º e 37º e ss. VPS: art. criticável. Não faz qualquer sentido no quadro de um
Unificação da Ação Administrativa Comum e a Ação Administrativa processo administrativo. Só quem poderia suspender seria o juiz, não a
Especial não significa que tenha havido uma homogeneização das Administração (que é o réu). Equivale a dizer que a pessoa pode ser
anteriores ações, a dois níveis: 1. Meios Processuais: apesar da presa preventivamente consoante a sua vontade. É o réu que decide que
unificação, o legislador não podia ter deixado de continuado a regular o efeito automático dessa decisão depende da sua vontade. Em
de forma mais específica aquilo que são as pretensões típicas do CAT, Portugal, na suspensão da eficácia há um pré-processo e só depois é
há regras particulares e mais densificadas em relação a pressupostos que se discute os interesses das partes. Mecanismo não faz sentido. Só
processuais das formas típicas da administração, significando que, se aplica à suspensão de eficácia, portanto não se deve pedir a
embora existir uma única forma de processo (ação administrativa), suspensão de eficácia e sim todos os outros.
consegue-se identificar no CPTA diferentes meios processuais
(diferentes blocos de meios processuais com pressupostos processuais
específicos). 2. Forma de Processo/Marcha do Processo/Tramitação do [57º CPTA] CONTRAINTERESSADOS
Processo: não há unificação total, nos 78º e ss. CPTA estipulação como Para que a procedência da ação possa produzir o seu efeito útil
começa e como acaba uma ação administrativa. Divide-se em 5 fases: normal, é necessário que ela se projete na esfera jurídica de ambas as
Fase de Articulados; Fase de Saneamento e Condensação; Fase de partes no contrato, pelo que ambas têm de ser demandadas nesta ação,
Instrução; Fase da Audiência Final e Discussão; Fase de Julgamento e em regime de litisconsórcio necessário passivo.
Decisão. Fases correspondem ao protótipo da ação declarativa do DPC, Estatuto dos Contrainteressados: tanto nos processos de
mas, não se pode dizer que este modelo é uma cópia do modelo do impugnação de atos administrativos (57º), como nos processos de
DPC. É em grande medida uma cópia, mas, há algumas especialidades: condenação à prática de atos administrativos (68º/2), para além da
conservação de especialidades da Ação Administrativa Especial - entidade que praticou ou se pretende que pratique o ato em causa,
síntese que faz a autonomia e especificidade da ação administrativa também devem ser demandados os titulares de interesses contrapostos
como forma processual. aos do autor. Há particulares que têm interesses idênticos aos da Adm.,
devido à atuação jurídica visar multilateralmente vários sujeitos.
[38º CPTA] ATO ADMINISTRATIVO IMPUGNÁVEL Domínios em que a ação é proposta contra a entidade que praticou ou
VPS: a inimpugnabilidade é um simples efeito processual que que omitiu/recusou o ato, mas, em que há sujeitos privados envolvidos
decorre de ter passado o prazo de impugnação (prazo curto para a no litígio, na medida em que os seus interesses coincidem com os da
impugnação de actos administrativos). Deixando passar esse prazo, o Administração ou, pelo menos, podem ser diretamente afetados na sua
ato torna-se inimpugnável. Alguma doutrina defende que implica que o consistência jurídica com a procedência da ação.
caso decidido sanava as invalidades do ato administrativo. Relações jurídicas relacionadas com o exercício de poderes da
Contrariamente, VPS: um ato que é ilegal não se transforma em legal a Administração são complexas no plano subjetivo, apresentando-se com
menos que se corrija essa invalidade, a menos que haja um ato uma estrutura poligonal ou multipolar, que envolve um conjunto mais
expresso de sanação do acto administrativo (um acto que era inválido, ou menos alargado de pessoas cujos interesses são afetados pela
continua a ser inválido). O TC não pode falar de convalidação porque o conduta da Administração.
acto é ilegal e continua a ser ilegal, o que não pode é ser usado o meio Muitas vezes há um interessado que pretende a anulação de um ato
processual de impugnação contra o acto, porque já passou o prazo, mas administrativo que considera ilegal ou a prática de um ato que
o acto continua a ser ilegal para todos os efeitos. E, portanto, particular considera devido. Também existem interessados que, enquanto
pode pedir ao Tribunal que aprecie, incidentalmente, a legalidade do beneficiários do ato ilegal ou podendo ser afetados pelo ato devido tem
acto para obter outro efeito jurídico. interesse em que ele não seja anulado e se mantenha na ordem jurídica
O preceito refere, "nos casos em que a lei substantiva o admita, ou que não seja praticado e tudo se mantenha como está.
designadamente no domínio da responsabilidade civil": não é taxativo A discussão é se a Administração agiu de modo ilegal, não podendo o
(a responsabilidade civil é um exemplo porque é sempre possível pedir, processo ser definido por referência às situações subjetivas dos
mesmo quando não se impugnou o acto anulável). Vem-se dizer que o Contrainteressados. Mas essa circunstância não retira aos
tribunal pode proceder a conhecer, a título incidental, da ilegalidade de Contrainteressados a sua qualidade de verdadeiras partes no litígio,
acto administrativo que já não possa ser impugnado. Assim, é possível para o efeito de se verem demandados em juízo (10º/1, parte final, 57,
o tribunal conhecer, a título incidental, da ilegalidade. 68º/2). O 57º e 68º/2 densificam o conceito de Contrainteressados,
VPS defende que nada proíbe que a Administração pratique um acto objetivando a operação de delimitação do universo dos titulares de
de conteúdo contrário e que o particular peça ao tribunal a condenação interesses contrapostos do autor que podem ser demandados no
da Administração na prática do acto de conteúdo contrário – não pode processo, atendendo às consequências gravosas que resultam da sua
é ser praticado pelo mesmo órgão que praticou aquele acto de conteúdo falta de citação. Segundo o VPS, agora tomou-se a decisão correta de
inimpugnável. Portanto, nº 2 tem de ser interpretado de uma forma assumir este contrainteressado como parte no processo, se ele é parte
restritiva. O que se pretende é que não pode usar o meio “acção de que intervém no processo, ela tem de ser citada. Devia ter-se instituído
impugnação”, que deixa de ser possível ao fim de um ano, que é o como litisconsórcio necessário.
prazo máximo. Mas, se não pode haver o uso da acção de impugnação, Expressão Contrainteressados é infeliz, marcada pelos traumas. Mais
pode haver o uso da acção administrativa para condenar a não são que sujeitos principais da relação jurídica multilateral,
Administração a praticar o acto de conteúdo contrário. enquanto titulares de posições jurídicas de vantagem conexas com as
Não se deve dizer que, um acto com um ano e um dia é exatamente da Administração, intervindo nesses termos no processo
igual ao acto com um ano. Tem um ano e um dia: o particular já não administrativo. Os contrainteressados são verdadeiros sujeitos de
pode impugnar contenciosamente. Mas o acto é o mesmo, a ilegalidade relações jurídicas administrativas multilaterais, há uma “rede” de
continua e, portanto, este acto pode ser apreciado pela ordem jurídica, ligações jurídicas entre múltiplos sujeitos, uns do lado ativo, outros do
quer a título incidental, quer até para obter um acto de conteúdo lado passivo, que são titulares de posições de vantagem juridicamente
contrário. É uma apreciação que é incidental e que não vai ser sobre o protegidas, pelo que deve gozar dos correspondentes poderes
acto; vai ser sobre o dever de afastar o acto, vai ser sobre o dever que processuais.
foi incumprido pela Administração na prática daquele acto. O novo paradigma das relações administrativas multilaterais no
Direito Administrativo implica a revalorização da posição dos
“impropriamente chamados terceiros” no Contencioso Administrativo,
[ 1 2 8 º C P TA ] P R O I B I Ç Ã O D E E X E C U TA R O AT O como sujeitos principais dotados de legitimidade ativa e passiva.
ADMINISTRATIVO
Foi mantido intocado na revisão de 2015, renunciando-se à resolução IMPUGNAÇÕES ADMINISTRATIVAS NECESSÁRIAS
de diversos problemas e insuficiências de aplicação que o artigo
colocava e que poderiam ter sido resolvidos (ex: questão de saber O CPTA não tem o alcance de afastar as múltiplas determinações
legais avulsas que instituem impugnações administrativas necessárias.

Na ausência de determinação legal expressa em sentido contrário, os IMTIMAÇÕES


atos administrativos com eficácia externa são imediatamente Trata-se de um Tutela Urgente, Aproxima-se da Tutela Cautelar por
impugnáveis perante os tribunais administrativos sem a necessidade da serem processos concebidos para dar respostas rápidas e céleres aos
prévia utilização de qualquer via de impugnação administrativa. Só processos. Afasta-se, pois os Processos Urgentes decidem o fundo da
estão sujeitas a impugnação administrativa necessária, nos casos em causa e os Cautelares apenas previnem. VPS: foi uma boa ideia a
que isso seja expressamente previsto na lei. Resultado de uma opção introdução desta distinção. Intimação para prestação de
consciente e deliberada do legislador, quando este a considere Informações (104º a 108º): visa dar resposta célere às questões que
justificada. A lei especial pode adicionar um requisito adicional que possam surgir no domínio do exercício dos direitos dos cidadãos à
vem acrescer aos demais, decorrentes da lei geral, do qual depende a informação e de acesso aos documentos administrativos (268º/1 CRP,
impugnabilidade jurisdicional do ato. 82º a 85º CPA). VPS: nasceu em 1985 e funcionou muito bem – nasceu
Esse requisito da prévia utilização de uma impugnação para se obter documentos, mas a jurisprudência alargou o conteúdo da
administrativa necessária é tradicionalmente apresentado como um dos lei.
componentes nos quais se pode desdobrar o pressuposto processual da Intimação para Proteção de Direitos, Liberdades e Garantias
impugnabilidade (contenciosa) do ato administrativo, justificando-se a (109º a 111º): resulta e concretiza o 20º/5 CRP, mas é uma forma de
sua autonomização. Nos casos em que ela é legalmente prevista, a processo de âmbito mais alargado e que pode ser utilizado em todo o
prévia utilização da impugnação administrativa necessária é instituída tipo de defesa dos DLG e não só os pessoais (referidos pelo 20º/5
como um pressuposto processual atípico ou adicional em relação ao da CRP). Inclui os direitos de natureza análogo ex vi 17º CRP. VPS: tem
impugnabilidade do ato – é questão de natureza adjetiva. sido pouco utilizado e mais em casos políticos para criar movimento da
Se não recorrer à impugnação administrativa necessária, o ato em si opinião pública. Origem no contencioso francês – compensação do
mesmo não muda de natureza, nem a própria posição material do manter o recurso de anulação, mas havia esta válvula de escape para o
interessado em relação ao ato. O problema é exclusivamente de juiz condenar a Administração. Está em causa a possibilidade de reagir
interesse em aceder à Justiça, de forma a não sobrecarregar os contra situações que aconteçam no momento e que sem essa reação
Tribunais Administrativos com ações desnecessárias. Uma vez não havia outra possibilidade de reagir, uma espécie de habeas corpus
intentada a impugnação administrativa necessária, a via de reação no Contencioso Administrativo. Em último ratio do sistema faz sentido
contenciosa a seguir no caso de ela não surtir efeito é a mesma que - para as situações que não tenham outra tutela.
teria sido utilizada logo desde o início, se a lei não impusesse o ónus Há vários problemas quanto a este mecanismo: Âmbito de Aplicação,
da prévia impugnação administrativa. VPS o facto haver previsão genérica não significa que a intimação
VPS discorda: não faz sentido que o recurso hierárquico possa tenha de a seguir à risca e pode haver um alargamento. Este é um
continuar a ser exigido como condição prévia de impugnação, mesmo instrumento (dirigido tanto à Administração como a Particulares) que
quando já não pode mais continuar a ser considerado uma condição de se define pelo conteúdo impositivo da tutela jurisdicional a que se
impugnação ou pressuposto processual. As normas especiais dirige, cobrindo de modo transversal todo o universo das relações
limitavam-se a reiterar a regra geral, portanto a revogação desta tem jurídico- administrativas. Se o juiz considerar que o risco da lesão está
implícita a revogação de todas as outras (admitindo que sim, só vale iminente e é irreversível de um DLG, mas entende que não se encontra
para o futuro – e mesmo essas seriam inconstitucionais); o afastamento preenchido um pressuposto que depende a utilização dessa via
da regra geral implica o afastamento de todas as normas avulsas que principal, então deve proceder o mais depressa possível ao
são a confirmação da regra geral. decretamento provisório da providência cautelar adequada, convidando
Se já não é mais um pressuposto processual de impugnação de atos o interessado a apresentar o requerimento cautelar necessário - 110º-A/
administrativos, então a exigência de recurso hierárquico em normas 1.
avulsas deixa de ter consequências contenciosas pelo que essas normas Dirigem-se à emissão de uma imposição – pronúncia de condenação
caducam, pelo desaparecimento das circunstâncias de direito que as que, com caráter de urgência, é proferida no âmbito de um processo de
justificavam - falta o objeto; Devem revogar-se expressamente todas as cognição sumária, o 110º configura esta ação de um modo polivalente/
disposições que prevêem o recurso hierárquico necessário, geometria variável consoante intervenha num caso de urgência normal
procedendo-se à generalização da regra que atribui efeito suspensivo a (110º/1 e 2) ou de especial urgência (110º/3).
todas as garantias administrativas.
AÇÃO POPULAR
ATOS LEGISLATIVOS As ações populares são ações propostas por cidadãos na defesa de
Neste sentido, mencionamos o 4º/3 ETAF limita-se a explicitar o valores que interessam ao conjunto da comunidade, sem terem
critério do 212º/3 CRP, identificando tipos de litígios que se encontram necessariamente de respeitar individualmente aos autores. Neste
excluídos do âmbito da jurisdição administrativa por não terem sentido, o CPTA configura a ação popular em duas modalidades: 9º/2 -
natureza administrativa. Segundo o 4º/3, al. a) ETAF, não é possível universo das ações que podem ser intentadas em defesa de valores e
proceder à impugnação direta de atos legislativos nos Tribunais bens constitucionalmente protegidos. Concretização do 52º/3 CRP. 55º/
Administrativos, a menos que esses atos, emanados sob a forma de ato 2 - ação popular de impugnação de atos administrativos praticados por
legislativo, contenham decisões materialmente administrativas e não órgãos autárquicos, que qualquer cidadão recenseado na localidade
sejam, por isso, nessa parte, do ponto de vista material, manifestação respetiva pode intentar nos termos do 55º/2. Neste âmbito, e
do exercício da função legislativa. Menciona-se ainda o 52º CPTA, reportando aos artigos referidos faz sentido entender quem, de facto,
derivando do 268º/4 CRP. A impugnabilidade dos atos administrativo tem legitimidade para intentar a ação popular.
não depende da forma sob a qual eles tenham sido praticados. A O 9º/2 CPTA incide sobre a legitimidade para defesa de interesses
doutrina discute, dentro do universo dos atos jurídicos que são públicos o que acaba por se configurar como um fenómeno de
adotados sob a forma legislativa, aqueles que devem ser qualificados extensão da legitimidade, no sentido de que, para os casos aqui
como legislativos do ponto de vista formal e material e aqueles que são previstos estende-se a legitimidade processual a quem não alegue ser
formalmente legislativos, mas contêm decisões materialmente parte numa relação material que se proponha submeter à apreciação do
administrativas. É Materialmente Administrativa quando adotada ao Tribunal.
abrigo de lei anterior (ou concomitante) em cujos pressupostos já se Este preceito tem em vista o exercício do Direito de Ação Popular
encontram assumidas as opções políticas primárias que competiam ao (Lei 83/95) devido ao facto de a defesa dos valores
legislador – portanto, é uma decisão produzida no exercício de uma constitucionalmente protegidos ser uma das formas de Ação Popular
competência administrativa que, como tal, está previamente tipificada admitidas no Contencioso Administrativo.
na lei e que, portanto, apenas pode envolver a eventual realização de
opções circunscritas a aspetos secundários, menores ou instrumentais A Lei 83/95 tem duplo alcance: o de conferir legitimidade ativa para
em relação às opções já contidas nessa lei. MAA: O exercício da a defesa de interesses difusos e o de permitir a adaptação do modelo de
função legislativa só tendencialmente se concretiza na emanação de tramitação processual normal, visto que o 13º da referida lei estabelece
normas gerais e abstratas. O que é decisivo é a intencionalidade do ato um regime processual próprio. No fundo, remissão significa que os
e o facto de ele introduzir opções políticas primárias, por apelo direto à poderes de propositura e intervenção processual previstos na Lei 83/95
consciência ético-social vigente na comunidade. Estamos perante um serão exercidos nos casos e observando, além das regras gerais, as
ato administrativo praticado sob a forma de diploma legislativo quando regras específicas.
o comando em causa exprime o exercício de competências VPS: defende que o critério para distinguir o do 9º/1 e 2 CPTA é o
administrativas. Os tos administrativos publicados sob a forma de ato interesse pessoal: 9º/2 não pode haver interesse na demanda, se não,
legislativo está sujeito a vacatio legis, pelo que os efeitos dos não é uma Ação Popular e sim uma Ação Subjetiva. Importa notar que
comandos neles contidos não se produzem imediatamente com a o ator popular não tem um interesse subjetivo, mas vai ter posição
publicação – resulta do 59º/1. processual de parte. MAA: é Ação Popular ou não dependendo da

forma como autor configura a ação visto que ele pode configurar como admissibilidade do acesso à justiça, pedra angular do Estado de Direito
popular e aí somente tem título de legitimidade para intervir (2º CRP). Ademais, considerar que apenas alguns atos carecem de
processualmente. Tanto o Ator Popular como o Ator Público agem para impugnação necessária significa colocar em causa a tutela jurisdicional
a defesa da legalidade e do interesse público. efetiva, o princípio da igualdade de tratamento dos particulares perante
Concluindo, note-se que CAT desempenha aqui uma função a Administração e perante a Justiça Administrativa, levando à criação
predominantemente objetiva, de tutela da legalidade e do interesse de um contencioso privativo e de privilégios de foro para certas
público, o que também é uma função essencial da Justiça categorias de atos administrativos.
Administrativa num Estado de Direito. Por fim, de salientar que defender o acesso de todos à justiça, de
forma eficiente e definitiva, implica não colocar entraves ou
“diligências inúteis”, em que se iria traduzir esta necessidade de
CONCEITO DE ATO PARA EFEITOS DE IMPUGNAÇÃO
impugnação administrativa prévia ao recurso aos tribunais, pelo que
É um conceito substantivo que decorre, nomeadamente, do 128º do uma lei que exija as impugnações como pressuposto para o recurso aos
CPA. Contudo, questiona-se em que termos de considera um ato tribunais administrativos deve ser considerada inconstitucional, uma
suscetível de ser impugnado judicialmente. Ora, a impugnabilidade, vez que põe em causa a tutela jurisdicional efetiva (168º/4 CRP e 20º/1
conforme refere o professor VPS, é o resultado de uma situação em CRP).
que o ato administrativo se encontra e apenas uma noção processual –
qualquer ato em sentido substantivo é suscetível de impugnação desde
que seja lesivo. A questão aqui em causa é se o ato, para ser impugnado PROVIDÊNCIAS CAUTELARES
judicialmente, se basta com a circunstância de ser lesivo (conceito Com a Reforma de 2004, introduziram-se no Contencioso
amplo) ou se, além disso, tem de ser definitivo e executório (conceito Administrativo as providências cautelares enquanto tipo aberto e
restrito). inominado, contrastando com o anterior princípio de numerus clausus
Antes de mais, importa referir a consagração constitucional da tutela que subsistia no Código. Com esta mudança, pretendeu-se um
jurisdicional efetiva, através do 268º/4 CRP, em que se determina a alargamento da justiça cautelar, que teve origem numa condenação do
impugnabilidade de quaisquer atos administrativos, entenda-se, TJUE aos Estados-Membros.
lesivos, o que indicia desde logo a consagração constitucional do Ora, num processo cautelar, o autor num processo declarativo pede
conceito amplo de ato administrativo para estes efeitos. Assim, nos ao tribunal a adoção de uma ou mais providências, destinadas a
termos da CRP, os particulares têm a garantia de que podem recorrer impedir que, durante a pendência do processo declarativo, se constitua
contenciosamente de qualquer ato administrativo que lese os seus uma situação irreversível ou se produzam danos de tal modo gravosos
direitos ou interesses legalmente protegidos, pelo que a que ponham em perigo ou todo ou pelo menos em parte a utilidade da
obrigatoriedade de um prévio esgotamento de todas as vias decisão que ele pretende obter naquele processo (112º/1 CPTA). A
administrativas de reação constitui um verdadeiro obstáculo ao recurso tutela cautelar tem certas características, como a instrumentalidade, a
aos tribunais. provisoriedade e sumariedade.
Contudo, de acordo com o 185º/1, existem impugnações necessárias Existe, desde logo, uma distinção a ser feita entre providências
e facultativas. Podem considerar-se necessárias aquelas que devam ser conservatórias e providências antecipatórias. Relativamente às
obrigatoriamente apresentadas em momento prévio ao recurso primeiras, estas têm a finalidade de providenciar ao interessado uma
contencioso de um ato administrativo, constituindo um verdadeiro prestação que antecipe a utilidade que ele pretenda obter com a
pressuposto processual – “elemento cuja verificação depende, em procedência do processo declarativo, conforme determina o 112º/2, als.
determinado processo, do poder-dever de o juiz se pronunciar sobre o b), c), d) e e) quanto à segunda categoria de providências, estas versam
fundo da causa, isto é, de apreciar o mérito do pedido formulado e de sobre as situações em que o interessado pretende manter ou conservar
sobre ele proferir uma decisão”. um direito em perigo, evitando que seja prejudicado por medidas que
Ora, antes da Reforma de 2015, o 148º CPA determinava que o ato venham a ser adotadas (112º/2, als. a)/i)
tinha de ser definitivo, uma definitividade assente numa tripla Nos termos do 120º CPTA, para que sejam decretadas providências
dimensão: dimensão horizontal (afastada pelo 51º/1 e 3), em que o cautelares têm de estar preenchidos, cumulativamente, certos
particular pode optar acerca do momento no qual reage perante a requisitos, nomeadamente nos termos da 1ª parte do n.º1 do preceito
administração; dimensão material, bastando que o ato produza efeitos; tem de existir uma situação de periculum in mora, (o necessidade de
e a dimensão vertical. Com a revisão constitucional de 1989, as evitar o risco do retardamento da tutela que virá a ser assegurada pela
impugnações administrativas deixaram de ser necessárias, na medida sentença no processo principal), fumus boni iuris (a aparência de bom
em que, à luz do texto constitucional, os atos impugnáveis já não têm direito, através de um juízo de probabilidade de que a pretensão em
de ser “definitivos e executórios”, desnecessidade que é acompanhada causa venha a ser julgada procedente) e, por fim, tem de existir uma
pelos 51º/1 e 59º/4 e 5 CPTA. ponderação complexa dos interesses em jogo com o decretamento da
Assim, alguma doutrina entende que o recurso a uma impugnação providência, concretizando o princípio da proporcionalidade, nos
administrativa necessária consubstancia uma forma de o particular termos do n.º2 do mesmo artigo. Assim, e na senda da Reforma de
resolver de forma completa as situações lesivas criadas pelo ato 2015 ao CPTA, procedeu-se a uma unificação dos critérios para o
impugnado, podendo alargar os fundamentos da impugnação, que decretamento das providências, eliminando-se a distinção que
poderão então basear-se em razões de mérito ou ilegalidade. Além anteriormente existia entre providências cautelares conservatórias e
disso, na sua ótica, o facto de a impugnação suspender a eficácia do ato antecipatórias (antes da Reforma, exigia-se um mero juízo de não
recorrido em geral e o prazo curto de que os particulares dispõem para improbabilidade da procedência da ação principal para a concessão de
o fazer, demonstram que este regime não está construído para uma providência conservatórias, enquanto de obrigava a um juízo
prejudicar o particular e colocar em causa os seus direitos positivo de probabilidade para justificar a concessão de uma
fundamentais. providência antecipatória).
Neste sentido, o MAA entende que o CPTA, apesar de não consagrar Quanto à legitimidade para requerer providências, nos termos do
as impugnações necessárias, não visa excluir as disposições legais 112º/1, esta pertence a todos aqueles que têm legitimidade para
avulsas que as prevejam, considerando que os atos dotados de eficácia recorrer à justiça administrativa, tendo em conta os interesses que o
externa poderão imediatamente ser suscetíveis de impugnação requerente visa assegurar, nos termos do 120º. Além disso, a tutela
contenciosa, enquanto as meras decisões administrativas carecem de cautelar pode ser requerida em momento anterior ou posterior à
impugnação administrativa prévia, se legalmente prevista. Nestes propositura da ação principal, segundo consta do 114º/1. Forma do
casos, a impugnação é vista como um verdadeiro pressuposto processo cautelar - 114º a 119º CPTA.
processual autónomo, justificável pela tentativa de evitar que as Nos termos do 128.º do CPTA, ex vi do 130º/2, no caso de estarmos
entidades administrativas tenham constantemente de vir a juízo para perante providências conservatórias, há uma suspensão automática do
defender os seus interesses em situações em que a parte contrária não o ato administrativo então impugnado e ora em execução, paralisando-se
justifica e de não sobrecarregar com ações desnecessárias a atividade a produção de efeitos da norma, no dia em que o requerimento for
dos tribunais. No caso de a via graciosa não surtir o efeito desejado apresentado e a entidade em causa for citada.
pelo particular, este poderá recorrer aos tribunais, precisamente nos Já o 129º CPTA determina que se procede a uma suspensão da
mesmos termos em que o poderia fazer antes, independentemente de eficácia de atos já executados, através da demonstração da utilidade
ter havido um indeferimento expresso. que ainda adviria da suspensão desse ato, requisito que se acrescenta
Postura mais crítica face à sua admissibilidade tem o VPS, posição relativamente ao 120º.
que me parece tutelar de melhor forma os direitos dos particulares.
Efetivamente, após a revisão de 1989, continuar a permitir as
impugnações necessárias coloca em causa a regra geral e basilar da

PODERES DOS JUIZ NA DISCRICIONARIEDADE DA


CONDENAÇÃO À PRÁTICA DE ATOS
O tribunal vai “além do ato” e vai proceder a um juízo “material”
sobre o litígio, julgando acerca da existência (e do alcance) do direito
do particular e, consequentemente, determinando o conteúdo do
comportamento da Administração juridicamente devido.
Deve o tribunal apreciar as vinculações decorrentes do ordenamento
jurídico para aquela situação da vida, em concreto e em face dos
condicionalismos fácticos de aplicação, explicitando os respetivos
alcance e limites, assim como apreciando os critérios e os parâmetros
das escolhas em causa e, nomeadamente, indicando aquilo que
consideraria ser uma (ou mais do que uma) decisão respeitadora ou
violadora dessas exigências legais.
VPS: em 2015 foi-se mais longe no aprofundar destes poderes de
pronúncia do juiz – maior abertura a este mecanismo processual. O 71º
repete regra geral do 95º: Tribunal pronuncia-se sobre a pretensão
material do interessado na sua totalidade. Complementa e afirma a
natureza subjetivista: 72º - o objeto é o direito do particular. É uma
situação de fronteira entre o domínio do administrar (realizar a função
administrativa) e o domínio do julgar (verificar a conformidade da
atuação dos poderes públicos com o Direito). Tribunal não se pode
intrometer no espaço próprio que corresponde ao exercício de poderes
discricionários por parte da Administração, de forma a assegurar o
princípio da separação de poderes. Mas o tribunal deve dizer e aplicar
o Direito em toda a extensão com que as normas e os princípios
jurídicos sejam chamados a intervir para dirimir litígios jurídico-
administrativos e, portanto, cabe ao tribunal determinar todas as
vinculações a observar pela Administração na emissão do ato devido -
este é o sentido do 71º CPTA.
Os tribunais administrativos não julgam da conveniência ou
oportunidade da atuação administrativa (3º/1) mas não podem deixar
de exercer, em plenitude, a função (jurisdicional) de que estão
incumbidos, pronunciando-se em toda a extensão em que as normas
jurídicas aplicáveis o permitam, sobre os termos em que a
Administração deve definir o Direito através da prática do ato
administrativo que lhe cumpra emitir. VPS: Sentenças não se devem
limitar a cominar a prática de um ato administrativo e devem
determinar, em concreto, qual o âmbito e o limite das vinculações
legais – isto é o que significa explicitar as vinculações a observar pela
Administração na emissão do ato devido.
Também é possível a condenação da Administração à prática de atos
administrativos de conteúdo discricionário, desde que a emissão desses
atos seja devida. O 71º/2 vem dizer que para conhecer do total direito
do particular o juiz pode apreciar o exercício do poder discricionário
(quando há várias opções de atuação administrativa). O juiz deve
explicitar as vinculações da Administração - o “não” que aparece no
início é posto em causa com esta disposição.
VPS: explicitar é dizer o que significa aplicar ao caso concreto o
poder discricionário - é dar indicações qual o modo correto do poder
discricionário (vem das sentenças indicativas do Direito Alemão). Não
é substituir-se à Administração - pode é dizer o que a Administração
pode fazer para comprimir essas vinculações (limita esse poder
discricionário).
O que o legislador agora diz de forma mais clara é que mesmo
quando não há somente uma única solução possível para o caso, o juiz
tem de vir explicitar as vinculações e condenar a Administração no
caso a agir segundo uma delas. O juiz é sempre obrigado a determinar
um conteúdo de uma atuação Administrativa - juiz goza da
possibilidade de controlo do poder discricionário.

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