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Estado assumiu uma dimensão judicial, deixando a Adm. de ser jurídicas subjetivas do interessado. Consagra-se o entendimento do
meramente prestadora passando a ser infraestrutural, criando Princípio da separação de poderes entre a Administração e os tribunais,
infraestruturas para os particulares das entidades públicas que o tipo e o grau de vinculação jurídica da atividade administrativa, o
desempenham funções administrativas de uma forma conjugada, conceito de interesse público (que engloba igualmente a consideração
através de instrumentos inseridos no quadro do exercício político e dos interesses privados em presença) ou as garantias fundamentais dos
administrativo. No quadro da realidade constitucional, as administrados. Atualmente, opta-se por um modelo subjetivista ainda
Constituições construíram ou tribunais novos modelos, mais que não puro, exemplificando o caso do contencioso de natureza
amplos, de controlo da administração pública, desligados do poder impugnatória (objetivo) não discute o direito do particular e não lhe
administrativo e com ênfase nos poderes do juiz. resolve o problema.
Em Portugal, consagra-se um sistema de justiça administrativa Modelos Organizativos: tendo em conta o órgão a quem é atribuída a
plenamente jurisidiconalizada em que os tribunais administrativos competência para decidir. Modelo Administrativista: é o modelo do
constituem uma jurisdição autónoma dentro do poder jurisdicional “administrador-juiz”, de “autotutela”, de “jurisdição reservada ou
(209º e 212º CRP). A função primordial dos tribunais consiste na conservada”, em que a decisão final dos litígios administrativos
defesa plena e efetiva dos direitos dos particulares (268º/4 e 5 CRP). compete aos órgãos superiores da Administração ativa. Modelo
Judicialista: a decisão das questões jurídicas administrativas cabe a
tribunais integrados numa ordem judicial, máxima segundo a qual
EUROPEIZAÇÃO DO CAT
“julgar a Administração é (ainda) verdadeiramente julgar”. Modelo
Nos últimos anos, a UE passou a ser a principal fonte de Direito Judicialista ou Quase-Judicialista: é o modelo de “jurisdição delegada
Administrativo, através da produção de normas que o vêm modificar e ou transferida”, em que a resolução dos litígios relativos à
uniformizar, introduzindo uma nova dimensão de superação dos Administração cabe a autoridades “judiciárias”, a órgãos
traumas que inicialmente marcaram o Direito Administrativo. administrativos que, embora independentes, são alheios à orgânica dos
Com o fenómeno da europeização, abandonou-se a estrutura tribunais judiciais.
estatocêntrica do Direito Administrativo e das suas garantias Modelos Mistos: Modelo Administrativista mitigado: a decisão final
processuais, procedendo-se a uma estrutura dual do movimento de sobre as questões contenciosas cabe a órgãos administrativos
europeização, através, por um lado, de mudanças ao nível das relações superiores (embora estes se designem por “tribunais administrativos”),
horizontais/ convergência, e, por outro, através de relações verticais/ embora implique um procedimento jurisdicionalizado que conta com a
integração. intervenção de órgãos administrativos independentes, a quem cabe dar
Ao nível das relações horizontais, podemos hoje testemunhar uma o seu parecer em ordem a temperar o arbítrio da atividade
maior comunicação de institutos e conceitos entre os diferentes administrativa e, desse modo, assegurar a garantia legal dos
sistemas nacionais. Quanto às relações verticais, podemos destacar a particulares; Modelo Judicialista mitigado: as decisões contenciosas
criação de um ius commune europeu. são dadas por verdadeiros tribunais judiciais, mas as sentenças por eles
Através da estrutura europeia, criou-se um sistema jurídico próprio ditadas não têm verdadeira força executiva ou esta encontra-se limitada
que se impõe a todos os Estados Membros e integra o Direito desses perante a Administração (esta sujeita a publicação por esta, ou
mesmos Estados Membros. Assim, criaram-se estruturas dependendo da boa vontade administrativa em executar).
administrativas a título europeu, do ponto de vista dos tribunais, do Os modelos administrativistas, puros ou mitigados, já não existem
direito legislado e da integração horizontal das fontes do Contencioso atualmente e a generalidade dos países adotou modelos organizativos
Administrativo. Judicialistas, tendo-se tornado inquestionável, com a emergência do
Relativamente aos Tribunais, a reforma portuguesa de 2004 está Estado de Direito social, a jurisdicionalização plena do Contencioso
fortemente associada a reformas europeias, em todos os países da UE. Administrativo.
Conforme refere o Professor Vasco Pereira da Silva, não houve
nenhum país europeu que não tenha levado a cabo uma reforma do
CRP E O PROCESSO ADMINISTRATIVO
CAT, alargando os poderes do juiz e estabelecendo a tutela cautelar.
Olhando para a CRP: O legislador português, quando trata do poder
Quanto à transformação da Administração, os atos administrativos,
judicial, estabelece a jurisdição administrativa como uma modalidade
hoje, já não são exclusivamente praticados por órgãos administrativos
de jurisdição e o juiz administrativo como qualquer outro juiz, com a
e podem ser praticados por entidades públicas ou privadas, bem como
integralidade de poderes em face da administração.
por particulares no exercício da função administrativa – atos que serão
apreciados pela jurisdição administrativa. Além disso, denota-se ainda, Até 1976: Estrutura do administrador-juiz. Os Tribunais
por influência europeia, um alargamento da legitimidade: dado que se Administrativos enquadravam-se numa lógica administrativa
notou uma transformação do modelo de relações jurídicas hierárquica, sendo um órgão integrado no Conselho de Ministros. Até
administrativas, existindo hoje relações multilaterais, todos aqueles 1977 não havia um processo jurisdicionalizado de execução de
que são afetados pelos atos têm legitimidade para recorrer à justiça sentenças, tratava-se de um Processo Administrativo Gracioso -
administrativa. Administração cumpria se quisesse. A expressão Processo
Administrativo era falsa, não havia um processo judicial.
Por fim, relativamente à integração horizontal, tal significa que os
atos administrativos de um EM sejam reconhecidos nos outros 1º Período CRP 1976 [1976 – 1986] : A CRP 1976 trouxe um novo
modelo jurídico-constitucional, jurisdição administrativa era uma
Existem diversas manifestações daquilo que hoje podemos chamar de
jurisdição facultativa. Em 1977 há reforma cirúrgica, estabelece-se o
verdadeiro “Processo Administrativo Europeu”, tais como o
Direito de Fundamentação, o deferimento tácito é mera ficção legal (e
reconhecimento pelo TJUE de um direito à tutela jurisdicional efetiva
não um ato administrativo). Por fim, estabelece-se processo de
nos casos de atividades administrativas internas contrárias ao DUE, um
execução das sentenças dos Tribunais Administrativos. Aqui surge
alargamento dos meios processuais à medida das necessidades de
verdadeiramente o CAT independente.
satisfação da integral aplicação do DUE e a disponibilidade de meios
processuais próprios de fonte europeia. Por fim, outro aspeto a reparar
é o reflexo desta europeização ao nível, por exemplo, do procedimento Revisão Constitucional 1982: Legislador cria uma referência à
pré-contratual urgente com a reforma de 2015, segundo a qual se dimensão subjetiva do processo. Com a alteração da legislação
procederam a relevantes alterações ao nível do âmbito objetivo de processual de 1984/85 (ETAF e LPTA), assiste-se a um alargamento do
aplicação deste meio processual (100º), a garantia do efeito suspensivo âmbito do contencioso administrativo e a uma intensificação da
automático da impugnação do ato de adjudicação (103º-A) e a proteção dos direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos
possibilidade de adoção de medidas provisórias (103º-B). (subjectivização do modelo de justiça administrativa). Manteve-se o
Ato Definitivo e Executório, mas acrescentou-se o Ato
Independentemente da sua Forma - alargou o conteúdo material do ato
MODELOS DE JUSTIÇA ADMINISTRATIVA
administrativo. Do ponto de vista PROCESSUAL, assiste-se a um
Conjunto institucional ordenado normativamente à resolução de aperfeiçoamento da tutela judicial dos cidadãos, que vêm a sua posição
questões de direito administrativo, nascidas de relações jurídico- ser mais equilibrada com a dos órgãos administrativos (o recurso é
administrativas externas, atribuídas à ordem judicial administrativa e a menos um “processo feito a um ato” e mais um “processo de partes”).
julgar segundo um processo administrativo específico. do ponto de vista FUNCIONAL, verifica-se uma intensificação dos
Modelos Objetivista/Subjetivista: Função do Contencioso: defesa da poderes do juiz administrativo no âmbito dos meios impugnatórios,
legalidade e do interesse público/tutela de direitos ou posições bem como uma ampliação da possibilidade de o juiz dirigir à
jurídicas individualizadas dos particulares. Objeto do Processo: versa Administração sentenças condenatórias, intimações e injunções,
sobre um ato ou sobre a legitimidade do exercício do poder decorrentes das novas ações e dos novos meios acessórios, contudo a
administrativo/processo que coloca a tónica na lesão das posições
jurisdição é limitada. VPS: mudanças pouco efetivas, ficou tudo funcionário ao serviço da Administração - quer tenha estatuto de
praticamente na mesma. funcionário ou estatuto de trabalhador privado.
perante ato que já produziu efeitos. Ou seja, a Administração agiu e ato suscitadas pelas partes, não podendo deixar nenhuma de lado e
já foi executado, pelo que a mera impugnação ou anulação do ato já respondendo a todas até ao fim. Tribunal deve decidir todas a questões
não serve de nada, tendo de haver uma reparação dos prejuízos que as partes tenham submetido à sua apreciação e não pode ocupar-se
decorrentes do ato que já produziu efeitos. VPS: cumulação de pedidos senão das questões suscitadas, assim a causa de pedir deve ser
leva a que haja só uma ação, sendo isso o mais adequado. determinada em razão das pretensões dos sujeitos.
6º CPTA: O tribunal deve assim, na prossecução deste objetivo, 95º/1, 1ª parte - tem a dimensão acusatória. Particular alega todas as
atuar com imparcialidade, auxiliando e informando do mesmo modo questões que foram suscitadas, introduzindo lógica nova de que o CAT
qualquer uma das partes, em ordem a garantir a sua igualdade no não deve ser um contencioso de meras formalidades.
processo. 95º/1, 2ª parte - tem a dimensão inquisitória. Isto resolve trauma do
7º CPTA: VPS: necessidade desde artigo surge na sequência de, até CAT – incongruência entre o que se defendia e o que se praticava.
2004, os Tribunais Administrativos serem “juízos de formalidades” - Doutrina subjetivista – objeto do processo tem de ter em conta uma
atendia-se muito a vícios formais. Preceito promove o julgamento do conexão de ilegalidade com um direito subjetivo, que obrigava a
mérito das causas, fundado no princípio do in dúbio pro actione - analisar a ilegalidade não em abstrato, mas em função do direito que o
impõe ao juiz o dever de, em caso de dúvida, interpretar as normas particular levava a juízo.
processuais num sentido que favoreça a emissão de pronúncia sobre o 95º/3, 1ª parte - norma tem como objetivo que julgador aprecia a
mérito das pretensões formuladas. Solução que consagra que o CAT integralidade dos direitos alegados pelo particular, evitando-se que o
deve ser dirigido para uma justiça material e não uma justiça formal. juiz conheça apenas da primeira ilegalidade apreciada, a pretexto que
7º-A CPTA: Juiz recebe o objeto do processo tal como ele é isso, só por si, bastaria para inquinar a validade da atuação
configurado pelas partes. Isso não obsta a que ele tome todas as administrativa.
medidas de gestão processual para que o processo seja célere. 95º/3, 2ª parte - VPS: juiz não pode trazer factos novos, pois não é
8º CPTA: 8º/3 CPTA impõe-se à Administração o dever de remeter o uma parte – juiz identifica causas de invalidade distintas das alegadas,
processo ao tribunal e de lhe dar conhecimento das superveniências tendo sempre como limite os factos trazidos a juízo e o modo como
resultantes da sua atuação. Vem de uma discussão já desde a reforma foram trazidos pelas partes. Não se introduz factos novos e apenas se
de 1985, a administração não tinha o dever de contestar e remetia, sim, identifica/individualiza ilegalidades distintas das referenciadas pelo
o processo ao juiz – sendo isso um sucedâneo do ónus de impugnação. autor, desde que elas resultem das alegações das partes que
Mas, o ónus de impugnação existe sem ser sucedâneo e corresponde a introduziram os factos em juízo. Há 2 sentidos possíveis para este
um dever de contestar. VPS: ónus de contestar existe sempre e é uma preceito: 1. Juiz pode qualificar de forma diferente os factos alegados
decorrência do processo de partes. 8º/4 CPTA: já não se tem só em pelas partes, de acordo com o iure novit curia (valoração da causa de
conta o que acontece até à Ação. A Administração tem que comunicar pedir); 2. Juiz deve conhecer integralmente o que as partes levaram a
todos os atos que eventualmente pratique em relação àquela relação juízo (deve conhecer integralmente as ilegalidades da atuação
jurídica. O Juiz não se limita ao conhecimento dos factos tal como eles administrativa que está em causa (alarga os poderes do juiz)).
existiam no momento da sua apresentação, conhecendo integralmente MAA: juiz pode carrear factos novos para o processo (mas tem
o objeto. mudado a perspetiva ao dizer que é dentro do alegado pelas partes –
VPS: então não são novos). Isto não significa, contudo, como já se
OBJETO [PEDIDO + CAUSA DE PEDIR] referiu, que o juiz não tenha visto ampliados os seus poderes de
conhecimento do objeto do processo, sempre no limite dos direitos
Trata-se de assegurar a ligação entre a relação jurídica material e a
invocados pelas partes, ao ser-lhe permitido aceder direta e plenamente
relação jurídica processual, determinando quais os aspetos da relação
ao pedido e à causa de pedir alegados, sem a “mediação” objetivista e
jurídica substantiva, existente entre as partes, que foram trazidos a
limitadora dos vícios, e sem ter mesmo de se confinar apenas ao ato
juízo, questões jurídicas que os tribunais foram chamados a
administrativo impugnado.
pronunciar-se. Duas teorias:
- Substancialista: o que releva é o modo como a parte qualifica VPS: 95º/3 não é nenhuma exceção à regra do nº1. É uma
particularização dessa regra para os processos impugnatórios, tendo em
juridicamente aquilo que leva a juízo, o Pedido.
conta que os processos são de plena jurisdição. É a superação dos
- Processualista: o que releva são os factos levados a juízo, traumas: passagem da perspetiva do “processo ao ato” para a do
independentemente das qualificações jurídicas, a Causa de Pedir. “processo de partes”, que justifica a necessidade de uma norma
Uma noção adequada do objeto do processo deve proceder a uma especial para os processos impugnatórios, de forma a deixar claro que
ligação do pedido e da causa de pedir, considerando-os como dois o objeto do processo se alargou à proteção plena e efetiva das
aspetos do direito substantivo invocado. MAA: O objeto do processo pretensões dos sujeitos, deixando de estar limitado por
define-se por referência à pretensão formulada pelo autor - identificada condicionamentos objetivistas de alegação da causa de pedir, como era
pelo pedido e pela causa de pedir que por ele foram deduzidos. Antes o da doutrina dos “vícios do ato administrativo”. A possibilidade de
havia uma perspetiva dualista, consoante fosse contencioso de contraditório, em 10 dias, é mais um argumento que confirma a regra
anulação ou contencioso de ações, com a Reforma do CAT, deixou de do 95º/1, não só consagrando a regra geral de que o objeto do processo
ser assim. é delimitado em razão do princípio do contraditório como também se
estabelece que quando o juiz, no uso dos respetivos poderes, pretenda
Pedido: Enunciação da forma de tutela jurisdicional pretendida pelo “ir mais além” do que as partes direta e expressamente alegaram (mas
autor e do conteúdo e objeto do direito a tutelar. Pedido Imediato: sempre no âmbito do objeto, por elas delimitado), as deve ouvir sobre
efeito pretendido pelo autor (aquilo que o particular solicita ao juiz); isso – o que constitui uma exigência acrescida de respeito pelo
Pedido Mediato: direito que esse efeito visa tutelar (Direito que o contraditório.
particular faz valer nesse processo). Atualmente, temos de considerar o
pedido tanto na sua vertente imediata como na sua vertente mediata, AÇÃO ADMINISTRATIVA COMUM E ESPECIAL
tanto no que respeita aos efeitos pretendidos pelas partes como às Ação administrativa tutela alguns dos mais importantes direitos
posições jurídicas subjetivas que tais efeitos visam proteger - 2º/2 subjetivos das relações administrativas. Tem um vasto âmbito de
CPTA. aplicação e permite a formulação de uma grande variedade de pedidos,
O CAT hoje significa que todos os direitos das relações correspondendo a uma grande diversidade de efeitos das sentenças.
administrativas (e fiscais) são suscetíveis de proteção jurídica e que, Contudo, a circunstância de haver uma única forma de processo não
para a respetiva tutela, podem ser formulados todos os pedidos, de significa uma unificação total dos processos administrativo, nem
acordo com as formas processuais adequadas. mesmo ao nível da respetiva tramitação.
Com a revisão de 2015 todos os processos passam a ser submetidos a
Causa de Pedir: Doutrina Clássica: que relevava para a determinação uma única forma de processo: Ação Administrativa (37º). Mesmo após
da causa de pedir eram as alegações do autor referentes ao ato 2015 continuou a distinguir-se as pretensões relativas a atos
administrativo, nomeadamente a saber qual o tipo de invalidade que o administrativos e a regulamentos, havendo pressupostos processuais
ato enferma e qual a forma dessa invalidade. A causa de pedir, no específicos e um regime próprio que não se aplica aos demais tipos de
âmbito de um sistema em que todos os meios processuais são de plena pretensões. Integração numa única forma de processo de uma série de
jurisdição, deve ser sempre entendida, não em termos absolutos ou pedidos: através da ação administrativa pode pedir-se uma série de
abstratos, mas de forma conexa com as pretensões formuladas pelas situações. Escapa apenas à ação administrativa os regimes de urgência:
partes, podendo corresponder a direitos subjetivos dos particulares. O 5 formas (97º e ss.).
95º define em termos adequados o que é o objeto do processo quanto à Ação Administrativa é a irmã da Ação Declarativa Comum do CPC,
causa de pedir. VPS: juiz deve decidir todas as questões que foram hoje também sujeita a uma forma comum, na qual convivem alguns
processos especiais. Desde 2015 que no CAT se passa o mesmo: há quando se entende ter havido receção do duplicado do requerimento.).
uma forma processual única onde entram todos os pedidos. Esta Ação Entende-se que opera com a citação no processo cautelar (117º).
Administrativa única veio substituir uma dualidade/dicotomia: opunha Durante este período, a entidade não pode iniciar ou prosseguir a
Ação Administrativa Especial à Ação Administrativa Comum, havia execução do ato e aqueles que eventualmente pratique podem ser
dificuldade em conciliar um pedido de impugnação de um ato e um declarados ineficazes pelo tribunal. Opera extrajudicialmente, sem
pedido de indemnização na sequência dessa impugnação. estar dependente da decisão do juiz (ao contrário do 131º). Em comum
Em 2015 esta dicotomia é extinta - estabelece-se um modelo único com o 131º tem a intenção de evitar o periculum in mora do processo
de tramitação, verifica-se uma unificação das formas do processo cautelar.
declarativo não-urgentes nos 35º e 37º e ss. VPS: art. criticável. Não faz qualquer sentido no quadro de um
Unificação da Ação Administrativa Comum e a Ação Administrativa processo administrativo. Só quem poderia suspender seria o juiz, não a
Especial não significa que tenha havido uma homogeneização das Administração (que é o réu). Equivale a dizer que a pessoa pode ser
anteriores ações, a dois níveis: 1. Meios Processuais: apesar da presa preventivamente consoante a sua vontade. É o réu que decide que
unificação, o legislador não podia ter deixado de continuado a regular o efeito automático dessa decisão depende da sua vontade. Em
de forma mais específica aquilo que são as pretensões típicas do CAT, Portugal, na suspensão da eficácia há um pré-processo e só depois é
há regras particulares e mais densificadas em relação a pressupostos que se discute os interesses das partes. Mecanismo não faz sentido. Só
processuais das formas típicas da administração, significando que, se aplica à suspensão de eficácia, portanto não se deve pedir a
embora existir uma única forma de processo (ação administrativa), suspensão de eficácia e sim todos os outros.
consegue-se identificar no CPTA diferentes meios processuais
(diferentes blocos de meios processuais com pressupostos processuais
específicos). 2. Forma de Processo/Marcha do Processo/Tramitação do [57º CPTA] CONTRAINTERESSADOS
Processo: não há unificação total, nos 78º e ss. CPTA estipulação como Para que a procedência da ação possa produzir o seu efeito útil
começa e como acaba uma ação administrativa. Divide-se em 5 fases: normal, é necessário que ela se projete na esfera jurídica de ambas as
Fase de Articulados; Fase de Saneamento e Condensação; Fase de partes no contrato, pelo que ambas têm de ser demandadas nesta ação,
Instrução; Fase da Audiência Final e Discussão; Fase de Julgamento e em regime de litisconsórcio necessário passivo.
Decisão. Fases correspondem ao protótipo da ação declarativa do DPC, Estatuto dos Contrainteressados: tanto nos processos de
mas, não se pode dizer que este modelo é uma cópia do modelo do impugnação de atos administrativos (57º), como nos processos de
DPC. É em grande medida uma cópia, mas, há algumas especialidades: condenação à prática de atos administrativos (68º/2), para além da
conservação de especialidades da Ação Administrativa Especial - entidade que praticou ou se pretende que pratique o ato em causa,
síntese que faz a autonomia e especificidade da ação administrativa também devem ser demandados os titulares de interesses contrapostos
como forma processual. aos do autor. Há particulares que têm interesses idênticos aos da Adm.,
devido à atuação jurídica visar multilateralmente vários sujeitos.
[38º CPTA] ATO ADMINISTRATIVO IMPUGNÁVEL Domínios em que a ação é proposta contra a entidade que praticou ou
VPS: a inimpugnabilidade é um simples efeito processual que que omitiu/recusou o ato, mas, em que há sujeitos privados envolvidos
decorre de ter passado o prazo de impugnação (prazo curto para a no litígio, na medida em que os seus interesses coincidem com os da
impugnação de actos administrativos). Deixando passar esse prazo, o Administração ou, pelo menos, podem ser diretamente afetados na sua
ato torna-se inimpugnável. Alguma doutrina defende que implica que o consistência jurídica com a procedência da ação.
caso decidido sanava as invalidades do ato administrativo. Relações jurídicas relacionadas com o exercício de poderes da
Contrariamente, VPS: um ato que é ilegal não se transforma em legal a Administração são complexas no plano subjetivo, apresentando-se com
menos que se corrija essa invalidade, a menos que haja um ato uma estrutura poligonal ou multipolar, que envolve um conjunto mais
expresso de sanação do acto administrativo (um acto que era inválido, ou menos alargado de pessoas cujos interesses são afetados pela
continua a ser inválido). O TC não pode falar de convalidação porque o conduta da Administração.
acto é ilegal e continua a ser ilegal, o que não pode é ser usado o meio Muitas vezes há um interessado que pretende a anulação de um ato
processual de impugnação contra o acto, porque já passou o prazo, mas administrativo que considera ilegal ou a prática de um ato que
o acto continua a ser ilegal para todos os efeitos. E, portanto, particular considera devido. Também existem interessados que, enquanto
pode pedir ao Tribunal que aprecie, incidentalmente, a legalidade do beneficiários do ato ilegal ou podendo ser afetados pelo ato devido tem
acto para obter outro efeito jurídico. interesse em que ele não seja anulado e se mantenha na ordem jurídica
O preceito refere, "nos casos em que a lei substantiva o admita, ou que não seja praticado e tudo se mantenha como está.
designadamente no domínio da responsabilidade civil": não é taxativo A discussão é se a Administração agiu de modo ilegal, não podendo o
(a responsabilidade civil é um exemplo porque é sempre possível pedir, processo ser definido por referência às situações subjetivas dos
mesmo quando não se impugnou o acto anulável). Vem-se dizer que o Contrainteressados. Mas essa circunstância não retira aos
tribunal pode proceder a conhecer, a título incidental, da ilegalidade de Contrainteressados a sua qualidade de verdadeiras partes no litígio,
acto administrativo que já não possa ser impugnado. Assim, é possível para o efeito de se verem demandados em juízo (10º/1, parte final, 57,
o tribunal conhecer, a título incidental, da ilegalidade. 68º/2). O 57º e 68º/2 densificam o conceito de Contrainteressados,
VPS defende que nada proíbe que a Administração pratique um acto objetivando a operação de delimitação do universo dos titulares de
de conteúdo contrário e que o particular peça ao tribunal a condenação interesses contrapostos do autor que podem ser demandados no
da Administração na prática do acto de conteúdo contrário – não pode processo, atendendo às consequências gravosas que resultam da sua
é ser praticado pelo mesmo órgão que praticou aquele acto de conteúdo falta de citação. Segundo o VPS, agora tomou-se a decisão correta de
inimpugnável. Portanto, nº 2 tem de ser interpretado de uma forma assumir este contrainteressado como parte no processo, se ele é parte
restritiva. O que se pretende é que não pode usar o meio “acção de que intervém no processo, ela tem de ser citada. Devia ter-se instituído
impugnação”, que deixa de ser possível ao fim de um ano, que é o como litisconsórcio necessário.
prazo máximo. Mas, se não pode haver o uso da acção de impugnação, Expressão Contrainteressados é infeliz, marcada pelos traumas. Mais
pode haver o uso da acção administrativa para condenar a não são que sujeitos principais da relação jurídica multilateral,
Administração a praticar o acto de conteúdo contrário. enquanto titulares de posições jurídicas de vantagem conexas com as
Não se deve dizer que, um acto com um ano e um dia é exatamente da Administração, intervindo nesses termos no processo
igual ao acto com um ano. Tem um ano e um dia: o particular já não administrativo. Os contrainteressados são verdadeiros sujeitos de
pode impugnar contenciosamente. Mas o acto é o mesmo, a ilegalidade relações jurídicas administrativas multilaterais, há uma “rede” de
continua e, portanto, este acto pode ser apreciado pela ordem jurídica, ligações jurídicas entre múltiplos sujeitos, uns do lado ativo, outros do
quer a título incidental, quer até para obter um acto de conteúdo lado passivo, que são titulares de posições de vantagem juridicamente
contrário. É uma apreciação que é incidental e que não vai ser sobre o protegidas, pelo que deve gozar dos correspondentes poderes
acto; vai ser sobre o dever de afastar o acto, vai ser sobre o dever que processuais.
foi incumprido pela Administração na prática daquele acto. O novo paradigma das relações administrativas multilaterais no
Direito Administrativo implica a revalorização da posição dos
“impropriamente chamados terceiros” no Contencioso Administrativo,
[ 1 2 8 º C P TA ] P R O I B I Ç Ã O D E E X E C U TA R O AT O como sujeitos principais dotados de legitimidade ativa e passiva.
ADMINISTRATIVO
Foi mantido intocado na revisão de 2015, renunciando-se à resolução IMPUGNAÇÕES ADMINISTRATIVAS NECESSÁRIAS
de diversos problemas e insuficiências de aplicação que o artigo
colocava e que poderiam ter sido resolvidos (ex: questão de saber O CPTA não tem o alcance de afastar as múltiplas determinações
legais avulsas que instituem impugnações administrativas necessárias.
forma como autor configura a ação visto que ele pode configurar como admissibilidade do acesso à justiça, pedra angular do Estado de Direito
popular e aí somente tem título de legitimidade para intervir (2º CRP). Ademais, considerar que apenas alguns atos carecem de
processualmente. Tanto o Ator Popular como o Ator Público agem para impugnação necessária significa colocar em causa a tutela jurisdicional
a defesa da legalidade e do interesse público. efetiva, o princípio da igualdade de tratamento dos particulares perante
Concluindo, note-se que CAT desempenha aqui uma função a Administração e perante a Justiça Administrativa, levando à criação
predominantemente objetiva, de tutela da legalidade e do interesse de um contencioso privativo e de privilégios de foro para certas
público, o que também é uma função essencial da Justiça categorias de atos administrativos.
Administrativa num Estado de Direito. Por fim, de salientar que defender o acesso de todos à justiça, de
forma eficiente e definitiva, implica não colocar entraves ou
“diligências inúteis”, em que se iria traduzir esta necessidade de
CONCEITO DE ATO PARA EFEITOS DE IMPUGNAÇÃO
impugnação administrativa prévia ao recurso aos tribunais, pelo que
É um conceito substantivo que decorre, nomeadamente, do 128º do uma lei que exija as impugnações como pressuposto para o recurso aos
CPA. Contudo, questiona-se em que termos de considera um ato tribunais administrativos deve ser considerada inconstitucional, uma
suscetível de ser impugnado judicialmente. Ora, a impugnabilidade, vez que põe em causa a tutela jurisdicional efetiva (168º/4 CRP e 20º/1
conforme refere o professor VPS, é o resultado de uma situação em CRP).
que o ato administrativo se encontra e apenas uma noção processual –
qualquer ato em sentido substantivo é suscetível de impugnação desde
que seja lesivo. A questão aqui em causa é se o ato, para ser impugnado PROVIDÊNCIAS CAUTELARES
judicialmente, se basta com a circunstância de ser lesivo (conceito Com a Reforma de 2004, introduziram-se no Contencioso
amplo) ou se, além disso, tem de ser definitivo e executório (conceito Administrativo as providências cautelares enquanto tipo aberto e
restrito). inominado, contrastando com o anterior princípio de numerus clausus
Antes de mais, importa referir a consagração constitucional da tutela que subsistia no Código. Com esta mudança, pretendeu-se um
jurisdicional efetiva, através do 268º/4 CRP, em que se determina a alargamento da justiça cautelar, que teve origem numa condenação do
impugnabilidade de quaisquer atos administrativos, entenda-se, TJUE aos Estados-Membros.
lesivos, o que indicia desde logo a consagração constitucional do Ora, num processo cautelar, o autor num processo declarativo pede
conceito amplo de ato administrativo para estes efeitos. Assim, nos ao tribunal a adoção de uma ou mais providências, destinadas a
termos da CRP, os particulares têm a garantia de que podem recorrer impedir que, durante a pendência do processo declarativo, se constitua
contenciosamente de qualquer ato administrativo que lese os seus uma situação irreversível ou se produzam danos de tal modo gravosos
direitos ou interesses legalmente protegidos, pelo que a que ponham em perigo ou todo ou pelo menos em parte a utilidade da
obrigatoriedade de um prévio esgotamento de todas as vias decisão que ele pretende obter naquele processo (112º/1 CPTA). A
administrativas de reação constitui um verdadeiro obstáculo ao recurso tutela cautelar tem certas características, como a instrumentalidade, a
aos tribunais. provisoriedade e sumariedade.
Contudo, de acordo com o 185º/1, existem impugnações necessárias Existe, desde logo, uma distinção a ser feita entre providências
e facultativas. Podem considerar-se necessárias aquelas que devam ser conservatórias e providências antecipatórias. Relativamente às
obrigatoriamente apresentadas em momento prévio ao recurso primeiras, estas têm a finalidade de providenciar ao interessado uma
contencioso de um ato administrativo, constituindo um verdadeiro prestação que antecipe a utilidade que ele pretenda obter com a
pressuposto processual – “elemento cuja verificação depende, em procedência do processo declarativo, conforme determina o 112º/2, als.
determinado processo, do poder-dever de o juiz se pronunciar sobre o b), c), d) e e) quanto à segunda categoria de providências, estas versam
fundo da causa, isto é, de apreciar o mérito do pedido formulado e de sobre as situações em que o interessado pretende manter ou conservar
sobre ele proferir uma decisão”. um direito em perigo, evitando que seja prejudicado por medidas que
Ora, antes da Reforma de 2015, o 148º CPA determinava que o ato venham a ser adotadas (112º/2, als. a)/i)
tinha de ser definitivo, uma definitividade assente numa tripla Nos termos do 120º CPTA, para que sejam decretadas providências
dimensão: dimensão horizontal (afastada pelo 51º/1 e 3), em que o cautelares têm de estar preenchidos, cumulativamente, certos
particular pode optar acerca do momento no qual reage perante a requisitos, nomeadamente nos termos da 1ª parte do n.º1 do preceito
administração; dimensão material, bastando que o ato produza efeitos; tem de existir uma situação de periculum in mora, (o necessidade de
e a dimensão vertical. Com a revisão constitucional de 1989, as evitar o risco do retardamento da tutela que virá a ser assegurada pela
impugnações administrativas deixaram de ser necessárias, na medida sentença no processo principal), fumus boni iuris (a aparência de bom
em que, à luz do texto constitucional, os atos impugnáveis já não têm direito, através de um juízo de probabilidade de que a pretensão em
de ser “definitivos e executórios”, desnecessidade que é acompanhada causa venha a ser julgada procedente) e, por fim, tem de existir uma
pelos 51º/1 e 59º/4 e 5 CPTA. ponderação complexa dos interesses em jogo com o decretamento da
Assim, alguma doutrina entende que o recurso a uma impugnação providência, concretizando o princípio da proporcionalidade, nos
administrativa necessária consubstancia uma forma de o particular termos do n.º2 do mesmo artigo. Assim, e na senda da Reforma de
resolver de forma completa as situações lesivas criadas pelo ato 2015 ao CPTA, procedeu-se a uma unificação dos critérios para o
impugnado, podendo alargar os fundamentos da impugnação, que decretamento das providências, eliminando-se a distinção que
poderão então basear-se em razões de mérito ou ilegalidade. Além anteriormente existia entre providências cautelares conservatórias e
disso, na sua ótica, o facto de a impugnação suspender a eficácia do ato antecipatórias (antes da Reforma, exigia-se um mero juízo de não
recorrido em geral e o prazo curto de que os particulares dispõem para improbabilidade da procedência da ação principal para a concessão de
o fazer, demonstram que este regime não está construído para uma providência conservatórias, enquanto de obrigava a um juízo
prejudicar o particular e colocar em causa os seus direitos positivo de probabilidade para justificar a concessão de uma
fundamentais. providência antecipatória).
Neste sentido, o MAA entende que o CPTA, apesar de não consagrar Quanto à legitimidade para requerer providências, nos termos do
as impugnações necessárias, não visa excluir as disposições legais 112º/1, esta pertence a todos aqueles que têm legitimidade para
avulsas que as prevejam, considerando que os atos dotados de eficácia recorrer à justiça administrativa, tendo em conta os interesses que o
externa poderão imediatamente ser suscetíveis de impugnação requerente visa assegurar, nos termos do 120º. Além disso, a tutela
contenciosa, enquanto as meras decisões administrativas carecem de cautelar pode ser requerida em momento anterior ou posterior à
impugnação administrativa prévia, se legalmente prevista. Nestes propositura da ação principal, segundo consta do 114º/1. Forma do
casos, a impugnação é vista como um verdadeiro pressuposto processo cautelar - 114º a 119º CPTA.
processual autónomo, justificável pela tentativa de evitar que as Nos termos do 128.º do CPTA, ex vi do 130º/2, no caso de estarmos
entidades administrativas tenham constantemente de vir a juízo para perante providências conservatórias, há uma suspensão automática do
defender os seus interesses em situações em que a parte contrária não o ato administrativo então impugnado e ora em execução, paralisando-se
justifica e de não sobrecarregar com ações desnecessárias a atividade a produção de efeitos da norma, no dia em que o requerimento for
dos tribunais. No caso de a via graciosa não surtir o efeito desejado apresentado e a entidade em causa for citada.
pelo particular, este poderá recorrer aos tribunais, precisamente nos Já o 129º CPTA determina que se procede a uma suspensão da
mesmos termos em que o poderia fazer antes, independentemente de eficácia de atos já executados, através da demonstração da utilidade
ter havido um indeferimento expresso. que ainda adviria da suspensão desse ato, requisito que se acrescenta
Postura mais crítica face à sua admissibilidade tem o VPS, posição relativamente ao 120º.
que me parece tutelar de melhor forma os direitos dos particulares.
Efetivamente, após a revisão de 1989, continuar a permitir as
impugnações necessárias coloca em causa a regra geral e basilar da