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Carta aberta à construtora Gafisa

Não é de meu feitio, porém me vi impelido a redigir a presente carta aberta para relatar
aos eventuais interessados a situação constrangedora que vivenciei com a empresa
Gafisa nos últimos dias e, por conseguinte, seus efeitos.

Ações de marketing semelhantes ao concurso cultural do empreendimento Smart Vila


Mascote (São Paulo/SP) indubitavelmente contribuem para arranhar ainda mais a
imagem da empresa perante seus clientes, pela forma que foi conduzido pelo
departamento de Marketing da companhia, dirigido pelo senhor Luís Carlos Siciliano.

Sou assinante do jornal Folha de São Paulo, onde recentemente vi um anúncio de uma
página sobre o empreendimento Gafisa na Rua Lacedemônia. Além de ficar interessado
em conhecê-lo por causa da planta de 77m², me chamou a atenção o concurso cultural,
que premiaria 20 pessoas com vale-compras e com um automóvel Smart.

Do mesmo modo que milhares de pessoas, investi meu tempo e criatividade para
elaborar minha resposta. Na última quinta-feira, um momento de indescritível alegria:
recebi uma ligação dizendo que meu texto tinha sido selecionado, e que eu estava
concorrendo ao automóvel Smart. Avisaram-me que haveria um evento no
empreendimento no sábado (21/05), para entrega dos prêmios e para conhecimento do
ganhador do veículo.

Assim sendo, cancelei meus compromissos para o sábado e, muito ansioso, fiquei
esperando pelo evento. No entanto, fui surpreendido com uma ligação em cima da hora,
às 19h da sexta-feira, dizendo que o evento e a divulgação do resultado haviam sido
cancelados. Não foi explicado o porquê, tampouco houve um pedido de desculpas pela
expectativa que foi inutilmente gerada nos finalistas.

Sem saber o motivo do cancelamento, acreditei que o problema tivesse sido logístico, por
causa da abertura do stand do empreendimento naquela data e do grande fluxo de
pessoas que ali circulariam, hipótese que aparentemente acabou confirmada em minha
visita ao stand, onde fui atendido pelo corretor Pereira da Abyara, que me mostrou a
unidade de 77m².

No entanto, eu estava redondamente enganado sobre as circunstâncias que envolveram


o adiamento do resultado. E, para piorar, tive que encontrar as razões sozinho: descobri
que, na página da Gafisa no Facebook, um suposto familiar de finalistas (um perfil com
apenas três seguidores) acusou 15 das 20 respostas de terem infringido o regulamento,
que dizia:

“As pessoas que acessarem o endereço www.toptopsmartvilamascote.com.br,


cadastrarem uma frase sobre o tema ‘O que é bacana na Vila Mascote’ no prazo vigente
do concurso mencionado no item 3, concorrerá a um carro Smart 0km (1º colocado) e
vales presentes do Submarino de R$100,00 (2º ao 20º lugar).”

Seu argumento foi de que a maioria das pessoas desrespeitaram o regulamento, pois
enviaram TEXTOS ao invés de FRASES... Ora, para mim não há dúvidas de que o
argumento deste indivíduo foi enviesado, hipótese corroborada pelas seguintes
evidências:
a) A Gafisa não limitou o número de caracteres das respostas no regulamento. As
normas não estavam minuciosamente descritas, denotando que a empresa estava dando
a oportunidade dos participantes elaborarem seus textos da maneira que julgassem
adequados;

b) Há uma diferença, na língua portuguesa, entre norma e uso. Todos os concursos


culturais são comumente conhecidos como “concursos de frases.” Se o denunciante
estivesse correto, garanto-lhes que 90% dos concursos culturais promovidos pelas outras
empresas do país seriam indevidamente anulados;

c) Estou certo de que a expressão “uma frase” foi indubitavelmente escrita para
expressar que era cada pessoa só poderia participar uma única vez;

d) Ao originalmente escolher as 20 respostas privilegiando a criatividade e a adequação


ao tema, a Gafisa tinha deixado transparecer o sentido que estava dando ao vocábulo
“frase” no regulamento e que a palavra "frase", naquele contexto, estava entendida como
"texto" ou "resposta";

e) O argumento apresentado pelo denunciante claramente tentou (e conseguiu) mudar o


foco do concurso cultural, que deveria ser, acima de tudo, a criatividade dos textos;

f) O fato de apenas UMA pessoa ter reclamado denota que há uma “segunda intenção”
em seu julgamento. Por que outras pessoas não reclamaram? No gênero humano, é
sempre difícil atingir um acordo, é por isto que vemos guerras, fraudes e outras coisas.
Nessa promoção, como em qualquer outra, sempre haverá alguém insatisfeito, o famoso
“mau perdedor.” Acabo de ganhar um grande prêmio em outro concurso cultural, e a
empresa me disse que não foram poucas as pessoas que ligaram lá para tentar reclamar,
com argumentos esdrúxulos.

Hoje, recebi uma ligação da Gafisa, onde uma atendente leu com dificuldades uma
mensagem previamente escrita por alguém do departamento de Marketing da empresa,
dizendo que eu estava desclassificado do concurso cultural e que a construtora, muito
benevolente, havia resolvido me “presentear” com o vale-compras.

Eu não só recusei o “prêmio” como também avisei que não vou mais participar das
promoções da Gafisa, e que farei questão de divulgar para familiares e conhecidos esta
decisão vergonhosa da construtora, que acaba de perder mais um cliente. Depositem o
dinheiro em alguma conta de instituições sérias, como AACD ou Hospital do Câncer,
minhas convicções não estão à venda.

Esta mensagem é apenas para avisar as pessoas sérias, que depositam suas
esperanças, tempo e talento em concursos culturais – assim como eu – para que não
percam mais tempo com as ações da Gafisa, cujos desfechos são duvidosos.

Como diria Oscar Wilde, “experiência é a forma que chamamos nossos erros.” Sim, perdi
meu tempo com esta promoção, mas não perderei meu dinheiro comprando imóveis da
Gafisa.

Eduardo Rocha

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