EIXO TEMÁTICO
Pensar a partir de Althusser: avanços teóricos
Partindo-se (i) do princípio epistemológico de que “não existe fora da ideologia”, e (ii)
a sua correlata tese-proposição “o logos é da extensão da ideologia” confronta-se aqui o
discurso que aponta o fim das metanarrativas dentro de uma polêmica sobre a pós-
modernidade. Mas que continua reverberando em certo pensamento contemporâneo, no
campo da estética mas transbordando para a moral e a política, guardando uma tese ocultada
de que existe um sincronismo entre as esferas do ser humano tal que, se na cultura ou estética
são assim, é por conta de tal ou qual derrota ideológica ou econômica e tendo como
organizador uma ideia de verdade, beleza e validade [utilidade] que tenta ajuizar o ato político
— já por decorrência moral — como algo que deva também ser, de certo modo, uma
expressão estética.
Tentaremos aqui uma abordagem de uma perspectiva invertida: existe uma nova e
cíclica renovação da hegemonia do capitalismo e que malgrado moralmente a condenemos,
está dando seus frutos para uma perspectiva de classe, senão não estaria mundialmente sendo
adotada em diversos países e continentes: o fascismo não é prerrogativa da exceção, talvez
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Resumo expandido de comunicação enviado para apreciação da comissão organizadora do III Colóquio
Internacional Althusser, Unicamp, Campinas, Brasil, 2019.
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Graduado em Filosofia. Mestre e doutorando em Estética e História da Arte pelo PGEHA/MAC/USP.
Compositor e Dramaturgo.
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seja mesmo desafeito às exceções, pois apenas na naturalidade pode estender seus braços tão
literalmente para a aniquilação e ainda fazer um discurso sobre a liberdade, pois falam da
mais evidente e primária liberdade e naturalidade: a força. Dentro dessa perspectiva, muitas
estéticas são construídas para estar no veio desse progresso, e a marca da própria modernidade
foi estar nesse papel central do progresso. Mas de forma crítica.
Tentemos uma forma geral: (i) o logos — o discursivo de uma teoria — é da mesma
extensão que sua (ii) ideologia — a idealização das relações dessa teoria com os meios de
produção. Discutir sobre o esgotamento da modernidade, entrar na polêmica da pós
modernidade ou afirmar uma questão que nos lance no debate sobre ruptura e continuidade
nos arremete em uma discussão onde o que, de fato está no centro, é a auto imagem como
contemporâneo. Vale dizer, tomar decisões sobre o que seja a história.
O que implica uma relação entre observar, fazer parte ou construir e moldar o modelo
do que se quer mostrar ao que se quer mostrar, e com a teoria construtiva para tal.
O coração tem razões, a razão tem razões e a fé tem razões, o que de uma ou outra
ordem se manifeste não é a negação do sujeito, mas o sujeito em outras de suas ordens.
Professar como preparação da ação, confessar como chamado coletivo e considerar, como
aceitação do outro, são pertinentes à mesma subjetividade, que se expressa de vários modos,
inclusive em sua compreensão de mundo, um feixe de sensações de certezas e verdade que
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nos capacita, afinal, para enfrentar a obrigação cotidiana de viver sob uma liberdade incluída
como excluída no sistema humano.
O mundo, para Pascal, não era é descoberto pela razão, mas meticulosamente
construído, na medida em que enveredamos pela pequena ponte que parece estar sobre um
abismo, sujeito a ventos e balançando a todo momento, que são os valores, sem a
possibilidade de um ponto fixo. Os que estão na margem veem o movimento diferente dos
que estão no barco. Estes últimos, por outro lado, se tendem todos para um mesmo lado,
viram o barco.
As ligações entre ética e estética vem sendo estudadas desde quando se viram como
termos utilizados em diversas disciplinas e ramos de saber. Portanto quando Wittgenstein
molda seu famoso fragmento “ética e estética são uma só”, participa de um amplo espectro
que transita entre dois possíveis polos: a autonomia da estética e da ética, no sentido de estar
acima de suas próprias limitações e configurações a partir do modo de vida da qual
participam. No outro polo está o determinismo que implicaria, do modo de vida, uma marca
intransponível para qualquer produção cultural.
Referências
ALTHUSSER, Louis. Aparelhos ideológicos de Estado. Tradução Walter José Evangelista;
Maria Laura Viveiros de Castro. 6. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1985.
ALTHUSSER, Louis. L’unique tradition matérialiste (1985). Lignes, n. 8, p. 72–119, 1993.