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CURSO DE ARQUEOLOGIA
RIO DE JANEIRO
2021
INTRODUÇÃO
Desde o início dos tempos, Ahura Mazda ficou preso em uma luta com seu
irmão gêmeo, Angra Mainyu ou Arimã, que era o deus do caos e de tudo o que era
maléfico na criação. No livro sagrado do Zoroastrismo, o Avestá ou Zendavestá,
podemos encontrar estes conceitos. O Zendavestá é explicado e traduzido no livro The
Sacred Books of the East, editado por F. Max Müller (1880 vol. 5: 56):
O mundo, tal como é agora, é duplo, sendo o trabalho de dois seres hostis,
Ahura Mazda, o princípio bom, e Angra Mainyu, o princípio mau; tudo o que é
bom no mundo vem do primeiro, tudo o que é mau vem do segundo. A história
do mundo é a história de seu conflito, como Angra Mainyu invadiu o mundo de
Ahura Mazda e o estragou, e como ele será finalmente expulso.
Versículo 20: Aquele que segue a retidão e pureza (e aceita a retidão como seu
trabalho) deve desfrutar da luz do paraíso como sua morada eterna. No entanto,
os mentirosos e pessoas más terão que permanecer muito muito tempo na
escuridão com aflição e inquietação. O pensamento maligno e o caráter indigno
da pessoa pecadora são, na verdade, os fatores que trazem uma vida triste e
uma consciência inquieta para o dono.
No princípio, Deus criou o mundo e tudo o que há nele, incluindo o ser humano.
O primeiro homem e a primeira mulher eram Adão e Eva. Deus diz para Adão que não
pode comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, porém, o diabo, que
seria um Anjo chamado Lúcifer, convence Eva a comer do fruto proibido. Eva, por sua
vez, persuade Adão a comer do fruto. A desobediência de Adão e Eva é conhecida
como Pecado Original. Podemos ver a desobediência de Adão e Eva na Bíblia:
Ora, a serpente era o mais astuto de todos os animais do campo, que o Senhor
Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis
de toda árvore do jardim? Respondeu a mulher à serpente: Do fruto das árvores
do jardim podemos comer, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim,
disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis, para que não morrais. Disse
a serpente à mulher: Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que no dia
em que comerdes desse fruto, vossos olhos se abrirão, e sereis como Deus,
conhecendo o bem e o mal. Então, vendo a mulher que aquela árvore era boa
para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento,
tomou do seu fruto, comeu, e deu a seu marido, e ele também comeu. Então
foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; pelo que
coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais. (Gênesis 3: 1-7).
Após o Pecado Original, Deus prometeu que um Messias viria para derrotar
Satanás e para salvar a criação da maldição do Pecado Original. O Messias, de acordo
com a Bíblia, vem da linhagem de Abraão, Isaque, Israel e Judá. A promessa do
Messias, que é filho de Deus, é um assunto recorrente no Primeiro Testamento,
principalmente na voz do profeta Isaías que fala com detalhes sobre a chegada do Filho
de Deus na Terra. No primeiro trecho, o profeta faz uma referência a linhagem do
Messias dizendo: “E passará a Judá, inundando-o, e irá passando por ele e chegará até o
pescoço; e a extensão de suas asas encherá a largura da tua terra, ó Emanuel”, (Isaías 8:
8). No segundo trecho, o profeta Isaías fala sobre as origens do Messias e de sua paixão:
De sorte que todas as gerações, desde Abraão até Davi, são catorze gerações; e
desde Davi até a deportação para Babilônia, catorze gerações; e desde a
deportação para Babilônia até o Cristo, catorze gerações. Ora, o nascimento de
Jesus Cristo foi assim: Estando Maria, sua mãe, desposada com José, antes de
se ajuntarem, ela se achou ter concebido do Espírito Santo. E como José, seu
esposo, era justo, e não a queria infamar, intentou deixá-la secretamente. E,
projetando ele isso, eis que em sonho lhe apareceu um anjo do Senhor,
dizendo: José, filho de Davi, não temas receber a Maria, tua mulher, pois o que
nela se gerou é do Espírito Santo; ela dará à luz um filho, a quem chamarás
JESUS; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados. Ora, tudo isso
aconteceu para que se cumprisse o que fora dito da parte do Senhor pelo
profeta: Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, o qual será chamado
EMANUEL, que traduzido é: Deus conosco. E José, tendo despertado do sono,
fez como o anjo do Senhor lhe ordenara, e recebeu sua mulher; e não a
conheceu enquanto ela não deu à luz um filho; e pôs-lhe o nome de JESUS.
(Mateus 1: 17-25)
E logo, enquanto ele ainda falava, chegou Judas, um dos doze, e com ele uma
multidão com espadas e varapaus, vinda da parte dos principais sacerdotes, dos
escribas e dos anciãos. Ora, o que o traía lhes havia dado um sinal, dizendo:
Aquele que eu beijar, esse é; prendei-o e levai-o com segurança. Assim que ele
se aproximou de Jesus, disse: Rabi!, e o beijou. E, logo que chegou,
aproximando-se de Jesus, disse: Rabi! E o beijou. Ao que eles lhes lançaram as
mãos, e o prenderam. Mas um dos que ali estavam, puxando da espada, feriu o
servo do sumo sacerdote e cortou-lhe uma orelha. Disse-lhes Jesus: Saístes
com espadas e varapaus para me prender, como a um salteador? Todos os dias
estava convosco no templo, a ensinar, e não me prendestes; mas isto é para que
se cumpram as Escrituras. Nisto, todos o deixaram e fugiram. Ora, seguia-o
certo jovem envolto em um lençol sobre o corpo nu; e o agarraram. Mas ele,
largando o lençol, fugiu despido. Levaram Jesus ao sumo sacerdote, e
ajuntaram-se todos os principais sacerdotes, os anciãos e os escribas. (Marcos
14: 43-53).
Em ambas as religiões, temos um pós-vida que varia entre paraíso, que é para
onde as almas boas e justas vão, e o inferno, que é para onde as almas ruins, que seguem
o oposto do que é pregado pelo deus do bem, vão. Ainda no texto de Ana Cândida
Vieira Henriques, podemos ver sobre as semelhanças entre o pós-vida no zoroastrismo e
no cristianismo (2019: 254):
Como frisamos, todos os três estados católicos possuem muitos elementos que
identicamente denotam algum tipo de influência zoroástrica. As três
concepções de estados passam primeiramente pela conduta moral do indivíduo.
Esta conduta, para ambas as religiões, é fator determinante, pois que dependerá
dela a sorte do homem. Poderíamos nos perguntar: não seria óbvio que o
judaísmo tivesse exercido certa influência nos três estados cristãos, ou pelo
menos, algum destes? Até que poderia, se considerarmos a história religiosa
entrelaçada de ambas as tradições. Contudo, devemos nos lembrar que no
judaísmo não há a concepção de um estado intermediário, somente de céu (Gan
Eden) e inferno (Gehinom).
Desse modo, entendemos que todas essas semelhanças possuem uma fonte
comum, que seria nesse caso, uma fonte zoroástrica. Pensar como ocorrera esse
processo de assimilação religiosa nos foge ao alcance, pois se nos determos na
convivência cultural-religiosa no período helenista, o cristianismo ainda não
existia. Contudo, como vimos no capítulo anterior, por volta do século II e I
AEC, a esperança de mundo renovado e a vinda do messias tomou conta do
pensamento religioso de todos esses povos que viviam sob o mesmo domínio
helênico. Nesse sentido, é possível que a tradição judaica tenha sido
influenciada pela crença persa no tocante à renovação do mundo através de um
artífice escatológico, e por herança, posteriormente teria moldado a nascente
crença cristã.
BIBLIOGRAFIA
MÜLLER, F. Max. The Sacred Books of the East vol 4. Tradução de James
Darmesteter, Oxford University Press, Oxford, 1880.