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GREMAUD, A. P.; VASCONCELLOS, M. A. S.; TONETO JÚNIOR, R. Economia brasileira contemporânea. 7 ed.
São Paulo: Atlas, 2007. p. 344-430.
Durante os períodos Colonial (1500 – 1822), Imperial (1822 – 1889) e da República Velha (1889 – 1930),
a economia brasileira dependia basicamente de seu desempenho na exportação de algumas poucas
commodities agrícolas (ciclos do açúcar, algodão, café, ouro e borracha), essa foi a forma de inserção do
Brasil no mercado internacional. A República Velha é o momento de auge e ruptura dessa forma de
inserção.
As condições do mercado internacional dos produtos importados não eram controladas pelo Brasil,
desse modo as crises internacionais dos compradores, dentre outros fatos, poderiam prejudicar outros
setores da economia nacional, que dependiam direta ou indiretamente da exportação. Essa falta de
controle evidencia a vulnerabilidade de uma economia essencialmente agroexportadora.
Outro ponto importante é o alto dinamismo e rentabilidade do setor exportador, o que provoca uma
elevada concentração de recursos e capitais no setor, explicando a elevada concentração de renda desse
modelo de desenvolvimento. No Brasil, há também problemas históricos de distribuição de renda e
propriedade devido à estrutura fundiária preexistente e às consequências dos quase 300 anos de
escravidão.
Segundo Maria da Conceição Tavares, economista luso-brasileira, esse modelo caracterizou boa parte
da América Latina, e seu principal problema era o descompasso entre a estrutura produtiva e a estrutura de
consumo interno, mas há outros fatores, com o grande peso da exportação, concentrada em produtos
primários, e a importação diversificada que atende a boa parte da demanda interna (produtos
manufaturados e commodities). Isso também explica a vulnerabilidade desse tipo de economia, uma vez
que problemas externos poderiam implicar na queda das importações e afetando o consumo interno.
Nos países de economia desenvolvida, há maiores investimentos em pesquisa, maior quantidade de
produtos manufaturados nas exportações, as importações atendem apenas a parte da demanda interna, e
proximidade entre a base produtiva e a estrutura de consumo.
As oscilações do preço do café dependem das condições de demanda, e por outro lado, das condições
de oferta. O tempo entre o investimento do plantio e a colheita também influencia esse comportamento
cíclico dos preços. Analistas apontam a tendência da queda dos preços das commodities e da deterioração
dos termos de troca das economias agroexportadoras, já que os preços das exportações tendem a cair
frente às importações.
Termos de troca: relações entre os preços das exportações e das importações de uma economia.
a) À medida em que a renda mundial cresce, há uma tendência de crescimento menor por produtos
primários e maior por produtos manufaturados.
b) O estabelecimento de um mercado com características oligopolistas para produtos manufaturados,
e concorrencial para produtos primários.
Com a deterioração dos temos de troca, há uma tendência de crescimento relativamente inferior desse
tipo de economia, implicando em menor desenvolvimento ou subdesenvolvimento em nações
agroexportadoras. Para os analistas, a solução estaria na mudança do modelo de desenvolvimento,
justificando então as políticas de fortalecimento do setor industrial.
É interessante notar que o reinvestimento dos lucros no setor agrícola aumenta o volume de empregos,
mas não a remuneração dos trabalhadores, devido à grande oferta de mão-de-obra disponível através do
fluxo de imigração (especialmente italianos) após a abolição em 1888 que também agregou um grande
contingente de recém-libertos em busca de sustento.
Quando os preços do café caíam, da mesma forma, não alteravam-se os salários, mas o número de
empregados era reduzido. As possibilidades de ação do governo com o intuito de proteger a economia
eram poucas, com destaque para a desvalorização cambial e a política de valorização do café, que
cumpriam sua função a curto prazo, mas eram prejudiciais a longo prazo.
A desvalorização cambial servia para proteger, em moeda nacional, os lucros do setor cafeeiro quando
o preço do café caísse, e também sustentava o nível de emprego da economia, mas gerava outros dois
problemas:
a) Essa prática “escondia” os reais indícios dados pelo mercado de excesso de oferta, causando a
tendência à superprodução do café.
b) Isso também encarecia todos os produtos importados, e como os produtos importados eram a base
do consumo, causava uma inflação que afetava toda a sociedade, algo que o economista Celso
Furtado chamou de socialização das perdas.
Após o Convênio de Taubaté (1906), o café passou a ser retido em estoque, para diminuir a oferta e
recuperar os preços em queda, com as políticas de preços mínimos e de estoques reguladores, para reduzir
a oscilação dos preços durante as safras e entressafras. Disso decorriam dois problemas:
a) Havia incentivo para o plantio, pois à medida em que o governo intervinha, os riscos de queda nos
preços diminuíam.
b) No mercado internacional, essa ação do mercado brasileiro acabava estimulando a concorrência
com os demais produtores de café.
Duas são as correntes que buscam explicar as origens da indústria brasileira antes de 1930: a teoria dos
choques adversos e a industrialização induzida por exportações.
A teoria dos choques adversos explica o surgimento da indústria através das dificuldades em importar
produtos industrializados em determinados períodos, como a Primeira Guerra Mundial e a Grande
Depressão, ou quando o governo desvalorizava o câmbio. A industrialização induzida por exportações, por
sua vez, coloca que a indústria crescia juntamente nos momentos de expansão da economia cafeeira, pois
era quando havia o aumento do mercado consumidor.
Na primeira, é a crise do setor exportador que gera o impulso para a industrialização. Na segunda, o
impulso é o bom desempenho desse setor. Não se pode dizer que a indústria teve sua origem na crise do
café, visto que ela surgiu para, primeiramente, atender às necessidades de um mercado incipiente que
surgia graças à cafeicultura. Os produtos têxteis, alimentícios e de bebidas correspondiam a mais de 80% da
produção industrial do país em 1919.
A Grande Depressão de 1930, iniciada nos Estados Unidos e rapidamente alastrada pela Europa
impactou o Brasil de duas formas: a queda dos preços do café e a reversão dos fluxos de capital,
ocasionando uma grave crise no balanço de pagamentos brasileiros.
O Brasil reagiu com o que Celso Furtado chamou de deslocamento do centro dinâmico, da demanda
externa, como é típico de uma economia agroexportadora, e passa a ser a atividade voltada para o
mercado interno. Em comparação com outros países, os efeitos dessa crise econômica mundial foram de
menor intensidade e duração.
Manutenção da Renda
A manutenção do nível de renda foi feita essencialmente por meio da política de defesa do café, com
compra, estocagem e queima da superprodução e desvalorização cambial, uma política keynesiana de
sustentação da demanda agregada.
Deslocamento da Demanda
A produção nacional passou a gerar uma rentabilidade cada vez maior e, dada a queda do setor
cafeeiro, atraía cada vez mais capital, caracterizando então o deslocamento do centro dinâmico da
economia nacional.
A Revolução de 1930 foi um movimento político militar que derrubou o presidente Washington Luís e
impediu o recém-eleito Júlio Prestes de tomar posse. Liderado por Getúlio Vargas, opunha-se à oligarquia
cafeeira paulista. Os compromissos sob os quais esse governo firmava-se com os diferentes grupos que o
apoiavam eram:
a) Evitar mudanças sociais e alterações na estrutura fundiária do país.
b) Trazer para a base de sustentação do governo as massas urbanas, para que essas não fossem
influenciadas pelos movimentos comunistas, algo que foi alcançado através da concessão de
direitos (CLT, 1932), sem que estas entravassem o avanço da industrialização.
O desenvolvimento econômico era fundamental para manter esse compromisso, e com ele as alianças
estabelecidas. O período populista do Brasil vai de 1930 a 1964, sendo dividido em dois momentos:
inicialmente, o autoritarismo que exacerba o Estado Novo, e após a Segunda Guerra Mundial, a fase
democrática do populismo, com as eleições diretas para Presidente. Ele termina com a instabilidade política
do Governo de Jânio Quadros e João Goulart, culminando com o Golpe Militar de 1964.
Compra dos 11 aviões Savoia-Marchetti S 55 em troca de mais de 80 mil dólares em sacas de café que
estavam apodrecendo nos armazéns, em negociação com o Ministro italiano Italo Balbo Rossi, em 1931.
A industrialização ocorrida na década de 1930 possui certas características que permitem chamá-la de
industrialização por substituição de importações. A primeira delas é a de ser uma industrialização fechada,
em função de dois elementos:
a) Ser voltada para dentro, visar ao atendimento do mercado interno, e não uma industrialização que
produz para exportar.
b) Depender em boa parte de medidas que protegem a indústria nacional de concorrentes externos.
E suas consequências:
a) Inicia-se com estrangulamento externo, o motor dinâmico do PSI – por exemplo, queda do valor
das exportações, que mantendo a demanda interna por produtos importados, gera escassez de
divisas. O estrangulamento era frequente e relativo, pois as importações deveriam manter-se
minimamente para fazer face às necessidades de investimentos e ampliação da capacidade
produtiva do país, funcionando como, ao mesmo tempo, estímulo e limite.
b) Para contrapor-se à essa crise cambial, o governo toma medidas que protegem a indústria nacional
preexistente, aumentando a competitividade e rentabilidade da produção doméstica.
c) Há uma onda de investimentos nos setores substituidores de importação, produzindo
internamente o que antes era importado, aumentando a renda nacional e a demanda agregada.
d) Em função do próprio crescimento da demanda, há um maior estrangulamento externo, que se
traduz em aumento das importações e de parte dos investimentos feitos em matérias-primas e
equipamentos importados, e como o ritmo das importações é maior do que das exportações,
retoma-se o processo.
Dentro dessa lógica, inicia-se a industrialização por etapas, onde a pauta de importações ditaria a
sequência dos setores objeto dos investimentos industriais. O setor industrial é composto por subsetores
produtores de diversos tipos de bens: bens de consumo não duráveis (vestuário e alimentos), bens de
consumo duráveis (eletrodomésticos, automóveis), bens intermediários (ferro, aço, cimento, petróleo,
químicos), e bens de capital (equipamentos, máquinas). A industrialização pode desenvolver todos os
subsetores ao mesmo tempo, ou construir um após o outro, e nos dois casos a demanda interna é
parcialmente suprida por importações. O caso brasileiro aproxima-se mais da segunda forma, mas em
etapas; em cada etapa, um setor é mais atingido do que outro.
a) Tendência ao desequilíbrio externo, que aparecia por várias razões, como através da política
cambial, que visava diminuir os custos da produção industrial, transferindo a renda da agricultura
para ela, da indústria sem competitividade, que devido ao protecionismo buscava atender apenas
ao mercado interno, sem concorrer no mercado internacional, e a elevada demanda por
importações, que estabelecia-se com o investimento industrial e o aumento de renda.
Como a geração de divisas estava sendo dificultada, o PSI só era viável com o recurso do capital
estrangeiro, como dívida externa ou investimento direto, para eliminar o chamado “hiato de divisas”.
O Plano de Metas adotado no Governo Juscelino Kubitschek pode ser considerado o auge desse
período de industrialização brasileira, que por um lado acentuou as contradições mencionadas, e por outro
foi além do PSI. Havia uma demanda por bens de consumo duráveis que advinha da concentração de renda
que elevara padrões de consumo de determinadas classes sociais. O Plano pode ser dividido em três
pontos:
Os principais instrumentos de ação do governo foram, além dos investimentos das empresas estatais, o
crédito com juros baixos, uma política de reserva de mercado e a concessão de permissões para obter
empréstimos externos, além de isenções fiscais e garantias de mercado (protecionismo a novos setores),
que atraíram muitas multinacionais para o país. Pelo plano, visava-se atacar os pontos de
estrangulamento, áreas de demanda insatisfeita em função dos desequilíbrios do desenvolvimento
econômico por etapas, enquanto os pontos de germinação, áreas que geravam demanda derivada que
acarretavam em novos investimentos, sustentavam a taxa de crescimento do país.
O cumprimento das metas foi satisfatório, havendo um rápido desenvolvimento econômico do período.
Os setores de bens de consumo leve passaram a ceder lugar dinâmico aos bens de consumo duráveis, de
acordo com a lógica do PSI. Os principais problemas estavam na questão do financiamento, que era
realizado principalmente por meio da emissão monetária, causando inflação. Havia também concentração
de renda. Apesar de ampliar e diversificar a matriz industrial brasileira, aprofundou todas as contradições
criadas pelo processo de industrialização por substituição de importações, enquanto por outro lado o
superava.