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e julianacarolina@gmail.com.
índice
04 Apresentação

10 Agradecimentos

11 Um novo jeito de criar crianças?

21 O que é o comportamento

27 O que as neurociências desvendaram


sobre o cérebro infantil

35 Regras e limites

41 Efeitos da punição para o


desenvolvimento cognitivo e emocional

46 Lidando com birras e outas situações


desafiadoras – como “ajudar” o cérebro?

53 Como desenvolver segurança e conexão

61 Juntando tudo

68 Referências bibliográficas
Apresentação
APRESENTAÇÃO

Olá! Fico feliz em poder compartilhar com


você o material do Programa de Oito Semanas
“Criando filhos com Conexão e Presença:
Disciplina Positiva e Neurociências”.

A responsabilidade pela educação de crianças em


um mundo onde as mudanças ocorrem de forma
rápida demanda conhecimento teórico e prático dos
adultos. As fontes de informação são abundantes
nos meios de comunicação e nas redes sociais.

Nas estantes das grandes livrarias, existem


dezenas, senão centenas de títulos direcionados
aos pais: pais de filho único, pais de menino,
pais de meninas, pais de crianças que foram
adotadas, pais de adolescentes. Contudo, essa
abundância de informação não parece estar
resultando em pais satisfeitos com o ambiente
de casa e com o relacionamento familiar.

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APRESENTAÇÃO

Se há tanta informação disponível, porque as


famílias estão cada vez mais desconectadas,
com pais sob forte estresse e crianças e
adolescentes isolados e descrentes nos adultos?

De fato, a conexão entre pais e filhos através de


uma disciplina e de uma educação emocional
positiva são as chaves para o estabelecimento
de laços duradouros de afeto e respeito.

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APRESENTAÇÃO

Esse é o grande objetivo do Programa


de Oito Semanas para pais e adultos
que convivem com crianças: fornecer
uma base teórica e treinamento
prático para compreender e atuar
junto a crianças e adolescentes.

Nesse e-book você vai compreender como ocorre


o desenvolvimento emocional e cognitivo da
criança para então fundamentar suas ações e
práticas. Nos encontros (presenciais e online)
medidas específicas para cada fase serão
abordadas extensivamente, com riqueza de
detalhes e muitos exemplos de aplicação.

Seja você pai, mãe, jovem adulto que está


pensando em ter filhos ou mesmo profissional que
lida com crianças, não perca essa oportunidade!

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APRESENTAÇÃO

sobre a
autora
Sou psicóloga clínica desde 2010, quando me
formei na Universidade Federal de Minas Gerais.
Desde que saí da faculdade atendo adultos,
adolescentes e crianças. Contudo, a partir de
2014 passei a me dedicar à clínica da infância
e da adolescência praticamente em caráter
exclusivo, me especializado em saúde mental
nesse contexto. Atualmente, contabilizo mais de
mais de 3000 atendimentos a esse público, bem
como ao entorno familiar.

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APRESENTAÇÃO

“A interação entre pais e filhos apresenta importante


papel no desenvolvimento das crianças, de forma que,
dificuldades nessa relação apresentam associação
com comportamentos disfuncionais e transtornos
psiquiátricos, como por exemplo, o Transtorno de
Conduta, Transtorno Desafiador Opositivo (TOD) e
Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH).
Para o tratamento destes transtornos, a metodologia
chamada “treinamento de pais” é apontada, em
vários estudos, como a mais confiável modalidade de
tratamento não farmacológico. Ela reduz os problemas
de comportamento infantil e aumenta a qualidade da
parentagem, com resultados mantidos a longo prazo.”

Um dos objetivos do programa de treinamento de pais


é melhorar as relações estabelecidas entre pais e filhos,
gerando uma infância mais saudável e um ambiente
familiar mais harmônico. Assim, busca-se atuar também,
preventivamente, abrandando problemas psíquicos das
crianças e adolescentes quando atingirem a idade adulta.”

Dra Luciana Brito - Psiquiatra

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APRESENTAÇÃO

Aos meus pais.

Aos meus mestres.

Aos meus pacientes e familiares.


mentos
agradeci-

À Dra. Sofia Bauer pelo


acolhimento, encorajamento e
suporte constantes.

À Carolina Perrella.

À Dra. Luciana Brito, que é


colaboradora nesse projeto.

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Um novo jeito de
criar crianças?
UM NOVO JEITO DE CRIAR CRIANÇAS?

Falar de “crianças” requer compreender o percurso


histórico dessa categoria que vai muito além da
faixa etária, assim como o conceito de “infância”.

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UM NOVO JEITO DE CRIAR CRIANÇAS?

A origem dos termos diz muito da forma como


encaramos essa fase tão especial para a construção
de cidadãos. A palavra “infância” tem origem no latim
infantia, do verbo fari = falar, onde fan = falante e in
constitui a negação do verbo. Portanto, infans refere-
se ao indivíduo que ainda não é capaz de falar. Será
esse o melhor ponto de vista para entender o mundo
das crianças e sua forma de compreender o nosso?

No mundo contemporâneo, em que as famílias são


formadas por pais que optam pela paternidade tardia,
e, frequentemente, escolhem ter apenas um filho, é
natural que o saber sobre a infância fique distante.

Na geração anterior, ainda era frequente que as mães


e pais de primeira viagem tivessem contato quase
diário com a família ampliada: tios/tias, avós, pais
e etc. Hoje, ainda que morem na mesma cidade, é
comum haver famílias em que as diferentes gerações
não se veem com frequência, e, assim, pode ficar
difícil criar crianças sem muitas referências.

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UM NOVO JEITO DE CRIAR CRIANÇAS?

Mães, pais e até educadores têm usado a


internet e as redes sociais como um local
de pesquisa para questões da criação.

Na verdade, muitas dessas questões dizem respeito


aos cuidados com o corpo da criança. Mas e quando
chega na questão do comportamento? A tendência
dos pais é repetir a criação que tiveram, reproduzindo
o estilo de parentagem de seus próprios pais.

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UM NOVO JEITO DE CRIAR CRIANÇAS?

É comum ouvir frases do tipo: “meus pais fizeram


isso comigo e eu sobrevivi”. No entanto, todo pai quer
acertar e criar filhos felizes, não sobreviventes. É
aqui que reside a proposta desse e-book: apresentar
as melhores práticas em parentagem e disciplina
positiva, desse modo levar a uma criação que resulte
em adultos responsáveis e independentes.

Inicialmente, é necessário ter claro


o significado de disciplina: a palavra
em português deriva diretamente do
latim disciplīn, no sentido de campo
de conhecimento. Ex: Disciplina
Matemática, Disciplina Latim.
Disciplinar, portanto, é ensinar algo.

Infelizmente, desde tempos longínquos,


o termo disciplina foi perdendo o seu
sentido original e associando-se mais às
estratégias de punição e ameaça.

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UM NOVO JEITO DE CRIAR CRIANÇAS?

De fato, pais, mães e responsáveis, bem como todo o


sistema educacional, baseiam-se na punição, desse
modo, não é raro encontrar até hoje profissionais
de saúde que se posicionam de forma favorável
ao punitivismo como forma de disciplina, inclusive
o punitivismo físico através de palmadas.

Essa “disciplina convencional” objetiva a erradicação


do mau comportamento, muitas vezes pela punição.
Todavia, o advento das neurociências, nas últimas
duas décadas, trouxe inúmeros avanços para a forma
como entendemos o desenvolvimento das crianças.

Atualmente, entende-se que uma boa formação


e educação (portanto, uma boa disciplina) deve
ajudar a criar conexões cerebrais das crianças,
conexões essas que os disporão a tomar melhores
decisões, lidar com frustrações e serem criativos.

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UM NOVO JEITO DE CRIAR CRIANÇAS?

A disciplina positiva associada às descobertas das


neurociências, portanto, ensina habilidades sociais
destacadas: amorosidade, compaixão, empatia,
autocontrole, auto responsabilidade. Incrível, não é?

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UM NOVO JEITO DE CRIAR CRIANÇAS?

Uma verdade necessária nessa introdução: Não existe


botão de ‘piloto automático’ na educação de crianças.

Por fim, queremos responder de forma rápida


a seguinte questão: por que devo ler sobre
disciplina positiva, por que devo estudar sobre
criação com afeto e respeito, sendo que eu
sinto que amo e respeito meu filho(a)?

Porque em uma família com crianças pequenas, os


dias passam “voando”. Tudo acontece rápido. Pais
e responsáveis precisam ser habilidosos em prover
segurança às crianças e em tomar decisões rápidas.

Em milésimos de segundo, em uma situação


estressante do dia-a-dia, o cuidador pode
ser ver em uma situação em que precisa
contornar uma birra, apaziguar uma briga
entre irmãos ou um adolescente que acaba de
dizer que ‘odeia’ e bater a porta do quarto.

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UM NOVO JEITO DE CRIAR CRIANÇAS?

Nessas horas, as próprias habilidades do cuidador


são testadas, e a escolha entre NÃO acionar o
piloto automático da criação (bater, gritar punir,
ameaçar) respirar e deve ser tomada. Pensando
em uma educação a longo prazo, é evidente que a
disciplina positiva traz melhores condições para o
desenvolvimento amplo da criança e para o fomento
de conexões duradouras entre os membros da família.

Ao final do programa, tendo colocado


em prática os ensinamentos, a família
vai ficar mais tranquila, assim como o
ambiente familiar. Os pais terão confiança
de estar preparando filhos com altas
habilidades sociais e cognitivas.

O programa proporciona ferramentas que, se


aplicadas, trarão de volta a conexão afetiva
e a excelência nas relações familiares.

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UM NOVO JEITO DE CRIAR CRIANÇAS?

Dica de filmes/
seriados sobre
relações que
não queremos
ter com os filhos

• Série Black Mirror


(4a temporada, 2o
episódio, disponível
no Netflix)

• Filme Homens,
Mulheres e Filhos

Black Mirror “Arkangel”


Foto: Netflix

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O que é o
comportamento?
O QUE É O COMPORTAMENTO?

Estabelecer um ambiente tranquilo dentro de casa é


o sonho de toda mãe, pai. Para atingir esse objetivo,
o cotidiano de brigas, discussões, gritos, deve ser
alterado. Para aproveitar ao máximo os ensinamentos
do programa, é importa começar entendendo o
que é o comportamento. Essa é a parte teórica
necessária para a compreensão e aplicação das
ferramentas que serão apresentadas no programa.

Comportamento é a ponta do iceberg na ecologia


humana. Vamos entender esse conceito através de um
exemplo, retirado do livro Defiant Children (BARKLEY,
2013): Imaginem um adulto que está tomando conta
de uma criança e pede para que essa recolha os
brinquedos do chão da sala de televisão. A criança,
por algum motivo, se recusa, e começa a bater a
cabeça contra o chão. O cuidador, naturalmente
assustado, pega o filho no colo e tenta acalmá-lo,
terminando, por si só, de recolher os brinquedos.

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O QUE É O COMPORTAMENTO?

COMPORTAMENTO bater a cabeça


DA CRIANÇA: no chão.

RESULTADO IMEDIATO ser acolhida


DO COMPORTAMENTO pela mãe.
DA CRIANÇA:

QUE LEVA AO SEGUINTE bater a cabeça no chão


garante carinho e evita que eu
APRENDIZADO:
tenha que executar ordens.

Os pais e educadores pensam que, ao estudar disciplina


positiva, vão encontrar muitas ferramentas para entender
e mudar o comportamento da criança. Em parte, estão
certos. Entretanto, a primeira mudança a ser feita é no
comportamento dos pais, já que o núcleo familiar é o
ambiente natural da criança, e, por definição, comportamento
é uma relação dela com o ambiente que a cerca, correto?

Antes de reagir a um mau comportamento da criança, é


necessário que os pais pensem, por um instante: Por que ele
está ocorrendo? O que devo ensinar? Como devo ensinar?

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O QUE É O COMPORTAMENTO?

Lembre-se: esse e-book é o material introdutório ao


programa de oito semanas. Os detalhes e exemplos
serão trabalhados em cada uma das oito sessões.

“E ao final, uma questão importante que deve ser


revista sempre que se sentir esgotado: você está
à beira de um colapso ou de um avanço?”

Timothy Ferris

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O QUE É O COMPORTAMENTO?

Quando um adulto se encontra no piloto automático


da disciplina convencional, o mais natural é ele pensar
que a justificativa para um mau comportamento
reside na personalidade da criança, que seria
‘pirracenta’, ‘maldosa’ ou ‘difícil’. Não é raro o
adulto achar que a criança está se comportamento
mal para irritar, manipular ou punir alguém.

Entretanto, essas explicações estão incorretas.


O conceito de personalidade é complexo e esse
atributo só se encontra delimitável na idade adulta.
A criança, principalmente as menores, não tem
a menor capacidade de voluntariamente querer
‘irritar’ alguém. Isso é impossível por questões
básicas de seu desenvolvimento neurológico que
serão abordados no capítulo a seguir. Apenas
para citar um exemplo, muitos adultos se irritam
quando crianças não compreendem uma fala
básica, como por exemplo, “daqui a pouco’.

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O QUE É O COMPORTAMENTO?

Mas, aos dois anos, a criança ainda não tem noção de


temporalidade (noção de tempo, nem de sequência).
Dez minutos ou daqui a pouco ou cinco horas são
palavras que não trazem sentido nenhum para ela.
Os adultos precisam muitas vezes, sequenciar as
atividades para as crianças compreenderem.

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O que as neurociências
desvendaram sobre o
cérebro infantil
O QUE AS NEUROCIÊNCIAS DESVENDARAM
SOBRE O CÉREBRO INFANTIL

Muitas das brigas são causadas por fagulhas


que são alimentadas por crenças errôneas dos
pais sobre o que eles podem ou não esperar
dos filhos, de acordo com a idade deles.

Neste capítulo, busca-se entender como o cérebro


está sendo construído na infância. No programa
de oito semanas presencial ou online, todas as
ferramentas de gestão emocional serão baseadas
na perspectiva da neurobiologia das aquisições
emocionais e cognitivas de cada fase.

O que chamamos de cérebro humano é, na


verdade, um conjunto de estruturas anatômicas
que funcionam em sinergia para controlar o nosso
corpo desde suas funções mais básicas (como
apetite e sono) até as funções mais “sofisticadas”
como tomada de decisão e controle dos impulsos.

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O QUE AS NEUROCIÊNCIAS DESVENDARAM
SOBRE O CÉREBRO INFANTIL

Essas estruturas foram surgindo ao longo de


centenas de milhares de anos na nossa espécie,
e, conforme o desenho abaixo, vocês podem
ter uma noção desse desenvolvimento:

1) De dentro para fora: as estruturas localizadas


mais no ‘miolo’ do cérebro são mais arcaicas.

2) De baixo para cima: as estruturas localizadas na


extremidade inferior do cérebro são mais arcaicas.

(fonte desconhecida, imagem retirada da internet)

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O QUE AS NEUROCIÊNCIAS DESVENDARAM
SOBRE O CÉREBRO INFANTIL

Esse ‘modelo’ cerebral pode ser entendido da


seguinte maneira:

As áreas mais primitivas (onde se vê um


réptil) correspondem ao “cérebro reptiliano”,
que regula funções muito básicas como:
respiração, batimentos cardíacos, reflexos.

As áreas medianas (onde se vê mamíferos e


primatas) também são antigas em termos de
existência, e seu surgimento constitui um ganho
nas funções de transmissão e integração entre
informações do ambiente externo e do próprio corpo.

Contudo, e esse é o “X” da questão, a área mais


nobre do cérebro (o córtex, onde há um humanoide
desenhado) é predominantemente um ganho da
nossa espécie – e unicamente da nossa espécie.

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O QUE AS NEUROCIÊNCIAS DESVENDARAM
SOBRE O CÉREBRO INFANTIL

Esse córtex concentra e as funções que os pais e


educadores, bem como toda sociedade, associam
a uma boa criação: comportamento social elevado,
moral, empatia, elaboração de resposta aos estímulos
que chegam das partes anteriormente descritas.

Assim, sabe por que o filhote humano demora


tanto tempo para ‘ficar pronto’? Porque essas
estruturas atingem seu ápice de desenvolvimento
aos... vinte e quatro anos de idade. Sim, isso
pode parecer uma notícia desagradável! A gente
demora a ficar “pronto”...se é que um dia ficamos!

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O QUE AS NEUROCIÊNCIAS DESVENDARAM
SOBRE O CÉREBRO INFANTIL

A boa notícia é que a infância e a adolescência são


os períodos de MAIOR janela de neuroplasticidade,
épocas privilegiadas em que o cérebro está
mais apto a ter sua circuitaria trabalhada
para melhores relações interpessoais.

Desse modo, chegamos ao fundamento da disciplina


e educação emocional positivas de crianças: é
necessário compreender que ‘criar’ um adulto
consciente, responsável e cheio de habilidades
sociais depende da construção de relações
positivas. Sabe-se hoje que o cérebro precisa se
‘emocionar’ para ocorrer um aprendizado.

Por outro lado, a antiga disciplina punitiva (baseada


em ameaças, tapas, humilhações, gritos e culpa)
concentrava-se em despertar medo e paralisação do
cérebro reptiliano. Por isso as punições violentas (físicas
e verbais) interrompem na hora o comportamento
inadequado. Elas são chocantes para o sistema nervoso,
deixando a criança mais irritada ou totalmente paralisada.

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O QUE AS NEUROCIÊNCIAS DESVENDARAM
SOBRE O CÉREBRO INFANTIL

Nesse contexto, fica aqui um questionamento que


merece ser feito: que tipo de adultos estamos formando?
Replicadores amedrontados e ‘obedientes’ ou seres
autônomos, responsáveis, criativos e flexíveis?

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O QUE AS NEUROCIÊNCIAS DESVENDARAM
SOBRE O CÉREBRO INFANTIL

Além da questão da “construção” do cérebro


através de uma disciplina prudente, as questões
da fisiologia desse órgão e do sistema nervoso
também afetam diretamente a capacidade da
criança se desenvolver adequadamente.

Crianças criadas em ambientes conturbados,


submetidos a uma educação confusa, displicente
e frouxa, têm atrasos cognitivos e emocionais
dificilmente revertidos na vida adulta.

Ainda sobre o comportamento, é necessário


distinguir entre o Não conseguir versus Não querer,
o que cada idade permite a criança fazer. Não
existe a possibilidade de se cozinhar numa panela
de pressão que ainda está sendo fabricada.

Contudo, vale destacar que inconstância do


comportamento – tem dias que serão difíceis e ponto.
Para todos.

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Regras e limites
REGRAS E LIMITES

O amor é uma forma de submeter-se ao ideal que


a sociedade apresenta. Faz parte do processo
civilizatório a criança perder um pouco seu lugar
de ‘sua majestade o bebê’ (FREUD, 1976) para
conseguir se relacionar com seus pares de maneira
não tirana. Para uma criança, os pais são os seres
mais perfeitos e maravilhosos do mundo...

São seus verdadeiros heróis, aqueles que vieram


antes deles, que oferecem proteção e carinho,
apresentando os objetos das trocas sociais,
os afetos, a família.... Os pais, principalmente
com exemplos, moldam a criança.

O dizer “não” passa pela afetividade e sabemos que


frustrar quem a gente ama é difícil. Mas é necessário
apostar nos outros ingredientes da criação com
afeto e limite, tais como: amor, respeito, consistência,
presença, atenção. Essa é uma receita para a vida!

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REGRAS E LIMITES

Efeitos do excesso do
uso da palavra “Não”

Descrição do processo versus proibição. Exemplo:


imaginem a cena de uma família no clube, e, em
dado momento, os pais constatam que há lodo nas
pedras da beirada da piscina, tornando-a perigosa.
Ao invés de fazer uma proibição (ex. Não corra na
pedra de jeito nenhum!!!!) os pais podem avisar: “Você
pode correr na grama, na pedra você deve andar”.

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REGRAS E LIMITES

Escolha suas guerras

É preocupante ver o filho comendo um pacote


inteiro de biscoito por vários motivos. Ver
descalço no frio. E, sendo a lista de coisas
preocupantes infindável, tentar patrulhar todo e
qualquer comportamento seria enlouquecedor.

Se a situação não for desumana, nem colocar


a vida da criança em risco, porque assumir
uma postura de fiscalização? Toda ação
tem uma consequência, isso é evidente.

Comer meio quilo de jabuticaba pode dar dor


de barriga. Sair todo dia sem agasalho pode
levar a sentir frio. Ir dormir as quatro da manhã
quando se tem prova no primeiro horário do dia
seguinte é arriscadíssimo. Mas, se a criança
não experimentar a consequência de nenhum
ato, ela não vai aprender a se autorregular.

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REGRAS E LIMITES

Antecipe

Crianças, principalmente as menores, gostam de


rotina e gostam de se sentir parte de um “enredo”.
Antes de sair com elas, explique onde vão, o que
será feito, quando retornam, se será possível ou
não fazer um lanche ou comprar alguma coisa.

Outras alternativas:

Pipoca na saída da escola é um campeão de


brigas, todo mundo sabe! Vale a pena ter um
momento de estresse todo santo dia com seu
filho? Biscoito antes do almoço, quem não quer? O
pai pode ter a oportunidade de dizer: “Ok, você vai
ganhar o biscoito, mas vamos almoçar aqui e logo
depois a gente come”. E desviar o foco rapidinho,
com naturalidade: Contar um “causo”, pedir uma
ajuda, (haja criatividade) ...como funciona!

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REGRAS E LIMITES

Rotina, Rotina e Rotina! Ciclo


positivo do bom comportamento

Toda criança é cooperativa e empática


por natureza, precisando de adultos que
estimulem essas características.

Não basta ditar regras e não fazer junto,


não basta falar o que não pode fazer e não
oferecer direcionamento e alternativas.

No programa de oito semanas, dois encontros são


dedicados exclusivamente ao estudo e aplicação
de técnicas e ferramentas para o estabelecimento
de regras claras e objetivas entre pais e filhos.

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Efeitos da punição para
o desenvolvimento
cognitivo e emocional
da criança
EFEITOS DA PUNIÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO
COGNITIVO E EMOCIONAL DA CRIANÇA

Nossa sociedade foi construída sobre valores


calcados na diferença e nos privilégios. Quando nos
deparamos com fatos históricos, quando abrimos
qualquer livro de história ou geografia, deparamo-nos
com três fatos recorrentes: guerras, dominação e
revoluções. A violência é uma constante na dinâmica
das relações humanas e, mesmo a educação,
reproduz às vezes um discurso punitivista.

Não é raro ouvir de adultos quando as coisas


começam a sair do controle: “essa criança tem
que apanhar, porque se não apanhar em casa,
vai apanhar na rua”. Muitos acreditam que o
para aprender, as crianças precisam sofrer.

Quando disciplinamos com ameaças, seja


explicitamente com gritos, ou implicitamente
com o tom de voz, olhar e postura, adivinha
qual parte do cérebro das crianças
estamos “chamando para a briga?”.

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EFEITOS DA PUNIÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO
COGNITIVO E EMOCIONAL DA CRIANÇA

Sim. O cérebro ancestral, o reptiliano, aquele


responsável pelas reações de fuga e luta. Um berro
dentro do carro, na escada de casa, um empurrão
imediatamente coloca o modelo de luta ou fuga
em ação, e a criança vai reagir, por natureza.

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EFEITOS DA PUNIÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO
COGNITIVO E EMOCIONAL DA CRIANÇA

Isso não leva a lugar nenhum, em termos


produtivos. Aliás, leva sim. No momento específico,
a criança pode até parar o comportamento
inadequado, mas, a longo prazo, não está
construindo o “andar de cima” do cérebro.

Sendo assim, crianças submetidas a ambiente


doméstico estressor são mais propensas a
desenvolver uma relação frágil com os pais,
com repercussão negativa na adolescência e na
vida afetiva. Crianças que temem os pais evitam
compartilhar com eles situações desafiadoras
da vida, tendendo ao isolamento e a evitação.

Portanto, a ausência de limites é muito


estressante. De fato, muitas das crianças que
eu atendi e que foram as mais desafiadoras, em
termos clínicos, eram as que não tinham ainda
aprendidos a se relacionar com os limites e
frustrações dos ambientes que frequentavam.

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EFEITOS DA PUNIÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO
COGNITIVO E EMOCIONAL DA CRIANÇA

Essas crianças, apesar de serem punidas fisicamente


quase todos os dias, eram muito angustiadas
e com frágil vínculo com os pais. Contudo:

“A prática da violência como forma de disciplina


gera exatamente isto: indivíduos instáveis, carentes,
desconfiados, inseguros, e – o que pode ser ainda
pior – que confundem amor com violência ou aceitam
que a violência também seja uma manifestação do
amor. É claro, portanto, que educar com violência
não gera qualquer tipo de vínculo seguro e saudável,
pelo contrário.” (SENA e MORTENSEN, 2014)

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Lidando com birras
e outas situações
desafiadoras – como
“ajudar” o cérebro?
LIDANDO COM BIRRAS E OUTAS SITUAÇÕES
DESAFIADORAS – COMO “AJUDAR” O CÉREBRO?

“Uma criança que se comporta mal é uma


criança desconectada” Janel Nelsen

A base de toda disciplina é conectar e


redirecionar. Contudo, muitos pais questionam:
conectar não significa ser permissivo?

Voltemos ao capítulo em que apresentamos


o cérebro: crianças estressadas, submetidas
frequentemente a ameaças, angústia de
separação, chantagens emocionais, reclamações,
são notoriamente mais reativas (em outras
palavras, não estão desenvolvendo as funções
nobres do comportamento humano).

Redirecionar, assim como castigos e sermões,


simplesmente não funcionam em momentos
desafiadores (birras, gritarias, esperneios).

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LIDANDO COM BIRRAS E OUTAS SITUAÇÕES
DESAFIADORAS – COMO “AJUDAR” O CÉREBRO?

Nos momentos de birra é como se o


cérebro ‘primitivo’ estivesse no comando, e
você já entendeu que ele não dialoga nem
compreende: ele reage lutando ou fugindo.

É hora de usar estratégias de redirecionamento


– pense no que o “piloto automático” da
criação faria na situação. Gritaria? Bateria?
Daria um sermão de 25 minutos?

Não estou pedindo que mude tudo.


Apenas considere por alguns instantes
uma alternativa às punições acima.

Não gritar e não bater seria um bom começo, certo?


Contudo, muitos pais acham que o sermão ensina.
E ensina mesmo. Mas não é só isso que você quer.
Lembra, você quer ajudar a natureza a construir um
aparato de boas tomadas de decisões no seu filho.

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LIDANDO COM BIRRAS E OUTAS SITUAÇÕES
DESAFIADORAS – COMO “AJUDAR” O CÉREBRO?

Portanto, você pode fazer uma pergunta MUITO


simples para seu filho: “Me fale sobre isso:”

Sobre essa nota ruim. Sobre esse brinquedo que


apareceu na sua mochila e não é seu. Me fale sobre
você ter batido naquele colega. Uma ‘boa conversa’
começa de forma não violenta, com um tom de voz
neutro, no qual a criança possa sentir-se segura
para ser acolhida na bobagem em que ela fez.

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LIDANDO COM BIRRAS E OUTAS SITUAÇÕES
DESAFIADORAS – COMO “AJUDAR” O CÉREBRO?

E temos um aviso: crianças com longo


histórico de culpabilização vão omitir e mentir
mais, porque não confiam nos pais.

Eles aprenderam, a partir do comportamento dos


pais, que quando as coisas erradas que fazem
são descobertas, eles podem sofrer castigos,
apanhar, etc. Outras ferramentas de conexão:

Olho no olho e pele com pele: quando a criança


é abraçada e tem contato pele com pele com
pai ou mãe, ela tem um hormônio chamado
oxitocina liberado no hipotálamo. Esse hormônio
é neuroprotetor, aumenta a imunidade, o bem-
estar físico e emocional, altém de acalmar. É muito
importante tocar as crianças, estar com elas.

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LIDANDO COM BIRRAS E OUTAS SITUAÇÕES
DESAFIADORAS – COMO “AJUDAR” O CÉREBRO?

Respiração e coerência cardíaca: em alguns


momentos de crise, pode ocorrer da criança estar
em um momento tão difícil, que ela literalmente
não compreende o que se passa a sua volta. Chorar
é uma forma de se acalmar, de se autorregular.
Ao final do choro, não há necessidade de dar
sermões, mas, o cuidador pode simplesmente
estar na presença da criança respirando de forma
tranquila, de modo que a criança acompanhe
seu ritmo respiratório e possa se acalmar.

Uma vez que a criança tenha se acalmado, ou,


ao menos, se tornado mais receptiva, entra em
cena o segundo passo: Redirecionamento.

Devemos lembrar que quando as


necessidades de contato da criança não são
suficientemente correspondidas, os circuitos
cerebrais dela ficam em carência, repetindo
a ‘birra’ até obter a resposta desejada.

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LIDANDO COM BIRRAS E OUTAS SITUAÇÕES
DESAFIADORAS – COMO “AJUDAR” O CÉREBRO?

Segue o relato de uma mãe que aplica a disciplina


positiva: “Quando passa a birra eu me aproximo
e ofereço abraço, colo, carinho. Se ele aceita,
ok. Se ela recusa, então continua fazendo o que
estava fazendo e espero mais um tempo. Depois,
me aproximo com algo para ‘quebrar o gelo’ e
aproveito para conversar. Não fico remoendo.”

Você consegue ser humilde nas suas relações?


Inclusive nas relações com seus filhos?

Não subestime o poder do seu exemplo!


prática

Pode ser que você tente essa ferramenta


teoria na

e ela não funcione sempre, mas tenha


em mente que sua criança vai observar
com atenção todas as suas tentativas,
mesmo quando o mau comportamento
não cessar imediatamente.

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Como desenvolver
segurança e conexão
COMO DESENVOLVER SEGURANÇA E CONEXÃO

Tive um paciente, um menino com menos de dez anos


de idade, cujo nome era de anjo...Adorava super-heróis
pouco convencionais. Inventava os seus próprios
personagens: homem-pizza, com superpoderes de
pizza, lógico. Em suas sessões semanais, alternava
o humor entre uma sessão e outra, trazendo
pouquíssimos avanços, mesmo depois de meses, e
mesmo com medicação prescrita pelo psiquiatra.

Aos oito anos, era muito inteligente, mas não tomava


banho sozinho. Não dava conta de ter amigos e
batia, inclusive na mãe... Em uma sessão, agrediu-
me, em uma situação que pude constatar a imensa
tristeza a solidão em que aquela criança vivia, à
mercê de seus próprios impulsos. Hoje, alguns
anos após seu tratamento, ainda me lembro de
como implorava por elogios, de forma um tanto
inapropriada. “Sou um bom menino, não sou?” “Diz
que ficou bonito!” “Eu sou muito inteligente, né?”

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COMO DESENVOLVER SEGURANÇA E CONEXÃO

Acredito que nenhum pai quer criar um filho para


ser um adulto sedento por elogios nem obediente.
Penso que um adulto intrinsicamente motivado, que
busca em si próprio as condições para a realização
de seus objetivos seja, talvez, um dos ideais de
criação. Um adulto que seja criativo e seguro, que
consiga ter senso de si e que se permita errar –
porque seres humanos erram o tempo inteiro.

“Aprender a refinada arte do encorajamento


é uma das habilidades mais importantes de
educar com eficácia”. Jane Nelsen

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COMO DESENVOLVER SEGURANÇA E CONEXÃO

Bom, vejamos algumas maneiras ineficazes de tentar


introjetar ‘autovalor’ ou ‘autoestima’ nas crianças:

1) elogiando o resultado final de qualquer tarefa;

2) superproteger de erros e frustrações evidentes;

3) dizer que são ‘inteligentes’ ou qualquer outro


adjetivo desconectado do contexto da ação.
“Você é tão linda” quando, na verdade, a criança
demonstrou persistência e empenho para fazer algo;

4) elogiando com ironia: ‘nossa, até


que enfim você conseguiu, né?’.

As alternativas seriam valorizar o processo de


execução da tarefa, independente do resultado. Se
o seu filho teve um grande esforço em determinada
matéria e é bem-sucedido na prova, vale a pena
elogiar o processo de dedicação aos estudos.

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COMO DESENVOLVER SEGURANÇA E CONEXÃO

Isso é ‘elogio do processo’: “Nossa filho, você se


esforçou muito para isso, né?”. E, caso o filho tenha
se esforçado e ido mal na prova, oferecer elogio
para o esforço e encorajamento para persistir.

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COMO DESENVOLVER SEGURANÇA E CONEXÃO

Sobre a conexão entre pais e filhos, muito se fala,


hoje em dia, na importância de passar tempo
com qualidade com os filhos. De ter presença.
Infelizmente, na prática clínica como psicóloga de
crianças, tenho recebido cada vez mais reclamações
formais dos filhos sobre o distanciamento dos
pais, principalmente pelo uso da tecnologia.

É importante para os pais avaliarem, com consciência,


a atenção que tem dispensado aos seus filhos.

Crianças e adolescentes conseguem perceber


com clareza se os adultos se direcionam a eles
com autenticidade ou por mera obrigação. Muitas
mães me relatam que os filhos não respondem à
clássica pergunta, feita no carro: “como foi seu dia
na escola, filho?” e, como resposta, encorajo-as a
fazer perguntas autênticas: ‘você brincou de quê no
recreio”? “Teve alguma coisa legal, de verdade, hoje?”

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COMO DESENVOLVER SEGURANÇA E CONEXÃO

Há também o tempo do silêncio. Talvez as


crianças não respondam apenas por estarem
cansadas ao final do turno escolar. Compartilhe
momentos de silêncio com seus filhos.

Nos encontros presenciais, aprendemos a


desfrutar do momento presente em práticas
meditativas que nos acalmam e nos tornam
mais seguros, e que podem ser feitas pelos
pais em casa , juntamente com seus filhos!

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COMO DESENVOLVER SEGURANÇA E CONEXÃO

Quanto mais a relação entre pais e filhos se


fortalece, baseada em respeito – não em
dependência – mais as crianças se tornam
adolescentes lúcidos e adultos seguros.

Dica
• O poder da Vulnerabilidade: Bené Brown TED

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Juntando tudo
JUNTANDO TUDO

Educação é um processo diário e a criança aprende o


TEMPO TODO. A criança não é um robô que um adulto
programa e ele executa, como foi demonstrado nesse
material, a construção da autorregulação leva tempo.

Eu costumo ouvir que é difícil implantar uma nova


visão na criação de filhos e entendo que isso é
perfeitamente normal – me surpreenderia alguém
conseguir ‘em uma semana’ substituir padrões de
comportamento tão arraigados na sociedade ao
longo de séculos de punição. A nossa sociedade
é muito punitivista, ainda mais com as crianças.
Nosso sistema educacional é literalmente o
mesmo do início do século dezenove e, até pouco
tempo atrás, havia castigo físico nas escolas.

Portanto, quando começar a colocar mudanças,


é importante ter...tcharâãããã...Paciência!!!

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JUNTANDO TUDO

As mudanças devem ser feitas com consistência,


de forma gradual. Não se deve tentar mudar um
comportamento do dia para o outro, nem de
uma semana para outra. Quanto tempo leva?
Costumo dizer que depende do esforço dos
pais. E isso não significa que eles estão sendo
culpabilizados, mas, é fato que o primeiro passo
na mudança de rotina está nas mãos dos pais.

Nessa caminhada, também é importante começar


a mudar por aqueles comportamentos que
NÃO são os mais problemáticos. Sabe aquela
expressão “sopa quente se come pela beirada’?
Então, ele se aplica aqui. Não tente mudar sua
atitude frente àqueles comportamentos que mais
te desafiam, a ponto de ‘tirar do sério”. Você vai
provavelmente se frustrar e começar a achar que
essa forma de disciplinar ‘não é para você’.

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JUNTANDO TUDO

A Psicologia Positiva traz uma premissa providencial


para toda e qualquer mudança que se proponha
consistente e efetiva ao longo do tempo: primeiro,
sempre devemos focar naquilo que funciona.

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JUNTANDO TUDO

Esse e-book é parte de um projeto maior, de


treinamento de pais, que instituímos no Centro
Sofia Bauer. O ‘treinamento de pais’ é uma técnica
psicológica estudada e validada em extensa
literatura científica dentro da ciência psicológica
(BARKLEY, 2013). Os ‘protocolos’ clínicos validados
nos países de primeiro mundo para tratamento de
disfunções comportamentais da infância incluem
o treinamento de pais como primeira ferramenta
de escolha, associado à terapia conduzida por um
PSICÓLOGO, alguém que passou por uma faculdade
de psicologia e obteve treinamento formal para
lidar com questões do desenvolvimento humano.

Desse modo, ‘dar certo ou errado” é uma


expressão muito subjetiva. Nós erramos o
tempo todo, é nesse ponto que reside nossa
maravilhosa capacidade de seguir em frente.
Quando adquirimos informação de qualidade,
ponderamos e testamos – isso é curiosidade,
proatividade. Mas, nem sempre o caminho é fácil.

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JUNTANDO TUDO

A infância é um período de mudanças e


transformações radicais, que acontecem muito
rápido. A excelente notícia é que crianças respondem
na mesma rapidez a boa mudança do ambiente.
Uma família em parceria com a escola e profissionais
de saúde, todos em sinergia, conseguem efeitos
terapêuticos rápidos em suas questões.

Existem transtornos da infância, e, uma coisa muito


pouco percebida pelos pais, existe sofrimento
psíquico na infância. Crianças sofrem, infelizmente.
Nem tudo são hormônios, nem tudo é fase de
crescimento e nem tudo é falta de sono e cansaço.

Recentemente, foi divulgada uma pesquisa da AVG,


empresa de programas para computadores, que
97% das crianças queriam que seus pais passassem
menos tempo com o celular e mais tempo com elas.
Eu testemunho cotidianamente relatos pungentes
e claríssimos das insatisfações dos pequenos.

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JUNTANDO TUDO

Entretanto, muitas coisas que os adultos acham


que vão causar um ‘trauma’ na criança não
causam. É comum os adultos pensarem que vão
traumatizar a criança caso coloquem limites.

Esse pensamento está totalmente equivocado.


Mas, existem coisas mínimas que podem
sim traumatizar. Uma cirurgia que ninguém
contou. Uma família anterior que é mantida no
anonimato. A morte e a sexualidade tratadas
de forma escondida pelos adultos.

Espero que o e-book seja usado de forma


proveitosa e que o programa de oito semanas
traga luz sobre essas questões e sua família.

Por fim, retomemos um lindo provérbio africano que


diz: “É necessária uma aldeia para criar uma criança...”

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referências
bibliográficas
BARKLEY, R. A. Defiant Children, Third Edition: A Clinician’s
Manual for Assessment and Parent Training. London: Guilford
Press, 2013.

DOLTO, F.; HAMAD, N. Destino de crianças. Tradução de


Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

FREUD, S. Sobre o narcismo: Uma introdução. In: FREUD, S.


Edição Standard Brasileira das Obras psicológicas completas
de Sigmond Freud. Rio de Janeiro: Imago, v. 14, 1976. p. 83-
119.

NELSEN, J.; ERWIN, C.; DUFFY, R. A. Disciplina positiva


para crianças de 0 a 3 anos: Como criar filhos confiantes
e capazes. Tradução de Bete P. Rodrigues e Fernanda Lee.
São Paulo: Manole, 2018.

SENA, L. M.; MORTENSEN, A. C. K. Educar sem violência:


criando filhos sem palmadas. Campinas: 7 mares, 2014.

TSABARY, S. Pais e mães conscientes: como transformar


nossas vidas para empoderar nossos filhos. Tradução de
Talita Rodrigues. Rio de Janeiro: Bicleta Amarela - Rocco,
2017.

UNELL, B. C.; WYCKOFF, J. Disciplina sem gritos nem surras.


Tradução de Simone Campos. Rio de Janeiro: Wmf Martins
Fontes, 2012.

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