RESUMO :
Explanarei neste artigo acerca do pensamento sociológico do alemão Karl Marx, no que diz respeito sobre
sua teoria: “O materialismo Histórico” . Apresentando um contexto histórico, para que possamos entender o
raciocínio do sociólogo sobre a sociedade.
INTRODUÇÃO
Karl Marx, nasceu em Trier, Alemanha, em 5 de maio de 1818. Foi um sociólogo, que analisou a sociedade,
em sua ordem social. É considerado um dos fundadores das ciências sociais. Viveu grande parte do século
XIX, período em que tivemos a formação da sociedade industrial Europeia, uma nova ordem social que iria
influenciar o mundo.
E para entender essa nova sociedade que surgia, ele estudou, Direito, filosofia, economia, e politica,
buscando analisar a sociedade de uma forma cientifica, analisando essa nova organização social, e
concluindo que mudanças deveriam ser feitas, pois essa nova ordem gerava uma luta de interesses, uma luta
de classes, e tudo seria transformado em mercadoria. No qual as pessoas seriam coisificadas, e a dignidade,
que é intrínseca a todo ser humano seria aniquilada em nome do capital.
O Marxismo descobriu a realidade natural histórica e lógica das contradições. A partir disso, conduz a uma
tomada de consciência do mundo real, em que as contradições são evidentes. Apareceu historicamente com
relação a uma forma de atividade humana que tornou evidente a luta do homem contra a natureza: as
grandes indústrias modernas.
O materialismo histórico é a explicação da história através dos fatos materiais, essencialmente sociais e
econômicos. Em sua concepção, as coisas não se explicam por si só. Segundo Marx, tudo aquilo que vemos,
seja em sociedade ou individualmente não se pode explicar por si só, ou seja, não podemos explicar uma
sociedade, instituição, ideologia, educação, partindo delas próprias — E isso é definido como filosofia da
suspeita.
Marx acreditava que todo fenômeno — fato evento — é na verdade um mecanismo de poder e para
entendermos realmente a coisa em si é necessário nos aprofundarmos no que ele denomina por: “Estrutura
econômica”. Assim, Marx usa um termo da engenharia, comparando a sociedade a um edifício que possui:
Infraestrutura e superestrutura.
De forma resumida, a infraestrutura é tudo aquilo relacionado com a produção dos bens materiais, ou seja,
os meios de produção. A superestrutura é representada pelas ideias, costumes, instituições (políticas,
religiosas, jurídicas, etc.), porem, não é possível defini-la por se renovar constantemente.
É necessário ressaltar que Marx era um materialista, ou seja, ele tinha um pensamento que se baseava na
realidade prática. E é desse pensamento materialista que nasce o pensamento marxista, pois para ele
precisamos analisar o fato concreto. Marx questionava o idealismo de que o Estado mandando e a sociedade
obedecendo seria algo natural, que não se questionava. Discordando disso, surge o pensamento marxista. Em
primeiro lugar, porque precisamos analisar o fato concreto, outro ponto seria a ideia da dialética, sendo
Platão o criador dessa ideia, e que Marx passa a utiliza-la para explicar seu raciocínio. A dialética, é uma
metodologia que implica em se ter uma fato X em um primeiro momento, num segundo momento se tem um
fato Y e a partir destes dois fatos, de alguma forma estes se contradizem, ou se complementam, e após isso
se tem uma resposta sobre tal situação. Neste exemplo, o fato X seria a tese, e o fato Y a antítese e o
resultado a síntese. Exemplo : Ao perguntar para uma pessoa qual a cor do céu, e ela responder azul, a
resposta está correta, considerando estar um dia ensolarado. Mas e se uma pessoa disser preto, a resposta
também está correta, pois ao anoitecer o céu fica escuro. Então de um lado temos a tese, o céu é azul, de
outro lado sua antítese, o céu é preto, e por fim uma síntese, de que dependendo do horário o céu pode ser
azul ou preto. E isso corresponde a dialética marxista, aplicando isso as relações de produção.
O PENSAMENTO MARXISTA
Para Marx só se pode compreender os fenômenos históricos de uma determinada sociedade se antes
compreendermos a sua infraestrutura, no qual para ele é a luta de classes.
Na sociedade capitalista esta “Luta de Classes” se da pela luta entre: Os donos dos meios de produção, os
chamados Burgueses, e os que vendem sua força de trabalho, os proletários.
Podemos entender que, para Marx, tudo aquilo que vemos (superestrutura) é uma aparência que esconde
uma constante luta de classes entre burgueses e proletários (infraestrutura)
“Marx constatou que o progresso técnico, o poder exercido sobre a natureza, a liberação do homem com a
natureza e o enriquecimento geral da sociedade “moderna”, ou seja, capitalista, traziam consigo uma
contradição consequente: a servidão, o empobrecimento de uma parte cada vez mais numerosa da sociedade,
o proletariado.”.
As relações de produção são o relacionamento entre o dono dos meios de produção e aquele que se submete
ao dono destes meios. Assim sendo, em outras palavras, o rico e o pobre. Marx irá falar a respeito desta
dialética, da relação entre aqueles que tem e os que não tem (os donos dos meios de produção, e os que não
são os donos). Um dos exemplos históricos que Marx analisa, é na Grécia antiga: de maneira geral, existiam
duas classes : os homens livres e os escravos. Dadas as relações sociais entre essas duas classes, e assim
temos a tese e a antítese, o homem livre de um lado e o escravo de outro, assim surge uma síntese que em
sua teoria seria o sistema feudal. Marx aplica esse pensamento dialético nas relações de produção, ou seja na
esfera econômica. Então, quando ele analisou o período antigo, esta se referindo ao sistema econômico
escravagista. Assim, nas relações entre um homem livre e um escravo surgiu um novo meio de produção,
que seria o feudalismo. Só que este feudalismo, também é composto por dois grupos sociais, formados pelos
senhores feudais e os servos. No relacionamento deste grupo, na visão de Marx, surgiu o sistema econômico
capitalista, onde temos a burguesia e o proletariado (tese e antítese). Aplicando essa metodologia
(materialista , histórica e dialética) na visão de Marx, no século XIX, se percebe no sistema capitalista de um
lado o burguês e de outro lado o proletariado, e desta relação surgiria o comunismo, que seria então a etapa
final dos sistemas econômicos de produção, pois na visão do sociólogo, no comunismo não haveriam
diferenças entre as classes sociais, ou seja, na Grécia antiga o homem livre e o escravo; durante o período
feudal o senhor feudal e o servo; durante o período capitalista o burguês e proletariado; e no comunismo não
teríamos essa separação, distinção das classes, chegando em uma situação de estabilidade. No qual afirma:
“[…} na produção social da própria vida, os homens contraem relações determinadas, necessárias e
independentes de sua vontade, relações de produção estas que correspondem a uma etapa de
desenvolvimento de suas forças produtivas materiais”.
Percebe-se que ao longo da história os homens contraem relações determinadas, deixando implícito uma
critica, pois no século XIX, é o século da liberdade individual apenas formal, existindo o direito na lei de
que todos são iguais, mas na prática não são.
Neste sentido, lembrando que nessa época não existia classe media ou alta, ou se era rico ou pobre. Marx
entende que, se você nasceu pobre, existe uma tendência que seria praticamente invencível de você
continuar sendo pobre por isso ele diz que as relações são determinadas. As relações são necessárias, pois o
proletariado precisa trabalhar para sobreviver. Necessariamente, uma situação no qual uma pessoa esta
desempregada, e sem dinheiro para comprar o que necessita para sobreviver e o dono de uma empresa que
oferece um emprego por um baixo salário para trabalhar o dia todo. A pessoa irá aceitar, porque precisa
disso para sobreviver, mesmo sendo pouco. E isso são as relações determinadas, relações necessárias,
independentes da sua vontade, ou seja, é de se pressupor que aquele ser humano que está passando por
necessidades não queira se submeter, mas vai precisar, e isso então faz com que essas relações entre a
burguesia e o proletariado sejam independentes de suas vontades. São necessariamente definidas pela esfera
econômica, e por isso ele coloca que são relações de produção, ou seja, o que define a situação social do
individuo não é a lei, ou o aspecto jurídico daquela sociedade, e sim a esfera econômica.
INFRAESTRUTURA E SUPERESTRUTURA
E quando dito isso, estamos nos baseando em um pensamento do Estado liberal, e é importante nos
fundamentarmos nisto, porque esta é a lei, o Estado liberal garante essa liberdade, então, por um lado o dono
da empresa coloca o anuncio no jornal, e por outro lado o cidadão e livre para comprar o jornal, ver os
empregos e correr atrás. Então, quando olhamos do ponto de vista do Estado liberal formal, que garante essa
igualdade formal, não há nada de errado. Porem, Marx analisou que, na pratica existe um descompasso. Pois
nesta infraestrutura que é a base de toda a sociedade, o que define as relações entre os indivíduos não é a lei,
e sim as esferas econômicas. E nesse sentido, seria plenamente possível questionar que, em tese a vaga de
emprego publicada no jornal estaria disponível a todos, mas do ponto de vista econômico as pessoas não são
iguais, porque, paremos para refletir, quem tem condições de comprar o jornal, ou seja, ainda que o anuncio
do emprego esteja no jornal, que em tese todos sejamos iguais perante a lei para exercemos a nossa
liberdade e irmos comprar o jornal, na pratica não são todos que compram o jornal, porque nem todos tem
recursos e condições, dando ilha a desigualdade. Todos tem a alfabetização o suficiente ? todos sabem ler e
escrever ? não, pois existem desigualdades sociais e econômicas. E muitas vezes, a diferença de educação é
causada por questões econômicas. Marx, ao dizer que nas relações entre os indivíduos são dependentes das
relações de produção, ele define o conceito de infraestrutura, aquilo que é a base de toda e qualquer
sociedade em sua visão.
A superestrutura, são todas as demais relações existentes na sociedade. Pensando em uma relação politica ou
cultural, Marx ira dizer que a esfera econômica é base da sociedade, e a esfera jurídica, cultural, o Direito
etc, estará na superestrutura.
O raciocínio criado por Marx, coloca que as relações entre os indivíduos são dependentes das relações de
produção entre eles. Partindo do principio de que a base de tudo é a esfera econômica, que é a infraestrutura
e todas as outras relações sociais são reflexo desta, ou seja, a superestrutura.
Se na infraestrutura existem desigualdades econômicas do período em que ele analisa, o Estado liberal
capitalista do século XIX, na superestrutura elas não deixam de existir. Então Marx levanta um
questionamento em que nos faz refletir, por exemplo de que se adianta a lei dizer (no século XIX) que todos
nos temos o direito igual de voto, se na prática ainda que exista o direito ao voto sendo igual para todos,
quem pode se candidatar ? todos temos a mesma chance igualitária de se candidatar ? ou de serem eleitos ?,
para Marx não, pois quem tem essa chance na prática, são os mais ricos.
O que Marx tenta colocar com essa ideia de Infraestrutura e Superestrutura é a ideia de que, na infraestrutura
existem desigualdades econômicas. Desigualdades estas que se refletem na superestrutura. Ainda que a lei
diga que todos somos iguais, efetivamente esta lei é ineficaz porque na prática, no pensamento materialista
de Marx, essa lei não condiz e não se aplica na realidade. Então, podemos concluir que existindo
desigualdades na esfera econômica, necessariamente existira desigualdade nas demais esferas sociais.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Marselha Silvério de Assis – Pós-graduada em Direito do Trabalho pelo Instituto Praetorium em parceria
com a Universidade Cândido Mendes. Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. Atualmente exerce o cargo de Analista Processual do Ministério Público da União.
E-mail: marselhasilverio@gmail.com
RESUMO: O artigo proposto sugere um estudo acerca da contribuição do filósofo alemão Karl Marx para a
compreensão da sociedade, do Estado e do Direito. Sua teoria social consubstancia-se numa resposta aos
problemas da sociedade burguesa e uma proposta de intervenção que tem como centro a classe operária.
Ademais, abordar-se a concepção do Estado do autor, e conseqüentemente do Direito, cujo aparato reflete a
dominação econômica de uns poucos sobre tantos outros, legitimada por intermédio de um Estado de
Direito, cujo princípio capital é a lei. Conclui-se que de seus ensinamentos não se pode abstrair uma teoria
sistêmica sobre o Direito. Apesar disso, através de seus escritos, evidencia-se um direito de papel decisivo
na fixação das contradições do Sistema Social Ocidental.
ABSTRACT: The proposed article suggests a study about the contribution of the German philosopher Karl
Marx to the understanding of society, state and law. His social theory represents a response to the problems
placed by the bourgeois society and a proposal for intervention that has the working class as centre. The
article discusses as well the Marxist conception of state, and consequently of law, and whose
system/apparatus reflects the economic domination of many by only a few, legitimized by the rule of
law/constitutional state, whose core principle is the law. Concluding you can say that from his teachings you
cannot abstract a systemic theory about law. Despite that a right with a decisive role for the fixation of the
contradictions of the western social system is manifested in his writings.
1. INTRODUÇÃO
A obra de Karl Marx não surge, na cultura e na história ocidentais, por acaso. Ela é resultante de contexto
sócio-político determinado. É uma resposta aos problemas da sociedade burguesa e uma proposta de
intervenção que tem como centro a classe operária. Com efeito, o autor pretende através da fusão de todo
patrimônio cultural existente até ele com a intervenção política do proletariado, um modo novo de ver a
sociedade burguesa: compreendê-la para suprimi-la!
Isso porque a revolução industrial engendrou uma crise social que atingiu níveis gigantescos. A permuta do
homem pela máquina, na mesma medida em que majorava a produção, gerava uma grande quantidade de
desempregados. Concorrendo com as fábricas, os artesãos faliam prontamente. Por ser o trabalho operário
um exercício mecânico de alguma atividade, que não exige técnica, nem raciocínio, logo se constatou que a
utilização de mulheres e crianças seria extremamente vantajosa, já que mais barata. As horrendas condições
em que trabalhavam só poderiam ter como conseqüência a enorme mortalidade infantil e sua desnutrição.
Além disso, ao se processar a divisão social do trabalho, separam-se aqueles que pensam, daqueles que
agem. Daí que “a segmentarização do trabalho acabou por dividir também o saber do trabalhador”.[1][1]
Nesse contexto, a partir do modelo teórico proposto pelo autor quanto à compreensão da sociedade,
apresenta-se o seguinte problema: embora não se possa estabelecer uma teoria geral do Direito em Marx[2]
[2], é possível se chegar a um conceito do que o autor entende ser o fenômeno jurídico. E, assim, propõe-se
no presente estudo o encaixe do Direito e do Estado em sua teoria epistemológica, apresentando uma
proposta de superação da dogmática normativista, da lógica formal e de todo um universo rígido de normas.
2. MODELO TEÓRICO
Marx, junto à colaboração essencial de Engels, produziu um julgamento do capitalismo jamais visto. Com o
Manifesto do Partido Comunista (1848), conclamou todos os trabalhadores, independente de suas
nacionalidades, à união contra o Capitalismo (sendo que o processo de sindicalização tomou grande impulso
a partir daí)[3][3]. Na elaboração de sua doutrina social, o autor recebeu influência de três “teorias” em voga
na Europa:
1. a) A Economia Política, destacando-se os nomes de Adam Smith e David Ricardo. Dela, Marx
recupera a noção de trabalho-valor, observando, porém, que a realização do capital não é produzida
pelo trabalho em qualquer de suas formas, mas pelo trabalho não-pago;
2. b) O Socialismo Utópico, que denunciou a miséria da vida sob o capitalismo, a exploração do
homem pelo homem. Deste, o autor retoma a exploração, mas não sob uma óptica pretensora de
conciliação, numa sociedade ideal, dos princípios liberais com as necessidades emergentes do
operariado, mas sob uma perspectiva de constatação de que, em verdade, os desacordos entre os
interesses da burguesia e os do proletariado constituem uma mola que move o sistema capitalista e
que é essencial à sua existência[4][4]. Para o autor, as tentativas de união de idéias paradoxais são
meramente ilusórias, restando à prole, portanto, a alternativa revolucionária de modo a interromper
as contradições brutais do capitalismo;
3. c) A Filosofia Clássica Alemã, representada principalmente por Feurbach e Hegel. Daquele, Marx
incorpora o materialismo. Entretanto, não em sentido filosófico, mas sob uma perspectiva histórica,
porque “a sociedade, o Estado e o Direito não surgem de decretos divinos, mas dependem da ação
concreta dos homens na História”[5][5]. Já com relação a Hegel, o autor recupera a sua dialética, que
diz ser o mundo movido por contradições (natureza/homem, capital/trabalho, campo/cidade), sendo
que em vez da natureza circular da dialética de Hegel, formada por tese, antítese e síntese, Marx
propõe uma espiral, na qual a “síntese” seria também uma “tese” para uma nova “antítese”. Além
disso, ao contrário de Hegel, que era um filósofo idealista ou especulativo, o autor era materialista.
Este dizia ser a ação anterior ao pensamento e que o trabalho seria material, transformador da
realidade, da natureza, em oposição ao trabalho espiritual de Hegel.
Marx propõe, por meio do Materialismo Histórico, que os homens não são meros seres contemplativos do
mundo, não são apenas produto do meio (refutando, portanto, as teses deterministas), mas são também
produtores da História. Além disso, como já foi dito, o modo de produção capitalista é sustentado por
inúmeras contradições, essencialmente verificadas no plano das classes sociais. Estas são a burguesia, como
classe detentora dos meios de produção e, portanto, dominante; e o proletariado, que tem como única
riqueza o seu trabalho, tendo que o vender para sobreviver.
As classes sociais constituem a base de todo o pensamento do autor. Elas são determinadas pela posição que
um grupo de indivíduos possui nas relações sociais de produção. Essa posição seria determinada pela
propriedade ou não de bens. O grupo que os possuísse seria a classe dominante e o que não os detivesse, a
classe dominada. As relações entre essas classes nascem na infra-estrutura, sendo afirmadas, mantidas e
reproduzidas pela esfera superestrutural (que também tem o papel de reprimir ataques ao status quo). Em
última instância, Marx considera que as relações econômicas (infra-estrutura) determinam o corpo
superestrutural[7][7].
No entanto, a relação entre as estruturas do modo de produção não é a simples reflexão, expressão ou
determinação, no sentido de baixo para cima. Se assim o fosse, explica o doutrinador Oscar Correa[8][8] ter-
se-ia uma legislação trabalhista legitimadora da exploração do mais-trabalho, em referência à mais-valia. E
não é bem assim que sempre ocorre, em que pese se possa afirmar também que o Direito do Trabalho não
nasce para unir o capital e o trabalho num mesmo objetivo, porque isso seria impossível. O que se quer dizer
é que o Direito do Trabalho promove como “justo” o intercâmbio da compra e venda da força de trabalho,
mas ao mesmo tempo promove institutos, como o salário, o jus postulandi, e toda a redoma protetiva do
trabalhador, a fim de garantir um mínimo ético nas relações trabalhistas.
O autor concebe o Estado não como curador social que tem por função obter o bem comum da sociedade e
proteger os interesses universais, como pensou Durkheim, nem também como o Estado ético-racional,
perene, sem história, superior a sociedade civil, como propunha Hegel. Ele analisa-o relacionado à realidade
política, como reflexo da sociedade civil e, portanto, como decorrente de uma luta de classes.
O Estado, para o autor, compõe a esfera superestrutural, sendo seu surgimento necessário para ordenar essa
luta de classes, amenizando-a. Fazendo isso, ele atende aos interesses dos proprietários4, já que a
intensificação dos conflitos pode gerar uma superação da realidade e à classe dominante interessa a
permanência da situação vigente.
Assim, o Estado é a expressão legal – jurídica e policial – dos interesses de uma classe social particular, a
classe dos proprietários privados dos meios de produção ou classe dominante. Ele “não é uma imposição
divina aos homens nem é o resultado de um pacto ou contrato social, mas é a maneira pela qual a classe
dominante de uma época e de uma sociedade determinadas garante seus interesses e sua dominação sobre o
todo social”[9][9].
Para ele, o Estado é o braço repressivo da burguesia. Ele utiliza-se da coerção para garantir a ordem infra-
estrutural. As forças produtivas do modo de produção capitalista deveriam ser desenvolvidas ao máximo até
as contradições entre as classes tornarem-se insuportáveis. Nesse momento, o povo chegaria ao poder e as
decisões seriam tomadas pela própria massa popular. Dentre essas decisões, estaria a socialização das
propriedades, enquanto que o Estado e, conseqüentemente, o Direito (já que este é produto daquele) iriam
perdendo as suas funções até se extinguirem completamente. Isso porque tais institutos não seriam mais
necessários numa sociedade na qual todas as pessoas estariam numa mesma situação diante da base material
(não existiriam mais classes sociais, então não haveria mais necessidade de algo que regulasse as
contradições entre elas).
4. O DIREITO EM MARX
Já o Direito é a seara que se estabelece dentro do modelo epistemológico de Marx como fenômeno social,
ocupante da posição superestrutural, determinada dialeticamente pela economia, que compreende a base
material. Seu estudo, desse modo, há de ser feito relacionado a outras ciências (especialmente a Economia),
porquanto incorpora valores sociais. Essa tese é veementemente contraposta por Hans Kelsen, eminente
jurista austríaco, de formação positivista, que defendeu a teoria pura do Direito, sob o fundamento de que
para a construção de um conhecimento consistentemente científico o Direito deve abstrair-se dos aspectos
políticos, morais, econômicos e históricos[10][10]. No entanto, um pensamento coerente e estruturado não
admite um estudo do Direito isolado das demais ciências, de maneira que a teoria pura do Direito de Kelsen
sucumbiu, ante a clareza com que a palavra Direito designa um acontecimento que tem conexão com outro
conjunto de fenômenos sociais que se inscrevem no contexto do exercício do poder em uma sociedade.
Karl Marx organizou uma tese em que o Direito, como regra de conduta coercitiva, nasce da ideologia da
classe dominante, que é precisamente a classe burguesa. Assim, qualquer que seja a forma que o direito
assuma (lei, jurisprudência, costume), a essência do direito está sempre referida à vontade da classe
dominante, que nunca é a vontade do conjunto do corpo social. O Direito é percebido como síntese de um
processo dialético de conflito de interesses entre as classes sociais, que Marx denominou de luta de classes.
Tanto as relações jurídicas quanto as formas de Estado não podem ser compreendidas nem por si mesmas,
nem pela chamada revolução geral do espírito humano, mas antes têm suas raízes nas condições materiais de
existência. Ademais, o Direito não nasce espontaneamente dessas relações, mas é posto pela vontade. O
problema que se verifica é que tal vontade é somente aquela dos que possuem o poder estatal, ou seja, a
vontade da classe dominante, sendo o Direito expresso de um lado pela lei e, de outro, como o conteúdo
determinado dessa lei. Assim, a dominação econômica de uns poucos sobre tantos outros se legitima por
intermédio de um Estado de Direito, cujo princípio capital é a lei.
Nessa linha, na obra de Marx, verifica-se uma inquietação sobre a injustiça econômica estar representada
nas formas jurídicas e, assim, a insurgência contra o modelo liberal do Direito de propriedade, uma vez que
a liberdade no capitalismo clássico é meramente formal, e sem um amparo da igualdade material, torna-se
pó, isto é, oprime.
Sobre o núcleo do sistema jurídico, isto é, o judiciário, parafraseando o sociólogo Niklas Luhmann, sinaliza
a obra de Marx pelo menos duas críticas. Primeiro, o velho adágio de que “a justiça é cega”, no sentido de
imparcial, imune, é um contra-senso, porque se os juízes são apartidários, quando a lei é partidária, a
propaganda de neutralidade dos magistrados cai por terra, principalmente tendo em conta que o corpo de
magistrado tem origem normalmente na classe dominante. De outro lado, o autor critica a despersonalização
ou desumanização dos atos judiciais, operada pela burocracia, e que conduzem a uma identificação da
redenção do condenado por ele mesmo, e não pela aplicação do Direito.
Nesse sentido, oportuna a lição do doutrinador Ricardo Nery Filho[11][11], para quem “Marx ‘humaniza’ o
direito ao afirmar que ele é um fenômeno derivado das condições econômicas de produção capitalista que
estão na sua base e ao fazer com que ele apareça como ideologia e superestrutura burguesas.”
Assim, o Direito e seus institutos constituem fenômenos ideológicos, parte da realidade social capitalista,
seja no processo de elaboração das leis, seja no de sua aplicação pelos magistrados. No entanto, de proposta,
os ensinamentos de Marx sobre o Direito devem ser acoplados à sua concepção de homem enquanto produto
e produtor da realidade social em que vive e, assim, promover a superação da dogmática normativista, da
lógica formal e de todo um universo rígido de normas. Desse modo, e com a possibilidade de transformação
histórica da sociedade pela mudança no Direito, o projeto de aproximação da justiça social pode ser
efetivado.
5. CONCLUSÃO
A obra de Marx é inegavelmente de suma importância para a Idade Contemporânea, seja na Filosofia,
Economia Política, na Sociologia ou no Direito. Ela não constituiu apenas um grito de dor do proletariado, já
que sua dialética econômica da história denunciou “uma guerra ininterrupta entre homens livres e escravos,
patrícios e plebeus, burgueses e operários, enfim, entre dominantes e dominados”[12][12], mas não se
restringiu a isso. Propôs uma mudança através da revolução proletária. É então, impossível desconsiderar o
pensamento de Marx em seu profundo papel modificador e crítico da sociedade, do Estado e do Direito.
De seus ensinamentos não se pode abstrair uma teoria sistêmica sobre o Direito. Apesar disso, através de
seus escritos, evidencia-se um direito de papel decisivo na fixação das contradições do Sistema Social
Ocidental. O Direito coloca-se muito mais que um instrumento pacificador dos conflitos sociais. Isso porque
sob sua perspectiva ideológica verifica-se que o Direito representa um discurso do Poder.
De fato, o Direito, assim como a Justiça, não é um fenômeno universal, conforme a classe dominante insiste
em afirmar. Como bem ressalta o professor Roberto Aguiar, in verbis:
“as normas jurídicas e os ordenamentos jurídicos, como todos os atos normativos editados pelo poder de um
dado Estado, traduzem de forma explícita, seja em seu conteúdo, seja pelas práticas que o sustentam, as
características, interesses, e ideologia dos grupos que legislam.”[13][13]
Assim, o Direito não pode ser entendido como um acontecimento neutro e desinteressado nas lutas de
classes. Ele não é idealista, mas vinculado à práxis. Prova disso é que quando ocorre uma revolução, a
primeira mudança ocorre na esfera jurídica. Esta irá traduzir outros interesses. Afinal: “ninguém legisla
contra si mesmo”.[14][14]
Ora, as leis beneficiam muito mais os proprietários. Isso se verifica, por exemplo, quando o Ordenamento
Jurídico reprime mais os crimes contra as coisas, que aqueles contra as pessoas, demonstrando que aquelas
são mais importantes que os seres humanos. De outro lado, o judiciário, sob o falso manto da
imparcialidade, perpetua a ideologia dominante.
É preciso recolocar o homem no centro das relações sociais; conceber o Direito como fenômeno parcial e
comprometido sim, mas não com as minorias. Isto significa perceber uma ordem jurídica respaldada nos
interesses das maiorias. Tal sistema transformador há de ter uma chance muito grande de ser justo, haja vista
que configuraria uma antítese para a tese do sistema opressor em que vivemos. Até a sua concepção, a
postura do conformismo é que não deve ser adotada. Isso porque a imagem do direito justo pode aparecer na
aplicação das leis burguesas, desde que se utilize uma idéia renovadora, envolta ao viés do uso alternativo
do Direito.
1. REFERÊNCIAS
AGUIAR, Roberto A. R. O que é Justiça: uma Abordagem dialética. 5 ed. São Paulo: Alfa-ômega, 1999.
BOTTOMORE, Tom & NISBET, Robert. História da análise sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1980.