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Seropédica, RJ
2021
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Introdução
É a partir disso que se pode dar início a articulação necessária para a elaboração
do presente trabalho. Nomes como Ira Berlim, Eric Foner e Rafael Marquese,
locucionam, de forma teórica, o que há de ser localizado, visitado e interpretado para que
a história da escravidão não mais seja construída de inferências, mas de vivências e
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BERLIN, Ira. Gerações de Cativeiro: uma história da escravidão nos Estados Unidos. Rio de Janeiro,
Record, 2006.
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discursos próprios e equivalentes a realidade tratada. Muito por isso, direcionando-me ao
lugar de quem deseja traçar um paralelo entre o antes e o agora, com base historiográfica,
utilizo-me do termo cunhado por Rafael Marquese, alvo de discussão principal da
dissertação: uma segunda escravidão.
O segundo ponto é que o sucesso do projeto político escravista foi notório, mas
sua prosperidade não deixou de dar cabo a uma sucessão na história. Isto é, a primeira
onda de escravidão foi assolada pelo que ela mesma tomou como projeto. Os usos
indevidos das Instituições, as formas de controle das rotas – que é perdido pelas diversas
disputas debruçadas sobre elas – e, principalmente pelo apoio ideológico, tomado pelos
conflitos ocorridos entre 1776 e 18242. Mas, também, foi esse mesmo projeto que lhe deu
os temas necessários para que a sua sucessão fosse igualmente de sucesso. O que
possuíamos na época em questão não mais eram os senhores de escravos, mas outras
titulações, agora influenciadas também por um outro contexto – o de industrialização – e
os braços livres que determinavam o progresso e o funcionamento do mesmo
permaneceram sendo os braços negros, agora não mais, legislativamente, atuando no
papel de mercadorias, mas ainda assim sob o tratamento de um controle – e certa posse –
baseada em uma necessidade de sobrevivência para sua nova forma livre de vida.
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Os conflitos tratados sob esse referencial são, respectivamente: Guerra da Independência Americana
(1776-1783), Revolução Francesa (1789-1799), Guerras Anglo-francesas (1792-1815), Revolução Haitiana
(1791-1804) e guerras para independências na América Latina (1810-1824).
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O autossustento foi determinante para que o povo recém liberto estivesse não mais
sob a tutela do seu senhor, mas, agora, a de quem esteve acima de seu senhor durante todo
o tempo. O Estado, responsável pela assinatura da liberdade, passou a ser igualmente
responsável pelo controle e determinação da mesma, podendo ser melhor explicado e
explicitado pela citação:
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Escravidão e capitalismo histórico no século XIX: Cuba, Brasil e Estados Unidos / organização Rafael
Marquese e Ricardo Salles. – 1ª ed. – Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016
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insatisfações sobre suas tutelas de seus e mostravam ao mundo a caminho de uma
revolução que modificaria seus moldes originais, que não havia passividade e
ingenuidade em seus corpos. A abjeção que os referenciava foi traduzida para o indicativo
claro de que aqueles que ali estavam, a frente do que demandavam e lutavam para ter,
eram indivíduos capazes de comutação e que a mesma não permitiria uma repetição,
mesmo que o bojo fosse o mesmo.
Portanto,
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Escravidão e capitalismo histórico no século XIX: Cuba, Brasil e Estados Unidos / organização Rafael
Marquese e Ricardo Salles. – 1ª ed. – Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016
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DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. 1944; tradução Heci Regina Candiani. - 1. ed. - São Paulo:
Boitempo, 2016.
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condicionada àquilo que lhe é proposto para a sobrevivência, estando atuante em um local
de liberdade maquiada e controlada pelos anseios dos grupos minoritários chamados de
maioria – o dos brancos.
Por último, mas não menos importante, a obra cinematográfica retrata a sutileza
pertencente ao corpo negro, que não mais é escravo, nem posse, mas é robotizado para
adequação e ambientalização em espaços de controle branco. Os meios utilizados para
refreamento deixam de ser o chicote e o tronco, mas a padronização do que se espera do
negro em uma sociedade não mais escravocrata, ainda o faz ocupar espaços alijados e
pré-determinados como adequados a sua condição de negro.
Considerações finais
A fim de conclusão, o que podemos ver através da análise dos objetos propostos
como centrais, em aliança a materiais valiosos para a composição da escrita, é uma
perspectiva divergente da exibida em meios legais atuais e nos caminhos para a
elaboração dos mesmos. A representatividade de sociedade circundou e circunda o
mantimento do status quo do homem branco sobre o negro, que é posto como inferior por
meio de uma classificação segundo graus de importância, em razão da manutenção de
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uma racialização determinada peça escravidão. Ademais, pudemos ver que mesmo após
dois séculos, mantém-se fincado um racismo que, ainda no século XXI, decide
precisamente aqueles a quem se deve o direito de ser – inclusive livre – e delineia as
formas práticas em que o enquadramento dos corpos negros são dados no corpo social.
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Bibliografia:
DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. 1944; tradução Heci Regina Candiani. - 1. ed.
- São Paulo: Boitempo, 2016.
BERLIN, Ira. Gerações de Cativeiro: uma história da escravidão nos Estados Unidos.
Rio de Janeiro, Record, 2006.
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