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Frantz Fanon!

– Uma lição: Somente a Revolução traz a Libertação

É de certa forma um alívio poder escrever agora sem a brutalidade do


simbolismo que é a dissertação: “Justifique isso”, “isso está muito ideológico”, “por
que usou Stalin?” e talvez a pergunta mais recorrente seja a razão de eu tratar de
Frantz Fanon como um autor revolucionário e que coerentemente, sua perspectiva
teórica só pode ser desenvolvida na totalidade concomitante com a prática
revolucionária, nesse sentido, não há como escrever sobre Frantz Fanon, pedindo
flores aos abutres e as víboras.
Nesse dia 06 de dezembro, rememorar o aniversário de morte de Fanon, não
é um exercício pedante, mas um revigorar da própria vida, a figura do revolucionário
antilhano sempre foi muito concreta em seus objetivos: a humanidade. Para ele,
essa somente pode se voltar ao gênero humano e para chegar a isso, deve de o
sujeito exigir somente o mais brutal, o uso da violência para destruição e
consequentemente para a reconstrução.
Essa violência em primeira instância é de razão econômica.
Contemporaneamente o sujeito ele sofre da imposição de uma condição não-
violenta, que é imposta pela classe dominante. Essa condição faz com que a própria
naturalidade que a violência possa expressar como reação imediata a um atento
seja “vulgarizada”, tal qual a possibilidade de o indivíduo revoltar-se e superar a
condição primária de agressão. Nesse sentido, a afirmação pode ser posta como um
estado de não-violência causal, gerado pelo monopólio das forças de guerra pela
classe dominante, consequentemente, esse domínio existe para a defesa do status
quo de propriedade.
Essa é uma importante lição, pois traz a seguinte denominação, se a violência
em monopólio que joga o sujeito em um aspecto de subalterno e o aliena
completamente de si, somente com o uso da violência é possível reverter tal
dinâmica. Tal condição foi plenamente compreendida e desenvolvida por Fanon em
Os Condenados da Terra, mas o que em si se substituí? Entretanto, alguns podem
ver a condição atual e ficar temerários com o uso da violência, pois foram
domesticados a serem mansos, todavia em seu cerne ainda existe um profundo
desejo de revelação, de demonstra como realmente “a banda toca”, mas para isso é
necessário abrir alguns questionamentos em torno da sociedade e qual sua função:
A função de uma estrutura social é construir instituições permeadas pela
preocupação com o homem. Uma sociedade que encurrale seus membros
em soluções de desespero é uma sociedade inviável, uma sociedade que
deve ser substituída (FANON, 2021, p. 94)

A nossa sociedade é inviável e Fanon percebeu isso, assim como muitos


outros, mas o que nos traz a luz Fanon é sua trajetória de vida, em primeiro
momento vendo a podridão dos ditos “democratas franceses”, o fracasso da
“esquerda”, que todas as aspas lhe são devidas, pois traidores e farsantes,
defensores do colonialismo e do conformismo, quando não eram os famosos tigres
de discursos, mas covardes demais para dar um passo adiante. Fanon clinicou por
alguns anos e viu a sociedade que ele empenhava seus esforços humanos
possíveis a melhorar homem a homem, os destruir e o que levou ele a enviar a carta
da citação acima.
Nesse sentido, existem várias lições possíveis a serem aprendidas nesse
momento e todas partem do reflexo de que a perspectiva teórica de Fanon - bem
fundada no marxismo revolucionária e extremamente influenciada por Mao Zedong –
é universal e verdadeira, pois se comprovou na prática. Ao ver o definhamento da
sociedade e dos homens com ela, a luta armada e a revolução de massas foram o
único campinho possível. Não há - nunca houve, mas agora em que para nosso país
avizinham-se a época do oportunismo – horizonte de conciliação, as classes
residem a distinção do gênero humano e a impossibilidade de totalizar sua condição
de humanidade.
Os comunistas, assim como Fanon devem empregar uma perpétua Guerra,
que acima de tudo, é justa, pois como o Presidente Mao bem nos ensina, ela levará
a paz final.
Agora que chegou aqui no texto, devemos retornar alguns aspectos, afinal,
qual o caminho para isso? Fanon nos ensina algum ponto sobre isso? Sim, sem
dúvida, novamente a violência tem origem econômica e para analisar o como isso
aflige, molda e define o sujeito em sua condição singular-particular, ao menos é o
que define Fanon para compreender a condição de inferioridade e de toda a
situação colonial do negro (FANON, 2020, p. 25), que é sem dúvida universal em
todos os sentidos, mesmo que em sua profunda seriedade acadêmica, no Pele
Negra, Mascaras Brancas, Fanon explicite a particularidade dos antilhanos.
Compreendendo então, que a violência de origem econômica é a razão de
submissão dos sujeitos há situação colonial, é necessário empregar uma
investigação para saber qual a razão e tal empreitada. Novamente não existe
dificuldade nisso, não é no vulgar explicação particular que se encontra a resposta,
mas na compreensão que o colonialismo e a Guerra como um todo é um projeto
extremamente lucrativo e que não tem preocupação alguma em comparar alguma
cultura, mas que o gigantesco negócio que é a guerra, necessita da submissão e da
destruição dos sistemas de referência dos povos autóctones. (FANON, 2021, p. 72)
A necessidade de Conquista colonial nesse sentido, é um emprego de guerra
de origem capital, afinal é necessário rememorar que também um outro grande
negócio fundado no capital mercantil, deu origem ao capitalismo: Escravidão. Que
surgiu para suprir a necessidade de mão de obra em uma terra que empregaria um
alto custo se fosse o trabalho assalariado, então a implementação de um sistema de
produção atrasado, um sistema feudal que insurge com resquícios de um
ascendente capital mercantil, que não deve levar a engano não é ainda o
capitalismo consolidado como potência, mas basicamente o alastramento do grande
escravagismo para quantitativamente substituir o trabalho qualitativo e a
implementação de um sistema de terras baseado na possibilidade de ter ou não
escravos. (SODRÉ, 1963, p. 62)
Entretanto compreendemos que o sistema mundial impôs a necessidade de
mudança correto? Ele desenvolveu o capitalismo em todos os lugares e agora todos
somos plenamente proletariados? Acabou-se o latifúndio e há indústria por todos os
lados? De modo nenhum, não somos tolos e nem Fanon. O que faria a burguesia,
que é a mesma das colônias, que é a mesma da ditadura e que é a mesma
atualmente, largar o osso? Somente o cano de um fuzil e nada mais.

A causa é efeito: se é rico porque é branco, se é branco porque é rico. Por


isso, as análises marxistas devem modificar-se ligeiramente sempre que
abordam o sistema colonial. Mesmo o conceito da sociedade pré-capitalista,
bem estudado por Marx, teria que ser de novo formulado. O servo é de uma
essência diferente da do cavalheiro, mas é necessária uma referência ao
direito divino para legitimar essa diferença de classes. Nas colónias, o
estrangeiro impôs-se com a ajuda dos seus canhões e das suas máquinas.
Apesar da domesticação empreendida e da apropriação, o colono continua
a ser sempre um estrangeiro. Não são as fábricas, as propriedades nem a
conta no banco que caracterizam principalmente a “classe dirigente”.
(FANON, 1961, p. 35)
No que concerne a burguesia colonial, ela carrega consigo o ódio de raça que
é a maneira que mantém a sua condição de poder. A classe dirigente é ainda um
estrangeiro e em momento nenhum intenta desenvolver a “nação”, pois não há nela
nada que seja se quer próximo a um nacionalismo – embora curiosamente explodam
de um chauvinismo em suas tendências fascistas –. Nesse sentido, a burguesia
colonial é a mesma e não mudou seus aspectos, são os detentores das terras e
somente trocaram a coroa, no que antes aplaudiam e gozavam aos aristocratas da
corte portuguesa, agora lambem as bostas do administrador do imperialismo. Eis
enfim a marca do capitalismo burocrático em sua mais essencial condição, manter
as formas atrasadas de trabalho e não desenvolver nada que não seja a completa
destruição das formas de vida existentes ainda no país, assim como suas
resistências.

Quando o imperialismo não recorre à guerra como meio de opressão, mas


utiliza formas de opressão mais moderadas, políticas, econômicas e
culturais, a classe dominante do país semicolonial capitula diante do
imperialismo; então, forma-se entre esses uma aliança para oprimirem em
conjunto as massas populares. Nesse momento as massas populares
recorrem frequentemente à guerra civil para lutar contra a aliança dos
imperialistas e da classe feudal. (MAO, 2019, p. 177)

A classe feudal dos burocratas tem seu interesse voltado somente ao


egoísmo lato de seu lucro. Eles sabem concretamente a força que as massas têm e
seus constantes levantes, pois a resistência do colonizado é sempre a mais
volumosa. O homem que fora convertido em mercadoria, toma uma alforria e é dito
“livre”, mas é abandonado ao mundo, retornando agora como camponês
desapropriado a viver como servo ou semiescravo, no fim, a prisão da terra é
mantida. Os demais são jogados aos caldeirões das grandes cidades, os
transformando em semiproletários ou na perspectiva fanoniana lumpemproletariado,
que em sua tentativa de parecer com as metrópoles, expulsa os “libertos” para as
regiões mais insalubres e periféricas na esperança de que morram de fome.
Todavia, o povo famélico não desiste e encontra no dia a dia um meio de
sobreviver, assim como uma profunda necessidade de lutar pela libertação, na
mesma medida que este pode ser muito bem apropriado pelas forças reacionárias,
no seu-eu mais íntimo existe uma compreensão das massas e uma insatisfação com
a sociedade que é inviável, nele reside a ânsia pela revolução. (FANON, 1961, p.
114)
Nesse dia, vemos mais uma vez a covardia que Fanon viu dos partidos de
oportunistas de esquerda em sua incapacidade ou ma-fé – utilizando ironicamente o
conceito sartreano que Fanon gostava tanto – de analisarem concretamente a
realidade. Fanon nos ensina a olhar para as massas, pautando teoricamente a partir
delas e que ali existe somente um critério de verdade: a prática.

O campesinato é abandonado sistematicamente pela propaganda da


maioria dos partidos nacionalistas. E é evidente que nos países coloniais
somente o campesinato é revolucionário. Não tem nada a perder e tem tudo
a ganhar. O camponês, o desclassificado, o esfomeado, é o explorado que
depressa descobre apenas importar a violência. (FANON, 1961, p. 57)

Eis aqui a sua lição, para relembrar os famosos fanonianos de “partes”, para
passarem a olhar os levantes que se acarretam nesse país. Não há horizonte de
conciliação e para nós, somente a revolução agrária é o caminho, pois assim
destruiremos as bases feudais remanescentes para que em sua série de revoluções
constantes possamos substituir a danosa sociedade que adoece o homem.
Hoje, nesse dia de aniversário da morte de Fanon atacamos o oportunismo
que vê muitas possibilidades ou argumenta em prol de uma suposta “propaganda”.
Necessitamos da prática concreta revolucionária que consiste em reivindicar a
violência em sua compreensão máxima, assim como compreender concretamente
as condições de luta em cada país, para que a possibilidade sobre o levante armado
seja coerente através de suas bases. Nesse sentido, Fanon nos traz uma importante
lição:

“Somente a Revolução traz a Libertação”


VIVA AO CAMPESINATO REVOLUCIONÁRIO!
VIVA A REVOLUÇÃO AGRÁRIA!
VIVA A MEMÓRIA REVOLUCIONÁRIA DE FRANTZ FANON!

FANON, Frantz. PELE NEGRA, MÁSCARAS BRANCAS. São Paulo: Ubu, 2020.
FANON, Frantz. Os condenados da terra. Lisboa: ULISSEIA limitada, 1961.
FANON, Frantz. Por uma revolução africana: Textos políticos. Rio de Janeiro:
Zahar, 2021.
MAO, Zedong. Cinco Teses Filosóficas. São Paulo: Ciências Revolucionárias,
2019.
SODRÉ, Nelson Werneck. Formação Histórica do Brasil. São Paulo: Brasiliense,
1963.

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