Na epiderme da raiz o nutriente inicia um trajeto radial até o cilindro central. Não há
dutos radiais na raiz e o transporte no sentido da epiderme para o cilindro central não poderá
ser feito em um fluxo em massa como no transporte de longa distância entre raiz e copa via
xilema. O nutriente dissolvido em água deve passar por vários tecidos partindo da epiderme
antes de chegar no xilema do cilindro central da raiz. Somente nos condutores do cilindro
copa.
O primeiro contato do íon nutriente com a raiz ocorre na parede celular, ou seja, na
parede celular da epiderme por meio de cargas ou pólos (Figura 1). Geralmente a solução do
solo é o veículo que proporciona o contato da epiderme da raiz com o nutriente mineral. No
entanto, a mucilagem liberada por bactérias e fungos ou mesmo o contato direto da partícula
do solo (Figura 1) podem facilitar o encontro do nutriente mineral com a parede da epiderme.
A interface epiderme da raiz e solo é o local de encontro da planta com o nutriente mineral e
O nutriente solvatado por água caminha pelo apoplasma através dos espaços internos
da parede celular, o Espaço Livre de Donnan (ELD) e o Espaço Livre Hídrico (ELH). No ELD
o nutriente tem pouca mobilidade, pois está em sua maioria aderido (adsorvido) na superfície
da parede celular (Figura 1). No espaço ELH há maior trânsito de nutrientes, pois esses
solvatados por água líquida (Figura 1). Pelos capilares de menor e de maior diâmetro (no
ELD e ELH, respectivamente) os íons podem ser carreados pela água através da parede
celular em direção ao cilindro central da raiz. A soma desses dois tipos de capilares
(ELD+ELH) perfaz o Espaço Livre Aparente (ELA), ou seja, todo o espaço do conjunto de
paredes celulares que a raiz apresenta para o transporte de curta distância da epiderme até
o cilindro central. O ELA não é totalmente desimpedido de resistência ao fluxo radial como o
apresentam deposições de suberina, uma substância impermeável não somente à água, mas
com longas cadeias de carbono e hidrogênio, que lhe confere caráter hidrofóbico.
Caspary” que impede a livre entrada e saída de água, íons e gases do cilindro central da raiz.
Figura 1 – Corte transversal de uma porção da parede celular de um pêlo radicular tendo
como referência a raiz do rabanete (Raphanus sativus) em competição com a matriz
orgânica (húmus) e inorgânica (argila) por cátion com a capa de solvatação (•) apresentando
diâmetro de cerca de 0,82 nm (Ca2+). Partícula de argila mineral com diâmetro de cerca de
1000 nm. Espaço livre de Donnan (ELD) na parede celular com poros com diâmetro médio
com cerca de 3,6 nm. Partícula de húmus com diâmetro de aproximadamente 1500 nm.
Espaço livre hídrico (ELH) na parede celular onde os íons são facilmente carreados pela
água (poros entre 15-7 nm). O Espaço Livre Aparente corresponde à soma ELD+ELH. Os
ânions (o) são dificilmente adsorvidos pela matriz extracelular, pois essas superfícies são
carregadas ou polarizadas negativamente. Nas superfícies dos trocadores de cátions (parede
celular, argila, húmus) as linhas tracejadas representam cargas negativas. As pectinas na
parede celular, as substituições isomórficas do silício (Si4+) por Mg2+, Fe3+ ou Al3+ na argila, e
os fenóis e ácidos carboxílicos no húmus são os principais responsáveis pelo aparecimento
das cargas negativas nas superfícies desses trocadores de cátions do solo. As flechas
sólidas indicam o movimento de liberação ou adsorção do cátion nas superfícies dos
trocadores. Desenho de Ricardo Degani com modificações de Carlos Henrique B. A. Prado.
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suberina pode ser encontrada nas paredes dispostas em um ângulo de 90° (paredes
suberina não é regular podendo haver menor deposição em uma ou mais células da
da endoderme podem ser radiais, paralelas a um corte radial da raiz (Ar, Figura 3), ou
Figura 3 – Movimento radial da água (linhas azuis) desde o solo até o xilema no cilindro
central da raiz. (A) Transpiração reduzida, o transporte de água ocorre mais intensamente na
via apoplasmática (linha mais espessa) que na simplasmática (linha fina). (B) Transpiração
elevada sob condições de boa disponibilidade de água. A condutividade hidráulica da raiz é
aumentada pela abertura dos poros aquosos (aquaporinas) nas biomembranas e a
intensidade do transporte de água pela via simplasmática pode ser semelhante ao da via
apoplasmática. Tecidos indicados na base da figura: Exoderme (Ex) com banda de Caspary
(Bc); Epiderme (Ep) com pêlos por onde entram água e solutos; Córtex (Co) formado por
células parenquimáticas funcionalmente independente do parênquima que envolve o xilema;
Endoderme (Ed) com bandas de Caspary; Periciclo (Pe) camada de células que originam as
raízes secundárias; Parênquima que envolve o xilema (Px) e secreta ativamente íons para o
lúmen das células condutoras. Células específicas em cada tecido: Células condutoras do
xilema (Xi); Célula de passagem com menor suberização nas paredes anticlinais (Cp);
Células condutoras do Floema (Fl). Estruturas celulares: Parede anticlinal radial (Ar),
Parede anticlinal transversal (At); Banda de Caspary (Bc). A partir de indicações de Steudle
& Peterson (1998) e Steudle (2005). Desenho de Ricardo Degani.
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O íon nutriente poderá viajar da epiderme da raiz até o cilindro central após ser
absorvido pelas células da epiderme ou do córtex. Esse íon nutriente entra primeiro em
contato com o corpo da planta por meio do apoplasto (Figura 1), mas após eventualmente
íons nutrientes. Devido aos pólos da água e a carga dos nutrientes minerais essas moléculas
Portanto, após o encontro da epiderme com o íon nutriente no solo há dois caminhos
que o nutriente poderá seguir até chegar na célula condutora do xilema no cilindro central da
Figura 4 – Transporte de íon através da biomembrana. A - Para os gases (como CO2 e O2) a
permeabilidade das biomembranas é maior que para cátions e ânions. Não são necessários
facilitadores para atender a demanda da planta por esses gases. A distribuição desses gases
entre os compartimentos celulares (meio líquido) e a atmosfera interna e externa ao corpo da
planta (meio gasoso) segue o gradiente de pressão parcial
parcial de cada gás (deslocamento
preferencial para o ambiente de menor pressão parcial). A simples difusão de um íon ( )
através da biomembrana é bem mais lenta e menos provável sem algum tipo de facilitador. B
- Os canais iônicos podem estar abertos ou fechad
fechados.
os. Quando abertos como representado
(condicionado por uma diferença de potencial elétrico ou por um ligante) a difusão é facilitada
pelo poro do canal. C - Os carregadores podem ou não exigir gasto direto de energia para
facilitar o transporte do
o soluto a
através da membrana. D - As bombas iônicas nas plantas
(bombas de H+, de Ca2+ e ATPases binding cassete)) trabalham com gasto direto de energia
(hidrólise de ATP em ADP+Pi). Diferente dos animais, as plantas não apresentam bombas de
Na+ e K+. Desenho de Ricardo
cardo Degani.
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A via simplasmática ocorre de célula em célula passando pelo citosol através dos
plasmodesmata (singular: plasmodesma). Para iniciar essa via o nutriente deve atravessar
ao menos uma vez a plasmalema de uma célula da raiz para alcançar o citosol por meio de
cilindro central da raiz. É importante pelo menos uma seleção antes de iniciar o transporte
exercer ao menos uma das funções dos nutrientes minerais, ou um malefício se for um íon
célula, mais de 105 por milímetro quadrado de parede celular. Essas conexões permitem não
só a passagem de íons, mas também de substâncias de até 900 kDa, sendo permeáveis
também aos açúcares, aminoácidos, e nucleotídeos (Heldt, 2004). O diâmetro do duto dos
entre as células está preenchido pela projeção do retículo endoplasmático das duas células
vizinhas e por proteínas (Figura 5). Portanto, os solutos passam entre as biomembranas do
duto desviando das partículas de proteínas. Esta via de citoplasma em citoplasma através
Figura 5 – Estrutura de um
plasmodesma. (A)
( – Vista lateral de
um corte longitudinal. PL =
plasmalema. CC = continuação do
citoplasma. PP = proteína ancorada
na plasmalema. DE = desmotúbulo.
PD = proteína ancorada no
desmotúbulo. CP = conexão
protéica. RE = retículo
endoplasmático. RC = região de
constrição. CA = cavidade central. O
tráfego de substâncias entre células
vizinhas pode ocorrer tanto via CC
como via DE. (B)
( – Corte
transversal, um bastão de proteína
(BP) pode preencher o desmotúbulo
(ainda incerto). Modificado a partir
de Roberts & Oparka (2003) e de
Heldt (2004). Desenho de Ricardo
Degani.
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pode chegar sem barreiras hidrofóbicas até a hipoderme ou até a banda de Caspary (Figura
3). Esse conjunto das paredes celulares serve como via de tráfego de íons nutrientes no
sentido radial no transporte de curta distância de célula em célula. Esse transporte de curta
distância é possível, pois os poros da parede celular são maiores que o diâmetro de íons
hidratados ou que a sacarose, mas menores que o diâmetro de bactérias e vírus (Tabela 1).
Dessa forma, a parede celular funciona como eficiente barreira mecânica de vírus e bactérias
patogênicos.
Quando presente, a hipoderme pode ser mais suberizada sob estresse hídrico ou
deficiência de O2, inclusive impedindo o refluxo de água, íons e O2 do córtex para o solo
passagem) onde a passagem de água e de íons pelas paredes encontra menor resistência.
células de passagem) ao tráfego de água e de íons na matriz extracelular. Esta via que utiliza
o apoplasto desde a epiderme até a endoderme para o tráfego de íons e água é denominada
íons hidratados, em ordem decrescente de tamanho. Note que pelo poro da parede celular é
Estrutura celular nm
(diâmetro ou espessura da estrutura)
Citocromo c 3,3
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H2O 0,28
Sacarose 1,0
Estaquiose 1,4
xilema com íons, esse evento é realizado ativamente pelas células do parênquima que
envolve o xilema. Não há uma transferência passiva por simples difusão de íons das células
células do parênquima que envolve o xilema é muito maior que no parênquima cortical entre
do xilema nas células do parênquima que envolve o tecido condutor. Isso demonstra a
eficiência da endoderme em evitar o refluxo de íons para a região cortical da raiz. Essa
eficiência pode ser perdida temporariamente quando as raízes laterais iniciam seu
alcançar o solo.
Síntese
através de vários tipos de tecido até o cilindro central da raiz pode ser facilitado ou impedido
plasmalema) são estruturas centrais no caminho denominado de via simplasmática. Por esse
plasmodesmata. Por outro lado, a parede celular é a estrutura mais importante na via
apoplasmática. Por essa via a água e os solutos navegam principalmente através dos poros
água. Por outro lado, estruturas nas biomembranas (bombas, carregadores e canais iônicos)
Referências
Hoagland DR, Arnon DI (1950) The water-culture method for growing plants without soil.
Soil. Calif. Agric. Expt. Sta. Circ. 347.
Steudle E (2003) uptake of water by plant roots, p.247-251. In: Physiologiccal plant
ecology, W. Larcher, Springer, New York.
Roberts AG, Opark KJ (2003) Plasmodesmata and the control of simplastic transport.
Plant cell and environment, 26:103-124.
Steudle E, Peterson CA (1998) How does water get through roots? Journal Experimental
of Botany. 49:775-788.