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DISCIPLINA:

PROCESSO LEGISLATIVO
AULA 3

Prof. José Arthur Castillo de Macedo


CONVERSA INICIAL
Nesta aula, será estudada a competência fiscalizatória do Poder
Legislativo. Veremos que ela pode ser exercida de diversas formas e que foi
sensivelmente ampliada ao longo do século XX, em razão da ampliação das
atividades do Estado.
Serão estudados os principais mecanismos utilizados para fiscalizar as
atividades estatais, com destaque para as CPIs e para o Tribunal de Contas.
Veremos as principais regras a respeito desses órgãos, porém sem deixar de
analisar outras regras relevantes sobre a competência fiscalizatória do
Legislativo.
Desejamos bons estudos.

TEMA 1 – FISCALIZAÇÃO E ATUAÇÃO PARLAMENTAR


No século XX, o Estado deixou a postura de abstenção em relação aos
cidadãos que vigia antes, e passou a assumir vários encargos, os quais foram
crescendo ao longo do século e hoje compreendem diversos serviços públicos,
como o fornecimento de água e energia elétrica, a coleta de lixo e a proteção
ambiental.
A ampliação da atuação estatal promoveu modificações no modo pelo
qual o direito passou a ser criado. Outrora, era o Parlamento a fonte exclusiva
do direito, o que passou a se modificar com a expansão das atividades estatais.
Hoje, em pleno século XXI, a criação do direito e de regras pode ser feita até por
instituições estatais como as Agências Reguladoras. Por isso, o Legislativo teve
sua função de fiscalização ampliada, sendo reduzida sua competência de editar
normas. No Brasil, essa fiscalização é exercida por meio de três formas
principais: cada parlamentar pode atuar de forma isolada ou pode-se atuar por
intermédio das comissões; ou, ainda, no Plenário das Casas.

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TEMA 2 – FORMAS DE FISCALIZAÇÃO: INDIVIDUAL E COMISSÕES
A fiscalização das instituições é exercida pelo Legislativo de forma
individual ou colegiada (nas comissões ou no plenário). Individualmente pode o
parlamentar atuar requerendo informações dos órgãos da Administração
Pública, por meio do envio de ofícios. Também pode receber uma denúncia e
levá-la às autoridades competentes para que seja apurada. Entretanto, a maior
parte dessa atuação se dá nas comissões.
As comissões do Congresso Nacional são de dois tipos em relação ao
seu tempo de duração. De um lado, há as comissões permanentes, órgãos
técnicos criados pelo Regimento Interno das casas e que existem por meio das
legislaturas. Do outro, há as comissões temporárias que se constituem em
órgãos técnicos criados por um período de tempo ou com uma finalidade
específica, como investigar algum ato supostamente ilícito. Em geral, as
comissões podem desempenhar funções legislativas (que é a principal
competência de várias delas) e fiscalizatórias. Assim, elas podem: realizar
audiências; fazer requisições ou pedidos de esclarecimentos; solicitar
depoimento de qualquer autoridade ou cidadão – art. 58, §2º, II, III, V e VI, todos
da Constituição Federal. No próximo tema, analisaremos a comissão temporária
que costuma ocupar grande destaque nos noticiários: as CPIs.

TEMA 3 – CPI – COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO


As Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) são comissões
temporárias cuja competência é investigatória, por isso que possuem “poderes
de investigação próprios das autoridades judiciais”, conforme o art. 58, § 3º, CF.
Sua origem remonta às comissões de inquérito do Parlamento inglês, mas foi
nos Estados Unidos que essas comissões se desenvolveram por meio da
jurisprudência da Suprema Corte e, muitas vezes, em conflito com outros
Poderes que eram investigados.
As CPIs devem observar as regras que estão na Constituição Federal,
nos Regimentos Internos e na Lei n. 1.579/1952, as quais se aplicam às CPIs do
Congresso Nacional, que podem ser de uma casa ou das duas (quando será

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chamada de CPMI – Comissão Parlamentar Mista de Inquérito). Podem existir
CPIs estaduais, municipais e distrital (do Distrito Federal).
Para instaurar uma CPI, é necessário o requerimento de um terço (1/3)
dos membros da casa ou de deliberação em Plenário. É imprescindível, também,
que ela tenha como objeto de investigação um fato certo e determinado. Por
exemplo, pode ser instaurada uma CPI para investigar os desvios dos recursos
X da empresa pública Y, porém, será inconstitucional uma CPI “contra a
corrupção”, pois seria genérica. Como instrumento de investigação do
Legislativo, a CPI possui algumas prerrogativas, como a de convocar
testemunhas ou de promover a quebra de sigilo fiscal e telefônico. Ela, porém,
não pode praticar atos típicos de autoridades judiciais, como decretar a perda ou
o arresto de bens, bem como não pode autorizar escutas telefônicas. Em
qualquer hipótese, as CPIs devem respeitar os direitos fundamentais dos
investigados. As conclusões da CPI serão resumidas em um relatório que poderá
ser encaminhado ao Ministério Público para que tome as providências cabíveis.
Foi o que ocorreu na CPMI dos Correios que resultou na Ação Penal n. 470
(“Mensalão), julgada pelo STF.

TEMA 4 – FISCALIZAÇÃO NO PLENÁRIO


O Plenário das casas legislativas também pode desempenhar importante
função fiscalizatória. Autoridades subordinadas à presidência da república
podem ser convocadas para prestar depoimentos e esclarecimentos às casas
legislativas. Além disso, é de competência das casas legislativas nos três níveis
da federação exercer a competência para julgar as contas do Poder Executivo
(art. 49, IX, do Congresso Nacional e art. 31, §2º, da Câmara de Vereadores,
ambos da CF).
A competência de julgar as contas do Poder Executivo é um mecanismo
muito importante de fiscalização que tem sido subutilizado. Se as contas do
Poder Executivo não forem aprovadas, o seu Chefe estará sujeito às sanções
por praticar crime de responsabilidade, isto é, ele poderá sofrer o impeachment
(poderá ser impedido) e, por isso, perderá o cargo público e será inabilitado para
o exercício de função pública por oito anos.

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TEMA 5 – TRIBUNAL DE CONTAS
O Tribunal de Contas está previsto na Constituição como órgão auxiliar
do Poder Legislativo para o exercício do controle externo dos poderes. Isso
porque cada Poder deve instituir o seu controle interno, conforme prevê a
Constituição em seu artigo 74. Porém, há autores que consideram o Tribunal de
Contas como mais um Poder da República (assim como o Ministério Público).
Os Tribunais de Contas são responsáveis pela fiscalização contábil,
financeira, orçamentária e operacional dos entes da federação ou das entidades
de administração direta e indireta quanto à: legalidade, legitimidade e
economicidade (art. 70, CF). A Constituição Federal prevê não apenas como se
dá a composição do Tribunal de Contas da União (TCU), mas também que as
regras do TCU aplicam-se aos Tribunais de Contas dos Estados (TCE), do
Distrito Federal e dos Municípios (Rio de Janeiro e São Paulo). O TCU tem
competência em todo território nacional e sua sede está em Brasília; já os TCEs
são sediados na capital de cada Estado, sendo responsáveis pelo julgamento
das contas dos prefeitos e do governador daquele Estado (à exceção dos
municípios do Rio de Janeiro e de São Paulo que possuem tribunais de contas
próprios). Por fim, é importante lembrar que as decisões dos Tribunais de Contas
podem ser revistas pelo Poder Judiciário.

NA PRÁTICA
Analise as últimas CPIs que ocorreram na Assembleia Legislativa do seu
Estado. Qual foi o resultado delas? Alguém foi responsabilizado? O relatório foi
encaminhado ao Ministério Público?

O Tribunal de Contas do seu Estado costuma condenar os governantes


por mau uso dos recursos públicos? Qual tem sido a consequência da atuação
dessa instituição?

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SÍNTESE
Na aula de hoje, estudamos as principais formas pelas quais os
parlamentares podem exercer sua competência legislativa. Vimos que ela é
realizada individual ou coletivamente (nesse último caso, quando atuam nas
comissões ou em Plenário).
Depois, analisamos os pontos principais a respeito da principal comissão
temporária cuja finalidade é investigar: a CPI. Vistas as regras mais relevantes
das CPIs, estudamos a fiscalização em Plenário, especialmente a competência
para julgar as contas do Chefe do Poder Executivo. Por fim, tratamos de alguns
pontos principais sobre o órgão que exerce o controle externo dos poderes: os
Tribunais de Contas, especialmente o da União (TCU) e os dos Estados (TCEs).

REFERÊNCIAS
BARBOSA, Leonardo Augusto de Andrade. Processo legislativo e
democracia. Belo Horizonte: Del Rey, 2010.

BERNARDI, Jorge. O processo legislativo brasileiro. Curitiba:


Intersaberes, 2012.

BRASIL. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out.


1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>.
Acesso em: 10 set. 2016.

BRASIL. Manual de redação da presidência da república. 2ª ed.


Brasília, 2002. Disponível em:
<http://www4.planalto.gov.br/centrodeestudos/assuntos/manual-de-redacao-da-
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BRASIL. Regimento interno da câmara dos deputados. Brasília, 2016.


Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/atividade-
legislativa/legislacao/regimento-interno-da-camara-dos-
deputados/RICD%20atualizado%20ate%20RCD%2017-2016.pdf>. Acesso em:
10 out. 2016.

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FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Do processo legislativo. 7ª ed.
São Paulo: Saraiva, 2012.

SILVA, José Afonso da. Processo constitucional de formação das leis.


2ª ed. São Paulo: Malheiros, 2007.

TRINDADE, João. Processo legislativo constitucional. 2. ed. Salvador:


JusPodivm, 2016.

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