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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 2
2 A REGIÃO DE CANUDOS: ANÁLISE ESPACIAL DA ÁREA DE
INFLUÊNCIA E DIFUSÃO DE UMA INOVAÇÃO ........................................................ 3
2.1 Análises sobre a formação da Região de Canudos ............................. 5

2.2 A paisagem de Canudos ...................................................................... 7

2.3 Principais causas da Guerra dos Canudos .......................................... 9

2.4 Estopim da Guerra dos Canudos ....................................................... 11

2.5 Participantes do movimento ............................................................... 11

3 UM BRASIL DE MUITOS BRASIS NO SÉCULO XIX ............................... 13


4 ANTÔNIO VICENTE MENDES MACIEL - O CONSELHEIRO.................. 16
5 CATOLICISMO TRADICIONAL E REFORMADO ..................................... 20
6 O SENTIDO SOCIAL E O CONTEXTO POLÍTICO DA GUERRA DE
CANUDOS ................................................................................................................ 23
6.1 O contexto político na República ........................................................ 25

7 CANUDOS: UMA GUERRA, MUITAS MULHERES ................................. 25


8 CANUDOS E O SERTÃO NORDESTINO NA LITERATURA BRASILEIRA
28
9 CANUDOS 1897: O MASSACRE FAZ CEM ANOS ................................. 34
9.1 Enfrentando mistificações .................................................................. 37

9.2 Canudos: guerras de memória ........................................................... 38

10 NOMES DE GUERRA............................................................................... 44
10.1 Nem tão heróicos ............................................................................ 46

10.2 O fim de Canudos ........................................................................... 49

11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 51


12 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 52

1
1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante


ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que
lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

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2 A REGIÃO DE CANUDOS: ANÁLISE ESPACIAL DA ÁREA DE INFLUÊNCIA E
DIFUSÃO DE UMA INOVAÇÃO

A Guerra de Canudos, cidade localizada no semi-árido baiano, durou


aproximadamente um ano (novembro de 1896 a outubro de 1897) e mobilizou mais
de dez mil soldados, oriundos de 17 estados brasileiros e separados em quatro
expedições militares. Durante todo esse confronto, o que se deduz e que tenham
morrido pelo menos vinte e cinco mil pessoas. (NOGUEIRA, 2005)

Fonte: ensinarhistoriajoelza.com.br

Para NOGUEIRA, 2005, o cenário deste conflito conforma-se através da


tentativa de inserção da ordem pública por uma República recém-formada contra uma
comunidade fundada por um líder religioso, Antônio Conselheiro, que defendia o
regime monarquista.
Conforme estudos realizados por NOGUEIRA, 2005:

O Arraial que ocupou uma velha fazenda abandonada foi nomeado de Belo
Monte pelo líder Conselheiro e dados oficiais datam a sua fundação de junho
de 1893.

Este evento tem na história nacional uma relevância significativa não só pelos
números apresentados acima, mas também pelas controvérsias e especulações que

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até hoje são desenvolvidas em mais de dez mil trabalhos publicados sobre o assunto.
(NOGUEIRA, 2005)
De acordo com NOGUEIRA, 2005, a discussão aqui colocada tem como
objetivo, primordialmente, considerar a estrutura de relações que formou o evento da
Guerra e a espacialização de sua influência através dos ideais do indivíduo Antônio
Conselheiro.
O evento é caracterizado como a interação entre homem – indivíduo e corpo,
meio – espaço físico e de associações multidirecionais, e tempo – seqüências e
tempos definidos. (NOGUEIRA, 2005)
Para NOGUEIRA, 2005,

O processo de formação da região, como “área cultural” em todas as suas


manifestações e como superfície espacial é ponto relevante e imprescindível
dentro da interface de Análises Regionais abordadas.

O reflexo espacial do evento dá-se a legimitidade pelas relações do indivíduo


com o mesmo (sejam elas sociedade-natureza ou sociedade-lugar) ou dos homens
entre si. (NOGUEIRA, 2005)
Segundo NOGUEIRA, 2005, a colocação destas relações estruturadas
promove uma superação do episódio somente como uma trama política, policial e
militar; estavam em jogo conteúdos, imagens, representações e formas de expressão
traduzidas no oral e no escrito, manifestadas em gestos, posturas e comportamentos.
Ainda de acordo com NOGUEIRA, 2005, estas manifestações, difundidas como
inovação representada por Antônio Conselheiro formalizaram a Região de Canudos;
foram criados limites geográficos que colaboram para demonstrar a relevância e o
quilate deste evento em todos os sentidos.
Como base para deste estudo, teve-se a preocupação de buscar na Geografia
Humana, na Geografia Histórica e na Geografia Cultural as possibilidades e meios
para o seu desenvolvimento.

A Região de Canudos pode ser considerada uma “área cultural”; o estudo das
áreas culturais se encontra na Geografia Histórica. A compreensão destas
áreas depende da análise de suas origens e do processo de formação das
mesmas; daí o estudo do ideal Antônio Conselheiro, sua origem; e a relação
com as manifestações dos conselheiristas; processo de construção em
sequências temporais. (NOGUEIRA, 2005)

A difusão que levou a formação de uma “área cultural” se coloca dentro da


receptividade cultural e da “marcha cultural”. (NOGUEIRA, 2005)
4
Relatos de NOGUEIRA, 2005, definem que ambas colaboram para o estudo
mais profundo da aceitação dos indivíduos de um grupo de um tipo de inovação e da
distribuição de energia dentro de uma “área cultural”.
Enfim, um grupo em crescimento tem fronteiras ativas, sobre as quais se
agrupam as energias do povo, do poder e da riqueza. Esta fronteira dá-se início com
a expansão, mas a energia de uma cultura, uma vez localizada nesta fronteira, pode
sequenciar se manifestando no espaço de formas variadas, até muito depois desta
expansão ter finalizado; define NOGUEIRA, 2005 em suas palavras.
Para NOGUEIRA, 2005, a riqueza da cultura canudense é Antônio Conselheiro,
a energia vem do sertanejo – jagunço forte e o poder é da difusão que ocupou espaço
geográfico de uma cidade. Os sinais desta manifestação e as fronteiras continuam em
expansão, o espaço geográfico já não mais existe, mas o patrimônio hoje se torna
monumento a ser estudado em todas as suas formas.

2.1 Análises sobre a formação da Região de Canudos

Conforme NOGUEIRA, 2005:


Alguns aspectos são considerados fundamentais na teoria do Movimento no
Espaço ao longo do tempo: Difusão, de Torsten Hägerstrand, utilizada como
base para esta análise regional.

Os fatores-chave apontados na teoria são tempo e mudança. Na formação da


“área cultural” que delimita a Região de Canudos o tempo é conotado pela janela de
espaço tempo na qual o Arraial se forma (1893 a 1897); esta consideração não se
desvincula dos contextos gerais que envolvem este intervalo. (NOGUEIRA, 2005)
Conforme relata NOGUEIRA, 2005; a mudança se desdobra em espacial,
percebida pela formação de uma cidade de porte médio no semiárido baiano. A
modificação da paisagem (considerando aqui o sentido amplo e perceptivo do
espaço), toma como prerrogativas até mesmo a modificação de hábitos, das práxis,
dos ritos cotidianos e consequentemente do chamado gênero de vida.
Outro fator relevante, considerado pela teoria base, é o movimento de novas
idéias e pessoas em uma área, abordando vários períodos de tempo. O ideal Antônio
Conselheiro pode ser configurado como a inovação. (NOGUEIRA, 2005)

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Seu movimento se deu principalmente nos sertões sergipanos e baianos, até a
escolha do arraial que se tornou Bello Monte (denominação dada a área pelo
Conselheiro) a partir de sua fixação naquela localidade geográfica. (NOGUEIRA, 2005
Para NOGUEIRA, 2005, a partir de então os períodos de tempo a serem
considerados neste estudo estão diretamente relacionados ao movimento de
influências, ou ideais personificados por Conselheiro e não em um deslocamento
físico propriamente dito. A inovação não mais se deslocava. O grupo de atores que
concretiza o processo é formado pelos conselheiristas (representantes do séquito de
Antônio Conselheiro).
Parafraseando NOGUEIRA, 2005, a catalogação documental desta
movimentação da inovação foi feita por Euclides da Cunha, ator desvinculado do
grupo de “seguidores”, mas imerso no contexto devido ao contato com os
conselheiristas. A definição do tempo se deu através deste contato.
A locomoção de Euclides da Cunha até o arraial, acompanhando a quarta
expedição do exército republicano, durou 103 dias e rendeu 25 artigos para o jornal
Folha de São Paulo, do qual era correspondente. (NOGUEIRA, 2005)

Fonte: mundoeducacao.bol.uol.com.br

Sequenciando os estudos de NOGUEIRA, 2005, tanto conselheiristas quanto


soldados entendem a existência de diferenças entre ideologias vigentes e as
propostas por Antônio Conselheiro. A aprendizagem consiste em considerá-las
“sagradas” ou “profanas”, dentro do contexto ideológico do qual fazem parte. A

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aceitação por parte dos conselheiristas se dá, principalmente, pelo fato da
proximidade do homem como (corpo) sertanejo e do meio - fazem da inovação uma
espécie igual. Os militares não chegam a este ponto do processo, não existe
aceitação, somente a decisão de não aceitação.
Quanto ao processo de decisão, o grupo de séquitos de Antônio Conselheiro
se decide pela difusão em massa das idéias e defesa sem limites ou divisas da
inovação e do reflexo espacial desta. (NOGUEIRA, 2005).
Ainda segundo NOGUEIRA, 2005:
A natureza das mudanças é essencialmente político-social, a partir do
momento em que as propostas inovadoras promovem uma modificação dos
moldes vigentes e consequentemente um recorte espacial necessário à
concretização das mesmas. Parte-se aqui da necessidade basilar do ser
humano em promover organizações espaciais que ditem as diretrizes do
comportamento social do grupo do qual faz parte.

Para NOGUEIRA, 2005, a introdução com êxito de idéias no sistema, a Região


de Canudos, deve considerar os conceitos de estruturalismo e sistema, essenciais
para o entendimento da formação desta área.
Esta região só se configurou espacialmente a partir do momento que se
conforma estruturalmente e permite a difusão de forma sistêmica da inovação. Um
sistema desestruturado não consegue organização suficiente para que ideais sejam
difundidos em todos os estratos dos quais é formado (NOGUEIRA, 2005).
NOGUEIRA, 2005, relata que o inovador inicial em todos os grupos é Antônio
Conselheiro que se coloca não só como indivíduo, mas como verdadeiro ideal - a
personificação que consegue formalizar uma região. Já os condutores inicialmente
são os militares que, vindos do sertão, noticiam casos e manifestações de forma
sistemática e muitas vezes impressionista.

2.2 A paisagem de Canudos

A paisagem sertaneja é para observadores eventuais de desolação e morte. O


amarelo- pardo da vegetação ressequida predomina ao longo dos percursos surgindo
como inanição de um elemento vivo (NOGUEIRA, 2005).

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Fonte:mundoeducacao.bol.uol.com.br

Na descrição de Euclides da Cunha (1939 apud NOGUEIRA, 2005) “... entre


um chão inteiramente seco e uma atmosfera cuja umidade é insignificante, a
vegetação reflete singularmente a inclemência do meio”.
Ao mesmo tempo em que pode ser configurada como monótona e árida a
região sertaneja é considerada caótica. A vegetação retorcida e espinhosa se coloca
como em meio a uma luta pela sobrevivência e adaptação. (NOGUEIRA, 2005)

A conservação individual e da espécie adquire neste meio-físico uma


capacidade de resistência prodigiosa – que pode ser relacionada também ao
sertanejo. (NOGUEIRA, 2005)

NOGUEIRA, 2005, relata que as relações sociais deste indivíduo com o seu
espaço geográfico também denotam uma especificidade localizada. As relações de
classe restringiam-se entre o latifundiário, proprietário de grandes extensões de terras,
e o homem sem-terra, que correspondia a grande maioria da população.
Conforme relata em NOGUEIRA, 2005:
Canudos, apesar da mimese com o espaço geográfico no qual estava
inserida acaba por configurar um recorte representado pelo ideal encarnado
por Antônio Conselheiro. Este ideal, a inovação, ia muito além do simples fato
de não pagar impostos; colocava nos fatos e no espaço a expressão da
dignidade sertaneja.

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Apesar da pobreza, a população canudense tinha o suficiente para viver
dignamente. O conselheiro não fazia exigências, nem pedia nada a seu séquito, daí a
possibilidade de manutenção de um espaço sem a cobrança de impostos, sem
receitas públicas – o cooperativismo. (NOGUEIRA, 2005)
Segundo estudos de NOGUEIRA, 2005, os cidadãos não sofriam nenhum tipo
de discriminação – nem de raça, nem de classe. As leis e as autoridades eram
consagradas pela comunidade em consonância com os valores emanados da visão
místico-religiosa adotada por Antônio Conselheiro, o líder espiritual. NOGUEIRA,
(2005)
Diante da formação espacial de uma região que redimia o sertanejo de sua
“sina” – destino irrefutável de sofredor e perdedor – cresce o Arraial de Canudos.

Em ritmo vertiginoso, o arraial torna-se densamente povoado e delineia sua


região de influência muito além de sua sede altamente ocupada – a Região
de Canudos. (NOGUEIRA, 2005)

2.3 Principais causas da Guerra dos Canudos

Segundo NOGUEIRA, 2005; existem, pelo menos, duas grandes vertentes que
tentaram, e ainda tentam explicar o que foi a Guerra de Canudos.

Fonte: mundoeducacao.bol.uol.com.br

Baseada na monumental obra Os sertões, de Euclides da Cunha, publicada em


1902 após o autor acompanhar a “última expedição” a Canudos, a vertente
9
“euclidiana” faz uso de leituras sociológicas características do final do século XIX. Por
exemplo: o positivismo, de Hippolyte Taine, que buscava compreender as relações
sociais com base em determinismos raciais, geográficos e históricos; e também o
darwinismo social, de Herbert Spencer, opondo categorias dicotômicas, como
“civilização” e “barbárie”. (NOGUEIRA, 2005)
De acordo com palavras relatadas por NOGUEIRA, 2005:
Outros autores importantes da época e que também foram influências para
Euclides da Cunha são: Karl Marx, Émile Durkheim, Auguste Comte, entre
outros que foram fundamentais para o desenvolvimento da sociologia.

Para NOGUEIRA, 2005, uma das teses propagandeadas pelo governo


republicano, com a qual Euclides da Cunha partiu rumo a Canudos, refere-se ao
conflito como um embate entre um foco de restauração monárquica, representado por
Antônio Conselheiro e seus seguidores, e o Exército brasileiro, incumbido de combater
os revoltosos.

Contudo, após voltar da guerra, Euclides da Cunha deu lugar a questões


sociológicas complexas, com base nas referências teóricas do período, destacando
um “raro caso de atavismo” em Antônio Conselheiro e diagnosticando — no ambiente,
na miséria ali encontrada e na mestiçagem daquela população vítima do massacre —
explicações para aquela situação. (NOGUEIRA, 2005)
Existia também uma dicotomia entre o litoral brasileiro, desenvolvido e
“civilizado”, e o interior do Brasil, onde a “barbárie” reinava. Com base em suas
observações, Euclides da Cunha questiona esses modelos defendendo a barbárie
como elemento comum a ambas localidades, porém com características diferentes,
afirma NOGUEIRA, 2005.
No final dos anos de 1950, uma outra tese surge a partir dos artigos publicados
de Rui Facó, reunidos no livro Cangaceiros e fanáticos. De perspectiva marxista, as
teses de Facó buscavam uma interpretação definitiva de Canudos, associando a
Guerra de Canudos à luta pela abolição dos latifúndios, pelo direito à terra e contra a
opressão (representada pelos militares e a elite cafeeira da época). (NOGUEIRA,
2005)
Para NOGUEIRA, 2005:
O movimento de Canudos passa a ser visto, portanto, sob aspectos positivos,
uma vez que representa um capítulo importante na história da luta pela terra

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no Brasil. Essas teses são mencionadas em algumas bibliografias como
“progressistas” e antagonizam com as teses “euclidianas”.

Contudo, nos anos de 1990, a historiografia brasileira começou a revisitar o


conflito na tentativa de buscar subsídios que pudessem corroborar ou não com essas
teses apresentadas sobre Canudos. (NOGUEIRA, 2005)
Ainda de acordo com NOGUEIRA, 2005, com a dificuldade de encontrar fontes
confiáveis e elementos que pudessem sustentar tais assertivas, o conflito acabou
ganhando contornos menos idealizados sem, ao mesmo tempo, deixar de destacar os
absurdos cometidos contra a população que vivia no arraial.

Esse momento, inclusive, é considerado um dos maiores massacres já


cometidos pelo Exército brasileiro em território nacional na história do Brasil.
(NOGUEIRA, 2005)

2.4 Estopim da Guerra dos Canudos

Do ponto de vista de NOGUEIRA, 2005, já no final do ano de 1895, o próprio


Antônio Conselheiro comprou uma certa quantidade de madeira em Juazeiro para o
término da construção de uma nova e maior igreja no arraial. No entanto, apesar de
terem recebido o dinheiro da compra, os comerciantes locais não entregaram a
encomenda conforme planejado. Isso teria provocado a ira dos moradores do arraial,
que, por sua vez, teriam ameaçado “assaltar” Juazeiro.
Conforme NOGUEIRA, 2005, vale ressaltar que, conforme a historiadora
Jacqueline Hermann aponta em seus trabalhos sobre o tema, não existem
documentações seguras que possam sustentar o que de fato ocorreu. Não obstante,
esse tom de ameaça, provavelmente, deu início às campanhas militares contra o
arraial de Canudos, as quais começaram em novembro de 1896.

2.5 Participantes do movimento

Como caracteriza NOGUEIRA, 2005, para compreender o movimento de


Canudos, é importante situá-lo dentro do fenômeno dos movimentos messiânicos,
sobretudo do sebastianismo e sua influência no Brasil. Em 1578, o rei de Portugal D.
Sebastião teria desaparecido na Batalha de Alcácer-Quibir, no norte do Marrocos.

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A sua volta transformou-se em uma crença messiânica, em que o rei voltaria e
libertaria os portugueses da difícil situação que estavam passando naquele momento.
Antônio Conselheiro chegou a citar o rei D. Sebastião em seus discursos, mostrando
a força que a crença em seu retorno despertava no imaginário luso-brasileiro,
NOGUEIRA, 2005 explicita seus pressupostos
No final do século XIX, o interior do Brasil era marcado pelo alto grau de
abandono, sobretudo onde a seca atingia populações inteiras. Vale lembrar
que a escravidão foi abolida em 1889, ou seja, não se havia completado cinco
anos quando, em 1893, Antônio Conselheiro e seus seguidores instalaram-
se em uma estéril e abandonada fazenda conhecida como Belo Monte.(
NOGUEIRA, 2005)

Fonte: sistemacpv.com.br

Como descrito por NOGUEIRA, 2005, as primeiras notícias do beato


Conselheiro datam de 1874, no jornal O rabudo, de Sergipe, onde era referido como
Antônio dos Mares. Ele vagava pelos sertões construindo cemitérios, igrejas e
capelas, proferindo profecias e descontentamentos com questões políticas em
discussão naquele período, como o casamento civil, além de conselhos. Dessa última
prática viria a alcunha que lhe tornaria conhecido. Além disso, seus discursos sempre
eram marcados pelo forte teor religioso.
Com isso, atraiu uma multidão de admiradores desvalidos que passaram a
segui-lo até o arraial de Canudos, formando a comunidade que foi praticamente
dizimada anos depois pelo Exército brasileiro (CÂMARA e CÂMARA 2015).

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3 UM BRASIL DE MUITOS BRASIS NO SÉCULO XIX

O idioma ia ser nordestinense, a bandeira de renda cearense, "Asa Branca"


Era o hino nacional. O folheto era o símbolo oficial; a moeda, o tostão de
antigamente; Conselheiro seria o inconfidente; Lampião, o herói inesquecido.
Imagine o Brasil ser dividido e o Nordeste ficar independente... (Ivanildo Vila
Nova e Bráulio Tavares).

Conforme CÂMARA e CÂMARA 2015, em sua obra Brasil, a sexta potência


econômica mundial; país de dimensões continentais, habitáculo de riqueza mineral e
hídrica, de fauna e flora profusas, ainda que marcado pela égide da extrema
desigualdade social que nos caracteriza como um país terceiromundista.
A História de nosso povo está, em muito, permeada pela questão agrária e a
luta camponesa é uma constante no panorama histórico nacional devido à
concentração latifundiária em poucas e parcas mãos. Segundo Barreto (1990, apud
CÂMARA e CÂMARA 2015), a exploração do homem do campo é histórica, na mesma
proporção em que também é histórica a violência nas relações sociais que
determinam esta exploração:

"Nesta guerra subterrânea, no entanto, o camponês nunca se acovardou, e


somente à custa de seu sangue tem mantido e conquistado algum espaço
que lhe assegure o mínimo de dignidade para a sobrevivência e a
continuidade da própria luta" (BARRETO, 1990, p. 24, apud CÂMARA e
CÂMARA 2015,).

Conforme CÂMARA e CÂMARA 2015, em função desta realidade, muitos são


os problemas ligados a esta problemática como o não aproveitamento a contento dos
recursos naturais disponíveis, a utilização desproporcional das melhores terras para
a monocultura de exportação, assim como a migração de populações rurais para os
aglomerados urbanos.
A bem da verdade, a segunda metade do século XIX trouxe consigo um surto
de desenvolvimento aliado a um intenso processo de mudanças sócio econômicas.
(CÂMARA e CÂMARA 2015)
Para CÂMARA e CÂMARA 2015, com o crescimento das cidades, surgiu
também a necessidade premente da implementação de companhias de navegação,
transporte, iluminação a gás e comunicação, entre outros aspectos básicos de
infraestrutura para um país em vias de desenvolvimento.

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Na visão de CÂMARA e CÂMARA 2015, o advento da República em 1889
estava inserido no contexto do poder oligárquico, clientelista e coronelista, atendendo
com prontidão aos interesses de elites rurais em detrimento da massa desprovida de
recursos financeiros.
Do ponto de vista de CÂMARA e CÂMARA 2015:

A estrutura da economia brasileira naquele momento histórico estava


fundamentada primordialmente no latifúndio, com predominância da
monocultura.

No que se refere ao âmbito econômico nacional, precisamente no sudeste do


país, o café provocava profundas alterações, entre as quais, a introdução de mão de
obra assalariada imigrante na lavoura, investimentos no comércio e nos serviços
portuários quando afirma CÂMARA e CÂMARA 2015.
Como descrito por CÂMARA e CÂMARA 2015, a modernização da agricultura
tendo por base as usinas e a concentração da terra nas mãos de poucos faziam com
que os sertanejos necessitassem trabalhar nas terras dos oligarcas para sobreviver,
tendo que submeter-se à exploração de sua força de trabalho e à total falta de respeito
para com seus direitos trabalhistas ainda inexistentes.

Fonte:algosobre.com.br

De acordo com estudos de CÂMARA e CÂMARA 2015, em termos de nordeste,


a implantação do sistema republicano pouco ou nada alterou a expectativa de

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melhoria das condições de vida do povo sertanejo. A economia nordestina estava
fundamentada essencialmente na agricultura e na pecuária.
Esta região, no entanto, perdeu muito de sua importância econômica devido ao
infortúnio de secas devastadoras e consecutivas, em especial a grande seca de 1877
a 1879. Sendo assim, o Nordeste, massacrado pela miséria ocasionada pelos grandes
períodos de estiagem e pela inescrupulosidade de uma minoria que detinha o poder,
acabou se tornando um importante celeiro de manifestações nem sempre pacíficas
CÂMARA e CÂMARA 2015 explicita seus pressupostos.
Resumidamente, podemos afirmar que existiam dois “brasis” dentro de nosso
país àquela época: o Brasil litorâneo (avançado em termos de civilidade e cultura,
refinado) e o Brasil sertanejo (atrasado culturalmente, tosco e pobre). Conforme Iser
(2008, p. 15, apud CÂMARA e CÂMARA 2015):

O Brasil do século dezenove procurava se inserir no admirável


mundo novo da técnica e do individualismo como valor político e
social. Mas, como é sabido, movia-se com dificuldade, preso por
amarras estruturais, enquanto a sociedade saída do regime
monárquico, agrário-exportadora e escravista.
Era em si própria uma sociedade "entre" a modernidade anunciada
e trazida pelas máquinas e pelo liberalismo, mas também
definitivamente refém do relativo isolamento colonial e do mundo
das hierarquias fixas.

Para CÂMARA e CÂMARA 2015, diferenças de toda ordem entre os "coronéis"


e as grandes massas rurais que já perduravam desde o Império eclodiram em revoltas
que marcaram o primeiro decênio do período republicano.
Quanto à questão religiosa, a Igreja estava passando por um momento
bastante crítico desde que a Maçonaria, o Marxismo, o Positivismo e o Liberalismo
começaram a ameaçar subtrair-lhe poder político, a partir de justificativas racionais
para explicar o dogmático sobre a fé. Foi neste contexto que algumas decisões
peremptórias foram tomadas para que este poder não escorregasse para “mãos
inaptas”, conceitua CÂMARA e CÂMARA 2015.

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4 ANTÔNIO VICENTE MENDES MACIEL - O CONSELHEIRO

Fonte: cparq.ufba.br

A busca da gênese da personagem Antônio Conselheiro passa,


necessariamente, pelo resgate da origem social de sua família (SILVA, 2001, pág. 37,
apud CÂMARA e CÂMARA 2015).
Vagueando pelos sertões do Ceará (Cariri), Pernambuco, Alagoas, Sergipe e
Bahia, após haver flagrado a esposa em adultério com um sargento de polícia, Antônio
Conselheiro, que desde criança sentia uma verdadeira vocação pela vida monárquica
(incentivada pelos pais com o fim prático de ascender-lhe socialmente), fixa residência
à margem norte do rio Vaza-Barris, em um vilarejo no sertão da Bahia por ele
rebatizado de Belo Monte, em 1893. O episódio traumático que o catapultou para a
vida errante de “peregrino”, como ele se autointitulava, é assim narrado:

Brasilina, a prazenteira, ignora completamente o que se passa na alma


daquele marido inquieto e torturado de melancolia. Está amando às
escondidas, um furriel. Deita-se com seu sargento em horas quentes de
amor, aproveitando a ausência de Antônio Vicente. É cálida e impetuosa.
Pouco se lhe dá que o aventurado se torne corno. E continua amorosa, tenra,
nos braços do furriel de Ipu, enquanto os filhos choramingam e se enlameiam
pelos cantos do quintal. Cunha (MACEDO, 1969, p. 121 apud ISER, 2008, p.
30, apud CÂMARA e CÂMARA, 2015 ).

16
Ao que Cunha 1984: 109 apud Iser, 2008: 34, CÂMARA e CÂMARA, 2015)
complementa ao afirmar que:

O plano inclinado daquela vida em declive termina, de golpe, em queda


formidável [...] foi o desfecho. Fulminado de vergonha, o infeliz procura o
recesso dos sertões, paragens desconhecidas, onde lhe não sabiam o nome:
o abrigo da absoluta obscuridade.

Desiludido emocionalmente, decidido a esquecer este infortúnio, Antônio


Vicente transforma-se em Antônio Conselheiro, fundador e mentor ideológico do
arraial de Canudos (este nome foi dado ao lugarejo pelos que de fora apenas focavam
a atenção nos bambus que ali cresciam, negando o carisma de seu verdadeiro nome).
Sua plêiade era formada por jagunços, fanáticos e beatos, segundo (Guerra (2012)
apud CÂMARA e CÂMARA, 2015) que nada mais eram que camponeses sem
trabalho, flagelados arruinados pela Grande Seca de 1877, assim como índios e
negros recém libertos, que viam naquele pregador embrutecido um enviado de Deus,
ataviado com sua indefectível túnica azul que lhe cobria o corpo imundo.
Os cabelos longos e piolhentos completavam a imagem do homem tido pelas
autoridades como louco e perigoso. Uma descrição sua pode ser apreciada abaixo,
onde a parcialidade do narrador é observada também:

Ali, a sua fisionomia estranha: face morta, rígida como uma máscara, sem
olhar e sem risos; pálpebras descidas dentro de órbitas profundas; e o seu
entrajar singularíssimo; e o seu aspecto repugnante, de desenterrado, dentro
do camisolão comprido, feito uma mortalha preta; e os longos cabelos
corredios e poentos caindo pelos ombros, emaranhando-se nos pelos duros
da barba descuidada, que descia até a cintura – aferroram a curiosidade geral
CUNHA, 1984, p. 112 apud ISER, 2008, p. 40, CÂMARA e CÂMARA, 2015 ).

A partir destas características físicas, de seu carisma e do teor apocalíptico de


seu discurso, podemos entendê-lo como uma figura messiânica e salvacionista.
(CÂMARA e CÂMARA, 2015)
Apropriando-se do Catolicismo rústico anteriormente mencionado, o
Conselheiro busca atender às demandas de toda ordem destes desafortunados que
o buscavam. Suas prédicas acaloradas embeveciam os jagunços e são descritas
assim por (Cunha 1984, p.110 apud Iser, 2008, p. 38-39, apud CÂMARA e CÂMARA,
2015):

Ele ali subia e pregava, afirmam testemunhas existentes. (...) uma oratória
bárbara e arrepiadora, feita de excertos truncados das Horas Marianas,
desconexa, abstrusa, agravada, às vezes, pela ousadia extrema das citações
17
latinas; transcorrendo em frases sacudidas; misto inextricável e confuso de
conselhos dogmáticos, preceitos vulgares da moral cristã e de profecias
esdrúxulas (...) Ninguém ousava contemplá-lo. A multidão sucumbida
abaixava, por sua vez, as vistas, fascinada, sob o estranho hipnotismo
daquela insânia formidável”. Era traunesco e era pavoroso. Imagine-se um
bufão arrebatado numa visão do Apocalipse.

Segundo CÂMARA e CÂMARA, 2015, em Belo Monte não havia roubo nem
opressão, impostos não eram pagos; todos eram iguais e tinham os mesmos direitos
e deveres. Qualquer um era bem-vindo e bastava uma indicação do Conselheiro para
se erigir uma moradia; o casamento não era obrigatório e as mães solteiras eram
acolhidas sem preconceito.
Para CÂMARA e CÂMARA, 2015, apesar de seu crescimento até certo ponto
caótico e desordenado como comunidade, o que realmente lhes importava era o fato
de que ali se trabalhava e se rezava. As decisões eram tomadas entre todos, à noite,
no retordo da lida.
Havia duas escolas e duas igrejas, o que implicitamente formava um tripé com
o trabalho em si e que representava o crescimento em todos os níveis, como descrito
por CÂMARA e CÂMARA, 2015.
As tarefas laborais na lavoura e na pecuária de caprinos assim como os frutos
delas advindos eram divididos entre todos, numa prática muito próxima ao Socialismo,
como nos lembram (Oliveira et al. 1994, p. 189, apud CÂMARA e CÂMARA, 2015):
"(...) todos trabalhavam e repartiam o fruto desse trabalho igualitariamente. O trabalho
continuava duro, mas agora acalentavam esperança. (...) O misticismo mantinha-os
unidos. Eram irmãos na fé e na enxada".

18
Fonte: sistemacpv.com.br

Em resumo: Canudos era um oásis de prosperidade sem ganância na aridez


do sertão de fome e penúria, a prova cabal de que a vida digna poderia ser atingida
ainda neste “vale de lágrimas”, mas sem a necessidade do vil metal, que mais divide
que agrega, nem das promessas infundadas que os padres apregoavam, que se
atinham à teoria de uma prática numa vida plena somente após a morte, conforme
relata CÂMARA e CÂMARA, 2015.
Conforme CÂMARA e CÂMARA, 2015, a grosso modo:
Canudos era toda uma ameaça aos capitalistas e à Igreja. Não poderia seguir
existindo. Para piorar, a ligação dos conselheiristas com o cangaço foi-se
estreitando paulatinamente, uma vez que os cangaceiros se prestavam a
proteger o arraial.

A combinação de ideias salvacionistas difundidas por um líder messiânico


congregador, uma grande comunidade de excluídos que atraía ainda mais excluídos
e que vivenciava os valores do cristianismo incipiente já era por demais perturbadora
para o momento frágil pelo qual a República, implantada há apenas quatro anos,
estava passando, como afirmou CÂMARA e CÂMARA, 2015.
De acordo com CÂMARA e CÂMARA, 2015, o medo de que a Monarquia
estivesse por detrás desta insurreição comedida aterrorizava os detentores do poder
secular e religioso, que iniciaram uma articulação para exterminar o arraial de
Canudos, que havia se tornado nacionalmente conhecido no governo do Presidente

19
Prudente de Morais, o primeiro civil à frente da Presidência da República Federativa
do Brasil, representante dos cafeicultores.
Em CÂMARA e CÂMARA, 2015 vamos encontrar o seguinte esclarecimento: A
conjuntura era de intensa agitação política com a pendência do governo anterior em
debelar a luta entre federalistas e castilhistas no estado do Rio Grande do Sul. Forte
foi a oposição ao novo presidente por parte dos adeptos do “florianismo” radical. No
entanto, o maior obstáculo enfrentado por Prudente de Morais foi, sem sombra de
dúvidas, a Guerra de Canudos, que ocupou considerável parte do final de seu
mandato.

5 CATOLICISMO TRADICIONAL E REFORMADO

Conforme WANDERLEI, 2011; definida a estrutura social geral, recorrente e


própria da esfera religiosa, se impõe analisar o caráter do catolicismo que constituía
o universo religioso de Antônio Conselheiro e de seus seguidores.
Poderemos assim alcançar com maior clareza os predominantes aspectos
congregacionais desta religiosidade e suas relações com o domínio eclesiástico.
(WANDERLEI, 2011)
Para tanto fazemos uso de noções ligadas ao estudo da história da religião
católica no Brasil que apontam para a existência de certa dualidade, traduzida e
sintetizada nas expressões “catolicismo tradicional” e “catolicismo
reformado/romanizado. ”
Segundo WANDERLEI, 2011:
Na primeira categoria é descrita uma religiosidade marcadamente devocional
e leiga – cujo centro de produção é as irmandades, os ermitões, os romeiros,
os beatos, etc. Na segunda, está presente um modelo de catolicismo baseado
nas práticas sacramentais, na primazia do clero e na centralidade do governo
da Cúria Romana.

Para WANDERLEI, 2011; pode-se afirmar que estas modalidades efetivamente


distintas correspondem a dois períodos históricos; respectivamente, ao colonial e a
fase que tem início a partir da implantação do Império.
No entanto, tal periodização, é preciso tomar cuidado, representa apenas uma
divisão geral e não um marco preciso (WANDERLEI, 2011).

20
Para WANDERLEI, 2011, além do mais, a dualidade referida não significa a
existência de duas essências no catolicismo que se constituiu no Brasil, justifica-se
apenas no sentido de apontar tendências que predominam.
Herdeiro do secular legado do catolicismo tradicional – com certas variações
de sentido também denominado de popular, rústico, místico– o conselheirismo se
encontra situado num momento – finais do século XIX – particularmente intenso do
movimento de transição em direção ao modelo romano, conforme WANDERLEI, 2011.
Movimento este que tem sua força principal na ação sistemática e persistente
dos bispos reformadores que, sobretudo a partir do advento da República, e com o
auxílio de ordens religiosas estrangeiras, buscaram redefinir o lugar do clero frente à
sociedade brasileira em geral e ao Estado em particular, relatado por WANDERLEI,
2011.
Para WANDERLEI, 2011, é precisamente nesta transformação lenta e
conflituosa da religião católica no Brasil, que se torna clara as tensões entre a
religiosidade congregacional e o exercício do sacerdócio.
Cabe identificar, segundo WANDERLEI, 2011, com especial cuidado, a posição
social e religiosa de Antônio Conselheiro no interior do catolicismo brasileiro.
Este esforço se justifica devido à importância fundamental desta personalidade
na reprodução congregacional da religiosidade presente no conselheirismo. A sua
trajetória, em grande medida, se confunde com os caminhos do catolicismo
tradicional, paulatinamente expropriado das populações rurais pela ação intransigente
dos bispos romanizados, quando afirma WANDERLEI, 2011.
Para WANDERLEI, 2011, uma interpretação consistente sobre Antônio
Conselheiro permitirá melhor analisar as múltiplas visões que lhe atribuem identidades
religiosas diversas – operações, muitas vezes, de grande alcance ideológico.
Conforme WANDERLEI, 2011:
Existe nos estudos acadêmicos certa tradição – fundada por Euclides da
Cunha – de conceber Antônio Conselheiro como profeta popular; como figura
central de um movimento messiânico que aparece como resposta política
possível diante de uma crise econômica generalizada e de processos de
secularização e modernização da sociedade sertaneja.

De acordo com WANDERLEI, 2011, apesar de sua insuficiência documental


esta interpretação exerce grande influência sobre parte considerável da historiografia

21
de Canudos. Resulta desta visão uma perspectiva na qual se encontram subordinadas
às disputas ligadas ao terreno das idéias religiosas as relações de dominação
produzidas pelo clero contra o conselheirismo – o que parece ser uma inversão de
fatores.
Também durante muito tempo Antônio Conselheiro foi considerado pelo
pensamento letrado – leigo e eclesiástico – um fanático recalcitrante, afirma
WANDERLEI, 2011.
Opinião que se consolida no início do século XX e permeia com variados
matizes a maior parte dos estudos sobre o tema – inclusive os trabalhos de orientação
marxista, na visão de WANDERLEI, 2011.
Conforme WANDERLEI, 2011, esta visão repousa, quando não
deliberadamente produzida com a finalidade de combater o conselheirismo, numa
absoluta incompreensão acerca do caráter de devoção e penitência das tradições do
catolicismo sertanejo.
De acordo estudos de WANDERLEI, 2011;
Ao analisar os escritos de Antônio Conselheiro é possível percebe com
clareza o quanto esta interpretação, a despeito de sua insistência e por sua
imprecisão, embaraça o reconhecimento do significado social e religioso do
conselheirismo.

Como caracteriza WANDERLEI, 2011: para dissipar essa e outras deformações


é forçoso reconhecer, primeiramente, que o líder sertanejo não incorpora na sua
atuação religiosa produções de profecias. O profeta é um agente religioso que anuncia
o caminho da salvação por meio de uma revelação pessoal. Ora, não é encontrado
nos escritos de Antônio Conselheiro a menor reivindicação de ser ele portador de uma
doutrina nova ou mandamentos revelados.
Como descrito por WANDERLEI, 2011:

Do ponto de vista de muito pelo contrário, suas prédicas reafirmam


enfaticamente as concepções tradicionais da fé católica – o valor da
penitência, da caridade, da castidade, da devoção a Virgem Maria, etc.
Não é de pouco interesse essa questão, de seu desenvolvimento depende a
tese que classifica a religião conselheirista de messiânica. Hoje tema
controvertido nos estudos de Canudos.

Também não é possível aplicar a Antônio Conselheiro a qualificação de


mistagogo. Este produz bens de salvação por meio da distribuição de sacramentos,
se distingue do mago por formar uma comunidade em torno de si, não se confunde
22
com o sacerdote por atuar numa dimensão exclusivamente mágica de acordo com
WANDERLEI, 2011.
WANDERLEI, 2011 já afirmou que mesmo os mais aguerridos detratores de
Antônio Conselheiro não apresentam acusações de que suas atividades se
relacionam com as práticas sacramentais – esfera de competência reconhecidamente
sacerdotal e de importância secundária no catolicismo tradicional, especialmente das
áreas rurais.

6 O SENTIDO SOCIAL E O CONTEXTO POLÍTICO DA GUERRA DE CANUDOS

No dizer de BANDEIRA, 2005, as tensões sociais, que a estagnação


econômica gerava e a adversidade da natureza - clima e solo - engravescia,
acumularam-se durante três séculos de colonização, nos sertões da Bahia, como em
todo o nordeste do Brasil. De um lado, poucas famílias ricas e poderosas, dominavam
uma vastidão de terras, latifúndios improdutivos, e se digladiavam entre si, a
disputarem o poder político, por modo a assegurar e expandir suas propriedades.

De outro, uma população de caboclos, sertanejos, na sua maioria índios


mestiçados com brancos ou negros - mamelucos e cafuzos - que perderam
ou jamais possuíram alguma terra e nada tinham, nem mesmo a possibilidade
de vender sua força de trabalho e a esperança de alcançar uma vida melhor
(BANDEIRA, 2005).

Como descrito por BANDEIRA, 2005, a alguns não restava senão o


descaminho do cangaço, fora da lei, se lei havia, e bandoleiros se tornavam. Outros,
para sobreviverem, passavam a servir como jagunços, capangas dos senhores de
terra, os coronéis, assim denominados porque recebiam do governo imperial a patente
da Guarda Nacional, com a faculdade de organizar batalhões, quando necessário,
para defender a ordem e o Estado.

23
Fonte: sistemacpv.com.br

Para BANDEIRA, 2005, em tais condições de atraso social e político, aquela


massa de oprimidos, pobres e miseráveis, quase completamente isolada dos centros
urbanos do litoral, devido à carência de transportes e de outros meios de
comunicação, só encontrava esperança na religião, através da fé no “Bom Jesus”, que
pelos menos lhe abriria as portas do céu, a perspectiva de salvação e recompensa
por tantos sofrimentos.
Segundo BANDEIRA, 2005:
A religião, naqueles sertões do Nordeste , podia ser, como no conceito de
Karl Marx, a “expressão da miséria real”.
Como caracteriza BANDEIRA, 2005; podia ser o “suspiro da criatura aflita”, a
“alma de um mundo desalmado” e até mesmo o “Opium des Volks”. Mas o
cristianismo, naquelas circunstâncias históricas, constituía o máximo de consciência
possível, como utopia, e desvelava um sentido revolucionário, na medida em que o
nível de atraso econômico, social e cultural do sertão fazia-o regredir à sua pureza
original, como na Palestina, ao tempo do domínio de Roma.
O ambiente de religiosidade e misticismo favorecia o surgimento de beatos e
messias, cujas ações reais, modeladas por uma ética de provação, tendiam a chocar-
se contra a estrutura de classes da sociedade, tal como aconteceu com Thomas
Münzer, que tentou organizar, na Alemanha do século XVI, uma completa comunidade
de bens e igualdade total, a antecipar sobre a terra o reino de Deus. Por volta de 1877,
ano da grande seca no Nordeste, Antônio Vicente Mendes Maciel, que como Antônio
24
Conselheiro se notabilizaria, já peregrinava pelos sertões, a fazer e a arrastar fiéis por
onde passava, como descrito por BANDEIRA, 2005.

Segundo BANDEIRA, 2005, apud Euclides da Cunha, em toda a região, cidade


ou povoado não havia onde ele aparecido não tivesse, e sua entrada

6.1 O contexto político na República

Para BANDEIRA, 2005, os militares estavam isolados da nação e a tropa do


Exército, que desfilou pelas ruas do Rio de Janeiro, após o golpe de Estado de 15 de
novembro, deparou-se com uma cidade aparentemente vazia, as ruas desertas, o
comércio fechado. Apesar da grave crise econômica e social, que fermentava o
descontentamento em vastas camadas das classes dirigentes, a Monarquia era ainda
popular.
As adesões ao novo regime, entre as quais a dos antigos partidos
monárquicos de São Paulo, orientaram-se pelo pressuposto da
inevitabilidade da República e tiveram como objetivo, em larga medida,
restabelecer a normalidade política e evitar possíveis reações populares,
consideradas inúteis e que poderiam comprometer a própria integridade
territorial do Brasil.( BANDEIRA, 2005)
Estudos de BANDEIRA, 2005 afirmam que a possibilidade de desintegração do
Brasil em duas ou mais Repúblicas, com a separação do Rio Grande do Sul, era aliás
prevista, desde 1880, pelo presidente do Uruguai.

7 CANUDOS: UMA GUERRA, MUITAS MULHERES

Para BRAGA, 2011, a História de Canudos ainda hoje desperta a atenção de


historiadores, pesquisadores e cientistas de diversas áreas, dado a dimensão e a
complexidade daquele arraial messiânico, liderado por Antônio Conselheiro, que se
estabeleceu no semiárido baiano no final do século XIX.
Para lá segue uma multidão de pessoas: Trabalhadores, sem-terra, execra-vos,
velhos, mulheres e crianças que com ele chega a Canudos e lá se estabelecem. Quem
eram estas mulheres? Qual o papel delas naquela comunidade? Porque buscavam o
caminho de Canudos? Trabalhava na criação de animais, no plantio? Que outras

25
funções desenvolviam? A vasta literatura existente sobre Canudos ignora estas
mulheres, conforme BRAGA, 2011.
Para BRAGA, 2011, faz-se necessário voltar a este acontecimento histórico
para estudá-las e conhecer, não apenas as mulheres sobreviventes, mas aquelas que
abriram mão de suas casas, famílias, trabalho ou de nada, e buscaram o Belo Monte
para lá encontrar alento para sua vida.

A História de Canudos ainda hoje desperta a atenção de historiadores,


pesquisadores e cientistas de diversas áreas, dado a dimensão e a
complexidade daquele arraial messiânico, que se estabeleceu no semiárido
baiano no final do século XIX. (BRAGA, 2011)

Canudos se constitui motivo de pesquisas e de publicações acadêmicas, por


que ainda não se esgotaram os assuntos que envolvem aquela epopéia humana, que
conseguiu colocar-se à margem da lei republicana recém implantada, concentrando
em seus limites cerca de vinte e seis mil pessoas chamadas de conselheristas, como
também as novas abordagens historiográficas permitem a ampliação do tema para
além da epopeia da guerra.

Antônio Conselheiro peregrinou pelo sertão, construindo igrejas e cemitérios,


ensinou a palavra de Deus e o caminho para o céu, e se transformou em uma
esperança para “o sertanejo” pobre, ignorado, oprimido e marginalizado.
Começa a ser seguido por uma multidão, composta por trabalhadores rurais,
sem posses, ex-escravos, velhos, mulheres e crianças. (NETO, 2007, apud
BRAGA, 2011)

O sertão significou muito mais do que o espaço e a região dos acontecimentos


que compreende o Ciclo do Bom Conselheiro. É deste sertão, desta terra inculta e
árida, deste sertão seco, embrutecido e inóspito, que milhares de pessoas em busca
de alento para suas dores, desilusões, alimentando esperanças singulares,
começaram a segui-lo. Antônio Conselheiro não chamava os seus fies, eles
chegavam:

“Espontâneos, felizes por atravessarem com ele os mesmos dias de


provações e miséria. Eram no geral, gente ínfima e suspeita, avessa ao
trabalho, farândola de vencidos da vida, vezada à mandria e a rapina. Um
dos adeptos carregavam o templo único, então da religião minúscula e
nascente...Entravam com ele, triunfalmente erguido, pelos vilarejos e
povoados, num coro de ladainhas” (CUNHA,2000, p. 167, apud BRAGA,
2011).

Andando pelos sertões, O Bom Conselheiro liga-se a Joana Imaginária,


escultora de imagens em barro e madeira com quem tem um filho e os deixa em
26
1865(NETO, 2007, apud BRAGA, 2011), dando continuidade a sua peregrinação. Viu
a República e se declara contra as novas leis.
Em certa ocasião estava em Bom Conselho, onde reuniu o povo em dia de feira
e, entre gritos sediciosos e estrepitar de foguetes, mandou queimar as tábuas com as
leis da República numa fogueira. Começava então a sua trajetória política, pois
dispersara uma patrulha de soldados republicanos que tenta prendê-lo pelo ocorrido
em Bom Conselho. A partir deste momento será sempre perseguido como um perigo
social, como caracteriza BRAGA, 2011.

Fonte: alegriaeabundancia.blogspot.com

O arraial de Canudos surpreendia por causa do seu crescimento.


Estudos de BRAGA, 2011, apontam que, após iniciada a guerra, em três
semanas este aumentara de modo extraordinário. Como nos primeiros tempos da
fundação a todo o momento apontavam grupos de peregrinos em demanda de
paragens lendárias.
Dentre os que o seguiam para Canudos em busca do alento das prédicas do
Bom Conselheiro, registrava um grande número de mulheres. “O mulherio
constituía então, a parte mais numerosa do pessoal fanático, podendo ser
calculado em dois terços do bando que acompanhava o Conselheiro...”
(DANTAS, 1922, p.146, apud BRAGA, 2011).
Quem eram as mulheres que fizeram parte deste movimento histórico, de
repercussão mundial, ainda hoje é objeto de interesse de vários segmentos da
sociedade científica?

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...Ali estavam, gafadas de pecados velhos, serodiamente penitenciados, as
beatas - êmulas das bruxas das igrejas – revestidas da capona preta
lembrando a holandilha fúnebre da Inquisição; as solteiras, termo que nos
sertões tem o pior dos significados, desenvoltas e desejadas, soltas na
gandaíce sem freios; as moças donzelas ou moças damas recatadas e
tímidas; e honestas mães de famílias; nivelando-se pelas mesmas rezas...
Faces murchas de velhas... rostos austeros de matronas simples; fisionomia
ingênuas de raparigas crédulas...Grenhas maltratadas de crioulas retintas...
(CUNHA, 2000, p.165, BRAGA, 2011)

Segundo José Calasans, Euclides da Cunha, em sua clássica obra “Os


Sertões”, costuma referir-se as estas mulheres de forma duramente estigmatizada.
Diz que as mulheres eram repugnantes (CALASANS, 2001, p.3, apud BRAGA, 2011),
praticamente negando assim a presença feminina em seu livro. As poucas referências
que faz, trata de mostrar a sua feiúra e as mazelas que carregavam sobre si.

8 CANUDOS E O SERTÃO NORDESTINO NA LITERATURA BRASILEIRA

Ainda segundo estudos realizados por BRAGA, 2011; algumas são as obras
impregnadas de impressões parciais e tendenciosas de seus autores que discordam
quanto à importância de Antônio Conselheiro e Canudos, uns exaltando-os, outros os
denegrindo. Dentre elas, O Rei dos Jagunços (1899), de Manoel Benício, um ex
correspondente do Jornal do Commercio; outra é Cangaceiros e Fanáticos (1963), de
autoria do advogado beberibense Rui Facó.
Duas mais recentes, ambas de 1995, provam que o tema Canudos segue igual
de interessante para pesquisadores e estudiosos da área: uma do doutor em História
Social pela USP, Marco Antônio Villa, que se intitula Canudos, o povo da terra e outra
do historiador americano Robert M. Levine, falecido em 2003, O sertão prometido: o
massacre de Canudos. Uma explicação plausível para a divergência de opiniões
acerca deste líder religioso nos é dada por (Silva, 2001, p. 249, apud BRAGA, 2011):

[...] A personagem histórica Antônio Conselheiro - e sua ação social - ganhou


dimensão suficiente para abalar conceitos científicos da época. Por isso, os
equívocos cometidos pelos autores, testemunhas oculares daqueles
acontecimentos, ao escreverem sobre Canudos, podem ser entendidos como
fruto do espanto da descoberta de um mundo pouco explorado (o sertão),
causando um forte impacto em suas mentes.

Contudo, indubitavelmente, a obra literária brasileira por excelência que trata


da Guerra de Canudos, de Antônio Conselheiro e seus jagunços é Os Sertões, de

28
Euclides da Cunha que, como correspondente de guerra para o jornal O Estado de
S.Paulo, reuniu material suficiente in loco que cinco anos depois lhe serviria para tecer
sua obra célebre. João Guimarães Rosa caracterizava o sertão como uma área
escassamente habitada; já Euclides via o sertão como a representação do atraso,
habitado por uma “raça mestiça” ou pior, uma “sub-raça”. Segundo Iser (2008, p. 19
20, apud BRAGA, 2011),

Fonte: Pre-Modernismo Euclides da Cunha

Para BRAGA, 2011, na introdução do seu livro, Euclides da Cunha deixa claras
as ideias evolucionistas que lhe orientam a escrita. Referindo-se às sub-raças
encontradas no sertão do Brasil, sentencia: “Retardários hoje, amanhã se extinguirão
de todo”.
Conforme estudos de BRAGA, 2011;

Mais do que apenas registrar a Guerra de Canudos, sua tarefa original de


jornalista, o autor propõe realizar um estudo de toda a realidade física e
geográfica que a abarcava.

Assim, Euclides da Cunha empreende uma exaustiva descrição geológica,


geográfica e climática do sertão, seguida por uma descrição antropológica do
sertanejo no capítulo “o homem”, na qual examina aspectos diversos da vida deste
como trabalho, religião e costumes como descrito por BRAGA, 2011.

29
Segundo estudos de BRAGA, 2011, o arcabouço teórico empregado por
Euclides da Cunha mistura as teorias raciais surgidas na Europa na segunda metade
do século XIX: o espírito científico da época que unia ao positivismo de Comte o
evolucionismo de Darwin e de Spencer.
Para BRAGA, 2011, Euclides da Cunha acreditava, como era de praxe na
época, na teoria do embranquecimento, que evitaria assim a miscigenação dos
brancos com "raças inferiores", a fim de que se pudesse manter uma certa
"estabilidade" e uma definição melhor sistematizada da "raça brasileira".
A obra Os Sertões se baseia no tripé que Taine estabeleceu, e que hoje se
encontra desacreditado, ao conceber o homem como o fruto de três fatores principais:
a raça, o momento histórico e o meio ambiente.

Os mestiços seriam portadores de uma constituição mórbida ao mesmo


tempo que paranóica e seus seguidores idem, “gente ínfima e suspeita,
avessa ao trabalho, uns vencidos” (Cunha, 1984, p. 110 apud Iser, 2008, p.
21, apud BRAGA, 2011).

Ele constrói um relato psicológico do sertanejo fundamentado basicamente em


contrastes superficiais: forte, mas descerebrado; corajoso, mas supersticioso,
levemente lúcido ainda que fanático. O Conselheiro seria a somatória de todos estes
aspectos:

A vida de Antônio Vicente Mendes Maciel e a história do arraial formavam


para Euclides peças de um só conjunto, enquanto expressões da
religiosidade sertaneja. O Conselheiro, cuja biografia até Canudos poderia
ser apenas de um infeliz mas vulgar foragido da lei, ou a de um louco perdido
em seus delírios proféticos, assume, a partir da fundação do arraial em pleno
sertão, o papel de homem-síntese de uma realidade social e religiosa, a
condição do sertanejo pobre (BOSI, 2002 , p. 211, apud BRAGA, 2011).

30
Fonte editoraluzeiro.com.br

Apesar da campanha coletiva contra esta figura controvertida, comprovou-se,


após sua morte e decapitação, que ele “(...) não apresentava nenhuma
anomalia que denunciasse traços de degenerescência: é um crânio de
mestiço onde se associam caracteres antropológicos de raças diferentes” (,
RODRIGUES, 2006, p. 89, apud BRAGA, 2011).

No dizer de BRAGA, 2011; este foi um dado essencial para o início do resgate
de sua imagem nas décadas que se seguiriam, onde o tempo e a Ciência provariam
que Nina Rodrigues, suas teorias e a de outros afins foram ademais de injustas,
infundas para com Antônio Conselheiro e seus seguidores.
BRAGA, 2011 alega que independentemente do ponto de vista de Euclides da
Cunha sobre os sertões e os sertanejos em si, podemos afirmar que Os Sertões
perpassa os campos da prosa literária e da prosa científica; pertence, ao mesmo
tempo, ao domínio da História, da Sociologia e da Geografia; é uma obra que instaurou
um antes e um depois quanto ao tema e que deixou um legado respeitável ao mesmo
tempo que opositores ferrenhos.
Fazendo nossas as palavras de (Silva 2001, p. 247-248, apud BRAGA, 2011):
As faces de Conselheiro, em décadas de estudos, caminhou entre a vida de
um santo e a de um revolucionário.
Prática historiográfica comum, pois uma personagem histórica ganha
diferentes faces a cada geração de pesquisadores.

31
Entretanto, o que diferencia Antônio Conselheiro é que sua imagem, descrita
por Euclides, teve um impacto cultural que refletiria durante longo tempo. No caminhar
do século XX, essa postura começa a ser lentamente transformada (BRAGA, 2011).
Para BRAGA, 2011, esse outro, ou bárbaro, que até então surgia como uma
imagem que a elite letrada não queria para si, torna-se gradualmente algo que poderia
ser culturalmente valorizado.
Conforme BRAGA, 2011, em sua obra, curiosamente, essa valorização deu-se
via Europa. Muitos foram e são os autores e obras que trataram e tratam de nossas
raízes culturais nordestinas com a parcialidade necessária para defender nosso valor
frente a uma constante tentativa de massificação da cultura nacional focada no eixo
Rio-São Paulo e que, definitivamente, não nos representa.
Para BRAGA, 2011, dentre estes autores, a título de ilustração, podemos citar
alguns: Raquel de Queiroz, José de Alencar, Franklin Távora, Graciliano Ramos,
Jorge Amado e José Lins do Rego.
Nos estudos de BRAGA, 2011:
O romance regionalista, especialmente característico dos anos 30 do
passado século, teve como meta mostrar os conflitos e as contradições de
um Brasil que se queria moderno e industrializado, mas que devido aos
inúmeros “brasis” que o formavam (e ainda formam), guardava traços
arcaicos de uma sociedade agrária, patriarcal e, até certo ponto primitiva e
decadente.
De acordo com estudos realizados por BRAGA, 2011, havia nestes escritores
uma preocupação sociológica e documental, que os distinguia dos modernistas com
seu experimentalismo estético e, muitas vezes, vazio de sentido. Norteando esta
plêiade de artistas da palavra que se dedicaram a desnudar o Nordeste literariamente,
destacam-se a figura e a obra de Ariano Suassuna, um dos mais obstinados
defensores das manifestações culturais de nosso povo.
Para BRAGA, 2011, O sertão foi a seara de onde muitas de suas personagens
surgiram, ainda que ele não tivesse especial predileção pelo tema da Guerra de
Canudos.
Ainda segundo BRAGA, 2011, uma de suas obras mais amplamente
conhecidas em âmbitos nacional e internacional, O auto da Compadecida, tem o seu
cenário cravado no sertão pernambucano, onde deslizam personagens caricatas que

32
transpiram o bom humor e a leveza do nordestino para lidar com suas agruras
quotidianas, muitas vezes provenientes de seu próprio habitat inóspito.

Fonte: brasildefato.com.br

Conforme estudos de BRAGA, 2011:


O Movimento Armorial, idealizado com sucesso por Suassuna, tencionava
criar uma cultura erudita a partir de elementos comuns da cultura popular e,
por extensão, sertaneja. Nele, todas as formas de expressão artística foram
contempladas: a música, a tapeçaria, o teatro, a dança, a cerâmica, a pintura,
o cinema, a literatura e claro, a literatura, que o representa mais aos olhos do
povo.

Seu maior mérito como difusor entusiasta da cultura nordestina foi a tentativa
vitoriosa de trazê-la para o centro do cenário cultural de nosso país (que acabou
extravasando e rendendo-lhe o merecido reconhecimento internacional), revestindo-a
de um trato respeitoso para com suas peculiaridades que a fazem diferente das
culturas sulista, nortista e do centro-oeste e tão importante quanto, segundo BRAGA,
2011.

33
9 CANUDOS 1897: O MASSACRE FAZ CEM ANOS

Como caracteriza BRAGA, 2011, a história da guerra ou do movimento de


Canudos tem sido incansavelmente contada ao longo dos últimos cem anos.
Analisada em várias de suas possíveis dimensões, este episódio ensejou diversas
interpretações e marcou tragicamente o processo de transição política que deu origem
ao regime republicano brasileiro.
Para BRAGA, 201, a busca de explicações para a necessidade do extermínio
de uma população que chegou a se estimar em 25.000 sertanejos miseráveis e mal
armados produziu inúmeros trabalhos, dos quais, certamente, o clássico de Euclides
da Cunha foi o que mais contribuiu para que a saga conselheirista fosse conhecida e
discutida dentro e fora do Brasil.

Fonte: historiailustrada.com.br

Considerado um livro definitivo no processo de formação do pensamento


sociológico brasileiro, os sertões, mais que construir uma história que
acabaria se tornando uma espécie de matriz referencial para a interpretação
do sentido de Canudos, manteve-se como um testemunho privilegiado dos
questionamentos que dominaram os debates intelectuais no final do século
passado. (HERMANN, 1996)

De acordo com BRAGA, 2011, ao refletir sobre uma guerra fratricida que
opunha o litoral do país considerado avançado e civilizado ao interior de um Brasil

34
que ainda conservava uma parte significativa de seu povo mergulhado no mais
profundo atraso, Euclides da Cunha expôs de forma contundente uma fratura quase
irremediável para o projeto nacional pensado pelos intelectuais que aderiram e
defenderam com afinco a causa republicana.
Conforme estudos de BRAGA, 2011, dividido entre a compaixão e a
reprovação, embora este último aspecto tenha dado o tom de sua análise sobre
Antônio Conselheiro, os sertões foi obra que imortalizou e vulgarizou boa parte das
discussões que permeavam os principais centros da intelectualidade brasileira na
passagem do século XIX para o XX.

Vale lembrar a marca indiscutível das teorias do médico baiano Raimundo


Nina Rodrigues na determinação da “doença grave” do líder sertanejo,
“documento raro de atavismo”, nas palavras de Euclides da Cunha,
considerado por alguns especialistas como um dos mais fiéis discípulos do
autor de A loucura epidêmica de Canudos. (BRAGA, 2011)

Do ponto de vista de BRAGA, 2011,herdeiros de um conjunto de teorias que se


estruturavam na Europa e que gradativamente, desde a primeira metade do século
XIX, caminhavam para a reprovação social, cultural e moral dos grupamentos
humanos oriundos da mistura de raças, Nina Rodrigues e Euclides da Cunha tiveram
no impressionante caso dos sertanejos de Canudos um laboratório privilegiado para
o teste “definitivo” do efeito deletério e nefasto provocado pela miscigenação de que
resultara esta espécie considerada então racialmente incompleta o sertanejo .
Na visão de HERMANN, 1996, se a busca de explicações “científicas” deu
ensejo a elaborações que deixaram Canudos “sitiado pela razão”, do ponto de vista
político, e no calor dos acontecimentos, a ousadia sertaneja chegou ao seu ápice com
a morte do coronel Moreira César, líder da terceira expedição ao arraial e a primeira
que incluía forças e comando federais, em março de 1897.
Mas, indo além do evidente peso desse episódio para o desenrolar dos
acontecimentos que levaram ao extermínio definitivo dos conselheiristas, uma
observação mais atenta das lutas políticas que marcaram esse momento delicado da
recém-inaugurada República pode desvendar um conjunto de questões que jamais
tiveram na resistência sertaneja seu foco privilegiado de tensão.
Ao assinalar em suas palavras; HERMANN, 1996; refere-se, especificamente:
Ao tortuoso quadro político que marcou a passagem da liderança militar para
o grupo político que, tendo à frente os cafeicultores paulistas, deu início ao
primeiro governo civil do novo regime, em 1894.
35
Para HERMANN, 1996, este momento só tornava ainda mais explícitas as
disputas em torno da legitimidade da liderança militar que proclamara a República,
alvo de acirradas e continuadas críticas desde o primeiro momento da constituição do
governo de Deodoro da Fonseca.

A ação militar da proclamação e a falta de um reconhecimento mais amplo


da legitimidade desse grupo político, além das dissenções internas do próprio
Exército, tornaram extremamente frágil a adoção de um governo militar para
a República brasileira. (HERMANN, 1996)

Conforme HERMANN, 1996; se na luta contra a monarquia e todos os seus


pressupostos o conjunto dos republicanos parecia unido, depois da proclamação o
embate entre diferentes projetos políticos e institucionais opôs de forma definitiva pelo
menos dois grandes grupos: militares e civis.

Fonte: historiailustrada.com.br

De acordo com estudos de HERMANN, 1996, quando Moreira César foi morto
no sertão baiano, o primeiro governo civil e paulista da república, encabeçado por
Prudente de Morais, já estava no seu terceiro ano. Nesse período, a oposição política
do grupo militar que deixara o poder só fizera crescer e encontrara agora, na morte
de um de seus mais ilustres representantes, um fortíssimo argumento para questionar
a legitimidade dos verdadeiros princípios de um governo que não conseguia proteger
suas instituições contra os defensores da restauração monárquica, forma como
passaram a ser identificados os conselheiristas.

36
Segundo HERMANN, 1996; a partir destas questões, a intenção é analisar
como alguns discursos veiculados por uma parte da imprensa do Rio de Janeiro, então
capital federal, procuraram justificar a necessidade da repressão ao grupo liderado
por Antônio Conselheiro e, enfocando a conjuntura política que produziu e alimentou
esses discursos, discutir a hipótese de que a magnitude e a ferocidade do combate
ao arraial de Canudos resultaram não do efetivo perigo restaurador representado
pelos miseráveis sertanejos, mas de um cenário político específico que fez da
destruição de Canudos a prova necessária e urgente para a confirmação do
compromisso assumido com os princípios de um governo verdadeiramente
republicano.
A questão é ressaltar a importância e a envergadura do debate político que
opôs civis e militares e levou à supervalorização dos conselheiristas como poderosos
inimigos da nação, aspecto que só ganhou contornos grandiosos depois da morte de
Moreira César.
O objetivo é fornecer elementos para que a reflexão sobre a guerra de
Canudos passe a considerar mais cuidadosamente o contexto político que
transformou famintos sertanejos em inimigos nacionais, processo que
legitimou a construção de uma identidade, de um lado, e a necessidade da
exclusão física do opositor, de outro.( HERMANN, 1996)

Como caracteriza HERMANN, 1996, esta mesma linha de raciocínio pode ser
empregada para os argumentos que embasaram o discurso cientificista que, opondo
civilização e barbárie, pregou a necessidade científica, social e moral da eliminação
de brasileiros considerados híbridos e defeituosos, “naturalmente” avessos à ordem e
ao progresso.
Nessa perspectiva, voltar a discutir o extermínio de Canudos, cem anos depois,
a partir do binômio identidade e exclusão, parece tão contemporâneo quanto falar do
enorme fosso que ainda separa o discurso da prática efetiva do exercício pleno da
cidadania no Brasil neste final de século e de milênio, enfatiza HERMANN, 1996.

9.1 Enfrentando mistificações

Para HERMANN, 1996; poucos foram os trabalhos produzidos sobre a guerra


ou o movimento de Canudos que se detiveram com maior cuidado sobre o gravíssimo

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momento político que antecedeu à decisão político-militar de exterminar os seguidores
de um beato errante que se estabelecera na Fazenda Belo Monte lá pelos idos de
1893.
Do ponto de vista de HERMANN, 1996, os autores que se debruçaram sobre
o tema apenas tangenciaram uma questão crucial, que continua sem resposta.
Afinal, por que só quatro anos depois de instalados numa área extremamente
seca e infértil, no sertão de um estado que perdera gradativamente sua importância
econômica, os conselheiristas se tornaram um problema que punha em risco a
manutenção da ordem republicana? Enfatiza HERMANN, 1996.
Como caracteriza HERMANN, 1996, Euclides da Cunha, por exemplo, contou
a história da campanha de Canudos a partir de suas inquietações sobre a formação
da nação brasileira e dos entraves que impediam a concretização dos pressupostos
positivistas que aliavam ordem e progresso. Canudos era a representação do
paroxismo a que o atraso poderia levar o país, caso o Brasil não assumisse o claro
compromisso de se unir ao mundo civilizado.

9.2 Canudos: guerras de memória

Nas palavras de MONTEIRO, 2009:

Canudos foi resultado de vinte anos de peregrinação de Antônio Vicente


Mendes Maciel, que passou a ser conhecido como Antônio Conselheiro.
A aldeia denominada de Belo Monte foi fundada em 1893.

MONTEIRO, 2009 relata que, o lugar escolhido era uma fazenda abandonada,
que ficava às margens do rio Vaza-Barris. O nome Canudos, que acabou por se
popularizar, é referência uma planta da região, de haste oca como um Canudo,
utilizada por antigos para fazer canudos de pitos para fumar.
Segundo estudos de MONTEIRO, 2009, os números não são precisos e há
muita controvérsia sobre o número de habitantes de Belo Monte. De modo geral, fala-
se em algo em torno de 10 mil a 35 mil habitantes.
Como descrito por MONTEIRO, 2009, o fato é que famílias inteiras
abandonavam seu trabalho nas fazendas para seguir o Conselheiro. Em três anos de
existência Canudos teria se tornado a segunda cidade da Bahia em número de

38
habitantes o que provoca uma escassez de mão de obra nas fazendas para
descontentamento de muitos coronéis da região.

O final do século XIX e o início do século XX foram marcados por inúmeras


mudanças, não só políticas com a abolição da escravatura e a proclamação
da república no Brasil. (MONTEIRO, 2009)

Era a chamada segunda Revolução Industrial, ou Revolução Científico-


Tecnológica, trazia inúmeras novidades como carros, as locomotivas, os
transatlânticos, a descoberta da penicilina, da vacina.

A luz elétrica, também o rádio, o gramofone, o telégrafo, os elevadores, o


fogão a gás, a fotografia. Tantas transformações trazem uma sensação de
aceleração do tempo e conquista do espaço uma sensação vertiginosa que
Nicolau Sevcenko tão bem caracterizou com a imagem da montanha-russa,
a vertigem das mudanças de toda ordem lembrava o brinquedo do parque de
diversões, ele mesmo, uma invenção da época (SEVCENKO,2001, apud
MONTEIRO, 2009).

O lema inscrito na bandeira republicana Ordem e Progresso espelha bem esta


perspectiva.
O progresso era visto como a solução de todos os problemas. Só o progresso
seria capaz de saldar a dívida do atraso de países periféricos como o Brasil.
Era preciso caminhar rumo a civilização, as luzes.
É a concepção de um tempo histórico linear que tem como ponto de partida
a barbárie e como thelos a civilização.
Há uma fé no progresso que se transforma numa espécie de nova religião
(NEVES,1986, apud MONTEIRO, 2009)

Para MONTEIRO, 2009, é neste momento de profundas transformações que


tem início a Guerra de Canudos onde a República recém proclamada enfrentará
sucessivas derrotas de uma comunidade de sertanejos que, no sertão da Bahia
fundara sua aldeia, suas próprias leis e sua própria ordem.
Em Belo Monte a polícia não entrava não se pagavam impostos e a palavra do
Conselheiro bastava para estabelecer a ordem e as regras de convivência, conforme
relatos de MONTEIRO, 2009.
Conforme MONTEIRO, 2009, em sua obra, era um território que não estava
submetido a lógica instituída pela República. Por isso mesmo, uma ameaça. A
comunidade é identificada pelos homens da República como local de desordem, de
39
atavismo, um atraso que era preciso combater. A compra de um lote de madeira para
a construção da igreja nova do arraial de Canudos foi o pretexto utilizado para o início
do conflito em 1896 que se estenderia por quase um ano.
De acordo com MONTEIRO, 2009,

Um grupo de conselheristas seguia para Juazeiro para buscar a encomenda,


mas, rumores de uma invasão se alastraram e iniciou-se o conflito. Tinha
início a guerra que só terminaria com a destruição completa do arraial em
outubro de 1897. A nova ordem instituída em 15 de novembro de 1889 tinha
que abranger todo o país.

Para MONTEIRO, 2009; foram necessárias quatro expedições militares para


derrotar os homens de Antônio Conselheiro. O número de soldados crescia a cada
expedição derrotada.
Como descrito por MONTEIRO, 2009, a morte do general Moreira César na
terceira expedição militar comoveu e assombrou os republicanos. Foi uma guerra com
poucos prisioneiros, o número aproximado de mortes é de vinte e cinco mil pessoas,
entre elas mulheres e crianças. A maior parte dos conselheristas capturados foi
submetida a prática da “gravata vermelha”, como também ficou conhecida a degola.
Nos últimos dias de conflito ela já era praticada a luz do dia.

Fonte: anovademocracia.com.br

Ainda conforme MONTEIRO, 2009, no final da guerra, há uma preocupação


evidente por parte das autoridades em atestar a vitória da República e varrer Canudos,
e tudo que ele representava, do mapa. O arraial é incendiado, Antônio Conselheiro é
40
desenterrado, seu cadáver é decapitado, a cabeça exibida para populações pelo
caminho e em Salvador.
São medidas profiláticas para que outras experiências desafiadoras da ordem
não seguissem aquele exemplo.

A preocupação dos generais era não deixar uma parede em meio, uma viga
intacta. Quiseram que ali se plantasse a solidão e a morte. (, 1997:17, apud
MONTEIRO, 2009)

A República, em seus primeiros anos, tentou empreender em Canudos uma


prática análoga à da damnatio memoraie, ou danação da memória, que era imputada
aos heróis romanos quando estes caíam em desgraça e tinham sua memória apagada
e seus nomes eram retirados dos monumentos públicos (NEVES, 1994, apud
MONTEIRO, 2009).
Não bastava acabar fisicamente com a Aldeia Sagrada, era também preciso
apagar Canudos da memória, ou melhor, propagar uma determinada versão da
história
Era preciso desenraizar, desagregar a memória do que havia sido vivido e
transformá-la em História. Desalojar a lembrança do vivido no solo sagrado
da memória e construir uma representação de Canudos associada à barbárie
e ao atraso no imaginário coletivo, e reconstruir, assim, aquilo que já não era.
(NORA, 1993, apud MONTEIRO, 2009)
O que implica sempre na adesão a uma determinada visão de mundo, a
determinada versão dos fatos.
Para MONTEIRO, 2009, em 1969 as águas cobrem o local do antigo vilarejo
de Conselheiro. Ali onde os conselheristas fundaram Belo Monte, o governo construiu
um açude, o açude do Cocorobó. Exatamente cem anos após o Conselheiro ter
iniciado suas pregações. Canudos acabou duas vezes: uma no incêndio ao final da
guerra e depois coberto pelas águas.
Pollack em seu trabalho Memória, Esquecimento e Silêncio afirma que o
silêncio parece se impor a todos aqueles que querem evitar culpar as vítimas
(POLLACK, 1989:4, apud MONTEIRO, 2009).
Conselheiro e seus seguidores, de certa forma, foram responsabilizados pelo
fim trágico de Canudos. Até hoje, em Nova Canudos uma parte da população acredita
que Conselheiro trouxe uma espécie de maldição para o lugar, como caracteriza
MONTEIRO, 2009.

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Outros julgam que ele não deveria ter resistido para poupar a população. O
centenário da guerra e posteriormente o centenário da publicação dos Sertões abrem
espaço para uma grande quantidade de novas publicações e debates que procuram
analisar Canudos por vários prismas. Percebe-se uma de ênfase interdisciplinar e o
diálogo entre áreas do conhecimento como a antropologia, a linguística, a psicologia,
a cultura como descrito por MONTEIRO, 2009.
Para MONTEIRO, 2009, na mitologia grega, ao morrer o homem encontrava no
Hades duas fontes: Léthes e Mnemosyne.

Ao beber da primeira, esquecia tudo da sua vida humana, entrando no


domínio da noite.
Já a água da segunda fonte conferia a capacidade de guardar a memória de
tudo o que havia visto e ouvido no mundo dos vivos. Vernant, por essa razão,
afirma que o Esquecimento é, pois, uma água de morte (...) ao contrário, a
memória aparece como uma fonte de imortalidade (VERNANT, 1993:144,
apud MONTEIRO, 2009).

Com o passar do tempo a memória foi sendo desacralizada e acabou


convertendo-se em uma capacidade humana. Apesar do desaparecimento físico do
arraial, a morte de Canudos na perspectiva grega não ocorreu. Uma vez que para os
gregos, a morte era o esquecimento. Canudos permaneceu viva. Na memória dos
sobreviventes e de seus descendentes, MONTEIRO, 2009 explicita seus
pressupostos
Para MONTEIRO, 2009, a história oral, as relações familiares e a transmissão
através de gerações garantiram a sobrevivência, mesmo que silenciosa, da história
daqueles que viveram seus dias no Belo Monte.
De acordo com estudos de MONTEIRO, 2009, a aldeia conselherista continuou
a representar a delimitação de uma fronteira, um pertencimento, foi um amálgama que
unificou uma comunidade formada por afinidade eletiva e lhe deu identidade é algo
muito perto da noção que Paul Ricoeur denominou de próximos, ou seja, é a mediação
dos próximos: igreja, família, escola, comunidades, entre outra que solda a memória
individual na memória coletiva. Em última instância é um lembrar construído de
memórias alheias.
Nas palavras de Beatriz Sarlo:
A lembrança em abismo: lembro que meu pai lembrava (SARLO, 2007: 90,
apud MONTEIRO, 2009).

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Para MONTEIRO, 2009, no século XX, a crença no progresso e no bem-estar
que ele traria se perdeu. O ponto nevrálgico, o momento de virada, o fator detonadores
da perda da esperança no futuro e no progresso que marcaram fortemente o final do
século XIX teria sido a experiência do horror do holocausto.
Segundo MONTEIRO, 2009, o extermínio em massa, sem precedentes na
história da humanidade, os campos de concentração abalaram de forma irreversível
a crença otimista no futuro. O futuro já não imprime uma visão primordialmente solar.
Segundo alguns autores, como Andréas Huyssen, se a Belle Époque foi a
época de futuros presentes, a virada do século XX é marcada por passados presentes.
Dentro deste contexto a memória adquire um status de objeto de desejo. O presente
traria o passado com medo de perdê-lo, enfatiza MONTEIRO, 2009.
Como descrito por MONTEIRO, 2009, o presente é paradoxal, é quase como
se não existisse, a velocidade das mudanças esvazia o presente e a memória torna-
se uma forma de ancoramento frente a velocidade do momento presente e também
frente ao futuro incerto. Antônio Conselheiro não morreu pelas mãos de nenhum
soldado republicano, mas de morte natural.
Morreu em vinte e dois de setembro, antes do desfecho da guerra. Conselheiro
é um personagem polêmico, desenhado por contrastes, marcado por visões que o
desenham de forma antagônica, conclui MONTEIRO, 2009.

Fonte: historiailustrada.com.br

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Dentre aqueles que conheceram e conviveram com o peregrino no arraial de
Belo Monte tem uma visão parecida que exalta as qualidades de seu líder e guia.
Maria Avelina da Silva assim o descreve:

O Bom Jesus foi um santo homem que somente aconselhava para o bem.
Nunca fez mal a ninguém. E Francisca Guilhermina dos Santos, que tinha 15
anos quando o conflito começou reforça as palavras de Francisca:
Conselheiro (...) só dava conselhos bons. Manoel Ciríaco o descreve como
Homem bom e respeitador. Mulher para ele era para se respeitar e muito. E
Maria Guilhermina de Jesus afirma: nasci e me criei dentro de Canudos, onde
fiquei até o fim da luta. (...) lembro-me bem de Antônio Conselheiro, homem
muito bom e não havia ninguém que não gostasse dele. O sobrevivente Velho
Mariano, que tinha 50 anos na época da guerra, conclui: Só podia ser um
santo homem. Não mandava matar, não mandava mentir, não mandava
furtar. Só levava para o bem (TAVARES, 1993:39- 51, apud MONTEIRO,
2009).

Para MONTEIRO, 2009, Conselheiro ocupa um espaço no imaginário popular,


em uma linha limítrofe entre homem e mito. Desperta as reações mais paradoxais. Até
sua morte é nebulosa, indefinida. Não se sabe a causa real de sua morte, pois não foi
realizada a necropsia. Uns falam em caminheira, nome dado a disenteria, outros em
ferimento por estilhaços de guerra, e há ainda os que defendem a versão da morte
natural e há ainda aqueles, como Rufino, filho de Pedrão, que afirmam simplesmente
que Conselheiro anoiteceu e não amanheceu tornou-se encantado.
Ainda para MONTEIRO, 2009, em um certo sentido, Rufino pode ter razão,
mesmo tanto tempo após sua morte e a destruição de seu Belo Monte Conselheiro e
Canudos ainda suscitam estudos, interpretações.

10 NOMES DE GUERRA

Segundo FILHO,2013, em 1897, o conflito de Canudos, no sertão baiano, fez a


Câmara mudar os nomes de seis ruas do centro de São Paulo

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Fonte: saopaulo.sp.leg.br

Não se falava em outra coisa. Em 1897, a guerra do Exército brasileiro contra


um arraial pobre do sertão baiano era tema de tudo quanto fosse roda de conversa.
“É um zunzum que ensurdece, / Um vaivém que nos põe mudos, / Desde que
o dia amanhece / Até que acaba: – Canudos! ”, escreveu um poeta no jornal
A Bahia. Políticos e intelectuais de todas as tendências debatiam o conflito
nas tribunas e nos jornais, editoras vendiam mapas do arraial “nitidamente
litografados” e lojas, em seus anúncios, usavam o nome Canudos para
vender de sapatos a vestidos de seda. (FILHO,2013)

Segundo FILHO,2013, os habitantes do arraial, comandados pelo líder religioso


Antônio Conselheiro, já haviam rechaçado duas pequenas expedições enviadas para
combatê-los, entre outubro de 1896 e janeiro de 1897. Mas o que fez o pânico se
espalhar por todo o País foi a derrota da terceira expedição, uma força de 1.300
homens comandada por um dos heróis do Exército republicano, coronel Moreira
César, o Corta-Cabeças.
Para FILHO,2013, em 10 de março, seis dias após a morte de Moreira César
em Canudos, a guerra virou assunto na Câmara Municipal de São Paulo. Além de
suspender sessão e fazer voto de pesar, os vereadores decidiram alterar os nomes
de seis ruas do centro para homenagear militares mortos em Canudos e heróis da
República da Espada.
“Diante do inesperado acontecimento que acaba de enlutar a Patria Brazileira
e o glorioso exército nacional, pela morte de seus bravos soldados no
45
combate com as hordas monarchistas nos sertões da Bahia, indicamos que
a Camara Municipal de S. Paulo suspenda a sessão de hoje, lançando na
acta um voto de pesar e protesto ao chefe da nação, por intermédio do
presidente [equivalente a governador] d’este Estado, a sua franca
solidariedade e apoio incondicional em todos os terrenos em prol da
Republica”, afirmaram os vereadores.( FILHO,2013)

Fonte: saopaulo.sp.leg.br

10.1 Nem tão heróicos

Conforme estudos realizados por FILHO,2013:


Antes do encerramento dos trabalhos, a Câmara aprovou a mudança dos
nomes das Ruas Direita (rebatizada Marechal Floriano Peixoto) e São Bento
(Coronel Moreira César), duas das mais conhecidas vias de São Paulo.

Na sessão seguinte, no dia 17, o Plenário aprovou propostas dos vereadores


Gomes Cardim, Alfredo Zuquim e Roberto Penteado que rebatizavam as Ruas do
Quartel (que virou Cabo Roque), João Alfredo (General Carneiro), da Esperança
(Capitão Salomão) e das Flores (Coronel Tamarindo), “em homenagem aos patriotas
e heroicos soldados assassinados covardemente na cruzada de Canudos,
defendendo a Republica”, de acordo com FILHO,2013.

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Nem todos os “patriotas e heroicos soldados” homenageados pela Câmara
eram tão heroicos assim. O próprio Moreira César não ganhara o apelido Corta-
Cabeças por ser um defensor dos direitos humanos. (FILHO,2013)

Fonte:saopaulo.sp.leg.br

Conforme FILHO,2013, ao contrário, era um militar cuja “bravura cavalheiresca”


esvaía-se “na barbaridade revoltante”, segundo Euclides da Cunha em Os Sertões.
Quando foi capitão, participou do linchamento de um jornalista, Apulcro de
Castro. Anos depois, encarregado de reprimir duas rebeliões contra o governo
Floriano Peixoto (a Revolta da Armada, no Rio de Janeiro, e a Revolução Federalista,
em Santa Catarina), ficou conhecido pelas execuções de inimigos indefesos, enfatiza
FILHO,2013.
Conforme estudo de FILHO,2013:
Em Canudos, muito do fracasso da expedição foi culpa do salto alto com que
o coronel entrou na batalha, desprezando os inimigos ao ponto de dizer
“vamos almoçar em Canudos” para seus comandados pouco antes de invadir
o arraial.
O coronel Tamarindo, que assumiu o comando da terceira expedição após a
morte de Moreira César, entrou para a história ao falar, diante da batalha perdida,
outra frase memorável: “É tempo de murici, cada um cuide de si...”.

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Já o Cabo Roque era celebrado como o herói que teria sido morto enquanto
protegia o cadáver de Moreira César dos jagunços de Canudos, parafraseia
FILHO,2013.
O heroísmo durou até o cabo ser descoberto, muito vivo, e confessar que,
durante o conflito, havia simplesmente largado o corpo do comandante no mato e
saído correndo, “vítima da desgraça de não ter morrido, trocando a imortalidade pela
vida”, nas palavras de Euclides da Cunha, segundo estudos de FILHO,2013.
Para FILHO,2013, o personagem teria inspirado o dramaturgo Dias Gomes a
criar o Cabo Jorge, protagonista da peça O Berço do Herói, de 1963, um personagem
que passa a ser considerado herói após ser falsamente dado como morto.
FILHO,2013 destaca que:
Em 1985, Dias Gomes reaproveitaria o mesmo mote na trama da sua
tele no- vela Roque Santeiro. Por outro lado, ninguém até hoje
desmentiu a história do martírio do Capitão José Salomão da Rocha,
que “tombou, retalhado a foiçadas, junto dos ca- nhões que não
abandonara”, também segundo Euclides da Cunha.

De acordo com FILHO,2013, seu feito é lembrado em um verso da Canção da


Artilharia do Exército: “Abraçado ao canhão morre o artilheiro”.

Fonte: Fonte:saopaulo.sp.leg.br

Segundo FILHO,2013, os outros dois homenageados pela CMSP nunca


pisaram em Canudos, mas foram lembrados como símbolos da República da Espada

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(1889-1894), período em que o recém-proclamado regime republicano, comandado
por militares, esmagou uma série de revoltas contra o governo federal.

O símbolo dessa fase foi o marechal Floriano Peixoto, segundo presidente do


Brasil (1891-1894). Os soldados que enfrentavam Canudos, segundo
Euclides da Cunha, “tinham todos, sem excetuar um único, colgada ao peito
esquerdo em medalhas de bronze, a efígie do marechal Floriano Peixoto e,
morrendo, saudavam a sua memória”. (FILHO,2013)

Para FILHO,2013, o outro homenageado, general Gomes Carneiro, foi


encarregado por Floriano de combater a Revolução Federalista no Paraná, onde
morreu resistindo, com 600 homens, a um cerco de mais de 3 mil revoltosos, no
episódio conheci- do como Cerco da Lapa.

10.2 O fim de Canudos

Segundo MONTEIRO, 2009, chama atenção o modo como a primeira alteração


nos nomes das ruas, em 10 de março, foi realizado. A pedido do vereador Gomes
Cardim, as mudanças foram aprovadas sem debate, “pois que sua discussão
pareceria pôr em dúvida os sentimentos republicanos da Câmara”. Não havia
ambiente para questionamentos. O clima era de guerra.
De acordo com MONTEIRO, 2009, como relata a pesquisadora Walnice
Nogueira Galvão em No Calor da Hora, várias matérias jornalísticas retratavam
Canudos como um grupo com ramificações em Nova York e Paris que pretendia
restaurar a monarquia no Brasil e pediam sua destruição.
Conforme MONTEIRO, 2009,:

Canudos era “uma horda de mentecaptos e galés”, segundo Rui Barbosa,


considerado o principal intelectual brasileiro, ou uma “vergonha que cumpre
extinguir de pronto”, de acordo com um manifesto de acadêmicos baianos.

“Em Canudos não ficará pedra sobre pedra”, prometia o presidente da


República, Prudente de Morais, enfatiza MONTEIRO, 2009.
Para MONTEIRO, 2009, a promessa foi cumprida com o envio, em abril, de
uma quarta expedição contra Canudos, com mais de 5 mil homens, comandados pelo
general Artur Oscar. Em outubro, já haviam destruído o arraial. Não houve rendição.
O conflito acabou quando os soldados mataram os últimos defensores de Canudos:
um velho, dois adultos e uma criança.

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Fonte: saopaulo.sp.leg.br

“E assim, com essa mobilização geral da opinião feita pelos jornais,


acompanhando as operações bélicas, a Guerra de Canudos foi, afinal, ganha
e o arraial arrasado a dinamite e querosene juntamente com quem não quis
se render. (MONTEIRO, 2009)

Os prisioneiros foram todos degolados, restando apenas algumas poucas


centenas de mulheres e crianças que foram dadas de presente ou vendidas. A
República estava salva”, resume Walnice, de acordo com relatos de MONTEIRO,
2009.
Conforme MONTEIRO, 2009, em sua obra, com o fim de Canudos, alguns dos
setores que haviam pedido a destruição do arraial começaram a perceber que, da
mesma forma como muitos militares não foram os heróis que se imaginava, os
canudenses também não eram o grupo de conspiradores interessados em derrubar a
República que a mídia e os políticos ha- viam retratado.

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11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Mosaico – Volume 1 – Número 1, [S. l.], p. 1-13, 1 out. 2009.

FILHO , Fausto Salvador. Nomes de guerra. Revista Apartes, [S. l.], p. 32-36, 1 dez.
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12 BIBLIOGRAFIA

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