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Direito do Trabalho Resumido- Edson Braz da Silva

Vol. 2

UNIDADE 06 - AVISO PRÉVIO

1) CONCEITO:

Pedro Paulo Teixeira Manus, citado por José Augusto Rodrigues Pinto: 'Destina-se o aviso
prévio à comunicação, no contrato sem prazo, à outra parte, da intenção de romper o contrato de
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trabalho, sem que para tanto tenha havido justo motivo"

É a obrigação recíproca que têm os signatários de um contrato por tempo indeterminado de


comunicar ao outro, num prazo mínimo estabelecido em lei ou contrato, o propósito de romper a
relação jurídica havida entre eles, sob pena de indenizar a parte contrária dos danos advindos da
brusca ruptura do contrato. (Edson Braz da Silva)

No caso de contrato de emprego essa indenização já é pré-tarifada, correspondendo ao


salário que seria devido no período de aviso prévio.

2) PRESSUPOSTOS PARA CABIMENTO DO AVISO PRÉVIO:

a) indeterminação de prazo de duração do contrato;


b) unilateralidade da vontade de resilir;
c) imotivação para resilir.

3) NATUREZA JURÍDICA:

Teorias:
- transformação do contrato sem prazo em contrato com prazo (Délio Maranhão).
- resilição a termo suspensivo ( Catharino ).
- ato constitutivo e receptício de vontade de efeito ex nunc ( Orlando, Elson e José Augusto)
- condição imposta ao direito de resilir.

Não aceitamos nenhuma das correntes acima por não expressarem a verdadeira natureza
jurídica do aviso prévio. Em primeiro lugar o aviso prévio não transforma o contrato sem prazo em
contrato com prazo, pois se verdadeiro, as parcelas devidas na rescisão seriam as do contrato
por prazo e não as do contrato sem prazo. Também não é resilição a termo suspensivo, porque o
contrato pode continuar ao final do prazo do aviso, sem que importe em celebração tácita de novo
contrato de emprego. Ainda não é o fim do contrato porque pode haver retratação ou fatos
impeditivos a efetivação da vontade de resilir o contrato, como por exemplo, a interrupção ou
suspensão do contrato por motivo de licença médica do empregado. Tampouco é ato constitutivo
ou condição imposta ao direito de resilir. A existência ou exercício do direito potestativo de resilir
o contrato certamente não estão condicionados ao aviso prévio, existindo para as partes o direito
de resilir o contrato independentemente do aviso prévio, importando a sua falta apenas em
sanção jurídica.

Ao nosso ver, o aviso prévio é uma obrigação que a lei impõe aos celebrantes de um contrato
individual de emprego sem prazo, cujo descumprimento importa na sanção jurídica de indenizar a
parte contrária com a importância equivalente ao salário correspondente ao período do aviso
prévio.EBS

4) FINALIDADE e CABIMENTO:

Com o fito de evitar os malefícios advindos da ruptura brusca do contrato individual de


emprego, em prejuízo dos serviços da empresa e da continuidade do sustento do empregado e de
seus dependentes, diz o art. 487 da CLT que "não havendo prazo estipulado, a parte que, sem justo
motivo, quiser rescindir o contrato deverá avisar a outra da sua resolução com a antecedência
mínima de 30 dias.

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PINTO, José Augusto Rodrigues - Curso de direito individual do trabalho. 2. ed. São Paulo : LTr,
1995.

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Ver Enunciado TST 44 – Cessação da atividade da empresa. Cabimento.
Enunciado TST 163 - Cabimento do aviso prévio no caso do art. 481 CLT.

5) FORMA:

Considerando o princípio da continuidade da relação de emprego, o aviso prévio é


necessariamente expresso, porém não obrigatoriamente escrito. Por questões práticas de prova em
juízo, recomenda-se que a intenção de rescindir a relação de emprego seja documentada, ou seja,
por escrito.

6) RETRATAÇÃO:

Apesar de ser unilateral o aviso prévio, ou seja, da exclusiva vontade do emitente, a sua
retratação está condicionada à concordância da parte contrária, conforme previsto no 489 da CLT.

7) PRAZO:

Antes da Constituição Federal de 1988, prevendo o aviso prévio proporcional ao tempo de


serviço, nos termos da lei, e fixando desde logo em no mínimo 30 dias, o período do pré-aviso era de
8 ou 30 dias, art. 487, I e II da CLT, de acordo com a periodicidade do pagamento, semanal ou
quinzenal e mensal, respectivamente.

8) VALOR DO AVISO PRÉVIO:

Remuneração correspondente ao prazo do aviso. Em se tratando de salário pago na base de


tarefa, o cálculo será feito de acordo com a média dos últimos 12 meses de serviço, ou tempo que
tiver durado o contrato se inferior. Art. 487, §§ 1° e 3º CLT.

Ver Enunciado 305 TST – Reajustamento Salarial Coletivo.

9) DISPENSA DE CUMPRIMENTO DO AVISO:

O pagamento das parcelas da rescisão obedecerá ao prazo do artigo 477, § 6°, alínea b, da
CLT.

10) AVISO PRÉVIO CUMPRIDO EM CASA:

A jurisprudência majoritária entende que o aviso prévio cumprido em casa equivale a


dispensa do seu cumprimento, fazendo incidir a regra do art. 477, § 6°, alínea b, da CLT.

Ver SDI 14 TST . Ver Enun. 276

11) CABIMENTO DO AVISO NO CASO DE DESPEDIDA INDIRETA:

Art. 487, § 4°, CLT.

Culpa recíproca – TST 14 – devido no valor de 50%.

Obs. Falar da aposentadoria por invalidez ou morte do empregado por acidente do trabalho por culpa
do empregador.

12) JUSTA CAUSA NO CURSO DO AVISO PRÉVIO:

O empregador que, durante o prazo do aviso prévio dado ao empregado, praticar ato que
justifique a rescisão imediata do contrato, sujeita-se ao pagamento da remuneração correspondente
ao prazo do referido aviso, sem prejuízo da indenização que for devida. Art. 490 da CLT.

Por uma questão de equidade, caso o pré-avisante seja o empregado e o justo motivo para
rescisão for dado pelo empregador, entendo que o empregado fica desobrigado de cumprir o restante
do prazo, sem prejuízo da indenização devida.

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O empregado que, durante o curso do aviso prévio, cometer qualquer das faltas consideradas
pela lei como justas para a rescisão, perde o direito ao restante do respectivo prazo – Art. 491, CLT.

Ver Enunciado 73 TST - Falta grave no curso do aviso – Não cabimento da indenização e não
configuração de abandono de emprego.

Obs.: a única falta grave insubsistente no prazo do aviso prévio é a de abandono de emprego, pois
que não daria prejuízo ao empregador.

13) REDUÇÃO DA JORNADA DURANTE O AVISO PRÉVIO:

O horário normal de trabalho do empregado, durante o prazo do aviso prévio concedido pelo
empregador, será reduzido de 2 horas diárias, sem prejuízo do salário integral, sendo facultado ao
empregado optar por faltar sete dias corridos. Art. 488 CLT.

Não havendo efetiva redução da jornada, a jurisprudência não considera a dação do aviso
prévio, mandando indenizar o empregado como se não tivesse sido concedido, pois a redução da
jornada visa a facilitar nova colocação do emprego, sem solução de continuidade de seu sustento ou
de sua família. TST 230.

Saber se o trabalho no aviso é condição para o benefício da redução da jornada?

A doutrina aceita a proporcionalidade do aviso prévio no caso de jornada reduzida. Assim o


empregado com jornada de 4 horas teria uma redução de apenas 1 hora. Porém entendemos que,
pela finalidade da lei, quem tem jornada inferior a 6 horas diárias já teria a disponibilidade de horário
para procurar novo emprego.

Empregado Rural art. 488 da CLT X ART. 15 da Lei 5.889/73 Pós CF/88

14) RESUMO DOS ASPECTOS RELEVANTES DO AVISO PRÉVIO:

a) necessidade de comunicação expressa da intenção de resilir – art. 487 CLT


b) duração certa em tempo corrido – art. 487 CLT
c) pagamento em pecúnia na falta da comunicação ou descumprimento do prazo – art. 487, §§ 1° e 2º
CLT.
d) retratabilidade condicionada a aceitação da parte pré-avisada – 489 CLT
e) inalterabilidade da execução do contrato durante o prazo do aviso prévio,
f) perda da eficácia se após esgotado o seu prazo houver continuidade do contrato – art. 489,
parágrafo único, da CLT.
g) redução da jornada de trabalho durante seu prazo se o pré-avisante for o empregador. Cabendo ao
empregado optar pela redução de duas horas diárias durante o prazo do aviso prévio ou faltar sete
das corridos – art.488, parágrafo único da CLT.
h) cômputo do prazo no tempo de serviço para todos os efeitos legais, quando o pré-avisante for o
empregador, na sua falta ou no caso de dispensa do cumprimento – art.487, § 1°, CLT.

15) CONTAGEM DA PRESCRIÇÃO NA FALTA DE AVISO PRÉVIO PELO EMPREGADOR:

Segundo o artigo 487, § 1° da CLT, o tempo do aviso prévio indenizado incorpora-se ao


tempo de serviço do empregado para todos os efeitos. Em razão dessa projeção do termo final do
contrato, por motivo da incorporação do aviso prévio indenizado, a jurisprudência e a doutrina
discutem o início da contagem do prazo prescricional, se da extinção efetiva do contrato ou da
extinção por ficção jurídica.

Considerando o princípio da actio nata e que a prescrição é a perda do direito de ação,


optamos por contar a prescrição, no caso de falta de aviso prévio ou dispensa do seu cumprimento,
após o prazo previsto no artigo 477, § 6°, b, da CLT, quando surge para o empregado o direito
subjetivo de reclamar as parcelas decorrentes da rescisão do contrato.

Ver Orientações Jurisprudencial SDI/TST 83 – Aviso prévio - prescrição

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Ver 122 SDI I

16) JURISPRUDÊNCIA SOBRE AVISO PRÉVIO.

a) ENUNCIADOS TST:

182 – Tempo de aviso prévio mesmo indenizado – contagem para efeito de indenização do
artigo 9° da Lei n° 6.708/79

253 – Gratificação semestral – não repercussão nas férias.

305 – FGTS – incidência sobre o aviso prévio.

b) Orientações Jurisprudencial da SDI/TST.

82 Aviso prévio – Baixa na CTPS.


84 Aviso prévio proporcional – o artigo 7°, XXI , CF, depende de regulamentação.

Jurisprudência:

PROCESSO: RR-358.383/1997.0 - TRT DA 15.ª REGIÃO - (AC. 2.ª TURMA)


RELATOR: MIN. VALDIR RIGHETTO
EMENTA: AVISO PRÉVIO. PRESCRIÇÃO. O prazo prescricional começa a fluir da data do término
do aviso prévio. Recurso a que se dá provimento.

Publicado no DJ n.º 48. 10/03/2000. p. 49.

PROCESSO: RR-350.306/1997.3 - TRT DA 2.ª REGIÃO - (AC. 4.ª TURMA)


RELATOR: MIN. ANTÔNIO JOSÉ DE BARROS LEVENHAGEN
EMENTA: AVISO PRÉVIO CUMPRIDO EM CASA. MULTA PELO ATRASO NO PAGAMENTO DAS
VERBAS RESCISÓRIAS. A orientação jurisprudencial desta Corte se verifica no sentido de que não
existe referência legal expressa à modalidade do aviso prévio cumprido em casa, motivo pelo qual
sua adoção implica seja observado o pagamento das verbas rescisórias na época prevista na alínea
"b" do § 6.º do artigo 477 da CLT, sem o que se torna aplicável a multa prevista no § 8.º do referido
preceito consolidado. Recurso de revista conhecido e provido.

Publicado no DJ n.º 91. 12/05/2000. p. 365.

Precedentes:
1. Processo RR-359.419/1997.1 - TRT da 2.ª Região - AC. 1.ª Turma. Relator: Min. Ronaldo Lopes
Leal. Publicado no DJ n.º 111. 09/06/2000. p. 285.

PROCESSO: RR-318.319/1996.5 - TRT DA 18.ª REGIÃO (AC. 5.ª TURMA)


RELATOR: MIN. THAUMATURGO CORTIZO
EMENTA: AVISO PRÉVIO INDENIZADO. PRESCRIÇÃO. TERMO INICIAL. A Eg. SDI desta Corte já
pacificou a matéria por intermédio de inúmeros precedentes jurisprudenciais que consideram a
projeção legal do aviso prévio, mesmo o indenizado, para efeitos de início do prazo prescricional, a
teor do art.487, § 1º, da CLT. Recurso de revista conhecido e provido para afastar a prescrição e
determinar o retorno dos autos ao Eg. TRT de origem a fim de que aprecie o feito, como entender de
direito.

Publicado no DJ n.º 212. 05/11/99. p. 496.

PROCESSO: E-RR-261.754/1996.8 - TRT DA 2.ª REGIÃO - (AC. SBDI1)

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RELATOR: MIN. CARLOS ALBERTO REIS DE PAULA
EMENTA: RECURSO DE EMBARGOS. AVISO PRÉVIO INDENIZADO. ESTABILIDADE.
PROJEÇÃO. ARTIGO 19 DO ATO DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS. O
aviso prévio indenizado implica na garantia de direitos até a data do término daquele prazo, com o
pagamento de salários, com reajustes genericamente concedidos, e os decorrentes de tempo de
serviço, com mais 1/12 de férias e 13º salário. É entendimento consagrado no Precedente 40 da
SDI1. Por outro lado, o artigo 19 do ADCT, tem requisito indispensável para a concessão da
estabilidade, qual seja, a de que o servidor esteja em exercício na data da promulgação da
Constituição da República, o que, não ocorreu na hipótese dos autos. Recurso de embargos a que se
dá provimento.

Publicado no DJ n.º 24. 02/02/2001. p. 480.


AVISO PRÉVIO
Doença no decorrer do
EMENTA: Enfermidade constatada durante aviso prévio - Dispensa - Reintegração. O contrato de
trabalho extingue-se com o término do aviso prévio, ainda que este seja indenizado. Portanto, se
durante este período for constatado que o empregado padece de enfermidade, não poderá ser
dispensado. Caso ocorra, tem direito à reintegração. (TRT - 3ª R - 5ª T - RO nº 9959/97 - Rel. Juiz
Paulo Roberto S. Costa - DJMG 03.07.99 - pág. 13)

PEDIDO DE DISPENSA: JUSTIFICATIVA DO


EMENTA: Pedido de dispensa do cumprimento do aviso prévio. Não basta mero pedido de dispensa
de cumprimento do aviso prévio, de lavra do empregado. Há que se demonstrar o motivo ponderoso
que leva a tal renúncia: trabalho para outro empregador; curso de aperfeiçoamento; viagem ao
exterior; acompanhamento de familiar doente etc. Milita a favor do obreiro a aplicação do instituto,
inclusive com as repercussões correlatas, como revelam as decisões pretorianas de todos esses
anos. (TRT - 15.ª R - 2.ª T - Ac. n.º 17721/99 - Rela. Nora Magnólia Costa Rotondaro - DJSP 29.06.99
- pág. 59)

REDUÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO: ÔNUS DA PROVA


EMENTA: Aviso prévio - Redução da jornada - ônus. Cabe ao empregador comprovar a redução da
jornada no período do aviso prévio, requisito de validade do direito. Sonegado o controle de horário
do período, mesmo depois da intimação, resta confesso o réu quanto à alegada não redução. (TRT -
1.ª R - 8.ª T - RO n.º 7479/97 - Red. Desig. Juiz Marcelo A. S. de Oliveira - DJRJ 08.07.99 - pág. 155).

Atualizado em 18/09/2003

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