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MUTHINI
MARRACUENE
Fevereiro/2022
MARRACUENE
Fevereiro/2022
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Acrônimos e siglas
TB- Tuberculose
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Índice
Acrônimos e siglas...........................................................................................................................3
CAPITULO I: INTRODUÇÃO.......................................................................................................6
1. Contextualização...................................................................................................................6
1.1.2. Justificativa..................................................................................................................10
1.3. OBJECTIVOS.................................................................................................................11
2.1. Conceptualização............................................................................................................12
2.1.1. HIV..............................................................................................................................12
2.1.2. Serodiscordancia.........................................................................................................14
2.4.1. Afecto..........................................................................................................................18
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2.4.3. A sexualidade e a prevenção após a descoberta da serodiscordância.........................19
2.15. Psicoeducação..............................................................................................................34
3.2.2. Amostra.......................................................................................................................37
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3.4. Instrumentos de recolha de dados...................................................................................38
3.9. Orçamento.......................................................................................................................40
4. Referências bibliográficas..................................................................................................41
5. ANEXOS................................................................................................................................47
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CAPITULO I: INTRODUÇÃO
1. Contextualização
As relações sexuais desprotegidas e o consumo de drogas por via endovenosa constituem um dos
maiores factores de risco de transmissão do HIV/SIDA no mundo. O desenvolvimento médico e
farmacológico veio permitir que, através da introdução da terapêutica anti-retroviral, esta
infecção se transformasse numa doença crónica. Gameiro (1999), conceitua doença crónica
como uma limitação e uma ameaça que coloca em causa os recursos e processos habituais
individuais de resolução de problemas, podendo ser considerados como insuficientes.
Um diagnóstico de doença crónica pressupõe mudanças e desafios que requerem uma adaptação
ao papel de doente crónico, que traz mudanças não só para o portador da doença mas também
para os restantes elementos que constituem a sua rede social. A pessoa seropositiva necessita de
se adaptar à doença crónica e a todas as implicações psicológicas e sociais, no que concerne ao
novo papel de doente, à dependência do tratamento, à necessidade de cuidados médicos de forma
continuada e à incurabilidade da doença, podendo estar subjacente a ideia de morte. Por
conseguinte, a fim de compreender o processo de adaptação ao diagnóstico de HIV/SIDA, é
necessário compreender as variáveis clínicas, psicológicas e sociais envolvidas nesta situação,
(Simoni & Pantalone, 2004).
O combate à epidemia do HIV/SIDA é um desafio específico dos tempos actuais e tem sobre ela
direccionados os esforços de diversas áreas científicas. Desde os primeiros anos da sua
descoberta tem-se procurado a cura, mas enquanto ela não é encontrada, o objectivo principal é
mitigar a sua propagação (Machanguana, 2007). Deste modo, há uma necessidade de
desenvolver intervenções com carácter preventivo, que fortaleçam nos diversos grupos
populacionais, as condições para a redução da exposição directa à infecção e a situações de risco,
como afirma (Machanguana, 2007), uma das alternativas de maior alcance, mas também das que
mais mexe com várias sensibilidades, é o uso de preservativo e a prática de sexo seguro.
O medo de não ser aceite pelo companheiro devido ao HIV é um motivo para os solteiros não
procurem um novo relacionmento. Por causa disso, o indivíduo acometido pelo HIV/SIDA na
maioria das vezes se cala e não exige o uso do preservativo, colocando o parceiro em risco. Em
decorrência disso, muitas vezes, os mesmos decidem se relacionar com pessoas também
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seropositivas e dessa forma, consideram a única junção possível em que não precisam do
preservativo, mas essa prática é insegura, já que um expõe o outro a diferentes tipos de vírus, que
podem acarretar resistência à terapêutica anti-retroviral prescrita ( Machanguana, 2007).
Contudo, com a melhoria dos serviços de saúde e o avanço das práticas tecnológicas, hoje as
pessoas com HIV/SIDA têm uma melhor qualidade e expectativa de vida. A cronicidade dessa
doença possibilita-lhes novos sonhos na vida profissional, pessoal e relações amorosas, até
mesmo com pessoas seronegativas.
O capítulo III, descreve de forma sucinta a metodologia que será utilizada para a concretização
da pesquisa, nomeadamente o tipo e o local do estudo, a população e a amostra, bem como a
respectiva técnica de amostragem e critérios de inclusão e de exclusão, as técnicas e os
instrumentos para a recolha dos dados, os procedimentos do estudo, previsão do seu término, as
suas limitações, formas de disseminação e tratamento dos dados, sem esquecer as considerações
éticas levadas em conta em cada passo dado durante a realização do estudo, referências
bibliográfica e apêndice/anexo.
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1.1. Delimitação do Estudo
O Hospital Geral da Machava oferece consulta ambulatória para doentes que estiveram
previamente internados atendendo doencas cronicas como diabetes, hipertensão e HIV/SIDA.
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1.2. Identificação do Problema e Justificativa
No contexto conjugal, a situação que tem sido cada vez mais presente e desafiante para pacientes
e pessoal de saúde, é a experiência de casais onde apenas um dos cônjuges é portador do HIV.
Por seu turno Santos (2007), fala de uma paciente que descobriu acidentalmente que o marido
era seropositivo e há muito vinha fazendo tratamento sem no entanto comunicá-la alegadamente
porque não sabia qual seria a reacção dela. Para mim como pesquisadora, este caso revela o
medo do impacto de revelação de diagnóstico no subsistema conjugal.
Diante deste cenário, ficou a seguinte pergunta de partida: Qual é o impacto psicológico da
revelação do diagnóstico da seropositividade no subsistema conjugal em parceiros
serodiscordantes?
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Uma das primeiras questões levantadas pelo paciente é: “mas como isto aconteceu comigo?” A
partir daí, podem surgir problemas relacionados com o medo da desconfiança de infidelidade,
por parte do parceiro negativo (Brambatti, 2001).
1.1.2. Justificativa
Este estudo visa recuperar a história de alguns desses casais e procura fazer jus à complexidade
de situações, compreendendo que, muitas vezes, a relação conjugal baseia-se na cumplicidade do
par para a manutenção dos laços afectivos e no enfrentamento das situações impostas pela
doença de um dos parceiros. De ponto de vista prático vai servir de ferramenta para consulta e
complemento para trabalhos similares.
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1.3. OBJECTIVOS
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CAPITULO II: REVISÃO DA LITERATURA
2.1. Conceptualização
2.1.1. HIV
O HIV/SIDA foi descoberto pela primeira vez em 1981 nos EUA, tendo sido identificado em
homossexuais do sexo masculino, pouco tempo depois foi reportado na Europa com
características epidemiológicas, imunológicas e clínicas idênticas, constituindo-se actualmente
como uma pandemia, (Magalhães, 2005).
Em Moçambique o primeiro caso foi descoberto em 1986, logo após a Organização Mundial de
Saúde, ter alertado para manifestação da doença na África e particularmente, ter recomendado
aos Países Africanos a constituição do combate ao HIV. Seguindo esta recomendação, foi criada
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em Moçambique no mesmo ano de 1986, a Comissão Nacional do HIV/SIDA, subordinada ao
MISAU (MISAU, 2010).
Estima-se em 35,2 milhões de pessoas vivendo com o vírus de HIV no mundo, e a maior parte
destas pessoas encontram-se na Africa Subsaariana em cerca de 24,7 milhões e Moçambique está
entre os países do mundo com os maiores índices de infecção com HIV, (CNCS, 2009).
As novas estimativas da prevalência do HIV no país, mostram um aumento para 13,2 % entre a
população adulta dos 15 aos 49 anos de idade, que corresponde à 1,5 milhões de habitantes,
contra os anteriores 11,5 % de acordo com o estudo feito em 2009 pelo INSIDA (IMASIDA,
2015).
Esta pandemia, constitui um dos maiores desafios de saúde pública em Moçambique. A principal
forma de contaminação, continua sendo a via sexual em 90% dos adultos, relacionado a prática
de sexo desprotegido, devido as barreiras socioculturais, religiosas e das desigualdades de género
(IMASIDA, 2015).
2.1.2. Serodiscordancia
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Segundo o Conselho Nacional de Combate ao Sida, ( CNCS, 2004), O perfil da epidemia do HIV
em Moçambique é predominantemente heterossexual, estando mais disseminada entre as
mulheres.
Segundo a informação colhida pelo INSIDA em 2009, um em cada dez casais que coabitam em
Moçambique são serodiscordantes, isto é, um é seropositivo enquanto o outro é seronegativo.
Ewayo, Walque, Fort, Gakii, Lester e Mills (2010) entendem que a medida que a epidemia de
HIV se vai amadurecendo em vários países a proporção de novas infecções ocorridas no seio dos
casais poderá também ter aumentado. Evidências têm mostrado que, a volta dos países, uma
grande proporção de casais com alguma infecção pelo HIV são serodiscordantes. Os
seronegativos de casais serodiscordantes são a população com risco de infecção elevado e
precisam de serviços especialmente desenhados.
Para Maman, Mbwambo, Hogan, Klinzo e Sweat (2001), a decisão de testar-se é influenciada
por factores individuais, relacionais e ambientais, sendo o medo da reacção do parceiro e
dificuldades de comunicação entre o casal importantes barreiras apontadas por mulheres quanto
ao compartilhamento do resultado do exame.
A experiência, para o casal, de conviver com uma doença transmissível, que ainda não tem cura
e que carrega consigo uma série de preconceitos e julgamentos de valor, pode interferir, não
apenas na própria relação, mas também, no processo de tratamento e acompanhamento do
membro seropositivo do casal. Os laços afectivos e sociais podem estar a ser influenciados por
esta condição de serodiscordância, além das questões próprias à relação conjugal. Por
conseguinte, o conhecimento do diagnóstico de HIV positivo dos cônjuges é acompanhado de
sentimentos diversos e o maior ou menor impacto está relacionado a questões complexas que nos
impedem tecer opiniões simples e deterministas.
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2.1.3. Diagnóstico da Seropositividade
O parceiro da pessoa seropositiva pode sentir culpa, pode ter receio de contágio através do
contacto prévio com a pessoa ou pode apresentar ansiedade e depressão devido ao diagnóstico do
parceiro. Pode ocorrer perda do equilíbrio no relacionamento devido ao aumento da dependência
física, emocional e financeira do parceiro infectado. A família e os amigos também podem
apresentar as mesmas reacções emocionais e sociais, isto é, choque, negação, ansiedade, raiva,
medo, culpa e depressão.
Holt et al. (1998) referem que o diagnóstico da seropositividade desencadeia uma crise, durante a
qual a pessoa analisa a sua vida, as relações com a família e amigos, o seu autoconceito e as suas
práticas sexuais. As reacções iniciais mais frequentes são de negação e precaução. Embora a não
revelação inicial da sua seropositividade confira tempo para que a pessoa se adapte ao
diagnóstico sem se preocupar com a reacção dos outros ao diagnóstico, também causa maior
isolamento social. No entanto, esta fase é transitória, uma vez que atingido o equilíbrio
emocional, a pessoa apresenta mais estratégias para gerir o stress proveniente da revelação do
diagnóstico à rede social.
Segundo Klitzmane Bayer (2003) a revelação de diagnóstico pode ser entendida como um
processo para comunicar uma informação, potencialmente estigmatizante, que antes foi omissa
com a intenção de preservar o bem-estar psicológico. Simoni e Pantalone (2004), dizem que a
revelação do diagnóstico de seropositividade é influenciada pelo receio de despoletar uma crise
emocional disruptiva com o receptor da informação, e de se tornar alvo de discriminação. Da
mesma forma, é ponderada como impeditiva de uma estratégia de autoprotecção emocional ou
vista como sobrecarga emocional para o receptor da informação.
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De acordo com Holt et al. (1998), as pessoas seropositivas que optam pela revelação da
seropositividade ao parceiro procuram retomar o controlo sobre as suas vidas, procurando
minimizar o stress associado à não revelação e à ansiedade causada por relações sexuais com um
parceiro que desconhece a sua seropositividade. Em alguns casos, pode ocorrer mudança do
padrão de comportamento, reduzindo o número de parceiros sexuais e reduzindo
consequentemente, o número de revelações.
Após a revelação do diagnóstico para o parceiro é preciso apoiar o casal para o enfrentamento da
ansiedade e angústias advindas com esta nova realidade, além disso, esclarecê-los sobre as
possibilidades terapêuticas, aconselhamento sobre as medidas preventivas e realização dos testes
sorológicos pela parceria, visando contribuir para o enfrentamento das dificuldades. O medo da
rejeição, a dúvida da revelação da soropositividade ao parceiro e a insegurança quanto a sua
reação levam, muitas vezes, a não comunicação do diagnóstico nos relacionamentos.
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Por sua vez, Serovich, Esbensen e Mason (2005) acham que a compreensão do impacto da
informação do diagnóstico à família, amigos e parceiros (as) é importante pois a revelação é
imprescindível para a aquisição de suporte sociofamiliar, que demonstrou melhorar as vidas de
quem vive com HIV. A partilha desta informação poderá permitir a aquisição de suporte social,
contribuindo para atenuar sintomas depressivos. O suporte sociofamiliar facilita o
desenvolvimento de estratégias de coping.
A família é um sistema e o casal é um subsistema que se define em função dos limites de uma
organização hierárquica. Minuchin e Fishman (2003) definem subsistema conjugal como casal
formado pela união de duas pessoas com um conjunto de valores e expectativas, tanto explícitas
quanto inconscientes.
Para o seu funcionamento é necessário abrir mão de parte as suas ideias e preferências, perdendo
individualidade, porém ganhando em pertinência. A formação do subsistema conjugal envolve
uma conjunção entre duas individualidades, “dois sistemas individuais, que sintetizam mais dois
sistemas familiares, além do transgeracional, e do contexto social mais amplo do qual
participam” (Anton, 1998).
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2.4.1. Afecto
O afecto é um conjunto de fenômenos psíquicos que se manifestam sob a forma de emoções,
sentimentos e paixões, acompanhados sempre de impressão de dor ou prazer, de satisfação ou
insatisfação, de agrado ou desagrado, de alegria ou de tristeza (CODO & GAZZOTTI, 1999).
O problema de HIV ultrapassa a questão individual tornando-se num problema do casal, onde a
forma como cada um lida com as dificuldade pode reflectir no outro. Assim, a diferença do
seroestado no casal assume-se como um desafio para ambos, tornando-se num obstáculo para o
futuro do relacionamento (Magalhães, 2005).
Muitas vezes, quando um casal permanece junto pode não significar necessariamente que haja
uma boa coesão, mas preferirem manter o relacionamento por várias razões. Em alguns casos, as
mudanças derivadas da serodiscordância, podem levar o casal a terminar uma relação estável
(Maksud, 2007).
Um dos desafios que pode surgir tem a ver com a comunicação do casal. A serodiscordância,
levanta muitas dúvidas e receios que o casal pode evitar abordar, manter o silêncio pode
dificultar ainda mais a forma de lidar com a nova realidade.
O sexo é visto como um grande componente da vida humana, manifesta-se em todas as fases da
vida, desde o nascimento até a morte. As relações sexuais não estão apenas ligadas a procriação,
mas também a afectividade do individuo, portanto, é importante conhecer a sexualidade das
pessoas infectados e afectadas pelo HIV (Reis, 2004).
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uma preocupação muito constante e que tem impacto negativo na sexualidade entre parceiros
com serologias diferentes.
Uma das questões suscitadas pela serodiscordância e muito presente no dia-a-dia dos casais, é
que o parceiro infectado é visto como alguém que traz perigo para o parceiro sexual, o que pode
causar muita angústia, bem como sentimentos de culpa e ansiedade (Magalhães, 2005).
Para Bramatti (2001), a redução da libido é provocada por factores psicossociais. Ela considera
que qualquer doença crónica pode inibir o desejo sexual, com impacto sobre a sexualidade
dependendo da adaptação psicossocial à doença.
Embora o uso do preservativo seja percebido como necessário para evitar a transmissão sexual
do HIV ao parceiro seronegativo, os casais apontam o seu uso do mesmo como sendo um dos
fatores que interfere no prazer e na satisfação sexual, o que dificulta a sua aceitação (Reis, 2004).
Maksud (2007), defende que os aspectos emocionais após o diagnóstico geram mudanças que
ocorrem muitas vezes pela dificuldade de adaptação a nova realidade, tanto do parceiro
seropositivo como do seronegativo. A falta de desejo sexual de um dos parceiros gera problemas
na vida sexual do casal, o que pode fazer com que o outro sinta-se frustrado e rejeitado.
A falta do uso do preservativo é tida como uma prova de amor e confiança por parte do parceiro
seronegativo, a prevenção através de sexo protegido remeteria a perda de confiança, o que
abalaria o relacionamento (Perrusi & Franch, 2012).
Pode-se ver claramente que a serodiscordância tem um impacto negativo na sexualidade deste
tipo de casal, pois, além da perda de interesse, eles podem optar pela abstinência por medo de
infectar o parceiro. Portanto, o casal precisa identificar estratégias para diminuir a preocupação
entre a contaminação e a vida sexual activa.
• Muitas vezes quando inicia-se uma relação, as pessoas não sabem se estão ou não
infectadas, e pode ser que já sejam discordantes;
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• O HIV não é transmitido em cada acto sexual, depende da frequência e exposição sexual;
• HIV não se espalha tão facilmente dentro dos casais como se pensa, mas membros
seronegativos em casais discordantes continua a ser o grupo de pessoas com maior risco
por infecção;
• Carga viral é um dos factores de risco mais fortes para a transmissão de HIV dentro dos
casais e o uso de TARV pode reduzir o risco de transmissão;
• Sintomas de ITS ambos de úlcera e sem úlcera, foram identificados como factores de risco
para a transmissão por HIV em casais discordantes em vários estudos;
• A idade jovem e gravidez demonstraram serem factores de risco para a transmissão por
HIV em casais discordantes em estudos isolados, porém há poucas evidências de
associação entre transmissão por HIV em casais discordantes e a duração da relação e
frequência de episódios sexuais.
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elevados, nomeadamente no que concerne à incidência de infecções pelo HIV e de mortes por
SIDA.
Estimou-se que em 2007, existissem 33 milhões de pessoas a viver com HIV em todo o mundo,
sendo que 30,8 milhões eram adultos. Nos últimos 10 anos, a infecção pelo HIV no sexo
feminino estabilizou globalmente, representando 50% do total de pessoas infectadas pelo vírus,
ainda que tenha aumentado em algumas regiões do mundo. O número de crianças com menos de
15 anos a viver com HIV em 2007 era de 2 milhões tendo aumentado desde 2001. O número de
novos casos de infecção por HIV em 2007 foi de 2,7 milhões, dos quais 2,1 milhões eram adultos
e 370.000 eram crianças com idade inferior a 15 anos tendo decrescido em comparação com o
ano de 2002. O número de jovens com idades entre os 15 e os 24 anos contribuíram com 45%
dos casos de novas infecções a nível mundial. No que diz respeito ao número de mortes devido a
SIDA, também em 2007 faleceram 2,1 milhões de pessoas a nível mundial, sendo que 76% das
mortes ocorreram em África Sub-sariana (UNAIDS, 2008).
África Sub-sariana continua a suportar uma grande percentagem desta epidemia, sendo que cerca
de 67% da totalidade das pessoas que viviam com HIV em 2007 se localizavam nesta parte do
globo. A epidemiologia em África sub-sariana apresenta oscilações de país para país. Na maioria
dos países desta região, a prevalência da infecção pelo HIV parece ter estabilizado embora em
níveis elevados, especialmente em países de África Austral. Em alguns países, a prevalência de
HIV em adultos parece estar a diminuir, como é o caso do Zimbabué, onde a prevalência de HIV
em mulheres grávidas assistidas em clínicas baixou de 26% em 2002 para 18% em 2006. No
Botswana, a prevalência de HIV em grávidas entre os 15 e os 19 anos também baixou. Em países
como a Zâmbia, o Malawi e África do Sul, a epidemia parece ter estabilizado. Em algumas áreas
de Moçambique, a prevalência de HIV em grávidas e a incidência do HIV em jovens entre os 15
e os 24 anos tem estado a aumentar. No Uganda, depois de uma diminuição da prevalência de
HIV em adultos, surgiram sinais de uma possível ressurgência de comportamentos de risco
sexual que poderão conduzir a um novo aumento da epidemia neste país ( UNAIDS, 2008).
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africanos (Burkina Faso, Camarões, Gana, Quénia e Tanzânia), dois terços dos casais infectados
pelo HIV eram sero-discordantes e na maioria dos casos, o uso do preservativo era raro. Por
outro lado, a prostituição representa um importante factor na transmissão do HIV em África
Ocidental. Cerca de 35% das prostitutas residentes no Mali em 2006 estavam infectadas pelo
HIV, de acordo com o Ministère de la Santé du Mali (2006), segundo a UNAIDS (2008) o uso de
materiais infectados pelo HIV utilizados para o consumo de drogas por via endovenosa
representa um factor com algum peso na epidemia do HIV em algumas áreas como a Mauritânia.
Moçambique é um dos países do mundo mais afectados pelo HIV/SIDA. Em 2002, estimava-se
que o número de pessoas vivendo com o HIV era de 13% da população adulta, dos 15 aos 49
anos de idade (ONUSIDA/OMS: 2002). Em 2002 surgiram cerca de 83.000 novos casos de
SIDA, e, de acordo com projecções para 2004, estima-se que o número de novos casos venha a
ser de 135.000. ( Barreto et al., 2004) A amplitude da epidemia está a tornar-se evidente, pois é
cada vez maior o número de pessoas com o HIV que está a adoecer.
À medida que a epidemia continuava a espalhar-se pelo país notava-se que aumentava a
consciência do facto e intensificava-se uma reacção à escala nacional envolvendo diferentes
estruturas, a vários níveis. A epidemia tornou-se uma prioridade nacional. Em 1998 o Ministério
da Saúde (MISAU) criou o Programa Nacional de Combate ao SIDA. Em 2000, o primeiro
Plano Nacional de Luta Contra o HIV/SIDA e as DTS foram delineadas em colaboração com a
sociedade civil, as ONG e os organismos doadores. Em 2000, foi criado um mecanismo de
coordenação multissectorial, o Concelho Nacional Contra o SIDA (CNCS), com o objectivo de
envolver todos os sectores da sociedade na resposta à epidemia.
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reacções de denegação, estigmatização e discriminação por parte da sociedade, associadas
igualmente à epidemia.
Desde o início da epidemia surgiram concepções sobre o HIV/SIDA que persistem até hoje,
como o da distinção entre um grupo e outro: os portadores dos doentes, os assintomáticos dos
sintomáticos, “eles de nós” (Sontag, 1989). Essa diferenciação pode ter implicações na vivência
da enfermidade, a partir do diagnóstico da infecção do HIV.
Receber resultado positivo hoje é tão diferente do que era no início da epidemia. Parece haver
semelhanças em alguns aspectos e distinções em outros. No que se refere ao preconceito, embora
pareça ter diminuído, este ainda se mostra presente em contextos diversos, inclusive por parte
dos próprios profissionais de saúde (Almeida; Labronici, 2007; Sadala; Marques, 2006).
O medo de sofrer estigma, preconceito ou discriminação faz com que comunicar o diagnóstico
para outras pessoas do convívio sócio-familiar seja uma decisão difícil, cujo acto, muitas vezes,
ainda é evitado e adiado. Nessa perspectiva, pessoas que descobrem a soropositividade vêem-se
diante das seguintes dúvidas e dilemas: se vale a pena, como, quando e para quem comunicar
sobre o diagnóstico (Santos, 2001).
O segredo sobre o HIV pode ter impacto negativo na adesão, na medida em que a pessoa receia
que terceiros desconfiem de sua soropositividade ao descobrirem que usa determinados
remédios, por exemplo. Assim, esconder o diagnóstico pode significar deixar de fazer muitas
coisas do próprio tratamento, como: ir às consultas, fazer exames, pegar os medicamentos e
tomá-los nos horários e doses recomendados (Santos, 2001). Portanto, assumir a condição de
pessoa vivendo com HIV/SIDA e compartilhar o diagnóstico com pessoas de confiança do
convívio sócio-familiar, podem favorecer a adesão adequada e o auto-cuidado.
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Muitos pacientes, assim que recebem o diagnóstico da infecção pelo HIV, explicitam, directa ou
indirectamente, os possíveis obstáculos para a adesão ao tratamento. Essas dificuldades podem
ser minimizadas, ou mesmo evitadas, no processo de aconselhamento pós-teste (BRASIL, 1997).
É na entrega do resultado que o profissional de saúde pode fazer uma ponte para a adesão ao
tratamento. É no momento do conhecimento do diagnóstico que, se trabalhado com acolhimento,
atenção e respeito, o profissional pode garantir ao paciente o sentimento de vínculo e suporte,
fundamentais para o processo de adesão (Santos, 2001).
Nesta perspectiva, podemos afirmar que o diagnóstico do HIV ainda suscita nas pessoas muitas
questões e desafios de natureza psicológica, social, cultural e económica. Do ponto de vista da
terapêutica e do tratamento, o momento actual tem mostrado avanços na produção de
medicamentos mais potentes, com administração facilitada e com menos efeitos colaterais.
De acordo com Flaskerud (1992), existem alguns momentos de crise no decurso da doença, que
são acompanhados por ansiedade intensa, medo e/ou depressão. A crise inicial ocorre aquando
do diagnóstico, sendo a reacção normal caracterizada por descrença, atordoamento e negação,
seguida de raiva, torpor, ansiedade e sintomas depressivos. Quando um elevado grau de
ansiedade persiste durante dois a três meses após o diagnóstico, pode-se manifestar através de
crises de pânico, agitação, taquicardia e comportamentos compulsivos. Durante a fase de
tratamento, pode ocorrer fraqueza, depressão, alienação, disforia e medo relacionados com a
progressão da doença. O doente pode-se sentir socialmente abandonado. As recaídas da doença
podem ser acompanhadas de desesperança, tristeza, baixa auto-estima, desencorajamento,
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sentimento de inutilidade, isolamento e ideação suicida. Na fase terminal da doença pode surgir
deterioração e decadência, sentimentos de ambivalência, dependência e desinteresse e/ou
resolução.
De acordo com Kubler-Ross (1989), o processo de adaptação à doença grave desenvolve-se por
cinco fases que não são estanques nem obrigatoriamente sequenciais:
Contudo, nos dias actuais considera-se que o processo de adaptação à doença crónica
(HIV/SIDA) como um processo dinâmico e contínuo, com fases de maior aceitação atingindo o
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equilíbrio, e outras de maior ansiedade, revolta ou depressão. O tempo é importante no processo
de adaptação embora não seja um elemento facilitador.
A partilha de informação acerca do diagnóstico de infecção pelo HIV com elementos da rede
social representa uma tarefa difícil do ponto de vista emocional pelo facto de criar uma dupla
oportunidade: de rejeição ou de aceitação social (Berger, Ferrarns & Lashley, 2001). Esta tarefa
levanta questões como a privacidade, vulnerabilidade e identificação com um papel
estigmatizante, correspondendo a um risco social elevado (Korner, 2007).
De acordo com Green (1995) as pessoas portadoras de infecção pelo HIV podem sofrer por parte
da sociedade, consequências negativas tais como: a perda de emprego, restrições de acesso a
produtos financeiros como seguros, entre outras. Essas atitudes podem ser interiorizadas de
forma negativa pelos doentes seropositivos, existindo uma elevada probabilidade de se sentirem
estigmatizados. Os doentes que antecipam consequências negativas decorrentes da revelação do
diagnóstico têm maior tendência para evitar revelar esta informação (Mansergh et al., 1995).
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A compreensão do impacto da informação do diagnóstico à família, amigos e parceiros (as) é
importante pois a revelação é imprescindível para a aquisição de suporte sócio-familiar, que
demonstrou melhorar a vida de quem vive com HIV. A partilha desta informação poderá permitir
a aquisição de suporte social, contribuindo para atenuar sintomas depressivos. O suporte sócio-
familiar facilita o desenvolvimento de estratégias de coping (Serovich, Esbensen & Mason,
2005).
Surge por este motivo, outra teoria baseada nas consequências, em que a revelação do
diagnóstico surge após análise dos benefícios e das consequências associados a este
acontecimento. As pessoas seropositivas tendencialmente revelam a informação às pessoas mais
significativas desde que os ganhos superem os custos psicológicos e emocionais associados à
informação do diagnóstico. Embora as teorias explicativas da motivação para divulgação da
informação de seropositividade ajude a compreender o fenómeno, não explicam na totalidade a
envolvência desta problemática (Serovich, 2001).
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uma correlação negativa com a predisposição para a revelação do diagnóstico por parte da pessoa
seropositiva isto é, o estigma pode evitar a informação deste diagnóstico a outros elementos da
sua rede social.
A revelação da seropositividade aos parceiros sexuais permite uma tomada de decisão partilhada
e consciente entre os elementos do casal. A adopção de medidas preventivas na transmissão do
vírus incluem a utilização de preservativo durante as relações sexuais e a não partilha de material
de suporte para o consumo de drogas por via endovenosa (Hart et al., 2005).
O impacto do diagnóstico de infecção pelo HIV despoleta uma crise perante a qual a condição
física, social e psicológica do doente não permite responder de imediato a este confronto. O
doente enfrenta o facto de as suas formas habituais de resolução de problemas não se aplicarem à
crise em questão, podendo surgir reacções emocionais como negação, ansiedade e mais tarde, a
depressão. A natureza destas reacções emocionais é comum e a sua inexistência poderá
pressupor uma adaptação posterior pouco eficaz (Miguel e Borges, 2002). Pode ocorrer uma
diminuição da auto-estima, resultante da perda de autonomia ou devido a um contacto negativo
com o sistema de saúde (Serra, 2005).
Na fase diagnóstica inicial pode surgir a negação que corresponde a um mecanismo de defesa,
permitindo ao doente evitar de forma imediata as implicações inerentes ao diagnóstico. A
negação consiste no bloqueio inconsciente da realidade e das repercussões individuais e sócio-
familiares do diagnóstico O doente age como se a doença não tivesse gravidade ou como se a
doença não tivesse repercussões definitivas e a longo prazo. A negação pode trazer vantagens
ajudando o doente a controlar as suas emoções face à doença no entanto, pode bloquear a
capacidade de gestão desta situação inibindo a procura de cuidados de saúde (Miguel & Borges,
2002).
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O diagnóstico de seropositividade para o HIV desencadeia uma crise, durante a qual a pessoa
analisa a sua vida, as relações com a família e amigos, o seu auto-conceito e as suas práticas
sexuais. As reacções iniciais mais frequentes são de negação e evitamento. Embora a não
revelação inicial da sua seropositividade confira tempo para que a pessoa se adapte ao
diagnóstico sem se preocupar com a reacção dos outros ao diagnóstico, também causa maior
isolamento social. No entanto esta fase é transitória, uma vez que atingido o equilíbrio
emocional, a pessoa apresenta mais estratégias para gerir o stress proveniente da revelação do
diagnóstico à rede social (Holt et al., 1998).
A ansiedade pode surgir logo após o diagnóstico e de forma intermitente do decurso do processo
de doença. A ansiedade inerente ao processo de doença pode-se atenuar sendo substituída pela
ansiedade face a possíveis complicações, implicações futuras a nível sócioprofissional e seu
impacto nos projectos de vida. A ansiedade pode aumentar ao longo da vida, podendo ser
exacerbada pela iminência da morte (Miguel & Borges, 2002).
A depressão pode surgir no decurso de uma doença crónica, embora de surgimento posterior à
negação e ansiedade, sendo o seu aparecimento mais frequente do que em doenças agudas. De
acordo com alguns estudos, mais de um terço dos doentes crónicos apresentam sintomas
moderados de depressão e mais de um quarto sofre de depressão severa. Dadas as características
da doença crónica, pode ocorrer perda de controlo sobre o próprio corpo e sobre as actividades
de vida diária, conduzindo a sentimentos de desamparo e depressão (Miguel & Borges, 2002).
A TCC é uma abordagem originalmente de senso comum que se baseia em dois princípios
centrais:
30
Os elementos cognitivos dessa perspectiva foram reconhecidos pelos filósofos estoicos Epíteto,
Cícero, Sêneca, entre outros, 2 mil anos antes da introdução da TCC (Beck et al., 1979). O
estoico grego Epíteto, por exemplo, escreveu em seu Enchiridion que “os homens não se
perturbam pelas coisas que acontecem, mas sim pelas opiniões sobre as coisas” (Epitectus 1991).
Também nas tradições filosóficas orientais, como o taoísmo e o budismo, a cognição é
considerada como uma força primária na determinação do comportamento humano (Beck et al.,
1979; Campos, 2002).
A Cognição é um termo amplo que se refere ao conteúdo dos pensamentos e aos processos
envolvidos no ato de pensar. Assim, são aspectos da cognição as maneiras de perceber e
processar as informações, os mecanismos e conteúdo de memórias e lembranças, estratégicas e
atitudes na resolução de problemas. A Terapia Cognitiva tem suas origens em correntes
filosóficas e religiões antigas como o estoicismo grego, taoísmo, budismo que postulavam a
influência das ideias sobre as emoções.
31
Rangé (2001a) atenta para o fato de que, historicamente a Terapia Cognitiva teve como
precursora a terapia racional-emotiva de Ellis, mas foi justamente Aaron T. Beck que lhe deu os
contornos atuais. Conforme (Beck et al. 1997a), nossos pensamentos agem diretamente na forma
como nos sentimos e agimos, sendo assim, uma das formas de melhorarmos nosso estado de
humor é controlarmos nossos pensamentos, no sentido de que exerçam um efeito realista sobre a
forma como nos sentimentos perante a nós mesmos, ao mundo e a nosso futuro (tríade
cognitiva). A forma como percebemos e avaliamos os acontecimentos externos e internos a nós,
irá determinar a forma como iremos nos sentir e consequentemente agir perante esses
acontecimentos. Observando e descrevendo as emoções que sentimos, e fazendo uma conexão
entre o que sentimos, e o que previamente a esses sentimentos, pensamos, podemos buscar fazer
uma avaliação realística de nossos pensamentos, para que assim confrontemos nossos
pensamentos distorcidos e sentimentos desagradáveis gratuitos, e os substituímos por
pensamentos condizentes com a realidade.
32
Na TCC, os terapeutas incentivam o desenvolvimento e a aplicação de processos conscientes
adaptativos de pensamento, como o pensamento racional e a solução de problemas. O terapeuta
também dedica bastante esforço para ajudar os pacientes a reconhecer e mudar o pensamento
patológico em dois níveis de processamento de informações relativamente autônomo:
pensamentos automáticos e esquemas (Beck et al., 1979; D. A. Clark et al., 1999; Wright et al.,
2003).
Pensamentos automáticos são cognições que passam rapidamente por nossas mentes
quando estamos em meio a situações (ou relembrando acontecimentos). Embora
possamos estar subliminarmente conscientes da presença de pensamentos automáticos,
normalmente essas cognições não estão sujeitas à análise racional cuidadosa.
Esquemas são crenças nucleares que agem como matrizes ou regras subjacentes para o
processamento de informações. Eles servem a uma função crucial aos seres humanos,
que lhes permite selecionar, filtrar, codificar e atribuir significado às informações vindas
do meio ambiente.
Desde o surgimento da TCC de Beck, essa linha de atuação foi adaptada a uma gama enorme de
populações, com diferentes transtornos ou problemas. Nas adaptações existentes, as técnicas, o
foco e a duração do tratamento podem ser diferentes, porém todas elas baseiam seu tratamento
em uma formulação cognitiva e na consideração sobre as crenças e comportamentos que
caracterizam os transtornos psicológicos (Beck, 2011). Colaborando isso, Knapp e Beck (2008)
ressaltam que a pesquisa e a prática clínica mostraram que a TC (terapia cognitiva) é efetiva na
redução de sintomas e taxas de recorrência, com ou sem medicação, em uma ampla variedade de
transtornos psiquiátricos.
A TCC, segundo Beck (2011), pode ser realizada em pacientes com diferentes níveis de
educação e renda, bem como em culturas e idades variadas. Além disso, hoje em dia é utilizada
em contextos como consultórios, escolas, serviços de saúde e assistência primária, prisões, entre
outros. Seu formato também varia, podendo ser individual, em grupo, para casais e famílias. O
tempo de sessão é mais um fator que pode ser adaptado ao contexto em que a intervenção está
inserida. Uma forma inovadora de atendimentos em TCC, que possui alto impacto e tempo
33
reduzido de tratamento, conhecida como terapia cognitivo-comportamental de alto rendimento
para sessões breves, tem sido desenvolvida por Wright, Sudak, Turkington e Thase (2012). Os
métodos dessa modalidade de tratamento ajudam a produzir melhores desfechos, promovem a
adesão, ajudam a controlar componentes concomitantes ou coexistentes de síndromes
importantes, ajudam na prevenção de recorrências e atingem essas metas em tempos mais
curtos" (Wright et al., 2012).
Os factores citados se referem aos moldes em que a TCC pode ser realizada e, ao mesmo tempo,
conferem validade à sua utilização no tratamento de pessoas com HIV, visto que essa
modalidade de terapia pode ser facilmente adaptada às particularidades dessa população. Somado
a esse aspecto prático da TCC, outro factor que pode auxiliar o tratamento das pessoas com HIV
é o entendimento de seu modo de pensar como fator-chave no aparecimento de emoções e
comportamentos.
A terapia cognitiva vem sendo utilizada no tratamento de doenças orgânicas com o intuito de
reduzir os sintomas e ajudar as pessoas a aceitarem melhor e lidarem de forma mais adaptativa
34
com a condição que lhes acomete. Além disso, outra razão para usar a TCC é que pacientes com
problemas físicos muitas vezes apresentam ansiedade ou depressão, o que é suficiente para
justificar o encaminhamento para um especialista em saúde mental para tratamento (Wright et
al., 2012, p. 234). Church (1998) também ressalta que pessoas com HIV podem ser mais
propensas a apresentar reações que as deixam vulneráveis ao aparecimento de depressão, o que
pode diminuir sua função imunológica. Nesses casos, a TCC pode auxiliá-las a promover
mudanças em seus pensamentos, emoções e comportamentos.
2.15.1. Psicoeducação
Segundo Abreu e Oliveira (2008), uma característica bastante distintiva da terapia cognitiva em
relação a outras abordagens é o seu caráter psicoeducativo. A psicoeducação é uma intervenção
que tem como característica informar ao paciente dados sobre o seu diagnóstico. Informações
que abranjam a etiologia, o funcionamento, o tratamento mais indicado e o prognóstico (Colom
& Vieta, 2004). Ela fornece um potente instrumento não apenas para melhorar a evolução de
pacientes, mas para ajudá-los a gerenciar desespero, medos, estigma e baixa auto-estima. Knapp
(2004) ressalta que a psicoeducação acerca do transtorno melhora a motivação para a mudança e
estimula a participação pró-ativa do paciente na recuperação. A psicoeducação deve ocorrer com
qualquer aspecto importante na vida do paciente, cujas informações insuficientes ou distorcidas
devem ser corrigidas. Ajudando o casal a identificar e elaboral os elementos disfuncionais.
35
2.15.2. Registro de pensamentos disfuncionais (RPD)
Muitas das dificuldades vivenciadas pelo casal acontecem sem que as pessoas se deem conta do
que está por de trás. São os chamados pensamentos automáticos, ou seja, que ocorrem e
interferem no comportamento sem consciência. Por isso a técnica de registro é muito útil para
identificar e conhecer esses padrões de comportamento.
De acordo com Knapp (2004), grande parte do trabalho de identificar, examinar e modificar
cognições utiliza o RPD, originalmente formulado por Beck (1979) e modificado por Judith
Beck (1995). Treinar o paciente e solicitar que ele registre seus pensamentos disfuncionais, no
final do dia ou, de preferência, ainda na vigência do desconforto psicológico, é técnica muito
utilizada na TCC (Junior, 2004).
36
Muitos casais enfrentam graves conflitos por nao conseguir identificar o problema que precisam
combater. Na terapia o casal aprende a transformar uma queixa ou problema em uma dificuldade
clara e especifica para posterior resolução.
Face a isto, a populaça é constituída por casais seroconcordantes que frequentam a consulta
TARV no Hospital Geral de Machava. A escolha desta população baseou-se por esta apresentar
um fenómeno preocupante, que é o HIV/SIDA no seio dos casais, a semelhança de outros
cenários de outras U.S.
3.2.2. Amostra
Para Gil (2008), a amostra é o subconjunto do universo ou da população. Representa uma parte
dos dados da população. Da população ou universo acima descrita 10 foram seleccionados para a
pesquisa, isto é, 5 casais onde um dos parceiros esta em TARV.
Critério de exclusão
38
Não ser casal serodiscordante.
Quanto ao objectivo a pesquisa será descritiva. A classificação dessa pesquisa como descritiva se
dá em razão de descrever as principais características em torno do tema em estudo, assim como
utilizar de técnicas padronizadas para a colecta de dados. Gil (2008) defende que este tipo de
pesquisa tem como objectivo principal a descrição das características de determinada população
ou fenómeno, como também o estabelecimento de relações entre as variáveis.
39
participantes e serão realizadas individualmente pela pesquisadora, no local em alusão (Hospital
Geral de Machava). No decurso da entrevista as perguntas serão desenvolvidas mediante
necessidade de aprofundamento das respostas dos participantes.
A análise dos dados é uma das fases mais importantes da pesquisa, pois a partir dela, é que serão
apresentados os resultados e a conclusão da pesquisa, conclusão essa que poderá ser final ou
apenas parcial, deixando margem para pesquisas posteriores (Marconi & Lakatos, 1996).
Para a análise da informação colhida no campo foi feita a análise de conteúdo que, segundo
Fortin (1999), é um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por
procedimento sistemático e objectivo de descrição dos conteúdos das mensagens ou é
considerada uma técnica para o tratamento de dados que visa identificar o que está sendo dito a
respeito de determinado tema.
Do ponto de vista operacional, a análise de conteúdo inicia pela leitura das falas, realizada por
meio das transcrições de entrevistas, depoimentos e documentos. Geralmente, todos os
procedimentos levam a relacionar estruturas semânticas (significantes) com estruturas
sociológicas (significados) dos enunciados e articular a superfície dos enunciados dos textos com
os factores que determinam suas características: variáveis psicossociais, contexto cultural e
processos de produção de mensagem, (Fortin,1999).
Contudo, esta pesquisa terá em consideração alguns preceitos de ética e deontologia profissional,
tais como: a privacidade (os dados pessoais de cada jovem entrevistos serão tratados segundo os
40
padrões/ standards de privacidade de modo a resguardar a figura do entrevistado. Garantir-se-á o
anonimato dos indivíduos entrevistados; confidencialidade (os dados colectados que digam
respeito aos indivíduos com os quais realizamos a pesquisa serão tratados de forma secreta e
sigilosa); consentimento informado (o poder de escolha e decisão de participar às entrevistas por
parte dos jovens nosso alvo de pesquisa serão por eles mesmos consentida e aprovada. A
participação à entrevista não será um acto de obrigação da nossa parte enquanto pesquisadores);
assentimento informado (será dever nosso informar, pedir aos participantes às entrevistas sobre
as matérias em objecto de estudo. A aprovação dos mesmos será a condição sem a qual se irá
avante com o mesmo participante que se tenha expressado negativamente).
Também a falta de estudos realizados acerca do tema terá de certo modo dificultado o
enriquecimento do presente protocolo.
41
3.9. Orçamento
Total 18.945,00 Mt
4. Referências bibliográficas
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5. ANEXOS
ANEXO I
48
De livre vontade responderei ao questionário e estou informado(a) que não serei remunerado(a)
por isso. Estou informado(a) também que serei resguardado(a) pelo sigilo absoluto, pelas
informações pessoais que fornecerei durante a minha participação do estudo. Declaro ainda estar
ciente que tenho a liberdade de recusar de participar ou interromper a minha participação a
qualquer momento que quiser, sem penalização alguma, nem quaisquer prejuízos pessoal e/ou
profissional. Além disso, estou informado(a) que receberei os esclarecimentos necessários antes,
durante e após minha participação do estudo (caso assim deseje), e terei acesso aos resultados
finais.
O presente inquérito tem como finalidade, colher diferentes concepções a cerca do impacto psicológico
de revelação do diagnóstico da seropositividade em casais serodiscordantes. Neste sentido, peço a sua
colaboração em responder de forma mais sincera possível as perguntas que lhe serão colocadas sobre o
relacionamento que tem com o seu parceiro.
Para as questões que lhe são colocadas, não há respostas correctas ou erradas, nem boas ou más, mas
sim, interessa apenas a sua percepção, os seus pensamentos e sentimento sobre certos assuntos a
49
respeito da revelação do diagnóstico.
1. Caracterização do inquirido
j) Comparando o momento actual da sua vida com o momento antes de conhecer o seu
diagnóstico positivo, acha que houve alguma (s) mudança (s) no seu sentimento de
aproximação e de poder na vossa relação conjugal? Se sim. O que acha que mudou?
50
l) Como está sendo estabelecida a relação de cuidado consigo mesmo e com o outro na
vossa parceria conjugal?
n) Em relação ao seu tratamento e cuidados com a saúde, algo mudou após a revelação?
Fale sobre isso?
51