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INSTITUTO SUPERIOR DE GESTÃO E EMPREENDEDORISMO GWAZA

MUTHINI

CURSO DE LICENCIATURA EM PSICOLOGIA CLÍNICA E SOCIO-EDUCACIONAL

Sara José Chumane

O impacto psicológico da revelação do diagnóstico da Seropositividade em casais


Serodiscordantes: caso Hospital Geral de Machava, período 2020-2021

MARRACUENE
Fevereiro/2022

Sara José Chumane


O impacto psicológico da revelação do diagnóstico da Seropositividade em casais
Serodiscordantes: caso Hospital Geral de Machava, periodo 2020-2021

Projecto de Monografia apresentado ao Instituto


Superior de Gestão e Empreendedorismo Gwaza
Muthini – ISGEGM, como Requisito parcial para a
obtenção do grau de licenciatura em Psicologia
Clínica e Sócio-Educacional.

Supervisor: Dr. Luis Chаuque

MARRACUENE
Fevereiro/2022

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Acrônimos e siglas

CNCS- Conselho Nacional contra o SIDA

DTS- Doenças de Transmissão Sexual

HIV- Vírus da Imunodeficiência Humana

HGM- Hospital Geral da Machava

MISAU- Ministério da Saúde

OMS- Organização Mundial de Saúde

ONG’s- Organizações não Governamentais

ONUSIDA/UNAIDS- Programa Conjunto das Nações Unidas contra o HIV/SIDA

PVHS- Pessoas Vivendo com HIV/SIDA

TB- Tuberculose

TCC- Terapia Cognitivo-Comportamental

TARV- Tratamento Antirretroviral

SIDA- Síndrome de Imunodeficiência Adquirida

US- Unidade Sanitária

2M- Fabrica de cervejas de Moçambique

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Índice

Acrônimos e siglas...........................................................................................................................3

CAPITULO I: INTRODUÇÃO.......................................................................................................6

1. Contextualização...................................................................................................................6

1.1. Delimitação do Estudo......................................................................................................8

1.1.1. Delimitação Temporal...................................................................................................8

1.1.2. Delimitação Espacial.....................................................................................................8

1.2. Identificação do Problema e Justificativa.........................................................................9

1.1.1. Identificação do Problema.............................................................................................9

1.1.2. Justificativa..................................................................................................................10

1.3. OBJECTIVOS.................................................................................................................11

1.3.1. Objectivo Geral...........................................................................................................11

1.3.2. Objectivos Específicos................................................................................................11

1.4. Perguntas de Partida........................................................................................................11

CAPITULO II: REVISÃO DA LITERATURA............................................................................12

2.1. Conceptualização............................................................................................................12

2.1.1. HIV..............................................................................................................................12

2.1.2. Serodiscordancia.........................................................................................................14

2.1.3. Diagnóstico da Seropositividade.................................................................................15

2.1.4. Revelação do diagnóstico............................................................................................16

2.2. Impacto psicológico da seropositividade....................................................................17

2.3. Subsistema Conjugal...................................................................................................17

2.4. Vida afectiva do casal.....................................................................................................18

2.4.1. Afecto..........................................................................................................................18

2.4.2. Vida Sexual.................................................................................................................18

4
2.4.3. A sexualidade e a prevenção após a descoberta da serodiscordância.........................19

2.5. A epidemiologia do HIV/SIDA......................................................................................21

2.6. A epidemiologia do HIV/SIDA em Moçambique.......................................................22

2.7. Diagnóstico do HIV/SIDA..............................................................................................23

2.8. Respostas emocionais ao diagnóstico de HIV/SIDA......................................................24

2.9. Revelação do diagnóstico de HIV/SIDA........................................................................26

2.10. Vantagens da Revelação do diagnóstico.....................................................................28

2.11. O impacto psicológico da revelação do diagnóstico da seropositividade em casais


Serodiscordantes........................................................................................................................28

2.12. Enquadramento teórico conceptual.............................................................................29

2.12.1 A Terapia Comportamental........................................................................................


30

2.12.2. A Terapia Cognitiva....................................................................................................30

2.13. Modelo cognitivo-comportamental.............................................................................31

2.13.1. Níveis de processamento cognitivo...................................................................... 31

2.14. A intervenção cognitivo-comportamental em pessoas com HIV/SIDA.....................32

2.15. Técnicas da Terapia Cognitivo-Comportamental........................................................34

2.15. Psicoeducação..............................................................................................................34

2.15.2. Registro de pensamentos disfuncionais (RPD).........................................................35

2.15. Questionamento Socrático......................................................................................... 35

CAPÍTULO III – METODOLOGIA.............................................................................................36

3.1. Conceito de Método........................................................................................................36

3.2. População e Amostra ano................................................................................................36

3.2.1. População do Estudo...................................................................................................36

3.2.2. Amostra.......................................................................................................................37

3.3. Tipos de Estudo...............................................................................................................38

5
3.4. Instrumentos de recolha de dados...................................................................................38

3.5. Análise e Tratamento de Dados......................................................................................39

3.6. Considerações Éticas.......................................................................................................39

3.7. Limitações do Trabalho..................................................................................................40

3.8. Cronograma de actividades.............................................................................................40

3.9. Orçamento.......................................................................................................................40

4. Referências bibliográficas..................................................................................................41

5. ANEXOS................................................................................................................................47

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CAPITULO I: INTRODUÇÃO
1. Contextualização
As relações sexuais desprotegidas e o consumo de drogas por via endovenosa constituem um dos
maiores factores de risco de transmissão do HIV/SIDA no mundo. O desenvolvimento médico e
farmacológico veio permitir que, através da introdução da terapêutica anti-retroviral, esta
infecção se transformasse numa doença crónica. Gameiro (1999), conceitua doença crónica
como uma limitação e uma ameaça que coloca em causa os recursos e processos habituais
individuais de resolução de problemas, podendo ser considerados como insuficientes.

Um diagnóstico de doença crónica pressupõe mudanças e desafios que requerem uma adaptação
ao papel de doente crónico, que traz mudanças não só para o portador da doença mas também
para os restantes elementos que constituem a sua rede social. A pessoa seropositiva necessita de
se adaptar à doença crónica e a todas as implicações psicológicas e sociais, no que concerne ao
novo papel de doente, à dependência do tratamento, à necessidade de cuidados médicos de forma
continuada e à incurabilidade da doença, podendo estar subjacente a ideia de morte. Por
conseguinte, a fim de compreender o processo de adaptação ao diagnóstico de HIV/SIDA, é
necessário compreender as variáveis clínicas, psicológicas e sociais envolvidas nesta situação,
(Simoni & Pantalone, 2004).

O combate à epidemia do HIV/SIDA é um desafio específico dos tempos actuais e tem sobre ela
direccionados os esforços de diversas áreas científicas. Desde os primeiros anos da sua
descoberta tem-se procurado a cura, mas enquanto ela não é encontrada, o objectivo principal é
mitigar a sua propagação (Machanguana, 2007). Deste modo, há uma necessidade de
desenvolver intervenções com carácter preventivo, que fortaleçam nos diversos grupos
populacionais, as condições para a redução da exposição directa à infecção e a situações de risco,
como afirma (Machanguana, 2007), uma das alternativas de maior alcance, mas também das que
mais mexe com várias sensibilidades, é o uso de preservativo e a prática de sexo seguro.

O medo de não ser aceite pelo companheiro devido ao HIV é um motivo para os solteiros não
procurem um novo relacionmento. Por causa disso, o indivíduo acometido pelo HIV/SIDA na
maioria das vezes se cala e não exige o uso do preservativo, colocando o parceiro em risco. Em
decorrência disso, muitas vezes, os mesmos decidem se relacionar com pessoas também

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seropositivas e dessa forma, consideram a única junção possível em que não precisam do
preservativo, mas essa prática é insegura, já que um expõe o outro a diferentes tipos de vírus, que
podem acarretar resistência à terapêutica anti-retroviral prescrita ( Machanguana, 2007).
Contudo, com a melhoria dos serviços de saúde e o avanço das práticas tecnológicas, hoje as
pessoas com HIV/SIDA têm uma melhor qualidade e expectativa de vida. A cronicidade dessa
doença possibilita-lhes novos sonhos na vida profissional, pessoal e relações amorosas, até
mesmo com pessoas seronegativas.

A presente pesquisa tem como finalidade analisar o impacto psicológico da revelação do


diagnóstico da seropositividade em casais serodiscordantes no Hospital Geral de Machava na
Província de Maputo. Assim sendo, o projecto de pesquisa é composto por três partes, sendo a
primeira constituída por aspectos introdutórios, seguida por revisão da literatura e por fim os
procedimentos metodológicos.

O capítulo I, da introdução, apresenta e ou explica, contextualizando, a pertinência deste estudo,


bem como a sua problematização e questão de pesquisa, a justificativa da escolha do tema e os
objectivos do estudo, terminando com o presente plano de exposição da estrutura do trabalho.

O capítulo II, da revisão da literatura, inicia com a apresentação da epidemiologia do HIV/SIDA


no mundo em geral e em Moçambique em particular, prosseguindo com o conceito, até à
descrição dos factores determinantes para a implicações e da abordagem psicológica.

O capítulo III, descreve de forma sucinta a metodologia que será utilizada para a concretização
da pesquisa, nomeadamente o tipo e o local do estudo, a população e a amostra, bem como a
respectiva técnica de amostragem e critérios de inclusão e de exclusão, as técnicas e os
instrumentos para a recolha dos dados, os procedimentos do estudo, previsão do seu término, as
suas limitações, formas de disseminação e tratamento dos dados, sem esquecer as considerações
éticas levadas em conta em cada passo dado durante a realização do estudo, referências
bibliográfica e apêndice/anexo.

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1.1. Delimitação do Estudo

1.1.1. Delimitação Temporal


Em termos temporais, a pesquisa será realizado num período de 1 ano, sendo 2021, o ano que a
autora entrou em contacto com o objecto do estudo, 2020 foi o período em que a pesquisadora
constatou a evolução do problema e em 2022 período em que será realizada a pesquisa. Desta
feita a pesquisadora ira buscar compreender o impacto psicológico da revelação do diagnóstico
da seropositividade em casais.

1.1.2. Delimitação Espacial

O Hospital Geral da Machava oferece consulta ambulatória para doentes que estiveram
previamente internados atendendo doencas cronicas como diabetes, hipertensão e HIV/SIDA.

Oferece também consultas de psicologia e de oftamologia. Recebe doentes de outra US com


tuberculose e afectados por co-infecções e doentes com todo tipo de patologias pediátricas e
especialmente realiza internamento por desnutrição.
O Hospital Geral da Machava é um Hospital de referência a nível Nacional no tratamento de
Tuberculose no internamento, possui um bloco central constituído por 6 pisos.
A US atende por dia uma média de 400 utentes, por mês 8 mil utentes e durante o ano uma
média de 96 mil utentes. As principais causas de atendimento são doenças crônicas (HIV e
Tuberculose) e doenças infecto-contagiosas (malária, diarreias, pneumonia, etc.)

O hospital Geral da Machava está localizado na Provincia de Maputo, Município da Matola


Posto Administrativo de Infulene, próximo ao Estádio da Machava, no bairro de influene, Av.
Eduardo Mondlane nº 3888, entre o Estádio da Machava e a 2M (fabrica de cervejas) e em frente
a Manduca (estabelecimento comercial).

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1.2. Identificação do Problema e Justificativa

1.1.1. Identificação do Problema


Com os avanços na terapêutica da infeção por HIV e o aumento na esperança média de vida dos
indivíduos infetados, muitos casais afetados por este vírus têm procurado ajuda reprodutiva
(Flaskerud, 1992). 

A resposta emocional ao diagnóstico de HIV/SIDA depende das características do indivíduo


(idade, experiências anteriores, mecanismos de defesa anteriormente utilizados, fontes pessoais
de auto-estima, crenças e regras valorativas), do contexto sociocultural (fontes de apoio
disponíveis e niveis de formação e informação), das características da doença (tipo de doença,
sintomatologia, evolução da patologia, tipo de tratamento e opções de reabilitação) e do
significado da crise mediante a fase do ciclo vital da pessoa. Portanto, as respostas emocionais
face a determinado estímulo stressante dependem de um sistema complexo de integração psico-
afectiva dos sintomas físicos mediante a avaliação cognitiva das ameaças e dos recursos
individuais para a resolução de confrontos (Flaskerud, 1992).

No contexto conjugal, a situação que tem sido cada vez mais presente e desafiante para pacientes
e pessoal de saúde, é a experiência de casais onde apenas um dos cônjuges é portador do HIV.

Por seu turno Santos (2007), fala de uma paciente que descobriu acidentalmente que o marido
era seropositivo e há muito vinha fazendo tratamento sem no entanto comunicá-la alegadamente
porque não sabia qual seria a reacção dela. Para mim como pesquisadora, este caso revela o
medo do impacto de revelação de diagnóstico no subsistema conjugal.

A revelação do diagnóstico de seropositividade para o HIV/SIDA contribui para fortalecer


relações, conforme as características dos relacionamentos familiares prévios ao diagnóstico.
Fioroni (2000) indica que a sobrevivência, o equilíbrio emocional e o convívio social são as
principais áreas afectadas pelas transformações que o HIV/SIDA impõe para o indivíduo.

Diante deste cenário, ficou a seguinte pergunta de partida: Qual é o impacto psicológico da
revelação do diagnóstico da seropositividade no subsistema conjugal em parceiros
serodiscordantes?

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Uma das primeiras questões levantadas pelo paciente é: “mas como isto aconteceu comigo?” A
partir daí, podem surgir problemas relacionados com o medo da desconfiança de infidelidade,
por parte do parceiro negativo (Brambatti, 2001).

1.1.2. Justificativa

O interesse em abordar a temática o impacto psicológico da revelação do diagnóstico da


seropositividade em casais serodiscordantes no Hospital Geral da Machava, surgiu da
necessidade de compreende-lo. A percepção, no paciente, pode ser baseada e sustentada em
observações de comportamentos manifestados pelos restantes membros da família, mas também
em projecções feitas pelo próprio paciente (Bor, Miller & Goldman, 1993).

Neste sentido, a presente pesquisa pretende trazer à superfície o impacto da revelação do


diagnóstico do HIV/SIDA em casais serodiscordantes nos aspectos concernentes às mudanças na
coesão (grau de aproximação entre o casal) e hierarquia sob ponto de vista dos pacientes, bem
como o significado que os mesmos (pacientes) atribuem ao relacionamento familiar nas
categorias em análise em virtude do seu estado actual de saúde (Moreira, 2002).

Este estudo visa recuperar a história de alguns desses casais e procura fazer jus à complexidade
de situações, compreendendo que, muitas vezes, a relação conjugal baseia-se na cumplicidade do
par para a manutenção dos laços afectivos e no enfrentamento das situações impostas pela
doença de um dos parceiros. De ponto de vista prático vai servir de ferramenta para consulta e
complemento para trabalhos similares.

A percepção do impacto psicossocial da serodiscordância na vida afectiva em pacientes, poderá


contribuir para a direcção da Unidade Sanitária, identificar de estratégias de intervenção junto dos
pacientes seropositivos em casais serodiscordantes. Também gostaria através desta pesquisa,
motivar outros investigadores a estudarem esta temática e também servir de referencial teórico
para esse fim.

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1.3. OBJECTIVOS

1.3.1. Objectivo Geral

1. Avaliar o impacto da revelação do resultado da seropositividade em casais


serodiscordantes no Hospital Geral de Machava, no período 2020-2021.

1.3.2. Objectivos Específicos

1. Identificar as reacções psicologicas do casal serodiscordantes após a revelação do


diagnóstico.

2. Descrever a reacção dos parceiros após receber a revelação e o resultado do diagnóstico


de HIV positivo no Hospital Geral de Machava.
3. Enumerar as mudanças percebidas pelo casal após revelação do diagnóstico de HIV
positivo no Hospital Geral Machava-Provincia de Maputo.

1.4. Perguntas de Partida

2. Qual é a reacção do parceiro seronegativo após receber a revelação do resultado do


diagnóstico de HIV positivo no Hospital Geral de Machava?
3. Que mudanças são percebidas pelo parceiro seropositivo após revelar o resultado do seu
diagnóstico de HIV positivo no Bairro de Machava-Provincia de Maputo?
4. Que estratégias devem ser adoptadas para a prevenção do HIV/SIDA e planeamento
familiar?
5. Quais os factores que interferem na adopção de estratégias de prevenção da transmissão
sexual do HIV/SIDA no Hospital Geral de Machava?

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CAPITULO II: REVISÃO DA LITERATURA

2.1. Conceptualização

2.1.1. HIV

O vírus da imunodeficiência humana (HIV) é um agente causador da SIDA (Síndrome de


Imunodeficiência Adquirida), sendo um vírus linfotrópico com afinidade para os linfócitos T
CD4+ responsáveis, em parte, pelo controlo do sistema imunológico, (Weiss, 2007). Este vírus
foi isolado pela primeira vez em 1983 pelos pesquisadores Roberto Gallo, nos EUA, e
LucMontegnier, na França.

O HIV/SIDA foi descoberto pela primeira vez em 1981 nos EUA, tendo sido identificado em
homossexuais do sexo masculino, pouco tempo depois foi reportado na Europa com
características epidemiológicas, imunológicas e clínicas idênticas, constituindo-se actualmente
como uma pandemia, (Magalhães, 2005).

A pandemia do HIV-AIDS atinge, em grande escala, os países subdesenvolvidos. A África


Subsaariana é uma região constituída, na sua maior parte, por países pobres, como já foi
sinalizado, há algum tempo vêm sendo severamente devastados pelos efeitos da pandemia.
Estima-se que cerca de 34 milhões de pessoas vivem com o HIV-AIDS, das quais 23,5 milhões
estão na África Subsaariana. A UNAIDS (2012) assinala que a África Subsaariana persiste como
a região mais afetada pela epidemia, pois mais de 69% de todas as pessoas que vivem com HIV-
AIDS residem nessa região. Os dados mostram uma forte relação entre a pobreza e o HIV-
AIDS. Uma simples comparação entre os dados epidemiológicos desta região e de outras mais
desenvolvidas mostra diferenças significativas nos padrões de manifestação da epidemia. A título
de exemplo, na América do Norte estimava-se, em 2011, uma prevalência de 1,4 milhão de
adultos e crianças vivendo com o HIV-AIDS, enquanto este número alcançava cifras de 23,5
milhões na África Subsaariana (UNAIDS, 2012).

Em Moçambique o primeiro caso foi descoberto em 1986, logo após a Organização Mundial de
Saúde, ter alertado para manifestação da doença na África e particularmente, ter recomendado
aos Países Africanos a constituição do combate ao HIV. Seguindo esta recomendação, foi criada

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em Moçambique no mesmo ano de 1986, a Comissão Nacional do HIV/SIDA, subordinada ao
MISAU (MISAU, 2010).

Estima-se em 35,2 milhões de pessoas vivendo com o vírus de HIV no mundo, e a maior parte
destas pessoas encontram-se na Africa Subsaariana em cerca de 24,7 milhões e Moçambique está
entre os países do mundo com os maiores índices de infecção com HIV, (CNCS, 2009).

As novas estimativas da prevalência do HIV no país, mostram um aumento para 13,2 % entre a
população adulta dos 15 aos 49 anos de idade, que corresponde à 1,5 milhões de habitantes,
contra os anteriores 11,5 % de acordo com o estudo feito em 2009 pelo INSIDA (IMASIDA,
2015).

Esta pandemia, constitui um dos maiores desafios de saúde pública em Moçambique. A principal
forma de contaminação, continua sendo a via sexual em 90% dos adultos, relacionado a prática
de sexo desprotegido, devido as barreiras socioculturais, religiosas e das desigualdades de género
(IMASIDA, 2015).

2.1.2. Serodiscordancia

O uso do termo serodiscordante é utilizado na literatura nacional e internacional para designar


casais heterossexuais ou homossexuais, em que apenas um dos parceiros é portador do
HIV/SIDA e o outro não, (Polejack 2001).

De acordo com os resultados do Inquérito Nacional de Prevalência, Riscos Comportamentais e


Informação sobre o HIV/SIDA (INSIDA) de 2009, 15 por cento de casais que coabitam em
Moçambique estão afectados pelo HIV, isto é, um ou ambos membros são seropositivos. Em 5
por cento dos casais, ambos membros são seropositivos (seroconcordantes positivos), e 10 por
cento dos casais são serodiscordantes para o HIV, isto é, um membro é seropositivo e outro
seronegativo. Nos últimos anos tem-se notado um grande interesse em propagação da doença de
HIV no seio de parceiros sexuais estabelecidos.

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Segundo o Conselho Nacional de Combate ao Sida, ( CNCS, 2004), O perfil da epidemia do HIV
em Moçambique é predominantemente heterossexual, estando mais disseminada entre as
mulheres.

Dentre os países da África Subsahariana, a prevalência, embora alta, é menor do que a


encontrada na África do Sul e maior do que a da Tanzânia, países com quem Moçambique faz
fronteira.

Segundo a informação colhida pelo INSIDA em 2009, um em cada dez casais que coabitam em
Moçambique são serodiscordantes, isto é, um é seropositivo enquanto o outro é seronegativo.

Ewayo, Walque, Fort, Gakii, Lester e Mills (2010) entendem que a medida que a epidemia de
HIV se vai amadurecendo em vários países a proporção de novas infecções ocorridas no seio dos
casais poderá também ter aumentado. Evidências têm mostrado que, a volta dos países, uma
grande proporção de casais com alguma infecção pelo HIV são serodiscordantes. Os
seronegativos de casais serodiscordantes são a população com risco de infecção elevado e
precisam de serviços especialmente desenhados.

Para Maman, Mbwambo, Hogan, Klinzo e Sweat (2001), a decisão de testar-se é influenciada
por factores individuais, relacionais e ambientais, sendo o medo da reacção do parceiro e
dificuldades de comunicação entre o casal importantes barreiras apontadas por mulheres quanto
ao compartilhamento do resultado do exame.

A experiência, para o casal, de conviver com uma doença transmissível, que ainda não tem cura
e que carrega consigo uma série de preconceitos e julgamentos de valor, pode interferir, não
apenas na própria relação, mas também, no processo de tratamento e acompanhamento do
membro seropositivo do casal. Os laços afectivos e sociais podem estar a ser influenciados por
esta condição de serodiscordância, além das questões próprias à relação conjugal. Por
conseguinte, o conhecimento do diagnóstico de HIV positivo dos cônjuges é acompanhado de
sentimentos diversos e o maior ou menor impacto está relacionado a questões complexas que nos
impedem tecer opiniões simples e deterministas.

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2.1.3. Diagnóstico da Seropositividade

Segundo Flaskerud (1992), o diagnóstico da seropositividade afecta as pessoas incluídas na sua


rede social tais como, o parceiro, a família e os amigos, que experienciam os efeitos psicológicos
e sociais inerentes a este diagnóstico.

O parceiro da pessoa seropositiva pode sentir culpa, pode ter receio de contágio através do
contacto prévio com a pessoa ou pode apresentar ansiedade e depressão devido ao diagnóstico do
parceiro. Pode ocorrer perda do equilíbrio no relacionamento devido ao aumento da dependência
física, emocional e financeira do parceiro infectado. A família e os amigos também podem
apresentar as mesmas reacções emocionais e sociais, isto é, choque, negação, ansiedade, raiva,
medo, culpa e depressão.

Holt et al. (1998) referem que o diagnóstico da seropositividade desencadeia uma crise, durante a
qual a pessoa analisa a sua vida, as relações com a família e amigos, o seu autoconceito e as suas
práticas sexuais. As reacções iniciais mais frequentes são de negação e precaução. Embora a não
revelação inicial da sua seropositividade confira tempo para que a pessoa se adapte ao
diagnóstico sem se preocupar com a reacção dos outros ao diagnóstico, também causa maior
isolamento social. No entanto, esta fase é transitória, uma vez que atingido o equilíbrio
emocional, a pessoa apresenta mais estratégias para gerir o stress proveniente da revelação do
diagnóstico à rede social.

2.1.4. Revelação do diagnóstico

Segundo Klitzmane Bayer (2003) a revelação de diagnóstico pode ser entendida como um
processo para comunicar uma informação, potencialmente estigmatizante, que antes foi omissa
com a intenção de preservar o bem-estar psicológico. Simoni e Pantalone (2004), dizem que a
revelação do diagnóstico de seropositividade é influenciada pelo receio de despoletar uma crise
emocional disruptiva com o receptor da informação, e de se tornar alvo de discriminação. Da
mesma forma, é ponderada como impeditiva de uma estratégia de autoprotecção emocional ou
vista como sobrecarga emocional para o receptor da informação.

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De acordo com Holt et al. (1998), as pessoas seropositivas que optam pela revelação da
seropositividade ao parceiro procuram retomar o controlo sobre as suas vidas, procurando
minimizar o stress associado à não revelação e à ansiedade causada por relações sexuais com um
parceiro que desconhece a sua seropositividade. Em alguns casos, pode ocorrer mudança do
padrão de comportamento, reduzindo o número de parceiros sexuais e reduzindo
consequentemente, o número de revelações.

A revelação do diagnóstico da seropositividade ocorre em situações em que o indivíduo portador


do HIV/SIDA confia na pessoa a revelar, pois só a confiança que se estabelece entre ambos
garante a manutenção do segredo, pois o HIV/SIDA continua sendo visto como um assunto
particular e não de revelia pública. Sendo assim, os indivíduos que são mais confiados e com os
quais se estabelece maior cooperação e mutualidade, se tornam merecedores da revelação e aos
que não existe confiança ou é baixa, não se revelam. Porém, reconhecemos que possam existir
situações em que mesmo havendo confiança e reciprocidade, pode não haver a revelação, por se
considerar o HIV/SIDA um assunto particular e privado.

Após a revelação do diagnóstico para o parceiro é preciso apoiar o casal para o enfrentamento da
ansiedade e angústias advindas com esta nova realidade, além disso, esclarecê-los sobre as
possibilidades terapêuticas, aconselhamento sobre as medidas preventivas e realização dos testes
sorológicos pela parceria, visando contribuir para o enfrentamento das dificuldades. O medo da
rejeição, a dúvida da revelação da soropositividade ao parceiro e a insegurança quanto a sua
reação levam, muitas vezes, a não comunicação do diagnóstico nos relacionamentos.

2.2. Impacto psicológico da seropositividade

Miguel e Borges (2002) acreditam que o impacto do diagnóstico da seropositividade despoleta


uma crise perante a qual a condição física, social e psicológica do doente não permite responder
de imediato a este confronto. O doente enfrenta o facto de as suas formas habituais de resolução
de problemas não se aplicarem à crise em questão, podendo surgir reacções emocionais como
negação, ansiedade e mais tarde, a depressão. A natureza destas reacções emocionais é comum e
a sua inexistência poderá pressupor uma adaptação posterior pouco eficaz.

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Por sua vez, Serovich, Esbensen e Mason (2005) acham que a compreensão do impacto da
informação do diagnóstico à família, amigos e parceiros (as) é importante pois a revelação é
imprescindível para a aquisição de suporte sociofamiliar, que demonstrou melhorar as vidas de
quem vive com HIV. A partilha desta informação poderá permitir a aquisição de suporte social,
contribuindo para atenuar sintomas depressivos. O suporte sociofamiliar facilita o
desenvolvimento de estratégias de coping.

Estes autores divergem em relação ao impacto do diagnóstico da seropositividade: os primeiros,


Miguel e Borges (2002) dão ênfase às reacções emocionais como negação, ansiedade e
depressão, enquanto Serovich et al. (2005) consideram que o suporte sociofamiliar facilita o
desenvolvimento de estratégias de coping.

2.3. Subsistema Conjugal

A família é um sistema e o casal é um subsistema que se define em função dos limites de uma
organização hierárquica. Minuchin e Fishman (2003) definem subsistema conjugal como casal
formado pela união de duas pessoas com um conjunto de valores e expectativas, tanto explícitas
quanto inconscientes.

Para o seu funcionamento é necessário abrir mão de parte as suas ideias e preferências, perdendo
individualidade, porém ganhando em pertinência. A formação do subsistema conjugal envolve
uma conjunção entre duas individualidades, “dois sistemas individuais, que sintetizam mais dois
sistemas familiares, além do transgeracional, e do contexto social mais amplo do qual
participam” (Anton, 1998).

2.4. Vida afectiva do casal

18
2.4.1. Afecto
O afecto é um conjunto de fenômenos psíquicos que se manifestam sob a forma de emoções,
sentimentos e paixões, acompanhados sempre de impressão de dor ou prazer, de satisfação ou
insatisfação, de agrado ou desagrado, de alegria ou de tristeza (CODO & GAZZOTTI, 1999).

O problema de HIV ultrapassa a questão individual tornando-se num problema do casal, onde a
forma como cada um lida com as dificuldade pode reflectir no outro. Assim, a diferença do
seroestado no casal assume-se como um desafio para ambos, tornando-se num obstáculo para o
futuro do relacionamento (Magalhães, 2005).

Muitas vezes, quando um casal permanece junto pode não significar necessariamente que haja
uma boa coesão, mas preferirem manter o relacionamento por várias razões. Em alguns casos, as
mudanças derivadas da serodiscordância, podem levar o casal a terminar uma relação estável
(Maksud, 2007).

Um dos desafios que pode surgir tem a ver com a comunicação do casal. A serodiscordância,
levanta muitas dúvidas e receios que o casal pode evitar abordar, manter o silêncio pode
dificultar ainda mais a forma de lidar com a nova realidade.

2.4.2. Vida Sexual

O sexo é visto como um grande componente da vida humana, manifesta-se em todas as fases da
vida, desde o nascimento até a morte. As relações sexuais não estão apenas ligadas a procriação,
mas também a afectividade do individuo, portanto, é importante conhecer a sexualidade das
pessoas infectados e afectadas pelo HIV (Reis, 2004).

2.4.3. A sexualidade e a prevenção após a descoberta da serodiscordância


O facto de o HIV ser transmissível e ainda incurável, impõe mudanças e adaptações no
relacionamento entre casais serodiscordantes, estas mudanças causam impacto no
relacionamento e no comportamento afetivo e sexual (Maksud, 2007).
A autora acima citada, defende ainda que os casais enfrentam diversos desafios no que diz
respeio aos aspectos psicossociais, como o estigma. Pois, desde o inicio, o HIV esteve associado
a práticas sexuais desviantes. O medo de contrair o HIV por parte do parceiro seronegativo, é

19
uma preocupação muito constante e que tem impacto negativo na sexualidade entre parceiros
com serologias diferentes.

Uma das questões suscitadas pela serodiscordância e muito presente no dia-a-dia dos casais, é
que o parceiro infectado é visto como alguém que traz perigo para o parceiro sexual, o que pode
causar muita angústia, bem como sentimentos de culpa e ansiedade (Magalhães, 2005).

Para Bramatti (2001), a redução da libido é provocada por factores psicossociais. Ela considera
que qualquer doença crónica pode inibir o desejo sexual, com impacto sobre a sexualidade
dependendo da adaptação psicossocial à doença.

Embora o uso do preservativo seja percebido como necessário para evitar a transmissão sexual
do HIV ao parceiro seronegativo, os casais apontam o seu uso do mesmo como sendo um dos
fatores que interfere no prazer e na satisfação sexual, o que dificulta a sua aceitação (Reis, 2004).

Maksud (2007), defende que os aspectos emocionais após o diagnóstico geram mudanças que
ocorrem muitas vezes pela dificuldade de adaptação a nova realidade, tanto do parceiro
seropositivo como do seronegativo. A falta de desejo sexual de um dos parceiros gera problemas
na vida sexual do casal, o que pode fazer com que o outro sinta-se frustrado e rejeitado.

A falta do uso do preservativo é tida como uma prova de amor e confiança por parte do parceiro
seronegativo, a prevenção através de sexo protegido remeteria a perda de confiança, o que
abalaria o relacionamento (Perrusi & Franch, 2012).

Pode-se ver claramente que a serodiscordância tem um impacto negativo na sexualidade deste
tipo de casal, pois, além da perda de interesse, eles podem optar pela abstinência por medo de
infectar o parceiro. Portanto, o casal precisa identificar estratégias para diminuir a preocupação
entre a contaminação e a vida sexual activa.

2.4.4. Algumas explicações sobre a serodiscordância entre os casais segundo INSIDA


(2009):

• Muitas vezes quando inicia-se uma relação, as pessoas não sabem se estão ou não
infectadas, e pode ser que já sejam discordantes;

20
• O HIV não é transmitido em cada acto sexual, depende da frequência e exposição sexual;

• Por vezes, um casal torna-se serodiscordante devido a relacionamentos extraconjugais ou


a outras exposições ao HIV. A serodiscordância não é um sinal óbvio de infidelidade e os
casais podem permanecer serodiscordantes por muito tempo, até por mais de 10 anos

• HIV não se espalha tão facilmente dentro dos casais como se pensa, mas membros
seronegativos em casais discordantes continua a ser o grupo de pessoas com maior risco
por infecção;

• Carga viral é um dos factores de risco mais fortes para a transmissão de HIV dentro dos
casais e o uso de TARV pode reduzir o risco de transmissão;

• Sintomas de ITS ambos de úlcera e sem úlcera, foram identificados como factores de risco
para a transmissão por HIV em casais discordantes em vários estudos;

• O uso consistente de preservativo nos casais discordantes demonstrou ser efectivo na


redução de risco de transmissão por HIV nos casais. Maior parte de estudos demonstram
pouco benefício do uso inconsistente de preservativo sobre o não uso de preservativo mas
as evidências não são conclusivas;

• Circuncisão masculina reduz o risco de transmissão para homem seronegativo em relações


discordantes, mas em casais discordantes masculinos a circuncisão não aparenta ser
efectivo na redução de risco de transmissão ao parceiro feminino;

• A idade jovem e gravidez demonstraram serem factores de risco para a transmissão por
HIV em casais discordantes em estudos isolados, porém há poucas evidências de
associação entre transmissão por HIV em casais discordantes e a duração da relação e
frequência de episódios sexuais.

2.5. A epidemiologia do HIV/SIDA


O HIV foi responsável por cerca de 25 milhões de mortes a nível mundial, causando profundas
alterações socio-económicas e demográficas, sem precedentes. Segundo o relatório elaborado
pela UNAIDS (2008), de um ponto de vista global, a epidemia pelo HIV estabilizou. A
prevalência de pessoas que vivem com HIV isto é, a percentagem global de pessoas que vivem
com HIV tem estabilizado desde 2000, embora se mantenha em níveis inaceitavelmente

21
elevados, nomeadamente no que concerne à incidência de infecções pelo HIV e de mortes por
SIDA.

Estimou-se que em 2007, existissem 33 milhões de pessoas a viver com HIV em todo o mundo,
sendo que 30,8 milhões eram adultos. Nos últimos 10 anos, a infecção pelo HIV no sexo
feminino estabilizou globalmente, representando 50% do total de pessoas infectadas pelo vírus,
ainda que tenha aumentado em algumas regiões do mundo. O número de crianças com menos de
15 anos a viver com HIV em 2007 era de 2 milhões tendo aumentado desde 2001. O número de
novos casos de infecção por HIV em 2007 foi de 2,7 milhões, dos quais 2,1 milhões eram adultos
e 370.000 eram crianças com idade inferior a 15 anos tendo decrescido em comparação com o
ano de 2002. O número de jovens com idades entre os 15 e os 24 anos contribuíram com 45%
dos casos de novas infecções a nível mundial. No que diz respeito ao número de mortes devido a
SIDA, também em 2007 faleceram 2,1 milhões de pessoas a nível mundial, sendo que 76% das
mortes ocorreram em África Sub-sariana (UNAIDS, 2008).

África Sub-sariana continua a suportar uma grande percentagem desta epidemia, sendo que cerca
de 67% da totalidade das pessoas que viviam com HIV em 2007 se localizavam nesta parte do
globo. A epidemiologia em África sub-sariana apresenta oscilações de país para país. Na maioria
dos países desta região, a prevalência da infecção pelo HIV parece ter estabilizado embora em
níveis elevados, especialmente em países de África Austral. Em alguns países, a prevalência de
HIV em adultos parece estar a diminuir, como é o caso do Zimbabué, onde a prevalência de HIV
em mulheres grávidas assistidas em clínicas baixou de 26% em 2002 para 18% em 2006. No
Botswana, a prevalência de HIV em grávidas entre os 15 e os 19 anos também baixou. Em países
como a Zâmbia, o Malawi e África do Sul, a epidemia parece ter estabilizado. Em algumas áreas
de Moçambique, a prevalência de HIV em grávidas e a incidência do HIV em jovens entre os 15
e os 24 anos tem estado a aumentar. No Uganda, depois de uma diminuição da prevalência de
HIV em adultos, surgiram sinais de uma possível ressurgência de comportamentos de risco
sexual que poderão conduzir a um novo aumento da epidemia neste país ( UNAIDS, 2008).

No que se refere às principais vias de transmissão do HIV em África sub-sariana, a transmissão


por contacto heterossexual é a mais importante, tendo contribuído para a maior população de
crianças infectadas pelo HIV. De acordo com a Demographic and Health Survey de cinco países

22
africanos (Burkina Faso, Camarões, Gana, Quénia e Tanzânia), dois terços dos casais infectados
pelo HIV eram sero-discordantes e na maioria dos casos, o uso do preservativo era raro. Por
outro lado, a prostituição representa um importante factor na transmissão do HIV em África
Ocidental. Cerca de 35% das prostitutas residentes no Mali em 2006 estavam infectadas pelo
HIV, de acordo com o Ministère de la Santé du Mali (2006), segundo a UNAIDS (2008) o uso de
materiais infectados pelo HIV utilizados para o consumo de drogas por via endovenosa
representa um factor com algum peso na epidemia do HIV em algumas áreas como a Mauritânia.

2.6. A epidemiologia do HIV/SIDA em Moçambique

Moçambique é um dos países do mundo mais afectados pelo HIV/SIDA. Em 2002, estimava-se
que o número de pessoas vivendo com o HIV era de 13% da população adulta, dos 15 aos 49
anos de idade (ONUSIDA/OMS: 2002). Em 2002 surgiram cerca de 83.000 novos casos de
SIDA, e, de acordo com projecções para 2004, estima-se que o número de novos casos venha a
ser de 135.000. ( Barreto et al., 2004) A amplitude da epidemia está a tornar-se evidente, pois é
cada vez maior o número de pessoas com o HIV que está a adoecer.

À medida que a epidemia continuava a espalhar-se pelo país notava-se que aumentava a
consciência do facto e intensificava-se uma reacção à escala nacional envolvendo diferentes
estruturas, a vários níveis. A epidemia tornou-se uma prioridade nacional. Em 1998 o Ministério
da Saúde (MISAU) criou o Programa Nacional de Combate ao SIDA. Em 2000, o primeiro
Plano Nacional de Luta Contra o HIV/SIDA e as DTS foram delineadas em colaboração com a
sociedade civil, as ONG e os organismos doadores. Em 2000, foi criado um mecanismo de
coordenação multissectorial, o Concelho Nacional Contra o SIDA (CNCS), com o objectivo de
envolver todos os sectores da sociedade na resposta à epidemia.

As iniciativas da sociedade civil, sob a forma de campanhas de educação e prevenção, e as


actividades no sentido de apoiar as pessoas que vivem com o HIV/SIDA (PVHS), aumentaram
igualmente. A epidemia do HIV/SIDA revelou a sua capacidade de desencadear reacções de
solidariedade e de apoio por parte das famílias e das comunidades. Contudo, desde que o
primeiro caso de HIV/SIDA em Moçambique foi do conhecimento público, em 1986, surgiram

23
reacções de denegação, estigmatização e discriminação por parte da sociedade, associadas
igualmente à epidemia.

A discriminação espalhou-se rapidamente fomentando o receio e os preconceitos em relação aos


grupos mais afectados e às pessoas que vivem com o HIV/SIDA (ou que se presume estarem por
estes afectados). PVHS houve que foram rejeitadas pelas suas famílias, pelos seus entes queridos
e pelas suas comunidades.

2.7. Diagnóstico do HIV/SIDA

Desde o início da epidemia surgiram concepções sobre o HIV/SIDA que persistem até hoje,
como o da distinção entre um grupo e outro: os portadores dos doentes, os assintomáticos dos
sintomáticos, “eles de nós” (Sontag, 1989). Essa diferenciação pode ter implicações na vivência
da enfermidade, a partir do diagnóstico da infecção do HIV.

Receber resultado positivo hoje é tão diferente do que era no início da epidemia. Parece haver
semelhanças em alguns aspectos e distinções em outros. No que se refere ao preconceito, embora
pareça ter diminuído, este ainda se mostra presente em contextos diversos, inclusive por parte
dos próprios profissionais de saúde (Almeida; Labronici, 2007; Sadala; Marques, 2006).

O medo de sofrer estigma, preconceito ou discriminação faz com que comunicar o diagnóstico
para outras pessoas do convívio sócio-familiar seja uma decisão difícil, cujo acto, muitas vezes,
ainda é evitado e adiado. Nessa perspectiva, pessoas que descobrem a soropositividade vêem-se
diante das seguintes dúvidas e dilemas: se vale a pena, como, quando e para quem comunicar
sobre o diagnóstico (Santos, 2001).

O segredo sobre o HIV pode ter impacto negativo na adesão, na medida em que a pessoa receia
que terceiros desconfiem de sua soropositividade ao descobrirem que usa determinados
remédios, por exemplo. Assim, esconder o diagnóstico pode significar deixar de fazer muitas
coisas do próprio tratamento, como: ir às consultas, fazer exames, pegar os medicamentos e
tomá-los nos horários e doses recomendados (Santos, 2001). Portanto, assumir a condição de
pessoa vivendo com HIV/SIDA e compartilhar o diagnóstico com pessoas de confiança do
convívio sócio-familiar, podem favorecer a adesão adequada e o auto-cuidado.

24
Muitos pacientes, assim que recebem o diagnóstico da infecção pelo HIV, explicitam, directa ou
indirectamente, os possíveis obstáculos para a adesão ao tratamento. Essas dificuldades podem
ser minimizadas, ou mesmo evitadas, no processo de aconselhamento pós-teste (BRASIL, 1997).
É na entrega do resultado que o profissional de saúde pode fazer uma ponte para a adesão ao
tratamento. É no momento do conhecimento do diagnóstico que, se trabalhado com acolhimento,
atenção e respeito, o profissional pode garantir ao paciente o sentimento de vínculo e suporte,
fundamentais para o processo de adesão (Santos, 2001).

Nesta perspectiva, podemos afirmar que o diagnóstico do HIV ainda suscita nas pessoas muitas
questões e desafios de natureza psicológica, social, cultural e económica. Do ponto de vista da
terapêutica e do tratamento, o momento actual tem mostrado avanços na produção de
medicamentos mais potentes, com administração facilitada e com menos efeitos colaterais.

2.8. Respostas emocionais ao diagnóstico de HIV/SIDA

O diagnóstico de seropositividade para o HIV/SIDA representa uma situação stressante, perante


a qual o indivíduo deverá reagir através de esforços cognitivos e comportamentais no sentido de
lidar, reduzir ou tolerar as exigências internas ou externas inerentes à situação. Os esforços de
confronto e as reacções emocionais desencadeados pelos indivíduos face a uma situação
stressante são mediados pelos processos cognitivos do indivíduo, no sentido de adequar as
reacções emocionais às situações, alterando determinadas condições stressantes (Major &
Eccleston, 2005).

De acordo com Flaskerud (1992), existem alguns momentos de crise no decurso da doença, que
são acompanhados por ansiedade intensa, medo e/ou depressão. A crise inicial ocorre aquando
do diagnóstico, sendo a reacção normal caracterizada por descrença, atordoamento e negação,
seguida de raiva, torpor, ansiedade e sintomas depressivos. Quando um elevado grau de
ansiedade persiste durante dois a três meses após o diagnóstico, pode-se manifestar através de
crises de pânico, agitação, taquicardia e comportamentos compulsivos. Durante a fase de
tratamento, pode ocorrer fraqueza, depressão, alienação, disforia e medo relacionados com a
progressão da doença. O doente pode-se sentir socialmente abandonado. As recaídas da doença
podem ser acompanhadas de desesperança, tristeza, baixa auto-estima, desencorajamento,

25
sentimento de inutilidade, isolamento e ideação suicida. Na fase terminal da doença pode surgir
deterioração e decadência, sentimentos de ambivalência, dependência e desinteresse e/ou
resolução.

De acordo com Kubler-Ross (1989), o processo de adaptação à doença grave desenvolve-se por
cinco fases que não são estanques nem obrigatoriamente sequenciais:

1. Negação: corresponde a um tipo de defesa difícil e comum aquando da confrontação com


o diagnóstico, podendo manter-se até ao final. O doente pode isolar-se ou conviver
apenas com pessoas que não se refiram à doença. Esta reacção pode ser assumida
também pelos familiares, nomeadamente quando uma mãe descobre que a
seropositividade de um filho se deve ao contágio por intermédio do marido que
desenvolvia comportamentos bissexuais. Mesmo que o marido o admita, a mãe pode
continuar a negá-lo;
2. Revolta/Raiva: quando a negação já não pode ser mantida, a raiva e a fúria tomam o seu
lugar, podendo manifestar-se de várias formas;
3. Negociação: a revolta dá lugar à negociação, em que a pessoa acredita que a sua vida
pode ser negociada, visando o adiamento da morte. Esta negociação pode decorrer com
profissionais de saúde ou com Deus;
4. Depressão: os sentimentos anteriores podem ser substituídos por frustração, cansaço e
por depressão. A inevitabilidade da morte é reconhecida podendo surgir um desinteresse
geral, isolamento e não realização das actividades de vida diária. Nesta fase, pode surgir
o suicídio;
5. Aceitação: o doente de HIV/SIDA pode atingir uma fase de paz e aceitação, como
sucede com doentes com outras patologias em fase terminal. Quando a angústia e a
sensação de impotência dão lugar à aceitação e ao apoio das pessoas mais próximas, o
doente pode realizar os preparativos necessários e utilizar o tempo para se despedir de
familiares e amigos.

Contudo, nos dias actuais considera-se que o processo de adaptação à doença crónica
(HIV/SIDA) como um processo dinâmico e contínuo, com fases de maior aceitação atingindo o

26
equilíbrio, e outras de maior ansiedade, revolta ou depressão. O tempo é importante no processo
de adaptação embora não seja um elemento facilitador.

2.9. Revelação do diagnóstico de HIV/SIDA

A partilha de informação acerca do diagnóstico de infecção pelo HIV com elementos da rede
social representa uma tarefa difícil do ponto de vista emocional pelo facto de criar uma dupla
oportunidade: de rejeição ou de aceitação social (Berger, Ferrarns & Lashley, 2001). Esta tarefa
levanta questões como a privacidade, vulnerabilidade e identificação com um papel
estigmatizante, correspondendo a um risco social elevado (Korner, 2007).

A revelação do diagnóstico de seropositividade é influenciada pelo receio de despoletar uma


crise emocional disruptiva com o receptor da informação e de se tornar alvo de discriminação
(Simoni & Pantalone, 2004). Da mesma forma, é ponderada como impeditiva de uma estratégia
de auto-protecção emocional ou vista como sobrecarga emocional para o receptor da informação
(Yoshioka & Schustack, 2001; Petrak et al., 2001). Embora a pessoa seropositiva possa ter
beneficiado de reacções positivas face à informação sobre a doença, sempre que existe
necessidade ou vontade de partilha de diagnóstico com outros elementos da rede social, pode
existir ansiedade e receio das reacções por parte dos receptores da informação (Berger et al.,
2001).

De acordo com Green (1995) as pessoas portadoras de infecção pelo HIV podem sofrer por parte
da sociedade, consequências negativas tais como: a perda de emprego, restrições de acesso a
produtos financeiros como seguros, entre outras. Essas atitudes podem ser interiorizadas de
forma negativa pelos doentes seropositivos, existindo uma elevada probabilidade de se sentirem
estigmatizados. Os doentes que antecipam consequências negativas decorrentes da revelação do
diagnóstico têm maior tendência para evitar revelar esta informação (Mansergh et al., 1995).

O suporte social constitui um factor facilitador do ajuste psicológico ao diagnóstico de infecção


por HIV. Tal como sucede noutras doenças crónicas, o suporte social permite atenuar o stress
emocional associado ao diagnóstico de seropositividade, promovendo o bem-estar emocional e
psicológico (Kalichman et al., 2003).

27
A compreensão do impacto da informação do diagnóstico à família, amigos e parceiros (as) é
importante pois a revelação é imprescindível para a aquisição de suporte sócio-familiar, que
demonstrou melhorar a vida de quem vive com HIV. A partilha desta informação poderá permitir
a aquisição de suporte social, contribuindo para atenuar sintomas depressivos. O suporte sócio-
familiar facilita o desenvolvimento de estratégias de coping (Serovich, Esbensen & Mason,
2005).

Existem algumas teorias explicativas acerca da revelação do diagnóstico de seropositividade para


o HIV. De acordo com a teoria de progressão da doença, os indivíduos seropositivos revelam
mais a sua seropositividade à medida que a doença avança, uma vez que os sintomas se vão
tornando mais evidentes (Mansergh et al., 1995). A progressão da doença vai requerendo cada
vez mais internamentos, ocorrendo degradação progressiva do estado de saúde. Perante o risco
de morte iminente, as pessoas podem recear necessitar de maior apoio físico e emocional do que
até esse momento (Serovich et al., 2005). À medida que a severidade dos sintomas aumenta, a
revelação aos membros da família também aumenta (Marks et al., 1992). No entanto, a teoria da
progressão da doença não consegue fundamentar totalmente o mecanismo da comunicação do
diagnóstico à rede social.

Surge por este motivo, outra teoria baseada nas consequências, em que a revelação do
diagnóstico surge após análise dos benefícios e das consequências associados a este
acontecimento. As pessoas seropositivas tendencialmente revelam a informação às pessoas mais
significativas desde que os ganhos superem os custos psicológicos e emocionais associados à
informação do diagnóstico. Embora as teorias explicativas da motivação para divulgação da
informação de seropositividade ajude a compreender o fenómeno, não explicam na totalidade a
envolvência desta problemática (Serovich, 2001).

Segundo Manserghat et al. (1995) e YANG et al (2006)., a informação do diagnóstico de


seropositividade à rede social pode representar um passo no sentido da aceitação social e
consequente suporte social. No entanto, a decisão de informação ou não da seropositividade é
influenciada pela análise dos custos-benefícios desta revelação à rede social isto é, do balanço
que o doente faz entre a vantagem de suporte social para lidar com a doença e o risco de ruptura
das relações sociais. De acordo com estudos efectuados, o estigma associado ao HIV/SIDA tem

28
uma correlação negativa com a predisposição para a revelação do diagnóstico por parte da pessoa
seropositiva isto é, o estigma pode evitar a informação deste diagnóstico a outros elementos da
sua rede social.

2.10. Vantagens da Revelação do diagnóstico

A revelação da seropositividade aos parceiros sexuais permite uma tomada de decisão partilhada
e consciente entre os elementos do casal. A adopção de medidas preventivas na transmissão do
vírus incluem a utilização de preservativo durante as relações sexuais e a não partilha de material
de suporte para o consumo de drogas por via endovenosa (Hart et al., 2005).

2.11. O impacto psicológico da revelação do diagnóstico da seropositividade em casais


Serodiscordantes

O impacto do diagnóstico de infecção pelo HIV despoleta uma crise perante a qual a condição
física, social e psicológica do doente não permite responder de imediato a este confronto. O
doente enfrenta o facto de as suas formas habituais de resolução de problemas não se aplicarem à
crise em questão, podendo surgir reacções emocionais como negação, ansiedade e mais tarde, a
depressão. A natureza destas reacções emocionais é comum e a sua inexistência poderá
pressupor uma adaptação posterior pouco eficaz (Miguel e Borges, 2002). Pode ocorrer uma
diminuição da auto-estima, resultante da perda de autonomia ou devido a um contacto negativo
com o sistema de saúde (Serra, 2005).

Na fase diagnóstica inicial pode surgir a negação que corresponde a um mecanismo de defesa,
permitindo ao doente evitar de forma imediata as implicações inerentes ao diagnóstico. A
negação consiste no bloqueio inconsciente da realidade e das repercussões individuais e sócio-
familiares do diagnóstico O doente age como se a doença não tivesse gravidade ou como se a
doença não tivesse repercussões definitivas e a longo prazo. A negação pode trazer vantagens
ajudando o doente a controlar as suas emoções face à doença no entanto, pode bloquear a
capacidade de gestão desta situação inibindo a procura de cuidados de saúde (Miguel & Borges,
2002).

29
O diagnóstico de seropositividade para o HIV desencadeia uma crise, durante a qual a pessoa
analisa a sua vida, as relações com a família e amigos, o seu auto-conceito e as suas práticas
sexuais. As reacções iniciais mais frequentes são de negação e evitamento. Embora a não
revelação inicial da sua seropositividade confira tempo para que a pessoa se adapte ao
diagnóstico sem se preocupar com a reacção dos outros ao diagnóstico, também causa maior
isolamento social. No entanto esta fase é transitória, uma vez que atingido o equilíbrio
emocional, a pessoa apresenta mais estratégias para gerir o stress proveniente da revelação do
diagnóstico à rede social (Holt et al., 1998).

A ansiedade pode surgir logo após o diagnóstico e de forma intermitente do decurso do processo
de doença. A ansiedade inerente ao processo de doença pode-se atenuar sendo substituída pela
ansiedade face a possíveis complicações, implicações futuras a nível sócioprofissional e seu
impacto nos projectos de vida. A ansiedade pode aumentar ao longo da vida, podendo ser
exacerbada pela iminência da morte (Miguel & Borges, 2002).

A depressão pode surgir no decurso de uma doença crónica, embora de surgimento posterior à
negação e ansiedade, sendo o seu aparecimento mais frequente do que em doenças agudas. De
acordo com alguns estudos, mais de um terço dos doentes crónicos apresentam sintomas
moderados de depressão e mais de um quarto sofre de depressão severa. Dadas as características
da doença crónica, pode ocorrer perda de controlo sobre o próprio corpo e sobre as actividades
de vida diária, conduzindo a sentimentos de desamparo e depressão (Miguel & Borges, 2002).

2.12. Enquadramento teórico conceptual

No presente estudo, será privilegiado o modelo cognitivo-comportamental.

A TCC é uma abordagem originalmente de senso comum que se baseia em dois princípios
centrais:

1. Nossas cognições têm uma influência controladora sobre nossas emoções e


comportamento; e
2. O modo como agimos ou nos comportamos pode afetar profundamente nossos padrões de
pensamento e nossas emoções.

30
Os elementos cognitivos dessa perspectiva foram reconhecidos pelos filósofos estoicos Epíteto,
Cícero, Sêneca, entre outros, 2 mil anos antes da introdução da TCC (Beck et al., 1979). O
estoico grego Epíteto, por exemplo, escreveu em seu Enchiridion que “os homens não se
perturbam pelas coisas que acontecem, mas sim pelas opiniões sobre as coisas” (Epitectus 1991).
Também nas tradições filosóficas orientais, como o taoísmo e o budismo, a cognição é
considerada como uma força primária na determinação do comportamento humano (Beck et al.,
1979; Campos, 2002).

2.12.1. A Terapia Comportamental

A Terapia Comportamental converteu-se em um movimento visível no princípio dos anos 60. É


composta por diferentes conceitos teóricos, estratégias e técnicas, tendo seu início sustentado por
muitos trabalhos como, por exemplo, os de Pavlov sobre o condicionamento clássico, os de
Watson sobre o comportamentalismo, os trabalhos de Thorndike sobre a aprendizagem e,
obviamente, os de Skinner sobre o condicionamento operante (Caballo, 1996). O pressuposto
central da Teoria Comportamental é o de que um comportamento disfuncional foi aprendido e
que pode ser desencadeado por sinais internos e externos associados a ele. A Terapia
Comportamental auxilia o indivíduo a modificar a relação entre a situação que está criando
dificuldade e a habitual reação emocional e comportamental que ele tem naquela circunstância,
mediante a aprendizagem de uma nova modalidade de reação. A nova aprendizagem é
conseguida através de técnicas apropriadas a cada caso.

2.12.2. A Terapia Cognitiva

A Cognição é um termo amplo que se refere ao conteúdo dos pensamentos e aos processos
envolvidos no ato de pensar. Assim, são aspectos da cognição as maneiras de perceber e
processar as informações, os mecanismos e conteúdo de memórias e lembranças, estratégicas e
atitudes na resolução de problemas. A Terapia Cognitiva tem suas origens em correntes
filosóficas e religiões antigas como o estoicismo grego, taoísmo, budismo que postulavam a
influência das ideias sobre as emoções.

31
Rangé (2001a) atenta para o fato de que, historicamente a Terapia Cognitiva teve como
precursora a terapia racional-emotiva de Ellis, mas foi justamente Aaron T. Beck que lhe deu os
contornos atuais. Conforme (Beck et al. 1997a), nossos pensamentos agem diretamente na forma
como nos sentimos e agimos, sendo assim, uma das formas de melhorarmos nosso estado de
humor é controlarmos nossos pensamentos, no sentido de que exerçam um efeito realista sobre a
forma como nos sentimentos perante a nós mesmos, ao mundo e a nosso futuro (tríade
cognitiva). A forma como percebemos e avaliamos os acontecimentos externos e internos a nós,
irá determinar a forma como iremos nos sentir e consequentemente agir perante esses
acontecimentos. Observando e descrevendo as emoções que sentimos, e fazendo uma conexão
entre o que sentimos, e o que previamente a esses sentimentos, pensamos, podemos buscar fazer
uma avaliação realística de nossos pensamentos, para que assim confrontemos nossos
pensamentos distorcidos e sentimentos desagradáveis gratuitos, e os substituímos por
pensamentos condizentes com a realidade.

2.13. Modelo cognitivo-comportamental


Utiliza-se a expressão terapia cognitivo-comportamental (TCC), para se designar a junção da
terapia cognitiva e da terapia comportamental. Segundo o modelo cognitivo-comportamental, a
psicoterapia deverá atuar sobre os pensamentos deflagrados por uma dada situação estimulante,
uma vez que tais pensamentos geram os sentimentos e os comportamentos que caracterizam a
relação do indivíduo com o ambiente que o cerca.

2.13.1. Níveis de processamento cognitivo


Foram identificados três níveis básicos de processamento cognitivo por Beck e seus colegas
(Beck et al., 1979; D. A. Clark et al., 1999; Dobson e Shaw, 1986). O nível mais alto da
cognição é a consciência, um estado de atenção no qual decisões podem ser tomadas
racionalmente. A atenção consciente nos permite:

1. Monitorar e avaliar as interações com o meio ambiente;


2. Ligar memórias passadas às experiências presentes;
3. Controlar e planejar ações futuras (Sternberg, 1996).

32
Na TCC, os terapeutas incentivam o desenvolvimento e a aplicação de processos conscientes
adaptativos de pensamento, como o pensamento racional e a solução de problemas. O terapeuta
também dedica bastante esforço para ajudar os pacientes a reconhecer e mudar o pensamento
patológico em dois níveis de processamento de informações relativamente autônomo:
pensamentos automáticos e esquemas (Beck et al., 1979; D. A. Clark et al., 1999; Wright et al.,
2003).

 Pensamentos automáticos são cognições que passam rapidamente por nossas mentes
quando estamos em meio a situações (ou relembrando acontecimentos). Embora
possamos estar subliminarmente conscientes da presença de pensamentos automáticos,
normalmente essas cognições não estão sujeitas à análise racional cuidadosa.
 Esquemas são crenças nucleares que agem como matrizes ou regras subjacentes para o
processamento de informações. Eles servem a uma função crucial aos seres humanos,
que lhes permite selecionar, filtrar, codificar e atribuir significado às informações vindas
do meio ambiente.

2.14. A intervenção cognitivo-comportamental em pessoas com HIV/SIDA

Desde o surgimento da TCC de Beck, essa linha de atuação foi adaptada a uma gama enorme de
populações, com diferentes transtornos ou problemas. Nas adaptações existentes, as técnicas, o
foco e a duração do tratamento podem ser diferentes, porém todas elas baseiam seu tratamento
em uma formulação cognitiva e na consideração sobre as crenças e comportamentos que
caracterizam os transtornos psicológicos (Beck, 2011). Colaborando isso, Knapp e Beck (2008)
ressaltam que a pesquisa e a prática clínica mostraram que a TC (terapia cognitiva) é efetiva na
redução de sintomas e taxas de recorrência, com ou sem medicação, em uma ampla variedade de
transtornos psiquiátricos.

A TCC, segundo Beck (2011), pode ser realizada em pacientes com diferentes níveis de
educação e renda, bem como em culturas e idades variadas. Além disso, hoje em dia é utilizada
em contextos como consultórios, escolas, serviços de saúde e assistência primária, prisões, entre
outros. Seu formato também varia, podendo ser individual, em grupo, para casais e famílias. O
tempo de sessão é mais um fator que pode ser adaptado ao contexto em que a intervenção está
inserida. Uma forma inovadora de atendimentos em TCC, que possui alto impacto e tempo

33
reduzido de tratamento, conhecida como terapia cognitivo-comportamental de alto rendimento
para sessões breves, tem sido desenvolvida por Wright, Sudak, Turkington e Thase (2012). Os
métodos dessa modalidade de tratamento ajudam a produzir melhores desfechos, promovem a
adesão, ajudam a controlar componentes concomitantes ou coexistentes de síndromes
importantes, ajudam na prevenção de recorrências e atingem essas metas em tempos mais
curtos" (Wright et al., 2012).

Os factores citados se referem aos moldes em que a TCC pode ser realizada e, ao mesmo tempo,
conferem validade à sua utilização no tratamento de pessoas com HIV, visto que essa
modalidade de terapia pode ser facilmente adaptada às particularidades dessa população. Somado
a esse aspecto prático da TCC, outro factor que pode auxiliar o tratamento das pessoas com HIV
é o entendimento de seu modo de pensar como fator-chave no aparecimento de emoções e
comportamentos.

O tratamento cognitivo-comportamental preza por um entendimento individual dos pacientes, em


que o terapeuta busca, por meio de diferentes estratégias e técnicas, produzir uma mudança na
maneira de pensar e no sistema de crenças do paciente, com o intuito de promover uma mudança
emocional e comportamental duradoura. De maneira resumida, o modelo cognitivo propõe que o
pensamento disfuncional, que influencia o humor e o comportamento da pessoa, é comum a
todos os transtornos psicológicos, ou seja, o modo como as pessoas percebem a si mesmas e ao
mundo a seu redor influenciará o que sentem e como se comportam (Beck, 2011).

Com a TCC, a partir da reestruturação colaborativa de distorções cognitivas, a pessoa aprende a


avaliar seu pensamento de maneira mais realista e adaptativa, experienciando, então uma
melhora em seu estado emocional e comportamental. Para melhoras duradouras no humor e no
comportamento, o terapeuta cognitivo trabalha com níveis mais profundos de cognição, ou seja,
com as crenças básicas do paciente sobre si mesmo, o mundo e outras pessoas, sabendo que as
modificações nas crenças do paciente podem alterar sua percepção sobre as situações que
enfrenta diariamente (Beck, 2011; Knapp & Beck, 2008).

A terapia cognitiva vem sendo utilizada no tratamento de doenças orgânicas com o intuito de
reduzir os sintomas e ajudar as pessoas a aceitarem melhor e lidarem de forma mais adaptativa

34
com a condição que lhes acomete. Além disso, outra razão para usar a TCC é que pacientes com
problemas físicos muitas vezes apresentam ansiedade ou depressão, o que é suficiente para
justificar o encaminhamento para um especialista em saúde mental para tratamento (Wright et
al., 2012, p. 234). Church (1998) também ressalta que pessoas com HIV podem ser mais
propensas a apresentar reações que as deixam vulneráveis ao aparecimento de depressão, o que
pode diminuir sua função imunológica. Nesses casos, a TCC pode auxiliá-las a promover
mudanças em seus pensamentos, emoções e comportamentos.

2.15. Técnicas da Terapia Cognitivo-Comportamental

O referencial teórico da terapia cognitivo-comportamental permite que se utilizem várias


técnicas, tanto individuais como em grupo, com o intuito de se trabalhar habilidades de
relacionamento, estilo de vida, ajustamento social, redução do estresse, resolução de problemas,
etc., permitindo mais controle sobre a situação (CADE, 2001).

As técnicas comportamentais são empregadas para modificar condutas inadequadas relacionadas


com o transtorno psiquiátrico em questão (BAHLS, 2004).

2.15.1. Psicoeducação

Segundo Abreu e Oliveira (2008), uma característica bastante distintiva da terapia cognitiva em
relação a outras abordagens é o seu caráter psicoeducativo. A psicoeducação é uma intervenção
que tem como característica informar ao paciente dados sobre o seu diagnóstico. Informações
que abranjam a etiologia, o funcionamento, o tratamento mais indicado e o prognóstico (Colom
& Vieta, 2004). Ela fornece um potente instrumento não apenas para melhorar a evolução de
pacientes, mas para ajudá-los a gerenciar desespero, medos, estigma e baixa auto-estima. Knapp
(2004) ressalta que a psicoeducação acerca do transtorno melhora a motivação para a mudança e
estimula a participação pró-ativa do paciente na recuperação. A psicoeducação deve ocorrer com
qualquer aspecto importante na vida do paciente, cujas informações insuficientes ou distorcidas
devem ser corrigidas. Ajudando o casal a identificar e elaboral os elementos disfuncionais.

35
2.15.2. Registro de pensamentos disfuncionais (RPD)

Muitas das dificuldades vivenciadas pelo casal acontecem sem que as pessoas se deem conta do
que está por de trás. São os chamados pensamentos automáticos, ou seja, que ocorrem e
interferem no comportamento sem consciência. Por isso a técnica de registro é muito útil para
identificar e conhecer esses padrões de comportamento.

De acordo com Knapp (2004), grande parte do trabalho de identificar, examinar e modificar
cognições utiliza o RPD, originalmente formulado por Beck (1979) e modificado por Judith
Beck (1995). Treinar o paciente e solicitar que ele registre seus pensamentos disfuncionais, no
final do dia ou, de preferência, ainda na vigência do desconforto psicológico, é técnica muito
utilizada na TCC (Junior, 2004).

O preenchimento do RPD como tarefa de casa, no intervalo 00das sessões, oportuniza ao


paciente seguir identificando, avaliando e questionando seus pensamentos automáticos. E
permite ao terapeuta ter uma ideia do que realmente ocorre com seu paciente entre as sessões
(Junior, 2004).

2.15.3. Questionamento Socrático

O Questionamento Socrático constitui a ferramenta principal e mais concreta para corrigir


pensamentos disfuncionais (crenças distorcidas), buscando uma ‘maneira’ mais adaptada,
racional e realista de interpretar os estímulos e a realidade da pessoa (Andrade, 2007). Deve ser
feito, a partir da identificação e registro dos pensamentos disfuncionais, encorajando o paciente a
avaliá-los, por meio de perguntas que o levam a pensar e, dessa forma, ter clareza e tomar
decisões racionais a partir de suas próprias conclusões (Cordioli, 2008). O questionamento
socrático pode ser útil para pacientes que acreditam demasiadamente no poder do pensamento
(fusão de pensamento e ação, pensamento mágico) ou na necessidade de controlá-lo. Tais
pacientes expressam o medo de se tornar o contrário: sujos, agressivos, ateus ou com algum
desvio de caráter (Salkovskis et al, 1999, Knapp, 2004).

36
Muitos casais enfrentam graves conflitos por nao conseguir identificar o problema que precisam
combater. Na terapia o casal aprende a transformar uma queixa ou problema em uma dificuldade
clara e especifica para posterior resolução.

CAPÍTULO III – METODOLOGIA


3.1. Conceito de Método

Segundo Gil (2008) a metodologia consiste na explicação minuciosa, detalhada, rigorosa e


exacta de toda acção desenvolvida no método (caminho) do trabalho de pesquisa. Nesta
perspectiva, pode-se dizer que, método científico é um conjunto de procedimentos intelectuais e
técnicos utilizados para atingir o conhecimento.
O presente estudo será norteado pela epistemologia e metodologia qualitativa porque ela oferece
a possibilidade de se investigar processos subjetivos como a vivência, as expectativas e os
impactos emocionais do sujeito da pesquisa, objetivo deste trabalho. A escolha pela abordagem
qualitativa refere-se à necessidade de uma base metodológica que permita o mergulho nesses
processos subjetivos e não os descaracterize.

Segundo Gil (1999), o método qualitativo consiste em compreender, interpretar, descrever e


desenvolver teorias relativas a fenómenos. A pesquisa qualitativa em Psicologia tenta
compreender os fenómenos humanos e sociais, ou seja, as relações de significados.om isso, nesta
secção será descrita os procedimentos utilizados para a pesquisa, a natureza das fontes utilizadas
para o andamento da mesma, além dos métodos e instrumentos usados para a colecta dos dados e
seu tratamento.

3.2. População e Amostra ano

3.2.1. População do Estudo


Segundo GIL (2008), População ou Universo é um conjunto definido de elementos que possuem
determinadas características. O trabalho será desenvolvido na Província de Maputo,
concretamente no Hospital Geral de Machava abrangendo todos pacientes em TARV, com idade
compreendida em 25 há 55 anos que estejam casados ou em algo relacionamento. O Hospital
37
Geral de Machava atende em média mensal 500 casais nas consultas TARV, dos quais cerca de
200 são diagnosticados seropositivos, representando 2.5% da população.

Face a isto, a populaça é constituída por casais seroconcordantes que frequentam a consulta
TARV no Hospital Geral de Machava. A escolha desta população baseou-se por esta apresentar
um fenómeno preocupante, que é o HIV/SIDA no seio dos casais, a semelhança de outros
cenários de outras U.S.

3.2.2. Amostra

Para Gil (2008), a amostra é o subconjunto do universo ou da população. Representa uma parte
dos dados da população. Da população ou universo acima descrita 10 foram seleccionados para a
pesquisa, isto é, 5 casais onde um dos parceiros esta em TARV.

Para a escolha da amostra, optou-se pela amostragem probabilística do tipo “Amostragem


Aleatória Simples”. De acordo com GIL (1999), a Amostragem Aleatória Simples consiste em
atribuir a cada elemento da população um número único para depois seleccionar alguns desses
elementos de forma casual.

Serão considerados critérios de inclusão na amostra:

 Ser casado e aderente ao TARV no Hospital Geral da Machava;


 Ter idade compreendida entre 25 a 55 anos de idade;
 Ter revelado o seu seroestado ao parceiro/a;
 Estar disponível no momento da colecta de dados;
 Ser casal serodiscordante para o HIV.

Critério de exclusão

 Ser paciente de outras patologias;


 Pacientes não aderentes;’
 Não ter revelado o seu seroestado ao parceiro/a;
 Ter idade inferior 25 anos de idade e superior de 55 anos de idade;

38
 Não ser casal serodiscordante.

3.3. Tipos de Estudo


Quanto a natureza a pesquisa será qualitativa, isto é, na medida em que ela analisar o impacto da
revelação do resultado da seropositividade no seio do casal serodiscordantes no Hospital Geral
de Machava – província de Maputo, no período 2019-2020. Segundo Oliveira (2011), a pesquisa
qualitativa consiste na obtenção de dados descritivos, obtidos no contacto directo do pesquisador
com a situação estudada, enfatiza mais o processo do que o produto e se preocupa em retratar a
perspectiva dos participantes. Entre as várias formas que pode assumir uma pesquisa qualitativa,
destacam-se a pesquisa do tipo etnográfico e o estudo de caso. Para esta pesquisa será estudo de
caso.

Quanto ao objectivo a pesquisa será descritiva. A classificação dessa pesquisa como descritiva se
dá em razão de descrever as principais características em torno do tema em estudo, assim como
utilizar de técnicas padronizadas para a colecta de dados. Gil (2008) defende que este tipo de
pesquisa tem como objectivo principal a descrição das características de determinada população
ou fenómeno, como também o estabelecimento de relações entre as variáveis.

Com isso, observando as técnicas expostas acima, o trabalho utiliza de procedimentos


sistemáticos para a descrição e explicação dos factos sobre o impacto da revelação do resultado
da seropositividade no seio do casal serodiscordantes.

3.4. Instrumentos de recolha de dados


Tratando-se de uma pesquisa de natureza qualitativa e baseados na natureza do problema e os
objectivos do estudo, será usada uma entrevista semi-estruturada como instrumento de recolha de
dados. Segundo Gil (2008), a entrevista semi-estruturada permite que o entrevistado responda as
perguntas abertamente dentro de uma conversação informal. Além dos dados sóciodemográficos
(idade, escolaridade, sexo, profissão, ano de serviço na instituição), o guião de entrevista será
composto por cinco questões iniciais, as quais foram concebidas com base nos objectivos
específicos do estudo. As entrevistas serão agendadas mediante a disponibilidade dos

39
participantes e serão realizadas individualmente pela pesquisadora, no local em alusão (Hospital
Geral de Machava). No decurso da entrevista as perguntas serão desenvolvidas mediante
necessidade de aprofundamento das respostas dos participantes.

3.5. Análise e Tratamento de Dados

A análise dos dados é uma das fases mais importantes da pesquisa, pois a partir dela, é que serão
apresentados os resultados e a conclusão da pesquisa, conclusão essa que poderá ser final ou
apenas parcial, deixando margem para pesquisas posteriores (Marconi & Lakatos, 1996).

Para a análise da informação colhida no campo foi feita a análise de conteúdo que, segundo
Fortin (1999), é um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por
procedimento sistemático e objectivo de descrição dos conteúdos das mensagens ou é
considerada uma técnica para o tratamento de dados que visa identificar o que está sendo dito a
respeito de determinado tema.

Do ponto de vista operacional, a análise de conteúdo inicia pela leitura das falas, realizada por
meio das transcrições de entrevistas, depoimentos e documentos. Geralmente, todos os
procedimentos levam a relacionar estruturas semânticas (significantes) com estruturas
sociológicas (significados) dos enunciados e articular a superfície dos enunciados dos textos com
os factores que determinam suas características: variáveis psicossociais, contexto cultural e
processos de produção de mensagem, (Fortin,1999).

3.6. Considerações Éticas


Toda pesquisa pode eventualmente levantar alguma problemática de natureza ética. Este trabalho
porá em acto algumas medidas éticas que não resultarão numa interferência negativa para a
obtenção dos resultados de pesquisa e do alcance dos objectivos. As entrevistas serão feitas a
pessoas em pleno uso das suas capacidades cognitivas e com uma autonomia pessoal, tratando-se
de pacientes aderentes ao TARV.

Contudo, esta pesquisa terá em consideração alguns preceitos de ética e deontologia profissional,
tais como: a privacidade (os dados pessoais de cada jovem entrevistos serão tratados segundo os

40
padrões/ standards de privacidade de modo a resguardar a figura do entrevistado. Garantir-se-á o
anonimato dos indivíduos entrevistados; confidencialidade (os dados colectados que digam
respeito aos indivíduos com os quais realizamos a pesquisa serão tratados de forma secreta e
sigilosa); consentimento informado (o poder de escolha e decisão de participar às entrevistas por
parte dos jovens nosso alvo de pesquisa serão por eles mesmos consentida e aprovada. A
participação à entrevista não será um acto de obrigação da nossa parte enquanto pesquisadores);
assentimento informado (será dever nosso informar, pedir aos participantes às entrevistas sobre
as matérias em objecto de estudo. A aprovação dos mesmos será a condição sem a qual se irá
avante com o mesmo participante que se tenha expressado negativamente).

3.7. Limitações do Trabalho

Durante a realização do estudo prevê-se dificuldades orçamentais para a reprodução de


inquéritos, informação deturpada, por vezes os inquiridos não dirão a verdade, falta de atenção
por parte dos pacientes e, por conseguinte da população da amostra.

Também a falta de estudos realizados acerca do tema terá de certo modo dificultado o
enriquecimento do presente protocolo.

3.8. Cronograma de actividades


Actividades 2021 2022
Nov Dez. Jan. Fev. Marc. Abril
.
Elaboração do protocolo de pesquisa X
Submissão do protocolo de pesquisa X
Aprovação do protocolo de pesquisa X
Recolha de dados X
Análise e interpretação de dados X
Entrega da Monografia e defesa X

41
3.9. Orçamento

N/O Material/ Quantidade Valor Preço total


equipamento

1 Resma 1 400,00 400,00

2 Esferográfica 2 15.00 30,00

3 Lápis 1 15.00 15,00

4 Borracha 1 15.00 15,00

5 Internet café N/A 2.500.00 2.500,00

6 Copias N/A 2.000,00 2.000,00

7 Impressão N/A 3.000,00 3.000,00

8 Transporte N/A 5.000,00 5.000,00

9 Lanche N/A 6.000,00 6.000,00

Total 18.945,00 Mt
4. Referências bibliográficas

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5. ANEXOS
ANEXO I

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

No âmbito do trabalho do fim de Curso de Licenciatura em Psicologia Clínica e Sócio-


Educacional no Instituto Superior de Gestão e Empreendedorismo Gwaza Muthini, estamos a
realizar, neste hospital, um estudo sobre o “Impacto psicológico de revelação do diagnóstico da
seropositividade em casais serodiscordantes” e convidamos ao Sr./Sr.ª para participar. O
objectivo do estudo é conhecer o impacto psicológico de revelação do teste da seropositividade e
suas consequências em casais serodiscordantes. Os resultados da pesquisa poderão ajudar à
casais serodiscordantes para que possam compreender o significado da seropositividade.

48
De livre vontade responderei ao questionário e estou informado(a) que não serei remunerado(a)
por isso. Estou informado(a) também que serei resguardado(a) pelo sigilo absoluto, pelas
informações pessoais que fornecerei durante a minha participação do estudo. Declaro ainda estar
ciente que tenho a liberdade de recusar de participar ou interromper a minha participação a
qualquer momento que quiser, sem penalização alguma, nem quaisquer prejuízos pessoal e/ou
profissional. Além disso, estou informado(a) que receberei os esclarecimentos necessários antes,
durante e após minha participação do estudo (caso assim deseje), e terei acesso aos resultados
finais.

Assinatura do/a participante: ________________________________________________


Estudante (Pesquisadora principal): ___________________________________________
Sara José Chumane Tel. Celular: +258 841 282 757
E-mail: sara.jchumane@gmail.com

Guião de entrevista dirigido a HGM

Eu Sara José Chumane estudante do Instituto Superior de Gestão e Empreendedorismo Gwaza


Muthini, frequentando o curso de licenciatura em Psicologia Clínica e Sócio-Educacional venho nesta
instituição (HGM) a fim de realizar um inquérito, para o Trabalho do Fim de Curso.

O presente inquérito tem como finalidade, colher diferentes concepções a cerca do impacto psicológico
de revelação do diagnóstico da seropositividade em casais serodiscordantes. Neste sentido, peço a sua
colaboração em responder de forma mais sincera possível as perguntas que lhe serão colocadas sobre o
relacionamento que tem com o seu parceiro.

Para as questões que lhe são colocadas, não há respostas correctas ou erradas, nem boas ou más, mas
sim, interessa apenas a sua percepção, os seus pensamentos e sentimento sobre certos assuntos a

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respeito da revelação do diagnóstico.

1. Caracterização do inquirido

1.1. Sexo F_____/M______


1.2. Idade____________
1.3. Nome do participante_________________________________
1.4. Ocupação _________________

2.Impacto psicológico de revelação do diagnóstico da seropositividade em casais


serodiscordantes

a) Ja revelou o seu seroestado ao seu parceiro/a?

b) Antes de se descobrir seropositividade, você acreditava que poderia se infectar?

c) Como foi a reacção do parceiro ao revelar o seu diagnóstico?

d) Como foi receber o resultado seropositivo do seu parceiro/o?

e) Como é conviver com um parceiro (a) que não é seropositivo?

f) Como é conviver com um parceiro (o) seropositivo?

g) Como foi a revelação do diagnóstico do HIV/SIDA para o parceiro?

h) Houve conversa /dialogo sobre o risco e prevenção de adquirir HIV/SIDA?

i) Como a parceira (o) percebe o risco de contaminação pelo HIV?

j) Comparando o momento actual da sua vida com o momento antes de conhecer o seu
diagnóstico positivo, acha que houve alguma (s) mudança (s) no seu sentimento de
aproximação e de poder na vossa relação conjugal? Se sim. O que acha que mudou?

k) Há um reconhecimento do grau de risco associado ao estilo de vida do casal?

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l) Como está sendo estabelecida a relação de cuidado consigo mesmo e com o outro na
vossa parceria conjugal?

m) Que aspectos positivos ou negativos verifica no relacionamento conjugal que resultam do


facto de você ser seropositivo?

n) Em relação ao seu tratamento e cuidados com a saúde, algo mudou após a revelação?
Fale sobre isso?

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