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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA À DISTÂNCIA
DISCENTE FRANCISCO ROBSON GRACIANO DE SOUZA
PROFESSORA ORIENTADORA JANAINA SPEGLICH DE AMORIM CARRICO

O PEDAGOGO E OS DISTURBIOS DE AMPRENDIZAGEM - DISLEXIA;


DISCALCULIA; DISGRAFIA; DISORTOGRAFIA E A HIPERATIVIDADE

MACAU
2017
RESUMO
O presente trabalho, O pedagogo e os Distúrbios de Aprendizagem, trata dos
principais distúrbios de aprendizagem, a Dislexia, a Discalculia, a Disgrafia, a
Disortografia e a Hiperatividade. Quanto as suas características, apresentando
o profissional pedagogo, nas atividades laborais intra e extra de sala de aula,
como profissional habilitado, capaz de reconhecer, em seus alunos, sinais de
possíveis distúrbios de aprendizagem e assim pode-lo encaminhar, ou orientar
que o seja, ao setor e/ou profissional responsável para seu possível
diagnóstico. Assim sendo, o objetivo deste estudo é apresentar os principais
distúrbios de aprendizagem, e oferecer aporte teórico aos profissionais da
educação. Este estudo foi desenvolvido por meio da pesquisa qualitativa de
cunho bibliográfico, fundamentando-se no material já produzido sobre o
assunto e pautado na atuação e possibilidades de atuação do profissional
pedagogo junto a alunos com distúrbios de aprendizagem. Utilizado como base
de dados os sites: Google Acadêmico e Scielo. Atribuindo como critérios de
inclusão os estudos publicados de 2006 a 2017 que apresentam a atuação do
pedagogo no encaminhamento e no trabalho de alunos com Distúrbio de
Aprendizagem: estudo completo de acesso livre, estudo de caso, estudo
observacional transversal, estudo descritivo, revisão bibliográfica. E como
critérios de exclusão: trabalhos de estudos com equipes multidisciplinares que
não enfatizavam o papel do professor e os que não apresentavam consistência
teórica. Restaram seis estudos. Acentuamos da importância do pedagogo
saber diferenciar dificuldades de aprendizagem dos distúrbios de
aprendizagem. No material estudado, são descritos como principais Distúrbios
de Aprendizagem: a Dislexia, a Discalculia, a Disgrafia, a Disortografia e a
Hiperatividade. Os estudos corroboram na asserção de que ainda há, por parte
das escolas e dos professores, um alto índice de desconhecimento dos
distúrbios, sinais característicos, persistindo a intervenção inadequada ao aluno
que apresenta dificuldade(s) de aprendizagem (o que pode ser característico
do Distúrbio de Aprendizagem); que esses atribuem causas diversas às
dificuldades de aprendizagem. Fato que pode estar relacionado, em muitos
casos, a uma formação acadêmica deficitária que tem sequência nas
formações continuadas. Concluímos que é essencial, ao exímio trabalho
docente, que o professor, bem como os demais profissionais da educação,
conheça os sinais referentes aos Distúrbios de Aprendizagem, para auxílio ao
encaminhamento a um possível diagnóstico e atuação junto ao aluno. E que a
intervenção dada aos alunos com Distúrbios de Aprendizagem precisa fazer jus
às necessidades que eles apresentam.

Palavras-Chave: Pedagogo, Distúrbios de Aprendizagem, Diagnóstico,


Trabalho
1. INTRODUÇÃO

Distúrbio de Aprendizagem é uma expressão que se refere a um grupo


heterogêneo de distúrbios manifestados por dificuldades intensas na aquisição
e utilização da compreensão auditiva, da fala, da leitura, da escrita e do
raciocínio matemático, considerado como uma disfunção do Sistema Nervoso
Central (SNC), relacionado a uma falha no processo de aquisição ou de
desenvolvimento (LOPES et al., 2011; National Joint Committee on Learning
Desabilites, 1991 apud GARCIA et al., 2007 ; PEREIRA et al., 2010).
Acredita-se que a sua origem esteja relacionada a problemas na
interligação de informações nas várias regiões do cérebro (PEREIRA et al.,
2010). Sua prevalência é 2 a 10% da população geral, sendo a incidência 60 a
80% no sexo masculino (GARCIA et al., 2007).
As Diretrizes Nacionais para Educação Especial na Educação Básica
(2001, p. 6), tratam da adoção do conceito de necessidades educacionais
especiais e do horizonte da educação inclusiva, apontando a necessidade de
mudanças significativas no que diz respeito à forma como a escola organiza o
seu trabalho para as crianças com dificuldades de aprendizagem. Nesse
documento, afirma-se que em vez de se pensar o aluno como origem de um
problema, exigindo-se dele ajustamento a padrões de normalidade para
aprender como os demais, coloca-se para o sistema de ensino e para as
escolas o desafio de construir coletivamente as condições para atender bem à
diversidade de seus alunos.

Para tanto, é importante a adequada formação docente. A Política


Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2014),
...trata da formação adequada de professores e demais
profissionais envolvidos na educação para um atendimento
educacional especializado para inclusão escolar. (...) Esse
atendimento tem como função identificar, elaborar e organizar
recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as
barreiras para plena participação dos estudantes, considerando
suas necessidades específicas.

Pode-se pensar também que os distúrbios de aprendizagem também


requerem atenção especializada, embora a Política Nacional de Educação
Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva não os considerem público alvo
da Educação Especial. Visto que, o termo necessidades educacionais
especiais é referência a todo tipo de dificuldade de aprendizagem, não
somente às deficiências (MACHADO, 2011).

Desse modo, esse estudo apresenta o distúrbio de aprendizagem,


reconhecido por profissionais da saúde, como um transtorno neurobiológico
cognitivo e/ou processamento de linguagem causada pelo funcionamento
cerebral atípico (SILVER et al, 2008 apud LOPES et al., 2011). Manifestam-se
por dificuldades significantes na aquisição e uso da escuta, fala, leitura, escrita,
raciocínio ou habilidades matemáticas (LOPES et al., 2011)

Nos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental e


Médio (1998), o Governo já se preocupou em apresentar as “Adaptações
Curriculares dos Parâmetros Curriculares Nacionais” para educação de alunos
com necessidades especiais. O documento visa assegurar a inserção do aluno
com necessidade educativa especial nas dinâmicas do ensino regular, que se
confirma na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), no capítulo
V da Lei Nº 9.394 que, entende-se por educação especial, a modalidade de
educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para
educandos portadores de necessidades especiais (Art. 58º).
Na Constituição Federal de 1988, são garantidos o direito a educação a
todas as crianças, como expresso em seu artigo 205:
A educação, direito de todos e dever do Estado e da família,
será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade,
visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo
para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho.

Voltando a LDB, em seu artigo 59, incisos I e III, trata da obrigatoriedade


da adequação do ensino às necessidades educacionais especiais:
Art. 59. Os sistemas de ensino asseguraram aos educandos
com necessidades especiais:
I – Currículo, métodos, técnicas, recursos educativos e
organização específicos para atender às suas necessidades;
III – Professores com especialização adequada (...) para
atendimento especializado...

Desse modo, fica clara a necessidade de o professor, intra e extra sala


de aula, conhecer e reconhecer os distúrbios de aprendizagem para assim,
poder diferencia-los das dificuldades de aprendizagem, admitindo-se
competente para encaminhar o aluno para aferição e possível diagnóstico. Tal
conhecimento possibilitará, ao professor, pautar suas aulas na real
necessidade do aluno, facilitando a este o acesso, de fato, a educação.
O pedagogo exerce importante papel na escola tanto ambiente intra sala
de aula quanto em extra sala de aula. Despertando o interesse pelo saber,
proporcionando o desenvolvimento em cada aluno, na criatividade e
capacidade de construir sua própria história de vida (RODRIGUES e
SILVEIRA, 2008). O pedagogo é, na escola, em especial na sala de aula, o
profissional que intrinsecamente lida com as crianças. Podendo, pela
observação, levantar a hipótese de possíveis distúrbios de aprendizagem,
embora ele não seja o profissional cujo papel é diagnosticar tais distúrbios.
Através dos registros observacionais e atividades específicas em grupo e
individual, ao profissional é possível identificar e encaminhar o(s) aluno(s) ao
setor e/ou profissional responsável para avaliação, permitindo ainda uma
melhor elaboração de estratégias de trabalho pedagógico.

Segundo PEREIRA, et al (2010),


A quantidade de crianças, em cada escola, que
apresenta algum distúrbio de aprendizagem ou dificuldade para
aprender é extremamente variável, pois depende do tipo de
conceito utilizado, da classificação adotada, do critério de
avaliação, bem como das características da própria criança e
sistema de ensino em que está inserida.

Assim sendo, o estudo justifica-se pelo fato de, no Brasil, a incidência


dos Distúrbios de Aprendizagem variar em torno de 2 a 10% da população
geral com dificuldade acadêmica (GARCIA et al., 2007; CIASCA, 2003 apud
PEREIRA et al., 2010); por ser a escola o principal meio de acesso da criança
a língua escrita, o que torna fundamental que os professores e coordenadores
conheçam e adequem seus métodos de ensino para que possam atender todas
as crianças e não somente aquelas que não possuem nenhuma dificuldade
educacional (LOPES et al., 2011).

O objetivo deste estudo é apresentar os principais Distúrbios de


Aprendizagem a fim de que os profissionais da educação possam conhecer
alguns indícios destas particularidades e, assim, terem mais elementos para
possíveis encaminhamentos de alunos aos profissionais responsáveis pela
avaliação e diagnóstico. Oferecendo aporte ao conhecimento dos Distúrbios de
Aprendizagem e sinais para identificação (e posterior encaminhamento) da
criança.

O estudo aborda a importância do professor na escola, na identificação e


lida com alunos com distúbios de aprendizagem. Apresenta os principais
distúrbios de aprendizagem, fornecendo informações que auxiliem ao seu
possível reconhecimento e consequente encaminhamento ao diagnóstico.
2. DESENVOLVIMENTO DO ESTUDO

O presente estudo foi desenvolvido por meio da pesquisa qualitativa de


cunho bibliográfico, fundamentando-se no material já produzido sobre o
assunto e pautado na atuação e possibilidades de atuação do profissional
pedagogo junto a alunos com distúrbios de aprendizagem.

A princípio, consideramos como bases de dados os sites: Google


Acadêmico e Scielo, tendo como descritores: “Pedagogo”, “Distúrbios de
Aprendizagem”, “Diagnóstico”, “Trabalho”. Atribuindo como critérios de inclusão
os estudos publicados de 2006 a 2017 que apresentam a atuação do pedagogo
no encaminhamento e no trabalho de alunos com Distúrbio de Aprendizagem:
estudo completo de acesso e livre, estudo de caso, estudo observacional
transversal, estudo descritivo, revisão bibliográfica. Foram considerados os
seguintes critérios de exclusão: trabalhos de estudos com equipes
multidisciplinares que não enfatizavam o papel do professor e os que não
apresentavam consistência teórica.

Após leitura apreciativa dos trabalhos, restaram seis estudos que


descrevem como se dá a realização do diagnóstico, a intermitente participação
do professor na identificação de crianças com possível Distúrbio de
Aprendizagem, ganhos, passíveis ao aluno, quando o professor está preparado
para identificação e trabalho pedagógico considerando esta particularidade.

A seguir são apresentados alguns trabalhos que sustentaram a


argumentação deste artigo em torno da temática dos Distúrbios de
Aprendizagem, e auxiliarão à compreensão:

TÍTULO/AUTOR/ REVISTA - OBJETIVO(S) METODOLOGIA/RESULTADOS CONCLUSÃO


ANO DE PUBLICAÇÃO

Estudo Analítico do Investigar a Estudo analítico com Os professores apresentam


conhecimento do professor a concepção de aplicação de questionário. conhecimento pouco
respeito dos distúrbios de professores acerca A orientação fonoaudiológica em fundamentado a respeito dos
aprendizagem/ LOPES, dos distúrbios de palestra de formação (mesmo que distúrbios de aprendizagem e
Raquel Caroline Ferreira; aprendizagem, em um reduzido intervalo de tempo), não sabem quais condutas
CRENITTE, Patrícia Abreu buscando revelar propiciou mudanças na concepção devam ser tomadas frente a
Pinheiro/ CEFAC – 2012 diferentes aspectos dos professores a respeito dos esses problemas.
referentes à distúrbios de aprendizagem.
maneira como a
percebem no
cotidiano da sala de
aula, quais fatores
atribuem como
causa do problema,
e se houve
mudança deste
conhecimento após
orientação
fonoaudiológica.

Detecção dos sintomas da (1) Identificar as Pesquisa bibliográfica e de Os professores ainda não
dislexia e contribuições causas da dislexia campo. apresentam conhecimento
pedagógicas no aspecto nas crianças do A escola ainda não está sobre a dislexia, que não
ensino aprendizagem para ciclo I do ensino preparada para trabalhar com o estão preparados a oferecer
alunos do ciclo I do ensino fundamental; (2) aluno disléxico, com possíveis um ensino adequado a estes
fundamental/ RICHART, Verificar o sintomas de dislexia ou que alunos e que há uma
Marley Barbosa; BOZZO, conhecimento que apresentem outra dificuldade de quantidade significativa de
Fátima Eliana Frigatto/ 2009 os professores têm aprendizagem. alunos com possíveis
em relação à sintomas de dislexia.
dislexia; (3)
Diagnosticar na
escola quantos
alunos apresentam
possíveis sintomas
da dislexia.

O conhecimento de Investigar o Questionário informativo de 10 Os professores logram um


Professores de 1ª a 4ª série conhecimento dos questões, aplicados a 50 saber pouco fundamentado a
quanto aos distúrbios da professores de 1ª a professores de 1ª a 4ª série, da respeito do distúrbio da leitura
leitura e escrita/ FERNADES, 4ª série quanto ao cidade de Bauru. Os questionários e da escrita. As dificuldades
Barbosa Graciela; distúrbio da leitura foram analisados e tabulados, e estavam na identificação real
CRENITTE, Patrícia Abreu e da escrita, receberam tratamento estatístico do problema, de quais
Pinheiro/ CEFAC - 2008 pesquisando quais pertinente. manifestações caracterizam
dificuldades Os professores possuem um esse problema, e de como
referentes a esse conhecimento superficial a respeito intervir e prevenir.
distúrbio foram do distúrbio da leitura e da escrita,
apresentadas por seno que muitos adquiriram tal
estes professores conhecimento fora da graduação.

Acuracidade do professor na (1) Comparar a Dois estudos de correlação com Conclui-se pela acuracidade
identificação de alunos com avaliação de 49 crianças em São Paulo-SP e 22 do julgamento do professor.
dificuldades de professores sobre a de Cacoal-RO.
aprendizagem/ FEITOSA, competência Os dois indicadores forma
Fabio Biasotto; DEL acadêmica com correlacionados positivamente entre
PRETTE, Zilda A. P.; uma avaliação si e negativamente com problemas
LOUREIRO, Sonia Regina/ direta de de comportamento.
Temas em Psicologia – 2007 desempenho
acadêmico; (2)
sondar a
possibilidade de
problemas de
comportamento
interferirem na
avaliação dos
professores na
Escala de
Competência
SSRS-BR; e (3)
apresentar dados
preliminares de
validação dessa
subescala.
Atenção seletiva: PSI em Estudar os Estudo de caso/ Estudo O PSI foi adequado para
crianças com distúrbios de processos de prospectivo através do Teste PSI em diferenciar os grupos, havendo
aprendizagem/ GARCIA, atenção em dois grupos: Grupo I, 40 indivíduos, uma associação com o grupo
Vera Lucia; PEREIRA, crianças com e sem com idades entre 9 anos e 6 meses com distúrbio de
Liliane Desgualdo; FUKUDA, distúrbios de e 10 anos e 11 meses, que aprendizagem, que revelou
Yotaka/ Bras Otorrinolaringol aprendizagem. apresentavam baixo risco para alteração nos processos de
– 2007 alteração no desenvolvimento das atenção seletiva.
habilidades auditivas, linguagem e
aprendizagem. Grupo II, indivíduos
com idade entre 9 anos e 5 meses a
11 anos e 10 meses, diagnosticados
como portadores de distúrbio de
aprendizagem.
O Teste PSI com mensagem
competitiva ipsilateral, à orelha
direita, na relação fala/ruído 0 e
-10 foi apropriado para diferenciar o
Grupo I e o Grupo II de forma
estatisticamente significante.
Atenção ao desempenho do Grupo II
na performance da primeira orelha
testada deve ser dada, por subsidiar
características importantes de
desempenho e reabilitação.

Dificuldades em Matemática Discutir aspectos Utilizou-se um questionário com O trabalho conjunto entre
e a percepção dos relacionados à itens que que abordavam questões escola, pais, professores e
professores em relação a dificuldade de relacionadas a três campos: o papel alunos são imprescindíveis
fatores associados ao aprendizagem do aluno, o papel do professor e o para que os problemas
insucesso nessa área/ Matemática, papel dos métodos e técnicas de possam ser melhor tratados e
ALMEIDA, Cínthia Soares especialmente à ensino. acompanhados. A discalculia
de/ 2006 discalculia. 38,5% dos professores precisa ser diagnosticada por
discordam da afirmação que os equipe competente em relação
métodos de ensino que estão sendo ao aluno e acompanhada de
utilizados estão adequados a acordo com cada indivíduo.
realidade do aluno; em sua maioria, Cabendo ao professor
acreditam que não desafiam o aluno aperfeiçoar-se quanto aos
de forma adequada, apesar de as processos do ensino.
exigirem, acreditam que falta a
formação científica na área, e ainda,
foi evidenciado que o sistema tem
falhas, assim como os próprios
professores em sua formação e
didática em sala de aula.
2.2. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

O Distúrbio de Aprendizagem, segundo o Manual Diagnóstico e


Estatístico de Tratamentos Mentais (DSM-IV, 1994), organizado pela
Associação de Psiquiatria Americana, é caracterizado quando o indivíduo
apresenta um resultado abaixo do esperado em testes padronizados (CIASCA,
2003 apud PEREIRA et al., 2010). Os estudos corroboram para informação que
o distúrbio de aprendizagem se trata de uma atipicidade cerebral, um
transtorno neurobiológico cognitivo.

É necessário a correta diferenciação, por parte do professor, em


especial o pedagogo, por sua atuação nas etapas iniciais da educação básica e
suporte pedagógico, diferenciar dificuldade de aprendizagem de distúrbio de
aprendizagem. Segundo SANCHEZ, (2004 citado por PEREIRA et al, 2010, p.
18),

... a diferença está no fato que no distúrbio de aprendizagem,


mesmo quando são oferecidas oportunidades apropriadas à
aprendizagem, o distúrbio permanece. Já as dificuldades
podem ser sanadas quando o professor é bem preparado, a
metodologia é adequada ao ensino dos conteúdos e o aluno
tem seus limites neuromaturacionais compreendidos.

A literatura descreve como principais Distúrbios de Aprendizagem: a


Dislexia, a Discalculia, a Disgrafia, a Disortografia e a Hiperatividade. Para
melhor entendimento, antes de qualquer outra coisa, faz-se necessário
compreender como se estrutura, no cérebro, o processo de aprendizagem. No
cérebro de um leitor típico há um deposito de palavras armazenadas conhecido
com léxico que reconhece as palavras familiares (sendo denominado de
sistema semântico). Inclusive as não familiares são decodificadas pelo léxico,
por de um processo de analogia léxica. Nas pessoas Disléxicas, por falhas nas
conexões cerebrais, o funcionamento cerebral não ocorre assim. É utilizada
somente a área cerebral que processa fonemas, enquanto a área responsável
pela análise das palavras permanece inativa, o que dificulta a diferenciação de
fonemas e silabas (GABANINI e WAJNSZTEJN, 2009 apud PEREIRA et al.,
2010).

Desse modo, a Dislexia é definida pela presença de um déficit no


desenvolvimento do reconhecimento e compreensão de textos escritos. São
características: leitura oral lenta, com omissões, distorções e trocas de
palavras, com correções, interrupções, bloqueios e dificuldades na
compreensão da leitura. Ainda, segundo definição adotada pela IDA –
International Dyslexia Association, é considerada um transtorno específico de
aprendizagem de origem neurobiológica. Rotta e Pedroso (2006 apud
PEREIRA et al., 2010, p. 25-26), apresentam que a Dislexia se divide em 3
(três) tipos:

1) Dislexia disfonética: a criança tem dificuldades para ler


palavras não-familiares. Começa a ler e em seguida tenta
adivinhar algumas palavras, considerando partes delas. Na
leitura e na escrita comete erros como inversões, omissões, ou
agressão de fonemas ou de sílabas;
2) Dislexia diseidética: a criança tem dificuldade para realizar a
leitura global, para perceber palavras inteiras. A leitura é lenta e
feita de forma soletrada. As falhas na acentuação e as
inversões de letras são os erros mais comuns na escrita;
3) Dislexia mista: caracterizada por alterações associadas das
duas formas anteriores em diferentes combinações e
intensidades.

A Discalculia, segundo definição no Manual Diagnóstico e Estatístico de


transtornos Mentais (DSM-IV, 1994), é uma dificuldade para realizar cálculos e
raciocínio matemáticos. Em um dos estudos (ALMEIDA, 2006, p. 4) são
apresentadas 6 (seis) subdivisões da Discalculia:

1) Discalculia verbal: dificuldades para nomear as quantidades


matemáticas, os números, os termos, os símbolos e as
relações;
2) Discalculia practognóstica: dificuldades para enumerar,
comparar e manipular objetos reais ou em imagens
matematicamente;
3) Discalculia léxica: dificuldades na leitura de símbolos
matemáticos;
4) Discalculia gráfica: dificuldade na escrita de símbolos
matemáticos;
5) Discalculia ideognóstica: dificuldades em fazer operações
mentais e na compreensão de conceitos matemáticos;
6) Discalculia operacional: dificuldades na execução de
operações de cálculos numéricos.

Ainda, em se tratando de Discalculia, para um maior aprofundamento, é


importante dar-se atenção aos expressos por Selikowitz (2001), Farrel (2008),
Johnson e Myklebust (1983 apud JOSÉ e COELHO, 2008), e Senzer (2001),
que detalham que mais propriedade as características da Discalculia.
Segundo ZANELLI et al. (2009 apud Pereira et al., 2010), no País ainda
não há um teste específico para diagnóstico da Discalculia. Sendo necessário,
por uma equipe interdisciplinar composta de fonoaudiólogo, psicopedagogo,
médico entres outros profissionais, uma avaliação detalhada para diagnóstico e
indicação, ao professor, de estratégias eficazes que permitirão o avanço do seu
aluno.

A Disgrafia é um distúrbio da expressão escrita que compromete a


caligrafia, a capacidade de realizar cópias ou a capacidade para grafar a
sequência de letras em palavras comuns (CIASCA et al., 2003 apud PEREIRA,
2010). Para os profissionais adquirirem conhecimentos detalhados acerca
desta singularidade, faz-se necessário o estudo em trabalhos internacionais.
Todavia, os estudos mostram que não há certeza se os dados obtidos podem
ser aplicados ao Brasil, devido adversidades de realidades.

PEREIRA et al. (2010) discorrem, em seu estudo, sobre as dificuldades,


apresentando 6 (seis): (1) dificuldades no controle motor: a área do cérebro
responsável por garantir que letras sejam grafadas numa sequência contínua
não funciona tipicamente; (2) deficiência na percepção visual: o cérebro
interpreta erroneamente as informações visuais; (3) distúrbio no modo de
segurar o lápis, devido ao tônus muscular diminuído; (4) deficiência na
memória visual, em recordar o formato das letras; (5) deficiência no controle
espacial, no arrumar a escrita da página; e (6) taxa de processamento
diminuído: executa uma boa escrita, porém lenta, e se rápida, fica
desorganizada.

A Disortografia é uma dificuldade específica de ortografia. Apresenta-se


na dificuldade de transcrever corretamente a linguagem oral, e quanto a
escrita, ocorrem trocas ortográficas e/ou de letras, sem que haver diminuição
na qualidade da escrita. JOSÉ e COELHO (2008 citados por PEREIRA et al.,
2010), discorrem sobre os principais erros que a criança com Disortografia
apresenta: (1) confusão de letras: trocas auditivas e (2) trocas visuais; (3) troca
de sílabas com tonicidade semelhante; (4) confusão entre palavras com
estrutura semelhante; (5) dificuldade para entender que uma letra pode
representar mais de um fonema; e (6) dificuldade para lembrar a sequência dos
sons das palavras.
Por fim, a Hiperatividade, que de acordo com ROHDE et al (2000), trata-
se duma síndrome psiquiátrica de alta prevalência entre crianças e
adolescente. NAVES e CASTRO (2012) reforçam, em seu trabalho, que esse
transtorno é, na escola, a causa mais comum de encaminhamentos de crianças
e adolescentes a serviços especializados. Ambos os trabalhos discorrem três
características observadas na criança hiperativa: a desatenção, a agitação e a
impulsividade.

No estudo realizado por LOPES e CRENITTE (2012), as autoras tratam


do conhecimento dos professores acerca dos Distúrbios de Aprendizagem.
Apresentam com os resultados de seu trabalho, pontos preocupantes e
persistentes: o desconhecimento dos distúrbios, intervenção inadequada ao
aluno que apresenta dificuldade(s) de aprendizagem (o que pode ser
característico do Distúrbio de Aprendizagem), atribuindo causas diversas às
dificuldades de aprendizagem como: desinteresse e falta de esforço dos alunos
e fatores familiar.

O estudo realizado pôr RICHART e BOZZO (2009), reforça o parecer


anterior. As autoras, através da aplicação de questionário que buscava
estabelecer um nível de conhecimento dos professores acerca da identificação
de alunos com (possível) Dislexia, e o trabalho com esses alunos do ciclo I do
Ensino Fundamental. Afirmam ainda haver, por parte da escola e dos
professores, a falta de conhecimento dos distúrbios e seus sinais. Fato
discursado pelos próprios professores, que expuseram não terem formação
apropriada ao diagnóstico dos Distúrbios de Aprendizagem, ou que apresentem
outra dificuldade de aprendizagem.

FERNANDES e CRENITTE (2008), com seu estudo, também


corroboram para o supra expresso. Seu estudo buscou conhecer o
conhecimento de professores de 1ª a 4ª série quanto aos distúrbios da leitura e
escrita. Discorrem o que já foi apontado sobre o fato dos conhecimentos acerca
dos Distúrbios de aprendizagem serem superficiais, pois muitos adquiriram tal
conhecimentos fora da graduação. Dois fatores chamam atenção no artigo e
são eles: mesmo alguns professores encaminhando os alunos ao
fonoaudiólogo, têm conhecimento limitado acerca de sua função. E o outro,
ainda mais preocupante, é o fato dos professores terem considerado o distúrbio
da leitura e escrita próprio da criança, isentando, quase que na totalidade, a
participação da escola.

ALMEIDA (2006), trabalha, em seu artigo, a percepção dos professores


em relação a fatores associados ao insucesso na matemática e dificuldades de
aprendizagem dessa área do conhecimento. A autora buscou formular um
parecer sobre o que os docentes sabem acerca dos Distúrbios de
Aprendizagem, em especial a Discalculia. Trabalhou com a aplicação de um
questionário (fechado), com 52 (cinquenta e dois), a professores. Ficou
evidenciado que o sistema de ensino tem falhas, assim como os próprios
professores em sua formação e didática em sala de aula. Ela enfatiza que a
Discalculia precisa ser diagnóstica, e, ao professor cabe buscar métodos que
facilitem, à criança, o avanço do aprendizado.

Já no estudo realizado por FEITOSA et al (2007), diferentemente dos


anteriores, após aplicação do estudo, decidem pela necessidade do julgamento
do professor na identificação de alunos com dificuldade de aprendizagem. Por
este passar muito tempo com as crianças em sala de aula, pode identificar,
com maior propriedade, alunos com necessidades de recursos (seja humano
e/ou material) especiais de ensino-aprendizagem. Tal pressuposto para que se
confirme, necessita de um profissional capacitado para esse fim, daí insiste-se
numa formação qualificadora e constante especialização para o exímio trabalho
docente.

Pudemos aferir que os estudos corroboram para a necessidade que tem


o professor, em especial o pedagogo, atuante no suporte pedagógico,
Educação Infantil e/ou Ensino Fundamental I, em conhecer e buscar conhecer
os Distúrbios de Aprendizagem, seus sinais característicos, bem como meios
que proporcionem um ensino-aprendizagem significativo e satisfatório.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os estudos realizados apontam para a importância de o professor


conhecer os sinais referentes aos Distúrbios de Aprendizagem, no auxílio ao
encaminhamento para um possível diagnóstico e atuação junto ao aluno. Visto
ser o professor, o profissional na escola melhor capacitado e para observar
indícios junto aos alunos, a ele cabe esta responsabilidade de identificar
possíveis sinais de distúrbios de aprendizagem e consequente
encaminhamento ao setor e/ou profissional responsável pela aferição e
diagnóstico.

Concluímos, pela pesquisa, que ainda há um alto desconhecimento


acerca dos Distúrbios de Aprendizagem por parte dos professores, inclusive
dos professores que têm muitos anos na carreira, além dos iniciantes.

É importante ressaltar que a intervenção dada aos alunos com


Distúrbios de Aprendizagem precisa fazer jus às necessidades que eles
apresentam. Fato é que o desconhecimento somado ao despreparo dos
profissionais têm penalizado severa e persistentemente às crianças com
Distúrbios.

É necessário abordar essa temática na formação inicial dos professores,


bem como cabe à escola, no processo de formação continuada de seus
professores, oferecer capacitação, habilitando-os ao trabalho.
4. REFERÊNCIAS

ALMEIDA, C.S. Dificuldades de aprendizagem em matemática e a


percepção dos professores em relação a fatores associados ao insucesso
nesta área. Universidade Católica de Brasília – UCB, Brasília – Distrito
Federal, 2006 Disponível em:
https://repositorio.ucb.br/jspui/handle/10869/1766. Acesso em: 08 agosto 2017.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DISLEXIA (ABD). Ponto de apoio: perguntas e
respostas. São Paulo, 2010. Disponível em: http://www.disxia.org.br. Acesso
em: 08 agosto 2017.
Brasil, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. (2003)
Estratégias para a educação de alunos com necessidades educacionais
especiais/ coordenação geral: SEESP/MEC; organização: Maria Salete Fábio
Aranha.
Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. (1998) Parâmetros curriculares
nacionais: Adaptações Curriculares / Secretaria de Educação Fundamental.
Secretaria de Educação Especial. – Brasília: MEC/SEF/SEESP, 62 p.
Constituição da República Federativa do Brasil, 1988. Disponível em:
http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/legislacaoConstituicao/anexo/CF.pdf. Acesso
em: 10 agosto 2017.
COSTA, S.F.P. Dificuldades de Aprendizagem. Revista Profissão Docente,
Uberaba – SP, v.11, n. 23, p. 154-57, Jan/Jul, 2011
Distúrbio de Aprendizagem, INF – Instituto Neurologia Funcional. Disponível
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