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– PODE NÃO parecer agora, mas você está melhor sem ela…
Connor Reed mudou de posição na cadeira, irritado, girando o líquido
âmbar e o gelo no copo de uísque enquanto ouvia Jeff Norton comprometer
seu status de macho.
– É mesmo? Não diga!
Não era exatamente uma novidade.
– Você e Caro ficaram juntos por quase um ano, é natural estar
sofrendo…
Sofrendo? Connor sentiu uma contração involuntária em um dos olhos.
Aquela não era uma conversa de homem. Não era a prometida
descontração com a qual fora atraído para a Cidade do Pecado.
Não era nada divertido.
– … isso é um golpe no ego, e para alguém com um ego como o seu…
Fixando um olhar furioso no copo, Connor resmungou.
– Precisamos medir seu nível de testosterona.
– Seja o que for – respondeu Jeff, inabalável. O amigo estava tão seguro
de sua “consciência” emocional quanto de sua posição de mais antigo e
melhor amigo de Connor. – O que estou dizendo é que você estava disposto
a se casar com Caro duas semanas atrás. Não acredito que esteja tão
indiferente quanto aparenta.
– Sim, mas você sempre se recusa a acreditar na verdade sobre mim. –
Connor retrucou, com um sorriso impenitente. – Mas estou falando sério.
Como lhe disse antes, estou bem. Ela é uma ótima moça, mas depois de
ouvir o que Caro tinha a dizer… sinto-me mais aliviado do que qualquer
outra coisa.
O grunhido que se seguiu sugeria que Jeff não estava acreditando.
E até certo ponto, o amigo talvez estivesse certo. Apenas não da maneira
como imaginava.
Connor não estava sofrendo com o término do relacionamento porque
seu coração não estivera envolvido. Podia parecer insensível, mas era
verdade. E aquilo fora algo que Caro entendera desde o início.
Connor não se permitia amar. Conhecia muito bem o potencial destrutivo
daquele sentimento. Testemunhara seu alcance e experimentara a
devastação do efeito cascata que causava. Não, obrigado. Não se
candidataria a passar por aquilo outra vez.
Seu objetivo era formar uma família. Do tipo que sempre vira a distância,
mas que ainda assim cobiçara. A família que o pai não quisera que um filho
bastardo contaminasse e a que a mãe estivera muito enterrada no próprio
sofrimento para manter. Portanto, decidira construir uma.
Fora privado de muitas coisas quando criança. Coisas que fizera questão
de garantir quando adulto. Dinheiro, respeito, casa própria… e o bem-
sucedido negócio que ele dirigia com punho de ferro e que lhe
proporcionava todas essas coisas. Mas quanto a uma família… Para isso,
precisava de uma parceira. Pensara tê-la encontrado em Caro. Ela se
encaixava ao papel, uma angariadora de fundos feita sob medida, com
nome, educação e passado ilibados. Dona de uma tranquilidade fria e
desprovida da carência emocional que Connor passara a vida adulta
evitando. Ou assim pensou até o momento em que Caro dobrou seu
guardanapo e o pousou ao lado do prato, antes de calmamente lhe explicar
que desejava um casamento baseado em mais do que eles tinham. Nem ela
esperava por isso, mas chegara àquela conclusão. Muito justo. Connor teve
de lhe dar crédito por ter o bom senso de reconhecer que desejava algo que
não encontraria nele. E, mais importante, antes de fazerem seus votos.
Portanto, sofrendo? Não.
Aliviado? Diabos, sim.
– … Acho que está se sentindo sozinho. Triste… – Engolindo de uma só
vez o restante do uísque, Connor se regozijou com a trilha de ardência na
garganta e o calor que se espalhou por seu peito. Talvez a bebida fosse
capaz de lhe embotar a mente o suficiente para abrandar o desconforto
produzido por aquela conversa. Mas o amigo persistia. – … Lembre-se, há
outros peixes no mar…
– Pelo amor de Deus! O que virá em seguida? Uma princesa de conto de
fadas? – Erguendo o copo vazio, Connor olhou ao redor, à procura da
garçonete.
– … diabos, ao que parece aquela ali é ginasta.
Connor ergueu uma das sobrancelhas, inclinando a cabeça em um ângulo
que desse para ver melhor. – Qual delas?
Jeff piscou.
– Queria apenas me certificar de que estava prestando atenção. Eu me
preocupo com você, rapaz.
Embora nunca tivesse entendido por quê, Connor tinha ciência disso.
Aquele afeto fora a única coisa constante em sua vida, desde que fora
catapultado da pobreza e arremessado em um internato exclusivo na Costa
Leste, aos 13 anos. A criança ilegítima, com complexo de inferioridade, uma
rachadura entalhada no centro da alma e um rancor contra o nome do qual
não podia escapar. E Jeff fora o idiota sem sorte que ficara atrelado a ele
como colega de quarto. Connor não lhe dera nenhuma razão para que Jeff
fosse tolerante com ele, mas por alguma razão isso aconteceu.
E por esse motivo, mesmo tendo tornado a vida do amigo bastante difícil,
pelo fato de não ser uma pessoa receptiva… também o presenteou com a
verdade.
– Eu também me preocupo com você. E agora onde está a ginasta?
APÓS MAIS duas rodadas e quarenta e cinco minutos, Connor se recostou ao
espaldar da cadeira, observando Jeff reafirmar seu status de macho movido
a testosterona ao abordar a garçonete que estivera observando pela maior
parte da última hora. Connor não queria nem pensar sobre a lábia que o
amigo passara na moça para fazê-la adejar os cílios e colocar a bandeja de
lado com tanta rapidez. O que quer que tivesse sido, devia ser fenomenal.
Jeff lhe dirigiu uma saudação, e ele soube que não teria mais a companhia
do amigo.
Connor pegou a carteira no bolso interno do blazer, atirou algumas notas
sobre a mesa e, em seguida, pousou o copo sobre a pilha na mesa.
A noite se estendia diante dele com todas as suas infinitas… e exaustivas
possibilidades.
Poderia encarar mesas de blackjack.
Comer alguma coisa.
Arranjar companhia. Ou não. Com aquela patética indiferença da qual
estava sofrendo…
– Com licença.
Connor ergueu o olhar, esperando outra garçonete, pronta para limpar a
mesa, mas em vez disso se deparou com a loira, com um vestido de noite,
que se encontrava na outra mesa. A ginasta, que com certeza não devia ser
uma ginasta se sua altura e as curvas sinuosas da figura envolta em um
daqueles trajes justos fossem algum indicativo.
Muito bom.
– Olá. Em que posso ajudá-la?
O sorriso da loira se alargou enquanto os enormes olhos azuis se fixavam
nos dele.
– Isso pode parecer uma cantada barata. E das piores. Mas tem de
acreditar em mim. Não se trata disso.
Um dos cantos dos lábios de Connor se ergueu, e ele se preparou para o
inevitável “resto da cantada”. Entrando no clima, anuiu.
– Muito bem, com isso esclarecido, vá em frente.
A mulher assentiu, deixando escapar a respiração.
– Percebi que você estava prestes a partir. E não poderia imaginar o
quanto eu ficaria agradecida se pudesse sair em minha companhia. De
modo que pareça que estamos indo embora juntos.
Certo.
– Mas apenas pareça que estamos indo embora juntos?
Mais uma vez, ela abriu um sorriso, e Connor identificou nuances da
garota da vizinhança. Não era exatamente seu tipo, mas por alguma razão
desconhecida, havia algo no olhar daquela…
– Sim. Minhas… amigas perceberam que eu o observava mais cedo e…
bem… e você não iria gostar de saber o que se seguiu desde então. Eu disse
a elas que viria aqui ver se você estaria interessado porque queria me livrar
da perturbação daquelas duas. Mas posso ver, só de olhar para você, que
não sou o tipo de mulher em quem estaria interessado… e, na verdade, essa
foi a única razão que me fez decidir vir. Adoraria sair daqui sem tê-las como
sombra pelo resto da noite.
Então, ela o estivera observando?
Bem, já que era assim, Connor permitiu que os olhos a percorressem de
cima a baixo, detendo-se por mais tempo do que fizera da primeira vez que
a medira com o olhar. Muito, muito bom. Mesmo ao se deparar com o dedo
apontado para ele de maneira repreensiva, quando seus olhos percorriam o
caminho de volta.
– Nada disso. Você é lindo, mas sinceramente estou apenas tentado
escapar de uma fria.
Connor mudou de posição na cadeira, o sorriso que quase retrancara
minutos atrás se libertando, quando percebeu que ela estava falando sério.
Olhando além dela, notou as amigas com os olhares ansiosos
descaradamente fixos nos dois.
– Que sutileza!
A desconhecida deu de ombros com um gesto delicado.
– Até onde sei, a sutileza não é uma característica daquelas duas.
Connor ergueu uma das sobrancelhas.
– Até onde sabe? Que tipo de amigas são?
– Do tipo temporário até concluirmos nossas obrigações como damas de
honra, em algum momento antes da madrugada de domingo. Espero. Elas
são amigas de jardim de infância de minha prima.
Ah!
– E estão interessadas em sua vida amorosa porque…?
O nariz da loira se enrugou enquanto ela escaneava o teto com o olhar.
– Há alguma chance de você simplesmente sair daqui comigo?
Connor se inclinou para trás, empurrando com o pé a cadeira antes
ocupada por Jeff.
– Não se quiser que isso pareça convincente. Sairei com você… daqui a
dez minutos.
O olhar cético deixava claro que aquela desconhecida deduzira que ele
estava pensando em mais do que dez minutos.
Por mais diferente que ela fosse das mulheres que costumavam atrair
Connor, parecia o tipo exato de diversão que aquela noite pedia.
O tipo que geralmente não dava conversa a estranhos. O tipo corruptível,
pensou ele, menos apático a cada segundo.
– Dez minutos. Vamos conversar. Flertar. Você pode tocar meu braço
uma ou duas vezes para tornar isso real. Talvez eu possa colocar alguma
mecha de cabelos para trás de sua orelha. Suas voyeurísticas amigas vão
acreditar piamente. Depois, me inclinarei na direção de sua orelha e
sugerirei sairmos daqui. Talvez de uma forma que a faça corar até a raiz
dos cabelos. Você se mostrará nervosa e tímida, mas permitirá que eu
segure sua mão. E então sairemos.
A expressão dela era impagável. Era como se a tivesse afetado com
aquele pequeno roteiro.
– Isso é… umm… – Ela engoliu em seco, olhando ao redor, antes de se
fixar em seus lábios e desviar os olhos rapidamente para encará-lo. – Isso é
muito mais do que eu estava pedindo.
– Melhor para você.
– Sim, e o que você ganha com isso?
Um sorriso voraz curvou os lábios de Connor.
– Dez minutos para convencê-la a me dar vinte. E veremos no que isso
vai dar.
O ligeiro movimento negativo de cabeça da loira fez o foco de Connor se
afiar e suas habilidades críticas sintonizarem. Diabos! Ele estivera
pensando em quanto o agradaria ver o sorriso daquela garota comum se
tornar provocante e agora lá estava ela, fazendo-o se esforçar para
conquistá-la? Aquilo não estava progredindo bem.
– É melhor eu ir embora. Não sou o tipo de garota que aceita encontros
casuais. E, mesmo que esteja à procura de algo além do casual, não estaria
interessada.
Algo no modo que ela proferiu aquelas palavras aguçou a curiosidade de
Connor.
– Ah, é mesmo? Como assim?
A mão delicada se ergueu em um tipo de gesto negativo, que foi
interrompido, antes mesmo de começar. Em seguida, ela o encarou.
– Desculpe, mas é algo um tanto pessoal para um primeiro não encontro
irreal.
Connor sorriu, erguendo e baixando um dos ombros.
– Então porque não tornamos isso um primeiro não encontro não tão
irreal? Ou talvez um primeiro encontro irreal, embora, já que estamos
fingindo, teremos de ir para o segundo ou terceiro encontro… onde
começam as coisas boas.
O sorriso da mulher se alargou, dando lugar a uma risada em nada
condizente com a garota comum e tudo que se relacionava a ela. E, quando
os olhos azuis se semicerraram e os lábios atraentes se entreabriram para
deixar escapar aquele som sedutor e abandonado, ele se viu enfeitiçado.
Por um segundo.
Antes de recobrar o autocontrole.
– Sério, gostaria de saber.
Connor podia ver nos olhos dela, na forma como inclinava a cabeça e o
corpo começava a girar. Ela tomara aquela decisão na mente e já se
imaginava a meio caminho da porta de saída. Que pena!
Mas, de qualquer forma, ele não queria deixar de ajudá-la, depois de ela
ter reunido coragem para ter ido até ele.
– Eu sairei com você – disse Connor, mas ela recusou com um gesto de
cabeça e sorriu. – Obrigada, mas eu ficarei bem.
– É justo. A propósito, meu nome é Connor. – Ele lhe estendeu a mão,
sentindo-se como um idiota, oferecendo um aperto de mão, depois de tudo
que haviam dito. Mas por alguma razão queria testar como seria o contato
físico entre os dois.
– Megan. – Ela esticou o braço por sobre a mesa e aceitou a mão
estendida… e algo cor-de-rosa neon varou o ar, aterrissando no colo de
Connor.
A mão que ele segurava apertou a dele ao mesmo tempo que Connor
baixava o olhar às letras garrafais.
– Que diabos…?
Risadas ribombaram da mesa em que Megan estivera sentada. As damas
de honra de quem ela tentara escapar. Ou assim dissera.
Connor lhe segurou a mão com força, olhando-a nos olhos, antes de puxá-
la para a frente e em seguida para baixo, na direção da cadeira que ela
deixara vaga.
– Sente-se. Agora quero saber.
Megan o encarou, uma centena de pensamentos lhe revolvendo a mente,
antes de se deixar afundar na cadeira.
– Está bem, Carter…
– Connor.
Megan engoliu em seco.
– Muito bem. Aqui vai…
Capítulo 3
Connor pensou que não poderia haver coisa mais agradável do que aquele
riso. Mas então ouviu a risada acrescida dos guinchos de alegria de Megan e
teve uma visão completa das nádegas deslumbrantes cujos contornos se
encontravam perfeitamente evidentes, requebrando-se em algum tipo de
dança da vitória, enquanto a máquina vencedora fazia a contagem na
extremidade do bufê de waffles que um taxista surpreendentemente
confiável lhes havia indicado.
Megan o surpreendera. Mais uma vez. Envolveu em uma conversação
muito espontânea e, em seguida, lhe deu detalhes de sua vida com a mesma
facilidade que a máquina lhe entregara aquele prêmio. Bastara a pergunta
certa no momento certo e ela se abriu, revelando uma nova perspectiva da
criatura cativante que ele conseguira pescar para passar a noite.
Megan se autoproclamava uma romântica em recuperação. Uma mulher
que acreditava no amor, mas que descobrira, ao longo de uma vida inteira
de experiências, que o ápice daquela sublimidade romântica estava fora de
seu alcance.
E havia aceitado esse fato. Não estava interessada na inutilidade de uma
busca inatingível. Megan era uma beldade inteligente. Uma engenheira de
software que trabalhava por conta própria, bem-sucedida na profissão que
escolhera. Confiante na medida certa e tímida da forma mais atraente.
Independente ao extremo e não temia se opor às convenções quando se
tratava de atingir seus objetivos. Terna, engraçada e sexy.
Naquele momento, Connor se encontrava parado atrás dela, a última
rodada de drinques que haviam tomado, esquecida. O que talvez não fosse
de todo ruim, considerando o tipo de desvios que sua mente estava
tomando enquanto retirava o paletó, cedendo à absurda e inoportuna
insanidade possessiva que o deixava louco só de pensar em qualquer outra
pessoa admirando aquela perfeição em formato de coração.
– Tome. Coloque isto – disse ele, pendurando o paletó nos ombros de
Megan.
– Não posso acreditar nisso! – ofegou ela. – Nunca consegui ganhar.
Nunca, em nenhuma oportunidade, tive uma sorte como essa.
Connor sorriu, observando o comprimento desnudo dos braços elegantes
desaparecer sob o mar de tecido do seu paletó. Esticando os braços, ajustou
as lapelas, dizendo a si mesmo que ela parecia estar com frio. Em seguida,
antes que capitulasse à tentação de se deter próximo do atraente “V” de
pele feminina exposta ou, Deus o ajudasse, roçar as juntas dos dedos
naquela suavidade provocadora, se ocupou com as mangas do paletó.
Enrolou-as até que a pulseira fina do relógio que ela usava faiscasse,
refletindo as luzes da máquina vencedora. Era uma pulseira delicada, mas
um pouco comum. Da mesma forma que ele erroneamente a julgara ao
pousar os olhos nela pela primeira vez. Na verdade, Megan brilhava como
um diamante.
– Carter – disse ela, ofegante. Os olhos azuis observavam o polegar longo
lhe roçar a pele sensível da parte interna do punho.
– Connor. – Que diabos ele estava fazendo?
Megan ergueu o olhar lentamente, seguindo o contorno do braço longo,
do ombro largo até a parte superior da gravata e, em seguida, aos lábios
sensuais de Connor.
Teria ela ideia do quanto eram sedutoras aquelas frações de segundo em
que ele podia ver claramente a mente de Megan trabalhando nas
possibilidades existentes no ponto onde seu olhar se detinha?
Aquela mulher era extremamente sensual. E doce. Perspicaz. Divertida.
E tinha o olhar cravado em sua boca como se a achasse mais apetitosa do
que vodca de baunilha com licor de chocolate branco.
Como se talvez, por fim, quisesse saboreá-la.
Ou talvez mais.
Mais um segundo e os olhos azuis encontraram os dele.
– Connor – corrigiu ela, o bom senso travando uma batalha naquelas
piscinas azuis, quase não conseguindo vencer a tentação.
Droga! Gostava do modo como Megan dissera seu nome. Principalmente
por ela ter dito o nome certo.
Connor tinha uma excelente ideia para ajudá-la a se lembrar.
Repetição. E um belo reforço… do tipo ofegante, com gemidos de súplica.
Por horas a fio.
Poderia caprichar na sedução e a teria.
O flerte de que lançara mão até então fora apenas um aperitivo. Em cada
elogio casual, havia mantido a distância física entre os dois. Em cada
insinuação, evitara o contato visual. Porque desde o princípio soubera,
pressentira o que poderia acontecer entre os dois e decidira não investir.
Porém, agora… desejava mais.
Gesticulando negativamente a cabeça, Connor fixou o olhar no copo pela
metade sobre o balcão ao lado deles. Culpa sua.
Empurrando os pensamentos para o fundo da mente, decidiu manter o
braço de distância entre os dois e o sorriso fácil. A aparência de quem
estava encarando aquilo apenas como diversão.
Instantes depois, encontravam-se envoltos pelo ar da noite, as luzes
resplandecentes, o tráfego de pedestres sem destino e o fluxo de carros.
– Você acabou de depenar duas máquinas sucessivamente. Temos de
voltar e tentar o prêmio máximo. Ou prefere tentar algo diferente, como as
roletas?
Um profundo suspiro escapou pelos belos lábios de Megan.
– Acho que não. Para alguém que não tem sorte no jogo, estou feliz com
meu lucro. Não quero abusar da sorte.
– Mais alguma coisa em mente? – perguntou Connor, embora já soubesse
a resposta ao perceber a resignação naqueles olhos azuis.
Adeus.
Connor não queria pôr um fim à noite, mas afinal ela traçara um plano
para sua vida. E a respeitava por isso. Admirava o senso de prioridade, a
premeditação e o compromisso que Megan empregara naquela meta.
Diabos! Provavelmente aquele plano era responsável por metade da
atração que sentia por ela.
– Diverti-me muito esta noite. – Megan mudou o peso de um pé para o
outro, parada diante dele. O olhar se desviou enquanto os dedos delicados
subiam pela lapela de seu terno, onde se detiveram a brincar
distraidamente com o primeiro botão da camisa.
– Eu também. Claro que isto é Las Vegas. Portanto, a noite ainda é uma
criança.
Os olhos azuis voltaram a se fixar nos dele, brilhando por uma fração de
segundo em seus lábios.
– Tenho de acordar cedo. – E então os ombros de Megan se estreitaram e
as feições se acomodaram em uma expressão muito formal. – E terei um
grande dia pela frente.
– Um grande dia de festividade.
– Sim. E de engendrar elaboradas mentiras sobre nossa noite juntos. –
Dessa vez o sorriso que curvou os graciosos lábios de Megan era de pura
travessura. – Terei de dar a Jodie e Tina algo suculento para elas digerirem.
– Uau! Vai mentir sobre mim? – perguntou ele, pousando a mão na base
da espinha de Megan, enquanto se aproximavam da esquina, em busca de
um táxi. – Sinto-me lisonjeado.
Não havia nenhum táxi disponível, mas a qualquer momento apareceria
algum.
Megan lhe dirigiu um sorriso oblíquo.
– Na verdade, talvez não. É o que desejo. Seria muito divertido, mas
mentir me dá urticária. Mesmo que por uma boa causa, como manter a paz
de espírito durante o casamento de minha prima, não sei se seria capaz.
– Então você é um daqueles tipos letalmente francos? – perguntou ele
enquanto se encaminhavam na direção do cassino em que estavam
hospedados.
– Sem dúvida. O que nem sempre é conveniente. Mas acho que, na
maioria das vezes, me mantém longe de problemas.
Uh-huh, mas se ela não parasse de prender aquele lábio inferior sexy
entre os dentes… nada a manteria longe do problema que ele tinha em
mente.
Mas em seguida Megan se deu conta de como ele a olhava e virou o rosto.
Connor não queria perder a atenção dela. Não ainda.
– Com mulheres como Tina e Jodie, acho que não dizer nada seria tão
eficaz quanto dizer que sou um garanhão… o que, aliás, seria cem por cento
verdade. Deixe-as cozinhando no banho-maria da curiosidade. Não revele
nada.
– Oooh, isso as deixará enlouquecidas. – Ela ofegou, quase saltitando de
felicidade ao lado dele, fazendo-o imaginar a profundidade da veia perversa
de Megan e se alguma vez aquela mulher atravessava as fronteiras do
pecaminoso. – Deus sabe que a imaginação daquelas duas é bem mais fértil
do que a minha.
– Eu poderia ajudá-la com isso – ofereceu ele com outro sorriso
presunçoso.
Ele estava brincando. Sem dúvida.
Megan estacou e fez que não com a cabeça. As pontas lisas dos cabelos
roçando suavemente os ombros.
– Tenho certeza de que sim.
Mesmo sob as luzes e o brilho da Strip, Connor podia ver o rubor aflorar
naquele belo rosto, captar todos os sutis sinais de hesitação à medida que
surgiam. Podia vê-la lutando consigo mesma para não ceder a cada “talvez”,
“só mais um pouco” e “só desta vez” que espocavam em sua graciosa
cabeça. Podia sentir a tensão enquanto Megan travava uma batalha contra a
própria consciência sobre a possibilidade de esticar a noite que agradava a
ambos.
Sabia que ela desejava…
– Mas você tem um plano.
Sincera. Inteligente. Divertida. Independente. Megan era tudo aquilo e
mais um pouco. Connor não conseguia parar de pensar na abordagem
prática em relação ao amor que ela possuía. Com os olhos voltados para o
céu, Connor deixou escapar um longo suspiro, apenas para estacar
abruptamente quando se focou no letreiro neon brilhante sobre o ombro
direito de Megan.
Sim, ela traçara um plano… mas talvez não fosse somente um.
DEUS, MEGAN não queria que a noite chegasse ao fim. Mas se continuasse só
haveria um lugar para onde aquela situação os levaria. E, por mais que a
ideia de acabar deitada na cama daquele homem lhe fosse atraente, não era
seu estilo de vida.
Não importava que ele parecesse mais sua alma gêmea do que um
desconhecido. Se ela cedesse, se arrependeria no dia seguinte.
E quando pensasse sobre aquela noite, não queria ser assolada por
nenhum arrependimento.
Portanto, engoliu em seco e fez o que devia fazer.
– Sim, tenho um plano. – As palavras abriram um vazio no íntimo de
Megan, diferente daquele que se transformara em uma parte de si mesma
ao longo do tempo. – Obrigada por esta noite extraordinária, Carter.
Os lábios de Connor se curvaram de leve em mais um daqueles meios
sorrisos.
Tentador. Muito tentador.
– Quanto ao seu plano. – Ele pousou as mãos sobre os ombros de Megan.
– Há algo que me deixa curioso.
– O quê? – perguntou ela, virada de frente para Connor.
Os dedos longos escorregaram pelos braços delicados em uma carícia
suave. Segurando-lhe uma das mãos, ele a prendeu atrás da base da
espinha de Megan. Em seguida, aproximou-se um passo, baixou o olhar aos
lábios tentadores e murmurou:
– Apenas isso.
E lhe capturou os lábios.
A princípio, tudo que Megan conseguiu registrar foi o choque daquele
contato. Em seguida, o movimento lento e sensual da boca experiente
contra a dela. A pressão firme. O suave sugar. A corrente elétrica produzida
em todos os pontos em que os corpos dos dois se tocavam.
Sim.
Apenas isso.
O fim perfeito para uma noite que ela desejava não ter de findar.
Segundos depois, sentiu um sopro do hálito quente e úmido entre os
dois.
– Connor – murmurou ele, tão perto que Megan pôde sentir a vibração
dos lábios sensuais.
Piscando, confusa, embora permanecesse no mesmo lugar, ela o olhou
nos olhos.
– O quê?
Um dos cantos dos lábios de Connor se ergueu.
– Queria apenas garantir que não esquecesse meu nome.
– Connor. – Megan suspirou, fechando os olhos e saboreando aquele
momento apenas um segundo a mais, antes de partir. – Isso foi
maravilhoso.
Erguendo-lhe o queixo com o dedo curvado, Connor a forçou a encará-lo.
Quando os olhares se encontraram, Megan teve de piscar várias vezes. Não
era o tipo de resignação doce e ao mesmo tempo amarga que brilhava
naqueles olhos escuros. Nem de longe. O que refletiam era uma arrogância
atrevida e explícita expectativa.
– Não muito – retrucou ele, envolvendo-lhe a mandíbula com a mão em
concha. – Isso foi para que você se acostumasse com a ideia.
Os lábios de Megan se entreabriram em um protesto, mas, antes que ela
tivesse a chance de contestar ou reformular sua resposta, ele os arrebatou
outra vez, fechando a distância que os separava sem hesitar. Connor se
apossou de sua boca como se fosse algo que lhe pertencesse, tornando-a
sua de uma forma que fez as mãos de Megan se erguerem em um gesto
involuntário, os dedos se enroscando na camisa feita sob medida. Um
gemido se desprendeu de seus lábios para ser absorvido pelos dele. Não
havia nada suave naquele beijo, mesmo que remotamente. Era quente.
Explosivo. Arrebatador e intenso.
O tipo de beijo que se dava a portas fechadas. Algo que Megan nunca
acreditara que um dia permitiria acontecer em plena calçada, repleta de
transeuntes. Mas, também, nunca se vira em face da necessidade de
interromper algo tão envolvente.
E então todos os pensamentos sobre onde estava, o que deveria estar
fazendo ou o que faria lhe desertaram a mente. Tudo que conseguia
registrar era a pressão quente do corpo de Connor quando ele a puxou
mais para perto. A exploração magistral de uma parte de seu corpo que, de
repente, parecia um continente desconhecido. A sensualidade com que
aquela língua ousada encontrava a dela.
Delicioso.
Muito bom.
Mais uma investida da língua e Megan se viu perdida. As mãos se moviam
sobre os planos rígidos do torço largo em uma frenética antecipação do que
mais ele poderia lhe oferecer.
Talvez se arrependesse no dia seguinte… mas não tanto quanto se
arrependeria se interrompesse aquela noite agora.
Quando Connor recuou, ela estava ofegante. Faminta. Desesperada.
Dessa vez, o meio-sorriso elusivo não estava presente. Ele deixou escapar
um suspiro lento. Os cílios pareciam baixar mais a cada segundo até os
olhos escuros se transformarem em profundezas insondáveis que a fizeram
imaginar se, uma vez mergulhando nelas, seria capaz de voltar à tona.
– Oh, está bem – murmurou ele, como se tivesse chegado a alguma
conclusão íntima.
– Sim, está bem – sussurrou ela, anuindo. – Mas temos de ir para seu
quarto. Estou dividindo o meu com Tina e Jodie.
Só então Connor baixou a cabeça na direção dela. Depois de pressionar
um único e lento beijo em seus lábios, moveu a boca na direção da orelha
de Megan.
– Tenho uma ideia melhor ainda.
Um segundo depois, as mãos firmes se espalmaram em torno dos quadris
de Megan, e ela se viu atirada por sobre o ombro de Connor. O corpo
oscilando com as passadas largas e decididas. Deliciada com aquela
demonstração de homem das cavernas, ela soltou uma gargalhada,
exigindo uma explicação.
– Tenho um plano… – respondeu ele, confiante e animado. – Pelo
caminho eu lhe explico. Fica logo aqui à direita.
Capítulo 4
MEGAN CONCORDARA.
Connor mal conseguia acreditar naquilo. E, sim, ainda não ganhara a
guerra. Havia vencido apenas uma modesta batalha, mas Megan passaria o
dia com ele, dando-lhe a chance de convencê-la de que os dois faziam
sentido juntos.
Isso significava que ele teria de ir ao casamento de Gail. Felizmente, a
distribuição das mesas do estilo Las Vegas tinha mais a ver com quem havia
chegado ao salão primeiro do que ser sorteado com a mesa próxima à
cozinha.
Servindo outra xícara de café para si mesmo e um copo de suco para
Megan, não pôde evitar escutar a conversa dela com Gail. Ela mal havia
cumprimentado a prima quando o silêncio suspeito que sucedeu os
cumprimentos, seguido por um gaguejar e mais instantes de silêncio,
confirmou o que ele soubera desde o início. Jodie e Tina haviam espalhado
a novidade, provavelmente desde a saída de Megan do bar, na noite
anterior.
– De fato fiquei com ele… Claro que estou bem, mas isso não é… Gail, hoje
é o dia do seu casamento… Sim, ele é muito bonito.
Aquela era a diferença entre os homens e as mulheres. Quando passara
uma mensagem de texto para Jeff, informando-o de que algo surgira e só
entraria em contato com ele na semana seguinte, o amigo lhe respondera
com duas palavras: Até mais. Fim de discussão. Certamente, Jeff não teria
sido tão conciso se tivesse lhe informado que o “algo” em questão se
tratava de uma troca de votos de casamento, seguido por uma crise aguda
de amnésia… mas isso não vinha ao caso.
– Sei que não costumo agir assim… Não! Não teve nenhuma droga
envolvida… Pare com isso! Gail, hoje é seu dia. Quando devo chegar para
ajudá-la?
Pousando o copo de suco ao lado dela, Connor roçou o polegar em seu
ombro para se certificar de que Megan notara.
Em seguida, envolvendo-lhe a base da espinha com uma das mãos, ele se
inclinou na direção da orelha de Megan.
– Se precisar de mais alguma coisa é só me dizer.
Os olhos azuis se encontravam arregalados quando ela se voltou para
encará-lo, e uma onda de pura satisfação masculina o atingiu diante do
evidente impacto que suas ações provocaram.
Megan queria ser convencida.
– Espere, o quê? – perguntou ela, a atenção se voltando imediatamente
para a ligação. – Não quer que eu…?
Connor ergueu o olhar, curioso.
– Por causa de Jodie e Tina. Certo… Não, tudo é válido para fazer este dia
perfeito para você.
Megan soava indecisa, mas resignada.
– Bem, vejo-a na limusine, então. E, Gail… poderia enviar meu vestido de
dama de honra para cá?
Após informar mais alguns detalhes, Megan desligou e estampou um
sorriso hesitante no rosto.
– Boas notícias. Temos mais algumas horas para nos conhecer melhor.
– É mesmo?
– Gail não quer ter de lidar com Jodie e Tina enquanto estiver se
arrumando e não posso ir sem que as duas também estejam presentes,
portanto vamos nos encontrar todas na limusine na hora de ir para a igreja.
– Venha cá – disse ele, dando palmadas leves no estofado ao lado dele.
Megan cruzou a sala até onde ele estava com um sorriso nervoso a lhe
curvar os lábios e a apreensão se refletindo no olhar.
Boas notícias uma ova! Ela estava à beira de um ataque de nervos.
Segurando-lhe a mão, Connor a puxou para que se sentasse a seu lado,
deixando espaço entre a curvatura de seu joelho e o quadril de Megan, mas
mantendo uma pressão leve nos dedos delicados.
– Ouça, vamos esquecer todas as razões pelas quais sou uma escolha
perfeita para marido e relaxar. Conversar.
Os olhos azuis se estreitaram nos lábios de Connor, enquanto ela recuava
com o mais sutil dos movimentos.
– Por que tenho a sensação de que você está prestes a me vender algum
tipo de óleo de cobra?
Connor não lhe soltou os dedos. Ao contrário, aumentou a pressão com
que os segurava, puxando-a de volta.
– Porque você é um pouco pessimista. Agora, pare com isso. Você não
lembra, mas se há algo que fazemos muito bem… é conversar. Sobre
qualquer assunto.
Para provar o que estava dizendo, Connor ergueu um dos jornais
entregues junto com o café da manhã e o atirou sobre o colo de Megan.
– Portanto, vamos começar. Leia as manchetes e depois me diga a
primeira coisa que vier em sua mente.
– VOCÊ É muito trapaceiro – acusou Megan, a risada não impedindo que ela
golpeasse o peito de Connor com o dedo.
Dedo esse que ele utilizou para a rebocá-la da posição de joelhos em que
se encontrava. E de repente Megan se viu presa entre o corpo meio
esparramado de Connor e o encosto do sofá. Mais uma vez.
E, mais uma vez, Megan espalmou uma das mãos no centro do peito largo
e se levantou, recusando-se a admitir como era tentador simplesmente
ficar ali.
Connor fez um movimento negativo com a cabeça, o semblante
esbanjando inocência fingida.
– Trapaceiro? Estamos conversando.
Megan lhe dirigiu um olhar cético, não acreditando nem por um segundo
naqueles olhos arregalados que tentavam vender uma pureza inexistente.
O fato de Connor sequer tentar, sendo dono de uma boca como aquela, era
demais para suportar.
– Claro que estamos. Conversando sobre nossas opiniões sobre
educação. Um tópico sobre o qual temos pontos de vista extremamente
similares.
Outro sorriso oblíquo curvou aqueles lábios sensuais.
– Eu gostaria que nossos filhos vivessem em casa e frequentassem
escolas particulares. E você concorda. Qual é o problema?
– Mmm-hum. E, antes da questão da educação, os esportes radicais. Um
assunto interessante para se tirar do nada. E coincidentemente você seria
da mesma opinião que riscos dessa natureza estariam fora de questão
quando uma criança entrar no cenário.
– Eu lhe disse. Temos muita coisa em comum.
– Sim, e você as colocou todas dentro desta conversa “casual” nas últimas
horas…
– Ora, vamos, querida. Coloquei muitas coisas dentro dessa conversa.
– … convenientemente omitindo qualquer coisa em que discordamos.
Os lábios de Connor se curvaram em mais um grau. Os olhos faiscavam
de uma forma que a princípio a surpreendeu, mas que agora ela procurava
encontrar.
– Eu já lhe disse o quanto essa sua esperteza é sexy?
Um inconveniente frio na barriga a fez desviar o olhar antes que Connor
pudesse mensurar o efeito de suas palavras.
– Eu o repreendi por tentar me manipular, e essa é sua resposta?
– Sim. – Com um dedo, ele lhe girou o queixo até que Megan o encarasse.
– Mas isso não torna o que conversamos menos verdadeiro. Sou um homem
motivado e determinado a não permitir que nada importante me
escorregue pelos dedos. Quero que saiba o que sei.
Megan deixou escapar um suspiro, detestando a forma como tudo que ele
estava dizendo fazia sentido. Produzia um clique, como se cada coisa que
Connor mencionasse estivesse trancada, aguardando, em algum lugar em
seu íntimo para se libertar.
Era loucura pensar em acreditar naquilo tudo, mesmo que por um
segundo.
Megan jurara nunca mais cometer aquele erro. Não se arriscaria outra
vez. E aquele… aquele era um risco diferente de todos que enfrentara antes.
Porém, olhando nos olhos castanho-escuros de Connor, tudo em que
conseguia pensar era: E se desta vez a recompensa valesse a pena?
Uma batida soou na porta da frente. Connor interrompeu o contato
visual para verificar a hora no relógio de pulso antes de se erguer do sofá.
– Deve ser seu vestido.
Um instante depois, um carrinho de bronze lustroso se encontrava
encostado na entrada e Connor verificava o horário em que o cabeleireiro
faria a maquiagem e o penteado de Megan. Ela tentara impedi-lo, mas seus
protestos não foram ouvidos. Connor dissera-lhe que aquele era um dos
privilégios de ser a sra. Reed e que devia se acostumar com isso. Ou, pelo
menos, aproveitar enquanto o tinha.
Era justo. Megan resolvera ceder. E agora tinha de admitir que estava
ansiosa por deixar alguém trabalhar em seus cabelos. Para ser
completamente sincera, já tinha preocupações suficientes com seu
casamento, e a hercúlea tarefa de deixar seus cabelos com uma aparência
decente era algo com que não podia perder tempo.
A porta se fechou, e Connor, com aquela estrutura deslumbrante e um
equilíbrio perfeito, estava se aproximando outra vez. A pele na altura dos
ombros de Megan começou a formigar em uma expectativa imprudente
daquela posição, que parecia ser uma das preferidas de Connor, em que
suas costas ficavam coladas ao peito musculoso. E então lá estava ele,
escorregando um dos polegares por seu pescoço.
– Iria se sentir melhor se eu partilhasse alguns pontos de discórdia?
Lançando um olhar por sobre o ombro, Megan percebeu os olhos
castanho-escuros muito sérios. E muito próximos.
– Sim.
Megan fixou mais uma vez o olhar no vestido antes que girasse e
cometesse alguma estupidez. Considerando seu estado civil atual, essa era
uma grande possibilidade. Em seguida, abriu o plástico fino protetor e
escorregou os dedos sobre a bainha prateada do traje que lhe chegava
acima dos joelhos.
Connor clareou a garganta.
– Acampamentos.
Megan girou para encará-lo.
– O quê?
– Não gosto da ideia de deixar as crianças fora de casa por longos
períodos de tempo.
– Mas o acampamento é algo interessante. Claro que apenas quando
tiverem idade suficiente. Eles têm programas incríveis por lá.
Acampamentos naturais, espaciais…
– Sim, artes, futebol, ginástica e tudo pelo que as crianças poderiam se
interessar. – Passando uma das mãos pelos cabelos escuros e sedosos, ele
deixou escapar um suspiro. – A ideia ainda não me agrada, mas estou
aberto a ela.
As sobrancelhas de Megan se ergueram, juntamente com os cantos de
seus lábios, enquanto ela girava completamente na direção dele.
– Uau. Alguma outra pequena vitória que devo saber?
– Natal em casa. Todos os anos. Todos juntos. Ponto.
Megan deixou escapar um suave arquejo, as mãos se movendo para o
coração em um choque genuíno.
– Você contestou o… Natal?
Aqueles olhos escuros se suavizaram, semicerrando nos cantos.
– Por favor, pode tirar essa expressão “ele é tão cruel” do rosto. Eu não
queria eliminar a possibilidade de uma viagem a algum lugar exótico. Mas
seus argumentos eram tão convincentes que foi uma concessão fácil de
fazer.
Uau! Ele era tão…
Espere.
Os olhos azuis se estreitaram enquanto o estudavam.
– E agora está me mostrando o quanto sabe ser sensato, com todas essas
concessões espontâneas. Nunca se corrige?
Sim, ela estava completamente ciente de que insensata era sua reação
àquele homem lhe concedendo exatamente o que ela pedira. Mas, a julgar
pelo sorriso torto que bailava naqueles lábios sensuais, Connor não parecia
se importar.
– Não até conseguir o que quero.
Megan estava se perdendo na profundidade escura daqueles olhos,
sentindo-se mais atraída a cada minuto que passavam juntos.
– E você me quer.
Connor se inclinou para a frente, fechando a distância entre os dois até
que o calor de seu corpo queimasse o dela como línguas de fogo. Megan
oscilou, de repente ofegante. A palma da mão esquerda de Connor lhe
envolveu a cintura.
– Eu a tenho. – A voz grave soou com um rumor baixo contra a orelha de
Megan. O contato entre os dois era quase como um beijo, antes de ele
recuar e lhe entregar o vestido. – O que quero é mantê-la ao meu lado.
Capítulo 7
– QUE DIABOS pensa que está fazendo? – Megan exigiu saber entocada no
fundo do elevador, as mãos nos quadris e os olhos o incinerando como as
labaredas do inferno.
Connor tirou a foto com o celular e o colocou de volta no bolso do casaco
do smoking antes que o dispositivo acabasse derretido pelo olhar feroz que
a esposa lhe dirigia ou ainda esmagado sob o salto agulha do sapato com
apliques em cristal que ela usava.
– Documentando nossa primeira briga.
Por um instante, toda a raiva canalizada na direção de Connor se
transformou em uma perplexidade que a deixou gaguejando de uma forma
que ele não podia deixar de achar divertida. Mas em um piscar de olhos ela
voltou ao estado de fúria, inclinando-se para a frente, com um tom baixo e
letal na voz.
– Não acredito que você fez isso.
– Ora, vamos, é para nosso álbum de recortes. Mais tarde me agradecerá.
– Você sabe muito bem que não estou me referindo à foto.
Sim, ele sabia. Da mesma forma que tinha plena convicção de que tirar
uma foto quando Megan se encontrava tão irritada era provavelmente uma
atitude suicida. Porém, assim como a decisão que tomara na boate de
quebrar a promessa que lhe fizera, aquilo era algo do qual não iria se
arrepender.
– Tínhamos um trato – sibilou ela, os olhos se alternando como flechas
entre ele e o mostrador digital do elevador. – Mas talvez tenha esquecido.
Ou nosso acordo não servia aos seus anseios no momento, então
simplesmente mudou de ideia.
O elevador diminuiu de velocidade, emitindo um sinal sonoro que
indicava o andar desejado. As portas se abriram, deslizando em silêncio e
Megan se projetou para a frente. O rosto, uma máscara de calma, traída
apenas pela pulsação acelerada do pescoço. Com a mão longa envolvendo a
base da espinha de Megan, os dois saíram para o andar térreo.
– Sem dúvida, a última opção – sussurrou-lhe ao ouvido Connor.
Uma provocação, quase a desafiando a perder a compostura diante de
todas aquelas pessoas. Mas não Megan. Ela se manteve calma,
impressionando-o mais a cada momento, confirmando mais uma vez como
era talhada para o papel de sua esposa. Não que Connor pretendesse ter
como hábito irritá-la em público ou quando estivessem a sós. Não esperava
muitos desentendimentos entre os dois, mas era importante saber até que
ponto Megan conseguia se controlar.
De lá, os dois caminharam em silêncio pelo hotel antes de chegar ao
bangalô privativo onde se encontravam.
Connor estava mais do que disposto a confrontá-la naquela questão, não
importava o quanto ela estivesse furiosa. Aquela cena na boate transpusera
os limites do aceitável.
No instante em que entraram, Megan girou na direção dele.
– Você me prometeu.
Era verdade, mas as circunstâncias não foram as que ele esperava.
Exigiram uma tomada de decisão, e fora o que ele fez. Firmando sua
postura, Connor cruzou os braços.
– Ouviu o que elas estavam dizendo? – perguntou, cedendo à própria
raiva. – Não iria permitir que aquelas traiçoeiras, difamadoras…
A mão de Megan cortou o ar.
– Não me importo com o que elas disseram. O que me interessa é o que
você disse. A palavra que você empenhou. O que vale a pena. No que posso
acreditar.
Connor lhe sustentou o olhar sem recuar.
– Você pode acreditar que eu a recebi como minha esposa. Para honrá-la,
respeitá-la e protegê-la durante todos os dias de nossas vidas.
ESPERE. O quê?
– Você está me… chantageando com… sexo?
– Não sei. – Os quadris de Connor recuaram uma fração de centímetro. –
Surtiria efeito?
Surtiria.
Mesmo sabendo o tipo de jogo que ele fazia, Megan estava a ponto de
prometer qualquer coisa que Connor quisesse… se aquilo o fizesse
terminar o que começou.
Porém, conforme se passaram os segundos, de alguma forma a mente
repressora de Megan voltou à vida. Embora frágil, refletia sobre os eventos
que se desenrolavam ao redor dela. Eventos que moldariam o restante de
sua vida.
– Não – disse ela com a voz estrangulada, forçando as mãos à
imobilidade. Os olhos se abriram para encontrar as labaredas naquelas
profundidades cor de mogno.
– Droga!
Megan podia ver a indecisão nos olhos castanho-escuros… a batalha
entre tentar outra vez, com mais afinco, ou desistir.
Um tremor de esperança varou o ventre de Megan diante do
pensamento. Um que ela afastou, implacável.
– O que é isso? – perguntou ela, agitando uma das mãos entre eles.
Connor fez um movimento negativo com a cabeça, com uma expressão
quase perplexa em seu rosto arrogante.
– É excitante.
Era mais que excitante.
– É entorpecedor. Não consigo pensar.
– Ótimo, então concorde em me dar três meses.
Mas, antes que Megan considerasse sequer lhe dar três minutos, a boca
ávida havia capturado a dela outra vez. A língua quente abria caminho por
seus lábios com investidas lentas e sedutoras. Mais uma vez, instigavam as
restrições de Megan a abandonar seus postos.
Com o coração disparando e a respiração alterada, Megan fez que não
com a cabeça. As mãos se espalmaram no centro do peito musculoso e o
empurraram de leve. Não poderia concordar com nada. Não importava o
estado em que estivera na noite anterior; naquele momento, sua
incapacidade de julgamento estava em nível recorde.
– Megan – murmurou ele, observando-a sob as pálpebras semicerradas.
Oh, diabos, aquele olhar! Ela engoliu em seco, dando um passo atrás. E
depois outro. Precisava se afastar. Necessitava de espaço para respirar.
Para pensar.
– Ora, vamos, querida. Não fuja. Vamos sentar no sofá e conversar.
O olhar de Megan disparou na direção do sofá. Em um piscar de olhos,
aquele acolchoado se tornou matéria-prima para mais cenários do que sua
experiência poderia imaginar… um covil de sedução, abundante em
potencial erótico.
Ultimamente, sua imaginação andava fértil.
– Manterei minhas mãos longe de você. – Soou outra promessa baixa e
rouca, arrastando o foco de sua atenção de volta para Connor. Parado onde
ela o deixara. A camisa cujos botões Megan tentara arrebentar, aberta para
revelar os músculos definidos do abdome e os discos perfeitos dos mamilos
planos.
Megan sentiu a boca encher de água enquanto outro cenário que tinha
por base o sofá lhe invadiu a mente.
– Claro que manterá. – Bem, talvez ele mantivesse. Talvez não fossem as
mãos de Connor que a preocupavam.
– Não acredita em mim? Se quiser pode atar minhas mãos. – Connor
segurou uma das extremidades da gravata que pendia solta sobre seu
pescoço, torcendo-a entre os dedos e oferecendo-a a Megan. O sorriso
pecaminoso se expandiu até novos limites. – A não ser que prefira…
– Não! – Muito bem. Definitivamente não eram as mãos de Connor que a
preocupavam. Com as cenas que se desdobravam em sua mente, Megan
duvidava que fosse capaz de se sentar em qualquer outro sofá em sua vida,
quanto mais naquele.
Forçando os pés a se mover um após o outro, ela subiu a escada e se
encaminhou à suíte master outra vez. Cruzando os braços, segurou a
bainha do vestido e o tirou pela cabeça. Em seguida, entrou no boxe e abriu
a torneira da água fria, preparando-se para a clareza que ansiava conseguir
com o jato de água gelada.
– Uhh! – guinchou ela ao sentir as agulhadas da água ártica contra a pele
superaquecida, banhando-a com a frieza da racionalidade recuperada.
Estivera a ponto de concordar com… qualquer coisa.
Casamento.
Viajar pelo país.
E, Deus a ajudasse, mesmo com a frieza da realidade a inundando… tudo
que conseguia pensar era na forma como o beijo de Connor a consumira
por inteiro.
Um gemido baixo de desejo relutante lhe escapou dos lábios, e Megan
posicionou a cabeça sob o jato de água, esperando que o impacto gelado lhe
penetrasse o crânio duro e lhe dissipasse os pensamentos nebulosos, bem
como o fogo que lhe queimava as veias.
– Droga, Megan. Gosto quando emite esses sons.
A fechadura. Não lhe passara pela cabeça trancar a porta. Pestanejando
para dispersar a água dos olhos, Megan girou para ver, através do vidro
transparente do boxe, Connor recostado à parede na outra extremidade do
toalete. O meio-sorriso a todo o vapor, sedutor e faminto.
– O que está fazendo aí, querida?
– Tentando clarear a mente.
Uma das sobrancelhas espessas arqueou quando ele se desencostou da
parede. O olhar predador lhe percorreu o corpo.
Por que ela não se sentia constrangida com aquele escrutínio? Não que
tivesse onde se esconder. O vidro transparente funcionava como uma
vitrine para olhares curiosos. E, ainda assim, o olhar de Connor nela lhe
parecia natural. Tranquilo.
Em nada parecido com o que sentira com outros homens, mas também
estivera agindo de maneira incomum desde o início daquela manhã. Era
melhor parar de fazer comparações.
– Hum. A clareza lhe cai bem. Eu poderia tentar um pouco disso também.
Dessa vez foram os lábios de Megan a se curvarem em uma fração de
centímetro. Sem dúvida. Aquele homem precisava abrandar o fogo dentro
dele.
– Acha mesmo?
As mãos de Connor se encontravam na braguilha parcialmente aberta,
finalizando a tarefa que ela começara na porta de entrada. Em seguida, ele
estava se livrando da calça do smoking e a deixando em um monte no chão,
enquanto se aproximava do boxe.
O queixo de Megan caiu quando ela se deu conta do convite que acabara
de fazer.
Seria seu cérebro capaz de voltar a funcionar direito outra vez?
As mãos longas se moveram para a cueca boxer que confinava a potência
de sua ereção. E quando se livrou daquela peça, ficou deslumbrantemente
nu. O corpo de Connor era ainda mais belo que suas fantasias sexuais
poderiam imaginar. E ele estava fechando a distância entre os dois. Vindo
em sua direção. Deslizando a porta de vidro do boxe. Os olhos brilhavam
com um fogo quente o suficiente para fazê-la arder mesmo sob…
– Que diabos…? – exclamou ele enquanto se afastava para a extremidade
oposta do boxe.
Megan sabia que não deveria ter rido, mas havia algo definitivamente
satisfatório naquilo. Ao menos uma vez, não fora ela a ser pega de surpresa.
E o semblante perplexo que congelara no rosto de Connor era
simplesmente irresistível.
Porém, a expressão estupefata logo se dissipou.
– Fez isso de propósito – acusou ele, permanecendo longe do jato de
água.
– Você disse que queria clareza – respondeu Megan. O corpo entrando
em estado de alerta quando o foco daqueles olhos semicerrados se
concentrou em seus seios e, em seguida, mais abaixo. Os dois estavam
despidos. Parados em lados opostos do enorme boxe. No segundo em que
Connor ameaçou segurá-la, ela disparou pela porta de vidro, rindo. – Quem
sou eu para impedi-lo.
Um rosnado grave soou atrás de Megan quando ela esticou a mão para
pegar o tecido quente e felpudo do robe dobrado sobre a lateral da
banheira. Envolvendo-se na peça monstruosa, ela girou na direção do boxe
e paralisou. Com as mãos espalmadas acima da torneira e os músculos
flexionados e tensos, Connor se encontrava parado sob o jato de água
gelada. Em seguida, sacudindo a cabeça, focou o olhar onde ela estava, além
da porta de vidro.
– Para ser sincero, isso não está funcionando do jeito que eu esperava.
– Concordo plenamente – respondeu ela, meio que mesmerizada com a
visão diante dela.
– Estou me esforçando ao máximo para permanecer onde estou neste
momento, mas, se você não sair por aquela porta, vou sair deste boxe e
pressioná-la contra a parede.
Megan se viu boquiaberta.
Primeiro o sofá. E agora a parede. Era como se aquele homem tivesse
superpoderes sedutores que o possibilitavam infundir um potencial erótico
aos mais comuns componentes de uma casa.
– Ou talvez seja isso que está esperando. – A promessa na voz grave foi a
força propulsora que fez os pés de Megan transporem a soleira da porta do
toalete, de onde ousou um último olhar a Connor. Ele estava imóvel,
observando-a, com expressão fechada, sem nenhuma sombra de um
sorriso.
A MÃO longa atingiu os ladrilhos com uma pancada úmida ao mesmo tempo
que ele deixou escapar um suspiro.
Por mais tentada que estivesse, Megan não iria correr o risco.
Connor pegou o sabonete e o esfregou na pele com movimentos bruscos,
usando aquela tarefa para ganhar o tempo necessário para analisar suas
opções.
Mas diabos! Nenhuma delas lhe daria o que desejava: Megan voltar para
casa com ele.
Claro que, embora contra seus preceitos morais, tinha certeza de que, se
lhe oferecesse a opção de não criar laços, a teria sob ele antes que seu
corpo secasse. Mas não queria apenas uma noite com Megan. E também não
estava disposto a entrar na rotina de um namoro. Mesmo com alguém
como Megan, não queria perder mais um ano em um relacionamento que
não tinha a autenticidade de pessoas que sabiam que era para valer e não
apenas para passar três ou quatro horas divertidas. Não queria ver Megan
em sua melhor forma. Arrumada e preparada para uma noite de romance.
Não queria esperar para a realidade começar.
Queria a realidade agora.
E a teve. Até que escorregasse entre seus dedos como um drinque
derramado.
Agora, não importava o quanto tentasse mostrar a Megan como fora, o
que aprendera sobre ela, fazê-la sentir a insanidade da ligação entre os
dois… não era o mesmo. Não era o suficiente.
No dia seguinte, ela partiria. E nada que ele fizesse a impediria.
Fechando a torneira, ele limpou a água dos olhos e sacudiu os cabelos.
Em seguida, envolveu os quadris com uma toalha e se preparou para o
adeus que certamente o aguardava do outro lado da porta. Ou mais
provavelmente lá embaixo, na sala de estar. Mas definitivamente não no
sofá.
Não iria mais protelar.
Escancarou a porta do toalete, determinado a enfrentar o desfecho
daquela situação como homem, e estacou onde estava, tomado de assalto
pela visão de Megan, afogada em seu roupão gigante, com os pés enfiados
sob o corpo em uma poltrona acolchoada na extremidade da suíte máster.
– Está bem – disse ela, retorcendo as mãos em um gesto nervoso. – Serei
sua esposa.
Megan continuara a falar, mas ele não entendeu uma só palavra do que
viera depois do “serei sua esposa”. No tempo de uma batida do coração,
Connor cruzou o quarto e a envolveu nos braços. Os lábios carnudos ainda
estavam se movendo quando ele os capturou em um beijo, silenciando-lhe
as palavras que não conseguia discernir. Megan poderia dizer o que
quisesse depois, quando baixasse o nível de adrenalina, que o ensurdecia
para tudo que não fosse o urro da vitória. Até lá, ele manteria aquela boca
carnuda ocupada com algo mais produtivo do que conversar.
Com as mãos espalmadas no peito musculoso, ela se afastou, rindo
quando Connor tentou seguir seu recuo.
– Espere – suplicou Megan. As mãos se moveram dos músculos peitorais
para lhe envolver a mandíbula. – Espere. Precisamos deixar algumas coisas
claras antes de seguirmos adiante.
Guiando os dois na direção da cama, ele fez que não com a cabeça.
– Mais tarde. Acordo pós-nupcial ou o que for, resolveremos depois.
Amanhã.
– Não, não é isso que… – E então, girando a cabeça, ela olhou para trás. –
Connor, estou falando sério. Na cama não…
Mas ele já a estava deitando sobre o colchão.
– Sei que você gostou da ideia da parede, mas dê uma chance à cama. Não
ficará desapontada.
E então a boca ávida estava sobre a dela outra vez. Uma das mãos longas
seguindo a curva suave da coxa de Megan até lhe alcançar o quadril nu. E
diabos, sim, ela estava arqueando na direção de seu corpo, gemendo com as
investidas de sua língua, se agarrando aos seus ombros e, em seguida, aos
cabelos. Abrindo os lábios para receber e corresponder à invasão erótica de
sua língua.
Megan era tão sexy! E lhe pertencia.
Saborearia cada centímetro dela naquela noite.
Abandonando-lhe a boca, os lábios de Connor rumaram para o pescoço
delicado, onde escorregou a língua sobre a pulsação acelerada e a ouviu
deixar escapar um xingamento abafado enquanto contorcia o corpo para se
soltar. Aquilo o fez recuar para encará-la.
– Droga.
A expressão de Megan se transformou em uma máscara de frustração,
fazendo-o recuar ainda mais, surpreso ao observá-la se erguer da cama.
– Agora. Temos de conversar agora. Porque não posso concordar com
tudo. Temos de estabelecer algumas regras básicas.
– Regras básicas. – Connor não estava gostando daquilo. – Tais como?
Apertando a faixa que prendia o robe à cintura, Megan mudou o peso de
um pé para o outro e o olhou de soslaio.
– Nada de sexo.
Os dentes de Connor cerraram enquanto ele deixava escapar um longo
suspiro pelo nariz.
– Quer dizer… esta noite?
Mas, mesmo enquanto fazia a pergunta, já sabia a resposta.
– Não. Estou me referindo a todo o período de três meses.
Forçando-se a rir em vez de xingar, Connor fez que não com a cabeça.
– Esqueça. Estamos experimentando um casamento real, e o sexo é uma
parte saudável e normal desse contexto.
– É dispersante – protestou ela. – Não consegui nem ao menos raciocinar
quando estávamos… – Megan agitou uma das mãos entre os dois. – … na
cama. E estamos falando sobre mudar meus planos para o resto da minha
vida. Preciso estar apta a pensar.
Connor franziu a testa.
– Terá muito tempo para pensar, querida. Que tal eu prometer não a
distrair quando estivermos discutindo algo importante?
– Sim, mas não tenho certeza se essa sua concessão será suficiente.
Quando estamos juntos… até mesmo nos beijando… não consigo pensar
claro o suficiente para mandá-lo parar, mesmo quando é o meu futuro que
está em jogo.
Está bem, pensou Connor. Rir como um tolo provavelmente não
transmitiria a melhor mensagem, mas droga!, gostava do que estava
ouvindo.
– Provou ser capaz disso… e mais de uma vez.
– Ficou por pouco!
– Já mencionei o quanto estou feliz por você ter se casado comigo?
– Estou falando sério…
– Eu também – contrapôs ele, erguendo-se da cama e a segurando pelos
ombros. – No que se refere à gravidez, obviamente esperaremos até que
você esteja confiante de que esta é a vida que deseja. Mas quanto ao sexo?
Sem chances. Vou seduzi-la.
– Eu direi “não” – sussurrou ela, o olhar já vagando para a boca sensual
de Connor.
– É um aviso justo… – Ele moveu o polegar ao longo da pele pálida sob o
lábio inferior de Megan. – Se fizer isso, eu pararei.
Fechando os olhos, ela anuiu, e o movimento permitiu que a carícia de
Connor se movesse para o lábio. Tão apetitoso.
– Sei que o fará.
Megan abriu os olhos e, dessa vez, os deixou percorrer a estonteante
estrutura masculina, desde a cabeça úmida, passando pelo local onde a
toalha se encontrava precariamente situada até o pé, antes de perfazer o
caminho de volta. Era como se estivesse se testando diante da tentação.
Aquela era a sua esposa!
Os músculos do pescoço de Megan se moveram para cima e para baixo
enquanto ela engolia em seco. Duas vezes. Em seguida, aqueles
deslumbrantes olhos azuis pestanejaram antes de encará-lo. A
determinação lutava para se refletir neles.
– Posso resistir a você.
Connor cedeu ao sorriso lento que lhe repuxava os lábios.
– Você pode tentar.
Capítulo 11
– PERDEU SUA maldita cabeça? – perguntou Jeff. O ultraje soava tão claro
pela linha do telefone quanto se o amigo em pessoa tivesse rastejado
através do fio para segurá-lo pelos braços e sacudi-lo.
– Acreditaria se eu dissesse que perdi a cabeça, subi à lua e estou
totalmente apaixonado? – perguntou Connor, carregando sua bagagem de
mão enquanto saía da banca de jornal do aeroporto.
– Não. – Soou a resposta direta e destituída de humor.
– Bem, então você está certo. – Desviando-se de um casal atracado em
um abraço apaixonado, Connor olhou ao redor dos portões e verificou a
hora no relógio de pulso. – Estou em meu juízo perfeito. Com os pés
firmemente plantados no chão da realidade e casado com uma mulher
estonteante, sexy e inteligente, que por acaso é tudo que eu estava
procurando em uma esposa.
– Uau, não sabia quer você estava procurando por alguma caça-dotes
perita em lavagens cerebrais ou teria lhe indicado uma dentre as hordas
das interesseiras que se atiraram aos seus pés na última década. Que
diabos aconteceu, homem. Essa mulher o drogou?
Connor contraiu a mandíbula e trincou os dentes.
Imaginara o que as pessoas iriam pensar. As conclusões que tirariam. E
dissera a si mesmo que não se importaria. Que nenhum dos dois se
incomodaria. Diabos, seu temor em ir contra as convenções não era menor
do que o de Megan. Mas, assim como no casamento de Gail, o instinto
protetor o preparou para contestar aqueles comentários absurdos.
– Nem de longe. Na verdade, suponho que tenha sido eu que realmente a
droguei.
Lá estava ela. Retornando da cafetaria, com uma bandeja lotada com dois
copos de café e um saco de pães doces. A outra segurava a mochila do
laptop pela alça. Ele diminuiu o passo, preferindo ficar longe do alcance da
audição de Megan.
– Hum… Connor, a que está se referindo?
– Deixei que ela se embebedasse, o que a fez esquecer a maior parte da
noite.
– Deixe-me adivinhar – disse Jeff em tom de voz seco. – Ela se lembra da
parte em que se casaram.
– Sim, mas infelizmente não se lembra por que, no momento, pensou que
aquela era uma excelente ideia. Foi necessário um pouco de esforço de
minha parte para fazê-la se recordar. Até mesmo agora, ela ainda está
reticente, mas disposta a dar uma chance ao casamento. Estamos voando
para Denver a fim de que ela faça as malas.
– Você está falando sério?
Connor não conseguia se lembrar se algum dia ouvira a voz de Jeff tão
estridente, e aquele som trouxe de volta aos seus lábios o sorriso com que
iniciara aquela ligação.
– Claro. Você terá de confiar em minha palavra, mas, Jeff, eu a conheço. E
gosto muito dela. – Em seguida, por simplesmente não conseguir deixar de
provocar um velho amigo quando a oportunidade se apresentava,
acrescentou: – De volta à ativa, como você mesmo disse.
– Por falar no assunto… ela sabe sobre Caro?
– Sim. Eu lhe contei na primeira noite. – Connor limpou a garganta e
olhou para a pista adiante. – E ontem também. – Tivera uma sorte dos
diabos por Megan ter lhe perguntado sobre algum relacionamento sério
enquanto se dedicavam ao curso “conheça seu companheiro”. Caroline fora
a última mulher em sua vida, e algo lhe dizia que não seria muito
interessante para a confiança que estavam construindo ele não colocar a
esposa a par do assunto. E até mesmo agora percebia que deveria ter sido
mais detalhista em seu relato. Determinados pormenores que não
alteravam nada, mas, diabos!, Megan estivera muito próximo de não dar
uma chance àquele casamento. Muito próximo. Não estava disposto a
arriscar que ela se aborrecesse por alguma lamentável cronologia, ao
menos não até que estivessem em terreno mais sólido.
– Não posso acreditar que não me tenha apresentado a ela ontem. Queria
ter conhecido essa mulher… agora que sei que ela não o arrastou pela nave
da igreja com uma faca apontada para suas costas – disse Jeff.
Connor sorriu e retomou a caminhada, acenando quando Megan girou na
direção dele. Aquele sorriso largo lhe provocava todos os tipos de reações
ao mesmo tempo.
– Em breve. Por enquanto, estou pronto para levá-la para casa.
– É bom ouvir isso, mas quero detalhes. Comece do início.
– Trinta segundos depois que você partiu, a “ginasta” apareceu em minha
mesa, com uma cantada pouco original.
– A ginasta? Rapaz!
Megan o alcançou no meio do caminho e, parecendo ter ouvido aquela
parte da conversa, ergueu as sobrancelhas em uma expressão divertida. Em
seguida, inclinou-se na direção do telefone.
– Não sou ginasta.
Connor se inclinou e lhe depositou um beijo breve na têmpora,
deliciando-se com o leve rubor que corou as bochechas do rosto de Megan.
– Mas ela não é ginasta e não foi exatamente uma cantada…
– NADA DE sexo? – perguntou Jeff com uma voz estrangulada do outro lado
da linha.
Apertando o volante com as mãos até que as juntas dos dedos se
tornassem brancas, Connor não perdeu o divertimento implícito na voz de
Jeff, não importava o quanto o amigo tentasse disfarçar.
Era bom saber que alguém achava aquilo engraçado.
– Sim, também não consigo acreditar nisso. Mas Megan… – Connor
inspirou lentamente, relanceando o olhar além dos desfiladeiros para o
oceano que se descortinava adiante, antes de retornar a atenção à estrada.
Tivera tanta certeza de que a teria com aquela cota diária de intimidade,
porque quando se beijavam… Connor escorregou um dedo por dentro do
colarinho, abriu o primeiro botão da camisa e afrouxou a gravata… se
beijavam para valer. Mas, como prometera, Megan se mostrara
determinada.
– Ela não quer que nada lhe embote o bom senso até chegar a uma
conclusão.
– Certo. Entendi. Sessões de sexo selvagem têm a tendência de confundir
prioridades. Dar significado ao insignificante. Tornar as coisas “especiais”
quando na realidade não são. Garota inteligente. – Connor trincou os dentes
molares, sem saber exatamente que tipo de resposta desejara do amigo…
mas certamente não fora aquela. – Então, fora o fato de sua esposa o achar
totalmente resistível, como está o restante da vida de casado?
– Bom. Sem surpresas. – Não muitas. – Megan é mais reservada do que se
mostrou em nossa primeira noite. E está meio preocupada em se certificar
de que eu saiba no que estou me metendo. Sabe como é, mostrando uma
lista de defeitos para se revelar por completo. Megan teme que eu tropece
em alguma decepção depois que ela esteja comprometida.
Após alguns segundos de pausa, o tom de brincadeira abandonou a voz
de Jeff.
– Alguma decepção?
– Relaxe – respondeu Connor. – Coisas pequenas. Na maioria, bobagens.
Afinal, ele não se importava nem um pouco que Megan não fosse uma
cozinheira de mão cheia ou que tivesse a tendência de se exceder quando
adotava um novo hobby. Mas certamente fazia questão de saber se a
mulher com quem se casara seria sincera com ele. E todas as vezes que
estavam juntos Megan lhe dava provas disso.
No entanto, queria a confiança de Megan de volta. A fé que ela colocara
nos dois quando recitara seus votos. Mas todas as vezes que ela revelava
outro defeito, aguardando um instante para medir sua reação ou se o
abalaria, Connor se lembrava de como aquela fé se esvaíra de Megan da
noite para o dia.
Não importava. Em breve, ela veria. E até lá… bem, não podia reclamar.
Megan era uma mulher forte. Inteligente. Sabia se proteger.
– Ela me faz rir e é uma pessoa excepcionalmente fácil de conviver.
Agradável de conversar. – Agradável aos olhos e lhe ocupava a mente com
facilidade. Talvez com muita facilidade.
Mas isso era de se esperar.
Megan era um desafio. E, embora tivesse conseguido que ela desse uma
chance ao casamento dos dois, Connor sabia que ela não estava totalmente
entregue. Isso significava que Megan era um projeto inacabado. Um negócio
prestes a ser fechado. Droga! Era um prurido a ser coçado. Ele a queria e
até ter certeza de que a possuía Megan lhe estaria ocupando a mente mais
do que ele normalmente permitia que um relacionamento o fizesse.
– Cara, fico feliz que tenha encontrado uma mulher com quem possa
conversar. Sei que sempre imaginou um casamento que fosse mais como
uma fusão de empresas. E depois de Caro…
– Ouça, estou quase chegando em casa. – Connor diminuiu a velocidade
ao atravessar o caminho que levava à garagem da casa, esperando que o
portão se abrisse. – Está na hora de vencer a resistência da esposa.
– Entendi. – Jeff soltou uma risada, não se ofendendo com a interrupção
abrupta do telefonema. Se tivesse alguma coisa para dizer, estava certo que
teria outra chance de fazê-lo. – E boa sorte… parece-me que vai precisar.
Connor desligou e saltou para fora do carro. Um sorriso lento se
estampou nos lábios enquanto a mente se focava na última imagem que
tivera da esposa, antes de sair para o trabalho. Sabia que ela não se
pareceria em nada com a felina sexy daquela manhã, que ronronara com o
beijo que ele pressionara em seus lábios, antes de despertar por completo.
Sonolenta e quente. O pijama de seda, que lhe marcava o contorno dos
mamilos, erguido na altura das costelas.
Não era de se admirar que Megan ocupara seus pensamentos nas últimas
onze horas.
Agora, ela estaria vestida. Provavelmente limpa e arrumada. Ainda assim,
Connor não conseguia afastar os acontecimentos picantes que lhe
assombravam os cantos não tão ocultos da mente. Acontecimentos que
envolviam seda e sonolência, embalados em um tipo de beijo seja-bem-
vindo-ansiei-por-você-o-dia-todo.
Sim, grande chance!, pensou ele, sarcástico.
Fechando a porta ao entrar, ele gritou o jocoso “querida, cheguei” ao
cruzar o corredor.
O silêncio ecoou de volta para Connor enquanto ele largava as chaves na
mesa com tampo de vidro e seguia na direção da escada. O segundo andar
se encontrava escuro e vazio, com exceção da luz frouxa da luminária no
hall, acima do lance de escada. O terceiro andar também. Connor franziu a
testa e verificou se havia alguma mensagem no telefone celular. Nenhuma.
Não que retornar a uma casa vazia fosse uma experiência nova para ele,
mas com Megan vivendo ali, esperara… algo diferente.
Não que estivesse desapontado. Desejara uma mulher independente, que
não o fizesse se sentir culpado por sua agenda de trabalho atribulada ou
agisse como se sua vida estivesse atrelada à dele.
Desejo concedido!
Porém, caminhando por aquela casa vazia, que nunca lhe parecera
solitária antes, teve de admitir que, em uma semana de casamento, não
esperava que ter seu desejo concedido o deixaria tão incomodado.
No meio do corredor escuro, Connor estacou em frente à porta do
escritório de Megan. Um feixe de luz prateada se insinuava pela fresta
juntamente com o som indistinto de teclas de computador sendo digitadas.
Megan estava ali.
Girando a maçaneta, abriu a porta do santuário da esposa… e descobriu
sua fantasia coberta com a mesma seda daquela manhã. O olhar
concentrado no monitor enquanto os dedos trabalhavam ligeiros no
teclado à frente.
A sensualidade da aparência sonolenta de Megan esmaecera ao longo do
dia, mas, ainda assim, ele não conseguia desviar o olhar dela. Parecia
intensa e focada. E sacudia levemente a cabeça no ritmo do que quer que
estivesse tocando naqueles fones de ouvido rosa-shoking.
Nunca, nem em um milhão de anos, Connor esperara voltar para casa e
encontrar uma cena como aquela se tivesse se casado com Caro. A ex-noiva
estaria a postos e toda arrumada. Atenciosa daquela maneira distante à
qual ele se acostumara. Fazendo comentários corriqueiros como faziam
com estranhos durante os coquetéis. E ele nunca saberia… para ser sincero,
nunca se importaria com o rumo dos pensamentos de Caro.
Nada parecido com aquilo, pensou ele com um sorriso estupefato.
Naquele momento, sabia exatamente onde estavam os pensamentos de
Megan. Imersos no trabalho. O projeto que ela estivera esperando
finalmente havia chegado.
Despercebido, Connor permaneceu parado à soleira da porta,
considerando suas alternativas.
Poderia entrar e tirar vantagem da distração de Megan. Afastar aquela
massa de cabelos loiros para o lado e começar pelo pescoço sedoso,
aproximando os lábios do ponto extremamente sensível que ela possuía
atrás da orelha, antes de seguir adiante…
Ou poderia pedir o jantar, porque baseado no que estava vendo aquilo
nem passara pela cabeça de Megan. E, quando tivesse seu beijo de boas-
vindas, queria que ela estivesse focada.
Esfregando a nuca, ele virou para se retirar.
– Connor.
A voz de Megan soou alta, e ela o encarava com uma adorável expressão
confusa.
Connor indicou a própria orelha, e ela retirou os fones de ouvido.
– Olá, bela. Como foi seu dia?
O cumprimento fora sincero, mas Megan parecia tê-lo interpretado como
sarcástico. O semblante empalideceu ao mesmo tempo que as mãos
rumavam para os cabelos loiros e depois para o pijama de seda, que
revelava mais segredos do que ocultava.
Porém, logo em seguida aconteceu a coisa mais admirável. A expressão
de constrangimento se dissipou, e algo que se parecia muito com desafio se
estampou no belo rosto da esposa.
– Fiquei envolvida com este trabalho durante todo o dia… e perdi a noção
do tempo. Isso pode ser irritante para algumas pessoas.
Ah, mais uma das revelações. O que fosse necessário para tranquilizá-la.
– Acha que está em um ponto em que pode parar se eu pedir comida
chinesa? – perguntou ele, sentindo que o tempo que Megan teria para
concluir o que estava fazendo até chegar o jantar lhe permitiria não
retornar ao trabalho naquela noite. Costumava ser assim com ele.
– Você não se importaria? – O olhar de Megan voltou a se concentrar
nele, infinitamente mais suave do que segundos atrás.
– É melhor não me importar… em breve será minha vez. – Sem
questionamentos. – Ligarei para o restaurante e tomarei um banho rápido.
Encontre-me no térreo quando estiver pronta. – E diante da testa franzida
de Megan. – Algo errado?
– Não quer seu beijo?
– Oh, quero – assegurou ele, cedendo ao sorriso que estivera pairando
em seus lábios. – Mas só quando tiver sua total atenção. Portanto,
concentre-se para concluir seu trabalho.
– O QUE ela preparou para você? – Jeff guinchou do outro lado da linha.
Connor fez um movimento negativo com a cabeça, recordando a última
tentativa de Megan de confrontá-lo com a realidade. A última tentativa
fracassada.
– Atum ao molho branco sobre purê de batatas. Com ervilhas. – Enlatado,
em caixa, congelado. Connor sabia porque vira as embalagens deixadas
estrategicamente expostas no balcão. – Ao que parece é alguma preferência
familiar antiga que ela tem de comer de vez em quando.
– Não brinca.
A última vez que Connor ouvira aquele tipo de admiração na voz do
amigo fora quando uma modelo famosa piscara e atirara um beijo para Jeff,
antes de pular de bungee jumping na barragem da Usina Hidrelétrica de
Verzasca em Ticino, Suíça. – Diabos, essa mulher está levando a sério a
tarefa de decepcioná-lo.
Connor sentiu um arrepio enquanto controlava um rosnado que no
momento ameaçava sua calma.
– Se está levando a sério, deveria recorrer a algo mais substancial do que
um jantar. Como se eu fosse desistir por ela não me servir uma refeição
cinco estrelas. Essa não!
Aquilo era um insulto para ambos.
– Você comeu aquele grude?
– Claro que sim. – Connor resfolegou, surpreso com a pergunta do amigo.
– Megan fez especialmente para mim. – E comera até a última garfada,
como se fosse um banquete dos deuses, embora nem mesmo Megan tivesse
conseguido comer. E então, cedendo a uma relutante risada abafada,
acrescentou: – Mas tenho de admitir que aquela foi a pior coisa que já
experimentei.
– Rapaz!
Meia hora depois, os pensamentos sobre os testes e as frustrações foram
postos de lado. Connor adentrou a cozinha, afrouxando a gravata e
desabotoando o colarinho, com o olhar fixo nas curvas graciosas das
nádegas de Megan, delineadas por uma calça de ioga colada ao corpo e ela…
oh, diabos!, estava verificando o ponto do que parecia ser uma lasanha no
forno… mas o aroma nada tinha a ver com a iguaria italiana.
Não. Outra. Vez.
– Olá, bela – disse ele, anunciando sua presença um segundo antes de
escorregar as mãos pelas doces curvas dos quadris de Megan. Precisava de
um lembrete que justificasse por que ele teria de digerir a próxima
atrocidade culinária. Uma espécie de incentivo.
Com as mãos espalmadas no quadril e na cintura de Megan, ele a
observou fechar a porta do forno e começar a girar.
– Que tal meu beijo de boas-vindas… Argh!
Connor atirou a cabeça para trás quando se deparou com o rosto
sorridente coberto com algum tipo de máscara com aparência de matéria
orgânica em decomposição ressecada… sem mencionar o odor.
– Seu beijo? – Megan soltou uma risada, dando-lhe palmadas leves no
peito e, em seguida, piscando, maliciosa, enquanto se afastava. – Desculpe
por surpreendê-lo com essa máscara com aparência de vegetais em
decomposição, mas eu a aplico toda semana – justificou ela, dando de
ombros.
– Toda semana? – Deus! Não poderia nem imaginar ter de enfrentar
aquele odor regularmente. Ousando olhar mais de perto, Connor se
inclinou para a frente e escorregou o dedo ao longo da bochecha do rosto
pegajoso.
– Que efeito tem isso?
Megan deu de ombros.
– Uh… bem, fecha seus poros. E remove as impurezas. Mantém a pele
com uma aparência mais suave. Jovial. Mais saudável.
Hum. Metade do tempo em que estivera com Megan não a vira usar
nenhum tipo de maquiagem e a achara linda de qualquer jeito. A pele
impecável, pontuada por graciosas sardas. Talvez fosse o efeito da
máscara?
– Interessante. – E, gesticulando com a mão em frente ao próprio rosto,
perguntou: – Que outros segredos de beleza devo esperar?
Connor nunca questionara nenhuma outra mulher com quem se
relacionara sobre os misteriosos rituais femininos, mas também nunca
tivera tal curiosidade. E, claro, nunca tivera uma relação tão íntima e
pessoal com alguém.
Com os braços cruzados, Megan lhe lançou um olhar especulador.
– Depilação com cera – respondeu após um instante.
– É mesmo? – O olhar de Connor deslizou pelo corpo de curvas graciosas,
a curiosidade sobre cada centímetro de pele macia aumentando.
Dessa vez, foi Megan a gesticular a mão em torno do próprio rosto, o
sorriso desafiador a todo o vapor.
– Sim.
A princípio lhe pareceu confuso, mas logo Connor entendeu e empinou o
queixo.
– É mesmo?
Megan ergueu uma das sobrancelhas delicadas.
– Por quê? Isso não o incomoda, certo?
Connor poderia ter julgado aquele olhar brincalhão, não fosse pelo brilho
de aço nas profundezas azuis.
O bom humor e a curiosidade divertida de Connor se dissiparam.
Outro teste.
Havia passado três semanas, e ele não conseguira provar nada para
Megan. Não fizera nenhum progresso em aliviar as preocupações que a
atormentavam. E aquilo estava começando a irritá-lo. Minando os limites
de sua natureza até o ponto em que algo teria de ceder.
Mas não ele.
– Sei o que está fazendo.
Megan o encarou alarmada, preparando-se para o que vinha a seguir.
Boa ideia. Seria necessário, porque ele estava prestes a pôr um ponto
final naqueles estratagemas.
Connor caminhou na direção dela, permitindo que a mente descascasse
as camadas de defesa que Megan erguera entre ambos. A máscara, os
testes, até ver apenas a mulher que lhe dirigira o olhar naquela primeira
noite.
– Sei o que quero. – Megan havia se recostado à bancada, a respiração
escapando pelos lábios de uma forma que incitava a parte mais primitiva
de Connor. – E se está pensando que a ameaça de alguma máscara
fedorenta ou o ritual não muito sexy de se depilar a cera irá me impedir de
conseguir isto… – Ele lhe acariciou a orelha, afastando para trás algumas
mechas de cabelos soltas naquele ponto e prosseguiu com a carícia pelo
pescoço delicado. Em seguida, inclinou-se na direção dela e se permitiu um
tom levemente rude na voz. – … está muito enganada. – Dois olhos azuis
arregalados envoltos pela máscara verde pútrida o encararam. Disposto
não só a sustentar o desafio de Megan, mas também estimulá-lo, ele se
aproximou ainda mais, respirando apenas pela boca. – Quero meu beijo
agora.
MUITO BEM. Aquilo não saíra exatamente como ela pretendera. Nem de longe.
Ofegante e trêmula pelo desejo não saciado, a camiseta enrolada em um
dos cotovelos, Megan baixou o olhar ao próprio corpo estendido no granito
polido da ilha central da cozinha com absoluta descrença, enquanto Connor
se retirava, impassível. Assobiando para si mesmo!
Como se tivesse experimentado uma espécie de vitória, em vez de ter
rastejado para fora daquela bancada, coberto de repugnantes flocos de
máscara de alga. A camisa feita sob medida sem metade dos botões e
ostentando uma ereção que ameaçava arrebentar o zíper da braguilha.
Conseguira resistir a ele!
Claro que levara algum tempo até que Megan voltasse a si. E
provavelmente apenas porque, no meio da tempestade de paixão, ela
tivesse aberto os olhos e se deparado com o reflexo de seu rosto verde no
metal reluzente da tigela pendurada acima da bancada. Mas ainda assim,
após algumas tentativas ofegantes, conseguira pronunciar o nome de
Connor. E alguns minutos depois fora capaz até mesmo de desenroscar os
tornozelos que enroscara na cintura dele e dizer “não”.
Determinada. Mais ou menos.
Connor lhe capturara os lábios em um último e ardente beijo antes de…
desmontar.
Assobiando.
Aff!
Então, aquela máscara revoltante que ela mal podia aguentar, mas que
usava porque, apesar do odor desagradável, era extremamente eficiente,
não fora o suficiente para fazer Connor desistir daquele jogo. Na verdade,
ela não esperara que fosse.
O homem com quem se casara não era fraco. Era motivado por seus
objetivos. Não temia o confronto, fosse em face do trabalho duro ou de um
pungente odor de pântano.
Megan engoliu em seco.
Embora o desejasse, todas as vezes que se confrontava com a segurança
tranquila e imperturbável, a lábia e olhar obstinado de Connor, não
conseguia deter os pensamentos que lhe invadiam a mente.
Aquele homem sabia influenciá-la, fazer todas as promessas certas e
deixá-la se sentindo mais vulnerável do que antes. Connor não admitia
nada que não estivesse alinhado com seu objetivo. Não respondia de
nenhuma forma crível. Isso a aterrorizava. Porque, se recusando a enxergar
quem ela de fato era e moderando todas as suas respostas, Connor também
a estava impedindo de ver quem ele realmente era.
Mas Megan não conseguia se forçar a desistir. Porque para cada defeito
facilmente relevável havia centenas de exemplos de sinceridade. Momentos
muito puros e intensos para não serem genuínos.
Deus! Tinha de tomar cuidado.
MEGAN ABRIU os olhos para se deparar com uma longa mão masculina
engolfando a dela, próximo ao seu rosto. Músculos rígidos e uma força
potente lhe aqueciam as costas e se entrelaçavam em seus membros
enquanto uma respiração ritmada lhe acariciava a pele dos ombros.
Era como estar no céu.
E ela quase jogara aquilo tudo fora.
O braço pesado atirado sobre a lateral de seu corpo se contraiu,
alertando-a de que Connor havia acordado. Girando o rosto para encará-lo,
Megan foi atingida pelo impacto da intimidade das duas cabeças dividindo
um único travesseiro enquanto o sol do fim da manhã banhava a cama.
– Ainda está com raiva de mim? – perguntou ela com o olhar fixo na
perfeição simétrica do rosto do marido.
Connor rolou para se deitar de costas, mas manteve a cabeça virada na
direção dela, de modo que Megan pôde ver aquele meio-sorriso decretar a
resposta.
– Não. Não sou rancoroso. E nem um lutador ferrenho. Se quer mesmo
saber, essa é a primeira vez que lutei por uma mulher.
– Primeira vez? – perguntou ela, indecisa do que fazer com aquela
revelação. – É tão despreocupado assim?
Connor desviou o olhar ao teto.
– Sim e não. – E voltando a encará-la, esclareceu: – É verdade que as
coisas pequenas não me incomodam. Quero dizer, há coisas com as quais
devemos nos preocupar e outras que não têm muita importância. Mas antes
de você… nunca investi em um relacionamento assim.
– É tão diferente assim conosco?
– Sim. E quanto a você… ainda temerosa?
Foi a vez de Megan desviar o olhar para o teto.
– Sim. Mas você vale o risco.
Puxando a mão delicada para pousá-la sobre o peito, Connor brincou
com a aliança que ela usava por um instante. A expressão do belo rosto
másculo deixava claro que havia mais em sua mente. Talvez algo que não
fosse fácil colocar em palavras.
Connor franziu a testa, e o foco na aliança se intensificou, como se
observar a joia funcionasse como uma âncora contra os próprios
pensamentos. E então, após um instante, limpou a garganta.
– Eu entendi. O que a assusta neste relacionamento. Nós. Eu. Não quer
investir confiança em um cara como aqueles com quem sua mãe se casava.
Que lhe fará promessas e depois se afastará. Não quer se submeter àquele
sofrimento outra vez. E o fato de estar confiando em mim… Megan, eu
prometo, nunca a decepcionarei.
– Eu sei – sussurrou ela, sentindo a tensão crescente de Connor, mas não
conseguindo captar a causa. – O que está acontecendo?
Mais uma vez, Connor limpou a garganta e, em seguida, girou na direção
dela. Os olhos escuros se abriram dolorosamente para ela.
– Quero que saiba que eu entendo o que você passou, porque sei como é
ser negligenciado. Sei como é se permitir precisar de alguém e ver essa
pessoa se afastar.
Seguiu-se uma longa pausa, e Megan se perguntou se ele prosseguiria.
Por fim, não conseguiu aguentar mais.
– Por quê?
– Acho… eu acho que lhe contei sobre minha mãe – começou ele.
O coração de Megan começou a martelar as costelas.
– Ela morreu quando você era garoto.
Connor anuiu.
– O que não lhe contei… o que não contei… a ninguém é que ela se
suicidou.
Megan se sentou na cama, enfiando os joelhos embaixo do corpo ao
mesmo tempo que espalmava uma das mãos sobre o peito largo.
– Oh, sinto muito. Muito mesmo!
Connor lhe deu palmadas leves na mão, anuiu em um gesto de
agradecimento e a puxou outra vez contra o peito.
– Obrigado, querida. Ela viveu infeliz por um longo tempo. E, por fim, não
conseguiu suportar.
– Mas você era um menino de apenas 13 anos.
Megan sentiu um nó no peito. De repente, muitas peças se encaixaram no
quebra-cabeça. O laço de Connor com Jeff. O ressentimento contra um
homem que não merecia o título de “pai”. Por que motivo ele entendia sua
dificuldade em confiar.
Havia muitas formas de abandono. E seu marido havia vivenciado uma
das piores.
– Levei muito tempo para superar isso. E, como disse, evito falar sobre
esse assunto. Mas você está depositando sua confiança em mim.
Acreditando em mim. Portanto, merece saber que eu compreendo o que
isso significa para você.
Com o nó na garganta cada vez mais apertado, Megan anuiu contra o
peito musculoso. Connor estava se referindo à confiança que ela depositara
nele, mas naquele momento o que lhe chamava a atenção era a confiança
que ele acabara de depositar nela.
E ela faria por merecê-la.
Capítulo 16
A PORTA de frente bateu com o som abafado que Megan fingia não ouvir
desde a manhã do dia anterior. Connor havia avisado que não voltaria para
casa, mas uma parte dela o aguardara.
Esperançosa.
Tentando não pensar em todas as noites insones que tivera quando
criança, avaliando cada rangido ou gemido, os ouvidos apurados para um
retorno que nunca acontecia. Porque, apesar da mudança abrupta de
opinião de Connor a respeito da evolução daquele casamento, Megan sabia
que ele voltaria para casa.
Connor não havia partido. Não a estava abandonando.
Aquele não era o mesmo tipo de decepção inesperada. Era
surpreendente, sem dúvida, mas não devastador.
Connor estava se preocupando com ela. Aproveitando aquele tempo a
mais para garantir que não tivessem de enfrentar as dúvidas que fizeram
parte daquele primeiro mês que viveram juntos.
E agora Connor chegara em casa. Pendurou o blazer no closet e atirou as
chaves sobre o tampo da mesa antes de saudá-la do mesmo modo como
fazia todas as noites.
– Olá, sra. Reed.
Uma onda de alívio a engolfou enquanto Megan fechava a distância entre
os dois e lhe oferecia o beijo que se tornara parte da rotina do casal desde o
início. Tudo estava bem. Nada havia mudado.
Megan teve vontade de enterrar a cabeça no peito do marido, pressionar
a testa à depressão entre os peitorais rígidos e ceder à emoção que estivera
ameaçando sufocá-la. Queria aqueles braços fortes a envolvendo, palavras
tranquilizadoras ao seu ouvido. Ansiava por toda aquela racionalidade
sensata de Connor para abrandar a insegurança indomável que lhe abalara
a serenidade desde o instante em que ele saíra por aquela porta no dia
anterior.
Porém, a insegurança era algo que não podia suportar. Um sentimento
indesejado na vida que ela estava construindo. Portanto, em vez de
colapsar sobre o homem pelo qual estirava aguardando ansiosamente,
Megan se satisfez com a visão daquele sorriso suave. Contentou-se em
acariciar os ombros de Connor enquanto perguntava como fora seu dia.
Conformou-se em perguntar se ele havia dormido bem na suíte do
escritório e com a resposta afirmativa quando ele lhe garantiu que passara
tantas noites lá que considerava aquelas acomodações o seu segundo lar.
Em seguida, ele abriu a pasta executiva tipo carteiro e de lá retirou um
envelope pardo, exibindo o mesmo sorriso que trazia estampado no rosto
quando transpusera a porta de entrada. O mesmo que lhe chamara a
atenção, mas que não durara o suficiente para que ela descobrisse o
motivo.
Talvez ele estivesse cansando, não obstante o que dissera sobre as
acomodações confortáveis do escritório.
– Está com tempo para conversar sobre luas de mel? – perguntou ele,
passando por Megan em direção à sala de estar.
Uma risada de alívio explodiu dos pulmões de Megan enquanto ela o
seguia com uma euforia vertiginosa borbulhando em seu íntimo.
Nada mudara.
Talvez ela é que devesse ter dormido um pouco mais.
Acomodando-se no sofá, Connor abriu a pasta e começou a analisar os
folders que estavam dentro.
Megan se sentou com os pés sob o corpo.
– Estou vendo que tem algumas ideias.
Porém, em seguida, viu de onde eram: Zurique, Munique, Taiwan.
– Acho que não se tratam de praias paradisíacas isoladas, certo? –
perguntou ela, um entorpecimento a invadindo ao perceber o que aqueles
lugares significavam.
Connor deu de ombros, dispondo os folders em pilhas e, em seguida,
alterando a ordem.
– Gosto muito de praia, mas estava pensando se não seria mais sensato
matar dois coelhos com uma só cajadada. – Matar dois coelhos…? Megan
voltou o olhar às pilhas mais uma vez. – Preciso estar em cada um desses
lugares a negócios no próximo mês… – Connor deixou o restante da frase
morrer enquanto lhe acariciava um dos ombros. – Ei! Sei que conversamos
sobre fazer dessa lua de mel algo mais romântico e fantasioso, mas depois
das reuniões que tive ontem e hoje achei que estava na hora de tirar minha
cabeça das nuvens e voltar à realidade. Gostaria de levá-la em uma viagem.
Mas, vendo pelo prisma da praticidade, um desses lugares seria mais
proveitoso. Enquanto compareço às minhas reuniões de trabalho, você
aproveita para conhecer os lugares. Fazer turismo e compras.
O entorpecimento começou a se dissolver sob o calor da raiva crescente
de Megan. Que diabos…?
Fora ele a sugerir uma lua de mel. Os destinos românticos. Mas, claro,
aquilo fora antes de ela se oferecer em uma bandeja. Megan observou o
sorriso tranquilo e a expressão indulgente do marido, pela primeira vez
sentindo como se o homem à sua frente fosse um estranho.
“… na hora de voltar à realidade…”
Então era isso? Algum tipo de advertência antes que ela se
comprometesse? O modo de Connor se certificar de que ela entendesse que
a vida que tinham pela frente nem sempre seria um mar de rosas?
– Ei, se faz muita questão de alguma praia, poderia fazer uma viagem ao
Havaí. Ou talvez se hospedar em algum spa. Leve uma amiga com você.
Megan ergueu uma das mãos.
– Eu entendi.
A lua de mel estava descartada. E ela estava prestes a ver uma faceta do
marido que até então lhe fora ocultada.
Capítulo 19
MEGAN HAVIA partido. Eram nove horas da manhã e ela havia partido. A casa
se encontrava silenciosa e estática sob o som enferrujado da respiração
dificultosa de Connor.
Danação!
Pensara que ela o esperaria. A consciência de respeito e sensibilidade de
Megan seriam suficientes para garantir que não partisse sem conversar
com ele. Para que dissesse, olhando em seus olhos, que estava tudo
acabado.
Para que ao menos tentasse.
Mas, por mais sensível e respeitosa que Megan fosse, sob toda aquela
suavidade, havia a inteligência. Era muito inteligente para lhe dar a chance
de convencê-la a fazer qualquer coisa.
Portanto, havia agido durante a noite. Embalando apenas o que podia
levar com ela. Organizando o restante para que ele despachasse quando lhe
fosse conveniente.
Connor tinha vontade de derrubar cada peça da mobília da casa.
Não conseguia acreditar que Megan de fato fizera aquilo.
Não deveria ter partido. Deveria ter se acalmado o suficiente para deixá-
lo racionalizar com ela. Lembrá-la do tipo de vida que poderiam ter juntos.
Mas em vez disso pegara algum voo noturno, deixando que ele
descobrisse a vida que planejara para os dois desmantelada em pilhas de
caixotes rotulados com a caligrafia dela.
Para o diabo com aquilo!
Cerrando os punhos nas laterais do corpo, Connor saiu pisando duro do
escritório escuro que ainda guardava a essência da luz do sol.
Aquilo não estava terminado.
Megan podia ter partido, mas não estava fora de alcance. A única razão
que a fizera partir sem antes terem uma conversa fora o medo de que ele a
convencesse a ficar se estivessem face a face.
Provaria que ela estava certa.
Iria atrás de Megan. E a faria ouvir a voz da razão. Ele a convenceria a
voltar para casa e a esquecer aquele beijo indiferente que terminara antes
mesmo de começar. Ele a seduziria. Por completo. Começaria com seus
lábios e língua. Em seguida, a pressionaria à parede, porque aquilo a
deixava enlouquecida de desejo… e, sim, não tinha nenhum pudor em usar
o próprio corpo para explorar a fraqueza de Megan.
E quando a tivesse descontrolada, com a respiração ofegante contra sua
orelha, as mãos delicadas enterradas em seus cabelos e ouvindo as súplicas
que ela deixava escapar preencher toda a atmosfera, usaria aquela
alavanca…
Não pode me deixar. Não a deixarei escapar…
O eco daquelas palavras com décadas de existência, ditas por um homem
que Connor odiava para uma mulher que não fora capaz de resistir ao ouvi-
las, fez seus passos estacarem e o sangue que lhe fervia nas veias congelar.
Ele era igual ao pai.
Não importava o quanto jurara jamais se permitir, aquele bastardo fazia
parte de seu DNA.
Quantas vezes a mãe tinha tentando deixá-lo? Tentado pôr um fim àquela
relação e começar de novo, separada do homem que nunca a deixaria fazer
parte de sua vida?
Connor refletiu sobre aquela manhã, muitos anos antes. A figura muito
pequena e imóvel da mãe enroscada no meio da cama. A certeza, mesmo
antes de esticar a mão para tentar acordá-la…
O que teria significado para eles se o pai lhe tivesse respeitado os desejos
e permitido que ela começasse uma nova vida longe dele?
Teria a mãe conseguido superar aquele sofrimento? Encontrar a vontade
de… simplesmente viver?
Relaxando o punho que cerrara desde que entrara em casa e não
encontrara Megan, Connor baixou o olhar à aliança de diamantes na palma
de sua mão.
Aquela era a segunda vez que Megan a devolvia.
A segunda vez que lhe ignorara a vontade completamente.
Passando as mãos pelos cabelos, uniu-as atrás da nuca e olhou além da
janela para o oceano adiante.
Não era como o pai. Passara a vida toda provando isso para si mesmo e
para qualquer pessoa que ousasse ligá-los devido ao sobrenome. Naquele
último dia, estivera parado à porta do escritório do pai, recusando seu
dinheiro, emprego e reconhecimento relutante.
Disse a si mesmo que jamais aceitaria nada daquilo. A única coisa que
levaria consigo seriam as lembranças de como aquele homem arruinara a
curta vida da mãe com seu egoísmo.
E apenas porque, por mais que tentasse, não as conseguiria esquecer.
Uma dor terrível se acomodou no fundo da alma de Connor. Tinha de
deixar Megan partir.
Seria melhor para ambos.
Forçando a respiração a voltar ao normal, girou na direção do escritório
de Megan. Uma vez que aquele espaço estivesse vazio, ficaria bem. Seguiria
em frente, como sempre fizera.
Mesmo que o “sempre” nunca tivesse sido como dessa vez.
Capítulo 21
CONNOR ACORDOU com o que parecia ser uma boa parte de um aterro sanitário
em seus olhos e a quase certeza de que, de alguma forma, pelo curso da
noite, acabara se juntando a um cruzeiro. O oscilar suave e indolente do
espaço ao seu redor fazendo coisas bem desagradáveis com seu estômago.
Porém, logo em seguida, o colchão ao seu lado cedeu com o peso de alguém.
Não. Estava. Sozinho.
Uma onda de entusiasmo o atingiu enquanto tentava forçar as pálpebras
a se abrir. Diante da pontada de dor que a invasão da luz provocou, tornou
a fechá-las.
Não importava.
Não estava sozinho. De alguma forma, com algum argumento, conseguira
atrair Megan de volta à sua cama. Deus abençoasse o que quer que
estivesse pensando na noite anterior.
Tateando pelo colchão, fechou a mão sobre o primeiro calor humano que
encontrou e o puxou para perto. Ou tentou, porém…
– Não sei o que ouviu dizer… – Soou a voz extremamente baixa e muito
próxima. – … mas não sou esse tipo de garota.
Jeff.
Dessa vez, Connor abriu os olhos de uma só vez, forçando-os a suportar a
dor cruciante que a luz do dia provocava. E se deparou com a visão
burlesca de sua mão fechada sobre a coxa do amigo, protegida pelo jeans,
que se encontrava pousada sobre o edredom que cobria a cama.
Sua cama.
Não um navio.
Então por que toda aquela oscilação… oh, Diabos!
– Sim. Tem uma bacia bem ao lado da cama, companheiro – informou Jeff,
utilizando a perna para empurrá-lo na direção oposta. – Sirva-se.
Trinta minutos depois, Connor estava de banho tomado e vestido. O
frescor da menta fazendo o que podia para disfarçar o hálito desagradável
dos excessos da noite anterior.
O que estivera pensando?
Arrastando os pés na direção da cozinha, Connor se deixou afundar em
uma cadeira ao lado da mesa e arriscou um olhar a Jeff, que estava
cozinhando bife e ovos, com um sorriso pretencioso no rosto presunçoso.
– Não quero que pense que não fiquei extasiado em encontrá-lo em
minha cama esta manhã, mas o que está fazendo aqui?
Um giro presunçoso com a espátula. Droga!
– Meu telefone está em cima da mesa. Há uma mensagem de voz que lhe
dará ideia do que aconteceu, mas acho que as mensagens de texto
esclarecerão tudo. Veja por si mesmo.
A massa que revolvia seu estômago se solidificou em uma bola de
chumbo. Oh, droga! Acessando as mensagens de texto a bola de chumbo se
avolumou a cada palavra.
Deus! Por favor, faça com que ele não tenha ligado para Megan, pensou
Connor.
SEIS HORAS depois, Connor desceu a escada, dando palmadas nos bolsos
para conferir o conteúdo.
Carteira? Sim.
A caixa da aliança? Queimando o bolso interno do paletó. Sim.
Um rápido olhar ao relógio de pulso fez sua adrenalina saltar. Podia fazer
aquilo.
O voo partiria dentro de quarenta minutos, e ele estaria naquele avião
mesmo que isso significasse ter de comprar a companhia área para garantir
sua viagem. E quando chegasse em Denver… Connor sentiu um frio na
barriga diante dos milhares de cenários que lhe invadiram o cérebro.
Porém, apenas um seria capaz de trazer o “felizes para sempre”, que,
apenas algumas horas antes, havia concluído que desejava.
Afastando todos os outros desfechos da mente, com exceção daquele,
Connor segurou a maçaneta da porta da frente e…
A passagem! Ele não imprimira aquela maldita coisa e, após o fim trágico
de seu telefone, precisava daquele papel.
Na cozinha havia acesso à internet!
Disparando pelo corredor, Connor quase derrapou ao virar para a
cozinha.
Precisava chegar lá.
Precisava estar com sua esposa.
Precisava lhe dizer que tudo poderia dar certo entre eles. E não por todas
as razões que ele alegara desde o início, mas pelas que descobrira quando
ela partiu. Todas as coisas que concluiu não poder viver sem.
Ligando o computador, o monitor veio à vida, com a foto dos dois em um
jantar beneficente, no mês anterior, como imagem de fundo.
Estavam sorridentes. Os dedos de Connor brincavam com uma mecha
dos cabelos loiros da esposa enquanto se olhavam nos olhos.
E a forma como ele a olhava… como diabos poderia não ter percebido
aquilo?
Teria de esperar pelo voo para descobrir. Não havia tempo agora.
Ao abrir o navegador, reparou, por acaso, que Megan deixara sua caixa
de e-mail aberta desde a última vez que utilizara a máquina. Prestes a abrir
uma nova aba para acessar a companhia área, Connor estacou quando uma
das mensagens em negrito lhe chamou a atenção, e, ao visualizá-la seus
planos, desmoronaram.
Era do banco de sêmen, datado de cinco dias atrás.
AQUILO NÃO podia estar acontecendo. Não era real. Não era possível. Devia
se tratar de algum colapso nervoso em curso. Tinha de ser. Algo que ela
deveria ter pressentido… porém, o galão de leite era o tipo de detalhe
surreal que seu cérebro normalmente não conjurava.
O que significava que…
– Oh, meu Deus!
Megan soltou o ar em um soluço baixo e esticou a mão para agarrar o
tecido da camisa de Connor e puxá-lo para cima até erguê-lo. Retirando o
galão de leite das mãos dele, ela o pousou sobre a mesa com um sutil gesto
negativo de cabeça.
– Não estou grávida.
Connor a encarou por um longo instante. Os músculos do pescoço
trabalhavam como se em um esforço de conjurar as palavras às quais não
conseguia dar voz. E então ele a puxou para os braços, o corpo forte a
envolvendo, enquanto um suspiro pesado soava acima da cabeça de Megan.
Um alívio, potente o suficiente para subjugar um homem tão forte quanto
Connor, se derramou sobre ela. Era humilhante testemunhar.
– Seu e-mail ficou aberto no computador da cozinha – explicou ele, as
palavras saindo roucas. – Vi a mensagem sobre o doador solicitado pronto
para fornecer.
Megan espalmou as mãos no peito largo, o único gesto de conforto que
podia fazer, presa no confinamento dos braços fortes.
– Aquela mensagem era a resposta a um pedido que eu tinha feito meses
atrás. Antes de nos conhecermos. Ainda não estava me sentindo preparada
para seguir adiante com meus planos.
Para começar, porque eles ainda estavam casados. E o que sentia por
Connor… Megan não se viu capaz de começar algo tão importante com o
coração ainda despedaçado. Decidira que seus planos ficariam suspensos
por um ano ou dois.
Afrouxando a força férrea com que a segurava, Connor lhe ergueu o
rosto, inclinando o queixo delicado, para que ela o encarasse.
– Não me importo. – A calma daquelas palavras contrastava com a
intensidade ardente dos olhos castanho-escuros. – Megan ergueu uma das
sobrancelhas em uma expressão inquisidora. – Quero você de qualquer
maneira. Mesmo que não esteja levando um bebê na barganha.
Uma risada suave escapou dos lábios carnudos. Como Connor conseguia
fazer aquilo? Fazê-la rir quando seu mundo estava virado de cabeça para
baixo.
– Você me quer de qualquer maneira?
Connor anuiu.
– Eu a amo. Achei que não possuía esse sentimento em mim, mas era
porque nunca o havia experimentado antes de conhecê-la.
Connor a amava.
Procurando-lhe o olhar, com um dos cantos dos lábios erguido em um
sorriso voraz, ele escorregou as mãos do queixo para os cabelos de Megan.
Com um leve puxão, inclinou-lhe a cabeça para trás e lhe capturou os lábios
com um beijo suave e profundo, que tinha o sabor de cada promessa que
ela nunca se permitira sonhar. Em seguida, mudando o ângulo da cabeça,
Connor lhe invadiu a boca com movimentos ousados, até que as mãos
delicadas se fechassem com força contra o tecido de sua camisa, enquanto
Megan se colava a ele com toda a intensidade de que era capaz.
Sem interromper o beijo, as mãos longas começaram a rumar pelos
contornos perfeitos do corpo macio, seguindo-lhe a curva da cintura fina e
os comprimentos dos braços. Entrelaçando os dedos aos de Megan e lhe
fazendo todo o mundo rodar até que ela estivesse pressionada contra a
resistência inflexível da porta. Sentindo os punhos prensados contra a
madeira maciça e o peso desorientador do corpo musculoso em um
delicioso contato com o dela.
– Eu a amo – sussurrou ele contra os lábios carnudos.
– Oh, meu Deus, sim. – Soou uma voz distante.
Os dois congelaram diante da ilusão destruída de que eram as duas
únicas pessoas no planeta. Na sala.
– Shhh!
O rosto de Connor recuou para se deparar com o rubor que se espalhou
rapidamente pelo rosto de Megan.
– Desculpe… esqueci. – Como fora capaz de esquecer?
Juntos, os dois dirigiram o olhar à fonte das palavras invasivas: o tablet
que se encontrava pousado sobre o balcão. Três descarados rostos, com
olhares ansiosos, preenchiam a tela.
Connor aprumou a coluna, afastando-se para se encaminhar ao
dispositivo eletrônico.
– Desculpem-me, meninas. O show acabou.
– Não, espere.
– Droga, Jodie! Viu o que você fe…
Fechando o aparelho com a capa, ele interrompeu a conexão e girou para
encarar Megan.
Que não deveria ter rido.
– Achou engraçado? – perguntou ele, com um sorriso no rosto.
– Foi sem querer – jurou ela, erguendo as duas mãos para cima. – Eu me
distraí.
– É o que parece – respondeu Connor, gesticulando com a cabeça na
direção da mão esquerda que ela ainda mantinha erguida.
O olhar de Megan seguiu até seu dedo anular, onde a aliança de
casamento faiscava em conjunto com o novo anel que estava aninhado no
veludo preto da caixa de joias na última vez que o vira.
– Sorrateiro – sussurrou ela, mal conseguindo forçar a palavra a passar
pelo nó de emoção que se alojou em sua garganta diante da visão da aliança
de casamento de volta ao seu dedo.
– Tinha a esperança de que, se você visse o conjunto em seu dedo, seria
mais fácil me dar a resposta que estou esperando.
– Eu o amo. E quero tudo que está me oferecendo. Quero ser sua esposa e
mãe de seus filhos. Mas…
Connor deu um passo à frente. Toda aquela segurança presunçosa se
dissipando.
– Mas?
Megan escorregou a mão sobre a superfície levemente áspera da
mandíbula quadrada antes de deixá-la descer para os botões da camisa que
ele usava.
– Mas o que acha de esperarmos um pouco mais para termos um bebê?
Talvez alguns meses ou um ano…
– Um período de experiência? – perguntou ele, anuindo rapidamente. A
determinação e certeza se sobrepujando ao desapontamento e à dor que se
refletiu em seu rosto. – Qualquer coisa que a faça se sentir segura.
Confiante.
Abrindo o primeiro botão da camisa, Megan fez que não com a cabeça.
– Não. Não preciso de nenhum período de experiência.
Connor lhe procurou o olhar.
– Então, por quê?
– Talvez porque durante algum tempo tudo que eu quero seja você.
– Sim?
Libertando o outro botão, ela anuiu.
– Afinal, passaremos nossa vida inteira juntos. Agora, sr. Reed, estou
pronta para receber meu beijo de “eu a amo”.
Aquele meio-sorriso curvou os lábios deslumbrantes de Connor com uma
amplitude que abrangeu toda a boca e, em seguida, o rosto.
– Com todo o prazer, sra. Reed – respondeu ele. A emoção lhe emprestou
rouquidão à voz enquanto ele a puxava para os braços e lhe arqueava as
costas. – Eu a amo.
E lhe capturou os lábios com o beijo que tinha a pretensão de ser o
primeiro daquele tipo. Porém, tinha um sabor tão familiar, que não havia
como negar que a propensão ao amor, embora oculta, estivera presente o
tempo todo… apenas esperando para ser reconhecida. Mas naquele beijo
seu marido estava transmitindo todo o sentimento que possuía. Sem
reservas. Sem limites.
Uma promessa de eternidade… e ela acreditou.
FIM