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Eu não voltaria. Isso era a única coisa certa, até agora. Daí pra frente era
apostar a favor da minha boa sorte e torcer pra que algum milagre me
atingisse, pois não havia mais um lar pra mim, onde deixei minha mãe,
irmã e sobrinhas.
− Não, obrigada! - tentei ser amável com ela, mas minha voz
ainda parecia a voz de uma gralha e emperrada por falta de uso.
− São de canela e chocolate, querida. - ela insistiu me olhando
nos olhos. - Você é jovem demais para estar tão triste. - completou.
Fui praticamente obrigada a aceitar mais um, porque pelo visto eu parecia
realmente deprimida. Lamentei por isso, mais que lamentava por qualquer
dos meus problemas. Lee, minha prima, me conhecia como a si mesma e
iria me fazer AQUELE interrogatório assim que eu aparecesse em sua
frente com essa minha cara de fracassada, e eu não queria colocar mais
ninguém no meio do meu desamor.
(...)
− ELE não diz nada que faça sentido... eu estou lutando pela
gente. Eu tinha decidido aceitar o pouco que ELE poderia me dizer,
mas ELE parece determinado a me afastar... Eu pensei que isso estava
acabado, mas ELE está cada vez mais estranho. Eu nem sei se me ama
mais, talvez seja tudo um grande truque pra terminar comigo! - ela
murmurava muito depressa e soluçante como se eu nem estivesse ali.
Continuei abraçada a ela.
Morava apenas com sua mãe, estava prestes a pedir minha prima em
casamento e eu o vira apenas uma vez de perto, no aniversario de Leah no
ano passado.
Estava tão absorta em meu próprio pesadelo naquele momento que não
me liguei no que poderia estar acontecendo a Lee. Que ela poderia
precisar de uma amiga, de uma força. Eu precisava de uma amiga e de
uma força, então apenas me resignei a ser egoísta com ela e tentar me
manter inteira.
Pra mim era sempre aquela mesma cena, bastava fechar os meus olhos.
Eu já tinha dito que não estava preparada para o que ele queria de mim e
era aqui que ele sempre me deixava e começava a brigar, mas pelo menos
me deixava.
As constantes baforadas me faziam sentir cada vez mais o álcool que ele
bebeu naquela festa antes de me levar até aquele quarto. Eu tinha medo de
que ele fosse me odiar se eu começasse a gritar, mas ele não estava
mesmo me obedecendo e eu começava a me assustar de verdade, um
horror crescia em mim enquanto ele me alisava com malicia e eu podia
sentir ele roçando sua excitação em mim.
Comecei a me debater, ele se empolgou mais ainda. O meu primeiro grito
saiu livre, o pegou de surpresa. Da segunda vez eu tentei lutar e gritar
ainda mais ferozmente, decidida a sair dali a qualquer custo, mas ele só
me imprensou ainda mais contra a cama restringindo os meus
movimentos. Gritei de novo, dessa vez por socorro. Isso fez ele virar um
tapa violento em minha face. Eu choraminguei e engoli o filete de sangue
que brotou no canto da boca.
Todo o meu amor, toda a minha dedicação àquela primeira paixão, tudo o
que eu fazia por ele; indo muitas vezes contra o que eu acreditava, só para
estar com ele. Tudo aquilo sendo esmagado em mim e expurgado com o
mais completo pânico.
Enquanto ele abria meu jeans com uma das mãos eu aproveitei de uma
distração e gritei outra vez, outro tapa, e dessa vez a minha blusa foi junto
em um rasgo só, meus seios saltaram do soutien e ele os tocou daquela
sua forma suja...
Petrificada eu observei a dona da festa e o namorado dela entrarem no
quarto e nos flagrarem deixando Julian ocupado por tempo suficiente para
que eu me afastasse o mais rápido que minhas pernas conseguiam
tropeçar em direção à rua. Correndo e correndo sem nem ao menos
arrumar minhas roupas, no frio cortante que fazia, com toda aquela
desesperança e toda aquela dor, até encontrar uma viatura policial e
convence-los de que eu estava bem o suficiente pra ir para casa.
Foi quando o meu pesadelo passou a ser real novamente e Julian começou
a aparecer para mim nos lugares onde eu ia, me fazendo ameaças caso eu
o entregasse à policia, eu soube que não poderia ter uma vida ali, ou pelo
menos o resto que me sobrara de vida desde aquela noite onde ele levou
tudo de mim. Onde ele tomou qualquer inocência, mesmo que não tenha
conseguido terminar o que realmente intentava.
(...)
Não poderia dizer que não estava, no minimo aliviada, porque eu já tinha
a primeira resposta para minhas duvidas: Onde eu iria depois de
domingo? Pelo visto, era por aqui mesmo que eu ficaria.
Quando fechamos a loja eu fui dar uma volta, procurar por Leah que não
dera sinal de vida o dia todo, e procurar também por um pouco de
sobriedade e silencio. Colocar os pensamentos em dia, revolver as
memorias dolorosas e tentar concerta-las, achar um sinal, a velha historia
da luz no final do túnel.
Nem me dei conta de que saia da via principal e acabei em uma ruazinha
de terra tomada pelos dois lados pela floresta.
Uma casa obviamente abandonada com toda a era que cresceu junto a
varanda e as paredes, uma pintura muito suja e descorada que não
apresentava nenhum resquício da cor original. Flores do campo cresceram
junto ao mato e fizeram da paisagem desolada um misto de beleza e
solidão.
− Seth, pra onde está me levando? Sabe como fico nervosa com
surpresas... AU, Seth, tome cuidado! Meu dedão bateu em alguma...
Meu amável primo, que me raptou logo após o jantar e me obrigou a usar
um pano de procedência duvidosa como venda, estava me conduzindo pra
fora da casa de meus tios afim de me fazer uma surpresa como ele mesmo
mencionou enquanto me convencia a ir com ele.
− Você merecia mais Em, que bom que gostou. - ele falou, se
permitindo ser doce como alias sempre fora de sua natureza.
Dei uma olhada cúmplice pra ela e seu sorriso cresceu enquanto ela
balançava a cabeça afirmativamente. Então, ela tinha mesmo se acertado
com Uley.
Ele se fora.
(...)
Sei que Lee chegou muito tarde apenas porque acordei com o ranger da
porta da frente e o som de suas risadinhas. Parecia que Uley estava
fazendo-lhe cócegas antes que ela entrasse em casa, o que indicava que
agora estava tudo bem entre eles.
Foi um sono turbulento. Dessa vez não tive meus pesadelos de sempre,
mas não foi uma noite em branco, tão pouco. Não sabia se agradecia pelo
novo padrão, ou se mais me preocupava com o sonho novo que me
tomava a memória ainda fresco como se eu tivesse vivido ele, realmente.
Nele, eu pintava a casa e um homem que não tinha rosto, mas que eu
conhecia e amava, estava a me ajudar. Ele pedia para que eu cantasse para
ele e eu o fazia e nós pintávamos. Tudo era tão cintilante e mágico.
Lee chegava até mim e eu sorria pra ela e estendia uma mão para que ela
me ajudasse com a pintura, mas era aí que a coisa mudava; Ela se negava
a me ajudar, ela só chorava, baixinho, agoniada, e quando eu a abracei ela
gritou comigo e tentou correr e ai explodiu, mas não desapareceu.
Em seu lugar um lobo cinzento surgiu com olhos sentidos e humanos que
me acusavam. Era definitivamente o sonho mais inacreditável que já me
acometeu.
Como as batidas eram urgentes, não deu tempo pra lavar o rosto ou
colocar algo mais apresentável do que o moletom velho e a blusinha
rendada que eu usava pra dormir. Passei as mãos pelos cabelos os
prendendo no elástico que deixava embaixo do travesseiro.
Um sorriso se estendeu por meus lábios, pois foi o que aconteceu aos
lábios dele. Nem ao menos me dava conta do que fazia.
Devia estar uma monstra com aquelas roupas e cara amassada, mas ele
me deixava tão confiante, me olhava como se visse o sol pela primeira
vez, como se visse o que havia por dentro do meu corpo, que era só uma
casca inútil diante de todo aquele momento.
- Você ME deseja? – Mais que droga era essa? Eu tinha perguntado se ele
ME desejava? ÔOh Emily, ainda está dormindo? Pergunta errada garota,
pergunta muito errada.
- Sim. – Ele respondeu imediatamente, a voz firme com o peito
musculoso arfando. Definitivamente um sonho.
E então, eu reconheci sua voz. A voz que eu já havia admirado. Uma voz
que me atirou para o mundo real. Aquele ali em minha frente por quem eu
estava nutrindo sentimentos estranhos e sem sentido não era MEU e
nunca seria , ele tinha dona, ele era da minha prima Leah. Uma das
pessoas que mais amava na vida.
- Porque ficou triste, MINHA linda? – havia tanta doçura que eu não pude
me desvencilhar mesmo sabendo de quem se tratava. Continuava não
entendendo nada.
- Emily. – eu falei com uma determinação que nem era minha. – Emily
Young!
- Emily – ele repetiu com adoração, o som de sua voz dizendo meu nome
fez maravilhas comigo. Percebi que ele ainda mantinha uma mão em
minha bochecha. Moveu seu polegar me acarinhando ali. Meneei minha
cabeça para o lado, me aninhando perfeitamente em suas mãos. Tão
perfeito. Nada mais me importava ou parecia fora de lugar.
Meu peito se comprimiu de tal forma que fui obrigada, pelo espasmo, a
colocar minhas duas mãos ali. Sabia que estava fazendo uma sena na
frente de Uley, mas isso não impediu as minhas lagrimas de travarem
uma batalha ferrenha contra o meu ato-controle. Eu não chorava, eu
simplesmente não chorava há muito tempo. Não poderia acontecer agora.
Inaceitável. Os olhos dele se encheram de água também, parecia tão
desolado quanto eu. Como era possível?
- Amor. – ela o puxou pelo braço. Ele continuava imóvel, as mãos ainda
tremiam regularmente.
- Hei Sam! – ela tentou de novo vindo parar a frente dele. Nem parecia ter
me notado ali, grudada ao batente tentando não desmaiar e forçando ar
nos meus pulmões espremidos com a angustia.
Fiquei muito tempo lá dentro até que ela desistiu de mim. Eu conversaria
com ela depois, ou não conversaria nunca. Na verdade, precisava era sair
dali nem que fosse para o inferno. O que deu em mim pra cobiçar o
namorado de minha prima? O que deu nele para agir daquele jeito como
se também me quisesse? E só em pensar que o certo era nunca mais olhá-
lo nos olhos, meu peito voltava a se incendiar, como se eu me afogasse
com oxigênio.
Tomei um banho frio já que só lavar o meu rosto não me deixou esquecer
o toque ardente dele. Tão quente que ele deveria estar doente. Ninguém
saudável tinha uma temperatura daquelas. Comecei a me preocupar com
sua saúde e me penitenciei por isso. Eu ia esquecê-lo. Era só esquecer ele
e evitá-lo. Eu não precisava abrir mão da quase paz que conseguira aqui.
Evitá-lo e me desculpar com a Lee por ter dado uma de louca psicótica e
corrido para o banheiro.
(...)
Respirei mais aliviada na segunda feira quando fui para a loja com a Tia
Sue e tudo parecia estar indo bem. Leah pareceu aceitar bem a minha
desculpa de que tivera um pesadelo e acordara perturbada e então
atendera a porta e foi ai que ela chegou.
Estava indo de bicicleta, para fazer o almoço de Seth, quando Samuel
Uley surgiu em minha frente, onde há um instante atrás eu só via mato e
eu brequei desajeitada, quase despencando com a bicicleta por cima de
mim.
Ele entrou na floresta, o que não era muito lógico, já que havia apenas um
caminho naquela trilha e era a mesma em que eu estava.
Cheguei a tempo de encontrar minha prima de saída.
- Vou à Port Angels, Emily, avise minha mãe se ela perguntar. – Ela disse
toda seca e distante e eu me preocupei se estava tudo bem com ela.
- Boa viagem. – eu disse tentando sorrir para ela, sem muito sucesso. Ela
não respondeu e entrou no carro.
- E aí, Em, vai uma partida? – ele ofereceu sorrindo pra mim,
convincente.
- Se é por isso então retiro o convite, sua comida é muito boa prima e eu
estou faminto. – ele disse todo serio.
Cap 3 – Angry
TOM-TOM-TOM... Fazia a goteira, quicando na janela da cozinha em
alto e bom som. Ou talvez, nem tão alto assim.
- O que você espera que eu pense disso Sam? – a voz de Leah, já estava
chorosa e esganiçada.
- Eu acho que você me considera uma idiota Sam, é isso que eu penso...
Não, não, é claro que não!
- O que importa se a Emily está aqui ou não Sam? Não mude de assunto!
– Leah gritou ainda mais alto.
Meu coração gelou, saiu do peito e caiu no chão. Uley não estava
exatamente cooperando com a minha idéia de me afastar e esquecer o
nosso pequeno “problema”.
Ele tentou falar comigo em cada um dos dias dessa semana desde que nos
conhecemos, por assim dizer. Eu o afastei e fugi dele com todas as
desculpas que eu poderia inventar, nunca me permitindo cair na tentação
de estar sozinha com ele.
Mas, mesmo assim, sempre que eu me virava para sair da loja no fim do
expediente, lá estava ele. Como um segurança particular ele me escoltava
pra todo lado e por mais que eu odiasse admitir que estivesse mesmo
acontecendo alguma coisa entre nós, eu sabia que em toda essa semana eu
devo ter visto o namorado de minha prima com mais freqüência do que
ela o viu e isso era visivelmente preocupante.
Minha primeira idéia foi me mudar, claro. Quem sabe eu tentava a casa
de algum parente de meu pai, uns primos no Colorado ou coisa assim.
Apenas pegar a mochila e o violão e cair na estrada como, alias, parecia
ser o primeiro plano no dia em que cheguei aqui.
Mas, eu sabia que não era mais possível; eu tinha muita raiva de mim
mesma e comecei a ter raiva de Sam Uley também, por fazer tudo aquilo
tão complicado e tão desleal e a verdade era que eu não conseguiria
deixá-lo. O máximo que eu conseguia era fingir que nada acontecia, mas
daí a deixá-lo, mudar-me pra outro estado, me livrar dele? Não, apenas
não era possível. Meu estomago recusava a idéia como se recusa comida
estragada. Cada olhar que ele me dava era mais um facho de luz brilhante
no meu “final de túnel”.
Era o certo, mesmo que certo parecesse me atirar em cima daqueles quase
dois metros de músculos e testosterona e me esquecer do resto.
- Ah, Em, é tão bom ter você aqui! Eu odiaria passar por isso sozinha.
Nada faz sentido agora, parece que drogaram aquele garoto, eu não o
reconheço. – ela disse, a voz abafada de encontro a minha nuca.
“É Emily, era você que merecia estar sofrendo, sua traidora!” – uma parte
de mim não teve reservas em gritar.
(...)
Dois dias depois, fez um sol radiante e pouco comum em La Push. O tipo
de sol de verão que leva todos para praia, até mesmo aqueles que não
estão dispostos a encarar as águas ainda muito frias do Pacífico.
Seth virou uma espoleta dentro de casa, super excitado com a perspectiva
de surfar. Eu, como saí da loja mais cedo pra fazer o almoço e quando
voltei para entregar a comida de minha tia, fui prontamente liberada para
aproveitar o bom tempo, peguei meu violão e meu caderno de letras e fui
com meu primo rumo a First
Beach.
Claro, antes, sai pelos fundos da casa e fiz o caminho da melhor maneira
James Bond, afim de não esbarrar com o namorado de minha prima por
quem eu estava apaixonada de uma forma muito esquisita e levemente
psicótica e pelo qual eu parecia ser correspondida no mesmo nível de
estranheza.
Não podia dizer que vir a La Push foi uma idéia ruim, mesmo que agora
as coisas estivessem tão fora de rumo. Nesse lugar minha esperança
florescia e era de esperança que eu precisava quando vim pra cá, era
exatamente de esperança que eu precisava pra agir com força e sensatez
em minha vida, mesmo que sensatez tivesse agora tantos significados
diferente para mim.
- Isso foi incrível! – a voz de homem soou aveludada com o tom genuíno
de adoração.
- Você poderia ser o que você quisesse ser! – ele falou com aquela voz
autoritária, como se repreendesse uma criança medrosa a fim de ensiná-la.
Isso fez ele sorrir, porque parecia que toda a coisa que eu dizia a ele, que
pudesse ser considerada como uma verdade que saia de mim, o fazia mais
e mais feliz. Ele já tinha dado mais uma passada. E aquelas passadas eram
tão imensas que ele já estava a uns trinta centímetros de mim e minha
mente gritava em alerta para o meu corpo estático, preso aquela arvore
estúpida.
- Eu te amo, Emily. Eu sempre vou te amar e isso não é como nada que eu
um dia senti em minha vida. Não tenho nenhuma comparação forte o
suficiente para te convencer, então... Acredite em mim, linda. Eu
finalmente posso explicar o que está acontecendo conosco. Confie em
mim e venha comigo. – ele estendeu sua mão para que eu a pegasse e eu
ainda não sei como eu permiti isso, mas quando me dei conta do próximo
passo, estávamos andando pela praia de mãos dadas, passando pelo
estacionamento apinhado de gente que poderia nos ver de mãos dadas e
indo de encontro a uma casa que eu reconheci como a residência de Billy
Black, um velho amigo de meu tio.
E foi ali, sentada no sofá dos Balck que eu ouvi pela primeira vez o
legado dos espíritos guerreiros, dos homens-lobo, protetores da tribo, mas
foi também naquele mesmo sofá que eu ouvi a historia da Terceira Esposa
do lendário chefe da tribo e com ela a, até então, apenas uma lenda, a
historia do “imprinting”.
- Ele irá amá-la por toda a vida e alem dela, irá protegê-la e irá ser para
ela o que ela precisar que ele seja e ela será a lei máxima de seu bando,
porque nenhum lobo poderá macular o imprinting de outro lobo sem que
estes lutem até a morte. – foi como Billy acabou aquele discurso.
Ele me largou ainda com a mesma expressão torturada e passou pela porta
em grande velocidade e graça, mais uma prova para as verdades que eu
ouvira; antes que eu pudesse ir, o que fiz em seguida.
(...)
Ouvi quando tia Sue foi até o quarto da filha e quando Leah contou que
Samuel Uley a havia deixado, definitivamente, livrando-se de qualquer
obrigação com ela. O namoro dos dois estava finalmente morto.
- Eu deixei uma carta. - foi a única coisa que minha mente perturbada
alegou em minha defesa. Ele deu uma risada amarga e meio louca.
- Você não sente nada por mim, Emily? Nada mesmo? - perguntou com
aquele brilho intenso no olhar, como quem entrega a alma em palavras.
Eu comecei a chorar sem parar, sem me controlar. Tremia mais que ele,
soluçava. O motorista veio ver o que acontecia, as mulheres estavam de
olhos arregalados.
Sam pareceu considerar isso como uma resposta boa o suficiente, já que
virou-se para o motorista e se encarregou de minhas malas. Pegou-me no
colo e saltou do ônibus comigo enquanto eu ainda chorava, feito uma
criancinha.
Ele era tão quente e seu peito estava coberto por uma camiseta fina
demais e cavada, deixando seu cheiro e sua pele próximos demais de
meus hormônios enlouquecidos.
(...)
Meu tio Harry foi o único que viu Sam me carregar para dentro de casa.
Eu não sabia onde os outros estavam, mas Leah com certeza não saíra de
seu quarto desde a noite anterior.
Ela estava realmente deprimida e meu tio não olhava para Sam
diretamente. O vi virar a face quando o homem beijou o topo da minha
cabeça e se foi deixando-me inerte no sofá dos Clearwater, com a cara e a
coragem, que eu não tinha.
Como tio Harry era do conselho, ele sabia o que havia acontecido entre
Sam e eu, e, talvez por isso não tenha me feito explicar por nada. Ele
também escondeu minha carta de tia Sue e impediu um desastre maior por
parte de minha fuga.
Era um dia frio e chovia muito. Percebi que ficaria presa na casinha até a
tempestade ir embora e me preocupei que tia Sue pudesse sentir minha
falta. Seth me veio a cabeça e fiquei mais descansada: Eu avisara a ele
que viria até aqui e ele na certa iria deixar todos tranqüilos se eu
precisasse passar a noite.
Com o tempo eu trouxe de tudo um pouco para esse lugar, de modo que
eu tinha ali um confortável colchão de casal, que encontrei abandonado
na porta de uma casa em Forks apenas por ter uma de suas pontas
queimada; tinha também uma serie de almofadas fofas que tia Sue me
dera por estarem meio remendadas demais para ficar em exposição no seu
sofá e claro, meu edredom preferido, muito confortável, trazido por mim
de Makah, embora fosse velho e quase nada eficiente contra um frio real.
Sufoquei um grito.
Percebi que ele deveria estar plantado lá fora na chuva apenas para não se
mostrar em minha presença. Achei um absurdo e de repente nada era mais
importante do que vê-lo provido dos mesmos confortos a que eu
desfrutava, mesmo que humildemente.
Acho que nunca me acostumaria com a figura que Sam Uley fazia. Talvez
fosse por estar no momento apenas com aquela bermuda que ele usara
quando me abordara no caminho de casa ao que pareciam séculos atrás,
ou talvez fossem as gotas de chuva por todo o seu torso nu, caindo em
seus olhos vindas dos cabelos molhados. Todos aqueles músculos
brilhantes e definidos, impossíveis a qualquer humano inferior aos astros
do cinema.
Tentei não secá-lo tão descaradamente, mas ele tinha um sorriso contido
nos lábios enquanto me olhava, ali, toda coberta e mesmo assim tremendo
ligeiramente pelo vento gélido.
Uma risada rouca, quase um latido, escapuliu por sua boca larga e
atraente.
- Eu tenho uma temperatura corporal constante de 44ºC desde a primeira
transformação. Não sinto o menor frio. – Ah, sim, eu me esquecera da
historia do Lobo. Ele era então, muito melhor do que os rélis mortais.
- Ei, o que pensa que está fazendo... – e então eu não pude fazer mais
nada a respeito já que minha tremedeira tinha se transformado no mais
delicioso suspiro, como se me expusesse a um sol de veraneio assim que
aquela pele fervente entrou em contato com a minha. – Obrigada! – fechei
os olhos perdendo alguns sentidos enquanto cada partícula de meu corpo
relaxava.
- Emily? – A voz dele estava incerta e vacilante como nunca antes esteve.
- Sim. – eu me virei para fitar-lhe, o que foi um grande erro já que a
primeira coisa a minha frente era aquele seu olhar intenso e arrebatado do
primeiro dia, o olhar por detrás de cada vez que ele me olhou.
- O que você disse? – ele quase gaguejou, a voz mais grossa que de
costume.
Eu passeava uma mão pelo tórax exposto de Sam enquanto a outra mão
estava firmemente apoiada em sua nuca, de encontro a seus cabelos
espetados e crescidos.
Sam se afastou de minha boca apenas para que eu respirasse colando sua
testa na minha com um sorriso imenso, que ameaçava rasgar-lhe o rosto
rígido e sério.
- Como eu te amo Emily, eu te amo tanto... Você foi feita pra mim. – ele
atropelava as palavras com sua voz rouca demais e totalmente ofegante.
- VOCÊ foi feito pra mim! – eu retruquei ainda boba pelo beijo.
Ele tirou minha blusa com maestria e expôs meus seios sem pudor,
beijando-os e me fazendo contorcer-me em suas mãos. Mantendo-me
presa pela cintura ele tomou um mamilo em sua boca circulando-o com a
língua, banhando meu corpo em um fogo irreversível enquanto eu o
puxava pra mim, gemendo e implorando com os olhos.
Sam se despiu da bermuda, a única coisa que o separava de mim, além de
minha calcinha pouco adequada de algodão branco, grande e sem graça
que me deixava completamente embaraçada por explicitar o quanto eu
estava molhada.
Quase gritei em protesto quando ele deixou meu sexo em brasa para traz
refazendo o caminho ao longo do meu corpo, chegando até minha boca e
me beijando com mais luxuria do que havia beijado até agora. Se
aconchegando em cima de mim, enquanto eu sentia seus ossos pélvicos
de encontro a minha pele e seu sexo roçava no meu me fazendo fechar os
olhos, gemer e ofegar como uma descontrolada.
- Eu quero que olhe pra mim. – ele ordenou, me prendendo aos seus
olhos. – Você precisa ficar comigo, entendeu?
Nada era mais certo, nada parecia mais certo, nada soava mais certo do
que beijá-lo enquanto ele penetrava meu corpo com cuidado, tentando se
acomodar onde não havia espaço para ele.
Senti dor, uma resistência muscular, como quando você tenta correr mais
aquele quilometro e suas pernas simplesmente falham.
Segui o conselho dele mordendo-lhe o ombro enquanto a dor aumentava e
começava a se mesclar com uma sensação nova e estranhamente gostosa.
O suor de meu corpo estava frio e me sentia esquisita, mas não era ruim.
- Tudo bem? – ele perguntou e parecia estar sofrendo comigo, seus olhos
apertados.
4 - Bad Time
Algo em minha traição parece ter feito Leah despertar da inércia em que
vivia desde que Sam acabara seu namoro com ela.
Agora minha prima usava uma abordagem bem mais passional. Ou devo
dizer que: Ela me odiava e não sentia necessidade em esconder isso de
ninguém! La Push inteira já sabia a espécie de VAGABUNDA que eu
era.
Claro, não dava mais pra ficar hospedada na casa de meus tios e nem tão
pouco pagar acomodações no motel a algumas milhas dali, o que me fez
considerar fortemente que eu deveria ir embora e deixar a poeira baixar.
Enquanto eu catava minhas roupas que Leah tão gentilmente jogou na rua
assim que pode sair correndo da casinha onde me encontrou nos braços de
seu ex-namorado, Sam tentava me convencer de que eu deveria deixá-lo
cuidar de tudo.
- Não vou deixá-la ir embora, sem chance. – ele me puxou pelo braço. O
aperto de ferro me subjugou.
- Desculpa, Emily. – sua voz tinha dor. Me virei para olhá-lo e ele parecia
mais perdido do que eu.
- Eu não posso ficar longe de você, entende? Não posso! – ele disse com a
alma inflamada e eu me resignei a suspirar, afinal, eu também não queria
partir.
(...)
Tia Sue não falava mais comigo então eu entendi que não deveria voltar à
loja. Precisaria arrumar outro emprego depressa, pois meu pouco dinheiro
já acabava e eu não ia ficar na casa dos outros sem poder ajudar nas
despesas, nem tão pouco deixaria Sam pagar tudo como ele gostaria de
fazer.
Me doía muito ver Seth me virar a cara quando eu passava de bicicleta em
frente sua casa e ele estava na varanda com o vizinho. A bicicleta, eu
tentei devolver, mas isso ele recusou dizendo que era um presente e que
não importava o que tivesse acontecido, eu ainda o merecia.
Quase chorei quando ele disse isso e via nos seus olhos que ele não estava
necessariamente me culpando e sim, tentava manifestar apoio à irmã.
Acho que era mesmo isso: As pessoas apoiavam Leah. Era só uma
conseqüência disso, fofocarem pelas minhas costas e se virarem para
outro lado quando eu estava presente. Não me sentia no direito de me
enfurecer com elas; simplesmente acumulava em mim essa revolta.
Falei com todos que conhecia e que ainda estavam dispostos a me ouvir
sobre o fato de estar desesperada por um emprego. Quando não achei
nada fui obrigada a ligar pra minha mãe e pedir ajuda. Felizmente, minha
irmã Kelly atendeu ao telefone e me passou um recado valioso: Tamy,
uma amiga de Port Angels estava trabalhando em um clube noturno e eles
precisavam de uma atração para tocar três noites por semana.
Nunca na vida tinha tocado pra uma platéia, mas acabei cedendo, afinal,
se eu não tivesse coragem para fazer isso eu iria acabar comendo pop-
tards para sempre e só isso.
Cada coisa nova que eu descobria dele era como outra característica que
eu já aprendia em seguida a admirar; seus defeitos me eram muito
toleráveis e eu entendia toda sua linguagem corporal.
Seu bom coração em cima de todos aqueles músculos era o que mais me
comovia.
Ele era realmente um ótimo rapaz, como diria minha mãe, e, acreditar que
fomos feitos um para o outro era mais do que fácil, longe de nossos
problemas e dentro de nossa própria bolha de felicidade.
(...)
Era uma quinta feira chuvosa, quando eu precisei pegar carona para ir ao
bar onde me apresentava por que pela primeira vez Sam não estava livre
para me levar, já que prometera alguma coisa à sua mãe.
- Você ta muito bonita, garota! Vai me dizer que achou outro homem que
te domasse? - ele avançou outro passo em minha direção e eu cambaleei
me apoiando num poste próximo.
Graças aos céus a porta do bar se abriu e o Mark, que tinha me dado
carona mais cedo veio até mim com o semblante sério e os punhos
serrados.
- Algum problema por aqui, Emily? – ele era levemente maior do que
Julian e seus ombros eram mais largos.
Eu queria gritar: “É claro que não!” e “Do que você está falando?”, mas
tudo o que consegui foi dar dois passos que me distanciavam de Mark e
dizer para ele:
- Muito obrigada! Vejo você amanha. – e ele entrou outra vez no bar.
Na volta pra La Push havia só o silencio das palavras não ditas e o bolo
que crescia dentro de cada um de nós, sendo perigosamente alimentado
por toda a conspiração que havia contra nossa felicidade.
(...)
Era tão difícil. Eu não conseguia contar tudo para ele. Não conseguia me
abrir e tirar o peso da minha consciência e isso criava uma enorme
desconfiança entre nós e era minha culpa.
Hoje eu tentaria passar uma noite agradável, pelo menos. Já tinha avisado
a todos que não dormiria em casa e estava à espera de Sam, com saudades
de ficar a sós com ele, de me entregar em seus braços pra deixar o nosso
desejo nublar os nossos problemas.
Ele apareceu por entre as arvores, ainda ajeitando sua bermuda no corpo
másculo e torneado, sempre tão exposto. O sorriso quando me viu foi
imediato e carinhoso, fazendo-o parecer erroneamente inofensivo, e eu
senti o meu sorriso de resposta sem que eu pudesse pensar em qualquer
outra forma de agir.
Nós nos amávamos. Estávamos enfrentando tudo isso, ainda com aquele
sentimento dentro de nós, que só crescia. O sentimento de posse um pelo
outro. Aquela força poderosa que nos atava ao mesmo nó.
Isso era tão obvio e quando estávamos sozinhos era como viver em outra
dimensão, uma dimensão de alegria e paz.
Não ter de voltar ao mundo real seria ótimo. Tão mais fácil.
- A minha garota não vai trabalhar hoje? – ele enlaçou minha cintura e me
ergueu até sua altura.
- Não. A sua garota está de folga para ter um tempo a sós com o
namorado, sempre tão ocupado! – disse, jogando meus braços em seu
pescoço e capturando seu lábio inferior com os dentes, de leve.
Ele sorria e seu aperto era quase nulo, mas eu congelei. Foi naquela
posição que Julian me segurou. Eu soava de nervoso e sentia meu ataque
de pânico bem próximo.
- Me diga o que aconteceu Emily, você sabe que isso não é justo! – ele
disse magoado, de uma boa distancia.
Sam fala...
A imagem daquele cara falando com ela na praia, no outro dia, não me
saíra da cabeça por alguma razão. Ele a olhava como um predador e
por mais que não passasse de um humano insignificante, ele a
assustava, como eu bem percebi.
Mas dessa vez ela foi longe demais. Não tinha ninguém além de nós
dois em toda aquela área e ela estava transtornada, de repente. Parecia
ter visto o próprio Diabo em sua frente e depois correu de mim daquele
jeito maluco, delirante. Eu precisei segui-la pra ter certeza de que não
se perderia na mata.
Ela desabou nos meus braços, as pernas cedendo enquanto caia num
choro inconsolável.
- Eu não posso... não posso... Sam! – e ela olhava pra mim com carinho
nos olhos e um pedido de clemência. Era ele! Eu poderia apostar pelos
olhos dela que tinha acertado na mosca.
O click na minha mente quase deu pra ser ouvido. Se era isso que a
assustou, esse tal de Julian só poderia ter...
E então eu não era mais responsável por meus atos quando o calor
enfiou-se por minha espinha me dilacerando e eu me afastei três
passadas dela, para estar longe quando explodisse, porque eu sabia
onde encontrar o desgraçado e a minha risada foi histérica e macabra
por ter feito o dever de casa. “ Eu vou matá-lo!” – Grunhi, entrando em
fase... Mas não foi isso que aconteceu!
- Eu não posso... não posso... Sam! – eu tentei dizer, mesmo que as coisas
não me parecessem certas enquanto minha cabeça latejava e eu estava
entre duas realidades, no meio de minhas ilusões e da mata já
praticamente escurecida.
E então, era agora. Era agora que ele se transformava e me deixava ali.
Era agora que ele se tornava um assassino. O homem da minha vida,
marcado pra sempre por um erro do meu passado. Minha culpa!
Fui em sua direção e encurtei a distancia. Ele gritou: - Pra traz! – e havia
tanta raiva em sua voz, tanto ódio que me machucou e atingiu. Eu não
podia perde-lo assim. Não podia deixá-lo fazer isso.
A fera me jogou pra longe me acertando com suas garras tão afiadas
quanto uma navalha.
Nenhuma daqueles talhos abertos na minha carne doeu mais do que saber
QUEM havia me atingido e com certeza nada conseguiria ser mais
penoso do que fato de que eu agonizava, sabendo que, mesmo assim, eu
ainda o amava.
5 – Forgiveness
A princípio, meus olhos pesados e minha boca seca eram tudo o que
sentia, mas logo fui tomando nota de outras sensações, como uma
ardência característica de cortes recém costurados e uma pressão
inconveniente em quase todos os músculos de meu corpo.
A voz de Tia Sue parecia calma, mas eu detectei a ponta de histeria que
guiava seu discurso.
Quis ter forças para me levantar e dizer que o perdoava antes de qualquer
outra coisa. Dizer que ele tentou me afastar, e eu, enlouquecida pelo
medo de perdê-lo me agarrei nele sabendo o perigo que corria. Sabia que
meu amor não me apunhalou por que decidiu fazê-lo.
A última coisa de que me lembro claramente antes que a dor me cegasse,
foi ouvir aquele uivo humano demais, agoniado e louco pelo que me tinha
feito. A dor dele me fazia sofrer e eu precisava encontrá-lo o quanto antes
para aliviar esse peso de seus ombros.
(...)
Passei as mãos em meu rosto e notei que haviam enfaixado o lado direito.
Achei curioso, mas não me foquei nisso.
- Tem um moço muito bonito morando nas cadeiras da recepção desde
que você chegou... – a enfermeira gracejou enquanto empurrava a bandeja
sobre o suporte da cama de onde eu devia comer. – Ele ficou muito tempo
esperando você acordar, mas não quis entrar quando eu falei que
poderia... – a mulher franziu um pouco a testa. – Acho que ele é tímido. –
concluiu.
- Não faça isso, criança, não... – a enfermeira tentou me impedir, mas era
tarde.
Sam tinha olheiras muito negras na pele vermelha e parecia mais magro
também. Como um homem que havia sofrido dias sem água em pleno
deserto. Mas nada era pior do que o horror em seus olhos quando ele me
tomou nos braços e chorou no meu ouvido um lamento de desculpas mal
pronunciadas.
Mas ele não esqueceu. E eu duvidei de que um dia ele fosse esquecer.
(...)
- Acho que ela veio ver com os próprios olhos o que eu recebi por fazê-la
sofrer tanto. – eu falei sem pensar.
(...)
Minha chegada à casa do velho Sr. Quil Ateara foi bem movimentada já
que o conselho todo estava a minha espera, bem como meu primo Seth
que ainda acreditava na historia do urso e o amigo de Sam, Jared, que
junto com a minha Tia Sue compunham o núcleo de pessoas
sensibilizadas pelo meu infortunado ataque por animal selvagem. Eu não
vi Leah e não acreditei que a veria desde sua saída repentina do hospital.
Talvez estivesse se culpando por ter me desejado mal, ou talvez estivesse
comemorando a minha desgraça. Eu realmente, não fazia idéia.
Eu certamente não estava preparada para isso, bem mais do que não
estava preparada para tudo que me aconteceu desde que cheguei em La
Push.
Enquanto Sam me levava para conhecer o resto, já que muita coisa havia
mudado, eu ficava olhando seu rosto leve e despreocupado a cada vez que
eu pirava com um novo aspecto da reforma, ele parecia ganhar ainda mais
vida.
E foi no seu sorriso, sempre em sincronia com o meu, que entendi onde
realmente eu chegara em minha vida. Eu estava definindo as linhas do
meu “pra sempre”.
- Eu lhe juro Emily, que eu vou amar você, viver por você e cuidar de
você até as minhas ultimas forças se esvaírem e eu nunca mais irei
machucá-la seja aqui – e ele colocou a palma da mão onde batia o meu
frenético coração. – ou em qualquer outro lugar! – ele segurou minhas
bochechas com carinho e plantou um beijo tímido em minhas cicatrizes.
- Eu lhe juro Samuel, que vou amar você, vou viver por você e vou cuidar
de você até as minhas ultimas forças se esvaírem e eu prometo nuca mais
te esconder nada e nunca mais duvidar de que nós somos certos, juntos!
E foi a vez dele ignorar tudo e me beijar com carinho e com cuidado, mas
apertando a minha cintura com a mesma fome que sempre marcou os
nossos beijos.
(...)
Sam me confidenciara que, assim que soube que eu estava fora de perigo,
foi até Julian e cuidou dele assegurando-se de que nunca mais esse
fantasma voltaria a nos assombrar.
Ele me jurou que não fez nada realmente grave e nem de perto tão grave
quanto teria gostado de fazer e eu fiquei mesmo agradecida por ter me
livrado desse horror que me perseguira por tanto tempo.
As pessoas que antes me apontavam na rua e falavam mal de mim por ter
roubado o noivo de minha prima, não mais tinham coragem de julgar a
pobre garota que fora atacada pelo urso e agora tinha metade do rosto
desfigurado.
Não podia tirar-lhe a razão mesmo que eu já estivesse em paz com minha
escolha e eu escolhera Sam, definitivamente.
- Sabe que me caso com você assim que você me aceitar! – ele retrucou. –
Não é como se eu já não tivesse pedido.
O bando cresceu. Primeiro com Jared e depois Paul. Sam estava sempre
preocupado com os garotos tentando dar a eles toda a ajuda que ele não
teve no início de sua transformação.
Era magnífico cuidar de todos eles, como se fossem meus filhos grandes
demais e sempre que meu Sam passava pela porta da cozinha, mesmo que
estivesse cansado e com seus olhos caídos eu via o meu sol brilhar acima
das nuvens da Olympic e eu tinha certeza de que sentia muito por Leah e
sentia muito pelo jeito que o destino nos guiou, mas não conseguia sentir
muito por tudo o que eu tinha. Eu era agradecida.
Fiquei com medo do que poderia acontecer já que eles estavam caçando
uma fria ruiva que matara em Olympic e que já lhes fugira varias vezes.
Pensei então em Jacob Black, que havia entrado para o bando mais
recentemente trazendo alguns problemas quando revelara o segredo à
Bella, filha do Chefe Swan e ex-namorada de um daqueles frios que não
tomavam sangue humano, os Cullen, com quem nós tínhamos um pacto
de não-agressão mutua.
- Leah sabe de tudo! – foi o que ele disse apático, sem introduzir o
assunto. Fiquei calada esperando o resto. Eu acreditava que seria algo
como: “Um dos garotos conseguiu burlar a injunção e contou a ela” ou no
máximo, “ Ela descobriu sozinha”.
Mas ele não confirmou nenhuma das minhas duas pobres suposições
quando em uma respiração só disse:
E eu abri tanto a minha boca que fiquei com medo de que ela não se
fechasse mais.
Leah fala...
Sam podia ficar com ela, meu inocente e impressionável irmão podia
ficar com ela e todos aqueles garotos idiotas da reserva que agora me
olhavam em pânico enquanto eu voltava ao normal, nua em pelo sem
poder me esconder, me defender dos olhares curiosos. Naquele chão
cheio de folhas com toda aquela informação invadindo minha
consciência. Toda a verdade por traz da traição de Sam, dos estranhos
fenômenos ligados à sua turma e ainda, mesmo que indiretamente, os
problemas por traz do enfarte de meu pai.
Acho que preferia não saber, preferia não existir e não conseguia
pensar nada com clareza. IMPRINTING... Foi onde meus pensamentos
me levaram assim que adquiri uma mínima coerência.
No fim, parece que Sam não teve realmente uma escolha ao me deixar.
Ele precisou fazê-lo assim como agora precisamos perseguir essa fria
que está na mente de todos eles, que está matando em nossas terras.
Mas, espera aí... Eu disse PRECISAMOS? Precisamos coisa nenhuma.
ELES precisam e eu tenho é que arrumar uma maneira de sumir, fugir
disso e retomar a minha dignidade que era tudo o que eu tinha antes, e
que além de todo resto, me foi tirado à força.
Uma imagem tinha ficado gravada em mim assim que consegui me por
de pé. Era um anel de noivado, trançado a mão como mandava a mais
antiga tradição Quileute. E aquele anel nunca seria meu.
Emily, ela fora a escolhida. A ela foi dada toda a vida que eu queria
para mim. Uma vida que eu tinha até ela me tomar e agora descubro
que ela realmente não planejou nada. Não seduziu meu namorado em
minhas costas. Não flertou com ele enquanto me consolava. Ela apenas
não resistiu a um homem que lhe jurou amor eterno...
E nunca iria perdoá-la por me fazer sentir assim tão pequena e incapaz
e tão errada. Por querer ser como ela para não ser assim como eu. Mas
havia uma coisa que eu faria para meu próprio bem e isso era ter uma
conversa bem franca com minha prima para mandá-la enfiar sua pena
onde o sol não bate e se casar logo com aquele estrupício do Uley, já
que ficou bem obvio pelos pensamentos dele que apenas a pobre Leah
os detinha.
Passado o choque inicial ao saber que minha prima agora era uma
mulher-lobo, eu tive outras coisas bem mais banais com que me
preocupar. Afinal, Leah era linda e tinha aquele corpo esguio e magnífico
que só manequins de passarela conseguiam manter enquanto eu ficava
com meus quadris largos e minha altura medíocre. Ela não iria envelhecer
enquanto eu já achava que meus vinte anos me fazia parecer bem mais
velha do que deveriam.
Era obvio para mim que nenhum homem ficaria imune ao charme de
minha prima se ela decidisse investir duro nisso e toda aquela coisa de
bando, nenhuma roupa e pensamentos em comum me tirou o sono varias
vezes enquanto eu questionava o quanto o imprinting teria sido crucial
para meu amor acontecer e o quanto Sam de fato me pertencia, por mim
mesma e não por aquela velha injunção de lobos.
- Seja muito feliz. – disse com desaso e então foi embora sem me deixar
dizer nada.
Eu vim pra La Push como uma fugitiva, eu cheguei aqui vazia e sem
nada, acreditando que historias de terror eram só historias de terror e
contos de fadas eram lucrativos para a Disney. Eu acreditava no livre
arbítrio e achava que casamento não era tão importante, embora desde
sempre desejasse uma família grande e secretamente esperasse um
homem forte e amoroso que pudesse cuidar de mim.
Sam Uley era um noivo que exalava confiança e seus olhos negros de
ônix estavam visivelmente emocionados. Ele fazia uma boa figura ali,
ereto diante do padre e maior que todos os seus padrinhos com exceção
de Jacob Black para quem perdia em cinco ou sete centímetros de altura.
Leah olhou a prima e admitiu sua beleza, tanto quanto admitia pra si
mesma que aquele ali não era mais o seu lugar. Não se sentiu tão mal
quanto considerou que se sentiria, ali, obrigada a ver de camarote o que
sua vida poderia ter sido.
No final, mesmo que não fosse admitir isso pra ninguém, Emily parecia
mais certa para ele. – “Mais mosca morta” – pensou com uma risadinha.
Mas nem esse pensamento era maldoso, de fato, já que continuou a
observar a prima e ainda assim a achava muito bela naquele vestido.
A cerimônia não foi longa, os votos foram simples e comuns, mas a noiva
tinha uma surpresa que guardou até o ultimo momento e quando era a sua
vez de jurar amor eterno, ela não fez um juramento apenas por si.
- Nós te recebemos Sam... – ela começou a dizer enquanto sua mão direita
pousou sobre sua barriga. – Como marido e PAI... – e engasgou um
pouco quando percebeu o olhar atônito dele. – E prometemos ser fieis a
você e a nossa pequena família, para amar-te e respeitar-te, na alegria e na
tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da nossa vida e além dela. –
afirmou.
Quando o noivo não esperou que o padre dissesse mais nada e levantou
Emily do chão, girando-a, beijando-a e abraçando-a completamente
embebido em felicidade com a notícia de que teriam um filho e que
estavam finalmente casados.