Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
E ANTROPOLÓGICOS DA
EDUCAÇÃO
PROFESSORAS
Me. Daiany Cris Silva
Me. Milena Cristina Belançon
ACESSE AQUI
O SEU LIVRO
NA VERSÃO
DIGITAL!
EXPEDIENTE
DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de
Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino
de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi
FICHA CATALOGRÁFICA
Coordenador(a) de Conteúdo
Roney de Carvalho Luiz
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ.
Projeto Gráfico e Capa
Núcleo de Educação a Distância. SILVA, Daiany Cris; BELANÇON,
Arthur Cantareli, Jhonny Coelho Milena Cristina.
e Thayla Guimarães
Fundamentos Sociológicos e Antropológicos da Educação.
Editoração Daiany Cris Silva; Milena Cristina Belançon.
Arthur Cantareli Silva
Design Educacional Maringá - PR.: UniCesumar, 2020. Reimpresso em 2021.
Jociane Karise Benedett 184p.
Revisão Textual “Graduação - EaD”.
Meyre A. P. Barbosa 1. Fundamentos 2. Sociológicos 3. Antropológicos 4. Educação.
Ilustração EaD. I. Título.
Produção de Materiais
Fotos
Shutterstock CDD - 22 ed. 370.1
CIP - NBR 12899 - AACR/2
Impresso por:
ISBN 978-65-5615-224-0
qualidade, como, acima de tudo, gerar a con- são, que é promover a educação de qua-
versão integral das pessoas ao conhecimento. lidade nas diferentes áreas do conheci-
Reitor
Wilson de Matos Silva
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
http://lattes.cnpq.br/9836626816148868
http://lattes.cnpq.br/6653565063142893
A P R E S E N TA Ç Ã O DA DISCIPLINA
FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS E
ANTROPOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO
Nas unidades seguintes, tratamos da Antropologia, ciência que possui como principal objeto
de estudo as culturas humanas. Na Unidade 4, buscamos apresentar as principais caracte-
rísticas da disciplina, suas diferentes correntes teóricas e seu principal método de pesquisa,
a etnografia. Quanto à presença da disciplina no Brasil e suas reflexões sobre temas da
sociedade contemporânea, discutimos na Unidade 5, abordando a pluralidade de vivências
na urbanidade. Destacamos nessas duas unidades como a antropologia pode contribuir na
compreensão da realidade social do ambiente escolar.
Esperamos que nossas discussões possam colaborar para a sua formação na prática
educacional.
Bons Estudos!
ÍCONES
pensando juntos
explorando ideias
quadro-resumo
conceituando
Sabe aquela palavra ou aquele termo que você não conhece? Este ele-
mento ajudará você a conceituá-la(o) melhor da maneira mais simples.
conecte-se
PROGRAMÁTICO
UNIDADE 01
8 UNIDADE 02
40
INTRODUÇÃO ÀS TEORIAS
CIÊNCIAS SOCIAIS SOCIOLÓGICAS COMO
E SUA RELAÇÃO COM A INSTRUMENTOS
EDUCAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO
UNIDADE 03
73 UNIDADE 04
101
SOCIOLOGIA E PERSPECTIVAS
EDUCAÇÃO NA ANTROPOLÓGICAS
CONTEMPORANEIDADE COMO INSTRUMENTOS
PARA EDUCAÇÃO
UNIDADE 05
137 FECHAMENTO
173
ANTROPOLOGIA CONCLUSÃO GERAL
E EDUCAÇÃO NA
CONTEMPORANEIDADE
1
INTRODUÇÃO ÀS
CIÊNCIAS SOCIAIS
e sua relação com a educação
PROFESSORAS
Me. Daiany Cris Silva
Me. Milena Cristina Belançon
PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • As Ciências Sociais como um
campo de estudos que emerge de uma sociedade em transformação • Sociologia e Antropologia:
produzindo um olhar orientado sobre a vida em sociedade • As ciências sociais e as diretrizes nacio-
nais da Educação Básica.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Compreender o surgimento da sociologia como resultado das transformações sociais ocorridas com as
Revoluções Industrial e Francesa. Conhecer a perspectiva de Auguste Comte, ao criar a física social para
demonstrar sua preocupação em racionalizar as mudanças ocorridas no período • Analisar a Sociologia
e a Antropologia como ferramentas de se localizar, socialmente, buscando a compreensão da socieda-
de em que vivemos e percebendo a interferência das estruturas sociais na vida cotidiana • Entender a
relação das ciências sociais com as diretrizes nacionais de Educação Básica, pontuando em que medida
a disciplina pode contribuir para o alcance dos objetivos da política educacional brasileira.
INTRODUÇÃO
SOCIAIS COMO UM
CAMPO DE ESTUDOS
que emerge de uma sociedade
em transformação
10
UNICESUMAR
pensando juntos
Tente você, aluno(a), imaginar-se nesse contexto enquanto um artesão independente que
vê a chegada das máquinas e todas as mudanças que esse fato acarreta.
O século XVIII marcou o mundo por contar com duas grandes Revoluções, a
Industrial (1780-1860) e a Francesa (1789-1799). Estas marcaram, definitiva-
mente, a instalação da sociedade capitalista e desencadearam acontecimentos
que tornaram possível o que entendemos por criação da sociologia.
A revolução industrial, iniciada na Inglaterra, modificou os métodos pro-
dutivos que, até então, eram, em grande parte, manuais, introduzindo a máqui-
na a vapor e seus sucessivos aperfeiçoamentos. Dessa forma, progressivamente,
poucas pessoas foram acumulando os novos
meios de produção, as máquinas, e convertendo
muitas pessoas em seus empregados. Portanto,
esse momento concatena a consolidação da so-
ciedade capitalista, e disto decorre uma série de
mudanças nos costumes e nas instituições até
então existentes, sendo necessárias novas formas
de organização da vida social.
Os artesãos tiveram que se adaptar, pois o
seu produto não era mais competitivo tanto pelo
trabalho manual despendido quanto pelo tem-
po usado na produção. Dessa forma, todo o país
se modificou, reunindo a população, até então,
predominantemente rural, em grandes cidades
no entorno das indústrias. Nessa realidade, mui-
tos tiveram suas formas habituais de vida, radi-
calmente alteradas tanto pela necessidade de se
mudar para a cidade quanto pelas rígidas regras
de trabalho impostas, inclusive, às crianças.
Com isso, podemos imaginar o quanto essas
cidades cresceram, demograficamente, e muito
rápido. Este crescimento não foi acompanhado
por uma estrutura adequada de moradia e saúde,
11
UNIDADE 1
o que tornou o cenário propício para que as cidades industriais passassem a abrigar
altos índices de suicídio, alcoolismo, criminalidade, violência, surtos de epidemia etc.
Nos anos seguintes, registraram-se os efeitos desta realidade em manifestações
de revolta dos trabalhadores, como a destruição de máquinas, atos de sabotagem e
a organização destes operários em associações que enfrentavam os proprietários
dos instrumentos de trabalho em busca de melhores condições de vida.
Em toda essa efervescência de mudanças e rearranjos, a sociedade passou a ser
um problema que precisava ser investigado e analisado. E estas digressões começa-
ram a ser feitas por pessoas que desejavam modificar essa realidade caótica. Estas
pessoas já estavam fazendo sociologia, ainda que este termo não fosse empregado.
Outra circunstância que engrossou o caldo para o surgimento da sociologia foi
a mudança que ocorria nas formas de pensamento. Com as mudanças econômicas
ocorridas, desde o século XVI, a visão sobrenatural para explicar os fenômenos
foi dando lugar ao uso da racionalidade. O desenvolvimento de métodos de ob-
servação da natureza fez com que os seres humanos pudessem, cada vez mais,
dominá-la e controlá-la. Desse modo, o pensamento filosófico e científico pôde se
aprimorar e abrir espaço para o uso da razão, em oposição ao controle teológico.
Nessa perspectiva, no século XVIII, destacam-se os pensadores franceses,
chamados iluministas. Estes se ocuparam em atacar os fundamentos da socie-
dade feudal em busca de uma transformação da sociedade. Em suas análises, os
iluministas indicavam que as instituições existentes iam contra a natureza de
liberdade e igualdade presente nas pessoas, e, por isso, reivindicavam a liberação
do indivíduo de todos os laços sociais tradicionais.
Munida desta perspectiva é que a burguesia toma o poder, na França, em
1798, o que ficou conhecido como Revolução Francesa. A partir daí, desenrola-se
uma grande mudança de regime, que impactou, também, o modo de organização
da sociedade francesa. Toda essa mudança foi objeto de estudos de muitos pen-
sadores, que questionaram cada vez mais a ordem e a racionalização.
Dessa forma, a sociologia surge com interesses práticos, de propor soluções
para os problemas da industrialização e suas consequências, para analisar e discu-
tir sobre a “ordem social”. Uma série de pensadores cedeu ao mundo suas digres-
sões usadas na formação do saber sociológico, desse modo, não há um criador a
quem se endereça a criação dessa ciência, mas, sim, um conjunto destes. Dentre
estes, destacamos o filósofo Auguste Comte.
12
UNICESUMAR
Auguste Comte foi um filósofo francês
que viveu entre 1798 e 1857. O autor de-
senvolveu a teoria positivista, que consi-
dera a ideia de que o conhecimento verda-
deiro é dado por meio da experimentação
e do aferimento científico. Dessa forma,
o que autor chamava de física social (que
agora chamamos de sociologia) deveria
orientar-se em direção ao conhecimento
das leis imutáveis da vida social. Segundo
as palavras de Comte, na obra “Conceitos
Gerais e Surgimento da Sociologia”:
“
Entendo por física social a ciência que tem por objeto próprio o
estudo dos fenômenos sociais, segundo o mesmo espírito com que
são considerados os fenômenos astronômicos, físicos, químicos e
fisiológicos, isto é, submetidos a leis invariáveis, cuja descoberta é
o objetivo de suas pesquisas. Assim, ela se propõe diretamente a
explicar, com a maior precisão possível, o grande fenômeno do de-
senvolvimento da espécie humana, visto em todas as suas partes
essenciais (COMTE, 1972, p. 86).
conceituando
A escolha de Comte pela palavra “positiva” para qualificar sua filosofia tinha a intenção de
diferenciar da filosofia do século dezoito, que era negativa, ou seja, contestava as institui-
ções sociais que ameaçavam a liberdade das pessoas. Desse modo, sua filosofia positiva
não possuía caráter destrutivo, apenas de organizador da realidade.
Fonte: as autoras.
Auguste Comte formulou a lei dos três estados, que, segundo ele, rege o modo
de pensar da humanidade. Segundo essa lei, as concepções da história humana
passam por três fases: teológica, metafísica e positiva. O estado teológico seria
aquele em que as respostas para os fenômenos sociais e naturais são buscadas
no sobrenatural, na ação divina, ou seja, sem uso da racionalidade. O estado
metafísico seria um estágio de transição entre o estado teológico e o positivo,
em que o sobrenatural é substituído por forças abstratas personificadas. Desse
modo, a razão começa a se preparar para o exercício científico, mas ainda
não está solidificada. Portanto, o estado positivo é o estado científico cujos
fenômenos não são mais explicados de forma sobrenatural, mas, sim, pela
14
observação e atestação via método. Sendo assim, este seria o último estágio
UNICESUMAR
da evolução mental da razão humana.
Dessa forma, Comte fundava-se na “ordem” e no “progresso” como agentes
de atuação mútua na nova sociedade. Enquanto para ele, os iluministas se preo-
cupavam só com a ordem, os revolucionários somente com o progresso, insistia
na necessidade de uma ação mútua desses dois fatores.
explorando Ideias
2
SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA:
PRODUZINDO UM
OLHAR ORIENTADO
sobre a vida em sociedade
pensando juntos
O indivíduo só pode compreender sua própria experiência e avaliar o seu próprio destino
localizando-se dentro de seu período; só pode conhecer suas possibilidades na vida tor-
nando-se cônscio das possibilidades de todas as pessoas, nas mesmas circunstâncias que
ele. Sob muitos aspectos, é uma missão terrível, sob muitos outros, magnífica.
(Wright Mills)
Dizer que é preciso se tornar cônscio, lúcido das nossas próprias possibilidades
de vida e de quem nos cerca é a maneira encontrada pelo Sociólogo Wright
Mills (1975) para nos provocar a olhar o mundo a nossa volta e compreendê-lo
16
para além do que já nos acostumamos como preestabelecido, desenvolvendo
UNICESUMAR
nossas próprias percepções e, o mais importante, localizando-se dentro de uma
sociedade que possui a ordem e a estrutura que precisam ser reveladas a quem
vive sob suas influências.
Considerando o papel social da Sociologia de construir concepções sobre a
forma como funcionamos e nos organizamos, coletivamente, Wright Mills (1975)
diria-nos que nos tornar conscientes da sociedade em que vivemos é o passo
inicial para que nós e todos que estão à nossa volta compreendamos melhor a
própria experiência neste mundo. Por esse motivo é que toda essa contextuali-
zação histórica do surgimento da Sociologia como conhecimento científico é
essencial, pois, a partir desse movimento, entendemos como as Ciências Sociais
se relacionam com a realidade cotidiana.
É preciso ter em mente, portanto, assim como discutimos na seção anterior,
que a modernidade modificou a maneira como nos relacionamos no nosso dia
a dia, deixamos de ser donos do nosso próprio trabalho e passamos a vendê-lo
para os donos das fábricas, trocamos os comandados de reis e rainhas, a monar-
quia, por uma organização política em que a maior parcela da população possui
direito de escolha e influência. O que conhecemos hoje como estado democráti-
co, diminui-se a importância dos conhecimentos de senso comum, aqueles que
aprendemos com a experiência, ou que ouvimos de familiares e vizinhos, lendas
e crendices populares, em favor da ciência, que tomou um lugar de destaque e de
razão absoluta. Todas essas mudanças proporcionaram nova maneira de pensar
e agir, coletivamente, pois a vida em sociedade já havia se transformado.
O desemprego, a fome, os problemas da vida urbana, como a falta de habita-
ção para todos(as), são novas questões, a própria urbanização e o surgimento das
cidades tornam-se novidade. E a pergunta que insistia em rodear os pensamentos
de quem vivia esse momento de grandes transformações sociais era: Como po-
demos explicar todos esses acontecimentos? As Ciências Sociais seriam, então,
uma possível resposta ou, pelo menos, um campo científico que poderia indicar
bons caminhos para se lidar com todas essas situações.
Cabe evidenciar que há maior destaque para a Sociologia, pois, como apre-
sentamos no tópico anterior, foi esta disciplina que inaugurou os estudos sobre
as questões sociais, tendo como seu pioneiro Auguste Comte e sua ciência posi-
tivista. Mas como é possível perceber na nossa vivência cotidiana, muitos temas
estão presentes na estrutura de uma sociedade, e entre esses temas estão a cultura
e a política, dimensões que são tratadas, respectivamente, pela Antropologia e a
17
Ciência Política, campos científicos que desenvolveram teorias e técnicas espe-
UNIDADE 1
cíficas para tratar destas temáticas. Para que você, caro(a) aluno(a), compreenda
melhor estas subdivisões das Ciências Sociais, trataremos, brevemente, sobre
cada uma de suas áreas.
“A Sociologia é o estudo da vida e do comportamento social, sobretudo em
relação a sistemas sociais, como eles funcionam, como mudam, as consequências
que produzem e sua relação complexa com a vida” (JOHNSON, 1997, p. 217). A
Sociologia é uma ciência que analisa nossas relações interpessoais: família, relacio-
namentos, grupos sociais e nossas relações com a vida pública: escola, trabalho, re-
ligião, estado, justiça, entre outros meios sociais com que convivemos, diariamente.
Já a Antropologia, definida, essencialmente, como o estudo da humanidade,
concentrou-se, inicialmente, em investigar sociedades primitivas, com organiza-
ção simples, restritas a ilhas e localizações distantes, que tiveram pouco contato
com sociedades ocidentais, e que por serem “qualificadas como ‘simples’, em con-
sequência, elas irão permitir a compreensão, como numa situação de laboratório,
da organização ‘complexa’ de nossas próprias sociedades” (LAPLANTINE, 2003,
p. 8). Desse modo, o estudo antropológico se concentra no entendimento da
racionalidade humana em sua coletividade, como a humanidade produz signifi-
cados e simbolismos, ou seja, o que é cultura e como ela se constrói. O olhar an-
tropológico mostra-nos que, ao conhecer o outro, sociedades distintas da nossa,
conhecemos a nossa própria realidade.
Quanto à Ciência Política, podemos compreendê-la, mais amplamente, como
o conjunto de “estudos sobre os fenômenos e as estruturas políticas, conduzido
sistematicamente e com rigor, apoiado num amplo e cuidadoso exame dos fatos
expostos com argumentos racionais” (BOBBIO; MATTEUCCI; PASQUINO,
1998, p. 164). O que isso significa? Estudar os fenômenos e estruturas políticas é
verificar tendências de comportamento político, determinados grupos tendem a
se identificar com quais posições políticas? Realizar uma leitura orientada sobre
dados eleitorais, fazer pesquisas de intenção de votos, mapear as ações do estado,
ou avaliar políticas públicas. Este é o âmbito das Ciências Sociais que investiga
nossas ações com relação às instâncias de poder, às estruturas políticas do estado
e suas instituições.
Com essa breve explicação sobre as três áreas das Ciências Sociais, é possível
diagnosticar que não há uma divisão bem clara entre uma área e outra, todos os
temas se entrelaçam. Isso é muito construtivo para a consolidação das Ciências
Sociais como campo de estudos, pois possibilita a produção de um conhecimen-
18
to científico comprometido com a realidade social que, por sua vez, é diversa e
UNICESUMAR
dinâmica e, por isso, não pode ser lida por meio de uma única perspectiva.
Como o próprio nome dessa disciplina nos diz, nesta seção, daremos mais
ênfase à Sociologia e à Antropologia por entender que estes campos científicos
proporcionam instrumentos de leitura da realidade social muito profícuos a pro-
fissionais da educação, que são pessoas que estão em contato diário com questões
emergentes da nossa organização social, além de considerar a grande influência
que essas duas disciplinas possuem sobre a construção de teorias educacionais,
tema que trataremos com mais profundidade nos capítulos seguintes.
Então, quer dizer que a Ciência Política
é um campo de estudos dispensável para se
pensar a educação? De maneira alguma, lem-
bra de quando dissemos que todas as áreas
de estudo das Ciências Sociais estão, de certa
maneira, interligadas? Pois é, embora a Ciên-
cia Política não seja o nosso foco principal,
ela fará parte de nossas discussões, dado que
não há como discutir educação sem tocar em
questões políticas, as próprias diretrizes curri-
culares, as legislações e o sistema educacional
que fazem parte das estruturas políticas. No
entanto esta dimensão macroestrutural não é
o principal ponto nesta disciplina, o que nos
interessa, no momento, é discutir como utili-
zar as Ciências Sociais como ferramenta para
atuação prática na política educacional.
A produção de conhecimento socio-
lógico e antropológico, especificamente,
fornecem suporte teórico e metodológico
à implementação de políticas educacionais
à prática docente e à organização pedagógi-
ca, e é esse contexto que buscamos abordar
nesta unidade. Sob esta perspectiva, você,
caro(a) leitor(a), poderia nos questionar:
Como, afinal, a Sociologia e a Antropolo-
gia contribuem para a produção deste olhar
19
orientado sobre a vida em sociedade? Ou melhor, o que significa esse olhar orien-
UNIDADE 1
tado? Bom, a nossa proposta, aqui, é demonstrar como é possível fazer do conhe-
cimento sociológico e antropológico uma ação e fornecer conhecimento básico
sobre este campo de estudos, uma das formas de proporcionar meios para que
você possa realizar interpretações conscientes sobre a realidade em que vive.
São estas interpretações conscientes sobre a realidade que chamamos de olhar
orientado pela Sociologia e a Antropologia, que se caracteriza por uma análise
atenta ao contexto social em que estamos inseridos.
Assim como afirma Florestan Fernandes (FERNANDES apud FORACHI;
MARTINS, 2008), o modo de agir, a capacidade de decisão e o julgamento depen-
dem do grau de consciência dos indivíduos sobre as ações dos outros ou os efeitos
das possíveis alterações da estrutura e do funcionamento das instituições. Desse
modo, compreender as relações estabelecidas em seu entorno e possuir o enten-
dimento sobre como as instituições sociais e as estruturas políticas desenvolvem
interferências sobre a nossa vida cotidiana são conhecimentos que proporcionam
mais capacidade de ação efetiva na sociedade e fazem com que um profissional da
educação, por exemplo, se depare com problemas sociais e possa interpretá-los de
maneira consciente e, por meio de sua análise, tomar decisões fundamentadas.
Nosso objetivo é, portanto, nos distanciar do senso comum, dessas leituras
preestabelecidas que temos sobre o mundo em que vivemos e que estão a salvo
de questionamento, pois temos a plena certeza de que estão corretas por expe-
riência. O senso comum pode ser traduzido em frases, como: “sempre pensei
dessa forma” ou “eu sempre fiz assim porque é o certo a se fazer”, porém, frases
como essas são acompanhadas de ações pouco avaliadas em que o contexto
social é desconsiderado.
Com toda certeza, nossa experiência pode e deve orientar nossas ações, afi-
nal, é no convívio cotidiano que aprendemos muito sobre como nos relacionar,
socialmente. No entanto há questões em que a experiência não pode dizer por
si mesma a maneira de agir mais conveniente, pois não vivemos em todos os
meios sociais existentes e, muito menos, passamos por todas as situações que
viver nessa sociedade pode nos proporcionar, o que significa que não podemos
ter conhecimento sobre tudo apenas por experiência prévia.
Citamos como exemplo a seguinte situação: uma professora possui anos de
experiência no ensino privado cuja ênfase do trabalho está no preparo para ves-
20
tibulares e avaliações seletivas. Essa professora é aprovada em um concurso da
UNICESUMAR
rede pública e planeja replicar seu método de ensino no novo local de trabalho.
Ao assumir suas turmas em um bairro periférico, percebe que há uma série de
defasagens no processo de aprendizagem e entende que isso é resultado da falta de
esforço dos alunos(as). Então, a professora decide que é preciso ser mais rígida e
cobrar mais empenho dos(as) alunos(as), e o resultado não foi satisfatório. Depois
de um tempo maior convivendo com as turmas, após trocar experiências com
outros(as) professores(as) de sua área, receber orientações da equipe pedagógica
e ao conhecer, realmente, a realidade do colégio em que trabalhava, a professora
compreendeu, aos poucos, que a dificuldade de aprendizado dos alunos era con-
sequência de fatores externos ao empenho de cada um. Assim, decide rever a sua
metodologia de ensino para se adequar à linguagem cotidiana dos(as) discentes,
e a nova metodologia surtiu melhor efeito.
Percebe que a professora precisou realizar uma análise mais aprofundada
sobre a realidade de seu público-alvo? Se esse momento de análise de contexto
fosse ignorado, e a professora insistisse em replicar o método de ensino que uti-
lizava na rede privada na rede pública, a grande possibilidade é que o processo
de ensino e aprendizagem fosse um fracasso, durante todo o ano letivo.
Realizar análises sociais é um exercício que aprendemos com os estudos das
Ciências Sociais, e utilizar este conhecimento como meio de lidar com situações
como a citada anteriormente é extremamente importante para a atuação no meio
educacional. Segundo Florestan Fernandes, esse exercício é um elemento típico
dos estudos sobre a sociedade:
“
Visto que as Ciências Sociais exige de nós, como requisito essencial,
um estado de espírito que permite entender a vida em sociedade
como estando submetida a uma ordem, produzida pelo próprio
concurso das condições, fatores e produtos da vida social (FER-
NANDES apud FORACHI; MARTINS, 2008, p. 10-11).
21
UNIDADE 1
pensando juntos
UNICESUMAR
cia, seria preciso admitir que lecionar para jovens de grupos privilegiados é ensinar
pessoas que possuem mais intimidade com o conhecimento formal, pois possuem
mais acesso à informação e a materiais de ensino de mais qualidade, se comparadas
a jovens da rede pública que, junto ao seu histórico escolar, possuem uma série de
questões sociais com que precisam lidar, muitas delas intensificadas pela sua condição
de classe social e pelas desigualdades sociais que vivenciam, diariamente.
Para Mills (1975), este movimento de avaliar a própria experiência, ponderar
decisões e agir de maneira consciente, considerando os contextos sociais, chama-
-se imaginação sociológica, termo criado pelo autor para conceituar o exercício
de questionamento sobre a realidade social. Segundo o sociólogo, para exercitar a
imaginação sociológica, é necessário realizar um conjunto de três séries de questões:
“
1) Qual a estrutura dessa sociedade como um todo? Quais seus
componentes essenciais, e como se correlacionam? Como difere
de outras variedades de ordem social? Dentro dela, qual o sentido
de qualquer característica particular para a sua continuação e para
a sua transformação?
Ufa! Quantas questões não é mesmo? Mas calma, o intuito não é responder com-
pletamente cada uma dessas questões, o que desejamos é provocar reflexão. Após
a leitura de todos esses questionamentos, você se sentiu incentivado a pensar
23
melhor sobre o mundo em que vive? Ou, até mesmo, buscou responder algumas
UNIDADE 1
dessas questões? E aquelas perguntas com que você se sentiu inábil para respon-
dê-las, provocaram curiosidade sobre suas possíveis respostas? É esse exercício de
instigar curiosidades sobre o mundo a nossa volta que buscamos realizar, e é por
isso que destacamos, na íntegra, esse conjunto de questões propostas por Mills
(1975), para que compreendam o movimento de questionamento à realidade que
Cientistas Sociais utilizam para investigar a vida em sociedade.
A imaginação sociológica, no entanto, não é uma exclusividade de pesquisa-
dores, ela é possível para todas as pessoas que se dispõem a desenvolver a razão
a fim de perceber, com lucidez, o que está ocorrendo no mundo e o que pode
estar acontecendo dentro de si mesmo (MILLS, 1975). Isso significa que imaginar,
sociologicamente, é interpretar os acontecimentos sociais e ter o discernimento
sobre como eles influenciam suas próprias decisões, e essa capacidade de inter-
pretação é possível para todas as pessoas.
Se restringirmos as nossas respostas a cada uma daquela série de questões
a um tema central, o sistema capitalista e suas relações econômicas, percebere-
mos que cada questão e sua respectiva resposta revelam instâncias da vida em
sociedade que podemos sentir em nossa vida cotidiana. Sintetizando de uma
maneira muito simplória as possíveis respostas a todo este conjunto de ques-
tões propostas por Mills (1975), podemos dizer que vivemos em uma sociedade
que passou por um processo de industrialização, o que transformou a maneira
de produzir e constituiu o sistema capitalista. As consequências disso em nosso
dia a dia podem ser vistas em nossas relações de trabalho, no acesso desigual a
direitos básicos. A simplificação é sintomática nos exercícios que realizamos nas
ciências sociais pois, nossos modelos sempre serão simplificações grosseiras da
realidade (FONSECA, 1999) pela simples impossibilidade de descrever em sua
totalidade a realidade social.
É notável, quando analisamos o público em geral da educação pública, por
exemplo, que possui pouco poder econômico, o que é determinante para muitos
comportamentos, principalmente, no processo de ensino-aprendizagem. No caso da
professora que citamos anteriormente, muitos diriam que aluno é aluno, não importa
de onde é e como é, mas a prática pedagógica demonstra que a realidade possui uma
lógica diferente. Isso nos mostra que não é possível planejar uma atuação profissional
efetiva se não analisarmos todas as condições de vida de nossos(as) estudantes.
Embora todas aquelas três questões sejam reveladoras, em muitos sentidos,
uma dimensão específica foi deixada de lado, propositalmente. Como a nossa
24
organização social difere de outras variedades de ordem social? Essa pergunta
UNICESUMAR
está na primeira série de questões proposta por Wright Mills (1975) e revela uma
preocupação do autor, que é recorrente a muitos outros autores(as) das Ciências
Sociais: quais são as nossas aproximações e nossos distanciamentos com relação
a outras sociedades? O que o conhecimento sobre outras estruturas sociais pode
revelar sobre a nossa própria organização? A intenção de tratar dessa dimensão de
maneira mais aprofundada, separadamente, diz respeito a qual campo de estudos
esses questionamentos reflete mais força, a Antropologia, outra área das Ciências
Sociais que nos ajudará a orientar o nosso olhar sobre a realidade em que vivemos.
Vamos pensar a educação como um processo de comunicação, que, geralmen-
te, se constitui, também, como um processo de orientação. Para se comunicar, é
necessário ter domínio da língua do outro, saber expressões, se fazer compreensí-
vel. Então, imagine você, como podemos desenvolver esses conhecimentos de lin-
guagem? Concordamos que conhecer o terreno onde estamos nos comunicando
é essencial, certo? Logo, conhecer com quem buscamos conversar é, igualmente,
importante. É nesse sentido que a antropologia nos ajuda na atuação educativa:
“o sucesso do contato educativo depende do diálogo estabelecido entre o agente
e seu interlocutor, e é nessa área de comunicação que o método etnográfico atua”
(FONSECA, 1998, p. 59). Etnográfico? O que é isso? Calma.
O método etnográfico, mais conhecido como etnografia, “é uma explicação
descritiva da vida social e da cultura de um dado sistema social, baseado na ob-
servação detalhada do que as pessoas de fato fazem” (JOHNSON, 1997, p. 101).
Essa é uma metodologia criada por antropólogos para investigar sociedades não
ocidentais. Com a riqueza de detalhes que esta técnica proporciona, é possível
realizar análises aprofundadas sobre a organização e o funcionamento das mais
variadas sociedades.
Ressaltamos, veementemente, que esta tradição da antropologia de estudar
sociedades não ocidentais foi inicial. É importante destacar que essa característica
de formação da disciplina construiu um modo de conhecimento característico,
apoiado na riqueza de detalhes e na construção de percepções sobre o outro.
No entanto de acordo com o que afirma Laplantine (2003, p. 12), “se o campo
de investigação da antropologia consistisse, apenas, no estudo das sociedades
preservadas do contato com o Ocidente, ela se encontraria hoje sem objeto”.
Ao se reinventar e expandir seu campo de pesquisa às configurações de nossa
própria sociedade, a antropologia contribuiu para que as Ciências Sociais de-
senvolvessem uma postura de investigação mediada pela observação direta e
25
interação lenta e contínua com pequenos grupos humanos. Este posicionamento
UNIDADE 1
26
A atitude de estranhamento mostra-nos que nada é inato, todas as ações e
UNICESUMAR
comportamentos são escolhas culturais, além disso, permite-nos descobrir que:
aquilo que tomávamos por natural em nós mesmos é, de fato, cultural; aquilo que
era evidente é infinitamente problemático (LAPLANTINE, 2003). Esse termo
é muito utilizado na antropologia, e ele só é possível em razão do contexto de
surgimento da disciplina. Contudo o estranhamento é uma das etapas do mé-
todo etnográfico, que, segundo a antropóloga Cláudia Fonseca (2003), pode se
desdobrar em cinco: “1) Estranhamento; 2) Esquematização; 3) Desconstrução;
4) Comparação e 5) Sistematização do material em modelos alternativos” (FON-
SECA, 1998, p. 66). Abordaremos cada uma dessas fases buscando exemplificar
com uma situação do dia a dia da escola.
Imagine que você é coordenador(a) pedagógico(a) de uma escola e recebe
reclamações de professores das mais diversas áreas sobre o comportamento de
um aluno. As reclamações retratam atitudes de agitamento durante as aulas e
posturas inconvenientes em momentos inoportunos. Alguns dos(as) docentes,
ao tratar sobre o aluno, logo indicam que aquele seria um caso de indisciplina e
desrespeito à autoridade e, por isso, o aluno deveria ser tratado com rigor e com
as punições devidas. Porém, ao ouvir, atentamente, todos os relatos, você percebeu
que existiam indícios de que aquele comportamento possuía outra explicação,
menos óbvia, dado que os(as) professores(as) relataram que era caracte-
rístico daquele aluno a falta de concentração em uma única atividade,
a fácil distração com elementos externos e atrasos no cumprimento de
suas tarefas em comparação aos seus colegas. Percebendo essa situação,
você, prontamente, buscou mais informações sobre o aluno, conversou,
pessoalmente, com ele, consultou outros profissionais sobre a situação e,
então, contatou a família para que um laudo médico fosse feito, pois tudo
indicava que havia um fator inexplicado que seria determinante para o mau
comportamento daquele aluno. A família acatou o pedido e, como resultado
da avaliação médica, o aluno foi diagnosticado com hiperatividade, um
transtorno neurológico cujas características são: desatenção, agitação e
impulsividade, entre outros comportamentos que poderiam ser, facil-
mente, confundidos com pura indisciplina e desobediência. O problema,
claramente, não poderia ser resolvido apenas com a constatação do qua-
dro médico do aluno, ainda seria necessária uma boa orientação de modo
a propor mudanças na abordagem pedagógica em sala de aula.
27
Perceba que, nesta situação, foi preciso ativar uma postura de estranhamento
UNIDADE 1
conecte-se
28
A disciplina foi criada após o movimento intelectual do século XVIII que
UNICESUMAR
tornou a humanidade objeto de estudo científico, tomando o lugar da natureza,
porém replicando métodos e técnicas de pesquisa das ciências naturais. Esse é
o movimento responsável pelo surgimento do Positivismo de Auguste Comte,
citado no início desta unidade. A antropologia, seguindo esse fluxo de mudan-
ças no pensamento social, surge com um objeto e um método de investigação
específicos: “as sociedades então ditas “primitivas”, ou seja, exteriores às áreas de
civilização européias ou norte-americanas (LAPLANTINE, 2003, p. 7 - 8).
O encontro com sociedades que possuem formas de organização social com
lógicas tão distintas da nossa proporciona às Ciências Humanas como um todo
um novo olhar científico, que só foi possível, por meio da história de formação
da antropologia como disciplina e sua imersão em sociedades não-ocidentais.
Ao possibilitar o entendimento de outras culturas, o debate antropológico
permite notar, com a maior proximidade possível, que as formas de compor-
tamento e de vida em sociedade que tomávamos todos, espontaneamente, por
“inatas (nossas maneiras de andar, dormir, nos encontrar, nos emocionar, come-
morar os eventos de nossa existência...) são, na realidade, o produto de escolhas
culturais” (LAPLANTINE, 2003, p. 13). Este contexto possibilitou a criação do
termo estranhamento sobre o qual discutimos anteriormente.
O saber antropológico é, portanto, o conhecimento do plural, da diversidade
de escolhas que a humanidade possui. Por meio dessa característica da disciplina,
o campo de estudos da educação se motivou a adotar posicionamentos teóricos,
também plurais, que consideram a diversidade de vivências que compartilham
o espaço escolar.
Em um âmbito geral, a Sociologia e a Antropologia contribuem para que
os(as) profissionais da educação construam uma atuação profissional contex-
tualizada, considerando os diversos âmbitos da vida em sociedade, economia,
cultura e política, como elementos determinantes e formadores de seres sociais.
Orientar o nosso olhar por meio da Sociologia e a Antropologia é essencial para
que a prática na política educacional tenha a análise social como norteadora de
suas ações e, por meio disso, possa contextualizar histórias individuais. Em sín-
tese, a reflexão que os olhares que essas duas ciências constroem trabalham com
uma lente multifuncional, que não isola a individualidade de sua origem social.
29
3
AS CIÊNCIAS SOCIAIS
UNIDADE 1
E AS DIRETRIZES
NACIONAIS DA
educação básica
“
A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será
promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando
ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício
da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Vista como direito social básico, a educação possuía um papel central no processo
de redemocratização do estado brasileiro. No final do século XX, a Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei nº 9.394/1996), que institui a necessidade
de orientar os currículos dos sistemas e redes de ensino brasileiras de maneira
30
uniforme, para que se possa garantir o direito de educação a todos, de maneira
UNICESUMAR
igualitária e formativa, foi um importante passo para alcançar esse objetivo de uma
educação para o exercício da cidadania e qualificação para o mercado de trabalho.
O texto da LDB serviu de amparo para a consolidação da Base Nacional
Comum Curricular (BNCC), que é como se chama o documento que foi desen-
volvido para estabelecer competências, habilidades e conhecimentos a serem
desenvolvidas nos estudantes brasileiros. O que se destaca no processo de cons-
trução das políticas curriculares no Brasil é que ele se deu em um contexto de
configuração de nossa Democracia e de disputa de pautas políticas, que versam
sobre o direito à aprendizagem e ao desenvolvimento da população brasileira
(SILVA; NETO; VICENTE, 2015).
A BNCC, assim como os principais documentos que norteiam o sistema edu-
cacional brasileiro, reconhece que a educação tem um compromisso com “a for-
mação e o desenvolvimento humano global, em suas dimensões intelectual, física,
afetiva, social, ética, moral e simbólica” (BNCC, 2018, p. 16). Isso significa que a
consolidação das diretrizes curriculares do estado brasileiro segue, em grande
medida, os propósitos de desenvolvimento social que foi tão cara ao surgimento
da Sociologia, e como consequência, as Ciências Sociais de forma mais abrangen-
te. Essa relação pode ser vista, principalmente, no Brasil, quando relacionamos à
consolidação das investigações sobre educação e das Ciências Sociais.
Segundo Henriques (1998), o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Edu-
cacionais Anísio Teixeira (INEP) teve um importante papel na formação de um
campo de estudos da educação como uma ciência. Entre as décadas de 50 e
60, Anísio Teixeira, o então diretor do INEP, firmou parcerias com instituições,
como a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(UNESCO), para lançar programas de pesquisa no âmbito educacional. Nesse
momento, o INEP enfatizava o objetivo de “aplicar a pesquisa sociológica à po-
lítica educacional, dentro de uma perspectiva de uso das Ciências Sociais para
a solução dos problemas da educação no Brasil” (HENRIQUES, 1998, p. 83).
Caro(a) aluno(a), você se lembra de que pontuamos, na primeira seção, que o
movimento positivista, aquele criado por Auguste Comte, o precursor da Socio-
logia, influenciou o poder político do Brasil República, contribuindo na reforma
educativa de 1891? Qual era mesmo o intuito do positivismo? Conhecer a ordem
da sociedade para estabelecer o progresso social, certo? Vejamos, aqui, mais um
momento em que a Sociologia é utilizada para buscar o avanço social por meio
do conhecimento científico. A postura do INEP, autarquia que, durante o Jusce-
31
lino Kubitschek (JK), manteve-se sob a direção de Anísio Teixeira, fomentava
UNIDADE 1
32
CONSIDERAÇÕES FINAIS
UNICESUMAR
Estimado(a) aluno(a), nesta unidade, percebemos como as Ciências Sociais, des-
de seu surgimento com a corrente positivista, estiveram, intimamente, ligadas
com a questão da educação e da busca por conhecimento. Além disso, pudemos
conhecer um pouco mais sobre a área da sociologia e da antropologia, produ-
zindo reflexões sobre a sociedade e suas instituições.
A necessidade de produzir conhecimento sobre o mundo acompanha a hu-
manidade desde o seu surgimento, e as mudanças nos modos de produção e nas
formas de governo impactam, diretamente, na organização da sociedade e no
modo como levamos a vida.
Desse modo, essas mudanças geram impacto também na forma como a escola
se organiza, como a educação é manipulada pela sociedade e como podemos
interpretar esses novos modelos de socialização. Assim, pudemos compreender
que a sociologia e a antropologia influenciam à educação e ao mesmo tempo são
por ela impactada, fazendo com que os modelos de análise e observação sejam
constantemente repensados.
O olhar orientado, que a Sociologia e a Antropologia buscam desenvolver,
auxiliam, portanto, nas interpretações conscientes sobre a realidade com atenção
ao contexto social em que estamos inseridos. Dessa forma, estas áreas contribuem
para que os(as) profissionais da educação construam uma atuação profissional
contextualizada, ou seja, considerem os diversos âmbitos da vida em sociedade
como elementos determinantes e formadores de seres sociais. Assim, estas inter-
pretações conscientes são essenciais para a prática na política educacional e au-
xiliam na construção de uma sociedade mais justa, por meio de suas ferramentas
de compreensão da realidade.
Nas próximas unidades, vamos nos aprofundar ainda mais nestes campos
do conhecimento. Esperamos que você tenha um bom caminho com as teorias
sociais e antropológicas.
33
na prática
a) IV apenas.
b) I e III apenas.
c) I e IV apenas.
d) II e IV apenas.
e) I, II, III e IV.
34
na prática
a) V, V, F, F.
b) F, V, V, F.
c) V, F, V, F.
d) F, F, F, V.
e) V, F, V, V.
35
na prática
a) I, II e III, apenas.
b) I, II, III e IV, apenas.
c) II, III e IV, apenas.
d) II, III, IV e V, apenas.
e) I, II, III, IV e V.
36
na prática
4. Anísio Teixeira (1971) via o sistema educacional como um reflexo da vida social do
país. Para ele, as transformações da sociedade eram essenciais às modificações
pretendidas para a educação brasileira, desde o início do século XX. A experiência
educacional e a vida em coletividade deveriam interagir de modo real para que todos
os talentos individuais fossem valorizados.
5. Antonio Paim afirma algo que muito importa ao conhecimento pleno da instau-
ração do sistema republicano no Brasil: — A influência política do comtismo,
é fenômeno posterior à República. E cita José Veríssimo, para quem muitas das
ideias cuja paternidade os positivistas “a posteriori” reclamaram, faziam parte
do acervo comum aos espíritos liberais da época em que surgiram. Tais, por
exemplo, as idéias relativas ao casamento civil, à separação Igreja-Estado,
à federação e ao regime presidencial.
37
aprimore-se
Se, na experiência de minha formação, que deve ser permanente, começo por aceitar
que o formador é o sujeito em relação a quem me considero o objeto por ele formado,
me considero como um paciente que recebe os conhecimentos-conteúdos-acumula-
dos pelo sujeito que sabe e são a mim transferidos. Nesta forma de compreender e
de viver o processo formador, eu, objeto agora, terei a possibilidade, amanhã, de me
tornar o falso sujeito da “formação” do futuro objeto de meu ato formador.
É preciso que, pelo contrário, desde os começos do processo, vá ficando cada
vez mais claro que, embora diferentes entre si, quem forma se forma e re-forma ao
formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado. É neste sentido que
ensinar não é transferir conhecimentos, conteúdos nem formar é ação pela qual um
sujeito criador dá forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado. Não há
docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças
que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro. Quem ensina
aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender. Quem ensina ensina al-
guma coisa a alguém. Por isso é que, do ponto de vista gramatical, o verbo ensinar
é um verbo transitivo-relativo. Verbo que pede um objeto direto - alguma coisa - e
um objeto indireto - a alguém. Do ponto de vista democrático em que me situo, mas
também do ponto de vista da radicalidade metafísica em que me coloco e de que
decorre minha compreensão do homem e da mulher como seres históricos e inaca-
bados e sobre que se funda a minha inteligência do processo de conhecer, ensinar é
algo mais que um verbo transitivo-relativo. Ensinar inexiste sem aprender e vice-ver-
sa e foi aprendendo socialmente que, historicamente, mulheres e homens descobri-
ram que era possível ensinar. Foi assim, socialmente aprendendo, que ao longo dos
tempos mulheres e homens perceberam que era possível - depois, preciso - traba-
lhar maneiras, caminhos, métodos de ensinar. Aprender precedeu ensinar ou, em
outras palavras, ensinar se diluía na experiência realmente fundante de aprender.
Não temo dizer que inexiste validade do ensino de que não resulta um aprendizado
em que o aprendiz não se tornou capaz de recriar ou de refazer o ensinado, em que
o ensinado que não foi apreendido não pode realmente aprendido pelo aprendiz
Fonte: Freire (2019, p. 24-25).
38
eu recomendo!
livro
livro
O que é Sociologia?
Autor: Carlos Benedito Martins
Editora: Brasiliense
Sinopse: o título faz parte da Coleção Primeiros Passos da edito-
ra Brasiliense, o selo possui o objetivo de introduzir importantes
temas das ciências humanas. Escrito por Carlos Benedito Martins, este livro con-
vida-nos a compreender como os diferentes posicionamentos teóricos da Socio-
logia podem ser compreendidos, debatendo a dimensão política dessa ciência
quanto à sua relação com a sociedade.
filme
O menino e o mundo
Ano: 2014
Sinopse: em busca do pai, um menino deixa a sua casa em uma
comunidade distante e se aventura pelo mundo descobrindo
uma sociedade dominada por máquinas-bichos e seres estra-
nhos. A história toca-nos por se tratar de uma animação que retrata as questões
do mundo moderno pelo olhar de uma criança. Por meio de cores e sons muito
vivos, a história sensibiliza o nosso olhar sobre a relação, muitas vezes, custosa da
humanidade com o mundo do trabalho e a lógica de produção capitalista.
39
2
TEORIAS
SOCIOLÓGICAS COMO
INSTRUMENTOS
para a educação
PROFESSORAS
Me. Daiany Cris Silva
Me. Milena Cristina Belançon
PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • A educação enquanto fato social
• A racionalização dos processos pedagógicos • Pensando a educação na sociedade de classes.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Compreender a concepção de sociedade para Émile Durkheim, a partir da visão do autor sobre a
educação e a importância dos processos educativos na socialização dos indivíduos, tratando a escola
enquanto instituição privilegiada de inserção do indivíduo no espaço público • Entender a concepção
de sociedade para Max Weber e sua teoria em relação à burocratização da educação moderna, assim
como seus ideais da relação entre educação e democracia. Com isso, compreender também a “neutra-
lidade” do professor para Weber • Analisar a concepção de sociedade para Karl Marx, compreendendo
sua teoria sobre tópicos importantes para a educação, como, estratificação social, o papel da educação
na construção da hegemonia e os limites da educação na sociedade capitalista.
INTRODUÇÃO
FATO SOCIAL
UNICESUMAR
detidamente, nesta unidade, diz respeito ao fato social. Para o autor, os seres hu-
manos defrontam-se com regras e costumes na vida social que não foram criados
por ele, mas, ainda assim, devem seguir para que a vida coletiva tenha sucesso.
Dessa forma, o autor buscava analisar o fato social como “coisas”, à semelhança
dos fenômenos naturais, que são independentes das consciências individuais.
Os fatos sociais, portanto, seria aquele conjunto de regras que seguimos mes-
mo que não estejam descritas em lugar nenhum, que já existem antes de nascer-
mos e que continuarão a existir depois que morrermos. Você, aluno(a), já se per-
guntou por que nos sentamos para assistir aulas presenciais? Por que a disposição
da sala de aula é sempre a mesma, com o professor à frente, e os(as) alunos(as)
dispostos em filas e fileiras? A disposição dos locais de cada um em uma sala de
aula, portanto, seria um fato social. Porém, não é qualquer “coisa” que pode ser
considerada um fato social, pois existem alguns requisitos a cumprir, são eles:
1. Coercitividade: diz respeito à força que os fatos sociais exercem sobre
os membros de uma sociedade. Dessa forma, as pessoas são impelidas a cum-
prir normas e regras sociais, independentemente, de sua vontade, e, caso não
cumprirem, estão sujeitas a punições legais ou não (espontâneas). Entendemos
por punições legais aquelas que estão descritas em códigos de leis, portanto, diz
respeito aos crimes e às demais infrações que podem ser modificadas, mas não
individualmente, já que as leis são formuladas e debatidas por muitas pessoas e
passadas de geração em geração. Por outro lado, as sanções que não são legais,
chamadas espontâneas, não estão descritas em documentos, dizem respeito mais
aos costumes e hábitos de uma sociedade e, nesse tipo de situação, as sanções são
aplicadas pelas demais pessoas. Por exemplo, se durante uma aula presencial to-
dos os alunos estão sentados, e apenas um deles se mantém em pé, sem nenhum
motivo aparente, causará estranhamento e questionamento por parte dos outros
colegas sobre aquele comportamento.
2. Generalidade: diz respeito à repetição dos atos, constantemente, entre
os indivíduos de uma sociedade. Dessa forma, o fato social torna-se comum e
coletivo. É comum em nossa sociedade que as aulas sejam ministradas da forma
que estamos analisando, se você for a uma escola no Rio Grande do Sul ou no
Acre, será encontrado o mesmo formato.
3. Exterioridade: trata de como o indivíduo absorve os valores, as regras e as
normas da sociedade em que está inserido, independentemente de sua vontade.
Ou seja, o indivíduo não é consultado se quer, ou não, cumprir aqueles costumes,
43
mas é impelido a cumpri-los. Por exemplo, desde a sua primeira ida à escola, o
UNIDADE 2
aluno já se depara com a distribuição de carteiras e deve ocupar uma delas. Certas
dinâmicas podem alterar esse formato, porém sabemos que o comum e a “regra”
é a organização clássica da sala de aula, e o aluno não é consultado sobre isso,
apenas deve escolher o seu lugar.
“
Como a vida escolar não é senão o germe da vida social e como esta
não é senão o desenvolvimento daquela – os principais processos
pelos quais uma funciona devem ser encontrados na outra. Pode-se,
pois, esperar que a sociologia, ciência das instituições sociais, nos
auxilie a compreender melhor o que são as instituições pedagógi-
cas e a conjeturar o que devam ser elas, para melhor resultado do
próprio trabalho (FILLOUX, 2010, p. 85).
44
Assim, podemos notar como a educação e a sociedade andam juntos na concep-
UNICESUMAR
ção durkheimiana.
Para Durkheim, somos compostos de duas dimensões, uma individual, que
diz respeito apenas a nós mesmos e aos acontecimentos da nossa vida pessoal,
e outra coletiva, composta por um sistema de ideias, sentimentos e hábitos que
exprimem aquilo que aprendemos no grupo ao qual fazemos parte.
“
Este ser social […] não se encontra já pronto na constituição primi-
tiva do homem [...] Foi a própria sociedade que, à medida que ia se
formando e se consolidando, tirou do seu seio estas grandes forças
morais […] Ao entrar na vida, a criança traz apenas a sua natureza
de indivíduo (DURKHEIM, 2011, p. 11).
Essa constatação,no entanto, que parece bastante óbvia para Durkheim, que ele
chega a chamar de “axioma fundamental”, foi bastante questionada. As críticas
feitas ao autor foram feitas por pensadores de uma corrente mais individualista,
que não consideravam o meio social e o contexto onde essa educação seria pro-
pagada. Estes questionam a teoria do autor, acusando-a de promover um apaga-
mento da individualidade, o que é, duramente, negado por seus seguidores, que
afirmam que a teoria de Durkheim mostra ser possível “individualizar sociali-
45
zando” (DURKHEIM, 2011, p. 15), ou seja, que a construção da individualidade
UNIDADE 2
conceituando
Axioma é um termo usado na filosofia para indicar que uma premissa é, necessariamen-
te, evidente e verdadeira, ainda que indemonstrável, originada, segundo a tradição racio-
nalista, de princípios inatos da consciência ou, segundo os empiristas, de generalizações
da observação empírica.
Fonte: as autoras.
“
A sociedade não somente eleva o tipo humano à dignidade de
modelo para o educador reproduzir, como também o constrói, e
o constrói de acordo com suas necessidades. […] O homem que a
educação deve realizar em nós não é o homem tal como a natureza o
criou, mas sim tal como a sociedade quer que ele seja (DURKHEIM,
2011, p. 107).
UNICESUMAR
de suscitar virtudes específicas” (DURKHEIM, 2011, p. 24), além de desenvolver a
aptidão geral à moralidade, ou seja, aos princípios do que o meio social considera
bem e dever dos indivíduos.
Uma vez que Durkheim acreditava na educação moral laica, ele buscava se-
parar a moral da religião e operacionalizá-la com uso da razão. Mesmo reco-
nhecendo que a religião exprime, em muitos casos, verdades, o autor aponta
que estas precisam ser reinterpretadas de forma racional e objetiva em vez de
simbólica. Desse modo, propunha que a análise moral tornasse-se sociológica.
Neste ínterim, o autor acreditava, também, que a ciência seria importante para a
formação do espírito de autonomia das crianças, ensinando a reconhecer o que
é fundamentado na natureza das coisas, o que é normal, modificável e os limites
da ação para melhorar essa natureza. Assim, todo ensino tem um destino moral
para Durkheim e, dessa forma, a educação teria um papel importante de ensinar
o que são as sociedades, como se formam e se transformam, o que exercem sobre
o indivíduo e o papel que o indivíduo desempenha nelas (DURKHEIM, 2011).
A obra de Émile Durkheim dedicou-se à educação na escola primária e, nesta
seara, pautou a noção do ensino em disciplinas que deveriam servir à constituição
do entendimento, conforme exposto no trecho a seguir:
“
Cada uma das disciplinas fundamentais implica uma filosofia latente,
ou seja, um sistema de noções cardeais, que resumem os aspectos
mais gerais das coisas, tais como nós as concebemos, e que coman-
dam a interpretação delas. É esta filosofia, fruto do trabalho acumu-
lado por gerações, que se deve transmitir à criança, pois ela constitui
o próprio esqueleto da inteligência (DURKHEIM, 2011, p. 34).
Em resumo, a educação forma o ser social, tendo por objetivo “substituir o ser
egoísta e associal que acaba de nascer por um outro capaz de levar uma vida moral e
social” (DURKHEIM, 2011, p. 55). Podemos expandir este conceito pensando nos
outros níveis de educação, que possuiriam, portanto, a capacidade para aprimorar
essa adaptação à vida em sociedade e conformá-la. Desse modo, a educação é vista
como a criadora de um novo ser, e é isso que diferencia a “educação” dos animais.
Enquanto estes apenas são treinados para facilitar o movimento das funções na-
turais, a educação humana é capaz de iniciar uma nova vida, nessa perspectiva.
Isso porque os animais vivem em sociedades simples, que funcionam com base
47
em instintos, enquanto os humanos vivem em sociedades complexas, em que a
UNIDADE 2
necessidade da vida social criou essa série de regras que precisam ser apreendidas.
“
Como já dizia Rousseau, para satisfazer às necessidades vitais, a sensa-
ção, a experiência e o instinto podiam bastar para o homem assim como
para o animal. Se o homem não tivesse sentido outras necessidades
além daquelas, bastante simples, cujas raízes provêm de sua constituição
individual, ele não teria corrido atrás da ciência; ainda mais que ela não
foi obtida sem laboriosos e dolorosos esforços. Ele só sentiu a sede do
saber quando a sociedade a provocou nele, e a sociedade só a provocou
quando ela mesma sentiu esta necessidade. Isto aconteceu quando a
vida social, sob todas as suas formas, tornou-se complexa demais para
poder funcionar de outra forma a não ser com base na reflexão, ou seja,
no pensamento iluminado pela ciência. A cultura científica se tornou
então indispensável, e é por isto que a sociedade a exige de seus mem-
bros e a impõe como um dever (DURKHEIM, 2011, p. 57).
Com isso podemos ver com mais clareza ainda como a educação é parte funda-
mental da compreensão da sociedade para Durkheim. Além disso, Durkheim
dedicou-se também à ciência da educação, nesse sentido, o autor diferencia a
educação da pedagogia.
Para o autor, a educação seria “a ação exercida nas crianças pelos pais e professo-
res” (DURKHEIM, 2011, p. 75), sendo ela constante e geral, já a pedagogia “consiste
não em ação, mas sim em teorias [que] explicitam as maneiras de conceber a edu-
cação, e não de praticá-la” (DURKHEIM, 2011, p. 75). Nesse sentido, o autor conclui
que a Pedagogia seria uma maneira de refletir sobre as questões relativas à educação.
“
[…] para poder acomodar com discernimento as práticas educativas
à variedade de casos particulares, é preciso saber quais são as suas
tendências, as razões dos diferentes processos que as compõem e os
efeitos que elas produzem em diferentes circunstâncias; em suma, é
preciso submetê-las à reflexão pedagógica (DURKHEIM, 2011, p. 89).
UNICESUMAR
DOS PROCESSOS
PEDAGÓGICOS
UNICESUMAR
ou futuras de outros. Assim, pode ser causada por sentimentos de
vingança de males do passado, defesa contra perigos do presente
ou contra ataques futuros. Os “outros” podem ser indivíduos co-
nhecidos ou desconhecidos, ou podem constituir uma quantidade
indefinida (WEBER, 2002, p. 37).
Ou seja, uma vez que pautamos nossa ação na racionalidade, esperamos que os demais
indivíduos também o façam. Portanto, a ação social tem como componente a expectativa
de que os outros deem determinado peso a certos valores e crenças, de que se comportem
de um modo regular etc., fundando, assim, as normas sociais.
A motivação dessa ação para Weber poderia ser dada pela tradição, pela emo-
ção ou por interesses racionais (que se dividem em relação a valores e em relação
a fins), da seguinte maneira:
■ A ação orientada pela tradição é aquela determinada por um costume ou
hábito. Ex: Ir à escola porque é o que se espera que todos façam.
■ A ação orientada pelo afeto diz respeito às emoções e aos sentimentos,
atuando de forma irracional. Exemplo: Ir à escola para encontrar os amigos. 51
■ A ação orientada por interesses racionais em relação a valores manifes-
UNIDADE 2
Com estes simples exemplos podemos considerar que não optamos por apenas
um tipo de ação nas situações que vivemos, elas estão, constantemente, mistu-
radas. O que Weber buscou fazer em seus estudos foi isolar esses tipos para que
sirvam de referência em seu método.
52
O tipo ideal constitui uma metodologia para Weber, onde se faz uma constru-
UNICESUMAR
ção mental do aspecto que se observa, criando uma ideia de perfeição sobre ele,
que não será atingida. A partir disso, o autor propõe fazer uma comparação entre
este tipo ideal/perfeito e a realidade encontrada. É preciso pontuar que este tipo
‘ideal’ não quer dizer desejado uma vez que à medida que se descreve o quanto a
realidade se aproxima, ou se distancia do tipo ideal construído mentalmente, essa
realidade se apresenta a você e se revela em seu caráter mais complexo, assim, os
comportamentos vêm à luz revelando a racionalidade e a irracionalidade que os
tornou possíveis (RODRIGUES, 2001).
Além de levar em conta o comportamento dos outros para exercer as ações,
Weber lembra também que os indivíduos precisam lidar com as normas sociais.
Para o autor, essas normas advêm da própria ação dos indivíduos ao longo do
tempo, funcionando como uma espécie de condensação de expectativas recí-
procas, ou seja, são construídas a partir da própria experiência da vida em so-
ciedade. Por outro lado, as regras e normas também fazem com que seja mais
fácil prevermos as ações das outras pessoas, pois são guias do que se deve fazer.
Neste ínterim, Weber trata das associações, indicando como a mais abrangente
de todas o próprio Estado, onde, inclusive, a própria filiação não é voluntária.
Desse modo Weber pontua que as regras não dependem de mim ou de você
uma vez que já estavam criadas quando nascemos, porém lembra que estas são
como são por conta de outros indivíduos e o futuro delas depende também de
como esta é operacionalizada por nós e por todos os outros indivíduos da socie-
dade. Lembrando que não nos referimos aqui apenas às normas formais, como as
leis, mas a toda ação que praticamos em sociedade com base no que é esperado
por ela. Estas regras, para Weber, são construídas de forma racional, ou seja, com
fins específicos, e são distribuídas por um tipo de imposição.
A sociologia weberiana baseia-se na dominação, para isso, Weber discute
desde a dominação da natureza por meio da técnica – o trabalho. Com a do-
minação da natureza pelo Homem, aprendendo a controlar e entender o fogo,
por exemplo, perde-se a capacidade de representação daquilo que antes não era
controlado. Se antes o Homem explicava o fogo como um atributo de algum
Deus, depois que o dominou por meio da técnica, este se tornou uma reação
entre dióxido de carbono e a água.
53
UNIDADE 2
explorando Ideias
Para o autor, tudo o que o Homem moderno não consegue controlar, ou seja, racionalizar,
ou dominar, por meio de métodos para efetivar uma ação, leva-o à apatia e ao medo. O
Homem moderno emerge em meio a esta racionalização, não controla nem o princípio
nem do fim de sua vida, por isso, teme a morte – pois está fora de seu controle.
Fonte: as autoras.
A dominação legal carece, portanto, de uma legislação racional, e nesse sentido Weber
enfatiza dois aspectos importantes da racionalização. O primeiro deles seria a cons-
tituição do Estado pautada no Direito Racional (dizendo respeito ao processo de ra-
cionalização da vida), e o outro a constituição da Administração Racional (embasada
no modelo burocrático). Estes aspectos demonstram a difusão dos fundamentos da
racionalidade nas sociedades modernas, que transformaram os modos informais e
tradicionais de dominação por instituições organizadas e legitimadas.
Dessa forma, acompanhando a racionalização da sociedade, a Educação para
Weber não abarca mais o intuito de uma formação integral, que buscava levar os in-
divíduos a compreenderem seu papel no contexto social. Nas sociedades modernas,
a Educação funciona como uma espécie de treinamento para habilitar o indivíduo
a realizar tarefas específicas em estratos sociais, buscando apenas privilégios sociais.
Para conceituar a educação, portanto, Weber baseia-se na razão como método.
Na visão do autor, tanto a escola como a família seriam responsáveis pela educação,
que possui um caráter socializador, responsável por formar indivíduos e manter a
ordem social, fornecendo a preparação necessária para o exercício de atividades
exigidas pelas mudanças ocasionadas pela racionalização social. Dessa maneira, o
autor possuía uma perspectiva bastante pessimista de que a educação não estava
formando o Homem, mas simplesmente preparando-o para desempenhar tarefas.
54
Weber constatou, portan-
UNICESUMAR
to, que os tipos de Educação
variam de acordo com o con-
texto da época e a forma de
dominação existente. Dessa
forma o autor via dois pólos
opostos no campo das finali-
dades educacionais, sendo um
deles com fins de despertar o
carisma, e o outro, transmitir
o conhecimento especializado
(WEBER, 1982). Despertar o
carisma, para Weber, referia-se ao ascetismo mágico e aos heróis, e não a pes-
soas comuns. Já o tipo de finalidade preocupado em transmitir conhecimentos
especializados, Weber chamou de pedagogia do treinamento cujo objetivo seria
preparar o indivíduo para tarefas.
Como Weber acompanhou a formação dos Estados nacionais e a ascensão
do modelo capitalista, ele pode concluir que educar, na forma da racionalização,
tornou-se essencial para o Estado e para o capitalismo, uma vez que foi necessário
se respaldar no Direito nacional e na burocracia, fornecendo profissionais espe-
cializados para que as empresas capitalistas, pudessem cumprir o seu fundamento
de lucrar. Segundo o autor, portanto, o capitalismo moderno e o Estado foram
responsáveis por conceber o Homem racional, um Homem desencantado do
mundo, que não se guiaria mais pelos desígnios de Deus e de imperadores, mas
se orienta pela lei e pela razão. Tal desencantamento ocorreu, portanto, pelo des-
vencilhamento de costumes e crenças baseados em tradições herdadas ou apren-
didas que se apoiavam nos pilares fixos das religiões ou da magia, uma vez que as
explicações e questionamentos passaram a basear-se nos fundamentos da razão.
Weber constatou que “os títulos educacionais representam ‘prestígio social’
e são usados quase sempre como proveito econômico” (WEBER, 1982, p. 278).
Assim, a Educação auxilia na formação de uma classe privilegiada, por vantagens
econômicas e também sociais. Essa Educação racionalizada funcionaria, então,
como mecanismo de ascensão social e de consecução de status pessoal, e, assim,
tornou-se um amontoado de “conteúdos direcionados para a qualificação de pes-
soas que demonstrassem reais possibilidades de gerenciar o Estado, as empresas
e a política, de maneira ‘racional’” (SILVA; AMORIM, 2012, p. 104).
55
UNIDADE 2
explorando Ideias
56
mática, a educação filosófica, a educação literária, a educação política e a educa-
UNICESUMAR
ção especializada, além, é claro, da educação nos espaços formais. Na sociedade
burocratizada, a dominação exercida pela escola e pelos pais não se basta apenas
ao conteúdo formal, segundo Weber, estendendo-se também para outros meios,
compondo a formação do caráter dos indivíduos/alunos. É por isso que o autor
expressa sua crítica ao capitalismo, por ver que tudo se foi reduzido à busca por
riqueza material e ascensão social. Neste ínterim a educação funcionaria como
um meio de manutenção de uma situação de dominação.
Weber criticava esses processos de racionalização, por ver que estes apri-
sionam os indivíduos em processos técnicos sofisticados, mas com o fim em si
mesmos, fazendo que com o tempo os indivíduos se tornassem máquinas cen-
tradas em sua própria reprodução. Este processo foi notado pelo autor em várias
instituições sociais, entre elas as escolas e os processos pedagógicos.
Em Weber observa-se que a pedagogia do treinamento é imposta pela racio-
nalização da vida, com a finalidade de criar diversas possibilidades de desenvol-
vimento de competências e habilidades para a obtenção de poder e dinheiro. A
racionalização, segundo o autor, é implacável e impossível de ser vencida bem
como a Educação especializada e a lógica do treinamento. Weber é conhecido
pelo seu pessimismo ao afirmar que esse cenário representa o fim da possibilidade
de desenvolver o talento do ser humano.
Segundo Weber, a racionalização da educação tem propósito de restringir a
oferta de pessoal para determinadas ocupações, como vemos no trecho abaixo:
“
Quando ouvimos, de todos os lados, a exigência de uma adoção
de currículos regulares e exames especiais, a razão disso é, decerto,
não uma ‘sede de educação’, surgida subitamente, mas o desejo de
restringir a oferta dessas posições e sua monopolização pelos donos
dos títulos educacionais (WEBER, 1982, p. 232).
“
O verdadeiro professor evitará impor, de sua cátedra, uma tomada
de posição qualquer, seja abertamente, seja por sugestão – pois a
maneira mais desleal é evidentemente a que consiste em ‘deixar os
fatos falarem’ (WEBER, 2011, p. 46).
58
3
PENSANDO A EDUCAÇÃO
UNICESUMAR
NA SOCIEDADE
DE CLASSES
Caro(a) estudante, a terceira seção desta unidade é reservada para que conheça-
mos a teoria e obra de Karl Marx (1818-1883), desse modo fecharemos o estudo
sobre os três grandes clássicos da Sociologia. Estamos quase lá!
Karl Marx nasceu em 1818, na Alemanha, acompanhou a evolução do indus-
trialismo e das teorias sociais, assim como a internacionalização industrial, a ex-
ploração de continentes e a consequente proliferação da desigualdade econômica.
Neste processo, Marx percebeu que os sinais aparentes de miséria e sofrimento
dos trabalhadores não eram casos isolados, mas faziam parte de um processo
histórico que levava a burguesia à condição de classe dominante. Dessa forma
Marx dedicou toda sua obra à compreensão e crítica ao Sistema Capitalista, e,
por isso, mesmo não sendo um sociólogo de carreira, é considerado um autor
clássico da Sociologia. O autor cursou Direito, era doutor em Filosofia e também
exerceu a profissão de jornalista. SSubstituir por: Sua principal obra intitulada O
Capital (1867), lembrando que seus estudos foram fruto de uma grande parceria
com Friederich Engels (1820-1895).
Marx estudou a sociedade com muito afinco, colaborando, assim, para o de-
senvolvimento da sociologia. O autor desenvolveu o que se conhece por Sociologia
Materialista, adotando uma posição crítica na formação social capitalista. A inten-
ção do autor com essas críticas não era apenas contribuir para o desenvolvimento
da Ciência, mas propor uma ampla transformação política, econômica e social.
59
Dessa forma, Carlos Sell (2017)
UNIDADE 2
60
feudal e chegando ao capitalista. De acordo com Marx, esses diferentes modos
UNICESUMAR
de produção abarcavam, também, diferentes modelos de sociedade, que sempre
carregam classes com diferentes relações de propriedade (uma dominada e a
outra dominante). Desse modo, constituiria-se a estratificação social.
A obra do filósofo alemão George Friederich Hegel (1770-1831) exerceu
grande influência sobre a teoria desenvolvida por Marx, principalmente
sua concepção de dialética, conceito fundamental para a compreensão
da teoria de Marx.
A intenção de Hegel, ao apresentar
seu método dialético, era entender
a história como ‘movimento’,
ao contrário do método me-
tafísico que acreditava que
a essência das coisas não se
modifica. Para este filóso-
fo, as coisas estão em con-
tínua transformação (mo-
vimento) porque todo ser é,
intrinsecamente, contraditório,
ou seja, há um movimento de
ideias, causado pela oposição ou
contradição das ideias entre si. Hegel
vai chamar esta ideia de princípio da con-
tradição. Há, portanto, uma ideia (Tese) e
a contradição desta (Antítese). Toda con-
tradição, por sua vez, gera a necessidade de
ser superada pela síntese (SELL, 2017). Esta é
a base do idealismo dialético de Hegel.
Marx, por sua vez, promoveu uma crítica
ao método dialético de Hegel, mostrando mais uma vez como sua crença era
pela prática, pela realidade e pela materialidade. Segundo Marx, as bases do
pensamento filosófico, no método de Hegel, seriam ideológicas (ou seja, ba-
seadas em falsas representações do real). Portanto, Marx desejava fundar seu
pensamento em pressupostos reais. Com isso, o autor afirmava que é a matéria
que determina a consciência (ou o pensamento), invertendo o sistema hegeliano.
61
UNIDADE 2
conceituando
Ainda assim, Marx não deixou de lado o mundo das ideias. O autor tentou expli-
car a consciência dos indivíduos a respeito do modo de vida e das relações entre
as classes na sociedade em que viviam. Afirmando que a consciência estaria ligada
às condições materiais de vida, Marx expandiu esse pensamento, afirmou que tais
ideias e concepções não seriam reais, mas sim frutos de representações feitas a res-
peito da vida a partir de como as relações aparecem na experiência cotidiana, não
captando, assim, a essência das relações às quais os indivíduos estão submetidos.
Vamos pensar sobre o que significa isso na prática? Um ótimo exemplo é
dado por Rodrigues (2001):
“
Quando se estabelece na história uma determinada forma de di-
visão do trabalho, quando ela se torna dominante e generalizada
dentro de uma sociedade, ela estabelece o lugar de cada um dentro
do processo produtivo. Assim, as relações de propriedade vigentes,
o poder político de certos grupos sobre outros e as formas de ex-
ploração do trabalho que uma determinada classe social consegue
implantar numa determinada época histórica, estabelecem e deter-
minam o que cada indivíduo está obrigado a fazer, o modo como
está obrigado a trabalhar e viver (RODRIGUES, 2001, p. 42).
UNICESUMAR
te, construídas, ou seja, não estão presentes desde que o mundo é mundo, e sim
foram criadas pela luta de classes.
Marx percebe que os indi-
víduos não possuem cons-
ciência real da dominação
que sofrem, pois aprendem
do nascer ao morrer que se
deve trabalhar para receber
o salário e viver. É por isso
que o autor afirma que os
indivíduos só têm acesso às
aparências, e não ao proces-
so histórico real, uma vez que
desconhecem sua própria
dominação. Esta aparência
seria imposta pela classe do-
minante por meio de uma ideologia, ou seja, a classe dominada é vítima de uma
coerção tão bem arquitetada que parece, para esta, como natural.
Esta é a grande diferença do modo de produção capitalista, para Marx, en-
quanto no modo escravista e no feudal a classe dominada sabia que estava sendo
dominada, no capitalismo essa dinâmica é percebida como natural e justa. Para
Marx, o modo de produção capitalista haveria de ser superado como foram os
outros, dando lugar a um sistema em que não haveria mais classes sociais, pois a
divisão do trabalho seria abolida.
Toda esta apresentação sobre a teoria de Marx é necessária para compreen-
dermos a sua contribuição para a educação uma vez que o tema não ocupou um
lugar central em sua obra, mas aparece articulado com o horizonte das relações
socioeconômicas. Dessa forma, Marx não formulou uma teoria da educação,
descrevendo métodos e diretrizes para o processo ensino-aprendizagem, ainda
assim, contribui com a discussão sobre o tema uma vez que remete a grandes
reflexões sobre a sociedade e suas relações.
A educação, na sociedade capitalista, seria, segundo Marx, um elemento de
manutenção da hierarquia social. Portanto, o ensino operaria em um paradoxo, já
que seria necessário um sistema educacional adequado para construir as mudan-
ças sociais tão necessárias à sociedade capitalista, porém o sistema educacional só
63
poderia ser adequado para este fim caso existissem mudanças sociais de forma
UNIDADE 2
geral na sociedade.
O que isso quer dizer? Que a educação seria uma grande aliada da constru-
ção de uma sociedade emancipada da dominação, mas, por estar contida neste
sistema não é capaz de produzir este resultado. O autor percebeu que o trabalho
na sociedade capitalista transforma os indivíduos em seres unilaterais, ou seja,
não possuem a oportunidade de desenvolver potencialidades intelectuais. Isso
por conta do cotidiano difícil, da necessidade de trabalhar incansavelmente e
repetitivamente para sobreviver materialmente.
Assim como as classes sociais, a educação no capitalismo é dividida. Já na épo-
ca das observações de Marx a burguesia guardava seus privilégios educacionais,
enquanto os trabalhadores recebiam uma educação parcial de disciplinamento
para as fábricas.
pensando juntos
Marx defendia a educação nas fábricas, pois via na conciliação entre o trabalho
manual e intelectual um grande avanço para a sociedade da época. Porém pre-
zava pela educação politécnica, como uma forma de superar a unilateralidade
dos trabalhadores e possibilitar que estes tivessem uma formação mais completa.
Em 1866, Marx redigiu um documento para os delegados do Conselho Central
Provisório do I Congresso da Associação Internacional dos Trabalhadores. Neste
documento, o autor apontou sua sugestão para os conteúdos educacionais, que
deveriam contemplar três dimensões:
“
Primeiramente: Instrução intelectual.
Segundo: Educação física, tal como é dada em escolas de ginástica
e pelo exercício militar.
Terceiro: Instrução politécnica, que transmite os princípios gerais de
todos os processos de produção e, simultaneamente, inicia a criança
e o jovem no uso prático e manejo dos instrumentos elementares
de todos os ofícios (MARX, 1982, s.p).
64
Marx acreditava, dessa forma, ser necessário romper com o indivíduo parcial,
UNICESUMAR
ou seja, transformar o indivíduo em um ser desenvolvido integralmente, unindo
trabalho produtivo remunerado, formação intelectual, exercício físico e instrução
politécnica, como forma de impulsionar a classe operária.
Como já enfatizamos, a educação não foi tema central da obra de Karl Marx,
deste modo, o que existem são muitas interpretações e alguns autores que se ins-
piraram nas teorias de Marx para compor suas próprias obras. O que é importan-
te enfatizar da leitura da sociedade feita por Marx neste contexto que estudamos
é que, segundo sua célebre frase “[...] toda ciência seria supérflua se a forma de
aparecimento e a essência das coisas coincidissem imediatamente” (MARX, 1985,
p. 271). Dessa forma, podemos rememorar o que o autor considerava aparência,
a representação que faz com que os do-
minados não enxerguem a dominação.
Portanto, podemos considerar que, para
Marx, a ciência poderia auxiliar na supera-
ção de tal aparência e expor a realidade.
Um bom exemplo de autor que se aprofun-
dou na obra de Marx para compor suas digres-
sões sobre a educação é Louis Althusser (1918-
1990). O autor analisa a educação enquanto um
dos aparelhos ideológicos do Estado capitalista,
responsável, portanto, por reproduzir as relações
de produção. Dessa forma, a aprendizagem repas-
saria aos alunos a ideologia da classe dominante.
Outro autor marxista muito importante nos
estudos sobre educação foi Antonio Gramsci
(1891-1937), que via a escola enquanto um ins-
trumento fundamental de disputa por hegemonia, já que
esta seria a formadora de hábitos e continuadora da adaptação do indivíduo aos
interesses da sociedade. Dessa forma, o autor partia da proposta de que a escola
fosse além de seus objetivos primeiros e se relacionasse à luta pela igualdade
social para superar as divisões de classe.
Nesse sentido, o autor defendia que as classes subalternas não abrissem mão
da educação formal já que, para enfrentar a luta pela hegemonia, precisariam
entender as formas de dominação a que estão submetidos, e isso só seria possível
pelo acesso ao conhecimento historicamente produzido (SCHLESENER, 2016).
65
CONSIDERAÇÕES FINAIS
UNIDADE 2
66
na prática
a) V, V, F.
b) F, F, V.
c) V, F, V.
d) F, F, F.
e) V, V, V.
67
na prática
2. “Se em Marx a educação pode oprimir ou emancipar o indivíduo (no sentido de ‘li-
bertação’); em Durkheim, a educação é o mecanismo pelo qual ele se torna membro
de uma sociedade (se torna ‘um ser novo’). Weber vai mais longe: a educação é fator
de seleção e de estratificação sociais” (LOPES, [s. d.]).
a) A estratificação, segundo Karl Marx, seria benéfica para a sociedade uma vez que,
assim, os indivíduos podem desempenhar sua função natural na vida
b) Como retratado no trecho apresentado, Marx era contra o trabalho nas fábricas,
desse modo o autor defendia que a educação para a classe trabalhadora fosse
apenas intelectual
c) Para Karl Marx, a sociedade capitalista tem a escola como grande inimiga, uma
vez que esta opera em uma lógica diferente do resto do sistema e possui com-
promisso com a ideologia dos dominados
d) A divisão da educação, constatada por Marx, não faz mais sentido atualmente
uma vez que todas as classes têm acesso igual às oportunidades e à educação
e) De acordo com a teoria marxista, a educação na sociedade capitalista tende a
reproduzir as relações sociais e as ideologias da classe dominante.
68
na prática
I - Para Weber, nas sociedades modernas, a Educação funciona como uma espécie
de treinamento para habilitar o indivíduo a realizar tarefas específicas.
II - Segundo Max Weber, a sociedade moderna baseia seu sistema educacional em
crenças e tradições que remetem à religião, num processo chamado burocra-
tização.
III - A racionalização da educação, descrita por Weber, seria uma ameaça para a
manutenção do capitalismo.
IV - Na pedagogia do treinamento, descrita por Weber, o objetivo da educação seria
a busca por títulos e qualificação formal.
a) I e II, apenas.
b) I e IV, apenas.
c) IV, apenas.
d) II, III e IV, apenas.
e) I, II e III, apenas.
69
na prática
a) Uma vez que a educação, para Durkheim, é um fato social que obedece ao
requisito da generalidade, ou seja, ser direito geral de todos, sua teoria poderia
ter sido usada para defender o não adiamento do Enem 2020.
b) Em um ponto de vista diferente da autora da proposta no Senado, seria possível
fazer uso da teoria de Karl Marx para defender o adiamento do Enem 2020,
uma vez que, para o autor, a educação formal deveria ser abolida.
c) Weber poderia ser acionado pela autora da proposta de adiamento do Enem
2020, já que, para o autor, a educação auxilia na formação de uma classe privi-
legiada por vantagens econômicas e sociais, em consonância com o argumento
usado pela senadora.
d) Usando um argumento weberiano, poderia se dizer que, a decisão do adiamen-
to ou não do Enem 2020 deveria ser tomada pelos professores, já que estes
detêm conhecimento e poder legítimo para sobrepor a opinião dos alunos.
e) Não é possível aplicar a teoria dos autores clássicos da sociologia nesse caso,
pois eles são muito antigos e suas teses já foram todas descartadas.
70
aprimore-se
71
eu recomendo!
livro
filme
72
3
SOCIOLOGIA E
EDUCAÇÃO
na contemporaneidade
PROFESSORAS
Me. Daiany Cris Silva
Me. Milena Cristina Belançon
PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Educação e cidadania • A relevância
da sociologia para questões escolares atuais • Sociologia da educação no Brasil.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Apresentar debates relevantes sobre a importância da educação para a cidadania e instrumentos para
esta aproximação, pensando a educação enquanto um direito fundamental • Colocar em pauta ques-
tões atuais do dia a dia escolar, como, bullying, racismo, preconceito e influência da mídia, apresentando
autores da sociologia que contribuam para tais discussões • Versar sobre o desenvolvimento do campo
científico da sociologia da educação no Brasil, iniciando com o manifesto dos Pioneiros da Educação
Nova. Buscando autores brasileiros que trataram da sociologia da educação para o nosso contexto,
iremos selecionar temas relevantes para o nosso país, como, desigualdade social e diferenças culturais.
INTRODUÇÃO
Bons estudos!
1
EDUCAÇÃO E
UNICESUMAR
CIDADANIA
“
Ser cidadão é ter direito à vida, à liberdade, à propriedade, à igualda-
de perante a lei; é, em resumo, ter direito civis. É também participar
no destino da sociedade, votar, ser votado, ter direitos políticos. Os
direitos civis e políticos não asseguram a democracia sem os direi-
tos sociais, aqueles que garantem a participação do indivíduo na
riqueza coletiva: o direito à educação, ao trabalho, ao salário justo,
à saúde, a uma velhice tranquila (PINSKY, 2003, p. 10).
“
A cidadania é um status concedido àqueles que são membros inte-
grais de uma comunidade. Todos aqueles que possuem o status são
iguais com respeito aos direitos e obrigações pertinentes ao status.
Não há nenhum princípio universal que determine o que estes di-
reitos e obrigações serão, mas as sociedades nas quais a cidadania
é uma instituição em desenvolvimento criam uma imagem de uma
cidadania ideal em relação à qual o sucesso pode ser medido e em re-
lação à qual a aspiração pode ser dirigida (MARSHALL, 1967, p. 76).
76
Desta forma, podemos considerar que a cidadania, para o autor, é algo passível de
UNICESUMAR
diversas transformações, a depender do caminho e do contexto em que está inserida.
No Brasil, temos como grande marco da expressão da cidadania a Constituição Fede-
ral de 1988, que, inclusive, foi apelidada de “Constituição Cidadã”. O apelido foi dado
uma vez que o documento define como princípio fundamental do Estado brasileiro,
“a cidadania”, e considerar cidadãos, todos os natos e naturalizados, sem qualquer
discriminação, com iguais deveres e direitos civis, políticos e sociais (BRASIL, 1988).
Devemos lembrar de que a Constituição de 1988 inaugurou o período de
redemocratização brasileira, conquistada após 21 anos de ditadura militar. A
partir desse momento, o termo “cidadania” ganhou cada vez mais importância
em nossa realidade, sendo acionado em diversos momentos e muitas situações.
Desse modo, podemos considerar que os conceitos de cidadania e democracia
caminham bastante juntos, apesar de não serem sinônimos.
“
Podemos dizer que a democracia propicia, pelo modo mesmo do
seu enraizamento, uma cultura da cidadania à medida que só é pos-
sível a sua realização através do cultivo dos cidadãos. Se podemos
pensar numa cidadania cultural, podemos ter certeza de que ela só
é possível através de uma cultura da cidadania, viável apenas numa
democracia (CHAUÍ, 2008, p. 76).
77
A democracia, por sua vez, é um termo que vem do grego demokratía, resultado
UNIDADE 3
da junção de demos, que significa “povo” e kratía, que significa “poder”. Desse
modo, podemos concluir que a democracia está ligada à forma como o povo se
organiza para viver em sociedade. Em sua origem, a democracia era praticada em
diálogos públicos entre os cidadãos, que tinham, democraticamente, os mesmos
direitos de impor a palavra. Porém, como já dissemos, nem todas as pessoas eram
consideradas cidadãs.
Dessa forma, podemos notar que, mesmo hoje em dia, a cidadania não está
disponível para todos, visto que esta não alcança a todos os indivíduos de maneira
justa e igualitária. Por mais que, legalmente, os direitos sejam universais, a nossa
sociedade mostra que o acesso aos direitos ainda ocorre de maneira muito desi-
gual, tornando uns mais cidadãos que outros. Ou seja, notamos que certos grupos
da sociedade não têm acesso a todos os direitos que deveria, como a população
pobre e moradora de periferia, que está cerceada de uma série de restrições ao
usufruto de seus direitos.
Nesse sentido, a cidadania é dada a
um indivíduo, o cidadão, o qual vive em
sociedade. A educação serve, portanto,
para formar cidadãos para viver numa
sociedade. Assim, sendo um direito bá-
sico, a educação compõe o arcabouço da
cidadania, ao mesmo tempo em que cria
os cidadãos dessa sociedade.
Você pode pesquisar em quase
todos os documentos oficiais que tra-
tam sobre o objetivo da educação que
encontrará entre eles o de “formar ci-
dadãos”. A Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional, por exemplo,
aponta que a educação tem “por fina-
lidade o pleno desenvolvimento do
educando, seu preparo para o exercício
da cidadania e sua qualificação para o
trabalho” (BRASIL, 1996). Mas qual é,
então, o papel do/a educador/a na for-
mação destes cidadãos?
78
Para Arroyo (1987), educar cidadãos significa voltar-se para a conscientização e
UNICESUMAR
o amadurecimento político. Desse modo, objetiva-se a valorização da participação
social e da liberdade para o bom curso da cidadania. Porém o próprio autor reconhe-
ce que esta perspectiva possui um grande obstáculo. Os determinantes da desigual-
dade em termos de cidadania são sociais e econômicos e, como já nos mostraram os
autores clássicos da sociologia, estão, profundamente, espalhados pelo tecido social,
tornando esta uma realidade tão naturalizada que os indivíduos já não a percebem
mais. A questão central para Arroyo é, portanto, expor aos educadores e à sociedade
os verdadeiros determinantes sociais e econômicos para a exclusão da cidadania.
Um autor muito conhecido na área da educação e nas discussões de sua
relação com a cidadania foi Paulo Freire. Para entender o que o autor tem a nos
apresentar sobre o tema, precisamos partir do entendimento que a educação
para ele extrapola a ação de ensinar e aprender, sendo também um instrumento
de transformação social. Freire foi um grande entusiasta da educação enquan-
to motor de transformação
dos indivíduos e do mundo.
Nesse sentido, um dos gran-
des focos da educação para o
autor seria a conscientização,
que nada mais é que se apro-
priar da realidade. O ato de
conscientizar-se, para o autor,
levaria à cidadania.
Freire (2014) faz uma crí-
tica ao que ele chama de “con-
cepção bancária da educação”,
que ele conceitua como aquela
que é regida por relações nar-
radoras e dissertadoras. O que
o autor entende por isso é a grande separação que se estabelece entre educador e
educando, em que o primeiro só fala, e o segundo apenas escuta. Dessa forma o
autor vê a educação nessa concepção como um ato de depositar, em que os edu-
candos são os depósitos e o educador, o depositante. Seu ideal de educação seria
constituído pela superação da lógica bancária de tal maneira que essa separação
entre educando e educador não existe mais, e sim um compartilhamento das duas
funções entre todos, o que ele chamou de educação libertadora.
79
A educação bancária, que conceitua Freire, forma cidadãos que não se apro-
UNIDADE 3
“
O que não percebem os que executam a educação ‘bancária’, delibera-
damente ou não (porque há um sem-número de educadores de boa
vontade, que apenas não se sabem a serviço da desumanização ao
praticarem o “bancarismo”) é que nos próprios “depósitos”, se encon-
tram as contradições, apenas revestidas por uma exterioridade que as
oculta. E que, cedo ou tarde, os próprios “depósitos” podem provocar
um confronto com a realidade em devenir e despertar os educandos,
até então passivos, contra a sua “domesticação” (FREIRE, 2014, p. 50).
80
A cidadania almejada pela educação libertadora teria, portanto, características
UNICESUMAR
democráticas, construindo-se em comunidade e tornando todos e todas cida-
dãos. Nesta perspectiva, a educação não se basta à sala de aula, mas se expande
para a vida em sociedade e suas responsabilidades. A proposta de Freire é bastan-
te válida se pensarmos que não basta ensinar para os alunos o que é cidadania, é
preciso educar de forma cidadã. Isso porque a escola tem um papel fundamental
na formação do cidadão, por ser uma das instituições sociais, mais diretamente,
envolvida em nossa vida.
conceituando
81
2
A RELEVÂNCIA DA
UNIDADE 3
SOCIOLOGIA
para questões
escolares atuais
82
Pierre Bourdieu (1930-2002) foi um sociólogo francês, considerado também
UNICESUMAR
grande pensador da Educação e pode nos auxiliar nesta seção. Responsável pela
teoria da reprodução, o autor acreditava que a escola tem a função de transmitir a
cultura da classe dominante, impondo-a como cultura legítima. Ou seja, a escola
apresenta-se como um ambiente de transmissão dos saberes, representações,
valores e linguagens sociais de determinado grupo.
Desse modo, aqueles estudantes que estão fora desse grupo e, portanto, não
atendem aos padrões, comportamentos e valores transmitidos pela escola, sejam
excluídos. Esta passa a ser um espaço de exclusão e desigualdades. É nesse con-
texto que se entende a escola enquanto reprodutora de uma estrutura social.
conceituando
O conceito de estrutura social para Pierre Bourdieu diz respeito a um sistema hierarqui-
zado de poder e privilégio, determinado por relações materiais e/ou econômicas (referin-
do-se a aspectos financeiros), pelas relações simbólicas (referentes ao status social) e/ou
relações culturais (que dizem respeito à escolarização) entre os indivíduos. Dessa forma,
a diferente localização dos grupos nesta estrutura social deriva da desigual distribuição de
recursos e, consequentemente, poderes de cada um.
Fonte: as autoras.
Tendo a escola como instituição de poder, Bourdieu associou a ela o conceito de violên-
cia simbólica. E por que este nome? Porque a violência simbólica é uma violência exer-
cida, sutilmente, muitas vezes, não sendo percebida como tal. Dessa forma, a violência
simbólica presente na escola seria um mecanismo para reproduzir as estruturas sociais.
Como acontece isso? Segundo Bourdieu, ao reproduzir uma cultura dominante, de
forma naturalizada e sútil, as culturas dos grupos que não fazem parte dos dominantes
permanecem suprimidas. Nesse sentido, a cultura da classe dominada permanece
excluída e desvalorizada, e, assim, a violência simbólica possui a função de naturalizar
as relações de dominação e naturalizar as formas estabelecidas de estratificação.
Muitos outros autores, porém, discordam de Bourdieu, ao afirmar, também,
que a escola possui um papel mais emancipador e com capacidade de transfor-
mação social. Portanto, o debate do papel da escola frente à sociedade é uma
constante no debate sociológico. O olhar sociológico enfatiza tanto a formas de
reprodução constantes na escola, como também chama a atenção para o fato de
que, como uma estrutura de socialização, há margem para mudanças.
83
Entre estas perspectivas, é irrefutável que neste ambiente de disputas sobre
UNIDADE 3
“
[…] de modo geral, conceitua-se bullying como abuso de poder físi-
co ou psicológico entre pares, envolvendo dominação, prepotência,
por um lado, e submissão, humilhação, conformismo e sentimentos
de impotência, raiva e medo, por outro. As ações abrangem for-
mas diversas, como colocar apelidos, humilhar, discriminar, bater,
roubar, aterrorizar, excluir, divulgar comentários maldosos, excluir
socialmente, dentre outras (RISTUM, 2010, p. 96).
84
UNICESUMAR
conecte-se
“
O termo estigma, portanto, será usado em referência a um atributo
profundamente depreciativo, mas o que é preciso, na realidade, é
uma linguagem de relações e não de atributos. Um atributo que
estigmatiza alguém pode confirmar a normalidade de outrem,
portanto ele não é, em si mesmo, nem horroroso nem desonroso
(GOFFMAN, 2004, p. 32).
85
“
[…] uma sociologia do bullying poderia reorientar a abordagem
UNIDADE 3
86
c) Homofobia: trata do preconceito com pessoas não-heterossexuais, ou que pos-
UNICESUMAR
suam qualquer desvio do que é entendido, consensualmente, como comporta-
mento de menino ou de menina. Na esfera social, gera violência, desigualdade
de oportunidades e cerceamento das liberdades. Na escola, é muito encontrada
em forma de piadas, principalmente àqueles que não performam o papel de
menino ou menina com o rigor que a sociedade considera padrão.
Estes foram apenas alguns dos exemplos de desigualdades que ocorrem na socie-
dade e são reproduzidas no cotidiano escolar. Em consonância com o que apren-
demos sobre cidadania, podemos pensar a prática do bullying como o caminho
avesso à prática cidadã, pois, uma vez que a cidadania busca incluir todos no
espaço público, o bullying promove o afastamento de grupos subalternos. E nesse
sentido, a escola pode tanto representar uma via de acesso ao exercício da cida-
dania, como, um mecanismo de exclusão social (SILVA, 2006). Silva propõe que:
“
[…] a reversão e a alternativa à violência passa pelo resgate e de-
volução do direito à palavra, pela oportunidade da expressão das
necessidades e reivindicações dos sujeitos, pela criação de espaços
coletivos de discussão, pela sadia busca do dissenso e do respeito à
diferença (SILVA, 2006, p. 59).
As diferenças entre os grupos sociais devem ser conhecidas pelos alunos e profes-
sores, não de um modo hierárquico, e, sim, reconhecendo a necessidade de superar
estigmas e preconceitos. Paulo Freire (1996) enfatiza, ainda, a necessidade do diálo-
go para superação das desigualdades, como podemos conferir no trecho a seguir:
“
O respeito à autonomia e à dignidade de cada um é um imperativo
ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros.
(...) É nesse sentido também que a dialogicidade verdadeira, em que
os sujeitos dialógicos aprendem e crescem na diferença, sobretudo,
no respeito a ela, é a forma de estar sendo coerentemente exigida por
seres que, inacabados, assumindo-se como tais, se tornam radical-
mente éticos. É preciso deixar claro que a transgressão da eticidade
jamais pode ser vista como virtude, mas como ruptura com a decên-
cia. O que quero dizer é o seguinte: que alguém se torne machista,
racista, classista, sei lá o quê, mas se assuma como transgressor da
87
natureza humana. Não me venha com justificativas genéticas, so-
UNIDADE 3
88
3
SOCIOLOGIA DA
UNICESUMAR
EDUCAÇÃO
no Brasil
“
O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova de 1932 foi o movi-
mento da declaração pública do inconformismo de um grupo de
educadores e intelectuais da época, que estavam injuriados com
o contexto de precariedade da educação no Brasil e com a quase
nula oportunidade de estudo apresentada à população em idade
escolar. Seus organizadores defendiam a instalação de um sistema
de educação visando aos princípios de uma educação pública, laica,
gratuita e obrigatória (SILVEIRA; SANTOS; FAJARDO, 2013, p. 12).
explorando Ideias
O educador, como o sociólogo, tem necessidade de uma cultura múltipla e bem diversa.
As alturas e as profundidades da vida humana e da vida social não devem estender-se
além de seu raio visual, ele deve ter o conhecimento dos Homens e da sociedade em cada
uma de suas fases para perceber além do aparente e do efêmero, “o jogo poderoso das
grandes leis que dominam a evolução social”, e a posição que tem a escola, e a função
que representa, na diversidade e pluralidade das forças sociais que cooperam na obra da
civilização. Se há essa cultura geral, que lhe permite organizar uma doutrina de vida e am-
pliar seu horizonte mental, poderá ver o problema educacional em conjunto, de um ponto
de vista mais largo para subordinar o problema pedagógico ou dos métodos ao problema
filosófico ou dos fins da educação; se tiver um espírito científico, empregará os métodos
comuns a todo gênero de investigação científica, podendo recorrer a técnicas mais ou
menos elaboradas e dominar a situação, realizando experiências e medindo os resultados
de toda e qualquer modificação nos processos e nas técnicas, que se desenvolveram sob
o impulso dos trabalhos científicos na administração dos serviços escolares.
Fonte: Azevedo et al. (2010, p. 35).
UNICESUMAR
Durkheim que Fernando de Azevedo pôde aprofundar seus argumentos sobre
a importância da disciplina de Sociologia da Educação, nos cursos de formação
de professores. Em 1941, por exemplo, Fernando Azevedo produziu a obra “So-
ciologia Educacional”, que faz uma leitura da realidade educacional, baseada nas
ideias de Durkheim.
“
[...] ao mesmo tempo em que os progressos da psicologia aplicada à
criança começaram a dar à educação bases científicas, os estudos so-
ciológicos, definindo a posição da escola em face da vida, nos trouxe-
ram uma consciência mais nítida da sua função social e da estreiteza
relativa de seu círculo de ação. Compreende-se, à luz desses estudos,
que a escola, campo específico de educação, não é um elemento es-
tranho à sociedade humana, um elemento separado, mas “uma ins-
tituição social”, um órgão feliz e vivo, no conjunto das instituições
necessárias à vida, o lugar onde vivem a criança, a adolescência e a
mocidade, de conformidade com os interesses e as alegrias profun-
91
das de sua natureza. A educação, porém, não se faz somente pela
UNIDADE 3
“
A educação constitui um meio de atingir vários fins, preponderando
entre eles a socialização dos indivíduos, a formação do horizonte
cultural dos seres humanos e o aperfeiçoamento da inteligência”
(FERNANDES, 1966, p. 40).
92
Florestan foi um grande defensor do ensino público, para o autor, a educação de-
UNICESUMAR
veria ser responsabilidade do Estado e visar ao aprimoramento da democracia, o
que traria como consequência o crescimento econômico e o desenvolvimento da
sociedade. Ele almejava que a sociologia pudesse cumprir metodologias empíricas,
e ele mesmo fez estudos utilizando dados sobre a estrutura da educação brasileira,
apontando as desigualdades entre as regiões. Com isso, destacou a necessidade em
“ajustar o sistema de ensino ao padrão de integração e à ordem nacional de forma
que elas preenchessem as funções psico-sociais, socioeconômicas e socioculturais
da educação escolarizada que a civilização moderna requer” (ARAÚJO, 2006, p. 32).
Para além das discussões teóricas, Florestan exerceu, também, um papel prá-
tico na educação brasileira. Isso porque o autor teve papel significativo em torno
das discussões sobre as leis de diretrizes e bases do ensino (LDB), participando,
inclusive, da “Campanha de Defesa da Escola Pública” (1960-1961).
A Campanha foi um movimento de reação a uma proposta feita à Câmara
dos Deputados, em 1958, que ameaçava os princípios democráticos da educação,
conforme seus participantes. Segundo as convicções de Florestan sociólogo, esse
projeto carregava uma filosofia educacional que não condizia com o sistema
político almejado pela nação. Porém Florestan notou, graças a seus estudos de
contexto e formação do Brasil, que a colonização impôs ao Brasil uma educa-
ção elitista e desigual, gerando indivíduos alheios aos problemas sociais, e, desse
modo, incapazes de pressionar o Estado no sentido das reformas necessárias
para o aperfeiçoamento das instituições de ensino (FERNANDES, 1966, p. 348).
“
Muitos brasileiros ainda não se colocaram as opções que precisa-
mos arrostar em nossa época, entre o atraso e o progresso, entre
o mandonismo e a liberdade, entre a ignorância e a instrução. No
comportamento político desses senadores não devemos enxergar o
temor da coação ou o cálculo frio, ditado pela aritmética eleitoral.
Há, vigoroso e ostensivo, o apego a uma mentalidade que desdenha
da educação popular, teme a democratização do ensino e se opõe à
expansão da rede de escolas públicas.
interesse social. Florestan lutou para a inclusão de pautas que seguiam o que suas
pesquisas apontavam, a importância da educação para a democracia.
“
[...] a educação é o mais grave dilema social brasileiro. A sua falta
prejudica da mesma forma que a fome e a miséria, ou até mais, pois
priva os famintos e miseráveis dos meios que os possibilitem a to-
mar consciência da sua condição, dos meios de aprender e resistir
a essa situação (FERNANDES, 1989, p. 126).
94
CONSIDERAÇÕES FINAIS
UNICESUMAR
Caro(a) estudante, nesta unidade, nós nos aproximamos mais de questões con-
temporâneas da Educação e da Sociedade. Dessa forma, buscamos mostrar o
quanto a Sociologia é importante para se pensar a prática educacional uma vez
que é um ramo indispensável para se pensar a Sociedade.
As discussões sobre Cidadania, Democracia, Desigualdades levam-nos à ne-
cessidade de pensar a realidade social em um contexto que extrapola os muros da
escola e, dessa forma, repensar o que conhecemos, habitualmente, pela prática do
bullying. Esperamos que os autores elencados possam ter contribuído para o seu
entendimento da responsabilidade da escola enquanto motor de transformação
social, mas também para entender o quanto a escola, muitas vezes, reproduz as
desigualdades encontradas na sociedade por ser uma instituição social contida
nessa estrutura maior.
Os debates travados ao longo da unidade nos mostram que as diferentes dis-
ciplinas do currículo escolar podem e devem estar comprometidas com a ideia
de uma educação situada, conhecendo a realidade dos alunos e atendendo às
suas diferentes necessidades. Dessa forma, faz-se necessária uma compreensão
crítica das relações sociais, com o objetivo de a escola ser comprometida com
a formação humanizadora, assim como pedem nossos documentos oficiais que
regulam a educação no Brasil.
Conhecer um pouco do caminho da Sociologia da Educação no Brasil reforça
ainda mais a ideia da necessidade de se situar. Assim, compreendemos com a
última seção da unidade que diferentes contextos pedem uma reflexão diferente,
e é a isso que devemos estar sempre atentos. Além disso, conhecemos a necessi-
dade de se historicizar a educação, compreendendo os caminhos que fizeram-na
chegar até aqui. Esperamos que esta unidade o tenha ajudado a compreender e a
se adaptar a essas diferenças, promovendo sempre uma educação justa.
95
na prática
1. “Um em cada dez estudantes brasileiros é vítima de bullying – anglicismo que se re-
fere a atos de intimidação e violência física ou psicológica, geralmente, em ambiente
escolar. O dado foi divulgado esta semana pelo Programa Internacional de Avaliação
de Estudantes (Pisa) 2015. Especialistas, como a professora de psicologia Ciomara
Shcneider, psicanalista de crianças e adolescentes, defendem que pais e escola
devem estar atentos ao comportamento dos jovens e manter sempre abertos os
canais de comunicação com eles. Para ela, o diálogo continua a ser a melhor arma
contra esse tipo de violência, que pode causar efeitos devastadores em crianças e
adolescentes. A Lei n. 13.185, em vigor desde 2016, classifica o bullying como intimi-
dação sistemática, quando há violência física ou psicológica em atos de humilhação
ou discriminação. A classificação também inclui ataques físicos, insultos, ameaças,
comentários e apelidos pejorativos, entre outros.
a) V, V, F.
b) F, V, V.
c) V, F, V.
d) F, F, F.
e) V, V, V.
96
na prática
97
na prática
a) I e III, apenas.
b) I e IV, apenas.
c) IV, apenas.
d) II, III e IV, apenas.
e) I, II e III, apenas.
5. Segundo (FREIRE, 2000, p. 67): “Se a educação sozinha não transforma a sociedade,
sem ela tampouco a sociedade muda” FREIRE P. Pedagogia da indignação: cartas
pedagógicas e outros escritos. São Paulo: Editora UNESP, 2000.
a) Para Paulo Freire, a cidadania deveria ser uma disciplina a constar no currículo
da escola uma vez que o aprendizado está reservado a esta instituição.
b) Um dos grandes focos da educação para Paulo Freire seria a conscientização, e
o ato de conscientizar-se levaria à cidadania.
c) Para Paulo Freire, a divisão existente entre educador e educando é essencial para
o bom curso do aprendizado cidadão.
d) A conscientização, segundo Paulo Freire, levaria os educandos a absorver me-
lhor as regras e normas da sociedade, fazendo com que assim houvesse menos
conflitos sociais.
e) A cidadania para Paulo Freire se daria com a consolidação da educação bancária
cujos lucros são da sociedade.
98
aprimore-se
99
eu recomendo!
livro
filme
100
4
PERSPECTIVAS
ANTROPOLÓGICAS
como instrumentos
para a educação
PROFESSORAS
Me. Daiany Cris Silva
Me. Milena Cristina Belançon
PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • A antropologia e o olhar sobre
o outro • A importância da etnografia para a compreensão da realidade social • A prática docente
orientada pelo fazer etnográfico.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Dimensionar o histórico de surgimento da antropologia e a definição do seu objeto de estudo, a cultura
• Apresentar as principais correntes de pensamento teórico clássico que consolidaram a antropologia
como ciência • Demonstrar como a antropologia pode contribuir para o entendimento do outro, sua
cultura e estilo de vida • Definir a etnografia, principal ferramenta metodológica da antropologia, como
uma maneira de compreensão da realidade social que pode colaborar na atuação educacional • Propor
o olhar antropológico como um instrumentos de planejamento didático que pode orientar uma prática
docente comprometida com a realidade concreta da realidade escolar..
INTRODUÇÃO
UNICESUMAR
OLHAR SOBRE
o outro
“
Cultura é uma palavra usada para classificar as pessoas e, às vezes,
grupos sociais, servindo como uma arma discriminatória contra
algum sexo, idade (‘as gerações mais novas são incultas’), etnia (‘os
pretos não tem cultura’) ou mesmo sociedades inteiras, quando se
diz que ‘os franceses são cultos e civilizados’ em oposição aos ame-
ricanos que são ‘ignorantes e grosseiros’ (DAMATTA, 1981, p. 1).
UNICESUMAR
em sua vida os processos sociais, temos a possibilidade de avaliar as relações esta-
belecidas nessa sociedade que se solidificam em torno desse conjunto de regras.
pensando juntos
Perceba, caro(a) estudante, que utilizamos muitas aspas na escrita deste texto, faze-
mos isso pois, quando falamos de antropologia não devemos lidar com ideias gene-
ralistas, como a noção de “civilidade” ou a expressão “possuir cultura”, muito menos
podemos afirmar que há sociedades mais “simples” e outras mais “complexas” como
se houvesse hierarquias entre os diferentes sistemas sociais. Realizar afirmações
como essas nos colocaria em posição contraditória e incoerente em detrimento do
olhar orientado sobre o outro que as teorias antropológicas pretendem nos ensinar.
Retomemos o conceito de cultura cunhado pela antropologia. A questão
que se coloca neste momento é: Como se faz possível uma ciência que se dedica
a estudar fenômenos tão complexos, variáveis e imprevisíveis? Pois, diferente-
mente das ciências naturais em que a matéria-prima de seus estudos são eventos
isoláveis e fatos simples, recorrentes e passíveis de reprodução em situações de
laboratório, por exemplo, em que se pode comprovar e repetir um mesmo teste
inúmeras vezes, nas ciências sociais não podemos controlar as ações humanas
nem mesmo conseguimos reproduzi-las a fim de testá-las.
Os elementos da cultura de uma dada sociedade, relações de parentesco,
hierarquias sociais e instâncias de poder, religiosidade, rituais, mitos e ditos po-
pulares, entre outros eventos que estão bem perto de nós, que nos pertencem,
integralmente, como sociedade, são o objeto de estudo da antropologia e o pro-
blema não está no fato de que não conseguimos reproduzi-los ou testá-los, mas
como devemos observá-los (DAMATTA, 1987).
Para entender a maneira que a antropologia encontrou para se obser-
var as culturas e todos os seus elementos, faremos o mesmo caminho que o
antropólogo brasileiro Roberto Damatta propôs em um texto introdutório
clássico das Ciências Sociais que se chama “Relativizando: uma introdução
105
à antropologia social” (DAMATTA, 1987), somando considerações sobre os
UNIDADE 4
“
O estudo da Antropologia Biológica, situa a questão de uma cons-
ciência física do estudo do Homem. Ela remete aos parâmetros
biológicos de nossa existência, revelando como estamos ligados
ao mundo animal e aos mecanismos básicos da vida no planeta
(DAMATTA, 1987, p. 35).
106
O movimento intelectual que pode representar esse campo da antropologia é
UNICESUMAR
o das teorias evolucionistas, que possuem uma perspectiva muito simplista da
evolução da humanidade, evolução esta que se daria em etapas, primeiro pelo
desenvolvimento físico, depois o desenvolvimento social, “primeiro grito, depois
a fala. Primeiro o indivíduo, depois o grupo” (DAMATTA, 1987, p. 34).
Lewis Henry Morgan (1818-1881), Edward Burnett Tylor (1832-1917) e James
George Frazer (1854-1941) são os principais autores das teorias evolucionistas, que
também podem ser nomeados como os “fundadores” da antropologia, dado que
os primeiros estudos de grande relevância na área foram de sua responsabilidade.
A pesquisa de Morgan sobre as linhas de parentesco entre povos originários
da América, publicada em 1871, chama-se “Sistemas de consanguinidade e afini-
dade da família humana” e marcou os estudos acerca dos sistemas de parentesco
na antropologia. Nessa obra, Morgan conclui que haveria apenas “dois sistemas
de terminologia de parentesco, fundamentalmente, diferentes: um descritivo (do
hemisfério sul, tropical e claramente não-europeu) e outro classificatório (da
Europa e do noroeste asiático)” (CASTRO, 2005, p. 6).
Morgan acreditava que nos “sistemas classificatórios, que eram, de um lado,
característicos de povos não civilizados e, por outro lado, eram mais artificiais,
mais elaborados e mais distantes da natureza da descendência do que os siste-
mas descritivos dos povos ‘civilizados’” (ALMEIDA, 2010, p. 311). Em síntese, as
contribuições de Morgan versavam sobre o desenvolvimento da luta pela sobre-
vivência da humanidade. O autor destacou um processo progressivo de evolução
que passava por, basicamente, três estágios: selvageria, barbárie e civilização. Veja,
no quadro a seguir, apresentado pelo autor para entender como cada estágio se
localiza no processo de evolução da humanidade:
Períodos Condições
107
Períodos Condições
UNIDADE 4
explorando Ideias
A obra de Charles Darwin (1809-1882) “Sobre a origem das espécies por meio da seleção
natural”, publicada em 1872, foi uma importante influência para as teorias evolucionistas
na antropologia. Os antropólogos evolucionistas, ao passo que buscavam compreender
as descobertas tecnológicas da humanidade, analisavam o surgimento das primeiras or-
ganizações e instituições sociais.
Fonte: as autoras.
UNICESUMAR
vimento da mitologia, filosofia, religião, linguagem, arte e costume”, publicado
em 1871, no qual o autor deu-nos a primeira definição antropológica de cultura:
“
Cultura ou Civilização, tomada em seu mais amplo sentido etno-
gráfico, é aquele todo complexo que inclui conhecimento, crença,
arte, moral, lei, costume e quaisquer outras capacidades e hábitos
adquiridos pelo homem na condição de membro da sociedade.
(CASTRO, 2005, p. 8).
Usando os termos cultura e civilização como sinônimos, Tylor defendia que ha-
veria um “descompasso entre configurações culturais avançadas e atrasadas, con-
vivendo numa mesma sociedade, que dentro de uma linha de continuidade do
processo de civilização, se apresentam como sobrevivências” (MATIAS, 2008, p. 5).
conceituando
Etnocentrismo: a teoria evolucionista contribuiu muito para que uma visão etnocêntrica
de cultura fosse erradicada pelo mundo, o etnocentrismo que em um sentido mais amplo
pode possuir dois sentidos, um primeiro que se faz em uma certa “cegueira para diferen-
ças culturais, a tendência de pensar e agir como se elas não existissem. No segundo sen-
tido, refere-se aos julgamentos negativos que membros de uma cultura tendem a fazer
sobre todas as demais” (JOHNSON, 1997, p. 102).
dos processos sociais. Em síntese, a teoria evolucionista nos diz que há uma
espécie humana que é universal em todo o mundo, tanto quanto à organização
econômica quanto em aspectos culturais e sociais. Isso significa que, ao redor
do mundo, a humanidade se desenvolve “em ritmos desiguais, de acordo com as
populações, passando pelas mesmas etapas, para alcançar o nível final que é o da
‘civilização’” (LAPLANTINE, 2003, p. 49).
No Brasil, as teorias evolucionistas também surtiram alguma repercussão, e
o antropólogo maranhense Raimundo Nina Rodrigues pode ser apontado como
o principal representante desta influência evolucionista na ciência brasileira. Ele
possui entre as suas principais obras “Os africanos no Brasil”, publicada em 1932,
e “As raças humanas e a responsabilidade penal no Brasil”, publicada em 1894. Em
uma considerável produção sobre a formação da sociedade brasileira o antropó-
logo cunhou o que chamamos de teoria das três raças, pois acreditava que seria
preciso definir e diferenciar as raças puras primitivas: a branca, a negra e a ver-
melha, das raças cruzadas, as mestiças. O autor acrescenta, ainda, que nenhuma
raça mestiça poderia figurar ao lado delas, pois se encontravam em transição e
até poderiam desaparecer (NEVES, 2008, p. 246). O desejo pelo desaparecimento
da mestiçagem configura o teor eugenista da obra de Nina Rodrigues.
conceituando
Eugenia: segundo Neves(2008), o termo Eugenia foi cunhado por Francis Galton, primo
de Charles Darwin, em 1883. Seria para ele a ciência do melhoramento da hereditarie-
dade humana, ou seja, para estudiosos eugenistas existe uma raça humana superior, e
pela ciência seria possível uma “purificação das raças” para manter esse gene superior
como majoritário.
Fonte: adaptado de Neves (2008).
110
“
Nina Rodrigues considerava algumas raças inferiores a outras e era
UNICESUMAR
contra a mestiçagem que, em suas próprias palavras, apenas “retar-
dava a eliminação do sangue branco”. Embora, de um modo geral,
considerasse a raça negra inferior à branca e nociva como elemento
étnico na formação do povo brasileiro, admitia que essa nocividade
poderia se manifestar em diferentes graus, conforme a procedência
dos africanos (NEVES, 2008, p. 257).
“
Frazer não se referia à comparação entre sistemas sociais, mas à reu-
nião de diversos costumes de modo a lançar luz sobre um conjunto
particular deles. Pode-se lançar luz a partir de qualquer direção – as
crenças e práticas de qualquer lugar do mundo iluminarão as que
estiverem sendo estudadas e mostrarão possíveis antecedentes ou
uma tendência de que as pessoas pensem da mesma forma em todos
os lugares” (STRATHERN, 2014, p. 168).
A Antropologia Geral ou
Arqueologia
“
A Antropologia Geral diz respeito ao estudo do homem no tempo,
através dos monumentos restos de moradas, documentos, armas,
obras de arte e realizações técnicas que foi deixando no seu cami-
nho enquanto civilizações davam lugar a outras no curso da his-
tória. Essa esfera do trabalho é conhecida como arqueologia […]
(DAMATTA, 1987, p. 28).
112
UNICESUMAR
Machu Picchu, a cidade dos Incas no Peru, é um dos grandes exemplos de como
a cultura pode permanecer presente mesmo que sua sociedade já não exista mais.
Próximo de Cusco, a antiga capital do império Inca, Machu Picchu, testemunha a
existência dos Incas, que perdurou entre 1200 e 1550. Esse sítio arqueológico reve-
la nuances da organização política, econômica e cultural de toda uma civilização.
A arqueologia é um grande instrumento para os estudos antropológicos, uma
vez que nos permite conhecer nossas manifestações culturais do passado, o que é
uma boa maneira de avaliar como a humanidade se comporta em todas as suas
dimensões, períodos da história e contextos sociais.
113
Na Antropologia Social ou Cultural, nossos estudos são baseados em textos descri-
UNIDADE 4
conceituando
UNICESUMAR
ETNOGRAFIA
para a compreensão
da realidade social
UNICESUMAR
é preciso contextualizar, historicamente, o seu desenvolvimento.
Para que haja essa contextualização histórica em conjunto com a boa per-
cepção do meio social em que vive as populações que estudamos, Boas sugere
que é preciso observá-las de perto com variedade de detalhes. Nesse momento,
a antropologia começa a disseminar a sua principal característica metodológica,
o trabalho de campo. Este ocorre quando o antropólogo convive, diariamente,
com a população que pretende estudar, e, na convivência diária com essas popu-
lações, o antropólogo deve observar e registrar tudo o que achar relevante para
a compreensão da sociedade em que está imerso.
Inspiradas pela obra de Franz Boas, Ruth Benedict e Margareth Mead são as
principais referências nos estudos da antropologia cultural. Ambas as autoras se
dedicaram ao trabalho de campo e à perspectiva de relativização por meio de um
conhecimento detido e contextualizado das culturas que estudam.
Margareth Mead em sua obra mais conhecida sobre sociedades de Papua-Nova
Guiné, “Sexo e Temperamento”, publicada em 1931, analisa que as características
associadas aos sexos não são inatas a determinações biológicas, como, geralmente,
se acreditava, mas, sim, condicionadas pelos aprendizados culturais (MEAD, 2000).
Se fizermos o movimento de relativização nesse caso, perceberemos que, ao
contrário de como é em nossa sociedade ocidental, em que homens cumprem
um papel de virilidade e força, entre os Arapesh, sociedade estudada por MEAD
(2000), este comportamento masculino é inexistente, dado a construção cultural
característica daquela população. Colocar a nossa sociedade e a deles em compa-
ração nos permite perceber que a cultura molda as nossas ações sociais em uma
gama de possibilidades que é variada, e não homogênea. Essa concepção questio-
na teorias universalizantes sobre o comportamento humano muito erradicadas
até o surgimento do relativismo cultural na antropologia.
Observações, como as dessa antropóloga, são provenientes do trabalho de cam-
po detalhado e atento, porém, enquanto Mead imergia na sociedade de Papua -
Nova Guiné, Ruth Benedict demonstrou que o estudo etnográfico também pode ser
realizado a distância, caso o antropólogo seja impossibilitado de realizar o trabalho
de campo pessoalmente e possua um bom material descritivo sobre a sociedade
que estuda, por meio de relatos e reconstituição de memórias. E foi o que ela fez na
sua obra “O Crisântemo e a espada”, publicada em 1946 (BENEDICT, 2006).
Nessa etnografia, Benedict analisa a sociedade japonesa fazendo comparações
à sociedade estadunidense e avalia que a extrema hierarquização da sociedade
117
japonesa faz com que a obediência às autoridades e a autodisciplina são pre-
UNIDADE 4
UNICESUMAR
análises e registram nossas percepções, mas, para Malinowski, sem a vivência da
observação participante, o estar lá, junto deles, não há etnografia.
Para o antropólogo polonês, para se realizar uma boa etnografia, nós preci-
samos imergir na cultura nativa e se tornar um nativo na medida em que convi-
vemos com a sociedade que estudamos. Nativo é uma denominação às pessoas
que são naturais de uma dada sociedade, aqueles que nasceram e foram criados
nessa sociedade, e apenas essas pessoas possuem o total conhecimento sobre a
sua cultura. Por isso, para Malinowski seria necessário se tornar um deles, parte
da sociedade em que vivem para que possamos compreender a lógica que rege as
suas vidas, só assim a sociedade poderia ser estudada enquanto uma totalidade, tal
como funciona no momento mesmo onde a observamos (LAPLANTINE, 2003).
Para nos orientar nesta jornada, Malinowski escreveu-nos uma espécie de
manual sobre como realizar uma boa etnografia no texto introdutório da obra
“Argonautas do Pacífico Ocidental”, publicada em 1922. Nela, o autor adverte que
realizar uma etnografia, que se configura como uma observação participante da
sociedade que estudamos, não deve ser uma tentativa de traduzir os costumes
de outra cultura para a nossa compreensão, e sim captar o sentido que aquele
povo/grupo/nação denota aos seus hábitos e costume. Para isso, o antropólogo
precisa estar presente e participar de todos os processos sociais daquela cultura.
119
A concepção de etnografia de Malinowski considera como regra principal do
UNIDADE 4
explorando Ideias
UNICESUMAR
de Bronislaw Malinowski (1884-1942)” (CASTRO, 2005, p. 14), justamente por
considerarem que a sociedade e a cultura são elementos constitutivos do com-
portamento humano.
Outro Antropólogo conhecido por sua antropologia funcionalista é Marcel
Mauss (1872-1950), sobrinho e companheiro de pesquisas de Émilie Durkheim
(1858-1917), o teórico fundador da sociologia como ciência ganhou o título de
pioneiro das teorias funcionalistas. Marcel Mauss e Émilie Durkheim trabalha-
ram juntos na construção de estudos muito importantes para as Ciências sociais.
Durkheim, inclusive, faz algumas notas sobre a metodologia etnográfica em sua
famosa obra “As regras do Método Sociológico”, publicada em 1895, em que o au-
tor inaugura uma metodologia específica para se estudar a sociedade. No entanto
quem realizou uma discussão antropológica aprofundada foi Marcel Mauss, e sua
principal obra é “Ensaio sobre a dádiva”, publicada no início da década de 1920,
a qual muitos consideram como um estudo de aplicação do método sociológico
de Durkheim, pois o autor busca analisar fatos sociais e avaliar a função social
que eles possuem na vida da nossa sociedade.
Em “Ensaio sobre a Dádiva”, Mauss mostra-nos que sistemas de trocas podem
possuir valores morais que extrapolam a relação econômica e estruturam a ma-
neira com que as pessoas se relacionam em uma dada sociedade. O autor estudou
diferentes sistemas de trocas nas sociedades da Polinésia, Melanésia e noroeste
americano e, ao analisar a circulação de bens que cada uma das populações des-
sas regiões realizavam, Mauss percebeu que as coisas possuem um valor social
e moral e se ligam a quem doa. Portanto, quem recebe algo, também, recebe um
pedaço do outro e, por isso, é obrigado a retribuir com um pouco de si. Dessa
maneira, o sistema de troca deve seguir a lógica de dar, receber e retribuir.
A grande descoberta de Marcel Mauss foi que quando as coisas ultrapassam a
esfera econômica e se tornam presentes, materialmente, na vida em sociedade, os
processos sociais que envolvem a circulação desses bens torna-se um fato social
total, ou seja, esse sistema de trocas interfere em como as pessoas estabelecem
suas relações. Um equivalente a essa lógica que Mauss revela é quando, em nossa
sociedade, nós trocamos presentes. Você, caro(a) estudante, já passou pela situa-
ção de receber um bom presente de alguém muito próximo e se pegou pensando
que deve retribuir com um presente tão bom quanto ou melhor? Esse sentimento
de obrigação de realizar algo para manter uma relação social bem estabelecida é
o que chamamos de lógica da dádiva (MAUSS, 2003).
121
Para além do movimento funcionalista, protagonizado por Malinowski e
UNIDADE 4
122
3
A PRÁTICA
UNICESUMAR
DOCENTE
orientada pelo
fazer etnográfico
“
[…] uma etnografia de uma escola específica ou de um grupo especí-
fico de estudantes, tentei experienciar etnograficamente a experiência
escolar. […] Desse modo, a etnografia suscitou principalmente os se-
guintes temas: tecnologias, gênero, corporalidade, violência, crimi-
nalidade, ludicidade e jocosidade. Desses, as tecnologias e as relações
lúdicas e jocosas empreendidas pelos jovens foram percebidas como
aspectos centrais das experiências juvenis e escolares observadas em
campo. Contudo, o enfoque sobre as ludicidades e as tecnologias não
me levou a desprezar os demais elementos que me foram apresenta-
dos pelos atores em suas práticas cotidianas. […] Nessa dinâmica de
apreensão das múltiplas associações entre os temas ou termos sus-
citados pela pesquisa de campo, evidenciou-se como cada um, con-
forme a perspectiva, modificava e era modificado pelo outro. Dessa
maneira, se a escola possibilita a configuração de uma experiência
juvenil específica, sendo uma das agências responsáveis pela definição
contemporânea de juventude, essa, em sua experiência escolar, não
apenas reinventa a escola, como, a partir do processo de reprodução
das estruturas sociais instituído pela escola, passa também a reprodu-
zir as formas como se dá essa experiência escolar, por meio de deses-
tabilização de regras e objetivos institucionais. Dessa forma, os estu-
dantes também estabelecem as suas relações com a instituição escolar
e com os professores, a partir da influência de aspectos hegemônicos
das maneiras de classificar o mundo, muitas vezes, pautadas por con-
teúdos estigmatizantes que reforçam visões reificadas da realidade e
legitimadoras de desigualdades sociais (PEREIRA, 2010, p. 244-246).
124
Este é um trecho de uma etnografia em uma escola de periferia de São Paulo, e
UNICESUMAR
nele contém algumas análises do autor sobre sua experiência de campo. Perceba
que nessa pequena análise que o autor faz sobre o seu trabalho de incursão etno-
gráfica na escola ele conseguiu destacar temas muito relevantes para a vivência
escolar, tanto para alunos quanto para professores. Primeiramente, o antropólogo
demonstra que as tecnologias estão muito presentes na vida escolar, assim como
há a presença da ludicidade e jocosidade, o que podemos traduzir como as brin-
cadeiras cotidianas em sala de aula. Pereira (2010) destaca que o corpo discente
não é passivo e receptor de nossas ações e, sim, possui influência sobre como as
relações sociais dentro do âmbito escolar são estabelecidas.
conecte-se
125
UNIDADE 4
pensando juntos
Fazer etnografia supõe uma vocação de desenraizamento, uma formação para ver o mun-
do de maneira descentrada, uma preparação teórica para entender o “campo” que que-
remos pesquisar, um “se jogar de cabeça” no mundo que pretendemos desvendar, um
tempo prolongado dialogando com as pessoas que pretendemos entender, um “levar a
sério” a sua palavra, um encontrar uma ordem nas coisas e, depois, um colocar as coisas
em ordem mediante uma escrita realista, polifônica e inter-subjetiva.
(Urpi Montoya Uriarte)
UNICESUMAR
para compreender a realidade a nossa volta é o que chamamos na antropologia
de “tornar o estranho familiar e o familiar estranho”.
Segundo o antropólogo brasileiro Gilberto Velho (1977, p. 132), “o familiar
com todas estas necessárias relativizações é cada vez mais objeto relevante de
investigação para uma antropologia preocupada em perceber a mudança so-
cial” tanto em nossas grandes construções históricas como nas nossas interações
cotidianas. Estranhar o familiar significa que o nosso olhar deve estar atento
às construções sociais que solidificam ações que reproduzem as desigualdades
sociais, até mesmo em nossas ações.
“O processo de estranhar o familiar torna-se possível quando somos capazes
de confrontar, intelectualmente, e, mesmo emocionalmente, diferentes versões e
interpretações existentes a respeito de fatos, situações” (VELHO, 1977, p. 132),
reavaliar acontecimentos e ações cotidianas é o que o processo de estranhamento
pode nos proporcionar.
Como aponta o antropólogo Pereira (2010), a jocosidade, as brincadeiras na
sala de aula, revelam muitos dos preconceitos e das violências que estão presentes
em nossa vida em sociedade. Quando conseguimos captar como a reprodução
desses problemas sociais estão inseridos em nosso espaço de trabalho, podemos
planejar ações mais efetivas para a resolução de alguns conflitos. Assim, como em
qualquer ambiente da vida em sociedade, as violências nem sempre são escan-
caradas, o racismo, por exemplo, principalmente na sociedade brasileira, é uma
violência que se manifesta de maneira muito singela.
Em uma avaliação breve sobre as nossas próprias ações como professores,
quantas vezes não priorizamos aquele(a) aluno(a) branco(a) sentado(a) na pri-
meira carteira e que faz perguntas sobre tudo em detrimento de alunos que ficam
calados e acuados no fundo da sala? Muitas vezes, confundimos a indisciplina e o
desinteresse com a falta de atenção que damos às necessidades de alunos que não
conseguiram, ainda, desenvolver todo o seu potencial de participação e interesse,
se comparado aos nossos queridinhos da primeira carteira. Quando refletimos
sobre as nossas ações e as ações dos estudantes que ensinamos, principalmente
quando esta reflexão é acompanhada da contextualização da realidade do corpo
discente, percebemos que pequenas atitudes, como descentrar a participação da
classe, dirigir questões para pessoas que parecem mais distantes, atitudes que
desnaturalizam a ação recorrente de professores, podem colaborar para que com-
portamentos excludentes não se fortalecem no cotidiano escolar.
127
CONSIDERAÇÕES FINAIS
UNIDADE 4
128
na prática
1. “Não há ninguém que veja o mundo com uma visão pura de preconceitos. Vê-o, sim,
com o espírito condicionado por um conjunto definido de costumes e instituições,
e modos de pensar” (BENEDICT, 1983).
a) I, II e III, apenas.
b) II, III e IV, apenas.
c) III, IV e V, apenas.
d) I, II, IV, e V, apenas.
e) II, III, IV e V, apenas.
129
na prática
a) IV, apenas.
b) I, II, III e IV.
c) I, II e III, apenas.
d) II, III e IV, apenas.
e) I e III, apenas.
130
na prática
I - As teorias evolucionistas defendidas por autores, como James Frazer e Franz Boas,
dizem que a humanidade possui um desenvolvimento progressivo e universal.
II - O Antropólogo Franz Boas era um crítico assíduo do evolucionismo cultural e
defendia que todas as culturas possuem um desenvolvimento próprio que deve
ser contextualizado pelas suas construções históricas.
III - Lewis Morgan defendia que a espécie humana possui três estágios de desen-
volvimento: a selvageria, a barbárie e a civilização.
IV - Para alguns teóricos evolucionistas, poderíamos classificar algumas culturas
como mais civilizadas que outras.
a) F, V, V, V.
b) V, V, V, V.
c) V, F, F, F.
d) V, F, F, V.
e) V, V, F, F.
5. De fato, quando um antropólogo social fala em “cultura”, ele usa a palavra como
um conceito chave para a interpretação da vida social. Porque para nós ‘’cultura”
não é simplesmente um referente que marca uma hierarquia de “civilização”, mas
a maneira de viver total de um grupo, sociedade, país ou pessoa. Cultura é, em An-
tropologia Social e Sociologia, um mapa, um receituário, um código através do qual
as pessoas de um dado grupo pensam, classificam, estudam e modificam o mundo
e a si mesmas (DAMATTA, 1981).
131
na prática
a) I, II e III.
b) II, III e IV.
c) III, IV e V.
d) I, III, IV e V.
e) II, III, IV e V.
132
aprimore-se
A CIÊNCIA DO COSTUME
Costumes e Comportamento
A antropologia ocupa-se dos seres humanos como produtos da vida em sociedade.
Fixa a sua atenção nas características físicas e nas técnicas industriais, nas conven-
ções e valores que distinguem uma comunidade de todas as outras que pertencem
a uma tradição diferente.
O que distingue a antropologia das outras ciências sociais é o ela incluir no seu
campo, para se estudar cuidadosamente, Sociedades que não são a nossa socieda-
de. Para os seus fins qualquer norma social de casamento e de reprodução tem tan-
to significado como aquelas que nos são próprias, mesmo que seja a dos Dyaks do
Mar, e não tem qualquer possível relação histórica com a da nossa civilização. Para
o antropologista, os nossos costumes e os de uma tribo da Nova Guiné são dois es-
quemas sociais possíveis, que tratam do mesmo problema, e cumpre ao antropolo-
gista enquanto antropologista, evitar toda e qualquer apreciação de um em favor do
outro. Interessa-o a conduta humana, não como é modelada por uma certa tradição,
a nossa tradição, mas como o foi por qualquer tradição, seja ela qual for. Interessa-o
a vasta gama de costumes que existe em culturas diferentes, e o seu objetivo é com-
preender o modo como essas culturas se transformam e se diferenciam, as formas
diferentes por que se exprimem, e a maneira como os costumes de quaisquer povos
funcionam nas vidas dos indivíduos que os compõem.
Ora o costume não tem sido considerado assunto de grande importância. O fun-
cionamento íntimo do nosso cérebro, eis o que nos parece constituir a única coisa
digna de estudo: o costume, temos tendência para pensar, é conduta na sua forma
mais vulgar. De facto, o contrário é que é verdade. O costume tradicional, considera-
do pelo mundo em geral, é uma massa de conduta pormenorizada mais espantosa
do que o que qualquer pessoa pode jamais revelar nas ações individuais, por mais
aberrantes. E, no entanto, isto é um aspecto um tanto trivial da questão. O que é,
verdadeiramente, importante é o papel predominante que o costume desempenha
no que se experimenta na vida diária e no que se crê, e as verdadeiramente grandes
variedades sob que pode manifestar-se.
Fonte: Benedict (1993).
133
eu recomendo!
livro
livro
134
eu recomendo!
filme
Do meu lado
Ano: 2014
Sinopse: as vidas de duas vizinhas, de religiões diferentes, se cru-
zam quando um buraco se abre na parede que divide suas casas.
Comentário: este curta metragem traduz muito bem o que é a an-
tropologia sob o olhar de perto dos acontecimentos a nossa volta,
quando uma das personagens descobre que os sentimentos e as angústias que
sua vizinha possui são uma razão compreensível até para ela cuja religiosidade é
tão diferente da dela, e uma aproximação torna-se possível.
conecte-se
135
anotações
5
ANTROPOLOGIA E
EDUCAÇÃO
na contemporaneidade
PROFESSORAS
Me. Daiany Cris Silva
Me. Milena Cristina Belançon
PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Etnologia brasileira: compreen-
dendo o Brasil e sua diversidade cultural • A pluralidade cultural de uma vida urbana • Por uma an-
tropologia da educação na educação
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Apresentar autores que consolidaram a antropologia no Brasil • Destacar questões centrais da an-
tropologia no Brasil • Dimensionar a diversidade cultural brasileira como um elemento de reflexão e
análise da teoria antropológica • Pontuar os elementos contemporâneos de estudo da antropologia
• Destacar as questões de pesquisa da antropologia urbana no Brasil • Estabelecer um diálogo entre a
antropologia contemporânea e a prática educacional.
INTRODUÇÃO
UNICESUMAR
COMPREENDENDO
O BRASIL
e sua diversidade cultural
139
integrante da escola, nós, educadores devemos nos colocar à frente do enfrenta-
UNIDADE 5
conecte-se
“
relações de poder desigual entre pesquisadores e seus então ‘nati-
vos’ no início da disciplina, o suposto exotismo dos ‘primitivos’, a
fabricação dos ‘especialistas’ regionais (africanistas, americanistas,
oceanistas etc.), o financiamento politicamente direcionado (PEI-
RANO, 2004, p. 5)
140
senso comum, especialmente no senso comum acadêmico” (PEIRANO, 2004, p.
UNICESUMAR
5). Esse despertar é o novo olhar que a antropologia pode nos proporcionar, um
olhar atento sobre o outro.
A perspectiva do olhar o outro, conhecer as diferenças e avaliá-las é um dos
fundamentos da antropologia. Podemos chamar essa perspectiva de alterida-
de, segundo Peirano (1999, p. 2), “o Brasil é um caso etnográfico privilegiado”
quando se trata de alteridade, pois até a década de 50, quando os antropólogos
brasileiros se ativeram a conhecer as comunidades indígenas do território nacio-
nal, fundamos uma espécie de alteridade radical, investigando povos indígenas
totalmente desconhecidos. Nos anos posteriores, as alteridades foram “ameni-
zadas”, deslocando os espaços de pesquisas para o meio rural e urbano, de modo
a avaliar as relações da população indígena com outros grupos sociais. Nos anos
1980, o debate sobre as diferenças se torna uma alteridade mínima, contextua-
lizou a antropologia no Brasil de modo que “a alteridade deslizou territorial e
ideologicamente, em um processo dominado pela incorporação de novas temá-
ticas e ampliação do universo pesquisado” (PEIRANO, 1999, p. 3), concentrando
pesquisas sobre as dinâmicas da urbanidade e, concomitantemente, buscando re-
fletir sobre o papel do Cientista Social na construção dos estudos sobre a cultura.
Peirano (1999) destaca, ainda, que essas diferentes formas de alteridades sa-
lientam a necessidade que a antropologia brasileira construiu, desde o seu início,
em consolidar uma antropologia no plural. A análise da antropóloga sobre o
contexto das alteridades na antropologia brasileira demonstra que investigar dife-
renças é um elemento fundamental da disciplina no nosso país. E muito distante
do que possa parecer, este debate trata as diferenças não como um marcador de
distâncias e exclusões, mas o seu fundamento é que, ao conhecer o outro, pos-
samos reconhecer a nós mesmos e compreender que a pluralidade de vivências
é um elemento a ser valorizado e compreendido em uma cultura como a nossa.
conceituando
ALTERIDADE: tida como sinônimo do termo sociológico “outro”, que pode ser “um concei-
to no estudo da vida social através do qual definimos relacionamentos” (JOHNSON,1997,
p. 165) e investigamos como as interações sociais entre as mais diversas pessoas de ori-
gens e expressões culturais distintas estabelecem suas relações sociais.
Fonte: as autoras.
141
UNIDADE 5
“
diferença ou o exotismo divergem: se todo exotismo é um tipo de
diferença, nem toda diferença é exótica. Por outro lado, a ênfase na
diferença tem como dimensão intrínseca a comparação; já a ênfase
no exotismo dispensa contrastes. (PEIRANO, 1999, p. 5).
Isso significa que, quando percebemos o outro como diferente e não exótico,
temos a possibilidade de nos colocar em diálogo, comparando experiências e tro-
cando vivências. O lugar exótico estabelece uma relação desigual de inferioridade
ou de hierarquia que é questionada pelos estudos antropológicos, na atualidade.
Ao escolher essa perspectiva da alteridade, de olhar o outro sob suas próprias
perspectivas, a antropologia entra em um paradoxo, pois, “quando procuramos
diferenças, muitas vezes acabamos por encontrar uma suposta singularidade (que
é ‘brasileira’)” (PEIRANO, 1999, p. 17) e, assim como afirmou Florestan Fernandes
(1958), “a sociedade brasileira é um imenso cadinho de raças e culturas”(FER-
NANDES, 1958, p. 30), ou seja, o que nos caracteriza como nação são os encontros
das diferenças e a multiplicidade de expressões culturais.
Iniciamos essa discussão sobre alteridade para destacar a importância da an-
tropologia indígena no Brasil nessa construção de uma visão plural da sociedade
brasileira. Assim como o problema da população negra
142
“
o problema da população indígena foi uma questão social signi-
UNICESUMAR
ficativa para o estado desde as lutas pela independência do Brasil,
bem como problemas ligados a imigrantes, distribuição de terras e
a industrialização. (FERNANDES, 1958, p. 28).
conecte-se
143
Em seus estudos sobre os Tupinambás,
UNIDADE 5
“
Na sociedade Tupinambá a guerra se desencadeava a partir da
morte de um membro da sociedade e da determinação, por parte
de seus parentes, da necessidade de um sacrifício em memória ao
seu “ espírito” . Um antepassado ou um ancestral mítico também
podiam desencadear um sacrifício. Reunia- -se, então, o conselho
de chefes e ouvia-se o xamã, quando, então, se deliberava o início
da guerra. A seguir, realizavam-se ritos para a preparação do ma-
terial a ser utilizado e, enfatizando-se o caráter mágico-religioso
da guerra, instruíam-se os guerreiros. Era então que se realizava a
incursão guerreira e o choque armado, quando se capturavam os
prisioneiros antes da volta para a tribo de origem. Lá, o prisioneiro
(ou prisioneiros) passava por ritos de purificação, renomava-se o
144
sacrificante e se ingeria, cerimonialmente, a carne da vítima. Nesta
UNICESUMAR
cadeia, a “necessidade” do sacrifício e a “ consumação” do sacrifício
aparecem como os dois extremos (PEIRANO, 1984, p. 25).
“
Florestan não impôs uma teoria a priori a documentação Tupinam-
bá: a análise resulta de uma convergência de postulados teóricos e
dados etnográficos que levam e contribuem para a reconstrução de
um sistema social. (PEIRANO, 1984, p. 29),
“
sociedades modernas contemporâneas a ideia de nação funciona
como modelo ideológico privilegiado para representar o “todo so-
cial”, e que ela, se não determina, pelo menos fornece importantes
parâmetros para a aceitação ou rejeição de teorias sociais em dife-
rentes momentos” (PEIRANO, 1984, p. 17).
conceituando
ETNIA: nomenclatura que advém do conceito etnicidade que “se refere a uma cultura e
estilo de vida comuns. Especialmente da forma refletida na linguagem, maneiras de agir,
formas institucionais religiosas e de outros tipos, na cultura material, como roupas ali-
mento, e produtos culturais como música, literatura e arte”.
Fonte: Johnson (1997, p. 100).
“
Mais que uma simples etnia, porém, o Brasil é uma etnia nacional,
um povo‐nação, assentado num território próprio e enquadrado
dentro de um mesmo Estado para nele viver seu destino. Ao con-
trário da Espanha, na Europa, ou da Guatemala, na América, por
exemplo, que são sociedades multiétnicas regidas por Estados uni-
tários e, por isso mesmo, dilaceradas por conflitos interétnicos, os
brasileiros se integram em uma única etnia nacional, constituindo
146
assim um só povo incorporado em uma nação unificada, num Esta-
UNICESUMAR
do uni‐étnico. A única exceção são as múltiplas microetnias tribais,
tão imponderáveis que sua existência não afeta o destino nacional.
(RIBEIRO, 1995, p. 22)
conecte-se
conceituando
“
Na pesquisa (em Pernambuco) fui entender melhor isso. Os que
moravam na rua do engenho não tinham uma roça ou ela era muito
precária, diferentemente daqueles que tinham uma casa mais dis-
tante da sede (do engenho) e que conseguiam manter seu roçado ou
de um foreiro que era mais autônomo, embora ambos tivessem que
dar alguns dias de trabalho gratuito ao proprietário. Os que viviam
simplesmente do trabalho na cana dependiam, para se abastecer,
basicamente, do barracão do engenho. Era um esquema de endivi-
damento, na hora em que iam receber o salário, não tinham dinheiro
suficiente para pagar (suas dívidas). Se a dívida era, periodicamente,
renegociada, isso ia mantendo eles presos àquela fazenda, àquele
engenho (CRUZ, 2015, p. 5-6).
Em sua pesquisa, Moacir Palmeira diagnosticou que essa situação era superada,
em certa medida, quando os pequenos agricultores começaram a vender suas
produções e feiras livres, o que, segundo autor, era o local em que buscavam
consumir os novos trabalhadores urbanos que, anteriormente, foram expulsos
do meio rural. Parte dos seus estudos sobre as relações de trabalho e produção
no meio rural brasileiro foram publicados, em 1971, e a defesa de sua tese de
doutorado, defendida em Paris, é intitulada “Latifúndio e Capitalismo no Brasil:
leitura crítica de um debate”.
148
Como é possível perceber pela discussão que travamos até o momento, a so-
UNICESUMAR
ciedade brasileira é resultado de uma série de construções históricas e sociais. O
processo de colonização do nosso país fez com que muitas culturas se encontrassem
nesse território e, de uma maneira não muito amena, buscasse formas de construir
uma identidade nacional. Embora, como é destacado pelos estudos dos autores ci-
tados, principalmente de Darcy Ribeiro e Moacir Palmeira, esses processos sociais
formaram uma sociedade fundamentada em muitas desigualdades com relação à
distribuição de riquezas e à segregação social de determinadas populações.
Quando, porém, nos atentamos a diversidades de expressões culturais que
todo esse processo de formação da nação brasileira nos apresenta, percebemos
que, apesar de os problemas sociais que ainda devemos enfrentar em nosso país, a
nossa riqueza de vivências é singular. Essa pluralidade cultural pode ser percebida
nas festas populares espalhadas por todas as regiões do país, sotaques, diversi-
dades de fazeres culinários, entre outras características da cultura brasileira que
estão espalhadas por um território de povos plurais.
Muitas são as iniciativas que o estado brasileiro construiu ao longo dos anos para
atender às mais diversas realidades dos(as) brasileiros(as), principalmente quanto
à educação de jovens, adolescentes e crianças brasileiras. A LDB, Lei de Diretrizes
e Bases da Educação (Lei n. 9.394, 20/12/1996), diante do processo de universali-
zação do Ensino Básico no Brasil, dispõe uma série de iniciativas que ampliam o
atendimento para as mais diversas demandas da população brasileira. A LDB trata
da institucionalização da Educação de Jovens e Adultos, da Educação Profissional
e Tecnológica e da Educação Especial bem como institui, em seu Art. 32, § 4º, que
o ensino da História do Brasil deve levar em conta as contribuições das diferentes
culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes
indígena e africana. Além disso, a LDB regulamenta o ensino bilíngue e intercultural
aos povos indígenas, propõe a possibilidade de uma organização escolar própria ao
meio rural, considerando fases do ciclo agrícola e as condições climáticas.
Os ganhos do processo de universalização do Ensino Básico no Brasil, pro-
movido pela redemocratização do nosso país, nos anos 1980, demonstram que
conhecer as necessidades de uma nação é um passo importante para instituir
leis e políticas pertinentes ao que o seu povo necessita. Nesse sentido, quanto
à nossa atuação no cotidiano escolar, cabe a nós mobilizar esses mecanismos
institucionais de modo ativo em nosso ambiente de trabalho em ações, como a
real efetividade de um ensino de história do Brasil que considere outras origens
culturais para além das europeias.
149
Ademais, uma dimensão crucial que o(a) educador(a) brasileiro(a) deve se
UNIDADE 5
pensando juntos
É engraçado como eles gozam da gente quando a gente diz que é Framengo. Chamam a
gente de ignorante dizendo que a gente fala errado. E de repente ignoram que a presença
desse r no lugar do l, nada mais é que a marca linguística de um idioma africano, no qual
o l inexiste. Afinal, quem que é o ignorante? Ao mesmo tempo, acham o maior barato a
fala dita brasileira, que corta os erres dos infinitivos verbais, que condensa você em cê, o
está em tá e por aí afora. Não sacam que tão falando pretuguês.
(Lélia Gonzalez)
Ter como horizonte perspectivas como a de Lélia Gonzales e tantas outras antro-
pólogas e antropólogos brasileiros que revelam as estruturas e sistematizações de
nossa sociedade permite-nos construir um olhar atinado as diversidades culturais.
Assim como nos ensinou Paulo Freire (1996), ensinar não é um ato de depositar
conteúdos, e sim, um construto coletivo de diálogo e troca de experiências, para que
esse movimento seja passível no ambiente escolar “torna-se absolutamente urgente
a revisão dos conceitos de ensinar e aprender, até então baseados em uma relação
hierárquica de transferência do "conhecimento" (CRUZ, 2015, p. 491).
150
Nesse sentido, o nosso papel como educadores está em manter uma atenção
UNICESUMAR
diária às singularidades de nossos(as) estudantes e ao conhecimento das teorias
antropológicas, à perspectiva da alteridade e desnaturalização das desigualdades
sociais presentes na sociedade brasileira. Este é o passo inicial para construir
uma prática educacional mais democrática pautada no respeito às diferenças e
às diversidades culturais.
2
A PLURALIDADE
CULTURAL
de uma vida urbana
retomaremos o que é esta chamada Escola de Chicago. Seu marco inicial deu-se
nos anos de 1920, quando antropólogos estadunidenses se interessaram em “pro-
blemas relacionados à instalação de imigrantes nos guetos de Chicago” (GOLD-
MAN, 1995, p. 129), centro urbano mais conhecido pelas guerras de gangsters
nos Estados Unidos.
A escola estadunidense de produção sociológica sobre teorias da cidade de-
monstra um grande avanço nos estudos sobre a realidade urbana, pois propõe
novas chaves investigativas baseadas nos trânsitos e nas rupturas das estruturas
sociais que moldam a feição das cidades. Como aponta Freitag (2008), os pen-
sadores estadunidenses, ao considerar os desenvolvimentos macroestruturais
do século XX e XXI, puderam contribuir para a construção de um novo mo-
delo urbano, influenciando cidades da América do Latina, Ásia e África do Sul
(FREITAG, 2008, p. 121), o que colabora para a produção de um conhecimento
baseado nas transformações emergentes em países não-europeus com uma rea-
lidade social de cidades forjadas na modernidade.
Além disso, a escola de pensadores estadunidenses priorizou uma constru-
ção teórica baseada em pessoas, considerando que a cidade é formada por gente
plural e produtora de costumes, hábitos e bens culturais. Para conhecer a cidade,
é preciso ouvir, percorrer os caminhos da população urbana, compreender seus
trânsitos e desvios, avaliar, sociologicamente, a distribuição espacial, a organi-
zação política, econômica e cultural. Nesse sentido, a observação participante
destaca-se como principal método de pesquisa.
Portanto, ao tomar contato com as obras de Park, Wirth, Foote Whyte, Becker
e Wacquant, principais representantes desse movimento intelectual, vemos um
conjunto de autores que criam teorias sobre as cidades em um caráter de orga-
nismo vivo, submetido a uma constante construção formada pela capacidade
criadora da vida urbana, expressando a heterogeneidade dos indivíduos urbanos
em suas formações de grupos sociais. Para esses estudiosos, o empirismo é essen-
cial e, se somado a boas questões de pesquisa, orienta análises fundamentadas
em processos constituídos pela vivência social.
O que a escola de Chicago nos ensina é que nossas questões investigativas
devem buscar descobrir os caminhos percorridos pelas pessoas e o resultado
de suas escolhas e atitudes no seu cotidiano, e esse objetivo é desenvolvido por
Foote Whyte (2008), grande precursor da observação participante nos estudos
sobre a vida urbana.
152
Ao estudar Corneville e sua gente, Foote Whyte (2008) discorre, em “Socie-
UNICESUMAR
dade de Esquina”, sobre o cotidiano de imigrantes italianos que vivem em uma
área periférica de Boston (EUA), mais especificamente, o autor trata dos guetos
formados por gangsters que possuíam forte apelo político e organizacional para
a sua comunidade de origem. Em seu estudo da comunidade de Corneville, o
autor relata suas decisões metodológicas e demonstra uma escrita sociológica
que extrapola a descrição de fatos e narra a ação social de indivíduos no ato de
moldar um sistema social bem estruturado.
Foote Whyte defendeu que só seria possível examinar a estrutura social sob a
observação das pessoas em ação (WHYTE, 2005, p. 289), dessa forma, o sociólogo
investiu no mais clássico dos métodos das ciências sociais, a observação participante.
O autor buscou se inserir na comunidade de Cornville e, após equívocos e acertos,
encontrou Doc, um importante líder de um dos guetos da região que abriu muitas
portas para Foote Whyte. Ele até relata que Doc foi quase como um coautor de sua
obra, pois contribuiu não só com informações sobre a organização da sociedade de
esquina como também colaborou na reflexão sobre questões importantes da pesquisa.
Na obra de Foote Whyte, temos uma contribuição significativa sobre cami-
nhos metodológicos que proporcionam a visualização de um meio urbano, cons-
tantemente, moldado pelo trânsito de pessoas e suas escolhas em suas trajetórias
de vida. Trajetórias particulares, em tramas e ações conjuntas, o que movia os
interesses do autor.
A escola sociológica de Chicago influenciou a construção de um campo de
saber que chamamos de antropologia das sociedades complexas, que considera
que “micro-estudos de subgrupos no interior de sociedades de larga escala res-
pondem, portanto, a macro-análises das características globais de culturas com-
plexas” (GOLDMAN, 1995, p. 92). Essa perspectiva pressupõe que, ao analisar
pequenos recortes, podemos revelar fenômenos da sociedade como um todo. A
principal característica da antropologia das sociedades complexas é que estuda-
mos o nosso próprio meio social, periferias urbanas, subgrupos e subculturas
que destoam dos padrões sociais, minorias políticas etc.
Segundo Velho (2011), a classificação de sociedade complexa seria proble-
mática por relembrar preceitos do evolucionismo cultural que determina que
há sociedades mais simples e outras mais complexas, a primeira sendo inferior à
segunda “mas procurou-se entender que a ideia de complexidade remete a uma
combinação de dimensão, presença do Estado, heterogeneidade sociocultural e
diferenciação social marcante” (VELHO, 2011, p. 164).
153
A antropologia das sociedades complexas representa uma das rupturas epis-
UNIDADE 5
conceituando
UNICESUMAR
de pesquisa, e não de quem os investiga apenas.
O questionamento parte dos grandes esquemas e das teorias que dominaram
o fazer antropológico, no início do século XX, nos anos 1970, quando antropólo-
gos (as) do Brasil começam a realizar pesquisas nos centros urbanos (PEIRANO,
1999) com o intuito de “relacionar indivíduo, biografia e sociedade constituiu-se
em referência recorrente nos autores ligados a essas tradições" (VELHO, 2011, p.
171). A principal característica de autores da antropologia das sociedades com-
plexas é a aproximação de perspectivas sociológicas e antropológicas, movimento
de análise muito utilizado por pesquisadores brasileiros na época.
O precursor desse movimento intelectual no Brasil e, poderíamos assim di-
zer, o maior incentivador de sua consolidação, é o antropólogo Gilberto Velho,
figura determinante para a estruturação de uma antropologia urbana brasileira.
O autor realizou um estudo pioneiro de observação participante em um prédio
de conjugados de Copacabana, local em que Gilberto Velho residia.
Por mais que Gilberto Velho tenha se beneficiado dos questionamentos à tra-
dição antropológica, o trabalho de campo e pela observação participante ainda
foram cruciais para o seu trabalho, já que seu estudo foi baseado, totalmente, na
observação participante, mas que agora se tratava de um estudo do próprio nativo
sobre o seu meio social.
155
UNIDADE 5
pensando juntos
Na antropologia urbana, assumimos o estudo de nosso meio, de nossas vidas, como algo
relevante para a antropologia que, por sua vez, contribuiria de modo significativo para
uma compreensão mais rica e sutil da sociedade em que vivíamos.
(Gilberto Velho)
“
[…] crítica sobre cultura e vida social, pudéssemos comparar não
só diferentes sociedades mas, no nosso caso, tentar desvendar as
diferenças internas das sociedades complexas moderno-contem-
porâneas, como a brasileira. Nesse sentido, a própria problemática
do desvio e das acusações poderia ser analisada, levando em con-
ta, de um modo mais sistemático, linguagem, códigos e redes de
significado. Portanto, de algum modo, retomava o ponto de vista
156
de relativismo cultural, procurando estabelecer vínculos com um
UNICESUMAR
pensamento mais crítico-sociológico. A partir desta perspectiva,
mais uma vez, o diálogo entre antropologia e história constituiu-se
em referência básica (VELHO, 2011, p. 175).
Esse estímulo para essas novas preocupações refina o olhar antropológico para
visualizar narrativas da vida social que poderiam estar encobertas pelos padrões
dominantes da sociedade, assim como contribui “para o levantamento de temáti-
cas relevantes, sobretudo, aquelas em que as biografias individuais cruzavam-se
e expressavam situações históricas e contextos sociais favoráveis a uma análise
antropológica” (VELHO, 2011, p. 167).
O ganho metodológico que a difusão dos estudos urbanos proporcionou à antro-
pologia brasileira é significativo, permitiu que “de uma maneira única, a importância
da memória como organizadora da subjetividade e das relações entre os indivíduos"
(VELHO, 2011, p. 173) já que, além do trabalho de observação participante, métodos
de pesquisa qualitativa, como histórias de vida, relatos de trajetórias e entrevistas em
profundidade foram somadas ao processo de investigação antropológica.
Persiste até os dias atuais esta ampliação dos limites da antropologia,“em um qua-
dro onde convivem, no mesmo meio acadêmico, uma antropologia feita no Brasil e
uma antropologia do Brasil. Para além da pesquisa indígena propriamente dita, uma
antropologia feita no/do Brasil é uma aspiração comum" (PEIRANO, 1999, p. 4).
As contribuições da antropologia urbana para se pensar a realidade social
brasileira articula uma reflexão sobre as diferenças e suas implicações à vida
social, dimensão de pensamento que pode colaborar para que você, futuro pro-
fessor(a), visualize o quão importante é a construção de uma relação atenta à
interdisciplinaridade entre antropologia e educação, principalmente, quando
“determinadas pautas, que visam justamente fornecer repertórios e dispositivos
para a construção de uma escola mais atenta à diversidade social de seus alunos,
começaram a ser discutidas mais seriamente no Brasil” (PEREIRA, 2017, p. 170).
Visando à construção de uma escola mais democrática e sem preconceitos, o
conhecimento sobre a diversidade cultural brasileira, por meio de reflexões teóricas
e uma discussão pública sobre as implicações da convivência de diferentes vivências
humanas, principalmente quanto à expressão cultural, “pode proporcionar uma
aproximação crítica às realidades do corpo discente e da comunidade escolar, consi-
derando as práticas culturais juvenis e suas singularidades” (PEREIRA, 2017, p. 170).
157
3
POR UMA
UNIDADE 5
ANTROPOLOGIA
da educação na educação
“
etnógrafos fomos/somos ávidos em conhecer o mundo em que vive-
mos, nunca nos conformamos com predefinições, estamos sempre
dispostos a nos expor ao imprevisível, a questionar certezas e ver-
dades estabelecidas e a nos vulnerar por novas surpresas.
Essa dimensão do trabalho antropológico é de grande valia para quem está dis-
posto a expandir seus conhecimentos sobre o mundo que vive e pretende, ainda,
compartilhá-los com o próximo. Nesse sentido, para que você, futuro(a) profes-
sor (a), possa encampar um projeto de educação que considere uma perspectiva
como essa, será preciso que você passe a perceber visões de mundo que podem
não ser as suas.
“
Com efeito, mais uma vez ressalta Freire (1996), se é inevitável que
o professor trabalhe com certas generalizações, que isso seja feito
o máximo possível a partir do saber nativo – aquele do aluno, das
classes populares, vinculado, por seu turno, a experiências de socia-
lização prévias ao ingresso na sala de aula (SOUZA, 2006, p. 492).
158
Percebe alguma semelhança entre este pressuposto de Freire (1996) e a constru-
UNICESUMAR
ção antropológica do saber sobre o outro, a alteridade? O princípio norteador que
“imortalizou tanto a pedagogia de Freire quanto à antropologia malinowskiana: o
respeito à realidade própria do outro” (SOUZA, 2006, p. 489) é o que aproxima a
teoria antropológica da prática educacional. Ao propor interdisciplinaridade entre
a perspectiva antropológica e a educação, incentivamos que o processo de ensino e
aprendizagem possua como base principal as experiências de seu público-alvo, pois
consideramos que cultura e ensino estão interligados, significativamente.
A relação entre antropologia e educação se inicia “ainda na transição do século
XIX ao XX, com os antropólogos analisando os contextos culturais da aprendiza-
gem e os efeitos das diferenças entre os povos no desenvolvimento da infância e da
adolescência" (SOUZA, 2006, p. 487). Um exemplo dessas investigações é o tra-
balho de Margaret Mead (apud CASTRO, 2015), intitulado “Adolescência, sexo e
cultura em Samoa” (1928), em que a antropóloga relata que seria preciso conhecer
o contexto de formação social em que vivem os adolescentes de uma determinada
sociedade para definir suas características de sua personalidade como geração.
A antropóloga culturalista destaca uma visão ampla sobre os processos de
construção social que permeiam nosso comportamento em sociedade, princi-
palmente na formação de grupos que estão em faixas etárias de aprendizado
dos códigos e regras sociais. Essas construções sociais se expressam na nossa
vivência cotidiana e ocupam os espaços sociais de maneira plural, formando o
que chamamos de multiculturalismo.
“
Apesar de o multiculturalismo estar atualmente em foco em nossa
sociedade, especialmente na educação, não há, nem de longe, dis-
cussões práticas suficientes acerca de como o contexto da sala de
aula pode ser transformado de modo a fazer do aprendizado uma
experiência de inclusão. Para que o esforço de respeitar e honrar a
realidade social e a experiência de grupos não brancos possa se refle-
tir num processo pedagógico, nós, como professores – em todos os
níveis, do ensino fundamental à universidade -, temos de reconhecer
que nosso estilo de ensino tem de mudar. Vamos encarar a realidade:
a maioria de nós frequentamos escolas onde o estilo de ensino refle-
tia a noção de uma única norma de pensamento e experiência, a qual
éramos encorajados a crer que fosse universal. Isso vale tanto para os
159
professores não brancos quanto para os brancos, A maioria de nós
UNIDADE 5
UNICESUMAR
mos que nossa pedagogia seja radicalmente transformada pelo reconhecimento
da multiculturalidade do mundo, podemos dar aos alunos a educação que eles
desejam e merecem" (HOOKS, 2013, p. 63). Diante dessa perspectiva, para a
construção de um processo educativo transformador e potencializador para
os educandos em uma dimensão multicultural, é preciso estabelecer diálogo
entre as mais diversas vozes.
Nesse sentido, é preciso que
“
o olhar do educador se estenda para além dos muros da escola,
contemplando as construções sociais que, diretamente associadas a
relações de poder e exclusão, orientam tanto os diferentes modos de
pensar e agir do alunado quanto a própria prática docente (SOUZA,
2006, p. 495).
161
CONSIDERAÇÕES FINAIS
UNIDADE 5
162
na prática
Após a leitura do texto apresentado e com base nos seus conhecimentos sobre as
contribuições da Antropologia Brasileira para a compreensão da diversidade cultural
do Brasil, indique a alternativa correta.
163
na prática
meu cesto, sem dizer nada. Eu me lembro, no entanto devia ser realmente muito
pequeno, senão não teria cabido debaixo daquele cesto! Minha mãe me escondia
pois também temia que os brancos me levassem com eles, como tinham roubado
aquelas crianças, da primeira vez. Era também para me acalmar, pois eu estava ater-
rorizado e só parava de chorar quando estava escondido. Todos os bens dos brancos
me assustavam também: tinha medo de seus motores, de suas lâmpadas elétricas,
de seus sapatos, de seus óculos e de seus relógios. Tinha medo da fumaça de seus
cigarros, do cheiro de sua gasolina. Tudo me assustava, porque nunca vira nada de
semelhante e ainda era pequeno! Mas, quando seus aviões nos sobrevoavam, eu não
era o único a ficar assustado, os adultos também tinham medo; alguns chegavam
mesmo a romper em soluços, e todo mundo fugia para a mata vizinha! Nós somos
habitantes da floresta, não conhecíamos os aviões e estávamos aterrorizados. Pen-
sávamos que eram seres sobrenaturais voadores que iam cair sobre nós e queimar
todos. Todos tínhamos muito medo de morrer! Eu me lembro que também tinha
medo das vozes que saíam dos rádios e da explosão dos fuzis que matavam a caça.
Perguntava-me o que todas aquelas coisas que pareciam sobrenaturais poderiam
ser! Perguntava-me também por que aquelas pessoas tinham vindo até nossa casa.
O relato do Líder indígena Davi Kopenawa Yanomami retrata a perspectiva dos povos
originários do Brasil com relação ao contato com os colonizadores europeus. No
trecho apresentado, é possível perceber um modo de perceber a vida em sociedade
muito diferente do que estamos acostumados. Analise o trecho e, considerando seus
conhecimentos sobre a etnologia brasileira, analise as afirmações a seguir:
164
na prática
religiosas se articulam entre si, como qualquer sistema social. Isso mostra que,
embora a lógica de vida dessa população seja diferente, eles possuem socieda-
des tão organizadas como a nossa.
II - O líder Yanomami revela, em seu relato, um ponto de vista diferente do que
conhecemos na historiografia tradicional, sua perspectiva nos alerta sobre os
equívocos da exploração e domínio de territórios que o processo de colonização
desenvolveu.
III - Darcy Ribeiro, em sua publicação sobre a formação da sociedade brasileira,
demonstra que a multiplicidade étnica e cultural brasileira foi forjada por um pro-
cesso de colonização cruel, repressivo e genocida das populações de indígenas
e africanos escravizados, contexto que repercute nos dias atuais na segregação
e exclusão dessas populações em nossa sociedade.
IV - A colonização e a exploração do território brasileiro não foi um processo violen-
to e trouxe muitos ganhos para a nossa nação. O Brasil só é um país cheio de
riquezas dado aos avanços que os europeus trouxeram.
V - Diferente da lógica capitalista de exploração das riquezas naturais, as comuni-
dades indígenas possuem uma relação com a natureza que respeita seus limites
e conserva a suas riquezas.
a) II, apenas.
b) II e III, apenas.
c) I, III, IV e V, apenas.
d) IV, apenas.
e) I, II, III, IV e V.
3. “Três mulheres vivem um horror para o qual será preciso inventar um nome. Elas são
Sanöma, um grupo da etnia Yanomami, e sua aldeia, Auaris, fica no que os brancos
chamam de Roraima, na fronteira do Brasil com a Venezuela. Elas não compreendem
a ideia de fronteira, para elas a terra é uma só e não tem cercas. Elas não falam
português, elas falam a sua língua. Em maio, essas mulheres e seus bebês foram
levados para Boa Vista, capital de Roraima, com suspeitas de pneumonia. Nos hos-
pitais, as crianças teriam sido contaminadas por covid-19. E lá morreram. E então
seus pequenos corpos desapareceram, possivelmente enterrados no cemitério da
cidade. Duas das mães estão com covid-19, amontoadas na Casa de Saúde Indígena
165
na prática
(CASAI), abarrotada de doentes. Lá, corroídas pelo vírus, elas imploram pelos seus
bebês” (EL PAÍS, 2020, on-line).
Reflita sobre essa situação das mães Yanomami e proponha qual ação deveria ser
a mais correta nesse caso, considerando uma relação de alteridade e respeito a
cultura indígena.
166
na prática
a) I, apenas.
b) III, apenas.
c) II, III e IV, apenas.
d) I, II e III, apenas.
e) I, II, III e IV.
I
“O padrão geral de vida social é importante, mas só pode ser compreendido por meio da
observarão dos indivíduos cujas ações configuram esse padrão” (WHYTE, 2008, p. 15-49).
II
“Assumimos o estudo de nosso meio, de nossas vidas, como algo relevante para
a antropologia que, por sua vez, contribuiria de modo significativo para uma com-
preensão mais rica e sutil da sociedade em que vivíamos” (VELHO, 2011, 161-185).
167
na prática
168
aprimore-se
169
aprimore-se
170
eu recomendo!
livro
livro
conecte-se
171
eu recomendo!
filme
filme
O Irlandês
Ano: 2019
Sinopse: o filme “O Irlandês” foi dirigido por Martin Scorsese e
com Robert De Niro, Al Pacino, Joe Pesci e Harvey Keitel no elen-
co, estreou e foi distribuído pela Netflix. A história é sobre um
veterano de guerra conhecido como "O Irlandês", que se torna
um matador de aluguel para uma máfia estadunidense.
Comentário: o cenário dessa produção se assemelha, em alguma
medida, ao meio urbano pesquisado pela escola de Chicago, movimento intelec-
tual que influenciou as produções da antropologia urbana no Brasil.
172
conclusão geral
conclusão geral
173
referências
ALMEIDA, M. W. B. de. Lewis Morgan: 140 anos dos Sistemas de Consanguinidade e Afinidade
da Família Humana (1871-2011). Cadernos de Campo, São Paulo, n. 19, p. 309-322, 2010.
AZEVEDO, F. et al. Manifestos dos pioneiros da Educação Nova (1932) e dos educadores
1959. Recife: Massangana, 2010.
BOAS, F. Raça e Progresso [1931]. In: BOAS, F. Antropologia Cultural. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2004.
BOBBIO, N., MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. Dicionário de política. 1. ed. Brasília: Universida-
de de Brasília, 1998.
BRASIL. Lei 9.394 de 20 de dezembro 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação na-
cional. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 3 nov.
2020.
COMTE, A. Cours de philosophie positive. In: COMTE, A. La science sociale. France: Gallimard,
1972.
CRUZ, R. L. Os trabalhadores rurais, as ciências sociais e a política - entrevista com Moacir Pal-
meira. Revista de Extensão e Estudos Rurais, Viçosa, a. 4, n. 1, jan./jun., 2015.
174
referências
FERNANDES, F. A Organização Social dos Tupinambá. São Paulo: Difusão Europeia do Livro,
1963.
FILLOUX, J.-C. Émile Durkheim. Tradução de Celso do Prado Ferraz de Carvalho e Miguel Hen-
rique Russo. Recife: Massangana, 2010. (Coleção Educadores).
FONSECA, C. Quando cada caso NÃO é um caso: pesquisa etnográfica e educação. Revista
Brasileira de Educação, São Paulo, n. 10, p. 58-78, jan./abr. 1999.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 14. ed. São
Paulo: Paz e Terra, 1996.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 59. ed. Rio de
Janeiro; São Paulo: Paz e Terra, 2019.
FREIRE, P. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: Unesp,
2020.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 56. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2014.
175
referências
GONZALEZ, L. Racismo e sexismo na cultura brasileira. Ciências Sociais Hoje, São Paulo, p.
223-244,1984.
ISKANDAR, J. I.; LEAL, M. R. Sobre positivismo e educação. Revista Diálogo Educacional, Curi-
tiba, v. 3, n. 7, p. 89-94, 2002.
MALINOWSKI, B. Argonautas do Pacífico Ocidental. São Paulo: Abril Cultural, 1998. (Os Pen-
sadores).
MARX, K. Crítica do Programa de Gotha. In: MARX, K.; ENGELS, F. Obras escolhidas. Tradução
de José Barata-Moura. Lisboa: Editorial Avante, 1985.
176
referências
NEVES, M. das. A concepção de raça humana em Raimundo Nina Rodrigues. Filosofia e Histó-
ria da Biologia, São Paulo, v. 3, p. 241-261, 2008.
OLIVEIRA, R. C. de. O que é isso que chamamos antropologia brasileira? In: OLIVEIRA, R. C. de.
Sobre o pensamento antropológico. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro; Brasília: CNPq, 1988.
PASCOE, C. J. Notas sobre uma sociologia do bullying: homofobia de homens jovens como
socialização de gênero. Tradução de Tálisson Melo de Souza. Teoria e Cultura, [S. I.], v. 13, n.
1, 2018.
PEREIRA, A. B. A maior zoeira: experiências juvenis na periferia de São Paulo. Tese (Doutora-
do em Antropologia Social) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade
de São Paulo, São Paulo, 2010.
RIBEIRO, A. M. Darcy Ribeiro e UnB: intelectuais, projeto e missão. Ensaio: Aval. Pol. Públ.
Educ., Rio de Janeiro, v. 25, n. 96, jul./set. 2017.
177
referências
RIBEIRO, D. O Povo Brasileiro: A formação e o sentido do Brasil. 2. ed. São Paulo: Companhia
das Letras, 1995.
RISTUM, M. Bullying escolar. In: ASSIS S. G.; CONSTANTINO P.; AVANCI J.Q. Impactos da vio-
lência na escola: um diálogo com professores. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2010.
SAVIANI, D. Florestan Fernandes e a Educação. Estudos Avançados, São Paulo, v. 10, n. 26. p.
71-87, 1996.
SELL, C. A Sociologia Weberiana da Ciência. Política & Sociedade, Florianópolis, v. 11, n. 20,
2012.
SOUZA, A. P.; CAMPOS, N. A concepção de educação de Émile Durkheim e suas interfaces com
o ensino. Luminária, União da Vitória, v. 18, n. 2, p. 12-20, 2016.
178
referências
URIARTE, U. M. O que é fazer etnografia para os antropólogos. Ponto Urbe, [S. I.], n. 11, p.
1-14, dez. 2012.
VARES, S. F. de. A Educação como Fato Social: uma análise sobre o pensamento pedagógico de
Durkheim. Revista Educação (UNG), Guarulhos, v. 6, n. 1, p. 29-44, 2011.
VELHO, G. Observando o Familiar. In: VELHO, G. Individualismo e Cultura: Notas para uma
antropologia da sociedade contemporânea. Rio de Janeiro: Zahar, 1977.
WEBER, M. Ciência e Política: duas vocações. 18. ed. Tradução de Leonidas Hegenberg e Oc-
tany Silva. São Paulo: Cultrix, 2011.
WEBER, M. Ensaios de Sociologia. 5. ed. Tradução de Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: LTC,
1982.
WEISS, R. Max Weber e o problema dos valores: as justificativas para a neutralidade axiológica.
Rev. Sociol. Polit., Curitiba, v. 22, n. 49, p. 113-137, 2014.
REFERÊNCIA ON-LINE
2 Em: https://www.geledes.org.br/antropologia-educacional-novo-olhar-sobre-pratica-educa-
tiva/. Acesso em: 3 nov. 2020.
179
gabarito
UNIDADE 2 UNIDADE 5
1. B. 1. C.
1. B. 4. D.
180
anotações
anotações
anotações
anotações