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AVANÇADA
Direito Penal Médico
Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe
haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o
que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
TIPOS PENAIS RELEVANTES
Casos específicos: cirurgias de esterilização (art. 15 da 9.263/96) e das cirurgias de transplante (art.
14 da lei 9.434/97).
Art. 15. Realizar esterilização cirúrgica em desacordo com o estabelecido no art. 10 desta Lei.
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, se a prática não constitui crime mais grave.
Art. 14. Remover tecidos, órgãos ou partes do corpo de pessoa ou cadáver, em desacordo com as
disposições desta Lei:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa, de 100 a 360 dias-multa.
Art. 16. Realizar transplante ou enxerto utilizando tecidos, órgãos ou partes do corpo humano de que
se tem ciência terem sido obtidos em desacordo com os dispositivos desta Lei:
Pena - reclusão, de um a seis anos, e multa, de 150 a 300 dias-multa.
Art. 18. Realizar transplante ou enxerto em desacordo com o disposto no art. 10 desta Lei e seu
parágrafo único:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
Dois • Promoção da
saúde e do bem-
paradigmas na estar
Ética
ética médica hipocrática
• Assimetria
• Paciente - objeto
de intervenção
• Paternalista
• Vontade do
paciente
Ética da
autonomia • Paciente -
sujeito de
intervenção
Fundamento jurídico-constitucional
SOLUÇÃO DOGMÁTICA?
- Exercício regular de direito (art. 23, III, CP)
- Consentimento
- Ausência de dolo
POSSUI O PACIENTE O DIREITO DE ESCOLHER E
RECUSAR TRATAMENTOS?
- Código Penal
Art. 146, § 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo:
I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu
representante legal, se justificada por iminente perigo de vida;
B) Pressupostos de validade
1) Disponibilidade?
2) Anterioridade e revogabilidade
3) Capacidade para consentir
- Capacidade penal? (Pierangeli). Civil? (CFM, Recomendação nº 1/2016 )
- Competência para usufruir dos próprios bens jurídicos e exercer o direito à
autodeterminação
- A opinião do menor deve ser “levada em consideração como um fator cada vez mais determinante,
em função da sua idade e do seu grau de maturidade” (Convenção de Direitos Humanos e
Biomedicina do Conselho da Europa, art. 6º, n. 2, assim como Recomendação CFM n. 1/2016)
- Intervenções executadas em incapazes devem visar ao seu benefício direto (ECA; art. 6º, 1, da
Convenção de Direitos Humanos e Biomedicina e no art. 7º, b, da Declaração Universal sobre
Bioética e Direitos Humanos)
4) Ausência de vícios de vontade (v.g. ameaça, violência, fraude ou erro)
• Estado de necessidade?
Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que
não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo
sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.
Caso 1. “Um médico ligou um paciente, que tinha dano cerebral irreversível e estava em estado de
inconsciência também irreversível, a um aparelho de respiração artificial. Dias depois, ao tomar
conhecimento de que nenhum tratamento teria chance de sucesso e de que a interrupção estava
de acordo com a vontade do paciente manifestada anteriormente, retornou e desligou o
respirador, levando-o à morte” (Alemanha, BGHSt 40, 257)
EUTANÁSIA E SUICÍDIO MEDICAMENTE ASSISTIDO
Caso 2. Em setembro de 2012, o médico psiquiatra e neurologista Dr. S havia emitido dois
pareceres referentes à senhora W, de 85 anos, e à senhora M, de 81, atestando a capacidade de
compreensão e julgamento de ambas e concluindo que, sob o ponto de vista psiquiátrico, não
havia objeções para o reconhecimento do genuíno desejo de auxílio para que pudessem suicidar-
se. Uma semana antes do suicídio, as senhoras assinaram um documento, em que deixavam clara
a vontade de colocar fim às suas vidas em paz e recusavam expressamente qualquer tipo de
intervenção para salvamento, caso fossem encontradas desacordadas antes da morte. No dia
designado para o suicídio, as senhoras se encontraram com o acusado, que lhes explicou as
especificidades do medicamento a ser ingerido. As senhoras frisaram que estavam certas da
vontade de tirarem suas vidas e, em seguida, beberam o líquido mortal. Após atestar a morte de
ambas, o médico aguardou um pouco e chamou os bombeiros (Alemanha, BGH 5 StR 132/18)
EUTANÁSIA ATIVA
• eu (bom) e thanatos (morte) = “morte boa”
• Sentido estrito e sentido amplo
ORTOTANÁSIA
• orthos (correto, adequado) e thanatos (morte).
• O médico deixa de realizar medidas extraordinárias e prolongadoras de uma vida que já se
aproxima do fim, permitindo, portanto, ‘que a morte siga seu curso natural’
• Importância dos cuidados paliativos (Princípio fundamental XXII do CEM)
Arts. 121 c/c art. 13, § 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia
agir para evitar o resultado.
EUTANÁSIA INDIRETA
Caso 1. “V, com um ano de idade, dera entrada em estado grave no hospital, precisando de
atendimento urgente. O clínico ali presente não era pediatra e encaminhou V e sua mãe ao setor
de pediatria. A médica pediatra de plantão (adiante M), não estava presente. Um recepcionista do
hospital instruiu a mãe a aguardar uma ambulância para remoção, mas em razão da demora, a
criança foi removida para outro hospital por uma viatura da radiopatrulha, ali chegando com
quadro agravado, que conduziu ao óbito” (ESTELLITA, Heloisa. Contornos da responsabilidade
omissiva imprópria dos médicos plantonistas. In.: SIQUEIRA, Flávia; ESTELLITA, Heloisa
(org.). Direito Penal da Medicina. São Paulo: Marcial Pons, 2020) (STF, RHC 78.707, Segunda
Turma, DJ 10/10/2003).
FUNDAMENTOS DA PUNIBILIDADE DO MÉDICO POR OMISSÃO IMPRÓPRIA
Art. 13,§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar
o resultado. O dever de agir incumbe a quem:
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.
• Garantidor de proteção
Qual o fundamento da posição de garante do medico?
• Profissão médica ou lei (?) (Bitencourt, Sporleder de Souza; cf. TJMG RESE
1.0114.05.055657-9/001)
• Contrato (Regis Prado)
Jurisprudência: há também decisões sem fundamento (cf. TJMG. RESE 1.0153.07.070027-0/001)
• E os médicos plantonistas?
FUNDAMENTOS DA PUNIBILIDADE DO MÉDICO POR OMISSÃO DE SOCORRO
Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança
abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente
perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
ERRO MÉDICO E CRIMES CULPOSOS NO EXERCÍCIO DA
MEDICINA
Caso 2. O médico M realizou uma cirurgia de lipoaspiração na paciente e, durante o procedimento,
perfurou, com a cânula utilizada no procedimento, dois órgãos vitais e uma artéria. Em decorrência
disso, a vítima teve uma hemorragia e morreu (TJSP Apelação Criminal 0005593-63.2014.8.26.0052).
ERRO MÉDICO E CRIMES CULPOSOS NO EXERCÍCIO DA
MEDICINA
Caso 3. C é médico cirurgião e A médico anestesista, sendo que ambos trabalham em um mesmo
Hospital. Antes de C e A realizarem uma cirurgia em conjunto, A se omitiu ao não checar as
mangueiras da mesa de anestesiologia e, por estarem cruzadas, acabou por ministrar no paciente P
doses de protóxido ao invés de oxigênio, o que ocasionou a morte de P (CESANO, José Daniel. Los
delitos de homicidio y lesiones imprudentes por mala praxis médica. Córdoba: Lerner, 2012, p. 123).
Variação 1. A anestesia foi realizada corretamente por A que, ao invés de permanecer na sala de
cirurgia controlando os sinais vitais de P, foi para outra sala de cirurgia e permaneceu atendendo outro
paciente durante toda a cirurgia de P. Houve uma complicação por falta de oxigenação cerebral no
meio do procedimento cirúrgico de P, a qual deveria ter sido constatada pelo anestesista, e diante disso
P entrou em coma e assim permaneceu por mais de 2 anos até vir a falecer de atrofia cerebral (SILVA
SÁNCHEZ, Jesús María. Aspectos de la responsabilidade penal por imprudência de médico
anestesista. Derecho y Salud, n. 2, jul-dez,1994, p. 43).
A violação de um dever objetivo de cuidado ou criação de risco não permitido
• “Via de regra, o dever objetivo de cuidado está fixado em normas administrativas ou disciplinares.
No caso dos médicos, a culpa decorrerá sobretudo se a sua atividade não corresponder ao que
estatui a respectiva lex artis” (SOUZA, Paulo Vinicius Sporleder de. Direito Penal Médico. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2009, p. 27).
Divisão de trabalho e princípio da confiança
“O indivíduo, ao atuar, não precisa preocupar-se a todo o tempo com a possível conduta incorreta de
terceiros que possa ensejar a ocorrência de um resultado lesivo, podendo confiar que os demais
participantes da atividade irão agir de acordo com as determinações normativas”. SIQUEIRA, Flávia.
O princípio da confiança no Direito Penal. Belo Horizonte: D’Plácido, 2016, p. 216.
Limites à confiança
Caso 1. A paciente P, de 18 anos, possui anemia falciforme e, durante uma crise
álgica, dirige-se ao hospital. Lá, P recebe a notícia de que somente por meio de
uma transfusão de sangue será possível salvar a sua vida. P, no entanto, é
testemunha de Jeová e, em razão de sua convicção religiosa, recusa-se
veementemente a receber a transfusão. Não obstante, o médico A, visando ao
salvamento da vida de P, submete-a ao procedimento contra a sua vontade,
salvando-lhe a vida.
Variação 1. A respeita a vontade de P e não realiza a transfusão de sangue. P
falece.