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MORFOLOGIA

Publicado a 08/03/2014
Este texto, baseado nos autores Margarida Basílio (2009), Maria Carlota Rosa (2011) e Rosa
Virginia Mattos (2002), é introdutório e tem a pretensão de servir como bibliografia
complementar no estudo dos Tópicos de Morfologia na Gramática Tradicional.
E para estudar esta disciplina na GT, aproveito a oportunidade para sugerir algumas gramáticas a
fim de fazer as devidas comparações entre os tópicos que envolvem a Morfologia. São elas:
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 34 ed. SP,CIA Ed.Nacional, 1992.
CUNHA, C. & CINTRA, L. Nova Gramática do Português Contemporâneo. RJ, Nova Fronteira,
1985.
MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia. Tradição gramatical e gramática tradicional. 5. ed. São
Paulo: Contexto, 2002.
MELO, Gladstone Chaves de. Gramática fundamental da língua portuguesa. 3 ed. Rio de Janeiro,
Ao Livro Técnico, 1978.
ROCHA LIMA, C. H. da. Gramática Normativa da Língua Portuguesa. 28 ed. Rio de Janeiro,
José Olympio, 1987.
SAID ALI, Manuel. Gramática Secundária da Língua Portuguesa. São Paulo, Melhoramentos,
1964.
 
TÓPICOS DE MORFOLOGIA
A morfologia é a disciplina da linguística que descreve e analisa os processos e regras de
formação e de criação de palavras, a sua estrutura interna, a composição e a organização dos seus
constituintes. Uma das grandes questões subjacentes à investigação morfológica são os
processos de formação de palavras. Os processos mais produtivos nas línguas são a flexão,
a derivação e a composição e para cada língua existem regras que regulam a formação
de palavras e cuja descrição também é feita pela morfologia.

Estrutura das palavras


“Observe a estrutura das palavras: sol, denti-ista, in-quiet-o, cant-a-mos, cha-l-eira

A análise destes exemplos mostra-nos que as palavras são formadas de unidades ou elementos
mórficos.

São os seguintes os elementos mórficos ou estruturas das palavras:

– raiz, radical, tema: elementos básicos e significativos;


– afixos (prefixos, sufixos), desinência, vogal temática: elementos modificadores da significação
do radical;
Os elementos mórficos dos grupos acima se denominam morfemas.
– vogal de ligação, consoante de ligação: elementos de ligação ou eufônicos.
A) Raiz
É o elemento originário e irredutível em que se concentra a significação das palavras,
consideradas do ângulo histórico. Geralmente monossilábica, a raiz encerra sentido lato e geral,
comum às palavras da mesma família etimológica.
Assim, a raiz noc (do latim nocere = prejudicar) tem a significação geral de causar dano, e a ela se
prendem, pela origem comum, as palavras nocivo, nocividade, inocente, inocentar, inócuo etc.
Uma raiz pode apresentar-se alterada: ag-ir, ag-ente, re-ag-ir, ex-ig-ir, ex-ig-ência, at-o, at-or etc.
Obs.: É a parte erudita (latina ou grega) que aponta a origem da palavra. Ex.: MACÉRrimo.
B) Radical
É o elemento básico e significativo das palavras, consideradas sob o aspecto gramatical e prático,
dentro da língua portuguesa atual. Acha-se o radical despojando-se a palavra de seus elementos
secundários (quando houver): CERT-o, CERT-eza, in-CERT-eza, CAFE-teira, a-JEIT-ar,
RECEB-er, EDUC-ar, EXEMPL-ar, PERMIT-ir, ex-PORT-ação, in-OBSERV-ância…

Observações:

– Em certas palavras só existe o radical: fé, mar, sol, traz etc.; em outras, o radical coincide com a
raiz: CAMP-o, NOC-ivo, re-NOV-ar, in-ÚT-il etc.

– O radical repete-se. Ex.: PEDRegulho, PEDRa, PEDREeiro

C) TEMA
É o radical acrescido de uma vogal (chamada vogal temática). Nos verbos, o tema se obtém
destacando-se o –r do infinitivo: CANTA-r, BATE-r, PARTI-r etc.
Nos nomes, o tema é mais evidente em derivados de verbos: CAÇA-dor, DEVE-dor, FINGI-
mento, PERDOÁ-vel, FERVE-nte etc.

D) AFIXOS
São elementos secundários (geralmente sem vida autônoma) que se agregam a um radical ou tema
para formar palavras derivadas. Chamam-se prefixos, quando antepostos ao radical ou tema, e
sufixos, quando pospostos. Assim, nas palavras inativo, empobrecer, internacional,
desanimador, imperdoável e predominante, temos:
prefixo  radical  sufixo
in               at         ivo

em          pobr       ecer

inter        nacion    al

des         anima     dor

im           perdoá    vel

pre          domina   nte

E) DESINÊNCIAS
São os elementos terminais indicativos das flexões das palavras. As desinências nominais indicam
as flexões de gênero (masculino e feminino) e de número (singular e plural) dos nomes. Exemplo:
menin-o,  menino-s

As desinências verbais indicam as flexões de número e pessoa e de modo e tempo dos verbos.
Exemplos: am-o, ama-s, ama-mos, ama-is, ama-m

                  ama-va, ama-va-s, ama-va etc.


A desinência  -o de amo é uma desinência número-pessoal, porque indica que o verbo está na 1ª
pessoa do singular; -va, de ama-va, é desinência modo-temporal: caracteriza uma forma verbal do
pretérito imperfeito do indicativo, na 1ª conjugação.
F) Vogal temática
É o elemento que, acrescido ao radical, forma o tema de nomes e verbos. Nos verbos, distinguem-
se três vogais temáticas:

– que caracteriza os verbos da 1ª conjugação: andar, andavas etc.

– que caracteriza os verbos da 2ª conjugação: bater, batemos etc.

– que caracteriza os verbos da 3ª conjugação: partir, partirá etc.

G) Vogais e consoantes de ligação


São fonemas que, em certas palavras derivadas ou compostas, se inserem entre os elementos
mórficos, em geral por motivos de eufonia, isto é, para facilitar a pronúncia de tais palavras.
Exemplos: silv-í-cola, cafe-t-eira, pe-z-inho, cha-l-eira, gas-ô-metro, rod-o-via etc.

H) Cognatos
São vocábulos que procedem de uma raiz comum. Tais palavras constituem uma família
etimológica. À raiz da palavra latina anima = espírito, por exemplo, prendem-se os seguintes
cognatos: alma, animal, animador, desanimar, animação, almejar, ânimo, desalmado etc.
I) Palavras primitivas e derivadas
Quanto à formação, as palavras podem ser primitivas ou derivadas.

– Palavras primitivas são as que não derivam de outras dentro da língua portuguesa: pedra, terra,
dente, pobre…

– Palavras derivadas são as que provêm de outras: pedreiro, enterrar, dentista, pobrezinho…

J) Palavras simples e compostas


Com relação ao radical, dividem-se as palavras em simples e compostas.

– Palavras simples são as que têm um só radical: livre, beleza, recomeçar, maquinismo,
desmatamento…

– Palavras compostas são as que apresentam mais de um radical. “Seus elementos, em muitos
casos, unem-se sem hífen: passatempo, automóvel, ferrovia, peixe-elétrico, melão-de-são-
caetano.” (CEGALLA, 2005, p. 91-94)
 
2.1 Objeto de estudo da morfologia
 Tradicionalmente se define a Morfologia como a parte da gramática que estuda a palavra do
ponto de vista da forma. Entretanto, é necessário especificar os termos centrais palavra e forma,
ambos altamente indeterminados, além de comuns à linguagem técnica e à linguagem cotidiana e
cambiantes, em diferentes visões do fenômeno linguístico. Segundo Mattos (2002), se
considerarmos, por exemplo, a gramática clássica, a morfologia se concentra na flexão; o objeto
de estudo seria o paradigma ou esquema de variações de forma da palavra na expressão de
categorias gramaticais. No século XIX, a palavra deixa de ser a unidade mínima de análise
linguística; a comparação de elementos gramaticais como suporte a hipóteses de relação genética
entre línguas favorece a adoção de um modelo de descrição que reconhece formativos como raiz e
desinência. O estruturalismo herda esta situação de desmembramento da palavra, sendo, portanto,
natural o estabelecimento do morfema como unidade básica da morfologia. O objeto de estudo da
morfologia no estruturalismo é, portanto, o morfema, e seus padrões de combinação. Em
consequência, a palavra passa a ser menos relevante, ou mesmo questionável como unidade
estrutural, ainda que Bloomfield, citado por Rosa (2011), proponha uma definição de palavra de
crucial relevância na metodologia de análise descritiva. Saussure – também citado por Rosa
(2011) – problematiza o escopo da Morfologia de outro ângulo, ao condenar a não inclusão da
lexicologia no âmbito da gramática, juntamente com a morfologia flexional; por outro lado,
considerando como do âmbito da morfologia a determinação de classes de palavras e formas de
flexão, duvida que esta possa constituir uma disciplina distinta da sintaxe. Saussure explicita,
ainda, os aspectos concretos e abstratos da palavra, e ressalta as dificuldades de delimitação.
Uma maior reviravolta no tema surge no gerativismo: nada mais radical do que a total eliminação
da morfologia e, portanto, do seu objeto de estudo enquanto tal, nos primeiros momentos do
gerativismo. Mas, mesmo quando instaurada a possibilidade de um componente morfológico na
versão original da Hipótese Lexicalista, ainda assim o objeto de estudo da morfologia na Teoria
Gerativa apresentará uma diferença fundamental em relação a abordagens anteriores, na medida
em que este objeto se desloca da forma externa para o conhecimento interno, correspondente à
capacidade de identificação de formas lexicais estruturalmente legítimas. O objeto de estudo da
Morfologia no gerativismo não é a forma concreta das palavras, mas a representação do
conhecimento lexical, através de regras que, em uma primeira fase, representam relações lexicais
e, posteriormente, determinam objetos morfológicos. Mais recentemente, no enfoque da
Morfologia Distribuída, a morfologia volta a ser dominada pela sintaxe. O morfema pode ser
considerado novamente a unidade básica, mas a relevância maior é atribuída ao feixe de traços
formais nos quais a inserção de traços fonológicos pode ser tardia. Assim, temos um retorno à
situação do estruturalismo e das primeiras fases do gerativismo, em que a palavra se torna
questionável como unidade básica da morfologia. (ROSA, 2011)

Talvez possamos dizer, então, que o objeto de estudo da morfologia tem oscilado entre duas
possibilidades:

(1) a palavra: na gramática clássica, e, portanto, na tradição gramatical, a morfologia estuda a


palavra e seu paradigma de variações de forma, na expressão de categorias flexionais; no
gerativismo lexicalista, o objeto da morfologia é a palavra enquanto item lexical estruturado por
padrões ou produto de regras de formação de objetos morfológicos.
(2) os elementos constituintes da palavra: no método comparativo, estes constituintes (raízes,
desinências) são concretos; no estruturalismo, estes elementos (os morfemas) são, sobretudo,
concretos, mas também abstratos, como meios de expressão de propriedades gramaticais; na
Morfologia Distribuída, os morfemas são fundamentalmente abstratos, consistindo, sobretudo, em
feixes de traços formais.
BASÍLIO, Margarida M. P. Morfologia: uma entrevista com Margarida Basílio. ReVEL. v. 7, n.
12, março de 2009. ISSN 1678-8931 [www.revel.inf.br].

Segundo Maria Carlota Rosa (2011), a diferença no tocante à unidade em que se centra o estudo
morfológico – o morfema (unidade mínima de som e significado) e a palavra – redunda de
maneiras também diferentes de focalizar a morfologia. De modo muito geral, podemos dizer que a
noção de morfema está relacionada com o estudo das técnicas de segmentação de palavras em
suas unidades constitutivas mínimas, ao passo que os estudos que privilegiam a noção de palavra
preocupam-se com o “modo pelo qual a estrutura das palavras reflete suas relações com outras
palavras em construções maiores, como a sentença, e com o vocabulário total da língua”.
(ANDERSON, 1972, p. 7 citado por ROSA, 2011, p. 15-16)

A autora irá definir palavra afora o uso na escrita como: a) unidade fonológica; b) elemento


mínimo da estrutura sintática e c) elemento do vocabulário da língua. (2011, p. 74) E
definirá lexema (palavras no léxico) como unidade abstrata, que tem significado lexical e pode
apresentar variações, caso se inclua entre as palavras variáveis. O lexema amar, por exemplo,
representa a combinação virtual dos radicais que pode apresentar com todas as propriedades
morfossintáticas com que se pode combinar e se quisermos focalizar apenas a primeira pessoa do
singular do presente do indicativo, teremos AMAR acompanhado de uma única entre as
possibilidades de realização das categorias gramaticais ou morfossintáticas
TEMPO/MODO/Aspecto e número/Pessoa. A palavra gramatical ou morfossintática é o lexema
(AMAR). (ROSA, 2011, p. 83-84)
2.2 Categorias morfológicas
Categoria significa conjunto de propriedades que se associa à determinada parte do discurso,
como Caso, Pessoa, Tempo, Modo, Voz, Gênero, Número…

2.2.1 Categorias e propriedades


Segundo P.H. Matthews (1972, p. 161-162 citado por Rosa, 2011, p. 119), o termo categoria é
empregado: a) para referir classes de palavras, como N (para nome) ou V (para verbo); b) para
representar as dimensões de um paradigma, como Número, por exemplo; c) para cada uma das
possibilidades de contraste no interior de uma dimensão, como Número Singular, Número Plural.

O uso em (a) se faz, em geral, nos trabalhos sobre sintaxe; em (b) para categoria morfossintática,
uma vez que estamos voltados para modificações na estrutura da palavra cuja ligação com a
estrutura sintática é estreita. A elementos como Presente, Passado, Futuro, membros da categoria
Tempo, e que ilustram (c), aplicaremos a denominação propriedades morfossintáticas.

 2.2.2 Categorias morfossintáticas


 De acordo com Rosa,

“Uma categoria morfossintática é obrigatória para uma classe de palavras como um todo numa
dada língua. Esperamos que qualquer verbo em português, por exemplo, tenha a dimensão
Número/Pessoa.

A realização de uma categoria morfossintática junto a um lexema como esta ou aquela


propriedade depende, no entanto, de mecanismos diversos dentro de uma construção. Se
pensamos na categoria Número em português, por exemplo, não precisamos de muito esforço para
concluir que sua realização nos adjetivos difere de sua realização nos nomes. É claro, não nos
estamos referindo às terminações que concretizam Singular ou Plural, mas aos mecanismos
sintáticos relacionados ao seu aparecimento numa palavra. O adjetivo em português terá o
Número do nome que funciona como núcleo do constituinte. O nome, por seu turno, não se
comporta do mesmo modo. No que respeita ao Número, é dele a propriedade (Singular ou Plural)
que deverá ser visível para a concordância com os modificadores ou, no caso de funcionar como
seu argumento externo, com o verbo.

A realização de uma categoria morfossintática num lexema se faz a partir de um elenco restrito de
possibilidades. Anderson (1982, 1985b) propôs três tipos de realização para as categorias
flexionais, mais tarde ampliados para quatro tipos (1992, 1997)”. (Rosa, 2011, p. 120)
 Em síntese:
Não é fácil definir categorias morfológicas, dada a heterogeneidade do conjunto
tradicionalmente levantado pelos linguístas. O melhor em se tratando dessas categorias é
fazer uma definição extensiva. Em português, nos interessam as categorias tratadas por
soluções baseadas em flexão. Assim sendo, vamos considerar as categorias de número,
gênero, pessoa, caso, tempo, modo. Poderíamos agregar à lista a categoria de definição,
ligada ao uso dos artigos, mas em português esta categoria é um caso limítrofe que precisa de
abordagem à parte.

Em outros idiomas, temos mais categorias como locativa, voz e categorias de caso mais ricas
que a existente em português.

De forma simplificada, consideramos categoria morfológica a solução baseada em


flexão, usada na língua para agregar traços específicos ao significado da palavra. Esses
traços se distribuem de forma complementar, ou seja, quando um está presente, fica
implícita a ausência do outro e todas as ocorrências possuem um dos traços possíveis.
Número
Nosso sistema de flexão em número comporta singular e plural. Línguas como o grego
apresentam singular, dual e plural. A categoria número tem função semântica, pois indica
singularidade ou pluralidade do significado do termo flexionado. Também apresenta função
sintática, pois as frases em português seguem regras de concordância em que alguns termos
da frase devem concordar entre si em número.
 Gênero
Em português, há dois gêneros: feminino e masculino. Não utilizamos o neutro, presente em
idiomas como inglês e alemão.
Em alguns casos, a função da categoria gênero é semântica, como nos pares a seguir:

O menino/a menina, o gato/a gata


Nos exemplos dados, a categoria gênero define um traço semântico, ou seja, estabelece o
sexo do ser representado pelo substantivo.

Em português, muitos substantivos a que não se pode associar característica de sexo, têm
gênero implícito. É o que se vê na série a seguir:

O garfo, a colher, a faca, o prato.


Não é possível atribuir característica semântica de sexo aos substantivos do exemplo, mas
em português, mesmo substantivos assexuados estão associados convencionalmente a um
gênero para garantir o funcionamento das regras de concordância sintática.
Grau
Em português, há dois sistemas de flexão de grau: o diminutivo–normal–aumentativo,
típico dos substantivos e adjetivos e o sistema normal–superlativo, usado com adjetivos.
Não temos flexão de grau comparativo como ocorre, por exemplo, no inglês.

John is tall. (João é alto.)

John is taller than Paul. (João é mais alto que Paulo.)


John is the tallest. (João é o mais alto.)
Caso
O caso está presente em nossa língua nas flexões dos pronomes pessoais. Observe o
exemplo:

Eu pedi o livro a ele.


Ele entregou o livro a mim.
Nas duas frases, o mesmo ente é representado ora por eu, ora por mim. Eu e mim têm funções
semelhantes, mas são usados em contextos diferentes. Eu é empregado quando o pronome
está em posição de sujeito da frase e mim, quando em função de objeto. Quando um lexema é
flexionado segundo a função sintática que desempenha na frase, temos flexão de caso.
Em português, os pronomes pessoais apresentam duas flexões de caso: oblíquo e reto.
A flexão de caso dos nossos pronomes pessoais é um resíduo do latim que permaneceu em
nossa gramática. Em latim, o uso das flexões de caso é bem mais intensivo, tanto que os
substantivos em latim clássico apresentavam seis flexões de caso.

Pessoa
A categoria de pessoa é usada para discriminar as pessoas do discurso. Elas são três no
português: primeira (quem fala), segunda (a quem se fala) e terceira (de quem se fala).

Tempo
Esta categoria morfológica também é típica dos verbos. Em nosso sistema verbal, temos
basicamente três tempos: futuro, passado e presente.
Modo
A categoria de modo está presente no sistema verbal do português. O verbo pode ser
flexionado em três modos diferentes: imperativo, indicativo e subjuntivo.
Simplificadamente, o modo indicativo é empregado para indicar ações de consumação certa,
o subjuntivo para expressar ações hipotéticas ou o desejo de que determinada ação venha a se
consumar e o imperativo é usado para incitar à ação.
Aspecto
Não existe só uma categoria de aspecto em português, mas três, que agrupamos em uma só
por se manifestarem em apenas algumas flexões do sistema verbal.

De afirmação
O aspecto de afirmação está presente nas flexões verbais do modo imperativo. Este tempo
verbal pode ter aspecto afirmativo, quando se incita positivamente à ação ou negativo,
quando se incita a não consumar a ação.
De consumação
O aspecto de consumação ocorre nas flexões verbais do futuro do modo indicativo. Este
aspecto pode ser confirmado, caso a ação seja considerada como certa no futuro ou
então, cancelado, quando a ação é dada como não passível de consumação futura.
De duração
O aspecto de duração está presente nos tempos verbais do modo indicativo passado. Temos o
aspecto pontual que indica ações consumadas em um momento específico. O
aspecto durativo indica ações que se estendem para aquém e além de uma determinada
marca temporal no passado. O aspecto imperfeito indica ações continuadas no passado. Por
fim, o aspecto anterior indica ação consumada em um passado anterior a uma marca
temporal do passado.
Outras categorias morfológicas
Existem mais categorias morfológicas em outros idiomas. Em português, não temos flexão
de voz, como ocorre, por exemplo, no latim clássico. Em nossa língua, a distinção de voz é
feita com soluções sintáticas que dispensam flexão.

O artigo: morfema flexivo de definição


A Gramática Tradicional e as convenções de escrita estabelecem que artigo é palavra, o que
contraria a definição de palavra como forma livre mínima. Mas se admitirmos que artigo é
morfema flexivo, então, temos mais uma categoria de flexão no português: a definição. A
categoria flexiva definição supre a necessidade semântica de distinguir entre dualidades
como: particular/genérico, próprio/comum, definido/indefinido. Os artigos do português
apresentam flexão definida e indefinida.
Finitude
A Gramática Tradicional considera a categoria de finitude,  específica dos verbos. Há duas
opções de finitude: finita e infinita. A flexão do verbo é finita quando porta informação de
tempo e modo e infinita quando indeterminada em tempo e modo.
São finitas flexões como: fizemos, fazíamos e faremos.
São infinitas: fazer, fazendo e feito.
A rigor, a categoria de finitude pode ser tratada como a categoria das flexões indefinidas em
tempo e modo. Tudo depende de como classificamos as flexões verbais em português.
Optamos por desconsiderar a categoria de finitude em nossa análise porque não há prejuízo
em tratar as flexões infinitas como indeterminadas em tempo e modo. Com isso,
simplificamos a classificação.
2.2.2.1 Propriedades inerentes
São aquelas pertencentes a cada palavra e acessíveis à sintaxe, para que se faça, por exemplo, a
concordância.

2.2.2.2 Propriedades de concordância


São aquelas que dependem das que estão presentes em outro item na estrutura sintática. Esse
elemento é o controlador da concordância. O controlador determina as propriedades que serão
estendidas pela concordância, secundariamente, aos alvos – isto é, aos elementos da construção
que concordam com ele.

2.2.2.3 Propriedades configuracionais ou relacionais


São aquelas que dependem diretamente de sua posição em construções mais amplas e talvez de
propriedades lexicais de outras palavras em tal construção. Entram aqui a indicação morfológica
de relações gramaticais, incluindo-se os fenômenos tradicionalmente estudados como regência.

2.2.2.4 Propriedades de constituinte


Podem realizar-se em uma única palavra da estrutura, seja no núcleo, seja na primeira ou na
última palavra do constituinte. Realiza-se no SN, isto é, no nome.

 2.2.3 Morfologia flexional


 É aquela marcação aberta de Gênero (masculino/feminino) entre as línguas do mundo. “A
categoria de gênero é inerente nos nomes, mas frequentemente não é a base de qualquer processo
gramatical aplicado aos nomes: realiza-se abertamente apenas em outras áreas da flexão, através
da operação de concordância.” (ANDERSON, 1985b, p. 177 apud ROSA, 2011, p. 127) A
morfologia flexional é aquela relevante para a sintaxe.
A flexão é a variação de uma palavra sem que haja alteração da sua categoria sintática.
As categorias sintáticas afetadas pela flexão em português são os nomes, os adjetivos,
os verbos e alguns determinantes e pronomes variáveis. Nos nomes e adjetivos,
a flexão é marcada por uma substituição de morfemas no final da palavra
que traduz oposições significativas de masculino/feminino e  singular/plural. O mesmo
ocorre em alguns determinantes e pronomes flexionáveis em gênero
e número, como os possessivos (meu, minha, meus, minhas) ou os demonstrativos (este,
esta, estes, estas). Nos verbos, a variação dos morfemas flexionais fornece, para 
o português, informações de Modo, Tempo, Pessoa e Número e distribui-se por três
paradigmas flexionais ou conjugações (em -ar, -er e -ir).
A derivação opõe-se à flexão na medida em que a variação operada pelos morfemas (sufixos ou
prefixos) pode conduzir à alteração da categoria sintática da palavra. Assim, a palavra  ler (verbo),
pode dar origem a uma rede de outras palavras com ela relacionadas quanto à forma,
como reler (verbo), leitura (nome), legível (adjetivo) etc.
A composição cria palavras a partir da combinação de outras palavras, podendo estas manter
a sua autonomia formal e acentual (no caso da justaposição, por exemplo: porta-chaves) ou
perdê-las no caso de compostos mais antigos que sofreram alterações fonológicas profundas
(na aglutinação, por exemplo: fidalgo – homem nobre).

 2.2.4 Vogal temática


 Segundo Basílio (1993, p. 295 citado por Rosa, 2011, p. 128), “(…) entende-se por vogal
temática uma vogal que se agrega ao radical formando o tema, definido como a base morfológica
para a flexão. A vogal temática é, portanto, um elemento de definição flexional: defini-se em
oposição ao radical, caracterizando a base da flexão”.

Ex.: andá-      -va-      -mos

                    Tema*       Num/Pess


* Forma marcada para tempo

 2.3 Classes de palavras


 As palavras foram distribuídas em classes ou, na nomenclatura tradicional, em partes do discurso.
São dez classes de palavras – nome, artigo, adjetivo, pronome, numeral, verbo, advérbio,
preposição, conjunção e interjeição.
 2.3.1 A classificação das classes de palavras
As palavras, consoante o tipo de significado que têm, classificam-se em classes menores e em
classes principais.

 2.3.1.1 Quanto ao tipo de significado: significado lexical e significado gramatical


Significado refere-se àquilo que denominamos tecnicamente significado lexical. Os nomes, os
adjetivos, os verbos e os advérbios são palavras que, sozinhas, referem, basicamente, seres,
qualidades, estados, ações, ou condições que os afetam, como modo, tempo, lugar. Entretanto, é
difícil definir o significado de de se excluímos o ambiente em que se insere. Daí dizer-se que tais
palavras têm significado gramatical. Preposições/posposições, conjunções, pronomes, artigos,
verbos auxiliares fazem parte deste segundo grupo.
Desta distinção entre os tipos de significado que as palavras podem expressar, aliada a
características sintáticas e morfológicas, decorre uma divisão das palavras em dois grandes
grupos: as palavras lexicais e as palavras funcionais.
As palavras que têm significado lexical são rotuladas palavras lexicais, ou palavras de conteúdo,
ou ainda palavras plenas ou contentivos. As palavras que têm significado gramatical são as
palavras funcionais, também denominadas palavras gramaticais, palavras estruturais, palavras
vazias, palavras instrumentais ou functores. (2011, p. 100-101)

A diferença entre os tipos de significado fundamentou a distinção entre morfemas gramaticais ou


afixos e morfemas lexicais ou semantemas ou raízes. A significação do vocábulo resulta da soma
dos significados desses elementos, pela composicionalidade. A raiz guarda o significado lexical.
As palavras que têm raízes são aquelas que, na maioria das vezes, podem servir de base ao
vocabulário novo que vai sendo criado em uma língua.

Palavras como de, no entanto, são desprovidas de raízes; por essa razão são referidas muitas vezes
como morfemas. Os afixos flexionais e derivacionais concentram o significado gramatical. Se o
conteúdo lexical costuma estar expresso nas raízes, e o gramatical nos afixos, é bom frisar, no
entanto, que isso nem sempre acontece, e que as línguas podem tratar um mesmo conceito de
modos diferentes. (ROSA, 2011, p. 102)
2.3.2 Quanto à possibilidade de gerar vocabulário: classes abertas e classes fechadas
As palavras que apresentam significado lexical formam, em geral, classes abertas, classes que, em
princípio, sempre podem ser acrescentadas novas criações; as palavras que apresentam significado
gramatical, formam classes fechadas.

2.3.2.1 Classes abertas


a) Nome (N): nome para os seres em geral; função mais comum: funcionar como argumento ou
como núcleo de argumentos.

O menino      quebrou        a janela.

argumento    predicador    argumento

externo                              interno

b) Verbo (V): expressa ações e processos, isto é, um acontecimento representado no tempo; sua
função típica é de predicado.

c) Adjetivo (A): indicam atributos ou qualidades; funcionam como modificadores do nome.

c.1) O cavalo branco

c.2) O cavalo é branco

d) Advérbio (Adv): indicam direção, local, tempo, modo, intensidade; são modificadores, mas não
do nome; modificam o verbo (Falava lentamente), o adjetivo (felizmente), outro advérbio (É
extremamente rico).

2.3.2.2 Classes fechadas


Carregam significado, geram vocabulário novo. São elas: pró-formas (pronome, pró-adjetivo, pró-
advérbio, pró-verbo, pró-oração e pró-sentença), marcadores, determinantes, classificadores,
auxiliares, conjunções, preposições/posposições, interjeições.
2.3.2.3 As Pró-formas
Pró-forma é a denominação que engloba as palavras que substituem ou uma palavra lexical, ou
um sintagma, ou mesmo uma oração ou sentença.
Pronomes substituem os nomes ou sintagmas nominais.
Pró-adjetivos, pró-advérbios e pró-verbos (ex.: certos usos de fazer – Ainda não comprei o
vestido, mas faço isso hoje): podem substituir tanto um adjetivo, um advérbio ou um verbo como
um SA, SAdv, SV.
Pró-oração substitui uma oração. (Eu acho que sim. I believe so.)
Pró-setença é a palavra que pode, em isolado, servir de resposta a uma pergunta.
Você vai à festa? Não.

Você gosta de bolo? Sim.

Marcadores sinalizam uma relação gramatical (de modo: solicitar algo do ouvinte como: por
favor; de polidez, usando senhor, senhora…).
Determinantes modificam o nome no caso do artigo por exemplo.
Auxiliares são verbos que expressam o Tempo, Modo, Aspecto, Voz dos verbos: Vou
cantar/Tinha cantado.
Conjunções são palavras que unem elementos (conjunções coordenativas e subordinativas).
Preposições/posposições são elementos que ocorrem, respectivamente, antes ou depois de um
complemento que inclui um nome, pronome, SN ou oração que funciona como um SN e, em
conjunto com o complemento, expressam sua relação com outra unidade na oração.
Interjeições são a expressão de emoções e não têm relação sintática com o restante da frase.
2.4 Exemplos de categorias morfossintáticas mais comuns em classes abertas
A voz (ativa, passiva) e transitividade (transitivo, intransitivo) são exemplos de categorias
morfossintáticas. Resumindo as possibilidades de flexão de cada categoria morfológica do
português, temos a seguinte tabela:

Categoria Flexões

Número Plural e singular

Gênero Feminino e masculino

Grau Aumentativo, diminutivo, comparativo, e superlativo

Caso Oblíquo e reto

Pessoa Primeira, segunda e terceira

Tempo Futuro, passado e presente

Modo Imperativo, indicativo e subjuntivo

Aspecto de
afirmação Negativo e positivo

Aspecto de
consumação Cancelado e confirmado

Aspecto de
duração Anterior, durativo e pontual
Definição Definido e indefinido

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