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Publicado a 08/03/2014
Este texto, baseado nos autores Margarida Basílio (2009), Maria Carlota Rosa (2011) e Rosa
Virginia Mattos (2002), é introdutório e tem a pretensão de servir como bibliografia
complementar no estudo dos Tópicos de Morfologia na Gramática Tradicional.
E para estudar esta disciplina na GT, aproveito a oportunidade para sugerir algumas gramáticas a
fim de fazer as devidas comparações entre os tópicos que envolvem a Morfologia. São elas:
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 34 ed. SP,CIA Ed.Nacional, 1992.
CUNHA, C. & CINTRA, L. Nova Gramática do Português Contemporâneo. RJ, Nova Fronteira,
1985.
MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia. Tradição gramatical e gramática tradicional. 5. ed. São
Paulo: Contexto, 2002.
MELO, Gladstone Chaves de. Gramática fundamental da língua portuguesa. 3 ed. Rio de Janeiro,
Ao Livro Técnico, 1978.
ROCHA LIMA, C. H. da. Gramática Normativa da Língua Portuguesa. 28 ed. Rio de Janeiro,
José Olympio, 1987.
SAID ALI, Manuel. Gramática Secundária da Língua Portuguesa. São Paulo, Melhoramentos,
1964.
TÓPICOS DE MORFOLOGIA
A morfologia é a disciplina da linguística que descreve e analisa os processos e regras de
formação e de criação de palavras, a sua estrutura interna, a composição e a organização dos seus
constituintes. Uma das grandes questões subjacentes à investigação morfológica são os
processos de formação de palavras. Os processos mais produtivos nas línguas são a flexão,
a derivação e a composição e para cada língua existem regras que regulam a formação
de palavras e cuja descrição também é feita pela morfologia.
A análise destes exemplos mostra-nos que as palavras são formadas de unidades ou elementos
mórficos.
Observações:
– Em certas palavras só existe o radical: fé, mar, sol, traz etc.; em outras, o radical coincide com a
raiz: CAMP-o, NOC-ivo, re-NOV-ar, in-ÚT-il etc.
C) TEMA
É o radical acrescido de uma vogal (chamada vogal temática). Nos verbos, o tema se obtém
destacando-se o –r do infinitivo: CANTA-r, BATE-r, PARTI-r etc.
Nos nomes, o tema é mais evidente em derivados de verbos: CAÇA-dor, DEVE-dor, FINGI-
mento, PERDOÁ-vel, FERVE-nte etc.
D) AFIXOS
São elementos secundários (geralmente sem vida autônoma) que se agregam a um radical ou tema
para formar palavras derivadas. Chamam-se prefixos, quando antepostos ao radical ou tema, e
sufixos, quando pospostos. Assim, nas palavras inativo, empobrecer, internacional,
desanimador, imperdoável e predominante, temos:
prefixo radical sufixo
in at ivo
inter nacion al
E) DESINÊNCIAS
São os elementos terminais indicativos das flexões das palavras. As desinências nominais indicam
as flexões de gênero (masculino e feminino) e de número (singular e plural) dos nomes. Exemplo:
menin-o, menino-s
As desinências verbais indicam as flexões de número e pessoa e de modo e tempo dos verbos.
Exemplos: am-o, ama-s, ama-mos, ama-is, ama-m
H) Cognatos
São vocábulos que procedem de uma raiz comum. Tais palavras constituem uma família
etimológica. À raiz da palavra latina anima = espírito, por exemplo, prendem-se os seguintes
cognatos: alma, animal, animador, desanimar, animação, almejar, ânimo, desalmado etc.
I) Palavras primitivas e derivadas
Quanto à formação, as palavras podem ser primitivas ou derivadas.
– Palavras primitivas são as que não derivam de outras dentro da língua portuguesa: pedra, terra,
dente, pobre…
– Palavras derivadas são as que provêm de outras: pedreiro, enterrar, dentista, pobrezinho…
– Palavras simples são as que têm um só radical: livre, beleza, recomeçar, maquinismo,
desmatamento…
– Palavras compostas são as que apresentam mais de um radical. “Seus elementos, em muitos
casos, unem-se sem hífen: passatempo, automóvel, ferrovia, peixe-elétrico, melão-de-são-
caetano.” (CEGALLA, 2005, p. 91-94)
2.1 Objeto de estudo da morfologia
Tradicionalmente se define a Morfologia como a parte da gramática que estuda a palavra do
ponto de vista da forma. Entretanto, é necessário especificar os termos centrais palavra e forma,
ambos altamente indeterminados, além de comuns à linguagem técnica e à linguagem cotidiana e
cambiantes, em diferentes visões do fenômeno linguístico. Segundo Mattos (2002), se
considerarmos, por exemplo, a gramática clássica, a morfologia se concentra na flexão; o objeto
de estudo seria o paradigma ou esquema de variações de forma da palavra na expressão de
categorias gramaticais. No século XIX, a palavra deixa de ser a unidade mínima de análise
linguística; a comparação de elementos gramaticais como suporte a hipóteses de relação genética
entre línguas favorece a adoção de um modelo de descrição que reconhece formativos como raiz e
desinência. O estruturalismo herda esta situação de desmembramento da palavra, sendo, portanto,
natural o estabelecimento do morfema como unidade básica da morfologia. O objeto de estudo da
morfologia no estruturalismo é, portanto, o morfema, e seus padrões de combinação. Em
consequência, a palavra passa a ser menos relevante, ou mesmo questionável como unidade
estrutural, ainda que Bloomfield, citado por Rosa (2011), proponha uma definição de palavra de
crucial relevância na metodologia de análise descritiva. Saussure – também citado por Rosa
(2011) – problematiza o escopo da Morfologia de outro ângulo, ao condenar a não inclusão da
lexicologia no âmbito da gramática, juntamente com a morfologia flexional; por outro lado,
considerando como do âmbito da morfologia a determinação de classes de palavras e formas de
flexão, duvida que esta possa constituir uma disciplina distinta da sintaxe. Saussure explicita,
ainda, os aspectos concretos e abstratos da palavra, e ressalta as dificuldades de delimitação.
Uma maior reviravolta no tema surge no gerativismo: nada mais radical do que a total eliminação
da morfologia e, portanto, do seu objeto de estudo enquanto tal, nos primeiros momentos do
gerativismo. Mas, mesmo quando instaurada a possibilidade de um componente morfológico na
versão original da Hipótese Lexicalista, ainda assim o objeto de estudo da morfologia na Teoria
Gerativa apresentará uma diferença fundamental em relação a abordagens anteriores, na medida
em que este objeto se desloca da forma externa para o conhecimento interno, correspondente à
capacidade de identificação de formas lexicais estruturalmente legítimas. O objeto de estudo da
Morfologia no gerativismo não é a forma concreta das palavras, mas a representação do
conhecimento lexical, através de regras que, em uma primeira fase, representam relações lexicais
e, posteriormente, determinam objetos morfológicos. Mais recentemente, no enfoque da
Morfologia Distribuída, a morfologia volta a ser dominada pela sintaxe. O morfema pode ser
considerado novamente a unidade básica, mas a relevância maior é atribuída ao feixe de traços
formais nos quais a inserção de traços fonológicos pode ser tardia. Assim, temos um retorno à
situação do estruturalismo e das primeiras fases do gerativismo, em que a palavra se torna
questionável como unidade básica da morfologia. (ROSA, 2011)
Talvez possamos dizer, então, que o objeto de estudo da morfologia tem oscilado entre duas
possibilidades:
Segundo Maria Carlota Rosa (2011), a diferença no tocante à unidade em que se centra o estudo
morfológico – o morfema (unidade mínima de som e significado) e a palavra – redunda de
maneiras também diferentes de focalizar a morfologia. De modo muito geral, podemos dizer que a
noção de morfema está relacionada com o estudo das técnicas de segmentação de palavras em
suas unidades constitutivas mínimas, ao passo que os estudos que privilegiam a noção de palavra
preocupam-se com o “modo pelo qual a estrutura das palavras reflete suas relações com outras
palavras em construções maiores, como a sentença, e com o vocabulário total da língua”.
(ANDERSON, 1972, p. 7 citado por ROSA, 2011, p. 15-16)
O uso em (a) se faz, em geral, nos trabalhos sobre sintaxe; em (b) para categoria morfossintática,
uma vez que estamos voltados para modificações na estrutura da palavra cuja ligação com a
estrutura sintática é estreita. A elementos como Presente, Passado, Futuro, membros da categoria
Tempo, e que ilustram (c), aplicaremos a denominação propriedades morfossintáticas.
“Uma categoria morfossintática é obrigatória para uma classe de palavras como um todo numa
dada língua. Esperamos que qualquer verbo em português, por exemplo, tenha a dimensão
Número/Pessoa.
A realização de uma categoria morfossintática num lexema se faz a partir de um elenco restrito de
possibilidades. Anderson (1982, 1985b) propôs três tipos de realização para as categorias
flexionais, mais tarde ampliados para quatro tipos (1992, 1997)”. (Rosa, 2011, p. 120)
Em síntese:
Não é fácil definir categorias morfológicas, dada a heterogeneidade do conjunto
tradicionalmente levantado pelos linguístas. O melhor em se tratando dessas categorias é
fazer uma definição extensiva. Em português, nos interessam as categorias tratadas por
soluções baseadas em flexão. Assim sendo, vamos considerar as categorias de número,
gênero, pessoa, caso, tempo, modo. Poderíamos agregar à lista a categoria de definição,
ligada ao uso dos artigos, mas em português esta categoria é um caso limítrofe que precisa de
abordagem à parte.
Em outros idiomas, temos mais categorias como locativa, voz e categorias de caso mais ricas
que a existente em português.
Em português, muitos substantivos a que não se pode associar característica de sexo, têm
gênero implícito. É o que se vê na série a seguir:
Pessoa
A categoria de pessoa é usada para discriminar as pessoas do discurso. Elas são três no
português: primeira (quem fala), segunda (a quem se fala) e terceira (de quem se fala).
Tempo
Esta categoria morfológica também é típica dos verbos. Em nosso sistema verbal, temos
basicamente três tempos: futuro, passado e presente.
Modo
A categoria de modo está presente no sistema verbal do português. O verbo pode ser
flexionado em três modos diferentes: imperativo, indicativo e subjuntivo.
Simplificadamente, o modo indicativo é empregado para indicar ações de consumação certa,
o subjuntivo para expressar ações hipotéticas ou o desejo de que determinada ação venha a se
consumar e o imperativo é usado para incitar à ação.
Aspecto
Não existe só uma categoria de aspecto em português, mas três, que agrupamos em uma só
por se manifestarem em apenas algumas flexões do sistema verbal.
De afirmação
O aspecto de afirmação está presente nas flexões verbais do modo imperativo. Este tempo
verbal pode ter aspecto afirmativo, quando se incita positivamente à ação ou negativo,
quando se incita a não consumar a ação.
De consumação
O aspecto de consumação ocorre nas flexões verbais do futuro do modo indicativo. Este
aspecto pode ser confirmado, caso a ação seja considerada como certa no futuro ou
então, cancelado, quando a ação é dada como não passível de consumação futura.
De duração
O aspecto de duração está presente nos tempos verbais do modo indicativo passado. Temos o
aspecto pontual que indica ações consumadas em um momento específico. O
aspecto durativo indica ações que se estendem para aquém e além de uma determinada
marca temporal no passado. O aspecto imperfeito indica ações continuadas no passado. Por
fim, o aspecto anterior indica ação consumada em um passado anterior a uma marca
temporal do passado.
Outras categorias morfológicas
Existem mais categorias morfológicas em outros idiomas. Em português, não temos flexão
de voz, como ocorre, por exemplo, no latim clássico. Em nossa língua, a distinção de voz é
feita com soluções sintáticas que dispensam flexão.
Palavras como de, no entanto, são desprovidas de raízes; por essa razão são referidas muitas vezes
como morfemas. Os afixos flexionais e derivacionais concentram o significado gramatical. Se o
conteúdo lexical costuma estar expresso nas raízes, e o gramatical nos afixos, é bom frisar, no
entanto, que isso nem sempre acontece, e que as línguas podem tratar um mesmo conceito de
modos diferentes. (ROSA, 2011, p. 102)
2.3.2 Quanto à possibilidade de gerar vocabulário: classes abertas e classes fechadas
As palavras que apresentam significado lexical formam, em geral, classes abertas, classes que, em
princípio, sempre podem ser acrescentadas novas criações; as palavras que apresentam significado
gramatical, formam classes fechadas.
externo interno
b) Verbo (V): expressa ações e processos, isto é, um acontecimento representado no tempo; sua
função típica é de predicado.
d) Advérbio (Adv): indicam direção, local, tempo, modo, intensidade; são modificadores, mas não
do nome; modificam o verbo (Falava lentamente), o adjetivo (felizmente), outro advérbio (É
extremamente rico).
Marcadores sinalizam uma relação gramatical (de modo: solicitar algo do ouvinte como: por
favor; de polidez, usando senhor, senhora…).
Determinantes modificam o nome no caso do artigo por exemplo.
Auxiliares são verbos que expressam o Tempo, Modo, Aspecto, Voz dos verbos: Vou
cantar/Tinha cantado.
Conjunções são palavras que unem elementos (conjunções coordenativas e subordinativas).
Preposições/posposições são elementos que ocorrem, respectivamente, antes ou depois de um
complemento que inclui um nome, pronome, SN ou oração que funciona como um SN e, em
conjunto com o complemento, expressam sua relação com outra unidade na oração.
Interjeições são a expressão de emoções e não têm relação sintática com o restante da frase.
2.4 Exemplos de categorias morfossintáticas mais comuns em classes abertas
A voz (ativa, passiva) e transitividade (transitivo, intransitivo) são exemplos de categorias
morfossintáticas. Resumindo as possibilidades de flexão de cada categoria morfológica do
português, temos a seguinte tabela:
Categoria Flexões
Aspecto de
afirmação Negativo e positivo
Aspecto de
consumação Cancelado e confirmado
Aspecto de
duração Anterior, durativo e pontual
Definição Definido e indefinido