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Fertilidade dos Solos e

Manejo da Adubação
de Culturas
FERTILIDADE DOS
SOLOS E MANEJO
DA ADUBAÇÃO
DE CULTURAS
CARLOS ALBERTO BISSANI
CLESIO GIANELLO
FLÁVIO A. DE OLIVEIRA CAMARGO
MARINO JOSÉ TEDESCO

2ª. Edição
(Revisada e ampliada )

Editora Metrópole

Porto Alegre, março de 2008


© dos autores
1ª edição: 2004
2ª edição: 2008
tiragem: 1000 exemplares

Capa, diagramação e gravuras: Flávio A.O. Camargo


Revisão final e de provas: Os autores
Fotolitos e impressão: Metrópole Indústria Gráfica LTDA

Pedidos desta obra:

FAURGS - Laboratório de Análise de Solos


Av. Bento Gonçalves, 7712
Porto Alegre - RS
91570-000
Tel: (51) 3316 6024
email: labsolos@terra.com.br; fcamargo.ufrgs.br

CIP - CATALOGAÇÃO INTERNACIONAL NA PUBLICAÇÃO


Biblioteca Setorial da Faculdade de Agronomia da UFRGS
F411 Fertilidade dos solos e manejo da adubação de culturas / Carlos Alberto Bissani ...
[et al.] -- Porto Alegre : Metrópole, 2008.

344p.

Revisada, ampliada e atualizada em relação do Manual de Adubação e de


Calagem publicado em 2004.

1. Fertilidade do solo. 2. Adubação. 3. Calagem. 4. Solos : Rio Grande do Sul


: Santa Catarina. I. Bissani, Carlos Alberto. II. Título.

CDD: 631.422
CDU: 636.4
Catalogação na publicação:

Biblioteca Setorial da Faculdade de Agronomia da UFRGS


Sumário
Pág.
Apresentação .................................................................................................. vii

Capítulo 01 Importância do estudo da fertilidade do solo.................... 09

Capítulo 02 Fatores que afetam o rendimento das culturas e sistemas


de cultivos............................................................................... 21

Capítulo 03 Suprimento de nutrientes pelo solo e sua absorção pelas


plantas................................................................................... 33

Capítulo 04 Avaliação da fertilidade do solo............................................. 43

Capítulo 05 Amostragem de solo e de plantas para análise................. 49

Capítulo 06 Metodologia de análises de solo, plantas, adubos


orgânicos e resíduos.............................................................. 61

Capítulo 07 Interpretação dos resultados das análises de solo e de


tecido vegetal......................................................................... 69

Capítulo 08 Acidez do solo e seus efeitos nas plantas......................... 77

Capítulo 09 Correção da acidez do solo e materiais utilizados............. 97

Capítulo 10 Fósforo e adubos fosfatados.............................................. 111

Capítulo 11 Potássio e adubos potássicos............................................. 131

Capítulo 12 Nitrogênio e adubos nitrogenados..................................... 145

v
Capítulo 13 Recomendações de adubação............................................ 167

Capítulo 14 Adubos orgânicos, organo-minerais e agricultura orgânica 189

Capítulo 15 Solos alagados........................................................................ 201

Capítulo 16 Adubação foliar e hidroponia................................................. 209

Capítulo 17 Enxofre, cálcio e magnésio................................................. 221

Capítulo 18 Micronutrientes................................................................... 235

Capítulo 19 Fertilizantes e formulações comerciais............................. 253

Capítulo 20 Manejo da fertilidade do solo............................................. 265

Capítulo 21 Solos afetados por sais........................................................... 279

Bibliografia citada....................................................................................... 291

Anexos
Anexo 01 Classificação dos solos dos estados do RS e SC............................. 305

Anexo 02 Amostragem para diagnose foliar das principais culturas................ 313

Anexo 03 Teores de macronutrientes considerados adequados para algumas


culturas .................................................................................... 315

Anexo 04 Teores de micronutrientes considerados adequados para algumas


culturas..................................................................................... 317

Anexo 05 Recomendações de calagem e de adubação para as culturas de 319


trigo, soja, milho e arroz irrigado.................................................

Anexo 06 Recomendações de calagem e de adubação para a ameixeira ....... 331

Anexo 07 Resposta da aveia a adubos orgânicos e minerais.......................... 335

Anexo 08 Valores de saturação por bases (V) adequados para algumas


culturas..................................................................................... 341
Apresentação
Este livro contém o programa da disciplina de Fertilidade do Solo
do curso de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Os pré-
requisitos necessários para o melhor entendimento dos conteúdos
apresentados são as disciplinas: Gênese e Classificação do Solo, Química do
Solo, Física do Solo e Biologia do Solo. Alguns conceitos básicos destas
disciplinas são reapresentados aqui de forma suscinta, para encaminhamento
do material em estudo.
É utilizado neste livro o sistema de recomendações de adubação e de
calagem das culturas adotado nos estados do Rio Grande do Sul e de Santa
Catarina [1.7]. Sistemas utilizados em outras regiões do Brasil são também
citados quando necessário [8.4; 13.2].
São apresentados inicialmente neste livro, um breve histórico do
conhecimento atual na área, a situação da fertilidade dos solos do estado do
Rio Grande do Sul e os mecanismos de absorção dos nutrientes pelas plantas.
São abordados a seguir os itens referentes à amostragem (de solo e de
plantas), os métodos de análise e a interpretação dos resultados. Os principais
capítulos referentes à acidez do solo e aos macronutrientes (nitrogênio,
fósforo e potássio) são apresentados antes do estudo das recomendações de
adubação e de calagem dos solos. O estudo dos outros nutrientes é depois
completado, sendo apresentados também outros tópicos relevantes à
fertilidade dos solos e aos sistemas de cultivos.
Os autores agradecem a valiosa colaboração dos professores do
Departamento de Solos da UFRGS, em especial aos professores João
Mielniczuk, Ibanor Anghinoni, Egon Meurer, Pedro Selbach, Enilson Luiz Saccol
de Sá, Alberto Vasconcellos Inda Junior, Cimélio Bayer, Élvio Giasson e Renato
Levien, na elaboração e na revisão do texto da 1ª edição, bem como dos
professores e técnicos de outras Instituições nas sugestões essenciais ao
aperfeiçoamento desta 2ª edição.

vii
01
Importância do Estudo da
Fertilidade do Solo
_________________________
a formação do solo, a partir de diferentes materiais de origem e em

N várias condições climáticas, ocorrem diversos processos químicos,


físicos e biológicos. As combinações de alguns desses processos sob
variadas influências ambientais dão origem a solos com características
químicas e físicas distintas, oferecendo diferentes condições para o
desenvolvimento das plantas. Em regiões tropicais e subtropicais, os solos são
em geral muito intemperizados, sendo a lixiviação dos sais solúveis o principal
processo pedogenético. Esses solos são em geral ácidos e deficientes em
alguns nutrientes para as plantas.

1.1 Conceito de fertilidade do solo

Um solo fértil é aquele que tem a capacidade de suprir às plantas


nutrientes essenciais nas quantidades e proporções adequadas para o seu
desenvolvimento, visando a obter altas produtividades. A produtividade,
entretanto, depende do conjunto dos fatores de produção, como o clima, a
planta ou outras propriedades do solo. Por exemplo, um solo com condições
desfavoráveis ao crescimento radicular pode ser pouco produtivo, mesmo
sendo fértil.
Para o entendimento dos mecanismos que influenciam a fertilidade do
solo, são necessários conhecimentos básicos de química, física, mineralogia
e biologia. A fertilidade do solo e a eficiência de adubos minerais e orgânicos
são influenciadas por reações e equilíbrios inorgânicos e por processos
metabólicos de microrganismos no solo. Para o manejo adequado da

9
Carlos Alberto Bissani et al.

fertilidade do solo, são também necessárias noções de fisiologia vegetal, de


fitotecnia, de estatística e de economia.
Os conhecimentos da fertilidade do solo e das necessidades nutricionais
das plantas possibilitam a identificação e a quantificação dos nutrientes
essenciais, bem como a determinação das épocas, quantidades e formas mais
adequadas para o suprimento desses nutrientes para as plantas.

1.2 Evolução do estudo do desenvolvimento das plantas

No processo de evolução, o homem abandonou a vida nômade e fixou-


se à terra, preferencialmente nas áreas mais favoráveis ao desenvolvimento
da flora e da fauna. O aumento da população criou uma crescente
dependência da alimentação de origem vegetal, obrigando-o a passar da fase
extrativa para o cultivo organizado, ou seja, à produção agrícola. Em toda a
história da humanidade pode-se relacionar o desenvolvimento de civilizações
com o potencial agrícola dos solos, como na Mesopotâmia, no Egito e na
China, onde a alta fertilidade natural mantida pelas enchentes periódicas dos
rios, com deposição de sedimentos, permitiu o surgimento e a manutenção
das civilizações antigas. Nesses tempos remotos, a fertilidade natural dos
solos e o clima determinavam a produtividade das culturas.
O estudo do desenvolvimento das plantas evoluiu juntamente com o
estudo do solo. A introdução de práticas visando à restauração da fertilidade
do solo, para a obtenção de maiores colheitas, data de muitos séculos antes
de nossa era. Assim, Homero (800 A.C.) menciona em seu livro (Odisséia) a
utilização de resíduos orgânicos na agricultura.
Na Grécia, já eram conhecidos a adubação verde, o uso de materiais
alcalinos (marga ou carbonato de cálcio friável, com impurezas) e de sais
inorgânicos (salitre). Era também reconhecida a necessidade de utilizar maior
quantidade de adubos em solos depauperados do que em solos ricos, sendo
este um dos princípios da tecnologia moderna de recomendações de
adubação com base na análise do solo [1.6].
Os romanos aplicaram conhecimentos sobre agricultura herdados da
Grécia. Plínio (62-113 D.C.), por exemplo, reconheceu que “o calcário deve
ser aplicado em camada fina sobre o solo, tendo efeito por muitos anos, mas
menos que 50 anos” (isso provavelmente correspondia a uma calagem de 5
a 10 t/ha).
Os estudos do desenvolvimento das plantas foram retomados na época
do Renascimento (após 1450). A maior controvérsia entre os estudiosos nesta

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Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

área estava relacionada à origem dos nutrientes das plantas. Conforme a


teoria mais aceita, as plantas se nutriam de húmus. Esta teoria do húmus se
justificava devido aos seguintes fatos:
a) as análises químicas, embora com baixa exatidão, indicavam que as
plantas possuíam, em proporções semelhantes, os mesmos
elementos contidos no húmus;
b) adição de húmus (adubos orgânicos) ao solo favorecia o
crescimento das plantas.
Este fato exemplifica como algumas observações corretas podem
conduzir a uma conclusão errada, quando a natureza dos fenômenos
observados não é conhecida.
O progresso da química (identificação dos elementos, melhoria dos
métodos de análise, etc.) e as descobertas dos mecanismos da respiração e
da fotossíntese possibilitaram ao químico alemão Justus von Liebig (1803-
1873) estabelecer definitivamente os seguintes princípios da nutrição das
plantas, descartando a teoria do húmus:
a) o carbono é obtido do CO2 do ar;
b) o hidrogênio e o oxigênio são obtidos da água; e,
c) os nutrientes minerais são obtidos da solução do solo.
No final do século XIX foi demonstrado, de forma conclusiva, que as
plantas, ao contrário dos animais, podem crescer e se multiplicar dispondo
somente de nutrientes inorgânicos, ar, água e luz solar (seres autotróficos).

1.3 Situação da fertilidade dos solos do sul do Brasil

Na região sul do Brasil predominam solos ácidos e com baixo teor de


fósforo, nas condições naturais. Entretanto, as correções destas condições
desfavoráveis para a utilização agrícola dos solos têm modificado esta
situação, observando-se atualmente o aumento da ocorrência de solos com
propriedades químicas mais adequadas ao crescimento de plantas.
O diagnóstico da fertilidade é usualmente feito por análises de amostras
de solos. Os laboratórios que prestam este serviço nos estados do Rio Grande
do Sul e de Santa Catarina constituem a Rede Oficial de Laboratórios de
Análise de Solo e de Tecido Vegetal (ROLASTec), fundada em 1968. Estes
laboratórios utilizam metodologia analítica unificada e participam do primeiro
programa de controle de qualidade de análises do Brasil iniciado em 1978.
Os resultados das análises podem ser tabulados para obter a avaliação
da fertilidade dos solos de propriedades, de municípios, de estados ou de

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Carlos Alberto Bissani et al.

regiões. O primeiro estudo regional desta natureza foi feito no estado do Rio
Grande do Sul em 1969, utilizando-se 27.814 resultados de análises de
amostras de solos [1.9]. Foi neste trabalho evidenciada a predominância de
solos ácidos, e com muito baixo teor de fósforo, necessitando de correção da
acidez e fertilização adequada para a obtenção de rendimentos satisfatórios
das culturas. Outros estudos feitos em anos subseqüentes confirmaram estes
resultados, considerando-se as diferentes regiões fisiográficas do Estado.
No levantamento da fertilidade dos solos do estado do Rio Grande do
Sul efetuado em 2000, foram utilizados os resultados analíticos de 168.200
amostras de solo analisadas por oito laboratórios integrantes da Rede nos
anos de 1997 a 1999 [1.3]. O estudo destes dados, apresentado a seguir,
possibilita também, a avaliação da fertilidade dos solos agrícolas do Estado.

FIGURA 1.1

Freqüência de amostras de solos


do estado do Rio Grande do Sul
conforme valores de pH em água
[1.3].

Pode-se observar na Figura 1.1 que 44% dos solos apresentam pH


inferior a 5,5 (baixo e muito baixo), necessitando de correção para a maior
parte das culturas. Como reflexo do baixo pH, estes solos apresentam baixa
saturação por bases (Ca, Mg, K e Na) na capacidade de troca de cátions
(CTC) e conseqüentemente baixa fertilidade natural. Este fato pode ser
constatado na Figura 1.2, em que aproximadamente uma terça parte dos
solos analisados apresenta valores menores que 60% de saturação por bases
(valor V) na CTC.

12
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

A correção da acidez do solo deve ser feita conforme a necessidade das


culturas (ou sistema de cultivo), como será estudado no Capítulo 12. Na
Figura 1.3 é mostrada a frequência de amostras de solos do estado do Rio
Grande do Sul em diversas faixas de necessidade de calcário para atingir pH
6,0, adequado à maior parte das culturas. A necessidade média de calcário,
conforme este levantamento, foi de 3,4 t/ha [1.3]. No levantamento feito em
1981, a necessidade
média de calcário foi de
4,2 t/ha [1.2], indicando
que a prática da calagem
está sendo bastante
adotada.

FIGURA 1.2

Freqüência de amostras de
solos do estado do Rio Grande do Sul conforme valores de saturação por bases
[1.3].

Entretanto, grande parte dos solos agrícolas do estado do Rio Grande


do Sul apresenta valores médios (20 a 40%) a altos (>40%) de argila (Figura
1.4). Estes solos são potencialmente férteis, desde que corrigida a acidez e
sejam supridos de nutrientes necessários ao adequado crescimento das
plantas.
Os nutrientes N, P e K são os elementos minerais que freqüentemente
limitam o crescimento das plantas, por serem exigidos em maior quantidade
(N e K) ou devido a mecanismos de insolubilização no solo (P). À exceção das
leguminosas que fixam o N do ar pela simbiose com bactérias, estes três
nutrientes devem ser supridos pela adubação (orgânica ou mineral) na
maioria das culturas e dos solos.

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Carlos Alberto Bissani et al.

A matéria orgânica é a principal fonte de N do solo para as plantas não


leguminosas, sendo este nutriente disponibilizado pela mineralização dos
compostos orgânicos. Na Figura 1.5 pode-se observar que a maior parte dos
solos do estado do Rio
Grande do Sul (60%)
apresenta teor maior que
2,5% de matéria orgânica. A
adubação nitrogenada das
culturas depende, portanto,
do teor de matéria orgânica
do solo (Capítulo 13) e da
taxa de mineralização da
mesma.

FIGURA 1.3

Freqüência de amostras de
solos do estado do Rio Grande
do S ul e m faixas de
necessidade de calcário para
atingir pH 6,0 [1.3].

14
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

FIGURA 1.4

Freqüência de amostras de solos do estado do Rio Grande do Sul conforme os teores


de argila [1.3].

A b a i x a
disponibilidade de P nos
solos ácidos é o principal
fator limitante do
rendimento das culturas.
No estado do Rio Grande
do Sul, a maior parte dos
solos (58%) apresenta
teores baixo e muito baixo
deste nutriente (Figura
1.6), devendo ser o
mesmo adicionado pela
adubação.

FIGURA 1.5

Freqüência de amostras de solos do estado do Rio Grande do Sul conforme o teor


de matéria orgânica [1.3].

15
Carlos Alberto Bissani et al.

FIGURA 1.6

Freqüência de amostras de
solos do estado do Rio Grande
do Sul conforme a
interpretação do teor de
fósforo extraído pela solução
de Mehlich-1 [1.3].

FIGURA 1.7

Freqüência de amostras de
solos do estado do Rio
Grande do Sul conforme o
teor de potássio extraído
pela solução de Mehlich-1
[1.3].

Predominam,
entretanto, no estado do

16
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

Rio Grande do Sul solos com teores maiores do que 80 mg/dm3 de K (73%).
Este fato é devido à menor intemperização dos solos, à presença de minerais
que contêm este elemento e à CTC adequada (Figura 1.7). Nestas classes de
solos, a adubação potássica é destinada à reposição das quantidades retiradas
pelas culturas.

1.4 Respostas das culturas à adubação e à calagem

A possibilidade de aumento da área plantada é pequena em regiões de


alta ocupação territorial, como no caso do estado do RS. O aumento da
produção agrícola deve ser obtido pela elevação da produtividade das terras.
Por exemplo, o aumento do rendimento pela utilização correta da calagem nas
principais culturas do estado do RS, no período de 1990 a 1995 equivaleria
à produção obtida em 1,0 milhão de hectares [1.5]. Para a implantação desta
área, deveriam ser gastos R$ 1.077 x 106, caso estas terras fossem
disponíveis. O custo do calcário para obter este acréscimo de rendimento nas
áreas já cultivadas seria de R$ 450 x 106, ou seja, somente 42% (Tabela 1.1).
Assim como a calagem, a adubação bem praticada pode ser altamente
rentável. O rendimento médio de soja obtido no estado do RS na safra
2002/03 foi de aproximadamente 2,94 t/ha (em 3,4 x 106/ha). Existe
atualmente base tecnológica para obter um aumento de rendimento médio de
pelo menos 20%. Para alcançarmos este nível de rendimento, considerando
o teor baixo de P (Figura 1.6) e teor alto de K (Figura 1.7), seriam
recomendados 70 kg de P2O5/ha/ano e 80 kg de K2O/ha/ano [1.7] (Anexo 5).
O aumento da adubação com estes nutrientes com superfosfato triplo e
cloreto de potássio ao preço atual (item 19.7.3) custaria R$ 112 x 106/ano. O
valor do incremento de produção seria entretanto de R$ 1.435 x 106/ano, com
R$ 108 x 106/ano de acréscimo de ICMS.

TABELA 1.1 Possibilidade de incremento da produção e de arrecadação (ICMS) pela


utilização da calagem em algumas culturas do estado do RS (período
de 1990/94) [1.5]

Incremento Acrécimo Custo de Custo do Acréscimo


Cultura de produção de área implantação calcário de ICMS (1)
1.000 t 1.000 ha R$x106 R$x106/ano R$x106/ano
Soja 852 461 414 240 33,6
Milho 731 312 243 135 18,3
Trigo 438 181 381 33 99,0

17
Carlos Alberto Bissani et al.

Arroz 7 52 39 9 2,1
TOTAL 2.028 1.006 1.077 417 153,0
(1)
Média de 7,5%

1.5 Fertilidade e utilização de fertilizantes no Brasil

Os solos brasileiros são em geral muito intemperizados e,


conseqüentemente, ácidos e de baixa fertilidade. Na maior parte dos casos,
são deficientes em fósforo e necessitam de correção da acidez para
possibilitar o crescimento adequado da maioria das plantas cultivadas.
A correção das deficiências de um ou mais nutrientes pode ser feita
facilmente pela utilização de fertilizantes orgânicos ou inorgânicos e corretivos
da acidez do solo. Devido ao seu custo elevado, devem ser bem utilizados,
visando a sua maior eficiência imediata e residual.
As quantidades de adubos usadas no Brasil são baixas, mesmo
possuindo solos pouco férteis. Em média, são aplicados nas 16 principais
culturas somente 24 kg de fertilizantes/ha/ano, comparados com 602 na
Holanda, 278 na França, 295 na China e 174 nos Estados Unidos (dados de
2005 apresentados na referência [1.1], de diversas fontes).
A maior utilização de fertilizantes no Brasil ocorre nas grandes culturas
industriais: cana-de-açúcar e café: 246 kg de N+P2O5+K2O por ha (em
média); 157 kg/ha/ano para citrus e soja (em média); 120 kg/ha em arroz e
milho (em média) e 38 kg/ha para feijão, elevando a média nacional para 52
kg/ha/ano [1.1].
As produtividades médias das culturas de grãos no Brasil também são
baixas: 3,0 t/ha para o milho; 1,5 t/ha para o trigo; 2,6 t/ha para a soja; 3,3
t/ha para o arroz [1.1]. Para o arroz irrigado, entretanto, a produtividade
atinge 6,1 t/ha, em média, nos estados do Rio Grande do Sul e de Santa
Catarina [1.4]. Estima-se que 20 a 30% das áreas cultivadas no Brasil não
sejam adubadas. A previsão de colheita de grãos no Brasil para a safra
2007/2008 é de 135x106 t, para uma área plantada de 46,4x106 ha, sendo
portanto a produtividade de 2,9 t/ha (ver item 15.4.1 - p. 207).

1.6 Você sabia?

1.6.1 O mol

18
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

O mol é um número igual a 6,02 x 1023 unidades. É utilizado para


numerar grandes quantidades de coisas. Pode-se ter um mol de laranjas, um
mol de grãos de trigo, um mol de átomos, um mol de moléculas, um mol de
íons, um mol de cargas elétricas, etc. Ao saber deste conceito, um jovem
estudante de Química, em momento de muita paixão, prometeu à namorada:
vou dar-te um mol de beijos. Esta, bastante interessada, quiz saber quanto
tempo estaria sendo beijada, supondo uns beijinhos rápidos, de três
segundos. O que você acha? (Calcule o tempo necessário para cumprir a
promessa).

1.6.2 A água do mar

Provavelmente você já esteve na praia de mar e também deve ter


levado um caldo, verificando que a água do mar é salgada. De fato, a análise
da mesma mostra isto (Tabela 1.2).
Pergunta-se:
a) por que a água do mar é salgada?
b) o que tem a ver a composição da água do mar com a fertilidade do
solo?
c) por que a água do mar contém mais Na do que K?
d) porque a água do mar tem mais Mg do que Ca?
e) porque a água do mar tem baixos teores de Fe e Al?

Observação: como a água do mar não dá choque (mas conduz corrente


elétrica!) deve ter a mesma concentração de ânions e de cátions.

TABELA 1.2 Composição aproximada da água do mar (Enciclopédia Britânica)

Ion Concentração (mg/L) Ion Concentração (mg/L)


Na+ 10.685 Cl- 19.215
+ =
K 396 SO4 890
Ca 410 NO3- + NH4 + 0,7
Mg 1.287 Si 3
Al 0,001 P 0,09
Fe 0,003

1.6.3 Unidades de medidas

19
Carlos Alberto Bissani et al.

Na interpretação de resultados analíticos de laudos de análises é


necessário, em alguns casos, transformar unidades. No Manual de
Adubação e de Calagem para os Estados do Rio Grande do Sul e de
Santa Catarina [1.7]), são utilizadas as seguintes unidades:

Para solos: % (m/v) para os teores de argila e de matéria orgânica;


mg/dm3 para P (Mehlich-1 e resina) e K; cmolc/dm3 para
Al, Ca, Mg, (H+Al) e CTC; mg/dm3 para B, Cu, Zn, Mn, S
e Na; g/dm3 para Fe.

Para plantas: % (m/m) para macronutrientes; mg/kg para


micronutrientes.

Para adubos minerais: % de N, de P2 O5 e de K2 O.

Para corretivos da acidez: % de Ca ou de CaO ou de CaCO3 ; % de


Mg ou de MgO ou de MgCO3.

Observações:
a) no caso de utilizar a %, é necessário especificar a forma de
medição; p. exemplo, % (m/v), indica unidades de massa por
unidades de volume;
b) nos laudos de análise de solo para diagnóstico de fertilidade
(análises “de rotina”) são utilizados volumes de solo para as
diferentes determinações; as unidades são, portanto, expressas em
unidades de massa/volume;
c) teores de nutrientes de plantas em adubos orgânicos são
geralmente expressos em % de N, P, K, ..., podendo também ser
expressos por seus óxidos (P2O5, K2O, CaO, ...).

1.6.4 Exercícios de conversão de unidades

Caso os resultados analíticos sejam apresentados em outras unidades,


é necessário transformá-los para as unidades especificadas acima, para utilizar
as tabelas de interpretação apresentadas no Manual.

20
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

a) converter 98 mg/dm3 de K e 240 mg/dm3 de Ca em cmolc/dm3;


b) converter 0,123 cmolc/dm3 de K e 1,2 cmolc/dm3 de Mg em
mg/dm3;
c) um solo contaminado com Zn apresentou na análise o valor de
1.600 mg/dm3 (m/v). Qual a % deste metal no solo?
d) quais os teores de N, de P2O5 e de K2O do húmus de minhoca, cuja
análise é dada na Tabela A7.1 do Anexo 7 deste manual.

1.6.5 - Cálculos comuns em Fertilidade/Química de solos

Em vários casos, além da conversão de unidades, é necessário fazer


cálculo com áreas, densidade, proporções (direta ou indireta), etc.
Para cálculos de volumes de solo por área, é geralmente utilizado o
hectare (ha), que é uma superfície plana de 100 m x 100 m, ou de 10.000 m2.
Para calcular o volume desta área deve-se especificar a profundidade. Por
exemplo: para a profundidade de 0,0 a 20,0 cm (ou 0,2 m), geralmente
considerada como a camada arável, o volume será de 100,0 m x 100,0 m x
0,2 m = 2.000 m3 (ou 2,0 x 106 dm3 (ou L)). A massa (ou peso) deste volume
(v) de solo depende da densidade (d=p/v). A densidade de solos agrícolas em
geral varia de 0,9 (com alto teor de matéria orgânica) a 1,4 (solos arenosos).

21
02
Fatores que Afetam o Rendimento
das Culturas e Sistemas de
Cultivos
_________________________
s conhecimentos acumulados durante vários séculos sobre os cultivos,

O a nutrição das plantas e a forma de controle da disponibilidade de


nutrientes para as plantas possibilitam atualmente a utilização agrícola
de terras com baixa fertilidade natural, inicialmente pouco produtivas ou
incapazes de manter uma alta produtividade por muitos anos. Atualmente é
reconhecida a importância de um adequado suprimento de nutrientes, assim
como a adoção de boas práticas de manejo do solo para elevar os
rendimentos das culturas até os níveis permitidos pelo seu potencial genético,
os quais são também diretamente influenciados pelos demais fatores
ambientais.

2.1 Nutrientes minerais e sua essencialidade às plantas

A presença de um elemento no tecido da planta não indica


necessariamente que o mesmo tem uma função essencial no seu
metabolismo. As plantas podem absorver elementos não essenciais ou mesmo
tóxicos aos seu desenvolvimento.
Normalmente podem ser usados critérios direto e indireto para
caracterizar a essencialidade de um elemento às plantas [2.2]. No primeiro
caso, o elemento é essencial quando constitui algum composto ou participa
de alguma reação essencial ao ciclo vital da planta. Como exemplos, tem-se

21
Carlos Alberto Bissani et al.

a necessidade do nitrogênio para a constituição das proteínas e do ferro para


os citocromos. O critério indireto de essencialidade é satisfeito quando:
a) a planta não completa seu ciclo vital, na ausência ou escassez do
elemento;
b) a falta do elemento é específica e só pode ser evitada ou corrigida
pela adição do referido nutriente, não podendo ser substituído por
nenhum outro; e
c) o elemento deve estar relacionado diretamente à nutrição da planta,
não podendo seu efeito ser conseqüência de alterações eventuais de
propriedades do solo ou meio de cultura.
Para provar a essencialidade de um elemento é necessário que a planta
mostre sintomas visuais de deficiência nutricional, os quais poderão ser
corrigidos somente pelo suprimento do referido elemento, dependendo do
estádio de desenvolvimento.
Os elementos C, O e H constituem de 90 a 98% do tecido vegetal seco.
Como são obtidos do ar e da água, não se dispõe de meios práticos para
controlar o seu suprimento para as plantas.
O estudo dos sintomas de deficiência pode ser efetuado com culturas
em solução nutritiva, comparando-se tratamentos contendo todos os
nutrientes com outro contendo todos os nutrientes menos um. Podem ser
provocados facilmente sintomas característicos de deficiências de N, P, K, Ca,
Mg e S. A deficiência destes nutrientes pode ser demonstrada facilmente
porque as plantas necessitam de maiores quantidades dos mesmos. Estes
elementos, mais C, O e H, constituem o grupo dos macronutrientes e sua
concentração é expressa em % (m/m) ou g/kg.
Com a atual disponibilidade de reagentes muito puros, é também
possível demonstrar que vários outros nutrientes são essenciais para as
plantas, porém em quantidades menores. Estes são denominados
micronutrientes, sendo: Fe, B, Mn, Cu, Zn, Mo e Cl, cuja concentração é
expressa em mg/kg. Na Tabela 2.1 é dada a relação quantitativa entre os
nutrientes no tecido das plantas em condições de crescimento adequado.
Nos Anexos 3 e 4 são apresentados os teores de macro e de
micronutrientes, respectivamente, considerados adequados para um bom
suprimento de várias culturas. A determinação dos teores foliares de
nutrientes pode ser também uma ferramenta utilizada para o diagnóstico do
estado nutricional das plantas, principalmente no caso de frutíferas (Anexo 6)
[1.7].
Outros elementos, apesar de não serem essenciais no sentido rigoroso
do termo, isto é, não ter sido provado que são necessários para a conclusão

22
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

do ciclo reprodutivo de todos os vegetais, podem ser necessários para alguns


organismos. Por exemplo:
a) o cobalto, que faz parte da vitamina B12, é necessário para os
organismos que fixam nitrogênio do ar (bactérias e algas verde-
azuis);
b) o sódio é essencial para o crescimento de algas marinhas; pode
também substituir parte do K nas outras plantas;
c) o vanádio é necessário para algumas algas;
d) o silício beneficia o crescimento de algumas plantas, embora estas
possam frutificar sem o seu suprimento, como no caso do arroz; e
e) o selênio é geralmente tóxico; no entanto, plantas do gênero
Astragalus não somente toleram altas concentrações de Se, mas dele
necessitam para o seu desenvolvimento.

TABELA 2.1 Concentrações médias dos nutrientes minerais na matéria seca da


parte aérea das plantas com crescimento adequado [2.1]

Número
Concentração
Símbolo % relativo de
Elemento (mg/kg)
(m/m) átomos
Molibdênio Mo 0,1 - 1
Cobre Cu 6 - 100
Zinco Zn 20 - 300
Manganês Mn 50 - 1.000

Ferro Fe 100 - 2.000


Boro B 20 - 2.000
Cloro Cl 100 - 3.000
Enxofre S - 0,1 30.000
Fósforo P - 0,2 60.000
Magnésio Mg - 0,2 80.000
Cálcio Ca - 0,5 125.000
Potássio K - 1,0 250.000
Nitrogênio N - 1,5 1.000.000

2.2 Fatores que determinam o desenvolvimento das plantas

Na área da nutrição mineral, Justus von Liebig também introduziu um

23
Carlos Alberto Bissani et al.

conceito fundamental, que é expresso pela lei do mínimo, conforme a qual o


desenvolvimento das plantas é limitado pelo nutriente que se encontra em
mínimo em relação às suas necessidades, na presença de quantidades
adequadas dos outros nutrientes. Por exemplo, se o desenvolvimento da
planta está sendo prejudicado pela deficiência de fósforo, a adição de
qualquer outro nutriente não terá efeito positivo. Se o fósforo for adicionado
em quantidade adequada, este deixará de ser o fator limitante da produção;
o segundo nutriente em menor suprimento em relação à necessidade da
planta passará então a ser o fator limitante e assim sucessivamente até atingir
o máximo de produção possibilitada pelos outros fatores ambientais e pela
capacidade genética da planta. Por exemplo, num experimento de campo
conduzido no Município de Nova Veneza (SC) (Tabela 2.2) foi demonstrado
que a adição de calcário teve pouco efeito no aumento do rendimento do
milho, ocorrendo o mesmo com o fósforo. O nutriente em mínimo foi o
nitrogênio, responsável pelos maiores aumentos de rendimento quando
aplicado. (Observação: mesmo tendo sido este experimento conduzido há
mais de 37 anos, mostra o potencial produtivo da cultura do milho. Comparar
com os dados médios de rendimento mostrados no item 1.5).

TABELA 2.2 Rendimento do milho obtido em Nova Veneza, SC, em 1969/70(1)

Rendimento de
Nutriente ou corretivo adicionado(2) grãos (kg/ha)
Nenhum (testemunha) 3.860
Calcário 4.500
P + calcário 5.430
N + calcário 7.070
N + P + calcário 8.680
(1 )
Trabalho conduzido pela ACARESC e pelo Depto. de Solos no Projeto de Melhoramento da Fertilidade
do Solo (Operação Tatu) (UFRGS).
(2 )
P = 300 kg de P2 O5 /ha; N = 150 kg de N/ha; calcário em quantidade recomendada para elevar o pH do
solo a 6,5. Todos os tratamentos com N e/ou P receberam 150 kg de K2 O/ha.

A lei do mínimo pode ser generalizada para outros fatores que


influenciam o crescimento. Dessa forma, pode-se afirmar que o
desenvolvimento das plantas é limitado pelo fator de crescimento que estiver
em mínimo, seja ele disponibilidade de nutrientes (Figura 2.1), condição
climática, condições de solo, aspectos fitossanitários ou outro qualquer. O
máximo de rendimento de uma espécie ou variedade depende da interação

24
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

entre o seu potencial genético de produtividade e os fatores ambientais


atuantes (ver item 15.4.2 - p. 208).

FIGURA 2.1

Representação visual da Lei


do M ínim o.

Alguns trabalhos de seleção de plantas para alto potencial de


produtividade têm possibilitado a obtenção de cultivares de alto rendimento.
Um exemplo típico é a modificação morfológica introduzida na cultivar de
arroz IR-8, desenvolvida nas Filipinas (na década de 1960), que apresenta
folhas eretas para melhor aproveitamento da luz e porte baixo para evitar o
acamamento. Cultivares com estas características produzidas em orgãos de
pesquisa dos estados do RS (BR-IRGA 410) e de SC (EMPASC) podem
produzir até mais de 9 t de grãos por hectare [2.3].
O potencial genético de uma cultivar pode se manifestar em sua
plenitude se os fatores ambientais não forem limitantes ao crescimento. Ou
seja, o potencial genético por si só não proporciona altos rendimentos, mas
dá a possibilidade de obtê-los, dependendo dos fatores ambientais. Da
mesma forma, boas condições ambientais podem originar altos rendimentos,
desde que a planta possua um alto potencial genético de produção; caso
contrário, a produção será limitada por este, conforme a lei do mínimo. Por
exemplo, o milho híbrido apresenta alto potencial de rendimento (até >
15.000 kg de grãos/ha) em condições adequadas de clima, fertilidade do solo

25
Carlos Alberto Bissani et al.

e práticas culturais. O mesmo, entretanto, não é observado com a utilização


de cultivares não melhoradas.
Os fatores ambientais que exercem influência sobre o crescimento de
vegetais superiores são:
a) climáticos (temperatura, luz, quantidade e distribuição de chuva,
etc);
b) edafológicos (umidade do solo, suprimento de oxigênio, suprimento
de nutrientes, toxidez de elementos, acidez ou alcalinidade, etc); e,
c) bióticos (pragas, moléstias, inços, associação e/ ou sucessão de
culturas, etc).
Alguns destes fatores são difíceis de controlar, principalmente os
climáticos. Os fatores edafológicos e bióticos podem ser controlados mais
facilmente. Na maior parte dos solos do Brasil, a acidez e o baixo teor de P
são fatores limitantes para a obtenção do máximo rendimento para muitas
culturas. Em muitos casos, sua correção representa um alto investimento
inicial, mas a manutenção dos níveis adequados destes fatores não é difícil,
como será visto em detalhe nos estudos de calagem e de recomendações de
adubação.
Um exemplo de associação do alto potencial genético de produtividade
e dos fatores ambientais para a obtenção de alto rendimento é dado pelo
milho híbrido. A média de rendimento de grãos do milho no estado do Rio
Grande do Sul é menor que 4 t/ha. Utilizando-se híbridos plantados na melhor
época, com adequado suprimento de água, correção do solo, adubação
correta e controle de pragas, moléstias e inços, pode-se obter facilmente mais
de 10.000 kg/ha de grãos.
No sul do Brasil, por outro lado, a cultura do trigo geralmente apresenta
baixos rendimentos devido aos fatores climáticos e bióticos desfavoráveis, que
atuam como fatores de mínimo. Por isso, o suprimento de nutrientes e a
correção do solo muitas vezes não apresentam a eficiência obtida em outras
regiões ou em outras culturas, como por exemplo a soja, o arroz, o milho, etc.
Isso não significa que se deve abandonar a correção e a adubação do solo na
cultura do trigo. As quantidades de adubos e de calcário recomendadas são
suficientes para que a acidez do solo ou a disponibilidade de nutrientes não
sejam os fatores limitantes da produção (Capítulos 9 e 13).
Nos programas de melhoramento vegetal, o material selecionado é
testado em solos com vários níveis de fertilidade. A possibilidade de controle
de qualquer fator de desenvolvimento das plantas aumenta muito as
probabilidades de sucesso na obtenção de variedades produtivas. A utilização

26
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

comercial dos fatores de produção deve, entretanto, ser orientada por


motivos econômicos e/ou de proteção ao meio ambiente.

2.3 Efeito do suprimento de nutrientes no desenvolvimento


das plantas

A acumulação de matéria seca pelas plantas anuais apresenta uma


curva sigmóide (Figura 2.2), na qual pode-se distinguir dois períodos distintos,
o vegetativo e o reprodutivo. No período vegetativo ou de crescimento, o
desenvolvimento vegetativo é intenso e a demanda por nutrientes é alta.
Durante o período reprodutivo, o crescimento e a necessidade de nutrientes
diminuem, predominando a translocação de metabólitos dentro da planta. A
escassez de nutrientes durante o período vegetativo se reflete diretamente no
decréscimo de rendimento, o qual representa o efeito da interação do
potencial genético da planta e dos fatores ambientais. Este fato é de grande
importância no manejo da adubação, principalmente da adubação
nitrogenada, que deve ser
suprida em época (s)
adequada(s) para
otimização da absorção
pelas plantas (ver figura
12.5 - p. 162).

FIGURA 2.2

Curva típica de acumulação de matéria seca das plantas anuais em função do tempo
[1.6].

O efeito de um fator ambiental no desenvolvimento das plantas


depende da intensidade de sua atuação. Assim, é possível estudar o efeito da
adição de um nutriente que se encontra em mínimo sobre a produção de uma

27
Carlos Alberto Bissani et al.

cultura (altura h na Figura 2.2). A curva obtida é representada na Figura 2.3,


para a adubação fosfatada do trigo em Latossolo Húmico distrófico (LHd).
Neste trabalho foi possível observar a interação entre a calagem e a adubação
fosfatada: esta, na ausência da calagem, produziu um aumento de
rendimento menor do que sem a correção do solo. Pode-se ainda perceber
que a resposta à adubação fosfatada, tanto para o solo corrigido como para
o solo não corrigido, foi inicialmente grande, tendendo depois a ser nula. Ou
seja, enquanto o fósforo era o fator limitante do crescimento, a cultura
respondeu à adubação fosfatada; entretanto, quando outro fator passou a ser
limitante, o rendimento da cultura não mais respondeu a essa adubação. A
aplicação de calcário sem fósforo mostrou pouco efeito no rendimento (50
kg/ha) ao passo que esta diferença foi de 876 kg/hade grãos com a adubação
fosfatada de 80 kg de P2 O5 /ha.
Devido à variação local dos fatores ambientais de crescimento, os
resultados obtidos com uma cultura em determinada região não podem ser
extrapolados para outra. A manifestação do potencial genético da cultivar face
à ação destes fatores deve ser estudada por experimentação regional.
Atualmente são utilizados sistemas integrados de recomendações de
adubação, levando em
consideração características
locais de clima, solo e uso
da terra, além de aspectos
socio-econômicos (exemplo:
projeto 10 [2.3]).
Curvas de produção
o b t idas em di v er s os
experimentos de campo
podem ser agrupadas para a
e l a b o r a ç ã o d e
recomendações de adubação
para determinada região,
como será estudado no Capítulo 13.

FIGURA 2.3

Curvas de resposta do trigo à adubação fosfatada e a calagem em solo LHd, em


Campo Erê, SC-1973 (trabalho conduzido na Estação Exp. do Rio Caçador, no Plano
de Recuperação da Fertilidade do Solo do estado de SC).

28
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

2.4 Sistemas de cultivo

O cultivo das terras é prática indispensável para a produção agrícola. O


cultivo adequado das terras deve ser feito de acordo com as condições locais
e as necessidades da cultura a ser implantada. Os principais componentes dos
sistemas de cultivo são o preparo do solo e o plantio. Embora existam
diversos tipos de preparo do solo, como preparo convencional, mínimo e
plantio direto, todos eles têm como principais objetivos:
a) criação de condições que favoreçam o desenvolvimento das culturas;
b) eliminação de plantas invasoras;
c) incorporação e mistura de adubos, calcário e outros produtos no
solo;
d) incorporação de restos vegetais;
e) conservação do solo; e,
f) sistematização do terreno.
O cultivo inadequado das terras pode provocar a degradação física,
química e biológica do solo, além de deixar o solo suscetível à erosão. Para
evitar estas conseqüências negativas, sempre deve-se utilizar o sistema de
cultivo mais adequado para cada situação.
A seguir serão descritos resumidamente alguns sistemas de preparo do
solo, assim como suas características.

2.4.1 Preparo convencional do solo

O objetivo do preparo convencional do solo é a inversão da camada


superficial do solo, sendo feito com arados ou grade de discos pesada numa
primeira etapa, chamada de preparo primário, que é seguida pelo preparo
secundário do solo com grade de discos. No preparo primário é feito o
controle de plantas invasoras, enquanto o preparo secundário visa a quebrar
os torrões de solo e preparar o leito de semeadura. Neste sistema de preparo,
toda a camada superficial do solo é movimentada, sendo o calcário e os
fertilizantes aplicados em superfície incorporados uniformemente na camada
arada do solo.
Algumas vantagens deste sistema de preparo do solo são:
a) o controle mecânico de plantas invasoras mais eficiente;

29
Carlos Alberto Bissani et al.

b) o melhor controle de insetos e doenças pela incorporação dos


resíduos;
c) a facilidade das operações de incorporação de fertilizantes, pesticidas
e herbicidas de pré-emergência; e
d) uma camada superficial do solo mais solta, recuperando
temporariamente camadas compactadas e crostas superficiais do
solo.
Neste sistema o solo fica sem a cobertura protetora de resíduos,
suscetível portanto às perdas de solo e de água pela erosão. Ademais, requer
a utilização de vários equipamentos, maior consumo de combustível para o
preparo e pode causar compactação do solo pelo uso de tratores e
equipamentos pesados. O intenso revolvimento do solo aumenta a oxidação
da matéria orgânica, tornando o solo emissor de gás carbônico (CO2 ) para a
atmosfera, contribuindo para o efeito estufa.

2.4.2 Preparos conservacionistas do solo

Preparo conservacionista é um termo geral que pode ser caracterizado


como qualquer seqüência de operações de preparo que reduza as perdas de
solo e de água em comparação ao preparo convencional. Normalmente,
refere-se a sistemas de preparo que não invertem a camada superficial do
solo e que mantêm boa parte dos resíduos das culturas na superfície.
Os dois principais tipos de preparação conservacionista são o preparo
reduzido do solo e o sistema de plantio direto.
No sistema plantio direto, a semeadura é feita diretamente sobre os
resíduos da cultura anterior sem nenhum preparo prévio ou movimentação do
solo, exceto aquela necessária para a colocação da semente na profundidade
desejada. Neste sistema, só uma porção do solo (linhas de plantio) é
movimentada, sendo que os fertilizantes são aplicados em linha próximos à
semente, diferentemente do sistema de preparo convencional onde o
corretivo e parte dos fertilizantes são uniformemente distribuídos na camada
de solo movimentada. O plantio direto, propicia a máxima conservação de
nutrientes no agroecossistema. O não revolvimento do solo e a manutenção
da palha reduzem as perdas de nutrientes e de solo.
As principais vantagens do sistema plantio direto são:
a) redução dos riscos de erosão;
b) aumento da infiltração da água da chuva e do armazenamento de
água no solo;

30
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

c) aumento do teor de matéria orgânica na camada superficial do solo,


melhorando sua estrutura e aumentando a CTC;
d) estímulo da atividade biológica;
e) redução da variação da temperatura do solo próximo à semente;
f) redução do consumo de combustível em 40% a 50% quando
comparado com o preparo convencional; e,
g) redução do tempo necessário para o plantio em 50% a 60% quando
comparado ao preparo convencional.
O plantio direto, entretanto, não é um sistema adequado para áreas já
degradadas e suscetíveis à compactação, pois a ausência de movimentação
do solo neste sistema dificulta a sua recuperação. O principal requisito para
o sucesso do sistema plantio direto é a adoção de rotações ou sucessões de
culturas que adicionem grande quantidade de resíduos culturais que devem
ser deixados sobre a superfície do solo.
O preparo reduzido do solo refere-se a sistemas de preparo com menor
freqüência ou intensidade de cultivo em comparação com o preparo
convencional, suprimindo-se uma ou mais operações que seriam feitas no
preparo convencional. O preparo reduzido pode ser feito de diferentes formas,
tais como preparo com escarificador seguido pelo plantio, com gradagem
seguida de plantio, com aração e somente uma gradagem seguida de plantio.
Dependendo da seqüência de operações utilizada, o preparo reduzido pode
ser ou não considerado um preparo conservacionista, conforme a quantidade
de resíduos que permanece na superfície do solo após o plantio. Considerando
a grande variação de sistemas de preparo reduzido, é difícil generalizar suas
vantagens e limitações; entretanto, todos os sistemas têm a vantagem de
reduzir o consumo de combustível e abreviar o tempo necessário para o
preparo do solo. O preparo do solo com escarificador, em curvas de nível,
seguido de plantio é um bom sistema de controle da erosão, aumentando a
infiltração de água no solo.

2.4.3 Integração lavoura/pecuária

A integração lavoura/pecuária consiste na rotação de cultivos anuais de


grãos com pastagens perenes ou uma utilização de plantas de cobertura (ou
pastagens anuais para alimentação de animais) em rotação com cultivos
anuais de grãos, contribuindo para a sustentabilidade e diversificação das
propriedades. É um sistema misto, de maior complexidade, exigindo maior
entendimento das relações entre solo, planta e animais.

31
Carlos Alberto Bissani et al.

A alternância de cultivos para grãos e pastagens de gramíneas ou de


leguminosas aumenta a produtividade destas áreas devido à melhoria da
estrutura e da fertilidade do solo, melhor controle de plantas daninhas,
quebra de ciclos de doenças e de pragas e o aumento na disponibilidade de
alimentos de boa qualidade para os rebanhos durante o período de pastoreio.
O sistema pastagem-lavoura deixa um resíduo no final do período de
pastejo que é o resultado do manejo da pastagem; este resíduo pode ser
utilizado como cobertura para a semeadura direta de culturas, reduzindo os
riscos de erosão do solo; desta forma, os resíduos pós-pastejo podem ter os
mesmos efeitos de outras coberturas comumente utilizadas em semeadura
direta. O resíduo de plantas consiste de restos de culturas ou material da
pastagem da estação anterior, acrescido do novo material de plantas que
cresceram durante o período de chuvas antes do plantio, podendo haver
necessidade de dessecação dos mesmos com herbicida uma ou duas semanas
antes da semeadura da cultura de grãos.
Quando se utiliza o sistema de plantio direto, é necessário manter uma
boa cobertura do solo no período de outono/inverno e parte da primavera. As
gramíneas consorciadas com as leguminosas utilizadas com esta finalidade
(aveia e/ou azevém + trevos) são excelentes forrageiras para a atividade
pecuária durante estas estações do ano, que constituem o período mais crítico
para a pecuária no sul do Brasil.

2.5 Você sabia?

2.5.1 Curvas de resposta das plantas à adição de nutrientes

A capacidade de suprimento de nutrientes dos solos pode ser facilmente


estudada utilizando-se vasos (com 2 a 5 L de capacidade). Estes estudos são
de baixo custo, podendo também ser utilizados para outras finalidades, como:
testar a eficiência de diferentes fertilizantes e corretivos; selecionar métodos
de extração de nutrientes de solos (Capítulo 4); comparar o crescimento de
diferentes cultivares de plantas, dentre outros.
No Anexo 7 são apresentados os resultados de um experimento
conduzido em vasos, com a cultura da aveia, utilizando-se um solo de baixa
fertilidade, e diferentes tipos de fertilizantes (minerais e orgânicos).
Utilizando-se os dados deste experimento:

32
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

a) desenhar (em papel milimetrado) as curvas de resposta da parte


aérea da aveia (do 1º cultivo) à aplicação de N, P e K, adicionados
por adubos minerais. Qual nutriente é o mais limitante?
b) desenhar as curvas de resposta às aplicações de cama de aviário,
vermicomposto, húmus comercial e composto de lixo (utilizar o total
de matéria seca produzida nos dois cortes). Considerando-se a cama
de aviário como padrão, qual a equivalência do vermicomposto em
relação a este material, na taxa de aplicação de 2,5 t/ha? Qual o
efeito residual dos adubos orgânicos?

33
03
Suprimento de Nutrientes pelo
Solo e sua Absorção pelas Plantas
_________________________
s vegetais retiram do solo a maior parte dos nutrientes que necessitam

O para o seu crescimento. A fase líquida do solo, que contém os


nutrientes dissolvidos e que podem ser absorvidos pelas plantas, é
chamada de solução do solo.
Os nutrientes da solução do solo provêm de diversas origens, tais como
minerais primários constituintes da fase sólida, matéria orgânica, deposições
do ar e fertilizantes.
Os nutrientes contidos na solução do solo podem:
1 - ser adsorvidos nos pontos de troca de cátions (cargas negativas do
solo), como K+ , Ca2+ , Mg2+ , Zn2+ , etc., ou nos pontos de troca de
ânions (cargas positivas do solo), como HPO4 2-, SO4 2-, NO3 -, etc.;
2 - participar de reações para formação de outros compostos,
dependendo da sua concentração na solução do solo, da presença
de outros nutrientes, do pH do solo e das condições de oxi-
redução;
3 - ser absorvidos pelos vegetais; e,
4 - ser perdidos por lixiviação e/ou erosão do solo.
Os nutrientes contidos na matéria orgânica são liberados para a solução
do solo pela decomposição biológica da mesma.
Os nutrientes na solução do solo estão em equilíbrio com os que se
encontram adsorvidos nas cargas do solo e com os que fazem parte de
argilas, minerais primários, materiais amorfos e compostos pouco solúveis.
Estes equilíbrios serão estudados individualmente nos capítulos
correspondentes.

33
Carlos Alberto Bissani et al.

3.1 Absorção dos nutrientes pelas plantas

As plantas absorvem os nutrientes que estão dissolvidos na solução do


solo. Esta absorção é feita pelo sistema radicular, que apesar de ocupar
somente 1% do volume total do solo em que se desenvolve, apresenta uma
superfície de absorção muito grande. Pode-se ter uma idéia da magnitude do
sistema radicular observando-se os dados obtidos com uma única planta de
centeio cultivada em uma caixa de terra de 30x30x56 cm, que após 4 meses
de crescimento apresentava 623 km de raízes, com uma superfície radicular
de 639 m2 [3.1].
A parte de maior atividade da raiz situa-se próxima à sua extremidade.
Esta região é dotada de pêlos absorventes que aumentam consideravelmente
a superfície de contato da raiz com o solo e, portanto, a sua capacidade de
absorção [3.1].
A Figura 3.1 mostra o equilíbrio entre os nutrientes contidos nas fases
líquida e sólida do solo, as partes da raiz em contato com a solução do solo
e os caminhos percorridos pelos nutrientes desde a solução do solo até o
xil e
m a
[3 .1]
.

34
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

FIGURA 3.1 Contato da raiz com a solução do solo e os possíveis caminhos


percorridos pelos nutrientes desde a solução do solo até o xilema.
O corte transversal de uma raiz (Figura 3.1) apresenta
esquematicamente as seguintes regiões: pêlos absorventes, epiderme, cortex,
endoderme, xilema e floema. Entre as células da epiderme e do cortex
existem espaços livres, que normalmente são ocupados pela solução do solo.
Nas células da endoderme estes espaços livres são completamente
bloqueados pela deposição de suberina, formando a faixa casperiana. As
células do sistema radicular possuem uma parede celular que lhes dá forma
e consistência e uma membrana lipoproteica, com características de
seletividade para nutrientes. No interior das células está localizado o
citoplasma e, além dos demais constituintes celulares, numerosos vacúolos.
O citoplasma de uma célula liga-se com o citoplasma das outras células por
extensões do próprio citoplasma, constituindo-se numa comunicação
intercelular denominada plasmodesma.
Os nutrientes contidos na solução do solo, que estão diretamente em
contato com a raiz, devem atravessar a membrana lipoprotéica da célula
antes de participar do metabolismo da planta. Esta membrana apresenta
características de seletividade, ou seja, deixa que alguns nutrientes
atravessem a mesma, ao passo que outros são excluídos. Os mecanismos de
absorção seletiva ainda não são bem conhecidos, mas sabe-se que dependem
do metabolismo geral dos vegetais. Uma vez no interior da célula, o nutriente
pode permanecer livre como íon ou formar complexos orgânicos, podendo
mover-se nestas formas por difusão de célula para célula, via plasmodesma,
até atingir os vasos do xilema para ser levado a outras partes da planta; pode
ser também armazenado nos vacúolos das células radiculares.
Os nutrientes que se encontram nos espaços intercelulares (inclusive
nas paredes celulares que são permeáveis ao nutriente) não podem atingir os
vasos do xilema sem antes atravessarem a membrana citoplasmática, devido
ao bloqueio dos espaços intercelulares na endoderme pela faixa casperiana.

3.2 Fatores que afetam a capacidade das plantas de


absorverem nutrientes

A absorção de um nutriente depende de sua concentração na solução


em torno da raiz. Uma curva típica representando a relação entre a taxa de

35
Carlos Alberto Bissani et al.

absorção de um nutriente e sua concentração em torno da raiz, em condições


ideais, está representada na Figura 3.2. Em condições reais, podem existir
fatores que limitam a capacidade das plantas de absorver os nutrientes do
solo, mesmo que estes se encontrem disponíveis em quantidades apreciáveis.
Tais fatores são:
a) aeração do solo - a energia necessária para a absorção de
nutrientes é gerada pelo processo respiratório do sistema radicular
da planta, que depende do oxigênio do solo em torno da raiz;
b) temperatura do solo - a absorção de nutrientes depende do
metabolismo vegetal que por sua vez é afetado pela temperatura
do solo;
c) antagonismo entre nutrientes - muitas vezes a adição de um
nutriente em excesso pode diminuir a absorção de outro nutriente.
Por exemplo: a adição de grandes quantidade de K pode diminuir
a absorção de Mg; e,
d) substâncias tóxicas - qualquer substância tóxica que interfira no
metabolismo vegetal pode reduzir a absorção de nutrientes pelas
plantas. Os elementos tóxicos mais comuns que interferem no
metabolismo vegetal são o
Al e o Mn que podem ser
encontrados em elevadas
concentrações em muitos
solos ácidos (ver Capítulo 8).

FIGURA 3.2

Absorção de um nutriente
pelas plantas em função de sua concentração em torno da raiz [3.1]

3.3 Intercepção dos nutrientes pelo alongamento do sistema


radicular

36
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

O sistema radicular, durante o período de seu alongamento através dos


espaços porosos do solo, intercepta os nutrientes que estão neles contidos.
Para o cálculo da quantidade de nutrientes supridos pela intercepção
pelo sistema radicular deve-se considerar que [3.3]:
a) a quantidade máxima de nutrientes que podem ser interceptados
pelas raízes é igual à quantidade de nutrientes disponíveis nos
espaços porosos ocupados pelas raízes;
b) as raízes ocupam em média 1% do volume total do solo; e,
c) aproximadamente 50% do volume do solo é representado por
poros; portanto, as raízes ocupam 2% dos espaços porosos.

Na Tabela 3.1 são mostradas as proporções de alguns nutrientes que


entram em contato com a raiz pelo alongamento radicular. Este mecanismo
de suprimento é importante para o Ca e o Mg, que apresentam maior
concentração na solução do solo. As quantidades absorvidas dependem da
concentração dos íons na solução.

TABELA 3.1 Valores médios da contribuição relativa da intercepção radicular, do


fluxo de massa e da difusão na absorção de P, K, Ca e Mg por plantas
de milho, durante 13 dias de cultivo, em 12 solos do RS [3.2]

Nutriente Intercepção Fluxo de massa Difusão


radicular
--------------------------------- % do total ---------------------------------
P 3,5 2,6 93,9
K 0,9 10,1 89,0
(2)
Ca 35,0 65,0 0
(1)
Mg 4,4 74,0 21,6
(2)
Mg 10,9 89,1 0
(1)
Média dos solos em que houve difusão;
(2)
Média dos solos em que o fluxo de massa pode suprir maiores quantidades de Ca ou de Mg
do que as absorvidas pelas raízes.

3.4 Movimento dos nutrientes do solo até a superfície das


raízes

37
Carlos Alberto Bissani et al.

As quantidades de nutrientes e de água necessários às plantas em


períodos de rápido crescimento não são suficientemente supridas pelo
aumento do volume das raízes. Diferenças de potenciais entre os espaços
interno e externo das raízes são então estabelecidas, tanto para o fluxo de
água (potencial hídrico) como para a absorção de nutrientes (potencial de
concentração ou difusão). Estes serão apresentados a seguir.

3.4.1 Movimento por fluxo de transpiração ou fluxo de massa

A planta absorve água da solução do solo para repor as perdas por


transpiração (aproximadamente 300 L por kg de massa seca produzida),
originando um movimento da água do solo em direção às raízes. Os
nutrientes transportados até a zona radicular pelo movimento da água do
solo, devido à transpiração, atingem então a superfície radicular pelo fluxo de
transpiração ou fluxo de massa.
A quantidade total de nutrientes que chega por este processo à
superfície da raiz pode ser calculada, sabendo-se a concentração de nutrientes
na solução do solo e a quantidade de água transpirada pela planta. Os valores
médios calculados para o suprimento de vários nutrientes em alguns solos do
estado do RS são apresentados na Tabela 3.1. Em cada solo, a quantidade
suprida por fluxo de massa será diferente, pois a concentração dos nutrientes
na solução do solo depende da fertilidade do mesmo.

3.4.2 Movimento por difusão

A absorção de um nutriente pela planta cria uma zona de baixa


concentração próxima à superfície da raiz, originando-se um gradiente de
concentração em relação ao resto da solução do solo. Este gradiente de
concentração faz com que os nutrientes se movimentem na solução do solo,
em direção à superfície radicular (Figura 3.3a). Se a planta está absorvendo
ativamente um íon que se encontra em baixa concentração na solução do
solo, sua concentração na solução em contato com a raiz será próxima a zero.
Devido à baixa velocidade de difusão do íon na solução do solo, sua
concentração aumenta com a distância da superfície da raiz, até o ponto em
que é igual à concentração inicial da solução do solo. A concentração inicial
do íon na solução do solo é representada pela altura h (Figura 3.3).
A quantidade de um nutriente que chega até a superfície da raiz por
difusão, num determinado tempo, é dada pela seguinte equação [3.4]:

38
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

(3.1)

em que:

FIGURA 3.3 Gradiente de concentração na proximidade das raízes durante a


absorção de nutrientes

dq/dt = quantidade do nutriente que atinge a superfície radicular na


unidade de tempo (taxa de difusão);
A = área externa total das raízes da planta;
D = coeficiente de difusão do nutriente, em cm2/s (em água estes são
de aproximadamente 1,98x10-5 para o K; de 0,78x10-5 para o Ca
e de 0,70x10-5 para o Mg); este coeficiente é, entretanto, afetado
pelas características físicas dos solos;
av = água volumétrica do solo;
C1 = concentração do nutriente na solução do solo (não influenciada
pelo processo de difusão e a uma distância L da raiz),
representada pela altura h na Figura 3.3;
C2 = concentração do nutriente na solução do solo, na superfície da
raiz; e,
L = distância entre C 1 e C 2 , que pode
variar de 0,5 a 4,0 mm, ou mais.
A aplicação direta desta fórmula é dificultada
pela complexidade na avaliação de alguns fatores em condições de campo.
Entretanto, pode-se facilmente observar o efeito de algumas propriedades do

39
Carlos Alberto Bissani et al.

solo que afetam a absorção de nutrientes, normalmente presentes em baixas


concentrações na solução do solo, como geralmente ocorre com o P e o K:
a) os solos argilosos possuem maior capacidade de retenção de água
(fator av), podendo portanto suprir maior quantidade de um
nutriente por difusão do que solos arenosos, com o mesmo valor
de C1. Este é um dos fatores considerados na separação dos solos
em classes de textura para a interpretação das análises de P (item
7.1 - p. 70; Figura 10.7 - p. 122);
b) os solos que possuem boas propriedades físicas (estrutura,
aeração, etc.) propiciam maior desenvolvimento de raízes,
aumentando portanto o termo A, e conseqüentemente o
suprimento de nutrientes por difusão. Mesmo que a taxa de
suprimento por unidade de área seja baixa, o suprimento total de
nutrientes será elevado devido à grande área do sistema radicular.
Além de um grande volume, a maior distribuição do sistema
radicular é importante para a absorção de água e de nutrientes
pelas plantas. Uma aplicação direta deste fato é a recomendação
da calagem uniforme e em profundidade no solo, a fim de
proporcionar a maior área possível para um bom desenvolvimento
das raízes, principalmente em solos com teor tóxico de alumínio;
e,
c) os solos que mantêm um alto gradiente de concentração (termo
(C1 -C2 )/L) podem suprir maior quantidade de nutrientes por
difusão. Se a planta absorver ativamente um íon em baixa
concentração na solução do solo, a concentração C2 será próxima
de zero e o valor do gradiente será maior com uma alta
concentração inicial (C1) da solução do solo, ou com um pequeno
valor da distância L. A concentração C1 é denominada fator
intensidade, enquanto a distância L depende da capacidade do solo
em repor os nutrientes absorvidos pela planta (fator capacidade).
A análise do solo, em termos ideais, deveria avaliar estes dois
fatores.
A difusão de íons e o fluxo de transpiração são dois processos que
atuam simultaneamente, visto que a absorção de água e de nutrientes ocorre
em geral ao mesmo tempo.
Nos casos em que o suprimento de nutrientes às raízes pelo fluxo de
transpiração é maior do que a absorção pela planta, ocorre uma zona de
acumulação de nutrientes em torno da raiz. Isto pode ser observado em geral
com o Ca e o Mg, em solos com teores elevados destes elementos na solução.

40
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

Neste caso (C2 > C1 ), pode ocorrer uma difusão negativa, isto é: os íons Ca
e Mg se movimentam da superfície da raiz para a solução do solo (Figura
3.3b).

3.5 Fatores capacidade e intensidade de um nutriente no solo

O fator intensidade indica a concentração atual de um nutriente na


solução do solo. Esta concentração em geral é muito baixa (pode ser menor
do que décimos de
mg/L no caso de P)
e m relação às
quantida des do
nutriente contidas no
solo. No entanto, devido aos diferentes tipos de equilíbrio existentes entre os
íons em solução e os íons retidos na fase sólida, quando um íon da solução
é absorvido, outro íon retido na fase sólida pode passar para a solução, não
alterando substancialmente a sua concentração. Esta propriedade é chamada
de poder tampão do solo, específica para cada nutriente. Constituem a fase
sólida do solo as argilas, a matéria orgânica, os minerais primários e
compostos precipitados, como óxidos e/ou hidróxidos de Fe e de Al. O
equilíbrio de um nutriente entre as fases sólida e líquida do solo é
parcialmente reversível e pode ser assim representado:

Parte dos nutrientes minerais retidos na fase sólida pode passar para a
solução do solo, à medida que a planta absorve água e nutrientes.
O fator capacidade representa a quantidade de íons que pode passar
para a solução em determinado tempo. Portanto, para avaliar o poder de um
solo em suprir nutrientes para as plantas é mais importante conhecer o fator
capacidade. Um solo com fator capacidade alto mantém o valor de L baixo
(na equação 3.1), favorecendo portanto a difusão e a absorção de nutrientes
pelas plantas.

3.6 Você sabia?

41
Carlos Alberto Bissani et al.

3.6.1 Acúmulo de Ca

Em solos com alto teor de Ca (como nos vertissolos da campanha no


estado do Rio Grande do Sul) pode ser observado acúmulo de carbonato ao
redor das raízes das plantas, envolvendo-as na forma de pequenos tubos. Isto
acontece porque a quantidade de cálcio que chega à superfície da raíz, por
fluxo de massa, é muito maior do que a necessidade da planta, o que resulta
no acúmulo deste elemento em torno da raíz (Figura 3.3b).

3.6.2 Observações feitas no experimento do Anexo 7

As plantas de aveia cultivadas no experimento descrito no Anexo 7


mostraram sintomas de deficiência de N e de P. Os de K não foram aparentes

porque as plantas foram colhidas ainda antes do florescimento.

3.6.3 Respostas das plantas à adubação

Elaborar dois gráficos de barras com as respostas à adubação/calagem


das plantas de milho e feijão cujos valores de rendimento são dados na
Tabela 8.1. Por que as respostas são diferentes para as culturas e os tipos de
solos?

3.6.4 Exemplos de cálculos com conversão de unidades

a) a análise de um solo indicou o teor de 1,2 g/kg de P total e


densidade de 1,3 g/cm3; então:
a1) converter o teor de P para mg/dm3;
a2) calcular a quantidade equivalente em P2O5 em kg/ha na
camada superficial (0-20 cm) (P=31; O=16; 1 ha=10.000m2);
b) foram adicionadas a um solo 5 t/ha de um calcário com 30% de
CaO, incorporado na camada de 0-20 cm de profundidade. Qual o
aumento esperado no teor de Ca, em cmolc/L, no solo da referida
camada, supondo que todo o calcário seja dissolvido? (Ca=40;
O=16);
c) nas mesmas condições da questão anterior, qual a dose de gesso
agrícola (CaSO4 .2H2 O) que deveria ser aplicada para suprir ao solo
a mesma quantidade de Ca? (S=32; O=16; H=1).

42
04
Avaliação da Fertilidade do Solo
_________________________
ários métodos podem ser utilizados para a avaliação da disponibilidade

V de nutrientes, com base na observação das plantas ou nos resultados


das análises físico-químicas do solo. Cada um apresenta algumas
vantagens e limitações, sendo sua utilização dependente da escolha criteriosa
do técnico.
Os métodos mais empregados são: observação de sintomas visuais de
deficiências; testes com plantas (em vasos ou a campo); e, análises químicas
de tecidos de plantas e/ou análises de solos.

4.1 Sintomas visuais de deficiência

A baixa disponibilidade de um nutriente no solo pode provocar o


aparecimento de um sintoma visual de deficiência na planta, que em algumas
condições é facilmente detectável. Assim, a falta de N geralmente provoca um
amarelecimento das folhas (Capítulo 12), e a falta de K provoca uma clorose
e posterior necrose das folhas a partir dos bordos (em milho).
Existem plantas que mostram claramente esses sintomas, enquanto
outras não apresentam sintomas nítidos, exigindo do técnico um grande
conhecimento e experiência do assunto. Os sintomas podem, também, ser
confundidos com danos causados por insetos, ocorrências de moléstias, ação
do clima ou ainda com danos químicos.
Quando o sintoma característico é observado, a deficiência já é severa,
sendo geralmente muito tarde para a devida correção nas culturas anuais. Em
culturas perenes ou pastagens, embora possa haver um apreciável decréscimo
na produção imediata, as plantas ainda podem ser recuperadas pela adição
do(s) nutriente(s) em deficiência. Sintomas visuais de deficiências são

43
Carlos Alberto Bissani et al.

amplamente documentados na bibliografia [18.10; 18.13].

4.2 Testes com plantas cultivadas em vasos

Além de permitir o estudo simultâneo de um grande número de solos,


os testes em vasos podem ser conduzidos em qualquer época do ano, com
um reduzido tempo de duração (semanas ou meses), e a baixo custo.
Os testes em vasos são utilizados para o reconhecimento de alguns
problemas de solos, principalmente em áreas novas, com pouca informação
disponível.
Na Tabela 8.1 (Capítulo 8), por exemplo é mostrado o efeito da calagem
e da adubação em 10 tipos de solos com características físico-químicas bem
diferentes, utilizando-se as culuras de milho e de feijão. Diferenças em
rendimentos de matéria seca do milho e de grãos de feijão de 5 a 10 vezes
foram facilmente observadas. Sintomas visuais de deficiências dos nutrientes
mais limitantes (N e P) foram também evidentes, sem caracterizar entretanto
o grau de limitação de cada um deles, assim como um possível efeito nocivo
da acidez.
No Anexo 7 é mostrada a resposta da cultura da aveia preta às adições
de adubos minerais (fontes de N, P e K), de adubos orgânicos e de resíduos,
além dos efeitos da correção da acidez em solo de baixa fertilidade (arenoso).
As curvas de resposta da cultura às adições dos diferentes materiais
possibilitam comparar a eficiência fertilizante dos mesmos, além de indicar o
grau de limitação dos nutrientes ou do corretivo, nas condições em que o
estudo foi conduzido.
A escolha de soluções extratoras de nutrientes do solo empregadas nas
análises é gerlamente feita em estudos em vasos. Nestes trabalhos é
determinada a correlação entre as quantidades do nutriente absorvido pelas
plantas e o extraído na análise química, como por exemplo, o P disponível
[4.1]. Na figura 6.1 é mostrado um exemplo de resultados obtidos com a
utilização de dois métodos de extração de P disponível (estudo de correlação
de métodos).
A capacidade máxima de suprimento de nutrientes pelo solo, o efeito
de elementos tóxicos no desenvolvimento das plantas, a seleção de estirpes
eficientes de Rhyzobium e a comparação da eficiência de fontes de nutrientes
são estudos que podem ser facilmente executados em vasos. Entretanto, a
remoção do solo das suas condições naturais modifica algumas de suas
propriedades, como a aeração e a estrutura. A utilização de um pequeno

44
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

volume de solo influi no desenvolvimento radicular e exige a adição dos


nutrientes em quantidades maiores que as necessárias nas condições naturais
de campo. Estes fatos devem ser considerados na interpretação dos
resultados obtidos.

4.3 Experimentos de campo

Num experimento de campo são adicionadas doses crescentes dos


nutrientes em estudo em várias combinações. Pode-se avaliar assim o efeito
isolado de um nutriente no aumento da produção de uma cultura, bem como
a interação entre nutrientes.
Estes experimentos são muito utilizados para a elaboração de
recomendações de adubação e, quando bem planejados, conduzidos e
executados, são a melhor maneira de avaliar a fertilidade de um solo e a
necessidade de adição de fertilizantes (Capítulo 13).
Entretanto, devido à complexidade da técnica de execução e à
necessidade de conhecimentos básicos de solo e manejo de culturas, esse
método requer maior capacitação do técnico. Além disso, os resultados
somente podem ser aplicados no ano seguinte para a mesma cultura e o
mesmo solo. As condições climáticas, variáveis de ano para ano, também
podem dificultar a interpretação dos dados e as recomendações de adubação.
Na Figura 2.3 são apresentados os resultados de um experimento de
campo com a resposta da cultura trigo à adição de doses crescentes de adubo
fosfatado. Pode-se observar o efeito benéfico da correção da acidez (com
calcário) e que foi obtida resposta positiva do trigo à adubação fosfatada até
à adição de aproximadamente 190 kg/ha. No Capítulo 13 serão estudados os
critérios técnicos para elaborar um sistema de recomendação de adubação e
de correção da acidez dos solos que seja de grande utilidade prática para a
agricultura, utilizando-se dados deste tipo de experimentos (estudos de
calibração) obtidos em vários anos, tipos de solos e diferentes culturas.

4.4 Análises químicas do solo

A análise química é o método mais difundido para a avaliação da


fertilidade do solo, porque:
a) as análises são rápidas e de baixo custo;
b) as análises podem ser feitas em qualquer época do ano;

45
Carlos Alberto Bissani et al.

c) os resultados podem ser interpretados facilmente caso haja


informação básica de pesquisa de apoio; e
d) os resultados possibilitam a elaboração de levantamentos de
fertilidade a nível regional.
Em termos ideais, a análise de solo deveria, portanto, avaliar a
concentração atual do nutriente (altura h na Figura 3.3) e a capacidade de
suprimento do mesmo pelo solo (distância L na Figura 3.3).
A interpretação correta de uma análise de solo exige um bom
conhecimento dos solos de uma região, dos sistemas de culturas utilizados e
do clima. Este conhecimento é obtido em experimentos de campo.
A quantidade de pesquisa necessária e a uniformização dos métodos de
trabalho exigem o esforço cooperativo das instituições de pesquisa numa área
ampla (estado ou região). Por exemplo, o programa de recomendações de
adubação baseado na análise de solos desenvolvido no Sul do Brasil (estados
do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina) foi iniciado em 1966, e conta
atualmente com a colaboração de 20 instituições de ensino, pesquisa e
extensão. De 1966 a 1986 foram conduzidos aproximadamente 1.000
experimentos de campo, com adubação de várias culturas, e
aproximadamente 20.000 observações individuais de caráter demonstrativo
para agricultores. Foram analisadas também, no mesmo período, mais de
600.000 amostras de solo em 17 laboratórios existentes na região (ver item
4.6.1).
A interpretação das análises torna-se mais segura à medida que as
informações de pesquisa são obtidas. O trabalho de atualização das tabelas
é contínuo, pela própria evolução da agricultura, com introdução de novas
variedades, tecnificação da lavoura, alteração nos custos de insumos,
mudanças nos sistemas de produção, etc. O acompanhamento econômico e
da fertilidade do solo das propriedades que adotam as práticas recomendadas
também deve ser feito, com a finalidade de avaliar a eficiência das
recomendações a longo prazo.
O valor de uma análise de solo depende, portanto, da qualidade da
pesquisa que a suporta. Nos Capítulos 5, 6, 7 e 13 serão estudadas em
detalhe as diferentes etapas deste programa.

4.5 Análise de tecido vegetal

Este método de avaliação da fertilidade do solo consiste na


determinação da concentração dos nutrientes no tecido das plantas. A

46
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

interpretação da análise é feita por comparação com padrões obtidos em


trabalhos de pesquisa. O método tem a vantagem de detectar deficiências de
nutrientes antes da observação do sintoma visual e da conseqüente redução
na produção. Sua utilização em laboratórios para atendimento de agricultores
é recente.
A interpretação dos valores analíticos requer a calibração prévia para
cada nutriente, cultura e, em alguns casos, para a variedade, pois a
concentração dos nutrientes varia com a espécie, idade e estádio de
desenvolvimento da planta. Na a análise completa do tecido de plantas são
determinados os teores de macronutrientes (N, P, K, Ca, Mg e S) e de
micronutrientes (Cu, Zn, Mn, Fe, B e Mo). Além dos teores de cada um,
podem ser observadas as relações entre os mesmos.
Devido ao maior tempo necessário entre a retirada das amostras e a
expedição das recomendações de adubação, as análises de tecido têm maior
aplicação em fruticultura e em pastagens perenes.
A amostra de tecido vegetal deve ser representativa do estado
nutricional das plantas. Em geral, são amostradas folhas recém maduras, num
determinado estádio de desenvolvimento da planta, evitando-se folhas muito
novas ou em senescência. No Anexo 2 são apresentadas as recomendações
referentes à época, ao tipo de folhas e à quantidade de amostra necessária
para a análise foliar.
A interpretação da análise é a etapa crítica do método. Uma
interpretação correta somente pode ser feita se o técnico dispuser de valores-
padrão, obtidos em trabalhos de pesquisa para as variedades em uso. Nos
estados do RS e de SC estão sendo utilizadas tabelas de interpretação para
frutíferas e várias hortaliças [1.7]. Nos Anexos 3 e 4 são apresentados os
teores de macronutrientes e de micronutrientes considerados adequados para
várias culturas, respectivamente.
Em fruticultura, a análise foliar é muitas vezes utilizada conjuntamente
com a análise de solo. Na interpretação e na recomendação de adubação são
levados em consideração também outros fatores como produtividade do
pomar, variedades utilizadas, comercialização, etc.
A análise de tecido de plantas pode ser também utilizada para detectar
desequilíbrios nutricionais, presença de elementos tóxicos, doenças
fisiológicas, etc. Utilizam-se nestes casos comparações entre amostras de
plantas sadias e de plantas com sintomas de deficiência ou formação anormal,
coletadas no mesmo estádio de desenvolvimento.
No Capítulo 5 são apresentados os cuidados referentes à coleta e
manuseio de amostras de tecido de plantas para análise foliar (p. 60).

47
Carlos Alberto Bissani et al.

4.6 Você sabia?

4.6.1 Manual de Recomendações de Adubação e de Calagem para os


estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina

Desde 1966 são elaboradas tabelas para recomendações de adubação


e de calagem para as principais culturas dos estados do Rio Grande do Sul e
de Santa Catarina, com base na análise de solo. Estas tabelas são
periodicamente revisadas pela Comissão de Química e Fertilidade do Solo do
Núcleo Regional Sul da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, sendo
adotadas pela Rede Oficial de Laboratórios de Análise de Solo e de Tecido
Vegetal (ROLASTec) dos dois estados.
A versão divulgada em 2008 (11ª Ed.) enfatiza o sistema de plantio
direto, rotação de culturas, aplicações localizadas de corretivos e de
fertilizantes e análises foliares. Os técnicos que trabalham na área agronômica
devem possuir bom conhecimento desta publicação [1.7].

4.6.2 O que aparece na análise de solo?

Um laudo de análise de solos contém os valores de análises físicas,


químicas e a relação entre alguns valores determinados. A análise básica, que
consta em todos os laudos, apresenta os resultados das determinações de pH
em água, teores de K, Ca, Mg e Al trocáveis, P extraível, acidez potencial
(índice SMP) e teores de argila e de matéria orgânica.

Nota: observar as unidades em que são expressos estes valores.

A capacidade de troca de cátions (CTCpH7,0 ), a acidez total (H + Al) e a


saturação por bases da CTCpH7,0 são também apresentadas. Estas são
calculadas com os dados da análise básica.
Alguns laboratórios integrantes da ROLASTec também podem fazer as
determinações de S, Na e de micronutrientes (Cu, Zn, B, Mn e Fe), caso
solicitado.

48
05
Amostragem de Solo e de Plantas
para Análise
_________________________
análise de solo, como foi visto no Capítulo 04, é um modo prático de

A avaliar a sua fertilidade. É atualmente o método mais utilizado para a


recomendação de adubação em culturas anuais. A análise de plantas
está sendo também bastante utilizada para a adubação de pomares [1.7].

5.1 Representatividade das amostras

A amostragem do solo é a fase mais crítica do programa de


recomendação de adubação com base na análise de solo, pelos seguintes
motivos:
a) o solo é, por natureza, um corpo natural heterogêneo em
características químicas;
b) a heterogeneidade química do solo aumenta com as práticas de
adubação, calagem e cultivos;
c) requer conhecimento dos princípios de amostragem de solos por
parte da pessoa que realiza a amostragem; e
d) insuficiência de informações complementares para interpretação da
análise, como: adubação e calagem anteriores, rendimento de
cultivos anteriores, topografia, etc.
A coleta de amostras representativas de solo é essencial para a
avaliação das necessidades de corretivos e de fertilizantes. Os fatores de
formação dos solos variam de local para local, influenciando as características
que devem ser consideradas na amostragem.

49
Carlos Alberto Bissani et al.

A amostra representativa de uma gleba é aquela que melhor reflete as


condições de fertilidade da área amostrada. Para obter uma amostra
representativa de uma área, é necessário retirar várias subamostras em
diversos pontos e misturá-las. A quantidade de solo normalmente utilizada em
cada determinação no laboratório é de apenas alguns gramas, sendo
necessários, no total, aproximadamente 50 gramas, conforme a ilustração a
seguir:

Solo da camada Amostra enviada Amostra analizada


arável
1 ha–2.000 t
º ao laboratório
500 g
º no laboratório
50 g

Assim, todas as instruções para a coleta de solo devem ser observadas


para se obterem amostras representativas. Considerando-se que uma amostra
composta de solo não deve representar mais de 20 hectares, a amostra
analisada no laboratório corresponderá, aproximadamente, à fração
equivalente a duas partes por bilhão do volume de solo amostrado. A
representatividade da amostra é, portanto, essencial para a indicação correta
das recomendações de fertilizantes e de corretivos da acidez de solo.
O primeiro passo para a amostragem consiste em dividir a área em
glebas de solo homogêneas, considerando-se o tipo de solo, a topografia, a
vegetação e o histórico de utilização. Os solos podem ser diferenciados pela
cor, pela textura, pela profundidade do perfil, pela topografia e por outros
fatores. Se todos esses fatores forem homogêneos numa área, existindo, no
entanto, uma parte já utilizada ou adubada (ou corrigida com calcário), então
esta última deve ser amostrada em separado. Na Figura 5.1 é apresentado
um exemplo de um plano de amostragem de uma propriedade com áreas
diferentes quanto à topografia, utilização, manejo e adubação. Em cada área
deve ser coletada uma amostra composta por 10 a 15 subamostras tiradas ao
acaso (amostras simples) por caminhamento na área (em "ziguezague")
(Figura 5.1).
A área representada por cada amostra de solo (amostra composta) pode
variar desde o equivalente a um vaso de flores (100 cm2) até muitos hectares.
A homogeneidade é o principal fator que determina a área abrangida pela
amostra.
No caso da amostragem de plantas, a dificuldade de obter uma amostra
representativa não é menor. Para uma amostragem de folhas de pessegueiro,
por exemplo, representativa de um hectare de pomar (amostra com 100
folhas), cada folha coletada representa aproximadamente 50.000 folhas das

50
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

400 árvores do pomar.


Serão apresentados a seguir os procedimentos de coleta de amostras
de solo nos sistemas de cultivo convencional e de plantio direto e as

orientações gerais para a coleta de amostras de plantas [1.7].

FIGURA 5.1 Plano de amostragem de uma área, com diferentes declividades e


usos de solo.

5.2 Procedimento de coleta de amostras de solo no sistema


convencional

A coleta de amostras de solo representativas da área pode ser feita


facilmente em lavouras com aplicação de adubos (ou calcário) a lanço,
observando-se as orientações dadas nos itens 5.2.1 a 5.2.6. No caso de ter
sido feita adubação em linha, devem ser utilizados os procedimentos descritos
nos itens 5.3.1 e 5.3.4.

5.2.1 Número de subamostras

51
Carlos Alberto Bissani et al.

Como regra geral, é sugerido coletar o mesmo número de subamostras


por área uniforme, independentemente do tamanho da mesma. Este critério
fundamenta-se no fato de que as propriedades químicas dos solos variam até
mesmo em pequenas distâncias.
O número de subamostras a serem coletadas para formar uma amostra
representativa de uma área uniforme dentro da lavoura, depende da natureza
e da magnitude da variabilidade e dos limites de inferência estatística
relacionados à precisão (confiança) e à exatidão (estado real de fertilidade).
Tais limites, no entanto, não devem exceder os limites observados no controle
de qualidade das análises adotados pelos laboratórios integrantes da Rede de
Laboratórios. Assim, considerando-se a probabilidade de erro de 5% e a
variabilidade de 20% em relação à média do índice de maior variação (P
disponível), recomenda-se coletar de 10 a 20 subamostras (média de 15) em
cada área uniforme de lavouras manejadas no sistema convencional de
cultivo. Neste sistema, as operações de preparo de solo tendem a uniformizar
o solo, onde os utensílios para a amostragem (Figura 5.2) são igualmente
eficientes.

5.2.2 Época de amostragem

As amostras de solo podem ser coletadas em qualquer época do ano,


mas, considerando que o envio para o laboratório requer 4 a 5 dias ou mais,
e que três semanas são necessárias para o processamento das amostras no
laboratório e para o recebimento dos resultados, deve-se amostrar o solo,
pelo menos, dois meses antes da data prevista para a adubação. Em
pastagens já estabelecidas, é sugerido amostrar o solo de dois a três meses
antes do máximo crescimento vegetativo. Em pomares, recomenda-se, em
geral, amostrar o solo após a colheita.

5.2.3 Profundidade de amostragem

Para culturas anuais em cultivo convencional, como milho, trigo, arroz,


soja, pastagem, etc., recomenda-se amostrar o solo na camada arável, ou
seja até 20 cm de profundidade. O mesmo procedimento é utilizado para
hortaliças. No caso de adubação superficial em culturas já estabelecidas,
coletar amostras até 10 cm de profundidade. No caso de espécies perenes
(essências florestais ou frutíferas), coletar amostras nas camadas de solo de
0 a 20 e de 20 a 40 cm de profundidade, antes da implantação da cultura.
Após o plantio, para reavaliações da fertilidade do solo, coletar amostras de

52
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

0 a 20 cm de profundidade. Outras informações sobre a amostragem de solo


para algumas culturas específicas, como é o caso de frutíferas, constam nas
recomendações de manejo e aduação dessas culturas [1.7].

53
Carlos Alberto Bissani et al.

FIGURA 5.2 Utensílios para a amostragem de solo e procedimento para a

preparação da amostra a ser enviada ao laboratório.

54
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

5.2.4 Utensílios para a amostragem

Os utensílios comumente utilizados para a coleta de amostras de solo


são mostrados na Figura 5.2. A utilização da pá-de-corte é uma boa
alternativa, sendo entretanto mais demorada. A amostragem com o trado
holandês é menos afetada pela textura e pelo teor de umidade do solo do que
aquela feita com trado de rosca ou com trado calador.

5.2.5 Amostragem com trado

a) introduzir o trado até a profundidade desejada, em 10 a 20 locais, ao


acaso, dentro da área homogênea; essas indicações são aplicáveis
para cultivos anuais, como trigo, soja, pastagens, hortaliças, etc;
b) colocar a amostra do solo em um balde ou em saco de plástico; o
uso de trado calador requer a retirada do cilindro de solo amostrado
com uma espátula ou com outra ferramenta; no caso do trado
holandês, a utilização de uma faca para remover o solo excedente
facilita a retirada do solo do centro do coletador. Essas indicações
são ilustradas na Figura 5.2;
c) misturar no balde ou em outro recipiente limpo o solo proveniente
das subamostras, retendo, aproximadamente, 1/2 kg de solo; e
d) colocar a amostra do solo num saco de plástico limpo, etiquetar,
preencher o formulário de informações e enviar ao laboratório.
Observações:
a) a etiqueta deve conter os dados de identificação da amostra, para
constar no laudo de análise, como: nome e endereço do produtor,
data e caracterização da amostra (nome ou número); e
b) o formulário de informações, além dos dados da etiqueta, deve
conter outras informações úteis para a interpretação dos resultados
e as recomendações de adubos e corretivos. Este formulário (ver em
anexo - p. 343) deve ser mantido pelo técnico encarregado desse
trabalho.

5.2.6 Amostragem com pá-de-corte

a) escolher entre 10 a 20 pontos (média de 15), ao acaso, dentro de


cada área homogênea;
b) eliminar a vegetação, as folhas, os ramos ou as pedras da superfície;

55
Carlos Alberto Bissani et al.

c) fazer uma cova em formato de cunha, conforme ilustrado na Figura


5.2, na profundidade indicada para cada cultura;
d) cortar com a pá uma fatia de 2 a 5 cm de espessura num dos lados
da cova;
e) conservar a fatia sobre a pá e, com uma faca, separar os bordos,
colocando o miolo no balde, conforme ilustrado na Figura 5.2;
g) misturar bem o material proveniente das subamostras, retirando 1/2
kg de solo; e
h) colocar a amostra do solo num saco de plástico limpo, etiquetar,
preencher o formulário de informações e enviar a amostra ao
laboratório (ver observações do item 5.2.5).

5.3 Procedimento de coleta de amostras de solo no sistema


plantio direto

No plantio direto, a variabilidade da fertilidade do solo é maior do que


no preparo convencional, tanto no sentido horizontal, pelas linhas de
adubação, como no vertical, pela formação de gradientes em profundidade,
devidos à permanência dos resíduos na superfície e/ou à aplicação superficial
de adubo e de calcário. Assim, alguns procedimentos e utensílios para coleta
de amostras representativas no sistema de preparo convencional não são
adequados para a amostragem do solo em áreas de plantio direto já
consolidado (após o 6º cultivo) (ver item 20.5.3 - p. 277).
Embora o trado de rosca seja o utensílio mais prático para a coleta de
amostras de solo, não é adequado no sistema plantio direto. Na maioria dos
casos, além da necessidade de coletar um grande número de subamostras
(item 5.3.1), ocorre, especialmente em solos secos, perda da camada
superficial (de aproximadamente 1,5 cm), que apresenta maiores teores de
matéria orgânica e de nutrientes, induzindo a uma recomendação de
adubação superestimada. O trado holandês, pelo seu formato, não retira uma
amostra uniforme em profundidade e também subestima a fertilidade do solo.
A retirada de amostras com trado calador (sonda), trado-caneca e pá-de-corte
não apresentam esses problemas.

5.3.1 Número de subamostras

O não revolvimento do solo e a manutenção das linhas de adubação no


sistema de plantio direto provocam maior variabilidade e, como conseqüência,

56
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

a necessidade de retirar um maior número de subamostras para alcançar a


mesma representatividade. Na coleta ao acaso, em lavouras com adubação
em linha, o número de subamostras a coletar varia com o equipamento
amostrador utilizado e o espaçamento entre as linhas das culturas. Assim, de
um modo geral, a coleta das amostras com trados (rosca ou calador) requer
a retirada de um número elevado de subamostras (> 50), devido ao pequeno
volume de solo amostrado [5.1; 5.2]. Com a utilização da pá-de-corte,
entretanto, aproximadamente 15 subamostras da secção transversal na
largura das entrelinhas são suficientes para a coleta de uma amostra
representativa do solo [5.1].
A pá-de-corte é o utensílio mais adequado para a coleta de amostras de
solo no sistema plantio direto. No caso de adubação a lanço podem ser
coletadas subamostras de 5 cm de espessura por 10 cm de largura, ao acaso.
Em áreas adubadas em linha, devem-se coletar subamostras transversais à
linha de semeadura, na largura das entrelinhas com 5 cm de espessura,
conforme mostrado na Figura 5.3. O número de subamostras para compor a
amostra composta é de aproximadamente 15 (podendo variar de 10 a 20),
nos dois casos. Esta recomendação atende às especificações de referência
estatística do item 5.2.1 (probabilidade de erro de 5% e variação, em relação
à média, de 20%).

5.3.2 Coleta com pá-de-corte

Na utilização da pá-de-corte, recomenda-se o seguinte procedimento:


a) localizar no terreno as linhas de adubação (linhas de plantas);
b) remover da superfície a vegetação, as folhas, os ramos ou as pedras;
c) fazer uma cova em cunha, conforme ilustrado na Figura 5.3 com a
largura correspondente ao espaçamento entre linhas, tendo-se o
cuidado de que a linha de aplicação de adubo esteja localizada na
parte mediana dessa cova;
d) cortar com a pá uma fatia de 3 a 5 cm de espessura em toda a cova,
até a profundidade indicada no item 5.3.4 (esta fatia deve ter
espessura uniforme em toda a cova);
e) colocar a terra em um balde grande (-20 litros);
f) repetir o procedimento em mais 15 pontos na área homogênea a
amostrar;
g) espalhar o solo sobre uma lona de plástico limpa e homogeneizar
muito bem (umedecer um pouco se a terra estiver entorroada);

57
Carlos Alberto Bissani et al.

h) retirar 1/2 kg da amostra do solo, colocar em saco de plástico limpo,


etiquetar, preencher o formulário de informações e remeter a
amostra ao laboratório (ver observações do item 5.2.5).

FIGU RA 5.3
Amostragem de solo em lavoura com adubação anterior em linha.

5.3.3 Procedimento alternativo à pá-de-corte

A coleta de amostras de solo com pá-de-corte é bastante trabalhosa,


devendo ser manuseado um grande volume de solo, especialmente em
culturas com maior espaçamento entre as linhas, como o milho. Na maioria
dos casos, poucas subamostras têm sido coletadas nas lavouras, constituindo
amostras não representativas da fertilidade do solo. Por este motivo, foi
testado e proposto um procedimento alternativo [5.2]. Os resultados
indicaram a possibilidade de coletar amostras com similar exatidão e precisão
das amostras coletadas com a pá-de-corte.
O procedimento alternativo consiste na retirada de uma sub-subamostra
no centro da linha de adubação e mais várias sub-subamostras, de cada lado
e transversalmente às linhas de adubação, em número variável conforme a

58
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

distância das entrelinhas, utilizando trado calador (sonda) de 2,5 cm de


diâmetro (Figura 5.3). Para culturas de pequeno espaçamento (17,5 cm),
como trigo, cevada e aveia, coletar uma sub-subamostra no centro da linha
de adubação mais uma de cada lado (total 3 sub-subamostras). Para culturas
de médio espaçamento como a soja (40 cm), coletar uma sub-subamostra no
centro, mais três de cada lado (total 7 sub-subamostras). Nas culturas de
grande espaçamento, como o milho (60 a 80 cm), coletar uma sub-
subamostra no centro, mais seis de cada lado (total 13 sub-subamostras). O
número de locais (subamostras) a coletar na lavoura é o mesmo (de 10 a 20)
para compor a amostra composta.

5.3.4 Recomendações gerais de amostragem de solo no sistema plantio


direto

Com base nos resultados de pesquisa, a Comissão de Química e


Fertilidade do Solo dos estados do RS e de SC (Núcleo Regional Sul da
Sociedade Brasileira de Ciência do Solo), recomenda os seguintes
procedimentos de coleta de amostras de solo para lavouras em plantio direto
[1.7]:

º Na instalação
Em lavouras com preparo convencional anterior com revolvimento do
solo: coletar 10 a 20 subamostras, aleatoriamente, com qualquer tipo de
trado ou com pá-de-corte, na camada de 0 a 20 cm de profundidade.
Em campo natural sem revolvimento do solo: utilizar o mesmo
procedimento acima, coletando o solo na camada de 0 a 10 cm.

º No sistema consolidado (após o 6º cultivo)


Com adubação em linha: coletar 10 a 20 subamostras com pá-de-corte
na camada de 0 a 10 cm, utilizando o procedimento descrito no item 5.3.2 e
ilustrado na Figura 5.3. Fazer a amostragem preferencialmente nas culturas
de menor espaçamento (trigo, cevada, aveia, etc).
Com adubação a lanço: coletar 10 a 20 subamostras com pá-de-corte,
retirando uma fatia de 5 x 10 cm, ou com trado-caneca com 6 a 8 cm de
diâmetro, na camada de 0 a 10 cm de profundidade (Tabela 9.5 - p. 107).

5.4 Amostragem do solo para a agricultura de precisão

A agricultura de precisão consiste na aplicação de tecnologias de


avaliação e manejo da variabilidade espacial dos parâmetros de solo e das

59
Carlos Alberto Bissani et al.

culturas. São utilizados sistemas geo-referenciados (que estabelecem a


localização geográfica com exatidão razoável) de coleta de amostras de solo
e de aplicação de insumos a taxas variáveis, ou seja, com doses ajustadas à
condição agronômica de cada ponto dentro de uma lavoura. A agricultura de
precisão requer a determinação das coordenadas geográficas dos pontos de
amostragem.
O número de amostras coletadas para análise nesse sistema é muito
maior do que na amostragem feita tradicionalmente. Após a análise do solo,
os dados são tabulados e transferidos para “softwares” apropriados para
estudo de dados geo-referenciados. Esses apresentam diversas opções de
interpolação dos dados para a geração de mapas de fertildade da lavoura,
usualmente um mapa para cada nutriente ou indicador de fertilidade.
Também podem ser gerados mapas de recomendações de adubação para os
sistemas de distribuição de fertilizantes e corretivos à taxa variável.
Os princípios básicos da amostragem do solo também se aplicam à
amostragem de precisão. Um número suficiente de amostras deve ser
coletado para caracterizar adequadamente os parâmetros indicativos da
fertilidade do solo de uma determinada área de lavoura [1.7].

5.5 Manuseio e armazanagem das amostras de solo

Após a coleta do solo, alguns cuidados são importantes para preservar


a qualidade do material. Contaminações do solo amostrado podem ocorrer
tanto na coleta quanto no manuseio. Uma ferramenta de amostragem
enferrujada e, principalmente, uma embalagem com resíduo de fertilizante
podem afetar o resultado analítico, principalmente as determinações de
micronutrientes. Recomenda-se não expor o solo ao sol, especialmente se
embalado em recipientes de plástico fechado, pois o aquecimento do solo
aumenta a taxa de decomposição da matéria orgânica e de resíduos, com
formação de sais, que podem alterar o pH do solo. Sempre que possível, a
amostra deve ser seca ao ar antes de ser enviada ao laboratório. Neste caso,
recomenda-se espalhar a amostra úmida sobre uma lona de plástico, à
sombra e em local ventilado. Dessa maneira, não é necessário enviar a
amostra imediatamente ao laboratório, pois não ocorrerrão alterações que
possam afetar o resultado da análise. Se a amostra for entregue ao
laboratório na mesma semana em que foi coletada, a secagem pode ser
dispensada. Deve-se ter cuidado para que a umidade do solo não prejudique
a identificação das amostras [1.7].

60
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

5.6 Amostragem de tecido vegetal

Em plantas perenes, especialmente em frutíferas, a análise foliar pode


servir também como base para as recomendações de adubação de algumas
espécies. A coleta de tecido para análise deve ser feita, portanto, de forma
adequada. Havendo suspeita de alguma deficiência nutricional, deve-se
coletar separadamente o tecido de plantas com e sem sintomas.
Na maior parte dos casos, a concentração de nutrientes em folhas
completamente expandidas de plantas é a melhor indicação do seu estado
nutricional, refletindo a condição de fertilidade do solo.
As amostras são geralmente colhidas quando as culturas estão em pleno
crescimento vegetativo. É necessário conhecer o estádio recomendado para
a coleta das amostras, que varia entre espécies. A seleção da parte amostrada
da planta é de grande importância, pois há diferenças no teor de nutrientes
entre folhas, caules e raízes. Folhas de plantas com sintomas de deficiência
nutricional não devem ser misturadas com folhas de aspecto normal. Cada
amostra deverá conter folhas da mesma idade fisiológica e da mesma cultivar.
As folhas que não representem a condição média da lavoura ou do pomar não
devem ser colocadas na mesma amostra.
Alguns cuidados na coleta, no manuseio e na armazenagem da amostra
de tecido vegetal são:
- selecionar a parte da planta a ser coletada, conforme as
recomendações específicas dos cultivos (Anexo 2);
- escolher folhas sem doenças e que não tenham sido danificadas por
insetos ou por outro agente;
- limpar as folhas dos resíduos de pulverização e/ou poeira logo após
a coleta, por meio de lavagem com água limpa;
- evitar o contato das folhas coletadas com inseticidas, fungicidas e
fertilizantes;
- colocar a amostra em sacos novos de papel ou em embalagem
fornecida pelos laboratórios de análise de tecido; se for solicitada a
análise de boro, usar papel encerado, pois o papel comum contamina
a amostra com boro;
- identificar a amostra e preencher o formulário, indicando os
elementos a serem determinados (em anexo - p.344);
- elaborar um mapa de coleta que permita, pela identificação da
amostra, localizar a área em que foi feita a amostragem; e
- enviar as amostras o mais breve possível ao laboratório; se o tempo
previsto para a amostra chegar ao laboratório for superior a dois

61
Carlos Alberto Bissani et al.

dias, é recomendado secar o material ao sol, mantendo a


embalagem aberta.

62
06
Metodologia de Análises de Solo,
Plantas, Adubos Orgânicos
e Resíduos
_________________________
análise do solo é o principal meio para a diagnose da necessidade de

A corretivos de acidez e de fertilizantes da maioria das culturas,


principalmente as anuais. Todos os laboratórios integrantes da Rede
Oficial de Laboratórios de Análise de Solo e de Tecido Vegetal (ROLASTec)
dos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina utilizam os mesmos
métodos, mantendo-se permanente o monitoramento da qualidade das
análises. O controle da qualidade das análises é feito pela distribuição mensal
de várias amostras a todos os laboratórios. Os resultados das várias
determinações são analisados estatisticamente. Os laboratórios que
apresentam resultados com elevado padrão de qualidade (precisão e
exatidão) recebem permissão para utilizar o selo anual de qualidade. Este
pode ser referente à análise básica ou para enxofre e micronutrientes.

6.1 Análise de solos

Vários métodos podem ser utilizados para a determinação dos diferentes


parâmetros de solo indicativos da disponibilidade dos nutrientes para as
plantas. Os critérios utilizados para a seleção do método analítico são
diferentes para os diversos parâmetros determinados. O aspecto fundamental
na escolha do método de análise é que haja correlação positiva entre a
quantidade do nutriente extraída pelo método (teor na análise) e a

61
Carlos Alberto Bissani et al.

quantidade absorvida pelas plantas, conforme pode ser observado na Figura


6.1.
A correlação ideal seria a que apresentasse coeficiente de correlação (r2)
igual a 1,00. Na prática, os valores de correlação obtidos são menores,
devendo entretanto ser estatisticamente aceitos (correlações muito
significativas).
Outros fatores que devem ser considerados na escolha do método de
análise são: boa precisão (reprodutibilidade dos resultados), sensibilidade

adequada na faixa de maior ocorrência dos resultados, não apresentar


interferências, facilidade de execução e custo baixo.

FIGURA 6.1 Correlação entre as quantidades de fósforo extraído pelo extrator


Mehlich-1 (a) ou por resina de troca em lâminas (b) e as quantidades
de fósforo absorvido por plantas de trigo em 20 solos do estado do Rio
Grande do Sul [6.1].

No sistema de análises utilizado para a caracterização básica da


fertilidade do solo adotado pela ROLASTec são determinados:
a) os teores totais em alguns casos, como pH em água (H+ na solução),
acidez total ou potencial (determinada pelo índice SMP), teor de
matéria orgânica (utilizado para recomendações de adubação
nitrogenada) e teor de argila (utilizado para a interpretação do teor
de P determinado pelo extrator de Mehlich-1).
b) os teores trocáveis dos cátions K+ , Ca2+ , Mg2+ e Al 3+ (e Na+ ); estes
valores incluem também a pequena fração destes ions que está na
solução do solo; e

62
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

c) os teores parciais do total do fósforo do solo, extraídos pela solução


de Mehlich-1 (ver adiante) ou por resina de troca em lâminas, que
apresentam correlação com as quantidades absorvidas pelas plantas.

Os teores de S e de micronutrientes (denominados “disponíveis”) também


enquadram-se nesta categoria.

6.1.1 Diagnóstico da fertilidade do solo (análise básica)

A uniformização da metodologia analítica é essencial para a correta


interpretação dos resultados. Os métodos utilizados nas análises de
caracterização da fertilidade do solo com a finalidade de recomendar
corretivos e fertilizantes estão sendo aperfeiçoados desde a criação da
ROLASTec, em 1968. Uma das principais modificações foi a inclusão da
determinação rápida do teor de argila em 1987, sendo necessária para a
interpretação do teor de fósforo. O método da resina de troca aniônica em
lâminas para a determinação de fósforo [6.1] é recomendado para solos
adubados com fosfato natural nos últimos dois anos. Detalhes referentes aos
protocolos dos procedimentos analíticos a seguir relacionados são dados na
referência [6.2].
As seguintes determinações compõem a análise básica (ou de “rotina”)
e são feitas por todos os laboratórios integrantes da ROLASTec.
Teor de argila: a determinação do teor de argila do solo é feita pelo
método do densímetro, após dispersão com álcali, sendo expressa em %
(m/v). Essa determinação é necessária para estabelecer a classe textural e a
interpretação do teor de fósforo do solo extraído pela solução de Mehlich-1.
pH do solo: é determinado por potenciômetro na suspensão solo-água,
na proporção de 1:1.
Necessidade de calcário: é determinada pelo método SMP [6.1],
adaptado por W. Kussow e descrito na referência [6.6]. O método baseia-se
no uso de uma solução tamponada a pH 7,5. Como forma de medida da
acidez potencial do solo, determina-se o pH de equilíbrio dessa solução
quando em contato com o solo, denominado índice SMP. O pH de equilíbrio
da mistura solo:solução SMP é relacionado à quantidade de calcário
necessária para a correção da acidez do solo. O índice SMP pode ser utilizado
para indicar as quantidades de calcário necessárias para elevar o pH do solo
a 5,5, 6,0 ou 6,5 (Tabela 9.1). Na determinação utiliza-se a mesma amostra
da determinação do pH em água (ver Capítulo 08 - p. 92).

63
Carlos Alberto Bissani et al.

Acidez potencial (H+Al): é estimada pelo índice SMP, sendo o valor


obtido pela equação dada na Figura 8.6. O valor é expresso em cmolc/dm3.
Fósforo extraível pelo método Mehlich-1: é a fração extraída por
uma solução composta pela mistura de ácido clorídrico (0,05 mol/L) e ácido
sulfúrico (0,0125 mol/L), conhecida como solução de Mehlich-1. O teor obtido
representa o P na solução, parte do P adsorvido na superfície de óxidos e
hidróxidos de Fe e de Al e, em menor quantidade, o P ligado ao Ca. A
determinação é feita por colorimetria, empregando molibdato de amônio e
uma solução redutora. Os teores são experessos em mg/dm3.
Potássio extraível: é a quantidade composta pelo potássio da solução
do solo e o K adsorvido às cargas negativas do solo (K trocável). Utiliza-se
também o extrator de Mehlich-1. O teor de potássio no extrato é determinado
por fotometria de chama ou por espectroscopia de emissão. A quantidade
extraída é semelhante ao teor de potássio trocável, extraído com acetato de
amônio. O teor é expresso em mg/dm3. Neste extrato pode ser também
determinado o sódio trocável, por fotometria de chama, ou por espectroscopia
de emissão.
Matéria orgânica: é determinada por combustão úmida, utilizando-se
dicromato de sódio e ácido sulfúrico. O carbono da matéria orgânica é
oxidado e o dicromato é reduzido (o cromo passa de Cr6+ para Cr3+ ),
ocorrendo modificação na cor da solução, que é proporcional ao teor de
matéria orgânica do solo. A determinação da intensidade da cor da solução
é feita por colorimetria. Com base no teor de matéria orgânica, avalia-se,
indiretamente, a disponibilidade de nitrogênio do solo. Os valores são
expressos em % (m/v). Cálcio, magnésio e alumínio trocáveis: são
extraídos por cloreto de potássio 1 mol/L. Numa fração do extrato, o alumínio
é titulado com hidróxido de sódio, na presença de azul de bromotimol (ou
fenolftaleína). Em outra fração, o cálcio e o magnésio são determinados por
espectrofotometria de absorção atômica. Alguns laboratórios determinam os
teores de Ca e de Mg por titulação, ambos com EDTA. Neste caso, primeiro
é feita a titulação de Ca+Mg e, depois, a do Ca, calculando-se o teor de Mg
por diferença. Os teores são expressos em cmolc/dm3.
Capacidade de troca de cátions (CTC): é calculada pela soma dos
cátions de reação básica trocáveis (K+ ; Ca2+ ; Mg 2+ e, às vezes Na+ ) e dos
cátions ácidos (H+ + Al3+ ). Para o cálculo da CTC ao pH natural do solo (na
análise), denominada CTC efetiva, é somado o cátion Al3+ aos cátions de
reação básica:

CTCefetiva = Ca2+ + Mg2+ + K+ + Na+ + Al3+ . (6.1)

64
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

A capacidade de troca de cátions a pH 7,0 é calculada por:

CTCpH 7,0 = Ca2+ + Mg2+ + K+ + Na+ + (H+ + Al3+ ). (6.2)

Observações:
a) o teor de Na+ nos solos ácidos em geral é baixo e normalmente não
é incluído no cálculo (ver Tablea 8.1);
b) para expressar o teor de K+ em cmolc/dm3 , utiliza-se a seguinte
equação:

cmolc de K+ /dm3 = mg de K+ / 391. (6.3)

Os valores da CTCefetiva e da CTCpH 7,0 são utilizados para os cálculos da


saturação por alumínio e por bases, obtidos da seguinte maneira:

Saturação da CTCefetiva por Al


A saturação por Al (valor m) é calculada por:

m = Al x 100 / CTCefetiva (6.4)

O valor m é utilizado como critério alternativo para efetuar a calagem


do solo (ver item 13.10.1).

Saturação da CTCpH 7,0 por bases


A fração da CTC (calculada a pH 7,0) ocupada pelos cátions de reação
básica representa a porcentagem das cargas negativas do solo neutralizadas
por cátions de reação básica, denominada saturação por bases (valor V),
sendo calculada por:

V = S x 100 / CTCpH 7,0 (6.5)

em que:
S = soma dos cátions de reação básica (Ca2+ + Mg2+ + K+ + Na+ ) em
cmolc /dm3 (Na+ não incluído em solos ácidos, quando em baixos teores).

Relações entre cátions: os laudos podem conter também diversas


relações entre cátions tais como: Ca/Mg; Ca/K; Mg/K e K/(Ca + Mg)½ . Estas

65
Carlos Alberto Bissani et al.

relações devem ser calculadas utilizando-se unidades iguais de expressão de


resultados.
O valor V é utilizado como critério alternativo para efetuar a calagem do
solo (ver Capítulo 9 - item 9.2.1, p. 106).

Determinação alternativa de fósforo por resina de troca


aniônica: esta determinação é recomendada para solos adubados com
fosfato natural nos últimos dois anos. Em solos não adubados com fosfatos
naturais, os coeficientes de correlação determinados entre as quantidades de
fósforo absorvido pelas plantas e as extraídas pelo método Mehlich-1 ou por
resina de troca aniônica são semelhantes [6.3; 6.7].

6.1.2 Diagnóstico da disponibilidade de enxofre e de micronutrientes

Alguns laboratórios determinam os teores de enxofre e de


micronutrientes (B, Mn, Cu, Zn e Fe). Os métodos de extração e de
determinação são os seguintes:
Cobre e zinco: são extraídos com HCl 0,1 mol/L e determinados por
espectrofotometria de absorção atômica; os valores são expressos em
mg/dm3. As determinações de Cu e de Zn podem ser feitas também no
extrato da solução de Mehlich-1 [6.7].
Enxofre: é extraído com solução de fosfato de cálcio contendo 500 mg
de P/L, determinando-se o teor de sulfato por turbidimetria com cloreto de
bário, após a digestão do extrato com ácido perclórico; os valores são
expressos em mg/dm3.
Boro: é extraído com água quente e determinado por colorimetria, com
curcumina; os valores são expressos em mg/dm3.
Manganês: é determinado por espectrofotometria de absorção atômica
no mesmo extrato da solução de KCl 1 mol/L, usado na determinação de Ca,
Mg e Al representando o manganês trocável; os valores são expressos em
mg/dm3.
Ferro: é extraído com oxalato de amônio a pH 3,0, sendo determinado
por espectrofotometria de absorção atômica. A forma química extraída é o
ferro de compostos amorfos (ou de baixa cristalinidade) do solo; os valores
são expressos em g/dm3.

6.2 Análise de tecido de plantas

66
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

A determinação dos macronutrientes N, P, K, Ca e Mg é feita no extrato


de digestão da amostra com H2 O2 + H2 SO4 concentrado + mistura de digestão
(digestão sulfúrica). Os micronutrientes Zn, Cu, Mn, Fe e o Na e o S são
determinados no extrato com HNO3 + HClO4 (digestão nítrico-perclórica). Os
elementos P, K, Ca e Mg também podem ser determinados neste extrato. O
boro e o molibdênio são determinados nas cinzas de calcinação da amostra
[6.2]. Os teores de macronutrientes são expressos em % (m/m), e os de
micronutrientes em mg/kg.

6.3 Análise de materiais orgânicos e de resíduos diversos

Os macronutrientes (N, P, K, Ca e Mg) contidos nesses materiais são


determinados pelo mesmo procedimento utilizado para tecido de plantas,
desde que os teores sejam inferiores à solubilidade dos respectivos sais.
A presença de terra nesses materiais dificulta a digestão ácida das
amostras em bloco digestor. A análise dos elementos metálicos (Cu, Zn, Mn,
Cd, Ni, Cr, etc.) pode ser feita alternativamente em placa quente, em
substituição ao bloco digestor. Para solos em que foram aplicados resíduos
orgânicos, pode-se utilizar a metodologia proposta pela USEPA (1996 -
método 3050) [6.4]. Fósforo, cálcio, magnésio e potássio podem ser também
determinados no mesmo extrato.
Essa metodologia pode também ser utilizada para a determinação dos
teores "totais" desses elementos em solos e sedimentos.

6.4 Controle de qualidade das análises

O controle da qualidade de análises de solo nos estados do RS e de SC


é feito desde 1972, pela distribuição mensal de quatro amostras a todos os
laboratórios da ROLASTec. Os resultados das determinações (análise básica
e de micronutrientes) são analisados estatisticamente. Os laboratórios que
apresentam resultados com elevado padrão de qualidade (precisão e
exatidão) recebem o selo anual de qualidade que é afixado ao laudo de
análise [6.8].
O controle de qualidade de análises de plantas é feito por programa de
âmbito nacional, de forma semelhante ao programa da ROLASTec, sob a
responsabilidade da SBCS, sendo atualmente coordenado pela ESALQ (USP).

67
Carlos Alberto Bissani et al.

6.5 Você sabia?

6.5.1 SMP

A sigla SMP é constituída pela letra inicial dos nomes dos três
pesquisadores da Universidade da Califórnia (Shoemaker, McLean e Pratt),
que propuseram, em 1961, a utilização de uma solução tamponada para
avaliar a acidez potencial dos solos [6.5]. Este método, modificado para
adequá-lo às condições dos solos dos estados do RS e de SC (mais ácidos),
por um pesquisador da Universidade de Wisconsin (Dr. Wayne Kussow) em
1966, trabalhando no Departamento de Solos da UFRGS, foi adotado por
vários laboratórios de análise de solo do Brasil (com algumas modificações).

6.5.2 Unidades

As unidades para expressão dos resultados das determinações que


constam nos laudos de análises são dadas no item 1.6.3.

6.5.3 Análises de corretivos da acidez do solo (calcário)

Ver o item 9.4 (p. 110).

6.5.4 O teor de Na no cálculo da soma de bases

Em solos ácidos o teor de Na trocável é geralmente baixo, conforme


pode ser observado na Tabela 8.1 (já foi lixiviado para o mar). Por este
motivo o mesmo não é incluído nos cálculos da soma de bases, da CTC
efetiva e da saturação da CTC por bases. Calcule então a CTCefetiva, a
saturação por bases da CTCpH 7,0 e a soma de bases, incluíndo os teores de Na
trocável (Na em cmolc/dm3 = Na em mg/dm3 ÷ 233), nos solos 1 e 10.

68
07
Interpretação dos Resultados das
Análises de Solo e de Tecido
Vegetal
_________________________
7.1 Interpretação dos resultados das determinações de
matéria orgânica, de fósforo e de potássio disponíveis no
solo

interpretação das análises de solos consiste no enquadramento dos

A resultados analíticos em faixas, no caso Muito Baixo, Baixo, Médio, Alto


e Muito Alto, conforme a probabilidade de resposta em rendimento das
culturas (muito alta, alta, média, baixa e muito baixa, respectivamente). O
teor de suficiência ou teor crítico (valor da análise acima do qual a
probabilidade de resposta à adição do nutriente é baixa ou nula) corresponde
ao limite superior da faixa "Médio".
As faixas de interpretação dos valores de fósforo extraído pela solução
de Mehlich-1 e por resina de troca iônica em lâminas são apresentadas nas
Tabelas 7.1 e 7.2, respectivamente. Na Tabela 7.3 é apresentada a
interpretação dos valores analíticos de potássio disponível (extraído pela
solução de Mehlich-1).
A Figura 7.1 mostra a relação entre o rendimento relativo esperado das
culturas em função dos teores de fósforo disponível extraído pela solução de
Mehlich-1, para as diferentes classes texturais de solo. Os solos argilosos
apresentam maior fator capacidade (Capítulo 03) de suprimento de P às
plantas do que solos arenosos. Na Figura 7.2 é apresentada esta relação para
o teor de fósforo extraído por resina de troca iônica em lâminas.

69
Carlos Alberto Bissani et al.

TABELA 7.1 Interpretação dos teores de P do solo extraído pela solução de


Mehlich-1 conforme classe textural [1.7]

Faixas de Classe textural do solo(1 ) Solos


interpretação alagados
1 2 3 4

-------------------------mg/dm³----------------------------
Muito baixo # 2,0 # 3,0 # 4,0 # 7,0 -
Baixo 2,1-4,0 3,1- 6,0 4,1- 8,0 7,1- 14,0 # 3,0
(2 )
Médio 4,1-6,0 6,1-9,0 8,1-12,0 14,1-21,0 3,1-6,0
Alto 6,1-12,0 9,1-18,0 12,1-24,0 21,1-42,0 6,1-12,0
(3 )
Muito alto > 12,0 > 18,0 > 24,0 > 42,0 > 12,0

(1 )

(2 )
Teores de argila: Classe 1: > 60%; Classe 2: 60 a 41%; Classe 3: 40 a 21%; Classe 4: # 20%.
O teor de suficiência (ou teor crítico) é o limite superior da faixa "Médio".
(3 )
Em solos com teores muito acima do limite inferior da faixa "Muito alto" de P deverão ser adicionadas
quantidades de P2 O5 menores que as indicadas pelos valores de reposição das tabelas ou, então,
quantidades proporcionais à exportação pelas culturas.

TABELA 7.2 Interpretação dos teores de P do solo extraído por resina de troca
iônica em lâminas [1.7]

Faixas de interpretação P extraído por resina (1)


--------------------mg/dm³-------------------
Muito baixo #5
Baixo 5,1 – 10,0
Médio (2) 10,1 – 20,0
Alto 20,1 – 40,0
Muito alto (3) > 40,0
(1 )
Não é adotada a separação por classes de argila. Este método é indicado para solos adubados com
fosfatos naturais reativos nos últimos dois anos.
(2 )
O teor de suficiência (ou teor crítico) é o limite superior da faixa "Médio".
(3 )
Ver observação (3) da Tabela 7.1.

A separação dos solos em classes texturais para a interpretação dos


teores de P do solo extraído pela solução de Mehlich-1 é necessária tendo em
vista a baixa capacidade de extração desta solução, em solos com alta

70
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

capacidade de adsorção de fosfato (Capítulo 10). No caso do cultivo de arroz


irrigado por inundação, esta separação de classes de solos não é necessária,

tendo em vista o aumento da disponibilidade de P após o alagameno do solo


(Capítulo 15).

TABELA 7.3 Interpretação dos teores de potássio extraído do solo, conforme as


classes de CTCpH 7,0 [1.7]

CTCp H 7 ,0 (cmolc /dm3 )


Faixas de interpretação # 5,0 5,1 - 15,0 > 15,0
--------------------- teor de K (mg/dm³) -----------------------
Muito baixo # 15 # 20 # 30
Baixo 16 - 30 21 - 40 31 - 60
Médio 31 - 45 41 - 60 61 - 90
Alto 46 - 90 61 - 120 91 - 180
(1 )
Muito alto > 90 > 120 > 180
(1 )
Em solos com teores muito acima do limite inferior da faixa “Muito Alto” deverão ser adicionadas
quantidades de K2 O menores que as indicadas pelos valores de reposição das tabelas, ou então,
quantidades proporcionais à exportação pelas culturas.

71
Carlos Alberto Bissani et al.

F I
GU
RA
7.1
Rel
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me
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tur
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e o teor de P do solo, extraído pela solução de Mehlich-1 [1.7].

72
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

FIGURA 7.2 Relação entre o rendimento relativo de culturas e o teor de P do solo,


extraído por resina de troca iônica em lâminas [1.7].

Trabalhos recentes de pesquisa [7.1; 7,2; 7.3] mostraram que a


resposta das culturas ao potássio depende da relação entre o K extraído e a
capacidade de troca do solo. Esta relação deve estar compreendida entre 1
a 2%. Podem ser portanto estabelecidas três classes de CTC a pH 7,0 do solo
para a interpretação dos teores de K na análise, adotando-se cinco faixas de
interpretação, conforme a Tabela 7.3. Os níveis de suficiência (teor crítico)
são portanto de 45, 60 e 90 mg/dm3 para solos com CTC # 5,0, entre 5,1 -
15,0 e > 15,0 cmolc/dm3, respectivamente (Figura 7.3).

TABELA 7.4 Interpretação dos teores de matéria orgânica e dos valores de pH em


água do solo [1.7]

Interpretação Matéria orgânica pH em água


%
Muito baixo - # 5,0
Baixo # 2,5 5,1 – 5,4
Médio 2,6 - 5,0 5,5 – 6,0
Alto > 5,0 > 6,0

73
Carlos Alberto Bissani et al.

FIGURA 7.3 Relação entre o rendimento relativo de culturas e o teor de K do solo,


extraído pela solução de Mehlich-1 [1.7].

7.2 Interpretação de outras determinações da análise básica de


solo

A interpretação dos teores de Ca e de Mg trocáveis, da acidez total (H+Al)


e da capacidade de troca de cátions (CTCpH 7,0) é dada na Tabela 7.5. A saturação
da CTC por bases e por Al3+ trocável é dada na Tabela 7.6. A saturação por bases
é fator opcional de decisão de calagem, conforme indicado na Tabela 12.6.

TABELA 7.5 Interpretação dos teores de Ca e de Mg trocáveis, da acidez total (H+Al)


e da capacidade de troca de cátions (CTC) a pH 7,0 do solo [1.7]

Teor no solo Ca Mg H+Al CTC (1)


---------------------------------- cmolc/dm³ -------------------------------------------
Muito baixo - - #2 -
Baixo # 2,0 # 0,5 2,1 – 4 # 5,0
Médio 2,1 – 4,0 0,6 – 1,0 4,1 – 6 5,1 – 15,0
Alto > 4,0 > 1,0 >6 > 15,0
(1)
CTCpH 7,0 = [Ca + Mg + K + (H+Al)], em cmolc/dm3 .

74
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

As amplitudes de variação consideradas normais das relações entre cátions


trocáveis do solo são apresentadas na Tabela 7.7. Em geral, as plantas não são
muito sensíveis às variações nas relações entre cátions determinados na análise
de solo. A razão mais provável está na alteração dessas relações na superfície da
raiz em função do transporte de nutrientes por fluxo de massa e por difusão,
tornando as relações muito diferentes das determinadas na análise do solo.
Porém, a manutenção de certa proporção entre os cátions justifica-se levando-se
em conta as diferentes demandas das plantas e o equilíbrio químico dos cátions
no solo.

Tabela 7.6 Interpretação de valores de saturação por Ca, Mg, K e bases da CTCpH 7,0 do
solo [1.7]

Saturação Ca Mg K Bases
-------------------------------------------%----------------------------------------------
Muito baixa # 20 #5 # 0,5 # 45
Baixa 21-40 6 -10 0,6-1,0 45-64
Média 41-60 11-15 1,1-2,0 65-80
Alta > 60 > 15 > 2,0 > 80

Tabela 7.7 Amplitudes de variação consideradas normais das relações entre cátions
trocáveis do solo

Relação Amplitude
Ca/Mg 1-5
Ca/K 10 - 30
Mg/K 3-7

7.3 Interpretação dos resultados das determinações de enxofre


e de micronutrientes

Análises de solo também podem ser utilizadas no diagnóstico das


deficiências de enxofre e de micronutrientes. Na Tabela 7.8 é apresentada a
interpretação dos valores analíticos destas determinações. Dificilmente são
observadas deficiências de enxofre e de micronutrientes nos estados do RS e de
SC em culturas anuais. As faixas de interpretação apresentadas indicam somente
a probabilidade de resposta das culturas à adição do nutriente. Assim, um valor

75
Carlos Alberto Bissani et al.

"Baixo" num solo indica que a probabilidade de se obter um aumento de


rendimento pela aplicação do nutriente, é maior do que em solo situado na faixa
"Alto".

Tabela 7.8 Interpretação dos teores de enxofre e de micronutrientes no solo [1.7]

Teor no solo (1) Enxofre Cobre Zinco Boro Manganês Ferro


-------------------------------------- mg/dm³ --------------------------- g/dm³
Baixo # 2,0 < 0,2 < 0,2 < 0,1 < 2,5 --
Médio 2,1 – 5,0 0,2 – 0,4 0,2 – 0,5 0,1 – 0,3 2,5 – 5,0 --
Alto > 5,0 (2) > 0,40 > 0,5 > 0,3 > 5,0 5,0(3)

(1)
Teor extraído pelas soluções especificadas no item 6.1.2 (p. 65)
(2)
10 mg/dm³ para leguminosas e para culturas mais exigentes em enxofre (brássicas, liliáceas, etc.)
(3)
Valor geralmente determinado em situações de ocorrência do "bronzeamento" em algumas cultivares
de arroz irrigado.

7.4 Interpretação dos resultados de análise de tecido vegetal

Nos Anexos 3 e 4 são apresentados os teores considerados adequados


para diversas culturas. Dispõe-se, atualmente, de tabelas de interpretação de
resultados de análises de tecido vegetal para a maior parte das espécies de
plantas frutíferas e hortaliças [1.7].

7.5 Você sabia?

7.5.1 Interpretação de análise de solo

Interprete as análises dos solos apresentadas na Tabela 8.1 (com e sem


adubação e calagem).

7.5.2 Micronutrientes em solos muito intemperizados

Solos muito intemperizados, como os que ocorrem no Brasil central,


principalmente na região do Cerrado, apresentam baixa capacidade de
suprimento de micronutrientes (B, Cu e Zn). Os teores (ou níveis) críticos são,
portanto, maiores (duas vezes mais) que os adotados nos estados do RS e de SC
[13.2], com a utilização de extrator semelhante.

76
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

7.5.3 Classes de textura

Com o teor de argila dado no laudo de análise pode-se facilmente


estabelecer a classe genérica de textura (5 classes), avaliando-se manualmente
o teor aproximado de areia, com base no quadro a seguir [8.3]:

77
08
Acidez do Solo e Seus Efeitos
nas Plantas
_________________________
rande parte dos solos agrícolas das regiões tropicais e subtropicais

G apresenta limitações ao crescimento de muitas culturas devido aos


efeitos negativos da acidez. Na região sul do Brasil, a correção dos
solos é indispensável para alcançar os tetos de produção de grande parte das
plantas cultivadas.
O conhecimento da natureza da acidez do solo e suas manifestações no
crescimento das plantas é essencial para o entendimento da prática da
correção dos solos.

8.1 Origem da acidez dos solos

Os solos das regiões secas são geralmente alcalinos, devido à pequena


quantidade de água que percola no perfil, insuficiente para lixiviar os cátions
básicos solúveis. No processo de formação dos solos das regiões com altas
precipitações pluviométricas, os cátions Na+ , K+ , Ca2+ e Mg2+ e os ânions Cl-,
NO3 - e SO4 = são lixiviados. Quando a remoção de cátions básicos é maior que
sua taxa de liberação pela intemperização, o pH do solo diminui (Figura 8.1).
A redução do pH do solo é devida também ao aporte de H+ , proveniente
da dissolução parcial do gás carbônico do ar na água da chuva. A água da
chuva é, portanto, levemente ácida (pH 5,5 a 6,5):

H2O + CO2 H+ + HCO– 3 (8.1)

Outra forma de aporte de íons é devida à mineralização da matéria

77
Carlos Alberto Bissani et al.

orgânica do solo pelos microrganismos. Em pH baixo, o íon H+ atua sobre


minerais liberando Al3+ que fica retido pelas cargas negativas das partículas
de argila (Al3+ trocável). Solos em processo adiantado de intemperização
podem ser deficientes em cátions essenciais para o crescimento das plantas
e em geral contêm teores elevados de Al3+ trocável, que é tóxico. Na Tabela
8.1 são apresentadas as características relacionadas à acidez de alguns solos
do estado do Rio Grande do Sul com diferentes graus de intemperização.
Os adubos amoniacais são outra fonte de acidez devido à produção de
H+ no processo de nitrificação, como será visto no Capítulo 12.

FIGURA 8.1

Variação do pH e da acidez
total em solos em função da
precipitação pluviométrica
anual.

8.2 Formas de acidez dos solos

Os solos aptos para a agricultura são diferentes de materiais inertes


(como, por exemplo, a areia) por possuírem partículas com cargas negativas
que retêm os cátions. Estes cátions são então liberados lentamente para a
solução do solo, da qual são absorvidos pelas raízes das plantas. Quanto
maior o número de cargas negativas do solo maior será sua fertilidade
potencial, isto é, maior a quantidade de nutrientes (íons com carga positiva)
que o mesmo pode reter e lentamente liberar para as plantas [Capítulo 5 da
ref. 8.5].

78
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

As cargas negativas do solo são devidas à presença de argilominerais


e de matéria orgânica. A dinâmica entre partículas de argila (com carga
negativa) e os íons positivos num solo cultivado é mostrada na Figura 8.2. As
cargas negativas das argilas retêm a maior parte dos íons positivos que ficam
assim protegidos contra a lixiviação excessiva. Há, entretanto, um equilíbrio
entre a fração que está na solução do solo (que as plantas absorvem) e a
fração adsorvida (que é maior, nos solos férteis). À medida que as plantas
absorvem os íons da solução, ou estes são perdidos por lixiviação do excesso
da água da chuva, os mesmos são repostos pelos que estão adsorvidos nas
cargas negativas das argilas. As cargas negativas, entretanto, não
desaparecem, sendo neutralizadas por outros cátions (H+ de chuva ou da M.
O., ou dos fertilizantes/calcário).
Outro aspecto que deve ser considerado na dinâmica dos cátions
adsorvidos às cargas das argilas é o tipo da ligação química. Esta é
preferentemente de natureza iônica. Isto é, um íon pode ser trocado por
outro, sendo mantida portanto a neutralidade elétrica. Este princípio é
utilizado na análise do solo, em que são determinadas as quantidades dos
íons trocáveis de interesse, como Na+ , K+ , Ca2+ , Mg2+ ou Al3+ (ver no Capítulo

6 os métodos de determinação utilizados). Os teores trocáveis indicam a


reserva destes íons que o solo possui, podendo ser liberados para a solução
(e para as plantas).

FIGURA 8.2 Dinâmica entre partículas de argila (com carga negativa) e íons
positivos num solo cultivado.

79
Carlos Alberto Bissani et al.

Outra fonte importante de cargas negativas no solo é a matéria


orgânica. Grupos ácidos como os radicais carboxílicos podem se
dissociar, conforme o equilíbrio:

R - COOH RCOO– + H+ (8.2)

onde R representa um composto orgânico.


Em valores de pH baixo, grande parte dos radicais carboxílicos não está
dissociada, não estando, portanto, os radicais R-COO– disponíveis para
adsorver cátions, devido à ligação de caráter predominantemente covalente
entre este radical e o H+ . Com o aumento do pH, o equilíbrio (8.2) tende para
a direita, liberando então os radicais R-COO– para troca (os íons H+ são
neutralizados por OH– à medida que aumenta o pH).
O total das cargas negativas do solo constitui sua capacidade de troca
de cátions (CTC), que é um indicador da fertilidade potencial deste solo.
A CTC do solo é portanto constituída por duas frações: a) pelos íons
trocáveis ao pH que o solo se encontra (Na+ , K+ , Ca2+ , Mg2+ , Al3+ e parte do
H+ ), e b) pelos íons H+ ligados à matéria orgânica, que liberam cargas
negativas ao serem neutralizados pelo aumento do pH do solo. Esta fração da
CTC do solo é também denominada CTC pH-dependente.
Solos que apresentam baixos teores de argila possuem, portanto, baixa
CTC, sendo potencialmente menos férteis, como por exemplo o solo PVAd
(Itapuã) (Tabela 8.1). A presença de matéria orgânica, entretanto, pode
também propiciar ao solo altos valores de CTC, como nos solos RQg
(Curumim), GMe (Colégio) e CHa (Bom Jesus) (Tabela 8.1).
Assim, como ocorrem duas fontes de cargas negativas no solo, podem
ser distinguidas duas formas de acidez (ativa e potencial).

8.2.1 Acidez ativa

As plantas são suscetíveis à atividade do íon H+ dissolvido na solução


do solo. A atividade do íon H+ em solução é expressa pelo pH, definido como
o cologarítmo da atividade do íon H+ na solução.
Quanto maior o teor de H+ na solução, menor é o pH. Em pH 7,0 a
concentração do íon H+ na solução é de 10-7 mol/L. A pH 4,0 esta
concentração é de 10-4 mol/L. Pode-se perceber, portanto, que mesmo em
solos ácidos, a concentração de H+ na solução é muito baixa. A neutralização
desta forma de acidez em solo de pH 4,0 com 25% de água exigiria somente
2,5 kg de calcário por hectare. O pH do solo representa somente o grau de

80
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

dissociação dos compostos que liberam ácidos. Não fornece nenhuma


indicação referente à quantidade destes compostos. Solos com pH
semelhantes podem ter quantidades muito diferentes de fatores acidificantes

(Al3+ trocável, M.O., argila, etc.), conforme pode ser observado na Tabela 8.1.
O valor do pH pode variar com o teor de sais na solução do solo, sendo,
portanto, influenciado por fatores climáticos (precipitação), adição de
fertilizantes, etc.
O pH é uma característica muito útil na avaliação da fertilidade do solo.
Fornece indicações sobre a presença de Al3+ trocável, o potencial de
mineralização da matéria orgânica, a disponibilidade de micronutrientes, as
reações de adubos fosfatados, etc.
A determinação do pH é usualmente feita numa suspensão aquosa de
solo, por meio de um eletrodo de vidro especial sensível à atividade do íon H+ .
O pH do solo é às vezes determinado numa solução de CaCl2 0,01 mol/L; os
valores assim obtidos são, em geral, 0,4 unidades inferiores aos determinados
em solução aquosa, devido à presença do sal, que desloca ions H+ adsorvidos
nas cargas negativas da argila (equilíbrio (8.1)).

8.2.2 Acidez potencial

A resistência de um solo ácido em modificar seu pH quando são


adicionados compostos básicos é devida à acidez potencial do mesmo. O pH
somente começa a aumentar quando o composto responsável pela acidez
potencial não consegue liberar íons H+ para a solução na mesma proporção
que estes são neutralizados.
Sob o ponto de vista da correção dos solos ácidos, a acidez potencial é
muito importante, pois está diretamente relacionada com a quantidade de
calcário a utilizar. Esta forma de acidez é devida principalmente ao Al3+
trocável e à matéria orgânica.
O Al3+ trocável ou Al3+ livre é um
do s componentes da acidez
pote ncial mais importantes nos
solos ácidos muito intemperizados. O
Al3+ trocável, que é retido nas
cargas negativas das argilas, está em equilíbrio com o Al3+ na solução:

(8.3)

81
Carlos Alberto Bissani et al.

O equilíbrio 8.3 está predominantemente para a esquerda, havendo,


portanto, muito pouco Al3+ na solução. Mesmo assim o Al3+ trocável é tóxico
para as plantas.
A ação ácida do Al3+ em solução pode ser visualizada pela equação:

Al3+ + 3H2 O Al(OH)3 + 3H+ (8.4)

A quantidade de Al3+ na solução aumenta, portanto, com a acidez do


solo (o equilíbrio 8.4 é deslocado para a esquerda).
A acidez potencial devida ao Al3+ trocável é observada até pH 5,5,
aproximadamente. Em solos com pH acima de 5,5 o Al encontra-se em formas
precipitadas (pouco solúveis), não sendo tóxico para as plantas.
A acidez potencial devida à matéria orgânica é constituída pelo íon H+
de radicais orgânicos não dissociados, conforme foi exemplificado no equilíbrio
8.2. Em solos ácidos e com elevado teor de MO, esta é a principal fonte de
acidez potencial.
Na prática, a acidez potencial é expressa pela soma dos teores de H+Al,
que consta nos laudos de análise (Tabela 8.1). Quanto maior este valor, maior
será a acidez potencial. A determinação da acidez potencial será estudada no
item 8.5.2.

8.3 Necessidade da correção de solos ácidos

A alta atividade de H+ na solução em solos ácidos não é um fator


limitante ao crescimento normal das plantas. Assim, experimentos conduzidos
com soluções nutritivas em condições controladas indicam que as plantas
podem se desenvolver normalmente em pH 4,0, desde que haja suprimento
adequado de todos os nutrientes essenciais, sem a presença de elementos
tóxicos. Esta situação não ocorre no solo, pois o abaixamento do pH afeta
diversos equilíbrios, ocorrendo menor disponibilidade de alguns nutrientes
(por exemplo o P) e aparecimento de teores tóxicos de outros (por exemplo
o Mn e o Al), além de interferir na atividade dos microrganismos do solo.
Serão abordados a seguir os efeitos da correção da acidez sobre a
disponibilidade de alguns nutrientes do solo, a atividade de microrganismos,
a solubilidade de elementos tóxicos e seu reflexo no rendimento das plantas.

8.3.1 Efeito da correção da acidez na disponibilidade de nutrientes

82
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

Tanto o teor de P no solo como sua absorção pelas plantas são muito
afetados pela acidez. A correção da acidez excessiva promove:

83
Carlos Alberto Bissani et al.

a) aumento da taxa de mineralização da matéria orgânica, com a


conseqüente liberação de P e de outros nutrientes ligados à mesma;
b) maior aproveitamento do P pelas plantas, tanto do P já existente no
solo como do adicionado, devido à menor fixação pelos minerais.
Estes efeitos ocorrem simultaneamente no solo. A Figura 8.3 mostra que
tanto o rendimento de grão como o P absorvido pela soja, avaliado na época
do florescimento, aumentaram com a correção da acidez do solo.
Em geral, o aumento do pH do solo pela calagem proporciona aumento
da CTC pH-dependente. Parte do K em solução pode passar para a forma
trocável, para neutralizar as cargas negativas devidas ao aumento do pH.
Dessa forma as perdas de K por lixiviação podem ser reduzidas.

FIGURA 8.3 Resposta da soja à calagem e à adubação fosfatada em solo LVdf


(unidade de mapeamento Santo Ângelo), em 1º cultivo (Departamento
de Solos, UFRGS, 1972).

Os corretivos de acidez (calcário) suprem Ca e Mg para as plantas,


principalmente para as leguminosas, que absorvem maiores quantidades
destes nutrientes. Este suprimento é importante em solos ácidos da região do
cerrado, em que os teores de Ca e Mg são extremamente baixos (<0,1
cmolc/dm³).
No Capítulo 18 será abordado o efeito do aumento do pH sobre a
disponibilidade de alguns micronutrientes no solo.

84
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

85
Carlos Alberto Bissani et al.

86
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

8.3.2 Efeito da correção da acidez na atividade de microrganismos

A correção da acidez do solo afeta a atividade microbiana de várias


formas:
a) a movimentação do solo, necessária para a incorporação do corretivo
no sistema convencional de preparo do solo, aumenta a aeração e
a temperatura do mesmo favorecendo a mineralização da matéria
orgânica, com a conseqüente liberação de nutrientes;
b) a calagem reduz os teores de Al3+ e de Mn2+ tóxicos, que inibem a
atividade dos microrganismos do solo; e
c) o aumento do pH do solo provocado pela calagem favorece o
crescimento das bactérias, que são mais eficientes na mineralização
da matéria orgânica (ver item 12.3.1).

8.3.3 Efeito da correção da acidez na solubilidade de elementos


tóxicos

Muitos solos ácidos podem conter Al3+ e/ou Mn2+ na solução em


quantidades tóxicas para as culturas. Como a solubilidade de ambos diminui
com o aumento do pH, a eliminação da toxidez é facilmente obtida pela
calagem. Enquanto o Mn é um micronutriente essencial, o Al não é necessário
ao desenvolvimento das plantas.

8.3.3.1 Toxidez por alumínio

Como cátion trivalente, o alumínio (Al3+ ) é retido pelas cargas negativas


das partículas do solo, à semelhança de outros cátions trocáveis, estando em
equilíbrio com o Al3+ na solução (equilíbrio 8.3).
Foi visto anteriormente que o teor de Al3+ na solução do solo é baixo
(em geral, <0,1 cmolc/dm³), devido ao equilíbrio 8.3 estar
predominantemente para a esquerda. Mesmo assim seu efeito tóxico é
manifestado, pois o Al3+ trocável passa para a solução em substituição ao
absorvido pelas raízes. Enquanto o Al3+ trocável for alto, a absorção pela
planta será elevada.
Com o aumento do pH (maior atividade de OH– que neutraliza o H+ ), o
equilíbrio 8.4 tende para a direita, ocorrendo a inativação do Al3+ na solução,
e, conseqüentemente, a redução do Al3+ trocável. Este é totalmente
neutralizado quando o pH do solo atinge valores entre 5,5 e 6,0.

87
Carlos Alberto Bissani et al.

Os efeitos da toxidez de Al3+ nas plantas podem ser observados


principalmente no sistema radicular, sendo os seguintes:
a) redução do desenvolvimento das raízes, devido à inibição da divisão
celular;
b) engrossamento e pouca ramificação das raízes, devido à
desorganização dos meristemas;
c) escurecimento das raízes, devido à necrose dos tecidos;
d) acumulação de Al no protoplasma e núcleo das células do córtex das
raízes; e
e) baixa concentração de P na planta, devido à redução na absorção e
translocação deste para a parte aérea.
Estes distúrbios no sistema radicular das plantas prejudicam o
desenvolvimento da parte aérea, que pode apresentar sintomas de deficiência
de P, devido à falha na sua translocação. Por exemplo, o crestamento do trigo
pode ocorrer em manchas de solo com alto teor de Al3+ em lavouras não
corrigidas; as plantas não se desenvolvem, apresentam coloração amarelada
e rendimento muito baixo.
Embora a neutralização total do Al3+ no solo seja desejável, algumas
culturas apresentam bons rendimentos em presença de Al3+ trocável,
dependendo da quantidade do mesmo em relação aos outros cátions e da sua
maior tolerância à toxidez.
Sob o ponto de vista da toxidez para as plantas, a % de saturação da
CTCefetiva do solo por Al3+ é mais importante que o teor de Al3+ trocável no solo,
sendo expressa por:

teor de Al3+ trocável


3+
Saturação por Al (%) = x 100 (8.5)
(valor m) CTCefetiva

(Ver cálculo do valor m no item 6.1.1 - p. 65)


Desta forma, se dois solos tiverem o mesmo teor de Al3+ trocável, este
será menos tóxico no que apresentar menor valor m, pois neste caso a
saturação da CTCefetiva por Al3+ será menor.
A % de saturação da CTCefetiva por Al3+ na maior parte dos solos não
corrigidos dos estados do RS e de SC é alta, sendo prejudicial para grande
parte das culturas (ver item 13.10.1 - p. 179).
Durante sua evolução, muitas plantas desenvolveram mecanismos de
resistência à toxidez de Al3+ até hoje não bem explicados. Como exemplos de
adaptação podemos citar plantas como a samambaia e o capim barba-de-

88
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

bode (Aristida palens), que se desenvolvem normalmente em solos com alto


teor deste elemento.
As leguminosas cultivadas, por outro lado, não toleram solos muito
ácidos, necessitando de maior teor de Ca no solo para apresentar um melhor
crescimento.
Em sistemas de rotação de culturas, entretanto, deve-se trabalhar com
pH do solo favorável à planta mais exigente, ou economicamente mais
rentável.

8.3.3.2 Toxidez por manganês

O manganês (Mn) é um micronutriente necessário para o


desenvolvimento normal das plantas, participando da síntese da clorofila e
sendo responsável pela ativação de diversas enzimas. A quantidade de Mn
necessária para um bom suprimento às plantas está entre 20 e 40 mg/kg no
tecido (Anexo 3). A forma absorvida pelas plantas é o cátion divalente Mn2+
da solução do solo, em equilíbrio com o adsorvido nas cargas negativas dos
colóides.
Na correção da acidez, o Mn2+ da solução passa para a forma de óxidos
de Mn (com valência 3 ou 4 e pouco solúveis), os quais não são absorvidos
pelas plantas. Dificilmente o teor de Mn2+ nos solos corrigidos para pH 5,5 a
6,0 é totalmente neutralizado, de modo que o seu teor chegue a níveis de
deficiência. Além do mais, a correção da acidez é efetuada na camada arável
(15 a 20 cm superficiais do solo) podendo as raízes das plantas absorver Mn2+
das camadas subjacentes, onde o teor pode ser alto (ver Tabela 8.1).
Outra diferença apresentada pelo Mn em relação ao Al é a não
interferência com a absorção do P. As plantas translocam o Mn2+ absorvido
pelas raízes para a parte aérea, onde pode se acumular em níveis tóxicos. Os
sintomas de toxidez de Mn2+ foram observados na cultura da soja em
Latossolo Vermelho (unidade de mapeamento Santo Ângelo), no RS, como
manchas necróticas na superfície das folhas, ocorrendo quando a
concentração no tecido era maior que 500 mg/kg [8.1]. Altas concentrações
de Mn2+ nem sempre são tóxicas. Um bom suprimento de Ca2+ pode eliminar
os sintomas de toxidez do Mn2+ (a relação Mn/Ca diminui).
Em solos com teor de Mn2+ trocável maior que a 20 mg/dm³ há a
possibilidade de redução de rendimentos, principalmente de leguminosas.

89
Carlos Alberto Bissani et al.

8.4 Neutralização da acidez do solo

A elevação do pH é obtida pela adição de oxidrilas, geradas pela


dissolução do calcário na solução do solo. A rocha calcária é constituída por
uma mistura de CaCO3 e de MgCO3. O calcário agrícola é obtido pela moagem
desta rocha (sem tratamento químico ou térmico).
Na calagem, várias reações ocorrem no solo. A primeira é a hidrólise dos
carbonatos, exemplificada com o CaCO3:

CaCO3 + H2 O Ca2+ + HCO3 – + OH– (8.5)

Nesta hidrólise forma-se o OH– que neutraliza o H+ na solução do solo:

H+ + OH– H2O (8.6)

A neutralização do H+ desloca o equilíbrio 8.4 para a direita, com a


conseqüente neutralização do Al3+ que passa para formas insolúveis (não
tóxico para as plantas):
O íon bicarbonato (HCO3–) também reage com o H+ na solução:

H+ + HCO3 – H2CO3 (8.7)

O ácido carbônico se decompõe:


_
H2CO3 H2 O + CO2 (8.8)

Tanto o íon H+ como o íon Al3+ na solução estão em equilíbrio com os


retidos nas cargas negativas das partículas do solo. Com a neutralização
destes íons em solução pela calagem, os que estão retidos nas cargas
negativas passam para a solução, sendo por sua vez neutralizados se houver
mais OH– ou HCO3 –. Os íons H+ ou Al3+ que passam para a solução são
substituídos por Ca2+ ou por Mg2+ , para manter a neutralidade elétrica das
partículas de solo com carga negativa. Portanto, os íons Ca e Mg trocáveis no
solo aumentam (ver item 3.6.4 - p. 42)
Pela reação 8.6 conclui-se que a correção é efetuada pelo CO32– e não
pelo íon Ca2+ . Portanto, se for adicionado um sal neutro de Ca (por exemplo:
gesso - CaSO4 .H2 O), não haverá neutralização da acidez (ver item 9.1.7 - p.
105).

90
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

A correção da acidez pode ser feita também com Ca(OH)2 (cal apagada)
que, sendo uma base forte, libera OH–, neutralizando os íons ácidos, conforme
a Equação 8.6.
A neutralização da acidez pode ser feita também com CaO (cal virgem)
que inicialmente se hidrolisa, liberando OH–.

CaO + H2O Ca2+ + 2OH– (8.9)

A cal é pouco utilizada na correção da acidez do solo devido ao seu


custo mais elevado e também por ter efeito cáustico, afetando as mucosas e
causando danos nos equipamentos de distribuição.

8.5 Determinação da quantidade de corretivo a aplicar

A acidez do solo é devida a vários componentes, conforme foi visto


anteriormente. A determinação do pH em água não avalia a magnitude desses
componentes nem estabelece a contribuição de cada um deles. Na correção
do solo, estes componentes são neutralizados em proporções diferentes,
conforme a faixa de pH em que as reações estão ocorrendo. Assim, até atingir
o pH 5,5 há predomínio do Al3+ trocável. Acima deste valor, o H+ retido na
matéria orgânica é mais importante.
O melhor método para avaliar a quantidade de calcário necessária para
corrigir a acidez de um solo consiste em incubar diversas amostras do mesmo
(2 kg de solo em cada amostra) com diferentes quantidade de CaCO3. Após
completada a reação de neutralização (em 3 a 4 meses), mede-se o pH de
cada amostra. Com estes valores elabora-se um gráfico, pelo qual é possível
estabelecer com exatidão a quantidade de calcário necessária para elevar o
pH deste solo para qualquer valor desejado (exemplo na Figura 8.4).
Este método, entretanto, não pode ser utilizado nas análises de solo por
ser muito caro e demorado. Deve-se utilizar um método rápido e que
apresente boa correlação com os valores da incubação.
No Brasil, a quantidade de corretivo a ser aplicado aos solos é avaliada,
atualmente, por três métodos de análise, a saber:
a) Al3+ trocável (associado aos teores de Ca e Mg trocáveis);
b) soluções tamponadas; e
c) saturação da CTC por bases.

91
Carlos Alberto Bissani et al.

FIGURA 8.4

Avaliação da quantidade de
calcário necessária para elevar
o pH do solo LVd (Passo Fundo)
para 6.0, pelo método de
incubação [9.1].

8.5.1 Avaliação da quantidade de corretivo a aplicar, utilizando-se o


método do Al3+ trocável.

O Al3+ trocável, ou acidez extraível por uma solução de KCl 1 mol/L, é


o principal parâmetro utilizado neste método. Cada cmolc/dm³ de Al3+ trocável
determinado corresponde estequiometricamente à necessidade de uma
tonelada de calcário por hectare.
Este método é pouco exato, pois não considera outras fontes da acidez
do solo. Por isso, as quantidades por ele determinadas são em geral corrigidas
por um fator variável entre 1,5 a 2,5, conforme a região. Em solos do cerrado
são considerados também os teores de Ca, de Mg e de argila do solo
(Capítulo 3 da referência [13.2]).
Atualmente, podem ser utilizados equações obtidas em estudos de
incubação de solos para obter diferentes níveis de pH. São considerados
nessas equações os teores de Al3+ e de matéria orgânica, que são os principais
componentes da acidez potencial do solo (ver item 9.1.1 - p. 97). Essas
equações são muito úteis para calcular a necessidade de calcário de solos com
baixo poder tampão (solos arenosos, com baixos teores de Al3+ e M.O.).

92
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

8.5.2 Avaliação da quantidade de corretivo a ser aplicado utilizando-


se solução tamponada

Já foi visto que o solo ácido é um sistema tamponado, que resiste à


elevação do pH. Se for misturado com uma solução tamponada com pH alto
(7,5), é estabelecido um pH de equilíbrio que é resultante de duas forças
químicas do tamponamento. Este equilíbrio pode ser representado por:

O pH de equilíbrio é determinado por R (resultante de duas forças


químicas de sentidos opostos). No método utilizado pelos laboratórios de
análises de solos dos estados do RS e de SC, o pH de equilíbrio é chamado
índice SMP (letra iniciais dos nomes Shoemaker, MacLean e Pratt -
pesquisadores que propuseram o uso deste método, em 1961 - ver item 6.5.1
- p. 67).
O índice SMP é inversamente proporcional ao poder tampão do solo;
este é diretamente proporcional à necessidade de calcário. Ou:

Índice SMP9Poder tampão ácido do solo 8Necessidade de calcário 8

Relacionando-se o índice SMP determinado nas amostras de vários solos


e a necessidade real de calcário para atingir determinado valor de pH
(conforme exemplo da Figura 8.4), obtém-se um gráfico, mostrado na Figura
8.5.
Dessa forma, a avaliação da quantidade de corretivo a adiconar pode
ser feita muito rapidamente em laboratório: determina-se o índice SMP da
amostra, avaliando-se pela curva da Figura 8.5, a quantidade de corretivo que
deve ser adicionada ao solo para elevar o pH. Pode-se também usar tabelas
obtidas das curvas para indicar as quantidades de corretivo necessárias para
corrigir a acidez até atingir os valores de pH 5,5, 6,0 e 6,5. A tabela

93
Carlos Alberto Bissani et al.

atualmente em uso nos estados do RS e de SC é dada no Capítulo 9 (Tabela


9.1 - p. 98).
O método do tamponamento, portanto, considera os efeitos dos
diversos componentes da acidez. Se as recomendações para a correção do
solo forem feitas para elevar o pH a 6,0, todo o Al3+ trocável será neutralizado,
eliminando-se também a toxidez de Mn2+ em solos em que este se encontra
em níveis excessivamente altos (por exemplo: solo no 3 da Tabela 8.1).
A maior parte das culturas apresenta o máximo rendimento econômico
quando o pH está próximo a 6,0. A alfafa, entretanto, somente se desenvolve
bem em solos com pH acima de 6,5. Na batatinha, por outro lado, é utilizada
a correção para pH 5,5, porque a elevação do pH favorece o ataque da
moléstia Phytophtora. Na rotação de culturas, deve-se fazer a calagem
visando obter o máximo rendimento da componente da rotação de maior
valor econômico.

FIGURA 8.5

Necessidade de calcário para


elevar o pH do solo a 6,0 em
função do índice SMP [1.7] (cada
ponto representa o pH de
equilíbrio de um solo).

8.5.3 Avaliação da quantidade de corretivo a ser aplicado utilizando-se


o método da saturação por bases

Este método é baseado no princípio de que cada cultura apresenta


desenvolvimento adequado a partir de um determinado teor de bases no
complexo de troca.
A saturação por bases (valor V) é calculada pela soma de bases (valor
S) e pela CTCpH 7,0 ; conforme foi visto no Capítulo 6 (Equação 6.5 - p. 65).

94
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

Os teores de K, Ca e Mg constam na análise básica do solo. O (H+Al)


é obtido pela equação de regressão entre este valor e o índice SMP (solução
tamponada) (Figura 8.6). O índice SMP apresenta alta correlação com o teor
de (H+Al), visto que a acidez potencial é dependente do Al3+ trocável e do
teor de matéria orgânica do solo (Figura 8.6).

FIGURA 8.6

Relação entre o índice


SMP e o teor de H + Al dos
solos [8.2] (cada ponto
representa os valores
determinados em um
solo).

A fórmula para cálculo da quantidade de corretivo a aplicar é:

CTCpH 7,0 (V2-V1)


Necessidade de calcário (t/ha) = (8.10)
PRNT

em que:
CTCpH 7,0 = capacidade de troca de cátions (a pH 7,0);
V1 = saturação por bases do solo analisado;
V2 = saturação por bases desejada (que depende da cultura);
PRNT = poder relativo de neutralização total do calcário (assunto a ser
abordado no Capítulo 9 - Equação 9.4 - p. 101).
Esta fórmula foi proposta para utilização no estado de São Paulo, em
que a correção da acidez do solo é recomendada com base no valor V mais
adequado para as culturas (Anexo 8) [8.4]. É também utilizada em outros
estados.
Pode-se observar, portanto, que os métodos baseados no índice SMP
e na saturação por bases para indicação da quantidade de corretivo da acidez

95
Carlos Alberto Bissani et al.

a adicionar ao solo utilizam uma solução tamponada (SMP) para a


determinação da acidez potencial (H+Al). O nível de pH desejado ou a
saturação por bases adequada da CTCpH7,0 dependem da espécie (ou
variedade) da planta que será cultivada. À medida que aumenta o pH do solo,
aumenta também a saturação por bases da CTC (diminui H+Al).
No Capítulo 9 serão apresentados detalhadamente os critérios utilizados
para a necessidade de correção do solo em diferentes culturas e sistemas de
cultivo, bem como os materiais a serem utilizados para esta prática.

8.6 Você sabia?

8.6.1 Correção da acidez ativa do solo

Foi especificado no item 8.2.1 que a correção da acidez ativa de um solo


com pH 4,0 (para elevar o pH a 7,0) requer somente 2,5 kg de calcário/ha.
Neste exemplo considerou-se um volume de solo de 2,0 x 106 L com
umidade de 25% (m/v), ou seja 500.000 L de H2O; 0,0001 g de H+ (pH 4,0)
x 500.000 L = 50 g de H+ ou 50 moles de carga; 100 g de CaCO3
correspondem a 2 moles de carga e 2,5 kg correspondem a 50 moles de
carga. Como 1 mol de carga de base neutraliza 1 mol de carga de ácido, a
neutralização de todo o H+ de um ha pode ser feita com apenas 2,5 kg de
calcário (PRNT 100%).

8.6.2 Um solo ácido pode ser bom

Se você tivesse que adquirir uma terra, levando em conta somente o


pH, você escolheria um solo com pH 4,8 ou 7,5? (dica: H2O custa mais que
OH–, em regiões de clima seco).

8.6.3 Aumento dos teores de Ca e Mg trocáveis no solo pela calagem.

Ver exercício do item 3.6.3 (p. 42).

8.6.4 Mistura de calcário e de gesso

Às vezes o calcário pode ter gesso como impureza, ou o gesso pode ser
misturado ao calcário como fonte de enxofre. Se a reatividade da mistura for
expressa pelos teores de CaO e de MgO, o cálculo do equivalente em CaCO3

96
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

(PN), conforme exemplificado no item 9.4.1 pode ser superestimado (parte


do cálcio não libera oxidrilas). Como pode ocorrer este erro?

8.6.5 Calcário calcinado

Pode às vezes ser encontrado este produto à venda. O mesmo é obtido


pelo aquecimento da rocha calcária a 900-1000ºC. Como esta queima não é
completa, o calcário calcinado contém a mistura de carbonatos e óxidos de
Ca e de Mg. O PN do corretivo é, portanto, aumentado, sendo o material
queimado também mais fácil de moer (por quê?).

97
09
Correção da Acidez do Solo
_________________________
recomendação de calagem nos estados do Rio Grande do Sul e de Santa

A Catarina, objetiva, em geral, elevar o pH do solo até determinado valor,


visando a neutralizar ou reduzir os efeitos tóxicos do alumínio e/ou do
manganês do solo, bem como melhorar o ambiente radicular para as plantas
absorverem os nutrientes. Em geral, solos com teores elevados de alumínio,
de matéria orgânica e de argila requerem maiores quantidades de corretivo,
pois esses constituem as principais fontes de acidez potencial no solo e de
tamponamento do pH. É utilizado o método SMP modificado [6.6], para
indicar a necessidade de correção da acidez dos solos nos estados do RS e de
SC (item 6.1 - p. 63); este método inclui todas as fontes de acidez a serem
neutralizadas até o nível de pH desejado.
No sistema de cultivo convencional, a recomendação tradicional de
calagem é a correção da acidez da camada arável do solo (até 20 cm). A
adoção generalizada do sistema de semeadura sem revolvimento do solo nos
últimos anos provocou grandes mudanças na prática da calagem. As
características dos dois sistemas serão portanto apresentadas separadamente.

9.1 Calagem no cultivo convencional

A calagem no sistema convencional de cultivo é feita a lanço na


superfície, com incorporação até 20 cm de profundidade (por aração e
gradagem).

9.1.1 Quantidades a aplicar

A quantidade de corretivo a aplicar varia conforme a acidez total e com

97
Carlos Alberto Bissani et al.

o pH do solo a ser atingido (Tabela 9.1). O valor de pH a ser alcançado varia


com a cultura, conforme indicado na Tabela 9.2. Para algumas culturas,
especialmente as leguminosas, que são normalmente mais sensíveis à acidez
de solo, as recomendações de calagem são, em geral, menores do que as
necessárias para o máximo rendimento.

TABELA 9.1 Recomendações de calagem (calcário com PRNT 100%) com base no
índice SMP, para correção da acidez dos solos dos estados do Rio
Grande do sul e Santa Catarina(1) para aplicação na camada de zero a
20 cm [1.7]

Índice pH em água a atingir Índice pH em água a atingir


SMP 5,5 6,0 6,5 SMP 5,5 6,0 6,5
-----------t/ha------------- ---------------t/ha------------------
#4,4 15,0 21,0 29,0 5,8 2,3 4,2 6,3
4,5 12,5 17,3 24,0 5,9 2,0 3,7 5,6
4,6 10,9 15,1 20,0 6,0 1,6 3,2 4,9
4,7 9,6 13,3 17,5 6,1 1,3 2,7 4,3
4,8 8,5 11,9 15,7 6,2 1,0 2,2 3,7
4,9 7,7 10,7 14,2 6,3 0,8 1,8 3,1
5,0 6,6 9,9 13,3 6,4 0,6 1,4 2,6
5,1 6,0 9,1 12,3 6,5 0,4 1,1 2,1
5,2 5,3 8,3 11,3 6,6 0,2 0,8 1,6
5,3 4,8 7,5 10,4 6,7 0,0 0,5 1,2
5,4 4,2 6,8 9,5 6,8 0,0 0,3 0,8
5,5 3,7 6,1 8,6 6,9 0,0 0,2 0,5
5,6 3,2 5,4 7,8 7,0 0,0 0,0 0,2
5,7 2,8 4,8 7,0 7,1 0,0 0,0 0,0
(1 )
Tabela elaborada com base na análise conjunta dos dados obtidos em vários trabalhos [9.1; 9.2; 9.3;
9.4; 9.5].

A prática da calagem é considerada efetiva para um período aproximado


de cinco a sete anos, dependendo da quantidade e do tipo de corretivo
utilizado, do manejo do solo, da cultura, etc. A calagem deve ser considerada
uma prática para um sistema de cultivo, especialmente no caso de culturas
anuais. Nessas condições, deve-se optar pelas recomendações de calagem
visando às culturas mais sensíveis à acidez de solo, desde que isso não
provoque prejuízos significativos ao desenvolvimento das demais espécies em
cultivo.
No campo, a elevação do pH do solo depende da quantidade de
corretivo aplicada, da mistura homogênea do corretivo com o solo, do teor de
umidade do solo e do tempo de contato do corretivo com o solo.

98
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

Após a aplicação do corretivo, o pH do solo atinge um valor máximo, em


geral, entre 3 a 12 meses. Após 4 a 6 anos, o pH começa a diminuir, devido
à lixiviação natural e, à absorção pelas plantas dos cátions básicos (Ca, Mg e
K) e às reações acidificantes que ocorrem no solo. Uma nova análise indicará
a quantidade de corretivo a ser reaplicada.
Se a amostragem de solo for feita antes de um período de 2 a 3 anos
após a aplicação do corretivo, a recomendação de nova calagem, pelo método
SMP, pode não ser válida com base nesta amostra, caso uma parte apreciável
do corretivo (fração mais grossa) ainda esteja reagindo com o solo. No caso
de ser aplicada somente uma parte da dose recomendada de corretivo,
anualmente ou periodicamente, não se deve adicionar, na soma das
aplicações parciais, uma quantidade maior de corretivo do que a recomendada
inicialmente.

TABELA 9.2 Agrupamento das culturas em relação às recomendações de calagem


em sistema convencional de cultivo [1.7]

Recomendação
Culturas
de calagem
Calagem não Erva-mate, mandioca, mirtilo, pastagem natural, araucária
recomendada (1)
Calagem para Abacaxizeiro, acácia-negra, arroz irrigado (2), batatinha, bracatinga,
pH 5,5 eucalipto, pinus
Calagem para Abacateiro, abóbora, alface, alho, ameixeira, amendoim, arroz de
pH 6,0 sequeiro, aveia, bananeira, batata-doce, beterraba, brócolis, cana-de-
açúcar, canola, caquizeiro, cebola, cenoura, centeio, cevada, chicória,
citros, consorciação de gramíneas e leguminosas de estação fria,
consorciação de gramíneas e leguminosas de estação quente, couve-
flor, ervilha, feijão, figueira, fumo, girassol, gramíneas de estação fria,
gramíneas de estação quente, leguminosas de estação fria, leguminosas
de estação quente, linho, macieira, marmeleiro, melancia, melão, milho,
moranga, morango, nogueira pecã, painço, pepino, pereira, pessegueiro,
pimentão, rabanete, repolho, soja (3), sorgo, tomate, tremoço, trigo,
triticale, videira
Calagem para alfafa, aspargo, piretro
pH 6,5
(1)
Poderá ser recomendado calcário como fonte de nutrientes (cálcio e/ou magnésio).
(2)
Nos sistemas de cultivos com sementes pré-germinadas ou com transplante de mudas, não é
recomendada a calagem para correção da acidez do solo (ver observações específicas para a cultura).
(3)
Utilizar as recomendações de calagem para pH 5,5 quando cultivada no solo da Unidade de
Mapeamento Pelotas.

99
Carlos Alberto Bissani et al.

Em algumas situações especiais, o índice SMP pode não indicar


adequadamente a quantidade necessária de corretivo, podendo-se utilizar
outros critérios complementares, apresentados a seguir:
a) em solos pouco tamponados: em alguns casos, principalmente em
solos arenosos, o índice SMP pode não indicar a necessidade de
calagem, embora o pH do solo esteja em nível inferior ao desejado;
pode-se então indicar a quantidade de corretivo com base nos
teores de alumínio trocável (Al) e de matéria orgânica (M.O.) do
solo, utilizando-se as seguintes equações, conforme o valor de pH
a atingir [1.7]:

- para pH 5,5: N.C. = -0,653 + 0,480 M.O. + 1,937 Al (9.1)


- para pH 6,0: N.C. = -0,516 + 0,805 M.O. + 2,435 Al (9.2)
- para pH 6,5: N.C. = -0,122 + 1,193 M.O. + 2,713 Al (9.3)

em que: N.C. corresponde à necessidade de calagem em t/ha de


corretivo com PRNT 100%; M.O. é o teor de matéria orgânica do solo, em
porcentagem; e Al é o teor de alumínio trocável do solo, em cmolc/dm3.
b) em solos já corrigidos: para solos que já foram calcariados e cuja
análise indicar ausência de Al3+ e valores de saturação por bases
maiores que 65%, a aplicação de corretivo nas doses indicadas
pelo índice SMP pode não propiciar aumentos no rendimento das
culturas; nesse caso, a decisão de aplicar ou não o corretivo fica a
critério da assistência técnica.

9.1.2 Escolha do corretivo da acidez

Os íons ácidos do solo podem ser neutralizados utilizando-se vários


compostos que possuem em comum a propriedade de liberar OH- e/ou HCO3 -.
A substância padrão na correção da acidez do solo é o CaCO3, à qual é
atribuído o índice 100 (mol de carga igual a 50). A equivalência de outros
compostos em CaCO3 é feita pela relação entre os respectivos pesos do mol
de carga. O Ca(OH)2 tem peso do mol de carga 37. A relação é então
50/37=1,35. Isto significa que 100 kg de Ca(OH)2 tem o mesmo efeito na
correção da acidez que 135 kg CaCO3. Assim, se um solo necessita 5,00
toneladas de CaCO3 para elevar o pH até 6,0, o mesmo efeito pode ser obtido
com 5,00/1,35=3,70 toneladas de Ca(OH)2. Outros fatores de conversão para
diversos materiais corretivos são dados na Tabela 9.3.
Os corretivos de acidez mais comumente disponíveis e utilizados no

100
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

Brasil são as rochas calcárias moídas, mais conhecidas como calcários


agrícolas.
Devido à grande variabilidade na qualidade dos calcários existentes no
mercado, é necessário determinar o valor corretivo dos produtos. A eficiência
de um corretivo depende de seu conteúdo em material neutralizante (que
libera OH-) e de sua granulometria (tamanho das partículas).

TABELA 9.3 Equivalente em CaCO3 de diversas substâncias.

Substância Multiplicar por


CaCO3 (calcita) 1,00
MgCO3 (magnesita) 1,19
CaCO3 .MgCO3 (dolomita) 1,19
Ca(OH)2 (hidróxido de Ca) 1,35
CaO (óxido de Ca) 1,79
MgO (óxido de Mg) 2,48

A eficiência do corretivo é expressa pelo poder relativo de neutralização


total (PRNT), que depende do poder de neutralização (PN) ou equivalente em
carbonato de cálcio (CaCO3) e do tamanho das partículas (que indica a
reatividade - RE); o valor do PRNT é calculado pela fórmula:

PRNT(%) = PN x RE/100 (9.4)

A reatividade expressa a eficiência relativa das frações granulométricas.


Assim, partículas com diâmetro maior que 2,00 mm (retidas na peneira 10,
com 10 malhas por polegada - mpp) têm eficiência zero; partículas que
passam na peneira 10 e ficam retidas na peneira de diâmetro de orifícios de
0,84 mm (peneira 20, com 20 mpp) têm eficiência de 20%; partículas que
passam na peneira 20 e ficam retidas na peneira de diâmetro de orifícios de
0,30 mm (peneira 50, com 50 mpp) têm eficiência de 60%; e partículas com
diâmetro menor que 0,30 mm têm eficiência de 100% [9.6].
Por exemplo, se um corretivo passar totalmente na peneira de 2,00 mm
de diâmetro de orifícios e apresentar um equivalente em CaCO3 de 87,0%
com 10% das partículas retidas em peneira de malha 0,84 mm e 55% das
partículas passando em peneira de malha de 0,30 mm, seu PRNT será:

101
Carlos Alberto Bissani et al.

PRNT= 87,0 x [(10 x 0,2) + (35 x 0,6) + (55 x 1,0)] = 67,9%


100
Espera-se que 67,9% deste corretivo reagirá com os ácidos do solo no
período de 1 a 3 anos, aproximadamente. Como as recomendações de
calagem são expressas em PRNT 100%, então, para uma recomendação, por
exemplo, de 3,0 t/ha, deve-se aplicar: 3,0 x 100/67,9 = 4,4 t/ha, do corretivo
acima especificado.
Ao se adquirir o corretivo deve-se considerar o custo do produto por
unidade de PRNT, posto na propriedade, e não o custo por tonelada do
produto (o custo do frete, às vezes, pode ser maior que o custo do produto).
Além do PRNT do material, o teor de magnésio também é importante,
por ser este um nutriente normalmente encontrado em baixos teores nos
solos ácidos dos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Por essa
razão, recomenda-se a utilização de corretivos que contenham magnésio,
como é o caso dos calcários dolomíticos.
Em relação à composição química, que expressa diretamente o teor de
neutralizantes de acidez (PN), os valores mínimos previstos na legislação, de
acordo com a natureza do material, são apresentados na Tabela 9.4. Pela
legislação atual, os calcários são classificados de acordo com seu valor de
PRNT e pelo teor de MgO, conforme apresentado na Tabela 9.4. O calcário
pode ser classificado como calcítico quando seu teor em MgO for menor que
5% ou dolomítico caso seja maior que este valor.

TABELA 9.4 Garantias mínimas do poder de neutralização (PN) e da soma de óxidos


(CaO + MgO) e de PRNT exigidos para os principais corretivos da
acidez do solo [9.6]

Material PN (Eq CaCO3 ) CaO + MgO PRNT


---------------------------%---------------------------
Calcário agrícola 67 38 45
Cal virgem agrícola 125 68 120
Cal hidratada agrícola 94 50 90
Escórias 60 30 45
Calcário calcinado agrícola 80 43 54
Outros 67 38 45

Os calcários contêm partículas que variam desde pó até 2 mm de


diâmetro (máximo permitido pela legislação). A velocidade de reação de cada
fração depende do diâmetro das partículas. Resultados de pesquisa de campo
indicam que as partículas menores que 0,053 mm (passando em peneira 270

102
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

malhas por polegada - mpp) reagem completamente em menos de um mês


e partículas entre 2 e 0,84 mm (peneiras 10 e 20 mpp) necessitam de tempo
maior que 60 meses para reação completa [9.7].
Em relação à granulometria, a legislação exige que 100% do calcário
passe em peneira de 2 mm (peneira 10 mpp), com tolerância de 5%; 70%
passe em peneira de 0,84 mm (peneira 20 mpp) e 50% passe em peneira de
0,3 mm (peneira 50 mpp) [9.6].

9.1.3 Aplicação dos corretivos de acidez ao solo

Época de aplicação: o corretivo deve ser aplicado, preferencialmente,


no mínimo seis meses antes do cultivo de leguminosas, e três meses antes do
cultivo de gramíneas, para se obter os efeitos benéficos da calagem.

Distribuição: a distribuição do corretivo deve ser feita uniformemente


em toda a área. A incorporação do corretivo não corrige os problemas devidos
à má distribuição, mas sim, tende a agravá-los. Recomenda-se, portanto,
efetuar tanto a distribuição como a incorporação o mais uniformemente
possível, práticas que dependem muito dos implementos agrícolas disponíveis.
Os distribuidores que aplicam o corretivo em linhas próximas sobre o solo são
os mais eficientes. A distribuição com caminhão muitas vezes apresenta
grande desuniformidade. A distribuição do corretivo no solo deve ser evitada
em períodos com vento.

Incorporação: o corretivo deve ser incorporado até 20 cm de


profundidade. Para quantidades maiores que 5 t/ha recomenda-se aplicar
metade, lavrar, aplicar o restante, lavrar e gradear. Para quantidades menores
que 5 t/ha, uma boa incorporação do corretivo, principalmente em solos já
cultivados, tem sido obtida com gradagem seguida de aração e outra
gradagem. A finalidade da primeira gradagem é realizar uma pré-incorporação
do corretivo na camada superficial para, depois, incorporá-lo no restante do
solo pela aração. A profundidade da pré-incorporação depende do tipo de
grade e da textura do solo. Por exemplo, com grade pesada, a incorporação
no solo arenoso é mais profunda. As incorporações iniciais com arado têm
demonstrado boa distribuição vertical e uma incorporação deficiente no
sentido horizontal, evidenciando que o corretivo atinge a profundidade
desejada, mas a mistura com o solo não é homogênea. Outro problema,
observado na aplicação e na incorporação, resulta da aderência do corretivo
aos torrões úmidos do solo. Nessas condições, mesmo com várias gradagens,
não se consegue boa incorporação, notando-se, nos anos seguintes,
concentrações de corretivo.

103
Carlos Alberto Bissani et al.

Deposição de calcário na lavoura: o calcário depositado a granel na


lavoura pode provocar o aparecimento de manchas de solo com pH elevado,
que prejudicam o bom desenvolvimento das plantas. Os problemas que
podem ocorrer nesses locais relacionam-se a desequilíbrios nutricionais e à
incidência de doenças radiculares, como, por exemplo, o mal-do-pé em trigo,
especialmente em lavouras em que não é feita a rotação de culturas.

9.1.4 Efeito residual da calagem

As informações disponíveis indicam que o efeito residual da calagem é


igual ou superior a 5 anos. Isso quer dizer que novas aplicações de corretivo
só deverão ser feitas após este período, com base em nova análise de solo.
Os resultados de pesquisa também evidenciam que as necessidades de
corretivo, após o período mencionado, são bem inferiores que as iniciais,
equivalendo a uma “reposição" de 20% a 50% da dose inicialmente aplicada.
No entanto, muitos agricultores, por desconhecimento, ou pelos bons
resultados obtidos pela prática da correção da acidez do solo, aplicam
corretivo sistematicamente, a cada 2 ou 3 anos. O uso excessivo de corretivo,
ou “supercalagem”, pode provocar prejuízos, devido à ocorrência de
desequilíbrios nutricionais e desenvolvimento de patógenos prejudiciais às
plantas.

9.1.5 Relação Ca/Mg no corretivo

Para a maioria das culturas, as relações entre os teores de Ca e Mg dos


corretivos da acidez podem variar entre limites muito amplos. Em experimento
de campo em solo do cerrado, deficiente nestes nutrientes, foi determinado
que esta relação pode variar entre 35:1 e 1:3 sem prejuízo para a cultura do
milho [12.8].
A cultura da macieira, entretanto, requer corretivo com baixo teor de Mg
(calcário calcítico).

9.1.6 Aplicação de calcário na linha de semeadura

Consiste na aplicação de pequenas quantidades de calcário na linha de


semeadura. O calcário a ser aplicado deve ser finamente moído; como valor
de referência, as partículas devem ser menores que 0,15 mm de diâmetro
(tipo “filler”), com PRNT mínimo de 90%. Essa prática pode ser recomendada,
como uma alternativa, para algumas culturas sensíveis à acidez (soja, canola
etc.), observando-se as seguintes especificações técnicas [12.9]:

104
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

a) em solos com elevada acidez (necessidade de calagem $7 t/ha) e


não corrigidos, a aplicação de calcário na linha deve ser usada
parcialmente: aplica-se antes em toda a área a metade da
quantidade recomendada que deve ser incorporada ao solo; aplica-se
depois na linha de semeadura a quantidade especificada no item d),
abaixo; a porção aplicada a lanço deve ser feita 2 a 3 meses antes
do plantio;
b) em solos com necessidade de calagem menor que 7 t/ha, a aplicação
de calcário na linha pode ser usada isoladamente;
c) em condições de solo com acidez corrigida integralmente, não se
recomenda utilizar essa prática; e
d) as quantidades de calcário a serem aplicadas em linha variam de 200
a 300 kg/ha, para solos de lavoura, e de 200 a 400 kg/ha para solos
de campo nativo, optando-se pela dose maior em solos argilosos.
Para a aplicação em linha, a semeadora deverá possuir uma caixa
exclusiva para calcário, pois a mistura com fertilizante impede que seja feita
uma distribuição uniforme.

9.1.7 Uso de gesso agrícola

Por sua natureza, o gesso agrícola (CaSO4.2H2O) não é um corretivo da


acidez de solo. Constitui fonte dos nutrientes cálcio e enxofre. A adição de
gesso ao corretivo reduz o PRNT da mistura, visto que este produto não
apresenta efeito neutralizante da acidez. A avaliação do poder neutralizante
da mistura deve ser feita pelo método utilizado na determinação do PRNT do
corretivo de acidez.
O gesso (CaSO4.2H2O) é um subproduto da fabricação do ácido
fosfórico. Como não libera íons OH-, não é corretivo da acidez do solo, mas
fonte de cálcio e de enxofre, conforme será visto no Capítulo 17 (p.232).
Conforme a legislação [9.6], é classificado como corretivo de sodicidade. No
Capítulo 21 (p. 286) é apresentado o cálculo da utilização do mesmo para a
recuperação de solos salinos.

9.2 Calagem no sistema plantio direto

Como a geração de acidez no solo é um processo contínuo em climas


úmidos e considerando-se que a incorporação de calcário é inviável no
sistema plantio direto, há necessidade de aplicar calcário na superfície de
solos ácidos. Dependendo da dose aplicada, o efeito do calcário nos atributos

105
Carlos Alberto Bissani et al.

de acidez atinge até 10 cm de profundidade, em aproximadamente três anos.


Níveis de pH em água entre 5,3 e 5,6 e um teor de Al trocável de até
0,5 cmolc/dm3 na camada de 0 a 10 cm de profundidade parecem satisfatórios
para o desenvolvimento de várias culturas [9.10; 9.11; 9.12; 9.13]. Em outros
trabalhos tem-se verificado que não ocorrem respostas das culturas à calagem
quando a saturação por Al na CTCefetiva é menor que 10 % e/ou quando o teor
de P é elevado, já que ocorre alguma substituição entre os efeitos do calcário
e do fósforo. A diferença de rendimento das culturas entre a aplicação
superficial e a incorporação de calcário aplicado na mesma dose não é
expressiva [9.10]. Observa-se que os níveis de acidez a corrigir no sistema
plantio direto são menores que os do sistema convencional de preparo de
solo.
Essa diferença é devida à alteração da dinâmica do alumínio no sistema
plantio direto, especialmente na camada superficial. Ocorre a formação de
complexos de alumínio na solução do solo com ácidos orgânicos de baixo
peso molecular, oriundos da decomposição de resíduos vegetais e com ácidos
fúlvicos, de grande peso molecular. O alumínio também pode formar
complexos na interface com a fase sólida [9.14], especialmente com ácidos
húmicos e humina, formando compostos de grande estabilidade (complexos
de esfera interna); estes efeitos são diretamente proporcionais ao teor de
matéria orgânica que aumenta em solos sob plantio direto.
Considerando que a aplicação de calcário na superfície do solo altera o
pH, em geral, até 5 a 10 cm em três anos [9.10], a dose necessária, portanto,
será proporcional à profundidade afetada pelo calcário. Assim, a dose de 1/4
da recomendada pelo índice SMP corrigirá o pH da camada de 0 a 5 cm e a
dose de 1/2 SMP corrigirá o pH da camada de 0 a 10 cm, sendo esse principio
válido desde que não haja limitação no suprimento de água e de nutrientes
e nem teor elevado de Al trocável na camada subsuperficial do solo.

9.2.1 Quantidades de calcário a aplicar

Na instalação do sistema plantio direto, seja em área de lavoura ou de


campo natural, com revolvimento do solo, a quantidade de calcário a aplicar
é a mesma do sistema convencional (indicada pelo índice SMP a pH 6,0) com
base na análise de solo coletado de zero a 20 cm de profundidade.
Caso não seja feito o revolvimento do solo, seja em área de lavoura ou
de campo nativo, recomenda-se adotar as recomendações de calagem
apresentadas na Tabela 9.5, limitando-se o pH em 5,5 e a saturação por
bases em 65%, exceto para a cultura da cevada, que deve preferencialmente
ser cultivada em solos com pH maior e que não apresentem Al trocável. As
doses de calcário para atingir o pH desejado, com base no valor do índice

106
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

SMP, constam da Tabela 9.1. Para o cultivo das demais culturas, ou grupos
de culturas, o pH desejado é dado na Tabela 9.2 ou nas recomendações
específicas para a cultura.

107
Carlos Alberto Bissani et al.

108
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

No Capítulo 13 (item 13.10.1 - p. 179) são apresentados vários


exemplos de recomendações de calagem em sistema plantio dirteto, com base
nos valores de pH em água, saturação da CTC por bases ou por Al e pelo teor
de P do solo.
A utilização da saturação por bases como critério de decisão para a
calagem deve ser feita com cautela. Um estudo com 13.700 amostras de solo
analisadas no Laboratório de Análises da UFRGS em 2002 mostrou que
aproximadamente 15% das mesmas apresentava pH em água menor que 5,5
e valor V maior que 65% (valor calculado pelo Prof. Clesio Gianello).
No campo, é difícil aplicar uniformemente quantidades de calcário
menores de 2,0 t/ha. Por essa razão, recomenda-se protelar a aplicação de
calcário quando a necessidade for < 2,0 t de produto/ha, até que o solo
apresente suficiente acidez e haja maior probabilidade de resposta das
culturas à calagem.
Em geral, são observadas as seguintes relações entre pH (em água) do
solo e % de saturação por bases:
- pH 5,5 corresponde à saturação por bases de 65%;
- pH 6,0 corresponde à saturação por bases de 80%;
- pH 6,5 corresponde à saturação por bases de 85%.
No “Manual de Adubação e de Calagem para os Estados do Rio Grande
do Sul e de Santa Catarina” [1.7] são dadas as recomendações para a
correção do pH do solo para as principais culturas. Nos Anexos 5 e 6 estas
são exemplificadas para algumas culturas anuais (trigo, soja, milho, aveia e
arroz) e para a ameixeira, respectivamente.
Na Tabela 9.6 são apresentados os critérios de indicação de calagem
nas culturas de forrageiras (campo natural ou implantação).

9.3 Ocorrência e reservas de corretivos no sul do Brasil

Os materiais corretivos da acidez do solo encontrados na crosta


terrestre se apresentam na forma de carbonatos, que são compostos estáveis
(os óxidos e hidróxidos se transformam espontaneamente em carbonatos).
O material contendo mais de 10% de MgCO3 é utilizado como calcário,
para a correção da acidez do solo. A presença de Mg é desejável para evitar
uma possível deficiência deste elemento em solos com baixos teores deste
nutriente. Os calcários produzidos no estado do Rio Grande do Sul possuem
uma relação Ca:Mg próxima a 3:1.
Os calcários podem ser de origem metamórfica ou sedimentar. A maior

109
Carlos Alberto Bissani et al.

110
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

parte das reservas dos estados do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e do
Paraná é de origem metamórfica. Este calcário apresenta bastante
cristalinidade, o que dificulta e onera a extração e a moagem.
Materiais corretivos podem também ser extraídos em concheiros
naturais. Estes depósitos são de origem recente e encontrados no litoral, onde
o recuo do mar expôs a acumulação de conchas, cujo principal componente
é o CaCO3 . Esses materiais possuem baixo teor de MgCO3 .
No estado do Rio Grande do Sul, os maiores depósitos de rocha calcária
são de origem metamórfica, situados no Escudo Sulriograndense,
principalmente nos municípios de São Gabriel, Cachoeira do Sul, Rio Pardo,
Pântano Grande, Caçapava do Sul, Encruzilhada do Sul, Dom Feliciano e Bagé.
As reservas estão avaliadas em 1,2 bilhões de toneladas. Como a área de
maior atividade agrícola e também de maior necessidade de calcário está
localizada no Planalto, o transporte onera muito o custo do corretivo.
Na região sul do Brasil, os maiores depósitos de calcário estão situados
no Paraná, com uma reserva estimada de 6 bilhões de toneladas. Na região
de Castro, ocorrem depósitos de calcário dolomítico de origem sedimentar
apresentando naturalmente partículas muito finas, não necessitando de
moagem. Tais reservas estão avaliadas em 160 milhões de toneladas. As
reservas do estado de Santa Catarina estão avaliadas em 0,5 bilhões de
toneladas [9.15].

9.4 Você sabia?

9.4.1 Teores de Ca e de Mg dos corretivos

Embora não ocorram os compostos CaO e/ou MgO nos calcários (pedra
calcária moída), os laudos de análise podem expressar o equivalente em
CaCO3 (PN) dos mesmos em termos destes óxidos. Por exemplo, qual é o PN
de um calcário cujo laudo apresenta um teor de 27% em CaO e 13% de
MgO?
Os teores de CaO e de MgO nos laudos indicam também a proporção
Ca:Mg nos corretivos. Qual é esta proporção no material do exemplo dado
acima? (Ver também os itens 8.6.4 e 8.6.5 - p. 95).

111
10
Fósforo e Adubos Fosfatados
_________________________
fósforo, da mesma forma que os nutrientes nitrogênio, potássio, cálcio,

O enxofre e magnésio, é classificado como um macronutriente para as


plantas. O conteúdo de P nas plantas é sempre menor que o de N e de
K e em geral semelhante aos de S, Mg e Ca; porém, pode ser um fator muito
limitante do rendimento das culturas, nos solos ácidos. Isto se deve ao fato
de que, apesar dos solos conterem grandes quantidades de P total, a sua
disponibilidade para as plantas é muito pequena devido à tendência do P em
formar compostos de muito baixa solubilidade no solo.

10.1 Funções na planta

As plantas absorvem o P da solução do solo nas formas de íons H2PO4–


e HPO42–. Após absorvido pela planta, o P permanece na forma de fosfato,
não modificando seu estado de oxidação, ao contrário do que ocorre com o
N e o S, que são reduzidos no interior da planta.
O radical fosfato no interior da planta pode estar como íon livre em
solução, ligado a cátions metálicos formando compostos solúveis ou
complexos insolúveis e, na forma mais importante, ligado a radicais orgânicos
(fósforo orgânico). Os compostos fosfatados mais importantes são os ácidos
nucléicos (ADN e ARN), fosfatos de inositol, fosfolipídios, di e trifosfato de
adenosina (ADP e ATP) e fosfato de nicotinamida adenina dinucleotídeo
(NADP).
Por fazer parte da constituição destes compostos orgânicos, o P é
essencial para a divisão celular, a reprodução e o metabolismo vegetal
(fotossíntese, respiração e síntese de substâncias orgânicas).

111
Carlos Alberto Bissani et al.

Nas sementes, o P é armazenado principalmente na forma de fitina (sal


de Ca e Mg do hexafosfato de inositol). Este composto é hidrolizado
enzimaticamente durante a germinação e, então, o P na forma de íon fosfato
livre pode ser utilizado pela planta em desenvolvimento.
Como os processos metabólicos são muito intensos nos tecidos em
desenvolvimento, o P, em geral, é encontrado em maiores concentrações
nestes tecidos do que nos tecidos velhos. O P é bastante móvel na planta
podendo, se necessário, ser deslocado de tecidos (ou partes) mais velhos
para tecidos (ou partes) mais jovens.
A concentração de P nos tecidos vegetais varia entre as espécies, sendo
em geral maior nas sementes do que nas outras partes da planta. A
concentração é tanto maior quanto maior for a disponibilidade de P no solo.
No Anexo 3 é dado o teor de P considerado adequado para diversas culturas.

10.1.1 Sintomas de deficiência

Quando há uma disponibilidade muito baixa de P no solo, as plantas


apresentam redução de crescimento com sintomas visuais típicos de
deficiência de P. De um modo geral, os sintomas visuais de deficiência são:
plantas pouco desenvolvidas, má fecundação, maturação tardia dos frutos,
falhas na granação em cereais, folhas de cor verde escura e muitas vezes
arroxeadas. Apesar de muitas plantas (milho por exemplo) apresentarem
estes sintomas visuais de deficiência, outras apresentam sintomas diferentes,
tais como amarelecimento das folhas (cana-de-açúcar) e secamento e morte
das folhas a partir das pontas (cebola).

10.2 Fósforo no solo

No solo o P está presente nas fases sólida e líquida. Sendo o solo uma
mistura de materiais orgânicos e inorgânicos, o P apresenta-se também em
formas orgânicas e inorgânicas, tanto na fase sólida como na fase líquida
(solução do solo). O P da solução do solo (P-solução) mantém-se em
equilíbrio com o P da fase sólida (P-sólido). Devido a baixa solubilidade dos
compostos fosfatados presentes no solo e à pequena quantidade de água
que o solo retém (em geral menor que 30%), a quantidade de P da solução
é muito baixa comparada com a de P-sólido. Apesar da baixa concentração
de P-solução, as plantas retiram todo o P necessário para seu

112
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

desenvolvimento da solução do solo. Portanto, propriedades de solo como pH,


teor de óxidos e
outros fatores que afetam o equilíbrio P-sólido:P-solução, são de grande
importância para a nutrição das plantas.

10.2.1 Formas de P no solo

A quantidade total de P nos solos é bastante variável, dependendo


principalmente do teor no material de origem do solo e da idade ou estádio
de desenvolvimento do mesmo. Materiais com alto teor de P, como os
basaltos, dão origem a solos com altos teores de P total. Quanto mais velho
ou desenvolvido for o solo, maiores foram as perdas e maior é a tendência do
solo apresentar baixas quantidades totais de P. Solos argilosos em geral
possuem mais P que os arenosos.
O P total da maioria dos solos varia entre 0,03 e 0,34% (300 e 3400
mg/dm3 de P), sendo que na sua quase totalidade está na forma sólida,
constituindo compostos de P orgânico e de P inorgânico. O P da solução do
solo é constituído principalmente de P inorgânico e sua concentração é
geralmente menor do que 0,1 mg/dm3.

10.2.1.1 P orgânico

Em grande parte dos solos, aproximadamente metade do P total está na


forma de compostos orgânicos. Porém a variação entre solos é muito grande,
podendo o P orgânico em solos com muito baixo teor de matéria orgânica
representar apenas 4% do P total enquanto em solos orgânicos pode
constituir aproximadamente 90% do P total.
O P orgânico é originário dos restos de tecidos vegetais e animais
incorporados ao solo. Geralmente a metade do P orgânico é constituída por
fosfatos de inositol, um composto também encontrado nos vegetais.
Fosfolipídios, ácidos nucléicos e açúcares fosfatados também têm sido
isolados de solos, mas em quantidades muito pequenas (aproximadamente
1% ou menos do P orgânico). Os compostos que constituem
aproximadamente a metade do P orgânico dos solos não foram ainda
identificados.

10.2.1.2 P inorgânico

113
Carlos Alberto Bissani et al.

O P inorgânico constitui aproximadamente 50% do P total na maioria


dos solos; entretanto este teor pode variar de 10 a 96% do P total.
Como o íon fosfato tem uma grande afinidade química pelos cátions Fe,
Al e Ca, o P inorgânico do solo é quase todo constituído por compostos que
têm íons fosfato ligado a estes cátions.
Para esta ligação, que apresenta um forte caráter covalente, existem
duas possibilidades: precipitação de um fosfato insolúvel de fórmula bem
definida ou adsorção do íon fosfato à superfície de alguns minerais.
A concentração do fosfato em solução depende do produto de
solubilidade do composto formado. Os fosfatos de Ca são as apatitas, de
fórmula geral Ca5 X(PO4 )3 , podendo o X representar F– (fluorapatita), OH–
(hidroxiapatita) ou Cl– (cloroapatita).
A solubilidade das apatitas aumenta com o decréscimo do pH conforme
a equação:

Ca5 OH(PO4)3 + 7H+ W H2O + 5Ca2+ + 3H2PO4– (10.1)

As apatitas, especialmente a fluorapatita, são minerais primários


presentes nas rochas constituindo a fonte inicial de P no solo.
Em solos ácidos, o P inorgânico em equilíbrio com o P-solução, está
ligado com Fe e Al, principalmente pelo processo de adsorção. A adsorção
consiste na ligação do íon fosfato ao Fe ou ao Al da superfície de óxidos (ou
hidróxidos) ou às superfícies de argilas (montmorilonita, caulinita, etc).
Os metais Fe ou Al que fazem parte da estrutura de óxidos ou argilas
não estão completamente expostos na superfície, mas ligados a uma oxidrila
ou a uma molécula de água. Portanto, a adsorção de P pode ser visualizada
como uma troca por oxidrila conforme a equação 10.2.
Esta reação indica que um aumento de pH (aumento da concentração
d e OH–) faz a
reaçã o s e
deslo car para a
direit a ,
aum entando a
solub ilidade do P,
que é deslocado para a solução:
(10.2)

114
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

O fosfato pode ligar-se também à superfície de óxidos ou argilas por


duas ligações. A quantidade de P-solução em equilíbrio com o P-sólido neste
caso é muito menor. Nos solos muito intemperizados, grande parte do P-
sólido encontra-se no interior de precipitados de Fe e Al. Esta fração do P não
é disponível para as plantas. Em muitos solos ácidos do sul do Brasil, até 50%
ou mais do P inorgânico está nesta forma. Por estar imobilizado no interior
das estruturas dos óxidos de Fe e de Al, esta fração do P dificilmente pode
passar para a solução do solo, mesmo com a elevação do pH.

10.2.1.3 P da solução do solo

A concentração de P na solução do solo é, na maior parte dos casos,


menor que 0,1 mg/dm3. Um estudo com solos do estado do Rio Grande do
Sul, incluindo alguns que haviam sido recentemente adubados com P, indicou
que a concentração de P na solução foi menor que 0,05 mg/dm3. Em valores
de pH variando de 4 a 7, o fosfato em solução encontra-se
predominantemente nas formas de íons H2PO4– e HPO4 2-.

10.2.2 Relação entre P-sólido e P-solução

O P-sólido é constituído por compostos muito pouco solúveis (P-


orgânico, sais precipitados, P adsorvido). Estes mantêm uma quantidade
muito pequena de P na solução. Como foi visto anteriormente, o P-sólido está
em equilíbrio com o P-solução. A baixa solubilidade do P-sólido indica que o
P-solução deve ser muito pequeno e o P-sólido muito grande. O equilíbrio
10.3 dá uma idéia semiquantitativa das quantidades de P-sólido em equilíbrio
com o P-solução:

P-sólido P-solução
300-3400 mg/dm3 > 0,1mg/dm3 (10.3)

Quando as plantas retiram P da solução do solo, o equilíbrio 10.3 é


deslocado para a direita, ou seja, uma quantidade de P da fase sólida é
solubilizada, tendendo a manter a concentração original de P na solução.
De acordo com os princípios do equilíbrio químico, após a retirada de P
da solução do solo pelas plantas, a quantidade de P liberado à solução pelo
P-sólido é sempre menor que a quantidade previamente retirada da solução.
Num processo de retirada contínua, ocorrerá uma redução gradual de P da
solução do solo. Isto acontece com o cultivo dos solos quando não são feitas

115
Carlos Alberto Bissani et al.

adubações fosfatadas para repor aos mesmos as quantidades de P extraídas


pelas plantas.
A adição de P solúvel ao solo provocará um aumento na quantidade de
P na solução do solo, apesar de a maior parte do P adicionado ser a seguir
insolubilizado. O aumento da concentração de P-solução e a capacidade de
reposição do P-solução pelo P-sólido, à medida que as plantas absorvem o P-
solução, proporcionam, portanto, as melhores condições de nutrição com este
elemento.
As formas de P-sólido que mais contribuem para o P-solução são as
formas inorgânicas de P em contato com a solução, como o P adsorvido nas
superfícies dos óxidos ou das argilas. O P orgânico, devido à sua baixa
solubilidade, em geral é menos importante; entretanto, se o P orgânico for
mineralizado pelos microrganismos, poderá contribuir para o P-solução, como
ocorre em solos ácidos quando corrigidos (ver item 12.3.1 - p. 157).
As relações quantitativas entre P-sólido e P-solução, além de variarem
com a concentração de P na solução (ou com a quantidade de P adsorvido),
também variam entre os diferentes tipos de solos. A Figura 10.1 mostra estas
relações em três solos do estado do RS. Nota-se que aumentando o P
adsorvido, o P-solução aumenta de maneira curvilinear e que para manter a
mesma concentração de P
na solução, o solo LBc
necessita maior quantidade
de P adsorvido do que o
solo LVdf e este mais do
que o solo PVd. As relações
quantitativas entre P
adsorvido e P-solução são
características de cada solo.

FIGURA 10.1

Relações entre P-solução e P adsorvido nos solos LBc (Vacaria), LVdf (S. Ângelo) e
PVd (S. Jerônimo) (Depto de Solos, UFRGS).

116
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

10.2.3 Fatores que afetam as relações entre P-sólido e P-solução

As relações quantitativas entre P-sólido e P-solução, como as


exemplificadas na Figura 10.1, são afetadas por vários fatores. Destes, os
mais importantes são: quantidade de P adicionado, composição do solo, pH
e tempo de contato.

10.2.3.1 Quantidade de P adicionado ao solo

Como foi visto na Figura 10.1, adicionando-se P solúvel ao solo, ocorre


um aumento do P-sólido e também do P-solução. O aumento do P-solução
será tanto maior quanto maior for a quantidade de P adicionado. O P-sólido
atinge um valor máximo, variável conforme o solo. Este valor máximo é
chamado de capacidade de adsorção máxima de P sendo uma característica
de cada solo.
A Figura 10.2 mostra que baixas adições de P ao solo aumentam pouco
o P-solução, pois a maior parte do P adicionado é adsorvido. Observa-se que
para que ocorra o mesmo aumento no P-solução, a quantidade de P a
adicionar ao solo LBc é bem maior que a quantidade de P a adicionar ao solo
PVd (B>A). Este fato é devido ao maior teor de óxidos de Al e Fe do Solo LBc
do que do solo PVd.
Esta transformação do P solúvel adicionado ao solo em P-sólido é, em
geral, designada por fixação de P. Parte do P fixado é liberado para a solução
do solo à medida que as plantas absorvem P, e, portanto, a fixação de P não
deve ser vista como uma perda completa do P adicionado. A quantidade do
P fixado que é liberada para a solução do solo é variável com o tipo de solo,
sendo pequena em solos como o LBc e maior em solos como o PVd.

117
Carlos Alberto Bissani et al.

FIGURA 10.2

Efeito da adição de P no P-solução em solos PVd (São Jerônimo) e LBc (Vacaria).

10.2.3.2 Tempo de contato do P adicionado com o solo

Imediatamente após a adição de um adubo fosfatado solúvel, iniciam as


reações de dissolução do adubo na solução do solo e a subseqüente
transformação do P-solução em P-sólido (ligação dos íons fosfato com as
superfícies de óxidos e argilas). Como mostra a Figura 10.3, inicialmente a
concentração de P na solução é alta, devido à dissolução do adubo na solução
do solo. Nos primeiros
dias esta concentração
decresce rapidamente
e após decresce mais
lentamente.
Com o passar do
tempo, portanto,
d e c r e s c e a
disponibilidade do P
adicionado para as
plantas. Porém, na
maior parte dos solos,
o P adicionado a uma
cultura pode ser em
parte absorvido pelas
culturas subseqüentes. Este é o efeito residual do P.

118
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

FIGURA 10.3

Efeito do tempo de contato do fósforo aplicado ao solo na concentração do P-


solução. (Depto de Solos,
UFRGS).

Este efeito residual é


tanto maior quanto maior for
a quantidade de P aplicado,
quanto mais lenta for a
transformação do P
adicionado em P-sólido e,
também, quanto menor for a
proporção deste P-sólido que
passar para formas muito
insolúveis.

10.2.3.3 Tipo e quantidade de minerais presentes no solo

Vários minerais presentes nos solos têm a propriedade de reter P na


superfície. Destes, os mais importantes são os óxidos e hidróxidos de Fe e de
Al e argilas (caulinita, vermiculita e montmorilonita). Os óxidos e hidróxidos
de Fe e de Al têm uma capacidade de reter P muito maior que as argilas.
Portanto, menor quantidade do P aplicado permanecerá na solução dos solos
nos quais predominam os óxidos e hidróxidos (como os latossolos do Planalto
Riograndense e do oeste de SC) do que na solução dos solos onde
predominam as argilas 1:1 e 2:1 (como os solos da Depressão Central do
estado do RS). Isto significa que, para se obter bons rendimentos com as
culturas é necessário aplicar mais P nos solos com predominância de óxidos
e hidróxidos de Fe e de Al do que nos solos com predominância de argilas 1:1
e 2:1.

119
Carlos Alberto Bissani et al.

Solos muito arenosos retêm muito pouco P. A aplicação de adubos


fosfatados solúveis (superfosfatos, DAP, etc.) pode ocasionar perda de P por
lixiviação. É conveniente, nestes casos, a aplicação parcelada do P na forma
solúvel, visto serem os fosfatos insolúveis menos eficientes em solos
arenosos.

10.2.3.4 pH do solo

A maior parte dos solos brasileiros não corrigidos apresenta pH de 4,0


a 5,5. São portanto bastante ácidos, sendo necessária a calagem para reduzir
a acidez e, conseqüentemente, elevar os rendimentos das culturas. Um dos
efeitos benéficos da calagem de solos ácidos é o aumento da disponibilidade
do P para as plantas, devido:
a) à eliminação do Al trocável que causa danos à raiz de plantas
sensíveis à toxidez por este íon e, conseqüentemente, dificulta a
absorção do P e sua posterior translocação para a parte aérea;
b) ao aumento da atividade microbiana, que provoca maior
mineralização do P orgânico; e
c) ao aumento da concentração de íons OH-, os quais podem deslocar
o P adsorvido na superfície dos minerais para a solução (equilíbrio
10.2).
Quando o pH do solo ultrapassa valores de 7,0 a 7,5, o P começa a
precipitar na forma de hidroxiapatita, que também é bastante insolúvel. Isto
faz com que a quantidade de P na solução do solo e, conseqüentemente, a
sua disponibilidade para as plantas, decresça em valores de pH maiores que
7,0 (equilíbrio 10.1).
A Figura 10.4 mostra a variação da disponibilidade de P para as plantas
com o pH do solo.
A calagem para elevar o pH de um solo ácido até aproximadamente 6,0
aumenta a disponibilidade do P nativo e do P aplicado ao solo. Entretanto, a
maioria dos solos ácidos não possui quantidade de P nativo suficiente para
proporcionar bons rendimentos; portanto, a prática de calagem, quando feita
sem uma concomitante adubação fosfatada, geralmente não proporciona os
resultados que se obtêm quando, além da calagem, se faz uma correta
adubação fosfatada. Além disso, a quantidade de adubo fosfatado necessária
para obter um bom rendimento das culturas é, em geral, menor em solos em
que foi feita a calagem do que em solos que não receberam calcário. Este fato
é exemplificado na Figura 10.5, em solo LVdf (S. Ângelo). Pode-se observar
que a calagem produziu um aumento de rendimento equivalente à aplicação

120
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

de 140 kg de P2O5/ha. Por outro lado, com a aplicação de 100 kg de P2O5/ha,


houve um acréscimo de 65% do rendimento da soja devido à calagem (dados
de 1º ano de cultivo - ver item 12.3.1 - p. 157).

FIGURA 10.4

Efeito do pH do solo na
disponibilidade de P para as
plantas.

FIGURA 10.5

Efeito da calagem e da
adubação no rendimento de
soja no solo LVdf (Santo
Ângelo) (Depto de Solos,
UFRGS, 1972).

10.3 Disponibilidade do P para as plantas

121
Carlos Alberto Bissani et al.

A disponibilidade do P do solo para as plantas depende dos fatores que


afetam o movimento do P da solução do solo até a superfície das raízes, da
capacidade do solo manter P na solução e de outros fatores limitantes ao
crescimento das plantas.

10.3.1 Movimento do P até a superfície das raízes

Mais de 90% do P absorvido pelas plantas atinge a superfície das raízes


por difusão (ver item 3.4.2 - p. 38). As raízes, à medida que crescem,
absorvem o P-solução em contato com a sua superfície. A concentração de P
na solução em contato com as raízes é, portanto, mais baixa que no resto da
solução do solo. Esta diferença de concentração de P entre a solução em
contato com a raiz e a solução mais afastada (1 a 2 mm de distância) faz com
que o P se movimente por difusão em direção à superfície da raiz. À medida
que o P se movimenta para a superfície das raízes para ser absorvido, uma
certa quantidade de P da fase sólida é liberada para a solução, como
esquematizado na Figura 10.6.

FIGURA 10.6

Movimento do P da solução
até a superfície da raiz.

A equação que
descreve o movimento do P-solução até a superfície da raiz por difusão foi
estudada no Capítulo 3 (equação 3.1 - p. 38). Esta equação mostra os
principais fatores que influenciam a absorção de P pelas raízes. A absorção de
P é favorecida por: um sistema radicular amplo (maior área de raízes), um
alto teor de água no solo (solos argilosos têm maior capacidade de reter água
que os arenosos) e, sendo L constante, uma grande diferença entre C1 e C2
(alto teor de P na solução do solo).

122
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

À medida que a planta absorve P, o fator C1 (P-solução, na equação 3.1 -


p. 38) tende a diminuir e, portanto, a absorção de P pela planta também
tenderá a diminuir. Esta diminuição da absorção de P pela planta será tanto
mais pronunciada, quanto menor for a capacidade do solo em liberar P da
fase sólida para repor o P retirado pela planta da solução do solo. Esta
propriedade do solo de manter o teor de P na solução é denominada de poder
tampão de P do solo. O poder tampão de P dos solos argilosos é maior do
que o dos solos arenosos (fator capacidade).
Por este motivo, o teor crítico de P (nível crítico) é maior nos solos
arenosos, no sistema de interpretação das análises de solo utilizado nos
estados do RS e de SC (ver Capítulo 7, Figura 7.1 - p. 71).
Por terem os solos argilosos maior capacidade de reter água (av na
equação de difusão - p. 38) do que os arenosos, a movimentação de P por
difusão, é maior nos argilosos. Pode-se afirmar, portanto, que os solos
argilosos são potencialmente mais férteis que os arenosos.

10.3.2 Métodos de avaliação da disponibilidade de P

Vários métodos podem ser utilizados para avaliar a disponibilidade do


P para as plantas. No Brasil são mais empregados: a extração do P do solo
por soluções diluídas de ácidos fortes ou equilíbrio do solo com resina de troca
catiônica.
O extrator de Mehlich-1 (H2SO4 0,0125 mol/L + HCl 0,05 mol/L) é
utilizado pelos laboratórios de análise de solo dos estados do RS e de SC.
Apresenta boa correlação com o P extraído pelas plantas quando os solos são
agrupados em classes de textura [4.1]. A determinação do teor de argila é,
portanto, necessária para a interpretação da análise do solo (Capítulo 7).
Assim, a solução ácida extrai o P-solução e parte do P-sólido (adsorvido à
superfície dos minerais).
No procedimento de extração do fósforo por resina de troca aniônica,
na forma de membrana, esta é deixada em contato com a suspensão do solo
em água, com agitação lenta, por um período de 16 horas. Durante este
período a resina adsorve o P da solução, que está em equilíbrio com o P-
superficial, à semelhança do que ocorre no sistema solo-planta [6.2].
As relações entre o P do solo extraído por solução diluída de ácidos
fortes ou por resina de troca e o P absorvido pelas plantas são mostradas na
Figura 6.1, para solos do estado do RS.

123
Carlos Alberto Bissani et al.

10.4 Adubos fosfatados

Os adubos fosfatados podem ser classificados em: fosfatos naturais,


termofosfatos, fosfatos solúveis e fosfatos parcialmente acidulados.

10.4.1 Fosfatos naturais

São compostos encontrados na natureza que apresentam alto teor de


fósforo. Podem ser minerais e orgânicos.
Os fosfatos orgânicos foram os primeiros adubos fosfatados utilizados.
São obtidos por moagem de ossos de animais. Contêm 30 a 35% de P2 O5 total
na forma de fosfato tricálcico. São produtos pouco solúveis em água e de
reação lenta no solo. Devido ao seu alto valor nutritivo, são preferencialmente
utilizados na fabricação de rações para animais.
Os fosfatos naturais de origem sedimentar (de natureza não cristalina)
apresentam boa disponibilidade de P para as plantas [10.7], sendo
denominados comercialmente de fosfatos naturais reativos (Arad; Marrocos;
Gafsa; Carolina do Norte, etc.). Podem ser utilizados na forma farelada (grãos
de até 4,8 mm de diâmetro), o que facilita sua aplicação.
Os fosfatos podem ser também de origem metamórfica e apresentar
estrutura cristalina bem definida (apatitas), ou de origem sedimentar ou
orgânica com cristais imperfeitos e com uma fração de íons fosfato na rede
cristalina substituídos por íons CO3 2- (fosforitas).
As fosforitas são menos estáveis do que as apatitas e, por isso, podem
ser aplicadas diretamente ao solo como fertilizante.

TABELA 10.1 Teores totais e solúveis em ácido cítrico de alguns fosfatos naturais

Fosfato Forma P2 O5 total P2 O5 solúvel em


(%) ác. cítrico a 2%(1)
Fosfato de Jacupiranga Apatita 35 2,6
Fosfato de Olinda Fosforita 26 5,2
(2)
Fosfato de Gafsa Fosforita 27 12,5
Fosfato de Patos de Minas Apatita 26 5,2

(1)
Relação adubo:solução de 1:300;
(2)
Fosfato natural reativo, comercializado em forma farelada.

124
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

Os fosfatos naturais minerais são muito pouco solúveis em água e


lentamente solúveis no solo. A disponibilidade do P dos mesmos é geralmente
determinada em solução de ácido cítrico a 2%. Devem ser finamente moídos,
aplicados a lanço e incorporados ao solo para apresentar boa eficiência
agronômica [10.1].
Os fosfatos de natureza cristalina são bastante estáveis e pouco
solúveis, não sendo utilizados para aplicação direta ao solo; são
preferencialmente usados como matéria prima para a obtenção de fosfatos
solúveis.

10.4.2 Termofosfatos

São produtos de fusão de rocha fosfatada com rocha magnesiana em


alta temperatura (1.4500C) seguida por resfriamento rápido com água. O
adubo possui 17% de P2O5 total sendo no mínimo 14% solúvel em ácido
cítrico. Além do fósforo, contém 18 a 20% de Ca, 7% de Mg, além de Fe, Mn,
Cu e Mo em menores quantidades.
Um exemplo de termofosfato é a Escória de Thomas, um resíduo de
siderurgia obtido no processo de eliminação do P contido no minério de ferro
(impureza), em fornos revestidos por uma camada de dolomita, em alta
temperatura. O produto resultante contém 18-20% de P2O5 total, sendo no
mínimo 12% solúvel em ácido cítrico a 2%. A Escória de Thomas contém
ainda 20 a 29% de CaO e pequenas quantidades de Mg e micronutrientes (Fe,
Mn, B, Cu, Zn e Mo).

10.4.3 Fosfatos solúveis

São adubos com maior solubilidade em água, obtidos pela reação de


fosfatos naturais (apatitas) com ácidos fortes concentrados (H2SO4 ou H2PO4)
ou pela neutralização do ácido H3PO4 por amônia.
A solubilidade do P contido nos fosfatos solúveis é expressa pela soma
do P solúvel em água e a do P solúvel em citrato neutro de amônio (CNA).
O superfosfato simples (SFS) contém 18% de P2O5 (solúvel em H2O),
sendo obtido pela reação de apatita com H2SO4 (reação simplificada):

Apatita + H2SO4 6 [Ca(H PO )


2 4 2 . H2 O + CaSO4.2H2O]
(10.4)

O SFS contem tambem 18 a 20% de Ca e 11 a 12% de S.

125
Carlos Alberto Bissani et al.

O superfosfato triplo (SFT) contem 44 a 45% de P2 O5 (solúvel em H2 O


+ CNA), sendo obtido pela reação de apatita com H3PO4 (reação simplificada):

Apatita + H3PO4 6 [Ca(H PO )


2 4 2 . H2O] (10.5)

O STF contém também 14% de Ca.


Existem ainda outros adubos fosfatados solúveis, obtidos pela reação de
ácido fosfórico com amônia. A reação de uma molécula de amônia com uma
de ácido fosfórico forma o mono-amônio-fosfato (MAP); a reação de duas
moléculas de amônia com uma de ácido fosfórico forma o di-amônio-fosfato
(DAP):

NH3 + H3 PO4 6 NH4 H2 PO4 (mono-amônio-fosfato - MAP) (10.6)

2NH3 + H3PO4 6 (NH4)2HPO4 (di-amônio-fosfato - DAP) (10.7)

Os fosfatos de amônio são considerados adubos mistos, pois além de P


contêm N. O MAP e o DAP contêm 48 e 45% de P2 O5 , respectivamente. Os
teores de N destes adubos são de 9% no MAP e de 17% no DAP.

10.4.4 Fosfatos parcialmente acidulados

Com a finalidade de aproveitar melhor o ácido sulfúrico na solubilização


da rocha fosfática, podem ser preparados fosfatos em que somente parte da
apatita reage com o ácido para formar fosfato solúvel (reação 10.4, com
quantidade sub-estequiométrica de H2SO4). Entretanto, devido à baixa
solubilidade da apatita, a fração que não reage com o H2SO4 não tem efeito
sobre as culturas anuais.

10.5 Eficiência da adubação fosfatada

A eficiência do adubo fosfatado depende de vários fatores, a saber:


forma química, granulação, método de incorporação, propriedades do solo
(acidez e capacidade de retenção do P), clima, quantidade de P aplicado, etc.

10.5.1 Forma química

126
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

As apatitas contêm P na forma tricálcica, de baixa solubilidade. O teor


total de P nestes adubos (fosfatos naturais), portanto, não indica o poder
fertilizante destes fosfatos. O P solúvel em ácido cítrico a 2% (na relação
1:100) expressa melhor o valor fertilizante destes fosfatos [10.2].
O valor fertilizante real dos fosfatos pode ser determinado com plantas,
pelo índice de eficiência agronômica (IEA), calculado pelos valores do P
absorvido pelas mesmas, em relação ao superfosfato triplo (solúvel) conforme
a fórmula:

P do tratamento - P da testemunha
IEA = x 100 (10.8)
P do S. triplo - P da testemunha

Na Figura 10.7 são dados os valores do IEA de diversos fosfatos, obtidos


em trabalho de campo, com 8 anos de duração. Pode-se observar que o IEA
dos fosfatos naturais brasileiros sem tratamento variou de 8 a 76%. Estes
fosfatos necessitam, portanto, de tratamento prévio (térmico ou químico) para
solubilizar o fósforo.
Pode-se observar também na Figura 10.7 que o IEA foi maior no caso
da pastagem de gramínea
(andropógon), devido ao
maior período de absorção
de P pelas raízes e à sua
maior capacidade de
extração de P do solo.

FIGURA 10.7

Índice de eficiência
agronômica (IEA) de alguns
fosfatos, aplicados em pó e
misturados na camada superficial em latossolo de Cerrado, na quantidade de 88
kg/ha de P2 O5 total [10.3].

127
Carlos Alberto Bissani et al.

10.5.2 Granulação

A granulação facilita a aplicação e aumenta a eficiência dos fosfatos


solúveis, devido à menor fixação de P. A concentração de P-solução na
proximidade dos grânulos do adubo é mantida alta devido à saturação do P-
sólido. Esta condição é necessária para as plantas anuais, de crescimento
rápido, que requerem grandes quantidades de P num período curto. A
eficiência destes fosfatos é maior com a calagem, como foi discutido
anteriormente.
A granulação dos fosfatos pouco solúveis (fosfatos naturais) reduz a sua
eficiência para as culturas anuais. Resultados de vários experimentos de
campo conduzidos no estado do RS utilizando fosfato de Gafsa granulado
indicam que a redução da eficiência é de aproximadamente 50% no primeiro
ano, com culturas anuais [10.1; 10.4]. Nas culturas seguintes a eficiência
equivale à obtida com o superfosfato triplo, devido ao revolvimento do solo
e à conseqüente mistura solo-adubo (em sistema de cultivo convencional).

10.5.3 Método de aplicação

A maneira como se aplica o adubo fosfatado ao solo pode ter grande


influência na sua disponibilidade para as plantas. Podem ser utilizados três
métodos para aplicar os adubos ao solo: a lanço e com incorporação uniforme
ao solo, em linha e em cobertura.

10.5.3.1 A lanço e incorporação uniforme

Este método consiste em espalhar uniformemente o adubo na superfície

do solo e a seguir lavrar e gradear para obter uma incorporação uniforme do


fertilizante ao solo da camada arável (15 a 20 cm superficiais).
O adubo distribuído na camada arável aumentará o teor de P da solução
de toda a camada, proporcionando assim maior volume de solo com boas
condições para as raízes se nutrirem e se desenvolverem. Isto favorece o
aumento do sistema radicular, proorcionando maior quantidade de P

128
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

absorvido (ver equação de difusão - p. 38) e também melhor uso da água do


solo pelas plantas.
A desvantagem deste método de aplicação para os fosfatos solúveis é
a reação rápida com o solo, ocorrendo maior retenção do P na fase sólida.
Entretanto, este método deve ser utilizado na adição de fosfato natural (em
pó) para propiciar maior contato entre o solo e as partículas do adubo.
A aplicação de adubo na forma de pó requer a utilização de
equipamento especial, devendo ser feita somente em período sem vento. O
adubo na forma de pó não pode ser utilizado para a formulação de misturas
com adubos granulados. A elaboração de produtos granulados com fosfato
natural, mesmo com grânulos pequenos (1,4 - 2,0 mm) reduz muito a
eficiência destes fosfatos [10.6].

10.5.3.2 Em linha

Neste método, o adubo é aplicado com semeadora-adubadora numa


linha localizada a aproximadamente 5 cm ao lado e 5 cm abaixo da linha de
sementes.
Apresenta as seguintes vantagens:
a) não necessita de operação especial para a aplicação do adubo, já
que é executada junto com a semeadura;
b) a reação do adubo com o solo é mais lenta, devido ao seu menor
contato com o solo (menor “fixação" durante o ciclo da planta); e
c) a alta concentração de P junto às raízes proporciona boas condições
de nutrição para a planta no início do crescimento.
As desvantagens da aplicação do adubo em linha são:
a) o sistema radicular tende a ficar reduzido se o solo é muito deficiente
em P, o que pode provocar o tombamento de plantas;
b) a disponibilidade de água para as plantas fica reduzida devido à
exploração de menor volume de solo pelas raízes;
c) a quantidade de P absorvido pode ser menor do que na aplicação a
lanço devido à menor extensão do sistema radicular; e
d) as quantidades de P que podem ser utilizadas são menores (no
máximo 80 a 100 kg de P2O5/ha), devido ao efeito salino do adubo
sobre as raízes das plantas.
Caso seja necessário aplicar uma quantidade elevada de P (>100 kg de
P2 O5 /ha), recomenda-se aplicar parte do P solúvel (granulado) a lanço e parte
em linha, após a correção da acidez do solo.

129
Carlos Alberto Bissani et al.

10.5.3.3 Em cobertura

A aplicação em cobertura consiste em espalhar o adubo a lanço ou em


linha na superfície do solo quando a cultura já está estabelecida.
A adubação em cobertura é utilizada nos sistemas de plantio direto ou
cultivo mínimo e em pastagens. Entretanto, o P é muito pouco móvel no solo,
e somente as raízes superficiais podem absorver o P aplicado. A manutenção
do teor adequado de P na camada superficial do solo é feita por ciclagem
biológica.

10.5.4 Propriedades do solo

A eficiência de fertilizantes fosfatados solúveis é menor em solos ácidos,


que possuem alta capacidade de retenção de P. Solos com altos teores de
óxidos de Fe e de Al em geral apresentam estas condições.
A calagem aumenta a eficiência do adubo fosfatado solúvel, conforme
foi visto anteriormente, tanto no primeiro ano como nos anos subseqüentes
(efeito residual).
O efeito residual do adubo fosfatado diminui com o tempo, devido ao
aumento da estabilidade das ligações do fosfato com os óxidos e argilas. Na
Figura 10.8 é mostrado o
decréscimo do efeito residual
da adubação fosfatada em
solos do estado do RS (com
calcário). A obtenção de
dados de efeito residual é
importante para a elaboração
das tabelas de adubação.

FIGURA 10.8

Efeito residual de uma dose de fósforo aplicada na primeira cultura sobre as


culturas seguintes [10.5].

130
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

10.6 Expressão do teor de fósforo em adubos

O teor de P em adubos minerais fosfatados é expresso em P2O5, embora


este composto não ocorra em adubos, por ser instável.
As recomendações de adubação são feitas também em kg de P2 O5 /ha
(Anexo 5). Como o P2 O5 contém 43,7% de P, pode-se utilizar o fator de
100/43,7 = 2,29, para calcular o teor de P em adubos fosfatados. Por
exemplo, um adubo com 32% de P2O5 contém 32/2,29 = 14,0% de P.
Geralmente o teor de P dos adubos orgânicos e do tecido de plantas é
expresso em % de P (m/m). O equivalente em P2O5 é calculado multiplicando-
se o teor de P por 2,29.

10.7 Você sabia?

10.7.1 Eficiência de absorção

Calcule a eficiência de absorção do P (do superfosfato triplo) pela aveia


no experimento apresentado no Anexo 7. Por que este valor é menor que o
do N (item 12.5.5)? Que valor pode ser esperado em solo argiloso?

131
11
Potássio e Adubos Potássicos
_________________________
11.1 Potássio na planta

potássio é um macronutriente presente nas plantas em quantidades

O similares ao nitrogênio. Os teores adequados para um bom crescimento


variam entre 2 a 5% do peso seco, dependendo da espécie, do estádio
de desenvolvimento e do órgão da planta. Tem alta mobilidade na planta,
tanto entre células, como entre tecidos e também entre diferentes partes da
planta, via xilema e floema. É comum o potássio ser redistribuído de folhas
velhas para folhas novas. No Anexo 3 são dados os valores considerados
adequados para algumas culturas.
O potássio é o cátion mais abundante no citoplasma, também ocorrendo
em alta concentração no cloroplasto. Em ambos, é necessário para neutralizar
ânions orgânicos e inorgânicos e para estabilizar o pH na planta entre 7,0 e
8,0 faixa adequada para a maioria das reações enzimáticas.
Embora o potássio não faça parte da estrutura química de compostos
da planta, exerce funções reguladoras muito importantes. É necessário para
ativar pelo menos 50 enzimas. É bem conhecida, atualmente, a necessidade
do potássio para a síntese de proteínas em plantas superiores. Está ligado,
também, ao processo fotossintético em vários níveis; participa da síntese da
ATP (adenosina trifosfato - unidade de armazenamento e transporte de
energia na forma química necessária aos processos celulares que requerem
energia); afeta a taxa de assimilação do CO2 e a manutenção do turgor das
células-guarda, que controlam a abertura e o fechamento dos estômatos para
regular a taxa de transpiração das plantas e a difusão do CO2 atmosférico.

131
Carlos Alberto Bissani et al.

11.1.1 Deficiência de potássio

A deficiência de potássio não provoca de imediato sintomas visíveis. No


início da deficiência ocorre uma redução na taxa de crescimento das plantas
e, mais tarde, aparecem as cloroses e necroses. Estes sintomas geralmente
começam nas folhas mais velhas, devido ao fato que estas suprem as folhas
mais novas com potássio quando ocorre a deficiência. Na maioria das plantas
a clorose e a necrose começam nas margens e nas pontas das folhas;
entretanto, em algumas espécies, como em trevos, aparecem pontos
necróticos irregulares distribuídos na folha da planta.
As plantas deficientes em potássio mostram um decréscimo no turgor
e quando ocorre deficiência hídrica, tornam-se flácidas. Além de menor
resistência à seca, apresentam maior suscetibilidade ao congelamento e ao
ataque de fungos. Em plantas deficientes em potássio, freqüentemente é
observado um desenvolvimento anormal dos tecidos e organelas das células.

11.2 Potássio no solo

O potássio ocorre no solo em duas formas: como componente da fase


sólida e como íon K+ na fase líquida (solução do solo).
O potássio na fase sólida faz parte da estrutura de minerais primários
(feldspatos e micas) e de minerais secundários (ilita, argilominerais
interestratificados, vermiculita) ou adsorvido na superfície de argilominerais
e de compostos orgânicos.
No processo de intemperização dos feldspatos potássicos e das micas,
o K é liberado da estrutura destes minerais para a solução do solo. A reação
simplificada (11.1) mostra a liberação de potássio para a solução do solo a
partir da intemperização de um feldspato potássico:

KAlSi3O8 + H+ 6 HAlSi3O8 + K+ (11.1)

Em solos muito intemperizados das regiões tropicais, como os


latossolos, os feldspatos potássicos já podem ter sido completamente
dissolvidos. Em solos menos desenvolvidos ou de regiões temperadas, estes
podem ser uma importante fonte do nutriente para as plantas.
As micas contêm aproximadamente 10% de K, e, com o intemperismo,
originam outros minerais no solo, como a ilita, a vermiculita, a esmectita e a
caulinita (argilominerais secundários), que podem conter ou não potássio. Em

132
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

cada etapa de transformação ou dissolução/neoformação há liberação de


potássio para o solo, sendo que a caulinita não possui mais potássio na sua
estrutura:
-K -K -K -K
Mica 6 Ilita 6 Minerais 6 Vermiculita 6 Caulinita
de transição Esmectita
(~10% K) (~ 4 - 8% K) (~ 3% K) (<1 % K)

O potássio contido nos minerais primários e secundários constitui a


quase totalidade do elemento no solo e representa a capacidade potencial de
suprimento deste nutriente às plantas. Nas Tabelas 11.1 e 11.3 são mostrados
os teores totais de potássio de amostras de horizontes superficiais de alguns
solos do estado do Rio Grande do Sul, onde pode ser observado que o teor
total do elemento está relacionado com o material de origem. Os solos
derivados de basalto, por exemplo, apresentam, em geral, baixos teores de
potássio, ao contrário dos derivados de granito.

11.2.1 Potássio trocável e potássio não trocável

A disponibilidade do K para as plantas varia conforme o tipo e


quantidade de minerais primários e secundários presentes no solo e o tipo de
ligação química entre o potássio e os outros elementos constituintes destes
minerais. O potássio que está adsorvido às cargas de superfície dos
argilominerais (ligações fracas, eletrostáticas) é denominado potássio trocável
(K-trocável), devido ao equilíbrio rápido que pode manter com o K+ da
solução do solo (K-solução). O potássio ligado às cargas dos compostos da
matéria orgânica também está na forma de potássio trocável.
O K pode também estar adsorvido às superfícies internas de
argilominerais com camada 2:1. Esta fração do K é denominada de K-fixado.
A expansão destas camadas libera íons K, que podem ser trocados por íons
Ca ou Mg, para manter a neutralidade elétrica do mineral. Em alguns solos,
o aumento dos íons K em solução (pela adubação potássica) provoca o
deslocamento dos íons Ca e Mg das entrecamadas, ocorrendo fixação de K.
Em solos muito intemperizados isto não ocorre, devido ao acúmulo de
polímeros de Al e Fe (AlOH:FeOH) nas entrecamadas de minerais 2:1,
impedindo o colapso das mesmas (Figura 11.1) e a conseqüente fixação do
K.

133
Carlos Alberto Bissani et al.

Pode-se portanto concluir que o potássio na fase sólida do solo,


conforme o tipo e quantidade de minerais presentes e conforme o tipo de
ligação química, encontra-se nos seguintes estados ou formas: a) como K-
trocável (adsorvido fracamente às cargas dos argilominerais e da matéria
orgânica) em equilíbrio rápido com o K-solução; b) como K-fixado; e, c) como

FIGURA 11.1

Modelo de silicato de
tipo 2:1 com
deposições de
hidróxidos de Al (ou
Fe)) entre as camadas
expandidas [11.1].

TABELA 11.1 Teores totais de potássio em amostras de alguns solos da região sul
do Estado do Rio Grande do Sul [11.2]

Unidade de Material de K- K-
mapeamento Classificação origem trocável total
-------- mg/kg --------
Matarazo Argissolo Vermelho-Amarelo distrófico granito 116 8500
típico
Camaquã Argissolo Vermelho-Amarelo distrófico granito 92 8000
típico
Alto das Canas Argissolo Vermelho distrófico argilito 94 5700
latossólico
Santa Tecla Argissolo Vermelho eutrófico arenito 66 6300
latossólico
Tuia Argissolo Vermelho-Amarelo distrófico sed. aren. 29 3525
arênico
Bexigoso Luvissolo Hipocrômico órtico típico granito 100 23050
Pinheiro Machado Neossolo Litólico distrófico típico granito 136 28300
Pelotas Planossolo Hidromórfico eutrófico sed. aluvial 84 6812
solódico
Formiga Chernossolo Argilúvico carbonático sed. lacustre 68 6725
típico
Bagé Luvissolo Hipocrômico órtico típico siltito 121 12075
Aceguá Vertissolo Ebânico órtico chernossólico argil.-siltito 297 15900

134
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

K-estrutural, fazendo parte da estrutura de minerais primários.


Freqüentemente o termo “K não trocável” é utilizado para caracterizar todas
as formas de potássio que não estão em equilíbrio rápido com o K-solução.

11.2.2 O potássio na solução do solo

As plantas absorvem somente o íon potássio (K+ ) que se encontra na


solução do solo. A concentração de potássio na solução, necessária para o
crescimento vegetal, varia consideravelmente com a espécie e com o estádio
de crescimento das plantas. O teor de K na solução do solo pode variar desde
1 mg/L até 50 ou mais mg/L em solos bem supridos do nutriente ou
recentemente fertilizados. Na Tabela 11.2 são mostrados os teores de K-
trocável e de K-solução em amostras de solos de algumas unidades de
mapeamento do estado do Rio Grande do Sul, nas quais foram adicionadas
diferentes quantidades de potássio. Pode-se observar que o K em solução
depende das características químicas e mineralógicas dos solos. Por exemplo,
os solos das unidades de mapeamento Passo Fundo e S. Jerônimo
apresentam teores de K em solução de 22 e 9 mg/L, respectivamente, embora
o K-trocável seja o mesmo (100 mg/dm3). No solo arenoso da unidade de
mapeamento Bom Retiro, o K em solução é maior que o K-trocável, devido à
baixa CTC. Este fato requer cuidados especiais no manejo da adubação
potássica, conforme será visto adiante.

11.2.3 Poder tampão de potássio (PTK)

A relação entre a quantidade de potássio na forma sólida e a quantidade


de potássio presente na solução do solo é denominada poder tampão de
potássio. Muitos autores consideram, para fins práticos, que a simples relação
entre as quantidades de K-solução e de K-trocável (Ks/Ki) expressa o poder
tampão de potássio do solo (PTK). Assim, a partir da determinação do K-
trocável (Ks ) e do K-solução (Kl), pode-se obter uma estimativa da quantidade
de potássio que é necessária na fase sólida (como K-trocável) para manter
uma determinada quantidade de K+ na solução. Os teores de K-trocável e o
K-solução em alguns solos do estado Rio Grande do Sul são mostrados na
Tabela 11.2.

135
Carlos Alberto Bissani et al.

11.3 Disponibilidade de potássio para as plantas

Um nutriente é disponível para as plantas quando:


a) está em solução ou pode passar rapidamente para a solução;
b) pode mover-se até a superfície das raízes em tempo adequado para
o crescimento e desenvolvimento das planta; e
c) após ser absorvido pela raiz, afeta o ciclo de vida da planta.

TABELA 11.2 Teores de K-trocável e de K-solução em alguns solos do Estado do Rio


Grande do Sul [11.5]

Unidade de K- K-
mapeamento Classificação trocável solução
mg/dm3 mg/L
Aceguá Vertissolo Ebânico órtico chernossólico 200 10
Bagé Luvissolo Hipocrômico órtico típico 90 10
Bom Retiro Argissolo Vermelho distrófico arênico 25 46
Cruz Alta Latossolo Vermelho distrófico típico 80 50
Erechim Latossolo Vermelho aluminoférrico típico 95 5
Júlio de Castilhos Argissolo Vermelho-Amarelo alumínico típico 81 12
Passo Fundo Latossolo Vermelho distrófico típico 100 22
São Jerônimo Argissolo Vermelho distrófico típico 100 9
Santo Ângelo Latossolo Vermelho distrófico típico 150 6
Uruguaiana Chernossolo Ebânico carbonático vértico 90 11
Vacaria Latossolo Bruno alumínico câmbico 152 13

As plantas absorvem somente o potássio que se encontra na solução do


solo (K-solução). Desta forma, para que o potássio que se encontra na fase
sólida do solo fique disponível para as plantas, é necessário que passe para
a solução do solo. Entretanto, somente a presença do potássio como íon K+
na solução do solo não assegura a sua disponibilidade, sendo necessário que
ele alcance a superfície da raiz para que possa ser absorvido.
O potássio trocável e o potássio na solução são, inicialmente, as formas
do nutriente que podem estar disponíveis para as plantas. Solos com alto K-
trocável, pelo seu rápido equilíbrio com o K+ solução, mantêm um alto
gradiente de concentração, o que favorece a difusão do K+ para junto da
superfície radicular (termo C1 - C2)/L na equação 3.1 - p. 38).

136
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

11.3.1 Concentração do potássio na rizosfera

Na rizosfera (volume de solo compreendido numa distância de 0,1 a 1,5


mm da raiz), a concentração de potássio na solução do solo é praticamente
igual a zero, quando as raízes das plantas estão absorvendo ativamente o
nutriente. Assim, se o solo tem a capacidade de manter uma alta
concentração de potássio na solução, o gradiente formado (diferença entre
a concentração do potássio longe e próximo da raiz) proporciona um
suprimento adequado do nutriente. Considerando que a difusão é responsável
por mais de 80% do potássio que chega à superfície radicular (Tabela 11.3),
a manutenção de um alto gradiente de difusão, adequado teor de umidade
e bom crescimento radicular são essenciais para um bom suprimento de K
para as plantas (item 3.4.2 - p. 38).
Nos solos em que o argilomineral predominante é a caulinita (não possui
K-estrutural), o K-trocável pode ser a principal reserva do nutriente, tornando-
se muito importante, neste caso, a manutenção de teores adequados no solo
pela adubação potássica e pelo manejo correto do solo.

11.3.2 Contribuição de formas de potássio não trocável

Os teores de K na solução em contato com as raízes das plantas que


estão absorvendo ativamente nutrientes são muito baixos, provocando um
gradiente de concentração do íon, conforme foi visto no Capítulo 3. O
esgotamento do K em solução na rizosfera pode provocar a liberação de K de
formas não trocáveis, mesmo em solos bem providos de K-trocável. As
quantidades liberadas são proporcionais às quantidades de minerais primários
e secundários presentes e podem contribuir significativamente, junto com o
K-trocável, no suprimento para as plantas. Em solos onde ocorrem feldspatos
ou micas, por exemplo, as plantas podem não responder à adubação
potássica.
Em solos do estado do Rio Grande do Sul, mesmo naqueles
considerados intemperizados, foi constatado, em estudos em casa de
vegetação, que as plantas não adubadas com K absorveram potássio das
formas não trocáveis em quantidades muito superiores àquelas presentes na
forma de K-trocável, como mostrado na Tabela 11.3. Deve-se entretanto
ressaltar que as plantas, após os primeiros cortes, estavam crescendo em
solos com teores muito baixos de K-trocável, forçando a dissolução de K de
formas não trocáveis, e produzindo pouca matéria seca.

137
Carlos Alberto Bissani et al.

A absorção de K das formas não trocáveis pelas plantas é difícil de ser


avaliada. A caracterização mineralógica quantitativa pode ser, entretanto, de
utilidade para avaliar a disponibilidade deste nutriente a curto, médio e longo
prazos. Em culturas de crescimento lento (reflorestamento), a liberação de K
de formas não trocáveis pode ser fonte apreciável deste nutriente para as
plantas. Da mesma forma, não existem informações sobre o aproveitamento
de potássio de camadas mais profundas do solo, já que as raízes podem
explorar um volume de solo maior do que aquele coletado nas amostras.

TABELA 11.3 Formas e quantidades de potássio absorvido por azevém perene (1)
cultivado em alguns solos do estado do Rio Grande do Sul [11.3]

Unidade Material de K-total


(Classificação) origem Potássio absorvido pelo azevém
Trocável Não trocável Total
mg/kg ------------ mg de K por vaso -------------
S. Ângelo (LVdf) Basalto 1960 17 399 416
Durox (LVdf) Basalto 4560 45 400 445
Vacaria (LBc) Basalto 2600 44 412 456
Charrua (RLe) Basalto 6400 313 427 740
Osório (RGo) Sed. Costeiros 2080 13 257 270
Guaíba (RU) Sed. Aluvial 12000 122 426 548
Gravataí (PVd) Arenito-argilito 14200 17 442 459
(1)
em 7 cortes

11.3.3 Avaliação da disponibilidade de potássio

Diversos métodos podem ser utilizados para avaliar a quantidade de


potássio disponível para as plantas. Para quantificar a capacidade potencial
do solo em suprir potássio, são utilizados extratores que dissolvem os
minerais, como o ácido fluorídrico. Obtém-se, desta forma o K-total do solo
(os valores de K-total dos solos estão relacionados nas Tabelas 11.1 e 11.3).
Os laboratórios de análises de solo para fins de recomendação de
adubação potássica, quantificam somente as formas de potássio que podem
ter disponibilidade imediata às plantas, usando para tal soluções diluídas de
ácidos fortes, sais neutros ou resinas trocadoras de cátions. Estes extraem

138
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

somente o potássio que se encontra na forma trocável (K-trocável) e o que


se encontra na solução do solo (K-solução).
Os laboratórios de análises de solo dos estados do Rio Grande do Sul
e de Santa Catarina utilizam o extrator Mehlich-1 (uma mistura diluída de
ácidos fortes), para avaliar o K-trocável mais o K-solução (Capítulo 6). O teor
crítico de K no solo (nível crítico) pode variar de 45 a 90 mg/dm3, conforme
a CTC do solo (Capítulo 7 - p. 71). Esta variação no teor crítico de K visa a
manter a proporção de aproximadamente 1,5% da saturação da CTCpH 7,0 por
K.
As quantidades de K extraído por resina de troca catiônica são
semelhantes às extraídas pelo extrator Mehlich-1 (frações K-trocável + K-
solução).

11.4 Respostas das culturas ao potássio

Quando o solo apresenta baixos teores de potássio, as plantas


respondem significativamente à adubação potássica. Na Tabela 11.4, são
apresentadas as respostas da soja à adubação potássica em um latossolo do
estado do Rio Grande do Sul; pode-se observar também que os rendimentos
mais elevados foram obtidos com teores de K trocável no solo maiores que
80 mg/dm3.
O levantamento dos resultados de análises de solo feitas no ano de
2000 no estado do Rio Grande do Sul [1.3], mostrou que aproximadamente
73% das amostras apresentaram teores de K no solo maiores que 80 mg/dm3
(Capítulo 1 - p. 16).

TABELA 11.4 Efeitos da adubação potássica no rendimento de grãos de soja e no


teor de K- trocável em Latossolo Vermelho Escuro distrófico do estado
do RS [11.4]

Doses Rendimento / Safras


de K2 O teor no solo 72/73 73/74 74/75 75/76 76/77
kg/ha
(1)
0 Rendimento 2118 1597 1755 1075 1381
(1)
K trocável 91 59 62 39 55
50 Rendimento 2397 1981 2541 1592 1817
K trocável 102 100 86 67 82

139
Carlos Alberto Bissani et al.

100 Rendimento 2560 2034 2772 1794 1980


K trocável 119 100 140 103 87
(1)
Rendimento em kg/ha e K-trocável em mg/dm3 de solo.

Os solos, devido às suas características físicas, químicas e


mineralógicas, apresentam disponibilidade variável de potássio, com
diferentes respostas das culturas. As características dos solos também
determinam a prática da adubação potássica. Solos argilosos, por exemplo,
que têm maior CTC, podem receber adubações maiores de potássio que solos
arenosos, que têm baixa CTC. Nestes, o potássio deve ser aplicado em
quantidades menores e com maior freqüência.

11.5 Fatores que afetam a disponibilidade de potássio

Fatores físicos, químicos e biológicos do solo podem afetar a quantidade


disponível de potássio a curto, médio ou longo prazos. Entre outros, podem-
se destacar o material de origem e grau de intemperização, a mineralogia, a
CTC, a textura, o pH do solo e as características das plantas cultivadas.

11.5.1 Material de origem e grau de intemperização

Solos derivados de granito, de argilitos e de siltitos geralmente contêm


altos teores de potássio enquanto os derivados de basalto apresentam baixos
teores totais deste nutriente. Em solos de regiões temperadas, ou em solos
pouco desenvolvidos, as micas e os feldspatos potássicos são importantes
fontes deste elemento. Por outro lado, estes minerais já foram quase ou
totalmente intemperizados nos latossolos de regiões tropicais, onde a caulinita
e os óxidos de Fe e Al, que não apresentam K na estrutura, são os
argilominerais predominantes.

11.5.2 Mineralogia

A composição mineralógica do solo afeta a quantidade total e a


disponibilidade de potássio no solo. Solos que contêm minerais primários
(micas e feldspatos) apresentam altos teores de K-total. Os argilominerais
secundários formados durante o intemperismo, também afetam a
disponibilidade do nutriente. Solos em que o argilomineral dominante é a
caulinita, por exemplo, têm baixos teores de K total. Solos que contêm

140
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

vermiculita podem fixar potássio, dificultando o manejo deste nutriente. A


CTC do solo depende também da quantidade e dos tipos das argilas
presentes, que afetam o poder tampão de potássio.

11.5.3 Capacidade de troca de cátions (CTC)

Solos com maior CTC retêm mais potássio na fase sólida, diminuindo as
perdas por lixiviação. Apresentam, também, maior capacidade de manter alto
o K+ da solução e, conseqüentemente, o gradiente de concentração.

11.5.4 Textura

Os solos argilosos retêm mais água que os solos arenosos. O teor de


água volumétrica afeta diretamente a difusão do potássio no solo. Uma
redução na quantidade de água volumétrica do solo, no caso de deficiência
hídrica, provoca diminuição da quantidade de potássio que se difunde no solo
por difusão em direção às raízes (Capítulo 3 - p. 38).

11.5.5 pH do solo

A elevação do pH aumenta a quantidade de cargas negativas do solo


(CTC pH-dependente) e, assim, há maior retenção de potássio e de outros
cátions na fase sólida do solo, com menores perdas por lixiviação.
O manejo visando a manter ou aumentar o teor de matéria orgânica dos
solos arenosos é essencial para assegurar níveis adequados da CTC. A maior
fonte de cargas negativas nestes solos é devida à matéria orgânica.
Grandes quantidades de Ca e de Mg podem ser adicionadas ao solo pela
calagem, com o objetivo de neutralizar a acidez potencial (Capítulo 9). A
relação entre o K e os íons divalentes é assim alterada. A lixiviação do K-
solução pode ser favorecida em solos com baixa CTC. Este efeito, entretanto,
é geralmente compensado pelo aumento de cargas negativas do solo (CTC
pH-dependente).
A aplicação de gesso ao solo (CaSO4.2H2O) pode favorecer o
deslocamento do potássio da camada arável para as camadas mais profundas
do solo. Em culturas perenes o gesso também é utilizado visando a favorecer
o deslocamento do potássio para o subsolo, para ficar disponível às raízes que
se encontram nesta profundidade.

11.5.6 Fatores de planta

141
Carlos Alberto Bissani et al.

A morfologia do sistema radicular e o poder de absorção de nutrientes


pelas raízes afetam as quantidades de potássio que podem ser absorvidas
pelas plantas e, conseqüentemente, o rendimento. Plantas que apresentam
sistema radicular bem desenvolvido, abundância de raízes finas e de pêlos
absorventes, são mais eficientes em absorver o potássio do solo. Solos que
apresentam impedimento ao desenvolvimento das raízes, como presença de
elementos tóxicos, ou estão compactados, não permitem a expansão do
sistema radicular, limitando a absorção dos nutrientes e da água.
Espécies, e mesmo genótipos de plantas dentro da mesma espécie,
podem apresentar diferenças acentuadas na morfologia do sistema radicular
e na capacidade de absorção de nutrientes do solo.

11.6 Adubos potássicos

Os adubos potássicos podem ser de origem orgânica (composto) ou


inorgânica (mineral). Os de origem orgânica apresentam, em geral, baixos
teores do elemento (<0,5% de K2O). Os de origem inorgânica são obtidos de
rochas potássicas e, conforme sua composição, processo de extração e
beneficiamento industrial, podem conter até 60% de potássio (expresso na
forma de K2 O). Todos os adubos potássicos comercializados têm alta
solubilidade em água. Os principais adubos potássicos de origem mineral são:
a) Cloreto de potássio - contém 58% de K2 O e 47% de cloro [19.1].
Apresenta-se no mercado em cor branca e rosada a levemente
avermelhada. Devido ao elevado teor de cloro apresenta restrições
ao uso na cultura do fumo, por interferir na combustão do produto
final (cigarro). Em outras solanáceas, como na batatinha, o cloro
reduz a produção do amido;
b) Sulfato de potássio - contém 48% de K2O, 1 a 2% de cloro e 15% de
enxofre. Também é solúvel em água;
c) Nitrato de potássio - contém 12% de nitrogênio (NO3 -) e 44% de
K2O. É muito usado na cultura do fumo como fonte de nitrogênio e
potássio por não conter cloro. Pode ser também usado em aplicações
em cobertura em fruticultura; e
d) Sulfato de potássio e magnésio - contém 18% de potássio (K2 O), 22
a 23% de enxofre (S) e 4,5% de Mg. É bastante utilizado na cultura
do fumo como fonte de potássio e de magnésio.

142
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

Os adubos potássicos (principalmente o cloreto de potássio) não devem


ser colocados próximos das sementes devido à sua alta salinidade, podendo
provocar seca fisiológica das raízes das plantas.

11.7 Expressão do teor de potássio em adubos

O teor de K em adubos é expresso em K2O, embora este composto não


ocorra em adubos, por ser instável.
As recomendações de adubação são feitas em kg de K2 O/ha (ver tabelas
de recomendações - Anexos 5 e 6).
Como o K2 O contém 83% de K, pode-se utilizar o fator de 100/83 =
1,20 para calcular o teor de K em adubos potássicos. Por exemplo, um adubo
potássico com 57% de K2O contém 57/1,20 = 47,5% de K.
Geralmente o teor de K dos adubos orgânicos e do tecido de plantas é
expresso em % de K (m/m). O equivalente em K2O é calculado multiplicando-
se o teor de K por 1,20.

11.8 Você sabia?

11.8.1 Teor de K na análise do solo

Por que o teor de K em alguns solos adubados (Tabela 8.1) nem sempre
é muito maior do que no tratamento sem adubação?

11.8.2 Eficiência da adubação

Os teores de K no solo ao final do experimento apresentado no Anexo


7 foram baixos, mesmo no tratamento com a maior aplicação de KCl. Por que
isto foi observado? Calcule a eficiência de absorção do K do KCl pela aveia
(tratamento nº 11).

11.8.3 Índice salino de adubos potássicos

O índice salino é a capacidade do fertilizante aumentar a pressão


osmótica da solução do solo, sendo dependente da solubilidade em água e de
características dos íons. O índice salino do KCl é de 116, comparado com o do

143
Carlos Alberto Bissani et al.

NaNO3 de 100 (padrão de referência). O K2SO4 apresenta índice salino de 46


[1.6].

11.8.4 Compatibilidade entre fertilizantes

Na prática da adubação, são geralmente misturados os adubos a serem


aplicados no plantio, constituindo as fórmulas de adubação (item 19.6 - p.
261). Alguns adubos, entretanto, não podem ser misturados, por apresentar
incompatibilidade. Adubos de reação alcalina, por exemplo, não podem ser
misturados com adubos amoniacais, para não ocorrer perda de amônia
(reação 12.7 - p. 160). Adubos com elevada higroscopicidade não podem ser

utilizados em misturas.
No gráfico a seguir é mostrada a compatibilidade (ou não) entre vários
fertilizantes minerais simples, adubos orgânicos e corretivos da acidez.
Fonte: Lopes (1998) [11.6]

144
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

145
12
Nitrogênio e Adubos Nitrogenados
_________________________
evido à multiplicidade de reações químicas e biológicas, à dependência

D das condições ambientais e ao seu efeito no rendimento das culturas,


o N é o elemento que apresenta maiores dificuldades de manejo na
produção agrícola, mesmo em propriedades tecnicamente orientadas.

12.1 Formas e funções na planta

As formas preferenciais de absorção de N pelas plantas são o amônio


(NH4+ ) e o nitrato (NO3 –). Compostos nitrogenados simples, como uréia e
alguns aminoácidos, também podem ser absorvidos, mas são pouco
encontrados na forma livre no solo.
As plantas absorvem tanto o amônio como o nitrato com a mesma
eficiência e na proporção em que estes se encontram no solo. Em condições
de boa drenagem predomina o nitrato, formado pela nitrificação do amônio.
Nos solos alagados predomina o amônio, não ocorrendo a nitrificação.
Para fazer parte dos aminoácidos, o N deve estar na forma amoniacal.
O nitrato absorvido deverá, portanto, ser reduzido a amônio. Essa redução é
catalisada pela enzima nitrato-redutase nas células da raiz, embora as células
de outros tecidos da planta também possuam esta capacidade.
Nas plantas, a síntese da maior parte dos compostos orgânicos ocorre
nas folhas. Para chegar às folhas o N é previamente combinado em estruturas
carbonadas formando compostos com alto teor de N que são transportados
pelo fluxo de transpiração. Dentre esses compostos destacam-se a alantoína
(4N:4C), a arginina (4N:4C) e a citrulina (3N:6C).
A maior parte do N contido nas plantas é encontrado na forma de
compostos orgânicos. A presença de altos teores de NH4 + ou NO3 – nos tecidos

145
Carlos Alberto Bissani et al.

indica a existência de uma condição desfavorável, como excessivo suprimento,


insuficiente taxa fotossintética ou baixa capacidade de redução de nitratos.
O N é parte integrante de todos os aminoácidos, que são os
componentes das proteínas. Faz parte também da molécula de clorofila, das
aminas, amidas, enzimas, alcalóides, hormônios, etc.
Devido à sua condição de constituinte das proteínas, a deficiência de N
afeta todos os processos vitais da planta; a capacidade fotossintética diminui,
o crescimento é retardado e a reprodução é prejudicada.

12.1.1 Sintomas de deficiência de N

Sintomas visuais de deficiência ocorrem facilmente em plantas não


leguminosas, cultivadas em solos sob exploração agrícola continuada sem
adubação nitrogenada.
A deficiência de N é visualmente detectada por:
a) clorose (amarelecimento) geral da planta, devido à diminuição da
quantidade de clorofila. O amarelecimento é gradual, sendo no início
difícil de identificar. Como o N é um elemento muito móvel na planta,
à medida que a deficiência fica mais severa, há translocação do N
das folhas mais velhas para as mais novas; e
b) pouco desenvolvimento das plantas, devido à baixa formação de
proteínas e outros compostos nitrogenados que controlam o
crescimento.
A falta de molibdênio, constituinte da enzima nitrato-redutase, pode
causar sintomas de deficiência de N mesmo que a planta tenha bom
suprimento de nitrato; esta enzima reduz o nitrato a amônia, para formação
de aminoácidos e proteínas.

12.1.2 Excesso de N

O suprimento de N em excesso pode ocorrer facilmente, o que não é


comum com os outros nutrientes. Além disso, a resposta favorável à
adubação nitrogenada depende da variedade da planta utilizada. Por exemplo,
para as variedades comuns de arroz irrigado de porte alto (IRGA 406,
EMPASC 100, etc), não se recomendam quantidades maiores que 40 kg de
N/ha, enquanto as de porte baixo (IRGA 417, EMPASC 104, etc.) respondem
favoravelmente a até 120 kg de N/ha [15.9].
Nos cereais (trigo, aveia, arroz, etc.), o excesso de N favorece o
crescimento vegetativo, podendo ocorrer acamamento (as plantas crescem

146
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

com fraca estrutura de sustentação), diminuição no rendimento (pequena


translocação de carboidratos para as sementes) ou retardamento da
frutificação. Pode ocorrer também aumento da infecção por fungos em cereais
devido ao aparecimento de falhas na camada protetora externa, com menor
cobertura de sílica, provocadas pelo crescimento acelerado do tecido vegetal.
Na beterraba açucareira e na cana-de-açúcar, o excesso de N reduz a
formação de açúcar.
As gramíneas forrageiras, por outro lado, dificilmente manifestam
efeitos de excesso de N. Aumentos de produção devidos à aplicação de até
800 kg de N/ha/ano podem ser obtidos.

12.2 A matéria orgânica e o N do solo

A maior parte do N do solo encontra-se em compostos orgânicos de


grande peso molecular, não sendo disponível para as plantas. O N inorgânico
presente no solo depende, portanto, dos teores relativos de C e de N, da
composição dos materiais carbonados presentes na matéria orgânica e da
atividade microbiana. Devido à inter-relação entre o N e o C orgânicos, o
estudo da matéria orgânica possibilita conhecer a dinâmica do N no solo e
avaliar a sua disponibilidade para as plantas.
O ciclo do carbono no sistema solo-planta pode ser resumido em dois
processos opostos, sendo o primeiro devido à fotossíntese, em que o carbono
inorgânico (CO2) é transformado em carbono orgânico pelas plantas e outros
organismos fotossintetizadores, com a utilização da energia solar:

l
CO2 + H2O + Energia solar (– C –)n + O2 (12.1)
Planta l

O segundo processo é constituído pela decomposição de resíduos


orgânicos tanto de vegetais ou animais, como industriais ou urbanos, com
liberação de CO2 pela atividade respiratória dos microrganismos do solo:

l
(– C –)n + O2 CO2 8 + Energia (12.1)
l Microrganismos

147
Carlos Alberto Bissani et al.

Tanto num sistema ecológico estável quanto numa área destinada à


produção agrícola, diversos materiais orgânicos, como folhas e raízes mortas
ou restos de culturas (resteva), são deixados no solo. Os organismos vivos do
solo reciclam estes produtos (deles retiram a energia necessária para o
crescimento), liberando os elementos nutritivos bloqueados nos restos
vegetais para uma nova população de plantas. Esta liberação de elementos
nutritivos pode requerer uma ou várias gerações de microrganismos,
dependendo da composição dos resíduos vegetais.

12.2.1 Níveis de equilíbrio da matéria orgânica no solo

Parte apreciável do carbono orgânico adicionado ao solo na forma de


resíduos é reciclada para a atmosfera por volatilização, na forma de CO2 .
Pequena quantidade, porém, permanece no solo em forma orgânica, fazendo
parte dos microrganismos, ou de outros compostos orgânicos, constituindo
a matéria orgânica do solo (M.O.). Na fração matéria orgânica estão incluídos
todos os compostos de carbono nas diversas fases de decomposição. Podem-
se facilmente distinguir três etapas na decomposição dos resíduos orgânicos:
a) resíduos não decompostos, compreendendo o material orgânico
recém adicionado (raízes mortas, folhas, resteva, etc.). A
característica desta fração é a sua fácil identificação pelo exame
visual;
b) matéria orgânica fresca, compreendendo os resíduos orgânicos em
decomposição ativa, que não podem ser identificados visualmente;
e
c) matéria orgânica humificada, constituída de resíduos da atividade
microbiana. Esta fração é muito estável, devido à forma química em
que se encontra (compostos cíclicos polimerizados, como os
polifenóis) e à associação com as argilas. Por isto, a decomposição
desta fração pelos microrganismos é muito lenta.
Um sistema biológico é dinâmico, e a todo o momento material orgânico
está sendo formado por alguns organismos vivos, enquanto outros
organismos decompõem produtos orgânicos.
Nestas condições, as adições e as perdas de compostos orgânicos se
equivalem, não havendo, portanto, modificação no teor total de matéria
orgânica do solo. O nível de equilíbrio depende principalmente do clima, da
vegetação e do solo.
A Figura 12.1 mostra os efeitos da temperatura e da umidade no teor
de nitrogênio do solo. Com o aumento da temperatura, a decomposição dos

148
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

resíduos orgânicos é maior (diversos organismos podem manter metabolismo


ativo até mais de 30ºC) em relação à formação de material orgânico
(crescimento das plantas), ocorrendo então menor valor de equilíbrio da
matéria orgânica do solo. O aumento da umidade do solo favorece a
acumulação da matéria orgânica. Em condições de alagamento podem se
formar solos orgânicos (turfeiras).
O equilíbrio dinâmico entre a adição e a decomposição de resíduos
orgânicos e a matéria orgânica do solo pode ser assim representado:

Representação esquemática do equilíbrio dinâmico


da matéria orgânica do solo.

O valor de equilíbrio da matéria orgânica de um solo (na camada de 0


a 20 cm de profundidade) é maior quando este se encontra sob pastagem do
que em vegetação de floresta (Figura 12.1). Isto se deve principalmente à
renovação mais intensa da vegetação (raízes e parte aérea).
O solo afeta o teor de matéria orgânica de diversas maneiras. Devido
às ligações químicas existentes entre a superfície das argilas e os compostos
do húmus, a fração mineral do solo tem efeito protetor da matéria orgânica
contra o ataque dos microrganismos, ocasionando, portanto, maior
acumulação de matéria orgânica à medida que aumenta o teor de argila do
solo. A topografia, pela influência que exerce na drenagem e na
suscetibilidade à erosão, afeta o teor de matéria orgânica; nas baixadas, em
geral, os solos possuem teores mais altos de matéria orgânica do que nas
encostas.

149
Carlos Alberto Bissani et al.

FIGURA 12.1

Efeitos do clima e da
vegetação no teor de N em
solos dos EUA [12.2].

12.2.2 Decomposição dos resíduos orgânicos

A decomposição de resíduos orgânicos é um processo biológico e, por


isto, depende das peculiaridades do desenvolvimento e atuação dos
microrganismos. A decomposição dos resíduos propicia a manutenção do
equilíbrio da matéria orgânica no solo. Os mesmos fatores que atuam neste
processo são responsáveis pela decomposição de restos de culturas (resteva
ou adubo verde).
Muitos microrganismos podem decompor os resíduos orgânicos do solo.
Em solos ácidos predominam os fungos, enquanto próximo à neutralidade as
bactérias são mais eficientes. Sob condições de alagamento há dominância de
pequeno número de bactérias, que, por não atacar a lignina, propiciam a
acumulação de depósitos orgânicos (turfa).
A relação carbono:nitrogênio (C/N) do material em decomposição
indicará qual o destino imediato do N dos resíduos orgânicos. Se esta relação
for baixa, em geral menor que 25 a 30, há liberação rápida de NH4+ , que pode
ser absorvido pelas plantas. Acima destes valores de C/N, ocorre imobilização
temporária do N pelos microrganismos.
A presença de material orgânico facilmente decomponível propicia uma
boa disponibilidade de energia para os microrganismos, cuja população
tenderá a crescer. Além de compostos orgânicos, estes necessitam de
nitrogênio e outros elementos minerais. Se o material em decomposição tiver
pouco N (alta relação C/N), este será o fator limitante do crescimento da

150
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

população microbiana, que apresenta em média uma relação C/N igual a 10.
Isto é, para cada 10 átomos de C utilizados pelos microrganismos para a
constituição de sua biomassa, há incorporação (imobilização) de um átomo
de N.
A decomposição dos resíduos orgânicos pelos microrganismos pode ser
assim visualizada:

Na decomposição aeróbia dos resíduos, sempre ocorre volatilização de


parte do CO2. Para melhor entendimento do mecanismo de decomposição, o
processo (12.2) pode ser reescrito assim:

Mz(C)n + O2 yCO2 + Mz-x (C)n-y + xM + energia (12.3)


microrganismos

onde (C)n representa o C orgânico e M um elemento mineral qualquer (N, S,


P, Ca, Mg, etc.).
Esta equação indica que na decomposição do material orgânico Mz(C)n ,
há liberação de uma fração do C na forma de CO2 (yCO2 ) ficando uma
fração (C)n-y no solo, incorporada no tecido celular dos microrganismos ou
como material orgânico residual. Esta fração do C que fica no solo compõe a
matéria orgânica humificada.
Em clima temperado, os dados de pesquisa indicam que, em média,
para cada três átomos de C orgânico adicionados no resíduo, dois são
perdidos para a atmosfera na forma de CO2 e um fica no solo. Em clima

151
Carlos Alberto Bissani et al.

tropical a perda de CO2 é maior, e os solos contêm portanto menores teores


de M.O.
Combinando-se então as proporções entre o C perdido e o que fica no
solo (em condições temperadas) com a C/N média da biomassa
decompositora de resíduos no solo, tem-se que para cada 30 átomos de C
adicionados, 20 são volatilizados na forma de CO2 e 10 permanecem no solo.
A retenção destes 10 átomos de C pelos microrganismos requer um átomo de
N. Portanto, a decomposição de um resíduo com C/N igual a 30 fornece
exatamente a quantidade de N necessária aos microrganismos neste
processo. Se a C/N for menor, haverá sobra de N, sendo este disponível para
as plantas a curto prazo. Se for mais alta, haverá falta de N em relação à
quantidade de energia disponível e os microrganismos competem com as
plantas pelo N, podendo imobilizar também o N mineral (NH4 + e NO3 –) que
houver no solo, induzindo assim uma deficiência temporária de N para as
plantas.
A população microbiana inicial não se mantém crescendo
indefinidamente. Alguns microrganismos são atacados por outros,
constituindo-se então em resíduo orgânico, repetindo-se o ciclo e perdendo-se
mais CO2. A partir do ponto em que o sistema em decomposição tiver a C/N
menor que 30, começa a ocorrer liberação de N para as plantas.
No processo de decomposição dos resíduos vegetais, a relação C/N é
um dos fatores mais importantes na liberação de N. Esta relação varia com
a espécie vegetal e com a idade da planta, como é exemplificado na Tabela
12.1.

TABELA 12.1 Relação C/N de diversos materiais e plantas

Material Relação C/N Material Relação C/N


Feno de alfafa 13 Serragem de madeira 300
Trevo doce (florescimento) 15 Aveia (perfilhamento) 17
Trevo doce (velho) 26 Aveia (espigamento) 27
Lupinus 20 Aveia (maturidade) 41
Palha de trigo 84 Aveia (palha) 74
Resteva de milho 50

A velocidade de decomposição dos resíduos é também um fator


importante na imobilização do N. Esta velocidade é determinada
principalmente pela composição do resíduo (teores de celulose e de lignina),
temperatura, pH, teores de nutrientes e umidade do solo. A decomposição é

152
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

rápida no caso de plantas jovens, folhas, etc., enquanto resíduos com altos
teores de lignina são decompostos muito lentamente. Por isso, a adição ao
solo de resteva com relação C/N maior que 70, geralmente não provoca
deficiência de N. A maior parte deste material se decompõe lentamente. As
folhas, com C/N menor, são decompostas mais rapidamente do que os caules,
suprindo o N necessário para o processo de decomposição da resteva [12.14].
Devido à perda do C orgânico em excesso na forma de CO2 , a relação
C/N dos solos varia muito pouco, embora sejam adicionados materiais
orgânicos com relações C/N muito diferentes. Assim, solos bem drenados e
com a boa fertilidade, em geral apresentam uma relação C/N entre 10 e 12.
Solos ácidos ou com baixo suprimento de cálcio geralmente apresentam
valores de C/N maiores, devido à menor taxa de decomposição dos resíduos
orgânicos pelas bactérias.

12.2.3 Modificações do equilíbrio provocadas pelo cultivo

Na utilização agrícola, parte apreciável dos nutrientes é retirada do solo


pelas culturas. Por outro lado, as práticas culturais de manejo e os corretivos
e fertilizantes aplicados afetam diversas propriedades do solo, como aeração,
umidade, pH e suprimento de nutrientes.
O teor de matéria orgânica tenderá a se ajustar a um novo nível de
equilíbrio, que dependerá da intensidade de manejo do solo utilizado. Como
estas modificações são lentas, o novo nível de equilíbrio somente será
atingido depois de alguns anos. Um experimento conduzido na estação
experimental de Rothamsted (Inglaterra) ilustra este fato (Figura 12.2). Nas
condições de equilíbrio para este local, os solos contêm aproximadamente
0,11% de N nas áreas de lavoura e 0,23% de N nas pastagens naturais. A
adubação mineral da lavoura de trigo não afetou muito o teor de N do solo,
mas permitiu a obtenção de boas colheitas. É interessante observar que o
cultivo continuado do solo não provoca o decréscimo do teor de N e
conseqüentemente de matéria orgânica, abaixo do nível de equilíbrio. A
adição de 35 t/ha de esterco bovino curtido por ano elevou o teor de N para
0,24%.
Na mesma estação experimental foi estudado o efeito da pastagem
natural sobre o teor de N do solo que estava sob cultivo, portanto com o teor
de M.O. inferior ao equilíbrio natural (Figura 12.3). O ganho de N foi pequeno
e cumulativo nos primeiros anos, estabilizando finalmente no valor
equivalente ao dos campos não cultivados. Este processo ocorre nas terras
em pousio.

153
Carlos Alberto Bissani et al.

A Tabela 12.2 mostra outro exemplo da influência do manejo do solo


sobre o teor de N. A cultura do milho, de alta produção, mas também
exigente em nutrientes e práticas culturais, após 49 anos de cultivo contínuo,
provocou uma redução de 43% do N do solo quando não foi feita adubação;
com calagem, adubação
orgânica e mineral, esta
redução foi de somente
21%. Com a inclusão de
uma leguminosa na rotação,
acompanhada de adubação
e calagem a redução do teor
de N foi ainda menor.

FIGURA 12.2

Efeito da adubação no teor de


N em solo cultivado com trigo
anualmente (Estação
Experimental de Rothamsted,
Inglaterra) [12.1].

FIGURA 12.3

Acumulação de N na camada arável de um solo cultivado ao ser deixado sob


pastagem perene (Estação Experimental de Rothamsted, Inglaterra) [12.1].

154
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

O cultivo com lavração e gradagem (sistema convencional) geralmente


provoca uma redução do teor de M.O. do solo. Preparos reduzidos de solo ou
cultivo de pastagem com manejo adequado da fertilidade podem aumentar
o teor de M.O., a longo prazo. Assim, após a correção da acidez, fertilização
mineral e implantação de pastagem perene com baixa intensidade de pastejo,
foi possível constatar um aumento do teor de M.O. após sete anos de cultivo
em solo arenoso do município de Tupanciretã, RS [12.3].
Em experimento de campo conduzido num Argissolo Vermelho distrófico
típico (unidade de mapeamento S. Jerônimo) na Estação Experimental
Agronômica da UFRGS, no período de 1985 a 2003, foi observado um
decréscimo no teor de matéria orgânica do solo de 1,2% ao ano, com a
sucessão de culturas de aveia (inverno) e milho (verão), em plantio
convencional, sem adubação nitrogenada; a inclusão de leguminosas em
consorciação (ervilhaca no verão e caupi no inverno) reduziu estas perdas
para 0,4% ao ano [12.15]. Em sistema plantio direto (sem preparo do solo),
entretanto, foi determinada uma redução de somente 0,5% com a sucessão
das culturas de milho e aveia, mas um aumento de 0,5% ao ano com a
inclusão das leguminosas. A utilização das leguminosas foi essencial, portanto,
para o aporte de N, que possibilita o aumento do carbono no solo.

TABELA 12.2 Quantidade de N na camada arável do solo, após 49 anos de diversos


cultivos (Morrow plots, Illinois, EUA) [12.2]

Sucessão de cultivos Tratamentos % de N remanescente


Milho Nenhum 57
Milho-aveia Nenhum 73
Aveia- aveia- trevo Nenhum 76
Milho Esterco + calcário + fósforo 79
Milho-aveia-trevo Esterco + calcário + fósforo 93
Milho-aveia-trevo-trevo Esterco + calcário + fósforo 100

12.3 Principais transformações do N no solo

As rochas e o magma contêm a maior parte (98,0%) do N do globo


terrestre, na forma de nitretos metálicos [12.2]. Esta fração do N, na escala
de tempo compatível com o desenvolvimento das plantas, pode ser ignorada
devido à lenta decomposição das rochas e à baixa concentração do N nas
mesmas (.50 mg/kg).

155
Carlos Alberto Bissani et al.

No sistema solo-planta são mais importantes o N do ar (1,9% do total


contido no planeta), que pode ser utilizado pela fixação biológica e o N
imobilizado na matéria orgânica do solo (<0,1%). Somente pequena parte
está na forma mineral (NH4+ , NO3 – e NO2–), que é preferencialmente absorvida
pelas plantas.
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sist ema
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io, a s
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i o dinâ
mic o
entre as adições e as perdas. Nos solos agrícolas, entretanto, parte apreciável
do N fixado é retirada pelas culturas, sendo também maiores as perdas por
erosão e por lixiviação. Como resultado, o nível de equilíbrio do N no solo
(compartimento da M.O.) diminui. As principais transformações do N no
sistema solo-planta são mostradas no esquema abaixo.

156
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

Representação esquemática das principais transformações


de N no sistema solo-planta.

A imobilização do N mineral do solo pode ocorrer pela adição de


resíduos com alta relação C/N, como foi visto anteriormente. O processo
inverso é a mineralização, pela qual o solo pode suprir às plantas parte do N
contido na matéria orgânica.
A transformação do N amoniacal em nítrico (nitrificação) é um processo
que ocorre naturalmente nos solos bem drenados, mas não é desejável que
todo o nitrogênio seja nitrificado rapidamente, por dois motivos:
a) o nitrato é muito solúvel, não é retido por cargas negativas do solo,
sendo facilmente lixiviado se houver percolação de água no
perfil; e
b) o nitrato pode ser desnitrificado se houver excesso de umidade no
solo.
A capacidade de utilização do N do ar por bactérias fixadoras de N (ou
diazotróficas) é fundamental nos primeiros estágios da formação dos solos.
Justifica-se, portanto, o uso da adubação verde como um meio natural de
melhorar a fertilidade do solo. Além disso, há grande economia de fertilizante
nitrogenado mineral para a maioria das leguminosas cultivadas.
A transformação do N2 do ar em N combinado com outros elementos
(ex.: NH4 + , NO, NO2, N2O, NO3 -) pode ocorrer em pequena escala na
atmosfera por descargas elétricas ou por oxidação fotoquímica. Estes
compostos podem atingir o solo dissolvidos na água da chuva, em quantidade
de até 5 kg/ha/ano.

12.3.1 Mineralização do N

Para ser absorvido pelas plantas, o N orgânico presente na M.O. do solo


deve ser antes transformado para a forma mineral, isto é, para NH4 + . Este
processo de mineralização é feito por diversos microrganismos que
decompoem a M.O., a maior parte deles aeróbios. Como, em geral, a matéria
orgânica está na faixa em que há liberação de N (C/N <30), o amônio é
produto de excreção dos microrganismos.
A decomposição de matéria orgânica do solo se processa muito
lentamente devido principalmente à:

157
Carlos Alberto Bissani et al.

a) presença de compostos constituindo cadeias cíclicas polimerizadas,


muito estáveis e resistentes ao ataque dos microrganismos; e
b) proteção pelas argilas dos radicais que as enzimas podem atacar
facilmente (por exemplo radical -NH2 das proteínas); a carga destas
partículas possibilita a formação de um complexo argila-húmus com
grande estabilidade, principalmente em solos com alto teor de Ca.
Nos primeiros cultivos, a taxa de mineralização da matéria orgânica é
alta, decrescendo com o passar dos anos, até atingir um nível de equilíbrio em
que a mineralização e a imobilização se equivalem. Isto pode ser observado
na Figura 12.4. Comparando-se estes valores com os dados da Tabela 12.2.
observa-se que a redução do teor de matéria orgânica com o cultivo em solos
do RS é mais intensa em relação ao meio-oeste americano, devido às
condições ambientais favoráveis à mineralização e também pelas perdas de
solo por erosão.
Além do tempo de cultivo, outros fatores como temperatura, aeração,
umidade e pH do solo afetam a mineralização. As maiores taxas ocorrem em
temperaturas entre 25 a 30ºC, com boa aeração e com teor de umidade do
solo próximo à capacidade de campo.
A contribuição da matéria orgânica no suprimento de N para as culturas
é difícil de ser avaliada com exatidão devido à ação destes fatores sobre a
mineralização. Pode-se, entretanto, fazer um cálculo aproximado supondo-se
que:
a) 5% de matéria orgânica é constituída de N; e
b) 2% da matéria orgânica é mineralizada anualmente.
Desta forma, um solo que apresenta um teor de 3,5% de matéria
orgânica poderá suprir à cultura (por exemplo milho, com um período de
absorção de 4 meses):

N disponível=2.000.000 x 0,035 x 0,05 x 0,02 x 4/12=23,3 kg de N/ha.

(Obs.: considerando-se uma camada de solo de zero a 20 cm, com


densidade de 1,0 g/cm3 ou 2,0 x 106 kg/ha)

158
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

FIGURA 12.4

Redução do teor de M. O. pelo cultivo em sistema conven-cional em solos do Rio


Grande do Sul [12.9].

Esta avaliação muitas


vezes não expressa a
realidade, devido
principalmente à ação de
um ou mais dos seguintes
fatores:
a) a mineralização da
matéria orgânica é
mais intensa nos
primeiros anos de
cultivo; por
exemplo, no solo
da unidade de
mapeamento Vila
(Chernossolo), com
2,7% de matéria
orgânica, o N
suprido à cultura
do milho foi 2,9
vezes maior no
primeiro que no
segundo ano de
cultivo [12.4;
12.5];
b) a calagem estimula a mineralização da matéria orgânica devido ao
estabelecimento de um ambiente favorável à ação dos
microrganismos no solo, principalmente bactérias, pela elevação do

159
Carlos Alberto Bissani et al.

pH, neutralização de elementos tóxicos e suprimento de nutrientes


Ca e Mg; por exemplo, num experimento conduzido na Estação
Experimental Agronômica da UFRGS, a calagem aumentou a
mineralização em 40% no primeiro ano e 30% no segundo e terceiro
anos de cultivo de Paspalum guenoarum [12.6]; e
c) a mineralização é mais intensa no verão devido à alta temperatura;
por exemplo, no solo da unidade de mapeamento São Jerônimo
(PVd), com 2,4% de matéria orgânica, cultivado com sorgo, a
mineralização da M.O. foi de 6,2% num período de 5 a 6 meses
[12.7].
Devido à existência de microrganismos que podem se desenvolver numa
gama muito grande de condições de solo, a mineralização ocorre, embora
com pequena atividade, mesmo na presença de fatores adversos, como baixa
umidade do solo, alagamento e altas temperaturas.

12.3.2 Nitrificação

O N amoniacal pode ser absorvido pelas plantas, mas em solos bem


drenados é preferencialmente transformado em nitrato por ação microbiana.
Este processo é chamado de nitrificação, ocorrendo em duas etapas:

2NH4+ + 3O2 2NO2 – + 2H2O + 4H+ (12.4)


Nitrosomonas sp

2NO2– + O2 2NO3 – (12.5)


Nitrobacter sp

A primeira transformação é provocada por Nitrosomonas sp e a


segunda por Nitrobacter sp, que são bactérias autotróficas. Estas equações
permitem duas conclusões importantes:
a) para a nitrificação, há necessidade de oxigênio molecular, sendo
estas bactérias estritamente aeróbias; em condições de falta de O2 ,
como em solos alagados, a nitrificação não ocorre; e
b) na nitrificação, há formação de dois íons H+ para cada íon NH4 + ,
nitrificado; a adição de adubos amoniacais ou de outros que
originam NH4 + , acidifica o solo; pode-se verificar abaixamento do pH
se as doses de adubo forem elevadas, principalmente em solos com
baixo poder tampão (arenosos).

160
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

O NO2 – é tóxico para as plantas, mas dificilmente se acumula no solo,


pois a Nitrobacter sp é mais ativa que a Nitrosomonas sp, e todo o NO2 –
formado é imediatamente transformado em NO3–. Em solos alcalinos, a adição
de adubo amoniacal propicia a formação de NH3 (amônia) no solo (reação
12.7) que é mais tóxica para a Nitrobacter sp do que para a Nitrosomonas
sp, podendo ocorrer, então, o acúmulo de NO2 –.
A elevação do pH do solo pela calagem favorece a nitrificação. Outros
fatores que influem na nitrificação, além do pH do solo e do suprimento de
O2, são a temperatura, a umidade e o teor de NH4+ presente.
Em condições adversas para o desenvolvimento dos microrganismos, a
nitrificação é mais afetada do que a mineralização da M.O. devido à
especialização dos nitrificadores. Em clima seco ou em baixo pH, por exemplo,
a nitrificação pode parar bem antes da mineralização.

12.3.3 Desnitrificação

No processo de respiração aeróbia (de macro e microrganismos) o


oxigênio é o receptor de elétrons. Na falta de O2, alguns microrganismos
possuem um sistema enzimático que possibilita utilizar o NO3 - como receptor
de elétrons:

NO3 – 6 NO2 – 6 NO8 6 N2 O8 6 N28 (12.6)

Estes microrganismos são chamados desnitrificadores, sendo muito


comuns no solo. Dentre eles podemos citar Thiobacillus denitrificans,
Thiobacillus thioparus e espécies dos gêneros Pseudomonas, Micrococcus e
Achromobacter.
As condições de solo que propiciam a falta de O2, como o alagamento
ou a presença de grande quantidade de material orgânico facilmente
decomponível por microrganismos, induzem à desnitrificação no solo. Como
exemplo prático, deve-se portanto evitar a utilização de adubos com nitrato
na fertilização do arroz irrigado por alagamento (item 15.3 - p. 206).

12.3.5 Volatilização

O amônio pode ser transformado em amônia, que é volátil. A equação


de equilíbrio da amônia é dependente do pH:

NH4+ + OH– 6 NH3 8 + H2O (12.7)

161
Carlos Alberto Bissani et al.

Em solos alcalinos a concentração de OH– é elevada, sendo o equilíbrio


deslocado para a direita, com perda de NH3 por volatilização.
A uréia aplicada ao solo é transformada pela urease (enzima presente
no solo) em carbonato de amônio, que provoca a elevação do pH ao redor do
grânulo, podendo haver perda de NH3 por volatilização (reação 12.7) quando
este adubo é aplicado superficialmente. A reação simplificada deste processo
é:

CO (NH2)2 6 (NH4)2 CO3 + H2O 6 2NH4+ + 2OH- + CO28 (12.8)


Urease

Perdas de N de até 35,5 kg/ha foram determinadas num experimento


conduzido na Estação Experimental Agronômica da UFRGS, com a aplicação
superficial de 240 kg/ha de N na forma de uréia; o enterrio do adubo evitou
estas perdas [12.8].

12.4 Adubos e adubação nitrogenada

O N dos adubos nitrogenados, tanto orgânicos como minerais, é obtido


inicialmente pela fixação de N2 do ar. As formas em que se apresenta são:
nítrica, amoniacal (ou ambas), orgânica e amídica (uréia). A concentração de
N nos adubos pode variar desde 82% na amônia anidra até alguns décimos
de 1% nos adubos orgânicos.
Os adubos nitrogenados manufaturados são inicialmente produzidos por
fixação do N do ar por processos industriais. Como todos os adubos minerais
nitrogenados são muito solúveis, a permanência do N no solo à disposição das
culturas depende da quantidade de chuva e da capacidade do solo reter água.
Para diminuir as perdas do fertilizante por lixiviação ou desnitrificação,
a adubação nitrogenada deve ser feita em cobertura e na época em que a
planta começa a absorver intensamente os nutrientes (Figura 12.5). Para os
cereais, o N é aplicado 30 a 40 dias após a emergência (Figura 12.5a). No
caso de culturas que exigem grandes quantidades de N, como o milho, é
vantajoso fracionar o fertilizante em duas aplicações. Para as forrageiras
deve-se fazer uma pequena adição de N após cada corte (Figura 12.5b).
As quantidades de adubo nitrogenado a utilizar são muito variáveis,
dependendo da cultura, variedade e produtividade esperada. As
recomendações das tabelas de adubação expressam os resultados dos
experimentos com as espécies e variedades cultivadas numa mesma região.

162
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

Pode-se observar nas tabelas de adubação [1.7] que:


a) no arroz irrigado, a quantidade a adicionar é maior para as
variedades adaptadas morfo-fisiologicamente para altas respostas a
N, como as de porte baixo (efeito da variedade);
b) as recomendações para o trigo e a cevada são baixas, devido à
possibilidade de acamamento que facilmente ocorre nestas culturas;
devido à dificuldade de fazer a adubação de cobertura nestas
culturas, pode-se adotar a opção de aplicar todo o N no plantio em
maior quantidade para compensar as perdas que podem ocorrer por
lixiviação e desnitrificação;
c) como o milho pode responder favoravelmente a até 150-200 kg de
N/ha, as quantidades recomendadas variam conforme o nível de
manejo da cultura, isto é: levando em conta os outros fatores de
produção, como cultivar, época de plantio, região climática, cultura
anterior e rendimento esperado;
d) para as gramíneas forrageiras são recomendadas grandes
quantidades, pois estas apresentam resposta linear à adição de N até
400-500 kg de N/ha; não é recomendado, entretanto, utilizar doses
maiores que as indicadas nas tabelas, para evitar a acumulação de
NO3 – na planta; o NO3 – no rúmen dos animais é transformado em
NO2 – que ao passar à corrente sanguínea oxida a hemoglobina para
methemoglobina, impedindo assim o transporte de O2, podendo
causar a morte dos animais; e
e) para a silagem de gramíneas são também recomendadas grandes
quantidades de N, para obter um grande rendimento de massa
verde, a qual é totalmente removida da lavoura (pouco resíduo
permanece no solo); por estes motivos há necessidade também de
maiores adições de P e de K (ver exemplos de recomendações no
Anexo 5).

12.4.1 Adubos de fixação industrial

Os adubos nitrogenados mais utilizados são relacionados na Tabela


12.3. Os teores de N no produto comercializado podem variar conforme o
processo industrial utilizado (presença de impurezas). A uréia, o nitrato de
amônio e o sulfato de amônio são os adubos nitrogenados minerais mais
utilizados atualmente no Brasil. Apesar da possibilidade de uso direto, a
amônia anidra é mais utilizada como matéria-prima de outros adubos
nitrogenados.

163
Carlos Alberto Bissani et al.

Uma característica comum destes fertilizantes é a grande solubilidade


em água. Atualmente estão sendo pesquisados fertilizantes nitrogenados de
solubilização lenta, que poderiam ser aplicados no plantio, sem o risco de

perdas excessivas por lixiviação (ver item 12.5.6).

FIGURA 12.5 Absorção de nitrogênio por culturas anuais (a) e pastagens (b) e a
melhor época de adição de fertilizante nitrogenado.

TABELA 12.3 Principais adubos nitrogenados produzidos industrialmente [19.1].

Nome Fórmula % de N
Uréia CO(NH2 )2 45
Sulfato de amônio (NH4 )2SO4 20
Cloreto de amônio NH4 Cl 25
Nitrato de amônio NH4 NO3 34
Amônia anidra NH3 82

Os adubos amoniacais têm reação ácida, devido à nitrificação que


ocorre no solo (reação 12.4). Em solos arenosos, com baixo poder tampão,
o pH pode diminuir sensivelmente após a aplicação de uma quantidade
elevada de fertilizante amoniacal. Na Tabela 12.4 são dadas as quantidades
de calcário necessárias para corrigir o efeito ácido de vários adubos
amoniacais.

12.4.2 Adubos verdes e manejo de culturas

164
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

A adubação verde é feita pelo cultivo e incorporação (enterrio) de


qualquer espécie de planta, principalmente leguminosas, com o objetivo de
melhorar a fertilidade do solo. Na adubação verde deve-se considerar os
princípios estabelecidos para a decomposição dos resíduos orgânicos (item
12.2.2), sendo fatores importantes a relação C/N, a composição do material,
a atividade microbiana e os teores de umidade, temperatura e nitrogênio do
solo. A forma de utilização da cobertura vegetal depende do manejo do solo,
relacionado principalmente ao sistema de preparo.

TABELA 12.4 Calcário necessário (PRNT = 65%) para neutralizar o efeito ácido de
1 kg de N na forma de adubos amoniacais

Adubo Calcário (kg) Adubo Calcário (kg)


Sulfato de amônio 4,8 Amônia anidra 4,8
Diamônio fosfato 9,5 Nitrato de amônio 3,9
Uréia 4,8

Na adubação verde deve-se:


a) utilizar leguminosas (com inoculação); e
b) incorporar na época do florescimento (baixa relação C/N).
A adubação verde é atualmente uma prática não rentável em si,
considerando-se apenas a adição do N ao solo, pois outros adubos
nitrogenados são mais baratos. Num sistema racional de uso do solo com
rotação de culturas, a adubação verde se justifica por:
a) propiciar a cobertura do solo durante períodos de não utilização,
reduzindo a possibilidade de erosão do solo;
b) melhorar a permeabilidade dos solos utilizados com culturas anuais
e mecanização intensa por vários anos, pelo cultivo de espécies com
sistema radicular adequado a esta finalidade;
c) aumentar a aeração e a capacidade de armazenamento de água do
solo; e
d) aumentar o teor de N na fração facilmente decomponível da M.O. do
solo, no caso de cultivo de leguminosas.
Estas contribuições são difíceis de quantificar economicamente, mas
devem ser consideradas no uso racional do solo, principalmente com vistas
à conservação do recurso natural.
Na Tabela 12.5 é mostrado o rendimento da cultura do milho obtido no
5º ano de cultivo em diferentes sistemas de culturas. Com o cultivo da aveia
consorciada com trevo subterrâneo no inverno, o rendimento do milho sem

165
Carlos Alberto Bissani et al.

adubação nitrogenada no verão foi de 4,11 t/ha de grãos com uma


contribuição de 19 kg de N/ha pela cultura de inverno (a média de rendimento
no estado do RS foi de 2,28 t/ha). A consorciação com leguminosas (lablab
e caupi) também favoreceu a cultura do milho [12.13].
A adubação verde não propicia um aumento imediato da M.O. do solo
porque grande parte do carbono adicionado é reciclado para a atmosfera pela
decomposição no solo (reação 12.2). Com a utilização de culturas com teor
alto de fibras (lablab e guandu) o aumento do teor de N do solo já foi
evidente após cinco anos de utilização do sistema [12.13].

12.4.3 Adubos orgânicos

A adubação orgânica foi a primeira prática empírica utilizada visando à


melhoria da capacidade de produção do solo. Sua importância foi reconhecida
pelas civilizações grega e romana, tendo-se constituído na base de
manutenção da fertilidade de solos cultivados durante milhares de anos. O
aumento da área cultivada, a possibilidade de obtenção de fertilizantes
minerais a baixo custo e o elevado valor da mão-de-obra, que se acentuaram
com a revolução industrial até nossos dias, restringiram o uso da adubação
orgânica a hortas, pomares e pequenas propriedades. O adubo orgânico de
origem animal ou vegetal se caracteriza por:
a) ter baixo teor de nutrientes N, P e K (Tabela 12.6);
c) ter a necessidade de pré-tratamento (elaboração de composto); e
d) apresentar dificuldade de manuseio mecânico (recolhimento,
preparação e aplicação no campo).
A utilização de adubo orgânico em grandes lavouras não é muito viável
devido:
a) à dificuldade de obtenção de adubo orgânico em quantidade
suficiente para se observar efeito positivo sobre o rendimento das
culturas (aplicações maiores que 2.000 kg/ha/ano);
b) ao elevado custo da mão-de-obra e maquinaria para preparação e
aplicação; e,
c) à não disponibilidade de máquinas para aplicação de grandes
quantidades de adubo orgânico nas lavouras.
Qualquer resíduo de origem animal ou vegetal pode ser preparado para
uso como fertilizante ou aplicado diretamente na lavoura. No estudo da
utilização é necessário considerar em cada caso:
a) a relação C/N do material: a decomposição dos resíduos por
microrganismos, necessária para a liberação dos nutrientes para a

166
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

forma mineral, obedece aos princípios discutidos no item 12.2.2; as


variáveis que podem ser controladas são temperatura, umidade, e
suprimentos de O2 e de nutrientes;
b) a velocidade de decomposição do material, depende principalmente
dos teores de lignina (fibra) e de compostos resistentes à
decomposição microbiana, como ceras e resinas; e
c) a presença de compostos que inibem o crescimento dos
microrganismos, como polifenóis (responsáveis pela resistência à
decomposição da madeira).

TABELA 12.5 Rendimento de grãos do milho com e sem adubação nitrogenada


obtido na safra de 1988, após cinco anos de diferentes manejos de
culturas [12.13] (1)

Culturas N adicionado pela Rendimento


Inverno Verão cultura anterior sem N com N (2)
kg/ha ---------- t/ha ------------
Solo descoberto Milho - 1,90 6,65
Pousio Milho - 3,34 6,05
Aveia Milho 9 1,80 6,65
Aveia+trevo subterrâneo Milho 19 4,11 7,47
Pousio Milho+lablab 19 5,94 6,86
Aveia+vica Milho+caupi 21 4,65 6,80
(1)
Experimento conduzido na EEA da UFRGS, em solo São Jerônimo (PVd).
(2)
A adubação nitrogenada foi de 120 kg de N/ha em cobertura, na forma de uréia.

Os resíduos da indústria de processamento animal (resíduos limpos),


como farinhas (de ossos, sangue, carne e peixe) são utilizados
preferencialmente na alimentação de animais pelo alto valor nutricional. O
mesmo ocorre com alguns resíduos de processamento de sementes como
tortas (de algodão, de soja, de amendoim e de mamona).
Um problema recente em relação ao manejo de dejetos animais é a
poluição do ar e da água observada nas áreas de grandes estabelecimentos
de terminação de animais. A movimentação e utilização do estrume
representa uma despesa de operação apreciável.
No capítulo 15 serão apresentadas mais detalhadamente a utilização de
adubos orgânicos e a agricultura orgânica.

12.4.4 Adubação orgânica e adubação mineral

167
Carlos Alberto Bissani et al.

A adubação inorgânica (fertilizantes industrializados) pode manter uma


alta produtividade das culturas. O teor de M.O. do solo depende do equilíbrio
entre os fatores climáticos, a intensidade de manejo e o sistema de cultivo.
A adição esporádica ou em pequenas quantidades de resíduos não influencia
o teor de M.O. do solo, porque a maior parte do carbono adicionado é
volatilizado na forma de CO2; desse modo, a adição de M.O. ao solo deve ser
uma prática continuada.

TABELA 12.6 Produção e composição de alguns resíduos de origem animal e


vegetal [12.10; 12.11; 12.12 ] (1)

Produção/1000
Material H2 0 N P2 05 K2 0
kg de peso vivo
t/ano ------------------------- % ----------------------------
Estrume de boi 27,0 86 0,60 0,15 0,45
Estrume de porco 30,5 87 0,50 35 40
Estrume de galinha 9,5 55 2,50 1,8 150
Torta de cana - - 1,37 1,11 0,7
Torta de mamona - - 5 1,5 1,2
Torta de algodão - - 7 2,5 12
Torta de soja - 10 7 15 2,4
Palhas de cereais - 37975 0,4-0,8 0,2-0,3 0,5-1,1
Palhas de leguminosas - 37976 1,2-2,0 0,3-0,4 0,6-1,8
(1)
Teores de N, P2 05 e K2 0 no material seco.

Além do fornecimento de nutrientes às plantas pela M.O., são


importantes também os benefícios indiretos como:
a) aumento da retenção de umidade no solo;
b) melhoria da aeração e da agregação de partículas do solo;
c) aumento da retenção de cátions, pela alta CTC da M.O.; e
d) aumento da capacidade de retenção de nutrientes como S, B, Cu, Zn
e Mo.
A manutenção de alto teor de M.O. do solo em grandes áreas pode ser
conseguida na prática somente com a adoção de manejo conservacionista do
solo aliado ao bom desenvolvimento das plantas, inclusão de leguminosas no
sistema de culturas e controle da erosão do solo (item 12.2.3 - p. 155).

168
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

12.5 Você sabia ?

12.5.1 A quebra do poste


Qualquer campeiro sabe que o poste da cerca (de madeira) quebra ao
nível do solo. Porquê?

12.5.2 A “terra de mato”


Foi dito no item 12.2.1 que o solo de florestas contém menos M.O. que
o de pastagem. Por que então as floriculturas vendem bastante “terra de
mato”?

12.5.3 No banheiro

Qual a relação entre o mau cheiro dos banheiros (mal lavados) com a
perda de eficiência de adubos nitrogenados no solo?

12.5.4 Mineralização de M.O.

Qual é teoricamente a liberação de N pela decomposição da M.O. do


solo utilizado no experimento em vasos (Anexo 7), que possui 0,8% de M.O.?
Qual foi a liberação real de N para a aveia, contido na parte aérea e nas raízes
das plantas, nos dois cortes (tratamento 2: sem adição de N)? Por quê?

12.5.5 Eficiência de absorção

Mesmo não ocorrendo deficiência de outros nutrientes, a absorção de


N dos adubos pelas plantas em geral é menor que 100%. Calcule então a
eficiência de absorção do N (da uréia) pela aveia no experimento apresentado
no Anexo 7 (tratamento 4), considerando as quantidades contidas nas raízes
e na parte aérea dos dois cortes da aveia. Qual deve ter sido a principal forma
de perda de N?

12.5.6 Adubos nitrogenados de liberação lenta de N

Está sendo atualmente testado a campo um produto (tiofosfato de N-n-


butiltriamida - NBPT) que retarda a ação da urease por 3 a 4 dias, podendo
reduzir as perdas de N por volatilização de amônia, em média, até 50 a 60%

169
Carlos Alberto Bissani et al.

na cultura do milho, caso ocorra chuva entre 7 a 10 dias após a aplicação


superficial da uréia [12.16].

170
13
Recomendações de Adubação e
de Correção da Acidez
_________________________
s recomendações de adubação adotadas nos estados do Rio Grande do

A Sul e de Santa Catarina visam à obtenção de máximo retorno econômico


a curto prazo, por cultivo ou por ano. A adubação do primeiro cultivo
deve ser baseada na análise do solo, para possibilitar o posicionamento da
cultura na respectiva função de produção. A adubação dos cultivos
subsequentes é recomendada com base na curva de resposta da planta e no
efeito residual da adubação anterior.
Após o segundo cultivo deve ser feita nova amostragem e análise de
solo, repetindo-se a seqüência, até atingir o nível de fertilidade compatível
com o teor de suficiência do elemento (P e K). A partir deste ponto, a
adubação visa a repor a quantidades de nutrientes retiradas pelas culturas ou
perdidas (por adsorção não reversível (fixação do P), por lixiviação de K ou
pela erosão).
As recomendações de adubação são feitas considerando-se que a
fertilidade do solo seja o fator limitante, estando otimizados os outros fatores
da produção, como: adequação das sementes, época de plantio, controle de
pragas e moléstias, níveis de rendimento esperados compatíveis com o clima,
etc.
Para o estabelecimento das doses de fertilizantes a aplicar foram
utilizados os resultados obtidos em experimentos de campo, considerando-se
os seguintes aspectos:
a) resposta das culturas à adubação (validação das análises) a campo;
b) custo do fertilizante e valor do produto; e
c) efeito residual do fertilizante.

169
Carlos Alberto Bissani et al.

Será apresentado a seguir o critério do máximo retorno econômico


adotado na elaboração das tabelas de adubação.

13.1 Critério do máximo retorno econômico

Na Figura 13.1 é mostrada uma curva (Função de Produção) que


representa o rendimento de uma cultura com a aplicação de fertilizante, num
solo em que o mesmo é limitante. As doses que propiciam o máximo
rendimento e o máximo retorno líquido correspondem aos valores de X e Q,
respectivamente. A diferença entre Função de Produção (FP) e a reta do
Custo Total de produção (CT) representa o retorno líquido (lucro) devido à
aplicação do fertilizante. A dose que propicia o máximo lucro é obtida
graficamente, traçando-se uma paralela à reta de Custo Total de forma que
tangencie a Função de Produção. A projeção do ponto de contato da
tangente, sobre o eixo do Fertilizante, determina o ponto Q, o qual
corresponde a Q unidades de fertilizante para a obtenção do lucro máximo.
Matematicamente, esta dose é obtida quando dL/dQ = 0, ou seja,
quando a primeira derivada da função de lucro em relação ao fertilizante
aplicado (Q) é igual a zero. A função de lucro é obtida pela diferença entre a
Função de Produção e a Função de Custos e tem a forma representada na
Figura 13.2.

FIGURA 13.1

R e l a ç ã o e n t r e d os e s
crescentes de fertilizante,
rendimento das culturas e
custos de produção
expressos na forma de
quantidade de produto.

Pode-se produzir, com lucro, entre os valores q e Q do fertilizante,


sendo q a dose mínima, cobrindo apenas os custos de produção. É

170
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

recomendável, entretanto, uma dose o mais próximo possível de Q unidades,


em que ocorre a probabilidade de maior lucro por área. Essas possibilidades
são ajustáveis conforme a interação com os demais fatores de produção,
como os outros insumos, as restrições existentes na propriedade, os preços,
etc.

FIGURA 13.2

Representação da função de
lucro e a dose de Q (unidades
de fertilizante) para a obtenção
do lucro máximo por área.

Na Figura 13.3 é exemplificado o estabelecimento das quantidades de


fósforo para a cultura do milho em duas classes de solo. As classes de solos,
conforme o teor de argila, são justificadas pela capacidade de resposta dos
mesmos, em relação aos teores de P “disponível”. Conforme foi visto no
Capítulo 3 (item 3.4.2 - p.38) o fator capacidade de suprimento de P depende
dos fatores favoráveis à difusão (principal mecanismo de suprimento de P às
plantas). A justificativa para adotar diferentes valores na análise para o
estabelecimento do teor crítico foi dada no item 10.3.1 (Figura 10.7 - p. 122).
Por exemplo, o mesmo rendimento de milho poderia ser obtido pela aplicação
de 75 kg de P2 O5 /ha em solo argiloso (classe 1) com teor médio de P (4 a 6
mg/dm3 na análise) ou em solo arenoso (classe 4) com teor médio de P (14
a 21 mg/dm3 na análise).
O teor crítico corresponde à dose Q (Figura 13.1), que em geral está
próxima à utilizada para obter 90% do rendimento máximo, correspondendo
ao limite superior da faixa “Médio” na análise do solo (Figura 7.1 - p. 71).

171
Carlos Alberto Bissani et al.

FIGURA 13.3 Curvas de resposta da cultura do milho à adubação fosfatada


conforme o teor de P, em duas classes de solo.

13.2 Critérios para as recomendações

O sistema de recomendação de adubação tem por objetivo elevar o teor


dos nutrientes no solo a níveis considerados adequados para as culturas
expressarem seu potencial de rendimento, sempre que os demais fatores não
sejam limitantes. As alternativas oferecidas para atingir essa meta adaptam-se
às diferentes condições de manejo e de economia das diferentes culturas.
Assim, para grãos é possível optar pela adubação corretiva total ou
gradual mais a adubação de manutenção para ambas as modalidades. Devido
às variações nos preços dos insumos (fertilizantes e corretivos) e dos produtos
(grãos ou massa seca) e ao grande número de outros fatores que interferem
no rendimento, as recomendações foram estabelecidas com base no critério
de suficiência dos nutrientes fósforo e potássio no solo. Dessa forma, o uso
das recomendações tenderá a elevar o teor de nutriente ao "teor crítico", o
que corresponde a aproximadamente 90% do rendimento máximo das
culturas, que também está próximo do máximo retorno econômico (Figura
13.3) [1.7].
No caso de frutíferas e essências florestais, o sistema está baseado na
adubação anual. Para hortaliças e outros sistemas de produção, as indicações
de adubação têm como objetivo suprir as exigências nutricionais de cada
cultura ou safra, enquadrando-se, portanto, no sistema de adubação por
cultura.

172
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

13.3 Expectativa de rendimento das culturas

No Manual de Recomendações [1.7] utiliza-se o princípio da adição de


fertilizantes conforme a expectativa de rendimento. As indicações de
adubação para as culturas de grãos apresentadas (à exceção do arroz
irrigado, cujas recomendações são para faixas de rendimento) foram
elaboradas para uma expectativa de rendimento que varia de 1,0 (uma) t/ha
(ervilhaca) até 4,0 t/ha (milho). Para rendimentos maiores do que os
indicados (Tabela 13.2), é necessário acrescentar aos valores das tabelas as
quantidades que serão retiradas pela cultura por tonelada adicional de grãos
produzidos e eventuais perdas do sistema.
Dessa forma, um componente importante do sistema é a expectativa de
rendimento. Como regra geral, sugere-se que seja usado um valor real, e que
este represente a média obtida em cada gleba em safras anteriores. Se os
resultados da colheita forem muito diferentes do valor estimado,
compensações poderão ser feitas na safra seguinte. Com isso o sistema se
torna eficiente economicamente.

13.4 Representação gráfica do sistema de adubação

Na Figura 13.4 são representadas três faixas de teores de um nutriente


no solo e as respectivas indicações gerais de adubação. Na faixa de teor
"Muito baixo" a "Médio", há necessidade de correção (C) do teor de nutriente
no solo. Na faixa entre o teor "Médio" e "Muito alto", há a necessidade de
uma adubação de manutenção (M), que é a soma das perdas eventuais do
nutriente do sistema e a retirada pela cultura. Já na faixa de teor "Muito alto",
é suficiente uma adubação de reposição (R) equivalente à exportação do
nutriente da lavoura pelos produtos colhidos. O objetivo do sistema é elevar
os teores de P e K no mínimo até o teor crítico, mantendo-os sempre que
possível acima deste, ou seja, na faixa adequada.

13.5 Conceito de adubação de manutenção (valor M)

O conceito de manutenção estabelecido no Manual de Recomendações


[1.7], especialmente para as culturas de grãos, difere do conceito adotado
nas edições anteriores [13.5]. Até a edição de 1987, o sistema de adubação
consistia numa adubação corretiva mais uma dose de manutenção [6.6] que

173
Carlos Alberto Bissani et al.

era fixa e muito maior do que a exportação das culturas, devido às perdas
então existentes no sistema de cultivo. A partir de 1987, foi introduzido o
conceito de reposição (R), que variava de acordo com algumas faixas de
rendimento para as culturas principais (trigo, milho, soja e cevada). Para as
demais culturas, os valores eram estabelecidos sem a indicação da
expectativa de rendimento [13.1], que foi adotada a partir de 2004, para
todas as culturas.
As quantidades de adubo de manutenção de fósforo e potássio
indicadas nas tabelas de adubação foram estimadas pela exportação dos
grãos (para um determinado rendimento) mais as perdas do sistema. Em
geral, o acréscimo relativo às perdas varia de 20 a 30% da exportação. Essas
quantidades devem ser aplicadas sempre que os teores desses elementos no
solo não se situarem na faixa adequada (Figura 13.4).

FIGURA 13.4 Relação entre o rendimento relativo de uma cultura e o teor de um


nutriente no solo e as indicações de adubação para cada faixa de teor
no solo [13.5].

174
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

13.6 Conceito de adubação de reposição (valor R)

As quantidades de fósforo e de potássio a adicionar ao solo para uma


determinada cultura podem ser estabelecidas pela quantidade destes
nutrientes retirados pelos grãos ou pela massa seca. A opção de adubar pela
reposição (exportação) é indicada somente quando os teores de nutrientes no
solo estão na faixa "Muito alto", conforme indicado (R) na Figura 13.4. Neste
caso, recomenda-se não aplicar fertilizante no 1º cultivo (dose zero) e aplicar
valores menores ou iguais à manutenção no 2º cultivo. Ao optar por essa
alternativa (não aplicar fertilizante no 1º cultivo), deve-se analisar o custo da
adubação em relação aos demais fatores de produção. Mesmo com teores de
P e de K na faixa "Muito alto" no solo, algumas culturas beneficiam-se com
uma pequena quantidade de fertilizante aplicado na linha na semeadura.
As quantidades de adubo de reposição indicadas são baseadas nas
quantidades de nutrientes retiradas pelos grãos das culturas [1.7], sendo
informadas no rodapé das tabelas de recomendação. Também devem ser
consideradas as adubações feitas anteriormente e o grau de adequação da
amostragem de solo.

13.7 Adubação de correção total

A recomendação de adubação de correção total foi a alternativa utilizada


a partir do final da década de 60, em toda a década de 70 e até meados da
década de 80. Ela visava elevar os teores dos nutrientes fósforo e potássio no
solo até o teor crítico, cujo valor foi estabelecido para um rendimento de
aproximadamente 90% do rendimento máximo da cultura. O rendimento que
confere máximo retorno econômico, em geral, situa-se próximo a esse valor
(entre 85 e 95%). Em solos com valores de análise maiores do que o teor
crítico, a resposta das plantas à adição de nutrientes é pequena ou nula,
bastando adicionar as quantidades retiradas pelos grãos ou pela massa verde
mais as perdas do sistema, que são variáveis: maiores no sistema
convencional e menores no sistema plantio direto (entre 20 e 30%). Essas
perdas são derivadas principalmente da adsorção química de P e K, da erosão
do solo (P e K), lixiviação de K em solos de textura arenosa e remoção
desuniforme de P e K pelos produtos colhidos.
A adubação de correção total é a alternativa mais indicada quando os
solos são muito deficientes em fósforo e em potássio e quando há
disponibilidade de recursos financeiros para investimento. Essa opção consiste

175
Carlos Alberto Bissani et al.

em aplicar todo o fertilizante fosfatado ou potássico de uma só vez. Quando


os resultados da análise indicarem teores de P ou de K "Alto" ou "Muito alto"
(Figura 13.4), a adubação de correção não é indicada. Neste caso, adicionam-
se somente as quantidades de manutenção ou o que for exportado pelas
culturas (grãos ou massa verde), pois o teor do nutriente no solo é
considerado adequado ou está na faixa de teor "Muito alto". Na Tabela 13.1
são apresentados os valores da correção de fósforo e de potássio para as
faixas de teores desses nutrientes no solo. Em relação à retirada de nutrientes
do solo pelas culturas, essas quantidades representam a "sobra" do sistema,
cuja finalidade é elevar o teor de P e de K no solo até o teor crítico [13.5].

TABELA 13.1 Quantidades de fósforo e de potássio a serem adicionadas ao solo


para a adubação de correção total (1) [13.5]

Interpretação do teor de
P ou de K no solo Fósforo Potássio
kg de P2 O5 /ha kg de K2 O/ha
Muito baixo 120 120
Baixo 60 60
Médio 30 30

(1)
Quando a opção for a adubação corretiva total, devem ser adicionadas também as quantidades de
manutenção indicadas na Tabela 13.2 (colunas 3 e 4) para os rendimentos de referência da cultura.
Para rendimento maior do que o indicado na tabela, adicionar por tonelada adicional de grãos a serem
produzidos, as quantidades indicadas nas colunas 5 e 6 para fósforo e potássio, respectivamente.
No estabelecimento das doses da Tabela acima, considerou-se a capacidade tampão dos solos em P e K
(kg de P2 O5 ou K2 O necessários para aumentar, na análise, 1 mg de P ou K/dm³ de solo) e a quantidade
necessária para elevar a concentração no solo desses elementos até o teor crítico.

A aplicação dos fertilizantes destinados à correção do solo é feita a


lanço, com incorporação no sistema convencional de cultivo. No sistema
plantio direto esta aplicação pode ser feita na linha de semeadura ou
distribuída a lanço e o fertilizante mantido na superfície do solo. Quando o
teor no solo for muito baixo e a adubação for indicada para uma expectativa
de rendimento muito alta, a dose será também muito alta. Por exemplo, para
milho semeado em solo com teor de P na faixa "Muito baixo" e com a
expectativa de rendimento de 10 t/ha, a quantidade de P2 O5 a aplicar será:
120 kg/ha de correção total + 45 kg/ha para um rendimento de 4 t/ha de
grãos + (6 x 15) kg/ha (que é a quantidade por tonelada adicional: 10 - 4 =
6). A dose a aplicar no cultivo do milho será, portanto, de 255 kg de P2O5 /ha.
Nesse caso, é conveniente aplicar, aproximadamente 2/3 a lanço e 1/3 na

176
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

linha de semeadura. Procedimento semelhante deverá ser adotado no caso


de potássio, porém, devido ao efeito salino dos fertilizantes potássicos, a dose
máxima a aplicar na linha de semeadura é menor (no máximo 80 kg/ha para
milho e soja).

13.7.1 Teores altos de fósforo e de potássio

Quando a faixa de teor do nutriente no solo for "Muito alto", e a


quantidade indicada na tabela de recomendação for menor ou igual (#) à
dose de manutenção, pode-se diminuir também as quantidades a acrescentar
por tonelada adicional de grãos (ou massa seca) a serem produzidos. Por
exemplo, na cultura do milho em segundo cultivo da seqüência, para um
rendimento de 8 t/ha e com teor de P "Alto", a quantidade de P2 O5 a
adicionar seria 45 + 60 (expectativa adicional de rendimento de 4 t/ha de
grãos), igual a 105 de P2O5/ha. Se o valor de P for "Muito alto", a
recomendação pode ser igual ou menor. Com isso, seria adequada
(dependendo dos outros fatores de produção) a adição de 25 kg para as 4
t/ha e de 8 a 10 kg por tonelada adicional de grãos a serem produzidos. Neste
exemplo (4 t/ha a mais), seriam de 38 a 40 kg/ha, que somados aos 25 kg
corresponderiam a uma aplicação entre 55 a 65 kg de P2O5 /ha, ao invés dos
105 kg indicados anteriormente para a faixa de teor "Alto".

13.7.2 Adubação corretiva em solos arenosos

A adubação corretiva total não é indicada para solos de classe textural


4, principalmente quando os teores de P ou de K forem muito baixos ou
baixos, pois as quantidades de adubo de correção somadas àquelas de
manutenção poderão ser muito altas. Isso pode acarretar, eventualmente,
perdas de nutrientes por lixiviação. A recomendação para esses casos é a
utilização da adubação corretiva gradual.

13.8 Adubação corretiva gradual

A adubação corretiva gradual é indicada somente para as culturas de


grãos e eventualmente para algumas culturas forrageiras quando em rotação.
As doses de correção são aplicadas na proporção de 2/3 no 1º cultivo
e 1/3 no segundo cultivo para os solos cujos teores de P e de K forem
interpretados como "Muito baixo" e "Baixo". Quando a interpretação dos

177
Carlos Alberto Bissani et al.

teores for "Médio", a adubação de correção é feita integralmente no primeiro


cultivo, pois a quantidade de fertilizante é pequena (30 kg de P2O5 e 30 kg de
K2O, Tabela 13.1) em relação à indicada para as faixas "Muito baixo" e
"Baixo". Além da quantidade equivalente à correção, é acrescentada a
quantidade necessária para cada cultura, conforme a produtividade esperada.

TABELA 13.2 Valores de adubação de manutenção de fósforo e de potássio das


culturas de grãos para os rendimentos especificados e quantidades
a serem adicionadas por tonelada de grãos produzidos acima do
rendimento de referência [1.7]

R en d im en to V a lores d e m a n u ten çã o (M ) p a ra Q u an tid a d e a acrescen ta r p o r


C ultura referência o ren d im en to referên cia (1) to nela d a a d icio na l d e g rã o s
a serem p ro d u zid o s

t/ha kg de P2 O5/ha kg de K2 O/ha kg de P2 O5/ha kg de K2 O/ha


Amendoim 2 30 40 15 20
Arroz de 2 20 20 10 10
Aveia branca 2 30 20 15 10
Aveia preta 2 30 20 15 10
Canola 1,5 30 25 20 15
Centeio 2 30 20 15 10
Cevada 2 30 20 15 10
Ervilha seca e 1,5 30 40 15 20
Ervilhaca 1 20 30 20 25
Feijão 1,5 25 30 15 20
Girassol 2 30 30 15 15
Linho 1,5 30 40 15 15
Milho 4 45 30 15 10
Milho pipoca 3 35 25 15 10
Nabo 2 30 40 15 20
Painço 1,5 20 15 15 10
Soja 2 30 45 15 25
Sorgo 3 35 25 15 10
Tremoço 2 25 45 15 25
Trigo 2 30 20 15 10
Triticale 2 30 20 15 10

(1 )
Os valores de manutenção (M) podem ser diferentes do resultado da multiplicação do rendimento
referência (coluna 2) pelos valores das colunas 5 e 6, pois os valores destas colunas foram ajustados
para se enquadrarem em meia ou na dezena inteira.

178
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

13.9 Adubação nitrogenada

A adubação nitrogenada pode ser enquadrada no conceito de


manutenção, sendo consideradas a contribuição da matéria orgânica e da
cultura precedente, a expectativa de rendimento e as perdas do sistema
(imobilização, volatilização e lixiviação). As recomendações de adubação são
indicadas nos itens correspondentes a cada cultura. A exemplo do fósforo e
potássio, a quantidade indicada na tabela deverá ser acrescida da quantidade
sugerida no rodapé, por tonelada adicional de grãos a serem produzidos,
sempre que a expectativa de rendimento for maior do que a estabelecida para
a cultura.

13.10 Exemplo de utilização das tabelas de adubação

Um exemplo de utilização das tabelas de adubação e a recomendação


de calcário para cinco glebas (ou cinco lavouras) é detalhado, a seguir, com
os resultados de análise apresentados na Tabela 13.3. Na Tabela 13.4 é dada
a interpretação dos resultados da análise de solo das cinco glebas.

13.10.1 Interpretação de valores de pH do solo e necessidade de


calagem

A interpretação dos resultados independe do sistema de cultivo;


contudo, a utilização dessa interpretação é feita conforme a cultura e o
sistema de cultivo. Por exemplo, no sistema plantio direto, um dos critérios
para a recomendação de calagem é o valor do pH. Quando este for menor
que 5,5, interpretado, portanto, como "Baixo" na Tabela 13.4, a calagem é
necessária tanto para cultivos no sistema plantio direto como no sistema de
preparo convencional. Quando a interpretação for "Médio", somente é
necessária a calagem em solos no sistema de preparo convencional e para
valores de pH até 5,9. Em solos com valores de pH de 6,0 ou maiores, a
adição de calcário não é recomendada1.
Sistema plantio direto
Neste sistema de plantio "consolidado" (mais de 5 anos de uso
contínuo), os critérios para determinar a necessidade de calagem são o pH em
água e a porcentagem da saturação da CTCpH7,0 por bases. Quando necessário,
__________________

179
Carlos Alberto Bissani et al.
(1)
Com exceção das culturas da alfafa, aspargo e piretro, para as quais a calagem é
recomendada quando o pH do solo for menor do que 6,5.

utiliza-se também a porcentagem de saturação da CTCefetiva por alumínio e o


teor de P do solo, sendo esses critérios complementares ao pH e à
porcentagem da saturação da CTCpH7,0 por bases.

TABELA 13.3 Resultados da análise de solo de cinco glebas de uma lavoura

Teor de Índice
Gleba pHágua P K M.O. Ca Mg Al
Argila SMP
3
% ---- mg/dm ---- % -------------- cmolc/dm3 ----
1 70 5,3 5,9 1,5 66 4,5 5,7 3,4 0,1
2 61 5,4 5,8 14,5 182 3,7 6,5 3,8 0,2
3 43 5,0 5,9 6,2 51 3,0 2,0 1,3 1,0
4 15 5,8 6,9 12,5 27 1,7 2,0 1,1 0
5 32 6,2 6,5 20,5 74 3,2 4,1 2,6 0
Fósforo e potássio determinados pelo método Mehlich-1 (Capítulo 6)

TABELA 13.3 Continuação...

Sat CTCpH7,0 Sat CTCefetiva


Gleba CTCpH7,0 CTCefetiva
por bases por Al
------------ cmolc /dm3 ------------ --------------------- % --------------------
1 14,2 9,4 65 1
2 16,2 11,0 66 2
3 8,3 4,4 41 23
4 4,7 3,2 67 0
5 9,3 6,2 74 0

Assim, pelo exemplo da Tabela 13.4, recomenda-se calagem no sistema


plantio direto, apenas para as glebas 1 e 3. Na gleba 1, recomenda-se
calagem pelo critério do pH (<5,5), mas não se recomendaria pelo critério da
saturação por bases (=65%). Nesse caso, como os dois critérios não são
concordantes, é necessária a utilização dos critérios complementares:
saturação da CTCefetiva por alumínio e teor de P no solo. Para que não seja
recomendada a calagem, a saturação da CTCefetiva por Al deve ser menor do
que 10% e a faixa de teor de P no solo igual a "Muito alto". Para a gleba 1,

180
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

o teor de P é "Muito baixo", sendo, portanto, recomendada a calagem para


esta gleba no sistema plantio direto. Ou seja, toda a vez que um dos critérios
secundários indicar calagem, esta é recomendada, mas se somente um dos
critérios primários for satisfeito, a calagem não é necessária se ambos os
critérios secundários forem atendidos para não calagem.
Na gleba 3, os dois critérios principais, pH (5,0) e saturação da CTC por
bases (41%) indicam a necessidade de calagem, não sendo necessário utilizar
os critérios complementares.
Na gleba 2, é indicada a necessidade de calagem pelo critério do pH em
água (<5,5), mas não é pelo critério da saturação por bases (>65%); a
saturação por Al é menor do que 10%, e o teor de P é "Muito alto". Nesse
caso, a calagem não é recomendada no sistema plantio direto.
Para as demais glebas (4 e 5), não será necessário aplicar calcário, pois
os valores dos dois critérios principais (pH e saturação de bases) estão acima
do mínimo exigido.
Sistema de preparo convencional
No sistema de preparo convencional ou para culturas em que é
recomendado elevar o pH do solo a 6,0, os resultados da Tabela 13.3 e a sua
interpretação na Tabela 13.4 indicam a necessidade de calagem para as
glebas 1, 2, 3 e 4. Já para a gleba 5 não se recomenda calagem, pois o pH
é maior que 6,0.

TABELA 13.4 Interpretação dos resultados das análises de solo das 5 glebas
apresentadas na Tabela 13.3

Interpretação dos resultados


Gleba Classe pH Teor de P Teor de K CTCpH7,0 Sat. por Sat. por Al
textural bases
1 1 baixo muito baixo alto médio médio baixo
2 1 baixo muito alto muito alto alto médio baixo
3 2 baixo médio médio médio baixo médio
4 4 médio baixo baixo baixo médio muito baixo
5 3 alto alto alto médio médio muito baixo

13.10.2 Interpretação dos teores de P e de K no solo

As quantidades de fósforo (P2 O5) e de potássio (K2 O) recomendadas


dependem do teor no solo, da cultura, da expectativa de rendimento e da

181
Carlos Alberto Bissani et al.

disponibilidade de recursos financeiros para investimento. Para o caso de


potássio, deve ser também considerada a CTCpH7,0 (Figura 7.3 - p. 73). Para
a faixa de teor "Muito alto", as recomendações de P e K variam de zero até
o valor indicado de manutenção. Para a faixa de teor "Alto", a quantidade
indicada é a adubação de manutenção (item 13.3). Para as faixas de teores
"Muito baixo"," Baixo" e "Médio", há duas alternativas. Na primeira, aplica-se
todo o fertilizante no primeiro cultivo (adubação corretiva total) mais a
manutenção da cultura; e na segunda, aplica-se a quantidade referente à
correção em dois cultivos sucessivos acrescida da manutenção de cada
cultura. A escolha de uma ou de outra depende essencialmente dos recursos
financeiros disponíveis.
No caso da opção pela adubação corretiva total e adubação de
manutenção nas cinco glebas do exemplo dado na Tabela 13.3, as
quantidades de fertilizantes para as culturas de trigo e de soja são indicadas
na Tabela 13.5.

TABELA 13.5 Quantidades a aplicar de fósforo e de potássio pela adubação de


correção total para as cinco glebas apresentadas na Tabela 13.3, mais
as quantidades de adubação de manutenção para as culturas de trigo
e de soja com expectativa de rendimento de 2 toneladas de grãos por
hectare para ambas as culturas

Adubação Adubação de manutenção


Glebas corretiva total Trigo Soja
P2 O5 K2 O P2 O5 K2 O P2 O5 K2 O
----------- kg/ha ----- ---------------------------- kg/ha ----------------
1 120 0 30 20 30 45
2 0 0 30 20 30 45
3 30 30 30 20 30 45
4 60 60 30 20 30 45
5 0 0 30 20 30 45

Para a expectativa de rendimento maior do que 2 t/ha, acrescentar aos valores da tabela, por
tonelada adicional de grãos:
trigo = 15 kg de P2 O5 e 10 kg de K2 O;
soja = 15 kg de P2 O5 e 25 kg de K2 O.

No exemplo dado, foram escolhidas as culturas de trigo e de soja. No


entanto o princípio é válido para qualquer seqüência de culturas. Após a
correção, os teores de P e de K deverão estar próximos ao teor crítico, e

182
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

torna-se suficiente a adição somente da adubação de manutenção (perdas


eventuais mais exportação) para cada cultura. Após cada dois ou três cultivos,
recomenda-se reamostrar o solo para monitorar os teores de P e de K, assim
como os outros indicadores de fertilidade.
Quando for adotada a alternativa de correção gradual da fertilidade da
lavoura, as doses de P e de K da correção total são divididas em dois cultivos.
Os valores apresentados na Tabela 13.6 foram obtidos pela interpretação dos
resultados de análise e utilização das tabelas das respectivas culturas.
No exemplo dado, as produtividades são relativamente baixas, mas
foram utilizadas por serem os rendimentos referência do sistema, ou seja, são
os rendimentos mínimos esperados com a adoção do sistema de
recomendação. No entanto, sempre que a expectativa de rendimento for
maior do que a indicada, deve-se adicionar as quantidades de N, de P2 O5 e de
K2O que constam nas notas de rodapé das tabelas das culturas e na Tabela
13.2.

TABELA 13.6 Recomendações de adubação corretiva gradual para uma seqüência


de dois cultivos com expectativa de rendimento de 2 toneladas de
grãos por hectare (para ambas as culturas) nas cinco glebas da
Tabela 13.3

Trigo no 2o cultivo Soja no 2o cultivo


Glebas
1)
(
N(2) P2 O5 K2 O N(2) P2 O5 K2 O
--------------- kg/ha --------------- --------------- kg/ha ---------------
1 40 - 60 110 20 0 70 45
2 40 - 60 0 0 0 #30 #45
3 40 - 60 60 50 0 30 45
4 60 - 80 70 60 0 50 65
5 40 - 60 30 20 0 30 45
(1)
Apó s o segundo cultivo, deve se r coletada outra am ostra de solo para análise e reco m end ação de adubação para as
culturas subseqüe ntes.
(2)
A dose de nitrogênio é função do teor de m atéria o rg ânica e da cultura p rece dente .
Para a expe ctativa de rend im ento m aior do que 2 t/ha, acrescentar aos valores da tabela, po r tonelada adicional
de grãos:
trigo = 20 a 3 0 kg de N , 1 5 kg de P 2O 5 e 1 0 kg de K 2O ;
soja = 15 kg de P 2O 5 e 25 de K 2O .

13.11 Alternativas para as recomendações de fósforo e de


potássio

13.11.1 Estabelecimento do sistema plantio direto

183
Carlos Alberto Bissani et al.

As doses de fertilizante recomendadas podem ser aumentadas no


estabelecimento do sistema plantio direto quando forem utilizadas a aração
e gradagem, principalmente quando os teores de P e de K no solo forem
muito baixos e as classes texturais forem 1, 2 e 3. Devido à baixa mobilidade
que esses elementos apresentam no solo, a elevação posterior de seus teores
em toda camada arável do solo (zero a 20 cm) será pouco provável.

13.11.2 Valores muito altos na análise

A adubação fosfatada e/ou potássica pode não ser recomendada na


primeira cultura quando o teor no solo for "Muito alto". É necessário,
entretanto, certificar-se de que foi utilizada a técnica correta de amostragem
do solo, que a amostra não apresenta contaminação, se foi usado fosfato
natural, e qual o histórico de adubações da área. Para algumas culturas, pode
ser indicada a aplicação de uma pequena quantidade de fertilizantes
(principalmente P) na linha de semeadura, mesmo quando o teor de P e de
K estiver na faixa de teor "Muito alto". Esta adubação objetiva favorecer o
crescimento inicial das plantas. No caso das plantas de ciclo curto (hortaliças
e algumas frutíferas) recomenda-se aplicar a adubação de manutenção de P
e de K mesmo quando o teor no solo for "Muito alto".

13.11.3 Fosfatos naturais

As quantidades de P2O5 recomendadas nas tabelas são indicadas para


fósforo solúvel em citrato neutro de amônio + água. Fosfatos naturais
reativos, cujo teor de P2 O5 solúvel é determinado pela extração com ácido
cítrico a 2% (relação 1:100) podem ser também usados. Por apresentarem
menor solubilidade do que os fosfatos acidulados, seu uso é mais indicado
para solos com faixa de teor de P "Médio" ou maior. Os rendimentos das
culturas obtidos pela aplicação de fosfatos naturais em solos com teor de P
baixo são menores no início, mas, ao longo do tempo, tornam-se semelhantes
aos rendimentos obtidos com fosfatos acidulados. A dose de P2O5 pode ser
estabelecida em função do teor total de P2O5, que pela legislação deve ser no
mínimo 28,0%.

13.11.4 Relação entre preço de fertilizante e de produto

A relação entre o preço do fertilizante e o preço do produto colhido


depende de vários fatores de mercado, podendo as doses serem ajustadas

184
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

conforme a expectativa de retorno líquido.


As recomendações de fertilizantes são baseadas também na produção
esperada. Essa depende de vários fatores, como potencial de produção das
cultivares utilizados, épocas de plantio, restrições climáticas, capacidade de
produção do solo, manejo da cultura, etc.

13.12 Manejo da adubação na propriedade

Decorridos dois cultivos após a adubação de correção, as diferenças de


disponibilidade de P e de K inicialmente existentes entre as cinco glebas
ilustradas nas Tabelas 13.3 e 13.4 serão mínimas. Ao final de dois ou três
cultivos, o teor de P no solo das cinco glebas deverá se enquadrar na mesma
faixa de interpretação e, possivelmente, na faixa de teor "Alto", se o sistema
for manejado adequadamente. Dessa forma, as adubações subseqüentes
serão simplificadas, facilitando o manejo das glebas com a adição das doses
de manutenção conforme o rendimento.
A resposta das culturas aos fertilizantes ou ao calcário depende do grau
de deficiência de nutrientes ou do nível de acidez do solo. Dessa forma, se a
análise de solo indicar, por exemplo, deficiência de fósforo, é muito provável
que haverá incremento no rendimento com a aplicação deste nutriente ao
solo. Assim, quanto maior a deficiência do nutriente no solo, maior será a
resposta em rendimento e o retorno econômico.
Em geral, as doses de fertilizantes ou de calcário indicadas nas tabelas
para as diversas culturas pressupõem que haverá retorno econômico com a
adubação ou com a calagem. As quantidades recomendadas constituem o que
se presume ser a dose adequada para cada situação de análise de solo, e as
modificações dessas quantidades podem ser necessárias, conforme a situação
específica de cada lavoura.

13.13 Adubação com micronutrientes

As informações de pesquisas disponíveis nos últimos anos indicam que


a maioria dos solos apresenta disponibilidade adequada de micronutrientes
(Zn, Cu, B, Mn e Mo), não tendo havido incremento no rendimento com a sua
aplicação, apesar de, às vezes, as plantas indicarem, pelo aspecto visual,
algum efeito, mas que não se traduz em aumento de rendimento das culturas.
A aplicação de micronutrientes só deve ser feita se a análise de solo ou do

185
Carlos Alberto Bissani et al.

tecido foliar indicar evidente deficiência. No entanto algumas culturas


apresentam exigências maiores de algum micronutriente. Quando esse for o
caso, os detalhes constam nas recomendações de cada cultura (por exemplo:
boro em alfafa e brássicas).

13.14 Você sabia?

13.14.1 Curvas de resposta das culturas

As Funções de Produção, conforme discutido no item 13.1, devem ser


obtidas em experimentos de campo. Curvas de resposta de matéria seca
podem ser obtidas em experimentos de casa-de-vegetação, conforme
exemplificado no Anexo 7, com a cultura da aveia.

13.14.2 Calibração das análises de solo

Para a elaboração das atuais tabelas de adubação foram conduzidos nos


anos 70 e 80 (do século passado), centenas de experimentos de campo com
as principais culturas comerciais e em muitos solos dos estados do RS e de
SC. Com base nos resultados de pesquisa a campo são elaboradas as tabelas
de adubação e de calagem, que são frequentemente atualizadas. A última
revisão foi feita em 2008, sendo o Manual de Adubação e de Calagem
para os Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina editado pela
Sociedade Brasileira de Ciência do Solo/Núcleo Regional Sul [1.7].

13.14.3 Outros sistemas de recomendação de adubação

Como os solos e as regiões climáticas, e conseqüentemente as cultivares


utilizados apresentam grande variação no Brasil, as recomendações de
adubação e de correção da acidez do solo são regionalizadas, geralmente por
estado, como por exemplo no estado de São Paulo [8.4] e outros, ou para
a região do Cerrado [13.2].

13.14.4 As recomendações de adubação no Sul do Brasil

O primeiro sistema de recomendação de adubação do estado do Rio


Grande do Sul foi apresentado em 1947 [13.3], por regiões fisiográficas,
tendo sido pouco utilizado devido às dificuldades de execução das análises de

186
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

solo e de interpretação dos resultados. Com o programa de extensão da


Faculdade de Agronomia da UFRGS, iniciado em 1966 (denominado Operação
Tatu) e em 1968 em Santa Catarina (Plano de Recuperação da Fertilidade dos
Solos), estas dificuldades foram superadas, sendo atualizados os métodos
analíticos.
Até 1966, não estavam disponíveis informações para a interpretação de
análises de solos e recomendações de adubação baseadas nesses resultados.
Para o referido programa, foram elaboradas tabelas de interpretação de
resultados de análise de solos e recomendação de adubação e de calagem
para algumas culturas e pastagens. Estas tabelas eram constituídas por duas
páginas e indicavam as quantidades de adubo (fórmulas) a aplicar, com e sem
estrume. As primeiras tabelas disponibilizadas aos técnicos foram publicadas
em 1969 [6.6]. Estas tabelas foram revisadas em 1973 [13.4]. Tabelas para
sucessões de culturas foram introduzidas em 1985 [13.1]. As tabelas
atualmente em uso [1.7] são a 11ª versão, elaborada pela Comissão de
Química e Fertilidade do Solo da Sociedade Brasileira de Ciência do
Solo/Núcleo Regional Sul.

15.14.5 Laboratório de análises de solo

Até 1967, eram feitas poucas análises de solo em três laboratórios


(Secretaria da Agricultura do estado do RS, IRGA e IPEAS/UFPel), utilizando
métodos tradicionais, com baixa eficiência. Com recursos disponibilizados pelo
convênio UFRGS/Universidade de Wisconsin, foram introduzidos métodos de
análise automatizados e equipamentos modernos de medição (potenciômetro
para pH e índice SMP; colorímetro para P e M.O. e fotômetro de chama para
K - além de secador e moedor de amostras de solo). A eficiência dos
laboratórios de análise de solos aumentou de cinco para até 200
amostras/dia, sendo estas técnicas difundidas rapidamente, e aumentando o
número de laboratórios, à medida da demanda pela Assistência Técnica (em
Universidades, Institutos de Pesquisa, Cooperativas, Empresas particualres),
até um número de 23 nos estados do RS e de SC. Com a utilização do
espectrofotômetro de absorção atômica no “laboratório de rotina” foram
disponibilizadas determinações de micronutrientes metálicos, além de Ca, Mg,
S, B e argila, em 1983 (1ª edição da referência [6.2]). Atualmente há
laboratórios, entre eles o Laboratório do Depto de Solos da Faculdade de
Agronomia da UFRGS, que dispõem de equipamentos (ICP-OES) capazes de
determinar simultaneamente os elementos Ca, Mg, P, K, Cu e Zn para fins de
análise “de rotina”.

187
Carlos Alberto Bissani et al.

188
14
Fertilizantes Orgânicos, Organo-
Minerais e Agricultura Orgânica
_________________________
utilização de produtos orgânicos no solo, como estercos de animais,

A compostados ou não, é uma prática de uso milenar pelas populações


agrícolas. Além do aproveitamento do valor fertilizante destes materiais,
propicia a reciclagem de nutrientes no sistema produtivo, evitando a
contaminação ambiental.
Nos sistemas de confinamento de animais, como nos casos das criações
de aves, suínos e bovinos, são geradas grandes quantidades de dejetos
orgânicos, com alto valor fertilizante, que devem ser adequadamente
utilizados para minimizar seu impacto ambiental. O uso agrícola dos resíduos
que possuem baixo teor de umidade, como no caso das camas de frangos de
corte (Tabela 14.1) é bastante facilitado. Dejetos de suínos e de bovinos,
com teor mais alto de umidade, ou na forma fluída (< 10% de matéria seca),
apresentam maiores dificuldades para a aplicação no solo, pois requerem mais
mão de obra e equipamentos adequados.
O inadequado tratamento dos resíduos orgânicos gerados pelas
populações urbanas (lixo orgânico e lodo de estações de tratamento de
esgotos) constitue atualmente um problema de saúde pública. A utilização
correta destes resíduos na agricultura pode ser uma alternativa viável para
reduzir a contaminação ambiental.
Resíduos orgânicos de agroindústrias, como curtumes, abatedouros e
processamento de alimentos podem ser também utilizados como fontes de
nutrientes de plantas.
Além de fontes de nutrientes, os adubos ou resíduos orgânicos, após
aplicações sucessivas, podem alterar as propriedades físicas do solo, como a

189
Carlos Alberto Bissani et al.

redução da densidade da camada superficial e o aumento da aeração, da


drenagem e da retenção de água.

14.1 Teores de nutrientes em adubos orgânicos

Na Tabela 14.1 são apresentados os teores médios de nutrientes e de


matéria seca de alguns tipos de esterco e de resíduos orgânicos mais
comumente utilizados na adubação das culturas. O teor de umidade dos
adubos orgânicos pode apresentar grande variação, dependendo do manejo
dos animais e do armazenamento do material. Este teor, entretanto, pode ser
facilmente determinado na propriedade, ou pelo menos estimado pelo
manuseio do material, para o cálculo da quantidade a ser aplicada.

TABELA 14.1 Concentrações médias de C e de macronutrientes e teor de matéria


seca de alguns materiais orgânicos [1.7](1)

Matéria
Material orgânico C-org. N(2) P2 O5 K2 O Ca Mg
Seca
------------------ %(m/m na matéria seca) ------------------
Cama de frango (3 - 4 lotes)(3) 30 3,2 3,5 2,5 4,0 0,8 75
Cama de frango (5 - 6 lotes) 28 3,5 3,8 3,0 4,2 0,9 75
Cama de frango (7 - 8 lotes) 25 3,8 4,0 3,5 4,5 1,0 75
Cama de peru (2 lotes) 23 5,0 4,0 4,0 3,7 0,8 75
Cama de poedeiras 30 1,6 4,9 1,9 14,4 0,9 72
Cama sobreposta de suínos 18 1,5 2,6 1,8 3,6 0,8 40
Esterco sólido de suíno 20 2,1 2,8 2,9 2,8 0,8 25
Esterco sólido de bovinos 30 1,5 1,4 1,5 0,8 0,5 20
Vermicomposto 17 1,5 1,3 1,7 1,4 0,5 50
Lodo de esgoto 30 3,2 3,7 0,5 3,2 1,2 5
Composto de lixo urbano 12 1,2 0,6 0,4 2,1 0,2 70
Cinza de casca de arroz 10 0,3 0,5 0,7 0,3 0,1 70
---------------------------- kg/m3 --------------------------
Esterco líquido de suínos 9 2,8 2,4 1,5 2,0 0,8 3
Esterco líquido de bovinos 13 1,3 0,8 1,4 1,2 0,4 4
(1)
Concentração calculada com base em material seco em estufa a 65oC. m/m = relação
massa/massa.
(2)
A fração de N na forma amoniacal (N-NH3 e N-NH4 + ) é, em média, de 25% na cama de
frangos, 15% na cama de poedeiras, 30% no lodo de esgoto, 25% no esterco líquido de
bovinos e 50% no esterco líquido de suínos.
(3)
Indicações do número de lotes de animais que permanecem sobre a mesma cama.

190
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

O teor de nutrientes varia conforme a alimentação dos animais e a


quantidade de material inerte adicionado (palha, serragem, etc.). A
determinação de nutrientes nos adubos ou resíduos orgânicos é portanto
necessária para conhecer as quantidades adicionadas ao solo, devendo para
isso ser enviada uma amostra representativa ao laboratório de análises.
Os dejetos de animais estabulados (suínos e bovinos de leite) são
muitas vezes armazenados em esterqueiras, com água de lavagem, sendo
retirados, transportados até as lavouras e aplicados por tanques espalhadores
de esterco rebocados por trator. A quantidade de material sólido contido
nestas suspensões pode ser facilmente avaliada pela densidade da mistura
homogeneizada, com a utilização de um densímetro. Quanto maior a
densidade do material, maior o teor de sólidos (Tabela 14.2).

TABELA 14.2 Teores de matéria seca e de N, P2 O5 e K2 O em estercos líquidos de


bovinos e de suínos, em função da densidade da suspensão [1.7]

Esterco líquido de bovinos Esterco líquido de suínos


Densidade(1) MS N P2 O5 K2 O MS N P2 O5 K2 O
%(m/v) --------- kg/m3 --------- %(m/v) --------- kg/m3 ---------
1000 0,00 0,06 0,05 0,06 0,00 0,37 0,00 0,38
1005 0,81 0,40 0,24 0,38 0,50 1,13 0,67 0,81
1010 1,99 0,74 0,43 0,71 1,63 1,91 1,45 1,13
1015 3,16 1,09 0,61 1,03 2,76 2,67 2,21 1,44
1020 4,34 1,43 0,80 1,35 3,91 3,44 2,99 1,75
1025 5,51 1,77 0,99 1,67 5,05 4,21 3,75 2,06
1030 6,69 2,11 1,18 2,00 6,19 4,98 4,53 2,38
1035 7,86 2,46 1,37 2,32 7,32 5,74 5,29 2,69
1040 9,04 2,80 1,56 2,64 8,47 6,51 6,05 3,00
1045 10,21 3,14 1,74 2,97 9,61 7,28 6,83 3,32
(1)
Recomenda-se a utilização do densímetro ARBA, graduado de 1000 a 1100 kg/m3 [14.1;
14.2]. Os valores apresentados nesta Tabela são válidos para a temperatura da suspensão
entre 16,5 a 21,5/C. Em temperaturas mais elevadas, deve-se aumentar o valor da densidade
lida em, aproximadamente, uma unidade a cada aumento de três graus de temperatura, para
obter as quantidades de MS e de nutrientes na mistura [1.7].

14.2. Eficiência de liberação dos nutrientes

Os elementos sódio, potássio e cloro presentes nos materiais orgânicos


(tecido não vivo) são prontamente disponíveis para as plantas no momento
da aplicação. Outros nutrientes como N, P e metais (Cu, Zn) estão em grande
parte ligados ao material orgânico, sendo lentamente liberados para formas

191
Carlos Alberto Bissani et al.

solúveis (íons) que podem ser absorvidas pelas raízes das plantas (ver
observação 2 da Tabela 14.1).
A fração do nutriente que não é liberada para a primeira cultura
constitui o efeito residual do adubo orgânico, que pode ser observado na
cultura subsequente. A fração do nutriente liberada para cada uma das
culturas é o seu índice de eficiência, apresentado na Tabela 14.3.

TABELA 14.3 Índice de eficiência de liberação dos nutrientes no solo, aplicados na


adubação em cultivos sucessivos (valores médios para cada fonte)
[1.7; 14.3]

Índice de eficiência
Resíduo Nutriente(1)
1º cultivo 2º cultivo
Cama de frango N 0,5 0,2
P 0,8 0,2
K 1,0 -
Esterco de suíno sólido N 0,6 0,2
P 0,8 0,2
K 1,0 -
Esterco bovino sólido N 0,3 0,2
P 0,8 0,2
K 1,0 -
Esterco de suíno líquido N 0,8 -
P 0,9 0,1
K 1,0 -
Esterco bovino líquido N 0,5 0,2
P 0,8 0,2
K 1,0 -
Outros resíduos orgânicos N 0,5 0,2
P 0,7 0,2
K 1,0 -
Lodo de esgoto N 0,2 -
Composto de lixo N 0,1 -
(1)
nutrientes totais (mineral + orgânico); em alguns casos é observado um efeito residual de
N (até 10%) no terceiro cultivo.

Conforme a Tabela 14.3, 50% do N contido na cama de frango, por


exemplo, é liberado para a primeira cultura, e 20% é liberado para a segunda
cultura. O restante é perdido (volatilização, lixiviação, desnitrificação, etc).

192
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

14.3 Cálculo das quantidades efetivas de nutrientes aplicados


pela adubação orgânica

As quantidades efetivas de N, de P2O5 e de K2O dos adubos orgânicos


listados na Tabela 14.1, podem ser calculadas pela fórmula:

X = A x B/100 x C/100 x D (14.1)

em que X é a quantidade do nutriente aplicado, em kg/ha; A é a


quantidade do produto a aplicar, em kg/ha; B é teor de matéria seca do
produto, em porcentagem; C é a concentração do nutriente na matéria seca,
em porcentagem; e D é o índice de eficiência de liberação dos nutrientes
indicado na Tabela 14.3, aplicável conforme o cultivo (1º ou 2º). As
concentrações de nutrientes apresentadas na Tabela 14.1 são valores médios
que podem ser utilizados nos cálculos, caso não se disponha da análise do
material.
Para os estercos líquidos (fluidos), a quantidade a aplicar pode ser
calculada pela equação:

X=AxBxC (14.2)

em que X é a quantidade do nutriente aplicado, em kg/ha; A é a


quantidade do produto a utilizar, em m3/ha; B é a concentração do nutriente
no produto, em kg/m3; e C é o índice de eficiência de liberação dos nutrientes
para as plantas numa seqüência de dois cultivos (Tabela 14.3).

14.4 Utilização da adubação orgânica

Os adubos orgânicos em geral não apresentam os teores de N, P e K


nas proporções adequadas para suprir estes nutrientes às plantas. Deve-se
neste caso complementar a adubação orgânica com adubos minerais.
O adubo orgânico deve também ser incorporado ao solo antes da
semeadura ou do plantio, para maior eficiência. Numa rotação de culturas, o
adubo orgânico deve ser utilizado em gramíneas, para obter a maior
eficiência do nitrogênio, tendo em vista que as leguminosas podem fixar N do
ar por simbiose com bactérias fixadoras de nitrogênio.
Estas orientações podem ser exemplificadas com o cálculo da adubação
orgânica (suplementada com adubo mineral) do solo da unidade de

193
Carlos Alberto Bissani et al.

mapeamento Colégio, cuja análise da amostra sem adubação é dada na


Tabela 8.1 (pg. 84). Este solo, conforme as tabelas de interpretação de
análises (Capítulo 7), apresenta teores muito baixo de fósforo e baixo de
potássio, e 2,8% de matéria orgânica. Supondo-se que o agricultor deseja
observar a seqüência de culturas: 1) milho após pousio do solo (6 t/ha) e 2)
trigo (2 t/ha) após milho, as recomendações de adubação mineral seriam as
especificadas na Tabela 14.4 (P muito baixo e K baixo).

TABELA 14.4 Recomendações de adubação para uma seqüência de cultivos no solo


da unidade de mapeamento Colégio (GMe), cuja análise (amostra sem
adubação) é dada na tabela 8.1

Produtividade Adubação recomendada (1)


Cultura esperada N P2 O5 K2 O
-------- t/ha -------- -------------------- kg/ha -------------------
1) milho 6 90 155 90
2) trigo 2 80 70 40
(1)
Ver Anexos 5.1 e 5.3.

Este agricultor dispõe de cama de frangos (3-4 lotes), que apresenta a


seguinte composição (Tabela 14.1): 3,2% de N ; 3,5% de P2O5 e 2,5% de
K2O, contendo 25% de umidade. As quantidades efetivas de nutrientes
disponibilizados para as culturas podem ser calculadas com a utilização dos
índices de eficiência da Tabela 14.3.
Para maior eficiência de utilização do adubo orgânico, pode ser
calculada a quantidade de material a ser aplicado para suprir totalmente a
necessidade de fósforo ou de potássio, complementando-se os outros com
adubo mineral. A adubação nitrogenada pode ser completada em cobertura.
No caso de completar a adubação potássica com o adubo orgânico,
devem ser aplicados (Equação 14.1):

90 kg de K2 O/ha = A x 0,75 x 0,025 x 1,0

A = 4.800 kg de adubo orgânico/ha

O adubo orgânico (4.800 kg/ha) supre também N e P, que podem ser


calculados, pela composição do mesmo:

a) cálculo do N:

194
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

kg de N = 4.800 x 0,75 x 0,032 x 0,5 = 57,6 kg/ha


- o restante do N (90-57,6 = 32,5 kg/ha) pode ser aplicado em
cobertura (72,0 kg de uréia com 45% de N); e,
b) cálculo de P2 O5 :
kg de P2 O5 = 4.800 x 0,75 x 0,025 x 0,8 = 72,0 kg/ha
- o restante do P2O5 (155 - 72 = 83 kg/ha) pode ser aplicado com
adubo fosfatado (160 kg de SFT com 45% de P2O5).
Na Tabela 14.5 são dadas as quantidades de adubos a serem utilizadas.

TABELA 14.5 Quantidades de adubo orgânico e de adubos minerais para as culturas


especificadas na Tabela 14.4

Adubo N P2 O5 K2 O
Cultura orgânico(1) Org. Min. Org. Min. Org. Min.
------------------------------------------ kg/ha ----------------------------------------------
Milho 4.800 58 32 72 83 90 0
Trigo 0 23 57 18 52 0 40
(1)
Cama de frango (3-4 lotes) com a composição especificada na Tabela 14.1.

O adubo orgânico, entretanto, apresenta efeito residual de 20% em


nitrogênio e fósforo, correspondendo a 23 kg de N/ha e 18,0 kg de P2O5/ha,
respectivamente. O saldo da adubação nitrogenada e fosfatada para a
segunda cultura (trigo) deverá ser suprido com a aplicação de adubos
minerais (ou orgânico).
Outros adubos orgânicos ou resíduos também podem ser utilizados na
agricultura. Os teores de nutrientes podem, entretanto, ser muito variáveis,
dependendo dos materiais utilizados na preparação dos mesmos (Tabela 12.6
- p. 166). A análise prévia do material é essencial para a avaliação do seu
possível efeito fertilizante. A maior dificuldade, entretanto, é a determinação
do índice de eficiência dos mesmos. Se não houver informações de pesquisa,
pode ser feito um rápido teste prévio em vasos (2 a 3 meses) utilizando-se
um solo com teores muito baixos de matéria orgânica, fósforo e potássio,
conforme exemplificado no Anexo 7. Neste teste são determinadas as curvas
de resposta de uma cultura à adubação mineral (N, P e K) e à adição de
diferentes doses de adubos ou materiais orgânicos.
Alguns adubos orgânicos podem apresentar reação alcalina no solo
devido à presença de carbonatos; o esterco de galinhas poedeiras, por
exemplo, apresenta poder de neutralização (PN) entre 5 a 8%; no lodo do
caleiro de curtumes o valor do PN pode variar de 10 a 25% [14.4; 14.6]. A
utilização continuada destes materiais no solo pode provocar uma elevação

195
Carlos Alberto Bissani et al.

excessiva do pH do solo (>6,5), sendo prejudicial às plantas (ver item 21.10.2


- p. 289).

14.5 Fertilizantes organo-minerais

Os fertilizantes organo-minerais são preparados pela mistura de


fertilizantes orgânicos (estercos, turfa, lignito oxidado, lodo de esgoto, etc.)
e minerais. A legislação estabelece o teor de umidade máximo de 20%, a
soma dos nutrientes N + P2O5 + K2O mínima de 12% e teor mínimo de
matéria orgânica total no produto final de 25%. Na preparação dos produtos,
deve ser empregada, no mínimo, 50% de matéria-prima de origem orgânica
[19.1].
O cálculo da dose a ser aplicada deve ser feito com base nos teores de
N, de P2 O5 e de K2 O, determinados pelos métodos de análise especificados
pela legislação [14.5]. A escolha deste tipo de fertilizantes deve ser baseada
no custo da unidade de NPK entregue na propriedade.

14.6 Agricultura orgânica

A agricultura orgânica é um sistema de cultivo que está sendo bastante


difundido nos últimos anos. Caracteriza-se pela ênfase na adubação orgânica
e utilização limitada de recursos tecnológicos. Os níveis esperados de
rendimentos são, portanto, inferiores aos obtidos em sistemas de produção
que utilizam adequadamente os recursos tecnológicos disponíveis.
A legislação [14.7] possibilita a utilização de adubos:
a) da própria unidade de produção (desde que livres de contaminantes:
composto orgânico; vermicomposto; restos de cultura; adubação
verde; biofertilizantes; fezes humanas (somente quando
compostadas na unidade de produção e não empregadas no cultivo
de olerícolas); microrganismos benéficos ou enzimas (desde que não
sejam OGM/transgênicos); e outros resíduos orgânicos;
b) obtidos fora da unidade de produção:
b.1) somente se autorizados pela certificadora: vermicomposto;
esterco compostado ou esterco líquido; biomassa vegetal;
resíduos industriais, chifres, sangue, pó de osso, pelos e
penas, tortas, vinhaça e semelhantes, como complementos da
adubação; algas e derivados e outros produtos de origem

196
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

marinha; peixes e derivados; pó de serra, cascas e derivados,


sem contaminação por conservantes; microrganismos,
aminoácidos e enzimas, desde que não sejam
OGM/transgênicos; cinzas e carvões vegetais; pó de rocha;
biofertilizantes; argilas ou ainda vermiculita; compostagem
urbana (quando oriunda de coleta seletiva e comprovadamente
livre de substâncias tóxicas, como metais pesados, princípios
ativos, etc.);
b.2) somente se constatada a necessidade de utilização do adubo
e do condicionador, através de análise, e se os mesmos
estiverem livres de substâncias tóxicas; termofosfatos; adubos
potássicos (sulfato de potássio, sulfato duplo de potássio e
magnésio, este de origem mineral natural); micronutrientes;
sulfato de magnésio; ácido bórico (quando não usado
diretamente nas plantas e solo); carbonato (como fonte de
micronutrientes); e guano.
Pela relação de produtos permitidos pela legislação referente à
agricultura orgânica [14.7], pode-se observar que é possível a utilização de
adubos minerais para equilibrar a adubação orgânica, conforme a análise do
solo. Assim, pode-se utilizar termofosfato como fonte de fósforo, bem como
fosfato natural (pó de rocha); sulfato de potássio como fonte deste nutriente;
e, guano (nitrato de sódio) como fonte de nitrogênio. O calcário (pó de rocha
calcária) pode também ser utilizado para neutralizar a acidez do solo. Os
cálculos do ajuste da adubação apresentados no item 14.4 podem ser feitos
com a utilização destes produtos.
Os produtos da agricultura orgânica apresentam em geral maior custo
de produção, devendo ser comercializados a preços maiores, para trazer
algum retorno financeiro ao produtor. A comercialização diferenciada destes
produtos com selo de qualidade de "produto orgânico" deve ser feita de
acordo com as normas do órgão certificador [14.7].

14.7 Resíduos e qualidade ambiental

Nas proximidades de grandes cidades ou em criações de animais


confinados, são disponibilizadas grandes quantidades de resíduos, como lodo
de esgoto, composto de lixo, dejetos de suínos e outros. Estes produtos
apresentam valor fertilizante. Entretanto, o transporte para áreas mais
distantes é oneroso e, como conseqüência, muitas vezes são aplicadas ao solo

197
Carlos Alberto Bissani et al.

quantidades excessivas, causando prejuízos ambientais. Os principais


impactos ambientais negativos desta prática são:
a) o aumento do teor de nitrato em águas superficiais e/ou
subterrâneas;
b) o arraste de material orgânico solúvel ou particulado pela enxurrada
ou por descarga direta nos cursos d'água, provocando eutrofização;
c) o aumento da carga orgânica na água, elevando desta forma a
demanda de oxigênio (DBO), com prejuízo para a fauna aquática;
d) a elevação excessiva do pH do solo, com a aplicação de grandes
quantidades de resíduo alcalino; e
e) o acúmulo de metais pesados no solo, inviabilizando a produção
agrícola para consumo humano.
Em relação ao último item, as legislações de diversos países
estabelecem limites máximos de aplicação de vários metais ao solo, como
pode ser exemplificado na Tabela 14.5. No estado do RS, a Fundação
Estadual de Proteção Ambiental Enrique Roessler (FEPAM) também
estabeleceu valores limites para a adição de metais no solo. Os limites de
aplicação podem ser monitorados pelo somatório das quantidades adicionadas
(sendo então necessária a análise do material) ou pela análise do solo.

TABELA 14.5 Limites de quantidades de metais que podem ser aplicados com
segurança no solo, conforme a legislação de diversos países, do
estado do RS e do Brasil.

USEPA(1)
Metal CEE(2) RS(3) Brasil (4)
Máx. Cumul. Taxa anual
------------------------------------------ kg/ha -------------------------------------------
Cu 1500 75 120 280 137
Zn 2800 140 300 560 445
Cr - - - 1000 154
Ni 420 21 30 70 74
Pb 300 15 150 1000 41
Cd 39 1,9 1,5 5 4
Hg 17 0,8 2,0 2 1,2
(1)
United States Environmental Protection Agency [14.8].
(2)
Comunidade Econômica Européia [14.9].
(3)
Referência [14.10].
(4)
Referência [14.11].

Exemplos de resíduos com elevado teor de metais são o lodo de


curtume com curtimento ao cromo (com alto teor de Cr e de natureza alcalina

198
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

se contiver resíduo de caleiro) e dejetos de suínos confinados (com altos


teores de Zn e Cu).
Para evitar a poluição ambiental, que pode ocorrer com a aplicação de
grandes quantidades de resíduos, deve-se observar os seguintes cuidados:
a) não aplicar os resíduos em áreas próximas aos cursos d'água
(permanentes ou vias de drenagem intermitente);
b) enterrar os resíduos, deixando de preferência a superfície do solo
irregular; outras práticas de controle à erosão são também essenciais
(terraceamento, cordões vegetados, etc);
c) não aplicar quantidades que liberem mais que 20 a 30% do
nitrogênio recomendado para a cultura, conforme cálculo
exemplificado no item 14.4; a dificuldade neste caso é a estimativa
da taxa de decomposição; este critério justifica-se tendo em vista
que as recomendações são feitas para o máximo rendimento
econômico, em geral mais baixo que o máximo retorno técnico
(Figura 13.1) e no consumo de luxo da cultura. Adições superiores
às recomendadas de fósforo e de potássio não são prejudiciais,
tendo em vista que os mesmos não são tóxicos. Deve ser evitado
entretanto o carreamento de material particulado para os cursos
d'água;
d) não aplicar quantidades que cumulativamente possam ultrapassar os
limites de metais estabelecidos pela legislação; e
e) manter a mata ciliar dos cursos d'água.
A utilização de resíduos industriais em áreas florestadas é uma
alternativa de descarte, tendo em vista o não aproveitamento dos produtos
florestais na alimentação.

14.8 Você sabia?

14.8.1 Adubo "humomineral"

No estado do RS, é encontrado adubo organo-mineral (com várias


marcas comerciais) elaborado com lignito (a parte oxidada do carvão mineral,
geralmente descartada) misturado com adubos solúveis. Esta fração orgânica
é praticamente inerte (à semelhança do grafite do lápis), não apresentando
nenhum benefício comprovado para o crescimento das plantas. O valor
fertilizante do produto é restrito ao adubo solúvel adicionado.

199
Carlos Alberto Bissani et al.

14.8.2 Resposta da aveia a adubos orgânicos.

(Rever os exercícios do item 2.5.1 - p. 32)

14.8.3 Adubos orgânicos de qualidade

Utilizando papel milimetrado, fazer um gráfico de barras comparando


as produções de matéria seca (parte aérea) obtidas com a adição de 15 t/ha
dos diferentes adubos/resíduos orgânicos. Como estes adubos poderiam ser
melhorados na sua preparação? Qual o nutriente mais limitante no húmus
comercial e no vermicomposto? Comparar os rendimentos com os obtidos na
testemunha e no tratamento com adubação mineral completa (nº 5).

14.8.4 Eficiência de absorção de nutrientes

Calcular a eficiência de absorção de N, P e K pelas plantas no primeiro


corte de aveia nos tratamentos 14, 20, 26, 29 e 32 (Anexo 7). Comparar
estes valores com as eficiências de absorção de N no tratamento 4, a de
fósforo no tratamento 8 e a de K no tratamento 11.

14.8.5 Efeito residual de adubos orgânicos

Calcular os efeitos residuais dos adubos orgânicos/resíduos no 2º corte


da aveia, com os dados apresentados no Anexo 7.

200
15
Solos Alagados
_________________________
alagamento provoca algumas modificações nas propriedades do solo

O pelo estabelecimento de condições de redução (falta de O2). Dessa


forma o metabolismo microbiano é afetado, provocando alterações no
pH, na disponibilidade de fósforo e nas reações de redução de nitrato, sulfato
e óxidos de ferro e de manganês no solo.
Muitas plantas podem se desenvolver em solos alagados devido à
utilização de um mecanismo especial de transporte de O2 do ar até as raízes.
O estudo das modificações físico-químicas e biológicas que ocorrem com o
alagamento dos solos é necessário para estabelecer as bases para a adubação
do arroz irrigado por inundação.

15.1 Perfil do solo alagado

As características químicas de um perfil de solo alagado são bastante


diferentes daquelas de solos bem drenados. Estas características são devidas
à presença de uma camada de água sobre a superfície do solo, que dificulta
a entrada de O2 da atmosfera no solo (Figura 15.1).
Abaixo da lâmina de água geralmente há uma camada de solo (1 a 5
mm) que tem bom suprimento de O2, que chega por difusão a partir da
superfície da água. Suas características químicas são semelhantes às
encontradas em solos não alagados, com predominância de microrganismos
com metabolismo aeróbio. Ocorrem, portanto, a nitrificação e outras reações
típicas de solos oxidados.
Abaixo desta, observa-se uma segunda camada, na qual há ausência
completa de O2, predominando microrganismos anaeróbios. Nesta camada,
os cátions predominantes são o Fe2+ e o Mn2+ resultantes da redução

201
Carlos Alberto Bissani et al.

microbiológica de óxidos de Fe e de Mn. O N inorgânico está na forma de


NH4 + e não ocorre nitrificação.
Abaixo da camada reduzida pode existir, eventualmente, uma outra
camada pobre em matéria orgânica e não reduzida.
A maior parte das raízes do arroz se desenvolve na camada reduzida.

FIGURA 15.1

Representação do perfil
de um solo alagado.

15.2 Reações após o alagamento

A camada de água superficial dificulta a entrada de O2 do ar no solo. Em


poucas horas os microrganismos aeróbios consomem todo o oxigênio que
havia no ar do solo ou dissolvido na solução. Geralmente, após 24 horas de
alagamento, todo o O2 é consumido na camada reduzida. Entretanto, uma
pequena quantidade de O2 chega continuamente à superfície do solo por
difusão através da lâmina de água, mantendo portanto o suprimento de O2
numa fina camada superficial (oxidada). Na camada reduzida, devido à falta
de O2 livre, os microrganismos aeróbios se tornam inativos, predominando os
aeróbios facultativos e os anaeróbios.
Grande parte dos microrganismos do solo são heterotróficos, isto é,
obtém a energia necessária para o crescimento pela oxidação da matéria
orgânica. Nessa reação de oxidação biológica há transferência de elétrons do
C orgânico para um receptor de elétrons. Nos solos oxidados o receptor de
elétrons é o O2, que é reduzido para CO2. Como na camada reduzida não há

202
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

O2 livre, os microrganismos aeróbios facultativos e anaeróbios utilizam outros


compostos (que possuem oxigênio na molécula) como receptores de elétrons.
Pela oxidação, o C orgânico é transformado em CO2 (gás) que é liberado
para a atmosfera. O N orgânico é mineralizado, acumulando-se na forma de
NH4+ . Na falta de O2 não ocorre nitrificação, porque as bactérias Nitrosomonas
e Nitrobacter são organismos exclusivamente aeróbios.
Para que ocorra a redução, há necessidade da presença de
microrganismos e de matéria orgânica. Sem isto não haverá redução. Quanto
maior o teor de matéria orgânica facilmente decomponível pelos
microrganismos, mais intensa e rápida será a redução.

15.2.1 Efeito do alagamento no N mineral

Na camada superficial oxidada, o NH4+ (proveniente da mineralização


da matéria orgânica ou de adubos amoniacais) pode ser nitrificado devido à
presença de O2 . O NO3 - é muito móvel no solo, podendo ser levado para a
camada reduzida, onde se perde por desnitrificação.
O composto oxigenado mais facilmente reduzido (mais fácil para os
microrganismos transferirem os elétrons) é o NO3-. O N5+ passa para N2 (gás),
que se perde (desnitrificação), não havendo NO3- na camada reduzida. A
reação simplificada da redução do NO3- é:

NO3- + 3H2O + 5e- 6 ½N2 + 6 OH- + Energia (15.1)

Devido à desnitrificação que ocorre na camada reduzida, não devem ser


utilizados adubos nítricos para a cultura do arroz irrigado, pois o NO3 - será
perdido completamente após o alagamento. Deve-se utilizar, portanto, adubos
amoniacais ou uréia.

15.2.1 Efeito do alagamento no Fe, no Mn e no S

Após a redução do nitrato, ocorre a redução do óxido de Mn (IV) e


após, a redução do óxido de Fe (III).
As reações simplificadas da redução de Mn e de Fe são:

MnO2 + 2H2 O + 2e- W Mn2+ + 4OH- + Energia (15.2)

203
Carlos Alberto Bissani et al.

Fe(OH)3 + e- W Fe2+ + 3OH- + Energia (15.3)

Estas reações prosseguem até o equilíbrio entre a quantidade dos


óxidos e a quantidade de matéria orgânica disponível aos microrganismos.
Geralmente, solos com altos teores de óxidos de Fe e de Mn e de
matéria orgânica apresentam as maiores quantidades de Mn2+ e de Fe2+ na
solução do solo da camada reduzida. Portanto, após o alagamento há um
aumento de Fe2+ e de Mn2+ no solo, conforme pode ser visto nas Figuras 15.2
e 15.3. Na Tabela 15.1 são apresentados valores médios de Fe2+ e Mn2+ em
solos do Estado do RS em condições de alagamento.

FIGURA 15.2

Efeito do alagamento
na concentração de
Mn2+ (em solução +
trocável) do solo
[15.1].

FIGURA 15.3

Efeito do alagamento
na concentração de
Fe2+ (em solução +
trocável) [15.1].

204
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

Devido aos aumentos do Fe2+ e do Mn2+ na solução do solo, ocorre um


deslocamento de outros cátions para a solução. Assim, após o alagamento há
uma tendência a aumentar os teores de Ca, Mg, K e Na na solução do solo,
os quais ficam mais disponíveis às plantas.
Altos teores de Fe2+ na solução do solo inundado podem causar toxidez
para algumas cultivares de arroz, como as IRGA 409 e IRGA 410. Esta toxidez
manifesta-se principalmente em situações em que os teores de Ca, Mg e K no
solo são baixos [15.3] sendo conhecida por “alaranjamento”, em que as folhas
apresentam cor laranja claro, ou por “bronzeamento”, em estágio mais
avançado, em que as folhas apresentam esta tonalidade. A calagem e a
adubação adequadas podem, às vezes, corrigir este distúrbio [15.4].
Em alguns casos, a redução do solo continua após a redução do Fe, até
o ponto de haver redução de sulfato a sulfeto:

SO42- + 6H2O + 8e- W H2S +10OH- + Energia (15.4)

O H2S formado pode ser tóxico para o arroz. Em solos com altos teores
de Fe, o sulfeto precipita na forma de FeS e não prejudica o arroz (reação
17.2 - p. 232).

15.2.3 Efeito do alagamento no pH e na disponibilidade de P

Como foi visto, em todas as reações de redução houve liberação de OH-.


Portanto, o pH do solo aumenta e tende a estabilizar entre 6 e 7 após 5 a 10
dias do início do alagamento [15.7]. Neste caso, ocorre a precipitação do Al3+
trocável. O arroz irrigado por alagamento não necessita de calagem para
correção da acidez, visto que o alagamento provoca a autocalagem. Porém,
quando o solo é drenado ao final da cultura do arroz todas as reações acima
(à exceção da reação 15.1) ocorrem no sentido inverso e o solo se reoxida,
voltando a apresentar as propriedades anteriores ao alagamento. Na utilização
de um solo ácido para o cultivo do arroz em rotação com outras culturas, é
necessário entretanto fazer a calagem visando às outras culturas da rotação.
Devido ao aumento do pH e à dissolução de óxidos de Fe que retêm o
fósforo, há em geral um aumento do P na solução do solo após o alagamento.
Além deste aumento do P na solução, a grande quantidade de água no solo
facilita a difusão de P até a superfície das raízes (Equação 3.1 - p. 38). Assim,
o arroz geralmente necessita menos adubação fosfatada do que culturas de
sequeiro (ver Anexo 5.6).

205
Carlos Alberto Bissani et al.

15.3 Calagem e adubação em arroz irrigado por alagamento

Na Tabela 15.1 são apresentados os valores médios de pH de solos do


estado do RS após 50 dias de alagamento. Pode-se observar que em média
o pH dos solos aumentou de 4,8 para 6,7 com o alagamento. A resposta do
arroz irrigado à calagem, portanto, nem sempre é observada. Vários
experimentos entretanto indicam boa probabilidade de resposta à calagem
quando os teores de Ca e de Mg no solo são baixos. Nos estados do Rio
Grande do Sul e de Santa Catarina recomenda-se a aplicação de calcário
quando o teor de Ca for menor que 2,0 cmolc/dm³ (Anexo 5.6) [15.9]. Tendo
em vista que o arroz irrigado é uma cultura de uso intensivo de recursos e
grande valor comercial, o aumento de rendimento de 10% em lavouras de
alta produtividade (>5.000 kg/ha de grãos) compensa o custo da calagem
(~500 kg/ha) no primeiro ano [15.6].

TABELA 15.1 Variações de características químicas de solos do RS(1) após 50 dias


de alagamento [15.3]

Característica Alagamento Planossolos Plintossolos Outros Média


pH Antes 4,5 4,5 5,3 4,8
Depois 6,5 6,7 6,8 6,7

CTC (cmolc/dm3 Antes 2,9 7,1 21,0 10,3


Depois 3,3 9,7 22,2 11,7

Fe2+ (troc + sol.) Antes <3 <3 <3 <3


(mg/L) Depois 346 346 354 300

Mn2 + (troc + sol.) Antes 22 55 25 34


(mg/L) Depois 80 694 277 350
(1)
14 Planossolos, 5 Plintossolos e 19 outros (Brunizem, Gleys, Vertissolo e Litossolo).

Resultados de pesquisa em experimentos conduzidos no solo da unidade


de mapeamento Pelotas (Planossolo) indicam muitas vezes, resposta positiva
à aplicação de calcário para elevação do pH a 5,5 [15.2; 15.5].
Para aumentar a eficiência dos adubos nitrogenados aplicados em
cobertura no arroz, deve-se drenar a lavoura (entre 30 a 60 dias após a
emergência, conforme a variedade), aplicar o adubo a lanço (amoniacal ou
uréia) e iniciar a irrigação logo a seguir. O adubo nitrogenado solúvel será

206
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

assim levado para a camada reduzida onde não ocorre nitrificação e posterior
desnitrificação.
Pode-se aplicar também o adubo na água de irrigação ou em cobertura
a lanço sem drenar a lavoura (manualmente ou por avião). Neste caso haverá
alguma perda devido à nitrificação que ocorre na camada oxidada.
A resposta do arroz irrigado à adubação nitrogenada depende da
variedade e das condições climáticas. Em verões de baixa insolação, altas
doses de adubo nitrogenado podem prejudicar o rendimento de variedades
de porte mais alto, enquanto as de porte baixo não são afetadas [15.7].
A cultura do arroz irrigado apresenta maior exigência de N na fase
reprodutiva (início da diferenciação da panícula). A adubação nitrogenada em
geral é feita aplicando-se parte do adubo nitrogenado no plantio (até 1/3 do
total) e o restante em cobertura, pouco tempo antes do início da diferenciação
da panícula [15.9].
Na interpretação dos resultados de análise de P para a cultura do arroz
irrigado não há distinção de classe de textura devido ao efeito nivelador do
alagamento sobre o P disponível do solo, e à conseqüente redução na
resposta à adubação fosfatada.
As adubações fosfatada e potássica são feitas no plantio conforme as
recomendações técnicas (Anexo 5.6) [15.9].

15.4 Você sabia?

15.4.1 Fertilidade do solo e produtividade do arroz

Os indicadores da fertilidade dos solos cultivados com arroz irrigado no


estado do RS são um pouco diferentes da média dos solos com cultivo de
sequeiro, apresentada na referência [1.3]. Um estudo feito com 17.665
resultados de análises de solo executadas no laboratório da Estação
Experimental de Arroz do IRGA (em Cachoeirinha, RS), provenientes das cinco
regiões produtoras de arroz do estado, mostrou que 45% das mesmas
apresentaram pH # 5,0 [15.8]. Apresentaram teores # que 2,0 cmolc/dm3 de
Ca trocável 47% destas amostras, e 19% das mesmas teores # 0,5 cmolc/dm3
de Mg trocável; nestes casos é recomendada a calagem, na dose de 1,65
t/ha, em média.
A maior parte dos solos cultivados com arroz irrigado no estado do RS
são arenosos e francos (97% apresentam teor de argila < 25%), e com baixo
teor de M.O. (77% com teor # 25%) [15.8].

207
Carlos Alberto Bissani et al.

Devido à tradição de adubar lavouras, entretanto, 45% e 49% das


amostras apresentaram teores de P e K maiores que os níveis críticos,
respectivamente. Na safra 1999/2000 foram utilizados, em média, 42 kg de
P2O5/ha e 44 kg de K2O/ha, sendo estas quantidades maiores que as
recomendadas para a produtividade média obtida de 5,51 t/ha (33 kg/ha e 30
kg/ha de P2O5 e K2O, respectivamente). A adubação nitrogenada utilizada (45
kg de N/ha, em média), entretanto, foi menor que a recomendada (80 kg de
N/ha).
Com calagem (para o adequado suprimento de Ca e Mg às plantas),
ajuste da adubação nitrogenada e melhor adequação dos outros fatores da
produção, a média de rendimento de grãos poderia ser facilmente aumentada
em 1,0 t/ha no estado do RS; na safra 1999/00 foram cultivados 870.496 ha
com arroz irrigado no estado, obtendo-se a produtividade de 5,5 t de
grãos/ha.

15.4.2 O projeto 10

O arroz é a base da alimentação humana em muitos países. No Brasil,


é responsável pelo suprimento de 18% das calorias e 12% das proteínas da
dieta básica da população [2.1]. Nos estados do RS e de SC é cultivado
aproximadamente 60% do arroz produzido no Brasil.
O sistema produtivo com irrigação por inundação pode apresentar
grande produtividade (5,7 t/ha de grãos, em média, no estado do RS - Safra
2000/01). Algumas lavouras, entretanto, atingem níveis de produtividade
muito maiores. Há atualmente base tecnológica para obter produtividades de
10 t/ha ou mais.
Com essa constatação, foi elaborado pelos Orgãos de Pesquisa e de
Assistência Técnica o “Projeto 10", com vistas à difusão de tecnologia
adequada para atingir a produtividade de 10 t de grãos/ha. Este projeto foi
iniciado com sete produtores no município de Dom Pedrito (RS) em 2001/02.
Na safra 2003/04 participavam produtores de 43 municípios. Em algumas
lavouras, principalmente nas regiões da Campanha e da Fronteira Oeste,
foram atingidas produtiviades de 11 t/ha, indicando o alto potencial de
rendimento dessa cultura [2.1]. Nesse projeto, os outros fatores de produção
(radiação solar, variedades e épocas de plantio, irrigação e drenagem,
controle de invasoras, pragas e moléstias, adubação e manejo, etc.) devem
ser otimizados para alcançar o rendimento máximo.

208
16
Adubação Foliar e Hidroponia
_________________________
adubação foliar consiste no suprimento de nutrientes por aspersão de

A soluções na parte aérea das plantas. Pela evolução de um habitat


aquático, em que a absorção de nutrientes é efetuada por todo o
organismo, as plantas terrestres adaptaram-se para a absorção de nutrientes
pelas raízes que lhes fornecem sustentação. Conservaram entretanto a
possibilidade de absorver nutrientes pela parte aérea. Esta possibilidade pode
ter grande importância na nutrição das plantas.
A adubação foliar é utilizada em grande escala em pomares cultivados
em regiões de clima seco e solos com pH alcalino, apresentando
conseqüentemente deficiência de vários nutrientes (Capítulo 18). Por
exemplo, o suprimento de ferro por pulverização de FeSO4 em abacaxi é
prática rotineira nas plantações do Hawai. O baixo teor de Fe nesses solos e
a competição do Mn na absorção tornam a pulverização mensal com FeSO4
mais eficiente que a aplicação de sais de Fe ao solo.
A hidroponia é uma técnica de cultivo de plantas em solução nutritiva
(sem solo), em casa-de-vegetação. Está sendo bastante utilizada em
hortaliças para consumo “in natura” (alface, rúcula, agrião, etc.) por
produtores com fácil acesso ao mercado consumidor.

16.1 Adubação foliar

16.1.1 Mecanismo de absorção foliar de nutrientes

As folhas são órgãos especializados para a fotossíntese. Para


desempenhar eficientemente esta função as células são localizadas em planos
e recobertas por uma camada cerosa, denominada cutícula, que lhes

209
Carlos Alberto Bissani et al.

proporciona rigidez e isolamento do meio ambiente (Figura 16.1). A solução


de nutrientes deve então atravessar esta camada por falhas existentes na
mesma, para entrar em contato com as células; a absorção dos nutrientes
pelas células ocorre de modo semelhante à das raízes, isto é; o íon deve
atravessar uma membrana com característica de seletividade.

FIGURA 16.1 Representação esquemática das células da epiderme da folha [16.1].

A barreira mecânica (cutícula) indica que:


a) as soluções de nutrientes utilizadas na adubação foliar podem ser
mais concentradas que as soluções de solo;
b) a absorção de nutrientes por via foliar, bem como a tolerância à alta
concentração de sais na solução, dependem da morfologia da
cutícula, que varia conforme a espécie vegetal (Tabela 16.1); e,
c) as folhas novas são mais eficientes na absorção de nutrientes
(possuem menor camada de cutícula).
Devido à natureza lipóide da cutícula, a tensão superficial da solução
nutriente é elevada. A pulverização é portanto mais eficiente em dias úmidos
ou com orvalho. A inclusão de umectantes, com a finalidade de diminuir a
tensão superficial, pode aumentar a absorção foliar.
A velocidade de absorção de nutrientes é variável (Tabela 16.2) e
decresce na ordem: moléculas neutras (uréia), cátions e ânions.

210
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

TABELA 16.1 Tolerância das folhas das plantas a pulverizações com uréia (em kg
por 100 litros de água) [16.1]

Cultura Tolerância Cultura Tolerância Cultura Tolerância


Tomate 0,3 - 0,6 Abacaxi 2,4 - 6 Citrus 0,6 - 1,0
Alface 0,1 - 0,7 Algodão 2,4 - 6 Parreira 0,5 - 0,7
Repolho 0,7 - 1,4 Fumo 0,3 - 1,2 Milho 0,6 - 2,4
Cebola 2,4 Batata 2,4

16.1. 2 Características da adubação foliar

A adubação foliar apresenta ao mesmo tempo vantagens e limitações.


O não entendimento destas pode gerar um entusiasmo excessivo com relação
a esta prática.

TABELA 16.2 Absorção de nutrientes aplicados às folhas das plantas [16.1]

Tempo necessário para absorção


Nutriente Planta tratada
de 50% do nutriente
Nitrogênio (uréia) Citrus 1-2 horas
Abacaxi 1-4 horas
Fumo 24-36 horas
Tomate, milho 1-6 horas

Fósforo Cana-de-açúcar 15 dias


Feijão 6 dias

Potássio Feijão 1-4 dias


Cálcio Feijão 4 dias

Enxofre Feijão 8 dias


Ferro Feijão 8% em 24 horas
Manganês Feijão 24-28 horas
Zinco Feijão 24 horas
Molibdênio Feijão 4% em 24 horas

Os conhecimentos de química, de fisiologia de plantas e da


disponibilidade de nutrientes no solo são de grande valia na utilização da
adubação foliar. Assim, pode-se afirmar que:
a) não há necessidade de adquirir adubo foliar já pronto; se houver
necessidade de utilizar a adubação foliar, podem ser adquiridos sais

211
Carlos Alberto Bissani et al.

solúveis utilizados na adubação do solo (o preço por unidade


fertilizante em embalagem de adubo foliar é de 10 a 20 vezes maior
do que o mesmo produto comercializado como adubo de solo! Ver
item 16.3.1); a Tabela 19.3 apresenta alguns compostos solúveis que
podem ser utilizados; na Tabela 16.4 são dadas as concentrações de
nutrientes que podem ser utilizadas em algumas culturas;
b) é necessário estabelecer os nutrientes a adicionar por via foliar; o
estudo das características dos solos e da disponibilidade dos
nutrientes é neste caso de grande importância; por exemplo, não há
motivos para recomendar o uso de Fe e Mn em culturas anuais nos
solos ácidos e argilosos do sul do Brasil;
c) a adubação foliar deve ser feita com base na análise foliar; devem
ser observadas as instruções para a coleta de material para análise;
a interpretação dos resultados e as recomendações específicas são
disponíveis para a maior parte das plantas frutíferas e hortaliças
cultivadas nos estados do RS e de SC [1.7]; e
d) para evitar maus resultados, deve-se antes testar esta prática
(quantidades, misturas, etc.) em área pequena, para verificar
possíveis efeitos tóxicos nas plantas e quantificação da eficiência, em
comparação com a testemunha não tratada (o aspecto externo não
é critério suficiente para a adoção da prática). Deve-se também
avaliar a praticabilidade e os custos operacionais.

16.1.2.1 Vantagens da adubação foliar

A absorção de nutrientes pelas folhas é geralmente maior do que


quando estes são aplicados ao solo. Para nitrogênio, por exemplo, dados
médios de absorção de 75 a 80% são observados, em comparação com 40
a 60% quando o adubo é aplicado via solo. Nutrientes absorvidos lentamente
(fósforo, por exemplo) podem ser lavados pela chuva antes de ser absorvidos
pelas folhas (Tabela 16.2).
Esta vantagem é um grande atrativo da adubação foliar. Os dados de
absorção apresentados na Tabela 16.2 se referem todavia à absorção de
somente 50% do nutriente aplicado. Nada indica entretanto que o restante
da fração aplicada possa ser absorvida no tempo equivalente à primeira. A
chuva pode lavar completamente os nutrientes não absorvidos; estes
entretanto não são perdidos, mas estarão sujeitos às reações normais que
ocorrem no solo (adsorção de P, nitrificação, etc.).

212
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

A adubação foliar permite também suprir o nutriente na época de maior


necessidade, para corrigir uma situação desfavorável do momento, como é o
caso, por exemplo, da adubação em pomares durante um período de seca,
em que o adubo aplicado ao solo (cobertura) terá pouco efeito devido à
deficiência de umidade.
Costuma-se freqüentemente incluir nutrientes em pulverizações de
defensivos de pragas e moléstias. Deve-se, entretanto, ter o cuidado de
observar a compatibilidade entre os produtos utilizados. Se não há informação
disponível sobre a compatibilidade dos componentes da mistura, deve-se
antes testar o efeito em algumas plantas.

16.1.2.2 Limitações da adubação foliar

As soluções de nutrientes muito concentradas podem causar queima das


folhas. A uréia é bastante utilizada em adubação foliar (Tabela 16.1), em
concentrações variáveis conforme as espécies de plantas. Convém lembrar
que os compostos iônicos provocam queima mais facilmente que a uréia, que
não se dissocia em solução. Como norma geral, concentrações maiores que
1 a 3% não devem ser utilizadas em pulverizações foliares (concentração total
de sais).
Como alguns nutrientes são pouco móveis na planta (Tabela 16.3),
deve-se repetir a aplicação diversas vezes durante o desenvolvimento da
cultura, para que os tecidos novos não apresentem deficiência.

TABELA 16.3 Mobilidade comparada dos nutrientes aplicados nas folhas (para cada
grupo os elementos aparecem na ordem decrescente de mobilidade)
[16.1]

Altamente móveis Móveis Parcialmente móveis Imóveis


Nitrogênio Fósforo Zinco Boro
Potássio Cloro Cobre Cálcio
Sódio Enxofre Manganês
Magnésio Ferro
Molibdênio

Um aspecto importante a considerar na adubação foliar é o alto custo


por unidade de nutriente aplicado, o que limita esta prática quase
exclusivamente para micronutrientes.

213
Carlos Alberto Bissani et al.

16.1.3 A pratica da adubação foliar

Além das considerações já vistas, pode-se às vezes adicionar adubos às


caldas de tratamentos fitossanitários obrigatórios, principalmente em frutíferas
ou plantas hortícolas. O custo neste caso se restringe somente à aquisição dos
produtos minerais.
A mistura de diversos compostos para aplicação simultânea deve ser
feita com cautela, pois podem ocorrer reações entre os vários componentes
com formação de substâncias insolúveis ou mais tóxicas. Por exemplo, o
bórax é incompatível com ZnSO4 , o MgSO4 com sais de Cu, os sais de Zn não
podem ser misturados com substâncias oleosas, o N aumenta a absorção de
Zn, etc. [16.2].

16.1.3.1 Quando se justifica o uso da adubação foliar

A adubação foliar pode ser um valioso complemento da adubação do


solo. Sua utilização é justificada nos seguintes casos:
a) no suprimento de micronutrientes, quando houver deficiência
comprovada;
b) em solos alcalinos, em que a disponibilidade de micronutrientes (Fe,
Mn, Zn, etc.) não é adequada ao desenvolvimento das plantas;
c) em pomares, devido à maior eficiência de absorção proporcionada
pela grande área foliar;
d) em hortas, devido ao alto valor da produção; e
e) para os macronutrientes em pomares, quando houver deficiência de
precipitação (os nutrientes aplicados ao solo seco na superfície são
pouco absorvidos).
Na Tabela 16.4 são indicadas as concentrações e fontes de diversos
nutrientes que podem ser utilizados em algumas culturas. Na publicação
“Manual de Adubação e de Calagem para os estados do RS e de SC” [1.7] são
dadas as recomendações de adubação foliar para diversas culturas frutíferas
e olerícolas.
Para maior eficiência de absorção as folhas devem ser molhadas nas
duas faces. Dependendo da quantidade e tipo de folhas, há um limite de
líquido que estas podem reter sem gotejamento.
Parâmetros como tipo de equipamento, pressão utilizada, velocidade de
operação, etc. influem na quantidade de solução de nutriente consumida por
hectare.

214
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

Pode-se distinguir:

Tipo de pulverização consumo - L/ha


Alto volume > 300
Médio volume 80 - 300
Baixo volume 20 - 80
Ultra baixo volume <4

As concentrações dadas na Tabela 16.4 referem-se à pulverização de


alto volume. Utilizando-se menor quantidade de líquido por hectare, pode-se
aumentar a concentração proporcionalmente, mantendo a mesma quantidade
de fertilizante por planta.

16.1.3.2 Suprimento de macronutrientes por via foliar

O nutriente absorvido pelas folhas tem a mesma eficiência metabólica


que o absorvido pela raiz. Assim, para produzir 7.500 kg de grãos por hectare,
o milho necessita absorver 200 kg de N (135 nos grãos e 65 na parte
vegetativa). Se não houver disponibilidade de N, a produção será menor, não
importando a fonte ou forma de suprimento.
O suprimento de macronutrientes por via foliar é possível, mas devido
à grande quantidade exigida pelas plantas e às restrições quanto às
concentrações suportadas pelas folhas, há necessidade de muitas
pulverizações, o que torna a prática antieconômica. Por exemplo, a cultura do
arroz necessita de 110 kg de N (nos grãos e na palha) para uma produção de
4.500 kg/ha (150 sacas/quadra). Supondo que esta quantidade de N seja
suprida em sua totalidade por adubação foliar, o número de pulverizações
necessárias pode ser calculado considerando-se os dados a seguir:
a) a quantidade de solução é de 500 L/ha;
b) a concentração da solução é de 2% de uréia;
c) a uréia contém 45% de N;
d) a eficiência da absorção é de 80%.
então:
N aplicado em uma pulverização = 500 L x 2/100 x 45/100 x 80/100 =
3,6 kg de N/ha.
Se o arroz necessita de 110 kg de N, devem ser feitas 110/3,6 . 31
pulverizações, ou seja, a cada 4 dias será necessária uma pulverização,
considerando-se um período de crescimento de 120 dias.
Conclui-se, portanto, que o suprimento total do N por via foliar
dificilmente poderá ser uma prática econômica. Mesmo como

215
Carlos Alberto Bissani et al.

complementação da adubação do solo, a adubação foliar não pode ser


recomendada como prática de rotina. Assim, supondo-se que no caso do arroz
metade do N seja suprido pelo solo, ainda seria necessário fazer uma
pulverização a cada 10 dias.

TABELA 16.4 Suprimento de alguns nutrientes por adubação foliar [16.2]

Elemento Composto Concentração Cultura


Boro Borax 250 g/100 L aipo, couve-flor, alfafa, cafeeiro.
Ac. bórico 0,3% cafeeiro.

Cálcio CaCl2 0,6 a 2,5% aipo


0,4% tomate

Cobre CuSO4 1% citrus

Fósforo Superfosfato 1% cacau


H3 PO4 0,6 a 3% cana
Fosf. amônio 0,6 a 3% cana

Magnésio MgSO4 1 a 2% aipo, alface, cafeeiro, cebola


macieira, tomate
MgSO4 10% chá

Manganês MnSO4 0,5 a 1% aipo, cafeeiro, citrus, tomate

Molibdênio Molibdato de Na 10 - 15 g/100 L citrus, couve-flor

Nitrogênio Uréia 0,5% bananeira, cacaueiro, citrus,


macieira
2,5% abacaxi

Potássio KCl 0,3% cafeeiro


K2 SO4 0,6 a 1,2% citrus, macieira

Zinco ZnSO4 0,125% citrus


ZnSO4 0,33 a 0,5% cafeeiro, feijão, milho, tomate
ZnSO4 1,2 a 3% Macieira, pereira e pessegueiro

Os experimentos de campo, às vezes, indicam bons resultados da


adubação foliar com macronutrientes. A menos que se apliquem grandes
quantidades, estes resultados não podem ser explicados sem atribuir à
adubação foliar um eventual efeito na correção de uma situação anormal,

216
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

como foi anteriormente referido (deficiência de absorção devido à seca,


suprimento de N quando o adubo aplicado ao solo foi lixiviado, etc.), sendo
os resultados de difícil confirmação em outros anos, culturas, ou locais.
Os efeitos benéficos observados na adubação foliar com N e P podem
ser também atribuídos ao suprimento complementar destes nutrientes, no
caso de baixa disponibilidade no solo.

16.1.3.3 Suprimento de micronutrientes por via foliar

Devido à baixa concentração dos micronutrientes nas plantas, poucas


pulverizações são suficientes para suprir a quantidade total exigida pela
cultura.
Por exemplo, se o milho contém 50 mg/kg de Zn, para a produção de
7.000 kg/ha de grãos (com 6.000 kg de palha), a quantidade total de Zn para
a cultura será de 650 g de Zn (1,6 kg de ZnSO4 /ha). Uma pulverização com
300 L/ha de uma solução de ZnSO4 a 0,53% pode suprir todo o Zn necessário
para a cultura.

16.2 Hidroponia

Para o cultivo hidropônico são observados os mesmos cuidados


necessários ao crescimento das plantas em solução nutritiva, a saber: água
potável de boa qualidade (ver Capítulo 21), controle da concentração dos
nutrientes essenciais e do pH, aeração da solução, temperatura adequada e
controle de pragas e moléstias.

16.2.1 Instalações necessárias

São necessários no mínimo os seguintes componentes [16.3]:


a) casa-de-vegetação, com possibilidade de aeração e telas para evitar
a entrada de insetos;
b) mesas ou bancadas para o cultivo, em que a solução circula em
canais (por gravidade), onde são cultivadas as plantas;
c) sistema de irrigação, com reservatório de solução, bomba de
recalque, registro de controle, sistema de alimentação e retorno, etc.
(preferencialmente PVC);
d) temporizador para a renovação automática da solução ; e
e) condutivímetro para avaliar a concentração de sais na solução.

217
Carlos Alberto Bissani et al.

16.2.2 Solução nutritiva

A solução nutritiva deve conter os nutrientes essenciais na proporção


aproximada à que é absorvida pelas plantas que serão cultivadas. Nas Tabelas
16.5 e 16.6 é apresentada a composição da solução (de macro e de
micronutrientes) para alface, utilizada com sucesso no estado do Rio Grande
do Sul [16.4], modificada para reduzir o teor de nitrato nas plantas [16.6].
Outras soluções podem ser também utilizadas [16.3].
O pH da solução nutritiva pode variar entre 4,5 e 7,5. Em pH mais alto
ocorre precipitação de micronutrientes, e em pH baixo deficiência de P.

TABELA 16.5 Composição da solução nutritiva utilizada em alface [16.4]


modificada para reduzir o teor de nitrato nas plantas [16.5]

Componentes(1) g / 1000L de solução


Nitrato de cálcio especial 950
Nitrato de potássio 723
Sulfato de amônio 110
Fosfato monobásico de potássio (MKP) 272
Cloreto de potássio branco 123
Sulfato de magnésio 246
Micronurientes(2) 200 mL
(3)
Fe-EDTA 1L
(1)
Esta solução contém (mg/L): 232 de N-NO3 -; 32,6 de N-NH4 + (12,3% do N-total); 60 de P;
400 de K; 180 de Ca; 25 de Mg; 59 de S-SO4 - - e 58 de Cl.
(2)

(3)
Preparada conforme a Tabela 16.6;
Dissolver 24,1 g de sulfato ferroso em 400 mL de água, 25,1 g de sódio-EDTA em 400 mL
de água, misturar as duas soluções, completar o volume para 1,0 L e borbulhar ar durante
12 horas. Esta solução contém aproximadamente 5 mg de ferro/mL.

A concentração de nutrientes da solução decresce à medida que estes


são absorvidos pelas plantas, o que pode ser verificado pela determinação da
condutividade elétrica (pelo condutivímetro).
Geralmente podem ser feitos até três cultivos com a mesma solução
nutritiva. A partir desse ponto, o desbalanço entre nutrientes, pela absorção
preferencial das plantas, requer o controle (análise) individual dos mesmos,
que deve ser feito em laboratório.

218
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

Deve-se ter o maior cuidado para evitar a entrada de moléstias (por


sementes, mudas, etc.), que podem infestar a cultura, sendo propagadas pela
solução nutritiva.

TABELA 16.6 Composição da solução de micronutrientes a ser utilizada conforme


a Tabela 16.5

Componentes(1) g/L de solução


Sulfato de manganês 8,50
Sulfato de zinco 5,75
Sulfato de cobre 0,95
Ácido bórico 14,25
Molibdato de sódio 0,6
(1)
Dissolver cada um dos componentes em 190 mL de água, juntar as soluções e completar o
volume para 1 L. Utilizar 200 mL para 1000 L de solução nutritiva, a qual deve conter
(mg/mL): 0,44 de Mn; 0,25 de Zn; 0,05 de Cu; 0,48 de B e 0,05 de Mo.

16.3 Você sabia?

16.3.1 Custo de adubo foliar

Em fevereiro de 2008, um supermercado em Porto Alegre estava


vendendo um adubo foliar contendo 10% de N, 6% de P2O5 e 8% de K2O a
R$ 25,00 por litro. O custo de adubos solúveis nesta data era de R$ 933,00/t
de uréia (46-00-00), R$ 1.496,00/t de diamônio fosfato (18-46-00) e R$
986,00/t de cloreto de potássio (00-00-60). Calcule então quanto você
gastaria comprando 1.000 L deste adubo, quanto custaria para você mesmo
preparar esta quantidade de adubo foliar e qual o lucro do
fabricante/vendedor (não inclua o custo da água e considere que a
embalagem do adubo foliar no supermercado custa aproximadamente R$
1,00).

16.3.2 Dimensionamento de reservatório de solução nutritiva

Qual a capacidade do tanque de solução nutritiva para uma instalação


com 2.000 plantas de alface, considerando que uma planta pode consumir até
250 mL/dia em períodos de alta temperatura? (Deixar margem de segurança

219
Carlos Alberto Bissani et al.

de 50%). Qual o custo desta solução, conforme os preços dados no item a


seguir?

16.3.3 Custos de componentes de soluções nutritivas

Em janeiro de 2008 podiam ser adquiridos em Porto Alegre os seguintes


produtos (custo em R$ por kg): sulfato de magnésio: 2,30; sulfato de cobre:
16,50; ácido bórico: 4,50; sulfato ferroso: 5,85; EDTA (sal sódico): 55,00;
bórax: 3,62; sulfato de zinco: 7,05; sulfato de manganês: 74,05; molibdato
de sódio: 367,80; nitrato de amônio: 13,20; nitrato de potássio: 90,00; nitrato
de cálcio: 59,70; fosfato monopotássico: 29,63 (U$ 1,0 = R$ 1,77).

16.3.4 Água de chuva

A água da chuva pode ser aproveitada para a hidroponia, sendo


coletada por uma calha no beirado da casa-de-vegetação, após 5-10 minutos
de chuva (para lavar a poeira). É aconselhado entretanto fazer cloração para
eliminar patógenos.

16.3.5 Cuidados fitossanitários

A entrada de patógenos nas instalações de hidroponia deve ser


rigorosamente evitada (via mudas, embalagens, manuseio, etc.); a infestação
e conseqüente perda da produção pode ocorrer facilmente devido às
condições favoráveis para o desenvolvimento desses organismos e à
disseminação pela solução nutitiva.

16.3.5 Cultivos em substratos com fertirrigação

Em algumas localidades próximas a grandes centros consumidores


podem ser encontrados sistemas de cultivo de hortaliças em estufas,
utilizando-se fertirrigação por gotejamento. Na referência [1.7] são
apresentados alguns detalhes desta técnica.

220
17
Enxofre, Cálcio e Magnésio
_________________________
dinâmica do enxofre na biosfera se assemelha à do nitrogênio em muitos

A aspectos, tais como:


a) apresenta vários estágios de oxidação;
b) em solos ácidos, a maior parte está imobilizada na matéria orgânica;
c) as transformações entre as várias formas são em sua maioria
influenciadas pela atividade de microrganismos.
As deficiências de cálcio e de magnésio raramente se manifestam devido
à inexistência de mecanismos de fixação em solos ácidos e às grandes
quantidades presentes nos solos com alta CTC. Em solos ácidos, esses
elementos podem ser facilmente supridos pela aplicação de corretivos da
acidez.

17.1 Enxofre

17.1.1 Enxofre na planta

O S é um constituinte dos aminoácidos cistina, cisteína e metionina.


Desta forma, a síntese das proteínas que requerem estes aminoácidos (por
ex. papaína, coenzima A e glutationa) é prejudicada pela deficiência de S. Faz
parte também de alguns glicosídeos responsáveis pelo odor característico das
plantas das famílias das crucíferas e liliáceas. O adequado suprimento de S
contribui para o aumento do teor de óleo em soja e linho.
Embora o S não seja constituinte da clorofila, sua deficiência reduz a
formação desta (75% do S protéico é encontrado nos cloroplastos). Portanto,
plantas com deficiência de S se apresentam cloróticas e com pouco
desenvolvimento. Este sintoma é semelhante à deficiência de N, mas, como

221
Carlos Alberto Bissani et al.

o S é pouco móvel na planta, as folhas novas ficam mais amareladas (no caso
do N as folhas velhas ficam mais amareladas). A deficiência de S, entretanto,
é poucas vezes observada devido a:
a) em geral, os solos têm capacidade de suprir as necessidades das
plantas; e
b) ocorre a contribuição de formas de S presentes na atmosfera e/ou
em outros fertilizantes e fungicidas.
Nos casos de constatação de deficiência de S, podem estar presentes
uma ou mais das seguintes condições:
a) solos com baixo teor de matéria orgânica;
b) culturas com grande retirada de nutrientes (por exemplo, plantas
para silagem);
c) uso de fertilizantes concentrados, sem S na sua constituição; e
d) distância de centros industriais ou urbanos.
Em geral, as necessidades de S das plantas são semelhantes às do P.
Algumas espécies, como a alfafa e o repolho, exigem quantidades maiores de
S do que de P. O teor médio de S no tecido de algumas plantas é dado no
Anexo 3. Pode-se observar que algumas plantas como cebola, alho e couve-
flor possuem maior exigência de S.
O íon sulfato (SO42-) é a principal forma absorvida do solo pelas raízes.
Formas gasosas, principalmente SO2, podem ser absorvidas pelas folhas.

17.1.1 Enxofre na biosfera

O enxofre, além de ser um nutriente essencial para as plantas, é


também um elemento que pode modificar diversas características químicas
dos solos, como no caso da obtenção de pH extremamente baixo (até 3,5),
ou provocar a ocorrência de distúrbios fisiológicos nas plantas. Para o
adequado entendimento das reações do S no solo e da disponibilidade para
as plantas é necessário antes estudar as principais transformações deste
elemento na biosfera. O ciclo do S na biosfera é representado na Figura 17.1.
O S se combina facilmente com outros elementos, principalmente O, H
e C, apresentando diversos estados de oxidação (valência), desde +6 até -2.
A maior parte das mudanças de um estado de oxidação para outro nos
sistemas biológicos é efetuada por microrganismos, em reações de oxi-
redução, com o objetivo de obter energia.
Os diversos estados de oxidação do S e os principais compostos
representativos de cada um podem ser assim esquematizados (embora a

222
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

maior parte dos compostos de S seja de carácter covalente, é usada a


designação da eletrovalência para facilidade de entendimento):

REDUÇÃO OXIDAÇÃO

Estado de S2- Sº S2+ S4+ S6+


oxidação

Compostos H2 S Sº S2 O3 2- SO2 SO4 2-


ou íons
- sulfetos
Denominação - S orgânico S elementar tiossulfatos dióxido de sulfatos
- mercaptanas enxofre
- ác. sulfídrico (gás)
(gás)

17.1.2.1 Reações de redução do S

Em solos com aeração deficiente, seja por excesso de umidade ou pela


presença de horizontes argilosos compactados, que dificultam a difusão de
oxigênio, há condições de redução de compostos inorgânicos de S. Como
exemplo, pode ocorrer a redução de sulfato por Dessulfovibrio dessulfuricans:

SO4 2- + 4H2 6 S2- + 4H2O (17.1)

O Dessulfovibrio dessulfuricans é uma bactéria anaeróbia chemotrófica,


isto é, obtém a energia para o seu metabolismo desta reação, com atividade
alta na faixa de pH de 6 a 8.
O S2- liberado pode formar H2 S ou ser precipitado no solo pelo Fe2+
presente na forma reduzida, conforme a reação:

S2- + Fe2+ 6 FeS (17.2)

Em solos com baixo teor de ferro, a alta concentração do gás H2 S pode


ser tóxica às plantas. A a doença fisiológica chamada akiochi no arroz irrigado,
é um exemplo.
A ação do Dessulfovibrio pode ser reconhecida pelo odor característico
do H2 S e pelo escurecimento de solos, limo e águas pelo FeS.

223
Carlos Alberto Bissani et al.

FIGURA 17.1

Ciclo do enxofre na
biosfera.

17.1.2.2 Reações de oxidação do S

Nos solos bem drenados, são favorecidas as reações de oxidação, com


predominância de formação de sulfato (SO4 2-). Uma oxidação típica é a do S
elementar por Thiobacillus thiooxidans, representada pela reação 17.3.

2Sº + 3O2 +2H2 O + 4H2 6 2H2 SO4 (17.3)

Esta bactéria é chemotrófica, aeróbia e tem maior atividade em pH


muito baixo (entre 2,0 e 3,5).
A oxidação do S elementar por Thiobacillus pode ser utilizada para
reduzir o pH dos solos bem drenados, conforme a equação 17.3. A adição de
1 kg de S elementar neutraliza a alcalinidade de 3 kg de CaCO3. Em algumas
situações, a oxidação dos compostos de S pode diminuir muito o pH do solo.
Em áreas periodicamente invadidas pela água do mar, ocorre a redução dos
compostos de S durante o período úmido, com estabilização do pH entre 6-7.
Na estação seca, a oxidação dos compostos reduzidos do S com formação de
H2SO4 pode provocar o abaixamento do pH a 3,5.

17.1.3 Enxofre na atmosfera

Estima-se que aproximadamente 225 milhões de toneladas de S sejam


liberadas anualmente para a atmosfera, na forma de gases (H2 S e SO2 ) ou de
SO42- (em aerossol, como vapor marinho). Uma parte apreciável deste total
provém das atividades industriais, como a queima de combustíveis (petróleo,

224
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

carvão, lenha, etc.) e a liberação de produtos sulfurados pelas indústrias de


celulose, entre outros (Tabela 17.1).
As plantas podem absorver SO2 diretamente do ar pelos estômatos;
num estudo de casa-de-vegetação foi observado que a alfafa absorveu da
atmosfera 73% do S necessário [17.2]. Entretanto, o SO2 em alta
concentração no ar causa a queima das folhas, como pode ser observado nas
proximidades de algumas termoelétricas.
Uma parte do S do ar atinge o solo, principalmente por arraste pela
água da chuva. Esta quantidade pode variar desde 1 kg/ha/ano, em áreas
muito afastadas de centros industriais e urbanos, até 100 kg/ha/ano em áreas
de grande atividade industrial. Na região da grande Porto Alegre foram
determinadas quantidades de S variáveis de 20 a 50 kg/ha na água da chuva
em 6 meses [17.3]. Conclui-se, então, que a atmosfera é uma importante
contribuinte para o S do solo.

TABELA 17.1 Enxofre liberado anualmente para a atmosfera [17.1]

Quantidade % do total
Formas de S Fonte t x 106
H2 S Pântanos, oceanos 100 44,4
Poluição (indústria de celulose e outros) 3 1,3
SO4 2- Vapor marinho 44 19,6
SO2 Poluição: 73 32,5
carvão 51 22,7
petróleo 15 6,7
siderurgia 7 3,1
Vulcões 5 2,3
TOTAL 225 100,0

18.1.4 Enxofre no sistema solo-planta

Em solos bem drenados de regiões com boa precipitação, a maior parte


do S (de 75 a 99%) está na forma orgânica, quer em aminoácidos ou
proteínas contendo S, quer na forma de SO42- ligado à matéria orgânica. Como
o íon SO4 2- pode ser facilmente lixiviado, principalmente em solos arenosos,
o S orgânico determina a capacidade do solo em suprir este nutriente.
A proporção entre o N e o S nos solos se mantém estável em
aproximadamente 10:1,3. O teor total de S nos solos do RS varia entre 20 e
527 mg/kg, dependendo da quantidade de matéria orgânica [17.4].

225
Carlos Alberto Bissani et al.

Devido à baixa lixiviação, nos solos áridos pode haver acumulação de


grandes quantidades de sulfatos de Ca, Mg, Na e K.
Para ser absorvido pelas plantas, o S orgânico deve ser mineralizado por
microrganismos, à semelhança do que ocorre com o N (Figura 17.1). Este
processo microbiológico é influenciado pelos fatores que controlam a atividade
microbiana, como temperatura, umidade, aeração, suprimento de nutrientes,
etc.
A imobilização temporária do SO42- por microrganismos do solo durante
a decomposição de resíduos orgânicos com teor de S menor que 0,15%
(relação C:S maior que 250) também pode ocorrer.
A forma predominante de S mineral nos solos bem drenados é o SO4 2-,
sendo este o íon absorvido em maior quantidade pelas plantas. Outros
compostos inorgânicos, como H2S e SO2, podem também ser absorvidos em
pequenas quantidades.
O SO42- pode ser adsorvido por alguns constituintes minerais do solo,
principalmente por argilas do tipo 1:1 (caulinita) e óxidos de Fe e Al. Esta
adsorção diminui com a elevação do pH (equilíbrio 17.4):

(17.4)

O SO42- adsorvido está em equilíbrio com o SO42- da solução do solo,


sendo, portanto, disponível para as plantas, pois a força com que é adsorvido
é mais fraca do que, no caso, do íon fosfato. A adsorção do SO4 2- é benéfica,
pois reduz as perdas por lixiviação de SO42-. A adubação fosfatada diminui a
adsorção de SO4 2-.

17.1.5 Adubação com enxofre

Alguns estudos de campo com o objetivo de avaliar a necessidade de


adubação com enxofre executados nos estados do RS e de SC indicam que
não houve resposta da soja à adição deste nutriente nos solos PVAd
(Camaquã), LVd (Passo Fundo) e LVaf (Erechim) [17.5; 17.6; 17.7]. Nestes
casos, o S necessário para a nutrição das plantas foi obtido pela mineralização
da matéria orgânica, liberação de SO4 2- adsorvido e/ou contribuição da
atmosfera. Entretanto, em solos do Brasil Central, principalmente na região

226
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

do Cerrado, observa-se freqüentemente a necessidade da adubação com


enxofre [17.8].
Embora não tenha sido observada resposta positiva à adição de S nos
experimentos de campo conduzidos nos estados do RS e de SC, pode-se
esperar um baixo suprimento ou deficiência deste nutriente em uma ou mais
das seguintes condições:
a) em solos arenosos e/ou com baixo teor de matéria orgânica;
b) em solos intensamente cultivados e/ou calcariados por vários anos;
c) em solos de regiões afastadas de centros industriais ou do mar;
d) quando não há adição de S como componente de outros fertilizantes,
por vários anos; e
e) em culturas mais exigentes neste nutriente.
Levantamento utilizando 949 amostras de solos do estado do RS [17.4]
mostrou que somente 8% das mesmas apresentavam teor de S extraído com
Ca(H2 PO4 )2 (com 500 mg/L de P) inferior a 5 mg/dm3 (Figura 17.2). Estes
solos poderão eventualmente mostrar deficiência de S, dependendo do teor
na camada subsuperficial do solo. Em geral esta camada apresenta teor de
SO42- maior que a camada arável, devido ao menor pH e maior teor de argila
[17.4].
Vários materiais podem ser utilizados para a adição de enxofre ao solo,
seja como fonte específica (por ex.: S elementar e gesso) ou como
acompanhante de outros nutrientes em diversos fertilizantes (p. ex.:
superfosfato simples, sulfato de amônio, ZnSO4 e CuSO4). Na Tabela 17.2 são
dados os compostos mais utilizados para o suprimento de S.
O gesso agrícola é freqüentemente utilizado para o suprimento de S e
Ca ao solo. Os principais efeitos da adição deste material serão abordados no
item 17.4.

17.2 Cálcio

O cálcio, depois do ferro, é o nutriente mineral encontrado em maior


concentração na maioria dos solos, geralmente em quantidades muito
superiores às necessidades das plantas. Este fato, acrescido da inexistência
de mecanismo de fixação, torna a deficiência de cálcio muito rara nos solos
cultivados, sobretudo naqueles com acidez corrigida.

227
Carlos Alberto Bissani et al.

FIGURA 17.2

Distribuição de freqüência de
teores de enxofre extraível em
solos do RS [17.4].

TABELA 17.2 Teores mínimos de elementos nos principais compostos utilizados


como fontes de S, Ca e Mg [19.1]

Fórmula com Teores de


Fontes
N-P2O5-K2 O S Ca Mg
------------------------------- % ------------------------------
Muito solúveis:
sulfato de amônio 20 - 0 - 0 22 - -
sulfato de potássio 0 - 0 - 50 15 - -
sulfato de potássio e magnésio 0 - 0 - 18 20 - 10
sulfato de magnésio 0-0-0 11 - 9
Pouco solúveis:
cloreto de cálcio 0 -0 -0 - 24 -
gesso agrícola 0 -0 -0 13 16 -
óxido de magnésio 0 -0 -0 - 0 45
calcário agrícola (CaO+MgO) 0 -0 -0 - - 38 (1) -
Insolúveis:
kieserita 0-0-0 20 - 16
S elementar 0-0-0 95 - -
Materiais orgânicos --------------------------- variáveis ------------------------
_____________________________________________________________
(1)
Soma dos teores de Ca e de Mg.

228
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

17.2.1 Cálcio na planta

O cálcio é absorvido pelas plantas na forma de íon Ca2+ , sendo


encontrado nas células em compostos orgânicos (oxalatos, citratos, tartaratos
etc.) ou na forma iônica. É necessário para a formação da lamela média das
células e para a absorção de nutrientes, sendo imóvel nas plantas herbáceas.
Isto indica que sua deficiência é melhor observada nas partes novas do
vegetal, cujo desenvolvimento é prejudicado ou cessa por completo. O
crescimento das raízes é também afetado. Por isso, as raízes necessitam do
elemento no próprio ambiente de absorção de nutrientes, havendo
crescimento reduzido em subsolos deficientes.
O teor de Ca de algumas espécies é apresentado no Anexo 3, sendo
variável com a planta, a época e a parte amostrada. Em geral é menor que
o de K e maior que o de P.

17.2.2 Cálcio no solo

Nos solos de regiões com elevada precipitação, o Ca ocorre


principalmente na forma trocável, neutralizando as cargas negativas de argilas
e da matéria orgânica, e em solução (Capítulo 8). Estas duas formas estão em
equilíbrio dinâmico. O Ca trocável é geralmente muito maior do que o Ca na
solução, exceto nos solos muito arenosos e com baixo teor de M.O.
Na Tabela 17.3 são dados os teores de Ca de alguns solos do estado do
RS. Pode-se observar que nos solos muito intemperizados e nos arenosos,
onde a CTC é baixa, o teor de Ca é muito reduzido, devido às perdas por
lixiviação. O Ca é geralmente o cátion determinado em maior quantidade nas
águas de lixiviação. Solos altamente intemperizados da região do cerrado
apresentam freqüentemente teores de Ca e de Mg inferiores a 0,1 cmolc/dm3.
Pode-se facilmente calcular a quantidade necessária de Ca para uma
cultura. Por exemplo, se uma cultura de milho com 10.000 kg/ha de matéria
seca (6.000 kg de grãos e 4.000 kg de palha) contém em média 0,40% de Ca,
serão imobilizados 40 kg/ha de Ca. Um solo com 1 cmolc/dm3 de Ca2+ (na
camada de 0-20 cm de profundidade) possui 400 kg/ha de Ca2+ . Se todo o Ca
imobilizado pelas plantas fosse retirado da lavoura (como no caso de silagem
ou feno) este solo teria teoricamente capacidade de suprir Ca2+ por 10 anos.
Entretanto, isso não ocorre, porque à medida que a planta absorve o
Ca2+ da solução, a reposição pelo Ca2+ trocável é cada vez mais lenta (as
cargas negativas devem ser neutralizadas por outro cátion) até o ponto de
não haver Ca2+ na solução do solo em quantidade suficiente para o

229
Carlos Alberto Bissani et al.

suprimento das necessidades da planta. Por isso, a percentagem de saturação


da CTC com cálcio e o tipo de argilomineral predominante são mais
importantes na capacidade de suprimento de Ca para as plantas que o teor
total de Ca no solo. Assim, as argilas de tipo 2:1, que retêm os íons mais
fortemente (p. ex.: montmorilonita) exigem uma saturação de Ca de no
mínimo 70% para suprir Ca em quantidade suficiente para as plantas,
enquanto para a caulinita este valor é de 40-50%.

TABELA 17.3 Capacidade de troca de cátions e teores de Ca e Mg trocáveis no


horizonte superficial de alguns solos não cultivados do RS [17.12]

Unidade de
Classificação CTC Ca2+ Mg2+
mapeamento
-----------------------------cmolc/kg---------------------------
Tupanciretã PVAd 3,7 0,5 0,4
Cruz Alta LVd 6,4 0,9 0,8
Passo Fundo LVd 10,5 1,0 0,6
São Jerônimo PVd 8,5 1,6 1,3
Santa Maria Act 12,1 3,4 0,8
Durox LVdf 13,3 1,4 0,8
Vacaria LBc 17,0 1,6 1,0
Santo Ângelo LVdf 8,9 1,7 1,0
Estação LVdf 18,3 6,4 3,0
Ciríaco LVdf 17,7 10,9 2,0
Vila MXo 23,0 15,0 3,1

Nos solos alcalinos, a lixiviação de bases é muito pequena e geralmente


há acumulação de sais de Ca pouco solúveis, como carbonatos e sulfatos. Por
isso, em solos bem manejados tecnicamente a deficiência de Ca2+ dificilmente
ocorre.

17.2.3 Suprimento de Ca

Na maior parte dos solos ácidos há necessidade de adição de calcário


para a correção da acidez e/ou neutralização do Al3+ . Esta prática eleva o teor
de Ca do solo. Assim, 1 tonelada de calcário dolomítico (relação 2:1 em
Ca:Mg) supre, após a dissolução completa, aproximadamente 290 kg de
Ca2+ /ha (suficiente para 7 anos, nas condições do cálculo do item 17.2.1).
Se houver necessidade de adicionar Ca ao solo, sem alteração no pH,
usa-se o gesso agrícola (Tabela 17.2) ou fosfatos de cálcio (ver item 17.4).

230
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

17.3 Magnésio

As reações químicas do Mg no solo são semelhantes às do Ca. Algumas


argilas de tipo 2:1 possuem Mg estrutural, que não é disponível para as
plantas.

17.3.1 Magnésio na planta

O Mg é absorvido pelas plantas na forma de íon Mg2+ . Constitui o núcleo


central da molécula de clorofila. Sua deficiência pode ser geralmente
observada pelo amarelecimento das folhas. Como é móvel na planta, as folhas
velhas apresentam sintomas mais pronunciados. Em algumas plantas,
principalmente as de folha larga, como fumo, citrus, abacateiro, brássicas,
milho etc., estes sintomas mostram amarelecimento entre as nervuras das
folhas. O teor de Mg de algumas espécies é dado no Anexo 3.

17.3.2 Magnésio no solo

O Mg tem origem em minerais primários, como dolomita, biotita, clorita


e olivina, presentes em diversos tipos de rochas. Ao contrário do Ca, faz parte
da estrutura de argilominerais como ilita, vermiculita e montmorilonita.
À semelhança do Ca, o Mg no solo está principalmente na forma de Mg
trocável e Mg em solução, que estão em equilíbrio dinâmico. O teor de Mg é
geralmente menor que o de Ca (Tabela 17.3), devido à maior lixiviação de Mg
no solo (1 cmolc/dm3 de Mg equivale a 243 kg/ha na camada de 0-20 cm de
profundidade).
As mesmas considerações (referentes à velocidade de suprimento, %
de saturação da CTC por Mg e tipo de argilas) feitas em relação ao Ca se
aplicam ao Mg, porém os valores de % de saturação mínimos são inferiores.
Devido ao menor teor de Mg no solo e à sua maior facilidade de
lixiviação, a deficiência de Mg pode ser observada mais freqüentemente que
a deficiência de Ca, com o manejo inadequado de solos pobres, de baixa CTC,
em situações como:
a) adição de calcário calcítico, com baixo teor de Mg; e
b) adição de doses excessivas de K.
O aumento da disponibilidade de K diminui a absorção de Mg pelas
plantas. O desequilíbrio entre o K e Mg no solo (alta relação K:Mg), acrescido
do fato que as gramíneas tendem a absorver mais cátions monovalentes do

231
Carlos Alberto Bissani et al.

que divalentes, pode provocar no gado o distúrbio nutricional conhecido por


hipomagnesia, quando predominam as gramíneas na pastagem.

17.3.3 Suprimento de Mg

A adição de calcário dolomítico é a forma mais prática e econômica de


suprir Mg ao solo. Os teores de Ca e Mg do calcário podem ser muito variáveis
(ver item 9.1.5 - p. 104).
Se houver necessidade de adicionar Mg ao solo sem alteração no pH,
pode-se utilizar sulfato de magnésio ou o sulfato de potássio e magnésio
(Tabela 17.2).

17.4 Utilização de gesso no solo

O gesso agrícola (CaSO4.2H2O) é um sub-produto da fabricação de ácido


fosfórico, utilizado para a produção de adubos fosfatados solúveis
(superfosfato triplo e fosfato de amônio). Este produto é também denominado
de fosfogesso por conter fosfato residual (0,5 a 0,8% de P2O5) da reação do
H3PO4 com a apatita. É uma boa fonte de cálcio e enxofre para as plantas. Sua
solubilidade é baixa (2,5 mg/L de solução).
A hidrólise do gesso na solução do solo ocorre conforme a equação:

CaSO4.2H2O 6 Ca2+ + SO4 2- + 2H2O (17.5)

Íons Ca2+ e SO4 2- são, portanto, liberados na solução do solo. Estes íons
podem ser lixiviados pela água de percolação, deslocando-se para camadas
mais profundas do perfil do solo. A presença do ânion SO4 2- favorece a
lixiviação do Ca2+ e de outros cátions (K+ e Mg2+ ).
A velocidade de lixiviação de Ca2+ no solo é, portanto, maior com a
aplicação de gesso do que com a adição de calcário. Na calagem, o ânion
liberado (OH-) é neutralizado pelo H+ ou pelo Al3+ do solo (reação 8.6).
Devido à maior lixiviação do Ca no solo pela aplicação de gesso, este
produto é às vezes erroneamente denominado de “corretivo em
profundidade”. O gesso, entretanto, não é corretivo da acidez do solo, pois
não libera OH-.
A percentagem de saturação da CTC por Ca é também aumentada, com
redução da toxidez de Al3+ para as plantas. Este fato tem maior importância

232
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

em solos do cerrado, que apresentam baixos teores de Ca e de Mg, e alta


saturação de CTC por Al3+ .
A aplicação de gesso pode ser recomendada quando o teor de Ca2+
trocável é # 0,5 cmolc/dm3 e o de Al3+ trocável é baixo (ver item 17.6.3)
[17.9].
Em diversos experimentos realizados nos estados do RS e de SC não
foram obtidas respostas positivas das plantas à aplicação de gesso [17.10].
Há indícios, entretanto, que a aplicação de gesso pode ser benéfica para a
cultura da macieira, que requer maiores quantidades de Ca em profundidade.
Em experimento de longo prazo foi também constatado efeito benéfico
da aplicação de gesso no milho, em anos com baixa precipitação [17.13].

17.5 Métodos de avaliação da disponibilidade

Nos estados do RS e de SC é utilizada a solução de Ca(H2 PO4 )2


(contendo 500 mg/L de P) para extrair o S disponível do solo. Esta solução
extrai parte do S adsorvido às argilas e à matéria orgânica. No processo de
extração, o H2PO4- desloca o SO4 2- para a solução, sendo este determinado por
turbidimetria. Solos com teores de enxofre maiores que 10 mg/dm³ para
leguminosas e 5 mg/dm³ para outras culturas são considerados bem supridos
deste nutriente [17.11].
A disponibilidade de Ca e de Mg é geralmente avaliada pela
determinação dos teores trocáveis, obtidos pela extração do solo com uma
solução de KCl 1 mol/L (Capítulo 6).

17.6 Você sabia?

17.6.1 A “chuva ácida”

A água da chuva em geral apresenta pH entre 5,5 e 6,5, sendo portanto


ácida. Este fato é devido à combinação com CO2 do ar (H2 O + CO2 6 HCO3-
+ H+ ). A verdadeira “chuva ácida” (pH<5,0) é devida à presença de SO2 no
ar (liberado em grande quantidade por usinas termoelétricas, por exemplo)
que por oxidação fotoquímica pode formar H2 SO4 no ar ou por dissolução do
SO2 no vapor de água. No solo, o SO2 pode ser oxidado a H2SO4 (reação
17.3).

233
Carlos Alberto Bissani et al.

17.6.2 O “ouro-de-tolo”

É um mineral (FeS) de cor amarela, que normalmente é encontrado


como impureza no carvão mineral. A queima do carvão libera SO2 , que
provoca a chuva ácida. O descarte dos rejeitos de carvão pode liberar H2 SO4
(reação 17.3) e a conseqüente acidificação de solos e águas com a
solubilização de metais pesados.

17.6.3 A “gessagem”

A aplicação de gesso (gessagem do solo) é freqüentemente praticada


em solos do Cerrado, que apresentam muito baixo teor de Ca no perfil, com
o objetivo de favorecer o aprofundamento das raízes; desta forma, as plantas
ficam menos suscetíveis à deficiência hídrica que ocorre durante os
“veranicos”. As doses de gesso recomendadas variam de 700 kg/ha em solos
arenosos a 3.200 kg/ha em solos muito argilosos, para culturas anuais
[17.14]; o efeito residual é de 5 a 10 anos, dependendo do solo.

234
18
Micronutrientes
_________________________
s elementos boro, cloro, cobre, ferro, manganês, molibdênio e zinco são

O nutrientes essenciais às plantas. As exigências destes nutrientes pelas


culturas variam entre 1 a 100 g/ha, sendo chamados de
micronutrientes.
Deficiências de um ou mais micronutrientes têm sido constatadas em
várias regiões do Brasil. As mais comuns são:
a) zinco em solos sob vegetação de cerrados no Brasil Central e em
solos muito arenosos ou que receberam calagem excessiva;
b) boro em solos arenosos com baixos teores de matéria orgânica e em
outros solos cultivados com alfafa;
c) cobre em solos dos tabuleiros do Nordeste; e
d) ferro, cobre e zinco em solos com pH > 7,0.
A correção das deficiências de micronutrientes, exceto no caso dos solos
com pH > 7,0, é relativamente simples e pouco dispendiosa.
As raízes das plantas absorvem os micronutrientes da solução do solo.
Devido às pequenas quantidades que as plantas necessitam, os mecanismos
de interceptação radicular e de fluxo de massa suprem na maioria dos casos
quantidades suficientes para as necessidades das plantas. Entretanto, a
difusão é importante em solos com teores muito baixos de micronutrientes.

18.1 Funções e teores nas plantas

Os micronutrientes metálicos (Cu, Zn, Fe, Mn e Mo) são constituintes de


várias enzimas, como componentes da molécula ou ativadores (Tabela 18.1).
Os sintomas de deficiência ou toxidez variam conforme a espécie da
planta. Em textos especializados são apresentados sintomas observados em

235
Carlos Alberto Bissani et al.

plantas de várias espécies [18.9; 18.10; 18.13]. Quando a mobilidade do


micronutriente na planta é baixa, os sintomas de deficiência são observados
preferencialmente nas folhas mais novas.
Deficiências de Cl dificilmente ocorrem. Toxidez por B é freqüentemente
observada em solos salinos de regiões áridas.

TABELA 18.1 Formas de absorção e principais funções dos micronutrientes nas


plantas

Micronutriente Mobilidade Forma de absorção Funções


B Baixa H3 BO3 Formação de paredes celulares
H4 BO4- Translocação de açúcares
B4 O7(OH)4 2-

Cl Baixa Cl- Fotossíntese


Pressão osmótica das células

Cu Alta Cu2+ Fotossíntese


Enzimas

Fe Baixa Fe2+ Cloroplastos

Mn Baixa Mn2+ Fotossíntese


Enzimas

Mo Baixa HMoO4 - Fixação biológica de N


MoO4 2- Redução de NO3 -

Zn Baixa Zn2+ Enzimas

18.2 Disponibilidade e proporção dos elementos no solo

Em geral, o aumento da concentração de um nutriente na solução do


solo provoca um aumento correspondente na absorção deste nutriente pelas
plantas. Se a disponibilidade inicial do nutriente é baixa, a adição do mesmo
ao solo propicia, além do aumento da concentração na planta, aumento dos
rendimentos. Estes conceitos estão exemplificados na Figura 18.1, que mostra
os efeitos da adição de Zn a um solo com baixo teor deste metal sobre o
rendimento do milho e no teor de Zn nas folhas.

236
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

O aumento da disponibilidade de um ou mais nutrientes no solo pode


afetar a absorção de outros nutrientes. Este efeito da maior disponibilidade
de um nutriente sobre a absorção de outros é chamado de interação. São
conhecidas interações de macronutrientes com micronutrientes e de
micronutrientes com micronutrientes.
As espécies, e mesmo cultivares dentro de uma espécie, podem variar
bastante na capacidade de absorção e eficiência da utilização dos
micronutrientes absorvidos. Devido a isto há diferenças entre espécies e
cultivares quanto à deficiência e à capacidade de resposta à adubação com
micronutrientes. Por exemplo, a alfafa é muito sensível à deficiência de B,
enquanto a soja é sensível à toxidez.
Nos últimos anos, estudos foram feitos para selecionar ou criar
cultivares com capacidade de se desenvolverem satisfatoriamente em
condições de solos que normalmente apresentam baixa ou excessiva
disponibilidade de micronutrientes. São conhecidas linhagens e cultivares de
pessegueiros, soja, milho e arroz tolerantes à deficiência de Fe que ocorre em
solo calcário, a qual é de muito difícil correção pela adubação. Há linhagens
e cultivares de algodão, batatinha e outros que são tolerantes ao excesso de
Mn. Cultivares de trigo desenvolvidas no Rio Grande do Sul nas décadas de
40 a 60 são reconhecidas como tolerantes a Al+3 e Mn em níveis considerados
tóxicos para outras culturas, principalmente leguminosas.

FIGURA 18.1

Efeito da aplicação de Zn a um
solo de Goiás no teor de Zn nas
folhas e no rendimento do milho
[18.1].

237
Carlos Alberto Bissani et al.

18.2.1 Quantidades de micronutrientes extraídas dos solos pelas plantas

Devido às baixas concentrações de micronutrientes nos tecidos das


plantas as quantidades totais absorvidas são também pequenas. Estas podem
ser calculadas pelo rendimento das culturas e o teor médio nas plantas
(Anexo 4), sendo em geral da ordem de gramas por hectare. Do total
absorvido por culturas em que apenas são colhidos os frutos ou sementes,
geralmente a maior parte é reciclada no solo junto com os restos culturais.
Portanto, o esgotamento das reservas de micronutrientes dos solos pela
retirada das colheitas é lento.

18.3 Os micronutrientes nos solos

As quantidades totais de micronutrientes nos solos são variáveis e


dependem dos teores presentes nos materiais de origem e da ação dos
fatores de formação dos solos. Em geral, devido à baixa solubilidade dos
minerais e à sua complexação pela matéria orgânica, os micronutrientes
tendem a se acumular nos solos à medida que estes se formam. Portanto, os
teores totais são geralmente maiores nos solos que nas rochas.
A Tabela 18.2 mostra os teores médios de micronutrientes em algumas
rochas e o intervalo de variação dos teores normalmente determinados nos
solos.
Nos solos, os micronutrientes encontram-se como parte da estrutura
interna e/ou adsorvidos às superfícies de minerais e de compostos orgânicos
(M-sólido) e na solução do solo (M-solução).
Os micronutrientes na fase líquida do solo (M-solução), por uma ou mais
reações, mantêm-se em equilíbrio com os micronutrientes na fase sólida (M-
sólido). Este equilíbrio pode ser representado esquematicamente pela reação
geral:

M-sólido W M-solução (18.1)

Como os micronutrientes estão presentes no solo em compostos sólidos


pouco solúveis, o equilíbrio 18.1 tende muito para a esquerda. Isto resulta em
concentrações muito baixas na solução do solo, geralmente da ordem de
partes por bilhão (:g/L). Considerando-se os teores totais de micronutrientes,
a concentração na solução do solo é de mil a um milhão de vezes menor que
na fase sólida.

238
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

TABELA 18.2 Teores de micronutrientes em rochas e solos [18.2]

Crosta Rochas ígneas Rochas sedimentares


Elemento Solos
terrestre Granito Basalto Calcário Arenito
B (mg/kg) 10 15 5 20 35 7-80
Cu (mg/kg) 55 10 100 4 30 10-80
Fe (%) 5,6 2,7 8,6 0,3 1,0 1,0-10,0
Mn (mg/kg) 950 400 1500 1100 10-100 20-3000
Mo (mg/kg) 1,5 2 1 0,4 0,2 0,2-10
Zn (mg/kg) 70 40 100 20 16 10-300

As reações dos micronutrientes no solo são afetadas por vários fatores


que podem provocar alterações na quantidade de M-solução. A natureza e
intensidade destas reações determinam em grande parte a disponibilidade dos
micronutrientes para as plantas, pois estas absorvem os elementos em
quantidades proporcionais às suas concentrações na solução do solo.
Nos solos, os micronutrientes participam de reações de: precipitação-
dissolução, adsorção às superfícies de minerais e matéria orgânica, formação
de complexos solúveis e dissociação ácido-base. Serão vistas a seguir as
principais reações dos micronutrientes no solo.

18.3.1 Boro

O B está presente na solução dos solos predominantemente na forma


de moléculas neutras de H3BO3. Pequenas porções de B estão presentes
também como íon H4BO4- resultante da reação:

H3 BO3 + H2O W H4BO4- + H+ Ka1 = 10-9,2 (18.2)

Na solução dos solos, o B pode ainda estar presente na forma de


complexos orgânicos solúveis resultantes de reações do tipo:

(18.3)

Além da reação de dissolução da turmalina, que libera B para a solução


do solo, ocorrem reações de adsorção do B às superfícies dos óxidos de Fe e
de Al e da matéria orgânica. Estas reações podem ser representadas como
segue:

239
Carlos Alberto Bissani et al.

(18.4)

(18.5)

Das reações 18.4 e 18.5 pode-se deduzir que:


a) quanto maior o pH (menos H+ na solução) mais as reações tendem
para a direita, isto é, com o aumento do pH aumenta a adsorção e
diminui a concentração de B na solução;
b) quanto maior o teor de óxidos de Fe e de Al e de matéria orgânica,
mais as reações tendem para a direita, ou seja, a adsorção de B
adicionado ao solo é maior em solos com altos teores de óxidos e de
matéria orgânica do que em solos com baixos teores;
c) nos solos as reações 18.4 e 18.5 tendem em geral para a direita, e
assim a maior parte do B adicionado como adubo é adsorvido,
ficando apenas uma pequena parte na solução, a qual porém
aumenta proporcionalmente às quantidades adicionadas ao solo; e
d) as plantas, absorvendo o B da solução do solo, diminuem a sua
concentração, provocando o desequilíbrio das reações 18.4 e 18.5
para a esquerda e parte do B adsorvido pode ser liberado para a
solução, isto é, o B adsorvido repõe na solução pelo menos parte do
B absorvido pelas plantas.
Como ilustração destes conceitos, são mostradas na Figura 18.2 as
relações entre o pH e a adsorção de B adicionado em três solos que
apresentam teores de óxidos de Fe e Al bastante diferentes.
A atividade microbiana pode aumentar os teores de B na solução do
solo pela mineralização de matéria orgânica e também pelo aumento de
compostos orgânicos solúveis que são excretados pelos microrganismos para
a solução do solo, os quais podem formar complexos orgânicos solúveis com
B.

18.3.2 Cobre, manganês e zinco

240
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

Como muitas reações


em que participam Cu, Mn e
Zn no solo são semelhantes,
estes elementos foram
agrupados e serão
discutidos em conjunto.

FIGURA 18.2

Relação entre pH e o B
adsorvido nos solos das
unidades de mapeamento Durox (LVdf), Passo Fundo (LVd) e São Gabriel (SXe), do
estado do RS [18.3].

Esses micronutrientes encontram-se na solução do solo na forma de


íons divalentes (Cu2+ Mn2+ e Zn2+ ) e de complexos solúveis.
Alguns ânions
orgânicos presentes na
solução dos solos, que
têm capacidade de
complexar metais são:
citrato, oxalato,
tartarato, gluconato,
malato, acrilato, etc.
P o r e x e m plo , a
estrutura de um
complexo solúvel de
metal com o radical
orgânico citrato é a seguinte (em que M representa o metal (Cu, Mn ou Zn)):

241
Carlos Alberto Bissani et al.

O s resultados
exper imentais
indic a m q u e
aproximadamente 98 a 99% do Cu, 84 a 99% do Mn e até 75% do Zn da
solução dos solos ocorrem na forma de complexos orgânicos. Portanto, a
atividade microbiana no solo favorece a solubilidade desses micronutrientes
pela produção de grande quantidade de compostos orgânicos solúveis.
Os íons Cu2+ , Mn2+ e Zn2+ são adsorvidos às superfícies de óxidos de Fe
e de Al e da matéria orgânica de acordo com a seguinte representação:

(18.6)

(18.7)

As ligações dos íons adsorvidos com os oxigênios da superfície são de


caráter mais covalente do que iônico, formando ligações de grande
estabilidade, ou seja, as ligações entre o íon e a superfície são muito fortes.
Este tipo de adsorção é denominado de complexo de superfície (ou de esfera
interna).
Como no caso do B, as reações 18.6 e 18.7 possibilitam concluir que:
a) o aumento do pH provoca maior adsorção ou diminuição dos teores
na solução;
b) quanto maior o teor de óxidos e de matéria orgânica do solo, tanto
maior a sua capacidade de adsorver os metais adicionados como
adubo e, portanto, menor a quantidade que permanece na solução;
c) apesar de a maior parte destes elementos adicionados ao solo ser
adsorvida, pois as reações 18.6 e 18.7 tendem para a direita, a
adição dos mesmos aumenta o seu teor na solução
proporcionalmente à quantidade adicionada ao solo; e

242
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

d) os íons adsorvidos tendem


a repor na solução
quantidades semelhantes
às extraídas pelas plantas,
sendo portanto reserva
destes íons nos solos.
Nas Figuras 18.3 e 18.4 são
mostrados os efeitos da quantidade
de Zn adicionada, do pH e do teor
de óxidos e de matéria orgânica na
adsorção de Zn em alguns solos.
Quanto mais forte a ligação
entre os íons e os oxigênios das
superfícies de óxidos e de matéria
orgânica, maior é a afinidade do íon
pela superfície, isto é, mais o íon
tende a ser adsorvido. Tem sido observado que a ordem de afinidade é
geralmente: Cu2+ > Zn2+ > Mn2+ . Os dados da Figura 18.5 mostram este fato.
Os íons Cu2+ Mn2+ e Zn2+ podem ainda ser adsorvidos eletrostaticamente
às cargas negativas das superfícies das argilas e da matéria orgânica e,
portanto, participar de reações de troca de cátions. Contudo, devido às baixas
concentrações na solução dos solos, é geralmente insignificante a adsorção

FIGURA 18.3

Adsorção de Zn num cambissolo (Bom Jesus) após a adição de três níveis de Zn, em
função do pH da solução [18.4].

243
Carlos Alberto Bissani et al.

FIGURA 18.4 Relações entre o Zn adsorvido em pH 5,5 que mantém 0,5 mg/L na
solução e os teores de óxidos de Fe e Al (extraíveis com oxalato de
amônio) (a) e de matéria orgânica (b), em vários solos do RS [18.4].

F I G
UR A
18 .5

E f ei
t o d
o p
H de um solo Latossolo Vermelho amarelo (cerrado) nas concentrações de Mn, Zn,
e Cu em solução de KCl 1 mol/L (dados de Depto de Solos, UFRGS - 1978).

244
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

eletrostática destes cátions nos solos, predominando a adsorção de caráter


mais covalente. Uma excessão é o Mn que, em solos muito ácidos e com alto
teor de Mn total, pode ocupar, como cátion adsorvido eletrostaticamente (íon
trocável - ou complexo de esfera externa), 20 a 30% das cargas negativas
(CTC) dos solos. Nestes casos, a concentração de Mn2+ na solução do solo é
em geral alta (1 mg/dm3 ou mais) e o elemento pode causar toxidez às
plantas mais sensíveis.
Além das reações de adsorção, o Mn2+ ainda pode reagir no solo
formando óxidos de Mn2+ (MnO2) bastante insolúveis, de acordo com a
reação:

Mn2+ + ½ O2 + 2 OH- W MnO2 + H2O (18.8)

O aumento do pH do solo, de acordo com a reação 18.8, provoca a


diminuição do Mn na solução do solo, à semelhança do efeito já discutido em
relação às reações 18.6 e 18.7. Além disto, a reação 18.8 mostra que a
diminuição do O2 (menor arejamento do solo ou encharcamento) provoca o
deslocamento da reação para a esquerda, com o conseqüente aumento do
Mn2+ na solução (redução do Mn4+ a Mn2+ ). A reação de redução do Mn4+ é,
em solos alagados, intermediada por microrganismos anaeróbios. Um dos
efeitos negativos do encharcamento ou alagamento sobre as plantas, além da
falta de oxigênio para a respiração das raízes, é a elevação dos teores de Mn
na solução até níveis que podem ser tóxicos para algumas espécies de plantas
(Capítulo 15 - p. 203).

18.3.3 Ferro

O Fe na solução do solo ocorre principalmente na forma de complexos


solúveis orgânicos e inorgânicos e também como íon Fe3+ . Se há falta de
oxigênio, ocorre ainda Fe2+ na solução do solo (Capítulo 15).
O Fe pode participar de reações de adsorção semelhantes às mostradas
para Cu, Mn e Zn. Porém, as reações de precipitação de Fe na forma de
óxidos são as mais importantes:

2Fe3+ + 6OH- W Fe2O3 + 3H2O (18.9)

O Fe2O3 (hematita ou outro óxido-hidróxido de Fe) é muito pouco


solúvel e, portanto, a reação 18.9 tende muito para a direita. Como

245
Carlos Alberto Bissani et al.

conseqüência, as concentrações de Fe3+ na solução são muito baixas e


diminuem mais ainda com o aumento do pH.
A atividade microbiana pode aumentar a concentração de Fe na solução
dos solos devido à formação de complexos orgânicos solúveis.
Em solos com deficiência de oxigênio, como nos solos encharcados ou
alagados, o Fe+ é reduzido a Fe2+ pela atividade microbiana. Como os
compostos de Fe2+ são mais solúveis que os de Fe3+ há um aumento
considerável de Fe na solução nestas condições (Capítulo 15 - p. 203).

18.3.4 Molibdênio

O Mo ocorre em pequena quantidade na solução dos solos na forma de


ácido molíbdico (H2 MoO4 ) não dissociado e em maior proporção como ânions
HMoO4 - e MoO4 2-, sendo que este último predomina em condições de pH maior
do que 5,5.
O Mo no solo pode formar molibdatos insolúveis com Fe e Al ou ser
adsorvido às superfícies de óxidos destes metais, formando complexos de
superfície, conforme mostrado no equilíbrio 18.10.

(18.10)

O equilíbrio 18.10 mostra que o aumento do pH provoca o aumento de


Mo na solução, diminuindo a adsorção. A correção de solos ácidos pela
calagem aumenta, portanto, a disponibilidade de Mo. Diferentemente do que
ocorre com o boro e os metais Cu e Zn, a matéria orgânica não adsorve o Mo.
A atividade microbiana pode aumentar o teor de Mo na solução dos
solos devido à capacidade de alguns ânions orgânicos formados, como
malatos, oxalatos, etc., deslocarem o Mo adsorvido para a solução, ocupando
estes compostos
orgâ nicos o local
antes ocupado por
M o na superfície
dos óxidos.

246
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

18.4 Disponibilidade de micronutrientes para as plantas

Tendo em vista as reações químicas e os processos microbiológicos que


ocorrem no solo, a disponibilidade de
micronutrientes para as plantas
depende principalmente do pH e de
outros componentes do solo que afetam
a sua solubilidade (M.O. e minerais). A
Figura 18.6 mostra a variação da
disponibilidade de Cu, Zn, Mn, Fe, B e
Mo em função do pH do solo.
Em geral, as condições que
favorecem a manifestação de deficiência
de micronutrientes em solos são:
a) boro: cultivo de espécie
exigente (alfafa, girassol, etc),
solos arenosos, período de
seca e pH alto do solo;
b) cobre: solos orgânicos, pH alto
do solo e solos arenosos;
c) zinco: pH alto do solo, material de origem com baixo teor de Zn e
solos arenosos;
d) molibdênio: pH baixo do solo, material de origem com baixo teor de
Mo e solo com alto teor de óxidos de Fe;
e) manganês: pH alto do solo e solos arenosos; e
f) ferro: solos alcalinos (pH >8,5).
Devido ao baixo pH natural, à mineralogia e aos processos de formação,
os solos dos estados do RS e de SC em geral não apresentam deficiências de
Zn, Cu e B [17.5; 17.6; 17.7; 18.5; 18.11]. O Mn em muitos casos é tóxico.
Em solos arenosos pode eventualmente ocorrer deficiência de Mo para
leguminosas, como foi observado num PVd arenoso (unidade de mapeamento
S. Pedro) na cultura da soja no RS [18.7]. A elevação do pH do solo pela
calagem aumentou a disponibilidade desse micronutriente, com crescimento
normal das plantas.
Os solos da região dos cerrados freqüentemente apresentam deficiência
de micronutrientes, principalmente Zn, Cu e B [18.6]. Adubos minerais são em
geral formulados com micronutrientes para utilização nestas áreas.

247
Carlos Alberto Bissani et al.

FIGURA 18.6

Variação na disponibilidade de
micronutrientes para as plantas em
função do pH do solo.

18.4.1 Avaliação da disponibilidade de micronutrientes para as plantas

A disponibilidade de micronutrientes pode ser avaliada por soluções


extratoras. A tendência de formação de complexos e quelatos com radicais
orgânicos sugere que substâncias quelatantes, como EDTA (ácido etileno-
diamino-tetraacético), seriam bons extratores de Zn, Cu, Mn e Fe. Em alguns
casos, estes extratores são utilizados nas análises. Em solos ácidos,
entretanto, os quelatantes apresentam correlação semelhante à obtida com
o uso de soluções ácidas diluídas, como HCl 0,1M ou H2SO4 0,0125M + HCl
0,05M [18.8]. Além de ter menor custo, estas soluções ácidas extraem
quantidades maiores dos metais, facilitando a determinação por
espectroscopia de absorção, sendo as quantidades extraídas semelhantes
[18.12].
Nos estados do RS e de SC são utilizadas soluções ácidas para extração
de Cu e Zn e água quente para extração de B (Capítulo 6). Esta extrai formas
solúveis de B.
As quantidades de micronutrientes extraídas devem ser correlacionadas
com as respostas das plantas. Na Figura 18.7 é mostrado o estabelecimento
de teor crítico (nível crítico) para a determinação de Zn em solo de cerrado.

248
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

FIGURA 18.7

Estabelecimento do teor de suficiência de Zn em milho no solo LE argiloso de


Planaltina [18.9].

Na Tabela 7.8 (p. 75) é dada a interpretação dos teores de Zn, Cu e B


para os solos dos estados do RS e de SC. As classes de interpretação indicam
as probabilidades de resposta à adição de micronutrientes. Solos com teor
considerado médio têm baixa probabilidade de resposta, devendo-se
entretanto, considerar o pH do solo e a exigência específica de algumas
culturas.
Na Figura 18.8 são mostrados os resultados de levantamento dos teores
de Zn, Cu e B em solos do estado do RS. Pode-se observar que poucas
amostras apresentam teores menores que 0,3 mg/kg de B, 0,4 mg/kg de Cu
e 0,5 mg/kg de Zn (limites superiores da faixa "médio" na interpretação).
Acima destes valores da análise do solo, a probabilidade de resposta à adição
de micronutrientes é muito baixa para a maioria das culturas.
Devido à diversidade dos fatores que afetam a disponibilidade dos
micronutrientes, a análise do solo é somente um indicativo da probabilidade
de resposta das plantas. Fatores de solo, clima e planta podem alterar as
respostas esperadas. Em casos de obtenção de teores baixos na análise, e em
áreas em que a resposta não é comum, aconselha-se um teste prévio, em
pequena área da lavoura. Deve-se fazer neste caso a quantificação efetiva da
resposta em rendimento (não no aspecto visual), para julgar a conveniência
de aplicar o micronutriente em toda a lavoura.
A interpretação dos resultados das análises de micronutrientes em
outros estados do Brasil pode diferir dos índices utilizados nos estados do RS
e de SC, sendo em geral os valores mais elevados para as mesmas classes de
interpretação nos casos de Cu e Zn [18.10; 18.6].

249
Carlos Alberto Bissani et al.

FIGURA 18.8 Teores de Zn e Cu extraídos com HCl 0,05 mol/L + H2SO4 0,0125
mol/L de 708 amostras e B extraído com água quente de 634 amostras
de solos do Estado do RS [18.11; 18.3].

18.5 Fontes e formas de micronutrientes

Na Tabela 18.3 são dadas as principais fontes e formas de


micronutrientes utilizadas no Brasil. Outros materiais podem também ser
utilizados, dependendo do custo.
As formas solúveis são geralmente utilizadas nas misturas com outros
fertilizantes e no preparo de soluções para aplicação foliar. Os óxidos são em
geral mais baratos, devendo, entretanto, ser aplicados em pó, em solos
ácidos. Em solos alcalinos não são eficientes.
Os quelatos em geral são mais caros, sendo mais indicados para solos
alcalinos. Em aplicações foliares têm eficiência comparável às soluções de sais
solúveis.
Os óxidos silicatados são obtidos pela fusão dos respectivos óxidos com
sílica formando um vidro (solução sólida). Para serem eficientes devem ser
aplicados em pó e em solos ácidos. Estes são comercializados como "fritas"
(F.T.E. - frited trace elements).
Alguns adubos e corretivos utilizados no suprimento de macronutrientes
contêm também alguns micronutrientes como impurezas (este fato é

250
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

geralmente utilizado como argumento para venda). Deve-se, entretanto, fazer


o cálculo das quantidades realmente adicionadas. Por exemplo, um vendedor
de calcário de origem marítima alega que seu produto contém 20 mg/kg de
Zn, e que a aplicação de 500 kg/ha pode suprir a necessidade das plantas.
Um simples cálculo mostra que são adicionadas somente 10 gramas de Zn por
hectare, ou 0,02 mg/kg. Se o solo já era deficiente em Zn, continuará sendo.

TABELA 18.3 Teores mínimos das principais fontes de micronutrientes utilizadas


no Brasil [19.1]

Teor do
Fonte Produto Observações
elemento (%)
Solúveis
B H3 BO3 - ácido bórico 1713 -
Na2 B4 O7 - tetraborato de Na (bórax) -
Cu CuSO4 .5H2O - sulfato de Cu 24 11% de S
Zn ZnSO4 .H2 O - sulfato de Zn 20 9% de S
Mn MnSO4 .H2 O - sulfato de Mn 26 16% de S
Fe FeSO4 .H2 O - sulfato ferroso 19 10% de S
Mo Na2 MoO4 .2H2 O - molibdato de sódio 3952 -
(NH4 )6 Mo7 O24 .4H2 O - molibdato de 5-7% de N
amônio
Óxidos
Cu CuO - óxido cúprico 70
Zn ZnO - óxido de Zn 72
Mn MnO - óxido de Mn 50
Quelatos
-1
vários quelatantes (EDTA, DTPA, etc.) variável
-1
vários quelatantes naturais (poliflavonóides) variável
Insolúveis
-2
vários óxidos silicatados provenientes da variável
fusão de sílica com micronutrientes
(1)
Os quelatos devem apresentar os seguintes teores mínimos: 5% de Cu; 5% de Fe; 5% de
Mn; ou 7% de Zn. Cada quelato deve conter apenas um micronutriente.
(2)
Os teores mínimos dos silicatos contendo micronutrientes (fritas) são: 1% de Cu; 2% de
Mn; 2% de Fe; 3% de Zn; 0,1% de Mo; 0,1% de Co e 1% de B. Os produtos devem conter
no mínimo dois micronutrientes.
Observação: as fórmulas NPK com micronutrientes devem conter os teores expressos pelos
respectivas garantias.

251
Carlos Alberto Bissani et al.

18.6 Adubação com micronutrientes

Os micronutrientes solúveis ou quelatados podem ser aplicados em


pulverização, via foliar, conforme foi estudado no Capítulo 16. Podem ser
também misturados com adubos que suprem macronutrientes, como é
normalmente praticado com fórmulas NPK na região dos cerrados.
As quantidades a aplicar variam com o tipo de solo, necessidade da
cultura, forma do micronutriente, etc. Como orientação geral pode-se adotar
os seguintes valores, para aplicação no solo: boro: 20 kg/ha de bórax; cobre:
5 a 10 kg/ha de CuSO4 ; zinco: 5 a 10 kg/ha de ZnSO4 ; molibdênio: 0,5 a 1,0
kg/ha de molibdato de amônio. Em geral, menores doses são indicadas para
aplicação foliar (Tabela 16.4 - p. 216). Em alguns casos, a adição de
pequenas quantidades do elemento (molibdênio, por exemplo) nas sementes
é suficiente para suprir as necessidades das culturas [18.7].
As recomendações de adubação com micronutrientes são em geral
regionalizadas. Nos estados do RS e de SC é recomendada a adição de B em
alfafa, B e Mo em couve-flor e pulverizações em algumas frutíferas [1.7].

18.7 Você sabia ?

18.7.1 O "supermagro"

É um adubo com micronutrientes de uso popular e fabricação caseira,


em que micronutrientes (sais solúveis) são adicionados ao esterco (com
bastante água), sendo fermentado a seguir. Nesta fermentação anaeróbia são
formados ácidos orgânicos que complexam micronutrientes (quelatos
orgânicos).

252
19
Fertilizantes e Formulações
Comerciais
_________________________
m capítulos anteriores foram vistas a composição química e as

E características das principais substâncias minerais e orgânicas que


podem ser utilizadas como fertilizantes. A legislação brasileira define
fertilizante como qualquer substância mineral ou orgânica, natural ou
sintética, capaz de fornecer um ou mais dos nutrientes essenciais às plantas.
O valor fertilizante de um adubo depende:
a) do teor total de nutrientes contidos no material fertilizante; e
b) da sua solubilidade no solo.
O teor total do nutriente no adubo pode ser expresso em porcentagem
do elemento (m/m), como no caso de nitrogênio (% de N), ou em
porcentagem do óxido, nos casos do fósforo (% de P2 O5 ) e do potássio (%
de K2O).
Os fertilizantes podem ser comercializados nas formas farelada,
granulada, em pó ou fluida. Podem se apresentar como fertilizantes simples
ou misturas (que constituem os fertilizantes mistos e formulações comerciais).

19.1 Fertilizantes simples, misturas, complexos e formulações


comerciais

Os fertilizantes minerais podem ser classificados como:


a) fertilizantes simples: podem se apresentar na forma de pó, farelada,
de cristais ou de grânulos. São adubos que contêm um ou dois
macronutrientes primários. Por exemplo: sulfato de amônio (20% de

253
Carlos Alberto Bissani et al.

N); superfosfato triplo (41% de P2O5); cloreto de potássio (58% de


K2O);
b) fertilizantes mistos ou mistura de fertilizantes: são os fertilizantes
obtidos pela mistura de dois ou mais fertilizantes simples. Em geral
os fertilizantes mistos contêm os três macronutrientes primários:
nitrogênio (N), fósforo (P2O5) e potássio (K2O). Por exemplo: uma
mistura de sulfato de amônio (N) com superfosfato simples (P2 O5 ) e
cloreto de potássio (K2 O);
c) mistura de grânulos: é um produto obtido pela mistura mecânica de
fertilizantes simples já granulados em proporções calculadas para se
obter uma fórmula desejada. Nas misturas de grânulos, cada grânulo
contém um ou dois macronutrientes primários. Assim, numa mistura
de sulfato de amônio, superfosfato triplo e cloreto de potássio,
haverá grânulos constituídos somente de sulfato de amônio
(nitrogênio e enxofre), de superfostato triplo (fósforo) e de cloreto
de potássio (potássio);
d) adubo composto granulado: é o fertilizante que contém dois ou mais
macronutrientes primários em um só grânulo. São utilizados dois
processos para sua fabricação: a) aglomeração (granulação) de
misturas de adubos simples ou mistos em forma de pó, com
utilização de vapor d’água; e, b) utilização de reações químicas como
amonização ou acidulação, com o uso de materiais como amônia
anidra, ácido sulfúrico, ácido fosfórico e outros, para obter o
composto granulado com dois ou três macronutrientes no mesmo
grânulo. Conforme a legislação de fertilizantes, os adubos obtidos
pelo primeiro processo são denominados de misturas granuladas e
aqueles obtidos pelo segundo processo de complexos granulados; e,
e) formulações comerciais: as indústrias de fertilizantes produzem um
número elevado de formulações comerciais de adubos. Essas são
obtidas pela mistura de fertilizantes simples, geralmente granulados,
sendo o adubo identificado como mistura de granulados. São
comercializados, também, na forma de adubos compostos
granulados, quando contêm no mesmo grânulo, dois ou mais
macronutrientes, em geral nitrogênio, fósforo e potássio. A
concentração do fertilizante em NPK depende do tipo de matéria
prima empregada na mistura.
Na sacaria dos adubos comerciais sempre constam três números
separados por traços, que indicam, na ordem, a porcentagem de nitrogênio
(% de N), a porcentagem de fósforo (em P2O5) e a porcentagem de potássio

254
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

(em K2O) que a mistura contém.


Exemplo: um adubo comercial de fórmula 5-20-10 contém: 5% de N
(nitrogênio) + 20 % de P2O5 (fósforo) + 10 % de K2O (potássio).

19.2 Solubilidade de adubos fosfatados

Os adubos nitrogenados e potássicos comercialmente utilizados são


solúveis em água. O teor total do nutriente e o teor de nutriente solúvel
nestes casos são iguais. O mesmo não ocorre com todos os adubos
fosfatados.
O conteúdo de P2O5 do adubo fosfatado que é solúvel em solução de
citrato neutro de amônio e solúvel em água é totalmente disponível para as
plantas. O fósforo do superfosfato simples, por exemplo, é totalmente solúvel,
pois todo o seu conteúdo de P2 O5 é solúvel em citrato neutro de amônio mais
água (Tabela 19.1).
Os fosfatos naturais (Tabela 19.2) são insolúveis em água e são pouco
solúveis em citrato neutro de amônio. A sua eficiência como fertilizante é
avaliada pela sua solubilidade no ácido cítrico a 2% (relação 1:100) (ver
observação b, abaixo).
Com base em dados de pesquisa obtidos nos estados do RS e de SC,
pode-se utilizar os seguintes critérios para as recomendações de adubação
fosfatada:
a) P2O5 solúvel em citrato neutro de amônio + água para fosfatos
acidulados (superfosfatos, DAP e MAP), parcialmente acidulados e
misturas que os contenham;
b) P2O5 total para fosfatos naturais reativos (Gafsa, Arad, Marrocos).
Estes devem ser utilizados preferentemente em solos já adubados
com P e que apresentam acidez intermediária, caso o custo do kg de
P2O5 seja inferior ao dos fosfatos solúveis [10.1]. Podem ser
utilizados em forma farelada, que entretanto não é adequada para
a preparação de fórmulas; e
c) P2O5 solúvel em ácido cítrico a 2% (relação 1:100) para outros
fosfatos naturais, termofosfatos, escórias, farinha de ossos e
misturas que os contenham.
Não é aconselhado o uso de fosfatos insolúveis em água (fosfatos
naturais, termofosfatos, etc.) na forma granulada, pois a granulação diminui
sua eficiência agronômica, sobretudo para os primeiros cultivos após sua
aplicação.

255
Carlos Alberto Bissani et al.

TABELA 19.1 Principais adubos simples utilizados na formulação de adubos


comerciais [19.1] (garantias mínimas)

Teores de nutrientes
Adubo Características
(garantia mínima)
Uréia 45% de N N amídico
Nitrato de sódio 16% de N N nítrico
Nitrato de amônio 32% de N 50% N amoniacal e 50% N nítrico
Sulfato de amônio 20% de N N amoniacal; 22% de S

Nitrato de amônio e cálcio 20% de N 50% N amoniacal e 50% N nítrico;


2% de Ca

Nitrato de cálcio 14% de N N nítrico; 16% de Ca

Superfosfato simples 18% de P2 O5 P total solúvel em CNA(1) + água;


mínimo de 15% solúvel em água; 16%
de Ca; 8% de S

Superfosfato triplo 41% de P2 O5 P total solúvel em CNA + água;


mínimo de 36% solúvel em água; 10%
de Ca
Monoamônio fosfato 9% de N
(MAP) 48% de P2 O5 N amoniacal; P total solúvel em CNA +
água; mínimo de 44% solúvel em água

Diamônio fosfato 17% de N N amoniacal; P total solúvel em CNA +


(DAP) 45% de P2 O5 água; mínimo de 38% solúvel em água

Cloreto de potássio 58% de K2 O K total solúvel em água

Sulfato de potássio 48% de K2 O K total solúvel em água; 15% de S.

N nítrico e K total solúvel em água;


Nitrato de potássio 44% de K2 O 12% de N
(1)
CNA = citrato neutro de amônio.

19.3 Formulação de adubos

A formulação de adubos mistos consiste em calcular a proporção dos


componentes (adubos simples) que devem ser misturados para se obter uma
fórmula desejada. Na Tabela 19.1 são relacionados os adubos simples mais
usados na formulação dos adubos comerciais (fórmulas).

256
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

TABELA 19.2 Teores de fósforo total, solúvel em CNA, em ácido cítrico e em água
de alguns fosfatos naturais e parcialmente acidulados

Teor Solúvel em
Fosfatos total de
P2 O5 CNA(1) ácido cítrico(2) água
total
-------------------------------------%----------------------------------
Fosfato de Araxá 36 2 5 0
Fosfato de Patos de Minas 23 2 4 0
Fosfato de Jacupiranga 33 0 2 0
Fosfato de Olinda 26 1 5 0
Escória de desfosforização(3) 19 - 12 0
Fosf. de Gafsa (hiperfosfato) 27 6 13 0
F. de Arad 33 - 9 0
Fosfato natural reativo(3) 27 9 30 -
Fosfato natural
Termofosfato magnesiano 17 13 16 0
(1)
CNA = citrato neutro de amônio;
(2)
a 2% na proporção de 1:100 (adubo:solução);
(3)
Conforme referência [19.1].

Na formulação dos adubos mistos comerciais usam-se em geral quatro


fertilizantes: diamônio fosfato (DAP), superfosfato triplo, superfosfato simples,
e cloreto de potássio.
O diamônio fosfato é muito utilizado por ser um adubo simples que
contém no mesmo grânulo dois macronutrientes primários (17% de N e 45%
de P2 O5 ), o que é vantajoso porque reduz o custo da formulação.

19.4 Cálculo das misturas

Como as fórmulas são expressas pelas porcentagens dos


macronutrientes primários que contêm (%N, %P2O5 e %K2O), os cálculos são
feitos tomando-se como base 100 quilos de mistura. Por exemplo, para
calcular a composição de uma fórmula 5-20-10, isto é, que contém 5% de N,
20% de P2O5 e 10% de K2O, pode-se utilizar as fontes de nutrientes
relacionadas na Tabela 19.1. Pode-se utilizar, por exemplo, o sulfato de
amônio, o superfosfato triplo e o cloreto de potássio (teores dados na Tabela
19.1).
Os teores de N, P2O5 e K2O dos fertilizantes relacionados na Tabela 19.1
são as garantias mínimas estabelecidas pela legislação. Alguns fabricantes
comercializam produtos com alguns pontos percentuais acima desses valores,

257
Carlos Alberto Bissani et al.

como por exemplo: 45% de P2O5 para o superfosfato triplo, 60% de K2O para
o KCl, etc. O valor impressso nas embalagens deve ser utilizado nos cálculos
das formulações. Neste exercício os cálculos são:
1 - cálculo do N (5%):
100 kg de sulfato de amônio....................................20 kg de N
x....................................................................5 kg de N
x = 25,0 kg de sulfato de amônio
2 - cálculo do P2O5 (20%)
100 kg de superfosfato triplo..................................41 kg de P2O5
x................................................................20 kg de P2O5
x = 48,8 kg de superfostato triplo
3 - cálculo do K2 O (10%)
100 kg de cloreto de potássio...................................58 kg de K2 O
x.................................................................10 kg de K2O
x = 17,2 kg de cloreto de potássio
Assim, o total de fertilizantes usados nesta mistura será:
25,0 + 48,8 + 17,2 = 91,0kg
É necessário adicionar 100,0 - 91,0 = 9,0 kg de produto inerte (carga
ou enchimento) para se obter o total de 100 kg de mistura. A composição da
fórmula 5-20-10 será então:

Fertilizante N P2 O5 K2 O
25,0 kg de sulfato de amônio 5,0 - -
48,8 kg de superfosfato triplo - 20,0 -
17,2 kg de cloreto de potássio - - 10,0
9,0 kg de produto inerte (carga) - - -
100,0 kg de mistura 5,0 20,0 10

Pode-se também fazer os cálculos da mistura de tal forma que não seja
necessário usar produtos inertes (enchimentos), embora sua utilização seja
permitida pela legislação que regulamenta o comércio e fiscalização de
fertilizantes.
Para este caso deve-se utilizar fertilizantes que preencham as
proporções desejadas de nutrientes e que ao mesmo tempo possibilitem
completar os 100 quilos da mistura sem a necessidade de enchimento. Em
geral com a utilização de quantidades adequadas de superfosfato simples
(18% de P2O5) e superfosfato triplo (41% de P2O5) consegue-se formular sem
enchimento.

258
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

Assim, a fórmula 5-20-10 calculada acima pode ser formulada sem a


utilização de produto inerte. Utilizando o mesmo processo do cálculo anterior
calcula-se as quantidades de sulfato de amônio e de cloreto de potássio:
- 17,2 kg de cloreto de potássio
- 25,0 kg de sulfato de amônio
o que totaliza 42,2 kg. Os 57,8 quilos que faltam (100,0 - 42,2) devem ser
preenchidos com partes adequadas de superfosfatos triplo e simples, de modo
a obter os 20,0 kg de P2O5 necessários na fórmula.
Se utilizarmos a quantidade a preencher (57,8 kg) somente com
superfosfato triplo, teremos um excesso de P2 O5 na fórmula:
57,8 kg de superfosfato triplo x 41/100 = 23,7 kg de P2O5
Se por outro lado usarmos somente o superfosfato simples teremos uma
deficiência de P2 O5 :
57,8 kg de superfosfato simples x 18/100 = 10,4 kg de P2 O5
Utilizando-se um sistema de equações de 1º grau com duas variáveis,
obtêm-se as quantidades de superfosfato simples e triplo adequadas à
preparação da fórmula:
x + y = 57,8
0,41x + 0,18y = 20
Resolvendo as equações, temos:
41,7 kg de superfosfato triplo x 41/100 = 17,1% de P2 O5
16,1 kg de superfosfato simples x 18/100 = 2,9% de P2O5
57,8 kg da mistura de fosfatos = 20,0% de P2O5
A fórmula 5-20-10 sem adição de produto inerte (enchimento) ficará,
portanto, com a seguinte composição:

Fertilizante N P2 O5 K2 O
25,0 kg de sulfato de amônio 5,0 - -
41,7 kg de superfosfato triplo - 17,1 -
16,1 kg de superfosfato simples - 2,9 -
17,2 kg de cloreto de potássio - - 10,0
100,0 kg de mistura 5,0 20,0 10,0

19.5 Utilização de fertilizantes simples nas recomendações de


adubação

As recomendações de adubação dos laboratórios oficiais dos estados do


RS e de SC, com base nos resultados das análises de solo, são feitas em kg
de N/ha, kg de P2O5/ha e kg de K2O/ha. Há, portanto, necessidade de

259
Carlos Alberto Bissani et al.

transformar estes valores em kg/ha de fertilizantes comercializados em forma


de adubo simples, de adubo misto ou de fórmulas.
Em alguns casos é mais conveniente a utilização de adubos simples,
como:
a) necessidade de adubação com somente um nutriente;
b) adubação de cobertura com nitrogênio; e
c) falta de fórmula adequada no comércio.
No primeiro e no segundo casos é necessário somente calcular a
quantidade do adubo simples disponível a adicionar por hectare.
Exemplos:
a) se a análise indicar a necessidade de adubação com 120 kg de
P2 O5 /ha, a ser feita com superfosfato simples:
100 kg de superfosfato simples...............................18 kg de P2O5
x..............................................................120 kg de P2O5
x = 667 kg/ha de superfosfato simples
b) para aplicação de 50 kg de N/ha em cobertura utilizando-se a
uréia (45% de N):
100 kg de uréia........................................................45 kg de N
x...................................................................50 kg de N
x = 111,1 kg/ha de uréia
Para a mistura de adubos simples nas propriedades calcula-se a
quantidade de cada adubo independentemente. Assim, se a recomendação
é de 80 kg de P2O5/ha e 40 kg de K2O/ha, devendo-se utilizar o superfosfato
triplo e o cloreto de potássio:
a) Cálculo do fosfato:
100 kg de superfosfato triplo...................................41 kg de P2O5
x................................................................80 kg de P2O5
x = 195 kg/ha de superfosfato triplo
b) Cálculo do cloreto:
100 kg de cloreto de potássio..................................58 kg de K2 O
x.................................................................40 kg de K2O
x = 69,0 kg/ha de cloreto de potássio
Se a adubação for feita numa só operação, misturam-se 195 kg de
superfosfato triplo com 69 kg de KCl aplicando-se 264 kg/ha da mistura.

260
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

19.6 Utilização de formulações comerciais nas recomendações


de adubação

A disponibilidade de fórmula comercial adequada às recomendações


facilita a prática da adubação, principalmente quando há necessidade de
trabalhar com grandes quantidades de adubo.
O procedimento a seguir exemplifica como encontrar a fórmula
comercial que atenda às recomendações dos laboratórios:
1 - obter a relação básica entre as quantidades de N, P e K indicadas
pelas tabelas, dividindo-se as mesmas pelo máximo divisor
comum (mdc). Por exemplo, supondo que a recomendação da
adubação para uma determinada cultura seja a de aplicar 10 kg
de N/ha, 80 kg de P2O5/ha e 40 kg/ha de K2O:

N P2 O5 K2 O
mdc = 10 10 kg/ha 80 kg/ha 40 kg/ha
relação básica 1 8 4
2 - multiplicando a relação básica por fatores (de 2 a 5) encontram-se
as formulações comerciais que atendem às indicações das tabelas
de adubação:
- relação básica x 2: fórmula comercial 2-16-8
- relação básica x 3: fórmula comercial 3-24-12
- relação básica x 4: fórmula comercial 4-32-16
Têm-se assim, para este exemplo, três formulações comerciais
que poderão ser indicadas:
2-16-8 ou 3-24-12 ou 4-32-16
sendo que os números indicam as quantidades de N, P2 O5 e K2 O
em 100 kg de cada fórmula.
3 - a quantidade do fertilizante comercial que deverá ser aplicada por
hectare é obtida dividindo-se a quantidade recomendada de
qualquer um dos nutrientes pelo fator que a relação básica foi
multiplicada (neste exemplo utilizou-se os fatores 2, 3 e 4) .
Assim, para a fórmula 2-16-8, calculando-se pela quantidade
recomendada de N, teremos:
100 kg da formula….....................2 kg de N
x......................................10 kg de N
x = 500 kg/ha da fórmula 2-16-8
pois a aplicação de 500 kg/ha da fórmula 2-16-8 supre também:
5 x 16= 80 kg de P2 O5 /ha e 5 x 8 = 40 kg de K2 O/ha.

261
Carlos Alberto Bissani et al.

Para a fórmula 3-24-12, calculando-se pela quantidade necessária de


P2 O5 , temos:
100 kg da fórmula..............................24 kg de P2O5
x...............................................80 kg de P2 O5
x = 333,3 kg/ha da fórmula 3-24-12
Para a fórmula 4-32-16, calculando-se pelo K2 O, temos:
100 kg da fórmula...........................16 kg de K2O
x......................................=.....40 kg de K2O
x = 250 kg/ha da fórmula 4-32-16

Nestes cálculos, a quantidade do fertilizante a ser utilizada (kg/ha) deve


adicionar ao solo as quantidades recomendadas dos nutrientes (no caso
deste exemplo, 10 kg de N/ha, 80 kg de P2 O5 /ha e 40 kg de K2 O/ha).
Observação: fórmulas com mais de 50 a 55% na soma dos conteúdos
de N, P2O5 e K2O dificilmente poderão ser preparadas.
Devido à diversidade de situações que os solos apresentam em relação
à capacidade de suprimento de nutrientes e às diferentes exigências das
culturas, o número de fórmulas previstas nas tabelas de adubação é grande,
sendo algumas de difícil preparação, pela falta ocasional de matéria prima
(adubos simples). Por este motivo, é tolerável uma pequena variação (para
mais ou para menos) em relação às quantidades indicadas. Em solos com
teores baixos de P ou de K, é preferível indicar a adubação para mais [1.7].
Outros detalhes referentes ao manejo da adubação serão apresentados no
Capítulo 20.

19.7 Você sabia?

19.7.1 Adubo com micronutrientes

As fórmulas de adubos contendo micronutrientes, que são bastante


utilizadas na região dos cerrados brasileiros, devem expressar o teor dos
mesmos (na sacaria e nas notas fiscais). Por exemplo, um adubo de fórmula
2-25-20 com 2,0% de zinco e 0,5% de cobre deverá ser identificado como:
2-25-20 + 2,0 Zn + 0,5 Cu.

19.7.2 Cálculo de fórmulas de adubação, numa sequência de culturas

Calcule as fórmulas de adubação para a sequência de culturas indicada

262
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

no Capítulo 14 (p.194) (adubação de base e em cobertura). Nota: utilize a


concentração de nutrientes em adubos simples indicada no item 19.7.3 (a
seguir).

19.7.3 Cálculo do custo (aproximado) da adubação/calagem

O custo dos adubos depende das condições do mercado internacional,


tendo em vista que a maior parte deste insumo é importada. Por exemplo, o
custo de alguns adubos em fevereiro de 2008 em Porto Alegre era o seguinte
(em U$/ton): uréia (46% N) = 530; sulfato de amônio (21% N) = 372; nitrato
de amônio (34% N) = 550; DAP (18% N, 46% P2O5) = 850; MAP (13% N,
52% P2 O5 )= 860; superfosfato triplo (46% P2 O5 ) = 720; superfosfato simples
(20% P2 O5 ) = 320; fosfato de Gafsa (hiperfosfato) (9% P2 O5 sol.) = 340; KCl
(60% K2O) = 560; sulfato de potássio (50% K2O) = 805.
Calcule então os custos (aproximados) dos adubos formulados no item
anterior considerando o custo do calcário (PRNT 65, a granel) de R$ 35/t em
Pântano Grande (RS) e o transporte até Passo Fundo de R$ 40/t.

19.7.4 Cargas nas fórmulas (enchimento)

A legislação [19.1] possibilita a utilização de granilha (de rocha calcária),


quartzo, argila, saibro, vermiculita, pirofilita, filito e caulim como cargas em
fórmulas, desde que apresentem granulometria de partículas compatível com
o produto a que estiverem sendo adicionadas (no máximo 10%). Turfa,
farelos e tortas de origem vegetal ou estercos/camas de aviários podem
também ser utilizados.
É aconselhável, na medida do possível, não utilizar carga nas fórmulas.

19.7.5 Fórmulas disponíveis no mercado

No caso de indisponibilidade da fórmula correta no mercado, pode-se


optar por outra, com a relação básica semelhante. Por exemplo: a
recomendação de adubação de 20 kg de N, mais 100 kg de P2O5 mais 90 kg
de K2O (no plantio) (relação 1 : 5 : 4,5) poderia ser satisfeita com a aplicação
de 500 kg/ha da fórmula 4 - 20 - 18.
Caso seja disponível a fórmula 5 - 25 - 20, a quantidade a aplicar pode
ser calculada pela equação:

Q = (x/y) . 100

263
Carlos Alberto Bissani et al.

em que:
Q = quantidade de adubo (fórmula) a aplicar, em kg/ha;
x = somatório dos nutrientes recomendados;
y = somatório dos nutrientes na fórmula.
Neste caso:

Q = ((20 + 100 + 90) / (5 + 25 + 20)) . 100 = 420 kg/ha

Seriam aplicados, desta forma: 21 kg de N; mais 105 kg P2 O5 mais 84


kg de K2O (a quantidade de N pode ser ajustada na cobertura).

19.7.6 Compatibilidade entre fertilizantes

(Ver item 11.8.4 - p. 143)

264
20
Manejo da Fertilidade do Solo
_________________________
aior eficiência dos fatores de produção agrícola, principalmente de

M adubos e de corretivos, é obtida utilizando o solo conforme sua aptidão


agrícola.
Para o manejo adequado da fertilidade do solo devem ser estabelecidas
as doses, as fontes, as épocas e as formas de aplicação de adubos e de
corretivos de solo, visando à sua maior eficiência nas condições e sistemas de
cultivo da propriedade. Algumas dessas práticas de manejo foram estudadas
em capítulos anteriores. Neste capítulo, é apresentada uma abordagem mais
ampla da fertilidade de solo dentro da propriedade rural, considerando-se,
principalmente, os sistemas de preparo de solo.

20.1 Recomendações de adubos e corretivos na propriedade

As recomendações de doses de adubos e de corretivos de solo em uso


nos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina têm como base a
análise de solo e foram estabelecidas por curvas de resposta das culturas e
nas relações econométricas entre preços de produtos e custos dos insumos,
visando ao máximo retorno por área (Capítulos 9 e 13). As recomendações
foram inicialmente propostas considerando as técnicas convencionais de
preparo de solo. A orientação do técnico local é importante para o ajuste das
doses, em função do seu conhecimento da região e do manejo da
propriedade.
O efeito residual dos adubos e corretivos deve ser considerado no
programa de adubação de uma sucessão de cultivos, para aumentar a
eficiência destes insumos, evitando-se gastos desnecessários.

265
Carlos Alberto Bissani et al.

A Figura 20.1 mostra a situação de três glebas de lavoura, com


diferenças somente no teor de fósforo de um solo de classe 1 (gleba A, teor
alto; gleba B, teor médio; gleba C, teor muito baixo), sendo os teores de K e
MO médios. As recomendações para a seqüência de cultivos: soja (3 t/ha
após pousio), trigo (3 t/ha) e milho (6 t/ha) são apresentadas na Figura 20.1.
Verifica-se que as diferenças existentes, entre os teores de fósforo, indicam
recomendações de P2O5 variáveis entre 45 e 125 kg/ha para o primeiro cultivo.
Estas diferenças diminuem com no segundo cultivo. No terceiro cultivo, os
teores no solo já devem ser altos em todas as glebas (P e K). Desta forma,
pode-se tornar as lavouras mais uniformes e com níveis adequados de
fertilidade, possibilitando reduzir o número de amostras de solo e de
diferentes recomendações, e obter produtividade elevada e uniforme em
todas as glebas [1.7].

FIGURA 20.1

Representação gráfica
da utilização do sistema
de recomendação de
adubação de correção
gradual p ara uma
propriedade constituída
por 3 glebas de lavoura
(A, B, C) e 3 cultivos em
sucessão.

A situação descrita é tecnicamente correta, caso haja disponibilidade


adequada de recursos (próprios ou de crédito de custeio). Uma situação muito
freqüente, entretanto, é a falta de recursos para a adubação recomendada em
toda a área. Deve-se, neste caso, concentrar a adubação nas glebas em que
se espera maior retorno do recurso investido (maior declividade da curva de

266
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

resposta), mas em quantidade maior que a especificada pelo ponto “Q” da


Figura 13.1. No exemplo da Figura 20.1, a maior adubação deverá ser feita
na gleba C, e em segundo lugar na gleba B.
Os nutrientes a serem aplicados ao solo podem ser de fontes minerais,
orgânicas ou da mistura delas. Resíduos orgânicos, principalmente de origem
animal, como estercos de bovinos, de suínos e de aves, são boas fontes de
nutrientes, principalmente em pequenas propriedades, onde a diversidade de
atividades agro-pastoris é mais comum e o custo de transporte é baixo. Os
critérios para o cálculo da contribuição efetiva de adubos orgânicos como
fontes de nutrientes foram apresentados no Capítulo 14 (p. 194).

20.2 Manejo da fertilidade em diferentes sistemas de preparo


de solo

20.2.1 Preparo convencional

A incorporação de adubos e de corretivos no sistema convencional de


preparo é feita pelo revolvimento do solo antes de cada cultivo. A eficiência
dos diferentes modos de aplicação de adubos, para cada solo (a lanço, em
faixa, em linha ou em cobertura) e para cada cultivo (adubação de cultura),
depende da solubilidade dos adubos utilizados e da mobilidade dos nutrientes
no solo.
Os adubos nitrogenados geralmente apresentam eficiência semelhante,
devido à sua alta solubilidade e à formação de nitrato em solos bem
drenados. A aplicação superficial de uréia sem incorporação ao solo pode,
entretanto, provocar perda de N por volatilização de amônia, principalmente
em períodos de baixa precipitação (item 12.3.5 - p. 160). Na cultura do arroz
irrigado por alagamento, as perdas por desnitrificação podem ser reduzidas
pela utilização de fontes amídica ou amoniacal (Capítulo 15).
As diferentes fontes e modos de aplicação de adubos potássicos têm
apresentado eficiências semelhantes, em solos que não apresentam alto teor
de argilas expansíveis (2:1). Aplicações localizadas (em linha) de adubos
potássicos podem provocar perdas do nutriente (por lixiviação) e afetar a
germinação das sementes pela alta concentração de sais, principalmente em
solos arenosos. Nestes, podem ser praticadas as alternativas de misturar os
adubos com maior fração do solo e/ou fracionar a dose com aplicação parcial
no plantio e em cobertura.

267
Carlos Alberto Bissani et al.

Os superfosfatos (simples e triplo) e os fosfatos de amônio (DAP e MAP)


são muito solúveis; os fosfatos naturais e termofosfatos são, entretanto,
pouco solúveis. Na solução do solo, o fosfato (H2 PO4 -) tem pouca mobilidade,
devido à adsorção deste íon, principalmente em solos ácidos de regiões
tropicais e subtropicais. Desta forma, o manejo da adubação com o uso de
fórmulas comerciais depende da natureza do adubo fosfatado.
Para maior eficiência, os fosfatos naturais e termosfosfatos devem ser
aplicados na forma de pó e incorporados ao solo. A granulação destes adubos
ou sua aplicação de forma localizada (linha) diminuem a eficiência dos
mesmos. Os fosfatos naturais reativos podem, entretanto, ser aplicados na
forma farelada (grânulos de 0,5 a 3,4 mm) e apresentar boa eficiência.
Os fosfatos solúveis adicionados em doses baixas são mais eficientes
quando aplicados em linha, principalmente em solos com alta capacidade de
adsorção de P. Neste caso, a adsorção do fósforo pelo solo é menor, pois a
fração do mesmo que reage com o adubo é menor. Em doses mais altas,
entretanto, maior fração do solo deve ser fertilizada para possibilitar maior
contato do adubo com as raízes. Aplicações mistas, a lanço (com incorporação
do adubo) e em linha, podem ser mais eficientes neste caso, principalmente
em culturas de grande espaçamento entre fileiras, como milho, cana-de-
açúcar, fumo, etc.
A maior eficiência de fosfatos solúveis pode ser obtida pelo ajuste da
fração do adubo que entra em contato com o solo. Por exemplo, a aplicação
do fosfato em linha na cultura do milho proporciona somente 3 a 5% de
contato do adubo com o solo. Esta fração aumenta para 10 a 15% na cultura
da soja e para 20 a 30% no trigo, devido à redução da distância entre linhas.
A incorporação do adubo em faixas de 20 cm de largura na linha de plantio
do milho equivale a uma fração fertilizada semelhante à aplicação na linha de
semeadura do trigo. No caso de solos com teores de P muito baixos, devido
à necessidade de grande quantidade de fertilizante, deve-se aliar a aplicação
a lanço com a aplicação em linha. Se todo o fertilizante for aplicado em linha,
a eficiência da adubação fosfatada pode ser menor, especialmente em anos
de baixa precipitação.

20.2.2 Preparo conservacionista

As técnicas conservacionistas de preparo do solo, e em especial o


sistema plantio direto, têm sido incentivadas nos últimos anos, com a
finalidade de reduzir a degradação do solo. A variação espacial das
características físicas, químicas e biológicas do solo no sistema plantio direto,

268
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

é maior do que no solo em preparo convencional. O manejo da fertilidade do


solo e da adubação deve ser, portanto, adaptado a estas práticas de uso do
solo.

20.2.3 Caracterização do solo no sistema plantio direto

A deposição de resíduos das culturas na superfície do solo diminui a


taxa de decomposição da matéria orgânica e a liberação de nutrientes no
solo.
No sistema plantio direto ocorre maior acidificação na superfície do solo,
devido à decomposição dos resíduos e à nitrificação de adubos amoniacais (ou
uréia), formando uma frente de acidificação, que se aprofunda no perfil do
solo, com o tempo. A magnitude deste processo depende principalmente da
dose e da fonte do adubo nitrogenado aplicado. À medida que o pH diminui,
pode ocorrer um aumento de alumínio trocável.
Nos sistemas em que o solo é menos mobilizado, ocorre a acumulação
de nutrientes na superfície, devido à adição superficial de adubos e de
calcário, além da própria ciclagem dos nutrientes pelas plantas (resteva). A
redistribuição de nutrientes no perfil do solo no sistema plantio direto pode
ocorrer pela lixiviação de compostos orgânicos solúveis. A magnitude do
processo de redistribuição depende também de variáveis de natureza física,
como a disponibilidade de água, a variação de temperatura, a permeabilidade
e a aeração do solo, entre outros fatores.
Aumentos consideráveis no teor de carbono orgânico estável são
detectáveis após aproximadamente 4 a 6 anos [20.1; 20.4; 20.6],
principalmente na camada de zero a 2,5 cm de profundidade. Com o passar
do tempo, esse efeito pode ser detectado em maior profundidade, podendo
atingir até 20 cm em 15 anos de utilização do plantio direto, dependendo do
sistema de rotações de culturas. Isto provoca o aumento da atividade
biológica (microflora e mesofauna) e modificações nas propriedades físicas e
químicas do solo.
A concentração de fósforo na camada superficial do solo (zero a 2,5 cm)
também aumenta com a utilização continuada do sistema plantio direto. A
concentração deste nutriente diminui com mobilização do solo (Figura 20.2).
Preparos de solo com mobilização anual (verão ou inverno) promovem maior
uniformização do teor de fósforo no solo, reduzindo a concentração de P na
camada de zero a 5 cm. A não mobilização do solo reduz a adsorção do
fósforo, com maior efeito residual da adubação fosfatada.

269
Carlos Alberto Bissani et al.

Cálcio, magnésio e potássio são também acumulados na camada


superficial do solo em sistema de plantio direto, mas em menores quantidades
do que o fósforo (que é retido por adsorção química). Para estes cátions, a
tendência é de maior gradiente para o cálcio, seguido do magnésio e do
potássio. Este comportamento está relacionado às suas afinidades pelos sítios
de troca, ou energias de ligação (Ca>Mg>K).
A maior concentração de nutrientes na camada superficial do solo pode
provocar maior crescimento superficial de raízes, sendo prejudicial em casos
de deficiência hídrica. A tolerância das plantas ao estresse hídrico aumenta
com o crescimento de raízes em camadas mais profundas do solo, que
depende dos teores de cálcio (principalmente) e de fósforo no perfil.

270
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

FIGURA 20.2 Distribuição dos teores de fósforo e de potássio no perfil do solo após
sete anos de implantação dos sistemas de preparo (PC = preparo
convencional; PD = plantio direto) [20.4].

20.2.3.1 Adubação e calagem

A amostragem de solo em sistemas conservacionistas requer maiores


cuidados para a coleta, devido à formação de gradientes de fertilidade, pela
aplicação localizada de fertilizantes e de corretivos, sem revolvimento do solo.
A s
aná
lise
s
dev
em
indi
car
ond
e
o s
adu
bos
e
o s
cor
reti
vos se localizam no perfil do solo. Isto significa que as amostras devem
possibilitar o conhecimento das características químicas no perfil do solo.
Para a recomendação de adubação no sistema plantio direto
consolidado, a amostragem do solo deve ser feita na profundidade de zero a
10 cm (Capítulo 6 - p. 55).
O estabelecimento da dose de nitrogênio a aplicar deverá considerar,
além do teor de matéria orgânica do solo, a espécie (leguminosa ou
gramíneas) e a produção de biomassa da cultura anterior. Esses fatores
determinam o potencial de mineralização ou de imobilização líquida de N
durante o processo de decomposição dos resíduos culturais, o que irá
determinar a disponibilidade líquida de N à cultura (Capítulo 12 - p. 157).
Aproximadamente um terço da dose de nitrogênio deverá ser aplicada
na implantação da cultura e o restante em cobertura na fase recomendada do
ciclo das culturas. Com a utilização de leguminosas (ou crucíferas, como por

271
Carlos Alberto Bissani et al.

exemplo, o nabo forrageiro), a dose de N a ser aplicada pode ser reduzida,


bem como a aplicação de nitrogênio na semeadura pode ser eliminada, ou ao
menos, reduzida. Atualmente são utilizadas recomendações de N adaptadas
ao sistema plantio direto e ao tipo de cultura anterior para culturas de grãos.
No caso do milho são considerados o potencial da cultura antecessora em
fornecer nitrogênio (conforme a espécie da cultura e da produção de
fitomassa); para as culturas de inverno, a dose recomendada de N depende
da cultura anterior de verão.
Recomenda-se que a aplicação dos corretivos da acidez, em solos a ser
cultivados sob cultivo mínimo e no sistema plantio direto, seja feita na
implantação dos sistemas. Os corretivos devem ser incorporados de forma
uniforme na camada arável, pelas operações de preparo do solo.
Os resultados de pesquisa [20.2; 20.5; 20.7] indicam que a aplicação
de corretivo pode ser feita sobre a superfície do solo em áreas anteriormente
corrigidas, conforme as doses indicadas na Tabela 9.5 (p. 108). Este
procedimento é utilizado para compensar os processos de reacidificação, em
gradiente, a partir da superfície do solo, no sistema plantio direto. As
quantidades e o intervalo a aplicar são baseados nos resultados das análises
do solo, da camada superficial. Deve-se considerar também o tipo de solo, e
a adubação nitrogenada. Havendo disponibilidade de máquinas de semeadura
direta que possibilitem a utilização de corretivo finamente moído na linha, a
aplicação poderá ser efetuada por ocasião da semeadura [1.7].
A aplicação do corretivo a lanço na superfície ou em doses menores na
linha de semeadura, por ocasião da implantação do sistema plantio direto em
solos de campo nativo ou em pousio, propicia tambem aumento no
rendimento, em níveis inferiores aos obtidos com a correção integral da acidez
na camada arável do solo. A eficiência dessas práticas depende do tipo de
solo (textura), da disponibilidade de nutrientes e das condições climáticas. As
quantidades de corretivos e os critérios a serem observados para a correção
da acidez foram apresentados no Capítulo 9 (p. 109).

20.2.3.2 Rendimento das culturas

As vantagens do sistema plantio direto sobre o preparo convencional do


solo são observadas desde o início da implantação do sistema, em termos de
economia de combustível, de manutenção dos equipamentos e de tempo
gasto nas operações de máquinas. As modificações nas condições físicas e
químicas do solo são lentas.

272
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

As diferenças devidas ao preparo do solo no rendimento das culturas


têm sido observadas geralmente nos cultivos de verão. Os rendimentos no
sistema plantio direto foram um pouco superiores, na média de sete anos no
estado do Paraná (Figura 20.3) e dez anos no estado do Rio Grande do Sul
(Figura 20.4). Para cultivos de inverno, as diferenças tem sido pequenas, não
existentes ou até superiores no preparo convencional.
Os maiores benefícios do sistema plantio direto são devidos ao efeito no
controle da erosão do solo e na recuperação das características físicas,
químicas e biológicas degradadas pelo uso continuado no preparo
convencional. O sistema plantio direto é mais complexo e exige um nível de
manejo mais adequado do solo e dos cultivos. Requer programação da área,
análise de solo, utilização de corretivos e fertilizantes para melhoria da
fertilidade do solo, operações de descompactação na fase de implantação,
rotação de culturas, equipamentos adequados, bom conhecimento do controle
de invasoras, pragas e doenças, além da observação e acompanhamento das
lavouras na propriedade. Não dispensa entretanto, as práticas
conservacionistas como preparo e semeadura em contorno e terraceamento,
os quais, entretanto, deverão ser redimensionados em função das
características deste sistema de manejo do solo.

20.3 Manejo de culturas de cobertura e a fertilidade do solo

A utilização de culturas de cobertura no período em que o solo não é


utilizado com cultivos comerciais, além do controle da erosão, melhora a
fertilidade do solo. Isto é devido à reciclagem dos nutrientes, que se
perderiam por lixiviação ou por erosão superficial em solos sem cobertura
vegetal, e da adição de nitrogênio pela fixação biológica, no caso da utilização
de leguminosas.

273
Carlos Alberto Bissani et al.

FIGURA 20.3

Rendimento acumulado de grãos (soja,


cevada, trigo e milho), em sete anos, em
diversos sistemas de preparo do solo
[20.4].

As gramíneas semeadas após um cultivo de cobertura de solo por


leguminosas (trevo, tremoço, ervilhaca, chícharo, serradela, etc.) ou em áreas
mantidas em consórcio de gramíneas com leguminosas podem ter sua
necessidade de adubação nitrogenada diminuída em 50 a 70%. Os benefícios
das culturas de cobertura sobre a disponibilidade de fósforo e de potássio
podem ser observados a médio prazo e são devidos à reciclagem destes
nutrientes e às menores perdas por erosão. Tais benefícios são detectados
nas análises do solo, que em geral indicam maiores teores destes nutrientes.
As culturas de cobertura geralmente não são adubadas, pois utilizam o
efeito residual do adubo aplicado na cultura anterior. Em solos de baixa
fertilidade, quando as culturas são parte de programas de recuperação, os
adubos e corretivos devem ser adicionados para obter uma boa cobertura de
solo pelas plantas.
Os resultados de pesquisa indicam que a eficiência de liberação dos
nutrientes não é diferente se a cultura de cobertura é incorporada ou deixada
sobre o solo. No entanto, os benefícios do controle da erosão, do acúmulo de
água no perfil e da menor variação da temperatura de solo são maiores
quando os resíduos não são incorporados.
A utilização dos solos de regiões tropicais e subtropicais, onde os fatores
climáticos atuam mais intensivamente, requer sistemas agrícolas
conservacionistas visando à utilização racional do solo. Tais sistemas
requerem rotações de culturas e consorciações, com a utilização da cobertura

274
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

vegetal e dos seus resíduos, que melhoram as características dos solos e a


produtividade dos cultivos.

Figura 20.4

Rendimento médio de grãos (trigo


e soja) de dez anos, em diversos
sistemas de preparo de solo
[20.3].

Como exemplo pode ser citado o trabalho iniciado em 1983, na Estação


Experimental da UFRGS, em Eldorado do Sul (RS), onde estão sendo
estudados os efeitos de dez seqüências de culturas na recuperação de um
solo degradado [20.8]. As seqüências diferem na sua capacidade de cobertura
do solo e nos seus efeitos sobre a temperatura, umidade, estrutura, atividade
biológica e nas propriedades químicas do solo. A Tabela 20.1 mostra a
contribuição de nitrogênio para o crescimento do milho pelas seqüências de
culturas. A presença do trevo consorciado com a gorga elevou o rendimento
de milho de 1,94 t/ha (no sistema pousio/milho) para 4,79 t/ha sem a
aplicação de nitrogênio. A inclusão de outras leguminosas como a vica, o
lablabe e o guandu, proporcionou aumentos menores. Esses resultados dão
suporte à atual recomendação de N para a cultura do milho. As leguminosas
embora protejam menos o solo devido à rápida decomposição de seus
resíduos, suprem grande parte do nitrogênio para a cultura seguinte [20.15].

275
Carlos Alberto Bissani et al.

TABELA 20.1 Rendimento de milho (em t/ha) em diferentes sistemas de culturas


e doses de nitrogênio [20.5; 20.9]

Médias de 8 anos Só 5º ano


Sistemas de culturas
(1984 a 1992) (1989)
(inicio 1984)
Sem N 120 kg de N Sem N 120 kg de N
Pousio/milho 1,94 5,82 2,34 6,03
Aveia/milho 2,21 5,59 1,80 6,65
Aveia+vica/milho+caupi 3,40 5,35 4,65 6,90
Lablabe/milho 3,66 4,92 5,95 6,86
Aveia+trevo/milho 3,36 5,86 4,11 7,47
Guandu/milho(1) 4,13 5,79 6,20 6,88
Trevo+gorga/milho(2) 4,79 6,15 6,50 6,36
Descoberto (4 anos)/milho - - 1,90 6,65
Pangola (4 anos)/milho - - 2,47 6,79
Siratro (4 anos)/milho - - 8,22 7,73
(1) (2)
Médias de 7 anos Médias de 5 anos

20.5 Manejo da fertilidade do solo com “Agricultura de


Precisão”

O aumento da produtividade das culturas pode ser obtido pelo uso


racional dos insumos, sejam estes biológicos (sementes, variedades),
mecânicos (mecanização) ou químicos (herbicidas, fungicidas, inseticidas,
corretivos e fertilizantes) e pelo uso adequado da água (irrigação e manejo
para sua retenção no solo).
O aumento de produtividade, devido à dificuldade de expansão de
fronteiras agrícolas, tem gerado conflitos entre economia e ecologia. Um
destes é o uso incorreto de insumos, tanto em super como em subdosagem.
Assim como aumenta a produtividade, o uso de insumos tem sido identificado
como o principal fator de contaminação e de impacto sobre o solo e as águas.
A agricultura de precisão é um sistema de gerenciamento que visa à
racionalização da produção por meio de aplicação localizada da quantidade
realmente necessária de insumos. A aplicação localizada de insumos, em
função da necessidade e em local apropriado está fundamentada na
variabilidade espacial dos fatores que afetam a produtividade. As aplicações
de calcário e adubos são feitas, portanto, em quantidades variáveis dentro da
mesma lavoura, com base no conhecimento das coordenadas geográficas
(latitude e longitude) das áreas [20.14].
A agricultura de precisão é uma adaptação prática de gerenciamento
para lavouras mecanizadas de grande escala, onde é difícil dar um tratamento

276
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

especial para cada gleba, de modo semelhante ao praticado na agricultura


com tração animal ou mesmo em pequenas propriedades cultivadas com
tração mecanizada [20.11].
A agricultura de precisão é baseada em mapas de produtividade. Para
a obtenção dos dados e gerar os mapas, são necessários alguns
equipamentos sofisticados. O mapa é obtido por um conjunto de pontos, onde
cada ponto representa uma porção da lavoura delimitada pela largura da
plataforma de corte da colhedora. Em cada ponto é avaliada a quantidade e
umidade dos grãos colhidos, parâmetros da máquina como a largura útil de
trabalho e velocidade de deslocamento (avaliada por radar), bem como sua
posição geográfica por meio de DGPS (“Differential Global Positioning
System”). Os dados são coletados por sensores eletrônicos instalados na
colhedora, sendo possível obter produtividade de áreas variando de 7 a 40
m². Os dados obtidos são analisados por um programa de Sistema de
Informações Geográficas (SIG) e podem ser representados em mapas; o mais
simples pode ser elaborado pela classificação dos valores de produtividade em
intervalos distintos, referenciados por diferentes cores [20.10].
A aplicação localizada de insumos é baseada nos mapas de
produtividade. Antes devem ser descartadas outras possibilidades de
ocorrência de fatores que afetam a produtividade, como tipos diferentes de
solo, problemas físicos de solo (drenagem, compactação) ou de manejo das
culturas (erros de dosagem da semente, erros na adubação nitrogenada,
falhas na emergência, ataque localizado de pragas ou doenças).
Com base no mapa digital de produtividade da lavoura, podem ser feitas
amostragens de solo localizadas para avaliação da sua fertilidade,
determinando-se a necessidade de adubação para cada ponto. As quantidades
necessárias de insumos serão distribuídas por sistemas de aplicação localizada
e em taxas variáveis. Esses sistemas possibilitam a distribuição de insumos
com o equipamento distribuidor em movimento, porque as coordenadas
geográficas dos locais de aplicação (obtidas por DGPS), juntamente com a
velocidade de deslocamento da máquina e um mapa de recomendação da
quantidade de insumo, são processadas por um computador. Este envia
comandos para a máquina aplicar a quantidade adequada que aquela porção
específica do terreno deve receber [20.12].
Atualmente, há disponibilidade de equipamentos distribuidores de
calcário por gravidade e de calcário e adubo a lanço, os quais podem efetuar
aplicação em taxas variáveis no tempo e no espaço determinado. Ainda há
dificuldade de utilizar esta forma de distribuição de adubos com semeadoras-

277
Carlos Alberto Bissani et al.

adubadoras em linhas, que são as máquinas mais utilizadas na implantação


das culturas anuais produtoras de grãos.
A agricultura de precisão, também denominada de “Manejo Específico
das Áreas de Produção” requer entretanto boa capacitação profissional dos
técnicos e usuários e a integração multi e interdisciplinar entre diversas áreas
como solos, nutrição de plantas, mecanização, proteção e fisiologia vegetal,
geoprocessamento e computação [20.13].

20.6 Você sabia ?

20.5.1 Utilização de fórmulas erradas

Muitos agricultores não utilizam a análise do solo para a adubação,


aceitando as “sugestões” dos vendedores de adubo ou vizinhos. Uma fórmula
muito utilizada é a 5-20-20, que pressupõe quantidades iguais de P2 O5 e de
K2O, o que no estado do RS pode não ser o caso, conforme indicam as
Figuras 1.6 e 1.7. Calcule então o prejuízo (R$ gasto a mais) numa lavoura
de milho de 50 ha (1ª cultura após a resteva de trigo, nível de produtividade
esperado de 6 t/ha) em que o teor de P é “baixo” e o teor de K é alto (valores
típicos da região do Planalto), caso seja utilizada a fórmula acima para suprir
a necessidade de P da cultura (custo de adubos dado no item 19.7.3 - p.
263).

20.5.2 Nutrição mineral das plantas

Para seu crescimento, todas as plantas necessitam de sol, água e


nutrientes. Algumas plantas desenvolveram mecanismos de adaptação em
condições de “stress”, como: deficiência de umidade (plantas xerófitas -
cactus), salinidade (plantas halófitas), temperatura baixa (musgos na
Antartida) e deficiência de nutrientes. Neste último caso, a taxa de
crescimento é reduzida, como ocorre com as casuarinas nos costões rochosos
e praias de areia, em que os nutrientes provêm do intemperismo das rochas
e deposições naturais de N e S; mesmo assim, podem atingir 20 m de altura
em 20-30 anos, com morfologia adaptada aos ventos fortes do litoral.

20.5.3 Desuniformidade em solos adubados

278
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

A granulação dos fertilizantes facilita sua aplicação além de aumentar


a eficiência do P em solos ácidos (item 10.5.2 - p. 127). Esta prática,
entretanto, traz dificuldades para a coleta de amostras representativas da
fertilidade do solo. Para ter uma noção disto, calcule quantos grânulos de
adubo granulado conterá cada dm3 de solo (na camada de zero a 20 cm de
profundidade) após a aplicação de 250 kg/ha da fórmula 5 - 20 - 20,
incorporado ao solo (considerar as partículas de adubo como cubos de 3,5
mm de aresta e densidade de 1,7, para facilitar os cálculos). Quantas
partículas deste adubo serão depositadas em cada dm2 da superfície do solo,
com a aplicação superficial, a lanço, da mesma quantidade de adubo por ha?

20.5.4 Adubo “químico” ou adubo mineral?

Os adubos de natureza inorgânica são às vezes denominados,


erroneamente, de adubos “químicos”, em contraposição aos adubos de base
orgânica. Esta denominação é incorreta, pois os adubos orgânicos também
têm constituição química, são provenientes de processos químico-biológico,
etc. As denominações mais apropriadas, portanto, são: “adubos minerais” (de
natureza inorgânica, como por exemplo os superfosfatos, DAP, MAP, KCl,...)
E “adubos orgânicos” (por exemplo: compostos, estercos, camas de aviário,
etc.).

20.5.5 A uréia

A uréia é um composto nitrogenado de natureza orgânica (contém um


átomo de C, à semelhança do radical metila), de fórmula CO(NH2)2 (com
48,3% de N). É produzida no organismo dos mamíferos, como produto de
excreção de compostos nitrogenados (pela urina). Foi sintetizada pelo químico
Friedrich Wöhler em 1828, na Alemanha. Atualmente é o adubo nitrogenado
de maior utilização na agricultura; entretanto, seu uso é vedado na
“agricultura orgânica”.

279
21
Solos Afetados por Sais
_________________________
s solos salinos e alcalinos são caracterizados pelo acúmulo de sais em

O níveis prejudiciais às plantas, ocorrendo mais comumente em regiões


com baixa precipitação pluviométrica, geralmente menor que a
evapotranspiração. Nestas condições, ocorrem normalmente altos valores de
pH (>7,0) devido à reação alcalina dos sais.
Altos valores de pH do solo podem também ser atingidos pelo uso
inadequado de corretivos de acidez, resíduos alcalinos, ou alguns materiais
orgânicos.

21.1 Origem e acumulação dos sais

A presença de sais no solo pode ser devida a uma ou mais das


seguintes situações:
a) material de origem: sais provenientes do intemperismo de minerais
e rochas são transportados pela água, podendo ser acumulados em
áreas com drenagem deficiente;
b) água do mar: provoca a salinização dos solos de regiões costeiras
devido à maresia ou ocorrência de depósitos de sedimentos
marinhos, bem como das áreas sujeitas a inundações periódicas;
c) lençol freático: a oscilação do lençol freático é o principal fator de
acumulação de sais em regiões secas; a ascensão da água por
capilaridade causa a salinização da camada superficial após a
evaporação da água; a intensidade do processo depende do teor de
sais nas águas subterrâneas, velocidade de ascensão do lençol
freático e evapotranspiração potencial da região; em regiões úmidas,
este processo não é relevante, pois a precipitação supera a

279
Carlos Alberto Bissani et al.

evapotranspiração, predominando a lixiviação de sais para camadas


mais profundas;
d) eflorescências salinas: cristais de sais de áreas salinas podem ser
transportados pelo vento e contribuir para a salinização de outras
áreas; e
e) águas de irrigação: as águas de irrigação podem ser causa de
salinização, dependendo de seu teor de sais; além disso a irrigação
pode causar a elevação do lençol freático e a ascensão de sais; a
irrigação inadequada, com água em quantidade insuficiente para
provocar a lixiviação, tende a aumentar o teor de sais.
Os sais mais comuns em solos salinos são cloretos, sulfatos, nitratos,
carbonatos e bicarbonatos de íons alcalinos e alcalinos-terrosos. Os sais mais
nocivos são os de alta solubilidade, como cloretos e sulfatos de sódio e de
magnésio. O carbonato e o bicarbonato de sódio, além da alta solubilidade,
têm reação alcalina e promovem a elevação do pH do meio. Os sais pouco
solúveis, como os de cálcio, não chegam a atingir níveis prejudiciais às plantas
na solução do solo.

21.2 Caracterização dos solos salinos

As principais determinações utilizadas para caracterizar estes solos são


a condutividade elétrica do extrato de saturação, o pH e a porcentagem de
sódio trocável.

21.2.1 Condutividade elétrica (CE)

Íons em solução conduzem corrente elétrica. Quanto maior a


concentração salina, maior a concentração de íons e mais intensa a corrente
conduzida pela solução.
A unidade de expressão da CE é S/cm (Siemens/cm) (antiga mho/cm).
Na prática são utilizados seus submúltiplos mS/cm (milisiemens/cm = 10-3
S/cm) ou :S/cm (microsiemens/cm = 10-6 S/cm), dependendo da magnitude
da CE.

21.2.2 pH do solo

O valor do pH é uma indicação da atividade do íon H+ na solução do


solo. Como solos salinos são geralmente alcalinos, sua determinação é

280
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

importante para a caracterização do solo.

21.2.3 Porcentagem de sódio trocável (PST)

A PST indica a saturação do complexo de troca do solo com o íon sódio.


É obtida pela determinação da CTCpH 7,0 e do teor de Na trocável:

PST(%) = Na/CTCpH 7,0 x 100 (21.1)

Observa-se que para o mesmo teor de Na, tanto maior será a PST
quanto menor a CTC.

21.3 Classificação dos solos salinos

Com base nos parâmetros anteriormente apresentados, os solos podem


ser classificados conforme a Tabela 21.1.

21.3.1 Solos salinos

Nestes solos, a concentração de sais é elevada, a ponto de restringir o


desenvolvimento das culturas. Os sais predominantes são cloretos, sulfatos
e, em menores teores, bicarbonatos de cálcio e de magnésio. O teor de Na é
relativamente baixo. Podem ocorrer sais pouco solúveis, como CaCO3. Devido
à alta concentração de sais (CE >4 mS/cm), apresentam alta floculação de
colóides e, portanto, são bastante permeáveis não apresentando problemas
físicos.
Planossolos Hidromórficos sálicos e Gleissolos sálicos são exemplos
desta classe.

TABELA 21.1 Classificação dos solos em relação à salinidade e à alcalinidade [21.1]

Condutividade PST Condição física


elétrica (mS/cm) pH (%) do solo
Salino > 4,0 < 8,5 < 15 Normal
Sódico < 4,0 > 8,5 > 15 Ruim
Salino/sódico > 4,0 < 8,5 > 15 Normal

281
Carlos Alberto Bissani et al.

21.3.2 Solos sódicos

Nestes solos, o teor de Na é alto a ponto de causar problemas físicos e


químicos e de limitar o desenvolvimento das culturas.
O excesso de Na no complexo sortivo provoca a dispersão da argila e
diminuição da permeabilidade do solo. Em casos de maior sodicidade ocorre
a dispersão da matéria orgânica, com formação de humatos alcalinos, os
quais conferem coloração escura à superfície do solo. Dessa forma, fatores de
ordem física podem afetar as culturas nestes solos.
Os Planossolos Nátricos são exemplos desta classe.

21.3.3 Solos salinos-sódicos

Estes solos apresentam características semelhantes aos solos salinos,


porém têm maior concentração de Na. Devido à predominância de cátions
divalentes, apresentam boas condições físicas e alta permeabilidade. Não
ocorre deterioração da estrutura, pois o Na da solução tende a ser lixiviado
acompanhando o íon sulfato proveniente da solubilização do CaSO4 presente
no meio. Pertencem a esta classe os Gleissolos sálicos sódicos e os
Planossolos Nátricos sálicos.

21.3.4 Solos alcalinos

Enquadram-se nesta classe os solos com pH elevado (>7,0), porém com


baixas concentrações de Na e/ou sais solúveis. Na prática, esta condição pode
ser obtida com o uso de doses excessivas de corretivos de acidez ou de
outros materiais que possuam reação alcalina como, por exemplo, alguns
tipos de resíduos orgânicos (resíduos de curtumes, camas de poedeiras, etc.).

21.4 Efeitos da salinidade nas plantas

Os principais efeitos nocivos dos sais sobre as plantas são a elevação


da pressão osmótica da solução do solo, a interferência no metabolismo
vegetal e a toxicidade de alguns íons. Em alguns casos, problemas físicos,
como a desestruturação do solo, podem afetar o desenvolvimento radicular.
Em solos de pH elevado podem ocorrer deficiências de alguns
micronutrientes.

282
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

21.4.1 Elevação da pressão osmótica

A grande concentração de sais solúveis provoca a alta pressão osmótica


da solução do solo e a conseqüente diminuição do potencial hídrico do solo.
Com isso, as plantas absorvem menos água, mesmo em condições de boa
umidade no solo, podendo ocorrer a seca fisiológica. Em casos mais extremos
pode ocorrer a desidratação de células vegetais.
As plantas que crescem em meio salino apresentam adaptações para
diminuir o potencial osmótico de suas células, com elevação do gradiente de
potencial hídrico solo-planta, tanto nas espécies glicófitas (plantas suscetíveis
ao sal) como nas halófitas (plantas tolerantes ao sal).

21.4.2 Interferência no metabolismo vegetal

O excesso de sais pode causar modificações anatômicas e fisiológicas,


como alterações no metabolismo de carboidratos e de ácidos orgânicos,
inibição da síntese de proteínas e desequilíbrio entre cátions. Alguns efeitos
são devidos ao acúmulo de produtos tóxicos, às vezes provenientes do
ajustamento osmótico. Como conseqüência, também ocorrem a diminuição
das taxas de fotossíntese e de respiração.

21.4.3 Toxicidade de íons

Alguns íons podem apresentar efeito tóxico pelo acúmulo nos tecidos.
Os principais problemas são devidos aos íons Na+ e Cl-. Como exemplos de
culturas afetadas por íons têm-se:
- Na+ : citrus, videira, pessegueiro, feijão, morango;
- Cl-: abacate, citrus, videira, batata, fumo;
- NO3-: beterraba açucareira.

21.4.4 Diminuição da disponibilidade de nutrientes

O pH afeta a disponibilidade de vários nutrientes (Capítulo 18). Em


condições de alcalinidade (pH > 7,0), dependendo do tipo de solo e da
cultura, ocorre baixa disponibilidade de P e de micronutrientes (Zn, Cu, Fe e
Mn), devido à predominância de formas insolúveis. Nestes casos, a adubação
com sais solúveis destes elementos é pouco eficiente, pois estes serão
insolubilizados no solo. Assim, o suprimento deve ser feito por adubação foliar
ou pela adubação de solo com os elementos em formas quelatizadas, que são

283
Carlos Alberto Bissani et al.

menos suscetíveis às reações no solo (Capítulo 18).

21.4.5 Propriedades físicas

A dispersão das argilas e a conseqüente desestruturação do solo


propiciam condições inadequadas ao desenvolvimento radicular. Além disso,
é comum nestas situações a formação de crostas na superfície do solo,
dificultando ou impedindo a emergência das plântulas.

21.5 Tolerância das culturas aos sais

As plantas tolerantes à salinidade podem sobreviver e mesmo produzir


em solos salinos.
Há progressiva diminuição da produção com o aumento da salinidade.
Assim, por exemplo, o arroz irrigado pode ter uma redução de rendimento de
10% em solo com CE = 5 mS/cm, passando para 50% em solo com CE = 8
mS/cm. A classificação de diversas espécies de plantas quanto à sua
resistência à salinidade e ao íon Na+ é apresentada na Tabela 21.2.
A fase de germinação é o período crítico de desenvolvimento para a
maioria das espécies.

TABELA 21.2 Classes de tolerância das culturas à salinidade do solo

Moderadamente Moderadamente Sensíveis


Tolerantes
tolerantes sensíveis (0-4
(8-12 mS/cm)
(5-8 mS/cm) (4-6 mS/cm) mS/cm)
Centeio Centeio forrageiro Alfafa Macieira
Capim bermuda Brócoli Abóbora Feijoeiro
Algodão Aveia Couve-flor Cenoura
Tamareira Figueira Trevo Aipo
Beterraba Centeio Milho Arroz irrigado
Sorgo Alface Limoeiro
Soja Pepino Cebola
Capim sudão Ervilha Laranjeira
Cornichão Batata Pereira
Trigo Arroz Pessegueiro
Trevo doce Abacaxizeiro
Tomate Morangueiro

284
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

21.6 Ocorrência de solos salinos e alcalinos no RS

A ocorrência destes solos no RS se restringe às áreas de influência de


sedimentos marinhos e/ou em contato com águas salinas, sendo mais
freqüentes em áreas planas e cotas baixas na Planície Costeira. Os solos com
altos teores de sais solúveis e/ou de Na pertencem geralmente às unidades
de mapeamento Lagoa, Taim, Mangueira e Bojuru, mais freqüentes na região
sul do estado. Enquadram-se no grupo de solos halomórficos e alguns são
classificados como Planossolo Hidromórfico Eutrófico solódico (unidade de
mapeamento Mangueira) [21.5].
Em geral, os maiores teores de Na ocorrem no subsolo, porém são
observadas áreas com manchas esbranquiçadas na superfície, chamadas
boleiras.
Alguns problemas de excesso de sais, especialmente pelo alto teor de
Na, são observados em áreas irrigadas por inundação (arroz) no sul do estado
do RS. Dependendo do regime hídrico há salinização da água das lagoas com
comunicação para o mar. De acordo com a intensidade do processo, podem
ocorrer problemas às culturas subseqüentes, especialmente as mais sensíveis.
Exemplo desta situação é mostrado na Figura 21.1. Este problema pode ser
minimizado nas camadas superficiais com drenagens freqüentes, de modo a
lixiviar o Na para o subsolo. Dependendo do tipo de solo, entretanto, o
processo de salinização pode ser irreversível, especialmente nos horizontes
subsuperficiais.

FIGURA 21.1

Efeito do aumento da
porcentagem de Na
trocável (PST) no
rendimento de soja
cultivada em resteva
de arroz irrigado com
água salinizada.
Pelotas , 1989/90
(Bissani, C.A.; não
publicado).

285
Carlos Alberto Bissani et al.

21.7 Práticas agrícolas para diminuir os efeitos da salinidade

As principais práticas utilizadas para a redução dos efeitos dos sais são:
a) cultivo de espécies tolerantes: deve-se optar por culturas adaptadas
às condições (Tabela 21.2);
b) práticas de adubação: são recomendáveis a adubação orgânica ou
foliar, mantendo-se bom nível de fertilidade; deve-se evitar adubos
muito solúveis e com alto índice salino; e
c) irrigação adequada: deve-se usar água com baixo teor de sais e em
quantidade suficiente para a lixiviação dos mesmos.

21.8 Recuperação de solos salinos e alcalinos

21.8.1 Solos salinos

A recuperação de solos salinos pode ser feita pela lavagem do excesso


de sais solúveis ou pela utilização de condicionadores minerais. Outras
práticas, como aração profunda, subsolagem, inversão de perfis, adubação
orgânica e cultivo contínuo da área contribuem para o processo.
A lavagem dos sais consiste em fazer passar pelo solo grande
quantidade de água com baixo teor de sais. Para que ocorra a lixiviação dos
sais é fundamental a boa drenagem (natural ou artificial), permitindo a
eliminação da água para as camadas mais profundas.
No caso de solos com excesso de Na (sódicos e salino-sódicos) há
necessidade de uso de condicionadores minerais para remover o Na trocável
(com posterior eliminação por lixiviação), como sulfato de cálcio, sulfato de
alumínio e ácido sulfúrico [21.2]. Em solos com carbonatos e bicarbonatos
devem ser usados materiais que originem Na2SO4. Neste caso, o produto mais
comum é o pó de enxofre.
O gesso (CaSO4.2H2O) é o produto mais comumente disponível. Pode
ser obtido de jazidas (gipsita), que ocorrem no Nordeste do Brasil, ou como
subproduto da produção de ácido fosfórico. O uso do gesso na recuperação
de solos com excesso de sódio [21.4] baseia-se na seguinte reação de troca
iônica:

(21.2)

286
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

Como o cálcio é mais fortemente adsorvido que o sódio pelas partículas


do solo, a reação tende para a direita, com formação de Na2SO4, o qual deve
ser removido por lixiviação. À medida que a solução do solo contendo Ca
avança no perfil, a concentração deste se reduz e a do Na aumenta.
A eficiência do processo depende da solubilidade e granulometria do
gesso e da velocidade de percolação da água. O gesso é um sal de baixa
solubilidade (2,5 g/L) e, portanto, deve ser aplicado na forma de pó. A
quantidade de gesso necessária depende da quantidade de Na trocável (PST)
e da CTC. Pode ser determinada pressupondo-se uma substituição
quantitativa para reduzir a PST a um nível desejado. Como exemplo, pode-se
utilizar a seguinte relação [21.2]:

NG = 0,00086 x D x (PST1 - PST2 ) x CTCpH 7,0 x p (21.3)

em que:
NG = necessidade de gesso (t/ha)
D = densidade do solo
PST1 = % de Na trocável inicial
PST2 = % de Na trocável final (desejável)
CTC = capacidade de troca de cátions
p = profundidade da camada corrigida
(equivalente grama do gesso = 86,09g)
Por exemplo, um solo com densidade de 1,2 g/cm3, CTC de 8 cmolc/dm³
e PST inicial de 25% necessitaria da seguinte quantidade de gesso para baixar
a PST a 10% (até 20 cm de profundidade):

NG = 0,00086 x 1,2 x (25-10) x 8 x 20 = 2,5 t/ha

18.8.2 Solos alcalinos

A utilização de materiais que acidificam o solo é a forma indicada para


recuperar solos com alto pH, porém sem a presença de sais. O produto mais
comum é o pó de enxofre (88 -100% de S) na forma elementar (Sº).
A acidificação do solo é devida à oxidação do S elementar pelas
bactérias Thiobacillus thiooxidans, com formação de ácido sulfúrico,
representada na seguinte equação:

2Sº + 3O2 + 2H2O 6 2 H2SO4 (21.4)

287
Carlos Alberto Bissani et al.

Figura 21.2 Classificação das águas de irrigação em função do teor de sais


(salinidade) e de sódio [21.6].

288
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

A intensidade do processo depende da dose de S, população e atividade


dos microrganismos e dos fatores ambientais que afetam a atividade
microbiana. A adição de 1 kg de S elementar neutraliza a alcalinidade de 3 kg
de CaCO3.

21.9 Qualidade da água de irrigação

A qualidade da água de irrigação pode ser avaliada pelo teor total de


sais em solução, dependendo da condutividade elétrica e da relação entre o
sódio e os íons divalentes. Esta última medida é a relação de adsorção de
sódio (RAS), calculada pela equação 21.5, na qual as concentrações dos íons
em solução são expressas em mmolc /L.

(21.5)

A figura 21.2 mostra a classificação de águas de irrigação com base na


condutividade elétrica e na RAS. As águas da classe C1 -S1 são as mais
apropriadas para irrigação, enquanto águas classificadas como C4-S4 não
podem ser utilizadas.

21.10 Você sabia?

21.10.1 A eclusa do Rio São Gonçalo

Foi inaugurada, em 1977, para impedir a salinização da Lagoa Mirim


(compartilhada pelo Brasil e Uruguai), a qual fornece água de irrigação para
muitas lavouras de arroz da região.

21.10.2 Resíduos/adubos alcalinizantes

O solo da unidade de mapeamento Itapuã (análise na Tabela 8.1 - p.


84) é bastante encontrado a leste de Porto Alegre, em que há uma grande
atividade de criação de galinhas poedeiras. O esterco produzido nesses
aviários é bastante utilizado na adubação de hortas, sendo que apresenta

289
Carlos Alberto Bissani et al.

também um valor de neutralização de 7%. Quais os problemas de Fertilidade


do Solo que podem ocorrer com a aplicação continuada (8 safras) de uma
quantidade de 5 t/ha/cultivo deste material?

290
Bibliografia Citada
_________________________
1.1] NOVAES, R.F.; ALVAREZ, V.H. et al. (Eds). Fertilidade do solo. SBCS, Viçosa. 2007.
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[1.2] TEDESCO, M.J.; GOEPFERT, C.F.; LANZER, E. & VOLKWEISS, S.J. Avaliação da
fertilidade dos solos do Rio Grande do Sul. Agronomia Sulriograndense, Porto
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[1.3] RHEINHEIMER, D.S.; GATIBONI, L.C.; KAMINSKI, J.; ROBAINA, A.D.; ANGHINONI,
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Rio Grande do Sul. Depto. de Solos, UFSM, Santa Maria (Boletim Técnico, 2). 2001.
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[1.4] ANGHINONI, I.; GENRO, S.A.; MARCOLAN, E. & MACEDO, V.R.M. Novas
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[1.5] SINDICALC (Sindicato da Indústria e da Extração de Mármore, Calcário e Pedreiras


do Estado do Rio Grande do Sul). Proposta para um plano plurianual de
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[1.6] TISDALE, S.L.; NELSON, N.L.; BEATON, J.D. & HAVLIN, J.L. Soil fertility and
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[1.7] SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIÊNCIA DO SOLO - NÚCLEO REGIONAL


SUL/COMISSÃO DE QUÍMICA E FERTILIDADE. Manual de adubação e de
calagem para os Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. 11ª ed.
Porto Alegre. 2008. (No prelo).

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303
Carlos Alberto Bissani et al.

304
Anexo 01
Classificação dos Solos dos
estados do Rio Grande do Sul
e de Santa Catarina
_________________________

305
Carlos Alberto Bissani et al.

306
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

307
Carlos Alberto Bissani et al.

308
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

309
Carlos Alberto Bissani et al.

Anexo 1b Classificação dos solos do estado de Santa Catarina (1)

Perfil Classificação
01 e 14 Neosolo Quartzarênico órtico típico - RQo
08 Neosolo Quartzarênico órtico típico - Rqo
04 Cambissolo Háplico alumínico típico - CXa
09 Cambissolo Háplico Tb distrófico típico - CXbd
30 Cambissolo Háplico alumínico típico - Cxa
43 Cambissolo Húmico alumínico típico - Cha
48 Latossolo Bruno alumínico tício - Lba
33 Cambissolo Húmico alumínico típico - Cha
42 Cambissolo Húmico aluminoférrico típico - Chaf
46 Latossolo Bruno distrófico típico - LBd
63 Latossolo Bruno alumínico húmico câmbico - LBah
38 Cambissolo Háplico alumínico típico - Cxa
17 Cambissolo Háplico Tb distrófico típico - CXbd
19 Cambissolo Háplico Ta eutrófico típico - Cxve
36 Cambissolo Háplico Ta eutrófico gleico - CXve
22 Chernossolo Háplico férrico típico - MXf
58 e 68 Cambissolo Háplico eutroférrico léptico - CXef
41 e 76 Gleissolo Melênico alumínico incéptico - Gma
18 Gleissolo Háplico Tb distrófico típico - GXbd
29 Latossolo Bruno distrófico húmico - LBd
65 Latossolo Bruno distrófico típico - LBd
60 Nitossolo Vermelho eutroférrico latossólico - Nvef
27, 28, 70 e 72 Latossolo Vermelho distrófico húmico - LVd
31 e 47 Latossolo Bruno distrófico húmico - LBd
57 Latossolo Bruno distrófico típico - LBd
21 e 25 Latossolo Vermelho distroférrico típico - LVdf
24 Latossolo Vermelho-Amarelo distroférrico típico - LVAdf
11 Latossolo Amarelo distrófico típico - Lad
78 Latossolo Amarelo distrófico argissólico - Lad
37 Espodossolo Cárbico hidromórfico arênico - EKg
52 Alissolo Hipocrômico órtico típico - APo
74 Alissolo Hiprocrômico argilúvico típico - Apt
03 Nitossolo Háplico distrófico argissólico - NXd
05 Cambissolo Háplico alumínico argissólico - Cxa
06 Alissolo Hipocrômico argilúvico abrúptico - Apt
12 e 20 Argissolo Amarelo distrófico latossólico - Pad
13 e 15 Latossolo Amarelo distrófico típico - LAd
16 Argissolo Amarelo distrófico abrúptico - Pad
39 Latossolo Bruno distrófico típico - LBd

Continua

310
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

Anexo 1b Continuação... (1)

Perfil Classificação
02 Argissolo Vermelho-Amarelo distrófico abrúptico - PVAd
07 Nitossolo Vermelho distroférrico latossólico - NVdf
35 Neossolo Litólico distrófico típico - RLd
50 Neossolo Litólico húmico típico - RLh
10, 23 e 69 Neossolo Regolítico eutrófico típico - Rre
49 Neossolo Litólico eutrófico chernossólico - Rle
50 Neossolo Litólico húmico típico - RLh
51 e 61 Neossolo Regolítico distrófico típico - RRd
44 Neossolo Regolítico eutrófico típico - Rre
40 e 77 Organossolo Mésico hêmico típico - Oyy
34 Argissolo Amarelo distrófico típico - Pad
53 Cambissolo Háplico distrófico típico - CXd
54 e 73 Latossolo Amarelo distroférrico típico - Lad
55 e 56 Latossolo Bruno distrófico típico - LBd Pedras no Perfil 55
64 Nitossolo Háplico alumínico típico - NXa
66 Nitossolo Háplico distrófico típico - NXd
71 Argissolo Amarelo distrófico latossólico - Pad
26 Argissolo Vermelho-Amarelo eutrófico típico - PVAe
45 Nitossolo Vermelho eutroférrico típico - Nvef
59 Alissolo Hipocrômico órtico nitossólico - Apo
67 Argissolo Vermelho eutroférrico típico - Pvef

(1 )
EMBRAPA, CNPS. Sistema Brasileiro de Classificação de solos. Brasília: Embrapa Produção de
Informação; Rio de Janeiro: EMBRAPA Solos, 1999. 412p.

EMBRAPA, CNPS. Levantamento de reconhecimento de alta intensidade dos solos do Estado


de Santa Catarina. Rio de Janeiro, 1998. 494p.

311
Anexo 02
Amostragem para Diagnose Foliar
das Principais Culturas
_________________________
Procedimento de amostragem para a diagnose foliar em culturas
industriais e de grãos e de forrageiras [1.7]

Número de
Parte da Idade, época e folhas ou
Cultura(1) planta posição da folha plantas
Culturas industriais e de grãos
Amendoim Folha com Tufo apical do ramo principal, a 50 plantas
pecíolo partir da base, sem contar os ramos
cotilédones
Arroz Folha bandeira Início do florescimento 50 plantas
Aveia Folha bandeira Início do florescimento 50 plantas
Cana-de-açúcar Folhas Vinte cm centrais da folha +3, 100 plantas
excluída a nervura central, aos 9
meses de idade. Na cana do ano, a
amostragem é feita aos 4-5 meses
de idade
Centeio Folha bandeira Início do florescimento 50 plantas
Cevada Folha bandeira Início do florescimento 50 plantas
Feijoeiro Folhas Terceiras folhas com pecíolo do 30 plantas
terço médio, no florescimento
Fumo Folhas Duas folhas por planta, o 3o par 30 folhas
(uma de cada lado das linhas) a
partir do ápice de ramos frutíferos,
no florescimento

313
Carlos Alberto Bissani et al.

Continuação...

Número de
Parte da Idade, época e folhas ou
Cultura(1) planta posição da folha plantas
Culturas industriais e de grãos
Girassol Folhas do Folha inteira, no início do 30 folhas
terço superior florescimento
Milho Folha Terço central da folha oposta e 30 folhas
abaixo da espiga, na fase do
pendoamento (50% de plantas
pendoadas)
Soja Folha com Terceiras folhas, no florescimento 30 plantas
pecíolo
Sorgo Folha Trinta cm do terço médio da folha 30 plantas
+4,, a partir do ápice, excluída a
nervura central, no florescimento
Tremoço Folhas No florescimento 10 plantas
Trigo Folha bandeira Início do florescimento 50 plantas
Triticale Folha bandeira Início do florescimento 50 plantas
Forrageiras
Gramíneas Folha inteira Recém maduras 30 plantas
Leguminosas Folhas recém- No florescimento 30 plantas
maduras
(1)
Para frutíferas e hortaliças consultar a referência [1.7].

314
Anexo 03
Faixas de Suficiência de Macronu-
trientes para Algumas Culturas
_________________________
Tabela A3.1 Faixas de suficiência de macronutrientes para algumas culturas, em %
(m/m) no material seco [1.7]
(1 )
Cultura N P K Ca Mg S
Industriais e de grãos
Amendoim 3,0-4,5 0,2-0,5 1,7-3,0 1,0-2,0 0,3-0,8 0,2-0,35
Arroz de sequeiro 2,0-3,0 0,25-0,40 1,3-3,0 0,25-1,00 0,15-0,50 0,14-0,30
Arroz irrigado 2,6-4,2 0,25-0,48 1,5-4,0 0,25-0,40 0,15-0,30 0,2-0,3
Aveia 2,0-3,0 0,2-0,5 1,5-3,0 0,25-0,50 0,15-0,50 0,15-0,40
Cana (planta) 1,9-2,1 0,20-0,24 1,1-1,3 0,8-1,0 0,2-0,3 0,2-0,3
Cana (soca) 2,0-2,2 0,18-0,20 1,3-1,5 0,5-0,7 0,2-0,25 0,2-0,3
Centeio 2,5-3,5 0,2-0,5 0,19-0,23 0,25-0,60 0,15-0,50 0,15-0,50
Cevada 1,7-3,0 0,2-0,5 1,5-3,0 0,25-0,60 0,15-0,50 0,15-0,40
Feijão 3,0-5,0 0,2-0,3 2,0-2,5 1,0-2,5 0,25-0,50 0,2-0,3
Fumo 3,5-4,0 0,2-0,5 2,5-4,0 1,5-2,0 0,2-0,65 0,2-0,6
Girassol 3,0-5,0 0,3-0,5 3,0-4,5 0,8-2,2 0,3-0,8 0,15-0,2
Milho 2,7-3,5 0,2-0,4 1,7-3,5 0,2-0,8 0,2-0,5 0,1-0,3
Soja 4,5-5,5 0,26-0,5 1,7-2,5 0,4-2,0 0,3-1,0 0,21-0,4
Sorgo 2,5-3,5 0,2-0,4 1,4-2,5 0,2-0,6 0,15-0,50 0,15-0,3
Trigo 2,0-3,4 0,2-0,3 1,5-3,0 0,25-0,5 0,15-0,4 0,15-0,3
Triticale 2,0-3,4 0,2-0,3 1,5-3,0 0,25-0,5 0,15-0,4 0,15-0,3
Forrageiras
Gramíneas anuais
Azevém 2,5-3,0 0,25-0,35 2,0-2,5
Milheto 2,0-3,5 0,2-0,3 2,5-4,0 0,15-0,2
Sorgo forrageiro 2,0-3,0 0,2-0,3 1,8-2,8
Gramíneas perenes
Braquiária 1,2-2,0 0,1-0,3 1,2-2,5 0,2-0,6 0,15-0,4 0,1-0,25
Capim colonião 1,5-2,5 0,1-0,3 1,5-3,0 0,3-0,8 0,15-0,5 0,1-0,3
Capim elefante 1,5-25 0,1-0,3 1,5-5,0 0,3-0,8 0,15-0,4 0,1-0,3
Pangola 1,5-2,0 0,16-0,25 1,6-2,0 0,15-0,2
Tífton 2,0-2,6 0,15-0,3 1,5-3,0 0,3-0,8 0,15-0,4 0,15-0,3

315
Carlos Alberto Bissani et al.

Tabela A3.1 Continuação...

Cultura (1) N P K Ca Mg S

Leguminosas anuais
Siratro 2,7 0,4 2,7 2,1 0,7 0,1
Stilosantes 2,0-4,0 0,15-0,3 1,0-3,0 0,5-2,0 0,15-0,4 0,15-0,3
Leguminosas perenes
Alfafa 3,4-5,6 0,25-0,5 2,0-3,5 1,0-2,5 0,3-0,8 0,2-0,4
Guandu 2,0-4,0 0,15-0,3 1,2-3,0 0,5-2,0 0,2-0,5 0,15-0,3
Leucena 2,0-4,8 0,15-0,3 1,3-3,0 0,5-2,0 0,2-0,4 0,15-0,3
Soja perene 2,0-4,0 0,15-0,3 1,2-3,0 0,5-2,0 0,2-0,5 0,15-0,3
Essencias florestais
Araucária 1,6-1,7 0,14-0,18 1,3-1,5 0,6-0,8 0,2-0,3 0,1-0,2
Eucalipto 1,3-1,8 0,1-0,13 0,9-1,3 0,6-1,0 0,5-0,8 0,15-0,2
Pinus 1,1-1,3 0,1-0,12 0,6-1,0 0,3-0,5 0,13-0,2 0,13-0,16
(1)
Para frutíferas e hortaliças consultar a referência [1.7].
Para os cereais de inverno, os teores referem-se à folha bandeira ou à folha abaixo dela.

316
Anexo 04
Faixas de Suficiência de Micronu-
trientes para Algumas Culturas
_________________________
Tabela A4.1 Faixas de Suficiência de macronutrientes para algumas culturas, em
mg/kg no material seco [1.7]

Cultura (1) B Cu Fe Mn Mo Zn
Industriais e de grãos
Amendoim 25-60 5-20 50-300 20-350 0,1-5,0 20-60
Arroz de sequeiro 4-25 3-25 70-200 70-400 0,1-0,3 10-50
Arroz irrigado 20-100 5-20 70-300 30-600 0,5-2,0 20-100
Aveia 5-20 5-25 40-150 25-100 0,2-0,3 15-70
Cana-de-açúcar 10-30 6-15 40-250 25-250 0,05-0,2 10-50
Centeio 5-20 5-25 25-200 14-150 0,2-0,3 15-70
Cevada 5-20 5-25 25-100 20-100 0,1-0,2 15-70
Feijão 15-26 4-20 40-140 15-100 0,5-1,5 18-50
Fumo 20-50 5-60 50-200 20-230 - 20-80
Girassol 35-100 25-100 80-120 10-20 - 30-80
Milho 10-25 6-20 30-250 20-200 0,1-0,2 15-100
Soja 21-55 10-30 50-350 20-100 1,0-5,0 20-50
Sorgo 4-20 5-20 65-100 10-19 0,1-0,3 15-50
Trigo 5-20 5-25 10-300 25-150 0,3-0,5 20-70
Triticale 5-20 5-25 15-200 20-150 0,2-0,4 20-70
Forrageiras
Gramíneas perenes
Braquiária 10-25 4-12 50-250 40-250 - 20-50
Capim colonião 10-30 4-14 50-250 40-200 - 20-50
Capim elefante 10-25 4-17 50-200 40-200 - 20-50
Tífton 5-30 4-20 50-200 20-300 - 15-70

317
Carlos Alberto Bissani et al.

Tabela A4.1 Continuação...

Cultura (1) B Cu Fe Mn Mo Zn
Leguminosas anuais
Siratro 25-30 8-10 100-150 60-90 0,2-0,4 25-50
Stilosantes 25-50 6-12 40-250 40-200 - 20-50
Leguminosas perenes
Alfafa 30-60 8-20 40-250 40-100 0,4-2,0 30-50
Guandu 20-50 6-12 40-200 40-200 - 25-50
Leucena 25-50 5-12 40-250 40-150 - 20-50
Soja perene 30-50 5-12 40-250 40-150 - 20-50
Essencias florestais
Araucária 10 3 25 4 - 5
Eucalipto 30-50 7-10 150-200 400-600 0,5-1,0 35-50
Pinus 12-25 4-7 100-200 250-600 - 30-45
(1)
Para frutíferas e hortaliças consultar a referência [1.7].
Para os cereais de inverno, os teores referem-se à folha bandeira ou à folha abaixo dela.

318
Anexo 05
Recomendações de Calagem e de
Adubação para as Culturas de
Trigo, Soja, Milho, Aveia e
Arroz Irrigado
_________________________
Anexo 5.1 Recomendações de calagem e adubação para a cultura do
trigo [1.7]

Calagem
No sistema plantio direto, utilizar as indicações de calagem dadas no
item 9.2 e na Tabela 9.1. No sistema convencional, adicionar a quantidade de
calcário indicada pelo índice SMP para o solo atingir pH 6,0 (Tabela 9.1).

Nitrogênio
Nitrogênio
Teor de matéria Cultura antecedente
orgânica no solo Leguminosa (soja) Gramínea (milho)
(%) ----------------------------- kg de N/ha ----------------------------
#2,5 60 80
2,6 - 5,0 40 60
>5,0 #20 #20
Para a expectativa de rendimento maior do que 2 t/ha, acrescentar aos valores da tabela 20 kg de N/ha
em trigo após leguminosa e 30 kg de N/ha em trigo após gramínea, por tonelada adiconal de grãos a serem
produzidos.

Aplicar entre 15 e 20 kg de N/ha na semeadura e o restante em


cobertura, entre os estádios de afilhamento e de alongamento

319
Carlos Alberto Bissani et al.

(aproximadamente entre 30 e 45 dias após a emergência). Para as doses mais


elevadas, pode-se parcelar a cobertura em duas aplicações, sendo uma no
início do afilhamento e a outra no início do alongamento. No caso de resteva
de milho e, quando há muita palha, convém antecipar a adubação
nitrogenada de cobertura, especialmente em solos arenosos ou com baixos
teores de matéria orgânica.
Para cultivares muito suscetíveis ao acamamento devem ser utilizadas
doses menores que as indicadas acima. Nas regiões de clima mais quente
(região das Missões do Estado do RS, por exemplo), de menor altitude e
quando o trigo for antecedido pela soja, é recomendável restringir a aplicação
de N a, no máximo, 40 kg/ha (base + cobertura) independentemente do teor
de matéria orgânica do solo, a fim de evitar danos por acamamento. Nas
regiões mais frias e solos com alto teor de matéria orgânica (Campos de Cima
da Serra do RS), as doses de N indicadas podem ser aumentadas visando à
expressão do potencial de rendimento.
Quando for cultivado nabo forrageiro como cultura intercalar entre o
milho e o trigo e a fitomassa produzida pelo nabo for maior do que 3 t/ha,
sugere-se aplicar a dose de N indicada para o trigo cultivado após leguminosa.
Esta recomendação não é válida quando o nabo também for cultivado antes
do milho.

Fósforo e potássio (1)


Interpretação do Teor Fósforo por cultivo Potássio por cultivo
de P ou de K no solo 1º 2º 1º 2º
kg de P2 O5/ha kg de K2 O/ha
Muito baixo 110 70 100 60
Baixo 70 50 60 40
Médio 60 30 50 20
Alto 30 30 20 20
Muito alto 0 #30 0 #20
Para a expectativa de rendimento maior do que 2 t/ha, acrescentar aos valores da tabela 15 kg de P2 O5 /ha
e 10 kg de K2 O/ha, por tonelada adicional de grãos a serem produzidos.
(1 )
Ver os itens 13.6 e 13.11.

320
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

Anexo 5.2 Recomendação de calagem e adubação para a cultura da


soja [1.7]

Calagem
No sistema plantio direto, utilizar as indicações de calagem dadas no
item 9.2 e na Tabela 9.1. No sistema convencional, adicionar a quantidade de
calcário indicada pelo índice SMP para o solo atingir pH 6,0 (Tabela 9.1).
Condições de pH do solo próximo a 6,0 favorecem o desenvolvimento da
simbiose rizóbio-planta e a fixação da N do ar.

Nitrogênio
A adubação nitrogenada para a cultura da soja não é recomendada
devido à eficiência da fixação biológica de nitrogênio do ar por estirpes de
rizóbio. A inoculação deve ser feita à sombra e o inoculante deve ser mantido
em temperatura menor que 25ºC.

Fósforo e potássio (1)


Interpretação do Teor Fósforo por cultivo Potássio por cultivo
de P ou de K no solo 1º 2º 1º 2º
kg de P2 O5/ha kg de K2 O/ha
Muito baixo 110 70 125 85
Baixo 70 50 85 65
Médio 60 30 75 45
Alto 30 30 45 45
Muito alto 0 #30 0 #45
Para a expectativa de rendimento maior do que 2 t/ha, acrescentar aos valores da tabela 15 kg de P2 O5 /ha
e 25 kg de K2 O/ha, por tonelada adicional de grãos a serem produzidos.
(1 )
Ver os itens 13.6 e 13.11.

Enxofre
O teor de enxofre no solo deve ser maior que 10 mg/dm3. Se o teor for
inferior, aplicar 20 kg de S/ha.

Micronutrientes
Boas respostas em rendimento de grãos de soja têm sido obtidas pela
aplicação de molibdênio em solos com pH em água inferior a 5,5 e
apresentando deficiência de nitrogênio no início do desenvolvimento da
cultura, constatada pelo amarelecimento generalizado das folhas, devido à
baixa eficiência da fixação biológica do N. As doses a aplicar variam entre 12
e 25 g de Mo/ha, via semente, ou entre 25 e 50 g de Mo/ha, via foliar, sendo

321
Carlos Alberto Bissani et al.

recomendadas as doses mais elevadas para os solos arenosos. Podem ser


utilizados o molibdato de amônio (54% de Mo solúvel em água) e o molibdato
de sódio (39% de Mo solúvel em água). As aplicações de molibdênio na
semente, à semelhança dos fungicidas, deve preceder a inoculação.
Aplicações foliares devem ser feitas entre 30 e 45 dias após a emergência.
Em sistemas agrícolas de integração lavoura-pecuária, deve-se
monitorar o teor de molibdênio nas pastagens. A elevação do pH pela
calagem aumenta a disponibilidade de Mo, podendo afetar o metabolismo do
cobre em ruminantes; deve-se suspender a adição deste nutriente ao solo,
quando seu teor na parte aérea das plantas atingir 5 mg de Mo/kg.
Aplicações dos outros micronutrientes (Zn, Cu, Fe, Mn, B, Cl e Co) não
são indicadas devido à incerteza das informações disponíveis e ao fato da
maioria dos solos dos Estados do RS e de SC serem bem supridos destes
elementos. Aplicações de zinco, manganês e boro podem ser recomendadas
se a análise de solo ou a diagnose foliar mostrar baixos teores disponíveis. No
caso do uso de produtos com cobalto, as quantidades a serem utilizadas não
devem ultrapassar a 3 g de Co/ha, para evitar fitotoxidez para a soja.

Anexo 5.3 Recomendação de calagem e adubação para a cultura do


milho [1.7]

Calagem
No sistema plantio direto, utilizar as indicações de calagem dadas no item 9.2
e na Tabela 9.1. No sistema convencional, adicionar a quantidade de calcário
indicada pelo índice SMP para o solo atingir pH 6,0 (Tabela 6.2).

Nitrogênio
Nitrogênio (base + cobertura)
Teor de matéria Cultura antecedente(1)
orgânica no solo Consorciação
Leguminosa Gramínea
ou pousio
(%) ----------------------------- kg de N/ha ----------------------------
#2,5 70 80 90
2,6 - 5,0 50 60 70
>5,0 <30 #40 <50
(1 )
As quantidades indicadas são para uma estimativa de produção média de massa seca. Em outros casos,
pode-se alterar a dose em até 20 kg/ha: para mais, se a semeadura do milho for após produção alta
de gramínea e para menos, se a semeadura do milho for após leguminosa ou consorciação (ver texto
abaixo).
Para a expectativa de rendimento maior do que 4 t/ha, acrescentar aos valores da tabela 15 kg de N/ha,
por tonelada adicional de grãos a serem produzidos.

322
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

As recomendações de nitrogênio para o milho são baseadas no teor de


matéria orgânica do solo e na expectativa de rendimento de
aproximadamente 4 t/ha de grãos em anos com precipitação pluviométrica
normal, pressupondo-se o aproveitamento do efeito residual de nitrogênio do
cultivo antecedente.
Podem ser utilizados os seguintes critérios para a escolha do
rendimento:
#4 t/ha: solo, clima ou manejo pouco favoráveis (má distribuição
de chuvas, solos com baixa capacidade de retenção de
umidade, semeadura em época pouco propícia, baixa
densidade de plantas, etc.);
4 a 6 t/ha: solo, clima e manejo favoráveis ao desenvolvimento da
cultura;
6 a 8 t/ha: solo, clima e manejo favoráveis, incluindo eventual uso de
irrigação ou drenagem, uso de genótipos bem adaptados
e manejo eficiente do solo; e,
> 8 t/ha: condições ambientais e de manejo muito favoráveis (todos
os nutrientes em quantidades adequadas), utilização de
genótipos de elevado potencial produtivo e uso eficiente
de irrigação ou em safras com boa distribuição de chuva.
A contribuição do cultivo antecedente depende da quantidade de
biomassa produzida, em massa seca. Pode-se adotar os seguintes valores de
produção de massa seca para leguminosa, gramínea ou consorciação:
Leguminosa: baixa =< 2 t/ha; média= 2 a 3 t/ha; alta = > 3 t/ha.
Consorciação e gramínea: baixa = < 2 t/ha; média = 2 a 4 t/ha; alta =
> 4 t/ha.
O nabo forrageiro pode ser considerado como leguminosa de baixa
produção para solos com teores de matéria orgânica menores que 3% e como
leguminosa de média produção para os demais solos. A adubação nitrogenada
pode ser reduzida em até 20% em lavouras de milho em rotação anual com
soja.
No sistema de cultivo convencional, recomenda-se aplicar entre 10 e 30
kg de N/ha na semeadura, dependendo da expectativa de rendimento, e o
restante em cobertura a lanço ou no sulco, quando as plantas estão com 4 a
8 folhas ou com 40 a 60 cm de altura. Em condições de chuvas intensas ou
se a dose de N for elevada pode-se fracionar a aplicação em duas partes com
intervalos de 15 a 30 dias.
No sistema plantio direto, recomenda-se aplicar entre 20 e 30 kg de
N/ha na semeadura, quando o cultivo for feito sobre resíduos de gramíneas

323
Carlos Alberto Bissani et al.

e entre 10 e 15 kg de N/ha quando o cultivo for sobre resíduos de


leguminosas. Bons resultados têm sido obtidos com a antecipação da
adubação nitrogenada em cobertura (4 a 6 folhas) em lavouras de milho no
sistema plantio direto, especialmente nos primeiros anos de implantação do
sistema e em solos com baixa disponibilidade de N. O fracionamento da
aplicação de N em cobertura é indicado quando a dose é elevada. A
incorporação de N em cobertura em relação à aplicação a lanço, aumenta o
rendimento em 5%.
Estudos comparativos entre fontes de N indicam que o sulfato de
amônio e o nitrato de amônio proporcionam rendimento igual ou superior à
uréia, para aplicações superficiais (sem incorporação ao solo) e em condições
menos favoráveis (pouca umidade do solo, pouca palha, altas temperaturas,
etc.). Em condições de umidade do solo adequada e em clima favorável (15
a 30 mm de chuva logo após a aplicação, dependendo da textura do solo), os
adubos nitrogenados apresentam eficiência semelhante, devendo ser utilizada
a fonte com menor custo unitário de N.

Fósforo e potássio (1)


Interpretação do Teor Fósforo por cultivo Potássio por cultivo
de P ou de K no solo 1º 2º 1º 2º
kg de P2 O5 /ha kg de K2 O/ha
Muito baixo 125 85 110 70
Baixo 85 65 70 50
Médio 75 45 60 30
Alto 45 45 30 30
Muito alto 0 #45 0 #30
Para a expectativa de rendimento maior do que 2 t/ha, acrescentar aos valores da tabela 15 kg de P2 O5 /ha
e 10 kg de K2 O/ha, por tonelada adicional de grãos a serem produzidos.
(1 )
Ver os itens 13.6 e 13.11.

Anexo 5.4 Recomendação de calagem e adubação para a cultura da


aveia branca [1.7]

Calagem
No sistema plantio direto, utilizar as indicações de calagem dadas no
item 9.2 e na Tabela 9.1. No sistema convencional, adicionar a quantidade de
calcário indicada pelo índice SMP para o solo atingir pH 6,0 (Tabela 9.1).

324
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

Nitrogênio
Nitrogênio
Teor de matéria
Cultura antecedente
orgânica no solo
Leguminosa (soja) Gramínea (milho)
(%) ----------------------------- kg de N/ha ----------------------------
#2,5 40 60
2,6 - 5,0 30 40
>5,0 #20 #20
Para a expectativa de rendimento maior do que 2 t/ha, acrescentar aos valores da tabela 20 kg de N/ha
em cultivo após leguminosa e 30 kg de N/ha em cultivo após gramínea, por tonelada adicional de grãos
a serem produzidos.

As quantidades de N a aplicar dependem do teor de matéria orgânica


do solo, da expectativa de rendimento de grãos e do tipo de cultura
antecedente. Deve-se considerar também as condições climáticas e o
desenvolvimento vegetativo da cultura. Aplicar de 15 a 20 kg de N/ha na
semeadura e o restante em cobertura, no estádio de afilhamento.

Fósforo e potássio (1)


Interpretação do Teor de Fósforo por cultivo Potássio por cultivo
P ou de K no solo 1º 2º 1º 2º
kg de P2 O5 /ha kg de K2 O/ha
Muito baixo 110 70 100 60
Baixo 70 50 60 40
Médio 60 30 50 20
Alto 30 30 20 20
Muito alto 0 #30 0 #20
Para a expectativa de rendimento maior do que 2 t/ha, acrescentar aos valores da tabela 15 kg de P2 O5 /ha
e 10 kg de K2 O/ha, por tonelada adicional de grãos a serem produzidos.
(1 )
Ver os itens 13.6 e 13.11.

Anexo 5.5 Recomendação de calagem e adubação para a cultura da


aveia preta [1.7]

Calagem
No sistema plantio direto, utilizar as indicações de calagem dadas no
item 9.2 e na Tabela 9.1. No sistema convencional, adicionar a quantidade de
calcário indicada pelo índice SMP para o solo atingir pH 6,0 (Tabela 9.1).

325
Carlos Alberto Bissani et al.

Nitrogênio
Nitrogênio
Teor de matéria Cultura antecedente
orgânica no solo Leguminosa (soja) Gramínea (milho)
(%) ----------------------------- kg de N/ha ----------------------------
#2,5 40 50
2,6 - 5,0 20 30
>5,0 #10 #10
Para a expectativa de rendimento maior do que 2 t/ha, acrescentar aos valores da tabela 20 kg de N/ha
em cultivo após leguminosa e 30 kg de N/ha em cultivo após gramínea, por tonelada adicional de grãos
a serem produzidos.

Aplicar 10 kg de N/ha na semeadura e o restante em cobertura, no


início do afilhamento.

Fósforo e potássio (1)


Interpretação do Teor de Fósforo por cultivo Potássio por cultivo
P ou de K no solo 1º 2º 1º 2º
kg de P2 O5 /ha kg de K2 O/ha
Muito baixo 110 70 100 60
Baixo 70 50 60 40
Médio 60 30 50 20
Alto 30 30 20 20
Muito alto 0 #30 0 #20
Para a expectativa de rendimento maior do que 2 t/ha, acrescentar aos valores da tabela 15 kg de P2 O5 /ha
e 10 kg de K2 O/ha, por tonelada adicional de grãos a serem produzidos.
(1 )
Ver os itens 13.6 e 13.11.

Anexo 5.6 Recomendação de calagem e adubação para a cultura do


arroz irrigado por inundação [1.7]

Calagem
Nos sistemas de semeadura em solo seco (convencional, cultivo mínimo
e plantio direto), adicionar a quantidade de calcário indicada pelo índice SMP
para elevar o pH do solo a 5,5 (Tabela 9.2). No caso do sistema de cultivo
com sementes pré-germinadas ou com transplante de mudas, a calagem não
é indicada como corretivo da acidez do solo. Porém, se os teores de Ca ou de
Mg trocáveis forem menores ou iguais a 2,0 cmolc/dm3 ou 0,5 cmolc/dm3,
respectivamente, recomenda-se aplicar 1,0 t/ha de calcário dolomítico. Em
alguns solos orgânicos, o calcário pode ser recomendado como corretivo da

326
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

acidez, mesmo no sistema pré-germinado. A calagem também pode minimizar


os efeitos prejudiciais da toxidez por ferro.
Devido à crescente utilização de cultivos de sequeiro e de pastagens
cultivadas em rotação com o arroz irrigado por inundação, sugere-se, nessas
condições, corrigir a acidez do solo considerando-se a cultura mais suscetível
à acidez.

Adubação
As recomendações de adubação para o arroz irrigado são ajustadas para
o objetivo de máximo retorno econômico por cultivo, pressupondo o seu uso
integrado com a correção da acidez do solo, com as práticas recomendadas
de manejo da cultura e em sintonia com os padrões de aptidão de uso das
terras para fins agrícolas. As mesmas são, no entanto, diferentes para os
estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina: no primeiro, com
predomínio do sistema de semeadura em solo seco, e no segundo, com
praticamente toda a área cultivada no sistema pré-germinado.
No Rio Grande do Sul, considera-se que os diversos fatores
determinantes da produção do arroz, em associação com as características
edafo-climáticas das regiões agroecológicas de cultivo, determinam diferentes
potenciais de rendimento para a cultura, mas com similar aumento de
produtividade pela adubação. Por essa razão, as indicações de adubação são
indicadas para o incremento de rendimento pretendido, a partir do
rendimento médio das diferentes regiões de cultivo.
O rendimento médio de uma determinada região refere-se à
produtividade média atingida pela cultura na ausência de adubação, estando
adequados aos demais fatores que influenciam a produção do arroz (cultivar;
época e densidade de semeadura e práticas de manejo), elevando-se o nível
de expectativa de incremento de rendimento proporcionalmente à sua
adequação.
Em Santa Catarina, as recomendações de adubação para a cultura são
apresentadas para duas faixas de rendimento, também estabelecidas de
acordo com o nível de adequação dos fatores que afetam a produção, sendo:

Rendimento de 6 a 9 t/ha: quando o arroz for cultivado com


limitações em algum(ns) dos fatores que afetam a produção.
Rendimento > 9 t/ha: quando o arroz for cultivado em condições
favoráveis de solo e de clima, especialmente alta radiação solar no período
reprodutivo; uso de variedades com alto potencial produtivo; época e
densidade de semeadura adequadas para a região; manejo adequado da

327
Carlos Alberto Bissani et al.

irrigação, com relação à época e ao controle da lâmina de água; controle


adequado de plantas daninhas, especialmente o arroz vermelho, e controle
fitossanitário da lavoura.

Nitrogênio
Recomendação para o Rio Grande do Sul
Nitrogênio
Teor de matéria Expectativa de incremento de rendimento(1) (t/ha)
orgânica no solo 2 3 4
(%) ------------------------ kg de N/ha ----------------------------
#2,5 60 90 120
2,6 - 5,0 50 80 110
>5,0 #40 #70 #110
(1)
Valores de incremento em rendimento a serem adicionados sobre o rendimento médio de
uma determinada região, considerando o cultivo sem adubação.

Recomendação para Santa Catarina


Nitrogênio
Teor de matéria Expectativa de rendimento (t/ha)
orgânica no solo 6a9 >9
(%) -------------------------- kg de N/ha -------------------------
#2,5 90 120
2,6 - 5,0 70 - 90 90 - 120
>5,0 #70 #90
(1)
Valores de incremento em rendimento a serem adicionados sobre o rendimento médio de
uma determinada região, considerando o cultivo sem adubação.

A dose de nitrogênio indicada nas tabelas pode ser reduzida ou


acrescida em até 30% em relação ao valor indicado, levando-se em
consideração o histórico da lavoura com respeito às respostas ao nitrogênio
e cultivos (leguminosas e/ou gramíneas), à incidência de doenças,
especialmente a brusone, cujo desenvolvimento é favorecido pelo excesso de
nitrogênio, o desenvolvimento vegetativo da lavoura e as condições climáticas
com relação à temperatura e à luminosidade.
Para os sistemas de semeadura em solo seco (convencional, mínimo e
plantio direto), recomenda-se aplicar 10 kg de N/ha na semeadura e o
restante em cobertura. Quando a dose a aplicar for menor que 50 kg de N/ha,
pode-se fazer uma aplicação única no início da diferenciação da panícula
(“ponto de algodão”). Para os demais casos, é mais eficiente aplicar
aproximadamente 50% da dose de cobertura no início do perfilhamento (a
partir da emissão da quarta folha) e o restante no início da diferenciação da
panícula ("ponto de algodão"). Eventualmente, se for constatado um

328
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

desenvolvimento vegetativo acima do esperado, pode-se reduzir ou até evitar


aplicações adicionais de nitrogênio, face os riscos de acamamento e de
problemas associados ao excesso do nutriente, a critério da assistência
técnica.
Para o sistema pré-germinado, a adubação com N na base não é
recomendada devido aos riscos de perdas por desnitrificação. Para os
cultivares de ciclo curto (até 120 dias) e médio (entre 120 e 135 dias),
recomenda-se aplicar aproximadamente 50% do N no início do perfilhamento
e o restante no início do desenvovimento da panícula. Para os cultivares de
ciclo longo (mais de 135 dias), a cobertura pode ser fracionada em três
aplicações: 1/3 no início do perfilhamento, 1/3 no perfilhamento pleno e, se
necessário, completada com 1/3 na diferenciação da panícula.
A primeira adubação de cobertura com nitrogênio deve ser feita
preferencialmente em solo seco, desde que a irrigação da lavoura seja feita
o mais rápido possível (indica-se um tempo máximode três dias entre a
aplicação do N e a inundação da lavoura). Nos casos em que não for possível
a aplicação da primeira aplicação do N em solo seco, a aplicação pode ser
feita sobre a lâmina de água. As demais aplicações de cobertura com
nitrogênio após o início da inundação devem ser feitas sobre a lâmina de
água. Nestes casos, deve ser interrompida a circulação com água por, no
mínimo, três dias.
A uréia e o sulfato de amônio são as fontes de N indicadas para o arroz
irrigado. O uso do sulfato de amônio em doses altas e com temperatura
elevada pode ser prejudicial ao arroz, fato este atribuído à formação de gás
sulfídrico formado pela redução de sulfatos.

Fósforo
Recomendação para o Rio Grande do Sul
Fósforo
Interpretação do teor de P
Expectativa de incremento de rendimento(1) (t/ha)
no solo
2 3 4
------------------------- kg de P2 O5 /ha --------------------------
Baixo 40 50 60
Médio 30 40 50
Alto 20 30 40
Muito Alto #20 #30 #50
(1)
Valores de incremento em rendimento a serem adicionados sobre o rendimento médio de
uma determinada região, considerando o cultivo sem adubação.

329
Carlos Alberto Bissani et al.

Recomendação para Santa Catarina


Fósforo
Interpretação do teor de P Expectativa de rendimento (t/ha)
no solo 6a9 >9
-------------------------- kg de P2 O5/ha ---------------------------
Baixo 60 70
Médio 40 50
Alto 20 30
Muito Alto #20 #30

Para solos com baixos teores de fósforo (< 3,0 mg/dm3 – método
Mehlich 1), recomenda-se a utilização de fosfatos solúveis. Para solos com
teores maiores que 3,0 mg/dm3 é viável a utilização de outros fosfatos,
isoladamente ou em misturas. Neste caso, recomenda-se a utilização de
fosfatos reativos, sendo a dose calculada considerando-se até o dobro do teor
solúvel em ácido cítrico a 2 % (relação 1:100).

POTÁSSIO
Recomendação para o Rio Grande do Sul
Interpretação Potássio
do teor Expectativa de incremento rendimento(1) (t/ha)
de K no solo CTC pH 7,0 # 15 cmolc /dm3 CTC pH 7,0 # 15 cmolc /dm3

----------------------------- kg de K2 O/ha -------------------------


Baixo 60 75 90 60 85 110
Médio 40 55 70 40 65 90
Alto 20 35 50 20 45 70
Muito Alto #20 #35 #50 #20 #45 #70
(1)
Valores de incremento de rendimento a serem adicionados sobre o rendimento médio de
uma determinada região, considerando o cultivo sem adubação.

Recomendação para Santa Catarina


Potássio
Interpretação do teor de K Expectativa de rendimento (t/ha)
no solo 6a9 >9
-------------------------- kg de K2 O/ha ----------------------------
Baixo 80 90
Médio 60 70
Alto 40 50
Muito Alto #40 #50

330
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

As fontes de fertilizantes existentes no mecado são o cloreto e o sulfato


de potássio. O uso de sulfato de potássio, quando aplicado em doses elevadas
(maiores que 60 kg de K2O/ha) e em temperatura alta, pode liberar H2S, que
pode atingir níveis tóxicos ao arroz.
Podem ocorrer perdas de potássio em solos arenosos (CTC < 5,0 cmolc
dm-3) e orgânicos, especialmente quando cultivados no sistema pré-
germinado. Nesses casos, doses maiores de nutrientes podem ser adicionadas
para compensar tais perdas. Nessa situação, poderão ser feitas duas
aplicações de potássio, metade na semeadura e outra em cobertura, antes do
desenvovlimento da panícula, juntamente com a aplicação de nitrogênio.

Modo de incorporação de fósforo e potássio


No caso do plantio de arroz pré-germinado, os fertilizantes fosfatado e
potássico poder ser incorporados com enxada rotativa ou com grade na
formação da lama ou após o renivelamento da área, antes da semeadura. No
sistema de semeadura em solo seco, os fertilizantes devem ser aplicados e
incorporados por ocasião da semeadura.

Enxofre
Solos intensamente cultivados com arroz irrigado, afastados de regiões
industriais e com baixos teores de matéria orgânica e de argila poderão vir a
apresentar deficiência de enxofre. Em solos com teores de S extraível (com
fosfato de Ca - 500 mg/L) menores que 10 mg de S/dm3, sugere-se utilizar
fontes de nutrientes contendo enxofre (sulfato de amônio, sulfato de potássio,
gesso agrícola e enxofre elementar), aplicando-se aproximadamente 20 kg de
S/ha. Essa aplicação pode ser feita tanto na adubação de base como na
primeira adubação de cobertura de nitrogênio (no estádio V3 /V4 ).

Toxidez por ferro


O alagamento do solo provoca a solubilização de ferro, podendo o
acúmulo de Fe2+ na solução do solo atingir níveis tóxicos ao arroz. A toxidez
por ferro pode ocorrer por absorção excessiva (toxidez direta ou
bronzeamento) ou por desequilíbrio nutricional devido à sua precipitação
sobre as raízes das plantas (toxidez indireta ou alaranjamento), reduzindo a
absorção de nutrientes (Ca, Mg, K, P, Si, Na e Mn). A utilização de cultivares
tolerantes é a forma mais econômica de contornar o problema. A calagem
prévia do solo para elevar o pH a 6,0 também poderá minimizá-lo.

Outros cultivos no sistema


No caso de outros cultivos, em rotação ou sucessão ao arroz irrigado,
observar a classe textural do solo para a interpretação das análises do solo.
A recomendação de adubação para essas culturas deve compensar as

331
Carlos Alberto Bissani et al.

quantidades mais baixas de fósforo e de potássio aplicadas no arroz,


especialmente quando os teores desses nutrientes forem baixos. No caso dos
cultivos previstos incluírem o arroz como o primeiro cultivo e a soja, em
seqüência, como o segundo, por exemplo, recomenda-se utilizar as indicações
de fósforo e de potássio de primeiro cultivo para essa cultura (soja),
desconsiderando o P e o K aplicados ao arroz.

Freqüência de amostragem do solo


Análises de solos a cada cultivo de arroz são indicadas para o sistema
tradicional de cultivo (arroz após arroz, eventualmente intercalado com
pastoreio extensivo). Em outros sistemas, recomenda-se monitorar a
fertilidade do solo a cada dois cultivos.

332
Anexo 06
Recomendações de Calagem e de
Adubação para a Ameixeira [1.7]
_________________________
Amostragem de solo
Amostrar o solo para a análise na camada de zero a 20 cm de
profundidade com a devida antecedência. Reamostrar o solo na mesma
camada a cada quatro anos, para verificar a disponibilidade dos nutrientes e
a necessidade de calagem.

Calagem
A calagem deve ser feita no mínimo três meses antes da instalação do
pomar. Adicionar a quantidade de calcário recomendada pelo índice SMP para
elevar o pH do solo a 6,0 (Tabela 9.1), com incorporação na camada de zero
a 20 cm de profundidade. De preferência, utilizar calcário dolomítico.

Fósforo e potássio
Adubação de pré-plantio
Interpretação do Teor de Fósforo Potássio
P ou de K no solo (kg de P2 O5/ha) (kg de K2 O/ha)
Muito baixo 90 100
Baixo 60 70
Médio 30 40
Alto 0 20
Muito alto 0 0

Fazer a adubação de pré-plantio na instalação do pomar,


preferencialmente a lanço, com incorporação na camada arável.

331
Carlos Alberto Bissani et al.

Nitrogênio
Ano g de N/planta Época
1º 10 30 dias após a brotação
10 45 dias após 1ª aplicação
10 60 dias após 2ª aplicação
2º 20 Início da brotação
20 45 dias após 1ª aplicação
20 60 dias após 2ª aplicação
3º 45 Início da brotação
35 45 dias após 1ª aplicação
15 60 dias após 2ª aplicação

As quantidades de nitrogênio e épocas de adubação são baseadas numa


população de 400 plantas/ha. Nessa fase de desenvolvimento do pomar,
aplica-se somente nitrogênio. Aplicar o fertilizante na projeção da copa das
plantas.

Adubação de manutenção
A partir do quarto ano, os nutrientes e as quantidades a serem aplicadas
devem ser indicados pela análise conjunta dos seguintes parâmetros: análise
foliar, análise periódica do solo, idade das plantas, crescimento vegetativo,
adubações anteriores, produção, espaçamento, etc. Alguns critérios utilizados
para as adubações nitrogenada, fosfatada e potássica são dados nas Tabelas
A6.1, A6.2 e A6.3, respectivamente.
Sempre que for recomendada adubação fosfatada e/ou potássica de
manutenção, aplicar os nutrientes no início da brotação. Para a adubação
nitrogenada, aplicar 50% da dose anual recomendada no início da floração,
30% após o raleio dos frutos e 20% após a colheita (aproximadamente um
mês antes da queda normal das folhas). É recomendada a utilização de adubo
orgânico, substituindo-se as quantidades de adubo mineral a aplicar,
conforme os critérios descritos no Capítulo 14. Os adubos devem ser
distribuídos ao redor das plantas, na projeção da copa, formando uma coroa
distanciada 30 cm do tronco.

Coleta de amostras para análise foliar


Coletar folhas completas (limbo + pecíolo) da parte média dos ramos
do ano, nos diferentes lados das plantas, entre a 13ª e a 15ª semanas após
a plena floração, tanto em cultivar precoce como tardio. Se a época indicada
para a coleta de amostras de folhas coincidir com o período de colheita de

332
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

algum cultivar, ou após o mesmo, a coleta da amostra deverá ser antecipada


em uma a duas semanas, de modo que a amostragem de folhas seja sempre
feita antes da colheita dos frutos. Cada amostra deve ser composta de,
aproximadamente, 100 folhas, podendo representar um grupo de plantas ou
um pomar, dependendo da homogeneidade.

Tabela A6.1 Recomendação de adubação de manutenção com nitrogênio para a


ameixeira, com base no teor foliar, no crescimento dos ramos do ano
e na produtividade esperada

Crescimento dos ramos do ano (cm)


Teor de N < 30 $ 30
na Folha Produtividade (t/ha) Produtividade (t/ha)
< 20 $ 20 < 20 $ 20
% ---------------------------------------- kg de N/ha ---------------------------------------
< 1,80 100 120 60 80
1,80 - 2,05 60 80 60 80
2,06 - 2,30 40 60 40 60
2,31 - 2,55 MDAA ADUAA DMAA MDAA
2,56 - 2,80 STAP DMAA 0 STAP
> 2,80 0 0 0 0
MDAA = mesma dose do que ano anterior; ADUAA = aumentar a dose usada no ano anterior; DMAA =
dose menor do que o ano anterior; STAP = suspender todas ou algumas parcelas.

Tabela A6.2 Recomendação de adubação fosfatada para a ameixeira, com base no


teor foliar

Teor de P na planta Fósforo


% kg de P2 O5 /ha
< 0,04 80 - 120
0,04 a 0,09 40 - 60
> 0,09 (1) 0
(1 )
Embora o teor de P considerado normal na folha de ameixeira varie de 0,15 a 0,28%, não é observada
resposta desta cultura à aplicação de fertilizante fosfatado na região sul do Brasil, quando o teor de P é
maior que 0,09%.

333
Carlos Alberto Bissani et al.

Tabela A6.3 Recomendação de adubação potássica para a ameixeira, com base no


teor foliar e na produtividade esperada

Potássio
Teor de K na folha Produtividae esperada (t/ha)
< 15 15 a 30 > 30
% ---------------------------------- kg de K2 O/ha ---------------------------------
< 0,54 150 150 150
0,54 - 0,92 120 120 150
0,93 - 1,30 80 120 120
1,31 - 1,68 50 70 100
1,69 - 2,06 30 50 70
2,07 - 2,82 0 30 50
> 2,82 0 0 0

Interpretação dos resultados da análise foliar da ameixeira


Macronutrientes
Interpretação N P K Ca Mg
------------------------------------------ % --------------------------------------------
Insuficiente < 1,81 < 0,04 < 0,54 < 0,66 < 0,19
Abaixo do normal 1,81 - 2,30 0,04 - 0,14 0,54 - 1,30 0,66 - 1,63 0,19 - 0,51
Normal 2,31 - 2,80 0,15 - 0,28 1,31 - 2,06 1,64 - 2,61 0,52 - 0,83
Acima do normal 2,81 - 3,30 0,29 - 0,40 2,07 - 2,82 2,62 - 3,58 0,84 - 1,15
Excessivo > 3,30 > 0,40 > 2,82 > 3,58 > 1,15
Micronutrientes
Interpretação B Cu Fe Mn Zn
--------------------------------------- mg/kg -----------------------------------------
Insuficiente <3 - < 50 < 20 < 10
Abaixo do normal 3 - 33 <6 50 - 99 20 -30 10 - 23
Normal 34 - 63 6 - 30 100 - 230 31 - 160 24 - 37
Acima do normal 64 - 93 31 - 54 231 - 334 161 - 399 38- 50
Excessivo > 93 > 54 > 334 > 399 > 50

334
Anexo 07
Resposta da Aveia a Adubos
Orgânicos e Minerais
_________________________
Objetivos
a) determinar a resposta da aveia à calagem e às adições de adubos
minerais (N, P2O5 e K2O);
b) determinar a absorção de macronutrientes (N, P, K, Ca e Mg) pelas
plantas de aveia;
c) avaliar a eficiência de absorção de nutrientes dos adubos (N, P e K)
pelas plantas de aveia; e
d) estudar a adequação agronômica da composição dos adubos
orgânicos.
Com a finalidade de determinar as curvas de resposta da aveia branca
(cultivar URS 22) à aplicação de adubos orgânicos, foi conduzido um
experimento em vasos, com 5,5 L, no período de maio a setembro de 2003,
utilizando-se o solo da unidade de mapeamento Itapuã (PVd). Os tratamentos
utilizados (em duplicata) são descritos na Tabela A7.2.
Foram utilizados os adubos minerais: uréia (N1=30; N2=60; N3=120 kg
de N/ha); superfosfato triplo (P1=25; P2 =50; P3= 10 kg de P2O5/ha) e KCl
(K1=20; K2=40; K3=80 kg de K2O/ha). A calagem, na quantidade de 800
kg/ha foi feita com CaCO3+MgCO3 (3:1 - produto técnico com PRNT = 100).
Os adubos, corretivos e produtos orgânicos foram misturados com o
solo em 13/05/03, sendo semeada a aveia a seguir. O adubo nitrogenado foi
aplicado em três parcelas: 20% no plantio; 30% em 03/06/03 e 50% em
17/06/03 (em solução). A parte aérea das plantas foi cortada em 05/08/03
(estádio de emborrachamento), deixando-se o rebrote para o 2º corte no
rebrote. Em alguns tratamentos foi feita a determinação de massa de raízes
(em vasos suplementares).

335
Carlos Alberto Bissani et al.

A colheita da parte aérea (e raízes) da aveia do 2º corte (rebrote) foi


feita em 23/09/03, coletando-se também amostras de solo para análise. O
experimento foi conduzido a céu aberto, em área cercada do Departamento
de Solos (UFRGS).
O solo apresentava inicialmente: pH=5,2; índice SMP=7,0; P
disp.=3,7mg/dm3; K disp.=22 mg/dm3; M.O.=0,8%; Al troc.=0,0 cmolc/dm3;
Ca troc.=0,4 cmolc/dm3; Mg troc.=0,3 cmolc/dm3; H+Al=1,4 cmolc/dm3;
CTC=2,2 cmolc/dm3 ; V=34% e teor de argila de 14%; os teores de S e
micronutrientes (em mg/dm3 ) foram de: S=16; Zn=1,4; Cu=0,4; B=0,7 e
Mn=11.
A caracterização dos adubos e materiais orgânicos é dada na Tabela A
7.1. As quantidades adicionadas foram calculadas por volume (1 ha=1,5 x 106
L).
Do plantio até o 1º corte da aveia foi determinada uma precipitação
acumulada de 306 mm de chuva. Durante o período de cultivo do 2º corte a
precipitação foi de 112 mm.

Tabela A7.1 Umidade, pH e teores de macronutrientes dos adubos e materiais


orgânicos utilizados (no material seco)

pH em Teor de
Material água C/N N P K Ca Mg umidade
---------------------- % (m/m) ------------------------
Húmus comercial (1) 6,9 40 0,66 0,32 0,27 0,13 0,12 37
Vermicomposto(2) 5,8 25 1,94 0,55 0,9 0,13 0,12 63
Composto de lixo(3) 7,3 9 0,92 0,32 0,88 1,4 0,48 30
Lodo de esgoto(4) 7,3 10 2,3 0,45 0,45 0,84 0,56 87
Cama de aviário(5) 7,7 17 1,8 1,1 1,9 8,1 0,55 13
Res, agroindustria(6) 7,7 45 2,25 0,23 0,26 0,13 0,15 62

1)
( (2)
Adquirido em supermercado em Porto Alegre; Preparado em exercício da disciplina
Biologia do Solo da UFRGS (AGR 03004); (3) Preparado pelo DMLU/POA; (4) obtido na ETE do
(5) (6)
DMAE/POA; Produto comercial; Resíduos compostados de agroindústrias – Montenegro,
RS.

336
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

Tabela A7.2 Rendimento de matéria seca da parte aérea e raízes da aveia (g/vaso)

1º Corte 2º Corte
Nº Tratamento Parte aérea Raízes Parte aérea Raízes
1 Testemunha 3,64 4,00 1,91 5,70
2 N0 P3 K3 + Ca 7,51 9,46 1,67 7,30
3 N1 P3 K3 + Ca 13,94 - 2,21 -
4 N2 P3 K3 + Ca 19,05 13,63 3,17 13,41
5 N3 P3 K3 + Ca 25,63 15,77 3,56 11,71
6 N3 P0 K3 + Ca 4,06 4,43 4,26 5.07
7 N3 P1 K3 + Ca 20,57 - 4,42 -
8 N3 P2 K3 + Ca 25,55 9,61 2,99 12,59
9 N3 P3 K0 + Ca 21,57 12,88 1,88 9,01
10 N3 P3 K1 + Ca 24,77 - 1,92 -
11 N3 P3 K2 + Ca 25,59 13,63 1,93 9,49
12 N3 P3 K2 24,88 - 2,24 -
13 Húmus comercial 5t/ha 4,61 - 1,53 -
14 Húmus comercial 15t/ha 4,30 5,88 1,43 4,01
15 Húmus comercial 30t/ha 4,12 - 1,95 -
16 H.com.-15h/ha + N0 P3 K3 6,62 - 1,95 -
17 H.com.-15t/ha + N3 P0 K3 7,16 - 6,00 -
18 H.com.-15t/ha + N3 P3 K2 26,20 - 3,81 -
19 Vermicomposto-5t/ha 8,42 - 2,03 -
20 Vermicomposto-15t/ha 16,62 12,62 2,84 9,79
21 Vermicomposto-30t/ha 17,21 - 2,63 -
22 Verm.-15t/ha + N0 P3 K3 16,66 - 2,67 -
23 Verm.-15t/ha + N3 P0 K3 28,63 - 5,10 -
24 Verm.-15t/ha + N3 P3 K3 30,78 - 4,95 -
25 Composto de Lixo 5t/ha 6,39 - 1,5 -
26 Composto de Lixo15t/ha 10,34 12,77 1,73 8,99
27 Composto de Lixo30t/ha 11,40 - 2,80 -
28 Lodo de esgoto 5t/ha 7,36 - 2,83 -
29 Lodo de esgoto 15t/ha 9,81 8,15 3,95 8,63
30 Lodo de esgoto 30t/ha 11,37 - 3,24 -
31 Cama de aviário-2,5t/ha 8,17 - 1,5 -
32 Cama de aviário-5t/ha 12,34 13,57 1,73 8,99
33 Cama de aviário-10t/ha 15,24 - 2,8 -
34 Res. Agroind. 5t/ha(1) 5,85 - - -
35 Res. Agroind. 15t/ha(1) 11,88 6,72 - -
36 Res. Agroind. 30t/ha(1) 13,18 - - -
Coef. de Variação (%) 9,2 16,3 15,8 10,2
DMS (5%) 5,7 7,2 2,1 3,9
(1)
Plantas cortadas aos 100 dias de cultivo (não incluido na análise estatística).

337
Carlos Alberto Bissani et al.

Tabela A7.3 Teores de macronutrientes (em %) na parte aérea (PA) e nas raízes
(R) da aveia, no 1º corte

Nº N P K Ca Mg
trat. PA R PA R PA R PA R PA R
1 1,28 0,70 0,09 0,04 1,78 0,38 0,26 0,12 0,21 0,10
2 0,83 0,59 0,35 0,17 2,02 0,68 0,27 0,21 0,22 0,12
3 0,92 - 0,30 - 1,53 - 0,28 - 0,24 -
4 0,99 0,52 0,24 0,10 1,18 0,29 0,32 0,13 0,28 0,18
5 1,11 0,61 0,19 0,09 0,79 0,35 0,35 0,26 0,29 0,26
6 2,22 1,36 0,13 0,08 3,35 0,94 0,29 0,18 0,23 0,29
7 1,41 - 0,12 - 1,16 - 0,35 - 0,26 -
8 1,19 0,60 0,14 0,06 0,86 0,33 0,33 0,15 0,28 0,09
9 1,29 0,59 0,22 0,08 0,38 0,23 0,48 0,15 0,34 0,14
10 1,30 - 0,28 - 0,49 - 0,34 - 0,26 -
11 1,19 0,56 0,21 0,10 0,57 0,30 0,33 1,43 0,26 0,47
12 1,46 - 0,25 - 0,68 - 0,37 - 0,28 -
13 1,14 - 0,12 - 1,78 - 0,28 - 0,22 -
14 1,07 0,59 0,13 0,08 1,83 0,76 0,26 0,13 0,20 0,21
15 1,03 - 0,13 - 1,63 - 0,3 - 0,21 -
16 0,90 - 0,30 - 2,05 - 0,27 - 0,22 -
17 1,97 - 0,12 - 2,81 - 0,27 - 0,18 -
18 1,32 - 0,18 - 0,86 - 0,30 - 0,23 -
19 0,92 - 0,25 - 1,82 - 0,26 - 0,23 -
20 0,87 0,58 0,36 0,17 2,00 0,68 0,21 1,53 0,22 0,39
21 0,89 - 0,4 - 1,90 - 0,24 - 0,22 -
22 0,88 - 0,41 - 2,36 - 0,21 - 0,19 -
23 1,27 - 0,32 - 1,71 - 0,22 - 0,21 -
24 1,11 - 0,39 - 1,51 - 0,21 - 0,22 -
25 1,01 - 0,21 - 1,69 - 0,30 - 0,23 -
26 0,96 0,50 0,25 0,12 1,99 1,04 0,32 0,52 0,25 0,20
27 0,90 - 0,30 - 2,18 - 0,27 - 0,21 -
28 1,09 - 0,19 - 1,89 - 0,35 - 0,23 -
29 1,17 0,63 0,19 0,10 1,12 0,36 0,50 0,06 0,20 0,14
30 1,33 - 0,20 - 0,82 - 0,42 - 0,13 -
31 0,98 0,52 0,24 0,21 1,76 0,93 0,28 0,09 0,22 0,11
32 0,94 - 0,32 - 1,94 - 0,29 - 0,23 -
33 1,01 - 0,44 - 2,53 - 0,25 - 0,23 -
34 0,99 - 0,13 - 1,82 - 0,16 - 0,12 -
35 0,70 0,81 0,16 0,07 1,42 0,61 0,19 0,57 0,19 0,17
36 0,80 - 0,15 - 1,35 - 1,28 - 0,61 -

338
Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas

Tabela A7.4 Teores de P, K, Ca e Mg e matéria orgânica e pH do solo após a colheita


das plantas(1)

Nº trat. pH P K Ca Mg M.O.
----- mg/dm3 ----- ---- (cmolc/dm3 ---- %
1 5,3 2 12 0,6 0,3 1
2 6,0 9 16 0,9 0,3 0,8
3 6,1 10 12 1,1 0,4 0,9
4 6,2 9 10 1,0 0,3 0,6
5 6,1 6 11 1,1 0,4 0,7
6 5,9 2 14 0,9 0,3 0,7
7 6,0 3 10 0,9 0,4 0,8
8 6,0 5 11 1,1 0,4 0,8
9 6,0 8 9 1,0 0,4 0,6
10 6,0 8 9 0,9 0,3 0,8
11 6,0 7 11 1,0 0,4 0,9
12 5,2 8 10 0,5 0,2 1,3
13 5,4 3 9 0,5 0,2 0,9
14 5,5 6 10 0,7 0,2 1,1
15 5,8 15 13 0,9 0,2 1,2
16 5,6 19 25 0,7 0,2 0,9
17 5,3 5 13 0,5 0,2 0,7
18 5,4 14 12 0,8 0,2 0,8
19 5,5 4 18 0,7 0,3 1,2
20 5,4 9 22 0,8 0,4 1,3
21 5,6 15 21 1,2 0,4 1,4
22 5,4 25 23 1,0 0,5 1,6
23 5,3 7 17 0,6 0,3 1,2
24 5,5 16 15 1,0 0,4 1,2
25 5,4 3 12 0,6 0,3 0,6
26 5,8 5 14 1,0 0,3 0,8
27 6,2 15 19 1,3 0,4 0,8
28 5,2 5 14 0,5 0,2 0,8
29 5,1 13 16 0,6 0,2 0,9
30 5,0 23 25 0,6 0,1 1,1
31 5,6 3 11 0,7 0,3 0,6
32 5,5 7 20 0,7 0,3 0,7
33 5,6 18 29 0,9 0,4 0,8
34 6,2 4 11 1,2 0,2 0,8
35 6,7 12 38 2,0 0,3 1,3
36 7,2 10 12 2,3 0,3 0,8
(1)
Amostra composta dos 2 vasos

339
Anexo 08
Valores de Saturação por Bases
Adequados para algumas culturas
_________________________
Tabela A8.1 Valores de saturação por bases (V) adequados para calagem de
algumas culturas sugeridos pelo IAC, SP (1)
Cultura V(%) Observações(2)
A- Cereais
Arroz de sequeiro 50 Mg > 0,5; dose máxima: 3 t/ha
Arroz irrigado 50 Mg > 0,5; dose máxima: 3 t/ha
Aveia branca 70 Mg > 0,5; dose máxima: 4 t/ha/ano
Aveia preta e centeio 50 Mg > 0,5; dose máxima: 4 t/ha/ano
Cevada 70 Mg > 0,5; dose máxima: 4 t/ha/ano
Milho(grão, silagem e pipoca) e 70 Mg > 0,5; V=50 em solos com M.O.> 5%
Sorgo
Trigo 70 Mg > 0,5; cultivares tolerantes à acidez:
V=60 dose máxima: 4 t/ha
Triticale 60 Mg > 0,5
B - Leguminosas e oleaginosas
Amendoim e girassol 60
Ervilha e feijão 70 Mg > 0,5
Grão de bico 70 Mg > 0,5
Adubo verde 60 Mg > 0,5
Mamona 60 Mg > 0,5
Soja 60 Mg > 0,5
C - Raízes e tubérculos
Batata e batata doce 60 Mg > 0,8 para batata
Mandioca 50 Mg > 0,5; dose máxima: 2 t/ha
Mandioquinha 80 Mg > 0,8
D- Culturas industriais e estimulantes
Cana de açúcar 60 Mg > 0,5; entre 1 a 5 t/ha
Cacau e café 50 Mg > 0,5
Chá 40 Mg > 0,5
Fumo 50 Mg > 0,5

341
Carlos Alberto Bissani et al.

Tabela A8.1 Continuação....

Cultura V(%) Observações(2)


E- Plantas fibrosas
Algodão 70 Mg > 0,9
Bambú 50
Linho 70
Sisal 80 Mg > 0,9
F- Frutíferas
Abacaxi 50 Mg > 0,5
Acerola 70 Mg > 0,9
Banana 60 Mg > 0,9
Citros 70 Mg > 0,9
Mamão, manga e maracujá 80 Mg > 0,9
Goiaba, ameixa, pêssego e 70 Mg > 0,9
nectarina
Caqui, maçã, pecan 80
Pera 70 Mg > 0,9
Uva 80
G - Hortaliças
Almeirão, chicória e melancia 70
Alface, alho e outras 80 Mg > 0,8
H - Forrageiras
- Gramíneas: colonião, elefante, 70 Recalagem com V=60
napier, pangola, kikuio
Brachiaria brizanta, paspalum, 60 Recalagem com V=50
andropogon
Brachiaria decumbens, Setária, 40
paspalum, gordura
- Leguminosas:
Soja perene, leucena, desmodium 70 Recalagem com V = 60
trevos
Estilosantes, centrosema, kudzu, 50 Recalagem com V = 40
guandu
Consorciação gramíneas e 50-70
leguminosas
Alfafa 80 Manter V = 80
(1)
Referência [8.4].
(2)
Teores de Mg em cmolc/dm3 .

342

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