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08/09/2020 AVA UNINOVE 08/09/2020 AVA UNINOVE

escrever de modo individualizado. Nesse contexto, a escola tinha um caráter utilitário, pois seu objetivo
central era preparar as pessoas para o mercado de trabalho, atendendo, assim, aos interesses do

capitalismo.

Alfabetização: Breve histórico


          Com a responsabilidade de alfabetizar os alunos, a escola precisou adotar algum procedimento de

ensino, o que fez surgirem os métodos de alfabetização: os métodos sintéticos e analíticos. Os primeiros
consistem em ensinar o aluno a partir de unidades menores como letras, sílabas até chegar a unidades
CONHECER COMO SE DEU A PREOCUPAÇÃO COM O ENSINO E A APRENDIZAGEM DA LEITURA E DA
maiores como, por exemplo, palavras e frases; já os segundos consistem em ensinar o aluno a partir de
ESCRITA AO LONGO DO PROCESSO HISTÓRICO.
unidades maiores como, por exemplo, palavras, decompondo suas partes, que seriam as sílabas e letras de
cada sílaba.

AUTOR(A): PROF. FLAVIA RENATA ALVES DA SILVA             Para colocar esses procedimentos metodológicos em prática, o professor precisava de um recurso
didático, o que fez surgirem as cartilhas. Aqui no Brasil, tivemos um número expressivo de cartilhas
AUTOR(A): PROF. NADIA CONCEICAO LAURITI utilizadas em nossas escolas durante um período de nossa história. E o que são cartilhas?

            Do ponto de vista etimológico, a palavra cartilha vem de carta + ilha, para nomear um pequeno
HISTÓRIA DA ALFABETIZAÇÃO
caderno no qual estão dispostas, de modo sistemático, as letras do alfabeto e as primeiras lições para o
 
aluno ensinar/aprender a ler. Corrobora o exposto Aurélio Buarque de Hollanda (1986) que, em seu
            A história da alfabetização está diretamente relacionada à história da escrita, pois, com a invenção
dicionário, afirma ser a cartilha um livro para aprender a ler, e KooganIHouais (1998), para quem a cartilha
do sistema de escrita como um código para as pessoas se comunicarem, surgiu a necessidade dos indivíduos
é um livro para ensinar a ler. Tais definições nos levam a inferir que ensinar/aprender são os fundamentos
em decifrar e entender tal código. Em outras palavras, não bastava a criação de símbolos (as letras) para
metodológicos de alfabetização, ficando para segundo plano os conhecimentos linguísticos e textuais, que,
registrar ou comunicar algo, fazia-se necessário ensinar como reconhecê-los, isto é, decodificá-los, razão
segundo Maciel (2002) “são vistos como agregados e/ou pós aprendizagem da leitura”. Para a referida
pela qual surgem as regras de alfabetização.
autora,
          As regras para alfabetizar, na Antiguidade, eram as famigeradas cópias daquilo que já estava escrito,

ou seja, as pessoas iniciavam o processo de aprendizagem da escrita copiando palavras e, na sequência,

frases e textos mais extensos, conforme esclarece Cagliari:            Dentre as cartilhas utilizadas durante muito tempo nas escolas brasileiras,
destacam-se a “Caminho Suave”, de Branca Alves de Lima, cuja publicação inicial se deu

no ano de 1950, a Cartilha Sodré e ABC da Infância.


Na antiguidade, os alunos alfabetizavam-se aprendendo a ler algo já escrito e depois
(MACIEL, 2002, P. 149).
copiado. Começavam com palavras e depois passavam para textos famosos, que eram

estudados exaustivamente. Finalmente, passavam a escrever seus próprios textos. O

trabalho de leitura e cópia era o segredo da alfabetização. 


(CAGLIARI, 1998:15)

            Para tanto, as pessoas não precisam frequentar uma escola, uma vez que, como afirma Cagliari (Op.

Cit. p. 15), “a curiosidade, certamente, levava muita gente a aprender a ler para lidar com negócios,
comércios e até mesmo para ler obras religiosas ou obter informações culturais da época”. Assim, o

indivíduo que tivesse o desejo de aprender procurava alguém que possuísse conhecimento da escrita para

fazer o papel de “professor”.

          Os rumos da aprendizagem da leitura e da escrita mudam após o desenvolvimento industrial,

responsável por uma nova movimentação econômica, êxodo rural e revolução tecnológica, o que fez emergir
a necessidade de escolas, transformando em alunos aquelas pessoas que, até então, aprendiam a ler e

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A cartilha Caminho Suave desde a primeira edição foi produzida pela própria editora

"Caminho Suave" Limitada. "Caminho Suave" é um exemplo de um material didático que

desde início foi um sucesso editorial, com mais de uma edição anual composta de 100.000
cada uma. 

(MACIEL, 2002, P. 163)

publicações da Caminho Suave permaneceram inalteradas. Depois dessa data, as alterações se deram em
virtude do surgimento e disseminação de manuais didáticos produzidos com base nos fundamentos do

método global de alfabetização (analítico), o que provocou uma queda expressiva nas vendas da cartilha.

           Por ser um dos um dos livros conveniados pelo Instituto Nacional do livro – Mec, a cartilha Caminho
Suave foi distribuída gratuitamente a todas as escolas púbicas do país até meados da década de 1990,

quando passou a ser alvo de críticas pela comissão de avaliação do livro didático – PNLDlMec – que  a

reprovou.              

          Segundo as análises feitas por Maciel,

As lições da cartilha iniciam-se apresentando as cinco vogais associadas à ilustração, a de

abelha, o desenho da letra a corresponde o corpo da abelha, assim como, a tromba do


Legenda: TAG: CARTILHA, MÉTODO, SINTÉTICO
elefante forma o desenho da letra e. Em seguida, são trabalhadas as sílabas ba, ca, da, na
sequência o alfabeto, os dígrafos, sempre com a mesma estrutura, isto é, são destacadas

as palavras-chave, que por sua vez está diretamente relacionada a representação icônica.

Assim, como exemplo, a alça da jarra faz o desenho do j de onde se destaca a sílaba ja de
jarra, pequenas sentenças - de duas a seis - palavras formadas a partir das sílabas

estudadas e a que vai ser estudada. O livro apresenta uma estrutura simples, sequencial e

repetitiva quanto a organização da estrutura das lições e o tipo de exercício. Esse último é

restrito a cópias de palavras e sílabas em letra cursiva (para a autora: letra de mão).
(MACIEL, 2002, P. 164)

             Como se vê, a cartilha Caminho Suave, assim como tantas outras largamente difundidas no Brasil,

representa um modelo de ensino fundamentado no método sintético de alfabetização, pois começava pelas
vogais, que depois juntadas às consoantes, formavam sílabas e assim por diante. Nesse sentido, ler

significava apenas decodificar, ou seja, reconhecer e memorizar o código linguístico.

            Só a partir dos anos 90, houve uma mudança nos rumos do processo de alfabetização no país, que
agora passa a tomar como base a teoria da psicogênese da língua escrita de Emília Ferreiro e Ana Teberosky,
Legenda: TAG: CARTILHA, MÉTODO, SINTÉTICO
para quem a criança levanta hipótese sobre a escrita, passando por estágios cujo início se dá na fase pré-

           De acordo com Fioravanti, (1996 apud Maciel, 2002), a Cartilha Caminho Suave chegou ao topo de silábica até a fase alfabética. Quanto à concepção de leitura, esta não é mais vista como mera decodificação,

maior sucesso editorial do Brasil e maior representante da alfabetização tradicional. Segundo Maciel,

             De acordo com Dietzsch (1970 apud Maciel, 2002), de 1950, data da primeira publicação, até 1971, as

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e sim como um processo de construção de sentido dos mais diferentes gêneros textuais que circulam na B. leitura como um processo interativo entre leitor e texto.
sociedade. Deixa de ser uma leitura mecanicista e passa a ser uma leitura interativa, uma vez que ler se C. leitura como construção de sentido do texto.
torna uma ação de diálogo entre leitor, texto e autor. D. leitura como um diálogo entre leitor, autor e texto.

ATIVIDADE

Após os estudos de Emília Ferreiro e Ana Teberosky, a concepção de


leitura passa a ser:

A. mecanicista, pois implica um movimento dialógico entre leitor e texto.


B. interativa, pois o aluno apenas memorizava as letras e combinações

entre elas.
C. mecanicista, uma vez que a criança interagia com diferentes gêneros
textuais.

D. interativa, pois pressupõe um movimento dialógico entre leitor, texto


autor.

Legenda: TAG: HIPóTESES SOBRE A LíNGUA ESCRITA, INTERAçãO, CONCEPçãO DE LINGUAGEM


REFERÊNCIA
CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetizando sem o ba-be-bi-bo-bu. Ed. Scipione. São Paulo. 1998.
ATIVIDADE FERREIRO, Emilia; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da Língua escrita. Tradução de Diana Myriam
Lichetenstein, Liana Di Marco, Mario Corso. Porto Alegre: Artmed, 1999.
Após a revolução industrial, a escola passa a alfabetizar com o HOLANDA, Aurélio Buarque. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2ª ed.revista e aumentada. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira. 1986.
propósito de:
KOOGANIHOUAISS. Enciclopédia e Dicionário ilustrado.3ª ed. Rio de Janeiro. 1998.

MACIEL, Francisca Isabel Pereira. As cartilhas e a história da alfabetização no Brasil: alguns apontamentos.
A. capacitar cidadãos críticos e conscientes do papel da escrita da
Disponível em http://seer.ufrgs.br/index.php/asphe/article/view/30604/pdf
sociedade.
(http://seer.ufrgs.br/index.php/asphe/article/view/30604/pdf ). Acesso em 20/07/2018.
B. preparar os alunos para atuar no mercado de trabalho e, dessa forma,

atender aos anseios do capitalismo.


C. desenvolver nos alunos as habilidades e competências para interpretar
e produzir textos dos mais diferentes gêneros.

D. levar o aluno a refletir sobre os diferentes usos da língua desde as séries


iniciais.

ATIVIDADE

A concepção de leitura nas cartilhas, tão difundidas no Brasil, era:

A. leitura como decodificação.

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