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Conversão de energia

Guilherme Henrique Alves


© 2018 by Universidade de Uberaba

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Projeto da capa
Agência Experimental Portfólio

Edição
Universidade de Uberaba
Av. Nenê Sabino, 1801 – Bairro Universitário

Catalogação elaborada pelo Setor de Referência da Biblioteca Central Uniube

Alves, Guilherme Henrique.


A87c Conversão de energia / Guilherme Henrique Alves –
Uberaba-MG: Universidade de Uberaba, 2018.
164 p. il : color.

Programa de Educação a Distância – Universidade de


Uberaba.
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7777-786-0

1. Energia elétrica – Conversão. 2. Circuitos magnéticos.


3. Transformadores elétricos. I. Universidade de Uberaba.
Programa de Educação a Distância. II. Título.
CDD: 621.3
Sobre o autor
Guilherme Henrique Alves

Mestre em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Uberlândia


(UFU), graduado em Engenharia Elétrica pela Universidade de Uberaba
(Uniube), professor do curso de Engenharia Elétrica da Universidade de
Uberaba (Uniube). Tem experiência nas áreas de conversão de energia
e máquinas elétricas.
Sumário
Apresentação.............................................................................................................. VII

Capítulo 1 Circuitos magnéticos............................................................. 1


1.1 Indutor....................................................................................................................... 2
1.2 Fluxo magnético e o estado de carga do indutor..................................................... 4
1.3 Curva característica do indutor................................................................................. 7
1.4 Energia e coenergia magnéticas.............................................................................. 9
1.5 Coenergia magnética.............................................................................................. 12
1.6 Indutores lineares e não lineares........................................................................... 14
1.7 Indutor linearizado.................................................................................................. 18
1.8 Campos magnéticos............................................................................................... 18
1.9 Linhas de campos magnéticos............................................................................... 20
1.10 Campo magnético e ímãs permanentes.............................................................. 23
1.10.1 Campo magnético de ímãs permanentes................................................... 23
1.11 Campo magnético e correntes elétricas............................................................... 24
1.11.1 Campos magnéticos devido ao movimento de cargas ou correntes
elétricas....................................................................................................... 24
1.11.2 Unidades de medida utilizadas................................................................... 26
1.11.3 Lei de Hopkinson: a analogia com a Lei de Ohm....................................... 31
1.11.4 Perdas no núcleo........................................................................................ 35
1.12 Circuito magnético................................................................................................ 35
1.13 Operação em corrente alternada.......................................................................... 43
1.13.1 Perdas por correntes de Foucault.............................................................. 44
1.13.2 Perdas por histerese................................................................................... 44
1.13.3 Perdas por frangeamento........................................................................... 45
1.14 Fator laminação.................................................................................................... 46

Capítulo 2 Transformadores................................................................. 53
2.1 Tensão induzida...................................................................................................... 54
2.2 Fator de acoplamento............................................................................................. 56
2.3 Indutância mútua em função das indutâncias próprias.......................................... 57
2.4 Ligação série de indutores...................................................................................... 58
2.5 Convenção dos pontos........................................................................................... 62
2.6 Transformadores..................................................................................................... 63
2.7 Relação entre tensão do primário e do secundário............................................... 64
2.8 Relação entre corrente do primário e do secundário............................................. 68
2.9 Impedância refletida................................................................................................ 71
2.10 Potência................................................................................................................ 73
2.11 Autotransformadores............................................................................................. 74
2.12 Circuito equivalente de um transformador........................................................... 75
2.13 Parâmetros do circuito equivalente...................................................................... 77
2.13.1 Ensaio a vazio..............................................................................................77
2.13.2 Ensaio em curto-circuito...............................................................................78
2.14 Indutores acoplados e indutância mútua.............................................................. 83
2.15 O núcleo de ferro de um transformador .............................................................. 89

Capítulo 3 Circuito equivalente simplificado e transformadores


trifásicos.............................................................................. 97
3.1 Circuito equivalente simplificado............................................................................ 99
3.2 Transformador com carga resistiva...................................................................... 102
3.3 Transformador com carga indutiva....................................................................... 106
3.4 Regulação de tensão em transformadores de potência...................................... 109
3.5 Regulação de tensão com dados do ensaio em curto-circuito............................ 117
3.6 Cálculo da impedância, resistência e reatância percentuais com os dados
do ensaio em curto-circuito.................................................................................. 119
3.7 Rendimento de transformadores.......................................................................... 123
3.8 Transformadores trifásicos................................................................................... 128
3.8.1 Tipos de conexões...................................................................................... 130
Apresentação
Caro(a) aluno(a),

A conversão de energia é um processo em que acontece o


armazenamento de energia sob uma forma e o seu fornecimento
acontece sob outra forma. Neste sentido, é fundamental que o profissional
da área da energia elétrica tenha conhecimentos sólidos sobre este
processo, assim como os conceitos e dispositivos neles relacionados.
Para tanto, elaboramos este livro intitulado Conversão de energia.

No primeiro capítulo, intitulado “Circuitos magnéticos”, você poderá


compreender a teoria dos indutores e dos circuitos magnéticos. Portanto
aprenderá como calcular a energia que será armazenada nos indutores
e a resolver circuitos magnéticos.

No segundo capítulo, “Transformadores”, daremos prosseguimento aos


estudos sobre dispositivos utilizados na transmissão de energia elétrica.
Você aprenderá a utilizar os conceitos de indutores magneticamente
acoplados, compreenderá a teoria de funcionamento dos transformadores
e calculará as grandezas elétricas em transformadores monofásicos,
determinando o circuito equivalente destes transformadores.

No terceiro capítulo, intitulado “Circuito equivalente simplificado e


transformadores trifásicos”, você verá com mais detalhes as unidades
dos transformadores, os modos de construção e suas vantagens.

Bom proveito nesta aprendizagem!


Capítulo Circuitos magnéticos
1

Introdução
Para entender o funcionamento dos dispositivos conversores
de energia, é necessário o estudo da Teoria dos Indutores dos
Circuitos Magnéticos. Mais do que isso, para a compreensão
do funcionamento geral desses dispositivos, é fundamental o
estudo de alguns conceitos e leis advindas de deduções a partir
de experimentos práticos. A operação de grande parcela dos
mecanismos presentes nos setores produtivos industriais pode
ser explicada por intermédio da Teoria do Eletromagnetismo e pela
solução de circuitos magnéticos.

Objetivos
Ao fi nal do estudo deste capítulo, você será capaz de:
• compreender a Teoria dos Indutores e dos circuitos
magnéticos;
• calcular a energia armazenada nos indutores;
• resolver circuitos magnéticos.

Esquema
1.1 Indutor
1.2 Fluxo magnético e o estado de carga do indutor
1.3 Curva característica do indutor
2 UNIUBE

1.4 Energia e coenergia magnéticas


1.5 Coenergia magnética
1.6 Indutores lineares e não lineares
1.7 Indutor linearizado
1.8 Campos magnéticos
1.9 Linhas de campos magnéticos
1.10 Campo magnético e ímãs permanentes
1.10.1 Campo magnético de ímãs permanentes
1.11 Campo magnético e correntes elétricas
1.11.1 Campos magnéticos devido ao movimento de cargas
ou correntes elétricas
1.11.2 Unidades de medida utilizadas
1.11.3 Lei de Hopkinson: a analogia com a Lei de Ohm
1.11.4 Perdas no núcleo
1.12 Circuito magnético
1.13 Operação em corrente alternada
1.13.1 Perdas por correntes de Foucault
1.13.2 Perdas por histerese
1.13.3 Perdas por frangeamento
1.14 Fator laminação

1.1 Indutor

O indutor é basicamente composto por um fio enrolado sobre um núcleo


constituído de material ferromagnético, muito embora tal núcleo possa
ser composto por outros materiais não-magnéticos, inclusive pelo ar. A
Figura 1 mostra o desenho esquemático do indutor percorrido por uma
corrente com o núcleo de ferro. O sentido do fluxo magnético por ele
produzido pode também ser obtido utilizando a regra da mão direita como
mostra a Figura 2.
UNIUBE 3

Figura 1: Representação esquemática de um indutor.

Como mostra a Figura 2 a seguir, ao fechar-se os dedos da mão direita no


sentido em que a corrente circula pelo enrolamento do dispositivo, o polegar
indica o sentido do fluxo magnético no interior do núcleo de ferro do indutor.

Figura 2: Regra do saca-rolhas (regra da mão direita).

Pela sua produção inerente de campos magnéticos, quando percorrido por


uma corrente elétrica, o indutor tem o principal papel no funcionamento de
equipamentos conversores de energia. E o que são estes dispositivos?
Estes são componentes de um circuito que, na sua entrada, recebem
energia em uma forma e a devolvem, na sua saída, sob outra. Nos
4 UNIUBE

conversores eletromecânicos de energia, estão envolvidas as seguintes


formas de energia: mecânica, magnética e térmica. Nestes conversores,
a entrada é alimentada com energia mecânica e, na saída, elétrica
(geradores), ou o contrário energia elétrica na entrada e mecânica na
saída (motores). Os principais dispositivos dessa categoria são os
geradores e os motores elétricos, respectivamente como mostra a Figura 3.

a)

b)

Figura 3: Desenho representativo do funcionamento: (a) motor elétrico (b) gerador elétrico.

1.2 Fluxo magnético e o estado de carga do indutor

Um fenômeno físico muito interessante é a criação de campos


magnéticos através da excitação do indutor. Se uma corrente elétrica
UNIUBE 5

circula pelo enrolamento do indutor, cria-se, em torno dele, um campo


magnético. Para o indutor enrolado em um núcleo ferromagnético, um
fluxo magnético.

Se uma corrente elétrica circula pelo enrolamento do indutor, cria-se, no


núcleo, um fluxo magnético concatenado λ, que é o somatório do fluxo
produzido por cada espira da bobina do dispositivo:

λ = ΣΦk (1)

em que Φk é fluxo associado à k-ésima espira do enrolamento da bobina


do indutor. Muitas hipóteses simplificadoras são adotadas em uma
análise de circuitos magnéticos. Uma dessas hipóteses é que Φk = Φ,
para qualquer k. E o fluxo total será:

λ = nΦ (2)

sendo que λ é o fluxo concatenado, n é o número de espiras e Φ é o fluxo


produzido por cada espira.

EXPERIMENTANDO

Vamos simular o aumento do fluxo com o aumento do número de espiras.

Para isso, pegue uma bobina com 300 espiras e coloque sobre um núcleo de
ferro. Aplique uma tensão que a bobina suporta, por exemplo, 50 V contínuos
ou alternados.
Aproxime do núcleo de ferro uma moeda de 1 real. Sinta a força de atração.
Depois troque a bobina de 300 espiras por uma de 900 espiras e aplique a
mesma tensão. Aproxime novamente a moeda de 1 real.
Note que a força de atração aumentou.
De fato, isso acontece devido ao aumento do fluxo, o que implica uma maior
densidade de fluxo (fluxo por área de seção reta) com impacto imediato
sobre a força de atração entre o núcleo de ferro e a moeda.
6 UNIUBE

O indutor armazena energia em um campo magnético, que se estabelece


quando uma corrente elétrica circula pelo seu enrolamento. O estado
de excitação magnética do indutor, que está intimamente associado
à quantidade de energia armazenada em seu núcleo de ferro, é
caracterizado pelo fluxo concatenado λ. Conforme ilustra a Figura 4,
tal fluxo está interligado com a corrente que circula no enrolamento do
indutor e independe da geometria do núcleo, do número de espiras
e do material magnético do indutor. Assim, pode‑se dizer que o fluxo
concatenado λ é a variável de estado e a corrente i, sua variável de
vínculo.

Figura 4: Variáveis de estado e de vínculo.

Variável de estado é qualquer variável que univocamente caracteriza o


estado de excitação de um dispositivo. Para cada estado de excitação
do dispositivo, tem-se um único valor de sua variável de estado,
independentemente da maneira como o sistema atingiu aquele ponto.
Da mesma maneira, para cada conjunto de valores de suas variáveis de
estado tem-se um único estado de excitação.
UNIUBE 7

1.3 Curva característica do indutor

A curva característica de um material magnético, como já se sabe do


estudo dos materiais magnéticos, é bem definida por uma curva no
plano B x H. Ou seja, relaciona a grandeza magnética densidade de
fluxo magnético B com a intensidade do campo magnético H, conforme
pode se ver na Figura 5.

Figura 5: Curva característica de um


material magnético ideal.

A curva mostrada na Figura 5 acima é a curva característica de um


material magnético ideal, ou seja, um material que não apresenta as
chamadas perdas por histerese. No entanto sabe-se que os materiais
magnéticos apresentam uma relação complexa entre a densidade de
fluxo B e a intensidade de campo H. De fato, a densidade de campo
B depende do valor da intensidade de campo H e também da maneira
como seu valor foi atingido (Figura 6).
B

Figura 6: Curva característica de um material magnético real.


8 UNIUBE

Para um determinado ciclo, a densidade de fluxo B possui dois valores


para cada valor de H. Um, quando a intensidade de campo está
aumentando, e outro, quando está diminuindo. Isso acontece devido ao
que se chama de histerese. Do conhecimento adquirido a partir do estudo
de circuitos magnéticos, sabe‑se que

(3)

em que A é a área da secção transversal do núcleo de ferro.

Considerando que a densidade de fluxo B possua um valor constante ao


longo de toda a secção transversal do núcleo do indutor, então

(4)

Substituindo (4) em (2), chega-se a:


, ou seja, , (5)

𝝀 é o fluxo concatenado, é constante e B é a densidade de fluxo.

Assim, percebe‑se que existe uma relação direta entre a densidade de


fluxo B e o fluxo concatenado λ. Considere, agora, a lei de circuito de
Ampère

(6)

O termo H é a intensidade de campo, dl é a diferencial de comprimento


do circuito magnético, n é o número de espiras e i é a corrente que circula
no enrolamento do indutor. Considerando que a intensidade de campo
H é constante, então
(7)
UNIUBE 9

Assim, isolando o valor da corrente i, tem-se

(8)

Percebe‑se, da mesma maneira, que existe uma relação direta entre a


corrente e o campo magnético H (Figura 7) a seguir.

Figura 7: Curva característica de um material magnético real.

E, assim, como B e H estão interligados por uma relação funcional,


que é a curva característica do material magnético, as variáveis λ e i
determinam a mesma curva característica, devido ao vínculo entre elas.

1.4 Energia e coenergia magnéticas

Considere que o indutor, representado na Figura 8 a seguir, esteja


inicialmente energizado e que uma corrente i, proveniente da fonte de
alimentação, circule pelo enrolamento do dispositivo.
10 UNIUBE

Figura 8: Curva característica de um material


magnético ideal.

Se isso é verdade, o fluxo concatenado será , gerando um par


ordenado (i,λ) = ( , ). Considere, agora, que a fonte injete uma nova
corrente no enrolamento do indutor gerando um novo par ordenado (i, λ)
= ( , ) (Figura 9).

λ
Wm

Figura 9: Energia armazenada no indutor.

Aplicando a lei das tensões de Kirchhoff ao circuito elétrico do indutor,


tem-se:

(9)

Multiplicando ambos os lados dessa expressão por , tem-se:


UNIUBE 11

(10)

Executando as devidas simplificações, tem-se

(11)

O termo é a energia fornecida pela fonte, é a energia


dissipada no enrolamento na forma de calor e é a energia
armazenada no indutor, no intervalo de tempo . Retirando a diferencial de
energia dissipada no enrolamento do indutor da diferencial fornecida pela
fonte, tem-se o diferencial da energia magnética armazenada no indutor

(12)

Assim
(13)

A energia armazenada no indutor, quando a corrente foi de para ,


pode ser calculada por

(14)

Assim

(15)

Da mesma maneira que o indutor absorveu e armazenou essa energia


devido ao aumento da corrente de para , se ocorrer o contrário, qual
seja decrescer para , ocorrerá o retorno de para . Então, a
energia é devolvida para a fonte de alimentação.
12 UNIUBE

1.5 Coenergia magnética

Conforme foi observado anteriormente, é possível calcular a energia


armazenada em um indutor, se conhecida a expressão da corrente em
função do fluxo concatenado λ. Ou seja, tem que se ter . Existem
situações em que o contrário acontece, qual seja, tem-se disponível
. E mais que isso, pode ser que colocar analiticamente a corrente
em função do fluxo torne-se bastante trabalhoso ou até impossível, por
exemplo, numa expressão do tipo

(16)

Assim, pode‑se utilizar um artifício matemático que é chamado de


coenergia (Figura 10).

λ2
Wm

λ1

i1 i2

Figura 10: Coenergia armazenada no indutor.

A diferencial da coenergia magnética é dada por

(17)
UNIUBE 13

Integrando os dois lados dessa expressão, tem-se:

(18)

Calculada a coenergia, é possível calcular a energia armazenada,


utilizando a expressão 19 a seguir descrita:

(19)

Em que é a coenergia magnética, é energia magnética e i é a


área total.

Entendidas e compreendidas as equações anteriores, vamos resolver


os exemplos a seguir.

Exemplo 1
Considere um indutor descrito pelas expressões a seguir, em que o fluxo
é dado em Weber e a corrente em Ampère.

- Esboce a curva característica para esse indutor.

- Calcule a energia absorvida da fonte de alimentação, por esse indutor,


se a corrente for elevada de 0 para 5 A.

Resolução:
a) Esboço da curva característica do indutor (Quadro 1 e Figura 9).

a) Cálculo da energia absorvida pelo indutor.


14 UNIUBE

Coenergia:

Energia

1.6 Indutores lineares e não lineares

Os indutores normalmente são dispositivos não lineares. Isso se deve


à presença do núcleo de material ferromagnético. Ou seja, seu núcleo
é constituído de material magnético, cuja curva característica natural é
não linear, devido ao efeito da saturação que os materiais magnéticos
apresentam. No entanto, se, para construir o núcleo do indutor, for
utilizado um material com características lineares, ou mesmo se o núcleo
for de ar, o fluxo concatenado λ será proporcional à corrente i que circula
no enrolamento do indutor, para qualquer valor de corrente i.
UNIUBE 15

Observando a Figura 11, pode-se obter:


(20)

A variável λ é o fluxo magnético concatenado, L é a indutância própria do


indutor e i é a corrente que circula no enrolamento do dispositivo

Figura 11: Curva característica de um indutor linear.

A energia magnética armazenada nesse indutor será

(21)

Da equação 20, tem-se que

(22)

Assim

(23)

Portanto

(24)
16 UNIUBE

Se desejar calcular a coenergia magnética, proceda da seguinte maneira:

(25)

Utilizando a equação 20, tem-se

(26)

Portanto
(27)

Substituindo a expressão 22 em 27, chega-se a:

(28)

Conclui-se que se o indutor é linear e a energia e a coenergia são iguais:

(29)

Por outro lado, se, para construir o núcleo do indutor, for utilizado algum
material ferromagnético, o fluxo concatenado λ apresentará saturação à
medida que a corrente i, que circula no enrolamento do indutor, crescer.
Sua curva característica será como mostrada na Figura 12.
UNIUBE 17

λ2

λ1

i1 i2

Figura 12: Curva característica de um indutor não linear.

Considerando que a relação λ x i pode ser representada anteriormente,


então a coenergia será

(30)

Resolvendo o cálculo integral, tem-se

(31)

A energia armazenada será

(32)

Para esse caso, nota-se, observando a Figura 12, que a energia e a


coenergia possuem valores distintos, quando a corrente cresce de i1
para i2 provocando o aumento de λ1 para λ2.
18 UNIUBE

1.7 Indutor linearizado

A linearização do indutor se faz necessária porque, em muitas aplicações,


é preciso um comportamento linear do indutor. No entanto, como os
núcleos dos indutores são constituídos de material ferromagnético, tal
comportamento não é natural. Então, para obtê‑lo, pode‑se abrir um
entreferro (gap de ar) no circuito magnético do indutor, conforme mostra
a Figura 13.
ln

Figura 13: Indutor linearizado por intermédio da abertura


de um gap de ar.

De fato, o ar apresenta um comportamento linear, ou seja, quando o


núcleo é o ar, o fluxo magnético muda proporcionalmente com a variação
da corrente no enrolamento do indutor. Portanto, quando se abre um
gap de ar no circuito magnético de um indutor, o indutor passa a ter um
comportamento linear.

1.8 Campos magnéticos

O campo magnético é o efeito especial gerado por correntes elétricas ou


por materiais, mais conhecido como ímã permanente, com capacidade
natural de manterem suas propriedades magnéticas. O campo magnético,
em alguns materiais, em qualquer dado ponto do espaço, é especificado
por ambas direções e magnitudes, onde pode ser representado por um
campo vetorial como mostra a Figura 14.
UNIUBE 19

Figura 14: Representação gráfica


de um campo vetorial. O módulo do
vetor campo em qualquer ponto é
proporcional ao comprimento da seta.

O termo campo vetorial é usado para dois diferentes, mas bem


relacionados, campos denominados B e H, em que a unidade de H é
medida em Ampère por metro ( ou ) no SI. Já o campo B é medido
em Teslas (T), que equivale a Newton por metro por Ampère (
ou no SI. É mais comum a definição para B em termos de
força de Lorentz, que exerce sobre o movimento de cargas elétricas.

Na Figura 15, apresenta-se o campo magnético de um ímã cilíndrico


ideal com seu eixo de simetria dentro do plano da imagem. O campo
magnético é representado pelas linhas de campo magnético, que
mostram a direção do campo em diferentes pontos.

Figura 15: Representação de um ímã permanente


com a orientação de seu campo magnético.
20 UNIUBE

Os campos magnéticos podem ser produzidos movendo cargas elétricas


ou pelo momento magnético das partículas elementares associadas à
sua própria propriedade quântica, o spin. É interessante citar que campos
elétricos e magnéticos são dois aspectos inter-relacionados para um
mesmo objeto.

No senso comum, os campos magnéticos são geralmente notados pela


sua força gerada através de ímãs permanentes, que atraem materiais
ferromagnéticos, tais como: ferro, cobalto ou níquel, e, dependendo da
situação, repelem outros magnetos.

Os campos magnéticos são largamente utilizados durante toda


modernização tecnológica, particularmente em engenharia elétrica e
eletromecânica. O planeta Terra produz seu próprio campo magnético,
que é importante na utilização das navegações, para servir como “escudo”
da atmosfera terrestre contra os ventos solares. Os campos magnéticos
girantes são uma das principais características de funcionamento dos
atuais motores e geradores elétricos. As forças magnéticas informam
sobre portadores de cargas em um material através do conhecido efeito
Hall. A interação dos campos magnéticos em dispositivos elétricos tal
como transformadores é o principal objetivo de estudo em disciplinas de
conversão de energia.

1.9 Linhas de campos magnéticos

Mapear o campo magnético de um ímã é uma tarefa considerada simples


a princípio. O primeiro passo é medir a força e a direção do campo
magnético em um grande número de localizações diferentes (ou em
todos os pontos no espaço). Então marque cada local com uma flecha
(chamada vetor), apontando na direção do local do campo magnético
com mesma magnitude, ou o tamanho do vetor proporcional à força
do campo magnético naquele ponto medido. Um campo vetorial, como
apresentado na Figura 14, pode ser uma ferramenta muito interessante
UNIUBE 21

para a demonstração deste método. As utilizações de bússolas podem


revelar, com facilidade, a direção das “linhas” de campo magnético. Estes
equipamentos têm a característica de, quando inseridos em um campo
magnético, apontarem para o polo sul do ímã como mostra a Figura 16.

Figura 16: A utilização de bússolas para a identificação


da trajetória do campo magnético de um ímã permanente.

Um método alternativo para mapear o campo magnético é “conectar”


as flechas para formar linhas de campo magnético. A direção do campo
magnético, em qualquer ponto, é paralela à direção próxima às linhas de
campo e a densidade de campo local das linhas pode ser proporcional
à sua força. Pode-se notar que a força dos ímãs permanentes é maior
próximo aos polos, pelo aumento da quantidade de linhas como mostra
a Figura 17.

Linhas de campo magnético são como linhas de fluxo, que representam


alguma quantidade contínua, e, para caracterizar diferentes resoluções,
basta apresentar no desenho mais ou menos linhas. A vantagem em
utilizar linhas de campos magnéticos como representação é que muitas
leis do magnetismo (e eletromagnetismo) podem ser utilizadas de forma
completa e concisa, usando simples conceitos, tais como o “número”
de linhas de campo que atravessam uma superfície. Estes conceitos
podem ser rapidamente “traduzidos” para suas formas matemáticas. Por
exemplo, o número de linhas de campo através de uma dada superfície
é a superfície integral do campo magnético.
22 UNIUBE

Vários fenômenos têm o efeito de “exibir” as linhas de campo magnético


como se as linhas de campo magnético fossem um fenômeno de linhas
físicas. Por exemplo, limalhas de aço colocadas em um campo magnético
formam trajetos que correspondem a “linhas de campo” (Figura 18). Essas
linhas de campo magnético também podem ser exibidas visualmente na
natureza em auroras polares, onde os dipolos de partículas de plasma
interagem criando visíveis listras de luz que alinham com a direção local
do campo magnético terrestre.

Figura 17: Linhas de campos magnéticos de um ímã permanente representadas pelo


alinhamento de possíveis “limalhas de aço” colocadas em cima de um papel.

Linhas de campo podem ser usadas como ferramenta qualitativa para


visualizar forças magnéticas. Em substâncias ferromagnéticas como o
ferro, forças magnéticas podem ser entendidas imaginando que as linhas
de campo exercem uma tensão mecânica (igual à borracha elástica) ao
longo do seu próprio comprimento e uma pressão perpendicular ao longo
de linhas de campos vizinhas. De forma diferente, os polos diferentes de
magnetos atraem-se (Figura 18), por causa de suas ligações com mais
linhas de campo, e polos iguais se repelem por causa de suas linhas de
campos não se encontrarem, mas correrem paralelas, empurrando um
ao outro.
UNIUBE 23

Figura 18: Linhas de campo para um sistema de dois ímãs


com polos diferentes.

1.10 Campo magnético e ímãs permanentes

Os ímãs permanentes são objetos que produzem suas próprias linhas


de campo magnéticas contínuas. Estes efeitos podem ser observados
em materiais ferromagnéticos, tais como o ferro e o níquel, depois de
magnetizados e, por consequência, criando ambos os polos, norte e sul.

1.10.1 Campo magnético de ímãs permanentes

O campo magnético de ímãs permanentes pode ter diferentes trajetórias


que dependem de toda a geometria do ímã, especialmente próximo dos
magnetos. A força de um magneto é proporcional ao campo produzido
por vários pequenos ímãs infinitamente pequenos e retos dos quais é
construído o chamado momento do dipolo magnético m. As equações
não são geralmente conhecidas e também dependem da distância e da
orientação do ímã. Girando a barra do ímã (invertendo seus polos) é
equivalente a uma rotação de m em 180º.

O campo magnético de ímãs maiores pode ser obtido pela modelagem


destes pequenos dipolos como uma somatória do efeito da quantidade
dos pequenos ímãs tendo cada um seu próprio efeito do m. O campo
magnético produzido por um ímã então é o valor líquido de campos
24 UNIUBE

magnéticos destes dipolos. E qualquer força líquida no ímã é resultado


da somatória de forças dos dipolos individuais.

1.11 Campo magnético e correntes elétricas

As correntes elétricas percorridas em um condutor geram um campo


magnético em torno do fio e outros campos vizinhos sofrem a ação
dessas forças devido aos campos magnéticos criados.

1.11.1 Campos magnéticos devido ao movimento de cargas ou


correntes elétricas

Todas as partículas carregadas em movimento produzem campos


magnéticos. Ao mover cargas pontuais, tais como elétrons, produzem
complexos, porém bem conhecidos, campos magnéticos que dependem
da carga, velocidade e aceleração destas partículas.

As linhas de campo do campo magnético formam círculos concêntricos


em torno do fio, em forma cilíndrica ao longo desse fio, quando ele é
percorrido por correntes elétricas. A direção de tal campo magnético pode
ser determinada usando a regra da mão direita, como mostra a Figura
1. A força do campo magnético diminui com o aumento da sua distância
ao fio.

Dobrando um fio (criando loop) que transporta a corrente, concentra-se


o campo magnético dentro deste loop, como mostra a Figura 19.
UNIUBE 25

+ −
Figura 19: Uma espira (loop), percorrido por uma corrente elétrica.

Portanto, ao dobrar o fio em múltiplas voltas em torno de espaços dos


loops, pode-se formar uma bobina ou solenoide (Figura 20), aumentando
o efeito do campo magnético produzido. Um dispositivo então enrolado
em torno de um núcleo de ferro pode atuar como um eletroímã (Figura
21). Geralmente a força do campo magnético pode ser controlada através
do nível da corrente da bobina. Um eletroímã de comprimento finito
produz um campo magnético que parece igual ao produzido por um ímã
permanente, com a força e polaridade determinada pelo fluxo de corrente
através da bobina.

Figura 20: Linhas de campo percorridas em uma bobina.


26 UNIUBE

Figura 21: A força do eletroímã pode ser controlada pela corrente.

Figura 22: Linhas de campo para um sistema de dois ímãs


com polos iguais.

1.11.2 Unidades de medida utilizadas

Em unidades do SI, o campo B é medido em Tesla (T) e o correspondente


fluxo magnético é medido em Weber (Wb), de modo que a densidade
de fluxo de 1 Wb/m² equivale a 1 Tesla. A unidade SI de Tesla é
equivalente a (newton.segundos)/(coulomb.metro). Em unidades de CGS,
B é medido em Gauss (G)*. Portanto pode-se concluir que a densidade
de fluxo é igual a:

(33)
UNIUBE 27

em que:

B = Densidade de fluxo magnético - (Teslas)


= Fluxo magnético - Weber (Wb)
A = Área - metros quadrados (m²)

*A conversão é 1 T = 10.000 G. O valor de um nanotesla (1nT) é


comumente chamado na geofísica de 1 gama (γ). O campo H é medido
em Ampère por metro (A/m) em unidades SI e, em Oersteds (Oe), para
unidades CGS.

Exemplo I
Determine a densidade de fluxo B em Teslas para a peça da Figura 23.

Figura 23: Exemplo I.

Solução:

Exemplo II
De acordo com a Figura 23, se a densidade de fluxo for 1,8 T e a área da
seção reta for 0,5 pol², determine o fluxo magnético no interior da peça.

Solução:

Realizando a conversão de , em m²:


28 UNIUBE

Portanto

No eletromagnetismo, permeabilidade é a medida da habilidade de um


material suportar a formação de um campo magnético nele mesmo.
Portanto ele é o grau de magnetização que um material tem na resposta
para uma aplicação de campo magnético. A permeabilidade magnética
é normalmente representada em itálico pela letra  µ.

A permeabilidade no espaço livre (vácuo) é a medida da quantidade de


permeabilidade encontrada ao se formar um campo magnético em vácuo.

(34)

A permeabilidade relativa, representada pelo símbolo , é a relação da


permeabilidade de um material específico e da permeabilidade do vácuo.
O termo magnetismo descreve como o material responde no nível
microscópio a uma aplicação do campo magnético externo e é usado
para categorizar o material. Os materiais são divididos em grupos
baseados em seu comportamento magnético:

Materiais diamagnéticos - produzem uma magnetização que se


opõe ao campo magnético externo como mostra a Figura 24. Algumas
características destes materiais são:
• apresentam susceptibilidade negativa, em torno de ;
• têm permeabilidade abaixo de 1 ( .
UNIUBE 29

Exemplos de materiais diamagnéticos: gases inertes, alguns metais


(cobre, bismuto, ouro, prata, mercúrio etc.).

Figura 24: Representação de um material diamagnético exposto a um


campo H.

Figura 25: O grafite pirolítico (roxo) flutuando sobre um conjunto de


ímãs de neodímio. O grafite pirolítico tem propriedades diamagnéticas.
30 UNIUBE

Materiais paramagnéticos - estes materiais possuem uma tendência


de alinhar os dipolos magnéticos atômicos paralelamente ao campo
magnético externo aplicado. Caso estes dipolos estejam unidos
fortemente, pode-se dizer que o fenômeno será de ferromagnetismo ou
ferrimagnetismo. As figuras 26, 27 e 28 mostram uma ilustração da prova
do paramagnetismo:

Figura 26: Pequenos dipolos magnéticos na


ausência de um campo magnético externo.

Figura 27: Pequenos dipolos magnéticos com um


campo magnético fraco.

Figura 28: Pequenos dipolos magnéticos com um


campo magnético.
UNIUBE 31

Algumas características destes materiais são:


• apresentam baixa susceptibilidade, em torno de ~ ;
• têm permeabilidade acima de 1 ( .
Exemplos de materiais paramagnéticos: alumínio, tungstênio, titânio,
platina.
Materiais ferromagnéticos - os materiais ferromagnéticos (Figura 29)
podem ter uma magnetização independentemente de um campo B
aplicado.

Figura 29: Material ferromagnético com


aplicação de um campo magnético externo.

Algumas características destes materiais são:


• apresentam alta susceptibilidade;
• têm permeabilidade muito maior que 1 ( .
Exemplos de materiais ferromagnéticos: ferro, níquel, cobalto, cromo etc.

1.11.3 Lei de Hopkinson: A analogia com a Lei de Ohm

Em circuitos elétricos, a Lei de Ohm é uma relação empírica entre a FEM


( ) aplicada através de um elemento e a corrente (I) é gerada através
32 UNIUBE

deste elemento. A relação pode ser escrita como:


(35)

Em que R é a resistência elétrica do material. Em contrapartida, a Lei


de Hopkinson utiliza uma relação semelhante para circuitos magnéticos.
Esta lei foi nomeada para homenagear o engenheiro eletricista John
Hopkinson, e afirma que:
(36)

Em que é a Força Magnetomotriz (FMM) através de um material


magnético, é o fluxo magnético e é a relutância magnética
deste material. Esta relação é devida à relação empírica entre a força
magnetizante H e a densidade de fluxo B, dada por:
(37)

Em que é a permeabidade do material. Assim como a Lei de Ohm, a


Lei de Hopkinson pode ser interpretada como uma equação empírica que
funciona para alguns materiais, ou pode ser usada como uma definição
para a relutância.

1.11.3.1 Relutância

A relutância magnética, ou “resistência magnética”, é análoga à


resistência em um circuito elétrico (apesar de não dissipar energia). Em
semelhança ao caminho de um campo elétrico que gera uma corrente
elétrica que, por sua vez, percorre o caminho de menor resistência, um
campo magnético gera um fluxo magnético que segue o caminho de
menor relutância.

A relutância magnética total é igual à relação entre a FMM - o fluxo


magnético no circuito. Em corrente alternada, a relutância é a relação
entre os valores de amplitude senoidal da FMM e o fluxo. Pela definição,
pode ser expressa como:
UNIUBE 33

(38)

Em que é a relutância em Ampère-espira por Weber (At/Wb) no SI ou


em rels (Gilbert/Maxwells) para o CGS.

O fluxo magnético sempre é formado em um circuito fechado, como


é descrito pelas equações de Maxwell, e é dependente da relutância
em torno do trajeto do caminho fechado. O ar e o vácuo têm altas
relutâncias, enquanto materiais que são facilmente magnetizados, tais
como ferro doce, têm baixa relutância. As concentrações de fluxo em
materiais de baixa relutância podem formar fortes e temporários polos
e, por consequência, causar forças mecânicas que tendem a mover os
materiais em direções de regiões de fluxo.

O inverso da relutância é chamado permeância:

(39)

A unidade da permeância no SI é Weber por Ampère-espira (Wb/At).

1.11.3.2 A origem microscópica da relutância

A relutância de um circuito magnético uniforme pode ser calculada como:

(40)

em que,:
• é o comprimento do elemento em metros (m);
• é a permeabilidade do material em que é a
permeabilidade relativa do material (adimensional) e é a
permeabilidade magnética do vácuo ( );
• A é a seção transversal (área) do circuito em metros quadrados (m²).
34 UNIUBE

Similarmente a equação da resistência elétrica em materiais é semelhante


à da relutância, com a permeabilidade sendo análoga à condutividade,
em que o inverso da condutividade é a conhecida e muito utilizada em
circuitos elétricos, resistividade.

Materiais com longas e finas geometrias apresentam baixa permeabilidade


levando a altas relutâncias. Baixa relutância, assim como na resistência
em circuitos elétricos, é geralmente preferida.

1.11.3.3 Força magnetomotriz (FMM)

Similarmente à Força Eletromotriz (FEM) que conduz uma corrente de


cargas elétricas em um circuito elétrico, a Força Magnetomotriz (FMM),
ou Força Magnetizante, “conduz” um fluxo magnético através de um
circuito magnético. O termo “força magnetomotriz”, embora seja um termo
equivocado, pois não é uma força e não existe nada se movendo em um
circuito magnético, é utilizado na maioria das referências teóricas.

Realizando uma analogia com a FEM de um circuito elétrico, a Força


Magnetomotriz ℱ em torno de um loop fechado é definida como:

(41)

em que H (ou campo H) é também denominado Força Magnetizante


e a constante é o comprimento do circuito magnético. A Força
Magnetomotriz representa a pressão que hipotéticas “cargas magnéticas”
teriam para completar o circuito. O fluxo magnético que é conduzido
realmente não é uma corrente de cargas magnéticas. Isto é apenas uma
mera relação que se faz da FMM com a corrente elétrica gerada pelo
FEM para fins didáticos.

A unidade da Força Magnetomotriz é o Ampère-espira (Ampere turn


ou At), representada por uma corrente contínua estável de um ampère
UNIUBE 35

percorrendo apenas uma única espira com o núcleo constituído de vácuo.


O Gilbert (Gb), estabelecido pela IEC (International Electrotechnical
Commission), em 1930, é a unidade CGS de FMM e é uma unidade
ligeiramente menor do que o Ampère-espira. A unidade recebeu esse
nome em memória de William Gilbert (1544-1603), físico inglês e filósofo
natural.

A Força Magnetomotriz pode, muitas vezes, ser rapidamente calculada


usando a Lei de Ampère. Por exemplo, a Força Magnetomotriz ℱ de uma
longa bobina é:
(42)

Em que N é o número de espiras e I é a corrente na bobina. Na prática,


esta equação é usada para FMM de indutores reais sendo N o número
de voltas da bobina indutora.

1.11.4 Perdas no núcleo

Quando o núcleo é sujeito a uma mudança do campo magnético, como


em dispositivos que usam corrente alternada, tais como transformadores,
indutores, motores CA e alternadores, alguma potência que seria
idealmente transferida através da saída do dispositivo na verdade é
perdida no núcleo, dissipando em forma de calor e algumas vezes até
em ruído audível.

1.12 Circuito magnético

Partindo da Lei de Faraday e da Lei de Ampère, é possível obter as


expressões que possibilitam calcular as grandezas de um circuito
magnético. Conforme anteriormente abordado, é possível relacionar o
36 UNIUBE

fluxo concatenado λ, a corrente elétrica i e a indutância L, por intermédio


das seguintes expressões:

(43)

Substituindo as equações 2 e 6 em 43, obtém-se:

(44)

Pelo conhecimento adquirido do estudo dos materiais magnéticos e da


teoria do eletromagnetismo, sabe-se que:
(45)

A variável B é a densidade de fluxo magnético, H é a intensidade do


campo magnético e é a permeabilidade. Permeabilidade é uma
propriedade do meio. Quanto maior for a permeabilidade de um meio,
maior será a facilidade de penetração do fluxo magnético nele.

Se esse meio é o vácuo, a permeabilidade é Weber/(A.m) e


costuma-se apresentar a permeabilidade dos materiais como sendo um
valor relativo à permeabilidade do vácuo. Assim, tem-se que

(46)

Na literatura atual, valores típicos de permeabilidade relativa µr variam


entre 2.000 e 80.000. Isolando o valor da permeabilidade na expressão
45 e substituindo na expressão 44, obtém‑se:

(47)

Assim,
(48)
UNIUBE 37

Sendo que P é a permeância e é dada por

(49)

A indutância pode ainda ser expressa por

(50)

CURIOSIDADE

A unidade de indutância é Henries, escrito H. Isto se deve a uma homenagem


prestada ao físico americano Joseph Henry. A quantidade 1 H é um valor muito
grande de indutância, por isso em muitas situações um indutor é especificado
em mH, que significa 10‑3 H.

Sendo a relutância dada por:

(51)

Assim, comparando as expressões, vê-se que relutância é o inverso da


permeância:

(52)

Da equação 38, obtém-se:

(53)

Substituindo a expressão 32 em 42, obtém-se:

(54)
38 UNIUBE

E ainda substituindo a expressão 2 na expressão 42, obtém-se:

(55)

Então,

ℛ (56)

Essa expressão é análoga à lei de Ohm, em que:


(57)

Assim, é possível fazer uma analogia entre um circuito magnético e um


circuito elétrico (Figura 30):

i
+
V FMM

Figura 30: Analogia entre o circuito magnético e o circuito elétrico.

Em resumo, o Quadro 1, a seguir, relaciona as grandezas magnéticas


com as grandezas elétricas de um circuito elétrico análogo.

Quadro 1: Correspondência entre grandezas magnéticas e elétricas

Grandeza elétrica
Grandeza magnética
correspondente
Ø (fluxo magnético) i (corrente elétrica)
µ (permeabilidade) σ (condutividade)

(relutância) (resistência)

P= (permeância) (resistência)
UNIUBE 39

(força eletromotriz)
(força magnetomotriz)
Fonte: Adaptado de Nasar (1984, p.6).

IMPORTANTE!

Para os circuitos magnéticos, são feitas algumas considerações


simplificadoras, para facilitar sua análise. Uma delas é que as dimensões
devem ser tais que a densidade de fluxo magnético pode ser considerada
constante e possibilite calcular o fluxo magnético, utilizando expressão
matemática φ = B A. Outra consideração é que a longitude média da
trajetória pode ser utilizada em qualquer cálculo das grandezas magnéticas.

Outro aspecto importante é que a força magnetomotriz se iguala ao produto


da intensidade do campo magnético pelo comprimento médio do circuito
magnético, FMM = Hl = ni.

E, por último, fazendo uma analogia com a lei das correntes de Kirchhoff para
circuitos elétricos, pode‑se afirmar que, em uma bifurcação de um circuito
magnético, a soma dos fluxos que chegam se iguala com a soma dos fluxos
que dela saem.

Compreendidos esses itens anteriores, vamos aplicá-los a alguns exemplos.

Exemplo 2

O circuito magnético mostrado na Figura 15 a seguir refere‑se a um indutor,


com núcleo de ferro.
40 UNIUBE

Figura 31: Circuito magnético.

Considerando que o fluxo magnético está totalmente confinado


no núcleo do indutor e ainda de posse dos seguintes dados:
,

a) calcule, para esse circuito, as grandezas magnéticas: relutância,


fluxo magnético e força magnetomotriz;
b) desenhe o circuito elétrico equivalente, anotando os valores de
seus parâmetros calculados no item a;
c) calcule a corrente elétrica que está circulando no enrolamento do
indutor;
d) se o número de espiras do indutor fosse reduzido em 30%, qual
seria a corrente necessária para manter a mesma densidade de
fluxo no núcleo desse indutor?

Resolução:
Relutância

=>
Fluxo magnético

Força magnetomotriz

=> Ae
UNIUBE 41

Circuito elétrico equivalente (Figura 32)

Figura 32: Circuito elétrico análogo equivalente.

Corrente que circula no enrolamento do indutor:

=>

Nova corrente no enrolamento do indutor:

i = 454 ma

Exemplo 3

Seja o circuito magnético mostrado na figura a seguir referente a um indutor,


com núcleo de ferro, no qual foi aberto um gap de ar (Figura 33).

Figura 33: Circuito magnético com gap de ar.


42 UNIUBE

Informações e dados técnicos:

n = 784 espiras,
,

Considerando que a densidade de fluxo no ferro e entreferro é B=1,56Wb/


m2, pede‑se:

a) calcular as grandezas magnéticas e desenhar o circuito elétrico


equivalente, anotando os parâmetros;
b) calcular a corrente que circula no enrolamento da bobina do indutor;
c) calcular o fluxo concatenado λ;
d) o valor percentual da relutância do ferro para relutância do
entreferro.

Resolução:
a) Grandezas magnéticas e circuito magnético (Figura 34).
UNIUBE 43

Figura 34: Circuito elétrico análogo equivalente para o circuito com dois materiais.

b) Corrente que circula no enrolamento da bobina do indutor:

c) Fluxo concatenado λ:

Valor percentual da relutância do ferro para relutância do entreferro

A relutância do núcleo é muito pequena em relação à relutância do gap de ar.

1.13 Operação em corrente alternada

A maioria das aplicações dos dispositivos conversores de energia


acontece em sistemas elétricos, em corrente alternada. Nesses sistemas,
as formas de ondas das tensões de alimentação são senoides. Essas
tensões de alimentações fornecem correntes que produzem forças
magnetomotrizes e, por consequência, fluxos magnéticos, com formas
de ondas também bem próximas a senoides. Como consequência, há
dois efeitos em termos de perdas nos núcleos dos dispositivos:
- as perdas por correntes de Foucault e
- as perdas por histerese.
44 UNIUBE

1.13.1 Perdas por correntes de Foucault

A presença do fluxo magnético alternado, por conseguinte, variável no


tempo, resulta na indução de tensões alternadas no núcleo de ferro do
dispositivo. Como o ferro é condutor de eletricidade, correntes elétricas
por ele circulam. Essas correntes são denominadas correntes parasitas
e produzem as chamadas perdas de correntes de Foucault, aquecendo
o dispositivo. Tal perda de energia pode ser determinada pela expressão
58. Note que ela varia com o quadrado da densidade de fluxo e também
com o quadrado da frequência das ondas alternadas:

(58)

Os Pe são as perdas por correntes de Foucault, Ke é uma constante que depende


da condutividade e da espessura do material, f é a frequência das correntes
de excitação do indutor e Bmax é a densidade máxima do fluxo magnético.

1.13.2 Perdas por histerese

Outro efeito que ocorre sobre o núcleo de ferro dos dispositivos conversores
de energia são as perdas por histerese. A cada ciclo de variação da corrente
no enrolamento do indutor, a energia é absorvida da fonte de alimentação e
devolvida. (Figura 35)
B

Figura 35: Perdas por histerese.


UNIUBE 45

Ocorre que, quando a corrente cresce, certa quantidade de energia é


absorvida. Quando a corrente decresce, somente parte dessa energia é
devolvida. Ou seja, a quantidade devolvida é menor que a absorvida. A
diferença entre elas constitui o que se chama de perdas por histerese.
Essa energia, que também é dissipada como calor no material, é utilizada
para movimentar os bipolos magnéticos do material ferromagnético. Essas
perdas dependem da densidade de fluxo, do volume do material e da
frequência do sinal alternado e podem ser calculadas pela expressão 59 a
seguir:

(59)

Ph são as perdas por histerese, Kh é uma constante de proporcionalidade,


f é a frequência das correntes do indutor e Bmáx. é a densidade máxima
do fluxo magnético.

1.13.3 Perdas por frangeamento

Quando se abre um gap de ar em um circuito magnético, as linhas de fluxo


não seguem um caminho bem-comportado como aquele que acontece no
interior do núcleo de ferro. Ao contrário, as linhas de fluxo se espraiam ou
frangeam no espaço de ar entre as partes de ferro (Figura 36).

Figura 36: Frangeamento em um gap de ar.


46 UNIUBE

A área da seção transversal do entreferro, também chamado de gap de ar,


fica um pouco maior que a secção reta do núcleo de ferro. As perdas por
frangeamento são inevitáveis. Mas, por outro lado, podem ser minimizadas
por intermédio da otimização do entreferro.

1.14 Fator laminação

Para minimizar, ou seja, reduzir as perdas por correntes de Foucault,


usa-se aço carbono com silício, já que esse procedimento aumenta
a resistência elétrica do material de ferro. Outra técnica utilizada é a
laminação do núcleo de ferro. Assim, o núcleo é montado utilizando-
se lâminas ou pequenas chapas. Entre essas lâminas, é colocada uma
finíssima camada de isolante, aumentando ainda mais a resistência
elétrica do núcleo do indutor. As chapas estão dispostas conforme mostra
a Figura 37.

Figura 37: Núcleo de ferro laminado.


Fonte: Adaptada de Nasar (1984, p.8).

As tensões induzidas continuam as mesmas, porém todos esses


procedimentos resultam em uma grande resistência elétrica do núcleo
do indutor, reduzindo a um valor muito baixo as correntes parasitas, o
que implica a minimização das perdas por correntes de Foucault. Porém,
laminando-se o núcleo, o volume de material ferromagnético diminui.

De acordo com Nasar (1984), a razão entre o volume efetivo de material


ferromagnético e o volume total do núcleo é chamada fator de laminação,
ou fator de empilhamento. Isso implica a alteração da densidade de
UNIUBE 47

fluxo magnético. Assim, a nova densidade de fluxo será agora calculada


segundo a expressão 60 a seguir:

(60)

O Quadro 2, mostrado a seguir, relaciona o fator de empilhamento com a


espessura da laminação:
Quadro 2: Espessura da laminação versus fator de empilhamento

Espessura da laminação (mm) Fator de empilhamento


0,0127 0,5
0,0254 0,75
0,0508 0,85
0,010 a 0,25 0,9
0,27 a 0,36 0,95
Fonte: Adaptado de Nasar (1984, p. 5).

RELEMBRANDO

Para um melhor entendimento acerca do assunto, é fundamental que você


tenha total conhecimento da Teoria de Circuitos Magnéticos. A seguir, são
mostradas as principais expressões e o formulário para cálculo de grandezas
magnéticas.

, (relutância),

, ,

Exemplo 4

Considere que o núcleo do indutor do Exemplo 2 é laminado e que a sua


secção transversal é quadrada de 6 cm por 6 cm. Pede-se:
a) mantendo a densidade de fluxo de 1,56 Wb/m2 no gap de ar, calcule
a corrente i no enrolamento do indutor, fazendo a correção do
espraiamento;
48 UNIUBE

b) qual seria a nova densidade de fluxo, se o núcleo é laminado e o


fator de empilhamento é 0,85?

Resolução:

Corrente no enrolamento, corrigindo o espraiamento:

Nova densidade de fluxo:

Exemplo 5

A Figura 38, a seguir, representa o núcleo de ferro de um transformador


hipotético. Possui dois caminhos paralelos para o fluxo magnético. Possui
também dois gaps de ar para linearizar o dispositivo. Considere que
o material do núcleo tem permeabilidade magnética infinita e que são
desprezíveis os fluxos de dispersão e o espraiamento nos entreferros.

a) Calcular as grandezas magnéticas: relutâncias nos gaps, força


magnetomotriz e fluxo magnético em cada perna do circuito
magnético.
b) Desenhar o circuito magnético com as grandezas calculadas no item a.
c) Calcular a densidade de fluxo em cada uma das pernas do circuito
magnético.
UNIUBE 49

Figura 38: Núcleo de ferro de três pernas.

Dados:

Resolução:
Relutância:

a) Relutância nas gaps de ar:

Força magnetomotriz:
50 UNIUBE

Fluxo magnético em cada perna:

b) Circuito elétrico equivalente (Figura 39).

Figura 39: Circuito elétrico análogo equivalente.

c) Densidade de fluxo em cada perna

Resumo
Neste capítulo, foram abordados os conceitos básicos relacionados à
Teoria do Magnetismo, Eletromagnetismo e dos Circuitos Magnéticos.
Foram apresentadas as perdas nos indutores, operando em corrente
alternada, e os meios de diminuí-las, ou seja, minimizá-las. Outrossim, foi
UNIUBE 51

visto como calcular as grandezas magnéticas, por intermédio da analogia


entre um circuito magnético e um circuito elétrico, e solucionar circuitos
magnéticos.

Referências
BOYLESTAD, R. L. Introdução à análise de circuitos elétricos. 10. ed. São Paulo:
Pearson Education, 2009.

DEL TORO, A. E. Fundamentos de máquinas elétricas. Rio de Janeiro: PHB, 1991.

FITZGERALD, A. E.; KINGSLEY JÚNIOR, C.; STEPHEN D. Máquinas elétricas.


6. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006.

NASAR, S. A. Máquinas elétricas. São Paulo: McGraw-Hill – Coleção Schaum, 1984.


Capítulo Transformadores
2

Introdução
O transformador é um dispositivo de grande utilidade nos
sistemas elétricos, com a fi nalidade de transmitir energia entre
um circuito onde está presente a fonte de energia e o outro onde
se encontra a carga. A rigor, não se trata de um dispositivo de
conversão de energia propriamente dito, já que se tem energia
elétrica na entrada e na saída do dispositivo. Porém é de grande
importância no trabalho de intercâmbio de energia, principalmente
na função de elevar ou abaixar níveis de tensão. Isso faz com que
esse dispositivo deva ser bem estudado e compreendido pelos
engenheiros das mais diferentes áreas, pois se aplica aos mais
diferentes setores, como telecomunicações, eletrônicos e sistemas
de potência.

Objetivos
Ao fi nal do estudo deste capítulo, espera-se que você seja capaz de:
• utilizar os conceitos de indutores magneticamente acoplados;
• compreender a teoria de funcionamento dos transformadores;
• calcular grandezas elétricas em transformador monofásico;
• obter o circuito equivalente de transformador.
54 UNIUBE

Esquema
2.1 Tensão induzida
2.2 Fator de acoplamento
2.3 Indutância mútua em função das indutâncias próprias
2.4 Ligação série de indutores
2.5 Convenção dos pontos
2.6 Transformadores
2.7 Relações entre tensão do primário e do secundário
2.8 Relação entre corrente do primário e do secundário
2.9 Impedância refletida
2.10 Potência
2.11 Autotransformadores
2.12 Circuito equivalente de um transformador
2.13 Parâmetros do circuito equivalente
2.13.1 Ensaio a vazio
2.13.2 Ensaio em curto-circuito
2.14 Indutores acoplados e indutância mútua
2.15 O núcleo de ferro de um transformador

2.1 Tensão induzida

Seja o esquema fundamental de um transformador conforme mostrado na


Figura 1. O enrolamento da esquerda é ligado a uma fonte e é chamado
primário. Já o enrolamento da direita é ligado à carga e é chamado
secundário.
UNIUBE 55

φ11 φ12

Figura 1: Representação esquemática de um transformador.

Se uma corrente I1 circula por esse enrolamento, um fluxo magnético é


produzido no espaço ao redor do referido enrolamento 1. Esse é o fluxo
magnético φ1 produzido pelo enrolamento primário. Parte desse fluxo
enlaça a bobina do secundário. É o chamado fluxo mútuo φ12. Fluxo
mútuo significa que é o fluxo que enlaça os dois enrolamentos. A parte
do fluxo φ1 que não atinge o enrolamento do secundário é o fluxo de
dispersão φ11.

(1)

Pela Lei de Faraday, sabe-se que a tensão induzida no enrolamento do


secundário será:

(2)

Por outro lado,

(3)

Igualando a expressão 2 com a expressão 3, obtém-se:

(4)
56 UNIUBE

Ou seja,

(5)

O valor de M é a mútua, é o número de espiras do secundário,


é o fluxo magnético mútuo e é a corrente que circula no primário.

EXPERIMENTANDO

Pode-se observar o efeito da indutância mútua, alimentando um enrolamento


por intermédio de uma fonte de corrente alternada. Verificaremos que se
tem tensão induzida no outro enrolamento. Para isso, pegue uma bobina
com 600 e outra de 300 espiras e coloque sobre um núcleo de ferro. Aplique
uma tensão que a bobina suporta, por exemplo, 12 V contínuo. Leia no
segundo enrolamento a tensão induzida. Nenhuma tensão será induzida.
Depois, troque a fonte de tensão por outra de 12 V de tensão alternada.
Note que agora tem uma tensão induzida no enrolamento 2. De fato, isso
acontece porque neste último caso a tensão é alternada. Então, a corrente
será alternada, produzindo, no núcleo de ferro, um fluxo variável com o
tempo. Assim, tem-se tensão induzida. No primeiro caso, como a corrente é
contínua, o fluxo é estacionário, não induzindo qualquer tensão no segundo
enrolamento.

2.2 Fator de acoplamento

Define-se o fator de acoplamento como sendo uma relação entre o


fluxo magnético mútuo φ12 e o fluxo magnético φ1 produzido pelo
enrolamento 1 devido à circulação da corrente I1, ou, ainda, entre o fluxo
magnético mútuo φ21 e o fluxo magnético φ2 produzido pelo enrolamento
2 devido à circulação de corrente I2.

(6)
UNIUBE 57

Como 0 ≤ φ12 ≤φ1 e 0 ≤ ≤ , então 0 ≤ K ≤ 1. Quando o fator de


acoplamento for próximo de zero, significa que uma pequena parte do
fluxo magnético produzido pelo enrolamento 1, por onde circula corrente
I1, enlaça a bobina 2. Isso implica um acoplamento fraco. Ao contrário,
quando o fator de acoplamento for próximo da unidade, significa que
o fluxo mútuo fica muito próximo ao fluxo do enrolamento 1. Assim, o
acoplamento será forte.

2.3 Indutância mútua em função das indutâncias próprias

Pode-se escrever a indutância da seguinte forma, utilizando deduções


anteriores,

(7)
e

Da expressão 6, tem-se que


e (8)

Em 7, multiplicando-se uma expressão pela outra, e substituindo nela a


expressão 8, pode-se demonstrar que a indutância mútua é função das
indutâncias próprias dos enrolamentos 1 e 2

(9)

(10)

(11)
58 UNIUBE

O valor de M é a indutância mútua, K é o fator de acoplamento, L1 é


a indutância própria do enrolamento 1 e L2 é a indutância própria do
enrolamento 2.

2.4 Ligação série de indutores

A associação série de dois indutores, sem acoplamento magnético,


de indutância própria L1 e L2, resulta em um indutor de indutância
equivalente Leq= L1 + L2 (Figura 2).

Figura 2: Ligação série de indutores.

Figura 3: Representação esquemática


de um transformador.

A tensão induzida no enrolamento 1 é proveniente da indutância própria,


devido à circulação da corrente i1(t), e da indutância mútua, devido à
circulação da corrente i2(t) enrolamento 2.

(12)

Mas seja (13)


UNIUBE 59

Assim,
(14)

Então,
(15)

Por outro lado,


(16)

Como (17)

(18)

Então,
(19)

A tensão total e(t) induzida entre os terminais da associação dos dois


indutores será
(20)

(21)

Então,
(22)

(23)

(24)
60 UNIUBE

O Leq (+) é a indutância equivalente nessa conexão de indutores, que


produziram fluxos magnéticos que se somaram. Denomina-se essa
conexão de conexão aditiva. Agora, observe a conexão executada nos
indutores da Figura 4. Nesse caso, os fluxos produzidos pelas correntes
que circulam em cada um dos enrolamentos se subtraem. Essa conexão
é chamada conexão subtrativa.

Figura 4: Representação esquemática de um


transformador.

Novamente, a tensão induzida no enrolamento 1 é proveniente da


indutância própria devido à circulação da corrente i1(t) e da indutância
mútua devido à circulação da corrente i2(t) enrolamento 2 e vice‑versa.
Assim,

(25)

Assim,

(26)

Então,

(27)
UNIUBE 61

Por outro lado,

(28)

Assim,
(29)

Então,

(30)

A tensão total e(t) induzida entre os terminais da associação dos dois


indutores será

(31)

Então,

(32)

(33)

(34)

O Leq (−) é a indutância equivalente quando a conexão entre os indutores


é uma conexão subtrativa. Fazendo a diferença entre a indutância
equivalente na conexão aditiva e na conexão subtrativa, encontra-se:

(35)
62 UNIUBE

2.5 Convenção dos pontos

Nem sempre os indutores são desenhados indicando-se o sentido de


seus enrolamentos. Ou seja, existem circuitos em que os indutores são
representados pelos seus símbolos. Nesse caso, utiliza‑se da regra
do ponto para informar se a conexão entre eles é aditiva ou subtrativa
(Figura 5).

Figura 5: Convenção dos pontos para associação em


série de indutores magneticamente acoplados.

Ao lado de um de seus terminais, é colocado um ponto. Se uma corrente


entra ou sai de ambos os indutores pelo terminal marcado com o ponto, a
indutância mútua entre eles é positiva. Ao contrário, se a corrente entra em um
indutor pelo terminal marcado pelo ponto e sai do outro indutor pelo terminal
também marcado pelo ponto, a indutância mútua entre eles é negativa.

Exemplo 1

Seja a associação série de indutores conforme mostrado na Figura 6


a seguir. Calcule o valor da indutância equivalente total da associação.

Figura 6: Representação esquemática de um transformador.


UNIUBE 63

Dados:

Resolução:

indutor 1

indutor 2

indutor 3

A indutância equivalente total é:

2.6 Transformadores

Transformadores são dispositivos conversores de energia, utilizados em


circuitos elétricos, com a finalidade de ajustar níveis de tensão, ou seja,
elevar ou abaixar tensões. Mas, além de adaptar níveis de tensão, os
transformadores são usados entre outras finalidades, por exemplo, para
se efetuar o casamento de impedância. O que significa fazer com que a
impedância da carga, por intermédio do uso do transformador, torne-se
igual à impedância interna da fonte de alimentação, possibilitando, assim,
a máxima transferência de potência (Figura 7).
64 UNIUBE

Figura 7: Representação esquemática de um transformador.

O transformador é também utilizado para se ter o chamado isolamento


galvânico. De fato, em um transformador convencional não existe
ligação elétrica entre o circuito do primário e do secundário. Assim,
pode-se entender que o primário é um circuito e o secundário, outro
circuito elétrico. E entre eles há transferência de energia, embora não
haja ligação elétrica. De fato, a ligação existente entre os dois circuitos do
transformador é devida ao acoplamento magnético entre os dois circuitos.
Portanto há circuitos galvanicamente isolados.

2.7 Relação entre tensão do primário e do secundário

Se uma tensão senoidal v1(t) é aplicada ao enrolamento do primário, por


intermédio de uma fonte de tensão, esta faz circular pelo enrolamento
uma corrente I1(t).

(36)

Essa corrente senoidal produz no circuito magnético do transformador


uma força magnetomotriz alternada. Tal força magnetomotriz, por sua
vez, produz no núcleo de ferro do dispositivo um fluxo magnético também
alternado.

(37)
UNIUBE 65

Ou seja, um fluxo magnético que varia com o tempo. Utilizando-se a Lei


de Faraday, pode-se afirmar que uma tensão senoidal será induzida nos
terminais desse enrolamento.

(38)

(39)

(40)

(41)

(42)

Comparando a expressão 34 com a 40, nota-se que a corrente i1(t)


que circula no enrolamento do primário está 900 atrasada em relação
à tensão induzida e (t). Naturalmente, isso é algo que se devia esperar,
posto que se trata de uma carga puramente indutiva nesse momento.
Pode-se obter o valor eficaz da tensão no primário dividindo a amplitude
máxima pelo fator , por se tratar de um sinal alternado senoidal.

(43)

(44)

O fluxo que enlaça o secundário, se for desprezado o fluxo de dispersão,


será o mesmo que envolve o enrolamento do primário. Assim,

(45)

A relação entre as tensões eficazes induzidas no enrolamento do primário


e do secundário será
66 UNIUBE

(46)

Efetuando as devidas simplificações, obtém-se a expressão

(47)

Em que é a relação de transformação:

(48)

Relação de transformação é uma relação entre as espiras do primário


e as espiras do secundário. Se a relação de transformação é maior que
1, ou seja, > 1, tem-se um transformador abaixador. Isso porque,
nesse caso, o número de espiras do secundário é menor que aquele do
primário. Ao contrário, se a relação de transformação é menor que 1, ou
seja, < 1, tem‑se um transformador elevador, já que neste caso o
número de espiras do secundário é maior que o número de espiras do
primário.

Exemplo 2

Seja a estrutura de um transformador monofásico de núcleo de ferro ideal


mostrado na Figura 8, no qual N1 = 1200 e N2 = 275 espiras. O valor
eficaz da tensão no enrolamento secundário é V2 = 48 V, em 60 Hz.
UNIUBE 67

Figura 8: Representação esquemática de um transformador.

Determine a tensão a ser aplicada no enrolamento do primário.


Determine o fluxo máximo no núcleo de ferro.

Resolução:

a) Tensão a ser aplicada no primário:

b) Fluxo máximo no núcleo:

CURIOSIDADE

Se um transformador está operando a vazio, ou seja, sem qualquer


carga conectada ao seu secundário, uma pequena corrente circula pelo
seu enrolamento do primário. É a chamada corrente de magnetização,
responsável pela produção do fluxo magnético que o transformador precisa
para operar. Mas, se uma carga é conectada ao seu secundário, a corrente
que circula no secundário se reflete no primário. Então, no primário circula
uma corrente, que é a soma vetorial da corrente de magnetização e a
chamada componente de carga da corrente do primário .
68 UNIUBE

2.8 Relação entre corrente do primário e do secundário

Conforme dito anteriormente, quando se aplica uma tensão senoidal


nos terminais do enrolamento do primário, uma corrente senoidal por ele
circula. Essa corrente produz a FMM1. A FMM1 produz o fluxo magnético,
que induz tensão no enrolamento do primário e do secundário. Se uma
carga for conectada no secundário, esta absorve uma corrente que possui
um ângulo de fase que depende da natureza da carga. Assim, se a carga
é indutiva, a corrente i2(t) estará atrasada um ângulo φ2 em relação à
tensão do secundário, como mostra o diagrama fasorial da Figura 9.

Figura 9: Diagrama fasorial.

A corrente produz uma força magnetomotriz FMM2, que tende a


diminuir a FMM1. Uma reação ocorre no primário, que absorve uma
corrente adicional, chamada de componente de carga da corrente do
primário. Tal corrente produz uma nova força magnetomotriz F’MM1
de igual magnitude de FMM2 e sentido oposto, o que significa que se
anulam. Assim, o fluxo inicial se mantém inalterado, pois, de fato, a força
magnetomotriz resultante é a FMM1. Ao final, a corrente do primário é a
soma vetorial da corrente de magnetização com a componente de carga
da corrente. Assim,
UNIUBE 69

(49)

Como a corrente de magnetização é um valor pequeno, observa-se que


o módulo da corrente é aproximadamente igual ao da corrente .
Então,
(50)

Sabe-se que a força magnetomotriz é dada pelo produto da corrente pelo


número de espiras. Assim,
(51)

Mas , assim,
(52)

(53)

Ou seja, a relação entre a corrente do primário e do secundário é igual


ao inverso da relação de transformação

(54)

Exemplo 3

Um transformador monofásico de núcleo de ferro ideal, conforme


mostrado na Figura 10 a seguir, alimenta uma carga resistiva de 12 Ω,
em 60 Hz.
70 UNIUBE

Figura 10: Representação esquemática de um transformador.

Sabendo que o valor eficaz da tensão no secundário é 24 V, que no


primário o número de espiras é 3600 e no secundário 275, pede‑se:

a) determine a corrente no secundário;


b) determine a corrente solicitada da fonte de alimentação no primário;
c) determine a tensão no primário.

Resolução:

a) Corrente no secundário

b) Corrente no primário

c) Tensão no primário
UNIUBE 71

2.9 Impedância refletida

Se a expressão 45 for dividida pela expressão 52, tem-se que

(55)

A relação entre o valor eficaz tensão e o valor eficaz corrente do primário


é a impedância do primário . Enquanto a relação entre o valor eficaz
tensão e o valor eficaz corrente do secundário é a impedância do
secundário . Assim,

(56)

IMPORTANTE!

Quando se conecta uma carga no secundário de um transformador, a


energia que a carga consome de fato vem da fonte de alimentação que
está no primário. Existe uma relação de transformação, que é a razão entre o
número de espiras do primário e o número de espiras do secundário. A fonte
enxerga a impedância da carga multiplicada pela relação de transfomação
ao quadrado.
72 UNIUBE

A impedância do primário pode ser entendida como sendo a reflexão da


impedância do secundário para o primário. Ou seja, 1 = 2 . Por outro
lado,

(57)

Da mesma maneira, a impedância do secundário pode ser entendida


como sendo a reflexão da impedância do primário para o secundário, ou
seja, .

Exemplo 4

Uma tensão senoidal dada por v1(t) = 180sen(377t) V alimenta um


transformador monofásico de núcleo de ferro, conforme mostrado na
Figura 11. Em seu secundário está conectada uma carga de 2,2 KΩ. N1
= 88 e N2= 1440, que se referem ao número de espiras do primário e do
secundário, respectivamente.

Figura 11: Representação esquemática de um transformador.

a) Determine a impedância de entrada do transformador.


b) Determine a corrente na carga.
c) Determine a corrente no primário.

Resolução:

a) Impedância de entrada do transformador


UNIUBE 73

b) Corrente na carga

c) Corrente no primário

2.10 Potência

O valor eficaz da tensão induzida no enrolamento de entrada do


transformador é E1 e o da corrente que ele absorve da fonte de
alimentação é I1. Por outro lado, na saída do dispositivo, alimentando
uma carga elétrica, tem-se como sendo o valor da tensão induzida no
enrolamento do secundário e o valor eficaz da corrente. A partir das
expressões 45 e 51, tem-se que
74 UNIUBE

(58)

Assim, trabalhando a expressão 56, tem-se


(59)

A expressão 57 mostra que, para um transformador ideal, ou seja, sem


perdas, a potência aparente do primário E1 I1 é igual à potência aparente
no secundário E2 I2 .

2.11 Autotransformadores

Transformadores convencionais são equipamentos que possuem, sobre


uma estrutura magnética, dois enrolamentos distintos e eletricamente
isolados um do outro: o enrolamento primário e o secundário. Já os
transformadores chamados autotransformadores possuem um único
enrolamento que serve como enrolamento primário e secundário. Esse
enrolamento está sobre a mesma estrutura magnética presente nos
transformadores convencionais. A diferença fundamental é que não há
isolação elétrica entre o primário e o secundário, conforme pode ser
observado na Figura 12.

Figura 12: Representação esquemática


de um autotransformador.

Os autotransformadores também podem ser abaixadores ou elevadores


de tensão. Normalmente, são construídos de tal modo que a relação
UNIUBE 75

entre as espiras do primário e secundário fique em torno de 3. São


transformadores que apresentam menores quedas de tensão e melhor
rendimento. São aplicados em estabilizadores de tensão, na adaptação
de tensões para alimentar pequenos eletrodomésticos, e em chaves de
partida de motores de indução com o propósito de diminuir a corrente
de partida desses dispositivos. Uma importante característica do
autotransformador é seu menor tamanho, que implica menor volume,
peso e custo.

2.12 Circuito equivalente de um transformador

Os dispositivos dos sistemas elétricos, tais como os transformadores


convencionais, podem ser representados pelos seus circuitos elétricos
equivalentes. Tais circuitos permitem calcular grandezas como tensão,
corrente, potência, rendimento. Ou seja, o conhecimento de seu circuito
equivalente possibilita calcular o desempenho do transformador.
E sabe‑se que o circuito equivalente do transformador pode ser
representado conforme mostrado na Figura 13.

Figura 13: Circuito equivalente de um transformador.

No circuito equivalente, nota-se que são representadas a resistência


e reatância de dispersão do enrolamento do primário; a resistência e
reatância de dispersão do enrolamento do secundário; a resistência e
a reatância do ramo de magnetização. Essas grandezas podem ser
refletidas para o primário, conforme é mostrado na Figura 14.
76 UNIUBE

Figura 14: Circuito equivalente de um transformador com grandezas refletidas para o primário.

Para refletir uma grandeza do secundário para o lado do primário, basta


multiplicá-las pelo quadrado da relação de transformação. Note também
que as grandezas se tornaram e , indicando que essas grandezas
são do secundário, porém foram referidas ao primário.

(60)

Da mesma maneira, grandezas do enrolamento do primário podem ser


refletidas para o secundário, conforme é mostrado na Figura 15.

Figura 15: Representação esquemática de um transformador.

Para refletir uma grandeza do primário para o lado do secundário, agora


é necessário dividi-la pelo quadrado da relação de transformação.

(61)
UNIUBE 77

Note também que as grandezas se tornaram , e ,


indicando que essas grandezas são do primário, porém foram referidas
ao secundário.

2.13 Parâmetros do circuito equivalente

Para se obterem os parâmetros do circuito equivalente do transformador,


utiliza‑se o ensaio a vazio e o ensaio de curto-circuito. Com esses dois
ensaios, é possível determinar resistências do enrolamento do primário
e do secundário, as reatâncias de dispersão do primário e do secundário
e a resistência e a reatância do ramo de magnetização. Esses são os
parâmetros do circuito equivalente do transformador.

2.13.1 Ensaio a vazio

Realiza‑se o ensaio a vazio para colher dados para obter os parâmetros


relativos ao ramo de magnetização. Quais sejam, a resistência RM e
a reatância XM. Este ensaio é realizado aplicando tensão do lado da
baixa tensão, com o enrolamento do lado da alta tensão em aberto.
Os instrumentos de medidas, um voltímetro, um amperímetro e um
watímetro, são colocados do lado da baixa tensão, conforme Figura 16.

Figura 16: Desenho esquemático para a realização do ensaio a vazio.


78 UNIUBE

Assim, aplicando tensão nominal CA do lado da baixa tensão, obtém‑se,


por intermédio dos instrumentos de medida, a tensão a vazio Vo, a
corrente a vazio Io e a potência a vazio Wo. De posse desses dados,
pode-se calcular os parâmetros relativos ao ramo de magnetização. A
leitura do watímetro fornece a potência ativa Wo. O produto da tensão
Vo pela corrente Io permite obter a potência aparente So.
(62)

A relação entre a potência ativa Wo e a potência aparente So fornece o


fator de potência do ensaio a vazio

(63)

Agora, é possível obter as chamadas correntes de perdas e a corrente


de magnetização, a partir da corrente absorvida pelo transformador
durante o ensaio. De fato, parte da corrente que será responsável pelas
perdas no núcleo é chamada corrente de perdas.

(64)

E parte da corrente que será responsável pela produção do fluxo


magnético, que o transformador necessita para operar, é chamada
corrente de magnetização.

(65)

Essa reatância está relacionada com o fluxo magnético presente no


núcleo de ferro do transformador.

2.13.2 Ensaio em curto-circuito

Realiza‑se o ensaio em curto-circuito para colher dados e obter os


demais parâmetros do circuito equivalente. Quais sejam, as resistências
UNIUBE 79

do enrolamento do primário e do secundário R1 e R2 e as respectivas


reatâncias de dispersão X1 e X2. Este ensaio é realizado aplicando
tensão do lado da alta tensão, com o enrolamento, do lado da baixa
tensão, curto‑circuitado. Ressalta-se que esse ensaio é não destrutivo.

Assim, durante o ensaio, a corrente pelo enrolamento do transformador


deverá estar em torno do valor da corrente nominal do dispositivo.

Dessa maneira, a tensão a ser aplicada no enrolamento será entre 3%


e 7% da tensão nominal. Os instrumentos de medidas, um voltímetro,
um amperímetro e um wattímetro, são colocados do lado da alta tensão,
conforme Figura 17.

Figura 17: Desenho esquemático para realização do ensaio em curto-circuito.

Assim, aplicando tensão CA do lado da alta tensão, obtém-se, por


intermédio dos instrumentos de medida, a tensão a vazio Vcc, a
corrente a vazio Icc e a potência a vazio Wcc. De posse desses dados,
podem-se calcular os parâmetros relativos ao primário e ao secundário
do transformador. A leitura do wattímetro fornece a potência ativa Wcc.
O produto da tensão Vcc pela corrente Icc permite obter a potência
aparente Scc.
(66)

A relação entre a potência ativa Wcc e a potência aparente Scc fornece


o fator de potência em curto-circuito.
80 UNIUBE

(67)

Outrossim, agora, é possível obter a impedância de curto-circuito, que é


a relação entre a tensão de curto-circuito.

(68)

Agora, é possível obter a impedância de curto-circuito, que é a relação


entre a tensão de curto-circuito e a corrente de curto-circuito.
(69)

E também a reatância de curto-circuito, que é a parte reativa da


impedância de curto-circuito.
(70)

Nos transformadores convencionais, há as seguintes relações envolvendo


seus parâmetros calculados a partir do ensaio em curto-circuito:

(71)

O é a resistência do enrolamento do lado da alta tensão e éa


resistência do enrolamento do lado de baixa tensão, refletida para o lado
de alta tensão. Da mesma maneira, é a reatância do enrolamento do
lado da alta tensão e é a reatância do enrolamento do lado de baixa
UNIUBE 81

tensão, refletida para o lado da alta tensão.

Exemplo 5

Os ensaios a vazio e em curto-circuito de um transformador monofásico


de tensões 127/24 Volt, de 1,2 K VA, foram realizados em um laboratório
de conversão de energia. Os dados obtidos do ensaio a vazio foram V0
= 24 Volt, I0 = 1,25 Ampère, W0 = 12 Watt. Do ensaio em curto foram as
medidas Vcc = 8 Volt, Icc = 9,5 Ampère, Wcc = 71 Watt.

Determinar os parâmetros do circuito equivalente, referidos ao lado do


primário, e desenhar o circuito equivalente ao do transformador.

Resolução:

Cálculo dos parâmetros do ramo de magnetização. Esses parâmetros


estão sempre no lado da baixa tensão, então para esse transformador,
eles estão no secundário.

Cálculo dos demais parâmetros:


82 UNIUBE

Como o lado da alta é o primário e o lado da baixa é o secundário para


esse transformador, tem-se (Figura 18)

Refletindo as grandezas do ramo de magnetização para primário, tem-se


UNIUBE 83

Figura 18: Circuito equivalente do transformador.

RELEMBRANDO

Para um melhor entendimento e compreensão acerca do assunto, é


fundamental que o aluno tenha total conhecimento dos conceitos teóricos e
das expressões que possibilitam as grandezas envolvidas.

A seguir, estão algumas expressões relativas às grandezas associadas a


transformadores

2.14 Indutores acoplados e indutância mútua

Indutância mútua ocorre quando a mudança de corrente no indutor


gera uma tensão no outro indutor que está próximo. Isto é o importante
mecanismo de funcionamento que transformadores trabalham, mas pode
também causar induções indesejadas em outras partes do circuito.

A indutância mútua M é também uma medida do acoplamento entre


dois indutores. A indutância mútua do circuito x no circuito y é dada pela
integral dupla da fórmula de Neumann em técnicas de cálculo.

A indutância mútua entre dois indutores também é:


84 UNIUBE

(72)

em que:

é a indutância mútua, e os subscritos especificam a relação da


tensão induzida na bobina 2 devido ao enrolamento 1;
é o número de espiras do primário;
é o número de espiras do secundário;
é a permeabilidade do espaço ocupado pelo fluxo,
uma vez que a indutância mútua, M, é determinada e pode prever o
comportamento de um circuito:

(73)

em que:

é a voltagem no indutor que interessa;

é a indutância no indutor que interessa;

é a derivada da corrente através de um indutor que interessa em um


respectivo intervalo de tempo;

é a derivada da corrente através de um indutor que acopla o primeiro


indutor;

é a indutância mútua.
UNIUBE 85

Figura 19: A representação do diagrama de representação de um


acoplamento mútuo de dois indutores. As duas linhas verticais no
centro representam o núcleo sólido. E "n:m" representa a relação de
espiras do primário e secundário.

O sinal de menos surgiu por causa do sentido da corrente , que foi


definida no circuito da Figura 19. Com ambas correntes definidas ao se
entrar nos pontos, o sinal de M será positivo.

Figura 20: Definição dos componentes de um transformador.

Na aplicação da Lei de Faraday no primário do transformador, visto na


Figura 20, teremos o seguinte resultado:
86 UNIUBE

(74)
(volts, V)

apresentando que a tensão induzida no primário é diretamente


proporcional ao número de espiras e à taxa de variação do fluxo
magnético que o atravessa, ou:

(75)
(volts, V)

revelando que a tensão induzida no primário também é diretamente


proporcional à autoindutância do primário e à taxa de variação da
corrente no primário.

O módulo da tensão é a tensão induzida no secundário, que pode ser


encontrada como:

(76)
(volts, V)

em que:

= número de espiras do secundário,

= parte do fluxo do primário que atravessa até o secundário, também


é chamado fluxo mútuo.

Se considerarmos que todo o fluxo produzido pelo primário atravessará


até o secundário, podemos ter que:

(77)

(78)
UNIUBE 87

O coeficiente de acoplamento K entre dois enrolamentos pode ser dado por:

(79)

Como se pode observar na equação (1), quando o fluxo mútuo está


próximo do fluxo gerado pelo primário, o valor da constante K é próxima
de 1, ou seja, o maior valor possível. Conforme as demonstrações
apresentadas na Figura 21 a seguir, a letra (a) mostra um núcleo
composto por ferro, que transfere a maior parte do fluxo do primário
para o secundário, ou seja, o K próximo de 1. Na segunda condição, em
que os dois enrolamentos estão sobrepostos, o aumento de K é evidente
e próximo de 1. Na letra (c) a distância entre os dois enrolamentos e a
não utilização de núcleo ferromagnético apresenta o valor do fluxo mútuo
baixo e o valor de K bem abaixo de 1.

(a)

(b)
88 UNIUBE

(c)
Figura 21: Enrolamentos com diferentes coeficientes
de acoplamento.

Considerando todas estas condições para K, podemos dizer que:

(80)
(Volts, V)

Pode-se observar que a indutância mútua entre os enrolamentos da


Figura 21 é dada por:

(81)
(henries, H)

(82)
(henries, H)

Para a indutância mútua entre dois enrolamentos, a variação desta é


proporcional à taxa de variação do fluxo de um dos enrolamentos em
relação à taxa de variação da corrente no outro enrolamento.

Para termos das indutâncias dos dois enrolamentos e do coeficiente de


acoplamento, a indutância mútua é:

(henries, H) (83)
UNIUBE 89

Observa-se que, quanto maior o valor de K ou das indutâncias nos


enrolamentos, maior será a indutância mútua.

Pode-se verificar que a tensão do secundário da equação pode ser


determinada em função da indutância mútua em que:

(84)
(volt, V)

Como o valor de , pode-se obter que:

(85)
(volts, V)

De forma similar, pode-se obter:

(86)
(volts, V)

2.15 O núcleo de ferro de um transformador

Um núcleo magnético é um pedaço de material com a alta


permeabilidade magnética usada para confinar e guiar campos
magnéticos na eletricidade, eletromecânica e dispositivos magnéticos
tais como eletromagnetos, transformadores, motores elétricos, geradores,
indutores, cabeças de gravação magnéticas. Ele é construído de metais
ferromagnéticos tal como o ferrite. A alta permeabilidade em relação
ao ar provoca as linhas de campo magnético a serem concentradas no
núcleo do material. O campo magnético é criado por uma corrente de
carregamento do indutor enrolada no núcleo. A presença de núcleos pode
aumentar o campo magnético de um indutor em milhares de vezes mais
do que seria o indutor sem o núcleo. Isso quer dizer que o uso de um
núcleo magnético pode multiplicar a força de um campo magnético em
uma bobina eletromagnética por um fator de muitas centenas de vezes
do que sem a utilização de núcleo (Figura 22).
90 UNIUBE

Figura 22: Transformador de núcleo de ferro.

No entanto núcleos magnéticos têm efeitos indesejados que devem ser


levados em conta. Nas Correntes Alternadas (CA), estes dispositivos
geram consequências como perdas, chamadas perdas no ferro,
devido à histerese, às correntes de Foucault, às aplicações em tais
transformadores, à potência e à impedância refletida.

Aprendemos, no Capítulo 2, que:

(87)

(88)

Efetuando a divisão de (1) por (2), temos:

(89)

(90)
UNIUBE 91

Mas lembre-se de que:


(91)

(92)

portanto
(93)

Então pode-se concluir que a impedância de um circuito primário de


um transformador é igual ao quadrado da relação de transformação
multiplicada pela impedância do secundário. Portanto podemos fazer
reflexão da impedância de uma carga no primário ou no secundário.
Pode-se concluir, por meio dos cálculos, que a característica capacitiva
ou indutiva, ao fazer a reflexão para o outro lado do transformador,
continuará com a mesma característica anterior.

Para um transformador com características não ideais, podemos


concluir que:

(94)

Ou
(95)

(96)

Exemplo 1

O lado de alta tensão de um transformador abaixador tem 1000 espiras e


92 UNIUBE

o lado de baixa tensão tem 200 espiras. Uma tensão de 350V é aplicada
ao lado de alta tensão e uma impedância de carga de 5Ω é ligada ao
lado de baixa tensão.

Calcule:

a) a corrente e a tensão secundárias;


b) a corrente primária;
c) a impedância de entrada do primário a partir da relação entre a
tensão e a corrente primárias;
d) a impedância de entrada do primário por meio da equação (93).

Resolução:

a)

b)

c)

d)

Exemplo 2

Um transformador abaixador (Figura 23) de 700 kVA, 60 Hz, 2300/230


V tem os seguintes parâmetros: , , ,
. Quando o transformador é usado como abaixador e está
com carga nominal, calcule:
UNIUBE 93

Figura 23: Circuito equivalente do transformador.

a) as impedâncias internas primária e secundária;


b) as quedas internas de tensão primária e secundária;
c) as fem induzidas primária e secundária, imaginando-se que as tensões
nos terminais e induzidas estão em fase;
d) a relação entre as fem induzidas primária e secundária e entre as
respectivas tensões terminais.

Resolução:

a) e

b)
94 UNIUBE

c) supondo a tensão nos terminais e fem induzidas em fase:

d) relação: , mas a relação entre as fem


induzidas primária e secundária e entre as respectivas tensões terminais
é:

Exemplo 3

Um servo-amplificador CA tem uma impedância de saída de 300Ω e


o servo-motor CA, que ele deve acionar, tem uma impedância de 3Ω.
Calcule:

a) a relação de transformação que faça o acoplamento da impedância


do servo-amplificador à do servo-motor;

b) o número de espiras do primário, se o secundário tem 10 espiras.

Resolução:

a)

b)

Resumo
Neste capítulo, abordamos os conceitos básicos relacionados à Teoria
dos Transformadores, com itens como fluxo mútuo, indutância mútua,
tensão induzida em uma bobina enrolada sobre um núcleo de ferro.
Tratamos também das relações entre as tensões e correntes do primário
para o secundário, sendo que o fator que interliga essas grandezas do
primário e do secundário está associado à relação de transformação
UNIUBE 95

representada por a = . Por último, abordamos sobre o circuito


equivalente do transformador real, o que exigiu o estudo do ensaio a
vazio e em curto-circuito para obter seus parâmetros.

Referências
BOYLESTAD, R. L. Introdução à análise de circuitos elétricos. 10. ed. São Paulo:
Pearson Education, 2009.

DEL TORO, A. E. Fundamentos de máquinas elétricas. Rio de Janeiro: PHB, 1991.

FITZGERALD, A. E.; KINGSLEY JÚNIOR, C.; STEPHEN D. Máquinas elétricas.


6. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006.

KOSOW, I. Máquinas elétricas e transformadores. 7. ed. Rio de Janeiro:


Editora Globo, 1987.

NASAR, A. N. Máquinas elétricas. São Paulo: McGraw‑Hill – Coleção Schaum,


1984.

OLIVEIRA, J. C.; COGO, J. R.; ABREU, J. P. G. de. Transformadores: teoria e


ensaios. 6. ed. São Paulo: Editora Edgard Blucher, 1984.

SIMONE, G. A. Transformadores: teoria e ensaios. São Paulo: Erica, 1998.


Capítulo Circuito equivalente
3 simplificado e
transformadores trifásicos

Introdução
Os equipamentos e máquinas conectados aos sistemas elétricos
de potência consomem grande quantidade de energia em seus
processos de operação e acionamento de cargas. Por essa razão,
são em grande parte dispositivos trifásicos. Sendo assim, são
alimentados por transformadores trifásicos, que adaptam os níveis
de tensão provenientes das linhas de transmissão e distribuição,
que alimentam não só as unidades industriais, como também as
unidades comerciais e residenciais.

Na outra ponta, esses transformadores trifásicos são da mesma


maneira utilizados para alimentar as linhas de transmissão,
elevando as tensões geradas nas usinas geradoras de eletricidade.
E como a ação dos transformadores envolve grande quantidade
de potência, deseja-se que tais dispositivos apresentem o melhor
rendimento possível. Isso demanda que se tenha conhecimento
das perdas associadas, para que se possa minimizá-las,
buscando melhorar o rendimento. Outro aspecto importante é
que os transformadores devem ter boa regulação de tensão. Os
equipamentos e dispositivos por eles alimentados requerem uma
determinada tensão específi ca, que não pode sofrer grandes
variações em seu valor.
98 UNIUBE

Destacamos que essas unidades transformadoras podem conter


um único núcleo onde são colocados os enrolamentos trifásicos
do primário e do secundário ou podem ser constituídas por três
transformadores monofásicos. Cada modo de construção do
transformador tem suas vantagens. Um transformador trifásico
com um único núcleo apresenta um menor volume, peso e custo
além de ser ligeiramente mais eficiente. Por outro lado, a utilização
de três transformadores para montar uma estrutura trifásica
proporciona um menor custo para a unidade de reserva, posto
que apenas um transformador monofásico é suficiente para tal fim.

Ademais, como o dispositivo é constituído por três partes,


proporciona uma maior área para dissipação de calor, além de
facilitar o procedimento para serviços de manutenção. Do ponto
de vista elétrico, em sistemas elétricos equilibrados, cálculos
das grandezas elétricas como tensão e correntes podem ser
realizados utilizando apenas uma fase, ou seja, um transformador
monofásico.

Objetivos
Ao final do estudo deste capítulo, espera-se que você seja capaz de:
• obter o circuito equivalente simplificado de um transformador;
• obter as relações de tensões do primário de um transformador;
• calcular a regulação de tensão de transformadores;
• calcular o rendimento de transformadores;
• compreender as conexões para os transformadores trifásicos;
• calcular as grandezas elétricas associadas aos
transformadores trifásicos.
UNIUBE 99

Esquema
3.1 Circuito equivalente simplificado
3.2 Transformador com carga resistiva
3.3 Transformador com carga indutiva
3.4 Regulação de tensão em transformadores de potência
3.5 Regulação de tensão com dados do ensaio em curto-circuito
3.6 Cálculo da impedância, resistência e reatância percentuais
com os dados do ensaio em curto-circuito
3.7 Rendimento de transformadores
3.8 Transformadores trifásicos
3.8.1 Tipos de conexões

3.1 Circuito equivalente simplificado

Sabe-se que o circuito equivalente serve para representar o


transformador com núcleo de ferro. Nele, é representada a resistência do
enrolamento do primário e a do secundário. Com elas, é possível calcular
as perdas por efeito Joule do dispositivo. Estão também representadas
as reatâncias de dispersão do primário e do secundário, o que permite o
cálculo das quedas de tensão devido ao fluxo de dispersão. Além disso,
no ramo de magnetização, está representada a resistência e a reatância
de magnetização.

A reatância de magnetização está associada à energia necessária para


produzir o fluxo magnético que o transformador necessita para operar e
a resistência de magnetização permite o cálculo das perdas no ferro,
denominadas perdas magnéticas. Quando o transformador opera
com tensões de altas frequências, deve-se utilizar o chamado modelo
completo do transformador. Tal modelo é mostrado na Figura 1.
100 UNIUBE

Figura 1: Circuito equivalente completo de um transformador.

As capacitâncias , e são chamadas capacitâncias parasitas e


resultam em reatâncias capacitivas que não podem ser desprezadas, se
o transformador estiver operando com excitações de altas frequências.
Se, no entanto, as tensões envolvidas possuírem frequências de 60 Hz,
como é mais frequente, poderá se desprezar o efeito das capacitâncias
parasitas. Por outro lado, nota‑se que as grandezas do ramo de
magnetização são muito maiores que as demais grandezas do circuito
equivalente. Como o ramo de magnetização está em paralelo, a corrente
que por ele passa é pequena. Pensando assim, o ramo de magnetização
pode ser desprezado. O circuito equivalente do transformador fica
representado como na Figura 2.

Figura 2: Circuito equivalente de um transformador.

Refletindo as grandezas do secundário para o primário, tem‑se um


circuito equivalente, conforme mostra a Figura 3.
UNIUBE 101

Figura 3: Circuito equivalente com os parâmetros refletidos para o primário.

Nela, e . Assim, pode-se desenhar o circuito


equivalente, que é chamado circuito equivalente simplificado, na
forma mostrada na Figura 4.

Figura 4: Circuito equivalente simplificado com os


parâmetros refletidos para o primário.

Nessa figura, e são chamadas


resistência e reatância equivalente, respectivamente. Essas grandezas
estão referidas ao primário do transformador.

Exemplo 1

Calcule os parâmetros e e desenhe o circuito equivalente


simplificado de um transformador monofásico abaixador, cujos dados
de ensaio em curto-circuito são = 86 V, = 23,2 A e = 945 W.

Resolução:
102 UNIUBE

Como o transformador é abaixador,

Circuito equivalente simplificado (Figura 5):

Figura 5: Circuito equivalente simplificado.

3.2 Transformador com carga resistiva

O circuito equivalente simplificado serve para o estudo das relações de


tensão no primário do transformador. Se uma carga resistiva é conectada
no secundário do transformador, é possível calcular as tensões e construir
o diagrama fasorial das tensões no primário (Figura 6).

Figura 6: Circuito equivalente simplificado com carga acoplada ao


secundário.
UNIUBE 103

Uma carga resistiva colocada no secundário do transformador solicita


uma corrente que reflete no primário como sendo . Essa corrente
proporciona o cálculo das quedas de tensão utilizando o circuito
equivalente do transformador. Uma é a queda de tensão , e a outra
é a queda de tensão . Por outro lado, a tensão pode ser calculada
utilizando a relação de transformação:

(1)

(2)

Assim, a tensão da fonte que alimenta o transformador é calculada pela


expressão (3)
(3)

o que resulta no diagrama fasorial mostrado na Figura 7.

Figura 7: Tensões do primário do transformador com carga resistiva.

Note que a corrente no primário está em fase com a tensão


induzida no enrolamento do primário. A queda de tensão na resistência
equivalente também está em fase com a corrente que ali circula. Por
outro lado, a queda de tensão na reatância equivalente a está
adiantada em relação à mesma corrente.

Exemplo 2

Seja um transformador, representado pelo circuito equivalente da


104 UNIUBE

Figura 8, a seguir, com uma carga resistiva de 45 Ω acoplada em seu


secundário, e com os seguintes valores de parâmetros do ramo de
magnetização: e .

Figura 8: Circuito equivalente de um transformador com carga resistiva.

Pede‑se:

a) encontre os parâmetros e e desenhe o circuito equivalente


simplificado;
b) encontre o módulo da tensão da carga e da fonte de alimentação;
c) desenhe o diagrama fasorial das tensões do primário.

Resolução:

a) Parâmetros do circuito equivalente simplificado refletidos para o


primário.

Desprezando o ramo de magnetização, obtém-se o circuito equivalente


simplificado com os parâmetros refletidos para o primário do
transformador (Figura 9).
UNIUBE 105

Figura 9: Circuito equivalente simplificado do transformador com carga resistiva.

b) Módulo da tensão na carga e da fonte de alimentação.


106 UNIUBE

c) Diagrama fasorial das tensões do primário (Figura 10).

Figura 10: Diagrama fasorial das tensões do primário.

3.3 Transformador com carga indutiva

Se uma carga indutiva é conectada no secundário do transformador, da


mesma maneira é possível calcular as tensões e construir o diagrama
fasorial envolvendo as tensões no primário (Figura 11).

Figura 11: Circuito equivalente simplificado de um transformador com


carga indutiva no secundário.

De fato, uma carga indutiva colocada no secundário do transformador


solicita uma corrente que está atrasada em relação à tensão do
secundário. Essa corrente se reflete no primário como sendo e está
atrasada em relação à tensão induzida no enrolamento do primário.
A corrente que circula no primário produz uma queda de tensão
e uma queda de tensão . Do mesmo modo, a tensão pode ser
calculada utilizando-se a relação de transformação:

(4)
UNIUBE 107

(5)

Assim, da mesma maneira, temos (6):


(6)

O que resulta no seguinte diagrama fasorial (Figura 12):

Figura 12: Diagrama fasorial das tensões do primário de um


transformador com carga indutiva.

Note que a corrente no primário está atrasada com a tensão


induzida no enrolamento. A queda de tensão na resistência equivalente
está em fase com a corrente que ali circula e, por outro lado, a queda
de tensão na reatância equivalente está 90º adiantada em relação à
mesma corrente.

Exemplo 3

Seja um transformador, representado pelo circuito equivalente da Figura


13, a seguir, com uma carga indutiva de 318,2 + j318,2 Ω conectada em
seu secundário e com os seguintes valores de parâmetros do ramo de
magnetização: = 280 Ω e = 200 Ω.

Figura 13: Circuito equivalente de um transformador elevador com carga indutiva.


108 UNIUBE

De posse dessas informações,

a) determine os parâmetros e e desenhe o circuito equivalente


simplificado;
b) determine o módulo da tensão na carga e da fonte de alimentação;
c) desenhe o diagrama fasorial das tensões do primário.

Resolução:

a) Parâmetros do circuito equivalente simplificado referidos ao primário.

Desprezando o ramo de magnetização, obtém-se o circuito equivalente


simplificado com os parâmetros refletidos para o primário do
transformador (Figura 14).

Figura 14: Circuito equivalente simplificado de um transformador com carga indutiva.

b) Módulo da tensão na carga e da fonte de alimentação.


UNIUBE 109

c) Diagrama fasorial das tensões do primário (Figura 15).

Figura 15: Tensões no primário do transformador.

3.4 Regulação de tensão em transformadores de potência

Transformadores que alimentam cargas de alta potência precisam


manter a tensão dentro de certos limites em seus terminais aos quais
essas cargas são conectadas. Tal necessidade vem do fato de que os
110 UNIUBE

dispositivos que constituem essas cargas elétricas são projetados para


operar em uma determinada tensão, chamada tensão nominal.

Em uma unidade industrial, por exemplo, a soma das correntes das


diferentes cargas ali presentes resulta em uma significativa corrente
solicitada do transformador que alimenta a indústria. Isso provoca quedas
de tensão, que podem levar ao mau funcionamento dos equipamentos.
Implicará o aumento da corrente por eles (os equipamentos) solicitada,
agravando o problema. O aumento da corrente levará a um maior
aquecimento e, eventualmente, ao rompimento da isolação, provocando
a queima do motor. Assim, a regulação de tensão dos transformadores
de potência e de distribuição é um assunto de grande importância para
o sistema elétrico.

E o que é regulação de tensão? Regulação de tensão de um


transformador é definida como sendo a variação da tensão do secundário
do transformador operando desde a vazio até a plena carga, com a
tensão do primário mantida constante.

(7)

- E2 é o módulo da tensão induzida no enrolamento do transformador,


que é igual à tensão nos terminais do transformador a vazio, e
- V2 é o módulo da tensão nos terminais do transformador a plena carga.
Diz‑se que um transformador possui boa regulação de tensão se ela é
pequena. O ideal seria se ela fosse zero.

EXPERIMENTANDO

• Observe o efeito da circulação da corrente de carga sobre a tensão nos


terminais do transformador.
• Tome um transformador abaixador de potência qualquer. Valor sugerido:
150 VA, 220/24 V.
UNIUBE 111

• Inicialmente, conecte uma fonte de tensão ao seu enrolamento primário


ajustando a tensão em seu valor nominal. Meça a tensão no seu
secundário.
• Posteriormente, conecte um resistor de carga no seu secundário, de
tal maneira que a corrente solicitada por essa carga esteja próxima do
valor nominal da corrente secundária do transformador. Esteja atento
quanto à potência que o resistor pode dissipar. Assim, lembre‑se de
que o resistor deve ser um resistor de potência.
• Calcule de antemão a potência que será dissipada e garanta que a
potência que o resistor pode dissipar seja maior que o valor calculado.
Valor sugerido: R= 5 Ω, P = 200 W.
• Conecte o resistor ao secundário do transformador. Novamente, meça
a tensão nos terminais do transformador.
• Note que a tensão agora apresenta um valor menor.
• Explique o fato de a tensão secundária ter diminuído em valor quando
uma carga foi ligada ao secundário do transformador.

E, para se estudar a regulação de tensão de um transformador de


potência, será adotado que todos os valores dos parâmetros do circuito
equivalente simplificado serão refletidos para o lado do secundário do
transformador (Figura 16).

Figura 16: Circuito equivalente simplificado com os parâmetros


refletidos para o secundário.

Assim, há as seguintes expressões:

(8)
112 UNIUBE

(9)

Como o valor do parâmetro do primário dividido pela relação de


transformação é o valor refletido para o secundário, tem‑se
(10)

(11)

Será adotado, ainda, que o fasor tensão V2 do secundário estará


na referência, ou seja, seu ângulo de fase será zero. Assim, para
qualquer valor de corrente de carga, pode-se calcular o valor da tensão
E2, induzida no secundário do transformador. As cargas conectadas
ao secundário do transformador podem ser resistivas, indutivas ou
capacitivas. Se a carga for puramente resistiva, terá um fator de potência
unitário resultando o seguinte diagrama fasorial (Figura 17).

Figura 17: Diagrama fasorial para uma carga puramente resistiva.


Fonte: Adaptada de Kosow (1987).

Observando o diagrama, pode-se obter a tensão induzida E2, utilizando


a expressão:
(12)

Se a carga for indutiva, terá um fator de potência atrasado, resultando o


seguinte diagrama fasorial (Figura 18).
UNIUBE 113

Figura 18: Diagrama fasorial para uma carga indutiva.


Fonte: Adaptado de Kosow (1987).

Observando o diagrama, pode‑se obter a tensão induzida E2 utilizando


a expressão:
(13)

Se a carga for capacitiva, terá um fator de potência adiantado, resultando


o seguinte diagrama fasorial (Figura 19).

Figura 19: Diagrama fasorial para uma


carga capacitiva.
Fonte: Adaptada de Kosow (1987).

Observando o diagrama, pode-se obter a tensão induzida E2, utilizando


a expressão:
(14)
114 UNIUBE

CURIOSIDADE

Num transformador alimentando carga resistiva ou indutiva, a tensão gerada


no enrolamento do secundário é maior que a tensão presente nos seus
terminais externos.
Nesse caso, a corrente secundária está em fase (carga puramente
resistiva) ou atrasada (carga indutiva), em relação à tensão nos terminais
do transformador.
Quando o transformador alimenta a carga capacitiva, a tensão gerada no
enrolamento do secundário do transformador pode ser menor que a tensão
nos terminais do transformador. Já, nesse caso, a corrente está adiantada
em relação à tensão nos terminais do transformador.

Exemplo 4

Um transformador monofásico de potência nominal de 225 KVA,


13800/400V, 60Hz, possui os seguintes valores de resistência e
reatâncias equivalentes refletidas para o lado da baixa tensão:
e . Pede-se:

a) calcule a corrente nominal no secundário do transformador;

b) calcule a tensão induzida no enrolamento do secundário, quando o


transformador estiver fornecendo a corrente nominal a uma carga
com fator de potência unitário;

c) calcule a tensão induzida no enrolamento do secundário quando o


transformador estiver fornecendo a corrente nominal a uma carga
com fator de potência 0,75 atrasado;

d) calcule a tensão induzida no enrolamento do secundário quando o


transformador estiver fornecendo a corrente nominal a uma carga
com fator de potência 0,75 adiantado.
UNIUBE 115

Resolução:

a) Corrente nominal do transformador:

b) Carga com fator de potência unitário:

c) Carga com fator de potência 0,75 atrasado:

d) Carga com fator de potência 0,75 adiantado.


116 UNIUBE

Exemplo 5

Para o transformador do Exemplo 4, calcular a regulação de tensão


quando o transformador estiver fornecendo corrente nominal a uma
carga:
- com fator de potência unitário;
- com fator de potência 0,75 atrasado;
- com fator de potência 0,75 adiantado.

Resolução:

- Carga nominal com fator de potência unitário:

- Carga nominal com fator de potência 0,75 atrasado:

- Carga nominal com fator de potência 0,75 adiantado:


UNIUBE 117

3.5 Regulação de tensão com dados do ensaio em curto-


circuito

Quando um transformador é submetido ao ensaio de curto-circuito,


os instrumentos de medida, quais sejam, voltímetro, amperímetro e
wattímetro, são colocados do lado da alta tensão e o enrolamento do lado
da baixa tensão é curto-circuitado. Dessa maneira, a tensão, a corrente
e a potência fornecidas pela fonte são medidas.

A fonte ligada do lado da alta tensão percebe a carga como uma


impedância complexa. A parte real da impedância representa a
resistência do enrolamento da alta tensão somada com a resistência
do enrolamento do lado da baixa tensão refletida para o lado da alta
tensão. Da mesma maneira, a parte imaginária representa a reatância
de dispersão do enrolamento da alta tensão somada com a reatância de
dispersão do enrolamento do lado da baixa tensão refletida para o lado
da alta tensão.

Dessa maneira, pode‑se perceber que a resistência obtida a partir


do ensaio é igual à resistência equivalente do circuito equivalente
simplificado quando o transformador for abaixador. Da mesma maneira,
será igual à reatância equivalente . Se o transformador for
elevador, será igual à resistência equivalente e será igual à
reatância equivalente .

Exemplo 6

Um transformador monofásico elevador de 75 MVA, 13800/138000 V, 60


Hz, que é utilizado como uma fase de uma estrutura trifásica de 225 MVA,
foi submetido a um ensaio de curto‑circuito, sendo obtidos os seguintes
dados: = 4520 V, = 398 A, = 912540 W.
118 UNIUBE

Determine:
• os parâmetros do circuito equivalente simplificado por fase, refletidos
para o secundário do transformador,
• a regulação desse transformador quando ele estiver fornecendo a
corrente nominal com fator de potência em atraso de 0,8 e
• para a mesma condição de carga, com fator de potência 0,8 em
avanço.

Resolução:

Determinação dos parâmetros do circuito equivalente simplificado.

Como o transformador é um transformador elevador,

Cálculos preliminares para determinação da tensão induzida no


enrolamento do secundário do transformador:
UNIUBE 119

Cálculo da tensão induzida para carga em atraso:

Regulação para carga em atraso:

Cálculo da tensão induzida para carga em avanço:

Determinação da regulação para carga em avanço:

3.6 Cálculo da impedância, resistência e reatância percentuais


com os dados do ensaio em curto-circuito

Como se sabe, três principais medidas podem ser obtidas a partir do


ensaio em curto‑circuito de um transformador. São elas:
• a tensão de curto‑circuito, que é uma fração da tensão nominal;
• a corrente do ensaio de curto‑circuito, que normalmente é igual à
corrente nominal do dispositivo;
120 UNIUBE

• a potência consumida durante o ensaio em curto‑circuito, que


equivale às perdas por efeito Joule nos enrolamentos do primário e
do secundário.

Com esses dados, é possível obter o circuito equivalente do


transformador.

Obtendo e simplificando tal circuito e ainda refletindo os parâmetros


do circuito equivalente simplificado para o secundário, pode‑se fazer o
seguinte estudo (Figura 20):

Figura 20: Circuito equivalente simplificado com parâmetros referidos


para o secundário.

Observando o secundário do transformador por intermédio de seu


circuito equivalente simplificado, verifica‑se que o dispositivo pode ser
representado em um sistema elétrico por uma resistência em série com
uma reatância. Ou seja, ele pode ser representado por uma impedância
composta da resistência equivalente e da reatância equivalente .
A resistência equivalente pode ser calculada a partir da potência de
perdas medida pelo wattímetro. A expressão (15) a seguir serve para
esse propósito:

(15)

Conforme anteriormente abordado, a resistência é a soma da


resistência do enrolamento do secundário com a resistência do primário
refletida para o secundário. Por outro lado, poder‑se‑ia obter a resistência
UNIUBE 121

utilizando a seguinte expressão (16):

(16)

Em que é a resistência equivalente no primário, que é a resistência


do enrolamento do primário somada com a resistência do secundário
refletida para o primário. Para se eximir da necessidade de se referir
essas resistências de um lado para o outro do transformador, define‑se
resistência percentual como sendo da impedância da dividida pela
impedância base e multiplicada por 100%.

A impedância-base é uma relação entre a tensão nominal e a corrente


nominal no secundário. Nessa situação, a tensão nominal foi escolhida
como tensão-base e a corrente nominal, como corrente base. Assim, de
acordo com Oliveira et al (1984), pode‑se obter a resistência percentual
pela expressão (17):

(17)

O resultado obtido dessa operação é um número adimensional e


representa a resistência equivalente, tanto para o primário quanto para
o secundário. Substituindo a expressão (15) em (17), tem‑se:

(18)

Sabe‑se que a potência nominal do transformador é ; assim,

(19)
122 UNIUBE

Da mesma maneira, define-se impedância percentual como sendo:

(20)

Por outro lado, o módulo da impedância equivalente no lado do


secundário é:

(21)

E utilizando a relação de transformação, sabe‑se que:

(22)

Portanto, substituindo (22) em (21), tem-se que:

(23)

Agora, substituindo a expressão (23) em (20):

(24)

A reatância percentual pode ser obtida pela expressão:

(25)

Exemplo 7

Para o transformador monofásico de 25 KVA, 13800/220 V, 60 Hz,


apresentam‑se os seguintes valores de dados de seu ensaio em
curto‑circuito. Vcc = 640 V, Icc = 113,64 A, Wcc = 563 W. Diante disso,

a) determine a resistência percentual;


UNIUBE 123

b) determine a impedância percentual;


c) determine a reatância percentual.

Resolução:

a) Determinando a resistência percentual:

b) Determinando a impedância percentual:

c) Determinando a reatância percentual:

3.7 Rendimento de transformadores

As perdas de energia associadas aos transformadores são basicamente


as perdas de energia abordadas no estudo dos indutores com núcleo de
ferro. Assim, devido à circulação de corrente elétrica pelos enrolamentos
do primário e do secundário do transformador, há as perdas de energia
por efeito Joule nas resistências desses enrolamentos.

E devido à variação do fluxo magnético no núcleo de ferro do


transformador, há as perdas magnéticas, que são as perdas por histerese
e por correntes de Foucault. O rendimento de um transformador, como
qualquer outro dispositivo de conversão de energia, pode ser definido
como uma relação entre a potência ativa de saída e a potência ativa de
entrada (26):
124 UNIUBE

(26)

W1 é a potência ativa absorvida da fonte de alimentação pelo


transformador, W2, é a potência ativa fornecida à carga elétrica conectada
ao secundário do dispositivo e η é o rendimento. As potências ativas
podem ser descritas pelas expressões
(27)

(28)

V1 e I2 são os valores eficazes da tensão e corrente no primário,


respectivamente, e outro assim, e V2 e I2 são os valores eficazes da
tensão e corrente no secundário. O ângulo é o ângulo de defasagem
entre a tensão e a corrente no primário, enquanto o ângulo é o ângulo
de defasagem entre a tensão e a corrente no secundário. Pode-se
escrever que

(29)

Como dito anteriormente, basicamente as perdas nos transformadores


são as perdas por efeito Joule nos enrolamentos e as perdas magnéticas
no núcleo. Assim, as perdas podem ser escritas como sendo

(30)

Sendo que é a resistência equivalente no secundário, composta


da resistência do fio secundário somada com a resistência do primário
refletida para o secundário. representa as perdas magnéticas no
núcleo de ferro do transformador e são as perdas por efeito Joule
em seus enrolamentos.
Pode-se escrever que

(31)
UNIUBE 125

A expressão 31 refere‑se aos transformadores monofásicos, ou seja,


refere‑se a uma fase de um transformador trifásico.

CURIOSIDADE

O ensaio a vazio, além de nos fornecer os dados para calcular os


parâmetros do ramo de magnetização, quais sejam, resistência do Rm e
a reatância de magnetização Xm, permite-nos obter a potência de perdas
relativa a perdas no ferro. Essas perdas são as perdas por histerese e por
correntes de Foucault. Isso é obtido por intermédio da leitura do wattímetro.

O ensaio em curto‑circuito, além de nos fornecer dados para o cálculo


dos demais parâmetros, quais sejam, as resistências e as reatâncias dos
enrolamentos do primário e do secundário, permite-nos obter a potência de
perdas nos enrolamentos por efeito Joule. Novamente, isso é obtido por
intermédio da leitura do wattímetro.

Exemplo 8

Seja um transformador monofásico de 100 KVA, 13800/220 V, 60 Hz. Em


um ensaio de circuito aberto, o wattímetro mediu 210 W e, em um ensaio
em curto-circuito, o mesmo wattímetro mediu 1900 W. Diante disso,

a) calcule o rendimento do transformador quando ele estiver


fornecendo a metade da corrente nominal com fator de potência
0,65 atrasado;
b) calcule o rendimento do transformador quando ele estiver
fornecendo corrente nominal a uma carga com fator de potência
0,96 atrasado.

Resolução:

a) Rendimento a meia carga.


126 UNIUBE

b) Rendimento a plena carga.

Exemplo 9

Em um laboratório de ensaios, foram realizados os ensaios a vazio e em


curto-circuito de um transformador monofásico de 125 KVA, 760/220
V, 60 Hz, com o objetivo de determinar seu circuito equivalente. Os
resultados dos testes realizados são os seguintes:

Ensaio de circuito aberto: secundário aberto, com os instrumentos


colocados ao lado da baixa tensão:

Ensaio de curto-circuito: secundário curto-circuitado, com instrumentos


colocados ao lado da alta tensão:

a) Calcule a regulação do transformador, quando os KVA nominais


estiverem sendo fornecidos a uma carga com fator de potência
igual a 0,92 indutivo.
UNIUBE 127

b) Calcule o rendimento do transformador, quando os KVA nominais


estiverem sendo fornecidos a uma carga com fator de potência
igual a 0,92 indutivo.

Cálculos iniciais:

a) Regulação de tensão:
128 UNIUBE

b) Rendimento do transformador:

3.8 Transformadores trifásicos

Para se transformar tensões trifásicas, modificando seus valores entre


a fonte e a carga, pode-se utilizar um único transformador trifásico
com o primário e o secundário enrolados sobre um núcleo de material
ferromagnético comum. Ou pode-se utilizar uma bancada composta de
transformadores monofásicos, que devem ter a mesma potência em KVA
e a mesma relação de transformação a. (OLIVEIRA; COGO; ABREU,
1984, p.1).

Tanto um jeito quanto o outro fornecem o mesmo resultado no que se


refere à transformação de tensões trifásicas. Assim, as explicações
sobre transformadores trifásicos são normalmente feitas a partir de
uma estrutura composta de três transformadores monofásicos. Assim,
UNIUBE 129

sejam os transformadores monofásicos mostrados na Figura 21 a seguir.


(OLIVEIRA; COGO; ABREU, 1984, p.1).

Figura 21: Três transformadores monofásicos idênticos de 50 KVA, 13800/220 V.

Pode‑se notar que os transformadores possuem a mesma potência


aparente, que é igual a 50 KVA, com o enrolamento do primário, com
a capacidade de suportar 13800 V, e o enrolamento secundário 220 V.
Tanto o primário como o secundário da estrutura transformadora trifásica
podem ser conectados em triângulo ou em estrela. Se o primário dessa
estrutura trifásica for conectado em delta, a estrutura pode ser alimentada
por um sistema trifásico, no qual as tensões de linha são de 13,8 KV.

Se, no entanto, o mesmo enrolamento trifásico for ligado em Y, essa


alimentação poderá ser de 23,9 KV, que é .13,8 KV. Por outro lado,
também o secundário pode ser conectado em estrela ou em triângulo.
Assim, se for conectado em estrela, as tensões de linha no secundário
serão .220 V, que é igual a 380V. No entanto, se for ligado em triângulo,
a tensão de linha no secundário será 220 V. (OLIVEIRA; COGO; ABREU,
1984, p.1).

A Figura 22 a seguir mostra as ligações para conectar o primário em delta


e o secundário em estrela.
130 UNIUBE

Figura 22: Estrutura trifásica a partir de três transformadores monofásicos.

Note que os terminais do primário são designados com a letra H ( e


) e os terminais do secundário com a letra X ( e ). Note, também,
que, no primário, a notação das grandezas elétricas do transformador
utiliza letras maiúsculas, enquanto as grandezas do secundário
utilizam letras minúsculas. Observe ainda que no secundário existe
um ponto em que os enrolamentos se juntam. É o neutro, caracterizado
pela letra n. Por outro, como cada transformador monofásico é de 50
KVA, a estrutura trifásica tem uma potência de 150 KVA. (OLIVEIRA;
COGO; ABREU, 1984, p.2).

3.8.1 Tipos de conexões

Os transformadores trifásicos podem ter diversos tipos de conexões em


função das diferentes possibilidades de ligar seus enrolamentos trifásicos
no primário e no secundário. De fato, o enrolamento do primário pode ser
UNIUBE 131

ligado em triângulo e estrela, assim como o enrolamento do secundário.


No mínimo, há as seguintes possibilidades de conexões desses
transformadores: ∆‑∆; ∆-Y; Y-∆; e Y-Y. Porém, além dessas conexões,
existem outras variações, delas derivadas. (OLIVEIRA; COGO; ABREU,
1984, p.3).

Conexão ∆‑∆

Transformadores na conexão ∆‑∆ apresentam o enrolamento trifásico do


primário e do secundário ligados em triângulo, conforme mostra a Figura
23. Nota-se, observando o primário, que os módulos da tensão de linha e
da tensão de fase da estrutura são os mesmos, ou seja, VL = VF. Como
o secundário também está conectado em triângulo, o mesmo se repete.
(OLIVEIRA; COGO; ABREU, 1984, p.3).

Por outro lado, de acordo com a teoria de circuitos elétricos trifásicos,


o módulo da corrente de fase é igual ao módulo da corrente de linha
dividida por , tanto no primário como no secundário. Assim,
(32)

(33)

VL é o módulo da tensão de linha, VF é o módulo da tensão de fase,


IL é o módulo da corrente de linha e IF é o módulo da corrente de fase
(Figura 23).

Figura 23: Conexão triângulo‑triângulo.


132 UNIUBE

As tensões de fase entre o primário e o secundário se relacionam entre


si de acordo com a teoria dos transformadores monofásicos, relação
direta com o número de espiras dos enrolamentos. (OLIVEIRA; COGO;
ABREU, 1984, p.4).

(34)

Da mesma maneira, as correntes de fase entre o primário e o secundário


se relacionam entre si na relação inversa do número de espiras.

(35)

O é a tensão de fase do primário, é a tensão de fase do


secundário, é a tensão de fase do primário, é a tensão de fase
do secundário e é a relação de transformação. (OLIVEIRA; COGO;
ABREU, 1984, p.3).

O transformador trifásico na conexão ∆‑∆ é adequado para aplicações


envolvendo alimentação de cargas altamente desequilibradas. Além
disso, possui a vantagem de poder ser operado em delta aberto,
fornecendo uma saída trifásica com 1/ da potência anterior. Outrossim,
nessa estrutura as tensões de terceiro harmônico são eliminadas pela
circulação de correntes de terceiro harmônico nos enrolamentos em
delta. (OLIVEIRA; COGO; ABREU, 1984, p.4).

Como os enrolamentos estão conectados em delta, a corrente em


cada fase é a corrente de linha dividida por . Assim, a corrente no
enrolamento é cerca de 57% da corrente de linha, o que exigirá uma
menor bitola de fio, se comparada com uma estrutura de mesma potência
conectada em estrela. Por outro lado, a tensão de linha é igual à de fase.
Apresenta as desvantagens de não ter neutro disponível, o que, entre
outros itens, impede o suprimento de energia a quatro fios. E apresenta
UNIUBE 133

a dificuldade de confecção das bobinas e custos mais elevados para


aplicações envolvendo altas tensões de linha, devido à necessidade
do reforço de isolação para suportar altos níveis de tensão (OLIVEIRA;
COGO; ABREU, 1984, p.4).

Exemplo 10

Uma estrutura transformadora trifásica ∆‑∆, de relação de transformação


18:1, alimenta uma carga trifásica equilibrada que consome uma corrente
de linha de 389 A, em 440 V (Figura 24).

Figura 24: Conexão trifásica ∆‑∆.


Fonte: Oliveira; Cogo; Abreu (1984, p.5).

Desprezando as perdas do transformador, determine o módulo das


tensões e correntes de linha e de fase no primário do transformador.

Resolução:
Tensão de fase no secundário:

Corrente de fase no secundário:

Corrente de fase no primário:


134 UNIUBE

Corrente de linha no primário:

Tensão de fase e de linha no primário:

Conexão ∆‑Y
Em transformadores na conexão ∆-Y, o enrolamento trifásico do primário
está ligado em triângulo e o enrolamento do secundário em estrela,
conforme mostra a Figura 25.

Nota-se, observando o primário, que o módulo da tensão de linha e a


tensão de fase da estrutura são os mesmos, ou seja, VL = VF, devido ao
enrolamento trifásico ligado em ∆. No entanto, como o secundário está
ligado, conectado em estrela, o mesmo não se repete.

Figura 25: Conexão triângulo-estrela.


Fonte: Oliveira; Cogo; Abreu (1984, p.6).

No primário, em função da conexão em triângulo, as tensões e correntes


de fase são
(36)

(37)
UNIUBE 135

Já, no secundário, em função da conexão em estrela, as tensões e


correntes de fase são

(38)

(39)

A principal aplicação do transformador trifásico na


conexão ∆‑Y é a alimentação de cargas a quatro fios.
É muito utilizado em subestações, na extremidade
emissora de linhas de transmissão e também em
linhas de distribuição dos sistemas elétricos. Possui a
vantagem de as tensões de terceiro harmônico serem
eliminadas pela circulação de correntes de terceiro
harmônico no primário em delta e pelo fato de que o
secundário pode ser aterrado ou utilizado para uma
alimentação a quatro condutores.

Além disso, cargas equilibradas e desequilibradas


podem ser alimentadas concomitantemente por essa
estrutura. No entanto, apresenta uma desvantagem,
pois a falta de uma fase coloca o transformador fora de
operação. (OLIVEIRA; COGO; ABREU, 1984, p.143).

Exemplo 11

Tensões senoidais provenientes de uma fonte de tensão trifásica


e descritas pelas expressões a seguir alimentam o primário de um
transformador trifásico, conexão ∆‑Y (Figura 26). (OLIVEIRA; COGO;
ABREU, 1984, p.7).
136 UNIUBE

Figura 26: Conexão ∆‑Y.


Fonte: Oliveira; Cogo; Abreu (1984, p.7).

Se uma carga conectada em seu secundário absorve uma corrente eficaz


de 563 A, que resulta em uma corrente de 9,02 A, fornecida pela fonte
de tensão trifásica, pede‑se:

a) determine o valor eficaz das tensões de fase e de linha no


secundário do transformador.
b) determine o defasamento angular entre as tensões de linha do
primário para as tensões de linha no secundário.

Resolução:

Cálculos iniciais:

Relação de transformação:

a) A tensão eficaz de fase e linha no secundário.

Tensão de fase:

Tensão de linha:
UNIUBE 137

b) Defasamento angular entre as tensões de linha do primário para


as tensões de linha no secundário.

A tensão sobre o enrolamento do primário se reflete sobre o


enrolamento do secundário, resultando na tensão . O módulo da
tensão é proporcional ao número de espiras do secundário (Figura 27).

Figura 27: Diagrama fasorial das tensões de linha e de fase no secundário.


Fonte: Oliveira; Cogo; Abreu (1984, p.9).

Assim, conforme calculado no item b, o módulo da tensão de fase no


secundário é = 127,78 V. O ângulo é o mesmo da tensão , no
primário, ou seja, θ = . Observando o diagrama fasorial, vê‑se que a
tensão de linha está adiantada em relação à tensão de fase. Portanto
as tensões de linha do secundário estão defasadas em relação às
tensões de linha do primário.

Escrevendo na forma fasorial, as tensões no primário e no secundário são


Primário Secundário
138 UNIUBE

Pode‑se ver que as tensões de linha do secundário estão 30º adiantadas


em relação às tensões de linha no primário. (OLIVEIRA; COGO; ABREU,
1984, p.9).

Conexão Y-Y

Em transformadores na conexão Y‑Y, o enrolamento trifásico do primário


e do secundário está ligado em estrela, conforme mostra a Figura 28.

Figura 28: Conexão estrela‑estrela.


Fonte: Oliveira; Cogo; Abreu (1984, p.10).

No primário, devido à conexão do enrolamento em estrela, as tensões e


correntes de fase são

(40)

(41)

No secundário, devido à conexão também em estrela, o mesmo


acontece. Esse tipo de conexão de transformador trifásico é aplicado
para alimentação de cargas elétricas de pequena potência, o que resulta
em pequena corrente de linha. Possui a vantagem de ser a conexão mais
econômica para pequenas potências e altas tensões.

Nessa conexão, os neutros do primário e do secundário estão disponíveis


para aterramento ou para fornecer uma tensão equilibrada a quatro fios.
Outra vantagem é que se faltar uma das fases, em qualquer dos dois
lados, as duas fases que permanecerem podem operar de forma a
UNIUBE 139

permitir uma transformação monofásica.

No entanto tem a desvantagem de apresentar neutros que são flutuantes,


a menos que sejam consistentemente aterrados. Além disso, a falta
de uma fase tira do transformador a capacidade de fornecer tensões
trifásicas. Outra desvantagem vem da dificuldade de confecção do
enrolamento e os altos custos quando as correntes de linha se tornam
muito grandes. (OLIVEIRA; COGO; ABREU, 1984).

Exemplo 12

Seja um transformador trifásico, conexão Y‑ Y, que interliga duas linhas,


alimentando uma linha de transmissão de 500 KV (Figura 29).

Figura 29: Conexão Y – Y.


Fonte: Oliveira; Cogo; Abreu (1984, p.11).

Sabendo que o valor eficaz da corrente que circula no primário é 450 A


e que a relação de transformação é 1:4, determine:

a) o valor de tensão de linha da linha que alimenta o primário do


transformador;
b) a variação percentual da corrente do secundário em relação à
corrente no primário.

Resolução:

a) Tensão de linha no primário:


140 UNIUBE

b) Variação percentual da corrente do secundário em relação ao


primário:

Conexão Y-Δ

Em transformadores na conexão Y‑∆, o enrolamento trifásico do primário


está ligado em estrela e o enrolamento do secundário em triângulo,
conforme mostra a Figura 30.

Figura 30: Conexão estrela‑triângulo.


Fonte: Oliveira; Cogo; Abreu (1984, p.12).

Nota‑se, observando o enrolamento do primário, que o módulo da


corrente de fase e da corrente de linha da estrutura são os mesmos, ou
seja, .Já o módulo da tensão de fase é o módulo da linha dividido
por . Ou seja,

No entanto, como o secundário está conectado em triângulo, o módulo


da corrente de fase será igual ao módulo da corrente de linha dividido por
, enquanto as tensões de linha e de fase possuem o mesmo valor,
qual seja, VL = VF (Figura 30).
UNIUBE 141

A principal aplicação da estrutura Y‑∆ é como transformador abaixador em


sistemas elétricos de potência. É instalado em subestações localizadas
na extremidade receptora de linhas de transmissão. (OLIVEIRA; COGO;
ABREU, 1984.).

Possui a vantagem de as tensões de terceiro harmônico serem eliminadas


pela circulação das correntes de terceiro harmônico no secundário em
delta. O neutro do primário mantém-se estável devido ao secundário
em delta, além de poder ser aterrado. Outra vantagem que a estrutura
apresenta é a de ser a melhor combinação para transformadores
abaixadores, pois a conexão estrela é apropriada para altas tensões, o
que implica os enrolamentos serem isolados para tensão de fase.

Além disso, a conexão em triângulo é adequada para altas correntes.


Estando o enrolamento conectado em delta, a corrente de fase é menor
que a corrente de linha em, aproximadamente, 43%. Como desvantagem,
destaca-se que não há neutro no secundário disponível para aterramento
ou para uma possível alimentação a quatro fios. (OLIVEIRA; COGO;
ABREU, 1984).

Exemplo 13

Uma rede trifásica de distribuição absorve 6,6 MW, em 13,8 KV, com
fator de potência 0,7 atrasado, de uma subestação na qual se encontra
um transformador abaixador na conexão Y‑∆ (Figura 31). Sabe-se que,
no secundário do transformador, as tensões são

Vab = 13800 < 0° V

Vbc = 13800 < 120° V

Vca = 13800 < 240° V


142 UNIUBE

Figura 31: Conexão Y‑∆.


Fonte: Oliveira; Cogo; Abreu (1984, p.13).

a) Determine o módulo da corrente de linha no primário.

b) Determine as tensões de linha no primário do transformador em KV.

c) Determine o defasamento angular entre as tensões de linha do


primário para o secundário.

Resolução:

a) Corrente de linha no primário:

b) Tensões de linha no primário:


UNIUBE 143

c) Defasamento angular entre tensões de linha do primário para o


secundário.

A tensão Vab sobre o enrolamento do secundário é consequência da


indução de tensão sobre o enrolamento, cujo valor depende do número
de espiras. No primário, o módulo da tensão VAN é proporcional ao
número de espiras do primário. No secundário, o mesmo acontece
(Figura 32).

Figura 32: Diagrama fasorial das tensões de fase e de


linha no primário.
Fonte: Oliveira; Cogo; Abreu (1984, p.15).

Assim, conforme calculado no item b, o módulo da tensão de fase no


primário é VF1 = 110,4 KV. O ângulo de VAN é o mesmo da tensão Vab,
no secundário, ou seja, θ = . Observando o diagrama fasorial, vê-se
que a tensão de linha está atrasada em relação à tensão de fase.
Portanto as tensões de linha do primário estão defasadas em relação
a tensões de linha do secundário.

Escrevendo na forma fasorial, as tensões no primário e no secundário são:


Primário Secundário
144 UNIUBE

Pode-se ver que as tensões de linha do secundário estão 30º atrasadas


em relação às tensões de linha no primário.

Conexão Y-Y com terciário em Δ

Nos transformadores com conexão Y‑Y e com terciário em ∆, o


enrolamento trifásico do primário está ligado em estrela, o enrolamento
do secundário em estrela e o terciário em triângulo, conforme mostra a
Figura 33.

Figura 33: Conexão estrela‑estrela com terciário em delta.


Fonte: Oliveira; Cogo; Abreu (1984, p.16).

Esse tipo de estrutura trifásica, com conexão Y‑∆‑Y, é aplicado em cargas


de pequena potência ou mesmo em sistemas de distribuição. Possui a
vantagem de o enrolamento terciário em delta fornecer um caminho para
os componentes de terceiro harmônico da corrente de magnetização, o que
elimina as tensões de terceiro harmônico dos enrolamentos em estrela.

Portanto os pontos neutros de tais enrolamentos são estáveis. Além disso,


estão disponíveis para serem aterrados. E, ainda, o enrolamento terciário
em ∆ pode ser utilizado para suprimento de cargas elétricas. Porém essas
estruturas apresentam a desvantagem de que, dependendo do intento
da aplicação, o custo do transformador pode ser muito elevado. Outra
desvantagem é que um defeito no enrolamento auxiliar pode colocar
o transformador fora de operação (OLIVEIRA; COGO; ABREU, 1984).
UNIUBE 145

Exemplo 14

Um transformador trifásico Y‑∆‑Y interliga duas linhas de transmissão. No


primário do transformador está uma linha de 340 KV e, no secundário,
está uma linha de 240 KV. No terciário conectado em ∆, com tensão de
13,8 KV, está conectada uma carga que consome uma potência ativa de
1,2 MW, com fator de potência 0,75 atrasado (Figura 34).

Figura 34: Conexão Y‑∆‑Y.


Fonte: Oliveira; Cogo; Abreu (1984, p.17).

Qual será a contribuição dessa carga para a corrente que circula no


primário do transformador?
146 UNIUBE

Conexão ∆-zigue-zague

Em transformadores na conexão ∆-zigue-zague, o enrolamento trifásico


do primário está ligado em triângulo e o enrolamento do secundário,
em estrela. Sendo que cada uma das fases é constituída de dois
enrolamentos-metade, conforme mostra a Figura 35 (OLIVEIRA; COGO;
ABREU, 1984, p.18).

Figura 35: Conexão delta zigue-zague.


Fonte: Oliveira; Cogo; Abreu (1984, p.18).

A grande aplicação de transformadores trifásicos na conexão


∆-zigue-zague é em estruturas trifásicas utilizadas para alimentação de
conversores estáticos, como os retificadores. O objetivo desse tipo de
conexão é evitar a saturação do núcleo devido ao componente contínuo
da corrente de carga. Fato esse que pode acontecer se o núcleo do
transformador for de quatro pernas ou se a estrutura trifásica for
composta por três transformadores monofásicos. (OLIVEIRA; COGO;
ABREU, 1984.).

A primeira vantagem dessa estrutura é que as tensões de terceiro


harmônico são eliminadas pela circulação de correntes de terceiro
harmônico no primário, que é conectada em triângulo. A segunda é que o
neutro do secundário pode ser aterrado, pode ser usado para alimentação
de cargas a quatro fios, ou, ainda, pode proporcionar um neutro para um
sistema de corrente contínua a três condutores. (OLIVEIRA; COGO;
ABREU, 1984.).

A desvantagem é que, devido ao defasamento das metades dos


enrolamentos, que são conectados em série para formar uma fase, a
UNIUBE 147

conexão ∆-zigue-zague exige, em cada enrolamento, cerca de 15% a


mais de condutores elétricos de cobre, alumínio ou outra liga de material
condutor com a qual o enrolamento é construído. Além disso, a falta de
uma fase coloca o transformador fora de operação (OLIVEIRA; COGO;
ABREU, 1984).

Exemplo 15

Seja um transformador trifásico, de relação de transformação 4:1, na


conexão ∆-zigue-zague, veja a Figura 36, que mostra o enrolamento
secundário excitando um retificador trifásico de meia onda.

Figura 36: Enrolamento do secundário em zigue‑zague.


Fonte: Oliveira; Cogo; Abreu (1984, p.19).

A tensão retificada é VDC = 128,7 V e a resistência da carga é R = 1,2


Ω. Sabendo ainda que existem as relações: e
, em que é o valor eficaz da tensão de fase do secundário do
transformador, é a corrente eficaz no secundário do transformador e
ainda que é a corrente média na carga. Pede-se:

a) a corrente eficaz que circula no secundário do transformador;


b) a tensão eficaz de cada enrolamento-metade do secundário;
c) a tensão eficaz no primário;
148 UNIUBE

d) a corrente eficaz no primário;


e) explique por que se utiliza um transformador ∆-zigue-zague para
esse tipo de carga.

Resolução:

a) Corrente eficaz no secundário do transformador:

b) Tensão eficaz em cada enrolamento metade do secundário:

c) Tensão eficaz no primário:

d) Corrente eficaz no primário:

e) Utilização do transformador ∆-zigue-zague para alimentação de


conversores estáticos.

Observando a estrutura mostrada na Figura 36, nota-se que, toda vez


que um dos diodos estiver conduzindo a corrente, essa circula pelos
dois enrolamentos metade. Esse funcionamento faz com que o fluxo
magnético no núcleo de ferro do transformador vá-se alternando e, desta
maneira, evita a saturação de seu circuito magnético. Isso se aplica
quando o núcleo do transformador é de quatro pernas ou quando são
UNIUBE 149

utilizados três transformadores monofásicos para constituir uma estrutura


transformadora trifásica. (OLIVEIRA; COGO; ABREU, 1984).

Autotransformadores trifásicos

Os autotransformadores trifásicos são dispositivos nos quais cada fase


é constituída de um único enrolamento que serve ao primário e ao
secundário. Normalmente são conectados em estrela-estrela, conforme
mostra a Figura 37, e possuem tapes que normalmente são de 65% e
80%. (OLIVEIRA; COGO; ABREU, 1984, p.5).

Figura 37: Autotransformador trifásico.


Fonte: Oliveira; Cogo; Abreu (1984, p.21).

Esses dispositivos são usados em chaves compensadoras, justamente


para diminuir a corrente de partida que os motores de indução trifásicos
solicitam da fonte de alimentação.

O autotransformador trifásico reduz essa corrente de duas maneiras. A


primeira é que a tensão aplicada ao enrolamento do motor é reduzida,
acarretando a diminuição da corrente solicitada pelo motor no momento
da partida. Essa corrente é a corrente que circula no secundário do
autotransformador. A segunda maneira é que a corrente solicitada da
rede de alimentação será a corrente que circula no secundário refletida
no primário, pela relação de transformação (KOSOW, 1987).

(42)

Como o número de espiras do secundário é menor que o do primário para


os diversos tapes que o transformador apresenta, a corrente solicitada
150 UNIUBE

da rede de alimentação fica reduzida, conforme pode ser descrito pela


expressão 42 acima.

Exemplo 16

Um autotransformador trifásico com tapes de 65% e 80% é utilizado para


partir um motor trifásico ligado em estrela, cuja impedância por fase é 0,5
+ j0,8 Ω. A tensão de linha da rede de alimentação é 440 V.

Qual será a corrente solicitada da rede de alimentação se for utilizado o


tape de 65%?
E qual será a corrente, se o motor partir diretamente ligado à rede de
alimentação? (Figura 38).

Qual será a porcentagem da corrente com partida com autotransformador


em relação à partida direta? (OLIVEIRA; COGO; ABREU, 1984, p.21).

Figura 38: Conexão do autotransformador para partida de motor.


Fonte: Oliveira; Cogo; Abreu (1984, p.22).

Resolução:
Corrente solicitada da rede de alimentação, utilizando o
autotransformador:
UNIUBE 151

Corrente com partida direta:

Porcentagem da corrente com partida com autotransformador em relação


à partida direta:

Assim, percebe-se que, utilizando-se o autotransformador, a corrente que


o motor solicita da rede de alimentação na partida é 57,75% menor, caso
o motor partisse diretamente ligado à fonte de alimentação. (OLIVEIRA;
COGO; ABREU, 1984, p.22).

RELEMBRANDO

Em um transformador monofásico, existe a relação entre a tensão do


primário para o secundário, dada por:
E1 N1 E1 N1
= , ou = a, em que: a=
E2 N 2 E2 N2

E a relação entre as correntes do primário para o secundário é dada por:


I1 N1 , I1 1 , 1 N2
= ou = em que: =
I 2 N1 I2 a a N1
Nos transformadores trifásicos, as mesmas relações se estabelecem. É
preciso lembrar que essas relações acontecem entre os enrolamentos.
Portanto essas relações são entre as grandezas de fase.
Para as tensões de fase, há as seguintes relações:
EF 1 N1 , ou EF 1 N1
= = a, em que: a=
EF 2 N 2 EF 2 N2
152 UNIUBE

Para as correntes de fase, há as seguintes relações:


I F 1 N1
, ou
I F 1 1 , onde: 1 = N 2
= =
I F 2 N2 IF 2 a a N1

Em uma conexão trifásica, há as seguintes relações:

Conexão em estrela:

VL
= L e VF
I F I=
3

Conexão em triângulo:

IL
=VF V=
L e IF
3

Exemplo 17
Uma subestação que interliga uma linha de transmissão com outra
de distribuição possui um transformador trifásico 30 MVA, que, em
determinada situação de carga, absorve 38,36 A da rede de alimentação.
O transformador está conectado em Y‑∆, as tensões do primário são
descritas por:

e a relação de transformação é de 18:1.

Pede‑se:

a) determine as tensões de linha no secundário;


b) determine o módulo da corrente de fase e de linha no secundário.
(OLIVEIRA; COGO; ABREU, 1984, p.23).
UNIUBE 153

Resolução:

a) Determinação do módulo da tensão de linha no secundário:

Determinação do ângulo das tensões do secundário:

A sequência de fase é acb. Assim, a tensão de fase está adiantada


em relação à tensão de linha. Essa tensão de fase se reflete no
secundário. Como o secundário está conectado em Δ, a tensão de fase
é igual à tensão de linha, portanto o ângulo de fase da tensão de linha
é também .

As tensões de linha no secundário são:

b) Módulo das correntes de fase e de linha:


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Exemplo 18

Considerando que o ângulo de defasagem entre a tensão de fase e a


corrente de fase no secundário do transformador do exemplo 4 é de ,
calcule:

a) a potência ativa absorvida pela carga;


b) a potência reativa absorvida pela carga;
c) o carregamento percentual do transformador para essa situação
de carga. (OLIVEIRA; COGO; ABREU, 1984, p.24).

Resolução:

a) Potência ativa:

b) Potência reativa:

c) Carregamento percentual:
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Resumo
Neste capítulo, foram abordados os conceitos relacionados a circuito
equivalente simplificado e à sua aplicação no cálculo e análise das
tensões no primário de um transformador e, também, para o estudo
da regulação de tensão em transformadores de potência. Estudo esse
de grande importância na análise da operação de transformadores,
principalmente aqueles locados para alimentação de cargas industriais.

Além disso, tratou-se do estudo do rendimento do transformador, que é


outro item de grande importância, já que os transformadores de potência
são dispositivos que trabalham grandes quantidades de energia e
precisam apresentar rendimentos altos, o que implica que pequena parte
de energia envolvida é perdida em seu funcionamento e operação. Em
todos esses tópicos, foram propostos e resolvidos diversos exemplos
que mostraram de forma prática a aplicação dos conceitos associados.

Por fim, estudaram-se os transformadores trifásicos, com destaque para


os diversos tipos de conexões, vantagens, desvantagens e aplicações.
Dentre eles, têm grande importância as conexões ∆‑Y e Y‑∆. A conexão
∆‑Y, devido a sua utilização na alimentação de linhas de transmissão
em estruturas transformadoras elevadoras. Por outro lado, esse mesmo
tipo de conexão é utilizado nos sistemas de distribuição, alimentando as
residências em tensões de 220/127 V, já que no secundário têm‑se dois
níveis de tensão: entre as linhas 220 V, e entre fase‑neutro, 127 V.

Nos sistemas elétricos industriais, da mesma maneira, em muitas


situações é utilizado esse tipo de conexão, porém apresenta os níveis
380/220 V, 440/254 V, 760/440 V. Já, a conexão Y‑∆ tem sua aplicação
importante nas subestações abaixadoras que recebem tensões das
linhas de transmissão e alimentam as redes de distribuição.
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Referências
BOYLESTAD, R. L. Introdução à análise de circuitos elétricos. 8. ed. Rio de
Janeiro: Pearson Education, 2004.

DEL TORO, A. E. Fundamentos de máquinas elétricas. Rio de Janeiro: PHB, 1991.

FITZGERALD, A. E.; KINGSLEY JÚNIOR, C.; STEPHEN D. Máquinas elétricas.


6. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006.

KOSOW, I. Máquinas elétricas e transformadores. 7. ed. Rio de Janeiro:


Editora Globo, 1987.

NASAR, A. N. Máquinas elétricas. São Paulo: McGraw‑Hill – Coleção Schaum,


1984.

OLIVEIRA, J. C.; COGO, J. R.; ABREU, J. P. G. de. Transformadores: teoria e


ensaios. 6. ed. São Paulo: Editora Edgard Blucher, 1984.

SIMONE, G. A. Transformadores: teoria e ensaios. São Paulo: Erica, 1998.

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