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Tenho urgência de ti, meu amor. Para me salvar da lama movediça de mim mesmo.

Para me tocar, para me tocar e no toque me salvar. Preciso ter certeza que inventar
nosso encontro sempre foi pura intuição, não mera loucura.

“Que algo sempre nos falta — o que chamamos de Deus, o que chamamos de amor, saúde,
dinheiro, esperança ou paz. Sentir sede faz parte. E atormenta.”

"Já li tudo, cara, já tentei macrobiótica psicanálise drogas acupuntura suicídio ioga dança
natação cooper astrologia patins marxismo candomblé boate gay ecologia, sobrou só esse nó
no peito, agora o que faço?"

Então, de repente, sem pretender, respirou fundo e pensou que era bom viver. Mesmo que
as partidas doessem, e que a cada dia fosse necessário adotar uma nova maneira de agir e
de pensar, descobrindo-a inútil no dia seguinte - mesmo assim era bom viver. Não era fácil,
nem agradável. Mas ainda assim era bom. Tinha quase certeza."

A gente nunca pode julgar o que acontece dentro dos outros.

"Um dia tu vais compreender que não existe nehuma pessoa totalmente má, nehuma pessoa
completamente boa. Tu vais ver que todos nós somos apenas humanos. E sofrerás muito
quando resolveres dizer só aquilo que pensas e fazer só aquilo que gostas. Aí sim, todos te
virarão as costas e te acharão mau por não quereres entrar na ciranda deles, compreendes?

"É tudo tão bonito que me dói e me pesa”

“neste exato momento tens a beleza insuportável da coisa inteiramente viva"


- para Raquel, já.

Tenho achado viver tão bonito...

''Vem, antes que eu me vá, antes que seja tarde demais. Vem, que eu não tenho ninguém e
te quero junto a mim. Vem, que eu te ensinarei a voar.”

Naufrago em tua boca, esqueço, mastigo tua saliva, afundo.


Escuridão e umidade, calor rijo do teu corpo contra a minha coxa, calor rijo
do meu corpo contra a tua coxa. Amanhã não sei, não sabemos.
(...)O cheiro do teu corpo persiste no meu durante dias. Não tomo banho.
Guardo, preservo, cheiro o cheiro do teu cheiro grudado no meu. E basta
fechar os olhos para naufragar outra vez e cada vez mais fundo na tua boca.
Abismos marinhos, sargaços.
(...)Como se lutássemos — só nós dois, sós os dois, sóis os dois — contra
dois mil anos amontoados de mentiras e misérias, assassinatos e proibições.
Dois mil anos de lama, meu amigo. Esse lixo atapetando as ruas que
suportam nossos passos que nunca tiveram aonde ir.

“Então, que seja doce. Repito todas as manhãs..."

Relaxa baby e flui: barquinho na correnteza, Deus dará."

''A vida é agora, aprende.”

“Depois de todas as tempestades e naufrágios, o que fica de mim em mim é cada vez mais
essencial e verdadeiro.”
Não olhava para trás, porque olhar para trás era uma maneira de ficar num pedaço qualquer
para partir incompleto, ficado em meio para trás.Não olhava, pois, e pois não ficava.
Completo partiu.”

"... tive vontade de sentar na calçada da rua augusta e chorar, mas preferi entrar numa
livraria, comprar um caderno lindo e anotar sonhos.”

“Loucura, eu penso, é sempre um extremo de lucidez. Um limite insuportável.”

“que aconteça alguma coisa bem bonita para você, te desejo uma fé enorme, em qualquer
coisa, não importa o quê, como aquela fé que a gente teve um dia, me deseja também uma
coisa bem bonita, uma coisa qualquer maravilhosa, que me faça acreditar em tudo de novo,
que nos faça acreditar em todos de novo, que leve para longe da minha boca esse gosto
podre de fracasso, de derrota sem nobreza, não tem jeito, companheiro, nos perdemos no
meio da estrada e nunca tivemos mapa algum, ninguém dá mais carona e a noite já vem
chegando.”

“Não se pode ser infeliz, não se pode morrer em vida, não se pode desistir de amar, de criar.
Não se pode: é pecado, é proibido (...) Não é possível adiar a vida.”

“As pessoas suportam tudo, as pessoas às vezes procuram exatamente o que será capaz de
doer ainda mais fundo.”

“Venha quando quiser, ligue, chame, escreva - tem espaço na casa e no coração, só não se
perca de mim.”

“Aquele que muito fora amado e ferira fundo de faca a quem o amou.”

“Precisa sofrer e morrer muitas vezes por dia para sentir-se vivo.”

“No vácuo de mim eu me despenco.”

“Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas. Uma lembrança boa de você, uma vontade de
cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros. De não morrer, de não
sufocar, de continuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará,
porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento. Ser novo.”

Para atravessar agosto ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se a vida
não deu, ou ele partiu sem o menor pudor, invente um...

“Parece-me agora, tanto tempo depois, que as partidas-dolorosas, as amargas separações,


as perdas-irreparáveis costumam lavrar assim o rosto dos que ficam.”

Então eu te disse que me doíam essas esperas, esses chamados que não vinham e quando
vinham sempre e nunca traziam nem a palavra nem a pessoa exata. E que eu me
recriminava por estar sempre esperando que nada fosse como eu esperava, ainda que
soubesse.

“É difícil aprisionar os que tem asas.”

"...mas quando desvio meu olho do teu, dentro de mim guardo sempre teu rosto.”

“As paredes quase oscilavam, e ninguém, mas ninguém percebia que a sua raiva era um
amor muito bem disfarçado, para que ninguém risse, para que ninguém o olhasse surpreso
com a grandeza de seu coração.”

E esse vazio que ninguém dá jeito? Você guarda no bolso, olha o céu, suspira, vai a um
cinema, essas coisas. E tudo, e tudo, e tudo.

Chegue bem perto de mim. Me olhe, me toque, me diga qualquer coisa. Ou não diga nada,
mas chegue mais perto. Não seja idiota, não deixe isso se perder, virar poeira, virar nada.
Daqui a pouco você vai crescer e achar tudo isso ridículo. Antes que tudo se perca, enquanto
ainda posso dizer sim, por favor, chegue mais perto.
“Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a
outra.”

"Preciso sim, preciso tanto. Alguém que aceite tanto meus sonos demorados quanto minhas
insônias insuportáveis.”

"(...)e acreditávamos que um dia seríamos grandes, embora aos poucos fossem nos
bastando miúdas alegrias cotidianas que não repartíamos, medrosos(...)pois queríamos ser
épicos heróicos românticos descabelados suicidas, porque era duro lá fora fingir que éramos
pessoas como as outras.”

"Porque se você não vem é como se o tempo fosse passado em branco, como se as coisas
não chegassem a se cumprir porque você não soube delas.”

Ando com uma felicidade doida, consciente do fugaz, do frágil.

“Meu coração é um sorvete colorido de todas as cores, é saboroso de todos os sabores.


Quem dele provar será feliz para sempre.”

Não espero nenhum olhar, não espero nenhum gesto, não espero nenhuma cantiga de ninar.
Por isso estou vivo. Pela minha absoluta desesperança, meu coração bate ainda mais forte.
Quando não se tem mais nada a perder, só se tem a ganhar.

Ando meio fatigado de procuras inúteis e sedes afetivas insaciáveis.

"Te escrevo, enfim, me ocorre agora, porque nem você nem eu somos descartáveis.”

Não sei, deixo rolar. Vou olhar os caminhos, o que tiver mais coração, eu sigo.

“Mas se eu tivesse ficado, teria sido diferente?


Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que
doerá muito mais — por que ir em frente?
Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa
gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia — qualquer coisa que depois de muito
tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar
nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido.”

Que eu não perca a capacidade de amar, de ver, de sentir. Que eu continue alerta. Que, se
necessário, eu possa ter novamente o impulso do vôo no momento exato. Que eu não me
perca, que eu não me fira, que não me firam, que eu não fira ninguém. Livra-me dos poços e
dos becos de mim, Senhor. Que meus olhos saibam continuar se alargando sempre (...)Volta
a pergunta maldita: terei realmente escolhido certo? E o que é o “certo”? Digo que todo
caminho é caminho, porque nenhum caminho é caminho.

"Um jeito de quem pisa mesmo em luas, não em pedras.”

De cada dia arrancar das coisas, com as unhas, uma modesta alegria; em cada noite
descobrir um motivo razoável para acordar amanhã.

'A vida era lenta e eu podia comandá-la. Essa crença fácil tinha me alimentado até o
momento em que, deitado ali, no meio da manhã sem sol, olhos fixos no teto claro,
suportava um cigarro na mão direita e uma ausência na mão esquerda.
Seria sem sentido chorar, então chorei enquanto a chuva caía porque estava tão sozinho que
o melhor a ser feito era qualquer coisa sem sentido.Durante algum tempo fiz coisas antigas
como chorar e sentir saudade da maneira mais humana possível: fiz coisas antigas e
humanas como se elas me solucionassem. Não solucionaram.”

Ainda que dentro de mim as águas apodreçam e se encham de lama e ventos


ocasionais depositem peixes mortos pelas margens e todos os avisos se façam
presentes nas asas das borboletas e nas folhas dos plátanos que devem estar
perdendo folhas lá bem ao sul e ainda que você me sacuda e diga que me ama e
que precisa de mim: ainda sim não sentirei o cheiro podre das águas e meus pés
não se sujarão na lama e meus olhos não verão as carcaças entreabertas em
vermes nas margens ainda assim eu matarei as borboletas e cuspirei nas folhas
amareladas dos plátanos e afastarei você com o gesto mais duro que conseguir e
direi duramente que seu amor não me toca nem me comove e que sua precisão de
mim não passa de fome e que você me devoraria como eu devoraria você ah se
ousássemos.

E tem o seguinte, meus senhores: não vamos enlouquecer, nem nos matar, nem desistir.
Pelo contrario: vamos ficar ótimos e incomodar bastante ainda.

“As pessoas falam coisas, e por trás do que falam há o que sentem, e por trás do que
sentem há o que são e nem sempre se mostra.”

"Ria de mim mas estou aqui parada, bêbada, pateta e ridícula, só porque no meio desse lixo
todo procuro o verdadeiro amor. Cuidado comigo: um dia encontro.”

“QUANDO MAIS NADA HOUVER, eu me erguerei cantando, saudando a vida com meu corpo
de cavalo jovem. E numa louca corrida entregarei meu ser ao ser do Tempo e a minha voz à
doce voz do vento. Despojado do que já não há solto no vazio do que ainda não veio, minha
boca cantará cantos de alívio pelo que se foi, cantos de espera pelo que há de vir.”

"Pensando melhor, continuavam sem saber, fazia muitos anos, se a realidade seria mesmo
meio mágica ou apenas levemente paranóica, dependendo da disposição de cada um para
escarafunchar a ferida.”

“Você vai me abandonar e eu nada posso fazer para impedir. Você é meu único laço, cordão
umbilical, ponte entre o aqui de dentro e o lá de fora. Te vejo perdendo-se todos os dias
entre essas coisas vivas onde não estou. Tenho medo de, dia após dia, cada vez mais não
estar no que você vê. E tanto tempo terá passado, depois, que tudo se tornará cotidiano e a
minha ausência não terá nenhuma importância. Serei apenas memória, alívio, enquanto
agora sou uma planta carnívora exigindo a cada dia uma gota de sangue para manter-se
viva. Você rasga devagar o seu pulso com as unhas para que eu possa beber. Mas um dia
será demasiado esforço, excessiva dor, e você esquecerá como se esquece um compromisso
sem muita importância. Uma fruta mordida apodrecendo em silêncio no quarto."

Andei pensando nesses extremos da paixão, quando te amo tanto e tão além do meu ego
que - se você não me ama: eu enlouqueço, eu me suicido com heroína ou eu mato o
presidente. Me veio um fundo desprezo pela minha/nossa dor mediana, pela minha/nossa
rejeição amorosa desempenhando papéis tipo sou-forte-seguro-essa-sou-mais-eu. Que
imensa miséria o grande amor - depois do não, depois do fim - reduzir-se a duas ou três
frases frias ou sarcásticas. Num bar qualquer, numa esquina da vida. Ai que dor: que dor
sentida e portuguesa de Fernando Pessoa - muito mais sábio -, que nunca caiu nessas
ciladas. Pois como já dizia Drummond, "o amor car(o,a,) colega esse não consola nunca de
núncaras". E apesar de tudo eu penso sim, eu digo sim, eu quero Sins.

"(...) embora a bomba esteja nas minhas mãos, estamos todos no mesmo barco, no mesmo
beco.”

"Que coisas são essas que me dizes sem dizer, escondidas atrás do que realmente
quer dizer?
Tenho me confundido na tentativa de te decifrar, todos os dias. Mas confuso,
perdido, sozinho, minha única certeza é que de cada vez aumenta ainda mais minha
necessidade de ti. Torna-se desesperada, urgente. Eu já não sei o que faço. Não
sinto nenhuma outra alegria além de ti.
Como pude cair assim nesse fundo poço? Quando foi que me desequilibrei? Não
quero me afogar: Quero beber tua água. Não te negues, minha sede é clara.”

"Olha, eu estou te escrevendo só pra dizer que se você tivesse telefonado hoje eu ia dizer
tanta, mas tanta coisa. Talvez mesmo conseguisse dizer tudo aquilo que escondo desde o
começo, um pouco por timidez, por vergonha, por falta de oportunidade, mas principalmente
porque todos me dizem que sou demais precipitado, que coloco em palavras todo o meu
processo mental (processo mental: é exatamente assim que eles dizem, e eu acho
engraçado) e que isso assusta as pessoas, e que é preciso disfarçar, jogar, esconder, mentir.
Eu não queria que fosse assim. Eu queria que tudo fosse muito mais limpo e muito mais
claro, mas eles não me deixam, você não me deixa.”

"É tudo tão bonito que me dói e me pesa. Fico pensando que nunca mais vai se repetir, é só
uma vez, a única, e vai me magoar sempre. Não sei, não quero pensar. Neste espaço branco
de madrugada e lua cheia, preciso falar, e mais do que falar, preciso dizer. Mas as palavras
não dizem tudo, não dizem nada. O momento me esmaga por dentro. O espanto esbarra em
paredes pedindo exteriorização.”

"Eram bonitos juntos, diziam as moças. Um doce de olhar. Sem terem exatamente
consciência disso, quando juntos os dois aprumavam ainda mais o porte e, por assim dizer,
quase cintilavam, o bonito de dentro de um estimulando o bonito de fora do outro, e vice-
versa. Como se houvesse entre aqueles dois, uma estranha e secreta harmonia.”

"Escova devagar as asas, pluma por pluma. Só depois de bem bonita é que bate de
leve na porta da nuvem ao lado.”

Bastava um leve impulso, debruçou-se no parapeito, entrevado, morto da cintura para baixo,
da cintura para cima, da cintura para fora, da cintura para dentro - que diferença faz?
Oficializar o já acontecido: perdi um pedaço, tem tempo. E nem morri.

“Mas ambos estavam comprometidos. Ele, com sua natureza aprisionada. Ela, com
sua infância impossível.”

“Imitou a voz melosa: Ôi-tudo-bem-e-aí-tô-ligando-pra-saber-se-você-vai-fazer-alguma-


coisa-hoje-à-noite. Como se a gente tivesse obrigação de fazer alguma coisa toda noite. Só
porque é sábado. Essa obsessão urbanóide de aliviar a neurose a qualquer preço nos fins de
semana, pode? Tenho vontade de dizer nada, não vou fazer absolutamente nada. Só talvez,
mais tarde, se estiver de saco muito cheio, tentar suicídio com uma-dose-excessiva-de-
barbitúricos, uma navalha, ou um bom bujão de gás ou algo assim. Se você quiser me
salvar, esteja a gosto, coração. God! Um dia acabo mesmo dizendo, porra."

“O homem que acreditava abriu todas as janelas para o dia azul brilhante. Respirou fundo,
sorriu. Ficou pensando em quem poderia convidar para ir com ele ao País das Fadas. Alguém
de que gostasse muito e também acreditasse. Sorriu ainda mais quando, sem esforço,
lembrou de uma porção de gente. Esse convite agora está sempre nos olhos dele: quem
acredita sabe encontrar. Não garanto que foi feliz para sempre, mas o sorriso dele era lindo
quando pensou todas essas coisas — ah, disso eu não tenho a menor dúvida. E você?”

“Mas finjo de adulto, digo coisas falsamente sábias, faço caras sérias, responsáveis. Engano.
Mistifico. Disfarço esta sede de ti, meu amor que nunca veio - viria? virá? - e minto não, já
não preciso."

“Aos poucos a gente vai mudando o foco. E o lugar nem te acrescenta mais, você começa a
precisar de outros lugares e de outras pessoas. E de bebidas mais fortes. Nem pensa. Vai
indo junto com as coisas."

“Podia esperar de qualquer um essa fuga, esse fechamento. Mas não em você, se sempre
foram de ternura nossos encontros e mesmo nossos desencontros não pesavam, e se lúcidos
nos reconhecíamos precários, carentes, incompletos. Meras tentativas, nós. Mas doces. Por
que então assim tão de repente e duro, por quê?"

“Pertencia àquela espécie de gente que mergulha nas coisas às vezes sem saber por que,
não sei se na esperança de decifrá-las ou se apenas pelo prazer de mergulhar.”

“Às vezes a gente vai-se fechando dentro da própria cabeça, e tudo começa a parecer muito
mais difícil do que realmente é. Eu acho que a gente não deve perder a curiosidade pelas
coisas: há muitos lugares para serem vistos, muitas pessoas para serem conhecidas.”

“Gosto sempre do mistério, mas gosto mais da verdade. E por achar que esta lhe é superior
te escrevo agora assim, mais claramente. Nem sinto culpa, vergonha, ou medo.”
‘Como fosse mágica. Como se fosse preciso. Como se pudesse voar, ao mar, sem fim. Se
hoje o sol sair, eu te prometo o céu. Prometo o que não poderei cumprir e te espero no
entardecer em um ponto qualquer à beira do mar'

"...com a faca da nostalgia do longe cravada fundo no peito. Às vezes dói, mas logo passa
também.”

“Tenho urgência de ti, meu amor...


Para me salvar da lama movediça de mim mesmo...
Para me tocar, para me tocar e no toque me salvar....
Preciso ter certeza que inventar nosso encontro sempre foi pura intuição...
Não mera loucura..."

"Mas não me satisfazem. Nenhuma luta haverá jamais de me embrutecer, nenhum cotidiano
será tão pesado a ponto de me esmagar, nenhuma carga me fará baixar a cabeça. Quero ser
diferente. Eu sou. E se não for, me farei.

"...Hoje eu saí de casa tão feliz, que nem me lembrei que em algumas horas a tristeza bate,
me sacode e me faz sentir dores que eu não imaginava que continuavam ali...”

“Não quero me afogar: Quero beber tua água. Não te negues, minha sede é clara.”

E de repente nos ferimos. Com a boca. Senti seus lábios nos meus, os dentes se chocando,
as mãos que seguravam meu rosto, investigavam meus traços, eu nascia por dentro, quase
gritava, tentávamos desvendar um ao outro, mas não íamos além da tentativa, que já se
fazia angústia em nossas mãos como espinhos, subindo por meu corpo inteiro, busca tensa.
Não, não era amor, não foi amor. Tudo explodia num plano muito mais alto, muito mais
intenso. Nos desvendávamos com a fúria dos que antecipadamente sabem que não vão
conseguir jamais."

“Eu queria ter arrancado um pedaço dele pra guardar aqui num potinho, ao lado da cama,
em cima desse criado-falante que grita tanto nas noites solitárias de chuva..."

“Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma
semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está aí, haverá sol quase todos os
dias, e sempre resta essa coisa chamada 'impulso vital'. Pois esse impulso ás vezes
cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará
quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente,
no meio de uma frase ou de um movimento te surpreenderás pensando algo assim
como 'estou contente outra vez'

"E, de qualquer forma, às cegas, às tontas, tenho feito o que acredito, do jeito talvez torto
que sei fazer.”

“...eu espero por ele desde que nasci e desde sempre soube que na hora da minha morte
misturando memórias e delírios e antevisões um pouco antes a última coisa que perguntarei
seria, mas onde está, mas onde esteve esse tempo todo? (...) Então você sempre esteve aí ?
Uma vida de procuras sem te achar e silêncio para então morrer de morte morrida sem volta
de vida gasta marcada de muitas cicatrizes de vida retalhada por muitos cortes, mas nunca
mortais a ponto de impedir isto até na hora de minha morte, amém.”

"Penso, com mágoa, que o relacionamento da gente sempre foi um tanto unilateral, sei lá,
não quero ser injusto nem nada - apenas me ferem muito esses teus silêncios.”

“De onde vem essa iluminação que chamam de amor, e logo depois se contorce, se enleia,
se turva toda e ofusca e apaga e acende feito um fio de contato defeituoso, sem nunca voltar
àquela primeira iluminação?”

Mergulho no cheiro que não defino, você me embala dentro dos seus braços e você me beija
e você me aperta e você me aquieta repetindo que está tudo bem, tudo, tudo bem...

“Eu não vou falhar. Não porque não posso, mas porque não quero.”
"Só vou perguntar porque você se foi, se sabia que haveria uma distância, e que na distância
a gente perde ou esquece tudo aquilo que construiu junto. E esquece sabendo que está
esquecendo.”

“Frágil – você tem tanta vontade de chorar, tanta vontade de ir embora. Para que o
protejam, para que sintam falta. Tanta vontade de viajar para bem longe, romper todos os
laços, sem deixar endereço. Um dia mandará um cartão-postal de algum lugar improvável.
Bali, Madagascar, Sumatra. Escreverá: penso em você. Deve ser bonito, mesmo melancólico,
alguém que se foi pensar em você num lugar improvável como esse. Você se comove com o
que não acontece, você sente frio e medo. Parado atrás da vidraça, olhando a chuva que,
aos poucos começa a passar."

"É fácil morrer. A toda hora, em todos os lugares, a morte está se oferecendo. Mais difícil é
continuar vivendo. Eu continuo. Não sei se gosto, mas tenho uma curiosidade imensa pelo
que vai me acontecer, pelas pessoas que vou conhecer, por tudo que vou dizer e fazer e
ainda não sei o que será.”

“Essas moças não olham para baixo nem para cima: com passo decidido, olham direto para
a frente, como se visualizassem além do horizonte um ponto escondido para esses outros
que passam quase sempre sem vê-las, para onde se dirigem com seus jeans gastos, suas
bolsas velhas, suas peles de nenhum artifício. Dessa nitidez no passo, dessa atrevida falta de
artifícios no rosto é que brota quem sabe aquela impressão de nobreza transmitida tão
fortemente quando passam, mesmo aos que não as olham nem mexem com elas.”

"Às vezes o que parece um descaminho na verdade é um caminho inaparente que conduz a
outro caminho melhor.”

"Fico só querendo te dizer de como eu te esperava quando a gente marcava qualquer coisa,
de como eu olhava o relógio e andava de lá pra cá sem pensar definidamente e nada, mas
não, não é isso, eu ainda queria chegar mais perto daquilo que está lá no centro e que um
dia destes eu descobri existindo, porque eu nem supunha que existisse, acho que foi o fato
de você partir que me fez descobrir tantas coisas.”

“as mais nobres paixões são também as mais cadelas...”

“O tempo não se encarrega de matar desejos, apenas de substituir os


personagens.”

"Quando pergunto você-compreende-tudo-isso não estou subestimando você. Ah, deus,


perdoe. Não sinto agressividade nenhuma em relação a você. E gosto das tuas histórias. E
gosto da tua pessoa. Dá um certo trabalho decodificar todas as emoções contraditórias,
confusas, somá-las, diminuí-las e tirar essa síntese numa palavra só, esta: gosto.”

“(...)Era uma vez, também, nesse tempo (que nem tempo antigo, era, não; era tempo de
agora, que nem o nosso), um homem que acreditava. Um homem comum, que lia jornais,
via TV (e sentia medo, que nem a gente), era despedido, ficava duro (que nem a gente),
tentava amar, não dava certo (que nem a gente). Em tudo, o homem era assim que nem a
gente. Com aquela diferença enorme: era um homem que acreditava. Nada no bolso ou nas
mãos, um dia ele resolveu sair em busca do País das Fadas. E saiu.”

“Olha, eu sei que o barco tá furado e sei que você também sabe, mas queria te
dizer pra não parar de remar, porque te ver remando me dá vontade de não querer
parar de remar também.”

“Acho que sou bastante forte para sair de todas as situações em que entrei, embora tenha
sido suficientemente fraco para entrar.”
"porque era mágico e justo se encontrarem.”

"e se eu mudasse meu destino num passe de mágica?”

"(...)então dirás rápido, para não desviar-te demasiado do que estabeleceste, qualquer coisa
como seria tão bom se pudéssemos nos relacionar sem que nenhum dos dois esperasse
absolutamente nada, mas infelizmente, insistirás, infelizmente nós, a gente, as pessoas,
têm, temos – emoções.”

"Tenho tentado aprender a ser humilde. A engolir os nãos que a vida me enfia pela goela a
baixo. A lamber o chão dos palácios. A me sentir desprezado-como-um-cão, e tudo bem,
acordar, escovar os dentes, tomar um café e continuar.”

“Nos últimos dias, isto é, ontem, a tristeza começou a ceder terreno a uma espécie de -
digamos - abnegação. Durmo, acordo, faço coisas, leio muito. E esse vazio que ninguém dá
jeito? Você guarda no bolso, olha o céu, suspira, vai a um cinema, essas coisas. E tudo, e
tudo, e tudo.”

"Então eu agradeço, eu tenho medo e espanto e terror e ao mesmo tempo maravilhamento e


outras coisas com e sem nome, mas agradeço. Aos deuses dos jardins, aos deuses dos
homens, aos deuses do tempo e até aos das ervas daninhas que nos fazem lutar feito tigres
feridos fundo no peito, sim, eu agradeço.”

"Você gostaria de viver num mundo de zumbis? Eu, decididamente não. Então pela nossa
própria sobrevivência afetiva — com carinho, com cuidado, com um sentimento de dignidade
— ô gente, vamos continuar namorando. Era tão bom, não era?”

"Claro que você não tem culpa, coração, caímos exatamente na mesma ratoeira, a única
diferença é que você pensa que pode escapar, e eu quero chafurdar na dor deste ferro
enfiado fundo na minha garganta seca que só umedece com vodca, me passa o cigarro, não,
não estou desesperada, não mais do que sempre estive.”

'Que imensa miséria o grande amor - depois do não, depois do fim - reduzir-se a duas ou
três frases frias ou sarcásticas.’

“Mas eu tinha que ficar contente. E quando você quer, você fica. Comecei a ficar.”

“Você sabe que vai ser sempre assim. Que essa queda não é a última. Que muitas vezes
você vai cair e hesitar no levantar-se, até uma próxima queda(...)"

"Choveu demais, esfriou. Mas deve haver algum jeito exato de contar essa história que
começa e não sei se termina ou continua assim:
Sonhei que você sonhava comigo. Ou foi o contrário? Seja como for, pouco importa: não me
desperte, por favor, não te desperto.”

"é esse desespero de sempre. aperto no peito, nós na cabeça. vontade de te tocar, te ter
por perto... sob o meu controle, sobre os meus braços. essa ânsia infinita de liberdade
(dessa que só tenho ao teu lado). essa necessidade de ti que me pega nas horas mais
desprevenidas. me abraça, me envolve, me ilude... depois me apunhala pelas costas, tão
leve que quase se disfarça. vai me cortando devagar e me fechando por inteiro: corpo, alma
e coração."

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