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GRUPOS

Numa primeira aceção o termo aponta para qualquer reunião física de pessoas, como por
exemplo um grupo de pessoas que esperam um transporte público, neste caso o grupo não
precisa partilhar nada, basta a proximidade física. Mas se se tratar do grupo dos alunos do
ISET, já estamos perante um grupo de pessoas com características e objetivos comuns. Tendo
em conta o contexto deste trabalho, vamos considerar o “grupo” como um sistema de relações
sociais e interações recorrentes entre pessoas, que partilham de uma consciência de filiação e
interação

Desde que nascemos ao longo de nossas vidas, convivemos em grupo. Seja o nosso grupo
familiar, de amigos, companheiros de trabalho, enfim estamos sempre compartilhando nossas
experiências do dia a dia com alguém. Segundo Trotter (1919 – 1953) um dos instintos
básicos do ser humano é o instinto gregário aquele que nos faz procurar sempre estar em
grupos.

Uma parte significativa do nosso dia de trabalho é despendida numa organização inseridos em

grupos.

A filiação a um grupo é parte da vida de trabalho da maioria dos empregados, é preciso que o

administrador compreenda a formação, o desenvolvimento e as características dos grupos. A

participação das pessoas no grupo influencia a conduta e o desempenho dos seus membros. A

influência que o grupo exerce sobre cada membro é diferente para cada indivíduo. Algumas

pessoas podem ser totalmente influenciadas pelo grupo, enquanto outras sofrem uma

influência mínima ou não sofrem influência alguma.

No contexto da Sociologia, a definição de grupo não reúne consenso. Numa primeira aceção o

termo aponta para qualquer reunião física de pessoas, como por exemplo um grupo de pessoas

que esperam um transporte público, neste caso o grupo não precisa partilhar nada, basta a

proximidade física. Mas se se tratar do grupo dos funcionários de um Agrupamento de

Escolas, já estamos perante um grupo de pessoas com características e objetivos comuns.

Tendo em conta o contexto desta formação, vamos considerar o “grupo” como um sistema de
relações sociais e interações recorrentes entre pessoas, que partilham de uma consciência de

filiação e interação (HORTON E HUNT, 1981, pp. 127-128). Para estes autores, “a essência

do grupo social não é a proximidade física, mas a consciência de interação conjunta”. Ou

seja, um grupo será um grupo, se os seus elementos partilharem, interagirem, e convergirem

para os mesmos objetivos, criando relação/interação e afiliação entre os seus membros.

A integração do indivíduo num grupo exige que este assimile as regras e os padrões de

comportamento que sustentam a interação grupal. Por isso, os grupos são também

considerados agentes de socialização.

“Dynamis é uma palavra de origem grega que significa força, energia, ação”. E Segundo
Tatiana Wernikoff, (Instituto de Psicologia Organizacional)“Qualquer situação em que se
reúne pessoas para uma atividade conjunta, com um objetivo específico, caracteriza uma
dinâmica e a situação mais comum é a dos processos seletivos”.

 Dinâmica de grupo é o “estudo das forças que agem no seio dos grupos, as suas origens,
consequências e condições modificadoras do comportamento do grupo". apesar de um grupo
ser um conjunto de pessoas, as mudanças que venham a ocorrer num indivíduo pode
influenciar o grupo como um todo. Dessa forma, o aprendizado ocorre de uma forma coletiva,
em que o encontro de pessoas melhora a produtividade do grupo, sendo possível assim,
estimular e melhorar as relações interpessoais entre elas e obter uma maior troca de
experiências.

Num processo grupal o fator que mais atua sobre as pessoas individualmente num grupo é a
coesão – o quão adaptável foi o indivíduo ao grupo em que foi inserido – quanto maior for a
coesão fica evidenciado que o grupo está a conseguir obter os resultados e os objetivos estão a
ser cumpridos; os padrões grupais que são os comportamentos esperados pelos membros do
grupo e as motivações individuais de cada membro do grupo são de extrema importância
para garantir a coesão do grupo (uma das técnicas utilizadas para aumentar a interação entre
os membros e garantir a adesão deles é a dinâmica em grupo).
Autoconceito: o que é e como se forma?
O autoconceito define-se como a opinião que uma pessoa tem de si mesma. É claro que
normalmente avaliada num juízo razoável. Não se deve confundir com a autoestima,
ainda que ambos os conceitos estejam relacionados.

É normal que na avaliação do autoconceito entre em jogo um grande número de

variáveis. Em muitos casos, essas variáveis estarão condicionadas ou influenciadas pelo

que nos rodeia e pela nossa relação com o entorno.

A seguir, definimos ao que nos referimos quando falamos de autoconceito e a maneira

como este se desenvolve.

Diferença entre autoconceito e autoestima

O autoconceito é definido como a opinião que se tem sobre si mesmo. Trata-se de um

conjunto de ideias e crenças que nos permitem formar uma imagem de nós mesmos

diante dos outros. É, essencialmente, nossa singularidade como indivíduos.

Porém, quando falamos de autoestima  nos referimos a esse componente de emoções que

adicionamos a tal imagem para que tome personalidade. É um conceito  que chega a

ser até subjetivo. Essa personalidade pode ser negativa ou positiva.

O autoconceito como teoria

Há quem divida esta perceção própria em dois grupos:

 Identidade pessoal
 Identidade social

No âmbito pessoal, entram em jogo variáveis como as características pessoais e outras

características que nos tornam únicos.

Em contrapartida, o âmbito social é alterado ou modificado pelo entorno que

compartilhamos com os outros.

Por exemplo, a religião que professamos, a comunidade onde vivemos, a instituição onde

estudamos, nossa família . Ainda assim, também é modificado no tempo por

nossa experiência  de vida.


Exemplo de autoconceito

É impressionante como muitas pessoas criam um conceito de si mesmas baseado em

distorções. Por exemplo, as pessoas que sofreram de anorexia têm uma imagem

distorcida de si mesmas no espelho, uma imagem diferente do que as outras pessoas

enxergam.

Por isso se apegam às dietas e não reconhecem ter um transtorno. Este é um exemplo

claro de como o meio social e publicitário podem condicionar a imagem que temos de

nós mesmos.

O autoconceito é um conjunto de ideias e crenças que nos permitem fazer uma imagem

de nós diante dos outros.

Mas também há exemplos positivos. A pessoa que valoriza a si mesma constrói metas

e dirige seus esforços a essa realização, mantendo uma atitude positiva: Sim, eu posso

alcançar isso!

Além disso, está disposta a influenciar seu entorno com essa mesma atitude. Esta

pessoa fará suas ideias valerem onde quer que esteja. Seu autoconceito lhe retribui

benefícios tangíveis.

Formação de autoconceito

O autoconceito não é só uma visão egocêntrica de nós mesmos. Também não é algo

estático, afinal, o fator social também o determina.

Por isso para formar o autoconceito é importante que a pessoa leve em conta estes

pontos:

 Dê um sentido a sua vida.


 Desenvolva suas habilidades e acredite firmemente nelas.
 Não se feche para novas experiências. Seja uma pessoa disposta a mudar.
 Seja alguém otimista  e mantenha uma boa atitude.
 Coloque metas na sua vida em curto e longo prazo.
 Seja um indivíduo produtivo.
 Mantenha-se atento para oferecer soluções a diferentes problemas.

6 características do autoconceito
 Organização.  A pessoa, para reduzir os níveis de complexidade de uma ou
várias situações, as associa a uma categoria.
 Multifacetado. Conseguir dar atenção a diversas atividades em seu
entorno, ao mesmo tempo em que marca prioridades para atendê-las.
 Organizado. Estabelece uma base ou ponto de partida e, a partir dali, age e
tem o poder de variar no tempo segundo a posição hierárquica que vai
estabelecendo.
 Experimental. Vai se nutrindo de experiências para formar seu
autoconceito que, em determinado momento, pode parecer um tanto global
ou englobar muitas coisas, mas que tem, por sua vez, características
diferenciadoras.
 Avaliativo. Se permite avaliar em função de outros conceitos ou ideias que
surgem em seu entorno ou em seu aprendizado.
 Distinguível. A partir de uma ideia ou conceito, pode manejar variáveis
que deve considerar, mas mantendo seus juízos de valor.

4 funções do autoconceito

Como vimos, o autoconceito é formado pelo próprio indivíduo a partir da ideia que

outros tenham dele, e o beneficia das seguintes formas:


 Permite se relacionar com outros indivíduos e com o meio que o rodeia.
 Satisfaz as necessidades básicas que criam sua personalidade .
 Condiciona sua conduta.
 Aumenta a competência social entre indivíduos.

Finalmente, o objetivo é começar a conhecer a si mesmo e os outros, de forma que

essas vivências sejam construtivas e a pessoa sinta a satisfação de ser um indivíduo

completo.

Por sua vez, a pessoa deve estar disposta a ajustar as opiniões e os conceitos de forma

coerente com a finalidade de ter uma identidade própria.


, nós nos tornamos autores de um processo dinâmico
de autopoiese – a capacidade do ser vivo se produzir a si próprio, -
sempre inacabado e em permanente reconstrução.

A autopercepção está relacionado com a forma como você se vê, o valor que atribui a si
mesmo e o tipo de pessoa que acredita ser. Está diretamente vinculada ao nível de
autoestima que você tem hoje. Há pessoas que se enxergam mais bonitas, competentes e
capazes do que realmente são.

trata-se de interrogar “a maneira como os indivíduos se tornam


indivíduos”, bem como a função da atividade biográfica no processo
de aculturação, de socialização e na produção da realidade
histórica, social e cultural.

a história de vida é, ao mesmo tempo, pesquisa e construção de


sentido, que implica um processo de expressão e de experiência.
Abre-se, também, para outras formas atuais da grande midia, por
exemplo do teatro, do cinema, do rádio, da televisão e da internet,
que ampliam enormemente as possibilidades de comunicação e de
expressão.
Este processo continua através dos escritos pessoais e as práticas
de si de Roma, no primeiro século A.C., com os primeiros vestígios
autobiográficos personalizados, além da cena pública, endereçada
a um círculo íntimo de familiares e de amizades, onde a forma mais
utilizada era a correspondência – como as Letras à Atticus, de
Cícero, e mais tarde, A Correspondência de Plínio, o Jovem – até
as hagiografias, relatos da vida dos santos, do cristianismo, a partir
do IV século D.C., onde ocupa um lugar de destaque A Vida de
Santo Antão (251-356), escrita por Atanásio; a de São Bento (480-
547), relatada por São Gregório Magno e a paradigmática obra do
Santo Agostinho (354-430), Confissões, centrada num relato de
conversão, considerada como a primeira autobiografia, que
simboliza o marco de passagem entre a Antiguidade e a Idade
Média.
Considerando a diversidade de expressões da consciência de si da
Idade Média, Delory-Momberger afirma que as funções do rei, do
imperador, do papa, do cavaleiro e do santo eram as mais
representativas nas pinturas e esculturas da época, numa
sociedade baseada em personagens com status quo bem definidos
pelo modelo feudal. Neste contexto, há um destaque especial para
a hagiografia e a epopeia, centradas, respectivamente, nas figuras
do santo e do herói. Uma real e significativa mudança ocorre com a
emergência do mundo do trabalho, do dinheiro e do mercado
dos burgueses, os habitantes das vilas comerciais ou burgos, por
ocasião da decadência feudal e do crescimento urbano, que
conquistam uma independência com relação aos poderes
senhoriais da igreja da época. “Coletiva e individualmente, o
burguês é aquele que se faz a si mesmo: espaço social e espaço
individual se reunindo num mesmo sentimento de apropriação de si
mesmo”, afirma a autora[12].
Com a Renascença e a sua explosão de mudanças, as portas se
abrem para uma dinâmica crescente do processo de
individualização, com a imperativa valorização de uma educação
integral, ao mesmo tempo intelectual, moral e espiritual, em outras
palavras, holística. Na excelente síntese de Delory-Momberger[13],
“Todos os grandes espíritos da Renascença – de Erasmo a Lutero,
de Castiglione à Maquiavel, de Rebalais à Montaigne – se
ocuparam da educação, sinal de um tempo onde a educação não
era uma atividade de pedagogos, mas se colocava na própria
definição do ser humano. O ser humano era considerado, na
realidade do seu ser, corpo e espírito ao mesmo tempo e este ser
era considerado aperfeiçoável.” Eis um aspecto muito significativo e
inspirador para os tempos atuais, deste período marcante da
história europeia, de passagem da Idade Média para a Moderna,
caracterizado pela redescoberta do mundo e do humano.
Seguiu-se, então, um movimento de defesa do íntimo com relação
ao homem da corte, que predominou durante os séculos XVII e
XVIII, em torno da dominante celebração da pessoa real, o Rei
Solar, quando as práticas das memórias e do jornal íntimo abriram
espaço para os relatos de si[14].
No Iluminismo, Era da Razão, expandiu-se um movimento de
intercâmbio intelectual, que valorizava a capacidade do sujeito de
pensar por si mesmo, como perene aprendiz, na perspectiva de um
progressivo aperfeiçoamento evolutivo a partir da experiência:
a formação de si, de acordo com Delory-Momberger[15]. Nesta
época, surgiu o romance de formação, uma narrativa centrada no
percurso de transformação do indivíduo na sociedade,
contendo lições de vida sobre maneiras de ser e de sentir que,
progressivamente, formam uma personalidade. “Les Années
d’apprentissage de Wilhelm Meister”, de autoria de Goethe (1749-
1832)[16], é considerada a mais famosa e genial obra do
movimento precursor holístico do Romantismo alemão, denominado
de Bildungsroman. Trata-se de um relato, tecido de forma magistral
e bem humorada, sobre o itinerário iniciático de um jovem a procura
de sua própria alma, sempre acompanhado pela presença
charmosa e inspiradora de uma mulher. O herói logra a maturidade
ao longo de um processo de desilusões, finalmente realizando-se a
si mesmo e se consagrando ao serviço à comunidade.
A concepção do romance de formação encontra grande
ressonância na obra clássica contemporânea de Joseph
Campbell[17] (1904-1987), sobre o herói das mil faces, suportada
no conceito do monomito, segundo o qual todos os mitos seguem
os mesmos esquemas arquetípicos: após um chamado à aventura,
o herói mítico abandona o seu ambiente familiar, confrontando-se
com o guardião do portal, atravessando uma série de provações
num singular caminho inventado pelos próprios passos, até a
conquista emancipadora do objeto da sua busca. Então,
apaziguado e coroado de êxito, ele retorna ao seu local de origem,
completamente transformado pelo seu percurso iniciático.
Falando sobre o nascimento da autobiografia moderna, Delory-
Momberger[18] ressalta a importância da religião do íntimo, ou seja,
um movimento de espiritualidade de retorno a uma fé mais simples
e mais interior, a partir de um aprofundamento da ligação direta
com Deus, a exemplo do molinismo espanhol e do quietismo
francês – do lado do catolicismo – e do pietismo alemão e
do metodismo anglo-saxão – do lado do protestantismo.
Interessante constatar que uma escrita gerada pela necessidade de
uma comunicação transpessoal, sem intermediário, com a Fonte do
Ser, encontra-se na origem da narrativa biográfica.
Na tradição francesa, As Confissões, de Jean-Jacques Rousseau
(1712-1778), uma defensiva e apologética resposta do seu autor a
Voltaire (1694-1778), seu ardente crítico, que o acusou de ter
abandonado os seus filhos, conforma um marco no gênero da
escritura de si e de desvelamento do íntimo. Com um modelo de
narrativa ao mesmo tempo psicológico e ideológico, Rousseau
“forneceu à infância o seu estatuto de fundação do ser singular”,
afirma Delory-Momberger[19].
A dinâmica da construção do sujeito prossegue o seu curso, após a
Revolução Francesa e a Revolução Industrial, a partir de uma
burguesia liberal que se impõe, com os seus valores que mesclam
o espaço do mundo com o familiar, no contexto de uma ordem
social patriarcal. Assim, um movimento intimista se afirma, com a
correspondência e o jornal praticado, dominantemente, pelas
mulheres, neste processo que Delory-Momberger[20] denomina
de invenção do sujeito.
       II – Wilhelm Dilthey: hermenêutica e
compreensão
“Cada vida tem um sentido que lhe é próprio. Este reside num
conjunto de relações significativas, no seio do qual cada momento
presente, suscetível de ser relembrado, possui um valor particular,
mas tem, ao mesmo tempo, quanto ao seu conteúdo, uma relação
no sentido da totalidade”.
                                                      Wilhelm Dilthey[21]
O movimento alemão da Bildung, com a contribuição paradigmática
de Wilhelm Dilthey (1833-1911), foi introduzido na abordagem
biográfica francofônica por Delory-Momberger. Como afirma Pierre
Dominice, um dos pioneiros desta visão na Suíça, no seu
livro, L’Histoire de Vie comme Processus de Formation[22], o
enfoque significativo desta autora, em razão do seu duplo
pertencimento franco-germânico introduziu, no mundo francofônico,
a perspectiva hermenêutica da Bildung, propondo uma leitura
histórica e crítica de diferentes correntes biográficas que marcaram
o pensamento ocidental.
De acordo com Delory-Momberger, o conceito de Bildung foi
desenvolvido no fim do século XVIII, pelos filósofos do Iluminismo
alemão, sobretudo Herder, Schelling, Humbold e Goethe. Este
conceito se inscreve no pensamento da totalidade, como um
movimento de formação de si, através da qual a singularidade de
cada ser humano pode se expressar, com suas características
próprias e na perspectiva de um valor universal, rumo à plena
realização. Encontrando-se no coração do cosmos, ao mesmo
tempo o ser humano participa do desenvolvimento do mundo que
se realiza, também, no seu interior. “A Bildung concebe o
desenvolvimento humano segundo um modelo diretamente tomado
emprestado das ciências da natureza, assimilando o humano a um
organismo vivo, mantido e alimentado por trocas com o seu meio,
como um germe que cresce e floresce segundo suas próprias
forças e disposições, respondendo às imposições e solicitações do
seu meio ambiente”, sustenta Delory-Momberger[23].
Na sua abordagem centrada na pessoa, Carl Rogers (1902-1987)
[24] desenvolveu uma metáfora também extraída da botânica,
referindo-se a uma semente de auto realização e de auto regulação
que existe no interior de cada ser humano, que necessita apenas
de um terreno fértil para desenvolver-se. Por outro lado, C. G.
Jung[25] afirma a concepção da vida semelhante a uma planta, cuja
vitalidade é impulsionada a partir do próprio rizoma: propriamente
dita, a vida do vegetal não é visível, pois jaz no cerne do rizoma. O
que se torna visível, acima do solo, sobrevive um só verão, para
desvanecer-se, em seguida. O que vemos é apenas a floração, que
é efêmera, sendo que o rizoma persiste, perenemente.
Inspirando-se nos trabalhos do filósofo, hermeneuta das escrituras
sagradas e inspirador do romantismo, Friedrich Daniel Ernst
Schleiermacher (1768-1834), Dilthey participou deste movimento
artístico e cultural alemão de libertação do eu e de reação ao
monopólio da razão do Iluminismo. Tendo o seu nome derivado
do romance de formação, este processo de renovação introduziu,
no cenário da consciência, o sentimento, a experiência profunda da
alma, o segredo e uma motivação rumo à união dos contrários. De
forma surpreendente e visionária a sua natureza é essencialmente
holística e, mesmo, prototransdisciplinar.
Como descreve Delory-Momberger[26], o romantismo foi um
processo de geração de uma consciência do mundo, que resgatou
as grandes questões que apontam para o lugar do ser humano no
universo e a questão do sentido da existência, abrindo espaço para
um processo mental de integração da reflexão com a ação, da
filosofia com a religião, da poesia com a ciência, insurgindo-se
contra as representações mecanicistas da natureza, típicas da
ciência clássica, modeladas pelo Iluminismo. A autora cita Georges
Gusdorf, que demonstrou o globus intellectualis romântico, com a
sua busca ousada de um saber total, ao mesmo tempo desvelando
uma teoria de conhecimento, uma antropologia, uma cosmologia e
uma visão aberta para uma consciência universal do ser humano e
do universo. A sua fonte filosófica, além das pesquisas de
Schleiermacher, também se encontram nos autores
da Naturphilosophie, uma filosofia da natureza, preconizada pelo
gênio de Friedrich Wilhelm Joseph Von Schelling (1775-1854), do
idealismo alemão, nobre antecedente do movimento da ecologia
profunda e da ecopsicologia. Enfim, esta visão do humano e do
mundo, destacando o valor da experiência individual e conciliando a
parte com a totalidade, representou um marco para os modelos de
compreensão das ciências históricas da Alemanha, tendo o seu
ponto culminante na obra de Dilthey.
Com a sua célebre afirmação, “A natureza, nós explicamos; a vida
psíquica, nós compreendemos”, Dilthey fundou as ciências do
espírito – posteriormente denominadas de ciências humanas – em
contraposição às ciências da natureza -, considerando o ser
humano como uma unidade, muito além de um simples
conglomerado de átomos. “As ciências do espírito repousam sobre
a relação da experiência vivida, da expressão e da compreensão.
(…) Vida, experiência de vida e ciências do espírito encontram-se,
assim, constantemente em relação de coesão interna e de
dependência recíproca”, afirma Dilthey, no seu livro
inacabado, L’édification du monde historique dans les sciences de
la nature. Segundo a sua tradutora e apresentadora, Sylvie
Mesure[27], esta obra é centrada em três aspectos: a autonomia
das ciências do espírito com relação às ciências da natureza, que
representa o seu tema principal; a questão da orientação
holística de uma pesquisa que, por apreender a realidade espiritual,
assume uma visão do mundo histórico como uma totalidade
composta de conjuntos interativos, tendo por fundamental tarefa a
compreensão do todo a partir dele mesmo e, finalmente, a
determinação do valor cognitivo das aquisições da ciência do
espírito e em que medida ela pode engendrar um saber científico
objetivo.
O filósofo e sociólogo alemão, Jürgen Habermas[28], destaca que a
obra de Dilthey desvelou que, ao lado das ciências naturais, um
feixe de conhecimentos – a história, a economia, a política, o
direito, o estudo da religião, da literatura, da poesia, da arquitetura,
da música, das visões do mundo, dos sistemas filosóficos e da
psicologia – são interligados entre si por um objeto comum: a
espécie humana. Desta forma, alertando contra o risco da
naturalização do espírito, Dilthey apontava para a totalidade
irredutível da vida da alma, fonte de todos os fatos humanos, a
partir de um saber imediato, livre do jugo e arbítrio do método
científico natural e do positivismo, prescrevendo dois caminhos
complementares: o da descrição da vida e o da compreensão da
vida por si mesma.
Dilthey rejeitava a visão teleológica da história, como também a
perspectiva idealista e metafísica de Hegel (1770-1831) e o
evolucionismo de Spencer (1820-1903), postulando uma Crítica da
Razão histórica, onde o humano é um ser historial e um horizonte
aberto de possibilidades; há uma identidade entre o explorador e
quem faz a história. A abordagem diltheyana insiste sobre a
historicidade da razão e da consciência humana: o ser humano
apenas pode se compreender no processo histórico. Dilthey, numa
passagem brilhante, de acordo com Mesure[29], sugere que é na
consciência de si mesmo, como vontade, que se enraíza no ser
humano a necessidade de produzir um limite entre o reino da
natureza e o da história, o que solicita o desafio da elaboração de
uma epistemologia específica das ciências históricas. Percebendo,
em si mesmo, a soberania da própria vontade, o sujeito assume a
responsabilidade dos seus atos, sendo capaz de resistir às
propensões e pressões da natureza no seu próprio interior.
Emerge, então, o princípio da sua liberdade, diferenciando-o de
uma realidade natural submissa aos determinismos: a sua
singularidade de se cogitar como espírito e como vida. Na visão
diltheyana o campo da história é aquele no qual se opera uma
fenomenologia da liberdade. A partir do estabelecimento da
fronteira entre ciências históricas e ciências físicas, a história torna-
se o lugar privilegiado de passagem entre natureza e liberdade.
Na filosofia de Dilthey a vivência é a unidade viva do mundo
histórico-social: no seu nexo encontra-se o significado, já que há de
existir sentido onde houver vida. Nesta visão, a consciência dita o
valor da experiência, que é o elemento criador da atividade psíquica
superior: é do interior que o sujeito vivencia a realidade, sendo a
compreensão um ato onde experiência e teoria se entrelaça.
Enquanto eventos naturais podem ser explicados através de
hipóteses nomológicas, segundo o método analítico, os complexos
simbólicos são compreendidos a partir da interioridade relacional e
da intersubjetividade, de acordo com o método hermenêutico.
Enquanto a natureza se explica a alma se implica, se assim
podemos resumir um postulado básico diltheyano.
A abordagem compreensiva de Dilthey suporta-se, por um lado,
numa epistemologia do reconhecimento do humano pelo humano,
segundo a experiência vivida e, por outro, num postulado da
compreensão da vida a partir dela mesma. Esta compreensão
ocorre por meio de um princípio de inteligibilidade narrativa, para a
apreensão de um sistema holístico de relações entre as partes e
o todo, a partir de um complexo de conjuntos interativos, onde os
significados nascem sempre da relação entre o fator parcial e o
total. Segundo Delory-Momberger[30], estes conjuntos interativos
são dinâmicos, num processo de permanente recomposição,
como verdadeiros operadores de sentidos, num exercício
hermenêutico sempre inacabado.
Considerando a importância da biografia como um texto particular
representativo do texto universal e, sobretudo, como manifestação
do ato de compreender a vida e o paradigma mesmo da
inteligibilidade humana, Dilthey desenvolveu um tipo de pesquisa,
iniciada por Schleiermacher, que ele denomina de círculo
hermenêutico. Trata-se de um modelo de interpretação que exprime
a estrutura circular, a partir da concepção da vida como um ritmo
todo-parte, na busca da compreensão histórica: um processo de ir-
e-vir da parte ao todo e do todo à parte. René Barbier[31] afirma
que a explicação destrói a significação e que, para Dilthey, nada há
abaixo nem além do que nos é imediatamente dado, no presente. O
significado encontra-se no conjunto de todos os elementos do
contexto, interligados entre si.
Como afirmo em obra anterior[32], Dilthey enfatiza a conexão entre
vida, expressão e compreensão: a vivência é estruturada dentro de
uma totalidade significativa por conjuntos simbólicos, ligada às
intenções e mediatizada por um ato de apreensão de sentido. A
análise é progressiva e fragmenta um todo que pode ser
imediatamente apreendido pelo saber compreensivo, como
demonstra o poeta, que esse filósofo considerava a antena vital da
humanidade. Por outro lado, o filósofo afirma que todo fragmento
de recordação relaciona-se com a psique total, sendo o sentido da
existência singular e irredutível ao conhecimento algo como
a mônada postulada por Leibniz. Na sua concepção, o fundamento
das ciências do espírito é o ato-de-se-partir-da-vida: o presente
está pleno do passado e prenhe do futuro, sendo o
desenvolvimento de uma biografia individual caracterizado pela
vivência de continuidade e de autonomia espontânea de um
processo vivo.
Enfim, o significado das partes encontra-se na totalidade e esta é
compreendida através de suas parcelas. Vida = Todo + Vida =
Partes, segundo uma pertinente fórmula de Pacheco Amaral[33],
que destaca esta afirmação do próprio Dilthey: “A ideia fundamental
da minha filosofia é que, até agora, não se colocou uma única vez a
experiência plena e não mutilada como fundamento do filosofar,
portanto, nem uma só vez a realidade plena e total”.
A tradição hermenêutica de Dilthey inspirou inúmeras abordagens,
notadamente a sociologia compreensiva de Max Weber (1864-
1920), a microsociologia de Georg Simmel (1858-1918), a
sociologia do conhecimento de Karl Mannheim (1893-1947), as
perspectivas da Escola de Chicago e a sua posteridade americana,
através do interacionismo simbólico e da etnometodologia, entre
outras.
III – Relato de vida e biografização de percurso
                                                                                    “Tudo que eu
não invento é falso”.
                                                                                  
                          Manoel de Barros[34]
Jamais temos acesso direto à experiência vivida – assim como
nunca temos contato com o sonho sonhado -, que não seja através
de um relato, ou seja, graças à mediação da palavra de si, segundo
a lógica de uma razão narrativa, de onde emerge e se organiza a
própria existência humana. É através do ato de se relatar que o ser
se torna propriamente humano, o sujeito de uma história, no
processo de reflexão sobre a sua própria vida.
A narrativa introduz, na temporalidade própria e constitutiva da
experiência humana, segundo Delory-Momberger[35], uma
estrutura de organização particular, uma sintaxe, sustentada no
fator causal e final. Desta forma, o exercício do relato realiza uma
operação de trans-formação, que consiste numa passagem do
estado informe do vivido para a forma de uma história. Nesta
concepção, a história e o sentido de uma existência decorrem do
processo da narrativa de si. “Nós não fazemos o relato de nossa
vida porque nós temos uma história; nós temos uma história porque
nós fazemos o relato de nossa vida”, sustenta a autora.
O filósofo da tradição reflexiva, do diálogo e da hermenêutica, Paul
Ricoeur (1913-2005), na sua obra, Temps et récit[36], indica que o
ato de se inscrever, por meio do relato, é inerente à condição
humana e que é por meio da narrativa que o tempo se torna tempo
humano. Para Ricoeur, é a interpretação que permite a
compreensão dos signos, dos símbolos e dos textos, como uma
hermenêutica a serviço da compreensão de si mesmo: para se
compreender, o ser humano deve se interpretar de maneira
narrativa. Para responder à questão “Quem sou eu, este eu que diz
eu?”, Ricoeur desenvolveu o conceito de identidade narrativa,
considerando a relação dialética e complementar entre a identidade
no sentido do termo em latim idem, ou mesmidade, e a identidade
como si próprio no sentido de ipseidade (do latim ipse: eu mesmo
ou si mesmo, o caráter singular de um ente, que o distingue de
todos os outros), como um processo dinâmico e mutante. Nesta
concepção, todo individuo se constitui por meio de uma narrativa de
si, jamais definitiva, sem cessar renovada e sempre inacabada.
Os dois conceitos, considerados como germes de um grande
desenvolvimento, que Ricoeur tomou de empréstimo a Aristóteles
(384 A.C.-322 A.C.) são os de “mise en intrigue” e o da
atividade mimética. Na sua derradeira obra, Parcours de la
reconnaissance[37], discorrendo sobre o poder de narrar e de se
narrar, Ricoeur afirma: “Eu coloco em terceira posição, na
fenomenologia do ser humano capaz, a problemática da identidade
pessoal ligada ao ato de narrar. Sob a forma reflexiva de ‘se narrar’,
a identidade pessoal se projeta como identidade narrativa. (…) Foi
por ocasião da epopeia e da tragédia, que Aristóteles elaborou a
sua noção de ‘mise en intrigue’ – muthos – visando a
‘representação’ – mimèsis – da ação”.
Com relação à intriga, Ricoeur diz que nós inventamos o meio
privilegiado pelo qual podemos reconfigurar nossa experiência
temporal confusa, informe e muda. Para este filósofo, mise en
intrigue é hermenêutica em ação: a operação capaz de transformar
uma sucessão caótica de eventos em configuração dotada de
organização e de coerência. Nas suas palavras, trata-se de um
exercício de síntese temporal do heterogêneo, de modo a “fazer
surgir o inteligível do acidental, o universal do singular, o necessário
ou plausível do episódico” [38]. É no tecer dinâmico e integrador
da intriga que toma forma o discurso, como um texto inteligível e
dotado de nexo e de sentidos, no qual se manifesta a singularidade
de uma história.
No seu livro que trata da condição biográfica, Delory-
Momberger[39] afirma que é pela narrativa de si que o ser humano
se torna a personagem de sua própria vida, fornecendo-lhe uma
história. Para a autora, o relato não é tão somente um sistema
simbólico, no qual a pessoa pode exprimir os seus sentimentos
existenciais; além disso, a autonarrativa é o espaço mesmo onde a
existência toma forma, elaborando-se e sendo vivenciada na forma
de uma história singular. “Não há vida humana sem narrativa; o ser
humano vive a sua vida relatando-a. Para si mesmo e para o outro.
(…) Desde há muito o romance, o cinema, a psicanálise, as
ciências humanas em geral e, mais próximo de nós a biologia e a
biogenética desconstruíram a imagem de um sujeito unificado e de
uma identidade biográfica que o curso da vida permitiria edificar sob
medida”, indica a autora. A biografia é um processo de construção
por meio da experiência e pela atividade de integrar,
num continuum existencial, o fluxo permanente de eventos e de
situações vividas. “A esta figura de um sujeito, que apenas pode
ter lugar em si mesmo e que somente pode religar o mundo na
reflexividade e na historicidade de sua experiência é que
denominamos de condição biográfica”, afirma a autora.
Um destaque importante é o de não confundir a narrativa com a
própria vida, ou seja, de não colocar a questão da veracidade do
relato de vida – o que é proposto por Philippe Lejeune[40], no seu
livro clássico, que trata do pacto autobiográfico: “Por oposição a
todas as formas de ficção, a biografia e a autobiografia são textos
referenciais: exatamente como o discurso científico ou histórico,
elas pretendem mostrar uma informação sobre uma “realidade”
exterior ao texto submetendo-se, assim, a um teste de verificação.
Seus objetivos não são simples aparências de verdade, mas a
similitude ao verdadeiro”. Opondo-se a esta consideração, Delory-
Momberger[41] postula que a abordagem biográfica exclui toda
pretensão de veracidade com relação à vida reportada, não se
referindo a vivências passadas reais que são reconhecidas como
certas e verídicas. Mesmo que, numa certa medida, alguns dados
factuais de uma vida possam ser objetivados, as relações entre os
fatos narrados e as suas configurações no relato existencial apenas
dizem respeito à mensagem portadora de sentidos de um sujeito.
Há uma relação de adequação entre o vivido e a palavra atual a
seu respeito, caracterizada pela instabilidade e pela dinâmica de
uma reconstrução incessante. Enfim, o ato de rememorar implica,
sempre, um processo de recriação, de reconstrução. Para a
autora[42], a história de vida é, paradoxalmente, uma ficção
verdadeira, ou seja, uma invenção da verdade do sujeito, que se
institui na linguagem, construindo-se na própria narrativa.
No prólogo de sua autobiografia, Ma vie – Souvenirs, rêves et
pensées, Jung[43]  – que considerava que toda teoria psicológica é
uma confissão do seu autor – afirma que o que uma pessoa é
segundo a sua intuição interior, e o que o ser humano aparenta
ser sub specie aeternitatis, apenas é possível de se expressar por
meio de um mito, que é mais individual, capaz de exprimir a vida de
forma mais precisa do que a ciência, que trabalha com noções
excessivamente medianas e gerais, para poder fornecer uma ideia
mais justa da riqueza diversa e subjetiva de uma existência
particular. “Inicio hoje, nos meus noventa e três anos, a contar
o mito da minha vida. Mas apenas posso fazer constatações
imediatas, ‘contar histórias’. Serão elas verdadeiras? Este não é o
problema. Eis a questão: esta é a minha aventura, esta é
a minha verdade?”
O fato biográfico, na sua dimensão psicológica, antropológica e
social, é o objeto da pesquisa biográfica. Biografar-se, segundo
Delory-Momberger[44], é dar à vida, no sentido etimológico, a forma
de uma escritura. Assim, a atividade biográfica adquire a
abrangência e importância de uma via mental e reflexiva
privilegiada, por meio da qual o ser humano pode se representar e
se compreender. Na sua definição, o processo
de biografização abrange “um conjunto de operações mentais,
verbais e comportamentais, por meio do qual um indivíduo se
inscreve e contribui, por sua vez, a produzir os mundos sociais nos
quais participa. A categoria do biográfico é um princípio de
organização que orienta e estrutura, sob a forma de uma linguagem
partilhada e transmissível, a experiência social cotidiana dos
indivíduos, possibilitando a integração e a interpretação, nas
condições de suas inscrições sócio-históricas, das situações e dos
eventos de suas existências”.
Enfim, é através do processo da biografização, como uma
hermenêutica prática, que o sujeito se constrói e fornece um
sentido ao seu percurso existencial.
IV – O desafio transdisciplinar
“Na perspectiva transdisciplinar, há uma relação direta e
incontornável entre a paz e a transdisciplinaridade. O pensamento
fragmentado é incompatível com a pesquisa da paz na Terra. A
emergência de uma cultura e de uma educação para a paz
conclama uma evolução transdisciplinar da educação e,
particularmente, da Universidade”.
                                                            Basarab
Nicolescu[45]
O conceito de transdisciplinaridade foi introduzido, no meio
acadêmico, por Jean Piaget (1896-1980), por ocasião do I
Seminário Internacional sobre Pluri e Interdisciplinaridade,
promovido pela Universidade de Nice, em 1970, referindo-se a
possibilidade de um saber comum e mais completo, desvinculado
de uma disciplina particular. Nesta mesma década, este conceito foi
trabalhado nas obras de Edgar Morin e de Eric Jantsche (1929-
1980), entre outros pesquisadores, como uma resposta à
proliferação disciplinar e à abordagem da hiperespecialização, que
estilhaçam os conhecimentos, levando a um aumento exponencial
do saber, com a perda de uma visão de integração e de um olhar
global sobre a realidade da condição humana.
Basarab Nicolescu que, nas últimas décadas, destacou-se como o
grande mentor da transdisciplinaridade, afirma que, atualmente, há
um crescimento exponencial dos saberes, sem precedente na
história conhecida. O acréscimo dos conhecimentos sobre o
Universo e sobre a natureza, reunidos apenas durante o século XX,
ultrapassa enormemente todo o acúmulo do conhecido em todos os
séculos anteriores, a partir de uma escala jamais antes imaginada,
que abrange do ínfimo ao imenso, do infinitamente breve ao
infinitamente longo. A grande contradição evidenciada por
Nicolescu é que, na medida em que conhecemos mais a respeito
do que somos feitos, menos compreendemos quem somos. A
proliferação, num ritmo frenético e crescente das disciplinas tem
sido acompanhada por um processo de fragmentação e de
esfacelamento que torna cada vez mais ilusória a apreensão de
uma gestalt cognitiva e o ideal de uma unidade do conhecimento.
Na medida em que aumenta nossos conhecimentos sobre o mundo
exterior, diminui e nos escapa o universo da interioridade e o
sentido mesmo de nossas existências. “Será que a atrofia do ser
interior é o preço a pagar pelo conhecimento científico? A felicidade
individual e social, que o cientificismo nos prometia, se distancia
indefinidamente, como uma miragem”, sustenta Nicolescu.
De fato, encontramo-nos diante de um perturbador aspecto
paradoxal da crise contemporânea: a existência de uma hipertrofia
de informações e de conhecimentos de acesso amplo, imediato e
sem restrições, acompanhada de uma atrofia do processo de
discernimento e de compreensão. Martin Heidegger (1889-1976)
lucidamente afirmava que nenhuma época acumulou
conhecimentos tão numerosos e diversos quanto a nossa,
apresentando o saber humano sob uma forma tão pronta e
facilmente acessível. Mas também nenhuma época soube menos a
respeito do que é o ser humano! Na visão heideggeriana, perdemos
a capacidade de saber questionar, que implica na arte de saber
aguardar, em função da voracidade pelo que é veloz, facilmente
apreensível e pagável. “Mas não é o número que é essencial; é o
tempo oportuno, ou seja, o instante oportuno e a perseverança
oportuna”, conclui Heidegger[46].
Há uma surpreendente convergência entre a transdisciplinaridade e
a abordagem da Naturphilosophie, que mencionamos com relação
ao movimento do romantismo. Segundo Nicolescu, certos
cientistas, artistas e filósofos perceberam, plenamente, o perigo
mortal do pensamento racionalista e mecanicista, o que determinou
a emergência da corrente antagonista da Naturphilosophie alemã,
sobretudo centrada em torno da revista Athenaeum, com autores
como Schelling, Schlegel, Novalis, Ritter, Goethe, sob uma
influência marcante da obra de Jakob Boehme. “Vista de nossa
época. a Naturphilosophie pode aparecer como uma deformação
grotesca e uma manipulação grosseira da ciência, como uma via
sem saída, na tentativa ridícula de um retorno ao pensamento
mágico e a uma Natureza viva. Mas como ocultar o fato de que esta
Filosofia da Natureza engendrou, pelo menos, duas descobertas
científicas maiores: a teoria celular e, sobretudo, o
eletromagnetismo (Oersted, 1820)? Creio que o verdadeiro erro
da Naturphilosophie foi o de ter aparecida dois séculos demasiado
cedo: lhe faltou a tríplice mutação quântica, tecnológica e
informática”, sustenta, ironicamente, Nicolescu[47].
No contexto do “big bang disciplinar”, a exigência de estabelecer
elos entre as diferentes disciplinas acabou produzindo a
emergência da pluri e da interdisciplinaridade. Torna-se necessário
precisar estes conceitos, com relação ao da transdisciplinaridade.
De acordo com Nicolescu, a pluridisciplinaridade é o estudo de um
objeto de uma só e mesma disciplina, ao mesmo tempo, por
diversas outras disciplinas. A interdisciplinaridade diz respeito à
transferência de métodos de uma disciplina à outra, segundo três
distintos graus: de aplicação, epistemológico e de criação de novas
disciplinas. A pluri e a interdisciplinaridade transcendem as
disciplinas, mas suas finalidades se inscrevem no domínio da
pesquisa disciplinar. A transdisciplinaridade diz respeito, ao mesmo
tempo, ao que se encontra entre, através e além de todas as
disciplinas. Para Nicolescu, não se trata de uma nova disciplina,
nem de uma hiperdisciplina, mas de um campo que se nutre da
própria pesquisa disciplinar. “Neste sentido, as pesquisas
disciplinares e transdisciplinares não são antagônicas, mas
complementares. (…) A disciplinaridade, a pluridisciplinaridade, a
interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade são as quatro flechas
de um só arco: o do conhecimento” assegura Nicolescu[48].
Na abordagem de Nicolescu há três pilares da transdisciplinaridade,
que determinam a metodologia da pesquisa transdisciplinar: os
níveis de Realidade, a lógica do terceiro incluído e
a complexidade. O primeiro diz respeito ao reconhecimento da
existência de diferentes níveis de Realidade, regidos por diferentes
lógicas, que recusa toda tentativa de reduzir a Realidade a um só
nível, regida por uma só lógica, dado a sua natureza
multidimensional e, também, multirreferencial. A abordagem
transdisciplinar abre-se para a dinâmica criada pela ação
simultânea de múltiplos níveis de realidade e, ao mesmo tempo,
implica no conhecimento disciplinar. Em que pese a distinção
radical existente entre elas, a pesquisa transdisciplinar e a
disciplinar não se encontram numa relação de antagonismo e, sim,
na de complementaridade, segundo este autor.
De forma significativa e heurística, Pierre Weil[49] desenvolveu uma
fórmula muito sábia e original, para sustentar que a vivência do real
pelo sujeito é uma função do estado de consciência no qual ele se
encontra: VR = f(EC). Ou seja, a Vivência da Realidade (VR) é
função (f) do Estado de Consciência (EC). Nas suas palavras,
“essa fórmula nos parece uma das chaves fundamentais para a
compreensão da epistemologia e das relações entre o conhecedor,
o conhecimento e o conhecido, isto é, entre o sujeito, o
conhecimento e objeto do conhecimento.”
O segundo pilar indica que dois diferentes níveis de realidade são
religados por uma nova lógica do terceiro incluído, distinta da lógica
aristotélica clássica, fundamentada sobre três axiomas: o da
identidade (A é A), o da não contradição (A não é não-A) e o do
terceiro excluído (não existe um terceiro termo, ou seja, o de que A
é, ao mesmo tempo, A e não-A).  Como esclarece Nicolescu, se
aceitamos esta lógica, que ainda é dominante após mais de dois
milênios, devemos concluir que os pares contraditórios colocados
em evidência pela física quântica são mutuamente exclusivos, já
que não podemos sustentar, simultaneamente, a validade de uma
coisa e a do seu contrário, ou seja, a coexistência de A e de não-A
ao mesmo tempo. Segundo este autor, representou um mérito
histórico de Stéphane Lupasco (1900-1988) o de ter demonstrado
que a lógica do terceiro incluído é uma verdadeira lógica, no seu
aspecto formal e formalizável, multivalente – com relação aos
aspectos A, não-A e T – e não contraditória.
Já o grande mérito do próprio Nicolescu foi o de ter evidenciado
que a compreensão do axioma do terceiro incluído, que sustenta a
existência de um terceiro termo T que é, ao mesmo tempo, A e não-
A, se esclarece plenamente com a introdução do primeiro pilar
acima referido, o conceito de níveis de Realidade. Nas suas
palavras[50]: “Para obter uma imagem clara do sentido do terceiro
incluído, representamos os três termos da nova lógica – A, não-A e
T – e os seus dinamismos associados, por um triângulo no qual o
cimo se situa a um nível de Realidade e a sua base em outro nível
de Realidade. Se permanecermos num só nível de Realidade, toda
manifestação aparece como uma luta entre dois elementos
contraditórios. O terceiro dinamismo, o de estado T, se exerce em
outro nível de Realidade, onde o que aparentemente é desunido é,
de fato, unido e o que parece contraditório é percebido como não
contraditório”. Em outras palavras, a lógica do terceiro incluído
implica o postulado de uma sucessão plural de níveis de Realidade,
onde a integração dos contrários acontece num metanível superior.
Para Nicolescu, a postulação do terceiro incluído implica na
perspectiva da complexidade que é, talvez, a sua lógica
privilegiada, na medida em que permite uma travessia, de maneira
coerente, nos diversos domínios do conhecimento. “A lógica do
terceiro incluído não abole a lógica do terceiro excluído: ela apenas
restringe o seu domínio de validade” [51].
No seu livro, “Qu’est-ce que la réalité ? – Réflexions autour de
l’oeuvre de Stéphane Lupasco »[52], Nicolescu sustenta que o
conceito de energia encontra-se no centro da meditação filosófica
de Lupasco. Assim como, na física clássica, a noção do objeto
situa-se no plano central, sendo a energia um mero epifenômeno,
derivado e secundário, a física relativista e quântica inverteu esta
hierarquia: a concepção do objeto é substituída pela do evento, da
relação, da interconexão. “O verdadeiro movimento é o da energia.
O dinamismo energético rege o conjunto dos fenômenos físicos”,
afirma Nicolescu. Para este autor, o conceito do terceiro incluído é
a chave central da filosofia lupasciana, permitindo a cristalização do
seu pensamento inovador e aberto, com um grande rigor e
precisão. “Este rigor e esta precisão explicam a influência, aberta e
subterrânea, da obra de Lupasco na cultura francesa. Entretanto, é
igualmente o terceiro incluído que fez deslanchar toda uma
infindável série de mal-entendidos e uma hostilidade, variando do
silêncio embaraçado à exclusão deliberada de Lupasco do mundo
universitário e dos dicionários.”
No seu livro sobre a abordagem transversal e a escuta sensível,
René Barbier[53] destaca a obra de Lupasco. Uma dialética
contemporânea, segundo Barbier, refletida por eminentes autores
como Edgar Morin ou Gilbert Durant, é postulada por Stéphane
Lupasco, de acordo com outro tipo de dinamismo contraditório, a
partir de uma lógica da bipolaridade antagonista, incluindo um
terceiro tempo, um estado T de atualização e de potencialização
entre os polos antagônicos. Um tipo de dialética construída sobre
uma abordagem paradoxal que, segundo o autor, é fundamental na
visão clínica transversal. Entretanto, Barbier afirma que a dialética
colocada em prática na Abordagem Transversal e na pesquisa-
ação existencial não é a de um fundamento rigoroso e trágico entre
os elementos bipolarizados. “Não há separação, mas, antes, uma
articulação e complementaridade dialéticas sucessivas com um
fenômeno de atualização e de potencialização, de homogeneização
e de heterogeneização, segundo uma concepção próxima da lógica
da bipolaridade antagonista de Stéphane Lupasco”.
A consideração de múltiplos níveis de Realidade como conjuntos de
sistemas invariantes à ação de um número de leis gerais – a física
quântica, o ciberespaço e a teoria de supercordas, segundo a
abordagem de Nicolescu[54] – já indicam o terceiro eixo da
transdisciplinaridade, o da complexidade ou a emergência de uma
pluralidade complexa. Para Nicolescu, a complexidade se nutre da
ampliação acelerada da pesquisa disciplinar e, por sua vez, a
complexidade determina a aceleração vertiginosa das disciplinas.
Neste sentido, a complexidade torna-se visível em todas as
ciências, sejam exatas ou humanas, duras ou moles, a exemplo da
biologia e das neurociências, que apresentam um desenvolvimento
tão rápido quanto surpreendente. “A complexidade é criada por
nossa mente ou se encontra na natureza mesma das coisas e dos
seres? O estudo dos sistemas naturais nos fornece uma resposta
parcial a esta questão: ela se encontra tanto na natureza quanto
nas coisas e nos seres. A complexidade na ciência é, inicialmente,
a complexidade das equações e dos modelos. Neste sentido, ela é
produto de nossa mente, que é complexa por sua própria natureza.
Mas a complexidade é a imagem em espelho da complexidade dos
dados experimentais, que se acumulam incessantemente. Assim,
ela se encontra na natureza das coisas.”
Focalizando a questão do desafio da complexidade, Edgar
Morin[55] sustenta que, num certo sentido, o pensamento complexo
busca livrar-se de e superar os tipos de pensamentos mutilantes,
que ele denomina de simplificantes, num combate não contra a
incompletude, mas em oposição à mutilação. Para este filósofo da
complexidade, quando consideramos o fato de que somos seres ao
mesmo tempo físicos, biológicos, sociais, culturais, psíquicos e
espirituais, torna-se evidente que a tarefa da complexidade é a de
conceber a articulação, considerando a identidade e a diferenciação
com relação à todos estes aspectos – além do pensamento
simplificador, que tudo fragmenta e desvincula ou unifica e mistura,
por meio de uma redução mutiladora. Assim, é evidente que a
ambição da complexidade é a de realizar articulações que são
negadas e destruídas pela dissociação típica do enfoque disciplinar,
entre categorias cognitivas e entre tipos de conhecimento, rumo a
uma muldimensionalidade que contêm, no seu âmago, um princípio
de incompletude e de incerteza. Morin lembra-nos que a
palavra complexus significa tecer, em conjunto, um mesmo tecido
composto de diferentes fios. Trata-se de um entrecruzamento
unitário de conexões com o distinto e diverso. A unidade
do complexus conserva a variedade e a diversidade dos elementos
que a compõe. “O desafio da complexidade nos faz renunciar
definitivamente ao mito da elucidação total do Universo e nos
encoraja a prosseguir a aventura do conhecimento, que é o diálogo
com os universos.”
Le Grand[56] formulou o interessante conceito de implexidade: uma
implicação complexa ou complexidade implicante, onde observado
e observador e objeto e sujeito são ligados. “A implexidade é a
dimensão complexa das implicações, complexidade largamente
opaca a uma explicação. A implexidade é relativa ao
entrelaçamento de diferentes níveis de realidades das implicações,
dominantemente implícitas (recurvadas no interior).”
Transdisciplinaridade e formação
Gaston Pineau e Patrick Paul refletiram profundamente e
escreveram sobre a visão transdisciplinar com relação à formação e
à abordagem das histórias de vida. Na introdução do livro
“Transdisciplinarité et Formation”[57], Patrick Paul, que introduziu
um quarto pilar à pesquisa transdisciplinar, o da hipótese paradoxal,
afirma que esta instigante abordagem busca abrir uma nova visão
integrativa do ser humano e da natureza, que transcende o
paradigma atualmente vigente. Trata-se de uma abertura das
ciências, sobretudo as humanas e sociais, a uma relação diferente
entre o sujeito e o objeto, ao mesmo tempo mais vasta e refinada,
através do conceito de níveis de realidade. Reunindo
pesquisadores de diversos horizontes, a transdisciplinaridade torna-
se uma fonte de diálogo entre múltiplas e respectivas
competências, engendrando um novo discurso definido menos por
um território comum do que pelo esclarecimento das margens, dos
locais e das fronteiras entre os campos. Paul esclarece que esta
abordagem emergente considera a importância dos enfoques
disciplinares, definidos por seus distintos objetos e métodos,
abrindo-se para a aceitação de espaços de contornos menos
nítidos, situados nas fronteiras e no além das zonas objetivas
clássicas. Há o reconhecimento da pessoa implicada no nobre
processo de uma formação e transformação constante ao longo de
toda existência, inscrevendo-se num dinamismo cognitivo
complexo, que inclui tanto a razão quanto a sensação, a
experiência, a imaginação e a intuição. Para Paul, a formação
transdisciplinar, neste contexto ampliado, possibilita um “ato
formador por excelência, tornando, assim, o campo da formação o
de um desvelamento de si como Bildungformação”.
No seu texto, “Recherches Transdisciplinaires et Université”,
Gaston Pineau[58] fala de um movimento de tensa ligação entre a
universalidade e a diversidade de saberes. Para Pineau, a
palavra universidade traduz bem a exigência de unidade a ser
construída pelo universo sociocognitivo, conjuntamente com a
multidiversidade, além da simples uniformidade, em função da
pluralidade dos saberes que a compõe. Na sua visão, há três
degraus da transdisciplinaridade, após um ponto zero: o da uni-
disciplinaridade. O primeiro degrau de conexão é o da multi ou
pluridisciplinaridade; o segundo, o da pesquisa interdisciplinar e o
terceiro, o da vinculação propriamente transdisciplinar. Por outro
lado, a pesquisa transdisciplinar em formação implica em três
prefixos: o primeiro é o trans, significando a transição paradigmática
pelas transações transversais e transformação das relações. O
segundo é o auto: a necessidade de uma autodisciplina para
aprender uma atitude de discípulo diante do totalmente novo, além
de tudo. Inerente a este prefixo encontra-se o desafio da
aprendizagem de que esta transcendência se dá por meio de uma
travessia e de uma interiorização, o que implica em
se autodisciplinar. O terceiro é o inter: através de uma rede de
aprendizagem recíproca, já que a conquista deste novo aprender a
aprender é vinculada às transações com a diversidade do outro.
Resume Pineau: “Assim, não há transdisciplinaridade heurística,
sem autodisciplina e sem uma inter-rede da aprendizagem
recíproca. Eis o sentido da proposição deste pequeno enigma: não
há trans sem auto e sem inter”.
Postulando o interessante conceito de antropoformação,
etimologicamente o ser humano em formação ou a formação do ser
humano, enquanto visão, percepção, pensamento, imaginação e
intuição, Paul[59] afirma que se trata de uma abordagem que faz
apelo à transdiciplinaridade, segundo Gaston Bachelard e Thomas
Kuhn, colocando em questão os cânones epistemológicos
dinamizadores dos instrumentos metodológicos que, além da
concepção científica clássica, testemunha a própria singularidade
das ciências humanas. Para Paul, a metodologia das histórias de
vida, que retoma a questão da construção da identidade do
individuo social, muito próximo da anamnese médica, constitui os
horizontes de novos campos a serem explorados. Desta forma, a
partir da realidade e da identidade biológica, a antropoformação
evoca, ao mesmo tempo, a maneira que o ambiente natural e o
sociocultural nos influenciam e transformam também nos
remetendo à formação interior da subjetividade humana, no vasto
sentido da Bildunformação proposta pelos enfoques germânicos,
respaldados pelo Mestre Eckart, por Goethe, entre outros. No seu
enfoque, Paul afirma que os valores implicados no anthropos, a
inteireza humana, devem se articular por meio da singularidade, da
sociabilidade, da idealidade e da universalidade, no processo de
formação do ser humano.
Em outro texto deste mesmo livro, Patrick Paul[60] esclarece que a
transdisciplinaridade é portadora do novo, a partir de uma
epistemologia e de uma metodologia que são provenientes da
própria dinâmica científica contemporânea, em direção à atual
conjuntura social. “É certo que, neste domínio como nos demais, a
mesma palavra pode se referir a diferentes posturas dos seus
pesquisadores. Entretanto, além destas diferenças, um mesmo
pensamento habita a abordagem transdisciplinar: abrir as
disciplinas sem as negarem, reconciliar o sujeito e o objeto, buscar
reconstituir, num todo coerente, os diversos fragmentos do
conhecimento, dar sentido à intercessão entre os campos de
maneira não sincrética e não unitária, num processo de superação
pela integração, por meio de um método apto a tratar as
contradições do conceito positivista da ciência, ligando-se a um
procedimento capaz de legitimar diferentes modos de
inteligibilidade e diversos graus ontológicos”.
Por outro lado, num artigo sobre histórias de vida como uma
aventura intelectual plural e singular, Pierre Dominicé[61] fala da
pertinência e também dos riscos da ótica transdisciplinar,
sustentando que, de maneira geral, a abordagem das histórias de
vida não pertence a nenhum campo disciplinar específico,
colocando-se entre as fronteiras das disciplinas. Progressivamente
este autor deu-se conta de que eram “indisciplinados” que, nas
suas palavras, “se reconheciam na ótica ambiciosa da
transdisciplinaridade, frequentemente reivindicada por G. Pineau.
Na origem de nossos trabalhos se afirmaram as contribuições que
favoreceram um alargamento pluri ou transdisciplinar, como a da
sócio-antropologia de Marie-Christine Josso e de Jean-Louis Le
Grand, o da psicologia de Martine Lani-Bayle ou a de inspiração
lacaniana do psicanalista Guy de Villers. Assim, atraímos
transitoriamente muitos outros pesquisadores das ciências
humanas que, entretanto, preferiram o terreno menos instável de
um pensamento alinhado a uma fragmentação mais disciplinar, seja
da psicossociologia clínica ou mesmo, posteriormente, da análise
do trabalho.” Por outro lado, Delory-Momberger – cuja significativa
contribuição Dominicé afirma  ser transdisciplinar e intercultural,
abrindo um caminho teórico muito original, num contexto acadêmico
normalmente fechado – precisa que a abordagem biográfica não é
uma disciplina, mas um campo de pesquisa.
Enfim, a visão transdisciplinar é aberta, transcendendo o domínio
das ciências exatas, por meio de um diálogo inclusivo e de
reconciliação com as ciências humanas, a arte, a literatura, a
poesia, o imaginal e a consciência interior. Segundo o artigo 14 da
Carta da transdisciplinaridade[62]: “Rigor, abertura e tolerância são
as características fundamentais da atitude e da visão
transdisciplinar. O rigor da linguagem na argumentação, que leva
em conta todos os dados é a proteção com relação a todos os
desvios possíveis. A abertura comporta a aceitação do
desconhecido, do inesperado e do imprevisível. A tolerância é o
reconhecimento do direito às ideias e às verdades contrárias às
nossas”.
V – Os quatro pilares de uma nova educação
A tomada de consciência de um sistema educacional em desacordo
com as transformações do mundo contemporâneo tem produzido
numerosos colóquios e simpósios. Um dos encontros mais
importantes e marcantes foi o elaborado pela Comissão
internacional sobre a educação para o século XXI, sob a
presidência de Jacques Delors e ligado à UNESCO, que faz
referência aos quatro pilares de uma educação continuada ao longo
de toda a existência: aprender a conhecer, aprender a fazer,
aprender a conviver e aprender a ser.
Com este nobre objetivo, Delors[63] indica as grandes tensões a
serem superadas: entre o global e o local; entre o universal e o
singular; entre tradição e modernidade; entre a longa e a curta
duração; entre a competição e a igualdade de oportunidades; entre
o extraordinário desenvolvimento do conhecimento e a capacidade
de sua assimilação pelo ser humano. “Enfim, eis uma constatação
eterna, a tensão entre o espiritual e o material. O mundo,
frequentemente sem o sentir ou o exprimir, tem sede de ideal e de
valores que nós denominamos de morais, para não chocar
ninguém. Que nobre tarefa da educação esta de suscitar a cada
pessoa, segundo suas tradições e convicções, no pleno respeito ao
pluralismo, esta elevação do pensamento e do espírito até o
universal e a certa transcendência de si mesmo. Está em jogo – a
Comissão pesa as suas palavras – a sobrevivência da
humanidade.”
Eis um resumo, a seguir, destes quatro fundamentos de uma
educação transdisciplinar:
Aprender a conhecer
Trata-se da aprendizagem de métodos para compreender o mundo
e capazes de facilitar a distinção do que é real e do que ilusório,
para um contato inteligente com os saberes disponíveis, com um
espírito científico fundamentado sobre uma interrogação aberta e
permanente, com a recusa de uma atitude fechada e dogmática. É
importante conciliar uma cultura geral e ampla – passaporte para
uma educação permanente ao longo de toda a vida – com a
possibilidade de trabalhar, de maneira profunda e particular, um
pequeno número de matérias, afirma Delors[64].
Segundo Nicolescu[65], aprender a conhecer também significa a
aquisição da habilidade de estabelecer pontes entre os diferentes
saberes e os seus significados para a vida cotidiana: entre os
saberes, as significações e o universo interior. Na sua visão, a
dinâmica transdisciplinar é o complemento indispensável para o
próprio desenvolvimento disciplinar, já que conduz a um “ser sem
cessar re-ligado, capaz de se adaptar às exigências mutantes da
vida profissional, e dotado de uma flexibilidade, sempre orientado
para a atualização de seus potenciais intelectuais”.
Aprender a fazer
Tarefa de colocar em prática os conhecimentos e de adquirir uma
qualificação profissional e uma competência que possibilite ao
aprendiz fazer face às numerosas situações práticas e a trabalhar
em equipe, uma dimensão essencial na abordagem transdisciplinar,
que considera a diversidade de saberes na ordem da
complementaridade e da sinergia.
Trata-se de conciliar a necessidade da especialização no
aprendizado de uma profissão com uma visão mais global e com
uma ação criativa, dialógica e flexível. Conforme o relatório
Delors[66], esta competência e as suas qualificações
frequentemente tornam-se mais acessíveis se os estudantes tem a
oportunidade de testar as suas capacidades na participação
enriquecedora em atividades profissionais e sociais, paralelamente
aos seus estudos. Neste sentido, a alternância entre a escola e o
trabalho adquire uma relevância muito criativa e importante.
Aprender a conviver
Eis um desafio muito negligenciado nos métodos convencionais de
educação, que solicita uma abertura para o exercício de uma
dinâmica individual e de grupo, para facilitar o desenvolvimento das
já referidas quatro funções psíquicas pesquisadas por Carl Gustav
Jung – pensamento, sentimento, sensação e intuição – e o de uma
inteligência emocional e relacional – a exemplo do projeto da Arte
de Viver a Vida[67] da Formação Holística de Base da UNIPAZ,
incluindo os seminários A Arte de Viver em Paz, A Arte de Viver
Consciente, A Arte de Viver em Harmonia e A Arte de Viver o
Conflito. Por outro lado, é fundamental o lidar com o mundo dos
sonhos, cujas funções – complementares às da vigília – são
pesquisadas, à luz da ciência, há mais de um século, através do
desenvolvimento da inteligência onírica, o que introduz na missão
pedagógica o que tenho denominado de alfabetização psíquica[68].
            Este pilar refere-se a um processo que visa o aprender
a viver com – consigo, com o outro, com a comunidade, com a
natureza. No plano interacional humano, trata-se do
reconhecimento e a compreensão do outro, com a percepção da
interdependência em prol da gestão das naturais tensões e conflitos
e a realização de projetos comuns, no espírito da aliança entre a
competição e a cooperação, respaldada na atitude de respeito dos
valores plurais, do cuidar do outro, da compreensão mútua e da
vivência harmoniosa e pacífica.
Aqui nos deparamos com o desafio da alteridade. Na visão de
Nicolescu, há um aspecto fundamental na dinâmica da evolução
transdisciplinar em educação: “se reconhecer a si mesmo no
semblante do Outro”, o que exige um processo permanente de
aprendizagem, desde a mais tenra idade, prolongando-se durante
todo o itinerário existencial. “A atitude transcultural, transreligiosa,
transpolítica e transnacional permite o melhor aprofundamento na
própria cultura, a melhor defesa dos interesses nacionais, o melhor
respeito às próprias convicções religiosas e políticas. A unidade
aberta e a pluralidade complexa, como em todos os demais
domínios da Natureza e do conhecimento, não são antagônicos”,
afirma Nicolescu[69].
Aprender a ser
Sem dúvida, eis o desafio maior e a mais preciosa utopia realizável,
na tarefa imprescindível de uma renovação educacional. Além do
aspecto cognitivo, do pragmático e do universo da convivência,
resta a dimensão mais nobre de uma educação para a inteireza:
facilitar o desenvolvimento da semente do potencial evolutivo
inerente a cada ser humano. Esta notável meta solicita o que
denomino de uma pedagogia iniciática[70], que inicie o ser humano
a uma dinâmica rumo a sua completude ou plenitude possível, com
o desenvolvimento dos seus talentos vocacionais particulares,
através do investimento na dimensão noética da consciência do
Sujeito, que favoreça, por meio de um itinerário interior, o desvelar
de uma inteligência da inteireza psíquica, que Jung denominava de
Self.
Como sustenta Delors[71], aprender a ser, “enfim e, sobretudo”,
rumo ao florescimento da personalidade, pelo desenvolvimento de
um processo de descoberta, de experimentação, de trabalho de
imaginação e da criatividade, para o aprendiz ousar atuar a partir
de uma capacidade de autonomia, de discernimento e de
responsabilidade individual, seguindo um imperativo de não deixar
inexplorado nenhum espaço do tesouro dos seus próprios talentos.
Trata-se de exercitar os domínios da memória, da razão, da
sensibilidade, conjugadas com a imaginação criadora, o sentido da
ética e da estética, que possibilite a expressão do carisma natural
do individuo plenamente cultivado na sua tarefa de compreender o
mundo e a si mesmo.
Aprender a ser implica a necessidade de conciliar a dimensão
pessoal e a transpessoal, que são inerentes a cada individuo,
conformando suas qualidades de raízes e de asas, de profundidade
e de altitude, de palavra e de silêncio. Como afirma Basarab
Nicolescu, “A construção de uma pessoa passa, inevitavelmente,
pela dimensão trans-pessoal. O não respeito a este necessário
acordo explica, em grande parte, uma das tensões fundamentais de
nossa época entre o material e o espiritual”.
“Utopia, pensarão alguns, mas utopia necessária, utopia vital, para
sair do ciclo perigoso, nutrido pelo cinismo e a resignação”,
sustenta Delors[72].
VI – A visão holonística
“Temos visto que os holons biológicos são entidades
autorreguladoras que, ao mesmo tempo, manifestam propriedades
independentes, de totalidades e propriedades dependentes, de
partes.”
                                                                   Arthur
Koestler[73]
 
Arthur Koestler (1905-1983)[74], afirmando que a parte e o todo
inexistem no domínio da vida, de forma inovadora e consistente
desenvolveu uma abordagem que transcende o atomismo ou
reducionismo e o holismo ou totalitarismo, integrando os aspectos
válidos destes dois métodos, por meio do seu conceito de holon –
do grego holos, totalidade, com o sufixo on, que designa a parte
(como em próton ou nêutron), referindo-se a um sistema aberto e
autorregulador que apresenta, simultaneamente, as propriedades
autônomas de um todo e as dependentes de uma parcela.
Segundo esta visão, a palavra mais justa para fazer referência à
abordagem integrativa é holonística, antes que holística. Na
perspectiva koestleriana, o organismo é considerado como uma
hierarquia em múltiplos níveis de subtotalidades, dotados de
autonomia relativa. Este autor reconhece que, na medida limitada
onde é aplicável, o método reducionista logrou um grande sucesso
nas ciências ditas exatas, enquanto que a sua antítese, o holismo,
conceito concebido por Jan Smuts[75] em 1926, que considera que
o todo é mais do que a soma de suas partes, jamais foi muito longe,
apenas tendo penetrado na ciência oficial indiretamente, pelo viés
da filosofia e da Gestalt. Isto se deve, por um lado, ao fato desta
abordagem ter se chocado com o espírito da época e, por outro, por
ter representado um método mais filosófico do que empírico, não
tendo sido utilizado em experiências de laboratório, segundo
Koestler.
O símbolo koestleriano para a noção do holon é o de uma
divindade da mitologia romana, Janus, que apresenta duas faces,
voltadas para sentidos opostos: uma para frente, representando o
futuro e outra olhando para trás, simbolizando o passado. Assim,
cada subparte igualmente inserida numa escada e numa ordem
ascendente de complexidade, possui uma face de “todo”, voltada
para os níveis subordinados e outra face voltada para o alto, o de
uma “parte” dependente. Para Koestler, nenhum ser humano é uma
ilha, mas um holon: uma entidade bifrontal que, olhando para o
interior se vê como um todo, único e completo em si, e olhando
para o exterior se vê como uma parte dependente. Há uma
tendência autoafirmativa, que é a manifestação dinâmica de sua
condição autônoma de um todo único, ou seja, a sua
independência como holon. A tendência antagônica, também
universal, é integrativa e exprime sua dependência com relação a
um todo superior, o que constitui a sua condição de parte.
Falando de outro modo, há duas tendências de base na natureza
viva: uma de diferenciação e outra de fusão. A primeira é
autoafirmativa, uma força centrífuga direcionada para a diferença, a
singularidade, a alteridade. Enquanto a de fusão é integrativa, uma
força centrípeta que se direciona para o pertencimento, a
interconexão, a solidariedade. De acordo com Koestler[76], esta
polaridade ou coïncidentia oppositorum surge em todas as
manifestações da vida, sendo que a tendência à asserção é uma
expressão dinâmica da totalidade do holon, enquanto a tendência à
integração é um dinamismo expressivo da parcialidade. A tarefa da
saúde é a de manter um equilíbrio sinergético entre estas duas
dinâmicas, evitando a polarização, pois o excesso de diferenciação
conduz à patologia do individualismo excluidor e a do isolamento,
enquanto o excesso de fusão determina a alienação característica
da simbiose e do totalitarismo.
Como assume Nicolescu[77], a abordagem transdisciplinar jamais
opõe holismo e reducionismo, considerando-os como dois aspectos
de um mesmo conhecimento da Realidade, que integra o local no
global e o global no local. Holismo e reducionismo, assim como
global e local, “são dois aspectos de um só e mesmo mundo
multidimensional e multirreferencial, o mundo da pluralidade
complexa e da unidade aberta”.
Apontando na mesma direção, o filósofo Martin Buber (1878-1965)
[78] afirma o duplo movimento de separação e de relação como o
que define o princípio da vida humana. Uma relação autêntica
apenas tem lugar quando o outro é colocado numa distância justa,
para que seja possível o Eu-Tu. Caso contrário, estaremos
condenados a uma relação objetal e reducionista, que Buber
denominava de Eu-isto.
            Desta forma, visando o movimento de integração,
necessitamos da sinergia entre o método analítico – de
diferenciação dual – e o método sintético – de fusão unitária.
VII – Análise e Síntese: terra e céu
“O verdadeiro poder sobre a violência consiste numa atitude de
transformação interior, a paz não se encontrando em nenhum lugar
que não seja em si mesmo, no ponto da junção das contradições.”
                                                           Patrick Paul[79]
Nós, ocidentais, somos condicionados à análise, já que o método
analítico encontra-se no coração do paradigma da modernidade,
nascido do pensamento iluminista, fundado sobre a razão crítica.
De fato, esta foi a grande contribuição da concepção científica do
século XVII, que introduziu a consciência de diferenciação no
âmago do novo aprender a aprender.
Eis um breve resumo deste caminho, que brota de uma pesquisa
que tenho realizado sobre este tema há mais de duas décadas,
sobretudo no domínio da saúde, mas também no da educação[80]:
o método analítico é um produto do racionalismo científico, que
surgiu como uma saudável e lúcida resposta a um contexto
decadente de um obscurantismo indiferenciado medieval, que se
cristalizou numa simbiose perversa entre religião e ciência, sob a
tirania da Inquisição. Centra-se nas partes, buscando as unidades
constitutivas, atuando como um bisturi retalhador de totalidades.
Refere-se ao conceito grego de diabolos, o que divide. Levou-nos à
abordagem disciplinar que modelou a especialização, caracterizada
por sua tendência reducionista e pela unilateralidade de visão e de
ação – alguém que sabe quase tudo de quase nada. Fundamenta-
se nas funções psíquicas do pensamento e da sensação, bases do
racionalismo empírico. Apoia-se na microfísica mecânica e no
realismo clássico, com suas características de continuidade, de
simplicidade, de causalidade local e de objetividade. Destaca-se
pelo aspecto quantitativo, perseguindo o ideal da codificação
matemática. Tem por base o registro pessoal da identidade
egocêntrica. Parte de uma lógica linear da causalidade local,
prescrevendo a existência de leis necessárias e gerais, que
engendram o determinismo, com a sua pretensão de controle e de
previsibilidade. Reveste-se da aparência sofisticada da exatidão.
Atua de forma progressiva e acumulativa, a partir de uma atitude
básica de extroversão, afirmando-se como um excelente
instrumento de investigação e de exploração do espaço exterior.
Tem como objetivo ideal a objetividade e a neutralidade, com
relação aos valores, excluindo o sujeito do campo da ciência. Sua
vocação é experimental e o seu produto específico é gerado em
laboratórios sofisticados, com a manipulação impecável das
variáveis. O seu substrato metafórico neurofisiológico – levando em
conta a interconexão hemisférica cerebral – é o hemisfério
dominante, geralmente o esquerdo, da racionalidade, da lógica, da
previsibilidade e da angústia humana. Caracteriza a mentalidade
típica do ocidental, centrada na tecnociência. Postula uma função
explicativa: objetiva explicar ativamente o universo. Denominamos
de analista ao agente deste método clássico.
Como já foi ressaltado, devemos ao gênio do Wilhelm Dilthey, que
denunciou as contradições do caminho reducionista científico-
natural, demonstrar a necessidade de outro método, além do
analítico, fundamento das ciências do espírito, que propõe a
descrição e a compreensão da vida a partir dela mesma.
Em seguida à contribuição marcante de Dilthey, outras significativas
vozes se levantaram, indicando o universo do sujeito por meio de
um caminho sintético. O já citado Jan Smuts (1870-1950)[81], na
sua perspectiva evolutiva, lançou o conceito do holismo como um
princípio único, organizador de totalidades e criador de conjuntos,
num Universo que é sintético, vital e criativo. Carl G.
Jung[82] desenvolveu uma interpretação de sonhos ao nível do
sujeito, que denominou de sintética. Roberto Assagioli (1888-1974)
[83] desenvolveu uma psicossíntese. Viktor Frankl (1905-1997)
[84] fundou a sua escola de Logoterapia, caracterizada por uma
metodologia sintética. Karlfried Graf Dürckheim (1896-1988)
[85] criou a terapia iniciática, propondo o que denomina de
exercício – uma prática meditativa de natureza sintética – para que
a essência se manifeste na existência. Ramon Soler[86] fundou, na
Argentina, a Universidade de Síntese, onde o método da síntese é,
igualmente, uma via de integração humana. O sábio hindu J.
Krishnamurti (1895-1986)[87] que dedicou toda a sua existência e
obra absolutamente ao essencial, tendo tido uma influência
destacada na abordagem transversal de René Barbier[88], pode ser
considerado como um símbolo vivo de encarnação da síntese.
Para resumir, o método sintético surgiu no fim do século XIX, como
uma resposta à crise de fragmentação e de dissociação de uma
ciência divorciada da consciência. Focaliza a totalidade, a
interconexão, a forma, o contexto, visando estabelecer um
processo de ligação e de unificação. A sua tendência é
amplificadora e integrativa. Diz respeito ao conceito grego que é
oposto ao do diabolos, o de symbolos, fator que religa e
restabelece a inteireza. Valorizando a visão inclusiva e global,
encontra-se na base do ideal do generalista – alguém que sabe
quase nada de tudo. Trata-se de uma via qualitativa, que utiliza
mais a linguagem mito-poética e a do imaginal ou imaginação
criativa. Fundamenta-se sobre as funções psíquicas do sentimento
e da intuição. Coloca ênfase sobre a participação e a singularidade
biográfica. Produz-se na instantaneidade, no salto abrupto,
no insight: não é cumulativo. Segundo uma lógica da
simultaneidade, abre-se ao universo ampliado da sincronicidade,
das coincidências significativas por meio de um princípio de
conexões acausais ou de transcausalidade, de acordo com a
pesquisa junguiana. Reveste-se de um tecido vivo, leve, impreciso
e desapegado da exatidão. Guiado por uma visão introspectiva, que
investiga e edifica no espaço interior. Abre-se ao além do ego, rumo
a uma consciência transpessoal. Sustenta-se na abordagem da
microfísica e do realismo quântico, caracterizado pela
descontinuidade, o princípio da superposição, a não separatividade,
a não localidade e o indeterminismo. Assume um caráter
consciencial: da subjetividade, da intersubjetividade e dos valores.
Focaliza a significação e o sentido. Sua vocação é experiencial: o
seu produto específico é o fruto do laboratório vivo da vivência
humana. Seu substrato metafórico neurofisiológico é o hemisfério
cerebral não dominante, geralmente o direito, da gestalt, da
musicalidade, da poesia e da não dualidade. Caracteriza o espírito
clássico do oriental, centrado sobre a experiência interior. Não se
distingue do sujeito. Exerce uma função compreensiva e de
comunhão participativa. Podemos denominar de sintetista ao
agente deste caminho qualitativo rumo à realidade.
Podemos colocar em relação, de um modo sumário e indicativo,
algumas características básicas do método analítico e do sintético,
no esquema abaixo:
O Método Analítico                            O Método Sintético
Ênfase na parte                                    Ênfase na totalidade
“On”                                                      Holos
Reducionismo                                      Holismo
Texto                                                  Contexto
A serviço da decomposição                 A serviço da unificação
Diabolos                                               Symbolos
Funções psíquicas:                              Funções psíquicas:
Pensamento e sensação                     Sentimento e intuição
Especialista                                          Generalista
Via quantitativa                                    Via qualitativa
Causalidade                                         Transcausalidade:
sincronicidade
Lógica linear de sucessividade             Lógica global da
simultaneidade
Determinismo                                        Indeterminismo
Geral, regularidade                               Singular, biográfico
Espaço exterior: objetividade               Espaço interior:
subjetividade
Controle                                                Participação
Experimental                                         Experiencial
Macrofísica                                            Microfísica
Realismo clássico                                 Realismo quântico
Metáfora do hemisfério esquerdo         Metáfora do hemisfério
direito
Ciência e tecnologia                             Consciência e arte
Espírito ocidental                                  Espírito oriental
Saber                                                    Ser
Holologia                                               Holopráxis
Explicação                                             Compreensão,
comunhão
 
 VIII – A Arte da Integração: o Três
“O Tao engendra Um. Um engendra Dois. Dois engendra Três.
Três engendra todos os seres do mundo.”
                                                         Lao-tseu XLII[89]
É fundamental ressaltar que o método analítico e o método sintético
não se encontram numa relação de antagonismo, mas numa
sinergia de complementaridade, como dois caminhos rumo a um só
e mesmo conhecimento humano, integrando o local com o global e
o global com o local. O conceito de complementaridade é derivado
da teoria quântica, proposto por Niels Bohr, para resolver o
paradoxo partícula-onda, da microfísica. O mesmo pode ser
aplicado na polaridade metodológica análise-síntese. Uma ênfase
unilateral na análise nos conduz a uma visão de fragmentação e
dissociação, enquanto que na síntese nos leva ao globalismo e ao
totalitarismo. A abordagem transdisciplinar e holonística ou holística
não é nem analítica e nem sintética, mas uma integração destas
duas vias.
Nicolescu[90] afirma que as palavras três e trans tem origem na
mesma raiz epistemológica, sendo que o três é a transgressão ou o
que vai além do dois. Neste sentido, a transdisciplinaridade é a
transgressão da dualidade opositora dos pares binários, como
sujeito-objeto, matéria-consciência, simplicidade-complexidade,
reducionismo-holismo, diversidade-unidade, natural-divino. Estas
dualidades são transcendidas pela unidade aberta que engloba o
Universo e o ser humano. Necessitamos, assim, de uma aliança
entre o método de diferenciação analítico e o método de fusão
sintético. Nem um, nem dois; não mesclar, não separar; não fundir,
não dividir: eis um axioma básico transdisciplinar que solicita o três.
Podemos representar o valor desta heurística sinergia metodológica
com o número três – que contêm em si o um da unidade e o dois da
dualidade, com o símbolo do infinito aliando, numa dinâmica de
interações constantes e paradoxais, o método analítico e o
sintético:
Fig. 4: O Três da integração

 
Na sua obra, Edgar Morin[91] insiste muito neste pensamento de
Pascal, uma verdadeira pérola da visão holística: “Todas as coisas
sendo causadas e causadoras, ajudadas e ajudantes, mediatas e
imediatas e todas se conectando por uma ligação natural e
insensível, que liga os mais distantes e os mais diferentes,
considero impossível conhecer as partes sem conhecer o todo ou
conhecer o todo sem conhecer particularmente as partes”.
Uma afirmação da tradição taoista sustenta que o alto descansa no
profundo. Parodiando este provérbio, podemos afirmar que a
síntese descansa na análise, o todo repousa na parte, o céu
descansa na terra, as asas repousam nas raízes.
Falando da metáfora do substrato neurofisiológico, o exercício
salutar e o equilíbrio desta integração se fazem no corpo
caloso – corpus callosum – que religa os dois hemisférios cerebrais,
o esquerdo da análise e o direito da síntese. O que a tradição de
sabedoria simboliza como o terceiro olho ou o chifre do unicórnio.
Por esta razão afirma Carl Sagan (1934-1996)[92] que o futuro da
educação depende do corpo caloso. Podemos acrescentar:
igualmente o futuro da paz.
 
IX – Normose, a patologia da normalidade
“A doença do homem normal é uma doença da imobilidade. Saber
mover a mente é contribuir para superar esta enfermidade.”
Guillaume Le Blanc[93]
Pierre Weil[94] definiu a normose como sendo uma anomalia da
normalidade, na forma de um “conjunto de normas, conceitos,
valores, estereótipos, hábitos de pensar ou de agir aprovados por
um consenso ou pela maioria de pessoas de uma determinada
sociedade, que levam a sofrimentos, doenças e mortes. Em outras
palavras: que são patogênicas ou letais, executadas sem que seus
autores e atores tenham consciência da natureza patológica.” Weil
afirma que uma grande parte das opiniões, das atitudes e dos
comportamentos sobre os quais recai um consenso social, na
realidade conformam tipos de normoses. Este consenso constitui
uma pressão social que modela um processo de adaptação a
normas mórbidas. Um exemplo é o conceito de guerra justa, com
um apoio legal, onde as pessoas envolvidas adquirem o direito de
matar os que consideram inimigos. Neste contexto, aprende-se a
matar por meio do serviço militar, às vezes obrigatório. Um
consenso análogo a este existia, antigamente, em torno do duelo,
como um caminho legítimo de lavar a honra ferida. Atualmente essa
prática é considerada ilegal, inconcebível e, até mesmo, ridícula.
“Quando a guerra será considerada como um duelo coletivo?”,
indaga Pierre Weil, considerando ser possível que a humanidade
chegue a esta mesma evolução, no que diz respeito à violência e
aos conflitos bélicos.
Para contextualizar esta concepção, podemos falar em três
fundamentos da normose[95]. O primeiro é o sistêmico: esta
anomalia da normalidade surge quando o sistema no qual vivemos
encontra-se, dominantemente, desequilibrado, doente e
corrompido, quando o que predomina são as contradições ou
sintomas como a falta de escuta, de respeito, de cuidado e de
fraternidade, com uma violência alarmante e crescente contra o
indivíduo, a sociedade e a natureza. Neste contexto, uma
pessoa normal, ou melhor, normótica, é a bem ajustada ao sistema
mórbido, assim contribuindo para a manutenção do status quo.
Sabemos bem, pela própria carta constitutiva da Organização
Mundial de Saúde (1946), que a saúde não é ausência de
sintomas, mas a presença de um estado completo de bem-estar
nos planos somático, psíquico e social. O fator ambiental e o
espiritual foram considerados e incluídos neste conceito, mais tarde
(1998). Em outras palavras, quando um sistema se encontra, em
larga medida, num estado patológico a pessoa realmente em boa
saúde é aquela que manifesta um estado de desajustamento
consciente, de uma indignação justa – como a intensa e lúcida
convocação de Stéphane Hessel[96] que fala de uma insurreição
pacífica – ou, mesmo, de um desespero sóbrio.
O segundo fundamento é o evolutivo, que parte do princípio, aqui já
refletido, do inacabamento humano. O que podemos traduzir
afirmando que nós não nascemos humanos; nós nos tornamos
humanos, através de um investimento sistemático no potencial de
autodesenvolvimento, de maturidade e de uma plenitude possível
ao humano. Em outras palavras, o ser humano introduziu outra
ordem de complexidade na qualidade evolutiva do planeta, que se
traduz por uma dimensão consciente e intencional evolutiva. Além
dos acasos e das necessidades, das mutações genéticas aleatórias
e dos combates entre os mais aptos, segundo a seleção natural
darwiniana, a evolução humana consiste no desenvolvimento da
consciência, que solicita um trabalho sobre si mesmo nas trilhas
labirínticas evolutivas do processo de individuação que, da
superfície ilusória do ego possa nos conduzir à centralidade do Self,
segundo a concepção de Jung.
Esta nova qualidade de uma evolução consciente e intencional,
característica ímpar do ser humano, é sustentada por significativas
cartografias da consciência contemporâneas, em ressonância com
as tradições iniciáticas milenares. É o que encontramos nas
pesquisas de Abraham Maslow (1908-1970)[97], de Carl
Rogers[98], de Stanislav Grof[99] e de Ken Wilber[100], citando
apenas alguns poucos marcantes representantes do movimento
humanista e transpessoal da ciência psíquica. Na sua impactante
obra, “L’évolution créatrice”, Henri Bergson (1859-1941)
[101] postula um processo evolutivo vital e livre, opondo-se ao
finalismo e à predestinação, como também à abordagem
mecanicista do evolucionismo darwiniano, que é incapaz, segundo
este filósofo, de explicar a totalidade complexa da evolução da vida.
Para Bergson, como para Ervin Laszlo[102], criador e presidente do
Clube de Budapeste, a teoria de Darwin (1809-1882) não teve
sucesso em explicar a origem das espécies complexas.
Edgar Morin[103], que defende um aspecto meta-natural do
humano, afirma que a hominização nos conduziu a um novo
começo: o hominídeo se humaniza e assim o conceito do humano
adquire um duplo princípio, biofísico e psico-socio-cultural, ligados
dialeticamente.  Para este filósofo, nós nos desenvolvemos para
além da realidade física e viva; é precisamente neste além que se
localiza a plenitude humana. O conceito de normose encontra-se
em ressonância com certas reflexões de Morin[104], sobretudo
quando, analisando as cegueiras do conhecimento, ele fala da
força normalizadora do dogma, do tabu e do determinismo das
convicções e das crenças, dos conformismos cognitivos e
intelectuais. Por outro lado, com relação ao tema evolutivo, Basarab
Nicolescu[105] sustenta que a nossa evolução é
uma autotranscendência e que ninguém nem nada pode nos
obrigar a evoluir, já que as forças naturais da natureza, que
determinaram a evolução biológica humana, não atuam mais, o que
levou a evolução biológica ao seu final. No seu lugar surgiu um
novo tipo de evolução, ligado à cultura, à ciência, à consciência e
ao encontro humano. Neste sentido, a normose se caracteriza por
uma ausência de investimento no potencial psíquico, ético e
noético, representando um estado de estagnação da evolução
consciente, propriamente humana.
O terceiro fundamento é o paradigmático, tal como concebido num
sentido mais vasto, por Thomas Kuhn (1922-1996)[106]. Neste
caso, a normose surge quando o paradigma que ainda prevalece
encontra-se esgotado no seu potencial criativo e, até certo ponto,
esclerosado, sendo que o paradigma emergente é postulado por
um grupo minoritário. Como afirmava Max Planck (1858-1947),
segundo Kuhn, uma nova verdade científica não triunfa pelo
convencimento dos seus oponentes, facilitando que vejam as novas
luzes, mas porque, simplesmente, eles morrem. Assim, de enterro a
enterro e de nascimento a nascimento uma nova geração se
desenvolve, aberta e receptiva ao novo aprender a aprender.
Encontra-se aqui em jogo a nobreza indicada por esta paradoxal e
feliz expressão de Henry Thoreau (1817-1862)[107], a maioria de
um.
Falando a respeito das doenças do ser humano normal, Le
Blanc[108] afirma que a normalidade é, no início, uma criança na
qual o sonho de ar fresco é levado em conta pelos julgamentos dos
pais e dos adultos, sendo que os desejos e a vida psíquica da
criança são construídos neste estado de sujeição e de modelagem.
Considerando que a personalização é um processo de fornecer um
sentido às nossas atividades, Le Blanc postula que falar de um ser
humano normal é precisamente encerrá-lo nas clausuras de uma
identidade definitiva, que o priva de toda a possibilidade de
alteridade e de personalização. Neste sentido, o horror da doença é
o grande temor da novidade, quando a angústia se torna o modo de
ser da pessoa considerada normal. Para este autor, a normalidade
se apresenta como exemplaridade ou como uma suposta saúde
que termina na prisão a uma norma única, que expõe a pessoa a
todas as enfermidades possíveis.
Enfim, ao lado de uma estagnação do desejo evolutivo, um aspecto
muito importante da normose é o medo da individualidade ou da
individuação, ou seja, um temor da pessoa tornar-se um sujeito
único, dotada de um semblante particular e capaz de contar a sua
história, assumindo-se como o autor e ator da própria existência.
X – O horizonte do Sujeito: muito além da normose
“Em que jogo nós estamos? Participamos de muitos jogos, jogados,
joguetes, mas, ao mesmo tempo, jogadores. Toda existência
humana é, ao mesmo tempo, jogadora e jogada; todo indivíduo é
uma marionete manipulada do anterior, do interior e do exterior e,
ao mesmo tempo, um ser que se autoafirma na sua qualidade de
sujeito.”
Edgar Morin[109]
A dimensão emancipadora que decorre, naturalmente, do processo
de construção do sujeito rumo a uma diferenciação e a consciência
de alteridade é um tema importante para a biografização de
percurso. Entretanto, o desafio do vir-a-ser um artesão da própria
existência é uma verdadeira tarefa maior, que implica em superar
certo número de obstáculos, como o medo de caminhar rumo ao
desconhecido, com a perda dos referenciais habituais e sempre a
necessidade de lutar contra as resistências do mundo intrapsíquico
e do universo relacional. Em outras palavras, é necessário
transgredir a patologia do conformismo e da estagnação evolutiva,
que denominamos de normose.
Abraham Maslow[110] denominou de complexo de Jonas a uma
força de resistência e de inércia que impede o processo de
desenvolvimento e de autorrealização individual. Trata-se de uma
compulsiva recusa de crescer e de explorar os próprios talentos,
um tipo de temor da própria altitude, grandeza e capacidade
realizadora. O arquétipo de Jonas, um personagem do Antigo
Testamento, fala de um homem que recusa escutar e seguir a voz
da sua própria consciência profunda, que lhe convoca a abandonar
o conforto da sua existência tranquila, para realizar uma missão
numa grande cidade. Jonas – um nome hebraico que
significa pomba das asas cortadas – é um homem totalmente
ordinário, que prefere seguir na sua pequena e rotineira existência,
quando uma tempestade surge no seu caminho de fuga, o que o
conduzirá a um mergulho até o ventre de um grande peixe. Em
síntese, Jonas simboliza o medo do ser humano de se tornar
inteiro, autêntico e verdadeiro, que o conduz à fuga do próprio
destino ou destinação. Este complexo se traduz no arraigado medo
da diferenciação, do assumir o próprio semblante original, ou seja,
o temor da autorrealização. A tempestade que atravessa o seu
caminho pode significar os sintomas, as doenças e os infortúnios
que a pessoa atrai, quando foge de si mesma. É, também, uma
oportunidade de despertar para colocar-se num caminho criativo de
transformação, rumo à plenitude.
Jean-Yves Leloup[111] na sua extraordinária obra, Caminhos da
Realização, realiza uma interpretação impecável e vasta do tema
do complexo de Jonas, nele desvelando um caminho em direção ao
despertar transpessoal, a partir de um amplo mapa dos medos do
ego de nosso psiquismo pessoal. Leloup afirma que Jonas se
encontra no interior de cada ser humano, como o próprio arquétipo
da normose, uma força de resistência que atua quando recebemos
o convite para despertarmos do sono banal de uma existência sem
sentido. A sua profunda leitura simbólica da trajetória de Jonas é
uma indicação e inspiração para a aventura heroica da realização
vocacional, longo processo de florescimento de nossos talentos
naturais e singulares.
Por outro lado, falando do problema de Jonas com relação à tensão
entre o trágico e o trivial, Arthur Koestler[112] afirma que o simples
mortal passa praticamente toda a sua existência no plano banal,
exceto em algumas ocasiões excepcionais, como durante as
turbulências da puberdade ou numa aventura passional ou no
confronto com a morte, quando acontece a súbita queda no abismo
do trágico. Para Koestler, a força dos hábitos e das convenções nos
aprisiona nas correntes quase imperceptíveis do fator trivial, tal
dinâmica transcorrendo no nível subconsciente. “São as normas
coletivas, os códigos de conduta, as matrizes axiomáticas que
determinam as regras do jogo e nos fazem avançar quase todos,
quase sempre, nos traços do hábito, reduzindo-nos ao estado de
autômatos bem vestidos, que os behavioristas apresentam como a
verdadeira condição do ser humano”, sustenta o autor, traçando um
resumo muito perspicaz da normose.
O que nos evoca os heróis do romance de formação, centrado nas
trilhas contínuas de aprendizagem e de desenvolvimento de si, é o
percurso iniciático indispensável em direção a uma plena realização
do potencial humano, que solicita a lúcida ousadia de transgredir a
enfermidade do trivial e da mediocridade, ou seja, a normose.
Confrontar-se e ousar um voo além da normose é imprescindível e
representa o desafio árduo da aventura evolutiva, no processo
heroico e imperativo do indivíduo assumir a condição de autoria,
como o sujeito da própria existência.
Enfim, pela cisão ocorrida entre a ciência moderna e a consciência,
o sentido e a complexidade do real, que ocorreu no século XVII,
com o agravamento do “big bang disciplinar” e o cientificismo do
século XIX – fundado sobre a crença simplista que um só tipo de
conhecimento é detentor das vias de acesso à realidade – num
momento obscuro da modernidade o sujeito se degenerou em
objeto. Esta é a grande importância da abordagem biográfica que,
por sua própria natureza, representa o retorno do sujeito ao cerne
da pesquisa científica. Por outro lado, a atitude transdisciplinar
significa um acordo e uma sinergia entre o sujeito e o objeto, a
partir do pressuposto de um processo de integração e de
harmonização entre o espaço exterior da efetividade e o espaço
interior da afetividade, entre o saber e o ser.
A construção do sujeito e a conquista da paz são como dois olhares
de um mesmo semblante: o de um ser humano em marcha, rumo à
utopia realizável de uma completude sempre inacabada.
 XI – BIBLIOGRAFIA

 Fascinante Construção do Eu
Como desenvolver uma mente poderosa capaz de resistir aos desafios de uma vida
stressante
CURY, AUGUSTO

Imagine que vai a conduzir e de repente perde o controlo do carro, sem o conseguir fazer parar...
Terrível, não é? Agora imagine que era esse veículo. Quantas vezes os seus pensamentos
entraram numa espiral que não conseguiu controlar? Quantas vezes quis "parar" (uma
discussão, palavras irrefletidas) e o seu "travão" simplesmente deixou de funcionar? Augusto
Cury, o autor de Pais Brilhantes, Professores Fascinantes, sabe que o "Eu" que nos comanda a
vida, que nos guia a cada passo, muitas vezes precisa ele próprio de ser guiado. O processo de
formação da nossa personalidade leva a que acumulemos memórias traumáticas. E estas, por
sua vez, dão origem a obstáculos inconscientes que mais tarde ou mais cedo aparecem no
caminho, impedindo-nos de progredir. A Fascinante Construção do Eu mostra-nos como revisitar
essas memórias em vez de fugir delas, como treinar a nossa mente para enfrentar as
dificuldades - e como impedir que, enquanto pais, deixemos nos nossos filhos marcas
semelhantes.

Dr. Augusto Cury é médico psiquiatra, psicoterapeuta, cientista e escritor, sendo um dos
autores mais publicados no mundo inteiro. As suas obras estão presentes em cerca de 60
países e foi considerado o mais lido na última década no Brasil, pelo jornal Folha de S. Paulo e
pela revista Isto É. Os mais de 30 livros que escreveu já ultrapassaram os 16 milhões de
exemplares vendidos, só no Brasil. Ao longo de mais de 20 mil sessões de trabalho de
psicoterapia, desenvolveu uma teoria inovadora sobre o funcionamento da mente, os fenómenos
conscientes e inconscientes e a formação dos pensamentos e de pensadores, que é objeto de
um doutoramento e de um mestrado nos EUA e em Espanha e de pós-graduações no Brasil.
Desenvolveu a inédita metodologia da Escola da Inteligência, para o desenvolvimento das
funções mais complexas da inteligência, da promoção da saúde emocional

É muito satisfatório quando vemos algo que sabíamos intuitivamente ser comprovado pela
ciência. Tive a sensação ao ler esse livro, que se trata da terapia centrada no cliente.
Basicamente, é a ideia de que a aceitação completa e sem julgamentos do cliente por seu
terapeuta é o que produz o resultado terapêutico. E que resultado é esse? Um indivíduo que se
aceita, mais flexível, mais aberto à experiência e mais confiante sobre suas intuições. No
entanto, esse livro não parece ser relevante apenas para psicoterapeutas e profissionais da
saúde mental; Carl Rogers mostra que esse efeito terapêutico pode se dar em qualquer relação
humana em que hajam as condições adequadas para isso.
Interessante ver como a aceitação que outro indivíduo tem por nós produz em nós mesmos uma
situação de auto-aceitação, e consequente redução das defesas psíquicas que nos impedem de
evoluir. Ainda bem que o autor não temeu por suas ideias à prova do crivo rigoroso da ciência -
concordo com ele quando diz que as ciências da mente ainda têm muito a evoluir e temos muito
a estudar/desenvolver nessa área.
A princípio, eu daria quatro estrelas para esse livro, por em alguns momentos ter me dado a
sensação de que o autor já tinha dito tudo o que gostaria, e que depois seriam apenas as
mesmas ideias repetidas várias vezes. No entanto, quando li os capítulos que tratam das
aplicações de suas ideias na educação, na criatividade e no condicionamento de comportamento
enquanto ferramenta de controle, fiquei encantada. Rogers traz artigos e comprovações
científicas de que a aprendizagem se dá melhor quando os indivíduos estão pessoalmente
interessados naquilo que estão estudando, que a criatividade flui num indivíduo que aceita
plenamente seus sentimentos, e também faz considerações muito pertinentes sobre como todo
esse conhecimento sobre psicoterapia pode ser utilizado para libertar as pessoas, ou para
escravizá-las (dependendo de quem terá esse conhecimento em mãos e o poder para aplicá-lo).
Para mim, esses capítulos por si só já valeram as cinco estrelas que dei ao livro.
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 minha estante
Yoda08/12/2010

Muito técnico
Quando recebi referências sobre o livro achei que ele poderia acrescentar algo em meus
conhecimentos. Na leitura do primeiro capítulo achei o conteúdo interessante, mas a partir do
segundo capítulo tornou-se técnico demais, realmente voltado a psicoterapeutas, para mim a
leitura tornou-se maçante e percebi que o que eu buscava com o livro deixou de existir, por isso
o abandonei.

De forma alguma achei o livro ruim, achei apenas que, para mim, ele não serviu.
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Golbery 09/05/2017minha estante
Isso é bem curioso. Sendo profissional da área, eu achei o livro um tanto superficial e nada
técnico em alguns momentos. Técnico mesmo é o livro "Terapia Centrada no Cliente", do mesmo
autor. Para mim o "Tornar-se Pessoa" foi um livro suave, fácil de ler.

Gostei do seu comentário porque eu tinha sugerido a leitura do "Tornar-se Pessoa" a uma amiga
que não é da área. Talvez eu tenha errado na minha sugestão de leitura.

Jadson Alves 08/02/2018minha estante


Parabéns pela sinceridade.

Cristian 28/05/2018minha estante
A honestidade desse seu relato é muito bom. Obrigado por compartilhar sua perspectiva.




 minha estante

Cacau26/01/2021

Livro maravilhoso!
Em 2017 eu tive meu primeiro contato com Kierkegaard em um grupo de estudos e li O
Desespero Humano. Nesse mesmo grupo de estudos eu fiquei sabendo de uma abordagem da
Psicologia que foi concebida com inspirações kierkegaardianas e isso despertou em mim uma
vontade de saber mais sobre ela.

Essa era a Abordagem Centrada na Pessoa de Rogers, e quatro anos se passaram até que
chegasse a minha hora de ler o livro, comprado com a sede que aquele grupo de estudos havia
me deixado por conhece mais a respeito. E aqui estou acabando hoje esta leitura, que me
despertou tanto para novos olhares sobre a minha vida e o fazer da psicoterapia, que fica muito
difícil mensurar tanto.

O que eu mais gostei na leitura, é como Carl Rogers se implica na coisa, sabe? Como ele se
coloca como parte do processo, como ele joga fora qualquer teoria sobre neutralidade. Ele
entende que o Tornar-se Pessoa, todos esses artigos e palestras ministradas, não existe/existiria
sem a existência da pessoa dele. Foi o processo dele, de buscar ?ser quem se é no mundo? que
tornou possível e mais real o trabalho que ele realizava com seus clientes na clínica, com seus
alunos, com os grupos, e em todas as suas relações.

É bonita a coragem que ele tem de falar sobre aquilo que comprovadamente ele confirmou por
meio das pesquisas, ele não teme as opiniões fortes daquela época que diziam o contrário sobre
a sua teoria. E eu cheguei até mesmo a me emocionar, quando em certo momento ele diz que
não se importa com o que quer que os outros o acusem, pois a pessoa cuja opinião positiva ele
mais contava era ele mesmo.

Esse livro vai falar ao coração de qualquer pessoa que queira iniciar uma jornada na Psicologia
Humanista. Mas, na minha opinião, poderia ser muito importante para qualquer pessoa que
queira ser um psicoterapeuta um dia. Ainda sim, não o considero como leitura apenas para
profissionais da Psicologia ou estudantes da área, acho que gostar de saber mais sobre a
filosofia humanista e a existencial, sobre a relação professor-aluno, relações familiares, e sobre a
própria existência no mundo e as relações que nos são próprias, implica em provavelmente
apreciar muito a leitura deste.
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Bruna02/02/2018

Resumo
Rogers valoriza o auto-entendimento antes de firmar uma relação de ajuda com outra pessoa.
Não se fixa à modelos teóricos, o principal é se colocar no lugar do paciente.
A relação criada é a de ajuda, usando os recursos latentes do paciente, ou seja, ele já tem todo
o potencial para a melhora, o terapeuta só vai caminhar junto com ele. Essa relação promove
crescimento, desenvolvimento, maturidade, melhor funcionamento e maior capacidade de
enfrentar a vida.
Numa relação de ajuda a aceitação democrática do outro favorece o crescimento, já a
rejeição ativa retarda o desenvolvimento. Essa relação de aceitação é um interesse sem
desejo de posse. O principal é ter o sentimento de confiança no terapeuta, sentir-se
compreendido e sentimento de independência por ter liberdade para escolher. O paciente vai
ficar com desejo de compreender a ele mesmo.
Rogers julga os conselhos desfavoráveis ao paciente.
A qualidade afetiva dessa relação está ligada à simpatia e respeito. A atitude e os sentimentos
do terapeuta são mais importantes do que a orientação teórica.

O terapeuta também tem que ser ele mesmo, autêntico, e se desenvolver junto com o paciente.
Tem que ter atitudes de calor, atenção, afeição, interesse e respeito. Ser forte para ser
independente do outro e não se misturar com ele. tem que entrar no universo da pessoa tão
inteiramente que deixe de fazer julgamentos. Tem que aceitar o paciente como ele é. Tem que
ter um comportamento não ameaçador. Tem que libertar o paciente do medo de ser julgado
pelos outros. Tem que ver o paciente como uma pessoa em processo de transformação.

Consideração positiva incondicional - aceitar realmente o paciente. Ela é a ferramenta que


produz um estado de acolhimento no paciente e por consequência fica mais fácil de expor seus
sentimentos e pensamentos conflitantes à ele mesmo. No momento inicial da terapia o paciente
se vê e se expõe como alguém diferente da experiência que o incomoda (sentimentos,
conflitos...). Isso é o que ele chama de experiência imediata do eu potencial: é como se o
paciente estivesse descobrindo peça por peça do seu quebra cabeças interno, apreciando e as
entendendo, sem o compromisso de juntá-las.
Com o tempo ele irá perceber que há mais coisas no seu mundo interno do que estava disposto
a admitir e poderá (com a ajuda da aceitação) se ver como um todo, como uma pessoa com
virtudes e defeitos, com uma satisfação tranquila de ser ele mesmo.
E no processo terapêutico não é imposto nada de estruturas teóricas ou soluções pré-protas, é o
próprio paciente que vai se percebendo sozinho com ajuda do terapêuta que faz um papel de
"espelho" para ele.

Existem 7 estágios do processo de psicoterapia humanista:

1- O cliente recusa a falar de si mesmo e se resume a falar do que é exterior à ele. Os seus
sentimentos e seus significados não são conhecidos por ele e nem mencionados. Não existe o
desejo de mudança. A relação entre o cliente e o terapeuta são encaradas como perigosas.
Existem bloqueios na sua comunicação interna, seu mundo interior ainda não é visto por ele.
Está imóvel e tem uma visão preto e branco das coisas.

2- Conforme ele experimenta o clima de aceitação incondicional, começa a falar com mais
fluência sobre as questões que o trouxeram à terapia mas ainda como se fosse externo à ele.
Trata seu sentimento como objeto remoto, os trata como se não pertencessem a si mesmo. Fala
das suas questões como se estivessem no passado. Na sua percepção as coisas são como são
e não se pode muda-las. Ainda trata sua experiência como branco e preto, com um sentido
absoluto. As contradições já são expressas, mas com um pequeno reconhecimento de que elas
são contradições.

3- Já consegue falar livremente de si mesmo e se vê como objeto. Começa a comunicar os


sentimentos e significados pessoais para suas experiências, mas ainda como algo afastado do
eu. Já começa a perceber que a sua percepção do mundo não é regra universal, e sim a sua
própria percepção. Véê suas contradições com mais clareza. Pode experimentar frustração pois
a sua decisão de atuar de um novo modo não condiz com o seu comportamento.

4 - Já fala sobre sentimentos mais intensos mas eles são conjugados no passado. Os outros
sentimentos são descritos como se estivessem no presente, mesmo assim sente um pouco de
medo de se exprimir. Alguma aceitação destes sentimentos já se manifesta, mas não de forma
completa. As experiências são descritas como estando no presente e as vezes com um ligeiro
atraso. Já percebe incongruências entre o eu e a sua experiência assim já começa a tomar
responsabilidade sobre as questões, mais ainda com uma certa cautela. A relação com o
terapeuta ainda lhe parece perigosa, mas está disposto a investir nela suas emoções.

5 - Narra os sentimentos no presente, ou então estão prestes a serem experimentados no


presente por ele. Já atina que o sentimento é de sua autoria, e quando estes emergem fica
surpreso e receoso, raramente sente prazer. Tende à querer nomear com exatidão sobre o que
está sentindo. Quer viver seu verdadeiro eu. A experiência chega mais perto do presente. Há
muitas descobertas pessoais (insights) e discussão sobre eles. Está mais pronto a aceitar suas
contradições. A sua comunicação interna aumenta.

6- O sentimento bloqueado é experimentado no agora de uma forma imediata e com toda a


riqueza de detalhes, flui para o seu fim pleno, ou seja, é digerido. Isso denota que seus
conteúdos estão sendo aceitos. A experiência não é mais um objeto, mas sim algo que vem de
dentro dele, assim como seu próprio eu. Vê as coisas como elas são e o momento que vive essa
clareza se torna uma referência. Seu corpo se mostra mais relaxado. A comunicação interior não
tem mais bloqueios.

7-

O objetivo deste livro é o de compartilhar convosco algo da minha experiência - alguma coisa de
mim. Aqui está um pouco daquilo que experimentei na selva da vida moderna, no território
amplamente inexplorado das relações pessoais. Aqui está o que vi. Aqui está aquilo em que
comecei a acreditar. Foi esta a forma como tentei verificar e pôr à prova aquilo em que acreditava.
Aqui estão algumas das perplexidades, questões, inquietações e incertezas que tive de enfrentar.
Espero que o leitor possa encontrar neste livro que lhe é dedicado algo que lhe diga respeito.

A apreciação dos outros não me serve de guia. Apenas uma pessoa pode saber que eu procedo
com honestidade, com aplicação, com franqueza e com rigor, ou se o que faço é falso, defensivo e
fútil. E essa pessoa sou eu mesmo.

Sinto-me mais feliz simplesmente por ser eu mesmo e deixar os outros serem eles mesmos.

A vida, no que tem de melhor, é um processo que flui, que se altera e onde nada está fixado.

Nas minhas relações com as pessoas descobri que não ajuda, a longo prazo, agir como se eu fosse
alguma coisa que eu não sou.

Atribuo um enorme valor ao fato de poder me permitir compreender uma outra pessoa.

É sempre altamente enriquecedor poder aceitar outra pessoa.


À medida que um indivíduo se torna capaz de assumir sua própria experiência, caminha em
direção à aceitação da experiência dos outros. Ele aprecia e valoriza tanto sua experiência como a
dos outros por aquilo que elas são.

Quanto mais aberto estou às realidades em mim e nos outros, menos me vejo procurando, a todo o
custo, remediar as coisas.

Verifiquei que me enriquece abrir canais através dos quais os outros possam comunicar os seus
sentimentos, a sua particular percepção do mundo.

Descobri que sou mais eficaz quando posso ouvir a mim mesmo aceitando-me, e quando posso ser
eu mesmo. ... Julgo que aprendi isto com meus clientes, bem como através da minha experiência
pessoal - não podemos mudar, não podemos afastar do que somos enquanto não aceitarmos
profundamente o que somos.

A experiência mostrou-me que as pessoas têm, fundamentalmente, uma orientação positiva. ...
Acabei por me convencer de que quanto mais um indivíduo é compreendido e aceito, maior
tendência tem para abandonar as falsas defesas que empregou para enfrentar a vida, e para
progredir num caminho construtivo. 

Sobre a Abordagem Centrada na Pessoa:

A hipótese central da abordagem centrada na pessoa é a de que o indivíduo possui dentro de si


mesmo vastos recursos para a auto-compreensão e para alterar o seu auto-conceito, suas atitudes
básicas e seu comportamento auto-dirigido, e estes recursos podem ser liberados se um clima
definido de atitudes psicológicas facilitadoras puder ser oferecido.

Na terapia o indivíduo torna-se verdadeiramente um organismo humano, com todas as riquezas


que isso implica. Ele é realmente capaz de se controlar a si próprio e está incorrigivelmente
socializado nos seus desejos. E isto não é a besta do homem. Apenas existe homem no homem, e
foi este que nós tornamos capaz de se libertar.

Página inicialHumanismoFrases de Carl Rogers

Frases de Carl Rogers


Carl Ransom Rogers (1902-1987) foi um psicólogo estadunidense que desenvolveu
a Abordagem Centrada na Pessoa (ACP). Descontente com as abordagens reducionistas,
mecanicistas e diretivistas em Psicologia, como o Comportamentalismo e a Psicanálise, ele
propõe uma relação não-hierárquica entre pessoa atendida e terapeuta, negando a ideia de que
toda pessoa possuía uma neurose básica, acreditando que o ser humano tende à saúde e ao bem-
estar. Sua proposta terapêutica tem como embasamento a concepção humanista em psicologia.
 "É sempre altamente enriquecedor poder aceitar outra pessoa."

"Não podemos afastar do que somos enquanto não aceitamos profundamente o que somos."

"Sinto-me mais feliz simplesmente por ser eu mesmo e deixar os outros serem eles mesmos."

"O que serei e o que farei no momento seguinte é algo que brota do próprio momento e não pode
ser previsto."

"Nenhuma ideia criada por outra pessoa ou por mim tem tanta autoridade quanto a minha
experiência."

"Todo individuo existe num mundo de experiências em constante mutação, do qual ele é o
centro."

"A vida, no que tem de melhor, é um processo que flui, que se altera e onde nada está
paralisado."

"Descobri que sou mais eficaz quando posso ouvir a mim mesmo aceitando-me, e quando posso
ser eu mesmo."

"O indivíduo representa um processo digno do mais profundo respeito, tanto pelo que é, como
pelas suas potencialidades."

"Nas minhas relações com as pessoas descobri que não ajuda, a longo prazo, agir como se eu
fosse uma coisa que não sou."

"Verifiquei que me enriquece abrir canais através dos quais os outros possam comunicar os seus
sentimentos, a sua particular percepção do mundo."

"Ser empático é ver o mundo com os olhos do outro e não o nosso mundo refletido nos olhos
dele."

"O resultado da terapia é tornar-se uma pessoa autônoma, capaz de ser o que é, e de escolher o
seu caminho."

"O ser humano tem a capacidade, latente ou manifesta, de compreender-se a si mesmo e resolver
seus problemas de modo suficiente para alcançar a satisfação e eficácia necessárias ao
funcionamento adequado." 
"Estarei vivendo de uma maneira que é profundamente satisfatória para mim e que me expressa
verdadeiramente? Esta talvez seja a pergunta mais importante para o indivíduo criativo."

"Quanto mais um indivíduo é compreendido e aceito, maior tendência tem para abandonar as
falsas defesas que empregou para enfrentar a vida, e para progredir num caminho construtivo."

"A apreciação dos outros não me serve de guia. Apenas uma pessoa pode saber que eu procedo
com honestidade, com aplicação, com franqueza e com rigor, ou se o que faço é falso, defensivo e
fútil. E essa pessoa sou eu mesmo."

"À medida que um indivíduo se torna capaz de assumir sua própria experiência, caminha em
direção à aceitação da experiência dos outros. Ele aprecia e valoriza tanto sua experiência como
a dos outros por aquilo que elas são."

"Julgo ser evidente que uma pessoa que estivesse plenamente aberta a cada experiência nova,
completamente desprovida de uma atitude defensiva, viveria cada momento da sua vida como
sendo novo."

"Percebo que se fosse estável, prudente e estático, viveria na morte. Portanto, aceito a confusão,
a incerteza, o medo e os altos e baixos emocionais, porque esse é o preço que estou disposto a
pagar por uma vida fluida, rica e excitante."

"Gostar da pessoa pelo que ela é, deixando de lado as expectativas do que quero que ela seja,
deixando de lado meu desejo de adapta-la às minhas necessidades, é uma maneira muito mais
difícil, porém mais enriquecedora de viver uma relação íntima satisfatória."

"Saber realmente o que está acontecendo dentro de mim não é uma coisa simples, mas tenho me
sentido encorajado a fazê-lo, pois percebo que durante todos esses anos esta minha capacidade
tem melhorado. Estou convencido, no entanto, de que esta é uma tarefa para toda a vida e que
nenhum de nós jamais está totalmente apto a entrar em contato, sem dificuldades, com o que está
acontecendo no cerne de nossa própria experiência."

"As pessoas são tão belas quanto um pôr do sol quando as deixamos ser. De fato, talvez
possamos apreciar um pôr do sol justamente pelo fato de não o podermos controlar. Quando
aprecio um pôr do sol não me ponho a dizer: diminua um pouco o tom de laranja no canto
direito, ponha um pouco mais de vermelho púrpura na base e use um pouco mais de rosa naquela
nuvem. Não faço isso. Não tento controlar um pôr do sol. Olho com admiração a sua evolução."
"Um dos princípios fundamentais que levei muito tempo para reconhecer e que ainda continuo a
aprofundar é a descoberta de que, quando sinto que uma atividade é boa e que vale a pena
prossegui-la, devo prossegui-la. Em outras palavras, aprendi que a minha apreciação
'organísmica' total de uma situação é mais digna de confiança do que o meu intelecto. Durante
toda a minha vida profissional fui levado a seguir direções que pareciam ridículas aos outros e
sobre as quais eu mesmo tinha muitas dúvidas. Mas nunca lamentei seguir as direções que eu
'sentia serem boas', mesmo se freqüentemente experimentasse por algum tempo uma sensação de
isolamento ou de ridículo."

"Seria bastante enganoso supor que o ser humano se move tranquilamente na direção do
aperfeiçoamento e do crescimento. Talvez fosse mais correto dizer que o ser humano move-se, em
meio a lutas e dores, na direção do aperfeiçoamento e do crescimento. O processo como um todo
pode ser simbolizado e ilustrado pela criança aprendendo a andar. Os primeiros passos
envolvem esforço e, normalmente, dor. Com frequência é verdade que a recompensa imediata
pelo fato de conseguir dar alguns passos não é, de forma alguma, equivalente à dor das quedas e
batidas. A criança pode, por causa da dor, voltar a engatinhar por algum tempo. No entanto, na
imensa maioria dos indivíduos, a direção para frente do crescimento é mais poderosa do que as
compensações de permanecer infantil." 

O fato de viver em sociedade, inevitavelmente, nos faz criar laços com os


demais. Este tipo de vínculo é conhecido como relações interpessoais.
O conceito relações interpessoais pode ser abordado através de duas
perspectivas: uma individual e outra coletiva.

Como abordar as relações interpessoais do ponto de vista


pessoal
Uma pessoa pode ser muito inteligente, ter vários estudos e alto poder
aquisitivo, mas não ter boa relação com os demais. Alguns especialistas
sobre a conduta humana enfatizam a inteligência emocional e a empatia como
elementos imprescindíveis para que as relações com os demais sejam
satisfatórias.
Neste sentido, podemos mencionar quatro atitudes pessoais para otimizar as
relações interpessoais. A primeira seria elogiar a inteligência do outro como
sinceridade e espírito positivo. Em segundo lugar, deve-se potencializar uma
atitude pessoal otimista sem renunciar o realismo. Em terceiro lugar, é
importante escutar o próximo com interesse, da mesma maneira que
gostaríamos de ser escutados. Por último, é recomendável promover
a expressão pessoal através do tom de voz, dos gestos e da postura corporal
para reafirmar de vez a comunicação.

As relações interpessoais do ponto de vista social


Os sociólogos estudam o comportamento dos grupos humanos e os
mecanismos destas relações interpessoais. Assim, há vínculos baseados
na hierarquia onde uns mandam e outros obedecem, como mostra as forças
militares. Existem relações baseadas na igualdade, por exemplo, as relações
entre vizinhos ou entre um grupo de amigos.
Por outro lado, não devemos esquecer que um único indivíduo possui vários
tipos de relações em sua vida cotidiana, por exemplo, a mesma pessoa trata
seus amigos de igual por igual, tem um chefe que deve obedecer e ao mesmo
é membro diretivo de uma associação. Estas diferenças são conhecidas
como papel social, este que é desempenhado em uma coletividade. O papel
do indivíduo depende de uma série de fatores combinados: sexo, etnia, poder
aquisitivo, cultura e nacionalidade.
Por último, vale destacar que o conceito relações interpessoais é
eminentemente mutável. Há décadas o número de pessoas conhecidas com
as quais nos relacionamos era bastante limitado, atualmente com as redes
sociais nossos laços e relações se multiplicaram de maneira significativa. As
redes sociais têm mudado o conceito clássico das relações interpessoais,
uma vez que o mundo virtual introduziu novas regras deste jogo entre os seres
humanos

Comunicação Assertiva - Conceito, e o que é


A comunicação assertiva é baseada em uma atitude pessoal positiva na hora de se
relacionar com os demais e consiste em expressar opiniões e avaliações evitando
desqualificações, reprovações e enfrentamentos. Isto mostra que a comunicação
assertiva é o meio adequado para interagir com as pessoas.

Uma das chaves para estabelecer boas relações pessoais e


profissionais
Cria-se uma comunicação assertiva quando se expressa uma mensagem em que as
palavras e os gestos transmitem clareza e, ao mesmo tempo, uma atitude de empatia
com o interlocutor. Em outras palavras, trata-se de comunicar as próprias ideias de
maneira sincera, criando um clima positivo e sem conflitos.
Para que a comunicação assertiva seja possível é necessário controlar as emoções, de
maneira que se evitem tanto as atitudes agressivas como as submissas ou passivas.
Neste sentido, a agressividade na comunicação é uma fonte de conflitos, assim como a
atitude submissa é prejudicial, por exemplo, a comunicação submissa seria dar razão
ao outro e não defender sua própria posição a fim de evitar um possível enfrentamento
verbal.

A utilidade da comunicação assertiva


Quando nos comunicamos temos em mente algum objetivo específico, por exemplo,
convencer nosso interlocutor, dar uma ordem a um subordinado ou sugerir uma ideia a
um grupo de amigos. A assertividade é útil em qualquer circunstância da comunicação.
Isto mostra quando levamos em conta todos os aspectos negativos relacionados à
comunicação não assertiva.

Deve-se entender a comunicação assertiva como uma ferramenta que permite otimizar
as relações humanas. Nesta linha de pensamento, os especialistas em comunicação
consideram que a assertividade depende em boa parte da inteligência emocional de
cada indivíduo.

A comunicação assertiva e as relações de poder


Entre dois amigos ou dois colegas de trabalho, a comunicação assertiva deveria ser
uma norma comum, pois neste tipo de relação não há um indivíduo que tenha uma
característica superior ao outro, mas que ambos se encontrem num mesmo plano
de igualdade. Entretanto, nas relações entre um chefe e um subordinado, a
comunicação assertiva pode ser interpretada de maneira inadequada ou inclusive uma
fonte de conflitos.
Nas relações de poder, as pessoas envolvidas não se encontram num plano de
igualdade e esta circunstância dificulta a comunicação assertiva. O mais comum na
maioria dos casos é o subordinado não dizer ao chefe o que realmente pensa.
Antivalores - Conceito, e o que é
Assim como existem alguns valores morais que são o princípio da ação correta e que
ajudam a diferenciar entre o bem e o mal do ponto de vista ético, podemos também
levar em consideração que existem alguns valores que têm o efeito contrário e que
mostram com clareza as ações incorretas. Existem exemplos de valores morais como a
generosidade, o respeito, a honestidade e a tolerância. Mas há também outros
exemplos de antivalores como a mentira, a traição, a infidelidade, o egoísmo, a
deslealdade, etc. São valores que mostram ações imorais que qualquer ser humano
pode cometer em algum momento de sua vida.
Os antivalores são contrários à dignidade da natureza humana, uma vez que todo ser
humano deve superar-se através da prática da virtude realizando o bem. Quando
uma pessoa age em consonância com algum antivalor significa que ela está atuando
abaixo de suas possibilidades.
Uma pessoa que age sob o efeito dos antivalores por muitas vezes é uma pessoa fria e
sem escrúpulos que não mede as consequências de seus atos. Pelo contrário, uma
pessoa de moral mede suas atitudes. Os antivalores causam rejeição e é motivo de
evasão nas pessoas.
Dentro da sociedade existem alguns antivalores que podem interferir nas relações
pessoais:
1. A desonestidade mostra uma atitude de traição em relação à outra pessoa com a qual
existe um vínculo de confiança. Um gesto desonesto quebra essa confiança de forma
pontual como resultado de uma atitude concreta. Dentro do contexto do
relacionamento de um casal, uma mentira é um ato de desonestidade.
2. A arrogância mostra a atitude de soberba e prepotência que tem uma pessoa em
suas relações interpessoais ao ponto de comportar-se como se estivesse acima do
outro. Na linha do orgulho, temos a presunção e soberba, atitudes que rompem o
esquema de igualdade nas relações interpessoais.
3. O ódio é um sentimento prejudicial a si mesmo para quem sofre porque odiar
alguém é desejar o mal dessa pessoa. Vale ressaltar que o ódio produz uma enorme
descarga de energia negativa. O ódio é diferente da inveja, uma vez que aquele que se
sente inveja sofre de tristeza com a felicidade do outro, mas não deseja o mal dessa
pessoa. Entretanto, a inveja também é um antivalor, tanto que é contrária ao amor.
Um estudo da Delta State University concluiu que um relacionamento
interpessoal positivo no trabalho promove uma variedade de resultados
benéficos para indivíduos e que intervenções de gestão podem ser
fundamentais para promover amizades no trabalho, iniciando atividades
sociais dentro e fora do local de trabalho. Entenda mais:

O que é?
Quando falamos de relacionamento interpessoal no
trabalho entendemos a união de vários indivíduos dentro do ambiente
corporativo. É comum que essa relação se desenvolva entre profissionais
que trabalhem em uma mesma organização ou façam parte de um
mesmo time.

“Normalmente o relacionamento interpessoal no trabalho ocorre em


empresas de médio e grande porte, em função do maior número de
pessoas que integram um sistema de trabalho. As pessoas costumam se
aproximar por empatia, fator importante para o relacionamento interpessoal
no trabalho e também para a colocação do individuo no mercado”, explica
o psicólogo Marcelo Tozato.

Quer se sentir mais  seguro  em conversas difíceis e desenvolver seu poder


de  influência? Conheça o curso Comunicação Interpessoal Na Prática!
Por meio do relacionamento interpessoal no trabalho, profissionais
conseguem mais facilmente feedback honesto, apoio durante momentos de
crise, uma divisão melhor das tarefas do trabalho e melhora do clima
organizacional.

Quais fatores que influenciam essas relações?


Em geral, os profissionais que desenvolvem relacionamento interpessoal
no trabalho são pessoas que possuem metas e objetivos em comum. Eles
compartilham os mesmos interesses, possuem a mesma linha de raciocínio
ou vêm de backgrounds parecidos.

“A linguagem verbal e não verbal e o saber ouvir são condições


importantíssimas para se estabelecer o vínculo e fortalecê-lo.
A liderança tem um papel muito importante neste caso, onde deve se
estabelecer por respeito e admiração. Um relacionamento interpessoal no
trabalho forte é aquele que, independentemente de posição ou cargo na
empresa, se estabelece por empatia e equilíbrio”, ressalta o profissional.

Leia também: O que é comunicação interpessoal?


Marcelo Tozato ainda afirma que o departamento de recursos
humanos das empresas tem um papel relevante para a construção do
relacionamento interpessoal no trabalho. “Depende desses profissionais
proporcionar a aproximação dos colaboradores, fortalecendo laços,
alinhando e fortalecendo valores e elaborando projetos que vincularão e
fortalecerão o vinculo interpessoal”.

Fases do relacionamento interpessoal


Os relacionamentos interpessoais são dinâmicos e passam por constantes
mudanças, mas também tem uma vida limitada, com começo, meio e fim.
Um dos maiores estudiosos do assunto, o psicólogo alemão George
Levinger propôs um modelo de desenvolvimento de relacionamento que
passa por cinco etapas:

Conhecimento
É o primeiro contato que se tem com a pessoa, o que depende de relações
anteriores, proximidade física, primeiras impressões, entre outros fatores.
Caso haja conexão e afinidade, os indivíduos podem continuar a se
encontrar e ir para a próxima etapa para a construção de um
relacionamento interpessoal, mas a fase de conhecimento também pode
ser bastante duradoura.

Construção
A partir desse momento, as pessoas começam a desenvolver um laço de
confiança e se importar umas com as outras. Isso se baseia em uma
necessidade de proximidade e de estar com outros que compartilham seus
interesses e motivações.
Leia também: Você é mais tímido ou introvertido? Entenda a diferença!

Continuação
Essa fase depende de um compromisso mútuo de construir um
relacionamento interpessoal de longo prazo. Costuma se estender por
muito tempo e ser estável.

Deterioração
Nem todas as relações acabam se desfazendo, mas as que sim costumam
apresentar sinais como insatisfação, tédio e ressentimento. As pessoas
tendem se comunicar menos e deixar de revelar alguns aspectos da sua
vida. Alguns relacionamentos interpessoais podem se reconstruir e outros
podem acabar.

Finalização
A fase final do relacionamento que pode ocorrer por término, morte ou
distanciamento.
Construindo fortes relacionamentos interpessoais
no trabalho

#1 Pratique a escuta ativa


A escuta ativa é o ato de receber uma mensagem, de forma focada,
interpretando com atenção as informações recebidas. Pode ser praticada
em uma reunião, conversa casual ou em troca de feedback. Quem escuta
deve desenvolver um interesse genuíno no que é falado e criar uma
comunicação clara e efetiva com os colegas, o que ajuda a fortalecer um
bom relacionamento interpessoal no trabalho.

#2 Mantenha uma atitude positiva


Atitudes positivas são bases importantes para bons relacionamentos,
inclusive dentro do ambiente de trabalho. Para isso, desenvolver
habilidades como empatia, comunicação efetiva, cooperação e respeito
podem contribuir para conexões mais profundas e verdadeiras.

#3 Seja respeitoso
Qualquer ambiente conta com pessoas distintas que podem apresentar
pensamentos diferentes e divergência de valores. No ambiente de trabalho,
especialmente, é preciso trabalhar para ser tolerante e aberto às diversas
perspectivas que venham a ser apresentadas, mostrando respeito pelos
colegas e seus históricos. Você pode aprender muito com as diferentes
visões de mundo e melhorar suas habilidades em relacionamentos
interpessoais.

#4 Esteja aberto a críticas e feedbacks


Um dos pontos positivos do relacionamento interpessoal é obter outras
perspectivas, seja de como as pessoas te enxergam, aspectos para
melhorar, oportunidades, fraquezas e pontos fortes. Aproveita essas
relações para entender melhor como você é visto e buscar
o autoconhecimento e autodesenvolvimento.
#5 Estabeleça limites
Apesar de os relacionamentos interpessoais serem muito importantes no
ambiente de trabalho, é preciso se manter profissional em termos de foco e
produtividade. É difícil dissociar a vida pessoal da profissional, mas
também precisamos de um espaço exclusivo para nossa individualidade.
Isso não significa ser grosseiro ou evitar colegas, apenas saber os
momentos certos para dialogar.

Justamente por isso, é essencial estabelecer um bom relacionamento com os colegas de


trabalho, impedindo que a convivência se torne desgastante e mantendo o ambiente
sempre profissional e positivo. Todas as pessoas gostam de ser recebidas com um sorriso e
um “bom dia”.

Como conseguir um bom relacionamento no ambiente de trabalho

.
 
Como conseguir um bom relacionamento no ambiente de trabalho
Em geral, as pessoas passam mais tempo nas empresas em que trabalham do que em suas
casas, com a família ou com os amigos. Justamente por isso, é essencial estabelecer um bom
relacionamento com os colegas de trabalho, impedindo que a convivência se torne
desgastante e mantendo o ambiente sempre profissional e positivo.
 
Dicas de relacionamento no trabalho

Algumas atitudes simples são capazes de transformar positivamente o ambiente de trabalho,


tornando-o muito mais produtivo e positivo. Saiba quais são:
 
Interaja
 
Todas as pessoas gostam de ser recebidas com um sorriso e um “bom dia”. Entretanto, é
comum que a rotina ou o cansaço façam com que os colaboradores esqueçam de
cumprimentar seus colegas de trabalho. Este é um tipo de atitude rude que pode passar uma
impressão negativa.
Faça o possível para sempre tratar a todos com educação e igualdade. Cumprimentar os
colegas é um sinal de respeito, e demonstra que você mantém o caminho aberto para que
haja contato.
 
Aceite as diferenças

As diferenças podem ser um grande problema para os relacionamentos, tanto pessoais


quanto profissionais. Isso porque é muito difícil ter sabedoria e maturidade para aceitar
pessoas que pensam e se comportam de forma diferente da que estamos acostumados.
Porém, é importante aceitar que cada pessoa possui suas verdades e peculiaridades, uma
vez que carregam diferentes histórias, valores e culturas. Aprenda a se colocar no lugar do
outro, e tente compreender os diferentes pontos de vista. Lembre-se: nem sempre o que
você acredita é a verdade única e absoluta.
Tenha iniciativa

Caso perceba que um colega está com alguma dificuldade, não hesite em oferecer ajuda.
Aja com os outros da mesma forma como você gostaria que os outros agissem com você. É
importante construir um ambiente de trabalho colaborativo, em que as pessoas possam
contar umas com as outras. Isso começa por você!
Evite fofocas

Falar mal de outro colega de trabalho é uma das formas mais fáceis de estragar o clima no
ambiente corporativo. Caso façam alguma   fofoca  com você, pense: “Se eu passar essa
informação adiante, as consequências serão positivas ou negativas?”, “Isso pode melhorar ou
piorar o ambiente de trabalho?”. Caso a resposta seja negativa, deixe que a informação
morra em você e não passe adiante.
 
Tenha maturidade
 
Não se faça de vítima e não se magoe facilmente. Caso precise enfrentar algum problema,
faça-o de forma madura, sem lamentações ou frescuras, e não coloque a culpa nos outros.
Baseie-se na realidade, sem criar situações na sua cabeça. Foque apenas na resolução dos
problemas.

Saiba dar e receber feedbacks


 
Para construir um bom relacionamento, é preciso sempre fazer alguns acertos. Por este
motivo, receber e dar feedback  é fundamental. Recebê-los pode ser muito mais difícil, já
que somos muito resistentes às críticas.
Sempre que receber um feedback negativo, pense que ele serve para melhorar seu
rendimento dentro da empresa. Por isso, é importante reconhecer com humildade que
existem alguns pontos para melhoria. Em contrapartida, é preciso ter tato para dar um
feedback: é preciso ser assertivo e objetivo, de modo a promover o crescimento e não criar
mágoas.
8 dicas para um bom relacionamento no trabalho
1. Cumprimente todos os colegas
Ainda que você não seja novo na empresa, cumprimentar os colegas ao chegar e sair do
trabalho transmite simpatia e cordialidade.
Outras palavras-chave também são essenciais para garantir um convívio harmonioso, como
“bom dia”, “por favor” e “obrigado”. Pode parecer banal, mas faz toda a diferença na
forma como os colegas enxergarão você.
2. Evite fazer parte de “panelinhas”
As famosas “panelinhas’, grupos que se formam no ambiente corporativo, são comuns em
quase toda empresa. Entretanto, não é recomendável que você efetivamente faça parte de
um deles.
É claro que é normal ter mais contato com os colegas de departamento, por exemplo, mas é
importante procurar manter contato com todas as pessoas — da recepção à diretoria. Não
entrar em panelinhas também ajuda você a evitar as fofocas e conspirações, atitudes muito
negativas quando se pretende ter um bom relacionamento no ambiente de trabalho.
3. Seja organizado
Independentemente de qual for sua função na empresa, mantenha seu local de trabalho
limpo e organizado. Imagine um ambiente de trabalho completamente desorganizado, sujo
e repleto de papéis e outras coisas inúteis, isso  dificilmente ajudará a mantê-lo motivado
Por isso, é importante ser organizado não para impressionar seu gestor, mas para tornar o
ambiente harmônico, agradável e produtivo.
4. Seja prestativo
Estar disponível para ajudar quando necessário auxilia e muito na construção de um bom
relacionamento no ambiente de trabalho. Se algum colega solicitar uma ajuda, opinião ou
conselho, faça o seu melhor e na medida do possível integre-se em algumas atividades que
possam ajudá-lo a envolver-se no trabalho em equipe.
Essa atitude certamente transmitirá a ideia de que você é solícito e disposto a ajudar no
crescimento e produtividade da empresa.
5. Saiba escutar
Uma atitude fundamental para estabelecer um bom relacionamento no trabalho,
principalmente se a sua posição for de liderança,   é saber escutar o que seu time têm a
dizer. Ouça conselhos e dicas sobre o trabalho e realmente reflita sobre eles. Saber escutar,
mais do que falar, é uma habilidade realmente importante no trabalho, por isso   procure
aplicá-la mais em sua rotina.
6. Seja pontual
Outra atitude nem sempre valorizada é a pontualidade. Procure ser pontual em reuniões, na
rotina da empresa e na entrega de trabalhos. Isso demonstra comprometimento e respeito
com o trabalho e com os outros no setor. Certamente trará pontos a mais para você na
construção de relacionamentos proveitosos no trabalho.
7. Evite falar sobre problemas pessoais
Todos têm problemas pessoais, isso é inegável. Entretanto, evite falar sobre essas questões
pessoais no ambiente de trabalho. Isso pode ser nocivo e os colegas podem ficar
desconfortáveis. Evite também que esses problemas afetem sua produtividade.
Se necessário, fale apenas com seu gestor sobre algum problema mais grave, mas procure
não discorrer muito sobre o assunto com os colegas menos próximos.
8. Jamais crie apelidos para os colegas
Mesmo que a empresa em que você trabalhe possua um ambiente descontraído, de forma
alguma crie apelidos ou piadas sobre seus colegas. Nem todos se sentem confortáveis com
essa situação, e alguns podem não gostar e não dizer nada sobre isso. Assim, evite ser a
pessoa que cria situações inconvenientes no trabalho ou no   happy hour. Isso manchará sua
imagem e dificultará um bom relacionamento com os colegas.
Um bom relacionamento no trabalho depende especialmente de suas atitudes e de seu bom
senso, como você pôde perceber. Ser educado, saber ouvir e ser prestativo são atitudes
mínimas que podem auxiliá-lo nesse caminho de melhorar seus relacionamentos e
consequentemente   fazer com que as pessoas gostem de estar perto de você.

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Como Trabalhar com Alguém que Odeia Você


É inevitável interagirmos com outras pessoas na maioria dos ambientes de trabalho. Infelizmente, de vez em
quando cruzamos com um colega de trabalho irritante. É importante saber como lidar com uma pessoa de modo
profissional, mesmo que o relacionamento pessoal com ela seja tenso. Há várias formas de lidar com alguém
com quem você não se dá bem que vão desde aprender a conviver no ambiente de trabalho até resolver a
situação emocionalmente.
Parte 1
Convivendo no trabalho
1.

1
Experimente limitar as interações. Mesmo que nem sempre seja possível evitar totalmente um colega de
trabalho, você pode se empenhar em manter o mínimo contato possível com a pessoa. Evitar interagir é
provavelmente o modo mais fácil de lidar com a situação.

 Alguns contatos são inevitáveis, principalmente se você e o seu colega tiverem que trabalhar
diretamente juntos. No entanto, é possível deixar de bater papo com ele no intervalo ou em um
momento sem atividades. Se você perceber que essa pessoa está chegando, peça desculpas
educadamente, dizendo algo como: "Bem, eu preciso voltar ao trabalho. Foi bom encontrá-lo". [1]
 Quando for mesmo necessário interagir com ele, mantenha o profissionalismo. Evite trazer
problemas particulares ou coisas que sejam irrelevantes para a tarefa do momento quando lidar
com alguém que não goste de você, pois isso é um convite para uma encrenca. [2]
2.

2
Seja simpático com a pessoa em questão. Diversos estudos na área de psicologia mostram que é muito difícil
não gostar de alguém que gosta da gente. Se o colega sentir que você gosta dele ou o respeita, a antipatia que ele
tem pode desaparecer.[3]

 Fale que você respeita o colega em questão para outra pessoa do trabalho. Essa informação pode
ser passada adiante. Quando a mensagem não vem diretamente de você, é mais provável que o
colega acredite nisso.[4]
 Demonstre interesse genuíno no que ele disser. As pessoas tendem a gostar de quem presta
atenção e se envolve com elas. Ainda é preciso evitar contato o máximo possível, mas ouça
atentamente o que ela diz nos momentos em que houver interação. Assim, ela pode abandonar
um pouco da antipatia por você.[5]
 Pequenos contatos amigáveis podem ajudar também. Algumas vezes um simples "bom dia" pode
ser bem útil.[6]
3.

3
Separe o trabalho da vida pessoal. Se você tem dificuldade de interagir com um colega de trabalho específico,
experimente separar a vida pessoal do trabalho. Não é preciso conviver com colegas fora do ambiente de trabalho.
Se a pessoa que não gosta de você for frequentadora assídua do happy hour nas noites de sexta-feira, se esquive
desses eventos e encontre os seus amigos em outros lugares. [7]
4.

4
Leve a situação a um superior se ela sair do controle. Não é nada bom relatar qualquer comportamento sem
necessidade. No entanto, você deve falar sobre as atitudes que interfiram no seu desempenho no trabalho.
Converse com os Recursos Humanos se a situação sair do controle.

 A empresa pode ajudá-lo a negociar situações, se a sua capacidade de trabalho estiver


comprometida. Você pode gravar as conversas com esse colega durante uma semana mais ou
menos para ter informações sólidas para mostrar aos superiores. [8]
 Não deixe de se concentrar na maneira como o comportamento desse colega afeta a empresa.
Fale em termos objetivos e exponha o quanto a atitude desse funcionário está afetando a
produtividade e a confiança.[9]
 Lembre-se de que esse é o último recurso. Ninguém quer ficar conhecido como dedo-duro. Você somente
deve denunciar o colega de trabalho se perceber que ele está o assediando, atacando-o de forma pessoal e
se tais ações persistirem mesmo com tentativas de evitar ou corrigir a situação. [10]
Parte 2
Lidando com as emoções
1.
1
Mantenha uma perspectiva saudável. Do ponto de vista emocional, manter uma perspectiva saudável é a melhor
maneira de lidar com um mau colega. Continue focado nas suas ambições e metas de carreira. Evite ser enredado
por conflitos pequenos do ambiente de trabalho.

 Quando você ficar frustrado, pense onde gostaria de estar no ano seguintes ou nos próximos
cinco anos. Qual é o peso desse colega nos seus objetivos em longo prazo? Quanto tempo vocês
vão trabalhar juntos de verdade? É muito provável que o colega problemático não faça parte da
sua carreira no futuro.[11]
 Você pode aprender algo com essa situação? Tente encarar a situação como uma lição de como
tratar os outros. Se a antipatia do outro estiver dificultando o trabalho, não reproduza esse tipo de
comportamento em nenhum relacionamento futuro.[12]
2.

2
Afaste-se emocionalmente da questão. É fácil falar, mas algumas vezes o melhor jeito de lidar com uma situação
ruim é encontrar um jeito de se afastar emocionalmente. Tente simplesmente ignorar o comportamento, se
recusando a reagir a ele.[13]

 Pode ser útil empregar técnicas de relaxamento durante o dia. É possível tentar firmar os
pensamentos, concentrando-se no momento presente. Perceba o corpo, a respiração e o ambiente.
Dessa forma, é possível parar de se aborrecer com as ações do colega de trabalho, focando
apenas nos aspectos físicos.[14]
3.

3
Encontre apoio fora do trabalho. O que quer que você faça, não fale mal do colega com outra pessoa da
empresa. Essa atitude, além de ser negativa, pode facilmente cair no ouvido dele, deixando a situação ainda pior.

 Todo mundo precisa desabafar de vez em quando. Não é errado querer tirar a mágoa do peito.
Entretanto, é preciso fazer isso fora do ambiente de trabalho. Converse com amigos e membros
da família e com pessoas que não sejam ligadas à empresa em vez de falar com conhecidos de lá.
[15]

1
Coloque-se no lugar do colega de trabalho. Embora seja difícil aceitar, ele pode não gostar de você por causa de
alguma atitude sua. Tente se colocar no lugar dele para ver se existe algum comportamento ruim da sua parte.

 A inveja geralmente alimenta a antipatia. O colega de trabalho pode vê-lo como alguém que é
mais bem-sucedido ou que tem características que faltam nele. Nem sempre é possível acabar
com a inveja, mas veja se você não está sendo muito presunçoso ou exibindo as conquistas. Se
esse for o caso, essa atitude pode estar alimentando a antipatia. [16]
 Algumas pessoas podem confundir timidez com falta de educação. Se você simplesmente não
interage com o colega com frequência, ele pode pensar que você é uma pessoa fria. Pode ser útil
tentar ser um pouco mais amigável.[17]
 As outras pessoas da empresa parecem gostar de você? Se não, você pode estar reproduzindo
sem perceber certos comportamentos considerados desagradáveis pelos outros. Experimente
conversar com quem for mais próximo e peça para essa pessoa dizer com franqueza como ela
avalia o seu comportamento. Veja se há atitudes que os outros possam considerar inoportunas.

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