Você está na página 1de 5

PSICOLOGIA ESCOLAR

Transtornos de Aprendizagem - Discalculia


Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br

TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM - DISCALCULIA


ATENÇÃO
Conforme observado em oportunidade anterior, o psicólogo escolar não realiza diagnóstico
dentro da escola; ele não faz clínica. Deve-se ter sempre em mente essa informação.

DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM E TRANSTORNOS ESPECÍFICOS DE


APRENDIZAGEM

É necessário distinguir transtornos específicos de aprendizagem com dificuldades de


aprendizagem.
Dificuldades de aprendizagem dizem respeito à dificuldade de apreender um domínio teórico
específico, o que impacta nosso rendimento escolar. Por exemplo, um aluno pode apresentar mais
facilidade em História e muita dificuldade em Matemática, o que poderá fazer com que o aluno
tenha notas melhores em História em relação à Matemática. Para que consiga notas melhores em
Matemática, ele deverá se dedicar mais ao estudo. Essa dedicação contempla uma série de outros
aspectos que estão além dos aspectos físicos; envolve questões ambientais, pessoais, sociais etc.
Outro exemplo se faz necessário, a fim de ilustrar como aspectos além dos físicos impactam no
rendimento escolar de um aluno. Suponha que estejamos diante de um aluno que costuma dormir
muito durante as aulas, o que acarreta notas baixas. Ao observar o contexto do aluno, notou-se
que ele faz duas viagens de ônibus diariamente para chegar até a escola, o que não ocorre com os
demais alunos. Ele tem, portanto, um desgaste muito maior no trajeto para a escola. Isso faz com
que sinta sono durante as aulas e com que suas notas sejam inferiores aos demais.
5m
Por sua vez, transtorno específico de aprendizagem é aquele que afeta o funcionamento
do sistema nervoso central do aluno, o que o leva a ter desempenho abaixo do esperado.
Esse transtorno causa prejuízos persistentes ao longo da vida do indivíduo. Para que fique
configurado um transtorno específico de aprendizagem, devem ser excluídos todos os outros
aspectos que possam justificar o mau desempenho do aluno – isto é, todas as hipóteses de
dificuldades de aprendizagem observadas acima devem ser descartadas.

TRANSTORNO DA EXPRESSÃO DE ESCRITA

O transtorno da expressão de escrita é caracteriza pelo desempenho em escrita abaixo


do esperado para a idade, escolaridade e nível de inteligência do indivíduo.
ANOTAÇÕES

1 www.grancursosonline.com.br
PSICOLOGIA ESCOLAR
Transtornos de Aprendizagem - Discalculia
Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br

Esse transtorno se apresenta de duas maneiras: na forma de disgrafia, em que há difi-


culdade no aspecto motor da escrita (no realizar a escrita, no movimento mecânico), e na de
disortografia, em que há dificuldade na composição ortográfica das palavras.
A figura a seguir apresenta a escrita de um indivíduo diagnosticado com disgrafia.

O indivíduo com transtorno da expressão de escrita comumente apresenta os seguintes


indicativos:

• mantem posição para segurar o lápis ou posição corporal tensa ou desconfortável


durante a escrita;
• escreve à mão de forma quase ilegível;
• evita atividades de escrever e desenhar;
• cansa-se rapidamente quando escreve;
• diz palavras em voz alta enquanto escreve;
• frequentemente não finaliza palavras ou as omite em sentenças;
• tem dificuldade de organizar os pensamentos no papel (isto é, tem dificuldade de orga-
nizar o texto de forma lógica);
• tem dificuldade gramatical notável;
• apresentar grande diferença entre uso de linguagem oral e desempenho na escrita; e
• tem dificuldade na formação de parágrafos.

Tenha em mente que transtorno da expressão de escrita não diz respeito à “letra feia”, mas
sim a todos os procedimentos que envolvem a aprendizagem e a realização da escrita.
10m Do ponto de vista clínico, é difícil determinar se um indivíduo sofre um transtorno especí-
fico de aprendizagem ou se ele apresenta dificuldade de aprendizagem. Por exemplo, é pos-
sível que um indivíduo apresente todos os indicativos listados acima, mas que não sofra de
ANOTAÇÕES

2 www.grancursosonline.com.br
PSICOLOGIA ESCOLAR
Transtornos de Aprendizagem - Discalculia
Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br

transtorno, mas sim de dificuldade de aprendizagem. Assim, o diagnóstico adequado passa


por intervenções de cunho pedagógico, em que o foco deve recair na escola como um todo e
seus atores, e não exclusivamente no aluno em destaque. Considera-se, aqui, a filosofia da
não aceitação da ideia do fracasso individual como um fenômeno consolidado, ideia refletida
em falares como “o aluno não sabe, e não há nada que a escola possa fazer”.
15m

DISCALCULIA
Trata-se de um transtorno cuja origem é neurobiológica. Esse transtorno causa prejuízo
no senso número, na memorização de fatos aritméticos, na precisão ou fluência do cálculo
e no raciocínio matemático.
Não se trata de uma mera dificuldade em Matemática; esse transtorno envolve reconhe-
cimento de funções básicas do raciocínio matemático. Assim como a dislexia, a discalculia
apresenta níveis diferentes de comprometimento. São eles:

a) Leve – em que há alguma dificuldade para aprender um ou dois domínio do saber


matemático, porém o indivíduo é capaz de manejar e de compensar essa dificuldade por
meio de apoio adequado;
b) Moderado – a dificuldade é acentuada em mais de um domínio e há a necessidade de
adaptações e de compensações;
c) Grave – há dificuldade grave em aprender habilidades, o que afeta vários domínios
acadêmicos; há a necessidade de um ensino individualizado e especializado contínuo e,
ainda assim, o indivíduo pode não ser capaz de completar todas as atividades propostas.

Vale ressaltar que a discalculia não é uma condição infantil ou meramente escolar. Trata-
-se de uma condição de desenvolvimento: as habilidades de raciocínio matemático do indiví-
duo ficam abaixo do esperado para sua idade, escolaridade ou nível intelectual.
Por exemplo, no período de alfabetização, partimos do manejo do concreto; posterior-
mente, começamos a trabalhar com números, que são por natureza abstratos. Isto é, as
crianças começam a desenvolver o raciocínio lógico-matemático por meio do manejo de
coisas concretas. Frutas são exemplo comum de objetos tomados para essa etapa do desen-
volvimento – por exemplo, “uma maçã mais uma maçã é igual a duas maçãs”. A contabili-
zação a partir de algo concreto é um processo importante para o desenvolvimento inicial do
ANOTAÇÕES

3 www.grancursosonline.com.br
PSICOLOGIA ESCOLAR
Transtornos de Aprendizagem - Discalculia
Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br

pensamento lógico-matemático. Com o passar do tempo, os conhecimentos extremamente


abstratos tomam lugar do manejo de coisas concretas – funções, operações, equações etc.
Ou seja, passamos a trabalhar com representações.
Devemos ter em mente que os números, propriamente ditos, são representações. Isto é,
eles representam valores – o número 8, por exemplo, representa oito unidades de algo, seja
esse algo pertencente ao mundo biofísico ou não. Em nível ainda mais avançado de abstra-
ção, observe que nem sempre números por expresso são necessários a fim de definir deter-
minado valor. Por exemplo, na expressão x + 5 = 8, o x dispensa a expressão do número 3.
20m
Para aquele que sofre de discalculia, processos como os citados acima são extrema-
mente complexos. Não se trata de mera dificuldade com número ou com tabuada; a dificul-
dade plena recaí sobre o entendimento da lógica.
Em resumo, o déficit de discalculia se manifesta por meio de três perfis:
a) leitura e escrita de números;
b) memorização de fatos numéricos;
c) utilização de procedimentos matemático.

INTERVENÇÃO

Em primeiro lugar, é pertinente destacar que adaptação curricular é um direito do estu-


dante. Uma adaptação curricular pode se apresentar em dois níveis diferentes: de pequeno
porte ou de grande porte.
Dispensa-se laudo para a realização de uma adaptação curricular. Isso porque um movi-
mento de intervenção promovido pela escola não deve depender de um laudo clínico. Por-
tanto, entende-se que adaptação curricular é um movimento pedagógico. Paralelamente a
esse movimento pedagógico de inclusão, o indivíduo que apresenta tais dificuldades será
encaminhado para os dispositivos de saúde cabíveis para acompanhamento.
25m Do ponto de vista da psicologia escolar crítica, as mudanças advindas de intervenção
devem contemplar aspectos além dos básicos – como a oferta de uma calculadora, de maior
tempo para entrega de atividades, de recursos alternativos para o cumprimento de uma
tarefa etc. Elas devem alcançar, se necessário, o processo de avaliação do estudante. Um
exemplo de mudança no processo de avaliação é substituir uma prova de final de módulo por
uma redação em que o aluno discorra sobre o que conseguiu aprender ao longo do módulo.
ANOTAÇÕES

4 www.grancursosonline.com.br
PSICOLOGIA ESCOLAR
Transtornos de Aprendizagem - Discalculia
Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br

Mais uma vez, observe que as intervenções têm cunho pedagógico. Por isso, devem
envolver todos os atores escolares – os outros estudantes, a equipe escolar etc. Intervir no
ambiente escolar é uma responsabilidade escolar em que a família, parceira da escola, e
a escola como um todo se envolvem para auxiliar o aluno de que necessita. A intervenção
objetiva demonstrar ao aluno que a escola é um lugar que lhe pertence, apesar de toda difi-
culdade que surja.
Lembre-se que, se se tratar de um transtorno de aprendizagem, e não de dificuldade de
aprendizagem, é direito das pessoas no entorno saber o que acontece com quem sofre do
transtorno. A partir disso, todos podem desenvolver recursos para lidar com a situação que
se apresenta.

PONTOS DE ATENÇÃO

Confira os seguintes pontos de atenção, a fim de fixar o disposto acima:


(a) Toda intervenção deve ser pedagógica, e não clínica. Dessa forma, o conhecimento
técnico do psicólogo escolar deve ser refletido em movimentos pedagógicos.
(b) Toda responsabilidade é compartilhada entre escola, família e território. Por territó-
rio entenda-se o entorno da escola, com suas instituições e agentes. Isso implica lidar com
outras políticas educacionais e sociais – como o CRAS, a UBS e outros dispositivos. 30 min
(c) Queixas escolares devem envolver intervenções junto à equipe de ensino, sem culpa-
bilização do estudante e de sua família pela situação de dificuldade que se apresenta. Assim,
o psicólogo escolar, ao se deparar com um queixa escolar, deve pensar em intervenções
junto à equipe de ensino, desvinculando uma culpabilização do estudante e de sua família
pela dificuldade da não aprendizagem. O psicólogo escolar, como profissional de psicologia,
deve ter conhecimentos técnicos sobre os transtornos específicos de aprendizagem, para
diagnosticar de forma adequada a situação que se apresentar.

INDICAÇÃO DE LEITURA
Confira a seguinte bibliografia, a título de aprofundamento de matéria:
• Saúde Mental na Escola – O que os educadores devem saber, de Gustavo m. Estanis-
lau e Rodrigo Affonseca Bressan;
• Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), manual em vigor e
indispensável ao profissional de psicologia.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula
ANOTAÇÕES

preparada e ministrada pela professora Lorena Silva Costa.


A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do conteúdo
ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela leitura exclu-
siva deste material.

5 www.grancursosonline.com.br

Você também pode gostar