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TRABALHO DE SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO I – A

Alexandre, Daniela, Guilherme, Otávio e Vinícius – Turma C

LEITURA GUIADA
TEDESCO, Juan Carlos (2002). Qualidade para todos. In: O novo pacto educativo: educação,
competitividade e cidadania na sociedade moderna. São Paulo: Ática.

1. Por que o autor afirma que o debate atual sobre educação gira em torno da
definição do que se ensina e de quem tem acesso a essa aprendizagem?

Juan Carlos Tedesco afirma que a educação na atualidade deve ser vista como um
bloco formado por quem aprende e pelo que é ensinado. Isso porque não mais níveis
qualitativos de ensino verificam-se pela menor quantidade de estudantes com acesso a
educação. Antigamente, quem tivesse acesso a educação já se destacava entre os demais.
Hoje, esse quadro é outro o ensino é acessível para todas as pessoas (mesmo que nem todas
integrem essa proporção). O acesso universal à educação acabou por gerar a chamada
competitividade. Ao passo que aumentou o acesso a educação, o excesso de certificação de
ensino também aumentou. O que se ensina e quem tem acesso a esse ensino são os dois
fatores condicionantes da definição sobre a distribuição do poder e da riqueza.

Quanto maior o grau de ensino de alguém, mais bem remunerada ela será. Houve
tempos que ter apenas o ensino fundamental já proporcionava ao indivíduo dar aulas aos
demais. Hoje a qualificação profissional é essencial para o destaque pessoal e a sequente
melhor remuneração financeira. Isso é real, mas também é real a desigual distribuição a cada
profissão. Um professor ganha menos que um médico ou um engenheiro civil, por exemplo.
Não que o professor tenha estudado menos, muito pelo contrário, podem ter o mesmo grau
de estudo ou até maior e continuam ganhando menos.

Vê-se na educação atual, uma disparidade imensa entre escolas públicas e particulares,
por exemplo. Mesmo que o ensino de uma escola estadual seja tão bom quanto de alguma
escola particular, a estrutura das escolas e as oportunidades oferecidas aos alunos serão os
fatores que os diferenciarão. Tanto isso existe que algumas universidades adotaram as cotas
para estudantes de escola pública. Pressupõe-se que um aluno de escola particular possua
mais condições financeiras e consequentemente mais conhecimento. Mesmo não tratando de
uma realidade generalizada, é em parte verdade. Mas o que faz do ensino de escolas
particulares ou estaduais melhor? O que é ensinado? Qual a importância que o aluno dá ao
ensino? Esses são alguns dos questionamentos norteadores dos debates educacionais.

2. Explique, segundo o texto, quais são as três categorias de pessoal que estar-se-
ia configurando na estrutura ocupacional da atualidade.

As três categorias de pessoal são:

- Os serviços rotineiros que implicam a execução de tarefas repetitivas levadas a cabo


seja em atividades de produção em escala, seja em atividades repetitivas de empresas
modernas.
- Os serviços pessoais também supõem a realização de tarefas rotineiras e repetitivas
que não requerem muita educação. Mas a principal diferença com os serviços rotineiros é que
os serviços pessoais efetuam-se cara a cara e não podem ser oferecidos globalmente. Ex:
serventes, babás, caixas, taxistas, etc.

- Os serviços simbólicos são aqueles que se referem aos três grandes tipos de
atividade que se realizam nas empresas de alta tecnologia: identificação de problemas, solução
de problemas e definição de estratégias.

3. Por que o autor afirma que estamos diante de um paradigma no qual as


capacidades para o desempenho no processo produtivo seriam as mesmas requeridas para a
formação do cidadão e para o desenvolvimento pessoal?
Segundo o autor, os serviços simbólicos (aqueles que requerem uma maior
educação) implicam o desenvolvimento de quatro capacidades básicas pelos trabalhadores;
estas capacidades são: a abstração, o pensamento sistêmico, a experimentação e a capacidade
de trabalhar em equipe.
A capacidade de abstração consiste que o trabalhador seja capaz de descobrir os
padrões que ordenam os diferentes aspectos da realidade. Para isso, é preciso que o
trabalhador seja educado para tornar-se criativo e curioso.
Desenvolver o pensamento sistêmico é dar um passo além da abstração. Consiste
em descobrir novas oportunidades ou novas soluções para os problemas, o que requer a
compreensão dos processos pelos quais as diferentes partes da realidade se interconectam.
Desenvolver esta habilidade requereria que, além de resolver problemas, os alunos fossem
treinados a analisar por que ele surgiu e como se relaciona com outros problemas.
Para dominar as formas mais complexas de abstração e pensamento sistêmico, é
necessário aprender a experimentar. Compreender causas e consequências, explorar
diferentes possibilidades de solução para um mesmo problema são exigências indispensáveis.
Mas a experimentação tem outra consequência importante: os estudantes aprendem a aceitar
a responsabilidade de sua própria aprendizagem, qualidades necessária para atividades que
exigem reciclagem permanente.
Os trabalhadores simbólicos trabalham em equipe, empregam muito tempo em
comunicar conceitos e buscam consensos para prosseguir com a aplicação de seus planos. Em
vez de educar para a competição individual, esse tipo de funcionamento exige que ponha a
ênfase na aprendizagem grupal. Aprender a buscar e aceitar a crítica dos pares, solicitar ajuda,
dar crédito aos outros etc. é fundamental nesse tipo de trabalhador.
As empresas modernas se apresentam como um paradigma de funcionamento
baseado no desenvolvimento pleno das melhores capacidades do ser humano. No sistema
capitalista tradicional de produção em massa gerava-se um funcionamento paralelo entre as
exigências da formação do cidadão e do desenvolvimento pessoal, por um lado - nos quais as
qualidades postuladas eram a solidariedade, a participação, a criatividade, o pensamento
crítico -, e as exigências da formação para o mercado de trabalho, por outro - a disciplina, a
obediência, a passividade, o individualismo. Nos novos modelos de produção, porém, existem
a possibilidade e a necessidade de pôr em jogo as mesmas capacidades requeridas nos níveis
pessoal e social.
4. Explique em que, segundo o autor, reside o problema atual da relação da
educação, mercado de trabalho e cidadania.
O autor diz que o problema do sistema capitalista tradicional na relação entre
educação, mercado de trabalho e cidadania está no paralelismo das capacidades requeridas
pelo mercado de trabalho e pelo desenvolvimento social e do cidadão. Por um lado, a
educação para o cidadão social precisa ensinar solidariedade, participação, criatividade,
pensamento crítico etc., por outro lado, as exigências da formação para o mercado de trabalho
exigem disciplina, obediência, passividade e individualismo.
Baseada no sistema capitalista tradicional, a escola tem que formar um indivíduo ou
ambíguo ou incompleto. Porém, nos novos modelos de produção existem a possibilidade e a
necessidade de pôr em jogo as mesmas capacidades requeridas nos níveis pessoal e social
(como nos serviços simbólicos).
5. Se permanecer a tendência de apropriação da educação por “trabalhadores
simbólicos”, como o autor vê a exclusão daqueles (trabalhadores/as) que não têm acesso à
educação formal em todas as suas etapas (básica e superior)? Qual alternativa que ele propõe?
Caso permaneça esta tendência, o autor percebe que haverá uma segmentação e
uma exclusão sócio-econômica; num ponto em que os não-trabalhadores simbólicos não terão
acesso à essa plena educação formal, eles não poderão adquirir os mesmos salários e direitos
dos engenheiros, cientistas, advogados, enfim, profissionais com ensino superior completo.
Pela falta de inserção social dos não-trabalhadores simbólicos ao ensino didático pleno, além
de se tornarem desempregados e não-cidadãos, ocorre que as vagas para profissões
prestigiadas tornam-se relativamente mínimas - como Tedesco menciona no texto, "[...] todas
as evidências indicam que as empresas de tecnologia avançada só podem garantir postos
estáveis a uma reduzida parcela de seu pessoal, gerando - além de um aumento significativo
de desemprego - um fenômeno de 'precarização' das condições do restante dos
trabalhadores", ou seja, as pessoas que não possuem condições políticas e "sócio-estruturais"
para adquirir uma educação didática plena, permanecem à margem da sociedade ou até
mesmo à margem destes empregos de prestígio (como mencionados anteriormente;
engenheiros, advogados etc).
Como alternativa, Tedesco baseia-se em definir estratégias para a manutenção da
coesão (solidariedade) social, com o objetivo de evitar que o trabalho seja monopolizado por
uma elite da sociedade. O que constituiria o aspecto-chave desta alternativa seria a
compartilhação do trabalho e que, do ponto de vista educacional, como ele afirma, "torna-se
crucial definir se o acesso às novas competências necessárias para as atividades do setor-chave
da economia pode ou não ser universal." E a compartilhação do trabalho só será possivel com
a democratização do acesso ao domínio das competências significativas do trabalho porque,
como ele mesmo afirma, "[...]   todos os seres humanos são capazes de aprender."

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