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“ÁGUA QUE VAI, ÁGUA QUE VEM”

Ensinar a ler e a escrever nas aulas de Ciências

Conteúdo:
O movimento da água na natureza

Autor:
Clotilde Maria S. Silva Bernal, professora da Rede Municipal de
Ensino e da Escola Cooperativa – Vila Mariana, São Paulo

e-mail:
clo.bernal@ig.com.br

Série:
6ª série do Ensino Fundamental

Tempo necessário:
8 aulas

Introdução:
A crise energética pela qual estamos passando traz de volta a questão
da água. Para compreender as relações existentes entre racionamento
de energia e o abastecimento de água de um lugar é preciso que o
aluno conheça os movimentos que a água faz na natureza – o
chamado Ciclo da água. Tendo desenvolvido esses conteúdos, ele será
capaz, inclusive, de perceber qual seu papel diante da questão do uso
racional de um recurso vital, como a água.
Construir o conhecimento, neste ou noutro assunto científico requer
uma série de procedimentos de leitura e escrita que são tarefa do
professor de Ciências ensinar.
Neste plano de aula, propomos um trabalho de busca e leitura de
informações sobre o tema ciclo da água e a produção de um texto
informativo do tipo esquema, contendo ilustrações e legendas.

Objetivos, em competências e habilidades:


Ao final desta seqüência, espera-se que o aluno seja capaz de:
 Localizar e reunir diferentes materiais escritos em que pode
encontrar as informações de que necessita;
 Identificar nos materiais encontrados, informações a respeito do
assunto que está estudando;
 Compreender as informações encontradas quer sejam texto,
esquema ou ilustração;
 Registrar em tópicos, ilustrações ou esquemas as informações
relevantes;
 Produzir um texto informativo, utilizando-se das informações
obtidas sobre os movimentos que a água faz na natureza;
 Elaborar esquemas ou ilustrações que traduzam o conhecimento
elaborado até então sobre o tema estudado;

Recursos didáticos

 Textos de diferentes procedências trazidos pelos alunos: de


livros, revistas, jornais, Internet, etc.
 Folhas de monobloco e sulfite A3 e A4.
 Lápis de cor.
 Giz e lousa.

Organização da sala

Nos momentos de trabalho em grupo, reunir quatro mesas de forma a


que os alunos de um mesmo grupo fiquem de frente uns para os
outros. Nos momentos de estudo individual e de socialização, em
fileiras ou em semicírculo voltados para a lousa.

Desenvolvimento da atividade:

1ª aula:
1º Momento: Levantamento do conhecimento prévio sobre o
tema
O professor deverá levantar com os alunos as idéias que eles têm a
respeito do comportamento da água na natureza. Pode-se fazer isso
através de uma questão-problema inicial como: “A água vai acabar?” A
extensão desta etapa depende das respostas e dos conhecimentos
revelados pelos alunos. À medida que as falas acontecerem, registre
na lousa as idéias dos alunos, na forma de frases curtas e solicite que
eles as copiem em seus cadernos. Logo em seguida, o professor
deverá motivar os alunos a fazer perguntas, expondo suas dúvidas e
curiosidades sobre o tema. Faça intervenções, crie dúvidas e conflitos
com o objetivo de provocar questionamentos. Registre na lousa e peça
que os alunos anotem as novas perguntas. Guarde uma cópia desses
registros.

2º Momento: Orientações para a busca de informações


Anote na lousa ou entregue em folha impressa as orientações de como
o aluno deverá proceder para buscar informações que vão dar
respostas aos novos questionamentos, explicando cada item. Neste
roteiro devem constar:
 Determinação dos assuntos a serem pesquisados, através da
leitura dos registros feitos na etapa anterior. Aqui você poderá
complementar sugerindo outros tópicos, caso não tenham
aparecido nas falas dos alunos aspectos básicos do ciclo da água.
 Onde buscar informações? Oriente-os no sentido de começar a
busca em suas próprias casas, em livros didáticos, especialmente
de 5ª e 6ª série de Ciências, livros didáticos de Geografia, livros
para-didáticos, enciclopédias, revistas, jornais e sites de pesquisa
na Internet. Só então, ida à biblioteca da escola, do bairro ou da
cidade.
 Como trazer as informações para a escola? Caso o material
impresso seja próprio, trazer o original. Caso isso não seja
possível, o aluno deverá providenciar a cópia para que possa
usar em sala de aula. Nesse caso, a fonte de onde se extraiu a
cópia deverá ser anotada antes da devolução do material. No
caso de texto tirado da Internet, orientá-los para que anotem os
dados sobre o site pesquisado.
Programe esta aula inicial de modo que seja possível dar um tempo
de no mínimo 2 dias para que os alunos providenciem os materiais de
pesquisa. É preciso motivá-los no sentido de que o sucesso da aula
seguinte dependerá dos materiais que cada um trouxer.

2ª aula: Pesquisa em sala de aula


Prepare-se para a possibilidade de alguns alunos chegarem sem
nenhum material para pesquisa. Separe alguns livros sobre o assunto
para emprestar.
1º Momento: Mostra pelos alunos dos materiais trazidos.
Inicie a aula solicitando que os alunos deixem sobre suas mesas
apenas o caderno, o estojo e os materiais trazidos para a pesquisa. Dê
as orientações para o trabalho de leitura e de registro.
2º Momento: Exposição pelo professor das estratégias de
leitura e registro.
Não tem sido uma preocupação dos professores de Ciências ensinar
seus alunos a ler compreendendo um texto informativo na área de
Ciências. Pressupõe-se que eles já o saibam, na 6ª série. De fato, cada
leitor constrói suas próprias estratégias de leitura a partir dos contatos
que tem com outros leitores. No entanto, é freqüente encontrar alunos
com grandes dificuldades em identificar e registrar os conteúdos
pertinentes ao assunto que pesquisam. Diante disso, cabe você
mostrar-lhes por onde começar e como proceder.
Inicialmente, recorde junto com os alunos o que já estudaram até ali
sobre o tema “Ciclo da água”. Feito isso, solicite que busquem no
índice dos livros e outros materiais trazidos textos que digam respeito
ao tema. Passados alguns instantes, e certificando-se de que todos os
alunos já estão diante de um texto sobre o assunto, peça que
percorram o texto com os olhos, lendo os sub-títulos, esquemas, as
figuras e suas legendas.
Em seguida, solicite que façam a leitura atenta do texto, grifando o
que julgam ser etapas, momentos, “mudanças de lugar” da água na
natureza. Esse grifo pode ser feito com caneta marca-texto ou lápis.
Caso o livro não seja próprio ou copiado, onde não se possa fazer o
grifo, oriente-os a anotar em forma de itens, no caderno, as
informações encontradas.
Caso você identifique na classe dificuldade em realizar a tarefa, é
conveniente que mostre a eles como se faz: utilize um dos materiais
trazidos pelos alunos, leia em voz alta um pequeno trecho e indique à
classe o que considera importante ser grifado naquele trecho.
Ao término da aula, os alunos terão realizado parcialmente a tarefa.
Oriente-os a prosseguir a leitura em casa, grifando e anotando as
principais informações. E também que não repitam registros sobre
informações iguais. Marque a data (próxima aula) em que todos
deverão trazer os registros concluídos, na forma de um texto
informativo, revisado e passado a limpo.
Além da produção de texto informativo, peça aos alunos que
reproduzam em seus cadernos ilustrações ou esquemas que
encontraram nos materiais pesquisados que expliquem o movimento
da água na natureza.
Uma orientação importante é quanto à anotação das fontes
bibliográficas usadas. Caso a classe ainda não conheça as regras
básicas para fazer este registro, ensine-os como se faz, mostrando as
citações bibliográficas dos livros pesquisados.
Uma variável possível é pedir que os alunos entreguem em folha
avulsa o resultado das pesquisas. Desta forma, você poderá levar o
material e, ao lê-lo, ter uma idéia da profundidade da pesquisa de
cada aluno. Essa informação pode servir de critério na montagem dos
grupos de trabalho da próxima etapa. Uma possibilidade é reunir no
mesmo grupo alunos que tenham apresentado pesquisas com níveis
bastante diferentes de aprofundamento.

3ª e 4ª aulas: Socialização em pequenos grupos


1º Momento: Formação dos grupos
inicie a aula solicitando que os alunos arrumem as mesas formando
grupos de quatro pessoas. As parcerias são determinadas por você,
valendo-se do resultado das pesquisas para decidir quem comporá os
diferentes grupos.
2º Momento: Trabalho em grupo
Cada aluno, de posse de seu trabalho de pesquisa, contará a seus
colegas o que encontrou. As ilustrações e esquemas produzidos por
cada um serão vistos por todos do grupo. Em seguida, cada grupo
deverá elaborar um esquema que conterá os elementos da natureza
que participam do ciclo da água, sejam eles vivos ou não-vivos. Nesse
esquema não deverão escrever palavra alguma, somente setas
numeradas. Próximo ao esquema, deverá ser anotada a legenda, que
explicará os diferentes momentos da água nesse ciclo.
Para realizar essa tarefa, cada aluno receberá uma folha sulfite onde
desenhará seu esquema (de um lado da folha) e escreverá a legenda
(no verso dela). Os esquemas ficarão semelhantes dentro de um
mesmo grupo, porém, o toque pessoal fará com que não fiquem
exatamente iguais.
Oriente os alunos para que façam a leitura de seus registros de
pesquisa com calma; logo após a leitura de cada um, os demais devem
buscar identificar na sua própria pesquisa o que há de coincidente
(para não repetir) e o que é novo em relação ao que foi lido (e aí sim,
ser lido e comentado pelo grupo). Ao término dessas duas aulas, os
alunos entregam seus esquemas para que você os leia antes da
próxima aula, registrando em sua ficha de acompanhamento o
resultado dessa etapa de trabalho.

5ª, 6ª e 7ª aula: Socialização das pesquisas


Devolva aos alunos seus esquemas, vá até a lousa e solicite que os
alunos lhe digam quais elementos não-vivos da natureza você deve
desenhar inicialmente. Pronto o cenário, chame cada aluno a
participar, lendo em seu trabalho o que está acontecendo com a água
e como deve indicar isso no desenho da lousa.
Nesse momento, oriente a classe para que cada um fale quando lhe
for dada a palavra, para que todos tenham a oportunidade de
contribuir.
Um conteúdo que inevitavelmente é revisto refere-se aos estados
físicos da água e suas mudanças. Se julgar conveniente, interrompa a
montagem do ciclo para rever esse conteúdo, fazendo um esquema na
lousa e solicitando aos alunos que registrem as informações em seus
cadernos.
Durante a socialização, há duas possibilidades de procedimento de
registro pelos alunos: aqueles que já fizeram, na etapa do trabalho em
grupo, um esquema bastante satisfatório, poderão apenas conferir seu
trabalho, acrescentando o que for novo. Porém, para boa parte da
classe, talvez o mais adequado seja sugerir que construam um novo
esquema do ciclo.
A elaboração do esquema na lousa se dará valendo-se dos mesmos
procedimentos que os alunos utilizaram: colocar setas numeradas no
desenho e escrever a legenda referente ao que se passa naquele
momento, à parte.
Tendo concluído o esquema, os alunos devem ser motivados a realizar
uma última atividade, que servirá de avaliação de todo o processo:
uma nova versão do esquema, a ser feita em casa, em folha A3 para
que o visual fique claro. Incentive-os a:
 Usar o colorido;
 Incluir elementos do ambiente modificado pelo homem, e não só
do ambiente natural;
 Organizar o esquema de forma que o desenho das setas passe
(visualmente) a noção de que a água descreve um verdadeiro
movimento circular, um ciclo.
Peça que usem todo um lado da folha para o desenho e, dobrando a
folha ao meio, deixem o desenho para dentro e usem esse lado da
folha para a legenda, que poderá ser digitada numa folha à parte e
colada no papel A3.
Por último, defina a data de entrega do trabalho final, que na realidade
será um mini painel. Lembre-os de que, junto com esse mini painel,
eles deverão entregar o esquema que produziram na etapa em grupo
para que você possa analisar a trajetória de cada aluno ao longo da
atividade.

8ª aula: Finalização da atividade


Após a leitura atenta de cada mini painel, aponte os acertos. Faça isso
num papel à parte para não interferir no visual do trabalho do aluno.
Nos casos em que for necessária a revisão, combine uma nova data de
entrega e solicite que o aluno entregue, junto com o mini painel
revisto, o papel com as observações para que você constate se suas
intervenções foram compreendidas e atendidas.
Nesse momento, os alunos deverão estar curiosos por conhecer os
trabalhos dos colegas. Juntamente com os comentários finais, elogios
e incentivos, reserve alguns instantes para que os mini painéis
circulem pela classe e sejam observados.

Avaliação
Nesta atividade você terá a oportunidade de exercitar a avaliação
contínua. Isso será feito principalmente pela observação e registro das
ações dos alunos, avanços e dificuldades de cada um deles. Desde o
fato de o aluno ter (ou não) buscado e trazido material para pesquisa
em sala, até a realização, qualidade e entrega no prazo do trabalho
final, todas as etapas da atividade servirão como elementos na
avaliação. Aliás, não só dele, mas também da própria proposta,
possibilitando uma revisão da metodologia.
Exemplo de Ficha de Acompanhamento da Atividade, material que o
ajudará a realizar uma observação e registro mais pontual do
desempenho de cada aluno.

Nº/ Material Grifo Registro 1ª texto No Parti-


Nome Para das Pessoal: grupo: cipação
Pesquisa informações Data da Qualida- Citação Oral
relevantes Entrega de das Esque-
Legen-
Fontes ma:
da
desenho
1.
2.
3.

Nº/ MINI PAINEL Observações


Nome Entrega Qualidade Qualidade
do esquema da legenda
Data:.........

1.
2.
3.

Na coluna “Observações” registre uma síntese de toda a atuação do


aluno, considerando seu desempenho ao longo da atividade.

Contextualização

Cada área do conhecimento tem estruturas próprias de organização


textual. Saber ler e escrever numa área não significa saber ler e
escrever em outra. Se você quiser que seu aluno compreenda e
produza textos científicos precisa esforçar-se para aprimorar
estratégias de ensino da leitura e da escrita que possibilitem ao aluno
uma compreensão cada vez maior do que lê e uma autonomia
crescente no uso das estratégias para realizar essas atividades. Nesse
sentido, para o estudo de cada conteúdo deve ser utilizada uma
dinâmica adequada. No caso do ciclo da água, em que o esquema é a
forma de registro mais adequada, adota-se uma seqüência de
atividades que levam o aluno a não só compreender os símbolos
próprios dessa forma de escrita, como a elaborar, ele mesmo, seu
próprio esquema.

Aprofundamento do conteúdo

Uma leitura que se faz quase obrigatória para o professor que


investiga formas de aprimorar seu trabalho em sala de aula é:
Estratégias de Leitura, de Isabel Solé. Nesse livro, que não
pretende ser uma manual de estratégias, mas um guia para a reflexão
do professor, o aluno é considerado um ser ativo, que precisa ser
ensinado a ler com compreensão, construindo um significado para o
texto. O professor tem papel fundamental, pois vai criar situações em
que ler será uma tarefa compartilhada, com objetivos definidos. Com
Solé aprendemos que “aprender a ler significa encontrar sentido e
interesse na leitura”.

Bibliografia
Lopes, César V Machado e Elaine B. Ferreira Dulac. Idéias e palavras
na/da ciência e leitura e escrita: o que a ciência tem a ver com isso?
In: Ler e escrever Compromisso de todas as áreas. Porto Alegre:
Editora da Universidade/UFRGS, 1999.
Solé, Isabel. Estratégias de leitura. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

Para saber mais


 Kaufman, Ana M. & Rodríguez, M. E. Escola, leitura e produção de textos. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1995.
 Lerner, D. (1998). Preparar para a vida acadêmica por intermédio da leitura e da escrita. Seminário
Internacional “O sentido dos conhecimentos escolares: uma preocupação central na elaboração de
projetos de ensino – uma abordagem a partir das didáticas das disciplinas” (Curso 1: ler e
escrever). São Paulo: CEEV (Centro de Estudos da Escola da Vila). (mimeo)
 ---------. Aprendizagem da Língua escrita na escola. Porto Alegre: Artes Médicas.
 Morais, Artur G. Ortografia: ensinar e aprender. São Paulo: Ática, 2000.
 Teberosky, Ana & Tolchinsky, Liliana. Para além da Alfabetização – a aprendizagem fonológica,
ortográfica, textual e matemática. São Paulo: Ática, 1996.
 Tolchinsky, Liliana L. Aprendizagem da linguagem escrita – processos evolutivos e implicações
didáticas. São Paulo: Ática, 1998.
 Koch, I. V. e Fávero, L. L. A coesão textual. Mecanismos de constituição textual. A organização do
texto. Fenômenos da linguagem. São Paulo: Contexto, 2001.
 ____________________. A coerência textual. Sentido e compreensão do texto. Fatores de coerência
textual. Tipologia de textos. São Paulo: Contexto, 2001.
 Koch, I. V. e Travaglia, L. C. Texto e coerência. São Paulo: Cortez, 2000.

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