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Biomecânica Ocupacional

e Antropometria Aplicada

Brasília-DF.
Elaboração

Fábio Alexandre Casarin Pastor

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO................................................................................................................................... 5

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA...................................................................... 6

INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 8

UNIDADE I
BIOMECÂNICA OCUPACIONAL.............................................................................................................. 9

CAPÍTULO 1
NOÇÕES DE BIOMECÂNICA..................................................................................................... 9

CAPÍTULO 2
AVALIAÇÃO CINEMÁTICA DO MOVIMENTO............................................................................. 13

CAPÍTULO 3
AVALIAÇÃO CINÉTICA DO MOVIMENTO ................................................................................. 22

CAPÍTULO 4
BIOMECÂNICA OCUPACIONAL............................................................................................... 31

CAPÍTULO 5
TRABALHO MUSCULAR............................................................................................................ 40

CAPÍTULO 7
LEVANTAMENTO E TRANSPORTE DE CARGAS............................................................................ 48

CAPÍTULO 8
PRINCIPAIS POSTURAS ADOTADAS PELO TRABALHADOR: DIRETRIZES PARA ANÁLISE..................... 63

UNIDADE II
A ANTROPOMETRIA E SUA APLICAÇÃO EM ERGONOMIAL..................................................................... 73

CAPÍTULO 1
ANTROPOMETRIA................................................................................................................... 73

CAPÍTULO 2
HISTÓRICO DA ANTROPOMETRIA............................................................................................ 75

CAPÍTULO 3
ERGONOMIA E DESIGN......................................................................................................... 77
CAPÍTULO 4
REVISÃO DOS FATORES QUE INFLUENCIAM AS MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS............................ 80

CAPÍTULO 5
PRINCÍPIOS E PRÁTICA............................................................................................................ 87

CAPÍTULO 6
CONSIDERAÇÕES PARA O DESENHO DO POSTO DE TRABALHO............................................. 107

PARA (NÃO) FINALIZAR..................................................................................................................... 113

REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 114
Apresentação
Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem
necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela
atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade
de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos
a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma
competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para
vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar
sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a
como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

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Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de
forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões
para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao
final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e
pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos
e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Praticando

Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer


o processo de aprendizagem do aluno.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

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Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Exercício de fixação

Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).

Avaliação Final

Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso,


que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber
se pode ou não receber a certificação.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
Nesta disciplina iremos associar o conhecimento teórico qualitativo a um olhar um pouco mais
analítico e quantitativo, que direcionará o foco da intervenção para o ambiente físico. Embora muitas
vezes rejeitadas pelas empresas pelo fato de serem medidas associadas a maiores custos, essa forma de
intervenção é a que de fato traz os resultados mais sólidos quanto à saúde e segurança do trabalhador.

O estudo da Antropometria permitirá, a você, conhecer e identificar os pontos-chave que devem


ser considerados para um bom planejamento e replanejameno de postos de trabalho, de modo
a torná-los ergonomicamente adequados. Você aprenderá realizar medidas dos segmentos
corporais e entenderão melhor como mobiliários e ferramentas incompatíveis com tais medidas
interferem diretamente no desenvolvimento de lesões musculoesqueléticas. Esse recurso auxiliará
a identificação dos pontos críticos do ambiente de trabalho que vão requerer intervenção.

O Caderno de Biomecânica Ocupacional complementará os conhecimentos adquiridos com o estudo


da Antropometria. Serão apresentadas formas de calcular e/ou estimar a intensidade de força e,
consequentemente, do risco imposto às articulações do corpo (principalmente à coluna vertebral)
durante a realização dos diferentes tipos de atividades: pesadas e sedentárias.

O domínio dessas duas novas frentes de análise permitirá, a você, reunir argumentos cada vez mais
fortes, objetivos e convincentes sobre a importância do investimento em prevenção. Argumentos
com base teórcia forte são de fundamental importância para que consigamos efetuar as medidas
voltadas para o ambiente. É importante lembrar que o nosso foco continua sendo o mesmo: a saúde
e bem-estar do ser humano durante a realização do trabalho.

Objetivos
»» Demonstrar os conhecimentos adquiridos com o estudo da Antropometria.

»» Apresentar formas de cálculo e estimação da intensidade de força e,


consequentemente, do risco imposto às articulações do corpo.

»» Reconhecer a importância do investimento em prevenção da saúde e segurança.

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BIOMECÂNICA UNIDADE I
OCUPACIONAL

CAPÍTULO 1
Noções de biomecânica

O corpo humano pode ser definido fisicamente como um complexo sistema de


segmentos articulados em equilíbrio estático ou dinâmico, onde o movimento
é causado por forças internas atuando fora do eixo articular, provocando
deslocamentos angulares dos segmentos, e por forças externas ao corpo. Desta
maneira definimos que a ciência que descreve, analisa e modela os sistemas
biológicos é chamada Biomecânica, logo uma ciência altamente interdisciplinar
dada a natureza do fenômeno investigado.

Alberto Carlos Amadio

A Biomecânica é uma disciplina entre as ciências derivadas das ciências naturais, que se ocupa de
análises físicas de sistemas biológicos, consequentemente, de análises físicas dos movimentos do
corpo humano. Quando dimensionamos a Biomecânica no contexto das ciências derivadas, que
também têm por objetivo estudar o movimento, é importante lembrar que esta contextualização
científica apoia-se essencialmente em dois fatores: 1) a biomecânica apresenta seu objeto de estudo
claramente definido; 2) seus resultados de investigações são obtidos por meio do uso de métodos
científicos (AMADIO, 1989).

Podemos definir a Biomecânica como o estudo da estrutura e da função dos sistemas biológicos
utilizando os métodos da mecânica (HATZE, 1974). Outra definição apresentada previamente
por Chkaidze (1973) descreve a Biomecânica como um dos métodos para estudar a maneira como
os seres vivos, principalmente o homem, se adaptam às leis da mecânica durante a realização de
movimentos voluntários.

Em termos físicos, Amadio e Serrão (2007), apontam que o corpo humano pode ser definido como
um complexo sistema de segmentos articulados em equilíbrio estático ou dinâmico, no qual o
movimento é causado por forças externas e também por forças internas que atuam fora do eixo
articular, provocando deslocamentos angulares dos segmentos.

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UNIDADE I │BIOMECÂNICA OCUPACIONAL

Em contraposição a um corpo rígido, a estrutura biológica do corpo humano permite a produção


de força por meio da contração muscular, que transforma o corpo num sistema autônomo e
independente. Desta maneira definimos que a ciência que descreve, analisa, e modela os sistemas
biológicos é a biomecânica, logo uma ciência de relações altamente interdisciplinares dada a
natureza do fenômeno que investiga (AMADIO, 2000).

A avaliação do movimento humano pode ser considerada o carro chefe para a atuaçação do
fisoterapeuta tanto em situações clínicas como no ambiente ocupacional. A identificação dos fatores
de risco que determinam a realização de movimentos e posturas inadequados e a decisão sobre a
melhor intervenção a ser utilizada ou recurso de tratamento a ser empregado, ocorre em função dos
resultados da avaliação. A avaliação Biomecânica pode ser baseada na coleta de dados qualitativos e
quantitativos suficientes e precisos, bem como na observação sistemática e descrição das alterações
do movimento identificadadas.

Assim, de acordo com Zernicke (1981), a Biomecânica do movimento busca explicar como as variadas
formas de movimento dos seres vivos acontece na natureza a partir de indicadores cinemáticos
e dinâmicos. Desta forma, conforme apresentado no Quadro 1, podemos identificar algumas das
aplicações da Biomecânica em diversas áreas.

Quadro 1. Aplicabilidade da Biomecânica (adptado de Amadio, 1989).

Área de atuação Exemplos de aplicação


Esporte de Alto Nível de Diagnose da técnica de movimento e condição física; redução de sobrecargas ao aparelho locomotor;
Rendimento sistematização e otimização do rendimento esportivo; identificação do regime de treino ótimo etc.
Esporte Escolar e Recreação Estudo dos processos de aprendizagem; adequação de sistemas e equipamentos com feedback pedagógico etc.
Prevenção e Reabilitação Desenvolvimento de métodos, procedimentos e técnicas aplicados à terapia; descrição de padrões patológicos;
Orientados à Saúde adequação e desenvolvimento de equipamentos etc.
Estudo da postura e da locomoção humana; classificação e sistematização de movimentos nos postos de trabalho;
Atividades do Cotidiano e do
análise da interface homem, máquina e meio ambiente, eficiência, saúde e segurança nas tarefas da vida diária e
Trabalho
do trabalho etc

Breve histórico da biomecânica


»» Aristóteles (384-322 a.C) – Pai da Cinesiologia; estudou a ação dos músculos por
meio da observação dos movimentos de animais.

»» Arquimedes (287-212 a.C) – Princípios hidrostáticos.

»» Galeno (131-201 a.C) – Músculos agonistas e antagonistas. Introduziu os termos


diartrose e sinartrose.

»» Da Vinci (1452-1519) – Primeiro a registrar dados científicos da marcha.

»» Borelli (1608 – 1679) – Ossos como alavancas

»» Glisson (1597-1677) – Irritabilidade.

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BIOMECÂNICA OCUPACIONAL │ UNIDADE I

»» Von Haller (1707-1777) – Contratilidade.

»» Newton (1642-1727) – Fundamentos da dinâmica moderna, as 3 leis de Newton.

»» Unter (1728-1793) – Origem e inserção, o problema biarticular e disposição


mecânica das fibras.

»» Janssen – em 1878, sugeriu quadros cinematográficos para estudar o movimento


humano.

»» Braune (1831-1892) & Fischer(1861-1917) – usaram técnicas fotográficas para


estudar a marcha humana(CG).

»» Roux (1850-1924) – Hipertrofia, por meio de trabalho intensivo.

»» Bowditch (1814-1911) – Lei do tudo ou nada.

»» Piper (1910-1912) – Eletromiografia

»» Adrian (1925 – Por meio da eletromiografia demonstrou a atividade muscular

A Biomecânica é o estudo da mecânica dos organismos vivos. É parte da Biofísica.


De acordo com Hall, é “O estudo da estrutura e da função dos sistemas biológicos
utilizando métodos da mecânica” A Biomecânica externa estuda as forças físicas
que agem sobre os corpos enquanto a biomecânica interna estuda a mecânica e os
aspectos físicos e biofísicos das articulações, dos ossos e dos tecidos histológicos do
corpo (Wikipedia).

A Biomecânica Interna se preocupa com as forças internas, as forças transmitidas pelas estruturas
biológicas internas do corpo, tais como forças musculares, forças nos tendões, ligamentos, ossos e
cartilagem articular. Elas estão intimamente relacionadas com a execução dos movimentos e com
as cargas mecânicas exercidas pelo aparelho locomotor, representadas pelo stress, que é o estímulo
mecânico necessário para o desenvolvimento e crescimento das estruturas do corpo (AMADIO;
DUARTE, 1997).

A biomecânica Externa Estuda as grandezas observáveis externamente na estrutura do movimento.


Parâmetros de determinação quantitativa e qualitativa referente à mudanças de posição do corpo
em movimento: trajetória, velocidade, aceleração (AMADIO; DUARTE, 1997).

Conforme vimos acima, a Biomecânica visa essencialmente à avaliação do movimento humano


em diferentes situações. De acordo com Duarte (2007), existem duas perspectivas para análise do
movimento:

1. Análise qualitativa: realizada a partir da observação sistemática com julgamento


criterioso da qualidade do movimento. Esta forma de avaliação é voltada
principalmente para a natureza da atividade e não realiza medições. Geralmente, é
a abordagem inicial no estudo de um problema. É forma de avaliação mais utilizada

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UNIDADE I │BIOMECÂNICA OCUPACIONAL

fora dos laboratório de pesquisas. Pode ser realizada a partir de técnicas como a
cinemetria ou registros fotográficos sistematizados da situação de interesse.

De acordo com Kudson e Morrison (2001), uma análise qualitativa pode ser
realizada em 4 passos:

Passo 1: Preparação: determinar o que é necessário para fazer a análise


(conhecimento, condições, equipamento...).

Passo 2: Observação: realizar observação sistemática.

Passo 3: Avaliação: avaliar quais resultados da análise são relevantes (em


relação ao objetivo).

Passo 4: Intervenção: intervir para alterar (melhorar) o movimento.

2. Análise quantitativa: envolve técnicas que permitem medir, descrever e analisar o


movimento com maior precisão. É mais utilizada dentro do laboratório de pesquisa.
Tipicamente, mede parâmetros fisiológicos e biomecânicos. Envolve maior grau
de dificuldade e maiores custos.

Análise biomecânica do movimento


A figura abaixo, adaptada de Hamill e Knutzen (2008), descreve de forma objetiva e completa as
formas de análise do movimento a partir da óptica biomecânica e cinesiológica. Essa esquematização
aborda conceitos essenciais que precisam ser dominados pelos cursistas e serão trabalhados a seguir.

Figura 1: Tipos de análise do movimento. O movimento pode ser analisado pela avaliação das contribuições
anatômicas para sua ocorrência (anatomia funcional), pela descrição de suas características (cinemática) e pela
determinação de sua causa (cinética).

Adaptado de Hamill e Knutzen (2008).

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CAPÍTULO 2
Avaliação cinemática do movimento

A Cinemática aborda as características do movimento e o examina a partir de


uma perspectiva espaço-temporal, relacionando as variáveis: posição, velocidade,
aceleração e tempo. Baseia-se no estudo da descrição do movimento, sem no
entanto, fazer referência às forças que atuam na causação do mesmo (HAMILL;
KNUTZEN, 2008).

A Cinemetria pode ser mencionada como a principal área de estudo da Cinemática à medida em que
permite avaliar as formas dos movimentos.

A Cinemática pode ser dividida em Cinemática Linear e Cinemática Angular. As quais são
definidas a partir dos planos e eixos de movimento.

Cinemática linear
Avalia a forma, o padrão ou sequência de movimento em relação ao tempo. Realiza a descrição
espaço-temporal do movimento linear (HALL, 2006).

»» Movimento Linear: Movimento em linha reta ou curva no qual diferentes regiões


do corpo ou objetos percorrem a mesma distância (HALL, 2000; WATKINS, 2001).

Exemplo de aplicabilidade ao movimento humano: estudo da marcha.

A seguir, o quadro 2 apresenta a definição dos termos utilizados na descrição da marcha humana e a
figura apresenta a representação ilustrativa dos parâmetros mencionados.

Quadro 2: Apresentação dos parâmetros relacionados à descrição da marcha.

Parâmetro Descrição
Intervalo desde o evento em uma perna até o mesmo evento na mesma perna, no contato seguinte. Ex:
Passada Contato do calcanhar do pé direito com o solo até o contato subsequente do mesmo calcanhar direito com o
solo. A passada é sudividida em passos.
Parte da passada que vai desde a ocorrência de um evento numa perna até o mesmo evento na perna
Passo oposta. Ex: Contato do calcanhar do pé direito com o solo até o contato do calcanhar esquerdo com o solo.
Assim, dois passos equivalem a uma passada e também encerram um ciclo da marcha.
Coprimento da passada Distância (sentido ântero-posterior) coberta por uma passada.
Frequência da passada Número de passadas por minuto.
Largura do passo Distância (sentido medio-lateral) entre calcanhar direito e esquerdo.
Velocidade de corrida V = comprimento da passada (metros) x frequência da passada (n passadas/minuto).

Adaptado de Hamill; Knutzen, 2008.

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UNIDADE I │BIOMECÂNICA OCUPACIONAL

Figura 2: Parâmetros da passada durante a marcha.

Fonte: Hamill; Knutzen, 2008.

Cinemática angular

Abordagem que visa à descrição do movimento angular.

Movimento Angular: Movimento ao redor de um eixo de rotação em que diferentes


regiões do mesmo objeto NÃO se movem percorrendo a mesma distância (HALL,
2000; WATKINS, 2001).

Relação entre movimento linear e angular: quanto maior o raio entre um ponto do corpo em rotação
e o eixo de rotação, maior é a distância linear percorrida pelo ponto durante o movimento angular
(Exemplo: S1 > S2).

Relações entre a cinemática linear e angular. Onde S representa a distância linear (m) percorrida
pelo corpo em questão e θ o deslocamento angular, medido em graus. A velocidade e a acelaração
angular estão representadas por v e a com seus correspondentes angulares ômega e alfa.

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BIOMECÂNICA OCUPACIONAL │ UNIDADE I

Exemplos de análise cinemática do movimento. Componentes angulares do movimento (A) e


componentes lineares (B) representados pela direção e velocidade do taco e da bola.

Fonte: Hamill e Knutzen, 2008.

Lembre-se: a Cinemática refere-se a COMO o movimento acontece!

Formas de movimentos

Movimento linear
Inclui a translação dos corpos. Todos os pontos do corpo percorrem a mesma distância ou direção,
ao mesmo tempo. Pode ser retilíneo ou curvilíneo, sendo que a diferença entre eles refere-
se ao fato de que no movimento curvilíneo, o vetor que representa a direção da trajetória muda
constantemente

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UNIDADE I │BIOMECÂNICA OCUPACIONAL

Fonte: Watkins, 2001.

Movimento angular
Envolve a rotação dos corpos. Os pontos movem-se em linhas circulares ao redor de um eixo de
rotação.

Fonte: Hamill e Knutzen, 2008.

Movimento Geral
Combina a realização dos movimentos de rotação e translação.

Podemos dizer que o movimento humano, de modo geral, combina tanto características lineares
como angulares.

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BIOMECÂNICA OCUPACIONAL │ UNIDADE I

Terminologia de referência
Para realização de uma descrição apropriada
do movimento é importante a utilização de
terminologia comum que serve para padronizar,
além de conferir rigor metodológico às análises
realizadas. Vamos às principais delas que você
deverá utilizar durante as avaliações clínicas de
trabalhadores, bem como durante a realização
de relatórios de análises dos postos de trabalho.

Posição de referência
anatômica
Fonte: Hamill e Knutzen, 2008.

É uma posição ereta com os pés ligeiramente afastados e os braços pendendo relaxados ao lado do corpo,
com as palmas das mãos voltadas para frente. Não é uma posição ereta natural, mas é a orientação
corporal convencionalmente usada como referência quando são definidos termos relacionados ao
movimento.

Termos direcionais
São utilizados para descrever a relação entre as partes do corpo ou a localização de um objeto externo
em relação ao corpo. Os termos direcionais mais comumente utilizados são: superior, inferior,
anterior, posterior, medial, lateral, proximal e distal.

Termo direcional Descrição


Superior próximo à cabeça (cranial)
Inferior afastado da cabeça (caudal)
Anterior voltado para a frente do corpo (ventral)
Posterior voltado para trás do corpo (dorsal)
Medial próximo à linha média do corpo
Lateral afastado da linha média do corpo
Proximal próximo ao tronco
Distal afastado do tronco

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UNIDADE I │BIOMECÂNICA OCUPACIONAL

Figura 3

Figura adaptada de Martini, 1995.

Planos Anatômicos de Referência

Figura 4

Figura adaptada de Martini, 1995.

Sentidos dos movimentos humanos nos diferentes planos.

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BIOMECÂNICA OCUPACIONAL │ UNIDADE I

Figura 5

Fonte: Hamil e Knutzen, 2008; Watkins, 2001.

Figura 6: Movimentos gerais do corpo humano

Fonte: Hamil e Knutzen, 2008.

Movimentos gerais x planos e eixos

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UNIDADE I │BIOMECÂNICA OCUPACIONAL

Movimentos Plano Eixo


Flexão/Extensão Sagital Transversal
Abdução/Adução Frontal Sagital
Rotação med/lat Transversal Longitudnal
Fonte: Hamill e Knutzen, 2008.

Movimentos no plano sagital.

flexão extensão hiperextensão

Flexão dorsal Flexão plantar

Fonte: Hamill e Knutzen, 2008.

Contribuição da Cinesiologia.

Articulação Movimento Musculatura envolvida


Pescoço Extensão esternocleidomastoideo porção clavicular bilateral
Inclinação à esquerda esternocleidomastoideo unilateral esquerdo e escalenos anterior, médio e posterior
Inclinação à direita esternocleidomastoideo unilateral direito e escalenos anterior, médio e posterior
Flexão esternocleidomastoideo porção esternal bilateral
Rotação lateral para esquerda esternocleidomastoideo unilateral direito
Rotação lareral para direita esternocleidomastoideo unilateral esquerdo
Ombro Extensão deltoide posterior, triceps-cabeça longa e grande dorsal
Abdução deltoide lateral e supra-espinhal
Adução caraco-branquial, grande dorsal e peitoral maior
Flexão branquial, biceps-branquial, deltóide anterior e caraco-branquial
Rotação interna grande dorsal, redondo maior, subescapular, deltóide anterior
Rotação externa infra e supra espinhal, redondo menor

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BIOMECÂNICA OCUPACIONAL │ UNIDADE I

Articulação Movimento Musculatura envolvida


Cotovelo Flexão biceps braquial; braquial, braquio radial
Pronação pronador quadrado e redondo
Extensão cabeça lateral, medial e longa do triceps branquial, ancôneo
Punho Extensão do carpo músculos extensores ulnar do carpo e radial longo e curto e extensores dos dedos
Falanges Flexão flexores superficiais dos dedos e flexores profundos dos dedos
Extensão extensores comuns dos dedos
Polegar Flexão músculos flexores superficiais dos dedos
Abdução músculo abdutor longo do polegar
Escápula Rotação externa com abdução serratil anterior, trapézio superior e peitoral menor
Elevação musc. elevador da escápula, trapézio e rombóide maior
Rotação externa com adução rombóide maior e menor, trapézio médio e superior e serrátil anterior
Rotação interna com adução trapézio (fibras inferiores) e rambóides maior e menor
Abaixamento peitoral menor e fibra inferior do trapézio
Coluna Estabilizada quadrado lombar e abdômen
retp-abdominal superior e inferior, oblíquo externo e interno, travesso abdominal e
Flexão
paravertebrais
Inclinação quadrado lombar, paravertebrais
Extensão paravertebrais, porção extensora
Abdomen Rotação lateral para direita oblíquo externo esquerdo com oblíquio interno direito
Flexão reto-abdominal superior e inferior
Rotação lateral para esquerda oblíquo externo direito com oblíquo interno esquerdo
psoas maior e menor, ilíaco, iliopsoas, sartório, pectínio, reto-femural, tensor da fáscia
Quadril Flexão
lata
Extensão bíceps femoral, semimembranáceo, semitendíneo e glúteo máximo
Adução pectíneo, adutor curto, longo e magno, grácil
semi membranácio e semi tendíneo, biceps femural, gastrocnemio medial e lateral
Joelho Flexão
saróreo
Tornozelo Dorsi-flexão tibial-anterior, extensor longo dos dendos, extensor longo do hálux
piriform, gêmeos superiores e inferiores, obtuário interno e externo, quadrado da
Pé Rotação externa do quadril
coxa e porção inferior do glúteo máximo.

Adaptado de Moreira e Parada, 2005.

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CAPÍTULO 3
Avaliação cinética do movimento

Cinética
A cinética é a área de estudo que examina as forças atuantes sobre o corpo humano e qualquer objeto.
A análise cinética do movimento tem por objetivo definir as forças causadoras de um movimento.
Essa forma de análise é mais complexa e difícil de ser realizada que a análise cinemática, tanto para
sua compreensão como para sua avaliação, porque as forças envolvidas não podem ser observadas
(HAMILL; KNUTZEN, 2008).

Exemplos de análise cinética do movimento. Demonstração de como o levantamento de peso pode ser
analisado a partir da observação das forças verticais no solo que geram o levantamento (movimento
linear) e os torques produzidos nas três articulações dos membros inferiores, responsáveis por gerar
a força muscular, necessária para o levantamento.

Figura 7

Fonte: Hamil; Knutzen, 2008.

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BIOMECÂNICA OCUPACIONAL │ UNIDADE I

Histórico da cinética
Isaac Newton descobriu muitas das relações fundamentais que estabeleceram as bases da mecânica
moderna. Estes princípios tratam das inter-relações entre as grandezas cinéticas.

Primeira Lei de Newton: Lei da Inércia


Um objeto imóvel permanecerá assim desde que não haja uma força resultante agindo sobre ele. Da
mesma forma, um corpo movimentando-se com velocidade constante ao longo de uma trajetória
retilínea manterá este movimento, a não ser que sobre ele atue uma força resultante que altere a
velocidade ou a direção do movimento.

Segunda Lei de Newton: Lei da Aceleração


Uma força aplicada a um corpo provoca uma aceleração deste, com magnitude proporcional a ela,
na sua direção e inversamente proporcional à massa do corpo.

Terceira Lei de Newton: Lei da Ação e Reação


Quando um corpo exerce uma força sobre outro, este segundo corpo reage exercendo uma força que
é igual em magnitude, porém apresenta sentido oposto à força aplicada pelo primeiro corpo.

Leis de Newton Princípio


Todo o corpo permanece em repouso ou em movimento retilíneo uniforme, exceto se forças externas atuarem nele.
Lei da Inércia
Resultante das forças externas = ZERO
Quando uma bola é rebatida manualmente ou por um objeto, ela tende a se mover na direção da linha de ação da força
Lei da Aceleração aplicada. Quanto maior a força aplicada, mais rapidamente a bola se move.
F=m.a

Lei da Ação e Reação Para toda ação, há uma reação IGUAL e OPOSTA.

Tipos de força
Winter (1990) classifica as forças que atuam sobre o corpo humano em:

»» Forças gravitacionais: forças que atuam no corpo humano, atraindo-o com uma
magnitude de massa corporal combinada a aceleração da gravidade, como por
exemplo, a força peso.

»» Forças musculares e de ligamentos: forças geradas por contrações musculares e


impostas às articulações e ligamentos.

23
UNIDADE I │BIOMECÂNICA OCUPACIONAL

A cinética é dividida em cinética linear e angular. Os princípios mecânicos da cinética linear podem
ser extrapolados para a angular, por meio da conversão das grandezas lineares em angulares. Para
efeitos da prática em Biomecânica, vale a pena ressaltar os seguintes conceitos.

Momento linear
O momento linear pode ser definido, genericamente, como a quantidade de movimento que um
objeto possui. O momento linear é definido como o produto da massa de um objeto pela sua
velocidade:

M=m.v (Unidade: kg.m/s)

Impulso
A atuação de forças externas leva a uma modificação previsível do momento linear presente em um
sistema. As alterações no momento linear não dependem apenas da magnitude de ação das forças
externas, mas também do tempo em que cada força atua. O produto da força pelo tempo é conhecido
como impulso.

Impacto
O impacto é representado pela colisão entre dois corpos por um intervalo de tempo muito breve (30
– 50 ms), durante o qual os dois imprimem forças relativamente grandes um contra o outro. O
comportamento de dois objetos após um impacto depende tanto do momento linear coletivo, como
também da natureza do impacto.

»» Impacto perfeitamente elástico: a velocidade relativa dos dois corpos permanece a


mesma apesar da colisão.

»» Impacto perfeitamente plástico: após a colisão os corpos não se separam e pelo


menos um deles sofre deformação, não recuperando sua forma original.

Embora a classificação acima seja útil para fins didáticos, é importante lembrar que a maioria dos
impactos reais não se classifica nem como perfeitamente elástico, nem perfeitamente plástico, ou
seja, ficam em um ponto intermediário entre eles. A elasticidade relativa de um impacto é descrita
pelo coeficiente de restituição (e). É um valor adimensional e varia de 0 a 1.

a. Quanto mais PRÓXIMO de 1 for o coeficiente de restituição, mais ELÁSTICO é o


impacto.

b. Quanto mais PRÓXIMO de 0 for o coeficiente de restituição, mais PLÁSTICO é o


impacto.

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BIOMECÂNICA OCUPACIONAL │ UNIDADE I

Conceitos em cinética angular

Momento de inércia
O momento de inércia é uma grandeza dependente da massa e da distribuição da massa (raio de
giração). Cada particula componente do corpo, atua fornecendo alguma forma de resistência a
mudancas no movimento angular. Essa resistência e igual a massa da partícula multiplicada pelo
quadrado da distância da particula até o eixo de rotação.

I = mr2

I = Σmiri2

Unidade: kg.m2

Na cinética linear a massa era o componente mais importante. Já na cinética angular, ao pensarmos
no momento de inércia, a distribuição da massa é o fator mais significativo, mais até que a própria
massa. Para uma mesma massa, quanto mais afastada do eixo de rotacao ela estiver concentrada,
maior será o momento de inércia.

Dependendo do eixo em torno do qual um objeto gira, seu momento de inércia varia, apesar da
massa ser a mesma. O momento de inércia é uma variável sempre relacionada a um eixo de rotação.

Figura 8

Maior facildade para gerar o movimento rotacional. Maior dificuldade para gerar o movimento rotacional.

O momento de inércia deve ser calculado para cada segmento, sendo que o somatório dos momentos
de inércia corresponde ao momento de inércia do corpo. O cálculo do momento de inércia envolve os
conceitos de força e inércia que já discutimos e os conceitos de: centro de massa, torque e alavancas
que discutiremos a seguir.

25
UNIDADE I │BIOMECÂNICA OCUPACIONAL

Torque ou momento resultante


O torque resultante em relação a um determinado eixo é a soma dos torques de cada uma das forças
que compõem o sistema em relação ao mesmo eixo.

Figura 9

Equilíbrio estático
Um corpo está em equilíbrio estático quando a força resultante e o momento resultante de todas as
forças que atuam sobre ele for igual a zero.

Para que um corpo permaneça em equilíbrio estático são necessárias duas condições:

1. a força resultante da atuação de todas as forças que atuam sobre ele deve ser igual
a zero. Tal condição garante a ausência de movimento linear (translação) do corpo.

2. o momento resultante angular (forças que atuam sobre o corpo em relação a


qualquer eixo de rotação) deve ser igual a zero.

Alavancas
Alavancas são hastes rígidas que podem girar em torno de um eixo sob a ação de forças. Os músculos
atuam como alvancas mecânicas ao tracionarem os ossos para sustentar ou mover cargas. No corpo
humano, os ossos são as hastes rígidas, as articulções são os eixos e os músculos e cargas resistentes
aplicam forças.

Os sistemas de alavancas podem apresentar as seguintes


classificações:

»» alavanca Interfixa ou de primeira classe;

»» alavanca Inter-resistente ou de segunda classe;

»» alavanca Alavanca Interpotente ou de terceira classe.

26
BIOMECÂNICA OCUPACIONAL │ UNIDADE I

A eficiência de uma alavanca para mover uma resistência é dada pela vantagem mecânica (VM),
que é determinada pela relação entre braço de força e braço de resistência. Onde o braço de força é
representado pela distância do eixo até a força e o braço de resistência é representado pela distância
do eixo até a resistência.

braço de força
VM = braço de
resistência

VM = 1 – a força necessária para movimentar uma resistência é exatamente igual à resistência.

VM > 1 – a força necessária para movimentar uma resistência é menor do que a resistência.

VM < 1 – a força necessária para movimentar uma resistência é maior do que a resistência

Alavancas interfixas ou de primeira classe

»» Força e resistência aplicadas em lados opostos do eixo.

»» No corpo humano podem ser exemplicadas, por meio da ação simultânea dos
agonistas e antagonistas em lados opostos de uma articulação.

»» A vantagem mecânica pode ser maior, menor ou igual a 1.

Alavanca Inter-resistente ou de segunda classe

»» Resistência aplicada entre o eixo e a força.

»» No corpo humano não existem exemplos análogos a esse modelo de forças.

»» A vantagem mecânica é sempre maior que 1, pois o braço de força é sempre maior
que o braço de resistência.

27
UNIDADE I │BIOMECÂNICA OCUPACIONAL

Alavanca Interpotente ou de terceira classe

»» Força aplicada entre o eixo e a resistência.

»» Representam a grande maioria das alavancas do corpo humano.

»» A vantagem mecânica é sempre menor que 1, pois o braço de força é sempre menor
que o braço de resistência.

A grande maioria das alavancas do corpo humano, pelo fato de serem de terceira classe e apresentarem
as inserções dos músculos próximas das articulações, apresentam baixo rendimento em termos
de força. Contudo, um ligeiro encurtamento do músculo possibilita uma grande amplitude de
movimento na extremidade do segmento. Da mesma forma, uma velocidade de encurtamento do
músculo relativamente baixa acarreta uma velocidade muito maior na extremidade do segmento.

Figura 10: Em A temos o cotovelo atuando como eixo de uma alvanca de terceira classe,
em B a mesma aticulação representa o eixo de uma alvanca de primeira classe.

Fonte: Watkins, 2001

28
BIOMECÂNICA OCUPACIONAL │ UNIDADE I

Quadro 3. Conceitos de Cinética

Massa É a quantidade de matéria que compõe o corpo. A unidade de massa no SI é o quilograma (kg).
É a tendência de um corpo manter seu estado de movimento linear, esteja ele parado ou movendo-se a uma velocidade constante.
Inércia
A inércia não tem unidades de medida, mas é diretamente proporcional à massa do corpo
É a tendência de um corpo manter seu estado de movimento de rotação, esteja ele em repouso ou movendo-se a uma velocidade
Momento de
angular constante. O momento de inércia depende não apenas da massa do corpo mas também da sua distribuição. A unidade de
inércia
momento de inércia no SI é o quilograma-metro quadrado (kgm2).
É toda causa capaz de provocar em um corpo uma modificação (ou uma tendência de modificação) de movimento ou de forma. A
Força unidade de força no SI é o Newton (N).
Uma força é caracterizada pela sua intensidade, sua direção e seu sentido – é uma grandeza vetorial.
É a força gravitacional exercida sobre um corpo. As unidades de peso são as mesmas unidades de força. A força peso age sempre
Peso na direção vertical, em sentido ao centro da Terra. O ponto de aplicação da força peso de um corpo é o centro de gravidade deste
corpo.
É o efeito de uma força aplicada sobre um corpo capaz de produzir rotação neste corpo. Algebricamente é o produto da
Torque intensidade da força pela distância (perpendicular) da linha de ação da força ao eixo de rotação. A unidade de momento no SI é o
Newton-metro (Nm).

Métodos de medição em Biomecânica


Genericamente, os métodos utilizados em Biomecânica podem ser classificados nas seguintes
categorias: (a) teórico-dedutivos ou determinísticos, baseados somente em leis físicas e relações
matemáticas (relações causais); (b) empírico-indutivos ou indeterminísticos, baseados em relações
estatísticas (relações formais) e relações experimentais e ainda poderiamos relacionar; (c) métodos
combinados, que tentam conjugar as duas categorias anteriores, em função do problema científico
a ser tratado (AMADIO, 2000).

Podemos classificar os procedimentos de medição em biomecânica nas seguintes categorias:

»» Procedimentos Mecânicos – observações de grandezas por observação direta e que


não se alteram muita rapidamente.

»» Procedimentos Eletrônicos – grandezas mecânicas são transformadas em elétricas,


facilitando a medição de grandezas que se alteram rapidamente com o tempo e daí
adaptando ao processamento de dados, o que permite medições dinâmicas.

»» Procedimentos Ópticos-eletrônicos (processamento de imagens) – representação


óptica e geométrica do objeto a ser analisado. As análises e medições são feitas
no modelo. São procedimentos indiretos uma vez que a análise é feita no modelo
representado (ABDEL-AZIS; KARARA, 1971).

O estudo relativo ao funcionamento físico de estruturas biológicas tem se baseado principalmente


em medidas experimentais. Devido às dificuldades metodológicas de acesso ao comportamento
biomecânico de estruturas internas dos sistemas biológicos, a sua parametrização em termos de
variáveis biomecânicas internas se torna extremamente dependente ou de medições externas
ao organismo, isto é, observadas exteriormente, ou de equações de estimação. Desta maneira, a
Biomecânica estrutura-se como um ramo de grande interação com áreas diversas que se aplicam

29
UNIDADE I │BIOMECÂNICA OCUPACIONAL

ao estudo do movimento, em especial, ao do corpo humano, como a Educação Física, a Medicina, a


Fisioterapia, a Engenharia, a Física, entre outras áreas (AMADIO; DUARTE, 1998).

Por se tratar de uma disciplina com alta dependência de resultados experimentais, é essencial que
haja cuidados específicos com os métodos biomecânicos de medição utilizados. Os métodos utilizados
pela biomecânica para abordar as diversas formas de movimento são: cinemetria, dinamometria,
antropometria e eletromiografia (WINTER, 1990; AMADIO, 1989; BAUMANN, 1995).

Utilizando-se destes métodos, afinal, o movimento pode ser descrito e modelado matematicamente,
permitindo a maior compreensão dos mecanismos internos reguladores e executores do movimento
do corpo humano, como descrito na figura a seguir, onde observamos áreas para análise e medição
do movimento de origem analítica e/ou experimental para a determinação destes parâmetros da
biomecânica interna.

Áreas para complexa análise biomecânica do movimento humano


(adaptado de AMADIO, 1989, BAUMANN 1995).

Cinemetria Dinamometria Antropometria EMG

↓ ↓ ↓ ↓
Posição e orientação dos Forças externas e Parâmetros para
Atividades muscular
segmentos corporais distribuição de pressão o modelo corporal

Modelo Modelo

↓ ↓
Forças de gravitação Momentos líquidos
Energia mecânica e
Inércia forças internas

Fonte: Amadio, 2000.

30
CAPÍTULO 4
Biomecânica ocupacional

A Biomecânica ocupacional é a área da Biomecânica que possui como objeto


de estudo o universo organizacional, atendo-se principalmente às interações
musculo-esqueléticas estáticas ou dinâmicas que o trabalhador adota em seu posto
de trabalho.

Guanis de Barros Vilela Júnior

Segundo Chaffin (2001), a Biomecânica Ocupacional é o estudo da interação física entre trabalhadores
e seus instrumentos, máquinas e materiais com o objetivo de aumentar a performance e reduzir
os riscos de distúrbios musculoesqueléticas. Para Iida (2005), a Biomecânica Ocupacional trata
basicamente da questão das posturas corporais no trabalho e aplicação de forças as quais
estão relacionadas ao tipo de trabalho muscular, estático ou dinâmico, e aos tipos de alavancas
existentes no corpo humano durante a execução dos movimentos.

Os esforços dinâmicos estão relacionados a deslocamentos, transportes de cargas e uso de escadas.


Ao passo que os esforços estáticos ocorrem durante sustentação de cargas externas ou por meio
da adoção de posturas inadequadas e com restrições de movimento, podendo ocasionar lesões
articulares e no disco intervertebral.

Durante a realização de trabalhos na postura sentada, a maior parte dos músculos posturais está
relaxada, ocorrendo trabalho muscular estático apenas na cintura escapular, com o objetivo de
mantê-la estável. Estudos de Grandjean (1996) demonstraram que a postura sentada determina um
aumento da pressão intradiscal e de tensão nos ligamentos que implica em risco aumentado para
o desenvolvimento de hérnia de disco. De acordo com Marras (1997), as cargas impostas à coluna,
considerando-se o tronco ereto, são sempre maiores na postura sentada que na em pé.

Parnianpour et al.(1997) afirmam que a maior parte dos casos de lombalgia entre trabalhadores é
atribuída à postura estática e posturas que envolvem uma sobrecarga excessiva pelo manuseio de
cargas associado a movimentos frequentes de flexão do tronco.

Para compreendermos melhor a forma como ferramentas e postos de trabalhos inadequados


provocam estresses musculares, dores e fadiga e conseguirmos realizar intervenções com maiores
chances de sucesso é necessário dominarmos alguns conceitos básicos, como veremos a seguir.

Postura
Postura é a combinação das posições das diferentes articulações do corpo num dado momento. A
postura correta é a posição na qual um mínimo de estresse é aplicado em cada articulação (MAGEE,
2002).

31
UNIDADE I │BIOMECÂNICA OCUPACIONAL

A postura correta consiste no alinhamento do corpo com eficiência fisiológica e biomecânica


máximas, o que minimiza os estresses e as sobrecargas impostas ao sistema musculoesquelético
devido à ação da gravidade (PALMER; APLER, 2000).

Gardiner (1995) apresenta uma definição em função do nível de atividade muscular. Segundo esse
autor, a postura é definida como a atitude assumida pelo corpo, podendo ser uma postura ativa ou
inativa. A postura inativa é aquela que demanda a mínima ação dos músculos responsáveis pela
manutenção das funções corporais essenciais, tais como a respiração e batimentos cardíacos. Já
a postura ativa é aquela que se mantém por meio da ação coordenada de vários músculos para
conseguir estabilidade.

A postura ativa estática é mantida pela interação de grupos musculares com o objetivo de estabilizar
as articulações contra a gravidade. A postura ativa dinâmica forma uma base eficiente para o
movimento. Nesse caso, a postura é modificada constantemente como resultado disso, sendo que
a intensidade e distribuição do trabalho muscular necessário dependem do padrão postural e das
características do indivíduo que a assume (GARDINER, 1995).

A maioria das fibras dos músculos antigravitacionais são do tipo I, ou seja, fibras oxidativas lentas
que são resistentes à fadiga e desempenham contração eficiente com mínimo gasto enérgetico.

Parado ou em movimento, o corpo mantém sua postura pela ação dinâmica de forças
aplicadas sobre ossos e músculos. A postura ideal é aquela onde essas forças sustentam
e conduzem o corpo sem gerar sobrecargas, com a máxima eficiência e o mínimo de
esforço. A manutenção da postura é o resultado de ações musculares contínuas que
compensam o efeito da gravidade e de forças externas desequilibradoras, mantêm
o equilíbrio e contribuem decisivamente para a manutenção de nossa consciência
têmporo-espacial <www.bibliotecadigital.ufmg.br>.

Gardiner (1995) afirma que a postura é ruim quando é ineficaz, ou seja, quando não atinge a
finalidade a que se destinava ou quando uma grande força muscular é necessária para mantê-la.
Um mau alinhamento dos segmentos corporais requer um trabalho muscular adicional para manter
o equilíbrio (KISNER; COLBY, 1998).

Assim, como consequência das posturas inadequadas, surge a dor que é ocasionada devido à
sobrecarga mecânica gerada sobre o sistema musculoesquelético. Além da dor, outra consequência
prejudicial decorrente da adoção de posturas ruins por períodos prolongados é o desenvolvimento
de desequilíbrios de força e flexibilidade muscular que pode evoluir para encurtamento adaptativo
dos musculos agonistas e fraqueza muscular dos antagonistas.

Durante a vida adulta as alterações nos tecidos moles ocorrem de forma adaptativa a fatores
ambientais (OLIVER; MIDDLEDITCH, 1998). Tensões mecânicas como as determinadas por
posturas prolongadas assimétricas tem um efeito marcante sobre os músculos e tecidos moles.
Com isso, ocorre produção aumentada de fibroblastos e de colágeno o que pode ocasionar perda
da elasticidade do músculo. A dor localizada, fraqueza muscular, estresses ocupacionais e tensão

32
BIOMECÂNICA OCUPACIONAL │ UNIDADE I

localizada sem finalidade reduzem a eficiência das contrações musculares e prejudica o desempenho
da atividade laboral ou atlética.

Equilíbrio
Hamill e Knutzen (2008) colocam que, em termos mecânicos, pode-se dizer que um corpo está em
equilíbrio quando as diversas forças que agem sobre ele estão em direções opostas e se anulam. O
equilíbrio pode ser estático ou dinâmico.

A condição de equilíbrio estático é atingida quando a resultante e o momento resultante de todas as


forças que atuam sobre ele forem igual a zero.

De acordo com os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), a aplicação fisiológica do equilíbrio


musculoesquelético se manifesta por meio das respostas biomecânicas do sistema musculoesquelético
quando se está em pé, caminhando, sentando e realizando outros movimentos. A estabilidade e o
equilíbrio estão relacionados com a matemática do centro de gravidade do corpo.

O equilíbrio consiste em manter o centro de gravidade (CG) dentro de uma base de suporte que
proporcione maior estabilidade nos segmentos corporais, durante situações estáticas e dinâmicas
(FARIA, 2003).

Centro de gravidade
Lehmkuhl & Smith (1989): único ponto de um corpo ao redor do qual todas as partículas de sua
massa estão igualmente distribuídas;

Watkins (2001): ponto por meio do qual a linha de ação do peso de um objeto atua,
independentemente da posição do objeto;

Okuno & Fratin (2003): local em um corpo onde é aplicado a resultante das forças peso, como se
toda a massa do corpo estivesse concentrada neste ponto.

Compreensão do Centro de Gravidade (CG)

Para entendermos a aplicabilidade prática do CG podemos utilizar do racicínio apresentado por


Okuno & Fratin (2003) que aponta os três fatores:

»» um corpo pode ser considerado como sendo composto por pequenos segmentos;

»» o peso resultante deste corpo corresponde ao somatório das forças peso que atuam
em cada um deste segmentos;

»» o local onde é aplicada a resultante das forças peso é o centro de gravidade.

33
UNIDADE I │BIOMECÂNICA OCUPACIONAL

Considerando a posição anatômica, pode-se considerar que o centro de gravidade do homem


está localizado a aproximadamente 54%, de sua estatura, quando medida a partir do solo. O CG
localiza-se sobre a linha gravitacional, que é definida como a linha imaginária que passa pelo centro
de gravidade no sentido vertical até o solo.

Figura 11

Fonte:<http://edwardcho-sph3u.blogspot.com/2010/09/what-is-centre-of-gravity.html>

Centro de massa
De acordo com Enoka (2002), o centro de massa pode ser definido como o ponto de equilíbrio, um
local no qual todas as partículas do objeto estão igualmente distribuídas.

É importante lembrar que o centro de massa nem sempre coincide com o centro de gravidade.
Dependendo da situação, o centro de gravidade pode se localizar externamente ao corpo ao passo
que o centro de massa não.

A diferença essencial entre os dois conceitos está no fato de que o centro de massa é uma medida da
cinética, ao passo que o centro de gravidade é uma medida da cinemática.

O Centro de Massa dos segmentos corporais pode ser determinado em função do comprimento
segmentar. A tabela, elaborada pelo Professor Felipe Carpes, apresenta as porcentagens relativas ao
peso corporal total dos segmentos corporais.

34
BIOMECÂNICA OCUPACIONAL │ UNIDADE I

PESOS RELATIVOS (%)


Braune & Fischer Universidade de
Dempster (1955) Clauser et al. (1969) Zatsiorski (1988)
(1889) Colônia
Cabeça 7,1 8,1 7,3 6,94 7,8
Tronco 46,1 49,7 50,7 43,46 51,0
Braço 3,3 2,8 2,6 2,71 2,7
Antebraço 2,1 1,6 1,6 1,62 1,6
Mão 0,8 0,6 0,7 0,61 0,6
Antebraço + mão 2,9 2,2 2,3 2,23 2,2
Coxa 10,7 10,0 10,3 14,16 9,7
Perna 4,8 4,6 4,3 4,33 4,6
Pé 1,7 1,5 1,5 1,37 1,4
Perna + pé 6,5 6,1 5,8 5,70 6,0

Fonte: Apresentação Carpes

A postura e o centro de gravidade


O corpo é continuamente atraído pela força da gravidade. A sustentação dos segmentos corporais
em qualquer postura requer o desempenho de forças antigravitacionais que são desempenhadas
pelos músculos.

O centro de gravidade do corpo humano tem sua localização determinada pela


resultante entre estas forças opostas que atuam sobre os segmentos corporais
<www.bibliotecadigital.ufmg.br>.

A localização do centro de gravidade do corpo humano depende da orientação dos segmentos


corporais. Em posição ereta, o centro de gravidade é central e está situado a uma altura que
corresponde a aproximadamente 54% da altura do indivíduo. Posturas inadequadas deslocam o
centro de gravidade e isso gera uma sobrecarga muscular adicional.

35
UNIDADE I │BIOMECÂNICA OCUPACIONAL

Figura 12: Diagrama do centro de gravidade do corpo em suas diversas posturas.

Fonte: MORAES (1992)

O núcleo do centro de gravidade do equilíbrio situa-se na região do tronco. As oscilações do tronco


permitem que ele seja mantido acima da base de sustentação. Controlado pela musculatura tônica,
ele se desloca inconscientemente em todos os planos: horizontal, sagital e frontal.

Figura 13

Fonte: Chaffin, 2001.

A musculatura extensora deve atuar no sentido de equilibrar a tendência à rotação anterior do corpo
que é gerada pela postura apresentada na figura acima, durante o manuseio da carga. Quanto maior
a carga manuseada, maior será essa tendência à rotação e, portanto, maior a exigência imposta aos
músculos da cadeia posterior, discos intervertebrais e ligamentos.

36
BIOMECÂNICA OCUPACIONAL │ UNIDADE I

Segundo Okuno e Fratin (2003), para verificar o estado de equilíbrio de um corpo deve-se verificar
a como a força peso exerce torque sobre o eixo de rotação (ponto de apoio). No caso da linha de ação
da força peso ser aplicada sobre o eixo de rotação, não ocorrerá movimento pois o não há torque.

Figura 14

Fonte: Okuno e Fratin (2003)

Síntese para aplicação prática


dos conceitos aprendidos na rotina
ocupacional
Para os trabalhos realizados na postura sentada, os seguintes fatores devem ser considerados

comparação entre as diferentes posturas


sentado

Descrição das posturas Sentado Arqueado Sentado Normal


Carga muscular no trabalho Carga nos músculos do pescoço e tronco num
Carga forte no dorso e nuca.
estático trabalho de concentração.
Comparado com a posição normal sentado
Exigência energética (KJ/min aos 22 mim).
0,4 0
Sobrecarga desigual das vértebras até algo próximo a
Carga das vértebras
três vezes o valor da posição sentado normal.
A irrigação sanguínea normal da pele das artérias, com o
tempo é bloqueada. A irrigação sanguínea normal da pele das artérias, com o
Efeitos
A respiração e o trabalho abdominal tornan-se tempo é bloqueada.
deficientes.
Indicação para trabalho fino/de precisão.
Melhorias na estação de trabalho, pela melhoria da
Aplicação Boa postura, especialmente na troca entre posições
configuração do trabalho.
normais sentado/em pé.
Fonte: Chaffin,2001

37
UNIDADE I │BIOMECÂNICA OCUPACIONAL

Para os trabalhos realizados na postura em pé, deve-se consider

Comparação entre as diferentes posturas


Em pé

Descrição das
De Pé, Normal De Pé, Arqueado De Pé, Flexionado Agachado
posutras
Carga nos músculos do forte muito forte forte
pescoço e tronco num
Carga muscular no
trabalho de concentração, Carga na nuca, costas, ombros e musculatura dos pés, adicionado por trabalho de
trabalho estático
adicionando pernas e concentração em posição de pé normal.
músculos dos pés.
comparado com a posição normal sentado
Exigência (KJ/min aos 22 mim).
energética
0,4 1,3 2,1 0,9
Carga desigual, com Carga desigual, com
Carga desigual, sobrecarga
Carga distributiva igualmente sobrecarga das vértebras até sobrecarga das vértebras
Carga das vértebras das vértebras até 3 vezes o
nas vértebras. 10 vezes o valor sentado até 3 vezes o valor sentado
valor sentado normal.
normal. normal.
Obstrução da corrente
sanguínea na altura dos
Elevação do bloqueio do sangue das pernas em especial por movimentos de agachamento não joelhos.
Efeitos
previstos. Respiração e trabalo
abdominal deficiente pela
compressão da barriga.

Possibilita grande espaço


de trabalho e área de
pega/manejo.
Grande força, com apoio
Aplicação Indicado somente para períodos curtos de atividade.
para o corpo eventural.
Boa postura, especialmente
na troca entre posições
normais sentado/em pé.

Fonte: Chaffin, 2001.

Vimos que o objetivo principal da Biomecânica Ocupacional é estudar as interações entre o trabalho
e o homem sob o ponto de vista dos movimentos realizados pelo sistema musculoesquelético e
as consequências resultantes desses movimentos e da exposição determinada pelo ambiente
ocupacional como tensões musculares, dores e fadiga provocados por:

»» produtos inadequados;

»» postos de trabalho inadaptáveis;

»» instrumentos incompatíveis.

38
BIOMECÂNICA OCUPACIONAL │ UNIDADE I

A partir de diferentes dimensões de análise, baseada no estudo de:

»» posturas Corporais;

»» aplicação de Forças.

O profissional ergonomista pode atuar buscando atingir os seguintes objetivos:

»» reduzir as exigências biomecânicas das tarefas;

»» possibilitar uma postura confortável (liberdade de movimentos);

»» facilitar a percepção visual (zonas de visão);

»» proporcionar o fácil o manuseio dos componentes do posto (zonas de alcance);

»» otimizar o trabalho em grupo e as relações sociais.

39
CAPÍTULO 5
Trabalho muscular

O corpo humano assemelha-se a um sistema de alavancas movido pela contração


muscular. Esses movimentos nos permitem realizar diferentes tipos de trabalho.
Contudo, essa “máquina humana” possui diversos tipos de limitações e fragilidades,
que precisam ser consideradas no projeto e dimensionamento do trabalho.

Itiro Iida

O corpo humano trabalha incessantemente, até mesmo durante o repouso. Esse trabalho implica no
consumo de energia que é utilizada para manter o metabolismo basal.

Durante a realização de atividades ocorre um aumento na taxa de metabolismo, sendo necessário


um período de adaptação do mesmo às exigências da tarefa. Esforços repentinos fazem com que
os músculos trabalhem em desvantagem e iniciem contrações anaeróbicas, cuja fonte de energia
esgota-se rapidamente (WILMORE; COSTILL, 2001).

Durante um esforço físico, os músculos funcionam como um motor térmico, oxidando glicogênio e
liberando ácido lático e ácido racêmico os quais aumentam a acidez do sangue. Essa acidez estimula
a dilatação dos vasos e aumenta o ritmo da respiração. Essas adaptações contribuem para levar mais
oxigênio aos músculos. O equilíbrio entre a demanda e o suprimento de oxigênio é restabelecido em
cerca de 2 a 3 minutos. Ao fim da atividade, o organismo retoma aos níveis fisiológicos anteriores,
demorando cerca de 6 minutos para retomar o equilíbrio (IIDA, 2005).

Pressão intramuscular
Durante a contração muscular, ocorre aumento do conteúdo hídrico no interior do músculo, o que
implica na elevação da pressão intramuscular. A pressão intramuscular máxima, desenvolvida em
um músculo revigorado, varia de um músculo para outro de forma considerável. Essa variação
depende principalmente da anatomia do músculo e de suas adjacências, se o musculo é delgado
ou volumoso ou sua localização superficial ou profunda. Por exemplo, a pressão intramuscular do
supraespinhoso e infraespinhoso, é de quatro a cinco vezes maior que a gerada no deltóide por uma
mesma carga relativa (RANNEY, 2000).

A grandes intensidades dinâmicas de trabalho, o volume muscular pode aumentar entre 10 a 20%
no decorrer de alguns minutos. Contudo, durante contrações musculares estáticas menos vigorosas
(entre 5 a 10% da CVM), porém prolongadas, também ocorre acúmulo de fluídos que torna o músculo
edematoso (SJOGAARD, 1990).

Assim, podemos verificar que tanto durante o trabalho muscular estático, como durante o trabalho
muscular dinâmico, ocorre acúmulo de fluído que leva ao espessamento do músculo.

40
BIOMECÂNICA OCUPACIONAL │ UNIDADE I

Para os músculos situados em compartimentos delimitados, fechados, com baixa complacência,


como a região escapular por exemplo (mm. supraespinhoso e infaespinhoso), o aumento no
conteúdo do fluído pode ocasionar aumento da pressão intramuscular com consequente risco de
desenvolvimento de síndromes compartimentais (RANNEY, 2000).

Perfusão sanguínea e trabalho muscular


(estático e dinâmico)
O sistema musculoesquelético é irrigado por meio de vasos capilares, por meio dos quais, o sangue
leva oxigênio até os músculos e remove os subprodutos do metabolismo. À medida que o fluxo se
ditancia do coração, a pressão sanguínea vai sofrendo redução e chega ao interior dos músculos com
cerca de 30mmHg. Quando um músculo está contraído, há um aumento da pressão no interior do
mesmo que provoca um estrangulamento dos capilares. Isso acontece com certa facilidade, porque
as paredes dos capilares são muito finas e a pressão sanguínea nos músculos é baixa. Enquanto a
contração muscular estiver entre 15 a 20% da contração voluntária máxima (CVM), a circulação
continua a ocorrer normalmente. Quando essa contração chegar a 60%, da CVM, o sangue deixa de
circular no interior dos músculos (IIDA, 2005).

A falta de perfusão sangínea leva à fadiga, que impede a continuidade da atividade muscular e
leva à dor devido à falta de nutrientes e ao acúmulo de substâncias algogênicas (subprodutos do
metabolismo).

Figura 15

A figura acima representa a forma como o músculo opera em condições desfavoráveis de irrigação
sanguínea durante o trabalho estático. Nessa condição, a demanda supera o suprimento, enquanto há
equilíbrio entre a demanda e o suprimento nas condições de repouso e de trabalho dinâmico

Lehmann, 1960, apud Iida, 2001.

41
UNIDADE I │BIOMECÂNICA OCUPACIONAL

Trabalho dinâmico
O trabalho dinâmico ocorre quando há contrações e relaxamentos alternados dos músculos, corno
nas tarefas de martelar, serrar, empurrar carrinhos ou caminhar. A contração e relaxamento
muscular em alternância funciona como uma bomba hidráulica, que ativa a circulação nos capilares
e aumenta o volume do sangue circulante no tecido muscular em até 20 vezes, quando comparado
com a situação de repouso. Nessas condições, o músculo passa a receber mais oxigênio, o que
aumenta sua resistência à fadiga (IIDA, 2005).

O trabalho dinâmico está vinculado principalmente às atividades laborais ditas pesadas. Essas
atividades envolvem um elevado gasto energético e, em sua grande maioria, o transporte manual de
cargas. O manuseio de cargas durante atividades laborais pesadas é um fator de risco que envolve
inúmeras peculiaridades as quais serão analisadas no capítulo a seguir.

Trabalho estático
O trabalho estático é aquele que exige contração contínua de alguns músculos, para manter
uma determinada posição. Esse tipo de contração, que não produz movimentos dos segmentos
corpóreos, é chamada de contração isométrica. Isso ocorre, por exemplo, com os músculos dorsais
e das pernas para manter a posição de pé, com os músculos dos ombros e do pescoço para manter
a cabeça inclinada para frente (IIDA, 2005), músculos do ombro e dos braços do dentista durante a
realização de uma obturação.

Um trabalho estático com aplicação de 50% da força máxima, segundo Iida (2005), pode durar no
máximo 1 min, enquanto que contrações estáticas com níveis de força inferiores a 20% da força
máxima podem ser mantidas durante um tempo maior. Grandjean (1998) recomenda que a carga
estática não supere 8% da CVM, quando os esforços façam parte da rotina ocupacional diária. Se
essa carga estática chegar a 15 a 20% da força máxima e for executada durante vários dias e semanas,
provocará dores e sinais de fadiga.

As atividades sedentárias ou monótonas são as que mais envolvem esse tipo de trabalho muscular e as
regiões do corpo mais frequentemente sobrecarregadas por esse tipo de atividade são a musculatura
dos ombros, pescoço e membros superiores (THORN, 2002).

42
BIOMECÂNICA OCUPACIONAL │ UNIDADE I

Figura 16

Fonte: Netter, 1998

Características principais do trabalho muscular estático:

»» carga estática, esforço estático, postura estática e contração isométrica;

»» postura fixa contra a gravidade;

»» carga externa geralmente baixa;

»» sobrecarga específica em algumas regiões.

Principais fatores de risco associados ao trabalho estático:

»» baixo repouso muscular;

»» baixa variação na atividade muscular;

»» alto estresse mental.

Durante a execução de trabalhos monótonos, há recrutamento seletivo de unidades motoras de baixo


limiar de ativação e um percentual relativamente pequeno das fíbras musculares se contraem. O nível
força exercido pelos músculos é o fator determinante para o recrutamento das unidades motoras
(GRANDJEAN, 1988). O recrutamento das unidades motoras é realizado de acordo com um padrão
hierárquico, sendo que as unidades com baixo limiar de ativação são sempre as primeiras a serem
acionadas nos níveis mais baixos de força, enquanto que unidades motoras adicionais são ativadas
posteriormente, gerando aproximadamente 30% da força máxima de contração. Assim, mesmo
durante atividades que exijam apenas 10% da força de contração voluntária máxima, poucas unidades
motoras são ativadas e estas utilizam menos de 30% de sua força. Em trabalhos monótonos, unidades
motoras com baixo limiar de ativação são ativadas continuamente durante todo o ciclo do trabalho.
Essas fibras recebem a denominação de “fibras cinderelas”. Se o mesmo trabalho for realizado
continuamente durante longos períodos de tempo, o padrão estereotipado de recrutamento pode
ocasionar fadiga e sobrecarga das fibras ativadas continuamente (SJOGAARD, 1997).

43
UNIDADE I │BIOMECÂNICA OCUPACIONAL

Figura 17

Atividades que requerem baixo nível de força muscular (menores porcentagens da CVM), podem
ser mantidas durante períodos de tempo mais longos (A). Quanto menor o nível de força muscular
exigido, menor o número de unidades motoras (U.M.) ativadas no músculo (B).

Durante a contração muscular, ocorre movimento relativo entre vários tecidos. Em algumas regiões
do corpo, as fricções repetidas resultam em irritação e sensibilização dos tecidos que podem
culminar em alterações degenerativas as quais são precedidas por reações inflamatórias e dor.
Essa sobrecarga gerada desempenha importante papel no desenvolvimento de tendinites, bursites,
síndrome do túnel do carpo, entre outros (HAGBERG, 1995).

A dor ocasiona leva à redução da força muscular e do desempenho durante a execução da tarefa
(GRANDJEAN, 1988). Contudo, havendo período de descanso suficiente, o organismo consegue
reagir dando início a processo regenerativo (fase de reparação tecidual). Nesse caso, a exposição
exerce um efeito adaptativo. Não ocorrendo esse período de repouso, de recuperação para o tecido
muscular, o processo inflamatório e degernerativo é perpetuado havendo manifestação de quadros
patológicos diagnosticáveis.

Suporte científico para ausência de repouso


muscular durante o trabalho estático
Os pesquisadores Zennaro et al. (2003) e Thorn (2005) verificaram, por meio de estudos
eletromiográficos, a ocorrência de atividade muscular contínua de longa duração das unidades
motoras dos músculos envolvidos em atividades estáticas. Esses dois pesquisadores avaliaram a
atividade muscular do trapézio de trabalhadores cuja atividade laboral estava associada ao uso
contínuo de microcomputadores.

Kadi et al. (1998) e Larsson et al. (2004) constataram a ocorrência de alterações morfológicas
de fibras musculares em músculos sintomáticos de trabalhadoras envolvidas em atividades que
determinavam contração estática do músculo trapézio.

Veiersted et al. (1993) e Madeleine et al. (2003) demonstraram, por meio de estudos eletromiográficos
que a escassez de períodos de repouso muscular precedem distúrbios musculares em trabalhadores

44
BIOMECÂNICA OCUPACIONAL │ UNIDADE I

envolvidos com tarefas envolvendo manuseio de cargas leves associadas a atividade estática do
trapézio.

Finalmente, Galinsky et al. (2000), comprovou que aumento no número de micropausas durante o
trabalho, reduz sintomas sem reduzir produtividade. Isso porque as pausas previnem a ocorrência
de dor a qual atua como fator limitante para o desempenho da tarefa, prejudicando o rendimento
do trabalhador.

Suporte científico para baixa variação no nível de


atividade muscular durante o trabalho estático
Como já vimos anteriormente, as atividades sedentárias e monótonas são em sua maioria realizadas
na postura sentada por exigirem um maior nível de habilidades manuais, menor exigência do uso
de força e também necessidade de maior concentração. Assim, foi cientificamente comprovado
um baixo nível de atividade muscular durante a realização desse tipo de atividade, bem como uma
frequente associação de maiores níveis de estresse mental com essas atividades.

A associação entre baixos níveis de contração muscular e o estresse mental promove um maior
comprometimento do fluxo sanguíneo nos capilares levando à dor muscular aguda. A seguir,
veremos alguns estudos que comprovam essas relações:

»» Hansen et al. (2002): demonstrou que vasoconstrição simpática é preservada


na atividade muscular de baixa intensidade. Essa vaconstrição reduz o aporte
sanguíneo para o músculo, bem como a remoção dos subprodutos do metabolismo.

»» Moncada et al. (2002): pode comprovar que comprometimento do fluxo sanguíneo


provoca dor muscular aguda, devido ao acúmulo de substâncias algogênicas,
resultantes do metabolismo da contração, no tecido muscular.

»» Larsson et al. (1999) e (2004): detectou comprometimento da microcirculação em


músculos dolorosos.

»» Proper et al. (2003): verificou forte correlação positiva entre treinamento físico no
trabalho e a saúde musculoesquelética da região lombar. Isso porque a realização
de exercícios promove contrações rítmicas que melhoram a nutrição do tecido e a
remoção dos subprodutos do metabolismo, o que não ocorre quando o músculo
é mantido em posição estática, por períodos prolongados como ocorre durante as
atividades sedentárias, exercidas na postura sentada.

Suporte científico para altos níveis de estresse


mental
Demandas de trabalho excessivas levam a reações agudas de estresse que provocam a liberação
de catecolaminas as quais aumentam a intensidade de contração muscular estática, gerando
sobrecarga para o músculo envolvido. A musculatura da cintura escapular é particularmente a mais

45
UNIDADE I │BIOMECÂNICA OCUPACIONAL

susceptível a captar essa tensão emocional (LUNDBERG, 2002), sendo os quadros de mialgia do
trapézio comuns em ambiente ocupacional.

Assim, estudos científicos demonstraram que o estresse mental aumenta atividade muscular e também
que:

»» sujeitos sintomáticos apresentam menor repouso muscular durante tarefas


estressantes (THORN et al. 2005), fora do trabalho e durante o sono (HOLTE et al.
2002; MORK et al. 2004) também.

»» Existe correlação significante entre fatores psicossociais e saúde musculoesquelética


(ARIENS et al. 2001; BONGERS et al. 1993; HOOGENDOORN et al. 2000 ).

Conclusões sobre o trabalho muscular estático


O conhecimento dos mecanismos pisiológicos envolvidos durante o trabalho muscular estático
facilita a compreensão dos sintomas musculoesqueléticos apresentados pelos trabalhadores, bem
como auxilia a elaboração de intervenções e medidas melhor fundamentadas e com maiores chances
de sucesso.

A tabela, adptada de Iida (2005), fornece informações importantes relativas à associação entre
algumas posturas possíveis adotadas durante a realização de trabalhos estáticos e os sintomas que
ocasionam:

Trabalho estático e principais queixas


Tipo de Trabalho Queixas Corporais
»» De pé no lugar. »» Pés e pernas, eventualmente varizes.
»» Postura sentada, mas sem apoio para as costas. »» Musculatura distensora das costas.
»» Assento demasiado alto. »» Joelhos, pernas e pés.
»» Assento demasiado baixo. »» Ombros e nuca.
»» Postura de tronco inclinado, sentado ou de pé. »» Região lombar, desgaste de discos intervertebrais.
»» Braço estendido, para frente, para os lados, ou para cima. »» Ombros e braço, eventualmente periartrite dos ombros.
»» Cabeça curvada demasiado para frente ou para trás. »» Nuca e desgaste dos discos intervertebrais.
»» Postura de mão forçada em comandos ou ferramentas. »» Antebraço, eventualmente inflamações das bainhas e tendões.

Por ser altamente fatigante, o trabalho estático deve ser evitado sempre que possível. Quando essa
possibiliade não existir, devem ser adotadas medidas para que o mesmo seja aliviado. Medidas
simples como:

»» ajustes no posto de trabalho;

»» mudanças frequentes de postura (para tarefas industriais: adequação dos postos de


modo a possibilitar o trabalho nas posturas em pé e sentada);

46
BIOMECÂNICA OCUPACIONAL │ UNIDADE I

»» evitar a inclinação anterior da cabeça e do tronco, por meio do posicionamento


adequado de controles e displays;

»» pausas ativas (exercícios) e passivas (descanso);

»» rodízio de tarefas;

»» melhora do posicionamento de peças facilitando seu alcance;

»» uso de ferramentas mais modernas ou adaptadas, de modo a exigir pouco uso de


força para serem manuseadas;

»» utilização de apoios para partes do corpo com o objetivo de reduzir as contrações


estáticas dos músculos;

»» uso de carrinhos para substituir o transporte manual de cargas (tanto em fábricas


como em escritórios jurídicos, por exemplo, onde grande volume de papel é
transportado manualmente, todos os dias);

»» estimular o trabalhador a entender e escutar os sinais do próprio corpo.

47
CAPÍTULO 7
Levantamento e transporte de cargas

O manuseio de cargas é uma tarefa constante na atividade diária das pessoas (HONG; LI, 2005) e
principalmente na de trabalhadores ativos (REIS et al. 2005). Além disso, como essa atividade pode
envolver várias articulações (punho, cotovelo, ombro, coluna vertebral, quadril, joelhos e tornozelos)
dependendo da tarefa, ela é responsável por uma gama de doenças musculoesquelética. Waters et
al.(1994) relataram que as atividades de manuseio de cargas ocorrem em muitas empresas e são
associadas como fator causal ou de agravamento de distúrbios musculoesqueléticos em um grande
número de trabalhadores. No Brasil, Carneiro (1997) assinala que a Previdência Social reconhece
que as lesões musculoesqueléticas configuram entre as doenças ocupacionais mais prevalentes,
sendo responsáveis por 70% dos afastamentos do trabalho. Iida (2005) relata que o transporte
manual de cargas pesadas tem sido uma das causas frequente de trauma dos trabalhadores.

Com o objetivo de melhorar as condições de segurança no trabalho na engenharia civil, a


FUNDACENTRO apresenta os procedimentos corretos para o levantamento e transporte manual
de pesos, ao mesmo tempo limitando a quantidade de carga de acordo com a idade. Os valores
recomendados pelo FUNDACENTRO estão apresentados no quadro 4:

Quadro 4. Valores recomendados pelo FUNDACENTRO


para o levantamento de carga para trabalhadores da construção civil.

Idade Homens Mulheres


18 a 35 anos 40 Kg 20 Kg
16 a 18 anos 16 Kg (ou 40% do peso indicado para adultos) 8 Kg (50% do valor indicado para o homem
menos de 16 anos proibido o levantamento de carga proibido o levantamento de carga

Fonte: FUNDACENTRO.

No entanto, o manuseio de cargas não está limitado apenas aos profissionais da construção civil. Ao
contrário, envolve diversas profissões, umas mais, como no caso de enfermeiros e transportadores
de carga, e outras menos, como dentistas e secretárias.

Além disso, o nível de risco determinado pelo manuseio de cargas não está relacionado apenas
à quantidade de carga transportada (GONÇALVES, 1998; ALEXANDRE, 1998). Deve-se também
considerar:

»» o posicionamento das articulações no início e durante o levantamento;

»» a velocidade de execução do movimento;

»» a altura em que a carga se encontra no início do levantamento;

»» o tamanho e a forma da carga;

48
BIOMECÂNICA OCUPACIONAL │ UNIDADE I

»» a presença ou não de puxadores e os seus vários tipos;


»» o uso de acessórios como o cinto de suporte lombar e;
»» a pressão intra-abdominal.
Para dinamizar o estudo sobre o levantamento manual de carga, uma estratégia utilizada foi o
desenvolvimento de modelos biomecânicos como instrumento de medida e simulação que são
muito úteis para se obter informações sobre os fatores e métodos de atividades relacionados às
capacidades humanas. Os modelos proporcionam informações sobre a capacidade de levantamento
do indivíduo, têm vantagens e desvantagens, porém suas aplicações podem proporcionar dados
para melhorar condições de trabalho que envolvem levantamento e são úteis para planejar novos
trabalhos, que envolvam o manuseio de cargas (GONÇALVES, 1998).

Nesse sentido, uma revisão realizada por Gonçalves sobre variáveis biomecânicas analisadas durante
o levantamento manual de cargas percebeu que muitos autores propõem regras para o levantamento
de cargas como Sullivan, 1989; Rash, 1989; Snook, 1989; NIOSH; Martin e Chaffin, 1972; Andersson
et al., 1976; Harman et al., 1989 dentre muitos outros. Cada um desses autores estudou aspectos
comuns e diferentes propondo novas diretrizes. Essas diretrizes buscam minimizar a problemática
do desenvolvimento de lesões musculoesqueléticas, devido ao manuseio incorreto de cargas, bem
como direcionar os treinamentos de trabalhadores.

Neste tópico buscaremos abordar as principais recomendações para um levantamento e transporte


de cargas mais adequado e com menores riscos para o trabalhador, levando em consideração
os principais fatores que definem um sistema de manuseio de carga que são: características do
trabalhador; características dos containers dos materiais; características da tarefa e do posto de
trabalho; e características da prática de trabalho (CHAFFIN et al., 2001). O quadro a seguir, retirada
de Chaffin et al.(2001) nos mostra quais tópicos cada um desses fatores abordam.

Quadro 5. Características dos componentes principais que afetam o sistema de manuseio de cargas.

Características do trabalhador
Físicas: inclui avaliação geral do trabalhador como idade, sexo, antropometria e posturas.
Sensitivas: avaliação das capacidades de processamento sensitivo do trabalhador como as capacidades visuais, auditivas, táteis, cinestésicas,
vestibulares e proprioceptivas.
Motoras: avaliação das capacidades do trabalhador, como força, resistência, amplitude de movimento, características cinemáticas e nível de
treinamento muscular.
Psicomotoras: avaliação das capacidades do trabalhador na interface com processos mentais e motores, tais como processamento de informações,
tempo de reação-resposta e coordenação.
Personalidade: avaliação dos valores do trabalhador e da satisfação com o trabalho por meio do perfil de atitudes, atribuição, aceitação do risco e
necessidades econômicas perceptíveis.
Treinamento e experiências: avaliação do nível de educação do trabalhador em termos de treinamento formal ou instrução na habilidade de
manuseio de cargas, treinamento informal e experiência de trabalho.
Condições de saúde: avaliação da saúde geral do trabalhador, tais como queixas médica previa, condição médica diagnosticada, condição
emocional, utilização regular de drogas, gravidez, variações circadianas e condicionamento.
Atividade de lazer: avaliação da escolha do individuo de seu envolvimento com atividades físicas durante as horas de lazer, tais como ter um
segundo emprego ou a participação constante em esportes.

49
UNIDADE I │BIOMECÂNICA OCUPACIONAL

Características dos containers dos materiais transportados


Carga: medida da de força, peso, exigências para ser puxado e empurrado e momento de inércia da massa.
Dimensões: avaliação do tamanho da unidade a ser movimentada, tais como peso, largura, profundidade e indicações da forma como retangular,
cilíndrica, esférica etc.
Distribuição da carga: avaliação da localização do centro de gravidade da unidade de carga em relação ao trabalhador para o carregamento com
uma das mãos e com as duas.
Pegas: avaliação dos dispositivos utilizados para auxiliar na pega e manipulação da unidade de carga, tais como textura e tamanho, formato e
localização das manoplas.
Estabilidade da carga: avaliação da consistência da localização do centro de massa da carga, ao se manusear líquidos e objetos volumosos.

Características da tarefa e do posto de trabalho


Geometria do posto de trabalho: avaliação das propriedades espaciais da tarefa, tais como a distância da movimentação, direção e extensão do
caminho, obstáculos e natureza do destino.
Frequência, duração e ritmo: avaliação das dimensões de tempo da tarefa de manuseio, incluindo frequência, duração e dinâmica exigida pela
atividade a curto e longo prazo.
Complexidade: avaliação das demandas combinadas da carga, tais como exigências de movimentos de manuseio, objetivo da atividade, precisão
da tolerância de movimento e número de componentes cinéticos.
Ambiente: avaliação de fatores adicionais de comprometimento ambiental, tais como temperatura, umidade, iluminação, ruído, vibração, aderência
do calçado sobre o piso e agentes tóxicos sazonais.

Características da prática de trabalho


Individuais: avaliação das práticas operacionais sob o controle de cada trabalhador, tais como velocidade e precisão de movimento do objeto e
posturas (isto é, técnicas para o manuseio de cargas) utilizadas.
Organizacionais: avaliação da organização do trabalho, tais como dimensão física da fábrica; equipe de medicina, higiene, engenharia e segurança;
e utilização de trabalho em equipe.
Administrativas: avaliação da administração de práticas operacionais, tais como sistemas de incentivo de trabalho e segurança, esquema
de compensação, treinamento e controle de segurança, levantamentos de higiene e segurança, resgate e auxílio médico, jornadas de trabalho
prolongadas, rodízio de funções e equipamentos de proteção individual.

Fatores a considerar durante o manuseio de


cargas
Muitas pessoas acreditam conhecer a maneira correta de levantar peso (embora não utilizem)
“Manter as costas estendidas e flexionar os joelhos”, no entanto, muitas lesões na coluna vertebral
continuam a ocorrer durante o transporte manual de cargas. Uma das razões está relacionada ao
fato de que o levantamento de peso com agachamento é raramente utilizado, por requerer um maior
gasto de energia em relação à posição com a coluna flexionada. Isso porque, essa posição exige que
uma maior quantidade do peso corpóreo seja deslocada verticalmente. Assim, no levantamento
com agachamento, a fadiga é induzida mais precocemente e, como consequência, estimula uma
má técnica. Uma outra razão é que forças elevadas atuam sobre articulações dos joelhos durante
o levantamento de peso com agachamento e os pacientes com alterações degenerativas nessas
articulações frequentemente apresentam dificuldades em realizá-lo (IIDA, 2005).

Assim, um único método de levantamento não é adequado para todos os indivíduos, pois, além
desses fatores, a capacidade individual de levantamento de cargas varia para cada indivíduo
dependendo também do sexo, biotipo, idade e condições patológicas em geral. No entanto, existem

50
BIOMECÂNICA OCUPACIONAL │ UNIDADE I

princípios gerais que deveriam ser adotados por todos (OLIVER, 1999). As recomendações descritas
foram na sua maioria baseadas no livro de Chaffin et al.(2001) e Iida (2005).

Respiração

A atividade de manuseio de cargas envolve muitos aspectos


começando pela respiração. A respiração deve ser do tipo abdominal,
a fim de ajudar a fortalecer o cinturão resistente. Esse método
foi criado por Joseph Pilates e é utilizado durante a realização de
exercícios de força como no caso do manuseio de cargas. (CARDIA et
al., 2006). A respiração abdominal tem como frase de ensino “solte o
ar aproximando o umbigo da coluna” “inspire pelo nariz e expire pela
boca contraindo os músculos abdominais durante o movimento de
maior força”, afim de incentivar a contração vigorosa dos abdominais
(CARDIA et al., 2006).

Como podemos ver na Figura 18, o cinturão resistente aumenta a


pressão intra-abdominal e dessa forma reduz a pressão intradiscal no
momento do manuseio da carga. Além disso, o aumento da pressão
intra-abdominal diminui as forças de cisalhamento que atuam durante
esse movimento, formando uma “barreira” para os discos e vértebras.
O cinturão abdominal é formado tanto pelos músculos abdominais
Figura 18. Representação do
como paravertebrais, eretor da espinha, quadrado lombar.
balão abdominal formado
durante a contração dos
A expiração deve ocorrer concomitantemente ao músculos abdominais.
Fonte: Oliver, 1999.
momento do levantamento da carga. Evitando-se assim a
conhecida e prejudicial “manobra de Valssalva”.

Peso máximo recomendado para o levantamento


Os movimentos humanos resultam das contrações musculares. As forças desses movimentos
dependem da quantidade de fibras musculares contraídas. Em geral, apenas dois terços das fibras de
um músculo podem ser voluntariamente contraídas de cada vez. Para longos períodos, a contração
muscular não deve ultrapassar a 20% da força máxima (IIDA, 2005). Para fazer um determinado
movimento, diversas combinações de contrações musculares podem ser utilizadas, cada uma
delas tendo diferentes características de velocidade, precisão e movimento. Portanto, conforme a
combinação de músculos que participem de um movimento, este pode ter características e custos
energéticos diferentes. Um operador experiente fatiga-se menos, porque aprende a usar aquela
combinação mais eficiente em cada caso, economizando as suas energias.

51
UNIDADE I │BIOMECÂNICA OCUPACIONAL

A capacidade de carga máxima varia bastante de uma pessoa para outra. Varia também, conforme o
uso das musculaturas das pernas, braços ou dorso. As mulheres possuem aproximadamente metade
da força dos homens para o levantamento de peso. A capacidade de carga é influenciada pela sua
localização em relação ao corpo e outras características como formas, dimensões e facilidade de
manuseio.

A equação da NIOSH (National Institute for Occupational Safety and Healyh) foi desenvolvida para
calcular o peso limite recomendável em tarefas repetitivas de levantamentos de carga. A equação
estabelece um valor de referência de 23 Kg, que corresponde à capacidade de levantamento no plano
sagital, a partir de uma altura de 75 cm do solo, para um deslocamento vertical de 25 cm, segurando-
se a carga a 25 cm do corpo. Essa seria a carga aceitável para 99% dos homens e 75% das mulheres,
sem provocar nenhum dano físico, em trabalhos repetitivos (IIDA, 2005). Com a equação, podemos
calcular o peso máximo recomendável para uma grande quantidade de atividades. A equação leva
em consideração: a distância horizontal entre o indivíduo e a carga (posição das mãos) em cm (H);
distância vertical na origem da carga (posição das mãos) em cm (V); deslocamento vertical, entre
a origem e o destino, em cm (D); ângulo de assimetria, medido a partir do plano sagital, em graus
(A); frequência média de levantamentos em levantamentos/min (F), que é tabelada; e a qualidade
da pega (C) que também é tabelada.

PRL = 23 x (25/H) x (1 – 0,003/[v – 75]) x (0,82 + 4,5/D) x (1 – 0,0032 X A) x F x C


(onde PRL é o peso limite recomendável para a situação).

Como podemos ver, essa equação leva em consideração vários aspectos do trabalho. Assim, o peso
recomendável a ser manuseado pode variar muito e tem grande relação com a frequência em que
ocorrem esses manuseios.

A legislação brasileira tem uma norma para transporte e manuseio de materiais, específica para
o trabalho com sacarias (Norma Regulamentadora NR11). Uma outra norma (NR18) estabelece
o limite máximo de 60 kg para o transporte e descarga individual em obras de construção,
demolição e reparos. O levantamento individual é limitado a 40 kg. Observa-se que esses limites
são muito elevados, em vista dos padrões ergonômicos recomendados, podendo causar tanto os
traumas por impacto (força súbita) como por esforço excessivo, devido ao efeito cumulativo em
músculos, ligamentos e articulações ósseas. Além do mais, cargas dessa magnitude não podem ser
recomendadas à maioria da população (IIDA, 2005).

Levantamento com agachamento


Ao levantar um peso com as mãos, o esforço é transferido para a coluna vertebral, descendo pelos
quadris e pernas, até chegar ao solo. A coluna vertebral é composta por vários discos superpostos,
sendo capaz de suportar uma grande carga no sentido axial (vertical), mas é extremamente frágil
para as forças que atuam perpendicularmente ao seu eixo (cisalhamento). A força de cisalhamento
tem efeito “cortante” e é extremamente prejudicial à coluna. Portanto, na medida do possível, a
força deve ser aplicada no sentido vertical, evitando-se a componente do cisalhamento. Isso pode
ser feito levantando uma carga com a coluna na posição vertical e usando a musculatura das pernas

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BIOMECÂNICA OCUPACIONAL │ UNIDADE I

(Figura 19). Na Figura 20 vemos uma ilustração das forças que atuam sobre a coluna no manuseio
de objetos. O trabalhador, na posição ereta, recebe carga (C) no sentido axial. Na posição inclinada,
essa carga produz duas componentes: uma na direção axial (C1) e outra na direção perpendicular
(C2 – componente de cisalhamento).

Figura 19. Levantamento de carga com agachamento.

Fonte: <http://www.ufrrj.br/institutos/it/de/acidentes/ergo2.htm>

Figura 20. Forças que atuam na coluna durante o levantamento de carga.

Fonte: Iida, 2005.

Sempre que possível, transporte cargas na altura dos quadris, pois isso evita curvaturas indesejáveis
da coluna e o componente de cisalhamento, para isso pode ser utilizado bancadas com alturas
ajustáveis como visto na Figura anterior. Quando não for possível, tire o objeto do chão, coloque-o em
uma plataforma de aproximadamente 40 cm e depois complete o manuseio até a altura apropriada.
Use sistemas de transporte mediante os quais os materiais possam ser removidos sem variar de
altura. Exemplo disso são as vias passivas de rolões (uso de rolões colocados no mesmo nível), uma
bancada de trabalho móvel ou um carrinho que esteja na mesma altura das mesas de trabalho, ou
a suspensão dos materiais que se movem no mesmo nível. Iguale a altura da plataforma do veículo
com a da área de carga, para que a carga e a descarga possam ser feitas com uma diferença mínima
de altura (Ministério do Trabalho e do Emprego, 2001).

53
UNIDADE I │BIOMECÂNICA OCUPACIONAL

Figura 21. Elimine ou diminua as diferenças de altura.


Diminua os movimentos de subida e descida.

Fonte: Ministério do Trabalho e do Emprego, 2001.

Figura 22. Elimine as diferenças de altura das superfícies de trabalho.

Fonte: Ministério do Trabalho e do Emprego, 2001.

Distância da carga em relação ao corpo


A atividade muscular é reduzida ao se carregar um peso próximo ao corpo. A capacidade de
levantamento de carga diminui, conforme afastamos a carga do corpo ou conforme aumenta a
altura a ser colocada. A carga nos discos é um resultado combinado do peso do objeto, do peso
superior do corpo, das forças musculares das costas e seus respectivos braços de alavanca para o
centro do disco. Na Figura 23 vemos que à esquerda, o objeto está mais longe do centro do disco,
comparado com o objeto à direita. As balanças de alavanca na parte inferior mostram que forças
musculares menores e cargas no disco são obtidas quando o objeto é carregado mais próximo
ao disco. Quando afastamos a carga do corpo aumentamos o momento articular e assim haverá
necessidade de mais força para realizar o mesmo movimento (COX, 2002).

54
BIOMECÂNICA OCUPACIONAL │ UNIDADE I

Figura 23. Esquema de alavancas as quais o corpo está sujeito


quando transportamos objetos próximos ou mais afastados do corpo.

Fonte: Cox, 2002.

Na Figura 24 podemos ver as forças de compressão sobre o disco L5/S1 estimadas para várias cargas
e posturas, notamos que a força de compressão aumenta quando aumentamos a distância da carga
ao corpo do indivíduo. Quando aumentamos o peso da carga, esses valores podem ser ainda maiores.

Figura 24. Forças de compressão sobre o disco L5/S1 as quais o corpo está sujeito
quando transportamos objetos próximos ou mais afastados do corpo.

Fonte: Chaffin et al., 2001.

55
UNIDADE I │BIOMECÂNICA OCUPACIONAL

Levantamento simétrico
O transporte de cargas deve ser preferencialmente simétrico, isto é, deve-se mover a carga com
ambas as mãos, evitando o manuseio assimétrico, manuseio com apenas uma das mãos. O
manuseio assimétrico exige maior nível de co-contração muscular, imprimindo assim maior carga
sobre a coluna vertebral. Essa assimetria também influencia na aplicação de força, reduzindo-a, e
pode resultar em pouca estabilidade postural (CHAFFIN et al., 2001). No caso de cargas grandes,
compridas ou desajeitadas, devem ser usados dois carregadores para facilitar a simetria Figura 8. Se
a carga for composta de diversas unidades, ela pode ser dividida para que possam ser transportadas
com o uso das duas mãos (IIDA, 2005) ver Figuras 9. No entanto, é melhor fazer poucos transportes
com cargas de pesos maiores, (dentro do recomendável), do que muitos transportes com cargas
menores, onde aumentamos significantemente o número de repetições.

Um balancim ou outro equipamento similar é útil para transportar por determinada distância duas
cargas separadas, ao mesmo tempo mantêm o equilíbrio e diminui o trabalho de erguer e baixar
(MINISTÉRIO DO TRABALHO E DO EMPREGO, 2001).

Figura 25. Transporte de carga


por dois trabalhadores.

Figura 26. Divida a carga


em unidades menores.

Fonte: <http://www.lugli.com.br/2010/01/transporte-de-carga/>

Figura 27. Uso de equipamentos auxiliares


para transporte de carga simétrico.

Fonte: Ministério do Trabalho e do Emprego, 2001

56
BIOMECÂNICA OCUPACIONAL │ UNIDADE I

Rotação e inclinação do tronco


As torções ou rotações do tronco repentinas podem provocar estiramentos na musculatura
extensora (CARDIA et al., 2006). Os discos intervertebrais também são mais sensíveis a forças de
torção. Durante o mauseio, o trabalhador deve ser orientado a se posicionar à frente do objeto a ser
manuseado.

Figura 28. Transferência de objetos sem girar o tronco.

Fonte: Rebolho e Cardinalli, 2007.

No caso de indivíduos que trabalham reabastecendo esteiras ou mesmo “conectando-as”, empregue


uma disposição que permita ao trabalhador mover objetos de uma cinta para a seguinte enquanto
matem uma postura natural. O uso de bandejas de transferência e de rolões pode ajudar a facilitar a
movimentação como visto na Figura 29. Fonte: Ministério do Trabalho e do Emprego (MTE, 2001).

Figura 29. Transferência de objetos entre esteiras.

Fonte: MTE, 2001

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UNIDADE I │BIOMECÂNICA OCUPACIONAL

Localização vertical do objeto (altura)


Objetos sitados a uma altura acima do ombro do trabalhador, para serem alcançados requerem a
elevação do braço acima da cabeça, a qual é usualmente acompanhada pelo arqueamento da região
cervical e lombar inferior. Para não prejudicar a coluna, apoie o objeto pesado no corpo e suba
em uma escada ou banquinho para depositá-lo adequadamente (Figura 30), mantenha a postura
neutra da coluna durante essas atividades (OLIVER, 1999) Figura 31. Quando tiver que realizar
atividades com os braços elevados procure fazer as atividades com os braços na altura dos ombros
ou no máximo até a altura da cabeça.

Figura 30. Objetos no alto: utilizar suporte. Figura 31. Objetos no alto: evitar arqueamento da coluna lombar.

Fonte: <http://www.clinicaschuler.com.br/dicas. Fonte: Oliver, 1999.


htm>

Puxar e empurrar
As tarefas de puxar e empurrar, ao contrário do levantamento, foram pouco estudadas (CHAFFIN et
al., 2001). As estimativas do número de lesões ocorridas durante essas tarefas são de 20% das lesões
ocorridas no trabalho (BRIDGER, 2003). Tal porcentagem, no entanto, subestimam a gravidade
do problema uma vez que o potencial de quedas e consequente lesão por impacto é igualmente
elevado (CHAFFIN et al., 2001). Além disso, em muitas empresas, por exemplo, os trabalhadores e
motoristas dos setores de entrega, essa tarefa é muito comum e está associada a altas cargas.

A capacidade para empurrar e puxar depende de diversos fatores como a postura, dimensões
antropométricas, sexo, atrito entre o sapato e o chão dentre outros. Em geral, as forças máximas
para empurrar e puxar, para homens, oscilam entre 200 a 300 N e as mulheres apresentam 40 a
60% dessa capacidade (IIDA, 2005).

Estudos mostram que a altura da manopla utilizada para puxar e empurrar as cargas sobre
superfícies, que oferecem alta tração é de grande importância e que a recomendação da altura ótima
da manopla deveria ser de aproximadamente 91 a 114 cm acima do piso, isto é, aproximadamente na
altura dos quadris do indivíduo, pois a capacidade de força é maior quando as mãos estão na altura
dos quadris do que quando estão na altura dos ombros ou acima deles.

Além disso, a distância para empurrar um objeto deve ser de no mínimo 120 cm entre o joelho que
está posicionado mais atrás e as mãos ou o objeto a ser empurrado, isso para que o indivíduo tenha
espaço suficiente para inclinar-se para frente e assim utilizar de forma mais eficaz o peso do corpo
para auxiliar na aplicação de força manual. A distância para puxar um objeto deve ser de no máximo

58
BIOMECÂNICA OCUPACIONAL │ UNIDADE I

40 cm entre o pé que está posicionado à frente e o objeto, sendo que deve existir um espaço sob o
carrinho para que um dos pés fique na mesma posição vertical das mãos, permitindo assim, que o
indivíduo incline-se bem para trás, e pivoteie sobre o pé da frente também utilizando o peso do seu
próprio corpo a favor do movimento. Caso aconteça um escorregão, o pé de trás, presumivelmente,
irá sustentar o indivíduo antes que ele caia. Essas situações estão ilustradas na Figura 32.

Figura 32. Forças que atuam nos movimentos de puxar e empurrar objetos.

Fonte: Chaffin,2001

Outra variável envolvida nos movimentos de puxar e empurrar é o atrito com o solo, que pode
aumentar ou diminuir a força necessária para movimentar um objeto. Sendo assim, o tipo de piso e
de calçado devem ser cuidadosamente considerados, para garantir que tais tarefas sejam realizadas
de forma que a pessoa possa recuperar o equilíbrio caso escorregue, isto é, o trabalhador se mova
lento o suficiente e adote posturas que permitam a recuperação do equilíbrio.

Uma maneira de reduzir essa sobrecarga ao sistema musculoesquelético como um todo ocasionada
pelos movimentos de puxar e empurrar é o uso de carrinhos adequados. Para colocar um carrinho
em movimento, puxando ou empurrando, a força exercida não deve ultrapassar 200 N (cerca de
20 kg força). Embora a força exigida seja frequentemente maior, este limite é colocado para evitar
maiores tensões mecânicas, principalmente nas costas.

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UNIDADE I │BIOMECÂNICA OCUPACIONAL

Figura 33. Forças que atuam nos movimentos de puxar e empurar.

Fonte: Chaffin, 2001.

Para movimentos com durações superiores a um minuto, a força permitida para puxar ou empurrar
é limitada a 100 N. Naturalmente, esse limite pode variar, dependendo do tipo de carrinho, tipo de
piso, forma das rodas e assim por diante. Nos casos em que esse peso é ultrapassado, o carrinho
deve ser motorizado, usando-se, por exemplo, transportadores elétricos (DJAIR, 2010).

Figura 34. Transporte de carga com carrinho.

Fonte: <http://www.lugli.com.br/2010/01/transporte-de-carga/>

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BIOMECÂNICA OCUPACIONAL │ UNIDADE I

Os carrinhos devem ter pegas em forma de barras, de modo que as duas mãos possam ser utilizadas
para transmitir forças. As pegas devem ser cilíndricas, com diâmetro de 3 cm e comprimento mínimo
de 30 cm. As pegas verticais devem situar-se entre 90 a 120 cm do piso, para permitir uma boa postura
tanto para puxar, como para empurrar (DJAIR, 2010).

Figura 35. Medidas adequadas para carrinhos de transporte de carga.

Fonte: <http://www.lugli.com.br/2010/01/transporte-de-carga/>

Para trafegar em pisos irregulares, deve ter rodas grandes e largas. Duas rodas devem ser giratórias,
para se garantir uma boa manobra. Elas devem ser colocadas no lado em que será exercido a força
de puxar ou empurrar. A colocação de quatro rodas giratórias não é aconselhável, pois torna a
trajetória do carrinho muito instável. A altura total do carrinho quando carregado não deve exceder
130 cm, para que a maioria das pessoas possa enxergar sobre o mesmo.

Se possível, o piso deve ser duro, sem depressões ou desníveis. Se isso for inevitável, o carrinho deve
ser munido de pegas horizontais, para que possa ser erguido. Nesse caso, o peso suportado não deve
ultrapassar os limites já apresentados para o levantamento de cargas (DJAIR, 2010).

Pegas
Os objetos para serem carregados devem ter duas alças ou furos laterais para o encaixe dos dedos e
a carga deve ser segurada com as duas mãos ver Figura 15. Para o levantamento de objetos utilizar
a palma das mãos. O uso somente dos dedos deve ser evitado, pois, dessa forma, se transmitem
menores forças exigindo mais de outras musculaturas. As pegas devem ser arredondadas (sem
cantos cortantes) e posicionadas de modo a evitar que as cargas girem ao serem erguidas. O volume
não deve ter protuberâncias ou cantos cortantes nem deve ser muito quente ou frio, a ponto de
dificultar o contato.

No caso de cargas especiais, como gases, líquidos perigosos ou pacientes de um hospital, é necessário
planejar a operação e tomar cuidados especiais com a segurança. Quando a carga é desconhecida
para a pessoa que vai carregá-la, é necessário colocar uma etiqueta, informando o peso e os cuidados
necessários para a manipulação da mesma.

61
UNIDADE I │BIOMECÂNICA OCUPACIONAL

Figura 36. Formas de pegar nos objetos.

Fonte: <http://www.lugli.com.br/2010/01/transporte-de-carga/>

Os trabalhadores e trabalhadoras não devem tomar cuidado com o manuseio de cargas somente
no trabalho, mas também nas atividades de vida diária adotadas em casa. Muitos exemplos podem
ser citados, quando pensamos no manuseio de cargas durante as atividades de vida diária, como
carregamento de malas, carregamento de crianças, colocar e tirar crianças do carro ou do carrinho,
manuseio de pessoas da família acamadas ou com algum déficit de locomoção, manuseios durante a
limpeza de casas, carros dentre muitas outras tarefas. Assim essas orientações citadas devem fazer
tornar-se hábitos diários, a fim de reduzir os inúmeros casos de lesões musculoesqueléticas com
origem no manuseio de cargas.

62
CAPÍTULO 8
Principais posturas adotadas pelo
trabalhador: diretrizes para análise

Segundo o ergonomista Laville 1977, a postura corporal adotada pelo trabalhador pode aumentar
ou diminuir o esforço físico de um trabalho, pois ela submete-se às características anatômicas e
fisiológicas do corpo humano, ligando-se às limitações específicas do equilíbrio e obedecendo às
leis da física e biomecânica (BELLINI et al., 1996). A postura corporal incorreta pode causar sérias
alterações na musculatura e na constituição ósseo-articular, podendo causar deformidades no
trabalhador, ao longo dos anos. A postura corporal adequada é sempre desejável na medida que ela
evita problemas de saúde e é importante para o bom rendimento do trabalho.

A postura do corpo é resultante de inúmeras forças musculares que atuam equilibrando forças
impostas sobre o corpo, e todos os movimentos do corpo são causados por forças que agem dentro e
sobre o corpo. Os músculos produzem forças que agem por meio do sistema de alavancas ósseas, o
sistema ósseo ou move-se ou age estaticamente contra uma resistência. Dentro do corpo, os músculos
são as principais estruturas controladoras da postura e do movimento. Contudo, ligamentos,
cartilagens e outros tecidos moles também ajudam no controle (HIGINO, 2002).

A análise dos movimentos depende de uma descrição correta dos movimentos articulares que
constituem cada padrão de movimento. A compreensão desses movimentos em relação ao plano
e ao eixo que são encontrados, é de grande importância para médicos, fisioterapeutas, educadores
físicos, técnicos de esportes, treinadores de atletismo, coreógrafos, bailarinos e outros profissionais
da área da saúde, devido formar a base na elaboração de um programa de atividades e uma melhor
localização das partes do corpo (HIGINO, 2002).

Posturas inadequadas, mantidas por um longo tempo, podem provocar fortes dores localizadas nos
conjuntos de músculos solicitados na conservação dessas posturas. A seguir, temos as principais
regiões sujeitas a dores devido às diferentes posturas adotadas.

Quadro 6. Principais regiões sujeitas a dores devido às diferentes posturas adotadas

Postura inadequada Risco de dores


Em pé Pés e pernas (varizes)
Sentado em encosto Músculos extensores do dorso
Assento muito alto Parte inferior das pernas, joelhos e pés
Assento muito baixo Dorso e pescoço
Braços esticados Ombros e braços
Pegas inadequadas em ferramentas Antebraço
Punhos em posições não-neutras Punhos
Rotações do corpo Coluna vertebral
Ângulo inadequado assento/encosto Músculos dorsais
Superfícies de trabalho muito baixas ou muito altas Coluna vertebral, cintura escapular
Fonte: Iida, 2005.

63
UNIDADE I │BIOMECÂNICA OCUPACIONAL

A prevenção de sintomas relacionados com distúrbios musculoesqueléticos pode ser atingida quando
equipamentos, postos e metodologia de trabalho são desenhadas de acordo com as capacidades
humanas e suas limitações, ou seja, pelo uso de princípios ergonômicos (ROSSKAM, 1997). Os
riscos de se ignorar estes princípios podem ser resumidos em aumento do absenteísmo e de custos
médicos, risco de acidentes, menor produção e baixa qualidade de trabalho (ROSSKAM, 1997).

Nesse sentido, a compreensão dos fatores de risco presentes em determinadas atividades pode
auxiliar a reestruturação do posto e as modificações organizacionais, com o objetivo de diminuir a
sobrecarga física e mental durante a realização do trabalho (MIYAMOTO et al., 1999).

Para que as funções sejam exercidas de forma adequada, o indivíduo deve ter um bom desempenho
biomecânico, o que exige alinhamento articular, amplitude de movimento, força, resistência,
propriocepção, percepção corporal e vivência corporal, nas funções às quais o corpo é submetido.
A avaliação biomecânica funcional baseia-se exatamente na investigação e no estudo desse
desempenho biomecânico e do que pode comprometê-lo. Partindo do que consideramos fisiológico,
podemos realizar uma avaliação coerente, com informações relevantes. Nesse tópico, abordaremos
a análise e orientações das principais posturas adotadas pelo trabalhador.

Posturas do corpo
O corpo, trabalhando ou em repouso, assume três posturas básicas: deitada, sentada e de pé. Em
cada uma dessas posturas estão envolvidos esforços musculares para manter a posição relativa de
partes do corpo. Muitas das recomendações, a seguir, foram retiradas de Iida, 2005 e Cardia, et al.,
2006.

Posição deitada
A posição deitada é pouco utilizada no trabalho com exceção de algumas profissões como o
de mecânicos, encanadores entre outros. Essa postura, muitas vezes, exige grande esforço da
musculatura do pescoço e membros superiores, pois, nessa posição, o indivíduo tem poucas
oportunidades de mudança de posição. Assim, a postura da cabeça ou de membros superiores, são
mantidas por longo tempo. Para minimizar esses problemas quando essa postura for adotada, deve-
se sempre buscar suporte para estruturas corporais que devem ser mantidas por longo tempo, em
uma mesma posição. Outras recomendações para o trabalho na postura deitada é o trabalhador ter
espaço suficiente para manusear suas ferramentas e movimentar-se, também, no caso de mecânicos,
deve-se usar o carrinho para facilitar a movimentação.

Delgado, 2004.

64
BIOMECÂNICA OCUPACIONAL │ UNIDADE I

No entanto, a posição deitada também é adotada quando dormimos. Dormir é um bem essencial
para repor as energias e eliminar o cansaço físico e mental (CARDIA et al., 2006). Na posição
deitada não há concentração de tensão em nenhuma parte do corpo. O sangue flui livremente para
todas as partes do corpo, contribuindo para eliminar os resíduos do metabolismo e as toxinas dos
músculos, provocadores de fadiga. O consumo energético assume o valor mínimo, aproximando-se do
metabolismo basal (IIDA, 2005).

A postura deitada é a mais recomendada para repouso e recuperação do estado e fatiga. No entanto,
a posição de descanso escolhida também pode gerar sobrecarga articular. Durante o descanso
noturno, a coluna vertebral sofre a ação da gravidade agindo sobre a massa do corpo. Essas forças
agem alterando as condições de equilíbrio entre os segmentos corpóreos, conforme as posições
adotadas. Certos decúbitos podem provocar tensão muscular, pela sobrecarga dos músculos que
são obrigados a suportar as forças exercidas pelo peso do segmento corporal em questão. Além dos
prejuízos à postura, um decúbito inadequado durante o sono traz repouso insuficiente. A melhora
da qualidade do sono pode auxiliar o indivíduo a exercer suas capacidades produtivas e a lidar
melhor com o estresse da vida diária. Devido à importância da posição de descanso, a postura
deitada deve ser sempre analisada cinesiológica e biomecanicamente.

A análise deve ser iniciada pelo tipo de colchão que o indivíduo utiliza. Um bom colchão deve ter
espuma firme e com boa densidade (CARDIA, et al., 2006) para dar apoio às curvas naturais da
coluna vertebral em sua posição anatômica. A densidade do colchão interfere no resultado da postura
de dormir de lado. Um colchão duro demais machuca as articulações do quadril e do ombro e força
a coluna nestas regiões; um colchão mole demais desequilibra a coluna como podemos visualizar
na Figura 38.

O peso da pessoa também deve ser levado em consideração. A coluna vertebral de uma pessoa mais
leve irá conformar-se de uma maneira diferente do que a de uma pessoa mais pesada ao se deitar
sobre o mesmo tipo de colchão. Entretanto, na análise final do colchão o conforto do trabalhador
deve ser fator decisivo (OLIVER, 1999).

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UNIDADE I │BIOMECÂNICA OCUPACIONAL

Figura 38. Densidade do colchão.

Fonte: <http://www.catablogandosaberes.com.br/2009/12/melhor-posicao-para-dormir.html>

As melhores posições para dormir são o decúbito dorsal (supina ou de costas) e o decúbito lateral
com os quadris e joelhos fletidos (CARDIA et al., 2006).

A posição prona estimula a extensão lombar


interna, causando um contato ósseo entre as facetas
articulares inferiores das articulações apofisárias
e as lâminas subjacentes e tensionam essas
articulações no limite de sua amplitude. O pescoço
também é levado ao limite de sua amplitude nessa
posição. Essa posição é muito frequente entre as
pessoas para dormir, entretanto deve ser modificada
na medida do possível. Como alternativas à essa
posição extrema pode fletir o quadril e um joelho e
elevar um braço, como visto na Figura 39.

A posição em decúbito lateral é uma boa posição,


mas deve-se tomar cuidados para manter a coluna
alinhada. Para dormir de lado, dobre os joelhos
Figura 39. Posição prona de dormir.
e os quadris e use um travesseiro entre as pernas Fonte: Oliver, 1999.
para manter os quadris nivelados. Também deve-se
colocar um travesseiro de espessura adequada para preencher o espaço entre a ponta do ombro
e o pescoço, mantendo a coluna cervical na posição neutra. Um travesseiro pequeno na cintura
pode prevenir a flexão lateral da lombar (Figura 40).

66
BIOMECÂNICA OCUPACIONAL │ UNIDADE I

Figura 40. Posição em decúbito lateral.

Fonte: <http://www.whala.com.br/tag/posicao-dormir/>

A posição supina é também uma boa posição de descanso para a coluna, no entanto, traz alguns
inconvenientes. Normalmente, dormir nesta posição resseca as vias aéreas superiores, especialmente
a garganta, podendo levar ao ronco. Outro problema é provocado pela dificuldade das pessoas com
encurtamentos musculares nos quadris, na coluna lombar e nas pernas, que impedem o relaxamento
e um bom posicionamento neste decúbito. Neste caso, pode-se colocar um travesseiro embaixo dos
joelhos para aliviar a tensão na coluna lombar e um pequeno travesseiro sob a cabeça e pescoço
(Figura 41).

Figura 41. Posição supina de dormir.

Fonte: <http://www.whala.com.br/tag/posicao-dormir/>

Posição sentada
A posição sentada exige atividade muscular do dorso e do ventre. Praticamente todo peso do corpo
é suportado pela pele que cobre o osso ísquio, nas nádegas. O consumo energético é de 3 a 10%
maior em relação a posição deitada. A posição ligeiramente inclinada para frente é mais natural e
menos fatigante que a postura ereta. O assento deve permitir mudanças frequentes de postura, para
retardar o aparecimento da fadiga.

67
UNIDADE I │BIOMECÂNICA OCUPACIONAL

A posição sentada apresenta a vantagem de proporcionar a estabilidade exigida nas atividades que
envolvem muito controle visual e motor; consome menos energia do que a posição de pé; causa
menos estresse sobre as articulações; e diminui a pressão hidrostática da circulação dos membros
inferiores (CHAFFIN et al., 2001). No entanto, a posição sentada prolongada é indubitavelmente
prejudicial, pois leva a grande sobrecarga na coluna. Assim, quando se projeta um trabalho na
posição sentada devem ser considerados os aspectos biomecânicos, para que possamos atingir
essas vantagens sem causar estresse excessivos para o dorso, pescoço, ombros e membros
superiores. Com relação aos aspectos biomecânicos da posição sentada, a coluna vertebral é
especialmente importante, assim como os membros superiores e inferiores.

Nós podemos sentar em várias posições, cada qual tendo diferentes efeitos sobre a coluna vertebral
como podemos ver na Figura 42. A postura sentada mais analisada é com ângulo de 90º graus
de flexão de quadril (CARDIA et al., 2006). Mesmo para pessoas treinadas para uma postura
correta, essa posição sem suporte não pode ser tolerada por longo tempo. Para tentar minimizar o
desconforto dessa posição algumas medidas devem se adotadas.

Figura 42. Pressão discal medida em uma cadeira de escritório durante tarefas simuladas.

Fonte: Chaffin et al., 2001.

Escolha uma cadeira adequada


Os critérios para se considerar uma cadeira adequada são que as articulações do indivíduo
estejam adequadamente estabilizadas, isso significa que as articulações devem ficar próximas de
sua amplitude média com um trabalho muscular estático mínimo. A cadeira deve ser, portanto,
ajustável para atender as dimensões antropométricas básicas do trabalhador, visto na próxima

68
BIOMECÂNICA OCUPACIONAL │ UNIDADE I

sessão. Os principais aspectos a serem considerados na cadeira são: altura, largura, profundidade e
inclinação (CHAFFIN et al., 2001). A altura da cadeira deve permitir que o trabalhador apóie os pés
no chão. O apoio para membros inferiores durante a posição sentada distribui e reduz a carga sobre
as nádegas e sobre a região posterior das coxas, assim os pés devem ficar bem apoiados sobre o piso
ou sobre um suporte. Dessa forma, o peso das pernas não é suportado pelas coxas que repousam
sobre o assento. Quando a cadeira é muito alta, de forma a não possibilitar que os pés alcancem o
chão, a pressão sobre a parte posterior das coxas torna-se desconfortável (CHAFFIN et al., 2001).
A profundidade do assento deve permitir que o indivíduo utilize o encosto, o que significa que não
deve ser tão profundo. Além disso, sugere-se cerca de 10 cm como espaço mínimo entre a parte
posterior dos joelhos e o assento. A parte anterior do assento deve ser arredondada e macia. Uma
inclinação do assento de 5º para trás também é recomendada, pois a inclinação facilita o uso do
encosto e previne o deslizamento do corpo sobre a superfície do assento quando o indivíduo se move
sobre a cadeira.

O encosto é outra parte fundamental da cadeira. O encosto deve ser ajustável tanto no plano
horizontal quanto no vertical e deve apoiar a coluna lombar sem restringir o movimento do corpo
ou dos braços. O formato do encosto deve ser convexo no sentido vertical, para apoiar a lordose
lombar normal, e côncavo no sentido transversal, para apoiar a anatomia da coluna e oferecer apoio
lateral para o tronco. Tanto a postura recostada quanto a postura com as costas apoiadas (postura
para escrever) reduzem a pressão nos discos intervertebrais (KROEMER; GRANDJEAN, 2000).

As coxas devem estar apoiadas suavemente em todo o assento com os joelhos em 90º e os pés
apoiados no chão. A cadeira também deve ter suporte para os braços. Quando os braços não estão
apoiados, eles eventualmente tendem a puxar o tronco superior para frente, aumentando a carga
sobre o trapézio. Um suporte adequado para os braços estimula a extensão da coluna, de modo que
um maior suporte é obtido do encosto da cadeira e a pressão intradiscal é reduzida. O apoio para os
braços devem permitem que a cadeira entre debaixo da mesa.

Mesa adequada
As mesas tendem a serem menos ajustáveis do que as cadeiras. As considerações mais importantes
com relação à mesa são a altura a partir da parte inferior do tampo, a altura da parte superior do
tampo e a inclinação da superfície de trabalho. Além disso, a superfície de trabalho deve ser larga o
suficiente para acomodar os objetos de trabalho e o atrito deve ser suficiente para prevenir que os
mesmos deslizem sobre a mesa. A altura da parte inferior da superfície de trabalho é importante para
oferecer espaço suficiente para as pernas. A altura da mesa deveria sempre estar funcionalmente
relacionada à posição do cotovelo e ser ajustada apenas após ter sido ajustada a altura da cadeira.
Normalmente, recomenda-se ajustar a altura da mesa a 3 a 4 cm acima do nível do cotovelo estando
a pessoa sentada. Uma mesa muito baixa causa inclinação anterior do tronco e cifose da coluna
lombar e cervical, aumentando a carga sobre o dorso e pescoço. Por outro lado uma mesa muito alta
causa abdução, flexão anterior e elevação dos ombros e também influencia a postura do pescoço,
levando à fadiga dos músculos dos ombros e pescoço. Chaffin (1973) observou que um ângulo de
15º entre a cabeça e o tronco é aceitável para o trabalho prolongado. Com objetivo de digitação, o
usuário deve ser capaz de manter os cotovelos flexionados entre 80º- 90º, dependendo do conforto,

69
UNIDADE I │BIOMECÂNICA OCUPACIONAL

de modo que os dedos sobre o teclado estejam no nível ou levemente acima dos cotovelos. Ver
Figura 43.

Figura 43. Postura sentada no trabalho.

Fonte: <http://fisioterapiapassofundo.blogspot.com/2010_04_01_archive.html>

Na posição sentada, muitas vezes, é necessário inclinar a cabeça para frente para se ter uma visão
melhor em determinada tarefas. Esta postura provoca fadiga rápida nos músculos do pescoço e do
ombro para manter o peso da cabeça (4 a 4.5 Kg). Esta necessidade de inclinar a cabeça geralmente
ocorre quando: o assento é muito alto; a mesa é muito baixa; a cadeira é muito longe do trabalho; e há
uma necessidade específica.

As dores no pescoço começam a aparecer quando a inclinação da cabeça é maior que 30° em relação
à vertical. Correção deve ser feita para manter a cabeça com inclinação até 20°. Se isso não for
possível, como nos casos de atividades específicas, recomenda-se pausas para relaxamento, com a
cabeça na posição vertical.

Posição em pé
A posição parada em pé é altamente fatigante porque exige muito trabalho estático da musculatura
envolvida para manter essa posição. O coração encontra maiores resistências para bombear sangue
para os extremos do corpo. As pessoas que executam trabalhos dinâmicos em pé, geralmente
apresentam menos fadiga que aquelas que permanecem estáticas ou com pouca movimentação
(Iida, 2005).

70
BIOMECÂNICA OCUPACIONAL │ UNIDADE I

Na posição em pé, a cintura pélvica é inclinada para frente devido à tensão dos músculos
anteriores da coxa, de modo que o ângulo entre a superfície superior do sacro e a horizontal é de
aproximadamente 50 - 53° (Hellems e Keats citado por Oliver e Middleditch, 1998), visto na Figura
8, mas varia consideravelmente entre indivíduos diferentes e isso é de grande importância, uma vez
que, um ângulo maior, Figura 9, significa que a força de deformação do peso corpóreo superposto
no segmento lombossacral é superior ao dos ângulos menores, Figura 10, por exemplo, um ângulo
de 35º significa que existe uma pressão de deslizamento posterior (para frente) de 0,57% do peso
superposto, enquanto um ângulo de 75% aumenta a tensão para 0,97%. Portanto, esta inclinação,
juntamente com a compressão exercida pelo peso do corpo sobre a coluna lombar, acentua a lordose
neste nível.

Figura 44. Ângulo sacral normal. Figura 45. Ângulo sacral largo – Figura 46. Ângulo sacral pequeno –
aumento da lordose. retificação ação das costas.

Fonte: Oliver, 1999. Fonte: Oliver, 1999. Fonte: Oliver, 1999.

A postura em pé não pode usualmente ser mantida por longos períodos e as pessoas recorrem ao
uso assimétrico das extremidades inferiores, usando alternadamente a perna direita e esquerda
como principal apoio. É provável que assim procedam a fim de lidar com as inadequações de suas
circulação venosa e arterial ou para manter uma reduzida lordose, com consequente redução de
forças compressivas sobre as articulações apofisárias (ADAMS; HUTTON citado por OLIVER;
MIDDLEDITCH, 1998). Portanto, o uso de suporte nos pés é altamente aconselhável para trabalhos
em pé, ver exemplo na Figura 47.

Figura 47. Uso de suporte para um dos pés.

Fonte: <http://www.clinicaschuler.com.br/dicas.htm>

Se todas as colunas fossem anatomicamente idênticas, a linha de gravidade estaria na linha média
entre os seguintes pontos: o processo mastóide; um ponto logo a frente das articulações do quadril;
um ponto logo atrás do centro das articulações do quadril; um ponto logo a frente do centro das

71
UNIDADE I │BIOMECÂNICA OCUPACIONAL

articulações do joelho; e um ponto logo a frente das articulações do tornozelo, ver Figura 48.
Se o homem estiver realmente nesta posição ortostática idealizada, é necessário pouca atividade
muscular para mantê-la e não existe uma tensão indevida sobre os ligamentos. Assim, é importante
manter a coluna o mais neutro possível sem acentuação das curvaturas fisiológicas.

Figura 48. Linha de gravidade na postura ereta.

Fonte: Oliver, 1999.

Outro ponto a ser abordado no trabalho na postura em pé, é a configuração dos locais de trabalho e a
escolha da altura correta de trabalho. Se a área de trabalho é muito alta, frequentemente os ombros
são erguidos para compensar, o que leva a contrações musculares dolorosas ao nível das escápulas,
pescoço e costas. Se a área de trabalho é muito baixa, as costas são sobrecarregadas pelo excesso
de curvatura do tronco, o que dá frequentemente margem a queixas de dores nas costas. Por isso, a
altura das bancadas de trabalho deve estar de acordo com as medidas antropométricas tanto para o
trabalho de pé como para o trabalho sentado.

Em trabalhos essencialmente manuais de pé, as alturas recomendadas são de 50 a 100 mm abaixo


da altura dos cotovelos. No entanto, isso pode variar, conforme o tipo de trabalho a ser realizado.

Todas as diretrizes para uma boa orientação postural do trabalho aqui citadas são fundamentais
para a diminuição dos distúrbios musculoesqueléticos oriundos das más posturas, no entanto,
devem ser acompanhadas de pausas no trabalho e rodízio de postos de trabalho.

72
A ANTROPOMETRIA E
SUA APLICAÇÃO EM UNIDADE II
ERGONOMIAL

CAPÍTULO 1
Antropometria

Para Pheasant (2003), a ergonomia pode ser definida como a ciência do trabalho: das pessoas que
o realizam, das maneiras em que o trabalho é feito, das ferramentas e equipamentos utilizados, dos
locais de trabalho e dos aspectos psicossociais envolvidos. Ainda, para este mesmo autor, o trabalho
pode ser definido como qualquer atividade realizada pelo homem de forma planejada, que envolve
certo grau de conhecimento ou esforço.

Desta forma, podemos dizer que a ergonomia é uma disciplina que se propõe a estudar as relações
entre o homem e seu trabalho, tendo como um de seus objetivos principais a prevenção primária.
A ergonomia visa melhorar as condições de trabalho e qualidade de vida do funcionário, aumentar
a produtividade da empresa e, sobretudo, reduzir os custos que um funcionário afastado traz para
a empresa. A ergonomia é a ciência do ajuste do trabalho ao trabalhador e do produto ao usuário.

Pensando em ajustar as condições de trabalho (os ambientes, as ferramentas, os processos de


trabalho) ao trabalhador, quais seriam os critérios que definem um bom ajuste? Para definirmos
este “bom ajuste” podemos citar os seguintes critérios:

»» eficiência funcional: os objetos, os ambientes e ferramentas de trabalho bem


ajustados são mais eficientes e aumentam a produtividade;

»» facilidade de uso: as ferramentas e objetos de trabalho bem ajustados são práticos


e fáceis de usar;

»» conforto: um objeto bem ajustado traz conforto para aquele que o utiliza;

»» saúde e segurança: o ajuste torna o trabalho mais seguro e contribui para a


manutenção da saúde do funcionário;

»» qualidade de vida: um objeto bem ajustado traz melhor qualidade de vida ao usuário.

73
UNIDADE II │ A ANTROPOMETRIA E SUA APLICAÇÃO EM ERGONOMIA

E, pensando ainda sobre estes critérios, podemos dizer que eles são sempre compatíveis? Ou seja,
sempre que uma ferramenta é eficiente funcionalmente, ela será automaticamente fácil e prática de
se usar? A facilidade de uso traria, impreterivelmente, conforto e segurança? Quando presenciamos
ambientes ou condições de trabalho, podemos dizer que, em várias circunstâncias, estes critérios
podem ser incompatíveis. Muitas vezes, a ferramenta mais eficiente, pode não ser a mais segura e
confortável de se utilizar.

Dentro deste contexto, não podemos esquecer que o ciclo de trabalho repetitivo e fragmentado se
apresentou na indústria como uma maneira extremamente eficiente para produção de manufaturados
na sociedade de consumo. Assim, o ergonomista estará entre o domínio da ciência empírica e dos
fatores éticos, se tornando muito importante a quantificação do risco. Demonstrar/quantificar
o risco e produzir alterações efetivas é claramente benéfico e eficiente tanto para o funcionário
como para o empregador (por exemplo: diminui os custos com funcionários afastados por lesões).
Podemos dizer então que, idealmente, o bom ajuste será individualizado e centrado no usuário.

A antropometria é um ramo importante da ergonomia, na medida em que colabora com a adaptação


do usuário/funcionário e a ferramenta/ambiente de trabalho. A antropometria (anthropos=homem,
métricos = medida) pode ser definida como o estudo das medidas físicas do corpo humano, no que
diz respeito ao tamanho, forma, força, capacidade para o trabalho, composição e etc. Podemos dizer
que tudo que possa ser mensurado e diz respeito ao homem (corpo humano) está dentro do escopo
de estudo da antropometria.

74
CAPÍTULO 2
Histórico da Antropometria

O estudo das proporções humanas foi fonte de atenção de muitos artistas e escultores. No estilo
clássico da arquitetura, frequentemente, era utilizada a expressão “desenhado em escala humana
(nas proporções humanas)”.

Já nas pinturas egípcias (Figura 49) podemos observar que trabalhavam em relevo e não conheciam
a perspectiva, porém, já aplicavam grades modulares (proporções) para a preparação dos desenhos.
A figura humana em pé era dividida em 14 partes e as intersecções dessas grades eram pontos
anatômicos específicos (já tinham ideia de proporção entre as partes corporais).

Figura 49: Exemplos de pinturas egípcias.

Consulta feita em 6/6/2011 no site: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Pintura_do_Antigo_Egito>.

Também podemos observar nas esculturas gregas a preocupação com as relações entre as partes
corporais. Porém, a teoria das proporções humanas começa a assumir um significado mais profundo,
relacionado ao senso de equilíbrio, ao esteticamente agradável, à harmonia.

Podemos verificar a preocupação com as proporções humanas na Deusa Afrodite (Figura 50), onde
os mamilos e umbigo formam um triângulo equilátero.

75
UNIDADE II │ A ANTROPOMETRIA E SUA APLICAÇÃO EM ERGONOMIA

Figura 50: Deusa Afrodite. Autoria atribuída a Alexandros de Antioquia.

Consulta feita em 6/6/2011 no site: <http://ocorpoperturbador.blogspot.com/2010/07/venus-de-milo.html>.

A maioria dos sistemas de proporção do período clássico que chegaram até nós pertence aos períodos
da Renascença e Barroco.

Porém, um dos sistemas mais detalhados das proporções que chegaram até nós é de autoria do
arquiteto Vitruvius (15 aC). Para o arquiteto romano, a ciência das proporções é fundamental para o
design. Surgem aí, pela primeira vez, as ideias e a preocupação em se manter as proporções corporais
visando adaptar o ambiente ao usuário. Muitas das razões entre as partes corporais são familiares a
nós por meio dos nomes das unidades de medida. A altura humana é igual a 4 cúbitos, que é igual a
6 pés (mais exemplos no Quadro 7).

Quadro 7: Exemplos de medidas corporais utilizadas como base para o sistema métrico.

1 légua 3.007 braças 6.600m


1 quadra 60 braças 132m
1 palmo 8 polegadas 22cm
1 pé 12 polegadas 33 cm
1 vara 5 palmas 1.1m

Podemos dizer que a Antropometria Científica moderna teve início com as publicações de 4 livros
sobre proporções humanas escritos por Albrecht Durer (1471-1528). Neles, o autor tenta categorizar
e catalogar a diversidade de tipos humanos físicos. As ilustrações são baseadas na observação
de grande número de pessoas, dando um caráter mais científico e não apenas artístico para a
antropometria. Neste sentido, Durer é citado como o precursor da Antropometria Científica.

76
CAPÍTULO 3
Ergonomia e design

A ergonomia visa adaptar os sistemas de trabalho/ferramentas/layouts ao


trabalhador/usuário, e que antropometria é uma ciência importante na medida em
que contribui com esta adaptação. Mas, como podemos definir ou reconhecer um
produto “ergonomicamente correto”?

Uma primeira consideração que devemos fazer é tentar utilizar este objeto/ferramenta/layout de
trabalho, pensar em todas as maneiras e circunstâncias em que poderíamos utilizá-lo. Vamos tomar
como exemplo um par de sapatos.

Para tentar responder a esta questão, foi publicado pela Sociedade de Ergonomia (PHEASANT,
2003) um panfleto com as seguintes “dicas”:

»» Ele se ajusta ao seu tamanho ou poderia ser melhor?

»» Você pode ver e ouvir tudo o que você precisar ver e ouvir?

»» É difícil fazê-lo funcionar da forma errada?

»» É confortável de ser utilizado por um longo período (ou apenas no início)? Pense
que este funcionário poderá ter contado com este equipamento 8 horas por dia, 5
dias por semana e, talvez, durante anos;

»» É fácil e conveniente de ser usado (ou poderia ser melhorado)?

»» É fácil de aprender como usar? Os manuais são longos e difíceis?

»» As instruções são claras?

»» É fácil de limpar e fazer manutenção?

»» Você se sente relaxado depois de um período de uso?

Se a reposta a todas estas questões for sim então o produto foi, provavelmente, desenhado com o
usuário em mente.

No que diz respeito ao usuário, podemos dizer que as considerações funcionais são as que determinam
a forma do objeto/ferramenta? Neste sentido, os ornamentos poderiam ser considerados supérfluos?
A teoria de que os objetos devem ser apenas funcionais e não precisam ser esteticamente agradáveis
foi descrita pelo arquiteto americano Louis Sullivan (teoria do funcionalismo). Porém, podemos
dizer que, atualmente, os apelos ornamentais muitas vezes são mais lucrativos que os funcionais.
Desta forma, seria ingênuo de nossa parte considerar que um produto agrega valor apenas pela

77
UNIDADE II │ A ANTROPOMETRIA E SUA APLICAÇÃO EM ERGONOMIA

sua função. Mas, será que um objeto considerado funcional para um indivíduo/trabalhador seria,
automaticamente, considerado funcional para outro indivíduo/trabalhador?

Pheasant (2003) descreve cinco falácias sobre o design de um produto:

1. o design é satisfatório para mim, então ele será satisfatório para todo mundo;

2. o design é satisfatório para uma pessoa mediana então ele será satisfatório para
todo mundo;

3. a variabilidade do ser humano é tão grande que é impossível ser considerada em


qualquer design, mas como as pessoas são adaptáveis, isto não importa;

4. ergonomia é cara e já que os produtos são adquiridos por sua aparência e estilo,
considerações ergonômicas podem convenientemente ser ignoradas;

5. ergonomia é uma excelente ideia. Eu sempre desenho coisas com ergonomia em


mente, mas faço isso de forma intuitiva e confio no meu bom senso, então não
preciso de tabelas ou dados empíricos.

Tendo em mente estas cinco falácias, devemos considerar os seguintes fatos:

»» poucos se preocupam em testar os produtos com os usuários reais. Os trabalhadores


opinaram no desenvolvimento da ferramenta? Lembrar que, pela NR17, o
conhecimento do trabalhador se equipara ao conhecimento técnico e, portanto,
sempre deve ser considerado;

»» muitos levam em conta SUA percepção, representando a população de usuários.


Qual é minha capacidade de empatia? Minhas características físicas, ou medidas
corporais são semelhantes a que porcentagem dos trabalhadores?

»» as características da pessoa mediana (muitas vezes levada em conta) irá englobar


menos da metade dos usuários. Quantos são os indivíduos medianos?

»» alto custo das adaptações pode gerar lesões;

»» os consumidores são responsáveis pelos produtos disponíveis. A propaganda muitas


vezes gera a necessidade por determinados produtos disponíveis.

78
A ANTROPOMETRIA E SUA APLICAÇÃO EM ERGONOMIA │ UNIDADE II

De tudo que foi discutido até aqui, podemos dizer que, idealmente, o design deve ser sempre
centrado no usuário. Assim:

»» o design de um produto deve começar com a análise da tarefa e terminar com o teste
do usuário;

»» é empírico. Segue os padrões científicos, ou seja, primeiramente são testados


protótipos em condições controladas, com amostra representativa de usuários e em
ambiente semelhante ao setor de trabalho;

»» é interativo. O usuário e o ergonomista estão em interação a todo o momento;

»» é participativo. O trabalhador deve apresentar sugestões em todas as etapas;

»» leva em conta a diversidade humana;

»» leva em conta a tarefa do usuário;

»» é orientado pelos sistemas nos quais o produto se insere;

»» é pragmático (sistemático, programado, segue os princípios da lógica).

79
CAPÍTULO 4
Revisão dos fatores que influenciam
as medidas antropométricas

Podemos afirmar que, até a década de 1940, as medidas corporais eram estabelecidas por meio de
médias da população, principalmente baseados nas medidas de peso e altura. Hoje, com a produção
em massa, medidas mais detalhadas são necessárias, já que poucos centímetros podem significar
em grandes perdas.

E, para evitar estas perdas, o interesse atual no que diz respeito às medidas corporais deve levar em
consideração as diferenças entre os grupos no que diz respeito à etnia, alimentação, saúde e outros.

Pelo que foi exposto no anteriormente, podemos dizer que a antropometria é uma preocupação
antiga do homem, mas a aplicação dessas medidas é recente. Um exemplo disso é que, até a Idade
Média, não havia diferença entre os pés direito e esquerdo para a confecção dos sapatos. Essa
extrema padronização traz benefícios para o fabricante, mas é ruim para o consumidor. Pense nas
pessoas que não se adequavam a aquele tamanho de sapato tão padronizado. Para o consumidor, a
padronização excessiva nem sempre se traduz em conforto, segurança e eficiência.

Outro exemplo de padronização das medidas, era a fabricação de carros até a década de 1950. Estes
carros eram desenhados e pensados considerando exclusivamente a população masculina, já que
poucas mulheres dirigiam nesta época. Os desenhos dos carros eram pensados para este consumidor
específico, não existiam as adaptações dos bancos (com relação à angulação de encosto e altura, por
exemplo) que verificamos em muitas propagandas dos carros atuais. Do outro lado, pensem nos
milhões gastos para confecção de carros de Fórmula 1 atuais. As medidas são realizadas e o assento
confeccionado, baseado nas medidas corporais dos pilotos que irão utilizá-lo.

Portanto, para que as medidas corporais sejam adequadamente aplicadas devemos considerar:

»» quais serão as medidas necessárias para a confecção daquele produto, ferramenta,


ambiente de trabalho;

»» obter as medidas de forma confiável. É muito importante que as medidas possam


ser reproduzidas;

»» aplicar os dados e medidas obtidas de forma adequada, pensando sempre nos


benefícios para o usuário.

80
A ANTROPOMETRIA E SUA APLICAÇÃO EM ERGONOMIA │ UNIDADE II

Para que as medidas sejam adequadas e representem as medidas de nossa população de interesse
(por exemplo: os trabalhadores de um setor X de uma fábrica) devemos considerar os seguintes
fatores, que serão os devidos tópicos de nossa revisão:

»» idade;

»» etnia;

»» sexo;

»» clima;

»» condições adversas e variações extremas.

Idade
Sabemos que existem variações entre as proporções corporais (relação de tamanho de um com
relação a outro) durante a vida de um indivíduo. Estas variações internas, que ocorrem com um
mesmo indivíduo são chamadas variações intraindividuais. Podemos dizer que não apenas as
proporções entre os segmentos corporais mudam, também observamos variações com relação às
dimensões (segmentos), forma e peso. Essas mudanças de forma e proporção são mais visíveis
durante a infância e adolescência. De maneira geral, podemos dizer:

»» cada parte do corpo tem uma velocidade de crescimento. As extremidades (braços e


pernas) crescem mais rápido;

»» as proporções entre as partes do corpo são diferentes em cada idade;

»» ocorrem diferenças individuais nas taxas de crescimento anual.

O quadro a seguir mostra as relações entre os segmentos corporais com relação à idade.

Quadro 8: Proporção entre as partes corporais de recém-nascido (RN) até a idade adulta.

Idade Estatura/Cabeça Tronco/Braço


RN 3,8 1,00
2 anos 4,8 1,14
7 anos 6,0 1,25
Adulto 7,5 1,50

Fonte: Iida, página 98. Ergonomia projeto e produção.

Podemos observar no quadro que a relação entre a estatura e a cabeça cresce com a idade, ou seja,
conforme nos tornamos mais velhos o corpo cresce mais que a cabeça. Com cinco anos de idade o
cérebro do indivíduo já atingiu cerca de 80% de seu tamanho definitivo.

81
UNIDADE II │ A ANTROPOMETRIA E SUA APLICAÇÃO EM ERGONOMIA

Com relação à estatura, podemos observar na figura a seguir (Figura 51) que atingimos a estatura
máxima em torno dos 20 anos de idade. Até os 50 anos a estatura permanece inalterada, porém a
partir dos 55-60 anos a estatura começa a diminuir e outras medidas, como peso e circunferência
abdominal tendem a aumentar.

Figura 51: Curva da estatura corporal (em valores percentuais) relativa à idade (anos).

Fonte: Iida, página 99. Ergonomia projeto e produção.

Uma das explicações do porquê diminuímos de tamanho com a idade seria a deficiência da irrigação
dos discos intervertebrais da coluna, que faz com que os corpos vertebrais (porções ósseas) se
aproximem uns aos outros ou sofram até uma síntese óssea.

Também é observado que, com o envelhecimento, a força muscular e mobilidade articular


diminuem. Os movimentos se tornam mais lentos e com menor amplitude total. Há uma perda de
massa muscular progressiva com a idade, contudo o sistema nervoso degenera-se a uma velocidade
menor que a massa muscular, podendo haver um mecanismo de compensação à perda do sistema
musculoesquelético.

Etnia
As variações étnicas entre medidas corporais dizem respeito ao patrimônio genético fornecido pelos
pais a cada indivíduo. Podemos afirmar que as variações entre as proporções corporais com relação à
etnia são variações inter-individuais, pois são variações que acontecem entre diferentes indivíduos.

Podemos observar que, dentro de um mesmo continente, existem variações extremas de estatura
corporal relacionadas a diferentes etnias. No continente Africano, por exemplo, encontramos os
pigmeus (África Central) com estatura média de 135 cm e os sudaneses com estatura média de 175
cm (chegando até a mais de 210 cm de altura).

Essa diferença entre as medidas corporais relacionadas às etnias gerou a necessidade de adaptação
dos produtos para exportação. Por exemplo, as locomotivas da Inglaterra que foram para a Índia ou
as máquinas bélicas americanas que foram para o Vietnã não estavam bem adaptadas aos indianos
e vietnamitas, menores em estatura que seus exportadores ingleses e americanos.

82
A ANTROPOMETRIA E SUA APLICAÇÃO EM ERGONOMIA │ UNIDADE II

Diante das diferenças entre as medidas corporais nas diferentes etnias e da necessidade de exportação
e circulação mundial dos produtos, qual seria então uma possível solução? Devemos oferecer
diversas versões do mesmo produto ou inserir regulagens? Devemos considerar que a inserção de
peças móveis (regulagens) aumenta o custo e podem fragilizar o produto. Seria necessário saber
então quais as medidas que devem ser adaptadas e quais são as faixas de variação para cada uma
delas.

O Quadro 9 mostra um exemplo de uma máquina projetada para acomodar 90% da população
masculina dos Estados Unidos (média de 175 cm de altura), acomoda apenas 10% dos vietnamitas
(média de 160 cm de altura).

Quadro 9: Porcentagem da população masculina de diferentes países que consegue acomodar


uma máquina projetada para 90% da população masculina dos EUA.

Máquina para 90% dos homens dos EUA Acomoda 90% dos homens alemães
Máquina para 90% dos homens dos EUA Acomoda 80% dos homens franceses
Máquina para 90% dos homens dos EUA Acomoda 65% dos homens italianos
Máquina para 90% dos homens dos EUA Acomoda 45% dos homens japoneses
Máquina para 90% dos homens dos EUA Acomoda 25% dos homens tailandeses
Máquina para 90% dos homens dos EUA Acomoda 10% dos homens vietnamitas

O ambiente também interfere nas dimensões corporais, mas não nas proporções entre os segmentos.
Foi realizado um estudo com os negros africanos que migraram para os EUA e observou-se que, nas
gerações que se seguiram, ocorreu um aumento da estatura e dos segmentos corporais, mas não
ocorreram mudanças das relações entre eles. Ou seja, as proporções corporais se mantêm dentro de
uma mesma etnia. Outro exemplo da dificuldade de adaptação dos produtos para diferentes etnias
está apresentado na Figura 52.

Figura 52: Diferenças entre as medidas de comprimento máximo e perímetro dos pés entre europeus e brasileiros.

Fonte: Iida, página 101. Ergonomia projeto e produção.

Podemos observar na figura 52 que os brasileiros têm as medidas de perímetro dos pés maiores
que os europeus. O que gera dificuldade na adaptação das fôrmas dos calçados europeus para os
brasileiros.

83
UNIDADE II │ A ANTROPOMETRIA E SUA APLICAÇÃO EM ERGONOMIA

Estas diferenças entre as proporções nas etnias impede o uso da “regra de três”. A relação entre as
medidas de comprimento e perímetro dos pés não será a mesma entre a estatura e perímetro do
tórax para uma determinada etnia.

Devemos lembrar ainda que populações miscigenadas, como a brasileira, apresentam variações
entre as proporções corporais ainda maiores. Também devemos considerar variações por diferenças
nutricionais e de condições de saúde nas diferentes regiões (como no Brasil).

Sexo
De maneira geral, podemos dizer que, ao nascimento, os meninos são 0,6 cm maiores que as meninas
e pesam 0,2 kg a mais. Aos nove anos, os meninos e meninas apresentam crescimento semelhante.

Na adolescência, as meninas crescem dos 11 anos aos 13, enquanto que os meninos crescem dos
12,5 aos 15,5 anos. A estatura final ocorre por volta dos 20 a 23 anos. Os homens geralmente são
maiores (6 a 11%), têm mais músculo que gordura e sua localização é diferente. As mulheres têm
mais gordura subcutânea e formas mais arredondadas que os homens (Figura 53).

Figura 53: Distribuição da gordura corporal nas mulheres.

Fonte: Iida, página 97. Ergonomia projeto e produção.

Clima
Há ainda variações entre as medidas corporais motivadas pelos diferentes climas. Assim:

Nos climas quentes: os corpos dos indivíduos são mais finos e os membros mais longos, o que
facilita a troca de calor com o ambiente.

84
A ANTROPOMETRIA E SUA APLICAÇÃO EM ERGONOMIA │ UNIDADE II

Nos climas frios: os corpos dos indivíduos são mais cheios, as formas mais volumosas e arredondadas,
o que conserva a troca de calor do corpo com o ambiente.

Condições adversas e variações extremas


As variações extremas podem ser consideradas variações intraindividuais (no mesmo indivíduo)
como, por exemplo, no caso das mulheres gestantes ou pessoas que aumentam ou diminuem de
peso. Estas variações também podem ser ditas temporárias.

Em 1940, Willian Sheldon realizou um levantamento das medidas corporais de 4000 estudantes
norte-americanos. Este autor fotografou os indivíduos nos planos frontal, sagital e posterior; e
classificou os indivíduos em três tipos físicos: ectomorfo, mesomorfo e endomorfo (Figura 54). Para
Sheldon, o ectomorfo apresenta o corpo alongado, membros e corpo finos e pequena massa muscular.
O indivíduo mesomorfo teria pouca gordura, formas mais angulosas e maior massa muscular. O
endomorfo possuiria formas mais arredondadas, maior depósito de gordura, abdômem grande e
cheio e membros curtos. Estas variações apontadas por Sheldon seriam variações interindividuais
(entre indivíduos).

Figura 54: Três tipos básicos do corpo humano (Sheldon 1940).

Fonte: Iida, página 103. Ergonomia projeto e produção.

Também devemos considerar as variações ocorridas ao longo do tempo, chamadas variações


seculares. Estas variações ocorreram pelas melhores condições de saúde e alimentação, o podem
ser verificadas em diferentes países. A Figura 55 mostra as variações seculares da estatura média
de recrutas holandeses durante 100 anos. O período avaliado ocorreu um crescimento médio da
estatura de 14 cm, e o processo está se acelerando.

85
UNIDADE II │ A ANTROPOMETRIA E SUA APLICAÇÃO EM ERGONOMIA

Figura 55: Crescimento médio de recrutas holandeses entre os anos de 1860 e 1980.

Fonte: Iida, página 105. Ergonomia projeto e produção.

Nos EUA e Inglaterra, a estatura média aumentou 1 cm a cada 10 anos. Na Inglaterra, entre 1981
e 1995 os homens cresceram 1,7 cm e as mulheres 1,2 cm. Na Dinamarca, em 140 anos, houve um
crescimento médio de estatura de 13 cm.

Os recém-nascidos cresceram 5 a 6 cm e aumentaram 3 a 5% nos peso nos últimos 100 anos. O início
da puberdade se antecipou em 2 a 3 anos. A menarca adiantou-se e a menopausa foi retardada em
3 anos.

Devemos lembrar que todas essas mudanças não são uniformes entre os países e períodos de tempo,
existem variações extremas provocadas por anos de guerras e depressão econômica.

86
CAPÍTULO 5
Princípios e prática

Até 1950 ocorreu a busca por um padrão antropométrico devido à internacionalização da economia,
os acordos de livre comércio internacional e alianças militares. Porém, não existem dados
antropométricos disponíveis para toda a população em todos os países. Muitas vezes, os dados
disponíveis são de populações específicas, como os militares.

Mas, devemos lembrar que existem critérios específicos para a seleção de militares. Geralmente
existe uma faixa etária específica (18 a 30 anos), com uma estatura máxima etc.

Quadro 10: Medidas antropométricas de militares de diferentes países.

Homens
País Estatura (cm) Peso (Kg)
Média D.P.* Média D.P.*
República do Vietinã 160,5 5,5 51,1 6,0
Tailândia 163,4 5,3 56,3 5,8
República da Coreia 164,0 5,9 60,3 5,1
América Latina (18 países) 166,4 6,1 63,4 7,7
Irã 166,8 5,8 61,6 7,7
Japão 166,9 4,8 61,1 5,9
Índia 167,5 6,0 57,2 5,7
Turquia 169,3 5,7 64,6 8,2
Grécia 170,5 5,9 67,0 7,6
Itália 170,6 6,2 70,3 8,4
França 171,3 5,8 65,8 7,0
Austrália 173,0 6,0 68,5 8,4
Estados Unidos da América 174,5 6,6 72,2 10,6
Alemanha 174,9 6,1 72,3 8,1
Canadá 177,4 6,1 76,4 9,9
Noruéga 177,5 6,0 70,1 7,5
Bélgica 179,9 5,8 68,6 7,8

*D.P. = Desvio-padrão
Fonte: Iida, página 107. Ergonomia projeto e produção.

Se as medidas antropométricas são diferentes para cada população e se não existem tabelas com
medidas de populações específicas disponíveis, como e quando devemos medir? Quais são as medidas
que devemos obter?

Sempre que possível, devemos realizar as medidas de forma direta e de uma amostra de indivíduos
adequada. Esta amostra deve de fato representar os usuários e/ou trabalhadores que terão seu

87
UNIDADE II │ A ANTROPOMETRIA E SUA APLICAÇÃO EM ERGONOMIA

ambiente ou ferramenta adaptados. E, com relação às medidas podemos dizer que os pontos
principais são:

»» os objetivos: onde eu devo medir e para quê?


»» quais serão as medidas e qual a precisão necessária para obtê-las?
»» quais serão os métodos mais adequados para se obter estas medidas?
»» seleção da amostra. Quem serão os mensurados (homens ou mulheres, qual
setor)?

Para cada situação, as repostas serão diferentes. Por exemplo, para o posto de trabalho do digitador,
podemos realizar as seguintes medidas (Figura 56).

a) Altura lombar: sugere qual deve ser a altura do encosto da cadeira.

b) Altura poplítea: sugere qual deve ser a altura do assento.

c) Altura do cotovelo: sugere qual deve ser a altura da mesa.

d) Altura da coxa: sugere qual deve ser o espaço entre o assento e a mesa.

e) Altura dos olhos: sugere qual dever ser a altura do monitor.

f) Ângulo de visão: sugere a posição do monitor.

Figura 56

Fonte: Iida, página 108. Ergonomia projeto e produção.

88
A ANTROPOMETRIA E SUA APLICAÇÃO EM ERGONOMIA │ UNIDADE II

Tipos de Antropometria
Podemos dizer que existem dois tipos de antropometria, a estática ou estrutural e a dinâmica ou
funcional.

A antropometria estática é a medida das estruturas e segmentos corporais com o corpo parado ou
estático. É realizada há muito tempo, é a forma mais antiga de se obter dados antropométricos.
É realizada na maioria dos levantamentos de dados corporais e está presente na maioria das
tabelas disponíveis. A antropometria estática é recomendada quando o trabalho não exige muitos
movimentos.

Alguns exemplos de medidas obtidas pela antropometria estática estão apresentadas na Figura 57.

Figura 57: Alguns exemplos de medidas antropométricas estáticas ou estruturais.

Fonte: Iida, página 116. Ergonomia projeto e produção.

Um exemplo de uma tabela de medidas antropométricas mais completas que se conhece é a Norma
Alemã, DIN no 33.402 de junho de 1981. Neste levantamento, foram obtidas 54 medidas corporais.
Nesta norma estão descritas os pontos entre os quais as medidas foram tomadas, a postura adotada
durante as medidas e os instrumentos de medida que foram utilizados.

Também existe um levantamento extenso norte-americano, realizado com recrutas do exército e


representa a população adulta dos EUA.

Com relação às medidas brasileiras, não existem medidas muito abrangentes e confiáveis. Os
levantamentos brasileiros são mais restritos a algumas regiões do país e a algumas profissões.
Alguns exemplos estão apresentados nos quadros 11 e 12.

89
UNIDADE I │BIOMECÂNICA OCUPACIONAL

Quadro 11: Medidas antropométricas estáticas de trabalhadores brasileiros do Rio de Janeiro.


Medidas antropométricas estáticas de trabalhadores brasileiros,1 baseados em uma amostra de 3.100
trabalhadores do do Rio de Janeiro (FERREIRA, 1988). Origem: Brasil

Medidas antropometria estática Homens


cm 5% 50% 95%
1.0 Peso (kg) 52,3 66,0 85,9
1.1 Estatura, corpo ereto 159,5 170,0 181,0
1.2 Altura dos olhos, em pé, ereto 149,0 159,5 170,0
1.3 Altura dos ombros, em pé, ereto 131,5 141,0 151,0
1. Corpo em pe

1.4 Altura do cotovelo, em pé ereto 96,5 104,5 112,0


1.7 Compr. do braço na horizontal, até a ponta dos dedos 79,5 85,5 92,0
1.8 Profundidade do tórax (sentado) 20,5 23,0 27,5
1.9 Largura dos ombros (sentado) 40,2 44,3 49,8
1.10 Largura dos quadris, em pé 29,5 32,4 35,8
1.11 Altura entre pernas 71,0 78,0 85,0
2.1 Altura da cabeça, a partir do assento, corpo ereto 82,5 88,0 94,0
2.2 Altura dos olhos, a partir do assento, corpo ereto 72,0 77,5 83,0
2.3 Altura dos ombros, a partir do assento, corpo ereto 55,0 59,5 64,5
2.4 Altura do cotovelo, a partir do assento 18,5 23,0 27,5
2. Corpo sentado

2.5 Altura do joelho, sentado 49,0 53,0 57,5


2.6 Altura poplítea, sentado 39,0 42,5 46,5
2.8 Comprimento nádega-poplítea 43,5 48,0 53,0
2.9 Comprimento nádega-joelho 55,0 60,0 65,0
2.11 Largura das coxas 12,0 15,0 18,0
2.12 Largura entre cotovelos 39,7 45,8 53,1
2.13 Largura dos quadris (em pé) 29,5 32,4 35,8
5.1 Comprimento do pé 23,9 25,9 28,0
5. PÉS

5.2 Largura do pé 9,3 10,2 11,2

Fonte: Iida, página 120. Ergonomia projeto e produção.

90
BIOMECÂNICA OCUPACIONAL │ UNIDADE I

Quadro 12: Medidas antropométricas estáticas de trabalhadores brasileiros da região do ABC.


Medidas de 400 trabalhadores em fábricas e 100 trabalhadores de escritórios na região paulista do ABC
(COUTO, 1995). Origem: Brasil
Medida antropométrica estática Mulheres Homens
(cm)
5% 50% 95% Média D.P. 5% 50% 95% Média D.P.
1.1 Estatura 149 159 169 158,8 6,13 160 171,5 183,5 171,5 6,79
1.2 Altura dos olhos 138,5 147,5 157,5 147,6 5,98 149 159,5 160 160 6,61
1.3 Altura dos ombros 122 131 139,5 131 5,45 133 143 154,5 143,2 6,46
1.4 Altura dos cotovelos 92,5 99,5 107 99,5 4,29 100,5 109 118 109,1 5,31
1.5 Altura das mãos 56,5 61,5 67 61,8 3,31 59,5 66 73 66,1 4,31
1.9 Largura do tronco 34 38 44 38,9 3,27 36 43 49 42,8 4,70
1.10 Largura do quadril 33 39 45 39,1 4,03 29 36 42 35,5 3,63
2.6 Altura poplítea 36,5 40,5 45,5 40,9 2,56 44 48,5 53 48,8 2,75
2.9 Compr. poplítea-nádegas 41,6 45,5 49 45,3 2,62 42,5 47 51 46,9 2,67
4.1 Tamanho da mão 15 16,5 17,5 16,6 1,06 16 18 20 18,2 1,17

Fonte: Iida, página 97. Ergonomia projeto e produção.

Se o produto ou posto de trabalho for dimensionado com dados da antropometria estática, será
necessário, posteriormente, promover alguns ajustes para acomodar os principais movimentos
corporais. Neste sentido, podemos utilizar a antropometria dinâmica, que é mais adequada quando
o trabalho exige maiores movimentos corporais.

Na antropometria dinâmica os movimentos de cada parte do corpo são mensurados, mantendo-se


o restante do corpo estático. A antropometria dinâmica é a antropometria dos alcances, a cintura
escapular permanece estática, enquanto o membro superior (braço e antebraço) se move.

Quando existe a necessidade de se medir os seguimentos corporais enquanto um indivíduo executa


uma função, estamos falando da antropometria funcional. Para a antropometria funcional há a
necessidade de instrumentos mais sofisticados de medida. A figura a seguir mostra as zonas de
alcance máximo e preferencial nos planos transversal e sagital.

91
UNIDADE II │ A ANTROPOMETRIA E SUA APLICAÇÃO EM ERGONOMIA

Figura 58: Medidas das zonas de alcance máximas e preferências para a posição sentada.

Zona de alcance máximo


Zona preferencial

Plano transversal Plano sagital


20 cm aima do cotovelo 10 cm à direita do plano de simetria

Fonte: Iida, página 124. Ergonomia projeto e produção.

Quanto mais amplos os movimentos realizados pelo indivíduo durante a atividade, mais articulações
irão se mover e maior será a zona de alcance. A Figura 59 mostra os alcances máximos nos planos
frontal e sagital, com o tronco ereto e fletido. Na ergonomia, devemos sempre considerar as zonas
de alcance e os limites impostos aos movimentos.

Figura 59: Os alcances máximos da mão podem ser determinados traçando se os envoltórios em um quadro
graduado, para diferentes distâncias e posturas do corpo (SEMINARA, 1979).

Fonte: Iida, página 125. Ergonomia projeto e produção.

92
A ANTROPOMETRIA E SUA APLICAÇÃO EM ERGONOMIA │ UNIDADE II

O registro de movimentos pode ser realizado ainda por meio de filmagem e eletrogoniometria. A
Figura 60 abaixo mostra os sensores para a eletrogoniometria.

Figura 60: Sensores BIOMETRICS.

Consulta feita em 06/06/2011 no site: <http://www.biometricsltd.com/>.

Cada sensor do eletrogoniômetro é constituído por dois terminais, um telescópico e outro fixo, os
quais são acoplados sobre as regiões dos segmentos adjacentes à articulação que será avaliada.
Os sensores são interligados por uma mola protetora, dentro da qual existe um fio com uma série
de strain gauges, montados em planos ortogonais (biaxial), cujo movimento entre seus terminais
estimula os sensores e promove uma corrente elétrica que é lida em ângulos pela célula de aquisição
de dados.

Podemos afirmar que os movimentos são importantes para a lubrificação das articulações. Os
movimentos são possíveis quando se estabiliza a articulação anterior (mais proximal ao corpo).
Em geral, as mulheres e os praticantes de esportes possuem maior amplitude de movimento. As
mulheres têm amplitudes de movimento de 105 a 110% maiores que os homens.

A Figura 61 mostra as amplitudes médias fisiológicas do corpo humano para diferentes articulações.
As amplitudes apresentadas são amplitudes voluntárias. Devemos considerar que existem também
os movimentos acessórios e passivos, que conferem maior mobilidade ao corpo humano.

Figura 61: Valores médios em graus das amplitudes de movimento voluntárias do corpo,
na antropomeria dinâmica.

93
UNIDADE II │ A ANTROPOMETRIA E SUA APLICAÇÃO EM ERGONOMIA

Fonte: Iida, página 127. Ergonomia projeto e produção.

Deve-se destacar que a amplitude de movimento fisiológica é diferente da amplitude de movimento


funcional. A amplitude funcional prevê a amplitude de maior vantagem biomecânica, menor gasto
energético, menor carga muscular e articular. A antropometria para o design de postos, ferramentas
e sistemas deve considerar tais amplitudes.

Os protocolos de registro (RULA; OWAS etc.) para a avaliação dos riscos ocupacionais pressupõem
estas amplitudes de maior vantagem biomecânica, que serão as amplitudes classificadas como de
menor risco.

94
A ANTROPOMETRIA E SUA APLICAÇÃO EM ERGONOMIA │ UNIDADE II

Modelos humanos
A partir das medidas antropométricas, podem ser construídos diversos tipos de modelos humanos.
Estes modelos podem ser úteis no projeto e avaliação de produtos e postos de trabalho.

Os modelos humanos podem ser:

»» Bidimensionais: o corpo humano é modelado em duas dimensões, portanto são os


modelos mais simples, podendo ser construídos em madeira ou papelão. Podem
representar homens e mulheres nos percentis 5%, 50% e 95%, ou proporções de
1:50.

Estes modelos são úteis para o desenho de controles, por exemplo (Figura 62),
porém têm desvantagens, pois não conseguem representar movimentos mais
complexos (em mais que duas dimensões).

Figura 62: Exemplos de modelos humanos bidimensionais articulados,


representando percentis de 50% em escala reduzida (Felizberto e Paschoarelli, 2000).

Fonte: Iida, página 128. Ergonomia projeto e produção.

»» Tridimensionais: são manequins mais complexos e sofisticados que reproduzem


por completo todo o contorno do corpo.

Exemplo: modelo 3D da Universidade de Michigan. Também é um modelo


computacional (Figura 63).

95
UNIDADE II │ A ANTROPOMETRIA E SUA APLICAÇÃO EM ERGONOMIA

Figura 63: Modelagem Biomecânica da Universidade de Michigan.

»» Modelos computacionais: desenvolvidos por meio de programas de computador,


geralmente são tridimensionais.

Exemplos:
Cyberman: desenvolvido pela Chryster. Pode gerar modelos humanos em
perspectiva, vista de qualquer direção e focalizar detalhes em 11 escalas
diferentes (Figura 64).

Figura 64: Modelo Cyberman.

Fonte: Iida, página 130. Ergonomia projeto e produção.

Sammie: desenvolvido pela Universidade de Nottingham. O modelo é


representado por 17 juntas e 21 segmentos corporais. O programa pode produzir
vistas do corpo humano em qualquer direção (Figura 65).

96
A ANTROPOMETRIA E SUA APLICAÇÃO EM ERGONOMIA │ UNIDADE II

Figura 65: Modelo Sammie.

Fonte: Iida, página 130. Ergonomia projeto e produção.

»» Modelos matemáticos: a ideia destes modelos é que, após a mensuração de um


grande número de variáveis antropométricas, seriam realizadas apenas 2 ou 3
medidas e as demais seriam deduzidas por fórmulas matemáticas. As desvantagens
destes tipos de medidas é que, nem todos os segmentos corporais são proporcionais
entre si. O coeficiente de correlação mede este grau de proporcionalidade (1,00
seria o valor máximo de proporcionalidade).

Em um levantamento realizado em indústria automobilística, da Região do ABC, foram realizadas


medições de 13 variáveis antropométricas em uma amostra de 249 trabalhadores (SIQUEIRA,
1976). Em 58% dos casos foram obtidas correlações acima de 0,5 entre as varáveis, apenas 15%
dessas medidas apresentaram correlações acima de 0,8.

A partir dessas correlações maiores foi possível estabelecer algumas fórmulas. Por exemplo: Y =
53,95 + 0,57X. Sendo X o peso dos trabalhadores (em Kg) e Y o diâmetro do tórax (em cm).

Esta fórmula, assim como muitas outras já estabelecidas devem ser usadas com cautela, sendo
válidas apenas para uma estimativa inicial ou uma abordagem geral do sistema. O teste final deve
ser feito com seres humanos, de preferência com uma amostra significativa.

Métodos para medidas antropométricas


Para a definição das medidas antropométricas devemos ter sempre em mente:

»» os pontos anatômicos que iremos palpar, no que diz respeito à sua localização e
direção;

»» a postura que deverá ser adotada pelo indivíduo;

»» os instrumentos de medida;

97
UNIDADE II │ A ANTROPOMETRIA E SUA APLICAÇÃO EM ERGONOMIA

»» as técnicas de medida;

»» treinamento prévio dos avaliadores;

»» seleção adequada da amostra. Para a seleção adequada da amostra devemos pensar


na representatividade. Será que os indivíduos mensurados de fato representam
minha população alvo?

»» realizar análises estatísticas. Pode ser interessante dividir os sujeitos em classes ou


intervalos (exemplo: mensuração de estatura), realizar distribuição de frequência
e/ou porcentagens acumuladas (para se ter ideia de quais as medidas mais e menos
frequentes);

»» outros: roupas, sapatos etc.

Os métodos de medição podem ser divididos em:

»» Método direto: realizada diretamente no indivíduo. Podem ser utilizados


equipamentos simples como fitas métricas, paquímetros, trenas etc. É muito
importante lembrar que devemos padronizar as medidas e avaliar a confiabilidade
das medidas realizadas tanto por um mesmo avaliador (confiabilidade intra-
avaliador) e entre outros avaliadores (confiabilidade interavaliador). Um erro
máximo de 5 mm não teria maiores repercussões nas medidas e reavaliações.

»» Método indireto: realizado de forma indireta. Pode ser feito por meio da imagem
(fotogrametria). Para isso devemos ter alguns cuidados na aquisição da imagem,
como: distância adequada entre sujeito e máquina fotográfica (é recomendado cerca
de 3,5 m), uso de medida conhecida no ambiente (para se ter ideia de proporção
da redução da imagem), fotografia realizada com máquina fotográfica e sujeito no
mesmo plano, identificação prévia de marcas anatômicas para facilitar as medidas.

Representações gráficas das medidas


antropométricas
Assim como muitas outras medidas biológicas as medidas antropométricas podem ser representadas
por uma curva em formato de sino chamada curva de Gauss (Figura 66).

98
A ANTROPOMETRIA E SUA APLICAÇÃO EM ERGONOMIA │ UNIDADE II

Figura 66: Frequência de distribuição ou porcentagem de distribuição para a estatura de britânicos do sexo
masculino. Este é um exemplo da curva normal ou distribuição Gaussiana.

Fonte: Pheasant 2003, página 16. Bodyspace. Anthropometry, Ergonomics and the Design of Works.

A distribuição normal pode ser representada pelos dados de média e desvio padrão (DP). Por meio
da distribuição normal podemos observar que há maior número de sujeitos concentrados no centro
da curva e menor número de sujeitos nos extremos (Figura 67). A curva de Gauss permite o cálculo
dos percentis e dos intervalos de confiança.

Figura 67: Frequência de distribuição ou polígono de frequência (histograma) e


frequência acumulada para estatura mensurada em cm.

Fonte: Iida, página 114. Ergonomia. Projeto e Produção.

Para o cálculo dos intervalos de confiança utilizamos a fórmula:


X = X ± K.S
X = média
S = desvio-padrão
K = coeficiente do nível de confiança

Por meio dos intervalos de confiança conseguimos escolher a população que estará contida entre os
intervalos.

99
UNIDADE II │ A ANTROPOMETRIA E SUA APLICAÇÃO EM ERGONOMIA

Quadro 13: Valores do coeficiente K para o cálculo dos intervalos de confiança.

Coeficiente Intervalo (%)


(k) Inferior Superior
0,00 50 50
0,67 25 75
0,84 20 80
1,00 16,6 83,5
1,28 10 90
1,65 5 95
1,96 2,5 97,5
2,326 1 99
2,576 0,5 99,5

Por exemplo, se quisermos incluir 90% da população faremos os seguintes cálculos:


Média = 170cm
DP = 10
K5% = 1,65
K95% = 1,65

5% = 170 – 1,65X10 = 153,5 cm


95% = 170 + 1,65X10 = 186,5 cm

90% da população estará incluída entre os intervalos de 153,5 cm a 186,5 cm.

Porém, existem vantagens e desvantagens no uso dos percentis. As vantagens são:

»» Especifica a população incluída (e também excluída);

»» Permite selecionar pessoas para testes (por exemplo, posso querer testar o ajuste
de um posto de trabalho com os indivíduos que estão nos extremos da curva de
distribuição da altura, percentis 5% e 95%).

As desvantagens são:

»» Os percentis são específicos da população que descrevem. Exemplo: 95% da estatura


para o público geral pode ser 70% para uma população específica (policiais);

»» São específicos das dimensões que descrevem. Exemplo: um indivíduo com um X


percentil de estatura pode ou não ter o mesmo percentil para o tamanho do ombro.

Alguns critérios que definem um bom ajuste


O uso da antropometria não é algo tão simples, alguns critérios estabelecidos podem ser conflitantes,
por exemplo: para o desenho de uma cadeira podemos utilizar o critério do conforto como indicador,
tomando como base a compressão exercida na fossa poplítea. Este indicador pode funcionar bem

100
A ANTROPOMETRIA E SUA APLICAÇÃO EM ERGONOMIA │ UNIDADE II

para as cadeiras altas (que irão provocar maior contato da fossa poplítea com assento), mas pode
não funcionar muito bem para as cadeiras baixas.

Podemos dizer que existem quatro limitadores cardeais que vão estar presentes na maioria dos
ambientes ocupacionais:

»» espaço livre de trabalho;

»» alcances;

»» postura;

»» força.

Vamos falar, então, de cada um destes limitadores:

Espaço Livre
O espaço livre de trabalho é o espaço adequado para a movimentação dos segmentos corporais
do trabalhador. É o espaço adequado para a circulação e movimentação corporal. Como exemplo,
podemos citar o espaço adequado que deve ser fornecido para os dedos e palmas nas alças e
manoplas. Se as dimensões são desenhadas para as pessoas maiores (que estão no percentil 95%),
aqueles pessoas que são menores terão suas medidas acomodadas.

Alcance
O alcance determina a dimensão máxima aceitável para que um objeto possa ser alcançado. Se as
dimensões forem desenhadas para as pessoas menores (com medidas do percentil 5%), aquelas que
são maiores serão acomodadas.

Para os aspectos do alcance e espaço livre o princípio do usuário limitante pode ser aplicado. Desta
maneira, podemos afirmar que para os espaços livres de trabalho, o usuário limitante será o que
possui as medidas do percentil 5% (se os menores indivíduos, com as menores medidas, conseguem
alcançar o objeto, então os indivíduos com medidas maiores também conseguirão realizar o
alcance). Para os espaços livres de trabalho o usuário limitante possui medidas de percentil 95%
(se os indivíduos maiores conseguem se movimentar de maneira livre dentro do espaço de trabalho
que estão analisando, então os indivíduos com medidas de menor percentil também conseguirão se
movimentar livremente).

Postura
A postura é determinada pelas relações entre as dimensões corporais e o posto de trabalho. A postura
é determinada pela relação entre o corpo do trabalhador e seu ambiente de trabalho. Para a postura
não iremos conseguir definir de maneira precisa qual seria nosso usuário limitante, podem existir
usuários limitantes nas duas caudas da distribuição. Uma superfície pode ser alta demais para uma
pessoa baixa e ser muito baixa para uma pessoa alta. Teremos 2 restrições, dois usuários limitantes
para a mesma situação.

101
UNIDADE II │ A ANTROPOMETRIA E SUA APLICAÇÃO EM ERGONOMIA

Força
A força leva em consideração a força necessária para o indivíduo executar uma tarefa, como, por
exemplo, a força necessária para acionarmos uma alavanca ou controle. Geralmente, o usuário
limitante é o indivíduo mais fraco, porém consequências indesejáveis, do ponto de vista da
segurança, podem questionar este critério. Tomamos como exemplo, uma alavanca que acionar
uma guilhotina. Se a força necessária para o acionamento desta alavanca é muito pequena, temos
uma questão de risco de acidentes estabelecida, já que, se alguém simplesmente esbarrar ou tocar
levemente na alavanca a guilhotina será acionada. Por isso, em alguns casos, o acionamento destes
tipos de equipamentos requer que o trabalhador exerça força com ambas as mãos, ao mesmo tempo,
para que o indivíduo as retire da zona de perigo.

Testes de ajuste
Para sabermos se um equipamento ou ferramenta está bem ajustado podemos realizar testes
objetivos e subjetivos:

Como exemplo de teste objetivo, temos as medidas físicas dos segmentos corporais, o cálculo dos
percentis e estabelecimento de usuários limitantes. Como métodos de análise subjetivos podemos
citar qualquer julgamento realizado pelo trabalhador, como por exemplo, responder escalas visuais
analógicas sobre desconforto ou dor referidas durante o uso de um determinado equipamento.

Algumas medidas antropométricas


importantes e como obtê-las
Para a população brasileira não temos muitas tabelas de dados antropométricos disponíveis, muitas
vezes as tabelas de dados brasileiras são limitados a um tipo de trabalhador ou a uma região, com uma
amostra pequena de indivíduos mensurados. Geralmente, os dados disponíveis são de organizações
militares e devemos utilizar estes dados com cautela, pois esta população á selecionada de acordo
com alguns critérios antropométricos, como faixas específicas de altura e peso.

Algumas considerações importantes quando realizamos medidas antropométricas:

»» dificuldade de palpação de algumas proeminências ósseas. É importante o


treinamento e a padronização da palpação destas referências;

»» movimentação de tecido mole. Algumas estruturas estão recobertas por maior


proporção de tecido gorduroso, sendo difícil de estabelecer a exata localização da
referência;

»» controle da postura. Para a obtenção das medidas é importante a padronização da


postura do indivíduo mensurado. Por exemplo, devemos orientar que o indivíduo
relaxe os ombros e cintura escapular para obtenção de medidas dos membros
superiores;

102
A ANTROPOMETRIA E SUA APLICAÇÃO EM ERGONOMIA │ UNIDADE II

»» erros de medida de até 5 mm podem ser desconsiderados;

»» realizar correções das medidas para roupas e sapatos (para homens recomenda-se
o acréscimo de 25 mm às medidas de estatura e para as mulheres 45 mm).

Medidas mais comuns utilizadas em postos de


trabalho
Para a obtenção das medidas corporais devemos definir, primeiramente, quais são as posturas
padrão para o indivíduo em pé e sentado.

Para o indivíduo em pé: o sujeito deve estar ereto, mantendo a estatura, olhando para frente, com
os ombros relaxados e braços ao longo do corpo. Sem qualquer apoio (parede ou instrumento de
medida), como mostra a Figura 68.

Figura 68: Postura em pé padrão.

Fonte: Pheasant, página 47. Bodyspace, Anthropometry, Ergonomics and the Design of Work.

Para o indivíduo sentado: sujeito deve estar sentado em superfície plana, mantendo a estatura,
olhando para frente, ombros relaxados e braços ao longo do corpo com o cotovelo fletido – assento
deve ser ajustado (manter coxas e pernas em 90° de flexão).

103
UNIDADE II │ A ANTROPOMETRIA E SUA APLICAÇÃO EM ERGONOMIA

Figura 69: Postura sentada padrão.

Fonte: Pheasant, página 34. Bodyspace, Anthropometry, Ergonomics and the Design of Work.

Definidas as medidas em pé e sentada padrão, podemos obter as seguintes medidas em cada uma
das posturas.

Figura 70: Dimensões corporais obtidas com o sujeito na posição em pé.


1 – Estatura: medida do vértex (ponto mais alto da cabeça) ao chão. Esta medida permite comparar
populações, estimar dados, definir espaço livre em postos de trabalho, altura mínima para obstruções
(vigas, teto, lâmpadas).
Lembrar de corrigir para sapatos, chapéus e capacetes.
2 – Altura dos olhos: medida do centro do campo visual (canto dos olhos) ao chão. Esta medida
permite localizar adequadamente os displays e a altura mínima para obstruções visuais.
Lembrar de corrigir para os sapatos.
3 – Altura dos ombros: medida do centro do acrômio ao chão. Esta medida é o centro de rotação do
ombro e permite calcular áreas de alcance confortáveis.
Lembrar de corrigir para os sapatos.
4 – Altura do cotovelo: medida da cabeça do rádio ao chão. Esta medida é uma referência
importante para a determinação de alturas de superfícies de trabalho.
Lembrar de corrigir para os sapatos.
5 – Altura do quadril: medida do trocânter maior ao chão. Esta medida é o centro de rotação da
articulação e o comprimento funcional do membro inferior.
Lembrar de corrigir para os sapatos.
6 – Altura metacárpica: medida da cabeça do terceiro metacarpo ao chão. Esta medida é uma
referência importante para alças e altura desejável para levantamento de peso.
Lembrar de corrigir para os sapatos.
7 – Altura dos dedos: medida da ponta do dedo médio ao chão. Esta medida é a menor altura para
controles manuais.
Lembrar de corrigir para os sapatos.

Fonte: Pheasant, página 31. Bodyspace, Anthropometry, Ergonomics and the Design of Work.

104
A ANTROPOMETRIA E SUA APLICAÇÃO EM ERGONOMIA │ UNIDADE II

Figura 71: Dimensões corporais obtidas com o sujeito na posição sentada padrão.

8 – Altura na posição sentada: medida do vértex (ponto mais alto da cabeça) ao assento. Esta medida é o espaço livre entre necessário
entre assento e obstáculos acima da cabeça.
Lembrar de corrigir para calças, chapéus, capacetes e compressão do assento, se houver.
9 – Altura dos olhos na posição sentada: medida do centro do campo visual (canto dos olhos) ao assento.
Lembrar de corrigir para calças e compressão do assento, se houver.
10 – Altura dos ombros na posição sentada: medida do centro do acrômio ao assento. Esta medida é o centro de rotação do ombro.
Correção para calças e compressão do assento, se houver.
11 – Altura do cotovelo na posição sentada: medida da cabeça do rádio ao assento. Esta é uma medida importante para a localização e
altura ideal para o descanso de antebraço, mesas, teclados.
12 – Largura da coxa: medida entre os pontos mais proeminentes das coxas. Esta medida é importante para o espaço livre necessário
entre o assento e a superfície de trabalho ou outros obstáculos.
Lembrar de corrigir para calças.
13 – Distância nádegas-joelho: medida obtida entre a superfície anterior do joelho até as nádegas (sem compressão). Esta medida é o
espaço necessário entre o encosto e obstáculos à frente do joelho.
Lembrar de corrigir para as calças.
14 – Distância nádegas-fossa poplítea: medida obtida entre a superfície anterior do joelho até a fossa poplítea. Esta medida seria a
máxima profundidade do assento.
15 – Altura do joelho: medida da superfície superior do joelho até o chão. Esta altura é o espaço necessário (mínimo) sob a mesa.
Lembrar de corrigir para os sapatos.
16 – Altura poplítea: medida obtida da fossa poplítea até o chão. Esta é a altura máxima aceitável para altura do assento.
Lembrar de corrigir para os sapatos.
20 – Largura do tronco: é a largura máxima do tronco (na altura dos mamilos). É o espaço entre encosto e possíveis obstruções.
Lembrar de corrigir para as roupas.
21 – Profundidade abdominal: largura máxima do abdômen. É o espaço entre o encosto e possíveis obstruções.
Lembrar de corrigir para as roupas.
26 – Comprimento da cabeça: medida obtida da glabela ao occipúcio. Esta é a medida de espaço livre para a cabeça.
Lembrar de corrigir para as orelhas e capacetes.
Fonte: Pheasant, páginas 34 e 36. Bodyspace, Anthropometry, Ergonomics and the Design of Work.

105
UNIDADE II │ A ANTROPOMETRIA E SUA APLICAÇÃO EM ERGONOMIA

Figura 72: Dimensões corporais obtidas com o sujeito na posição sentada padrão.
17 – Largura dos ombros (deltóides): medida obtida entre as saliências
dos deltóides médios. Esta medida é o espaço livre na altura dos ombros.
Lembrar de corrigir para roupas.
18 – Largura dos ombros (acromial): medida obtida entre os dois acrômios.
Esta medida é a localização lateral dos centros de rotação dos ombros.
Lembrar de corrigir para roupas.
19 – Largura dos quadris: medida obtida entre as saliências dos quadris.
Esta medida é o espaço livre e tamanho do assento.
Lembrar de corrigir para roupas.
27 – Largura da cabeça: medida realizada na altura das pontas das
orelhas. Esta é uma medida de espaço livre para a cabeça.
Lembrar de corrigir para as orelhas e capacetes.
22 – Comprimento cotovelo-ombro: medida entre o acrômio e a parte
inferior do cotovelo. Esta é uma medida do espaço de trabalho.
23 – Comprimento cotovelo-dedos: medida entre a porção posterior do
cotovelo e a ponta do dedo médio. Esta é uma medida de alcance e uma
definição do espaço de trabalho.
35 – Alcance vertical sentado: limite para alcance na posição sentada.

Fonte: Pheasant, páginas 37 e 40. Bodyspace, Anthropometry, Ergonomics and the Design of Work.

Figura 73: Dimensões corporais obtidas com o sujeito na posição sentada padrão.

24 – Comprimento dos Membros Superiores: medida obtida entre o acrômio e a ponta do dedo médio.
25 – Comprimento mão-ombro: medida obtida entre o acrômio e a cabeça do terceiro metacarpo. Esta é a medida do comprimento
funcional do membro, define zona de alcance conveniente.
34 – Alcance vertical em pé: medida obtida entre a mão (mão fechada) até o chão. É a medida do limite do alcance na posição em pé.
36 – Alcance horizontal: medida entre a face posterior das costas até a cabeça do terceiro metacarpo. Esta é a medida do limite para
alcance horizontal.
32 – Envergadura: máximo alcance lateral. Medida obtida entre as pontas dos terceiros dedos direito e esquerdo.
33 – Envergadura do cotovelo: medida obtida entre as cabeças do rádio direita e esquerda. Esta medida é útil quando o espaço do
cotovelo deve ser considerado no espaço de trabalho.

Fonte: Pheasant, páginas 41 e 43. Bodyspace, Anthropometry, Ergonomics and the Design of Work.

106
CAPÍTULO 6
Considerações para o desenho do posto
de trabalho

Para o desenho do posto de trabalho devemos considerar:

»» os alcances necessários para o desempenho da tarefa;

»» o espaço livre para movimentação do trabalhador;

»» a postura adotada durante o desempenho da tarefa.

Para isso, devemos ter em mente quatro princípios básicos:

»» princípio da importância: itens mais importantes devem ser mais acessíveis ao


trabalhador;

»» princípio da frequência de uso: os itens mais frequentemente utilizados devem estar


próximos do trabalhador;

»» princípio da funcionalidade: equipamentos com funções similares podem ser


agrupados;

»» princípio da sequência de uso: itens utilizados em sequência devem ser organizados


em sequência.

Com relação ao espaço livre: Lembrar que muitos trabalhadores utilizam equipamentos de segurança
(botas, capacetes etc), portanto as medidas devem ser corrigidas para estes equipamentos. E que
nas saídas de emergência, a velocidade com que os indivíduos saem está em função do tamanho da
“saída”.

Com relação aos alcances: lembrar que quanto maior a base de suporte, maior será o alcance e que um
obstáculo à frente do trabalhador irá diminuir seu alcance. Além do alcance máximo dos membros
superiores é muito importante que o trabalhador consiga visualizar o que ele irá apreender (alcance
visual). A Figura 74 mostra zonas de alcance máximas sobre uma superfície de apoio para o trabalho
sentado.

107
UNIDADE II │ A ANTROPOMETRIA E SUA APLICAÇÃO EM ERGONOMIA

Figura 74: Áreas de alcance ótimos e máximas sobre uma mesa, para o trabalhador sentado.

Fonte: Iida, página 147. Ergonomia projeto e produção.

Com relação à postura, esta é determinada pela relação entre as dimensões do corpo e de vários
itens contidos em seu espaço de trabalho. A postura depende da conexão do trabalhador com esses
itens, que podem ser físicos (assento, mesa etc.) e visuais (displays). A manutenção da postura exige
atividade muscular para contrabalancear forças externas, a força mais importante é a da gravidade.
O trabalho muscular estático traz efeitos fisiológicos locais na musculatura, um destes efeitos é a
fadiga. A fadiga pode ser reversível com pequenas pausas ou mudanças da atividade.

Considerando a postura, o alcance e o espaço livre podemos afirmar que existem os seguintes tipos
de projeto:

»» para a média da população: baseados no percentil 50;

»» para extremos da população: baseados nos percentis 5 e 95;

»» para faixas da população: são estabelecidas faixas de altura, por exemplo;

»» dimensões reguláveis: os produtos teriam dimensões reguláveis que se adaptam aos


sujeitos;

»» individuais: as adaptações seriam individuais.

De maneira geral, podemos afirmar que, idealmente, as adaptações devem ser individualizadas,
porém os custos destas adaptações devem ser sempre considerados.

Em algumas situações o mesmo posto de trabalho pode conter adaptações tanto para as medidas
mínimas como para as máximas (percentis 5 e 95).

108
A ANTROPOMETRIA E SUA APLICAÇÃO EM ERGONOMIA │ UNIDADE II

Figura 75: No dimensionamento dos postos de trabalho usam-se algumas medidas antropométricas mínimas e
outras máximas da população.

Fonte: Iida, página 142. Ergonomia projeto e produção.

Para o dimensionamento das bancadas no trabalho em pé, podemos dizer que este dimensionamento
depende da altura do cotovelo e do tipo de trabalho.

Figura 76: Alturas recomendadas para as superfícies horizontais de trabalho


na posição em pé de acordo com o tipo de tarefa.

Fonte: Iida, página 148. Ergonomia projeto e produção.

»» Precisão fraca a moderada – a bancada deve estar 5 a 10 cm abaixo dos cotovelos.

»» Alta precisão (incluindo escrita) – a bancada deve estar 5 a 10 cm acima dos


cotovelos (suporte para punhos pode ser necessário).

»» Tarefas manipulativas “pesadas” (pressão p/ baixo) – a bancada deve estar 10 a 25


cm abaixo dos cotovelos.

»» Levantamento e manuseio – a bancada deve estar entre articulação metacarpo/


falangeana e cotovelos.

»» Controles operados com as mãos – a bancada deve estar entre cotovelos e ombros.

109
UNIDADE I │BIOMECÂNICA OCUPACIONAL

Para as bancadas de trabalho na posição sentada, as recomendações são:

»» altura da mesa: segue mesma regra para trabalho em pé;

»» espaço para as coxas (entre assento e tampo da mesa): devem ter espaço suficiente
para as pernas serem cruzadas;

»» espaço livre para “esticar” as pernas: 80 cm entre a borda frontal da mesa e a parede
do fundo (segundo pessoa maior).

Para os alcances, uma recomendação seria padronizar as alturas das prateleiras, por exemplo,
segundo indivíduo menor (os indivíduos maiores certamente iriam alcançar). Devemos lembrar
também que é importante a visão da profundidade das prateleiras (considerar a pessoa com estatura
do percentil 5%).

Dimensionamento das mãos e alças


A seguir estão as principais medidas realizadas nas mãos.

Figura 77: Principais medidas antropométricas das mãos.

1 – Comprimento da mão: da prega do punho à ponta do dedo médio;

2 – Comprimento da palma: da prega do punho até a prega dos dedos;


12 – Comprimento metacarpal: realizada na altura dos metacarpos;
13 – Largura da mão (através do polegar): incluir o polegar para a realização da medida;
3 – Comprimento do polegar: comprimento lateral do polegar;
4 – Comprimento do dedo indicador;
5 – Comprimento do dedo médio;
6 – Comprimento do dedo anelar;

110
BIOMECÂNICA OCUPACIONAL │ UNIDADE I

7 – Comprimento do dedo mínimo;


9 – Espessura do polegar;
10 – Espessura do indicador (interfalângea proximal);
8 – Largura do polegar (interfalângea);
11 – Espessura do dedo indicador (interfalângea proximal);
15 – Espessura da mão (metacarpal);
16 – Espessura da mão (incluir polegar);
17– Diâmetro máximo de preensão: escorregar a mão em cone graduado até o polegar e dedo médio apenas tocar;
18 – Afastamento máximo: afastamento máximo entre dedos mínimo e polegar;
19 – Afastamento funcional máximo: apreender cunha de madeira plana com as pontas do polegar e dedo anelar;
20 – Acesso quadrado mínimo: menor espaço através do qual a mão irá passar)
Fonte: Pheasant, 1996

As mãos são capazes um número infinito de ações. De maneira mais simples podemos classificar os
movimentos das mãos entre:

»» movimentos preensivos: movimento realizados em cadeia cinética fechada – mão


envolve o objeto;

»» movimentos não preensivos: movimentos realizados com as mãos abertas.

Porém, nas atividades da vida diária podemos dizer que as mãos realizam movimentos que estão
entre os dois tipos (preensivos e não preensivos). Por exemplo, os movimentos realizados para
carregar uma mala

John Napier (1956) classificou os principais movimentos das mãos em:

»» preensão de força: em que o objeto é apreendido contra a palma;

»» preensão de precisão: em que o objeto manipulado entre os dedos.

Figura 78: Movimentos das mãos, segundo John Napier (1956).

Fonte: Pheasant, página 86. Bodyspace, Anthropometry, Ergonomics and the Design of Work.

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UNIDADE I │BIOMECÂNICA OCUPACIONAL

Fundamentos para design de alças


O principal objetivo envolvido no design de uma alça é facilitar a transmissão de força do sistema
musculoesquelético do usuário para a ferramenta ou objeto. Ou seja, aperfeiçoar a transmissão de
força. Para isso, algumas dicas podem ser seguidas:

»»
a força é mais efetiva quando mão e a alça interagem em compressão, mão
perpendicular ao eixo do cilindro;

»» evitar “cantos”, “pontas”, pontos com aumento de pressão;

»» evitar cabos com as formas dos dedos;

»» evitar compressão da parte final do cabo com a mão (parte final do cabo pontiaguda);

»» evitar bordas achatadas;

»» evitar partes móveis que podem prender a mão.

Algumas dicas:

»» alças circulares são mais indicadas, e com diâmetro apropriado (30-50 mm para a
população britânica);

»» cabos poliédricos ou retangulares não são confortáveis;

»» evitar superfícies muito macias, escorregadias, ásperas, abrasivas;

»» na passagem da mão por aberturas (exemplo: mala), considerar um espaço


adequado: para a palma (115 mm X 50 mm) e para os dedos (dedos em círculos de
35mm).

Lembrar sempre que a força é mais efetiva quando a articulação está em uma posição de vantagem
biomecânica. A figura mostra a inclinação do cabo da ferramenta para que a articulação permaneça
em uma posição neutra.

Figura 79: Movimentos das mãos, segundo John Napier (1956).

Fonte: Pheasant, página 91. Bodyspace, Anthropometry, Ergonomics and the Design of Work.

112
Para (não) Finalizar

Pense no mobiliário utilizado nas escolas do nosso país. A nossa legislação (NBR/14006/2003)
determina 6 tamanhos padronizados de carteiras e cadeiras escolares. No entanto, quando pensamos
nas medidas antropométricas das crianças brasileiras, de norte a sul do país, sabemos que as
variações são muito grandes. Faça uma pesquisa dos fatores que determinam essa variabilidade.
Depois disso, pense em qual solução você, como ergonomista, encontraria para propor um mobiliário
que se adaptasse melhor aos estudantes, considerando todo o território nacional, desde o Ensino
Fundamental até o Ensino Médio.

Agora que você conheceu os temas, pense em quais recursos são os mais factíveis em termos de
custos e práticos de serem utilizados no ambiente ocupacional: os da cinemáica ou os da cinemetria?
Em quais situações práticas você poderia aplica-los?

Continue estudando.

113
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