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Nei Kung:
A Trilha Iniciática das Artes
Marciais
Belo Horizonte
Edições Nova Acrópole
2008
Coordenação Geral: Luís Eduardo Wexell Machado
Capa: Samuel Sebben Plentz
Editoração e Formatação: Silvana Perri Paoluzzi Dias
Revisão: Marcelle Barros Soares
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E D IÇ Õ E S N O V A A C R Ó P O L E L T D A
Av. Vicente Rizola, nº 525 – Bairro Santa Inês
Belo Horizonte – MG – Brasil
CEP.: 31.080-160
CNPJ: 00.419.212/0001-08
Inscrição Estadual: 062.157467.0076
e-mail: contato@edicoesna.com.br
Sumário
Prefácio 04
PARTE I
Introdução 07
1) Elementos Fundamentais das Artes Marciais 11
2) A Magia 14
3) A Estratégia 15
4) A Tática 16
5) A Técnica 17
Capítulo I 19
1) Fundamentos Filosóficos das Artes Marciais 19
2) Adenda ao Estudo da Tática 35
3) Filosofia Interna das Artes Marciais 45
4) A Estrutura de uma Escola Tradicional de Artes Marciais 58
5) A Doutrina da Guerra 68
6) Adenda à Estratégia 81
Capítulo II 88
1) Estudo de Probabilidades: o provável e o improvável 88
2) Bases Científicas Para Uma Teoria do Poder nas Artes Marciais 101
PARTE II
Capítulo I 111
1) O Nei Kung 111
Capítulo II 126
1) A Formação do Caráter no Nei Kung 126
2) Os Hexagramas Independentes 137
3) Os Hexagramas do Mushin-Do 147
4) Hexagramas Especializados 153
5) Hexagramas Intermediário 155
6) Hexagramas do Padrão Infinit o 211
7) Hexagramas Comemorativos 211
8) As Técnicas de Canalização do Potencial Inteligente, PI – Estagnação 219
9) O Nei Kung Infantil, Hexagrama Isolado Wei Chi 228
PARTE III
Capítulo I 283
1) A Ação de Potencial Inteligente – Introdução 283
2) Aspectos Mágicos das Artes Marciais 288
Capítulo II 307
1) Tema I 307
2) Tema II 315
3) Tema III 340
PARTE IV
Capítulo I 346
1) Tema I 351
2) Tema II 383
3) Tema III 389
4) Tema IV 397
Prefácio
Todas as artes marciais de caráter filosófico têm objetivos com uns que as
diferem das artes marciais de caráter popular.
H.P.B. diz que este é o mundo no qual nascemos, vivemos e no qual vamos
morrer: o mundo de provas e de grandes sofrimentos no qual todos os homens estão
mergulhados.
É uma dimensão pouco filosófica, já que o que interessa aqui é gerar uma
disciplina constante, baseada na prática intensa e no esforço pessoal. E ssa prática
corresponde, em geral, às artes marciais externas, nas quais os instrutores, tanto
orientais como ocidentais, não dão nenhum tipo de esclarecimento ou explicação. O
objetivo fundamental deste estágio é a busca do equilíbrio, formalmente falando ;
equilíbrio que produziria uma condição favorável para entrar no segundo estágio, o da
energia interior.
H.P.B. diz que a sala da instrução é enganosa e muito perigosa, cheia de visões
psíquicas ilusórias. Tudo o que pode ser obtido neste plano é fatal para a evolução do
homem. Compara estes “logros” com flores belíssimas, sob as quais se encontram
serpentes venenosas enroscadas, prontas para envenenar aqueles que se apegam a estas
flores.
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Nas artes marciais, este mundo corresponde ao estágio da energia interior e sutil
do ser humano, no qual se trabalha sistemas de respiração, ri tmos biológicos,
desenvolvimento da imaginação, etc.
Aqui há três aspectos que devem ser considerados e aos quais se deve dar a
maior importância:
Fluxo respiratório: O praticante deve concentrar sua mente na inspiração e
expiração, a tal ponto que, pouco a pouco, perca a identificação com o corpo
físico e se identifique com a respiração;
Ritmo cardíaco: Com a concentração na respiração, o praticante deve se
concentrar nas pulsações do coração até harmonizá -las com o ritmo
respiratório;
Fluido nervoso: Simultaneamente, o praticante deve imaginar que o flui do
nervoso percorre todos os sistemas e se estende para além do corpo,
formando uma espécie de ovo brilhante, vibrante e de cor dourada.
Finalmente, deve harmonizar este último aspecto com os dois anteriores.
c) ESTÁGIO DA CLARIVIDÊNCIA
H.P.B. nos fala da sala da sabedoria como a única região onde o discípulo deve
buscar o mestre, aquele que vai ensiná -lo a caminhar em direção à verdade.
Quando se refere ao mestre, não o faz de forma subjetiv a, mas sim de forma
concreta, como a única maneira de percorrer o caminho da evolução humana.
Alcança esse estágio aquele que pode descobrir, com antecipação, os ataques
dos combatentes que enfrenta. Não é um combate violento, nem defensivo, nem
ofensivo: é um combate de antecipação total a qualquer iniciativa por parte dos outros,
seja para anulá-la ou superá-la, sem entrar em confronto. Corresponde ao aspecto do 1°
Logos: vontade e lei.
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a) ELEMENTO MÁGICO
b) ELEMENTO ESTRATÉGICO
Quem se engana aqui, forja sua própria derrota e, ao contrário, aquele que acerta
neste campo, assegura a vitória em alto grau.
A estratégia não está sujeita às circunstâncias ou ao inimigo, mas sim àquilo que
depende de cada guerreiro, e que este deve considerar somente em relação a si mesmo;
forma parte do mundo mágico místico e se estrutura em fu nção de um verdadeiro ideal,
até que este seja plasmado neste mundo.
se torne uma possibilidade completa, tanto para ele como para os demais. Diante disso,
não cabem desculpas, já que vence ou simplesmente fracassa.
c) ELEMENTOS TÁTICOS
Estes dois tipos de táticas vão configurando o acervo técnico que cada escola ou
grupo de guerreiros desenvolve através do tempo em que a escola estiver em vigência .
d) ELEMENTOS TÉCNICOS
Desejo ressaltar que as técnicas marciais não surgem do combate rotineiro – pelo
menos não nas escolas superiores. Elas surgem em função do elemento mágico,
estratégico e tático.
As distintas técnicas de artes marciais não têm um valo r absoluto, como às vezes
se pensa; ao contrário, guardam valores simbólicos e respondem melhor a uma
necessidade inteligente e não mecânica.
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2) A MAGIA
Esse poder mágico não é comum a qualquer homem. Ou se nasce com ele ou
não se nasce com ele. Somente aqueles que pos suem o poder interno podem ingressar
nesse tipo de escola, porque esses são guerreiros; os demais devem se contentar com
escolas externas, ou desenvolver somente os graus básicos da escola mágica.
3) A ESTRATÉGIA
“Melhor que aquele que venceu mil guerreiros em combate é aquele que venceu
a si mesmo, o discípulo do iluminado”.
DHAMMAPADA
A boa estratégia é uma arte que se elabora ao longo de toda uma vida e
geralmente fora dos campos de batalha, pois aqui já não há tempo para refletir; nas
batalhas, só há tempo para as táticas efetivas.
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4) A TÁTICA
Existe uma base referencial em toda obra tática que deve ser considerada em
primeiro lugar. Esta primeira referência nasce da relação que se estabelece entre o
sentido interno de ordem e harmonia do estrategista e todas aquelas coisas que,
provenientes do inimigo, tentam desestabilizar esse sentido interno, ordenad o e
harmônico.
A partir desta base de referência ideológica, surge um segundo fator tático, que
se estrutura em função dos erros que o inimigo comete em relação à ordem e harmonia
interna – erros que, sem dúvida, serão explorados por todo bom tático.
5) A TÉCNICA
Chegamos à concretização das artes marciais. A técnica surge como
conseqüência do desenvolvimento dos elementos mágico, estratégico e tático e deve
refletir da maneira mais fiel possível todos os outros elementos.
a. TÉCNICAS ADQUIRIDAS
São transmitidas de geração em geração e formam parte da tradição marcial.
b. TÉCNICAS SÚBITAS
Surgem no transcurso da luta como fatores decisivos da vitória.
c. TÉCNICAS SIMBÓLICAS
São conquistadas iniciação mágica e cumprem três funções:
Técnicas secretas de vida e de morte, de caráter decisivo e de
supremacia.
Técnicas filosóficas, que transcendem o valor temporal do combate em
busca da compreensão da verdade.
Técnicas mágicas, que levam o guerr eiro a participar de uma dimensão
mística e superior.
d. TÉCNICAS SECRETAS
Conhecimento de plantas e ervas para curar feridas; golpes em pontos vitais
para reanimar ou matar; armas estratégicas para anular ou superar as armas
convencionais, etc.
e. TÉCNICAS FILOSÓFICAS
Danças cerimoniais; sinais com as mãos; técnicas geometrizantes; técnicas
específicas de ataque e defesa; seqüência de movimentos programados, etc.
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f. TÉCNICAS MÁGICAS
Palavras e gritos de poder; técnicas psicológicas e parapsicológicas;
sistemas específicos de respiração e de canalização de algum tipo de energia
sutil; desdobramentos da consciência; liberação do potencial interno, etc.
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Capítulo I
a) A DIMENSÃO MÁGICA
Tais mitos determinam-se por meio de uma estrutura simbólica, que mostra
vários ciclos ou períodos correspondentes a uma seqüência ordenada, que cumpre com a
função pedagógica de transmissão do mistério da guerra no cosmo, na natureza terrestre
e no homem.
Nessas origens, o Senhor da Guerra funda o mundo com regras e certos poderes
de caráter mítico, assentando o eixo ou centro real do mundo. Através desta fundação,
institui-se a primeira dualidade, que corresp onde à relação entre esse eixo, ou centro do
mundo, e a região do mundo exterior que o rodeia. Formam -se dois exércitos contrários,
estabelecendo-se a primeira guerra de caráter celeste ou divino.
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Antes da batalha final, o rei mítico transmite seus poderes a seu herdeiro através
de uma espada ou lança sagrada, ou os símbolos de poder da realeza.
Quando a ilha sagrada cai, junto com todos os exércitos, o herdeiro foge com
suas pequenas forças para fundar outra ilha sagrada, que agora se transformará em um
belo e mágico castelo.
Neste novo ciclo, o herdeiro, agora como rei, realiza o sacrifício de renovação
do ciclo e funda as dinastias reais. Instaura -se, então, uma tradição que corresponde às
origens, ao primeiro centro do mundo e ao rei divino, que deu nascimento à tradição de
que tanto aquele rei quanto o que governa no mundo divino – o rei do mundo –
transfiram todo o seu poder ao sucessor humano que o representará entre os homens
como seu rei.
A partir deste momento, assenta -se a tradição de que este rei do mundo voltará
uma e mil vezes, por meio dos reis humanos, quando for necessário, com o objetivo de
restabelecer a ordem, a paz e a justiça.
Depois que toda essa tradição mítica se fundamenta entre os homens, o herdeiro
mantém-se pelo poder que um sábio legendário lhe confere, acompanhando -o nos
momentos difíceis, aconselhando -o e transmitindo-lhe segredos da guerra.
Pela primeira vez, os cavaleiros realizam façanhas em nome do rei, símbolo das
tradições nobres, até que, estando todos preparados, o rei lhes dá a ordem de iniciar a
saga da conquista dos objetivos divinos e do reencontro com o senhor do mundo.
Esta série de ciclos míticos pode ser encontrada entre ocidentais e orientais,
indistintamente, como por exemplo:
Mito de Quetazlcoatl - maias e astecas;
Mito de Viracocha Inca - tiahuanacotas e quéchuas;
Mito de Artur - celtas e europeus em geral;
Mito de Krishna e Arjuna - arianos;
Mito de Kwan-Ti - chineses;
Mito de Marte - romanos;
Mito de Bodhidharma - chineses e japoneses.
b) A DIMENSÃO ESTRATÉGICA
É formada por escolas esotéricas de artes marciais nas quais se ensina a doutrina
da guerra interior, que as fun damenta no desenvolvimento filosófico do contexto mítico
de dimensão mágica.
Todo guerreiro que se preza deve assumir o compromisso com o ideal dos
guerreiros; deste compromisso surge o sentido de predestinação, que impulsiona forças
poderosíssimas no coração do guerreiro.
Este ideal traz consigo a força de tradição dos guerreiros, o sentido da nobreza e
a ordem de cavalaria, com os códigos e valores estrutu radores do caráter do cavaleiro.
Por outro lado, devemos considerar que as causas que motivam um guerreiro são
somente as justas e gloriosas, as quais só podem ser encontradas no ideal. No ideal
transcendente, o guerreiro encontra o laço que o une aos deus es e, desse laço, surge o
pacto histórico que o distingue e o autoriza a protagonizar a saga histórica.
Essas escolas sempre contam com um mestre que conhece certos mistérios, os
quais transmite a todos aqueles que respondem às propostas apresentadas, que estão à
altura do desafio e que superaram as provas iniciais.
Geralmente esse mestre possui uma sabedoria muito acima do comum e declara
ser discípulo de outro sábio, ainda superi or a ele mesmo. Se continuarmos nesta
progressão, encontraremos uma verdadeira genealogia de mestres e discípulos,
estruturada em função de uma clara e firme hierarquia. Esta hierarquia configura uma
espécie de pirâmide evolutiva cuja cúpula superior se pe rde por detrás das nuvens, que
ocultam um mundo mágico e mítico, carregado de lendas, histórias de super - homens,
etc.
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Este mundo misterioso seria dos mestres de sabedoria, que se estabelecem como
ponte entre os deuses e os discípulos pertencentes a essas escolas.
iii. O DISCIPULADO
Aqui está a condição que todo guerreiro deve ter para participar da fraternidade
dos sábios e instrutores que conhecem a trilha ou caminho das artes marciais.
Além do corpo, existe a inteligência que o anima. Além da energia que vivifica
todas as coisas, está a força que a anima. Além dos sentidos, está o ser que os dirige.
Ser, inteligência e força são a alma do guerreiro, a qual participa do espírito de
imortalidade.
Fora desse espírito, tudo é impermanente e carece de um valor real; para que o
guerreiro-discípulo possa expressar para si e para os demais tal espírito, deve lutar
contra todo o impermanente, até vencê -lo.
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Nessa doutrina, ensina-se que a alma não morre quando morre o corpo, apenas o
abandona, para em outro ciclo voltar em outro corpo, e assim tantas vezes quantas
forem necessárias para vencer a atração terrestre e se impulsionar por si mesma até o
ideal mais nobre. Para isso, ele deve coordenar, em um todo harmônico e com grande
sabedoria, as qualidades da natureza.
v. AS QUALIDADES DA NATUREZA
Esta doutrina também ensina que, entre o mundo do Ser e do não -Ser, se
estabelece a consciência, que é dinâmica e responde a leis e comportamentos
específicos, os quais precisamos entender para “separar o espírito da matéria” através do
discernimento, pois, na prática, ambos se encontram indissoluvelmente unidos.
Essa unidade é apenas conceitual e ideal e só pode ser realizada através de uma
compreensão profunda ou de uma reflexão da consciência, a qual está cercada de
obstáculos que devem ser vencidos para que o guerreiro surja acima da dualidade.
A doutrina ensina que esses obstáculos devem ser superados um a um, até
reconstruir a dinâmica lógica e racional da alma. Dominando a paixão, controla -se o
medo. Superando o medo, controla -se o desejo. Controlando o desejo, vence -se a
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dúvida. Extirpando a dúvida, despr ende-se do apego. Sem apego, reconquista -se o
discernimento e, dirigindo o discernimento, encontra -se a verdade.
portais, que devem ser transpostos claramente para continuar avançando em direção à
meta e à realização final.
À medida que o guerreiro supera essas p rovas, torna-se mais brilhante e eficaz,
envolvendo-se cada vez mais em um halo de glória e de vitória. Esse espírito o guiará
até o último portal: “a iniciação”.
x. A INICIAÇÃO
O que podemos saber através das tradições marciais é que, depois dela, o
guerreiro se transforma em um Ser divino ou semidivino e passa a ser considerado um
sábio, mestre ou instrutor superior, cuja experiência e sabedoria o converte em u m novo
arquétipo dos guerreiros que virão depois dele e tentarão seguir suas pegadas. Adquire
também uma condição de gênio tutelar, inspirador de novas escolas de artes marciais
que mantêm essa mesma tradição.
c) A DIMENSÃO TÁTICA
O tático deve ser um homem maduro, que possua ao mesmo tempo um ideal
superior de caráter humanista e que esteja inscrito no plano evolutivo da humanidade.
O tático não esquece jamais esse ideal, que tem para ele a máxima importância.
Poderia dizer, com certeza, que a melhor tática é aquela que permite que o ideal triunfe
sobre tudo e isso se constitui como eixo central do conhecimento tático.
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O bom tático sempre evita a guerra e não entra em batalha se seu ideal não está
em jogo e pode continuar progredindo. Somente no caso de o in imigo tê-lo descoberto e
de possuir alguma possibilidade de impedir a plasmação do ideal, o tático aceitará a
guerra.
Na tática sempre deve existir um pólo fixo, que não se move, que não muda e é
totalmente estável. Em contrapartida a esse pólo fixo, deve existir o pólo móvel, o qual
se adapta constantemente, se transforma vertiginosamente e está em condições de mudar
tudo em um dado momento.
GRÁFICO N o 01
PÓLO FIXO
FOG
O
PÓLO AR
MÓVEL
Á GU
A
TERR
A
GRÁFICO No 02
FOGO
AR
ÁGUA
TERRA
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GRÁFICO No 03
SEÇÕES
PIRÂMIDE
ÂNGULO
DE FORÇA
CIRCUNFERÊNCIA ELEMENTOS
GRÁFICO No 04
PODER DE GUERRA
SENHOR DA GUERRA
i. A TÁTICA INDIVIDUAL
entrada do inimigo e penetra as defesas do inimigo pelas mesmas vias, até superá -las
totalmente. Aqui o Wa do inimigo se retrai, fazendo com que a guarda se debilite
completamente. Nesse instante, o Wa do guerreiro vencedor se manifesta em totalidade
(Kime), transbordando completamente ao contrário.
Reabilitar o inimigo: quando possível, o bom tático reabilita seu antigo inimigo
usando a admiração e respeito que tomou conta de seu adversário e transformando -o em
um guerreiro aliado, seja como s eu subalterno direto ou como um mando complementar
do plano tático do vencedor. Caso o vencido não possa ser reabilitado, será anulado com
o medo que tomou conta dele mesmo e será mantido sempre à distância e em uma
lentíssima integração, fundamentalmente justa.
d) DIMENSÃO TÉCNICA
Finalmente, para que a técnica cumpra sua função, deve existir no guerreiro uma
grande disciplina, uma clara virtude e um ardente desejo de conquistar a glória e a
vitória. Considerando a técnica como um meio e não um fim, devemos defini -la dentro
dos conceitos mágico, estratégico e tático, sendo a própria técnica uma representação
empírica e simbólica de todos eles. A técnica sempre deve nascer a partir da vontade, d a
inteligência e da consciência, como um todo ordenado e harmônico.
i. TÉCNICAS DE DEFESA
As técnicas de bloqueio servem para deter o ataque do inimigo antes de que ele
atinja seu objetivo. Devem ser usadas com flexibilidade e capacidade de absorção do
ataque, já que devem continuar intactas para novo uso em qualquer momento.
As técnicas interceptoras servem par a deter o ataque do inimigo antes que ele se
fortaleça em seu avanço, por meio de vetores de tempo e espaço ou trajetória, se
possível antes que o inimigo efetive seu ataque. Devem ser realizadas com muita
consciência e seriedade, já que são técnicas que e ncerram grande risco e perigo.
Têm como objetivo usar o desequilíbrio do ataque inimigo e projetá -lo para além
dos limites possíveis. São u tilizadas no corpo a corpo ou quando o inimigo ultrapassa as
defesas e devem ser feitas com muita base, equilíbrio geral e vigor.
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Cabe destacar que uma boa defesa deve contar com uma notória resistência à dor
e, quando possível, superação da mesma.
Têm como objetivo causar impacto no inimigo, com armas naturais ou criadas, e
buscam desarticular seu sistema de combate. Devem ser aplicadas claramente, sem que
o inimigo possa responder a elas, caus ando danos às armas ou ao ataque em geral.
Também devem ser efetuadas com base em espaços reais na defesa do inimigo, nunca
ao ar ou sem intenção verdadeira. Não podem ser efetivadas com força bruta e sim com
muito estilo técnico.
v. TÉCNICAS DE ANTECIPAÇÃO
São usadas para quebrar os esquemas mentais do adversário e para surpreendê -lo
defensiva ou ofensivamente. É necessário muita imaginação, mentalidade
desconflituada e soltura, pois são técnicas adicionais de difícil aquisição e domínio.
b) SISTEMA TÁTICO
i. DISTÂNCIA
b) Distância longa: não é possível golpear com um passo único, mas existem
técnicas que permitem encurtar a distância de forma rápida e efetiva;
ii. CENTRO
O centro pode ser uma idéia que toma conta da personalidade do lutador, pode
ser um lugar ou uma área. Todo lutador tem o seu próprio espaço, no qual o oponente
jamais deveria entrar, pois, se ele atacar nesse espaço, será quas e impossível a defesa. O
mesmo serve para desenvolver um ataque, já que, se o lutador atacar em seu próprio
espaço, sua técnica torna-se tremendamente efetiva.
iii. RITMO
Táticas de um tempo: aqui o ataque deve ser feito com uma simples
respiração, ou seja, sem preparo prévio. Normalmente, quando atacamos,
temos um tempo prévio de preparo, ou seja, pensamos: 1, 2, 3, agora! Isso
deve ser mudado para um ataque feito no tempo um, isto é: 1, agora!
Tática de ida sem retorno : consiste em atacar o inimigo com uma decisão
total, sem levar em consideração qualquer risco, mesmo o da morte. Por
outro lado, deve-se atacá-lo da mesma forma que ele ataca, de maneira
simultânea. Essa tática inspirou os japoneses na segunda guerra a criarem os
famosos Kamikases.
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iv. APARÊNCIA
Todo combate implica uma grande dose de imagens e aparências, que ocultam
as intenções finais dos lutadores. Quem, dentre os dois, descobrir primeiro qual é a
verdadeira intenção do inimigo, consegue obter o fator surpresa, que é fundamental para
vencer.
Tática da sombra da lua : quando não sabemos o que fazer, devemos imitar
nosso oponente; o que ele faz, nós fazemos.
Tática de bater no rosto: quando o oponente é muito bom e resiste bem aos
nossos ataques, devemos golpear seu rosto com uma bofetada; com essa
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i. FORMA EPISTEMOLÓGICA
Esse grau tático deve ser considerado tática por tática, até adquirir a experiência
necessária que permita ao lutador um domínio prático de todas as táticas por ele
conhecidas, como se fosse um jogo de xadrez. Requer muitos anos de experiência e é
próprio de faixas-pretas de alta graduação.
Às vezes, para certo tipo de lutadores que têm uma condição inata, é
contraproducente formá -los em função da forma epistemológica e é melhor deixar esse
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aspecto de lado em um primeiro momento, até que eles mesmos sintam necessidade de
torná-lo racional. Em um primeiro momento, é melhor ensiná -los filosoficamente, por
meio de diálogos ou mitos guerreiros que permitam ao lutador uma decantação natural,
sem condicionamentos prévios.
Isso significa que a tática deve ser usada de forma restrita, respeitando as
seguintes condições:
Recomendo que isso seja testado antes de se propor o estudo da tática e que se
selecionem previamente os discípulos que possam conformar um curso específico d e
tática.
d) SISTEMA DE SELEÇÃO
Deve existir também uma estrutura de car áter forte, temperado e com
certo grau de agressividade.
Possuir valor.
i. Aspecto mágico-cerimonial.
i. ASPECTO MÁGICO-CERIMÔNIAL
Segundo uma crônica romana de guerra, certa vez dois chefes bárbaros se
reuniram com 400 mil guerreiros e avançaram contra duas legiões ro manas. Diz-se que,
quando o general romano viu a formação inimiga, pediu aos dois chefes bárbaros uma
trégua para pactuar pessoalmente com ambos. Os dois chefes aceitaram e se reuniram na
linha de trégua. Ali, os três desceram de seus cavalos e imediatamen te o general
romano, com seu bastão de mando, traçou um círculo na terra, encerrando os dois
chefes bárbaros. Depois disso, disse -lhes que, se algum deles quisesse sair do círculo,
morreria. Ambos os chefes perderam o controle, se acovardaram e se renderam .
Finalmente, o romano abriu o círculo, deixou -os ir e, quando eles se reuniram com seus
guerreiros, se retiraram e não atacaram as legiões. Essa história é um bom exemplo de
táticas de caráter mágico-cerimonial.
Toda tática, para ser efetiva, deve ter uma grande dose de vontade que se
manifesta mentalmente, através de uma grande confiança e fé na tática aplicada; do
contrário, não só resultará inócua como também contraproducente.
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No nível físico, deve ser trabalhada através do centro um, com flexibilização da
7ª cervical, abrindo os finos canais superiores da cabeça para condução da energia, por
meio de som, cor e formas geométricas.
Não se sabe se algum desses generais morreu em combate, mas é evidente que,
se um exército contava com algum guerreiro deste nível, isso já era motivo suficiente
para fazer com que o inimigo sentisse que a derrota era questão de tempo.
Há outra história que narra como morriam os velhos chefes guerreiros astecas.
Quando alcançavam uma idade muito avançada, deviam, em batalha, passar o comando
para seu sucessor. Amarravam um braço a uma estaca encravada em uma rocha,
deixando o resto do corpo livre para se defender e, na outra mão, empunhavam sua arma
preferida. Em seguida, desafiavam a sós os guerreiros inimigos, os quais começavam a
atacar até acabar com o chefe.
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Toda tática deve incluir uma grande dose de furor interior e de destreza no uso
das técnicas. Em resumo, toda tática deve possuir vontade, sabedoria e inteligência.
Disso se deduz que na tática tanto a adaptação como a criatividade são fatores
importantíssimos. Sempre se deve encontrar o jogo das polaridades, o grande e o
pequeno, o forte e o débil, o duro e o brando, etc., e, considerando esta polaridade,
desenvolver a tática.
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a) A MENTE
E N
S O
1
1. MENTE
2. FOGO
5 3. AR
6 4. ÁGUA
5. TERRA
2
6. ESPIRAL VIOLETA
4
i. O ANEL DA MENTE
DOURADO
CÍRCULO
TENCHI
BRANCO
Esse anel representa também todas as escolas de artes marciais e nele se refletem
todos os demais anéis, através de uma relação dinâmica e filosófico -simbólica. Esse
anel de fogo representaria o homem que domina os animais, “o senhor dos animais”,
que reina sobre a águia, o leão e o touro; o anjo o acompanha e o favorece para que
possa conseguir definitivamente a reunificação com o primeiro anel.
Nesse anel de fogo, produz -se a associação de todos os demais anéis, por meio
de uma alternância dupla, gerando o duplo quadrado, cuja representação numérica é o 8,
que se aplica na esfera dos 4 elementos da oitava superior.
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DRAGÕES
DOURADOS
CÍRCULO CRUZ
SHI-HO VERMELHA
CÍRCULO
BRANCO
Esse anel trabalha sob o efeito da lei da bipolaridade contrária, ou harmonia por
oposição, e rege o anel onde todas as forças se confrontam: o terceiro anel.
iii. O ANEL DO AR
Os animais simbólicos do centro são: dragão, fênix, cisne, serpente, águia e leão.
Os animais simbólicos dos cantos são: pantera, tigre, gato, serpente, rato, javali,
cavalo, urso e macaco.
A vitória do guerreiro nesse anel lhe permite participar do quarto anel de forma
equilibrada e fluídica.
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É no anel que as forças fluem, como rios na direção do mar, sendo alguns
agitados, outros tranqüilos, outros profundos e outros superficiais.
A chave que permite o acesso a esse anel são os signos das mãos, também
denominados mudras. Esse anel de características vitais e energéticas determina canais
que se desenvolverão no quinto anel, o qual se transformará em condutor do quarto.
v. O ANEL DA TERRA
Esse anel é a base evolutiva e serve como anel alimentador dos outros quatro,
relacionando-os magnética e eletronicamente e mantendo -os inter-relacionados com o
anel um.
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b) O CORAÇÃO
c) SUPORTE FIXO
b) DIMENSÃO VERTICAL
a) DIMENSÃO HORIZONTAL
i. DIMENSÃO HORIZONTAL
prazo, bem planejado e organizado intelige ntemente, o esforço constante e boas reservas
de vitalidade que elevem o guerreiro para além desse conflito.
Para entrar em contato com a dimensão vertical, é necessário elevar -se por cima
da anterior. É uma zona franca, onde o guerreiro pode criar elementos e se preparar com
tranqüilidade, de forma inteligente e bem planejada, e cultivar em paz e de maneira
agradável os valores marciais. É a dimensão onde a disciplina marcial se torna
prazerosa; é a via do pouco esforço e de grandes resultados. É como um campo florido
que estimula as armas do guerreiro. O perigo subsiste à medida que nos d eixamos levar
pela inércia da dimensão horizontal e é a esse aspecto que o guerreiro deve atentar.
SUPORTE FIXO
Centro Branco
Esferas Concêntricas
das 7 cores do espectro
DIMENSÃO
VERTICAL
Cor
Amarelo Solar
DIMENSÃO
HORIZONTAL
Cor
Violeta
c) AS MÃOS
Dos três elementos: mente, coração e mãos, este último corresponde ao elemento
simbólico, que representa, no plano físico -concreto, os outros dois.
As mãos são também elementos mágicos que canalizam o poder interno através
de signos (mudras) com os quais se pode curar, dar vida, dominar, controlar, destruir,
matar, etc. As mãos são o último elemento que o artista marcial desenvolve e implicam
o mais alto grau de conhecimento e maestria, sintetizando simbolicamente os outros
elementos.
53
Quando se chega ao domínios das mãos, estas se abrem como flores e, através
dessa abertura, transmitem energias. A mão esquerda recebe e a direita entrega. Ao
mesmo tempo, descobrem-se os canais de vida e movimento que inter -relacionam todas
as coisas que entram em contato com a esfera de ação do guerreiro.
Dividirei este tema em três partes: a primeira tem relação com as linhas de força;
a segunda, com o espaço sagrado; e a terceira, com o tempo sagrado.
i. AS LINHAS DE FORÇA
Esse tipo de canal pode ser captado quando as mãos estão “abertas”,
estabelecendo-se uma ressonância entre as redes interna e ex terna de canais. Isso
54
explica o uso de mudras, ou posturas simbólicas das mãos, que encontramos em todas as
tradições marciais filosóficas.
Essas linhas de força fluem através de canais específicos, que irrigam a natureza
de todos os seres e elementos, provendo -os de energia, com o objetivo de criar “base”
para o desenvolvimento de processos de evolução.
Nas artes marciais, essas linhas de força são usadas para estruturar as bases do
processo técnico, possibilitando ao guerreiro estabelecer os caminhos que o con duzirão
ao cumprimento da sua missão. Essas linhas de força são captadas pela mão esquerda e
abastecem as estruturas defensivas e receptivas.
Essas linhas de força fluem através de canais também específic os, que
alimentam a natureza com elementos de ordem estratégica, dinâmica e articulada.
Possibilitam ao guerreiro a captação do ideal; movimentam -se através da mão direita e
fortalecem as decisões do guerreiro no combate.
55
Existe uma tradição nas escolas de arte s marciais filosóficas que se refere aos
“mestres do caminho” e a alguns guerreiros que abraçam um ideal que os faz
sobressaírem a todos os demais. Esses mestres do caminho são considerados heróis e
passam à História como seres de natureza mágica. Todos el es perambulam pelo mundo,
procurando algo com características mágicas. Estes mestres do caminho, como são
chamados no Oriente, geralmente portam uma espada e são conduzidos misteriosamente
por algum Deus que lhes exige reconhecer um lugar especial onde est abelecer ou fundar
uma cidade.
E N
S O
E N
S O
Os limites da cidade sagrada são definidos pela magnitude dos braços da cruz
cardeal; tal magnitude corresponderá ao diâmetro da circ unferência, ou círculo, que
envolverá a cidade.
E N
S O
S O N
Glória aos mestres do caminho, e que seus nomes permaneçam para sempre na
memória dos homens superiores. Só aos grandes é permitido sair da casa materna e
explorar os caminhos da vida com valor e perseverança, tornando -os HOMENS e, visto
que eles são os condutores, que sejam só eles os que governem: OS MESTRES DO
CAMINHO.
58
a) TERRA
b) ÁGUA
a) Sistemas de medicina
b) Sistemas de herbatologia
c) Sistemas de sobrevivência em água
d) Sistemas de camuflagem e métodos integrados
c) AR
d) FOGO
Este elemento define todo o contexto técnico -tático da arte marcial de uma
escola tradicional. Por meio dele, o guerreiro conhece os elementos que lhe permitirão
enfrentar as provas de fogo e, com isto, adquire o quarto grau, que o torna um vencedor
do elemento terra-água-ar-fogo.
e) ÉTER
Neste elemento, encontramos a síntese das escolas tradicionais. Quem chega até
ele, se transforma em líder completo de artes marciais e, ao mesmo tempo, em um
guardião da tradição.
Neste anel não encontramos vias, mas sim a integração de todas elas. A estrutu ra
do quinto anel é esotérica e de serviço completo ao Deus da Guerra Interior,
estabelecendo-se como uma vida sacerdotal, político -guerreira. Neste anel se
concentraria o poder total do mito em todas as suas acepções.
i. ELEMENTO TERRA
Este, como qualquer outro elemento, é simbólico, e guarda em seu seio segredos
da natureza que servem ao guerreiro como referencial concreto do caminho iniciático a
que se propôs seguir. A manipulação dos sistemas deste elemento preparam o g uerreiro
para as provas de terra, as quais, em algum momento de seu caminho, deverá enfrentar e
superar.
Aqui se estabelece a luta pela sobrevivência física e biológica. Deve -se aprender
a lutar corpo a corpo, por meio de golpes de mãos e pés, de articulações e centros
nervosos, de pontos vitais, projeções, quedas, etc.
O sistema de luta sem armas integra todo tipo de técnicas de combate e seu
caráter é totalmente livre. O uso das técnicas de luta permite gerar canais de expressão
do fluido ou Ki, promovendo no organismo um excelente estado físico e domínio das
partes que o compõem.
iii. ELEMENTO AR
Sistema de uso de animais: é muito útil para o guerreiro, porque lhe permite
contar com a ajuda de animais domésticos e selvagens, os quais, em caso de
crise, podem se tornar elementos decisivos. Entretanto, a importância deste
sistema não radica só aqui, mas também no uso e domínio das emoções, as
quais o guerreiro deve trabalhar para ter domínio sobre os animais, que são
símbolos de forças mágicas e psicológicas da natureza.
Dos quatro elementos, este é o mais poderoso, pois comanda os outros três.
Simultaneamente, é o mais técnico e preciso dos elementos e todo guerreiro que chega a
desenvolvê-lo é, geralmente, líder dos demais. Ao mesmo tempo, é o elemento mais
instável, pois possui estruturas mais dinâmicas e com tendências mais pronunciadas
para o caos. É um elemento de destruição que, quando bem estabilizado, produz efeitos
extraordinários.
v. ELEMENTO ÉTER
Isso é um grande erro, pois tanto a tradição quanto a doutrina das artes marciais
nada tem a ver com elas. A doutrina e a tradição das artes marciais existem há milênios,
como um caminho independente de qualquer religião, filosofia mística ou doutrina
normativo-política.
A doutrina dos guerreiros é, então, uma via com valores e princípios próprios,
completamente independente de qualque r outra, a ponto de os valores implícitos nela
não serem aceitos por muitas das religiões modernas. O guerreiro deve ser conduzido
em relação direta com a natureza de sua Alma, a qual inclui como elemento principal o
conceito de “guerra justa”.
O guerreiro deve defender a lei, os sábios e o ideal universal com toda a força da
virtude que lhe é própria: o VALOR.
68
5) A DOUTRINA DA GUERRA
Esta é uma doutrina iniciática, através da qual o homem chega a uma profunda
amizade com os deuses, alcançando, finalmente, a união com o mítico. Sua estrutura
fundamental é mitológica e a vivência direta em relação ao mito do guerreiro divino
transforma o homem em um ser divino: o HERÓI.
O herói é filho dos deuses e sua natureza, definida por Virgílio em Eneida, é a
seguinte: “Herói é o primeiro que escuta a voz da Divindade e o primeiro a acatar a Lei
que emana dela, fato que o transforma no protetor da Humanidade”.
Mito, do grego Mythos, significa tradição, palavra, relato, rumor público. Seu
sinônimo em latim, “fábula”, signi fica alguma coisa que foi dita em tempos pré -
históricos. Os mitos têm duplo significado: muitos deles falam da realidade e a maior
parte não é invenção, mas sim transformações, pois têm como ponto de partida fatos
reais.
“Os Mitos, afirma Pococke, está pro vado agora, são fábulas na mesma
proporção em que os compreendemos mal, e são verdades na proporção em que eram
compreendidos noutros tempos.
Os Mitos tiveram e têm ainda, para as massas, o valor de dogmas e realidades,
e constituem a base das religiões ex otéricas”.
(Síntese do Glossário Teosófico de Helena Petrovna Blavatsky).
Embora nas raças anti-diluvianas o mito não existisse como estrutura mistérica,
é posteriormente organizado e reagrupado pelas confrarias mistéricas, que vêem a
necessidade de estabelecer uma nova ponte entre os deuses e os homens: essa ponte é
mítica.
Diz-se que o Senhor do Mundo está rodeado de lobos que protegem a casa dos
deuses e, quando esses lobos vêm ao mundo, transformam -se em cães, para proteger a
casa dos homens.
Quero esclarecer que essas virtudes não são apenas militares, mas cívicas e
filiais, já que o guerreiro tradicional combate apenas aquilo que atenta contra os
princípios naturais e humanos.
O guerreiro deve ser essencialmente bom e combater o mal em sua raiz; essa é a
única justificativa para sua ação. Um guerreiro sem representação mítica não é um
verdadeiro guerreiro e, queira ou não, luta nas sombras e pelas sombras. O mundo
mítico do guerreiro deve se constituir em função da imitação dos grandes heróis, que
são modelos permanentes para tod as as gerações de guerreiros.
Mitos como o do Rei Artur e seus Cavaleiros, Teseu, Hércules, Perseu, Enéas e
Aquiles devem se tornar idealísticos e devem povoar os sonhos de todo discípulo de
artes marciais que queira chegar ao fundo de si mesmo, já que, se m este guia, o caminho
se torna impossível.
70
a) O SIMBOLISMO MÁGICO
O que hoje conhecemos como Chang deve ter sido o caminho da iniciação
guerreira e os que venciam todas as provas transformavam -se em Vajrapânis (os
portadores do Vajra). Esse conhecimento só esteve ao alcance dos monges de mais alto
grau; o restante dos monges de S haolin aprendia as bases exotéricas dessa arte. Na
atualidade, tudo isso se perdeu, deixando as artes marciais sem alma e criando uma nova
necessidade: restaurar esse caminho perdido.
Esse simbolismo mágico guarda relação com a guerra interior que se desenvolve
em todos os seres humanos, a gu erra da luz contra as sombras, da sabedoria contra a
ignorância, do real contra o falso, da imortalidade contra a morte.
71
i. O SIMBOLISMO DO CENTRO
Todos os Katas dos diferentes estilos de artes marciais, sejam eles coreanos,
japoneses, chineses, vietnamitas, hindus, etc., têm algo em comum: todos eles começam
em um ponto e acabam no mesmo ponto.
Nas antigas escolas de artes marciais esotéricas, ensinava -se aos guerreiros um
conhecimento mágico relacionado com símbolos de animais. Isso denota em todas essas
escolas um profundo conhecimento de psicologia e parapsicologia, já que cada animal
em questão representa forças da natureza exterior e interior do homem.
Ensinava-se, por meio desses animais simbólicos, a dominar as forças que eles
representavam. Podemos distinguir entre estas forças dois tipos de símbolos: superiores,
ou filosóficos, e inferiores, ou psicofísicos.
73
Aqui encontramos animais como o tigre, que represent a a força dos instintos; o
jaguar, que representa a força fisiológica; a pantera, que representa forças
parapsicológicas e instintos psicopômpicos; o macaco, que representa forças lúdicas; o
louva-a-deus, que representa forças astrais, etc.
É por meio destes símbolos que o guerreiro trava a guerra interior, fazendo com
que esses animais simbólicos lutem entre si até provocar a abertura da consciência, para
integrar-se conscientemente no mundo da unidade.
Para efetuar esse trabalho, que tem como objetivo a v itória do guerreiro branco
sobre o negro, ou seja, a união da consciência humana com a divina, o praticante de
artes marciais deve conhecer a relação entre os animais e os quatro elementos (terra,
água, ar e fogo). Deve conhecer também a correlação existen te entre o centro e os
quatro cantos e os animais filosóficos, em correlação com os animais psicossomáticos.
As armas são como o jogo de xadrez: cada peça tem o seu próprio poder e, ao
mesmo tempo, sua contraparte, que pode destrui -la. Um bom guerreiro sabe disso
quando escolhe a arma específica, co m a qual enfrentará a arma de seu oponente.
Quando a arma é bem escolhida, as probabilidades de vencer são imensas.
b) OS DOIS CAMINHOS
aqueles que lutam pela libertação da humanidade em conjunto. Dos dois caminhos, qual
é o melhor? Bodhidharma ensinou que ambos os caminhos conduzem ao mesmo fim; no
entanto, o maior é o da renúnci a, ou do coração.
Esse guerreiro seria o protótipo para todos os demais, o herói, que se define
como aquele que é o primeiro a escutar a voz do nada ou do silêncio e é o primeiro a
obedecê-la. Este magnífico feito o transforma, então, em um protetor da humanidade.
i. O IDEAL HERÓICO
c) A TRADIÇÃO E O REGULAMENTO
A tradição dos mistérios diz que esta doutrina foi passada pelo espírito do sol ao
grande senhor da verdade pura. Este, por sua vez, transmitiu -a ao grande senhor da
montanha branca, que a transmitiu ao grande mestre do amor, que, por sua vez, a
78
transmitiu ao grande mestre pensador. Este último passou -a ao primeiro Rei iniciado e
este a seus discípulos e assim, de boca em boca, foi descendo até a progênie humana.
Em nossos dias, tudo isso tem sido esquecido e, de acordo com a lógica
histórica, virá outro reformador para novamente colocar em marcha a roda do Dharma –
talvez até já tenha começado a fazê-lo, quem sabe?
Cada vez que isso acontece, um novo regulamento aparece para reger as artes
marciais filosóficas, que voltam a reabrir as portas dos mistérios da guerra interior.
Tradicionalmente, esse regulamento se compõe dos seguintes eleme ntos:
Compromisso com o poder: condição necessária para que todo guerreiro possa
suportar o poder que a águia lhe transmite, que seria proporcio nal ao poder
acumulado pelo próprio guerreiro.
Coração puro: todo guerreiro que atravessa o portal da guerra interior deve
fazê-lo por pureza de coração, por amor ao bem supremo e por vontade própria.
Culto aos heróis e respeito pela tradição: o culto aos heróis se desenv olve a
partir do momento em que estes são tomados como exemplos a serem imitados
por todos os guerreiros. O respeito pela tradição implica o culto aos
antepassados e o reconhecimento da ajuda que estes prestam ao guerreiro, que é
o continuador de sua obra.
Provas: são aquelas que todo guerreiro deve superar para crescer e tornar -se um
sábio.
Guerra justa: não pode faltar a guerra justa na vida do guerreiro, pois é
justamente nela que poderá vencer todos os obstáculos. A guerra justa tem um
código muito rígido, que deve ser respeitado, po is protege a virtude do guerreiro.
Esse código é composto pelos seguintes pontos:
A batalha deve ser considerada como um ofício sagrado e a atitude deve ser
sacerdotal-guerreira.
Procurar a paz, estabelecê -la, quando possível, e conservá -la o maior tempo
possível.
Poderíamos continuar enumerando pontos deste código, mas, para os fins deste
livro, esses são suficientes.
81
a) INTRODUÇÃO
Para definir o centro, temos que separar a natureza de seus atributos, já que na
natureza não encontramos centro, mas sim direções, movimentos, redes de
comunicação, linhas de força e, de acordo com as teorias atuais, um ent relaçado de
sistemas fragmentados.
Assim, é possível esboçar uma definição do centro, pois nela podemos integrar
tudo o que foi dito até agora; se reagruparmos cada uma dessas coisas, ou seja, natureza,
espírito, atributos e símbolos, chegaremos a um ponto onde todas as coisas se
encontram.
próprias. Deste modo, com esta definição teórica, podemos definir a forma prática do
centro.
Em uma roda, o centro é o cubo ou círculo onde o eixo gira, transmitindo seu
movimento ao resto do sistema; na árvore, o centro é a concavidade onde a seiva flui,
transmitindo a vida a todo o sistema; no sistema solar, o centro é o espaço de onde o sol
se move, transmitindo força a todo o sistema; no homem, é a concavidade onde a
consciência se move, relacionando todos os elementos que o constituem.
Esse caminho para o centro confronta o discípulo guerreiro com seus limites,
que são como portais onde as provas de passagem obrigam o lutador a fazer com que a
83
Vontade e a Lei vençam todos os aspectos tenebrosos e terríveis que existem em cada
batalha e em cada combate, promovendo o fortalecimento da decisão de viver e morrer
alternadamente.
Apenas quando uma decisão implica perdê -lo, o guerreiro descobre o valor da
vida e rompe o centro, adquirindo o verdadeiro poder da guerra.
c) O CAMINHO DO CENTRO
Essas duas cores guardam em seu simbolismo uma série de provas marciais, que,
para o guerreiro, se traduzem em uma dinâmica de desafios, em que o medo, a incerteza
e a dor são os únicos e verdadeiros inimigos.
como uma espécie de suporte de valores cavalheirescos (n obreza), que fazem com que o
guerreiro persiga objetivos claros com persistência. A lei deste caminho é lutar contra as
injustiças, proteger os mais débeis e amar as virtudes guerreiras com atos concretos de
defesa, contra qualquer intenção de abafá -las.
g) A DOUTRINA DO CENTRO
h) O CENTRO E A FORÇA
i. SILÊNCIO E SONS
O silêncio representa o centro e o som representa a força. É por esta razão que o
guerreiro deve habituar sua consciência ao silêncio; assim, por meio deste, pode
interpretar os sons e canalizá -los de acordo com as distintas direções.
ii. OS CICLOS
Outra forma de relação do centro com a força é a dos ciclos, já que tudo se
manifesta com fluxo e refluxo. Todo estímulo gera uma resposta e esta, por sua vez, é
estímulo de outra. Por isso o guerreiro não atua em vão; ele segue uma indicação
superior e espera o retorno de sua ação, ao que recebe uma nova indicação e assim por
diante.
k) A TÉCNICA DO CENTRO
Capítulo II
a) PROBABILIDADES TÉCNICAS
As probabilidades técnicas surgem na medida em que se desenvolve e se
aperfeiçoa a técnica propriamente dita. O praticante de artes marciais precisa de um
treinamento intensivo de muitos anos para criar o campo de probabilidades técnicas
favoráveis.
Ao definir o treinamento intensivo como “treinamento efetivo (Te)” e o campo
de probabilidade como “probabilidades técnicas (Pt)”, teremos: Te implica Pt (Te - Pt).
b) PROBABILIDADES TÁTICAS
Surgem na medida em que se desenvolve a compreensão dos objetivos a serem
alcançados. Esta compreensão aumenta na proporção direta do conhecimento tático
desenvolvido pelo praticante. A vitória ou a derrota no combate de artes marciais
depende, em grande parte, do aumento tanto das probabilidades técnicas como das
táticas.
Se designarmos o conhecimento tático com o símbolo “Ct” e as probabilidades
táticas com o de “Ptát”, teremos que:
Ct implica Ptát (Ct - Ptát).
Para calcular as probabilida des técnicas, necessitamos conhecer o treinamento
efetivo, tornando-se imprescindível definir o que é Te.
89
Nas artes marciais, o treinamento efetivo, embora dependa em grande parte das
condições gerais de um praticante, é definido como a aplicação sistemáti ca do
treinamento convencional e do treinamento extra. As horas de treinamento convencional
são os trabalhos que o praticante desenvolve junto aos seus companheiros, diante do
instrutor que os orienta; as horas de treinamento extra são os trabalhos que o p raticante
realiza de forma independente, aplicando os ensinamentos recebidos.
Se Te = 6 horas, Pt = 100%
Te = 3 horas, Pt = 50%, etc.
90
GRÁFICO N o 05
Te
Ca = Coeficiente Aceitável
6-
Ca = 6
5-
4-
3-
2-
1-
0- Pt
-
-
-
50% 100%
Então:
Ca = Te x 100
Pt
Sendo Ca Constante, ou seja, 6, teremos:
Te = 6 x Pt e Pt = Te x 100
100 6
Isso não é fácil de ser calculado, pois teríamos que avaliar estudos realizados,
sua assimilação e a experiência em combate. Esse cálculo não só nos levaria a conhecer
as probabilidades táticas em percentual, como também no s permitiria definir o
coeficiente aceitável.
Em relação ao estudo, podemos defini -lo através de exames teóricos sobre tática,
que envolvem conhecimentos de psicologia, sistemas de combate, táticas tradicionais,
táticas em geral e fatores que intervêm no c ombate. Esses exames seriam qualificados
em uma escala de 1 a 20.
A margem de segurança que deveria existir para que um praticante combata com
praticantes de outras escolas seria: para cada 100 combates em escola, 10 combates
interescolas e, para cada 50 combates interescolas, 5 combates internacionais.
a) Seriedade;
b) Luta livre;
c) Interestilos;
d) Risco necessário;
e) Interesse pelo desenlace (definição final da luta);
f) Intenção desconhecida;
g) Bom nível dos combatentes.
92
GRÁFICO N o 06
Qc
24 -
23 -
22 - ZONA 6
21 -
20 -
19 -
18 - ZONA 5
17 -
16 -
15 -
14 - ZONA 4
13 -
12 -
11 -
10 - ZONA 3
9-
8-
7-
6- ZONA 2
5-
4-
3-
2- ZONA 1
1-
0- Qt
-
5 10 15 20
Qc = QUANTIDADE DE COMBATES
Qt = QUALIFICAÇÃO TEÓRICA
GRÁFICO N o 07
Ca = Coeficiente Aceitável
6-
Ca = 6
5-
4-
3-
2-
1-
0- Pt
-
-
-
2. Te : Pt = Ca : Ptát
O treinamento efetivo está para as probabilidades técnicas assim como o
coeficiente aceitável está para as probabilidades tática s.
3. Te/h = T/2_ ,
Pt% Ptát/h
considerando o treino efetivo expresso em minutos (assim como o coeficiente
aceitável), tendo cada combate a duração de 2 minutos.
94
4. Logo, P.P.R. = Te + Ca
Pt + Ptát
De acordo com tudo o que foi exposto até aqui, o provável seria o potencial de
probabilidades relativas e o improvável estarem fora desse potencial. É importante
entender que, apesar de o potencial de probabilidades relativas ter sido obtido de acordo
com uma linha de formação suficientemente pragmática e exigente, não podemos deixar
de dar importância ao que há de “relativo”, ainda que o praticante d e artes marciais
tenha realizado, da melhor forma possível, tudo o que consideramos. A experiência nos
demonstra que sempre existem fatores imponderáveis que, em um dado momento,
podem alterar de forma considerável o campo de probabilidades favoráveis e o potencial
de probabilidades relativas, em alguns casos, a ponto de tornar as probabilidades um
fator desfavorável.
Isso pode ocorrer devido à existência de outros fatores que não analisamos até
agora, os quais, quando conjugados, causam profundas modificaç ões. Esses fatores são
o estratégico e o mágico. Pude comprovar, na prática, fatos como a derrota ostensiva de
campeões internacionais de combate livre por lutadores que nunca haviam saído do
âmbito de sua escola, mas possuíam profundo conhecimento de estr atégia e um poder
interno específico.
Esses e outros fatos similares nos levaram a buscar as causas desse tipo de
ocorrência, motivo pelo qual fomos nos aprofundando cada vez mais no âmbito da
senda filosófica das artes marciais e buscando seu sentido mais profundo: o Espírito, o
Wa.
Cabe esclarecer que metafísico significa “além do físico”, invisível aos sentidos
comuns, mas nem por isso impossível de ser estudado cientificamente. A natureza dessa
força metafísica é de caráter eletromagnético, um fluido propriamente dito. Esse fluido
se manifesta através de uma lei natural, a Lei da Polaridade, de caráter bipolar.
GRÁFICO N o 08
-- -
+
+ CAMPO DE
+
PÓLOS
CONTRÁRIOS -- +
ENERGIA
- +
+
Nas artes marciais, tudo isso se traduz da seguinte forma: um lutador, tendo mais
força e técnica que outro, pode ser afetado por este num nível eletromag nético; isso
anula a força e técnica do primeiro, que se transformam em um campo eletromagnético
de menor amplitude e, dependendo da polaridade, pode afastá -lo ou atraí-lo, fechando e
abrindo seus circuitos e compondo e decompondo seus vetores.
Ou seja:
Logo: B = (BxA)
A VAn
O fluido propriamente dito é, por sua vez, dirigido por um poder vital, que seria
a fonte originária do próprio fluido. Essa fonte geradora seria para o fluido o que o sol é
para a luz. O sol e a luz estão para a lua e para a escuridão assim como a fonte vital e o
fluido estão para o corpo físico e sua técnica, integrando sua força.
97
c) TEORIA DO CONHECIMENTO
Teremos:
Quando integramos o segundo segmento B' B'' sobre o primeiro A' A'', o campo
de probabilidades muda completamente, mostrando o mistério das artes marciais de
forma concreta. Esse mis tério seria o espírito em si, que é o único e verdadeiro poder
das artes marciais. Chamaremos esse poder de “fator X”, porque é desconhecido e é a
última incógnita a ser descoberta e resolvida nas artes marciais.
d) O FATOR “X”
Para conhecer o “fator X”, dev emos superar progressivamente cada um dos
graus A', A'', B', B''.
A' é a opinião vulgar que os praticantes de artes marciais normalmente têm com
relação ao poder da arte marcial e onde este radica, acreditando que este poder se deve
ao desenvolvimento da força muscular, da brutalidade e das técnicas populares.
B'' é a sabedoria que permite contemplar o “fator X” como o poder em si, livre
de qualquer atributo, causa de todos os aspectos, fatores e caminhos das artes marciais,
que se manifesta na fonte do fluido, unificando fluido e técnica para torná -los um
princípio único e indissolúvel, que constitui o poder mágico propriamente dito. Aqui
habita o segredo máximo das artes marciais e sua real eficácia.
A trilha das artes marciais se constitui, e ntão, pela prática efetiva das técnicas
tradicionais, pelo desenvolvimento tático e sua aplicação, pelo conhecimento da
doutrina essencial das artes marciais, pela estratégia e pela comunicação com o espírito
mágico por meio do fluido e da fonte do fluido.
e) CONCLUSÃO PARCIAL
Podemos concluir, a partir do que expomos até aqui, que um artista marcial de
formação filosófica se educa por meio de dois aspectos preponderantes: o aspecto
físico-técnico-tático e o aspecto estratégico-mágico.
Exemplo:
Para que exista harmonia, o praticante deve estabelecer uma proporção entre os
dois elementos: FTT (Físico -Técnico-Tático) e EM (Estratégico -Mágico). Esta é a
proporção áurica, ou proporção harmônica:
SEÇÃO ÁURICA
A B
F.T.T. E.M.
Logo:
C = 100% (Fator X)
B = 61% (Aspecto X)
A = 39% (Aspecto F.T.T.)
a) AS ESCOLAS EXTERNAS
Se considerarmos a Lei de Newton de que “a toda força se opõe uma força igual
em sentido contrário”, quando um móvel se chocar contra um objeto fixo, com uma
força de 900 kg, o objeto fixo devolverá uma força igual.
iii. EQUILÍBRIO
Nas artes marciais, os golp es se tornam cada vez mais efetivos à medida que o
corpo físico ganha equilíbrio. A posição é estável e flexível tanto para os movimentos
defensivos como para os ofensivos. O equilíbrio se divide em dinâmico e estático, que
estão intimamente relacionados. A força máxima só se produz quando a estabilidade
estática é submetida à ação da estabilidade dinâmica.
v. VELOCIDADE
À medida que aumenta a velocidade com a qual as técnicas são aplicadas, todos
os outros fatores se potencializam consideravelmente, permitindo uma maior eficiência
global. Exemplo: se passarmo s uma mão através da chama de uma vela, esta continuará
acesa; mas se o fizermos em uma grande velocidade, ela se apagará.
b) AS ESCOLAS INTERNAS
i. POLARIDADE
GRÁFICO N o 10
105
Uma vez que a polaridade tenha sido estabelecida através dos sistemas mental,
psicológico, energético e físico do praticante, ela se manifesta por meio de um campo
magnético específico. Esse campo magnético já foi estudado e reconhecid o pela ciência
moderna como efeito Kirlian e tem propriedades como magnetismo, calor, luz e
eletricidade.
sincronizada. Uma guarda fechada seria aquela na qual o campo magnético não deixa
outras energias entrarem; já uma guarda aberta atrai algum tipo de energia, podendo -se
estabelecer algum tipo de alternância desses dois fatores.
iii. FLUIDO
Toda técnica eficaz e bem aplicada é regulada através do fluido, que reúne seus
quatro efeitos, antes citados, como unidade indissolúvel. Todo praticante com
consciência do fluido pode aperfeiçoar a técnica de maneira mais eficaz, perfeita e
rápida que qualquer outro que não possua tal consciência.
Exemplo: não são os sulcos e canais de água que formam os rios quanto à
direção e ao “caudal”, mas sim a própria água que, através do tempo, vai criando o leito
do rio em função do declive, dos obstáculos e da quantidade de água.
Assim também o fluido determina a técnica, até chegar a estruturá -la de forma
definitiva. O fluido também fortalece os músculos, tonifica os ossos, purifica e alimenta
os órgãos e produz o sangue com todos os seus componentes bioquímicos – fatores que
potencializam a técnica de forma considerável.
Por outro lado, essa fonte é também uma espécie de célula s ensível foto-
magnética. Sua altíssima sensibilidade a transforma em uma espécie de película que
registra até as menores partículas de luz; é por esse motivo que o praticante deve
dominá-la totalmente. Uma vez alcançado o domínio da fonte, podemos registrar nela
ordens e comandos específicos, que compõem planos de batalha completos. Aqui a
fonte funciona como sistema de comando, coordenação, central de dados, etc.
v. PERCEPÇÃO INTERNA
Este elemento surge em função dos sentidos extrasensoriais – a raiz dos sentidos
físicos (visão, audição, tato, etc.) –, que são mais fiéis na interpretação dos fatos, por
serem sentidos sintetizadores.
108
A partir da aplicação desta lei, estabelece -se a harmonia na fonte do fluido, com
o qual se conseguem todas as propriedades físicas para que a técni ca se torne efetiva.
Exemplo: um lutador A, que conhece muito bem a técnica do Judô, aplica uma projeção
com quadril no lutador B. Se B aplicar o princípio da proporção áurica, não poderá ser
lançado por A sob nenhuma circunstância. Esta prova é realizada de maneira concreta.
Outro exemplo é quando um praticante rompe uma tábua de uma polegada sem
impulso, apenas apoiando os dedos estirados na tábua para logo fechar o punho, que
penetra na tábua, rompendo -a. Esse é outro teste feito empiricamente.
109
vii. ESTRATÉGIA
Finalmente, quero dizer que todo guerreiro tem um caminho próprio, traçado por
seu próprio destino. Neste caminho, cada guerreiro é o melhor; na medida em que se
mantenha no caminho próprio, é invencível e nada poderá dominá -lo. Este é o
verdadeiro conceito de Do ou Dharma.
Tudo isso nos ensina a nunca sair do nosso próprio caminho. Encontrar o
caminho e não perdê-lo é o segredo máximo das artes marciais.
PARTE II
111
Capítulo I
1) O NEI KUNG
Este trabalho tem como fina lidade levar aos leitores os princípios da essência e
tradição das artes marciais orientais. Infelizmente, esta tradição, nos dias de hoje, foi
esquecida, deixada de lado e substituída por expressões mais vulgares e agnósticas, que
têm transformado as arte s marciais modernas na negação do caminho superior que os
antigos mestres traçaram para elas.
Este é um trabalho que vem sendo preparado desde 1977 e que, reconheço, só se
estruturou em suas bases mais simples, mas ao mesmo tempo fundamentais.
Esta arte marcial foi conhec ida na China Antiga como Nei Kung e, em termos
gerais, significa sabedoria interior, ou poder interior, também sendo definida como a
ação de potencial inteligente .
Outro nome que recebeu foi Escola do Dragão Dourado, ou Segredo do Dragão
Dourado, nome fantasia dado ao antiguíssimo tratado do I Ching. Posteriormente,
encontramos essa arte na Escola do Grou Branco (Tai -Chi), de origem taoísta, e do Pa -
kua, de origem confucionista.
No século VIII, ano 755 d.C., aparece um sábio chamado Lu Yen (hóspede da
caverna), que desenvolve certos preceitos conhecidos como Gin Dan Glau (o elixir de
ouro). Lu Yen, ao que parece, haveria herdado tradições esotéricas do sábio Yin Hi,
(Guan Yin Hi, o mestre do desfiladeiro), que, segundo a lenda, teria sido o mestre que
herdou o Tao-Te-King por parte de Lao-Tsé.
A partir destes preceitos do Gin Dan Glau, no século XVII é encontrado o Tai I
Ching Hua Dsung Dshi (o segredo da flor de ouro).
112
Junto a esse livro, aparece outro, chamado Hui Ming Ching, ou Livro da
Consciência e da Vida, também conhecido como O Caminho Circular da Luz .
Estes foram os últimos livros que encontrei ao longo desta investigação e penso
que, ao se unirem, manifestam a doutrina central da já definida Escola do Dragão
Dourado. Creio que, no futuro, encontrarei novos preceitos desta tradição que,
resgatados do passado, podem vir a confirmar esta teoria.
Deve ficar claro, então, que esta arte marcial, o Nei Kung, é uma arte renovada,
que renasceu do esforço de anos de trabalho. Tomei a liberdade e, até poderia di zer, o
direito de reorganizá-la e apresentá-la sobre novas bases, esquemas, práticas e técnicas,
de acordo com meu próprio critério.
__ __
_____
aumento. Esse hexagrama constitui a condição fundamental para
canalizar o poder interno que subjaz em todo ser humano.
A prática deste hexagrama nos leva ao encontro de nove práticas que configuram
o que se denomina, no I Ching, formação do caráter, a saber:
Como este trabalho está limitado em sua extensão, explicarei apenas a prática I,
aumento, com suas oito técnicas ou hexag ramas do Pa-kua.
113
GRÁFICO N o 11
YANG
YIN
_____
_____
_____
_____
_____
_____
Uma vez aplicado este princípio, vem a idéia dos três mundos:
GRÁFICO N o 12
MUNDO
ESPIRITUAL
MUNDO
PSICOLÓGICO
MUNDO
FÍSICO
GRÁFICO N o 13
CENTROS
1
MUNDO 1
ESPIRITUAL
2
MUNDO 2
PSICOLÓGICO
3
MUNDO
FÍSICO 3
Esta técnica consiste em manter as energias terrestres na planta dos pés. Aqui
surge a imagem simbólica do cisne deslizando sobre as águas; deve -se manter a
respiração baixa (ventre) – simbolizada pela Fênix girando da esquerda para direita; a
guarda (atenção) se mantém no alto do coração. Este processo é simbolizado por um
dragão dourado.
Este segundo princípio cria uma segunda técnica, que ordenará o corpo físico e
mental da seguinte forma:
“O Tao é grande
o céu é grande
a terra é grande
é por isso que o homem é Uno
dos quatro grandes do mundo.
O homem imita a terra
a terra imita o céu
116
GRÁFICO N o 14
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___
CH’IEN
__ ___ ____SUN
__ __
TU
_
I
___
_ _
___
_
___
____
__
K’AN
LI
_
_
_
__ ___ __
_ __ __
CH
ÊN _ KÊN
K’UN
_____
_____
H om em
T e rra
“No aderente, o masculino procura o feminino pela segunda vez, e recebe uma
filha; por isso se chama a filha do meio”.
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__ __
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_____
__ __
_____
A filha do meio é o hexagrama Li, fogo, que se exp ressa através de 4 linhas
luminosas e 2 escuras.
118
“Na alegria, ele procura o feminino pela terceira vez, e recebe uma filha; esta
filha se chama a filha mais jovem”.
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_____
_____
__ __
_____
_____
A filha mais jovem é o hexagrama Tui, o lago, a alegria, que se expressa por
meio de 4 linhas luminosas e 2 escuras.
“Na quietude ela procura o masculino pel a terceira vez e recebe um filho; por
isso, este se chama o filho mais jovem, que se manifesta por meio de 4 linhas escuras e
2 luminosas”.
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__ __
_____
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__
Este é o oitavo princípio, que mostra uma série de técnicas conhecidas como
“águia na montanha”. Consiste na porta que fecha e abre um novo ciclo que comunica o
anterior com o ressurgimento da primavera. Esta idéia está simbolizada no trigrama
composto por uma linha luminosa acima e duas escuras abaixo (porta). Desenvolve
faculdades como a serenidade e a imperturbabilidade, acabando com as sombras do
inverno e vencendo a inércia.
GRÁFICO N o 15
LI (VERÃO)
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___
______
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_
TUI (OUTONO)
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___
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_ _
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K’AN (INVERNO)
120
i. Ch'ien: o Criativo
ii. K'un: o Receptivo
iii. Chên: Incitar
iv. Sun: Suavidade, penetração
v. Li: Aderir
vi. Tui: Alegria
vii. K'an: o Abismal
viii. Kên: a Serenidade
i. O CRIATIVO (CH’IEN)
Este hexagrama propõe uma mentalidade de características mágicas, nas quais
predomina uma grande confiança, segurança e certeza. Neste estado de consciência não
121
existe o menor traço de dúvida nem temporalidade. A vontade de ação se torna diretora
dos processos, nos quais não só dirige, mas domina todos os fatores próprios e alheios
ao estado de consciência.
v. O ADERENTE (LI)
função do estímulo: se está Yang, reage Yin, e vice -versa. O estado de consciência
proposto por LI é determinado por uma grande liberdade interior, enquadrada em um
espírito de alegria sadia, com sujeição em um eixo fixo e permanente. Sua virtude é a
valentia e a entrega ao espírito da guerra.
Finalmente, pode-se dizer que este hexagrama atua sobre o centro 3 da ação de
potencial inteligente, estimulando os éteres do corpo físico e gerando neste grande
mutabilidade, agilidade e sincronização. Corresponde à “sexta mutação” da prática I -
aumento.
então, como primeiro dever, compreender o elemento oculto atrás de cada técnica, além
prática da ação de potencial inteligente.
Este primeiro ciclo, de caráter simbólico, regerá o estilo até o momento em que a
mente do discípulo se consagre ao culto sagrado dos símbolos, ou seja, que se
transforme em um processo filosófico, de caráter misterioso básico, e possa, assim,
interpretar todas as coisas nesta dimensão, “a dimensão do simbólico”, na qual todas as
coisas passam a ser símbolos . Posteriormente, o discípulo terá outro objetivo, que será
interpretar corretamente todos os símbolos que lhe compete, e depois guardar, com
novos símbolos aprovados por seus instrutores, o conhecimento adquirido. O terceiro
objetivo será o de se tornar e ficaz na interpretação e na transmissão do conhecimento
através dos símbolos. Finalmente, o discípulo da ação de potencial inteligente terá que
se transformar em um símbolo do mundo sagrado e divino. Nesta etapa, familiarizar -se-
á com o mistério da luz ou do dragão dourado, tornando -se um recipiente digno deste.
É por devoção e respeito a estes grandes que rendo esta humilde homenagem,
por meio desta investigação, com a intenção de que sirva às atuais e futuras gerações de
discípulos do Instituto Internacional de Artes Marciais Filosóficas Bodhidharma. Este
Instituto pertence a todos os que cultivam estas artes e tem como propósito fundamental
que o Dragão Dourado (I Ching) não seja no futuro apenas um livro, mas também os
oráculos do “dragão vivo” sobre a terra. Em definitivo, o I Ching representa os homens
iluminados; é uma ponte ent re o Nirvana e a humanidade, algo muito mais profundo do
que um livro.
126
Capítulo II
a) INTRODUÇÃO
Este capítulo tem como objetivo ampliar o conhecimento sobre a arte marcial do
Nei Kung e falar sobre a formação do caráter do discípulo de artes marciais. Como já
foi dito no tema anterior, esse conhecimento foi extraído do I Ching, antigo tratado
chinês que possui muitas aplicações, uma delas relativa às artes marciais.
Essas técnicas têm valor sempre e devem ser consideradas como um todo e
praticadas com uma mentalidade filosófica, simbólica, ou seja, devem ser vistas como
um meio e não como um fim; seu sentido de utilidade é, principalmente, de caráter
cognoscitivo. O potencial técnico marcial surge como conseqüência, devido à
compreensão destes princípios.
Ao contrário, aqueles que vêem a arte marcial apenas como um poder técnico de
ataque e de defesa física e psíquica, salvo raras exceções, nunca chegam ao nível de
guerreiro filósofo.
Isso não quer dizer que a arte marcial deve ser convertida em um recanto de paz
e intelectualismo, onde as técnicas se transformam em coisas “sutis” e “abstratas”, como
127
pensam muitos que caíram neste erro. Esse ponto de vista não é próprio do auto -
conhecimento e, ao contrário, indica auto -engano e mentira.
b) A DUALIDADE
Esta harmonia por oposição se desenvolve a partir de uma base, que é o conceito
da formação do caráter. Para alcançá -lo, é necessário controlar a ansiedade, o temor, o
medo e o desejo e converter as sub -estruturas do indivíduo em um movimento contínuo
que possa fluir ininterruptamente até se converter no Tai -Chi.
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1. LU, traduzido como conduta e caminhar, é formado por dois _____
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trigramas: CH'IEN acima, significando O Criativo, e TUI, a alegria, _____
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abaixo.
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2. CH'IEN, traduzido como modéstia, é formado por K'UN, O Receptivo,
acima, e KÊN, A Quietude, abaixo.
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3. FU, traduzido como retorno ou ponto de transição, formado por K'UN,
O Receptivo, acima, e CHÊN, Incitar, abaixo.
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4. HÊNG, A Duração, formado por CHÊN, Incitar, acima, e SUN, A
Suavidade, abaixo.
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5. SUN, A Diminuição, formado por KÊN, A Quietude, acima, e TUI, A
Alegria, abaixo.
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6. I, O Aumento, formado por SUN, A Suavidade, Vento, acima, e
CHÊN, Incitar, Trovão, abaixo.
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7. K'UN, A Opressão e Cansaço, formado por TUI, A Alegria, acima, e
K'AN, O Abismo, abaixo.
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8. CHING, O Poço, formado por K'AN, O Abismo, acima, e SUN, A
Suavidade, abaixo.
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9. SUN, A Suavidade, Penetração, formado por SUN, A Suavidade,
acima, e SUN, A Suavidade, abaixo.
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129
O primeiro grande erro é considerar o poder das artes marciais como u m fator
técnico, sem discriminar entre guerreiros, homens comuns e burgueses. Pensa -se que,
pelo fato de se receber uma faixa preta, conquistada em sete ou oito anos de
desenvolvimento técnico, já se é um guerreiro, com poder de vida e morte. Erros como
este, quando projetados na sociedade como um todo, causam, por exemplo, fatos como
o dos norte-americanos, que perderam a guerra do Vietnã, e dos russos, que perderam a
guerra do Afeganistão.
Hoje pensa-se que uma inofensiva dona de casa pode se converter em uma
espécie de Rocky Marciano, só pelo fato de dominar a técnica da arte marcial. Isto é
falso. Muitos jovens crêem que simplesmente por conhecerem e usarem as técnicas de
artes marciais podem enfrentar outro homem de mentalidade verdadeiramente guerreira .
Isto também é falso.
mais paradoxal é que esse instrutor havia sido “boina verde” na guerra do Vietnã. Nesta
situação, um guerreiro se concentra, quieto, silencioso e sereno, para esperar sua morte
com dignidade.
Outro grande erro em escolas convencionais é pensar que, quanto mais músculos
e físico desenvolverem seus alunos, mais poderosos serão. Também pude perceber ,
através da experiência, que isto é absolutamente falso. Vi um infante da marinha, do
comando especializado da Infantaria da Marinha chilena, que havia desenvolvido um
corpo e musculatura como jamais vi em outros homens, cair como um saco de batatas,
sem respiração e profundamente chocado, devido a um golpe leve e simples que um
guerreiro aplicou em seu estômago.
Outro erro que se comete é pensar que, quanto mais agressivo for o praticante de
artes marciais, será também mais poderoso. Vi, certa vez, um ave ntureiro norte-
americano que media 1,98m e tinha um corpo impressionante: pesava 110 kg sem ser
obeso, era ágil como um antílope e tinha tamanha agressividade que um tigre ao seu
lado pareceria um gatinho. No entanto, quando enfrentou um guerreiro, sua pró pria
agressividade o destruiu em poucos minutos, caindo aos pés de seu oponente como uma
massa inerte.
Outro engano que se comete é imaginar que a arte marcial é uma série de
técnicas parapsicológicas e que os golpes provêm da aura, de sopros mágicos que
podem derrubar qualquer lutador, ou que é possível realizar proezas que nunca foram
experimentadas e que só existem na fantasia mental do praticante, o que não só é falso,
como também ridículo. Vi um faixa -preta deste tipo chorar como menino desesperado
diante da visão de uma forma mental traumática e, se não fosse socorrido a tempo, teria
enlouquecido.
Tudo isto me permite concluir duas coisas importantes: a primeira é que a arte
marcial só pode se expressar com verdadeiro espírito e sentido quando o discíp ulo
selecionado é um verdadeiro guerreiro com poder interior (Nei Kung) e a segunda é que
a guerra é um grande mistério diante do qual nosso caráter deve se constituir através de
uma humildade proporcional ao mistério que vamos encontrando, pois diante del e não
existem vencedores nem vencidos, existem apenas guerreiros com estratégia e homens
comuns.
132
Estes dois aspectos são os mais importantes dentro da arte marcial e deles emana
o poder que o guerreiro possui de dar vid a e de dar morte. Devemos conceber como
modelo o arquétipo do caráter do guerreiro, o mito do herói em todas as culturas e
civilizações.
Heróis como Enéas, Aquiles, Ulisses, Hércules, Teseu, Perseu, e outros, ilustram
páginas da História como verdadeiros e acabados modelos da formação do guerreiro e
do discípulo das artes marciais, mas, para que o discípulo possa chegar até eles,
necessita de um conhecimento profundo e este conhecimento se chama, nas artes
marciais clássicas, estratégia.
Outro exemplo de estratégia é o que Buda define, quando diz: “Maior do que
aquele que vence mil homens em combate é aquele guerreiro que venceu a si mesmo”.
Também entendamos que não somente deve vencer -se a si mesmo; para ser considerado
guerreiro, no verdadeiro sentid o da palavra, deve também saber e poder vencer mil
inimigos no campo de batalha.
Concordo quando se diz que a guerra é interna, mas sempre e quando não se
exclua a capacidade de fazê -la também externamente e com justiça. Não me parece
correto criar uma estratégia que atente contra a dignidade do guerreiro, porque isso
implicaria uma debilidade do caráter. A estratégia e a formação do caráter são dois
fatores que devem ser harmonizados em uma unidade de princípios ou de valores éticos,
juntamente com a eficiência no combate, tanto interior como exterior.
Não existe um guerreiro no homem que, por falsa estratégia, permite que o medo
o faça ceder diante da injustiça, do caos e da maldade, deixando de atuar quando o dever
impõe: isso é covardia. Tampouco existe um guerreiro naquele que, por caráter,
sacrifica o cumprimento inteligente e efetivo do plano que os mestres de sabedoria
determinaram para os guerreiros: isso é debilidade, confusão e estupidez.
133
Ninguém é guerreiro por si mesmo , mas sim pelo poder que o destino confere
aos guerreiros. Se é guerreiro, então, pela graça de Deus e pela fama merecida, que todo
guerreiro, em algum momento, obtém perante os deuses e os homens.
Finalmente, quero acrescentar que tudo o que foi mencionad o aqui é o ideal
guerreiro e, na Escola do Nei Kung, nos propomos a humildemente viver dia a dia o
desafio marcial.
g) DESENVOLVIMENTO DA IMAGINAÇÃO
A imagem criada na mente seria uma imagem formal que responderia a outra
imagem de caráter paraformal. Esta segunda seria um poder em relação à primeira e,
quando bem canalizada, torna -se independente de sua criação mental, estab elecendo
padrões técnicos de ações diferentes das que estamos acostumados a realizar.
135
Qual seria, então, o propósito destas práticas? Simplesmente tornar mais eficaz o
meio de ação para cumprir o fim ideológico do discipulado, que obviamente é
inexorável, e assim tornar-se cada dia mais sábio.
Para terminar este trabalho, desejo incluir outra fonte de estudo que foi
importante na criação do Nei Kung. Como j á disse, existem textos chineses
importantíssimos como fontes de inspiração, como o I Ching, O Segredo da Flor de
Ouro, Os Livros King, de Confúcio, o Tao Te King, de Lao Tsé, O Livro da Consciência
e a Vida ou O Caminho Circular da Luz, de Lu Yen.
necessárias para o nascimento do novo guerreiro, e não somente novo, mas também
melhor.
137
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acima CHÊN, Fênix
_____
_____ abaixo TUI, Lótus sobre as Águas
Diante de tal fato, não adianta assumir posições dramáticas nem rígidas. Por isso
a concepção de Kuei-Mei é compreender que nosso poder é nosso próprio destino e que,
além disso, não há mais nada que possamos fazer. Contudo, se pensarmos com calma,
perceberemos que nosso destino é um poder universal: o que devemos fazer será feito e
o que não devemos fazer não será feito. Também implica que o que é jamai s deixará de
ser, e o que não é nunca foi nem será.
As práticas:
__
__ __
__
_____
_____
acima CHÊN, Trovão
__ __
_____ abaixo LI, Fogo
Para que esta energia se torne plena, flua harmonicamente e cre sça de forma
homogênea, é necessário sincronizar três aspectos específicos:
i. Ritmo respiratório
ii. Ritmo cardíaco
iii. Ritmo do fluido nervoso
O ritmo respiratório propõe uma identificação mais além do corpo físico, por
meio do ciclo de inspiração e expiração. A co ncentração da mente neste fluxo
respiratório lhe permite identificar -se com um movimento interno mais amplo e mais
poderoso do que o movimento físico.
cardíaco se manifesta através das pulsações do coração, o que gera uma nova referência
de concentração da mente.
O hexagrama FÊNG, que nos transmite a idéia do Chi Kung, compõe -se de dois
trigramas: LI (fogo), abaixo, e CHÊN (trovão), aci ma, o que sugere a idéia de calor que
emerge do mais profundo do organismo e de explosão ou irradiação elétrica que se
manifesta externamente à altura do peito e é transmitida através da palma das mãos.
Esta seria a melhor imagem que poderíamos conceber em relação ao sistema do Chi
Kung.
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CHUN
_____ _____
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I
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__ __
__ __
__ __
__
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_____ __ __
_____
Estas práticas, além de possuírem um caráter simbólico, têm caráter
comemorativo, já que pretendemos representar, através delas, os 10 anos de vida da arte
marcial Nei Kung.
Foram necessários dez anos para estabelecer as bases filosóficas e técnicas desta
nova arte marcial, e estes dez anos também permitiram que o Nei Kung pudesse ser
reconhecido hoje como uma síntese criativa.
Quero, então, deixar estab elecido como tradição estes dois fatos, através dessas
dez técnicas, as quais se enquadram em dois hexagramas do I Ching: o hexagrama
CHUN, que significa “dificuldade inicial”, e o hexagrama I, “as bordas da boca e prover
alimento”.
Cabe destacar que algumas destas técnicas, a 9 e a 10, i ntegram pela primeira
vez no Nei Kung o uso de armas (a espada samurai ou kataná) como preparação básica
para desenvolver a técnica da Escola Japonesa das Duas Espadas, do mestre Miyamoto
Musashi, a qual escolhi por seu conteúdo simbólico filosófico e por incluir, como
conceito de formação para o guerreiro, a estratégia militar antiga.
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acima SUN, A Suavidade, Vento
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_____ abaixo LI, O Aderir, Fogo
4 3
5 8
2
144
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acima SUN, Suavidade
_____
_____ abaixo TUI, Alegria
É composto por dois trigramas: acima, SUN, sua vidade; abaixo, TUI, alegria.
Neste caso específico, o trigrama SUN simboliza o olho da alma, que observa todas as
coisas com suavidade mas ao mesmo tempo com muita penetração.
A visão da alma (Nei Kung) é quieta, serena e impassível; é uma visão que está
dentro das coisas, motivo pelo qual consegue saber tudo o que sucede em um dado
momento e pode prever os acontecimentos como um todo.
O trigrama TUI denota uma personalidade dominada pela alegria interior e este
estado exerce controle sobre o desejo, a ans iedade, o medo, a paixão, etc.,
transformando a personalidade em um ser adaptável, flexível, oportuno, preciso e
altamente eficaz.
Tudo o que foi desenvolvido no hexagrama Kuei -Mei se inclui em Chun Fu,
“verdade interior”, ambos os hexagramas integrando -se em um todo harmônico.
Energético
Físico ativo
O momento do combate Nei Kung encerra todos os mistérios desta arte marcial
e os manifesta através de seqü ências espontâneas. Neste estado, o estudo de
probabilidades, que geralmente são consideradas possíveis no campo da lógica
convencional, é completamente superado.
GRÁFICO N o 16
SÍMBOLO DA
ETERNIDADE DINÂMICA
146
a) INTRODUÇÃO
Do - via, caminho.
Ryu - escola.
1. SHOJIN
Treinamento da força da vontade, da força consciente, tendo como meta e
objetivo o Wasa, ou depuração da técnica.
2. SHIHO
Fase do conhecimento transmitido de mestre a discípulo.
3. MONDO
Transmissão oral do conhecimento, de coração a coração.
4. ZANSHIN
Total transparência.
5. FUDOSHI
Imobilidade que se move.
Este sistema pertence à arte marcial Nei Kung e é seu coração marcial.
148
Este hexagrama é representado no Mushin -Do como a técnica dos treze pas sos,
pois, sendo um sistema de canalização, concentração e visualização, sintetiza todas as
técnicas de Nei Kung e Mushin -Do. É uma técnica que exige do praticante uma
disciplina diária com mentalidade de consagração dos dias e das noites. Inclui os
mudras dos cincos elementos simbólicos, mudras de canalização, mudras de fechamento
e em geral todos os mudras marciais.
Este hexagrama representa no Mushin -Do “a marcha dos tengus”. É uma técnica
cerimonial na qual se combinam marcha, sons guturais e máscaras tengu. Consiste em
gerar uma máscara de impostação guerreira que assume o símbolo da personalidade do
guerreiro e, ao mesmo tempo, interiormente, a posição de centro com desenvolvimento
da inteligência.
Este hexagrama é representado pela técnica dos quatro dragões, que consiste em
um ataque simultâneo de quatro oponentes com tomadas ou chaves que podem ser de
Yu-do, Aiki-do, Jui-Jutsu, etc., a um quinto homem, que está na posição do centro com
os olhos vendados. Este homem central deve se soltar e se projetar sobre os outros
quatro sem força muscular, aplicando um movimento gradual, contínuo e suave até
desarticular completamente os quatro atacantes.
É representado pela técnica de combate dos quatro dragões, uma luta que se
efetua entre um guerreiro e quatro oponentes. O guerreiro do centro está com os olhos
vendados e deve se defender e contra -atacar seus quatro inimigos, que atacam somente
com pontapés.
151
Táticas de distância.
d) CONCLUSÃO PARCIAL
Cabe destacar que o Mushin -Do faz parte do Nei Kung e se constitui como um
sistema de combate da arte marcial desenvolvido em nosso Instituto, reagrupando
técnicas de caráter mais interno, com uma série de hexagramas específicos que l he são
próprios. Com isto, o trabalho a que me propus avançou um pouco mais, já que até
agora conseguimos definir aproximadamente 44 hexagramas do I Ching, de um total de
64 que compõem o livro.
Código do Mushin-Do:
1. Manter sempre viva a força interior;
2. Não depender de nada nem de ninguém;
3. Buscar sempre a aventura e o risco;
4. Não atuar nem deixar de atuar por medo;
5. Ser implacável com as próprias emoções e pensamentos;
6. Não perder jamais a alegria de viver;
7. Manter o espírito sempre leve e livre;
8. Cultivar e amar a solidão;
9. Praticar a contínua tomada de decisões;
10. Ser intenso no amor e na guerra;
11. Viver como um guerreiro e buscar o espírito mágico;
12. Ser poeta e músico;
13. Saber viver com dignidade e saber morrer em paz, com serenidade.
153
4) HEXAGRAMAS ESPECIALIZADOS
__ __
_____
__ __
_____
acima K’AN, O Abismal, Água
_____
_____ abaixo CH’IEN, O Criativo, Céu
Este hexagrama trabalha com todas as técnicas rela cionadas a espadas, como I
Ai Do, Ken Do, Ken Jutsu, etc. Trabalha com o desconhecido, com os aspectos mágicos
e com o saber esperar. Também está relacionado com a idéia de cortar as formas astrais.
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__ __
__
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_____
acima CHÊN, O Incitar, Trovão
_____
_____ abaixo CH’IEN, O Criativo, Céu
_____
__ __
__
__ __
__
acima KEN, A Quietude, Montanha
__
__ __
__ abaixo KUN, O Receptivo, Terra
São técnicas de desestruturação que têm como objetivo minar o inimigo com
golpes precisos. Ainda que possa ser aplicada de forma tática em hexagramas do
Mushin-Do, a proposta do hexagrama PO é desenvolver com mais amplitude a idéia de
desestruturação.
_____
_____
_____
_____
acima CH’IEN, O Criativo, Céu
__
__ __
__ abaixo KEN, A Quietude, Montanha
Trabalha-se neste hexagrama a retirada, não como fuga, mas como saída
estratégica, mantendo o centro e preparando -se sempre para o contra-ataque. Ainda que
possa ser aplicada de forma tática em hexagramas do Mushin -Do, a proposta do
hexagrama TUN é desenvolver com maior amplitude, especificamente, todos os
sistemas de contra ataque.
Nesse hexagrama, trabalha -se com técnicas de contra ataque usando punhos,
cotovelos, joelhos, chutes, chutes com saltos, o peso do corpo, reversão de projeções,
sistema de camuflagem tático intencional e sistema de respiração para camuflar a
densidade corporal
155
5) HEXAGRAMAS INTERMEDIÁRIOS
_____
_____
__
__ __
__
acima SUN, A Suavidade, Vento
_____
__ __ abaixo K’AN, O Abismal, Água
1. INTRODUÇÃO
Este trabalho, então, se direciona às pessoas que que iram praticar o Nei Kung
utilizando seus ensinamentos como meio para alcançar um maior equilíbrio dos corpos
físico, emocional e mental, desenvolvendo uma relação mais consciente com esse
veículo de expressão do ser humano, que é o corpo.
Como este material ainda está em fase de desenvolvimento, faz -se necessário o
esforço do leitor para poder conectar as diferentes fases do trabalho. Por isso é
interessante uma breve explicação: a parte inicial do trabalho trata justamente da
abordagem terapêutica que as técnicas existentes possuem, principiando em seus
fundamentos – o homem e seus elementos constituintes – e passando, depois, pelas
técnicas já consagradas, sob um enfoque terapêutico, até uma proposta para o
desenvolvimento das aulas para os instrutores.
Depois vem uma abordagem mais detalhada sobre o conteúdo terapê utico nas
formas do Nei Kung. O capítulo seguinte aborda os princípios da formação do caráter
como via terapêutica para o equilíbrio do homem. Finalmente, há uma conclusão, que é
a primeira conclusão para esta abordagem. Após a conclusão – como tudo no I Ching
está em eterna mutação e possui o padrão infinito – retoma-se o trabalho com o
hexagrama específico já identificado.
Os diagramas abaixo são bastante ilustrativos e nos dão uma imagem melhor da
condição global deste conceito do ser humano e de seus veículos de manifestação.
Terra Etérico-Físico
Água Vital
Ar Emocional
Fogo Mental
Éter Eu Filosófico
159
(Étero-Físico)
Fogo Água
(Mental) (Vital)
Ar
(Emocional)
Éter – eu-filosófico
Fogo – mente
Ar – emoções
Água – vitalidade
3. TEORIA DA SOMATIZAÇÃO
Nosso corpo é um livro aberto e registra durante nossa vida e suas diferentes
etapas uma conformação que resultará no que somos hoje. Quero dizer com isso que
nossos sistemas de articulações, tendões, músculos e arquitetura óssea, assim como os
órgãos internos, são o mosaico que representa no conjunto o que somos, guardando
todas as experiências vividas por nós. O corpo guarda as experiências pessoais, tanto as
bem resolvidas quanto as mal resolvidas, que, aliadas às determinações genéticas e
kármicas individuais, constituem nosso soma. Esta caracterização pessoal manifestada
no corpo físico pode ser diagnosticada pela visão da “arquitetura do corpo” e
principalmente pela visão do movimento onde articulações, tendões, músculos e ossos
interagem e manifestam seu “padrão de comportamento” com grande precisão. Os
órgãos internos são mais difíceis de serem diagnosticados visualmente e podem ser lidos
pelo tato, com o auxílio do diagnóstico do movimento do corpo.
excessos, pois a expressão física nos ajuda em alguns aspectos mas não é tão
determinante quanto aos vários elementos do caráter. Devemos ter cuidado, pois
estamos falando de “expressão” física, e não “forma” física. Se assim fosse, um bom
alterofilista, ou um decatleta, ou uma bela modelo poderiam ser comparados a um
mestre de sabedoria. A realidade mostra que o que acontece, normalmente, é o
contrário.
Também há o caso de pessoas que têm boa estrutura física e boa vitalidade, mas
apresentam alto grau de ansiedade, rigidez e outros problemas causados por
desequilíbrios emocionais e mentais. Carência afetiva, apego excessivo, traumas de
baixa auto-estima, pensamentos circulares nocivos, excesso de apego, ceticismo, entre
outros, geram uma série de enfermidades. Aqui também devemos ter cuidado, pois esses
indivíduos são como bombas de energia que, quando estimuladas sem um preparo que
lhes dê o suporte necessário, podem sofrer os mesmos p roblemas colocados
anteriormente. Portanto, o padrão de trabalho deve obedecer sempre ao mesmo sistema,
buscando partir do elemento terra e integrar as práticas aos poucos, até o elemento fogo.
É claro que cada praticante terá seu tempo para cada uma das etapas e responderá a uma
necessidade de equilíbrio de sua natureza pessoal.
Elemento terra: Trabalha a relação com o corpo físico com exercícios que buscam
fortalecer a estrutura óssea, articular e muscular. Entende o fortalecimento como
reconhecimento e domínio desta estrutura. Os exercícios com maior ênfase neste
elemento possuem o princípio de técnicas de músculo (relaxamento) e as formas do Nei
Kung, exercícios em círculo, exercícios de ritmo e contra -ritmo, de coordenação
motora, articulações e tendões. Estes exercícios agem na cura de problemas que afetam
diretamente a estrutura densa do corpo, como problemas posturais, de lateralidade e de
165
Elemento água: Trabalha com ênfase no corpo vital ou energético at ravés das
respirações e dos Chikungs. Baseia-se no fluxo da energia através de um eixo que passa
por três centros básicos: centro 1 (cabeça), centro 2 (coração) e centro 3 (ventre).
Este elemento trabalha com a respiração e seu movimento natural. Terapeut icamente
tem efeito sobre males que afetam o sistema respiratório, como asma, bronquite, rinite e
alergias respiratórias. A respiração está relacionada diretamente com a tonificação do
corpo por meio de uma ação revigorante da vitalidade. Respirar é propor cionar, através
de um movimento suave e intenso, a movimentação e o massageamento de todos os
órgãos internos, além de favorecer a melhor oxigenação do sangue, agindo diretamente
sobre o elemento gasoso (ar), que veremos a seguir.
Elemento fogo: Neste elemento, utilizamos as técnicas do Nei Kung para trabalhar a
concentração, ativação da memória, criatividade e imaginaç ão, através de uma
disciplina mental específica, desenvolvida por intermédio da prática de exercícios
especiais e outros, de caráter geral ou simbólico. A meditação é a prática central deste
elemento. No Nei Kung da preservação da saúde, a meditação possui quatro passos
definidos: circulação, fluxo, pulso e irradiação, que trabalham a relação com os quatro
primeiros elementos. Fazem parte desta série mais três passos: iluminação, focalização e
polarização, mas recomendamos que estes passos não sejam trabalh ados inicialmente,
por questões pedagógicas e por se tratarem de elementos que se relacionam com o
despertar de outras potencialidades arquetípicas próprias da via marcial.
O primeiro passo, circulação, se relaciona com o estado físico, que exige que estej amos
com ombros, maxilares e demais músculos relaxados, postura ereta e a ponta da língua
tocando o ponto de encontro entre o palato e os dentes. Este estado favorece a
circulação da energia e ativa o primeiro elemento, ou corpo étero -físico.
O segundo passo, fluxo, subentende a entrada e saída do ar no ventre. Exige -se
concentração na respiração, que deve ser natural, contínua e serena. Ativa o elemento
água, ou vitalidade.
O terceiro passo é o pulso. Aqui aparece a idéia de sentir o coração, seu ritmo c ardíaco e
onde ele está se manifestando em todo o nosso ser. Estas pulsações nos remetem ao
fluido sutil que se relaciona com as emoções e sua sede é o centro 2 (coração).
O quarto passo é a irradiação. A energia que relacionamos aqui é a energia da natur eza,
a energia terrestre, e está presente na base da coluna, ascendendo de forma cilíndrica
desde esse ponto até a parte cervical, desbloqueando os canais medulares e nervosos
localizados entre as vértebras. A energia chega a se verticalizar, atingindo o centro 1
(cabeça). Este fluxo energético, conquistado através da integração dos quatro passos,
propicia a tonificação da atividade neuronal, potencializando a memória e estimulando a
imaginação e a criatividade. Também age sobre a atividade do pensamento, criando uma
estruturação mais limpa, isenta da poluição mental, do descontrole e do excesso de
pensamentos. O problema da sobrecarga mental é a principal causa do estresse.
Elemento éter: Após o trabalho preliminar de pacificação e controle dos quatro dra gões
(os quatro primeiros elementos da personalidade), que estão representados no símbolo
167
do Nei Kung, podemos direcionar nosso trabalho para os níveis mais sutis e subjetivos.
É necessário que a tormenta cesse para que possamos ver abrirem as escuras nuve ns no
céu. Esta abertura possibilitará a entrada dos raios do sol e a visão da realidade por trás
das brumas. Tendo conquistado a harmonia entre os quatro elementos formais, chega -se
ao elemento final: a consciência do eu -filosófico, ou o centro do Ser. Es sa trilha se
desenvolve através da busca incansável da sabedoria e sua via formal, a filosofia, que
fará a ligação com os outros elementos e os manterá integrados e dominados,
expandindo nossos limites e consagrando novos estados de consciência. Nos possib ilita
despertar nosso princípio superior ativo e é um reconhecimento da via de
autoconhecimento, que se cumpre através de um caminho ternário, constituído pelos
conteúdos éticos, políticos e históricos proporcionados pela filosofia.
6. A COLUNA VERTEBRAL
A coluna vertebral é um elemento que merece atenção especial, pois p ossui uma
função de fundamental importância para o ser humano: constitui -se em seu eixo vertical
e estabelece quatro regiões específicas, delimitadas por três planos horizontais. Estes
planos, intercruzados, resultam nos três centros do corpo étero -físico: centro 1 (cabeça),
centro 2 (coração) e centro 3 (ventre). O eixo vertebral funciona como uma antena ou
tubo transmissor de energia, uma via expressa que interliga uma enorme quantidade de
enervações responsáveis pela manutenção das mais diversas funções orgânicas. Os
chineses vêem a coluna vertebral como referência de saúde: uma coluna elástica, ágil e
de movimentos livres caracteriza um indivíduo jovem e saudável; já uma coluna rígida e
pouco elástica representa uma fragilidade na saúde e um envelhecimen to, por
conseguinte, de todos os sistemas do corpo. Para termos uma idéia, a medula espinhal
contém a própria fonte da vida e é responsável pela regeneração e renovação do corpo.
encontra relação com a vitalidade; 2) a região lombar está ligada ao elemento água e
relaciona-se com a região do ventre (cavidade abdominal) e com a glândula supra -renal,
além de regular a respiração, o pulmão, o baço, o fígado e os rins; 3) a região dorsal
relaciona-se com o centro 2 e com as funções do coração e da glândula timo; os reflex os
dos processos emocionais afetam diretamente esta parte da coluna; 4) a região cervical
está ligada ao elemento fogo e, por conseqüência, aos processos mentais do indivíduo.
Há uma relação importante que sempre deve ser feita entre os exercícios do Nei
Kung e a coluna vertebral: o praticante precisa desenvolver uma consciência de sua
coluna, controlando naturalmente a postura e identificando dores, tensões,
formigamentos e variações de temperatura. À medida que as práticas evoluem, é
possível estabelecer um diagnóstico de problemas por meio da percepção do estado em
que a coluna se encontra.
Depois de dois a três meses de prática, pode -se iniciar o trabalho com o
elemento éter, onde se passa a ministrar aulas de Filosofia à Maneira Clássica, buscando
sempre relacionar as técnicas aprendidas e seu resultado terapêutico com a contraparte
filosófica. Além dos benefícios físicos, psicológicos e mentais e do equilíbrio e controle
destes elementos, possibilitamos uma forma de transformação real do ser humano
através da busca de sua essência imortal.
3. Após compreendê-la, oferecer esta energia ao elemento, pois com ele somos
um. É um símbolo de inegoísmo e desapego e a energia passa através de nós
como o vento que faz soar uma flauta;
2. Relaxamento
3. Respiração
4. Ritmo
mais lento ou mais acelerado, deve -se regular conscientemente esse princípio,
aceitando ou identificando o processo emocional e buscando in terpretar esse
processo como algo externo que está nos provando, um inimigo que ativou seu
ataque ao reconhecer nossa debilidade. Para isso, devemos nos manter
equilibrados emocionalmente. A prática aqui é estar com o Hara, região do
ventre ou centro 3, sempre livre e descondicionada, permitindo movimentos
rápidos e equilibrados. Significa começar o movimento quando quisermos e
bloqueá-lo também quando quisermos. As emoções, assim com a respiração,
possuem um ritmo. Dependendo da emoção, devemos trabalhar o contra-ritmo
para neutralizá-la. Como exemplo, podemos citar a euforia, que deve ser
trabalhada com o contra-ritmo calmo. A torpeza, depressão ou angústia devem
ser trabalhadas com um contra -ritmo forte e o descontrole, com contra -ritmo
firme.
As emoções devem ser neutralizadas em seu próprio campo, ou seja, uma
emoção deve ser neutralizada com outra emoção e não com o pensamento.
Quando somos atacados, uma energia é desferida; a natureza se expande ao
nosso encontro e devemos recebê -la, nos contraindo; caso contrário,
violentaremos o princípio de polaridade. Assim, aplicando a lógica de harmonia
por oposição, podemos obter os resultados terapêuticos esperados.
Todo movimento deve ser realizado com o objetivo de encontrar o ritmo certo, o
ritmo que por fim possibilitará a harmonização entre nossa personalidade e
nosso verdadeiro Eu.
5. Equilíbrio
6. Harmonia
7. Centro
O que vêm a ser o caráter? Utilizando a mentalidade oriental para conceituá -lo,
poderíamos dizer que o caráter é um conceito dinâmico e não estático; um exemplo da
permanente mutação em que se in sere o Universo. O caráter é a estrutura psicológica
humana por excelência e podemos dizer que é uma estrutura que se constrói a cada dia
para conformar, com o tempo, a personalidade. Na realidade, nascemos apenas com o
temperamento, que é formado pela rel ação básica que temos com as coisas e com nosso
meio através dos instintos. Com o passar dos anos, nosso ser se aperfeiçoa e os fatores
genéticos, fenotípicos (do meio) e, acima de tudo, cármicos, começam a se tornar
conscientes e a moldar os impulsos do temperamento, que vão resultando no caráter.
Existe uma relação desta formação com os hexagramas do I Ching que serve
para trabalhar estes elementos da personalidade em especial. Os hexagramas são
estruturas simbólicas complexas que definem uma imagem da natureza e suas
características. Estas imagens simbólicas retiradas de fenômenos naturais são
particularmente poderosas por sua influência, não só sobre a transformação da própria
natureza, como do homem. No homem, estes símbolos agem de forma inconsciente,
175
como uma linguagem especial ou lógica transcendente. Isso significa uma forma de
comunicação que está para além dos limites impostos pela matéria e sua forma, uma
linguagem direta para a psique humana que trata de questões modelo. São como grandes
faróis que iluminam nossa consciência, ou como chaves que necessitamos para abrir as
portas das salas que nos levam ao verdadeiro conhecimento. Não necessitamos decifrar
ou interpretar os hexagramas, mas sim vivê -los.
sauce, tartaruga, ondas do mar, sétima cervical, sacola de batatas, sacola de arr oz
e respiração do sol. São todas retiradas de elementos da natureza e tem como
função um esforço de imaginação e da criatividade, assim como a busca
harmoniosa do movimento usando os sete princípios já citados na primeira parte.
É importante que não se re spire de maneira forçada nos exercício e sim
sincronicamente aos movimentos do corpo. A respiração é sempre espontânea,
pois o objetivo é que os movimentos do corpo devolvam a naturalidade ao
processo de respirar.
Quanto mais complexa a técnica, mais atent os devemos estar na naturalidade e
leveza da respiração e, dentro deste aspecto, promovemos o princípio da
circulação da energia pelos três mundos. Este princípio confere à respiração a
capacidade de retornar e de reciclar (absorvemos o bom ar e expelirmos o mau
ar). A técnica dos três mundos, além de ser um exercício, também é um princípio
de todas as outras respirações, pois devemos promover este movimento da
energia do centro 3, passando ao 2 e finalizando no 1 no momento da inspiração,
e o movimento inverso (1,2,3) na expiração. Quanto mais complexa a respiração,
mais atentos devemos estar nesta energia sutil, até o momento em que este
processo se torne realmente natural e espontâneo.
“A arte marcial filosófica do Nei Kung está recém iniciando sua saga. Todo o
trabalho ainda está por fazer”. Estas palavras são repetidas nã o raras vezes por seu
fundador, o Professor Michel Echenique. Inspirado nestas palavras, buscou escrever
este texto, que explora um aspecto da riqueza de elementos que nos oferece o Nei Kung.
Conto também com o natural senso investigativo impelido por disc ípulos que me
cobravam este conhecimento e sua utilização de forma mais sistematizada. Tive, mesmo
assim, cuidado para não criar uma mecânica muito linear, limitando a expansão e
interpretação do tema. O Nei Kung possui uma linguagem universal e sintética, que aos
poucos mostra seu brilho e eficácia. Não podemos de forma alguma enquadrá -lo e
restringi-lo, pois até o seu padrão de estagnação (Pi) é mutável, segundo o próprio I
Ching, texto inspirador do Nei Kung. Mas a dificuldade não se apresenta só neste
aspecto, pois o cuidado com o excesso de subjetivação, que pode nos levar a
interpretações um tanto fantásticas e aleatórias, é também um perigo. Em um velho
tratado tibetano, A Voz do Silêncio, lia-se a seguinte frase sobre o conhecimento: “Em
cada flor encontra-se uma serpente enrolada”.
“Não há Nada Superior a Verdade”
ii. A CURA
tradicional, o ser humano é superior aos animais por possuir em si uma força
independente que o anima e podemos, com isso, alcançar o grau de individuação, ou
identificação completa com este princípio superior que é o espírito. Este processo deve
ser, na verdade, a razão da existê ncia para os seres humanos: superar sua natureza
animal e identificar-se com o aspecto divino presente em si. Aqui aparece nosso grande
dilema: ao mesmo tempo em que recebemos a dádiva da razão para podermos nos
conceber como unidade e nos libertarmos das coisas efêmeras, nos separamos e nos
escravizamos pelo apego ao que é temporal, começando por nós mesmos.
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______ ______
______ ______
______ ______
1. JULGAMENTO
Dispersão. Sucesso.
O rei se aproxima de seu templo.
É favorável atravessar a grande água.
A perseverança é favorável.
182
2. IMAGEM
Trigramas nucleares:
Kên , a quietude (montanha) e Chên, o incitar (trovão)
3. SEQÜÊNCIA
4. JULGAMENTOS ANEXOS
Eles escavavam troncos para construir barcos e endureciam madeiras no fogo para fazer
remos. A utilidade dos barcos e dos remos consistia em facilitar as comunicações.
Provavelmente inspiraram -se, para isso, no hexagrama Dispersão.
Este hexagrama tem um duplo significado: o primeiro é sugerido pela imagem do vento
sobre a água, que indica a dissolução do gelo e da rigidez. O segund o significado é a
penetração: Sun penetra em K’an, o abismal, indicando dispersão, divisão. Em
contraposição a esse processo de dispersão, apresenta -se a tarefa de uma reunião, cujo
significado também está contido no hexagrama.
Julgamento
Dispersão. Sucesso.
O rei aproxima-se de seu templo.
É favorável atravessar a grade água.
A perseverança é favorável.
1. CENTRO
interação com seu meio, de acordo com a necessidade apresentada. Para tanto, temos
um comportamento na família, ou tro específico no trabalho, outro que geramos com as
amizades, outro para nosso local de estudos, outro para as relações afetivas mais íntimas
e assim por diante. Podemos assumir várias máscaras dependendo da necessidade e da
situação apresentada. É claro que essas máscaras são imprescindíveis para que
possamos nos relacionar com o meio circundante. Mas onde iniciam os problemas?
Iniciam quando começamos a desenvolver uma identificação excessiva com nossas
máscaras. Quem de nós não convive com exemplos diá rios de uma mãe que, por um
abalo ocorrido na relação com um filho, cai em profundo e irreparável desgosto? Ou um
profissional que passou grande parte de sua vida dedicando -se a construir sua imagem,
sua empresa ou negócio e, quando essa imagem ou negócio se abala ou se perde, passa a
viver como um fracassado irremediável? E porque não dizer o mesmo de uma desilusão
amorosa? Após anos convivendo com a pessoa amada, ao vermos traída nossa
confiança, caímos no desgaste unilateral da relação e a partir daí nos sa estima cai para
zero. Por que todos os nossos valores devem ser edificados nesse processo pessoal de
identidade?
A causa dos nossos problemas está aqui, na identificação excessiva com nossas
máscaras. Na verdade, as máscaras são apenas elementos tempor ais que nos geram uma
oportunidade de experiência que deve ser construída dentro de cada um de nós. Os
elementos externos são apenas os canais para que esta energia possa circular de fora
para dentro e de dentro para fora, mas é importante saber que existe o dentro e o fora, e
que o trabalho fundamental deve ser realizado em nosso interior.
Para tanto, devemos identificar este segundo elemento ou fator, que é nossa
essência, nosso eu-filosófico, representado pelo elemento arquetípico éter, que é uma
junção dos quatro elementos da natureza e ao mesmo tempo sua contraparte geradora (o
princípio e o fim, a eternidade dinâmica de que fala o I Ching, a mutação e permanência
do padrão infinito presente na natureza, a lei, o Dharma -karma, a justiça de Platão).
Reconhecer esta essência é fundamental para aquele que busca se harmonizar.
Reconhecer a essência é, na realidade, um trabalho árduo, que necessita da integração
de todos os elementos dispostos na doutrina estratégica. Isso é possível porque estes
188
elementos são as referências que estão presentes na essência humana, são constituintes
do eu-filosófico, do espírito, e não da personalidade. À medida em que trabalharmos
sobre eles no nosso cotidiano, estaremos trabalhando sobre esta essência e descobrindo,
então, o verdadeiro ator que está presente por detrás das máscaras.
O centro está relacionado à primeira das atitudes que possibilita o homem a ser
possuidor de si mesmo, a se conhecer, a se dominar e a se controlar. Estamos falando de
consciência: consciência é uma atividade dinâmica e não um campo ou local em nossa
mente. Ao mesmo tempo, coincide com a prática de acesso à nossa essência, ao nosso
ser interior. Despertar esta essência, uma tarefa que se dá gradualmente com as
experiências passadas na vida, possibilita possuir a si próprio, ou ser consciente. Ser
consciente é estar concentrado, é ter um centro. O centro tem a característica única de
possibilitar uma visão eqüidistante de todas as nossas máscaras ou atributos da
189
personalidade, nossos pequenos eus. Estar no centro é estar no ponto onde as energias
centrípetas e centrífugas não agem e nos confere a capacidade de estarmos imóveis no
movimento (como no eixo de uma roda), podendo enxergar tudo sem nenhum obstáculo
e com a mesma perspectiva. Centro é poder.
2. DISTÂNCIA
Reconhecimento do lugar que deve ocupar cada coisa em nosso meio, nos
relacionando de forma a não confundir, não invadir e não bloquear a natureza própria
das coisas. Sua prática é a meditação . Meditar é estabelecer um contato consciente, a
partir do centro, com nossa personalidade, avaliando a distância em que devemos nos
posicionar para podermos resolver nossos problemas.
3. TEMPO
4. REGULAÇÃO
5. RITMO
6. ABSORÇÃO
7. CONTROLE
as quais que convivemos, geram uma transformação muito mais profunda e interior, em
contrapartida. Esta é a verdadeira transmutação, um caminho que depois de iniciado não
deixa margem para retorno.
Devoção (altruísmo)
Investigação (reconhecimento)
Serviço (convivência)
1) O homem, nos últimos 150 anos, ao contrário dos outros 9000 anos de
História que pretende conhecer, mergulhou em um paradigma extremamente
materialista, se distanciando de seu conteúdo pessoal e simbólico. Isso causa
graves falhas na estruturação psíquica e na construção de nosso mundo
interior. É um modo de vida que castr a o despertar de elementos importantes
presentes em seu interior e que, em épocas passadas, eram associados aos
195
3) Vivemos uma crise existencial tremenda nos dias de hoje e nossa i nabilidade
em tratar as questões interiores do ser humano nos torna extremamente
frágeis. Fugimos da dor, ao invés de irmos ao seu encontro, para resolver sua
causa. Para tanto, ingerimos uma grande quantidade de drogas, em sua
maioria analgésicos. Combate r o que se apresenta na superfície (a dor) é uma
forma de fugir dos processos internos que causam esta mesma dor. Temos um
medo mortal da dor, assim como da morte e do desconhecido.
O que devemos entender como saú de? Devemos entendê-la como um padrão de
harmonização do homem, com sua natureza interior, de acordo com suas condições de
expressões potenciais e manifestadas e sua relação com o meio em que vive. Sendo
assim, podemos dizer que a doença somática aparece n o momento em que se rompe
esse equilíbrio, de tal maneira que seu efeito se manifesta no corpo físico. Mas nossa
perspectiva de abordagem deve ir além do limite físico, pois todo desequilíbrio começa
no campo dos pensamentos, sua origem é mental e depois e mocional, refletindo-se
então na vitalidade e chegando até o plano físico em algum sistema, órgão ou tecido
196
Plotino, o melhor entre os neoplatônicos, fala que o que vemos das coisas são
apenas sua sombra, os seja, a quantidade de luz que compõe a matéria é míni ma, pois a
lógica e o sentido que estão no interior da matéria (a luz, ou Uno) estão encobertos por
uma espessa camada de preconceitos, criados pelos nossos próprios sentidos limitados.
Buda, Sidharta Gautama, coloca em sua doutrina das Quatro Nobres Verda des, que
fundamentam o Budismo, que a dor existe por confundirmos nossa natureza real, o que
realmente somos, nossa essência ou Eu, com os nossos sentidos físicos. De tanto utilizá -
los de forma inquestionável, nos tornamos dependentes do único meio que ele s podem
alcançar, que é o meio material e concreto. Todo o universo da energia, das emoções e
das idéias só existem por terem como referência a matéria e, consequentemente, os
sentidos. Buda chamava esta perspectiva de Maya, uma perspectiva ilusória, justa mente
por tomarmos o efeito (manifestação) como causa das coisas. Por isso sofremos, pois
buscamos ter as coisas que estão à nossa volta, para nossa satisfação, e ninguém pode
possuir o que não está dentro de si mesmo. Somos donos daquilo que preservamos
internamente. Saint-Exupéry disse a célebre frase “somos eternamente responsáveis por
aquilo que cativamos”. Para entender o significado destas palavras, devemos entender
por que Buda nos coloca que só podemos possuir verdadeiramente o que pode chegar ao
nosso coração. Esta é a única forma de entendermos as coisas em sua plenitude e de
aumentarmos a estatura de nosso verdadeiro EU. Este é o verdadeiro padrão de cura da
transformação interior.
197
i. INTRODUÇÃO
O hexagrama Huan foi a síntese deste trabalho de busca de uma idéia referencial
que representasse a preservação da saúde e o padrão de cura de acordo com o I Ching.
Precisávamos de um hexagrama que sintetizasse a idéia e que tivesse suas técnicas
referenciais.
Para isso, nasceram sete práticas, que compõem o hexagrama Huan e que
buscam essa identidade profunda com o significado da dissolução, do rompimento da
estagnação e do restabelecimento do fluxo das coisas.
para cima
rotação - ao redor de um centro
translação - ao redor de si mesmo
vibração - o movimento do que não se move
Esta dança é feita em três ciclos com sete voltas ao redor do eixo central e três
voltas em ronda (caminhada com ritmo). O primeiro e o terceiro ciclos são feitos em
sentido anti-horário e o segundo em sentido horário. As respirações obedecem também
ao fluxo de expansão e contração. Para o centro, inspira; para fora do centro, expira.
articulações). Inicia pelos pés e vai subindo até a cintura e o abdômen, depois se
trabalham os pontos dos braços e ombros, seguidos da cabeça e, por último, manipula -se
a coluna vertebral com movimentos intervertebrais. Este último movimento visa
desobstruir a energia que, deslocando -se dos outros pontos genéricos do corpo, se
acumulará nos espaços nervosos intervertebrais. Este exercício restabelecerá o padrão
energético medular (nossa coluna de luz).
__
__ __
__
_____
__ __
acima CHÊN, O Incitar, Trovão
_____
__ __ abaixo K’AN, O Abismal, Água
HSIEH – LIBERAÇÃO
__
__ __
__
_____
__ __
__ __
_____
O impedimento é removido e as dificuldades são solucionadas. A liberação se dá
por etapas.
201
TRIGRAMAS CONSTITUINTE S
6
5
4
3
2
1
5
4
3
4
3
2
CONSTITUINTES
Chên, o trovão, é o filho (filho mais velho) do pai (o criativo -céu) e da mãe (o
receptivo-terra).
Como terceiro princípio, consiste no início das mu tações terrestres, que, para se
darem de maneira cíclica e harmônica, precisam da irrupção do trovão da intuição,
estabelecendo o homem como ponte ente o céu e a terra.
NUCLEARES
Uma linha obscura se liga a uma linha luminosa acima e à outra linha abaixo.
Assim surge a imagem de um espaço vazio entre duas fortes, o que as torna luminosas.
Li é a filha do meio. O criativo incorpora a linha central do receptivo e desse modo se
forma Li. Como imagem, é o fogo. O fogo não tem uma forma definida, porém se liga
aos corpos que queima, tornado -se luminoso. Assim como a água desce do céu, o fogo
arde, elevando-se da terra.
Para o desenvolvimento deste trigrama nuclear, é necessário um trabalho de kati,
que são exercícios para esticar as articulações com intervalos de tensão dinâmica,
alternando entre movimento Yin e Yang.
Sentença - HSIEH:
Assim como a chuva provoca um alívio nas tensões atmosféricas e faz com que
todos os brotos se entreabram, assim também a liberação traz alívio e vigor à vida.
i. FALAM AS IMAGENS
AS LINHAS
Seis na primeira posição: sem culpa.
Exercícios de meditação
Práticas de reflexão.
Língua no céu da boca.
“Caso somente o homem superior possa liberar -se, isso traz boa fortuna.
Assim ele demonstra ao homem inferior sua serenidade.”
206
A liberação exige resolução interna. Não se trabalha com o externo para atingir
objetivos internos. “Um templo se constrói p or dentro”. Através da transferência de
energia, ficamos mais magnetizados e luminosos. Podendo atuar agora com mais
sabedoria.
ii. A TÉCNICA
1) MEDITAÇÃO
Consagrar a prática no início e no final com a meditação, para favorecer o
contato com nosso “deus interior” através do selo, impregnando nosso coração com o
sentimento de unidade e totalidade.
2) RESPIRAÇÃO
São três as séries de respirações, todas com um movimento circular, alternando o
sentido do movimento e produzindo inspirações e expirações em momentos específicos.
207
Devem ser feitas sete vezes cada uma das três técnicas de respiração, mantendo o
queixo para baixo, para evitar que suba muita energia para o ponto um. Na primeira
técnica de respiração, a cor a ser imaginada (a imaginação é muito importante) é o
vermelho. Na segunda, o amarelo, e na terceira, o azul.
3) RONDA
Promover um equilíbrio e regulação da energia gerada pela prática de respiração.
4) AGITAÇÃO MAGNÉTICA
Saltar de maneira frenética e dinâmica (saltos curtos) e, por um impulso, dar um
salto maior e cair com a planta dos pés no chão e com os olhos fechados. Sentir o fluxo
de energia fluindo no corpo e sentir os campos de magnetismo gerados.
1. As três respirações (sete vezes cada uma) e uma ronda, seguidos da agitação
magnética. Obs: Esta etapa deve ser executada três vezes.
2. Tensão dinâmica.
iii. CONSIDERAÇÕES
1) PRIMEIRA ETAPA:
c) Surge a impostação do corpo, que fica denso, mas não pesado. Na ronda,
estabelece-se o sentido de centro. Na agitação magnética, percebe -se o
fluido em todo o corpo de forma mais presente. Uma onda de calor é
irradiada da cervical e do externo (ponto 2), ex pandindo-se pelo corpo. A
coluna vertebral atinge grande grau de flexibilidade e percebe -se a coluna
como uma unidade. Aqui o praticante está em contato (vibração) com o
campo etérico.
2) SEGUNDA ETAPA:
3) TERCEIRA ETAPA:
iv. CONCLUSÃO
Através dessa magia marcial que é o Nei Kung, temos que nos purificar e deixar
esse ser luminoso, ou deus interior, aflorar. É como no mito que conta que um deus
210
luminoso caiu na Terra, no oceano, e quando saiu estava cheio de algas e sujeiras,
criando uma casca escura em torno de si. Nesse momento, ele esqueceu quem era e
identificou-se com a casca. Numa situação, ele perde um pedaço da casca (sombra) e vê
surgir um ponto luminoso. Vagamente começa a ter uma lembrança do deus que sempre
foi, mas não mais seria o mesmo. A p artir daí começou pouco a pouco a tirar as algas,
conchas e sujeiras, tornando -se novamente luminoso.
O praticante de Nei Kung deve estar disposto a tirar de si toda essa casca que
está encobrindo seu verdadeiro Ser para, então, se libertar das sombras.
211
_____
__ __ abaixo SUN, A Suavidade, Vento
__ __
_____ abaixo CHÊN, O Incitar, Trovão
A vida busca a Vida como os rios buscam o mar e, quando a pequena vida
encontra a grande, tudo se integra em sua unidade. Desta forma, todos os elementos que
constituem uma escola de Nei Kung, incluindo seus homens, devem se manter unidos
ao Soke e ao mesmo tempo serem solidários entre si. Desta forma, Pi estará presente
nela através dos séculos.
Este hexagrama é como uma luz que ilumina a montanha, tornando -a grandiosa
e bela. Porém aqui a luz não vem de cima, mas de baixo, ou seja, das profundezas da
terra. Isso significa que o trabalho não é definitivo, motivo pelo qual se torna necessá rio
um maior aprofundamento, que virá na medida em que possa ser desenvolvido um
trabalho de estruturação dos elementos. É por essa razão que esse hexagrama representa
a escola dos cinco elementos, que, como já foi exposto, corresponde ao terceiro degrau
do estilo.
Por isso simboliza as técnicas de canalização do poder interno, que serão explicadas no
próximo ponto deste capítulo.
q) LÜ
Acima, Li, aderir, fogo.
Abaixo, Ken, quietude, montanha.
r) CHIN
Acima, Li, o aderir, fogo.
Abaixo, K’un, o receptivo, a terra.
s) CHIEN
Acima, Sun, suavidade, vento.
Abaixo, Ken, a quietude, montanha.
217
t) TS’UI
Acima, K’un, o receptivo, a terra.
Abaixo, Sun a suavidade, madeira.
u) CHIEH
Acima, K’an, o abismal, água.
Abaixo, Tui, a alegria, lago.
Este hexagrama representa o cultivo da vida tal como era transmitido pela
tradição oral dos ensinamentos secretos do Yoga Chinês, ou seja, a obra alquímica da
transmutação. Por isso ele simboliza a técnica dos sete princípios estratégicos da Escola
dos Cinco Elementos.
internas. Por esse motivo, este hexagrama representa a tradição da não -violência e a arte
de vencer sem lutar, que é o conjunto do conhecimento de todas as câmaras internas.
Este hexagrama representa o domínio que o homem superior deve exercer sobre
as mudanças da natureza e, ao mesmo tempo, àquilo que produz as mudanças. Por isso
ele simboliza a técnica dos dois níveis dos módulos do API, que serão detalhados na
terceira parte deste livro.
As mais antigas tradições das artes marciais nos ensinam que existem três
centros de energia interna no homem. Esses três centros se correspondem com três
planos de realidade, que são o plano físico, o plano psicológico e o plano espiritual.
A existência dos três centros gera três linhas de força e três linhas
complementares, que são denominadas de acordo com o centro a que pertencem.
Finalmente, a linha complementar 1 deve ser projetada como um foco de luz que
ilumina o caminho através das outras linhas já descritas. A linha de força 1 deve ser
projetada do ponto do centro 1, verticalmente, até um ponto no infinito.
c) TÉCNICA DE OCULTAMENTO DO WA
Esta técnica é uma das mais complicadas, já que é necessário chegar a um grau
elevado de pureza, tanto dos canais de circulação da força, como do centro 2, o qual
deve ser “aberto” e absorver todas as impurezas do organismo, das emoções e da mente,
sublimando-as.
A partir desta etapa, o comando interno do corpo físico adquire controle sobre
todos os movimentos, reflexos e instintos, produzindo ações de defesa ou ataques,
separadamente ou em conjunto, sincronizadas com as ações do adversário, ou de forma
simultânea.
Esta técnica da visão interna caracteriza -se por uma extraordinária eficácia e
precisão, motivo pelo qual todos os grandes guerreiros a buscam e a desenvolvem. O
segredo desta técnica está em ter uma grande confiança na visão interna, relegando a
222
segundo plano a externa. Para isso, é preciso estabelecer um grande domínio sobre os
desejos, a ansiedade, o medo e a desconfiança.
Nesta técnica, tem-se que ativar a linha complementar de força 1 e girá -la sobre
si mesma, de tal forma que ela não se projete em direção ao espaço externo, mas apenas
em direção ao interior da mente e do cérebro.
Após aplicar este procedimento, deve -se realizar uma minuciosa leitura interna
sobre as reações que o organismo possa lançar como informação. Estas reações internas
podem ser divididas em dois grupos: o grupo de reações ativas e o de reações passivas.
As reações ativas são todas aquelas que propõem qualquer tipo de ferramenta
para manter a visão interna em condições de operar e, além disso, dominam os aspectos
negativos que atentam contra a visão interior. As reações passivas são todas aquelas que
impulsionam a se atuar espontaneamente.
f) TÉCNICA DO VAZIO
Esta técnica nasce a partir da concentração do s três centros em uma imagem que
deve ser visualizada no reflexo da linha de força complementar 1 e depois transportada
ao centro 2. A imagem deve concentrar todas as linhas de força, as quais adotam a
forma de uma espiral de cor violeta, cuja base é maior nos pés e menor na cabeça,
formando um cone espiralado, que deve ser colocado em volta do corpo, o qual ascende
desde os pés até a cabeça, interpenetrando todo o corpo de forma completa.
Após executado este passo, então se liberta a força através das mãos e dos pés,
deixando que o poder nos leve em um ritmo, para depois contra -atacar em um contra-
ritmo. O som que evoca esta técnica é a cadência tidun , tidun, duntidun, etc.
h) TÉCNICA DO SUTIL
Esta é uma técnica de caráter mágico que todo bom guerreiro conhece. Ela nos
ensina uma linguagem de compreensão do mundo sutil e nela o guerreiro descobre o
perfil das coisas e se especializa em reconhecer uma sit uação por seus detalhes. Aqui
224
Esta é uma técnica marcial à qual não se dá muita importância; entretanto, para
aquele que a conhece, converte -se em uma das técnicas marciais mais poderosas, que
leva à vitória sobre nós mesmos. É nela que se encontram os mais profundos estímulos
que levam o artista marcial não só a praticar durante toda a sua vida como também a
converter a prática em uma vivência e em um caminho elevado de auto -realização.
A maneira correta de executá -la é inverter todos os processos dos centros e das
linhas de força, vendo-os como provenientes da natureza total, ou seja, mais além do
guerreiro e em torno dele, existe outro guerreiro, que é o próprio cosmos, o qual aplica
as melhores técnicas sobre nós mesmos, com o objetivo de nos ensinar o caminho do
mistério da guerra. Observando -o constantemente com uma mentalidade de admiração,
respeito e agudeza, poderemos vê -lo nos detalhes sutis e descobrir sua linguagem cheia
de referências.
diante de qualquer ataque. Esta técnica deve usar como base o centro 2 e o símbolo do
trovão.
Esta técnica se caracteriza por concentrar toda a energia nos centros 2 e 1. Ela
confirma o êxito do guerreiro quando ele aplica corretamente seus conhecimentos de
artes marciais em alguma situação específica. Consiste em visualizar qualquer objeto
com o máximo potencial de consciência, para que o objeto penetre no campo
subliminar, conscientemente. Neste campo, o guerreiro poderá estudar o objeto de
forma profunda e completa, até entender seu verdadeiro sentido, e aplicar sobre ele a
solução encontrada. Esta técnica implica visualizar o duplo invisível das coisas .
226
k) CONCLUSÃO PARCIAL
É fundamental entender que tudo o que foi exposto neste livro só tem um sentido
real e um valor verdadeiro quando adquirimos uma visão do mundo real, por mais fugaz
que ela possa ser. Qualquer técnica das artes marciais é apenas uma rel ação de
aproximação a este mundo real, um símbolo que coloca em movimento nossas
recordações, sem as quais não existe sentido algum nas técnicas e procedimentos da arte
marcial.
O que mais nos aproxima desta visão de caráter interno e transcendente é o que
na Ação de Potencial Inteligente denominamos “o movimento circular da luz”,
simbolizado pelo Dragão Dourado. É esta visão que nos dá a relação do centro com os
quatro elementos; é ela que nos dá um sentido de universalidade e que nos permite
alcançar qualquer grau de sabedoria. É ao redor dela que se organiza o cosmos das artes
marciais, onde cada técnica, conhecimento, procedimento, etc., tem seu lugar próprio e
específico.
O benefício que tudo isto nos pode trazer é a construção de um mundo novo e
melhor, do qual nenhum ma terialismo marxista, capitalista ou dogmático possa impedir
o crescimento e consolidação. É necessário convocar todos os guerreiros e trabalhar
para que esta reunião se torne possível com todas as forças da nossa mente, do nosso
coração e do nosso corpo.
Creio que esta é a única maneira de poder render uma verdadeira homenagem
aos mestres da guerra interior, aos heróis e a todos os grandes guerreiros que existiram
no mundo. Na atual conjuntura, devemos nos sentir como os últimos guerreiros de um
mundo que morre e os primeiros guerreiros de um mundo que nasce.
Por esse mundo novo e melhor que nascerá em nossas almas e por um novo
espaço sagrado neste mundo, lancemos um grito vitorioso de guerra:
IAI!!!
228
a) INTRODUÇÃO
Uma criança é um mundo à parte. Não é um adulto em miniatura e não deve ser
tratada como tal. A criança não só é menor, mas diferente quantitativamente e
qualitativamente em todos os aspectos e, portanto, não pode ser submetida a um
treinamento de adulto reduzido, seja nas atividades de Nei K ung, seja em qualquer outro
esporte.
Como foi visto na introdução, uma criança é um mundo à parte, diferenciando -se
do adulto em todos os aspectos. A criança não é um adulto em miniatura, mas um ser
em desenvolvimento e, por isso, não devemos cobrar delas atitudes de adulto.
O instrutor deve ressaltar as virtudes da criança e não seus defeitos. Deve ajudar
a superar suas limitações, por meio do desenvolvimento de seus poderes latentes,
estimulando a justiça, a bo ndade, a beleza, o respeito, a cortesia, a perseverança, a
generosidade e outras características positivas. A melhor forma de ensinar esses valores
é através de mitos, fábulas e histórias de heróis e santos.
Como a criança não tem noção de perigo, o instrutor d eve estar atento para que
ela não corra riscos desnecessários. No entanto, não deve superprotegê -la, impedindo,
assim, que supere suas fragilidades.
Não se deve gritar com as crianças; tratá -las com atenção, carinho e
paciência é muito mais eficaz. Às vez es é necessário ser mais direto e forte com as
palavras, mas não gritar. Também não se deve falar como criança, e sim, falar de
forma correta.
O instrutor deve levar em conta que às vezes a criança fica agressiva no dojo ou
na escola. Ela pode estar transferindo um problema doméstico para o utros ambientes.
Assim, ela agride o instrutor, em vez de agredir a mãe ou o pai, e agride os coleguinhas,
em vez do irmão.
Na faixa dos três aos seis anos, é comum uma criança transferir para suas
brincadeiras aquilo que vive em casa. Por exemplo: a men ina grita com a boneca e a
coloca de castigo, o garoto acaricia a cabeça de seu bonequinho, dizendo palavras de
afeto. Em ambos os casos, a criança reage de acordo com o que vive em casa. Um
instrutor bem preparado, sabendo observar, pode auxiliar muito na educação da criança.
Entre três e seis anos, a forma roliça do bebê desaparece, acarretando mudanças
de comportamento. A motricidade fina se desenvolve e a peque na criança se torna hábil
em numerosas tarefas. Cresce cerca de cinco a oito centímetros por ano. Os sistemas
nervoso e muscular estão em plena maturação, a cartilagem se ossifica em ritmo
acelerado e a primeira dentição está completa, o que lhe permite ma stigar qualquer
alimento.
Por volta dos três anos de idade, os novos ritmos e uma atividade muito intensa
durante o dia fazem aparecer os medos noturnos e os pesadelos. No plano da
motricidade, entrega-se a uma atividade intensa para exercer o domínio de seu corpo e
de suas extremidades. Saltar, correr, lançar, bater, pegar, dar cambalhotas ou escalar são
outros tantos exercícios necessários a seu desenvolvimento.
Dos sete anos em diante, o crescimento físico é menos rápido e as mudanças são
notadas ao longo de um grande período. A maior parte dos dentes permanentes
aparecem por volta dos sete anos. Os dentes de leite são substituídos à razão de quatro
por ano, durante um período de cinco anos. O crescimento terminará perto dos vinte
anos de idade, com o aparecimento dos dentes de siso. A acuidade visual torna -se
melhor, pois os sistemas orgânicos atingiram maior maturidade e o desenvolvimento da
motricidade passa por uma forte necessidade de exercício físico, a fim de desenvolver
maior maturidade e melho r coordenação.
d) DESENVOLVIMENTO AFETIVO
O bebê comunica suas emoções pelo choro, sorrisos, riso e ainda por uma
variedade de expressões faciais. Certas reações afetivas, conforme a idade, não tê m a
mesma significação. Para uma criancinha, o choro significa normalmente um
desconforto físico, mas mais tarde são sinais de angústia psicológica. O primeiro sorriso
aparece espontaneamente e manifesta um estado de bem estar íntimo, enquanto que,
alguns meses mais tarde, têm freqüentemente uma significação social, pois a criança
manifesta sua alegria a outras pessoas.
Deve aprender a discernir o que pode fazer do que lhe é proibido, em particular
os gestos perigosos (colocar a mão na tomada elétrica, etc.). Toma, assim, consciência
de sua margem de aprendizado e experiência. O treinamento para o asseio, pelo qual a
criança aprende a se dominar (controle da bexiga e do esfíncter) e a se tornar
independente constitui uma realização importante nessa marcha em direção à
autonomia.
Aos dois anos, busca se auto -afirmar através do que é conhecido como
negativismo, gritando constantemente “não”. Entre três e cinco anos de idade, a
personalidade da criança se expande e de repente os pais exclamam: “Mas... já é
gente!”. Ela se afirma ainda mais como indivíduo, exprimindo cada vez mais o seu
próprio caráter. Começa a formar julgamentos morais e cria laços de amizade com
outras crianças, que começam a ocupar lugar importante em sua vida.
Por volta dos três anos de idade, a maioria das crianças tem uma idéia
estabelecida do sexo a que pertencem e, portanto, de sua identidade sexual, e protestarão
vigorosamente se qualquer um lhes disser que são do sexo oposto. O pequeno descobre
que atividades, opiniões e emoções são consideradas como m asculinas ou femininas e
assimila aquelas que lhe convêm. Entre cinco e sete anos de idade, a criança adquire o
233
Lá pela idade de dez ou onz e anos, as meninas têm uma superioridade no que
concerne a linguagem e os meninos em matemática e no plano de habilidade espacial.
Constata-se, igualmente, uma agressividade mais marcante entre os meninos, que
brincam de forma barulhenta, são mais inclinad os ao tumulto e tentam dominar seus
companheiros de jogos. A menina tem a tendência de fixar as regras do jogo em curso,
de maneira a evitar os conflitos. Ela é mais levada a ajudar os bebês e as crianças mais
jovens e se mostra mais enfática, com uma comp reensão íntima dos sentimentos do
outro.
e) DESENVOLVIMENTO INTELECTUAL
Quando o ser humano chega ao mundo, todos os seus sentidos são funcionais. É
capaz de aprender, possui uma capacidade inata de aquisição da linguagem e, desde o
princípio da vida, pode modificar o meio e reagir a ele. Sabe -se, atualmente, que o bebê
normal e sadio é notavelmente competente.
castigo, que determina respostas associadas ao prazer ou à dor. O fim que se busca é
eliminar os comportamentos inde sejáveis nas crianças. Aprendem, assim, a se tornarem
limpas, a falarem e a se comportarem bem na escola. Outros modos de aprendizado são
a formação de hábitos e costumes e ainda o aprendizado social baseado na observação e
na imitação de modelos.
A criança que olha seu interlocutor diretamente nos olhos assimila mais
informações do que aquela que vagueia o olhar ao acaso em torno dele, provavelmente
porque o primeiro fixa mais sua atenção. Entre três e seis anos de idade, desenvolve sua
capacidade de utilizar símbolos em pensamentos e em ação, o que a conduz a um
domínio maior das noções de idade, espaço e tempo, por exemplo. Começa a fabricar
sua própria visão do mundo, baseada em suas experiências, em sua memória e também
em sua imaginação.
Segundo Piaget, abeira-se do estado pré-operatório, que vai até os sete anos e
marca o começo da função simbólica. Pode representar objetos, lugares, pessoas do
passado, mas também antecipar acontecimentos e imaginar o que pode se passar em
outros lugares que não o presente.
Dos sete aos onze anos, está no estágio das operações concretas. Segundo a
terminologia de Piaget, pode executar em pensamento ações que antes executava
236
Em suma, pode-se ver que as necessidades interiores do bebê são satisfeitas pelo
exercício de seus padrões de comportamento reflexivo sobre o ambiente em que está
colocado. Qualquer objeto que lhe chegue à mão, por exemplo, é sugado, para que seu
sabor ou dureza seja descoberto, ou objetos são batidos para que seu som seja ouvido.
parte dessas atividades exis tem dentro do modelo mental total como réplicas, ou
imitações, que se derivaram das ações praticadas com aqueles objetos ou dentro
daqueles acontecimentos. Poderíamos perguntar como são essas réplicas sensório -
motoras. A resposta a tal pergunta desafia a d escrição verbal e só pode ser conjeturada.
Com o passar do tempo, a imagem cede lugar ao sinal verbal público. Quando
surge o pensamento operacional, mais ou menos aos sete ou oito anos, o sinal verbal é o
significador usado em pensamento, em lugar da imagem. A imagem atua, então, como
símbolo individual que apoia o sinal verbal.
Da faixa dos quatro aos oito anos, a criança descobre que aquilo que pensa não é
necessariamente igual aos pensamentos dos outros. A atividade social e a estrutura
lingüística dentro das quais opera fazem pressão sob re ela, que ajusta seus pensamentos
em conformidade com isso. Começa a se ver, a si e ao mundo que a cerca, de outros
pontos de vista.
À medida que cada nova experiência encontra seu lugar na mente e modifica as
experiências velhas, o intelecto torna -se ligeiramente mais amplo e o modelo menta l do
mundo externo, mais completo. O crescimento do intelecto é um processo cumulativo,
mas a nova experiência não é introduzida à força, pois se funde com o que já existe lá,
modificando, assim, o que já existe e sendo ela própria modificada.
A criança só pode absorver uma experiência nova mudando -a, de modo que se
ajuste a seu modelo de mundo. Ao mesmo tempo, a presença dessa experiência nova
muda seu modelo mental. Cada adapt ação que a criança faz constitui para ela uma
descoberta. Contudo, o desenvolvimento intelectual é um processo gradual e não uma
série de “saltos quânticos” e se caracteriza por minúsculas consolidações e extensões da
experiência passada.
g) DESENVOLVIMENTO MOTOR
uma criança cujos pais não fizerem uso do andador. Por outro lado, quando os pais
restringem o movimento da criança, deixando -a no carrinho, no berço, etc., muitas
vezes para não sujar a roupa, poderão fazer com que a criança só venha a andar por
volta dos quatorze ou dezesseis meses de idade.
Também chamada de movimentos básicos, caracteriza -se por uma expansão dos
movimentos rudimentares, em que a criança explora e testa a capacidade de movimento
do seu corpo. Os principais movimentos ness a fase são andar, correr, saltar, arremessar,
rebater, quicar e chutar. Subdivide -se em:
De dois a três anos: estágio inicial. Neste estágio, partes ou movimentos são
incompletos, pois ocorre um uso restrito ou exagerado do corpo e a
coordenação, ritmo e integração espaço-temporal são pobres.
Dos três aos nove anos, o crescimento é estável, com um aumento médio de
cinco a sete centímetros ao ano;
Do nascimento até os nove anos, a maioria dos meninos é mais alta do que as
meninas;
Uma criança mais alta e mais magra poderá ter mais facilidade para saltar e, na
maioria das vezes, apresentará uma melhor performance em exercícios que necessitam
de resistência muscular localizada, como abdominais, flexões de braço, etc. Por outro
lado, uma criança obesa terá mais dificuldades em realizar atividades que requerem
locomoção, quando comparad a a uma criança com menor percentual de gordura. Nas
atividades aeróbicas, ou que requerem força, na maioria das vezes a vantagem estará
para aquela que possuir uma maior quantidade de massa magra.
com pernas mais longas, esta cobrirá um percurso maior. Já em atividade de arremesso,
os meninos se sobressaem, justificando que é devido a uma proporção ma ior de
ombro/quadril, que tem como resultado uma alavanca maior.
Para os professores que irão trabalhar com crianças, é necessário saber que o
mecanismo de termorregulação de uma criança não é tão eficiente quanto o dos adultos.
Neste aspecto, elas começam a suar mais tarde, quando realiz am a mesma atividade que
os adultos, como também têm uma percepção de calor menos apurada, em conseqüência
principalmente da ineficiência das células sudoríparas.
h) ASPECTO LÚDICO
Jogar é uma atividade natural do ser humano. Ao brincar e jogar, a criança fica
tão envolvida com o que está fazendo que coloca na ação seu sentimento e emoção. O
jogo, assim como a atividade artística, é um elo integrador entre os aspectos motores,
cognitivos, afetivos e sociais. Por isso, brincando e jogando , a criança ordena o mundo à
sua volta, assimilando experiências e informações e, sobretudo, incorporando atividades
e valores. Portanto, é através do jogo e do brinquedo que ela reproduz e recria o meio
circundante.
A mentalidade de uma criança se desenv olve mais rapidamente através dos jogos
e brincadeiras. Deve-se levar em conta que uma criança de 4 a 6 anos só consegue
seguir regras simples. Muitas vezes ela quebra as regras do jogo, mas não o faz
intencionalmente, e sim porque ainda não consegue se le mbrar de todas as regras. Neste
estágio, a criança não dá muito valor à competição, pois não tem uma idéia muito
definida do que é ganhar ou perder. Geralmente ela não joga para vencer ou superar os
245
outros, mas pelo simples prazer da atividade. O educador deve procurar não despertar o
sentimento de competição acirrada.
i. LÚDICO-SENSÓRIO-MOTOR
Andar, correr, levantar, tra nsportar, saltar, marchar, lançar e pegar, chutar,
atividades dígito-manuais, sons e movimentos e equilíbrio constituem a base do aspecto
lúdico-sensório-motor.
246
1. ANDAR
2. CORRER
3. LEVANTAR
4. TRANSPORTAR
5. SALTAR
6. MARCHAR
7. LANÇAR E PEGAR
8. CHUTAR
9. ATIVIDADES DÍGITO-MANUAIS
11. EQUILÍBRIO
ii. LÚDICO-VONTADE
Sustentar uma posição difícil o máximo de tempo possível para que, desde
pequena, a criança tome contato com forças que vão para além do físico, mesmo que ela
não tenha consciência disso.
Exercício "segurando a torre que cai": colo car as mãos na parede, como
se fosse uma flexão de braço, só que na parede, em vez de ser no solo,
com um ângulo de 45 graus para exercer um pequeno peso sobre os
braços. Manter-se nessa posição por um tempo e se imaginar como
alguém que está segurando uma torre que está caindo. Esse exercício,
além desenvolver a vontade e a imaginação, promove uma purificação do
ponto 2 (altura do externo), gerando mais força e potência nos braços e
uma conseqüente purificação de toda a região do ponto 2.
iii. LÚDICO-IMAGINAÇÃO
Imitar a forma de andar dos animais: andar como gato, pular como sapo,
etc.
Imitar meios de transporte: voar como avião, correr como carro, andar
como trenzinho.
Telefone sem fio: duas crianças conversam uma com a outra num
telefone imaginário.
iv. LÚDICO-MEMÓRIA
1. MEMÓRIA VISUAL
"Quais os movimentos que fiz?": uma criança faz uma série de três, quatro
ou mais movimentos, enquanto as demais a observam. Depois as crianças
repetem os movimentos observados na mesma seqüência.
2. MEMÓRIA AUDITIVA
"O que falei?": o instrutor fala, por exemplo, três nomes. As crianças
devem repeti-los, seguindo a mesma seqüência. Depois pede na ordem do
último para o primeiro.
Recordar com os olhos fechados o som do mar, o barulho de uma moto, etc.
253
3. MEMÓRIA SINESTÉSICA
Recordar, com os olhos fechados , alguma dor que já sentiu no corpo, etc.
4. MEMÓRIA OLFATIVA
5. MEMÓRIA GUSTATIVA
v. LÚDICO-ATENÇÃO
As respirações devem ser feitas como contra -ritmo e sem esquemas. Devemos
fazê-los imaginar um cisne, uma flecha, um bambu, etc. Ensinar através do processo
repetitivo e da imitação.
Fazê-los imaginar a pedra, a faca na barriga, etc. Não se preocupar se giram para
o lado errado, pois esse tipo de coordenação vem naturalmente c om o tempo através de
um trabalho repetitivo. O importante é o “clima lúdico”.
Pedra no rosto.
Facada na barriga.
Lança no peito.
Pegando a mosca.
Garra no ombro.
Podem ser inventados elementos que no momento o instrutor ache
apropriados para brincar.
Deve ser ensinado com paciência e um pouco a cada aula. Deve -se usar o
princípio da imitação. As crianças aprendem olhando.
Descida da águia.
Passeio do caminhante.
moeda e trazê-la para a mão do instrutor. Ensinar pouco a pouco a controlar o desejo e a
ansiedade através de uma linguagem coerente.
Cachorro.
Cobra.
Águia.
Tigre, abismo.
Paulada na cabeça.
Samurai.
Capítulo III
Isto implica que o Nei Kung é, além de tudo, um pacto com os seres divinos, e
todo guerreiro desta arte marcial deve, em algum momento de sua vida, aprender a
estabelecer este pacto de maneira consciente e individual.
_____
_____ abaixo CH’IEN
Gera a idéia da alegria sobre o criativo, ou, dito de outra forma, do lago sobre o
céu, imagem que nos sugere fluidez equil ibrada ou harmonia dinâmica.
Na arte Nei Kung, existe uma técnica de canalização denominada Mudra dos
Cinco Elementos, a qual se pratica com rito de consagração do tempo binário, ou seja,
dos dias e das noites.
259
Este mudra representa a harmonia dos cinco elementos alquímicos com o tempo
binário, gerando uma dinâmica constante e equilibrada entre o Eu Superior, a
consciência e a personalidade do guerreiro.
Esta via (Do), no Nei Kung, denomina -se o Caminho do Dragão Dourado e,
neste caminho, o importante não está em coisas específicas, mas no equilíbrio dinâmico
geral, que inclui uma direção acertada quanto ao verdadeiro sentido da vida universal.
Esta direção real se fundamenta na busca do ideal ou arquétipo da guerra interior,
caracterizada por sua visão transcendente do bem, da verdade, da justiça, da beleza, etc.
Este ideal ou arquétipo, no Nei Kung, denomina -se Dragão Dourado e sua
captação é conhecida como a Visão do Dragão Dourado.
O combate de Nei Kung não depende, então, de técnicas específicas, mas sim de
uma postura interior em relação aos princípios da natureza e do Dragão Dourado. Esta
postura é a que deve prevalecer desde o instante em que o combate se inicia até o final.
Este fato, mais do que uma técnica ou uma série de recursos marciais, implica uma
forma de vida.
Quando este nexo existe, descobre-se o fim ou o sentido último de nossas vidas,
ou seja, nosso ideal, e isso, uma vez compreendido, permite determinar a via ou
caminho através do qual podemos conquistá -lo e encontrar todos os estímulos
261
necessários para viver neste mundo como gue rreiros, com alegria, valor e sabedoria
próprios de um discípulo de Nei Kung.
(CAUDAL
ATMA
VIBRATÓRIO)
BUDHI
MANAS
(DIRECIONALIDADE
KAMA-MANAS E SENTIDO DE
MOVIMENTO)
ASTRAL
PRÂNICO
(POTÊNCIA DE
ÉTERO-FÍSICO
MOVIMENTO)
Quando nos referimos aos três centros Nei Kung (o cent ro 1, o centro 2 e o
centro 3), estamos falando de três zonas, com seus respectivos pontos de controle, que
dominam todo o étero-físico e suas funções.
É assim, então, que o centro 1 tem, em sua parte mais elevada, uma relação com
o morador do umbral, que se situa no limite do veículo étero -físico e prânico,
correspondendo ao reflexo do primeiro logos com seus aspectos de Vontade, no
subjetivo, e Lei, no objetivo.
Por outro lado, o centro 2 guarda relação com o coração formal de veículo étero -
físico e canaliza Inteligência, no subjetivo, e Forma, no objetivo.
Por último, o centro 3 tem relação com o coração energético do étero -físico e
canaliza Amor-Sabedoria, no subjetivo, e Energia-Vida, no objetivo. (Ver gráfico 12).
O efeito Nei Kung pode ser considerado através de uma divisão trina, já que
cada centro manifestará efeitos diferentes; entretanto, na pr ática, os três centros se
interrelacionam, produzindo efeitos simultâneos, o que torna muito difícil entendê -los.
Por esse motivo, aqui os dividiremos em três tipos de efeitos diferentes: efeitos do
centro 1, efeitos do centro 2 e efeitos do centro 3.
Além disso, estes efeitos podem ser encontrados em função de duas áreas
relativas à arte marcial, que são a área de técnicas terapêuticas e a área de técnicas
marciais.
EFEITOS DO CENTRO UM
i. TÉCNICAS TERAPÊUTICAS
O efeito produzido pelo centro 1 em relação a este aspecto tem relação com a
defesa do organismo frente a do inimigo. O efeito Nei Kung deste centro é ostentável, já
que o inimigo se vê impossibilitado de dobrar braços, abr ir anéis feitos com os dedos,
levantar nosso corpo do solo, etc.
264
Permite também quebrar tábuas sem impulso, característica da arte marcial Nei
Kung. Finalmente, transmite ao organismo uma energia adicional que lhe permite
antecipar situações variadas, rela cionadas com ataques de um ou mais oponentes e sem
usar, para isso, os sentidos externos. É uma técnica que o praticante pode realizar com
os olhos vendados. Por último, produz um efeito conhecido como corpo fechado.
i. TÉCNICAS TERAPÊUTICAS
Neste campo, o efeito Nei Kung se manife sta como impostação de todas as
técnicas marciais e do vácuo do corpo, conseguindo movimentações, seja de ataque ou
de defesa, imperceptíveis. Também aqui o corpo físico adquire um sentido de adaptação
que o faz se livrar de qualquer chave ou tomada.
i. TÉCNICAS TERAPÊUTICAS
espécie de efeito alavanca, que permite anular a guarda do oponente e qualquer ação
que ele pretenda fazer contra nós. Podem -se realizar provas de apagar velas sem tocá -
las, defender-se contra ataques de espada de guerra, facas, paus, revólveres, etc.
266
Para abordar este tema, é necessário primeiro analisá -lo do ponto de vista
teórico, para depois desenvolvê -lo de forma prática. Este método se caracteriza por
trabalhar em um nível próximo ao físico, mas notoriamente superior. Todas as téc nicas
marciais devem ser feitas a partir do prânico, considerando o corpo físico como uma
projeção do mesmo.
Para exemplificar este ponto, colocarei, no fator tensão, as formas tipo Karatê
moderno e, no fator relaxamento, as f ormas do Tai-Chi. O método superior, o Nei
Kung, supera ambas as técnicas através de um movimento relaxado mas
simultaneamente rápido, deixando que a potência da técnica se manifeste em função do
contato com o oponente, já que o fator força é visto como o limite natural que o
oponente coloca à técnica aplicada.
Outro elemento teórico importante a considerar neste método é que toda técnica
realizada deve responder à necessidade de canalização do fluido, ou Ki, mais além de
qualquer outro propósito, como pode ria ser, por exemplo, a eficácia combativa, que
neste método tem apenas um caráter secundário. Há que evitar tecnicamente qualquer
posição ou movimento demasiado estereotipado que se distancia dos propósitos naturais
da arte marcial. A técnica deve resulta r cômoda, fluida, desconflituada e isenta de
qualquer propósito superficial.
da técnica Nei Kung genuína. À medida que se aperfeiçoam estes sete passos, o
guerreiro adquire rapidez, precisão e eficácia na ação.
a) CIRCULAÇÃO
Esta primeira técnica consiste em colocar a ponta da língua no ponto de
união do céu da boca e do s dentes, com a boca fechada, inspirando e
expirando pelo nariz.
b) FLUXO
Concentrar-se na saída e entrada do ar através do ventre.
c) PULSO
Concentrar-se nas pulsações que a energia gera no corpo, em lugares
específicos.
d) IRRADIAÇÃO
Concentrar-se no calor que começa a irradiar do corpo. Esse calor se
expande quando as outras técnicas são bem realizadas.
e) ILUMINAÇÃO
Fazer com que a luz interior desça, penetrando pela cabeça até banhar todo o
corpo por dentro.
268
f) FOCALIZAÇÃO
Concentrar-se na luz e observá-la sem pensamentos ou sentimentos.
g) POLARIZAÇÃO
Concentrar-se no eu e na luz, simultaneamente, criando dois movimentos
também simultâneos: o movimento do eu de absorção e concentração e o
movimento da luz de expansão e dispersão.
Este método superior do Nei Kung deve ser aplicado pelo instrutor com muito
discernimento e a partir do grau de principiantes, incluindo a repetição dos princípios do
livro “A arte do poder interno”, volumes I e II do mesmo autor, de maneira que todas as
aulas se repitam em conjunto, começando pelos princípios físicos, depois pelos
princípios de meditação, etc.
2. Repetição em voz alta e em conjunto dos sete passos da técnica Nei Kung
genuína.
b) Princípios da não-violência;
c) Reflexões da ação de potencial inteligente.
270
Mover-se sem corpo significa que se pod e agir com vontade, prescindindo da
intenção condicionada que comumente faz com que o corpo atue. Nesta arte, o corpo
trabalha por ordens mentais, incorporando a estrutura dos sete passos da técnica Nei
Kung genuína. Em seguido, o corpo se move através de seus próprios mecanismos,
resultando em um movimento natural e aparentemente espontâneo.
Esta arte nos leva a um estado de preparação muito parecido com a ação que o
corpo realiza quando está sujeito a situações limites e imprevistas. Esta preparação
seria, então, a maior aproximação que poderíamos realizar em relação a uma situação de
combate real de artes marciais, nos permitindo, ao mesmo tempo, treinar os sentidos
internos, os quais podem chegar a se desenvolver de tal modo que em algum momento
possam atuar independentemente do corpo e de seus sentidos físicos.
Esta arte, com o tempo, vai purificando o coração e afastando o fluido negativo e
inerte que é um obstáculo à ação eficaz, a qual permite a canalização de um fluido
positivo, brilhante, dinâmico e desenvolto. Quando esta purificação termina, o guerreiro
se unifica com sua essência espiritual interna.
Essas práticas poderão ser feitas primeiro em recintos fechados, mas muito bem
conhecidos pelo praticante e em ações que tenham sido repetidas inumeráveis vezes.
Por exemplo, a ação cotidiana de se levantar de manhã, de se assear, de se vestir e se
preparar para a ação diária, realizando todas estas operações com os olhos fechados.
271
No Nei Kung, ou na Filosofia Marcial, cada dia é uma nova batalha, a qual se
deve travar com o objetivo de realizá -la com maior eficiência. Esta mentalidade
promove melhores ações sistematicamente, conseguindo -se, pouco a pouco, um espírito
de superação, de aquisição de maior nível de vida e de superação progressiva dos nossos
limites.
v. PRÁTICA INDIVIDUAL
b) APERFEIÇOAMENTO DA ARTE
i. CIRCULAÇÃO
ii. FLUXO
Nesta passagem, estabelece -se uma relação direta entre o cen tro 3 e a planta dos
pés, elementos que adquirem sensibilidade e se tornam referências claras e precisas de
consolidação da guarda inferior do guerreiro.
iii. PULSO
iv. IRRADIAÇÃO
Neste passo, fixa-se uma clara sensação do corpo em contato com os éteres e do
calor que se desprende de tal contato, sentindo uma onda expansiva e d e tensão
superficial, como se fosse um escudo de proteção com o qual se consolida a guarda
média do guerreiro.
v. ILUMINAÇÃO
vi. FOCALIZAÇÃO
vii. POLARIZAÇÃO
Este conceito corresponde ao estágio mágico da arte marcial Nei Kung e consta
de uma série de demonstrações com ou sem armas, na qual um guerreiro enfrenta quatro
oponentes simultaneamente, os quais assumem as posições dos quatro cantos e atacam
274
sucessivamente o guerreiro central, que pode atuar com os olhos fechados ou com os
olhos abertos, segundo o caso.
Para controlar e diminuir esta complicação, devem -se realizar os sete passos do
método superior, acrescentando a eles três práticas:
Juntamente com esta prática, devem -se abrir as fossas nasais para inspirar o
ar com força, como se tratasse de um touro furioso.
A terceira prática consiste em olhar duramente como uma águia pronta para
caçar sua presa.
275
d) O ESPÍRITO DO NADA
É neste ponto que se encontra o verdadeiro espírito das artes marciais, que tem
como atributos a estática de movimentos, a harmonia e eficiência na ação e a dec isão
oportuna e exata.
e) A CONSCIÊNCIA DO CENTRO
Significa que, para alcançar o espaço do centro, é necessário deter todo tipo de
conteúdo psíquico e mental, ainda que seja por um mínimo de tempo. Este esforço
realizado pela consciência focalizada permite alcançar uma percepção de não -tempo,
uma espécie de espaço internumeral através do qual se percebem todos os fatores que
envolvem a consciência e que a obrigam a atendê -los de forma irrefletida, fazendo -a
entrar no turbilhão do cotidiano e do condicionado.
f) O INUSITADO
Este aspecto é talvez um dos mais importantes das artes marciais filosóficas,
uma vez que estabelece a ponte entre o mu ndo profano e o mundo sagrado.
Para superar esse tipo de atração densa em extremo, devem -se desenvolver
práticas de caráter inusitado, ou seja, reagir diante de estímulos imaginários, antes que o
éter 4 e o subcorpo astral po ssam intervir, condicionando a situação.
Esta série de práticas não pode ser pensada com antecipação, sendo necessário
transmitir uma série de símbolos -sinais que implicam atacantes inesperados de lugares
inesperados. Assim, o praticante será obrigado a re agir instintivamente com um tipo de
consciência observadora dos processos, mecanismos e ações realizadas inusitadamente.
Este aspecto é, talvez, um dos mais importantes deste sistema, pois implica, por
um lado, a descrição de todo o pro cesso e, ao mesmo tempo, o código de sinais que
determinará as ações respectivas.
Tudo o que foi mencionado deve ser imaginado da forma mais clara e intensa
possível, já que é o momento em que serão disparados os códi gos de sinais, nomeando
inesperadamente cada um dos perigos assumidos, como se tratasse de uma situação real.
v. SEQÜÊNCIAS SIMPLES
vi. IMPOSTAÇÃO
h) CONCLUSÃO PARCIAL
Por último, a morte não tem hora específica para chegar, assim como o Budô,
que está sempre presente em todas as coisas e que nos mostra constantemente que a
morte tem um segredo: por trás e dentro dela está Deus, nosso Senhor do Mundo. É por
281
isso que os guerreiros sempre cantam à morte e sempre lançam o mesmo grito de
guerra:
PARTE III
283
Capítulo I
Em geral, todas as artes marciais, sejam do país que for, possuem um fundo
filosófico que lhes deu origem. Essa filosofia é conhecida como "o caminho" (DO), que
é comum a todas as artes marciais que o percorrem. As diferenças existentes são de
caráter técnico, mas, para além disso, a filosofia é a mesma. Mas por que razão hoje em
dia as artes marciais se limitam apenas ao aspecto técnico, sem desenvolver o
filosófico?
De acordo com isso, é possível definir uma visão muito mais ampla das artes
marciais, cuja participação a nível cultural e civilizatório adquire proporções de grande
importância. Do estudo comparado, conclui -se que, historicamente, as artes marciais se
manifestam através de quatro ciclos bem definidos: ciclo mítico, ou da origem; ciclo de
grandes guerras; ciclo de escolas de artes marciais e ciclo filosófico, ou de retorno à
origem.
Neste período, a guerra é mágica, o u seja, está entre forças celestes e telúricas, e
os clãs representam magicamente essas forças. Ainda não existe o bem e o mal, tudo
284
corresponde a uma necessidade relativa ao plano divino, que guarda relação com a
dinâmica evolutiva humana através de genea logias raciais.
Corresponde à saga dos grandes guerreiros, que são preparados para consolidar
seus ideais e gerar uma grande expansão territorial. A guerra é aqui considerada como
um fim em si, é o que os japoneses definem atr avés do conceito do Bugei. Neste ciclo,
as divindades são guerreiras e os reis também, cada um desses reis cria as ordens de
cavalaria, que consolidam através da vivência dos mitos heróicos, simbolizando, com
isso, suas genealogias de antepassados ilustres .
Logo que o período de grandes guerras acaba, os chefes de clãs escondem seus
segredos militares e começam a transmiti -los por meio de escolas familiares de artes
marciais. No início, essas escolas são restringidas a o clã, mas aos poucos se abrem para
a sociedade, que lhes dá cobertura e reverência.
Significa que as artes marciais não necessitam, em tempos de paz, constatar sua
eficiência, motivo pelo qual relaxa a estrita disciplina e suas exigências legais em
tempos de guerra. Esse processo promove líderes que nem sempre possuem
qualificações necessárias e, em alguns casos, muitas escolas são dirigidas por
verdadeiros picaretas. Esse fator contribui para que as artes marciais sofram grandes
deturpações.
e) A TROCA INTER-RACIAL
Esse fator característico das trocas comerciais e cultura is entre diferentes nações
gera uma falta de comunicação entre as fontes e aqueles que se dedicam ao cultivo das
artes marciais. Por outro lado, as representações oficiais de diferentes governos
cumprem funções duvidosas, como espionagem e infiltração, usa ndo as artes marciais
como uma espécie de Cavalo de Tróia.
Esses ciclos têm regido as artes marciais desde sempre. Atualmente, todos os
estilos, em geral, derivam do Oriente e seus ciclos têm aproximadamente 1.500 anos.
Desde que Bodhidharma instaurou sua origem em Shaolin, posteriormente e durante
vários séculos as artes marciais oriundas deste centro mágico -iniciático serviram aos
senhores da guerra, chineses, coreanos e japoneses, para concluir com o surgimento de
muitos mestres fundadores de escolas, como Gigoro Kano, Morihei Uyeshiba, Gigin
Funakoshi, Choi-Jon-Ji, etc.
Uma arte marcial se torna filosófica quando, iluminada pela filosofia à maneira
clássica, interpenetra todos os veículos da personalidade humana, de tal forma que as
técnicas relativas à arte marcial se tornam também filosóficas.
Embora a fonte da filosofia das artes marciais seja a filosofia clássica, esta se
transforma em filosofia marci al quando se adapta às necessidades da arte marcial. Essa
necessidade própria da arte marcial se manifesta através de quatro aspectos
fundamentais, que são a estrutura das artes marciais: os aspectos mágico, estratégico,
tático e técnico. Desenvolvemos est e tema de maneira suficiente no livro A Trilha
Iniciática das Artes Marciais .
Em todo caso, a arte marcial filosófica possui características que lhe são próprias
e que a diferenciam de qualquer outro sistema marcial não filosófico. A diferença
fundamental se deve a que a arte marcial filosófica possui uma concepção e uma visão
global e unitária que lhe permite gerar uma técnica independente dos opostos. Enquanto
287
que as artes marciais convencionais são de concepção binária, a arte marcial filosófica
não é binária, pois unifica os opostos através da consciência do centro.
Assim, a arte marcial interna não é uma questão técnica nem energética, mas sim
mental. Isso implica que a arte marcial interna não se desenvolve num tempo físico, mas
num tempo mental. Podemos dizer que, nas artes marciais externas, o que é energia para
o corpo físico, nas internas é vontade para a mente. Ou seja, o poder interno é um estado
de consciência onde a vontade predispõe a mente do guerreiro para resolver qualquer
conflito que venha do mundo exterior com técnicas superiores às meramente físicas.
Pouco sabemos sobre Bodhidharma, apenas o que nos conta a lenda de S haolin.
Pelos seus traços físicos, era tibetano, de linhagem guerreira, filho de um rei e discípulo
de Panyatara, que lhe deu o nome de Bodhidharma.
Alguns comentaristas dizem que era um grande mestre de uma arte marcial
milenar, próprio da região à qual pertencia. É definido como o vigésimo oitavo patriarca
do budismo, mas, pelo que sabemos, os budistas originalmente não promoveram as artes
marciais, salvo o imperador Asoka; o resto se dedicou a uma vida de mendicância e
desapego de qualquer responsabilid ade política, militar, etc.
Concordamos com o fato de que Bodhidharma abraçou o budismo, mas que tipo
de budismo? Mahayana? Hinayana? Ou uma forma de budismo especial, conhecida
como Vajrayana?
que a palavra Vajra, no Japão, seja traduzida por Yawara, que significa centro de poder,
mas ao mesmo tempo “arma”, conotação original da palavra Vajra, com a qual na Índia
se designa a arma de Indra, o Deus da Casta Guerreira.
Esse cruzamento de doutrinas, por um lado budistas, por outro guerreiras, teve
seu ponto de partida em Shaolin, a partir dos ensinamentos de Bodhidharma. Isso
significa que, já no início, Bodhidharma ensinou essas duas vias paralelas, que, para ele,
devem ter sido uma e que no fundo não era nem budismo nem shaolin -tze, mas a
tradicional e antiga magia da guerra interior onde se integrava de uma forma particular e
específica a mais alta espiritualidade, a "parapsicologia", a psicologia, a destreza e o
domínio físico.
Originalmente, esse caminho ou via deve ser muito simples e natural, com o
único objetivo de harmonizar os três mundos, e suas técnicas devem ser simples,
enraizadas na vida una do começo ao fim. Entretanto, com o tempo elas foram se
complicando, se fragmentando e se especializando. Desde então, o esforço da grande
maioria dos instrutores foi juntá -las, mas uma coisa é juntar o que tem sido dividido e
outra é descobrir o que sempre foi, é e será único e genuíno.
Hoje, no mundo atual, existem muitas seitas religiosas e muitos tipos de artes
marciais, todos tão diferentes que é impossível conciliá -los, mas a via de Bodhidharma
continua impoluta, una e luminosa. É a mensagem desse grande mestre que interessa,
especialmente hoje, em que no mundo há tanta divisão, ódio e violência. É uma semente
que ficou no fundo da terra, coberta de neve, então a neve começou a se transformar em
água, a terra começou a esquentar com o sol e a semente começou brotar. Essa semente
crescerá e dará frutos, uma nova arte marcial, nova e melhor, para um homem também
novo e melhor.
VOLTAR À ORIGEM
1º CICLO
MENTE FÍSICO
Isso significa que, para canalizar o Círculo de O corpo físico deve atingir um total
Potencialidade, é preciso dominar todas as relaxamento.
flutuações da mente, como ansiedade,
preconceitos, desejos, angústias, d esespero, etc.
MENTE FÍSICO
MENTE FÍSICO
Nesse momento, a mente bloqueia e perde de Apesar deste bloqueio, o corpo físico
vista o Círculo de Potencialidade, em simultaneamente ataca, sem impulso e
proporção direta à quantidade de energia com continuidade. Sem impulso quer
aplicada nas duas etapas anteriores. Quanto dizer sem preparação prévia e de
maior a quantidade de energia, maior o forma coordenada com duas ou mais
bloqueio do Círculo de Potencialidade. técnicas em seqüência.
2º CICLO
MENTE FÍSICO
2. O Círculo de Potencialidade aporta motivação para lutar para além dos limites
com alegria.
MENTE FÍSICO
MENTE FÍSICO
MENTE FÍSICO
O subconsciente vem à tona e gera a simulação Agora não existem golpes sem
entre os adversários para se enganarem sentido, todos eles têm um alvo
mutuamente e, ao mesmo tempo, interpretarem definido.
os ataques.
MENTE FÍSICO
MENTE FÍSICO
MENTE FÍSICO
3º CICLO
MENTE FÍSICO
2.
MENTE FÍSICO
MENTE FÍSICO
A mente abre seus canais através dos outros A energia começa a fluir nas virilhas,
veículos. com deslocamentos angulares.
MENTE FÍSICO
Cria-se uma visão total que quebra a guarda do As técnicas começam a ser realizadas
adversário. com todo o coração.
296
MENTE FÍSICO
MENTE FÍSICO
4º CICLO
1. O Círculo de Potencialidade gera cri atividade e plano de luta por objetivo, com
potência total, sacrifício da energia e motivação de vitória total.
MENTE FÍSICO
MENTE FÍSICO
MENTE FÍSICO
Embora nossa cultura moderna não aceite a guerra, ela continua existindo de
forma sorrateira e escura e, embora todos tentem evitá -la, ela escorrega e explode em
qualquer lugar e em qualquer momento.
Esse fato nos assinala um limite que os homens comuns não têm poder para
ultrapassar e, ao mesmo tempo, um derradeiro caminho natural pelo qual a guerra
avança de forma independente à vontade do homem.
i. A CRIAÇÃO
Todas as tradições falam das origens como sendo uma guerra que aconteceu no
céu entre os próprios deuses, que, divididos em duas funções gerais, se confrontaram
para gerar o mundo. Essas duas funções mencionadas correspondem às funções que
surgiram a partir das duas forças anteriormente citadas: a espiritual e a material. De
acordo com isso, nos ensinam que os deuses criadores correspondem a duas categorias:
os que criam materialmente e os que criam espiritualmente.
ii. A EVOLUÇÃO
Nem o universo nem o homem foram criados do nada; tanto um quanto o outro
emanam através da evolução, que em si mesma contempla a guerra como um sistema de
destruição-regeneração constante e per iódico. A guerra é, então, um princípio da
natureza que se estabelece como alavanca e impulso de todas as coisas, devido ao fato
de que, para que algo nasça, algo tem que morrer.
iii. A IMORTALIDADE
É um fato conhecido por todos que, hoje em dia, uma escola de artes mar ciais
não é sinônimo de comportamento moral, nem de desenvolvimento de virtudes
cavalheirescas, onde possamos encontrar homens superiores. Isso se deve ao fato de
considerar as escolas de artes marciais como espécie de ginásios, onde os interessados
trabalham com uma série de técnicas físicas e repetitivas até a exaustão. Dificilmente
achamos ginásios com bibliotecas, salas de aulas, museus e atividades relativas a esses
espaços culturais.
Mais difícil ainda é que essas escolas tenham, além das práticas fí sicas, um
calendário de atividades filosóficas e culturais variado e extenso para equilibrar,
enquanto interesse, o espiritual e o psicológico com o físico e o técnico.
Por outro lado, é comum ouvirmos que o poder do homem que pratica artes
marciais radica única e exclusivamente no treinamento físico, sem considerar elementos
como a disciplina, a formação do caráter, os valores idealistas, a honra, a retidão, a
benevolência, a justiça etc.
Não resta dúvida de que um homem que possua tudo isso, mais os
conhecimentos técnicos necessários, será muito mais poderoso do que um homem
comum, que só sabe usar seu corpo. Mas também existe uma grande diferença entre o
homem comum que usufrui da tecnologia e o homem superior. Essa diferença só pode
ser salva através de um processo cultural e filosófico e do desenvolvimento de um
caminho de militância idealista das artes marciais.
Isto implica uma educação e formação marcial integral e filosófica que permita
aos discípulos desenvolver a vocação heróica através de um esforço permanente para
superar as limitações do homem comum, e o desenvolvimento de comportamentos que
sejam semelhantes ao dos homens superiores.
FIG. 1
ÉTER
FOGO AR
TERRA ÁGUA
NATUREZA
302
FIG. 2
EU
MENTAL EMOCIONAL
ETÉRICO
FÍSICO VITAL
HOMEM
Como isso é algo que podemos saber até um certo limite, começarei exatamente
por esse limite, o nosso corpo etérico -físico, ou o mais denso dos cinco elementos.
Isso se deve a que nosso corpo se compõe de dois elementos: as partículas que o
compõe, ou a substância física propriamente, e a forma do corpo, ou a carga
eletromagnética que aglutina as partículas dando a forma que é característica do corpo
humano. Esse fenômeno é semelhante ao do ímã e as limalhas. Sendo o ímã um campo
303
de força eletromagnética, ele agrupa, de acordo com sua própria forma, as partículas ou
limalhas de ferro.
FIG. 3
Na figura 3, vemos os dois elementos que comp õem o corpo humano: a parte de
dentro é o físico e o que sobressai é o etérico, que, pelo fato de ter mais potência, se
estende 2 ou 3 cm para além do físico.
FIG. 4
304
FIG. 5
FIG. 6
Para conseguir essa centralização, existe uma técnica filosófica que é a técnica
do centro, que consiste em relacionar, de forma simultânea e coordenada, os dois
vetores, o vertical e o horizontal.
FIG. 7
O vetor vertical exige que cada uma dessas zonas seja tratada de uma maneira
específica, de tal forma que a coluna se mantenha relaxada e fluida em todas as suas
zonas. Para isso, é necessário dominar a Técnica dos Sete Passos. A língua no céu da
boca (Circulação) controla a zona coccígea; a saída e a entrada do ar no ventre (Fluxo)
controlam a zona lombar; o ritmo sanguíneo e cardíaco (Pulso) controla a zona dorsal e
o fluído nervoso (Irradiação) contr ola a zona cervical. Os três passos consecutivos
(Iluminação, Focalização e Polarização) controlam o cérebro e suas glândulas.
FIG. 8
CAPÍTULO II
1) TEMA I
Do que foi dito no capítulo anterior, podemos concluir que se torna necessário
um elemento sintético que reúna a tradição das artes marciais – que hoje está esparsa e
fragmentada – com um caráter mágico. No atual momento histórico, é fundamental
desenvolver um estudo esotérico das artes marciais que permita aos praticantes se
defrontarem com o mistério de tal forma que possa ser viabilizada a trilha de retorno às
origens.
A Ação de Potencial Inteligente representa uma visão interior das artes marciais
e um diálogo direto com seu espírito, um Satori, como bem expressam os japoneses,
porém um Satori não só contemplativo, mas guerreiro.
i. OS PRINCÍPIOS DA A.P.I.
Aplicação da energia.
Domínio da energia.
Liberação da energia.
- Os sete passos
- Respiração dos três mundos
- Chikung do coração
- Os quatro dragões
- Respiração do sol
- A tigela e a coluna de luz
- O som de Buda
- Os sete passos
- Respiração abraçando a lua
- Chikung do centro 2
310
- Os sete passos
- Respiração da flecha
- Chikung dedos por dentro
- Técnicas inusitadas
- Técnica da moeda
- Respiração do bambu
- Chikung dedos por fora
- Chegar juntos
- Som e silêncio do Buda
- Os sete passos
- Respiração dos três mundos
- Chikung do centro 3
- Caminhar à guerra
- Respiração do arqueiro
- Chikung 50 toneladas
- Braço, cotovelo, anel, pescoço e corpo Nei Kung
- Respiração abraçando a lua
- Chikung do centro 3
311
- Simbolismo do centro
- Técnica do centro
- Técnica de som e imagem
- Os sete passos
- Condicionamento para combate
. Técnicas de soltar
. Técnicas de carregar
. Luta aberta
. Luta ao ponto
- Meditação do mundo
- Os sete passos
- Controle músculo-relaxamento
- Técnicas de desvio
- Técnicas de força nas pernas
- Respiração do Sauce
- Técnicas lúdicas
- Respiração do cisne
- Meditação do mundo
- Os doze passos
- Técnicas da estátua articulada
- Luta articulada com a técnica do centro
- Uso das articulações sem músculos
- Jogo de articulações
- Meditação dos cinco elementos
- Os doze passos
- Respiração dos três mundos
- Chikung centro 2
- Respiração do sol
- Leitura pela planta dos pés
. Ronda
. Antecipação
. Chegar juntos
. Articular
- Deslocamentos angulares
- Luta com os sete passos
- Meditação dos cinco elementos
- Os doze passos
- Respiração dos três mundos
- Chikung do centro 2
313
- Respiração do sol
- Triângulo leitura interior
- Luta no triângulo
. Antecipação
. Bloqueios
. Bloqueios e contra-ataques
- Luta triangular
. A dança do guerreiro
- Meditação dos cinco elementos
- Os doze passos
- Respiração dos três mundos
- Chikung do centro 3
- Respiração do sol
- Condicionamento de combate
- Percepção no centro-círculo
- Luta total
- Meditação dos cinco elementos
2) TEMA II
3. O neófito, quando atua, excede com sua resposta o estímulo que gerou sua
ação, ou não o alcança. No primeiro caso, onde permanece a energia
excedente? No segundo, onde está a energia para a ação? Ambos os casos têm
um efeito similar: a ineficiência. O artista do Potencial Inteligente nem
ultrapassa o estímulo nem tampouco fica abaixo dele. Emprega o necessário e
conveniente e sua resposta é a correta. Além disso, logra o mais alto dos
princípios, que é o de ocupar a energia que as circunstâncias lhe provêm,
guardando constantemente sua energia. Isso é eficiência.
4. Não imites a rocha, mas tampouco deves imitar o mar. A primeira é tosca e
rígida, dando uma aparência de indestrutibilidade. A segunda é persuasiva em
sua constância, já que logo destrói o escarpado, no entanto é lenta e sua ação
dura séculos. Tu podes ser ambos, ou seja, possuir a dureza da rocha e a
penetração do mar em um só instante.
7. A natureza é sempre mais constante que suas formas, daí a mudança. A vida é
mais ágil que as criaturas inconscientes, daí o sofrimento. Somente a
consciência permanece estática e eternamente dinâmica. Portanto, evite toda
ação reflexiva que não tenha sido previamente compreendida na quietude da
consciência. Se ainda assim não triunfares, não te importas, já que no final teu
triunfo será eterno.
317
2. O homem é como uma coluna de luz que vai da terra ao céu. No céu, brilha o
Pai ou o Espírito; na terra, a Mãe ou a Matéria; no meio, o filho, que és tu.
Reunifica o Pai e a Mãe em teu próprio coração e tudo o mais te será dado
por acréscimo.
10. A filosofia que conduz ao coração do Ser, em teu próprio coração, é uma
filosofia prática, que não endoculturiza, mas toma os elementos atuais que o
homem moderno possui e os orde na, fazendo com que a Unidade brilhe
diante de ti dia e noite. O contrário é uma filosofia pouco prática. O
intelectualismo conduz à mente e esta é ilusória. A filosofia prática é o
simples e direto caminho que te conduz ao coração; entre dois pontos, o
caminho mais curto é a reta e esse é o caminho do meio, em teu próprio
coração, a serviço dos demais.
11. Quando do Uno emanaram todas as coisas, estas vieram num rio de vida, que
segue seu curso e tu vais sentado em tua própria barca celeste, levando
somente o timão. Para quê remar a favor da corrente? Não é verdade que não
tem sentido? Bem, o que deves fazer agora que o conheces é contemplar a
paisagem que circunda a corrente, contemplar os altos e verdes pinheiros, os
austeros cumes nevados, as brincalhona s carpas que saltam na corrente, as
travessas gaivotas que te seguem, pois tua alma sabe que cedo ou tarde a
corrente te conduzirá ao oceano imaculado da luz eterna. Tudo isso está em
321
12. Enquanto tua mente divagar em como ajudar os demais, a Unidade não
brilhará em ti. A verdadeira meditação é aquela na qual fluis constantemente
no serviço desinteressado à humanidade. O fluir constantemente refere -se a
que tu podes servir natural e espontaneamente, sem que exista separação entre
o pensamento e a ação que realizas. A ponte atu al estendida na eternidade
pelos Mestres de Sabedoria é o coração humano e nele radica o mistério da
meditação.
13. Antes de aspirar a Deus, ou melhor, antes de aspirar ao superior, pensa, como
homem que és, no coração. Compreende isto será coerente com tu a própria
natureza e, a partir daí, ascende, agora, com paciência, até Deus, pois Este se
encontra no coração do homem. Vive em teu coração, dentro de teu coração e
verás que não existe dentro nem fora! O objetivo e o subjetivo se resolvem no
ser. O Eu Sou: tu e o coração são uma mesma coisa. Meditando em teu
coração apressas a vinda do Senhor do Mundo e tomas parte no plano divino.
10. Todas as noções vagas devem cair frente a um discípulo, antes que ele se
autodenomine mestre, embora, verdadeiramente, o mestre iluminado seja
como uma flecha sibilante através da noite. Somente será conhecido porque
sua obra atingiu o alvo.
realização eterna. Daí que também o processo artístico seja real e, por isso, só
conduza à Verdade.
1. A CONFIANÇA
2. A TRANQÜILIDADE
Se observas um entardecer, verás que cada coisa tem seu lugar, sua
função e individualidade, não obstante persista uma tranqüila Unidade
325
3. A DECISÃO
4. O TRIUNFO
5. A CONCENTRAÇÃO
Como pedra atada a uma grossa corda enrolada em rígida estaca e que,
lançada ao espaço pelo ágil braço em explosiva retenção, se detém e
estala; como águia atenta no solitário cume, avista sua presa e
inesperadamente cai sobre ela e seguramente captura; como impetuosa
onda, bate surdamente com o alcantilado e expansivamente estremece;
como ágil pluma de pintor maduro, estampa seu precioso e
indestrutível traço; como raio luminoso, penetra nas águas sem se
umedecer; só assim, e não de outra maneira, o artista do Potencial
Inteligente deveria, na luta, vencer e dominar qualquer inimigo e, para
encontrar este poder adormecido, apenas basta saber que: a
concentração da mente, emoção, energia e corpo num só momento
eficaz e certeiro só advém através da elasticidade do pensar, na
quietude consciencial por resolução firme, combinando sutil atitude
artística e brilhante intuição esclarecedora. Praticai -o desta forma e do
mundo Potencial Inteligente descobrireis para a vossa utilização.
6. A SENSIBILIDADE
7. A SUAVIDADE
8. A RETIRADA
9. A CAMUFLAGEM
Todo bom General sabe que depois da fuga é imprescindível esquecer
a batalha e todo seu fragor. A partir do novo momento, ele se aplica na
ciência do ocultamento e do passar despercebido. Para isso, ele dispõe
de todas as coisas de maneira que estas imitem o meio ambiente que
as rodeia.
O artista do Potencial Inteligente deve saber imitar este General e deve
alcançar o perfeito equilíbrio e embalo no caos geral. A sombra atrai a
luz por lei natural, é por isso que se deve pacientemente esperar o
novo passo, pois a própria Mãe Natureza possibilitará e a luz da
vitória tarde ou cedo da obscuridade emergirá.
10. A ESPREITA
brecha por onde este último pode entrar e contra -atacar. Aquele que
consiga, ao final, dominar sua mente será o dono da vitória final.
11. O CONTRA-ATAQUE
12. A PROFUNDIDADE
9. Quando nosso Senhor veio ao mundo, disse que Ele era o Rei e todos
pensaram que Ele governaria, mas Ele se pôs aos pés dos reis e
príncipes, ensinando-lhes a governar e Ele unicamente amou o poder
que do bom governo dos homens se pôde extrair. É que
verdadeiramente Ele não era apenas um Rei, mas sim dos reis de todos
os mundos, sua realeza e total essência, porém, apesar do seu grande
poder, só se dedicou a guiar o carro do melhor.
O artista do Potencial Inteligente deve manter est e exemplo e deve
proteger os homens bons, respeitando -os em suas próprias hierarquias,
pois é esta ordenada gradação a única coisa que acima de tudo deve
custodiar e defender. Ama a hierarquia natural onde e como é
estabelecida, pois tu és um Guardião da C hama e só a isto te deves
ater.
10. O sábio é virtuoso de forma natural; suas obras, portanto, lhe são
próprias e não lhe provocam admiração, já que não pode ser de outra
forma, porque ele só conhece o bem e do bem procede sempre o
melhor e, além disso, e le é o bem, portanto, o que mais pode esperar
se a vida é impessoal? Sabendo disso, quando ao Potencial Inteligente
335
12. A velhice, entre suas muitas virtudes, mostra uma que é principal: a
serenidade, já que a velhice nada tem a perder, pois aprendeu que, em
336
13. Quando Daruma olhou, durante nove anos, o muro, o que viu?
O adepto do Potencial Inteligente responde: o muro, somente o muro.
O que é o muro? E volta a responder: a consciência refletida.
O que nos quis ensinar Bodhidharma com isso? O adepto do Potencial
Inteligente responde: quando o artista do Potencial Inteligente atua, o
que vê? O neófito responde: a ação, tão só a ação, e o adepto pergunta:
o que é a ação? O neófito volta a responder: a consciência refletida.
O adepto do Potencial Inteligente diz que, entre a luz q ue provém do
Sol e o Sol propriamente dito, não há diferença, assim como não
existe diferença alguma entre o manifestado e o imanifestado. O
acreditar que há diferença é apenas uma ilusão gerada pelo descuido
de não ver apenas o muro ou a ação.
Isto a Tamo também aconteceu, mas o que ele fez? Somente não
acreditou no pensamento -emoção nem no discernimento -razão, que
entre ele e o muro cruzou.
O Mestre do Potencial Inteligente disse, quando escutou esse
colóquio: o vazio se preenche e o cheio se esvazia porq ue o vazio é o
cheio e o cheio é o vazio. Depois perguntou: e entre o espírito e a
matéria, há alguma diferença? E finalmente disse: agora, em silêncio,
flui em Deus.
337
12. O brâmane hindu ensina que existe o que eles chamam de “palavra de
poder” e que, com ela, o homem pode obter tudo o que deseja e
realizar "milagres", mas tais milagres são mais simples do que
comumente o homem ocidental imagina, pois tudo isso consiste em
pedir que o sol saia quando tem que sair, nem antes nem depois.
"Deus é o único milagre, é o únic o sábio".
3) TEMA III
Para o guerreiro, o caminho está inserido em sua própria vida, como um destino
de busca e aperfeiçoamento contínuo. Ele busca nas experiências uma forma de vida
incomum e superior. Onde a maioria vê dificuldades e empecilhos, ele encontra
desafios. A adversidade é seu alimento cotidiano e suas ferramentas são a magia, a
estratégia, a tática e a técnica, mas uma técnica onde o guerre iro se manifesta de forma
natural e simples. A isso ele denomina perfeição.
Na vida do guerreiro, nada pode ser feito com violência ou brutalidade, nada
pode ser forçado nem violentado; suas ações contêm uma vivência sutil e etérica e os
fatos considerados difíceis ou impossíveis para os demais só podem ser realizados pelo
guerreiro com estilo, com suavidade e com estética. O guerreiro se realiza quando se
domina a si próprio e esse domínio é conquistado através desse estilo de vida.
Ele nunca substitui as emoções pelo corpo, não manipula ninguém, nem
dramatiza as situações e nestas três coisas encontra o caminho, porque nessas trê s coisas
está o segredo do aqui e do agora.
Não substituir as emoções pelo corpo significa que sua ação é etérico -física,
embora suas intenções sejam mentais e psicológicas. Comumente, as pessoas se
preocupam com tudo o que lhes acontece, tensionando e es tressando seu corpo etérico -
físico até o cansaço. O guerreiro, ao contrário, se mantém constantemente relaxado,
agindo com as articulações desimpedidas e os músculos soltos. Sua força é como um
341
vento cálido e provém de seu corpo etérico. Guerreiro é aquele que, quando age, não faz
reagir a natureza. Sua atitude e comportamento são serenos.
Não dramatizar significa não temer a dor, não dar pena a ninguém e, quando as
coisas são duras, rir alegremente para mudá -las com dignidade e altura. Por isso o
guerreiro é imperturbável.
Desse ponto de vista, o guerreiro realiza proezas que estão de acordo com a lei
do caminho e da natureza e que manifestam os chamados valores morais do cavalheiro.
O cavalheiro se caracteriza por cumprir suas ações com um sentido virtu oso. As
virtudes morais lhe dão o caráter de nobreza e, nesse caminho, só se luta quando os
valores estão em jogo e sua luta tem a direção da verdade e da justiça. As ações do
cavalheiro têm um selo característico que o distingue do homem comum, por isso e le é
342
i. O QUE É UM CAVALHEIRO?
i. A OBRA HUMANA
d) CONCLUSÕES
A Ação de Potencial Intel igente é um caminho marcial que pretende unir o físico
com o etérico, ou o cérebro com o coração, de tal forma que esses dois corpos se tornem
um símbolo de interpretação e de compreensão do Universo como um todo. A chave de
pesquisa é a doutrina dos cinco elementos, que se reflete com seus ciclos, sistemas e
dinâmica na integração desses dois corpos.
Este livro é uma testemunha da existência do caminho interno das artes marciais
e, ao mesmo tempo, um convite para todos aqueles que pretendem encontrar nas artes
marciais uma forma de vida. Para eles , este livro é uma porta aberta ao mistério da
guerra interior, um caminho de discipulado que permite o domínio próprio.
Finalmente, este livro é uma homenagem àquele que trouxe esse conhecimento e
que plantou a semente em Shaolin, há aproximadamente 1.50 0 anos, o grande e sábio
Mestre da Lei da Iluminação, Bodhidharma. Seu espírito imortal continua alentando e
inspirando todos os verdadeiros buscadores do caminho da arte marcial, com o objetivo
de retornar as artes marciais às origens. Por isso, obrigado, Mestre.
PARTE IV
346
CAPÍTULO I
1) A MAGIA MARCIAL
Por outro lado, encontramos também, num contexto um pouco mais conhecido, a
chamada cultura marcial, que forma parte de uma tradição universal, por ter sido,
durante muitas épocas, comum a todos os povos civilizados. Além de encontr armos
nesta cultura marcial grandes escolas de formação e educação guerreira, encontramos
347
O problema é que, mesmo existindo essa cultura marcial, o tema que aqui
tratamos, que é o da magia marcial, fica sujeito a interpretações, crenças e superstições.
Por esse motivo, é necessário estabelece r um critério geral para poder tratar o tema de
forma séria e, principalmente, clara. Esse critério será definido através dos fundamentos
da magia marcial, ou seja, de conceitos específicos que foram passados através da
tradição das artes marciais, pelos h omens de conhecimento, também conhecidos como
os guardiões da tradição guerreira. De qualquer forma, o tema, embora seja exposto da
forma mais didática possível, nunca será popular, pois não é de caráter intelectual e,
para que essa transmissão possa ser d e fato um aprendizado, é necessário que o
interessado estabeleça um laço e um compromisso com aquele que possa lhe ensinar
essa magia marcial e esse relacionamento implica que um deles seja o mestre e o outro o
discípulo: um mestre e um discípulo guerreiro s.
Por outro lado, a palavra magia hoje em dia tem uma conotação que não tem
nada a ver com seu significado real, o que dificulta bastante qualquer coisa que possa
ser dita ou escrita. É como se um leigo pudesse ver um artista consumado executar uma
obra de arte. Para o leigo, muitas coisas não ficariam claras nem poderiam ser
explicadas de uma forma didática, porém, para o artista, todos os procedimentos e
macetes têm um sentido e podem ser mostrados e ensinados para qualquer um que
queira saber do que se trata. A magia marcial, da mesma forma, possui seus próprios
procedimentos que, quando aprendidos e aplicados, se empresam como uma arte.
no coração para perder todo o medo e a ansiedade, mas, para conseguir conquistar essa
performance, é mister que desenvolvamos a vida interior e possamos conhecer e
explorar o universo mágico da nossa própria consciência.
A segunda questão que deve ser considerada é que devemos aprender a separ ar
os sentidos das percepções e que, a partir delas, podemos desenvolver nosso
conhecimento, cuja aplicação nos possibilita uma realização não só na arte, mas também
na vida. Para trabalhar as percepções, o conhecimento e a realização, precisamos
aprender fazer arranjos, já que no universo tudo se constitui a partir de arranjos.
A magia marcial se caracteriza pelo fato de que sua s técnicas são mágicas e
exprimem uma energia diferente da que é usada convencionalmente e, quando
aplicadas, não podem ser explicadas através de racionalismos comuns, mas sim através
de axiomas ao mesmo tempo filosóficos e científicos, já que essas técnic as negam todas
as crendices, tabus ou preconceitos vulgares.
Para além disto, ela possui uma espécie de selo de qualidade, que é a proposta de
trabalho e desenvolvimento da arte. Para obter esse selo, é mister possuir a força
também chamada de Potencial I nteligente, único fator que permite ao guerreiro vencer
sem lutar.
Outro aspecto importante neste tema é o treinamento, que não é realizado nos
moldes de condicionamentos de tipo reflexos condicionados. Ao contrário, é um
trabalho de descondicionamento de qualquer tipo de reação instintiva para agir de uma
350
forma consciente e intel igente. Esse treinamento, com o tempo, desenvolve uma
disciplina que acaba mudando não só a concepção da guerra, mas também a forma de
manifestar outra solução aos problemas, situações e circunstâncias geradas por ela. A
magia marcial considera que a guerr a pode ser evitada mediante uma visão inteligente
do mundo, das circunstâncias, dos litígios, das diferenças e seu objetivo é superar a
violência em qualquer uma de suas formas, interrompendo o ciclo predador -vítima da
violência.
Em síntese, a magia marci al propõe uma trilha discipular -guerreira que permite
mudar a forma de conduzir a si próprio e de conduzir os assuntos de polarizações em
qualquer uma de suas formas. É uma trilha que harmoniza os contrários, em termos
marciais, e contesta os padrões conve ncionais através dos quais são conduzidos os
assuntos marciais.
Um dos seus axiomas mais importantes diz: vencer sem lutar, erradicando
qualquer forma de violência, é possível desde que os instintos possam ser submetidos à
inteligência em prol de uma rea lidade de harmonia universal. A vitória só pode
acontecer sobre nós mesmos, já que a realidade da guerra é interior, ou seja, “lutar
contra nós mesmos para nos dominarmos e nos vencermos”.
2) TEMA I
a) OS FUNDAMENTOS
i. OS FUNDAMENTOS TÉCNICOS
1. SINCRONISMO MENTE-CORPO
vertical.
352
Figura nº1
Figura nº2
Estes dois campos de força, vertical e horizontal, unidos geram um campo de força
comum, no qual se organizam a mente, o corpo, as emoções e as energias, de forma
concêntrica, tendo como centro a consciên cia inteligente.
353
Figura nº3
2. CÍRCULO DE POTENCIALIDADES
Figura nº4
354
3. OS ARRANJOS
Falaremos, então, dos arranjos que devem ser criados para que a magia
marcial se manifeste.
A regeneração do tempo.
O reposicionamento do espaço.
Estratégia do pensamento.
As dezesseis pétalas.
O padrão infinito.
a) A REGENERAÇÃO DO TEMPO
aprendermos a pensar num tempo novo, que já não produz neurose nem
estresse, já que nosso comportamento também se torna consciente.
b) O REPOSICIONAMENTO DO ESPAÇO
Figura nº5
358
c) A ESTRATÉGIA DO PENSAMENTO
Figura nº6
6a - Os Oito Passos:
FUTURO PRESENTE
(ATIVO)
IMAGINAÇÃO INTUIÇÃO
ATENÇÃO MEMÓRIA
PRESENTE C = CONCENTRAÇÃO
(PASSIVO) PASSADO
360
FOGO
AR TERRA
ÁGUA
d) AS DEZESSEIS PÉTALAS
Figura nº7
361
e) AS DEZESSEIS PERCEPÇÕES
Fig nº 8
362
Com relação aos elementos, fatores, armas, etc. q ue constituem as artes marciais,
talvez os olhos sejam um dos elementos mais importantes, já que, além de tudo, eles são
instrumentos da visão – entendendo visão no sentido mágico, ou seja, a capacidade de
ver aquilo que está por trás de tudo o que é visív el, o implícito, aquilo que constitui os
propósitos, as atitudes, as intenções, as forças ocultas, etc.
Figura nº9
a)
363
b)
Figura nº10
Figura nº11
Figura nº12
Figura nº13
Figura nº14
366
Figura nº15
Da nona à décima sexta forma de olhar, é como as oito primeiras, porém todas
ela tem uma irradiação dourado -amarela de fundo, semelhante à imagem de um eclipse
do sol.
367
Figura nº16
g) O PADRÃO INFINITO
a) O TREINAMENTO
b) O LABORATÓRIO
1) OS PARÂMETROS DE JULGAMENTO
2) O CONCEITO DA FELICIDADE
A grande dificuldade que temos para entender isto é que a nossa cultura
carece de verdades espirituais suficientes para permitir que a gente possa
descobrir a nossa natureza real e aprend er a conviver com ela de maneira
natural e em harmonia com todas as coisas do universo. Perdemos muito
371
tempo neste dilema de ter que viver o tempo todo correndo atrás da
felicidade, sem sequer poder vivenciá -la no fim de todos os nossos esforços
e já é tempo suficiente para considerá -la um estado de consciência que
pode ser trazido à tona através da vontade interior. Para canalizar a
vontade, devemos estabelecer um canal que possa direcionar essa vontade
até nós e, para isso, é mister descobrir nosso verdad eiro valor como seres
humanos.
A questão da felicidade pode ser conside rada através de três aspectos, com
seus respectivos axiomas:
3) O CONCEITO DA AMIZADE
A busca em duplas.
A luta contra a divisão.
A confiabilidade.
A purificação.
A companhia dos guerreiros.
A causa que motiva a amizade.
Embora possa parecer paradoxal, começarei pelo fim, ou seja, pela causa, já
que o fim, o meio e o princípio, p ara a magia guerreira, são uma realidade
única no aqui e no agora.
4) O CONCEITO DA VOCAÇÃO
A vocação é como um espelho que temos dentro de nós e que nos permite
encontrar a lei que regula as ações humanas, que é a direção moral que cada
um de nós deve encontrar, antes de faz ermos qualquer escolha em termos
vocacionais. A relação de causa e efeito só pode ser compreendida através
da nossa consciência e o resultado desta compreensão é o que chamamos de
realização.
Figura nº17
375
Figura nº18
376
5) CONCEITO DE INFINITO
a) A TRADIÇÃO
A magia marcial faz parte de uma tradição milenar que, em seu âmago,
guarda um mistério singelo, porém profundo, já que, na sua versão mais
esotérica, corresponde a uma forma de transmissão dos conhecimentos
mágicos guerreiros sempre expressados de boca ao ouvido por um mestre
guerreiro a um discípulo da mesma natureza. Estes ensinamentos encerram
uma memória de tempos “pré -históricos” e relatam de forma mítica a saga
de Reis-Magos-Guerreiros que integraram em suas grandiosas aventuras
homens de condição nobre e também guerreira e aos quais ensinaram a
lutar de forma mágica para defenderem o bom, o jus to e o belo. Também
lhes mostraram uma trilha em que a guerra é um meio de purificação para
atingir um grau de evolução maior, porém lhes ensinaram que essa guerra é
interior. Nesta tradição mágico -guerreira, os fatos não são públicos ou
conhecidos por todos, como é o caso de outras tradições. Porém, seu
resultado aparece na história através de uma filosofia e uma cultura marcial
que envolvem homens e seres de diferentes naturezas em processos
importantes da história da humanidade. Ao mesmo tempo, esses Rei s, dos
quais nos fala a tradição, representam um único grande Rei -Mago-
Guerreiro, cujo espírito seria invisível para os olhos comuns dos seres
humanos, mas que se faz presente em todos esses Reis, que são
representações visíveis desse único espírito guardi ão, conhecido na tradição
pelo nome genérico de “Senhor das Portas”. Interpretando a simbologia e a
história de muitos povos antigos, podemos observar que este mistério
encerra um tipo de iniciação mágico -guerreira com provas de valor, de
eficiência marcial, de superação de grandes limites, enfim, de
circunstâncias onde prevalece o medo em suas diferentes formas de
manifestação. Tanto é assim que o discípulo deve caminhar em direção ao
“coração do medo” e passar por desse portal. Nas tradições, conta -se que,
após atravessar esse portal, o discípulo encontra o contrário ao coração do
medo, ou seja, o coração do amor. Os tibetanos, talvez um dos povos que
mais falam sobre esta tradição, ensinam que o acesso aos mistérios do
“coração de diamante” só é possível de ser atingido por aqueles que são
378
capazes de encarar e penetrar para além do rosto do medo. Por isso seus
guardiões de portas possuem rostos apavorantes. Nesta tradição, o coração
do medo representa a morte e o coração do amor representa a vida, porém
não a vida comum, mas aquela que existe para além da morte. Isto significa
que a iniciação da magia marcial consiste em morrer para logo encontrar a
vida na morte, ou, como se ensina em outras culturas, por exemplo, na de
Tajin, o segredo da morte -viva. De acordo com esta tradição, isto é o que o
mestre ensina a seu discípulo, a descobrir o segredo da morte através do
domínio do medo. Estas tradições também ensinam que o Senhor das
Portas se manifesta nesta relação de mestre e discípulo guerreiro por meio
de um círculo de fogo, em cujo interior não existe ilusão nenhuma, só luz e
harmonia. É neste círculo de fogo que o discípulo aprende a magia marcial
e é dele que emana o código mágico da tradição. Outro aspecto que permite
o acesso aos conhecimentos da magia marcial é a predisposição de um ser
humano qualquer para avançar nesta trilha de guerra interior contra as
sombras do medo e da morte, para guiar outros seres humanos, mostrando -
lhes o caminho percorrido antes mesmo que o discípulo tenha encontrado o
mestre. Talvez a tônica mais clara desta tradição seja o fato de que as artes
marciais sejam, em sua origem, sistemas mágicos de movimentos de ataque
e defesa numa luta invisível, onde o importante é vencer a si mesmo,
adquirindo uma condição de vida caracteri zada pela existência de fatos que
canalizam um potencial inteligente.
3) TEMA II
a) O HOMEM DE CONHECIMENTO
conhecimento. O espírito da magia marcial se expressa e pode ser transmit ido através do
arranjo dos cinco elementos, técnica e metodologia que só é conhecida por um homem
de conhecimento e que consiste basicamente em circunscrever o espírito da magia
marcial e todos os discípulos em um circulo mágico intransponível, no qual é p ossível
desenvolver os cinco elementos: terra, água, ar, fogo e éter. Os resultados finais destes
ensinamentos, que se realizam através de treinamentos muitos específicos e
especializados é a construção de um campo de visão e de força, chamado olho
holográfico, com o qual se desenvolvem as técnicas mágicas. A demonstração do efeito
deste campo de visão e força é realizada tampando os olhos do discípulo, para que lute,
assim, contra um ou quatro adversários e demonstre, através de seu comportamento
marcial, uma eficiência muito superior à de qualquer outro sistema de luta.
b) AS TÉCNICAS MÁGICAS
1. TÉCNICAS DO INVENTÁRIO
a) Perimetrais. - Curtas - duras
b) Intermédias. - Longas - brandas
2. TÉCNICAS DO REGULAMENTO
Nucleadas - Lisas - voláteis
O ideal da magia marcial é vencer sem lutar, mas em que consiste e o quê
significa esse Ideal? Cons iste, em primeiro lugar, no domínio sobre si mesmo; em
segundo lugar, ação consciente e, por último, conquistar sem produzir reação no
adversário. Vencer sem lutar significa que o objetivo mais profundo da magia marcial é
a paz guerreira.
transmite o fluído que lhe é próprio, porque o cérebro não produz sinapse e o
adversário se depara com uma realidade bizarra e incapaz de compreender. Este
processo funciona como uma espécie de trava que impede a reação em tempo
real, anulando o adversário sem luta e sem violência.
2. Essa condição faz com que algum poder queira puni -lo e, para isso, o
perseguirá.
388
4. Tudo isto se focaliza em provas que o herói terá que superar para conquistar
seu destino.
4) TEMA III
Este segredo encerra uma divisão muito importante na magia marcial. Tudo o que
foi descrito até aqui tem relação com a instr ução e formação dos irmãos menores e
maiores. Quando nos referimos ao Senhor das Portas, falamos da educação dos homens
de conhecimento como guardiões desta tradição, ou seja, daqueles que, neste mundo,
sabem abrir a porta que conduz ao encontro com o Senh or das Portas. Não se trata de
uma divindade como as que aparecem na simbologia teológica, mas de uma força que se
expressa através de Reis -Magos-Guerreiros, que, muito antes dos sacerdotes das
religiões aparecerem no mundo, eles já estavam aqui entre os h omens, conduzindo-os
nesta trilha. Existem muitas tradições que nos falam disto, porém o mais importante é
que esta força continua agindo na saga da magia marcial e, portanto, é possível
recuperá-la. Os Rigden, entre os Tibetanos, os Montuhotep, entre os E gípcios, Os Reis
da Etruria, Rama-Krihna, entre os Ários, etc., corroboram com esta tradição e com a
existência deste segredo. Mas, para além dos estudos e pesquisas que possam ser
realizadas nesta área, o mais importante é entender como este espírito ance stral se
regenera de tempos em tempos e como esta magia marcial perdura através do tempo.
aconteça. Outra condição é que nessas fraternidades exista alguém de alma nobre e que
possua uma grande mística pelos ideais heróicos e que seja capaz de se responsabilizar
por uma missão que lhe seja transmitida por um misterioso instrutor de magia marcial
que, de forma desinteressada, lhe ensine a cultivar e a respeitar a tradição das artes
marciais. Além desse instrutor, outros vários intervêm na complementação dos estudos,
treinos e informações que o candidato recebe. Outra condição, talvez a mais importante,
é que nestas fraternidades guerreiras exista um antepassado que possua um grau
iniciático ou mágico e que represente para todos os discípulos o Senhor das Portas.
b) O CHAMADO
O chamado para o encontro com o Senhor das Portas se realiza através da via
interna e um guardião da tradição traz certas características desde a infância que o
direcionam para tal encontro. Filho de guerreiro, é acompanhado por um poder que o
protege e que lhe permite realizar at os de muita destreza. É capaz de vencer grandes
desafios e, para além de si próprio, é capaz de agir de forma sobrenatural através de
forças que o distinguem como um totem, representado pela forma de algum animal, ave
ou ser especial. Antes de se encontrar com o Senhor das Portas, passa por muitas
provas, tanto físicas, psíquicas, quanto espirituais, que, ao longo do tempo,
desenvolvem nele quatro grandes vórtices de energia que lhe configuram no mundo
invisível uma forma capaz de penetrar dentro da câmara interna do coração onde se
encontra o Senhor das Portas.
391
c) A LUTA MÁGICA
Podemos dizer, com toda a certeza, que a luta mágica é o ponto central da magia
marcial e, neste contexto, a luta nas artes marciais é um símbolo desta outra luta, que é
interior e profunda, no coração do discípulo (o guerreiro) e do mestre (o guardião). Essa
luta mágica estabelece uma hierarquia de valores e de prioridades e, ao mesmo tempo,
se compõe de preceitos de ouro que encerram em si toda a sabedoria contida na luta
mágica.
Com relação à hierarquização, a primeira luta surge porque o Eu mestre, por um lado,
é grande demais para o eu discípulo, a ponto de este último sentir medo só de imaginar
tanta grandeza e se nega a crescer, a se esforçar e a superar limites. O Eu mestre, ao
mesmo tempo, gera um grau de exigência bastante elevado e puxa para que seu
discípulo chegue à meta assinalada. Essa tensão gerada entre ambos produz uma
situação de opostos que se enfrentam, buscando a harmonia. O mestre faz isto sabendo o
que está acontecendo, mas o discípulo não tem consciência disto e essa inconsciência o
faz ver esta situação como ruim e destruidora de seus apegos, prazeres, comodidades
etc. Desta forma, o discípulo toma o falso pelo real, a sombra pela luz e se confunde
com sua própria mente, a qual se transforma numa espécie de espelho que inverte a
imagem do mundo e de si próprio, fazendo com que lute contra si mesmo, pensando que
está lutando contra algo alheio. Esta luta se torna totalmente irracional quando intervêm,
agora, as emoções; o me do se esconde por trás das situações e circunstâncias,
estabelecendo uma ilusão de se sentir ameaçado e justificar a luta pela necessidade de
sobrevivência. Depois, chega ao ponto de usar a própria energia para lutar com todas as
suas forças contra essa so mbra que foi gerada nessa confusão toda e, finalmente,
envolve seu corpo físico usando -o sem critério nem conhecimento, de uma forma
reflexiva, sem consciência nenhuma. Finalmente aparecem os inimigos físicos, vitais,
emocionais e mentais, como contraparte externa de uma guerra interna. Essa dualidade
externa e interna se transforma numa guerra de características mágicas pelo fato de que
as vitórias surgem de forma surpreendente quando o discípulo ganha em virtude e
sabedoria, devido a uma inspiração que ch ega de forma misteriosa e sem muita
explicação, através da qual o discípulo encontra o caminho correto. O mais mágico
nisso é que esta inspiração provém do mestre, que sempre acompanha e direciona seu
discípulo sem que ele perceba. Isto está refletido nas tradições através do símbolo de um
homem velho e sábio que anda junto com uma criança.
Os preceitos de ouro:
1) A confiança
2) A tranqüilidade
Para além do que possamos pensar, existe uma ordem no universo todo, em que
cada coisa tem seu lugar, sua própria função e seu valor próprio, porém mesmo
na multiplicidade persiste como tema de fundo a unidade, a qual se expressa em
tudo como uma compreensão quieta. Nessa quietude, a consc iência se expande e
domina. Esse modelo permite vencer a sombra da agitação e da violência.
3) A decisão
4) O triunfo
divindade. O triunfo não é só um fim, mas também uma forma de vida que
manifesta em todo momento a vitória do espírito sobre a matéria, da vontade
sobre a personalidade, da alma sobre o corpo.
5) A concentração
6) A sensibilidade
7) A suavidade
8) A retirada estratégica
Nossos desejos são forças que nos fazem fugir para o mundo exterior e cair na
periferia das coisas. Para nos libertarmos desta cadeia, devemos aprender a
movimentar nossa alma para dentro de nós mesmos e logo para cima, com o
objetivo de entrarmos em contato com a realidade da nossa alma, e não do nosso
corpo.
9) A camuflagem
10) A espreita
11) O contra-ataque
12) A profundidade
13) A obra
Toda vez que conquistamos aquilo que procuramos, devemos nos parar e fazer
um exaustivo balanço. Consolidar o que possuímos, recuperar aquilo que, no
fragor da batalha, foi deixado para trás, mas que tem algu m valor, convencer
todos de que tudo o que foi feito não só foi necessário, mas também útil e buscar
novas alianças e formas de solidariedade, mesmo com aqueles que foram nossos
adversários num dado momento. O importante é preservar a obra, perpetuar a
tradição da magia marcial e criar todo tipo de condições para que essa obra tenha
continuidade.
397
5) TEMA IV
a) O TREINAMENTO
Este conceito corresponde a uma necessidade de ação, devido a que, para que o
corpo execute movimentos e ações com eficiência, precisa de percepções prévias que
substituam seus instintos e desejos e estas percepções só surgem quando a mente
focaliza as ações que o corpo está realizando. Este sincronismo consiste numa
canalização da mente no corpo, alinhando tanto as emoções quanto as energias, para que
passem, através delas, as novas e espirituais energias que o Eu transmite à mente no
sincronismo descrito anteriormente. O treinamento de sincronismo mente -corpo
consiste em formas de descondicionamento do corpo de toda compulsoriedade que o
torna mecânico e reativo a r eflexos condicionados.
Este conceito tem relação direta com a substituição dos sentidos físicos como meios
de ação por outros meios de ação que correspondem às pe rcepções do Eu. Esta ligação
direta do Eu com o corpo permite controlar mecanismos atávicos da natureza instintiva
por meio de outra natureza muito mais humana e mais consciente do indivíduo humano.
Permite também agir sem a restrição da dúvida no momento de executar as ações,
tornando-as muito seguras e certeiras. Mediante este sincronismo, é possível lutar com
uma venda nos olhos ou atirar flechas num alvo no escuro sem visão nenhuma e acertar,
ou quebrar uma tábua de uma polegada sem impulso, etc. O trei namento deste
sincronismo depende de uma disciplina consagrada à magia marcial.
399
b) A DISCIPLINA
Existe na tradição mágica um conceito de círculo de nobreza, onde há coisas que não
devem ser feitas e também maneiras de fazer as coisas que não podem ser ut ilizadas.
Isto torna a vida de um guerreiro um espaço consagrado às virtudes guerreiras e a uma
forma específica de comportamento, pautado por uma forma de vida que não claudica,
nem se rende às fraquezas e trivialidades. Ao mesmo tempo, correspondem a uma forma
de conduta onde esses valores, do que deve ser feito e do que não deve ser feito, são
determinados pela maneira de executar todas as ações. Isto torna esse círculo de nobreza
uma espécie de anel intransponível, ou seja, há energias que não podem sai r e energias
que não podem entrar nele. A disciplina da magia marcial sacraliza esse círculo e o
constroem como oferenda ao espírito mágico da guerra interior através de um ritual
específico, que determina que, quem foi admitido nele, já não pode agir de f orma
vulgar, covarde ou profana, devendo apreender a viver e a morrer dentro dele. O
conteúdo deste círculo corresponde à técnica dos cinco elementos e à sua aprendizagem
como forma de permitir que o Eu se manifeste através do corpo e do comportamento,
criando um selo de qualidade característica do discípulo da magia marcial. O elemento
terra consiste na montagem de cinco vetores; o elemento água, numa forma de
movimento fluído e sem expectativas; o elemento ar, no controle e domínio dos gases
que compõe o organismo e o elemento fogo, no domínio das percepções acima de
qualquer outro sentido. Finalmente, o quinto elemento se relaciona com os outros quatro
através de uma espécie de holograma, que funciona com um novo campo de visão onde
todos os elementos são sincronizados. O resultado técnico deste processo como
disciplina marcial é a criação de um vácuo no centro de nós mesmos. Este vácuo se
manifesta como um silêncio intuitivo que permite ouvir o ser interior, ou espírito
mágico, e transmite um conhecimento relacionado com um caminho onde é possível
vencer sem lutar, onde não existe a violência e onde a guerra e o amor se encontram e
geram o ser mais mágico das artes marciais: a paz guerreira.
c) CONCLUSÃO
Para terminar esse trabalho, pretendo fazer algu mas considerações e colocá -las
como tema de pesquisa e desenvolvimento para todos os discípulos que conseguirem
400
Algumas considerações:
1. O conceito de magia marcial não é sinônimo do que se entende por magia nas
tradições mistéricas, mas um conc eito técnico e específico usado nas escolas
internas de artes marciais de todos os tempos.
10. A magia marcial é uma trilha oculta nas artes marciais e, para caminhar
nesta trilha, é necessário ter vocação. A vocação para a trilha mágica marcial
é a dos ideais heróicos.
Finalmente, para terminar este t rabalho, uma singela homenagem com uma
máxima de um guerreiro que foi mago e mestre da magia marcial: