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Introdução

A atual Carta Magna, no título que assegura os Direitos e Garantias


Fundamentais no artigo 5º, inciso XXXVIII, reconhece a instituição do Júri, com
a organização que lhe der a lei, resguardados a Plenitude de Defesa, o Sigilo
das Votações, a Soberania dos Veredictos e a Competência para o Julgamento
dos Crimes Dolosos Contra a Vida. A presente pesquisa tem como objeto
discorrer sobre o Tribunal do Júri, tratando dos seus princípios e suas fases.

Tribunal do Júri.

Ao ser promulgada a Carta Magna de 1988, o Júri Popular foi


conservado para a efetivação da justiça, com a atribuição de competência
idêntica à que vinha prevista desde a Constituição de 1946, ou seja, de julgar
os crimes dolosos contra a vida. Na legislação infraconstitucional, as regras do
processamento do Júri estão também dispostas no Código de Processo Penal,
nos artigos 406 a 497, que estabelece as regras processuais sobre a
competência, organização do Júri, juízo de formação da culpa e juízo da causa.

A Constituição Federal preceitua no artigo 5º, inciso XXXVIII que:

É reconhecida a instituição do Júri, com a


organização que lhe der a lei, assegurados: a) a
plenitude de defesa; b) o sigilo das votações; c) a
Soberania dos Veredictos; d) a competência para
o julgamento dos crimes dolosos contra a vida.

O texto supracitado demonstra quatro princípios de observância


obrigatória à legislação infraconstitucional que organizará o Tribunal Popular.
Quais sejam:

Plenitude de Defesa

O artigo 5º da Constituição Federal, em seu inciso LV, assegura aos


acusados em geral, especialmente no âmbito criminal, o contraditório e a ampla
defesa, e no mesmo artigo 5º, inciso XXXVIII, alínea “a”, assegura, no
julgamento pelo Júri, a plenitude do direito de defesa.

A Plenitude de Defesa encontra-se, dentro do Princípio da Ampla


Defesa, porém, possui conceito mais abrangente do que “ampla defesa”, pois é
possível valer-se de todos os meios possíveis para convencer os jurados,
inclusive argumentos não jurídicos, tais como: sociológicos, políticos,
religiosos, morais etc.
Destarte, em respeito a este princípio, também será possível saber mais
sobre a vida dos jurados, sua profissão, grau de escolaridade etc.; inquirir
testemunhas em plenário, dentre outros. Já a ampla defesa, exercida tanto em
processos judiciais como em administrativos, entende-se pela defesa técnica,
relativa aos aspectos jurídicos.

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Sigilo das Votações

Tal Princípio encontra-se consagrado na Carta Maior, no artigo 5º,


inciso, XXXVIII, alínea “b” e recebe complemento das normas do Código de
Processo Penal. Significa que a liberdade de persuasão íntima e o parecer dos
jurados de fato deveram sempre ser resguardados, devendo a legislação
ordinária indicar mecanismos para que não se inutilize o mandamento
constitucional. Tal sigilo é de fundamental importância para que os jurados
decidam com independência e imparcialidade, livres de quaisquer pressões de
ameaça e violência física.

Os juízes leigos, por essa qualidade, estão intuitivamente mais sujeitos


as pressões externas; mais susceptíveis a influência indesejáveis no processo
lógico de formação do seu convencimento, do que os magistrados de carreira.
Para que eles pudessem julgar de acordo com a sua consciência, sem medos
ou constrangimentos, a Constituição Federal assegurou-lhes o sigilo nas
votações e a lei ordinária impôs a incomunicabilidade. Tudo que possa influir,
indevida e ilegalmente, na formação desse convencimento, é causa de
invalidade do julgamento e dissolução do Conselho de Sentença.

O princípio em comento está assentado no sistema da íntima convicção


(o jurado não necessita fundamentar sua decisão.) e representa uma exceção
ao método da livre convicção fundamentada adotada pelo sistema processual
penal (art. 157 do CPP), traduzindo uma autêntica garantia para os jurados e,
como conseqüência, para um julgamento equânime, isento e justo.

Soberania dos Veredictos

O significado de soberania é “poder supremo” ou “ordem suprema”,


acima da qual outra não existe. A Soberania dos Veredictos é uma das
características essenciais do Tribunal do Júri conferida pela Constituição
Federal.

Entende-se que a decisão dos jurados, feita pela votação dos quesitos
pertinentes, é suprema, não podendo ser modificada pelos magistrados
togados. A estes, cabe apenas a anulação, por vício processual, ou, apenas
por uma vez, determinar novo julgamento, no caso de decisão manifestamente
contrária à prova dos autos. Trata-se de princípio relativo, pois no caso de
apelação das decisões do Júri pelo mérito (art.593, III, D) o Tribunal pode
anular o julgamento e determinar a realização de um novo, se entender que a
decisão dos jurados afrontou manifestamente a prova dos autos.

Julio Fabbrini Mirabete destaca que:

A soberania dos veredictos é instituída como uma das


garantias individuais, em benefício do réu, não
podendo ser atingida enquanto preceito para garantir
a sua liberdade. Não pode, dessa forma, ser invocada
contra ele. Assim, se o tribunal popular falha contra o

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acusado, nada impede que este possa recorrer ao


pedido revisional, também instituído em seu favor,
para suprir as deficiências daquele julgamento. Aliás,
também vale recordar que a Carta Magna consagra o
princípio constitucional da amplitude de defesa, com
os recursos a ela inerentes (art. 5°, LV), e que entre
estes está a revisão criminal, o que vem de amparo
dessa pretensão.

E ainda, o Supremo Tribunal Federal, declarou que a garantia


constitucional da soberania do veredicto do Júri não exclui a recorribilidade de
suas decisões. Também não fere o referido principio a possibilidade da revisão
criminal do julgado do Júri.

Competência para o Julgamento de Crimes Dolosos Contra a Vida

O Tribunal do Júri é competente para o julgamento dos crimes dolosos


contra a vida, tentados ou consumado, e também os conexos. Tais crimes
estão previstos no início da Parte Especial do Código Penal: homicídio simples,
privilegiado ou qualificado (art. 121 §§ 1° e 2°); induzimento, instigação ou
auxílio ao suicídio (art. 122); infanticídio (art. 123); e aborto (arts. 124, 125, 126
e 127). Não impedindo, contudo, que o legislador infraconstitucional lhe atribua
outras e diversas competências, por se tratar de norma apenas asseguradora.

Os crimes dolosos contra a vida não são todos aqueles em que ocorra o
evento morte. Para ser assim denominado, deve estar presente na ação do
agente o animus necandi, ou seja, a atividade criminosa deste deve se
desenvolver com o objetivo de eliminar a vida. Portanto os crimes de latrocínio
e o de seqüestro seguido de morte são da competência do juiz singular, e não
do Júri. Já que trata de crimes que o objeto protegido é o patrimônio.

Sistema Procedimental do Tribunal do Júri

A reforma do Código de Processo Penal, introduzida pela Lei n.


11.689/08, prevê um rito próprio para os processos de competência do Tribunal
do Júri, com início no art. 406.
O rito processual para os processos cujo julgamento é da competência
do júri é bifásico. Inicialmente, há uma fase preliminar, anteriormente
denominada de sumário de culpa ou juízo de acusação, que é feita no juízo
singular. Com a reforma, essa etapa é designada de instrução preliminar. E a
segunda etapa, a fase de julgamento (judicium causae), que se desenrola no
plenário, perante os jurados.

1ª Fase - Instrução Preliminar

O art. 406 dispõe que ao receber a denúncia ou a queixa, ordenará a


citação do acusado para responder a acusação, por escrito, no prazo de 10
(dez) dias, contados a partir do cumprimento do mandado ou do
comparecimento, em juízo, do acusado ou de defensor constituído, no caso de
citação inválida ou por edital (art. 406, § 1.º).

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Assim como no rito ordinário, a acusação poderá arrolar até 8 (oito)


testemunhas, na denúncia (art. 406, § 2.º).

O acusado, na resposta, poderá argüir preliminar e alegar tudo que


interesse a sua defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as
provas pretendidas e arrolar testemunhas até o mesmo limite (406, § 3.º).
Sendo apresentada à resposta o Juiz concede 50 dias ao Ministério Publico
para apresentar replica.

Na seqüência, o juiz determinará a inquirição das testemunhas e a


realização das diligências requeridas pelas partes, no prazo máximo de 10
(dez) dias (art. 410). Após a reforma de 2008, as provas serão produzidas em
uma só audiência, visando maior celeridade.

Na audiência de instrução, proceder-se-á tomada de declarações do


ofendido, se possível, à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e
pela defesa, nesta ordem, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às
acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em
seguida, o acusado e procedendo-se o debate (art. 411).

Ao contrario do sistema anterior, o interrogatório passa a ser o último


ato. Essa mudança possibilita o acusado responder fatos que foram imputados
na inquirição de testemunhas e dos laudos periciais.

Tendo em vista a adoção do princípio da concentração dos atos


processuais, também nessa fase, as alegações serão orais, pelo prazo de 20
minutos, prorrogáveis por mais 10, para a acusação e para a defesa (art. 411, §
4.º). Havendo mais de 1 acusado, o tempo previsto para a acusação e a defesa
de cada um deles será individual (art. 411 § 5.º). Ao assistente do Ministério
Público, após a manifestação deste, serão concedidos 10 (dez) minutos,
prorrogando-se por igual período o tempo de manifestação da defesa (art. 411
§ 6.º).

O artigo 411, estabelece-nos §§ 7.º, 8.º e 9.º, respectivamente: a)


nenhum ato será adiado, salvo quando imprescindível à prova faltante,
determinando o juiz a condução coercitiva de quem deva comparecer; b) a
testemunha que comparecer será inquirida, independentemente da suspensão
da audiência, observada em qualquer caso a ordem estabelecida no caput
deste artigo; c) encerrados os debates, o juiz proferirá a sua decisão, ou o fará
em 10 (dez) dias, ordenando que os autos para isso lhe sejam conclusos. O
procedimento dessa instrução preliminar deverá ser concluído no prazo
máximo de noventa dias

Ao juiz que presidiu a instrução preliminar compete proferir a decisão,


podendo pronunciar ou impronunciar o acusado, desclassificar a infração
ou absolver sumariamente.

A pronúncia é o juízo de admissibilidade da acusação, ou seja, o


magistrado reconhece que existem indícios suficientes de autoria e de prova de

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materialidade delitiva. O magistrado ao pronunciar tem que limitar se apenas a


analise de indícios de autoria e prova de materialidade, não se excedendo na
justificativa de sua decisão, evitando assim que a pronuncia seja utilizada na
segunda fase do Júri, para convencer os jurados. A decisão de pronúncia pode
ser impugnada pelo recurso no sentido estrito, conforme dispõe o art. 581, IV,
do CPP.

A impronúncia é o arquivamento do processo, sendo assim um juízo de


inadmissibilidade. Trata da hipótese do Juiz não ter se convencido da
materialidade do fato ou da existência de indícios suficientes de autoria ou de
participação. A impronúncia não contém julgamento do mérito, portanto, desde
que não ocorra a prescrição, com o surgimento de novas provas o processo
pode ser desarquivado.

O juiz pode também desclassificar a infração, isto ocorre quando o juiz


entende, a partir do convencimento formado em face das provas colhidas nos
autos, que se trata de um outro crime, desta feita, a escapar à competência do
Tribunal do Júri.

E por fim há a hipótese de absolvição sumaria que está prevista no art.


415, segundo o qual o juiz, fundamentadamente, absolverá o acusado, quando:
I – provada a inexistência do fato;
II – provado não ser ele autor ou partícipe do fato;
III – o fato não constituir infração penal;
IV – demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão do crime.

É uma decisão que encerra o processo, analisa o mérito da pretensão


punitiva, absolvendo o acusado. Por se tratar de uma verdadeira sentença, o
recurso oponível é a apelação, como previsto no art. 416 e, transitada em
julgado, não cabe mais discussão a respeito. Ocorre o efeito da coisa julgada
material.

Embora o juiz deva indicar as razões de seu convencimento, inclusive


cumprindo a norma prevista no art. 93, IX, da Constituição Federal, à
fundamentação deve ser concisa, para não exercer influência sobre o
convencimento dos jurados na segunda fase.
Com prolação, fica encerrada a fase de formação da culpa, passando-se
à segunda fase, a do julgamento do mérito, em plenário.

2ª Fase - Juízo da causa ou judicium causae

Estabilizando-se a decisão de pronúncia, os autos serão conclusos ao


juiz para decisão (art. 421, § 2.º). Ao receber os autos, o presidente do Tribunal
do Júri determinará a intimação do órgão do Ministério Público ou do
querelante, no caso de queixa, e do defensor, para, no prazo de 5 (cinco) dias,
apresentarem rol de testemunhas que irão depor em plenário, até o máximo de
5 (cinco), oportunidade em que poderão juntar documentos e requerer
diligência (art. 422).

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Deliberando sobre os requerimentos de provas a serem produzidas ou


exibidas no plenário do Júri, e adotadas as providências devidas, o juiz
presidente: ordenará as diligências necessárias para sanar qualquer nulidade
ou esclarecer fato que interesse ao julgamento da causa; fará relatório sucinto
do processo, determinando sua inclusão em pauta da reunião do Tribunal do
Júri. . O relatório em questão tem como objetivo cientificar os jurados sobre os
aspectos principais do processo, uma vez que é o primeiro contato deles com a
causa.

Realizadas as diligências e sanadas as irregularidades, considera-se


preparado o processo para entrar em pauta de julgamento, que será designado
pelo juiz, salvo se houver pedido de desaforamento. O desaforamento é a
alteração da competência jurisdicional, consistente na transferência do
julgamento para outra comarca; está previsto nos arts. 427 e 428. O art. 427
arrola as seguintes razões: a) por interesse da ordem pública; b) se houver
dúvida sobre a imparcialidade do Júri; c) se houver risco para a segurança
pessoal do acusado.

Consoante o art. 432, em seguida à organização da pauta, o juiz


presidente determinará a intimação do Ministério Público, da Ordem dos
Advogados do Brasil e da Defensoria Pública para acompanharem, em dia e
hora designados, o sorteio dos jurados que atuarão na reunião periódica.

O sorteio, presidido pelo juiz, far-se-á a portas abertas, cabendo-lhe


retirar as cédulas até completar o número de 25 (vinte e cinco) jurados, para a
reunião periódica ou extraordinária (art. 433). O sorteio será realizado entre o
15.º (décimo quinto) e o 10.º (décimo) dia útil antecedente à instalação da
reunião (§ 1.º). A audiência de sorteio não será adiada pelo não
comparecimento das partes (§ 1.º). O jurado não sorteado poderá ter o seu
nome novamente incluído para as reuniões futuras (§ 3.º).

Antes da abertura da sessão de julgamento, também será verificado o


comparecimento do número mínimo de quinze jurados, caso contrário o
julgamento será adiado (art. 463). O oficial de justiça fará o pregão, certificando
a diligência nos autos (§ 1.º), sendo certo que os jurados excluídos por
impedimento ou suspeição serão computados para a constituição do número
legal (§ 2.º). Não havendo o número legal, proceder-se-á ao sorteio de tantos
suplentes quantos necessários, e designar-se-á nova data para a sessão do
Júri (art. 464).

Ultimadas essas providências preparatórias, será efetuado o sorteio dos


sete jurados, para a formação do Conselho de Sentença (art. 467). Mas, antes
dele, o juiz fará aos jurados a seguinte advertência: "são impedidos de servir
no mesmo conselho marido e mulher, ascendentes e descendentes, sogro e
genro ou nora, irmãos, cunhados, durante o cunhado, tio e sobrinho, padrasto
ou madrasta e enteado" (art. 466).

Também antes do sorteio, os jurados são advertidos de que, uma vez


sorteados, não poderão comunicar-se entre si e com outrem, nem manifestar
sua opinião sobre o processo, sob pena de exclusão do Conselho e multa (art.

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466, § 1.°), sendo que a incomunicabilidade será certificada nos autos pelo
oficial de justiça (art. 466, § 2.º).

Será iniciada a instrução plenária quando o juiz presidente, o Ministério


Público, o assistente, o querelante e o defensor do acusado tomarão,
sucessiva e diretamente, as declarações do ofendido, se possível, e inquirirão
as testemunhas arroladas pela acusação (art. 473). Para a inquirição das
testemunhas arroladas pela defesa, o defensor do acusado formulará as
perguntas antes do Ministério Público e do assistente, mantidos no mais a
ordem e os critérios estabelecidos neste artigo (§ 1.º). Os jurados poderão
formular perguntas ao ofendido e às testemunhas, por intermédio do juiz
presidente (§ 2.º). Também é prevista a inquirição direta das testemunhas
(direct and cross examination) pelas partes após colhido o depoimento pelo
Juiz de Direito.

A seguir será o acusado interrogado, se estiver presente, na forma


estabelecida no Capítulo III do Título VII do Livro I do Código, com as
alterações introduzidas nesta Seção (art. 474). O Ministério Público, o
assistente, o querelante e o defensor, nessa ordem, poderão formular,
diretamente, perguntas ao acusado (§ 1. º). Os jurados formularão perguntas
por intermédio do juiz presidente (§ 2. º).

As partes e os jurados poderão requerer acareações, reconhecimento de


pessoas e coisas e esclarecimento dos peritos, bem como a leitura de peças
que se refiram, exclusivamente, às provas colhidas por carta precatória e às
provas cautelares, antecipadas ou não repetíveis (art. 473, § 3.º)

Encerrada a instrução, será concedida a palavra ao Ministério Público,


que fará a acusação, nos limites da pronúncia ou das decisões posteriores que
julgaram admissível a acusação, sustentando, se for o caso, a existência de
circunstância agravante (art. 476).

O tempo destinado à acusação e à defesa será de uma hora e meia para


cada, e de uma hora para a réplica e outro tanto para a tréplica (art. 477).
Havendo mais de um acusador ou mais de um defensor, combinarão entre si a
distribuição do tempo. Na falta de acordo, o tempo será dividido pelo juiz
presidente, de forma a não exceder o determinado (§ 1. º). Havendo mais de
um acusado, o tempo para a acusação e a defesa será acrescido de uma hora
e elevado ao dobro o da réplica e da tréplica (§ 2. º).

Normalmente, os oradores não podem ser interrompidos ou


importunados durante sua manifestação. Nem o juiz poderá intervir durante a
fala, exceto para regular o tempo de debates, se não houver entendimento
entre as partes (art. 477, § 1. °).

Concluídos os debates, o presidente indagará dos jurados se estão


habilitados a julgar ou se necessitam de outros esclarecimentos (art. 480, § 1º).
Se houver dúvida sobre questão de fato, o presidente prestará esclarecimentos
à vista dos autos (§ 2º). Os jurados, nesta fase do procedimento, terão acesso
aos autos e aos instrumentos do crime se solicitarem ao juiz presidente (§ 3º).

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O Conselho de Sentença será questionado sobre matéria de fato e se o


acusado deve ser absolvido. Os quesitos serão redigidos em proposições
afirmativas, simples e distintas, de modo que cada um deles possa ser
respondido com suficiente clareza e necessária precisão. Na sua elaboração, o
presidente levará em conta os termos da pronúncia ou das decisões
posteriores que julgaram admissível a acusação, do interrogatório e das
alegações das partes (art. 482 e parágrafo).

De acordo com o art. 483, os quesitos serão formulados na seguinte


ordem, indagando sobre:

I – a materialidade do fato;

II – a autoria ou participação;

III – se o acusado deve ser absolvido;

IV – se existe causa de diminuição de pena alegada pela defesa;

V – se existe circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena,


reconhecidas na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram
admissível a acusação.

O terceiro quesito terá redação na própria lei (os jurados absolvem ou


condenam o acusado?) e abrange todas as teses de defesa, de modo que se
afastam as fontes de nulidades.
A indagação constante desse terceiro quesito tem a virtude de não induzir os
jurados a resposta afirmativa ou negativa, como ocorreria caso o quesito
indagasse, "se os jurados condenam" ou, alternativamente, “se os jurados
absolvem o acusado”. Para o terceiro quesito são criadas cédulas especiais
com as palavras condeno e absolvo.

Após a elaboração do questionário, o presidente lerá os quesitos e


indagará das partes se têm requerimento ou reclamação a fazer, devendo
qualquer deles, bem como a decisão, constar da ata. Ainda em plenário, o juiz
presidente explicará aos jurados o significado de cada quesito (art. 484 e
parágrafo).

É mantida a incomunicabilidade dos jurados em sala secreta. A sala


secreta ou esvaziamento do plenário para a cerimônia da coleta dos votos e
sem quaisquer novos comentários ou observações sobre o que votar ou como
votar, tem como foco evitar influências nocivas à liberdade de expressão do
voto e os esclarecimentos insinuantes.

Para assegurar o sigilo do voto, o oficial de justiça recolherá em urnas


separadas, as cédulas correspondentes aos votos e as não utilizadas (art.
487). Portanto, são recolhidas, primeiro, as cédulas que contém os votos,
depois as não utilizadas (descarte), sendo dessa forma obtido o resultado do
julgamento (o veredicto), que é lançado no termo próprio (art. 488). A votação
será interrompida ao atingir-se a maioria de votos.

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O Juiz Presidente, no caso de condenação fixará a pena base,


considerará as circunstâncias agravantes ou atenuantes alegadas nos debates,
imporá os aumentos ou diminuição de pena em atenção às causas admitidas
pelo júri e observará o disposto no art. 387, no que for cabível.

No caso de absolvição: mandará colocar em liberdade o acusado se por


outro motivo não estiver preso; revogará as medidas restritivas provisoriamente
decretadas; imporá se for o caso, a medida de segurança cabível.

Mas, em vez de condenar ou absolver, as respostas dos jurados poderá


ensejar a desclassificação, por duas formas: desclassificação própria:
respondendo negativamente ao quesito referente ao nexo causal ou à tentativa
de homicídio, os jurados estarão dizendo que não se trata de um crime doloso
contra a vida, mas outra infração de competência do juiz singular. Nesse caso,
ao presidente do Tribunal do Júri caberá proferir sentença em seguida,
conforme dispõe o art. 492, § 1.°; desclassificação imprópria: decorre do
acolhimento de uma tese formulada pela defesa, por exemplo, alegando a
ocorrência de crime culposo, cujo quesito deve ser formulado logo após os que
tratam do fato principal ( art. 483, § 4.º). Aqui os jurados afastaram o crime
doloso contra a vida, mas reconhecem a prática de um outro delito
determinado.

A sessão de julgamento é registrada numa ata, lavrada pelo escrivão e


subscrita pelo juiz e pelo representante do Ministério Público (art. 494), cuja
feitura é considerada indispensável.

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Conclusão

O Tribunal do Júri, previsto na Constituição Federal em seu artigo 5º,


XXXVIII, é cláusula pétrea intocável. A Constituição assegura a plenitude de
defesa (no procedimento do júri, a autodefesa e a defesa técnica, são
exercidas de forma plena. Podendo ser utilizado argumentos jurídicos e
extrajurídicos), a soberania dos veredictos (cabe apenas aos jurados
decidirem pela condenação ou absolvição do acusado; decisão essa que, em
regra, não pode ser modificada pelos Tribunais), o sigilo das votações (os
votos dos jurados são secretos) e a competência para julgar crimes dolosos
contra a vida (o tribunal do júri é competente para julgar homicídio doloso,
infanticídio, aborto, auxílio, induzimento ou instigação ao suicídio, em suas
formas tentadas ou consumadas. Esse rol de crimes pode ser ampliado por
meio de leis infraconstitucionais. Cabe também ao júri julgar os crimes comuns
que são conexos aos crimes dolosos contra a vida).

O procedimento do júri segue o sistema bifásico: a 1º fase, chamada de


Instrução Preliminar e a 2ª fase chamada de Juízo da causa ou judicium
causae.

A primeira fase é realizada pelo juiz singular e segue o mesmo


procedimento dos crimes apenados com reclusão. Tem a finalidade de formar o
juízo de admissibilidade da acusação. Inicia-se com o recebimento da denúncia
ou queixa e termina com a decisão de pronúncia, impronúncia, desclassificação
ou absolvição.

A segunda fase é realizada pelo Juiz presidente e pelo conselho de


sentença (7 jurados que irão julgar o acusado). Tem a finalidade de julgar o
mérito do pedido. Inicia-se com o trânsito em julgado da sentença de
pronúncia, quando o Juiz determina a intimação do Ministério Público e do
defensor para apresentarem, respectivamente, o rol de testemunhas. Termina
com o trânsito em julgado da decisão do Tribunal do Júri.

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