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Eis o artigo.
Entre o fim dos anos 20 e início dos 30, Benjamin se uniu a um grupo de
amigos muitos atraentes, entre os quais Gert Wissing, Oga Parem e Eva
Hermann, que tinham em comum uma própria e especial relação com a
aparência.
Nos diários escritos em Costa Azzurra entre maio e junho de 1931, ele procura
descrever essa relação, ligando-a ao tema da aparência que tinha abordado,
anos antes, no ensaio sobre o romance de Goethe. “A mulher de Speyer”,
escreve, “me referiu estas surpreendentes palavras de Eva Hermann, nos dias
da sua depressão mais profunda: ‘Se já sou feliz, nem por isso devo sair por aí
com um rosto cheio de rugas’. Essa frase me fez entender muitas coisas e,
acima de tudo, que o contato periférico que, nos últimos anos, tive com essas
criaturas – Gert, Eva Hermann etc. – é apenas um eco fraco e tardio de uma
das experiências fundamentais da minha vida: a da aparência [Schein]. Ontem,
falei sobre isso com Speyer, que, por sua parte, refletiu também sobre essas
pessoas a fez a curiosa observação de que elas não têm nenhum senso de
honra, ou melhor, que o seu código de honra é de dizer tudo. Isso é muito certo
e prova como é profunda a obrigação que elas sentem com relação à
aparência, porque esse ‘dizer tudo’ é entendido, sobretudo, como anular o que
é dito, ou melhor, uma vez anulado, fazer dele um objeto: só enquanto
aparente [scheinhaft], ele se torna assimilável para elas”.
Notas: