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Fenomenologia
Profª Ramila Ferrari
Husserl 2

 Que ciência é essa? Que vê o homem separado do mundo e de


si mesmo.

 Percebe um homem diferente do que era visto pela cultura e pela


ciência de seu tempo;

 Husserl propõe uma nova forma de se ver o homem;

 É diante deste “novo” homem que a ciência passa a ser


entendida como limitada.
Husserl 3

 Final do século XX: desmoronamento dos grandes sistemas


filosóficos tradicionais;

 Supremacia da ciência: Positivismo.

 Surgimento de críticas e questionamentos abalando o


pensamento positivista.
Husserl 4
 Questionamento do positivismo científico
 Verdade e fatos
 Ciências naturais: única forma de fazer ciência
 Método experimental e objetivo (anulação subjetividade)
 Cientista e objeto são independentes
 Metodologia adotada pela psicologia

 Influência desse positivismo na cultura:


 Crítica à separação entre sujeito e mundo (cientista e objeto, observador e
observado).

Pensamento fenomenológico ≠ pensamento do senso comum


Husserl 5
 Husserl reconheceu novo tipo de percepção do homem.
• A base de seu trabalho se tornou o questionamento da relação entre sujeito e
objeto, como se constitui o conhecimento.

 Até então toda a ciência estava estruturada em um método objetivo,


experimental.

 Os cientistas se preocupam em explicar os fatos, explicar o verdadeiro significado


da realidade.

 Este método foi adotado pelas ciências da natureza e passou a ser usado também
pela psicologia.
Mesma
Contestação metodologia para
de Husserl. conhecer o homem
que a geologia?
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 Objetivo da ciência

 Chegar a VERDADE dos FATOS

 O que é a VERDADE?

(verdade das ciências = verdade para o homem?)

“... a verdade, do ponto de vista humano,


reside no sentido, não no fato.”
(Bello, 2006)
Husserl 7

Fatos x Sentidos

 Proposta de um outro modo de conhecimento: diferente do


científico.

 Pergunta científica: “Por que o céu está cinza?”

 Pergunta fenomenológica: “Sentir o que o cinza do céu desperta


em mim.”

 Método diferente para se conhecer o sentido das coisas:


apreender seu significado.
Husserl 8

 As
ciências humanas e da natureza descrevem
apenas alguns aspectos do que é o ser humano,
mas não são suficientes para compreendê-lo.

Adescrição de seus aspectos, características é


uma explicação apenas superficial: é necessário ir
mais fundo, escavar mais e em diferentes níveis
para se dizer o que é o ser humano (Bello, 2006).
O que é fenomenologia? 9

 Phanomenon – aquilo se mostra a partir de si mesmo;

 Logos – ciência/estudo;

Ciência ou estudo do fenômeno, em seu


sentido mais genérico, entendem-se tudo
o que aparece, que se manifesta ou se
revela por si mesmo.

Ter consciência é estar


Tudo o que chega a consciente das vivências que
consciência. decorrem do que vivemos.
Fenômeno e Consciência 10

 A fenomenologia se dedica ao estudo de como os fenômenos se


manifestam na consciência;

 Trata-se da realidade se fazendo consciente ao homem por meio


do sensorial, perceptivo, racional;

 A forma como um fenômeno se manifesta se expressa na minha


mente, é como vou mostra-lo ao mundo;

 Uma pessoa que vive através de relatos tem uma outra


manifestação do fenômeno do que quem viveu;

Ex. uma pessoa que estudou sobre um país por 50 anos e outra
pessoa que esteve lá por dez minutos;
Fenomenologia 11

 Nãoé um conjunto de ensinamentos, mas um método


que pretende chegar ao fenômeno por visão categorial
para captar sua essência.

A fenomenologia surge como um método para se chegar


ao fenômeno, ao real sentido das coisas. Essencial para
investigar e compreender o homem.
Fenomenologia 12

 Distingue dois tipos de conhecimento:

PERCEPÇÃO OBJETIVA x PERCEPÇÃO CATEGORIAL

FATOS x SENTIDOS
Fenomenologia 13

 Percepção Objetiva: é própria da investigação reflexiva na


qual o sujeito estabelece uma distância em relação ao
objeto e procura analisá-lo em suas características,
elementos e funções. É a percepção própria das ciência da
natureza.

 Percepção Categorial: é imediata, espontânea, pré-reflexiva,


própria do vivenciar imediato. Nela não há separação entre
consciência e objeto. Assimila uma realidade básica, anterior
à reflexão. É a percepção própria das ciências do homem.
Fenomenologia 14

 A partir desta percepção :

 Homem e objeto são inseparáveis, um só existe em


função do outro.
 O homem é impossível de ser concebido fora de seu mundo, das coisas que o
cercam.

 É através da consciência que o homem tem contato com o mundo, logo é


através da consciência que conhece as coisas.
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Principais Conceitos
Consciência Intencional 16

 A consciência não existe


independente do objeto, ela é
sempre consciência de algo.

 A intencionalidade é o ato de
atribuir um sentido, possibilitando a
integração entre consciência,
objeto e mundo (Forghieri, 2011).

 Assim o mundo também não é em


si, mas é sempre um mundo para a
consciência – um mundo para si.
Fenômeno 17

 Experiência básica e primordial do ser


humano – pensar, sentir, perceber...

 É pré-reflexivo, anterior à separação


entre consciência e objeto, entre
sujeito e mundo;

 Fenômeno é tudo sobre o que se pode


ter consciência – independentemente
de como esta se dá.
Retorno às coisas mesmas 18
 Voltar-se ao fenômeno, à
consciência intencional;
 Voltar-se ao vivido.

Redução fenomenológica
 Colocar os conhecimentos de senso
comum (da ciência e crenças
pessoais) entre parênteses para
perceber algo como realmente se
apresenta para mim.
(PARÊNTESE) 19
 A fenomenologia de Merleau-Ponty é marcada
por uma radical superação das dualidades - tais
como interior-exterior, subjetivismo-objetivismo,
natural-cultural.

 Não há homem interior!

 Homem e mundo se constituem mutuamente.

 Inerência corpo e mundo.

 A prática da redução fenomenológica será


sempre uma tentativa, nunca inteiramente Maurice
realizada: não se pode pensar a essência Merleau-Ponty
1908 - 1961
desvinculada do mundo.
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...a distinção dos dois planos (natural e
cultural) é, aliás, abstrata: tudo é
cultural em nós (o nosso Lebenswelt é
‘subjetivo’) (a nossa percepção é
cultural/histórica) e tudo é natural em
nós (mesmo o cultural repousa sobre o
polimorfismo do Ser selvagem).
(Merleau-Ponty, 1964/2007, p. 229)
Este mundo, que parece estar sem mim,
que me cerca e me ultrapassa, sou eu
quem o faz. Sou então uma consciência,
uma presença imediata ao mundo, que
não há nada que possa pretender ser
sem ser tomada de qualquer maneira
dentro do tecido da minha experiência.

(Merleau-Ponty, 1948/1996, p. 38)


Estudo de caso 21
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Relato de vivência

Procurei a terapia por estar me sentindo muito triste, tenho chorado


com facilidade e preocupo-me com problemas do cotidiano que
não me afetavam anteriormente. Tenho dormido mal... Demoro a
dormir e, se consigo, desperto sempre ao nascer do sol engasgado
por uma angustia. Sinto aperto no peito. Não tenho disposição para
realizar as atividades do dia-a-dia, faço um grande esforço para sair
da cama e ir ao trabalho.

(continua...)
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Relato de vivência

O simples fato de sair de casa me causa uma angústia


tremenda. Sinto-me atordoado com o barulho dos carros – que
me parecem feras prontas para atacar – sinto-me oprimido
diante das construções, como se os prédios se inclinassem sobre
mim e fossem desabar a qualquer momento. O sol me sufoca.
Não sinto vontade de me divertir. O lazer que era tão prazeroso
antes, agora não faz sentido.
(continua...)
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Relato de vivência

Não sinto mais vontade de encontrar meus amigos e quando penso


em fazer um esforço desisto ao lembrar que vou ser “cobrado” a
reagir e não me deixar abater. Sinto-me julgado e incompreendido
por eles. Fui ao cardiologista, porque tenho sentido uma palpitação e
uma falta de ar repentinos em momentos diferentes do dia...
Entretanto, o médico disse que não tenho nada: meus exames deram
normais. Não consigo mostrar aos outros onde está meu problema...
Não consigo entender onde está meu problema.
Fim.
3 QUESTÕES 25

Pessoa terapeuta X Redução Fenom. X CID-10

 Como a psiquiatria (e psicologia clássica) compreenderiam esse tipo de expressão?

Diagnóstico

 Como poderíamos compreender este caso a partir de uma compreensão


fenomenológica?
Intencionalidade,
Fenômeno, Retorno às
coisas mesmas.

 Qual atitude seria adequada ao psicoterapeuta?

Redução
Fenomenológica
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O que é depressão?

➢ Os conceitos relacionados a questões psicopatológicas são


conceitos abstratos, não são pessoa – por isso não são
considerados temas fenomenológico-existenciais.
Dois métodos que são utilizados na 27
tentativa de se compreender os
transtornos psíquicos:

Explicativo X Compreensivo

Fenomenologia
Psiquiatria Ciências
Ciências Naturais Humanas
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Método explicativo
Ênfase no biológico, buscando-se a etiologia e os mecanismos
fisiopatológicos. Ou recai no meramente psicológico, voltando-se a
averiguação às experiências infantis como origem dos traumas
atuais.

 Reducionismo: preponderância do orgânico ou psíquico.

 Visãomecanicista, fragmentária, onde predomina a visão de


separação entre mente e corpo, sujeito e mundo.
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Método compreensivo

Utiliza o método proposto pela fenomenologia com o propósito de


buscar o sentido da vivência humana.

➢ Rompe o paradigma mecanicista, considerando o homem em


sua totalidade. Rompe com o dualismo definindo o eu como
síntese do corpo e da mente (mundo).
Existencialismo e Fenomenologia? 30

✓ Da doutrina de Kierkegaard, os existencialistas extraíram os temas básicos de sua


reflexão;

✓ O método para analisá-los e discuti-los lhes será fornecido pelo filósofo alemão
Edmund Husserl.

✓ A fenomenologia “empresta” seu método para o entendimento das questões


relacionadas ao psiquismo humano.

Investigação da experiência subjetiva do indivíduo.

Fenomenologia Existencialismo
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Bello AA. Introdução à fenomenologia. Bauru:
Edusc, 2006.
Forghieri YC. Fenomenologia, existência e
psicoterapia. In: Fenomenologia e psicologia. São
Paulo: Cortez Editora, 1984.
Moreira V. Fundamentos filosóficos das psicoterapias
de base humanista. Revista de Psicologia, Fortaleza,
1993/94, 12(1/2):111-23.
Penha J. O que é existencialismo. São Paulo: Editora
Brasiliense, 1987. Referências
Sartre, J.P. (2014). O existencialismo é um
humanismo. Petrópolis: Ed. Vozes.
Van den Berg JH. O paciente psiquiátrico: esboço
de psicopatologia fenomenológica. Editora Mestre
Jou: São Paulo, 1966.
Ziles, Urbano. (2007). Fenomenologia e teoria do conhecimento
em Husserl. Revista da Abordagem Gestáltica, 13(2), 216-221.
Recuperado em 26 de mar• o de 2021, de
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-
68672007000200005&lng=pt&tlng=pt.

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