Você está na página 1de 4

As Imagens da organização

Morgan, G. (1996), p. 43-80

Mariano Ceratti
Faculdade Meridional IMED
Passo Fundo – RS

As organizações podem ser vistas também como organismos vivos, que necessitam da
satisfação de suas necessidades para sobreviver. Pode-se perceber que algumas organizações
burocráticas tendem a se desenvolverem em ambientes mais estáveis, enquanto outras como por
exemplo organizações do segmento de alta tecnologia conseguem se desenvolver em ambientes
mais hostis. A ideia desta metáfora é traçar as relações das células, moléculas e organismos com os
indivíduos, grupos e organizações. Tem seu foco no relacionamento entre objetivos, estruturas e
eficiência.
A organização vista como um organismo teve um grande avanço, pois entendeu que os
colaboradores são um organismo complexo e necessitam de motivação, ao contrário das teorias
anteriores que viam trabalho como uma necessidade básica e que a motivação era suprida pelo valor
a ser pago, fato comprovado pela pesquisa de Elton de Mayo sobre motivação.
Iniciado pelas pesquisas de Maslow, passando por pensadores como McGregor, Argyris e
Herzberg, foi possível notar que os colaboradores possuíam melhor desempenho quando lhes era
atribuído responsabilidades, fazendo estes se sentirem significativos, como o exemplo da Volvo na
Escócia e as minas de carvão na Inglaterra.
Este pensamento teve seu enfoque sistêmico inspirado no biólogo Ludwig Von Bertalanffy,
este enfoque reconhecia que as organizações são sistemas abertos que interagem com o ambiente
onde está inserida, reconhecendo a importância de clientes, fornecedores, sindicatos, governos,
dentre outros fatores externos. A partir desta visão foram desenvolvidos alguns conceitos, sendo
eles:
Sistemas abertos: Sistemas orgânicos que interagem com outros sistemas;
Homeostase: Capacidade de auto regulação e estado de equilíbrio;
Entropia: Capacidade dos sistemas fechados em se auto deteriorar, no caso de sistemas abertos
ocorre entropia negativa, que buscam energia externa para sobreviver;
Estrutura: Forma como o organismo é composto e interage;
Função: O que o organismo realiza;
Diferenciação: Particularidades do organismo e sua especificidade;
Integração: Interligação com demais organismos;
Equifinalidade: Parte do pressuposto que um sistema aberto pode apresentar várias formas para
chegar ao mesmo resultado;
Evolução dos sistemas: Possibilidade de evolução e transformação ante a mudança;
A visão socio técnica é ampliada para abranger aspectos sociais, técnicos, administrativos,
estratégicos e ambientais, em outras palavras “tudo depende de tudo”. Assim como o enfoque socio
técnico busca equalizar os requisitos humanos e técnicos, a teoria dos sistemas abertos busca
balancear subsistemas.
A teoria contingencial defende que as organizações são sistemas que necessitam de
cuidadosa administração para satisfazer e equilibrar suas necessidades internas, sendo que a melhor
forma de organiza-las depende do ambiente ou tipo de tarefa desenvolvido, tendo a sua
preocupação no atingimento de “boas medidas”. Os estudos de Burns e Stalker, demonstraram que a
flexibilidade das organizações é necessária ante as mudanças aceleradas, em alguns casos onde as
mudanças são mais lentas, o enfoque mecanicista não apresenta problemas significativos, porém em
organizações com mudanças recorrentes, enfoques mais orgânicos e flexíveis tendem a apresentar
melhores resultados.
Nas organizações mais eficazes, onde as mudanças são dinâmicas, as pessoas são
contratadas pela sua habilidade geral e perícia, sendo encorajadas a não só encontrarem o seu lugar,
e sim definir a sua parcela de contribuição para a organização. Esta teoria organizacional foi muito
usada na indústria eletrônica nos últimos 35 anos, pois necessitava motivar o mercado a adquirir
seus produtos, e estar na vanguarda da inovação, o que demandava um certo grau de flexibilidade.
Os estudos de Joan Woodward, demonstraram que os princípios das teorias clássicas nem
sempre foram os melhores a serem seguidos, e que, diferentes tecnologias requerem diferentes
solicitações aos indivíduos. Burns e Stalker, concluíram que o sucesso de uma organização depende
do equilíbrio entre estratégia, estrutura, tecnologia, necessidades pessoais e ambientes externos.
Paul Lawrence e Jay Lorsch, trouxeram a luz duas linhas de pensamento: a primeira afirma
que diferentes tipos de organização são necessários para atender diferentes mercados, e, as
empresas que trabalham com ambientes externos mais incertos precisam ter maior grau de
diferenciação interna. Estes autores geraram o refinamento da ideia que algumas organizações
necessitam ser mais orgânicas que outras para o sucesso de suas operações.
Mintzberg, classificou 5 tipos de organizações: a máquina burocrática, a forma
departamentalizada, a burocracia profissional, a estrutura simples, e as organizações adhocraticas.
Estes estudos buscavam demonstrar que a eficácia da organização depende de um conjunto de
relações tais como tamanho, idade, estrutura, e condições existentes no seu ramo.
A burocracia propicia maior autonomia profissional em condições relativamente estáveis,
gerando um achatamento no organograma; A estrutura simples e a adhocracia tendem a apresentar
maior eficiência em ambientes instáveis, tendo uma organização informal e flexível, sendo a
adhocracia utilizada geralmente em organizações temporárias como consultorias e gestão por
projetos, sendo mais flexível e utilizando a organização matricial como forma de derrubar barreiras
de especializações, porém, este tipo de organização depende de auto grau de coleguismo e
habilidade interpessoal.
As organizações de sucesso parecem utilizar formas híbridas de organização e compartilhar
de características distintas que são apropriadas ao seu ambiente. Thomas Peters e Robert Waterman
em 1982 descreveram 8 princípios de organizações com excelência, sendo eles: orientação para
ação, proximidade com o cliente, autonomia e espírito empreendedor, proatividade, ações
inspiradas em valores chaves, apoiar-se naquilo que é bem feito, estrutura simples e enxuta, linha de
conduta leve e restrita.
Através das teorias contingenciais, foram formados alguns especialistas que buscam
diagnosticar e corrigir as organizações, através dos questionamentos: qual é a natureza do ambiente
organizacional? Que tipo de estratégia está sendo adotada? Que tipo de pessoas está sendo
contratada e qual a sua cultura? Como a organização está estruturada e qual a sua filosofia? Através
deste questionamento pode-se diagnosticar os fatores tecnológicos, estruturais e administrativos.
Embora o esquema analítico deve ser conduzido em toda a organização, deve ser realizado nas
subunidades da empresa também.
A seleção natural busca propiciar uma maior flexibilidade as organizações neutralizando
desequilíbrios, sendo esta seleção realizada através da análise das populações de organizações. A
seleção natural em biologia reza que somente os organismos que se adaptam ao ambiente
sobrevivem, isto também ocorre em administração e nos faz refletir: que fatores influenciam seus
números e distribuição? Que fatores influenciam a habilidade de uma população adquirir ou reter
nichos de recursos? Na visão dos ecologistas organizacionais, é a capacidade de obter nichos de
recursos se diferenciando dos concorrentes que perpetua a organização. Porém alguns críticos, esta
visão é muito polêmica, visto que não se consegue obter uma direção estratégica.
Muitos biologistas acreditam que o ecossistema como um todo evolui, e este deve ser levado
em consideração, como dito por keneth Boulding, isto envolve a sobrevivência do ajustamento e não
a do mais ajustado. Isto nos remete a organizações que cooperam para promoverem a mudança,
como pode ser exemplificado pelas associações de classes e os lobbies. O essencial nesta teoria é a
criação de uma forma para pensar e agir na solução dos problemas.
Tratando-se de forças desta metáfora, podemos citar, a ênfase colocada na relação entre a
organização e o ambiente, encorajando a explorar as organizações como sistemas abertos e flexíveis.
Sobrevivência é um processo ao tempo que objetivos são metas ou pontos finais. Esta metáfora
também possibilitou a identificação de diferentes espécies de organização, bem como trouxe a luz as
organizações orgânicas como meios de inovação. Por finalizar nos conotou a importância de relações
Interorganizacionais para a sobrevivência das organizações.
Como fraquezas da metáfora, podemos afirmar que é errôneo acreditar que as organizações
necessitam se adaptar ao ambiente. Outra fraqueza consiste em analisar a organização como
unidade funcional isolada. O principal perigo desta metáfora é tornar-se uma ideologia.

Você também pode gostar