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TJPA - 2º Grau

PJe - Processo Judicial Eletrônico

07/04/2022

Número: 0861698-16.2019.8.14.0301
Classe: RECURSO INOMINADO CÍVEL
Órgão julgador colegiado: 2ª Turma Recursal Permanente
Órgão julgador: Gabinete Provisório TR 02
Última distribuição : 18/03/2021
Valor da causa: R$ 39.551,88
Processo referência: 0861698-16.2019.8.14.0301
Assuntos: Lei de Imprensa, Direito de Imagem
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
LEONARDO DO CARMO OLIVEIRA (RECORRENTE) LARA RODRIGUES DOS SANTOS (ADVOGADO)
JESSICA SANTOS PEREIRA (ADVOGADO)
OSVALDO DE JESUS MACIEL CARNEIRO (RECORRIDO) ALEXANDRE CARNEIRO PAIVA (ADVOGADO)
Documentos
Id. Data Documento Tipo
8893217 07/04/2022 Acórdão Acórdão
11:08
RECURSO Nº 0861698-16.2019.8.14.0301
RECORRENTE: OSVALDO DE JESUS MACIEL CARNEIRO
RECORRIDO: LEONARDO DO CARMO OLIVEIRA
ORIGEM: 8ª VARA DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE BELÉM
RELATORA: JUÍZA ANA LÚCIA BENTES LYNCH

EMENTA: JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS. RECURSO INOMINADO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO


DE FAZER C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS, COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE
TUTELA. DIREITO A IMAGEM E A HONRA. LIBERDADE DE IMPRENSA. GRATUIDADE
CONCEDIDA EM SEDE DE JURISDIÇÃO DE 1º GRAU. DANOS MORAIS NÃO
CONFIGURADOS. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO PARCIALMENTE.

1. O autor alega na Inicial que o réu tem o domínio de uma página na internet denominada
jesocarneiro.com.br, na qual veiculou notícias inverídicas e foto do autor, obtidas de forma
ilegal, sobre supostos crimes cometidos pelo autor e sua esposa. Que a matéria possuía
cunho vexatório e sensacionalista, e se deu a partir de uma quebra de um sigilo de
informações de dados da SUSIPE. Reforça o autor que foi absolvido dos fatos imputados e
que é um oficial superior da policial militar do Estado do Pará, tendo sua imagem e estado
psicológico extremamente prejudicados.

2. Em Contestação aduz o reclamado que seu blog reproduziu notícias e imagens públicas
de sites oficiais, jornais impressos, televisão e demais blogs jornalísticos, sempre
cumprindo com a obrigação de informar, sem fazer qualquer juízo de valor.

3. O Juízo de 1º grau julgou a ação procedente para condenar o reclamado ao pagamento


de indenização por danos morais ao reclamante no valor de R$2.000,00 (dois mil reais),
corrigida e acrescida de juros de mora de 1% (um por cento) ao mês, a contar da
sentença, e tornar definitiva a tutela de urgência concedida.

4. Inconformado o reclamado/recorrente apresentou o presente recurso pleiteando a reforma


da decisão, julgando improcedente a condenação em danos morais, e condenando o
recorrido décuplo das custas processuais, a título de multa, a ser revertida em proveito da
Fazenda Pública Estadual ou litigância de má-fé tentativa de se locupletar do benefício de
gratuidade de justiça.

5. Entendo que a sentença do Juízo a quo merece reforma parcial.

6. Precipuamente mantenho a decisão originária, quanto a manutenção da gratuidade


concedida no 1º grau de jurisdição, em decorrência direta da previsão legal do art. 54 da
Lei 9099/95. No mais, o reclamante não apresentou recurso, onde por ventura poderia vir a
ser condenado em custas processuais em caso de improvimento recursal, sendo
descabível o pedido de condenando o recorrido décuplo das custas processuais, a título de

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multa, a ser revertida em proveito da Fazenda Pública Estadual ou litigância de má-fé .

7. Na continuação, quanto ao mérito em si, pode se afirmar que nenhum direito pode ser
exercido de maneira absoluta, a mesma Constituição Federal que prevê o direito à
liberdade de expressão estabelece também a inviolabilidade do direito de imagem, à
intimidade, à vida privada e à honra das pessoas (art. 5º, X). No entanto, é difícil
contrapesar tantos direitos fundamentais e encontrar um denominador comum para que se
coloque em prática o que apregoa.

8. A garantia do Direito a Imagem protege, basicamente, o aspecto físico e os traços


característicos da pessoa pelos quais ela possa ser reconhecida. Neste caso, a
reprodução desta imagem depende, em regra, de autorização do titular. Nessa vereda, a
imagem é objeto de um direito autônomo. Contudo, sua violação vem associada, com
frequência, a de outros direitos da personalidade – sobretudo a honra.

9. Entretanto, é bom salientar que é essencial, comprovar a ocorrência de efetiva violação,


nossa jurisprudência, é enfática em asseverar que meras suposições, destituídas de
qualquer amparo, não configuram danos à imagem.

10. Outrossim, se o fato já é público, o evento divulgado juntamente com a imagem afasta a
alegação de ofensa à honra ou à intimidade. Atos policiais, prisões e atos judiciais,
inclusive julgamentos, são públicos via de regra, e isso afasta a alegação de lesão à
imagem captada nessas circunstâncias.

11. Assim, segue a Jurisprudência sobre o tema:

DIREITO A IMAGEM. PUBLICAÇÃO DE FOTOGRAFIA EM MATÉRIA


JORNALÍSTICA DE INTERESSE PÚBLICO. AUSÊNCIA DE CONSENTIMENTO
EXPRESSO. NÃO CARACTERIZAÇÃO DE EXPLORAÇÃO COMERCIAL DA
IMAGEM. INOCORRÊNCIA DE PREJUÍZO À HONRA, REPUTAÇÃO OU SIMPLES
DECORO DA PESSOA FOTOGRAFADA. INDENIZAÇÃO INDEVIDA. RECURSO
IMPROVIDO.
(TJ-SC - AC: 107781 SC 2002.010778-1, Relator: Cesar Abreu, Data de
Julgamento: 25/06/2002, Primeira Câmara de Direito Civil, Data de Publicação:
Apelação cível n. 2002.010778-1, de Criciúma.)

DIREITO CONSTITUCIONAL E CIVIL. APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO DE


INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. AGRAVO RETIDO. REJEIÇÃO.
LITISCONSÓRCIO ATIVO. POSSIBILIDADE. CERCEAMENTO DE DEFESA. NÃO
OCORRÊNCIA. MÉRITO. MATÉRIA JORNALÍSTICA. PUBLICAÇÃO DE
FOTOGRAFIA. INTERESSE PÚBLICO PRESENTE. VERACIDADE DAS
INFORMAÇÕES. DIREITO À IMAGEM. OFENSA À HONRA. PONDERAÇÃO DE
PRINCÍPIOS. DEVER DE INDENIZAR. NÃO CONFIGURAÇÃO. REFORMA DA
SENTENÇA. 1. A COMUNHÃO DE QUESTÕES DE FATO, REFERENTES, NO

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CASO, A REPORTAGENS JORNALÍSTICAS SOBRE O AFASTAMENTO DOS
AUTORES DAS FUNÇÕES LABORATIVAS PARA A REALIZAÇÃO DE CURSOS
NO EXTERIOR, CONSOANTE DISPOSIÇÃO DO ARTIGO 46, INCISO IV, DO CPC,
AUTORIZA O LITISCONSÓRCIO ATIVO. 2. O JUIZ, PARA EVITAR
CERCEAMENTO DE DEFESA, DEVE SER CAUTELOSO AO JULGAR
ANTECIPADAMENTE A LIDE. NO ENTANTO, SENDO CASO DE JULGAMENTO
ANTECIPADO, ESTE DEVE SER PROCEDIDO (CPC, ART. 330), EVITANDO-SE,
ASSIM, A PRODUÇÃO DE PROVAS DESNECESSÁRIAS, QUE ONERAM AS P
ARTES E SÓ SERVEM PARA ATRASAR O DESLINDE DA CAUSA. 3. A
DIVULGAÇÃO DE FATOS POR EMPRESA JORNALÍSTICA INSERE-SE NA
GARANTIA CONSTITUCIONAL DA LIBERDADE DE IMPRENSA (ARTIGO 220, DA
CF) E DEVE SER EXERCIDA SEM ABUSOS, ZELANDO PELA INVIOLABILIDADE
DA INTIMIDADE, DA HONRA E DA IMAGEM DAS PESSOAS. 4. SE A
VEICULAÇÃO DA NOTÍCIA E DA FOTOGRAFIA É VERÍDICA E NÃO SE MOSTRA
EIVADA DE ANIMUS INJURIANDI, MAS SE CIRCUNSCREVE A NARRAR OS
FATOS QUE LHE FORAM APRESENTADOS, RESTA AFASTADA A PRESENÇA
DO ELEMENTO SUBJETIVO DO QUAL DECORRE O DEVER DE INDENIZAR. 5.
RECURSO DO RÉU PROVIDO. RECURSO DOS AUTORES IMPROVIDO.
UNÂNIME.

(TJ-DF - APL: 375805120078070001 DF 0037580-51.2007.807.0001, Relator:


OTÁVIO AUGUSTO, Data de Julgamento: 16/09/2009, 6ª Turma Cível, Data de
Publicação: 14/10/2009, DJ-e Pág. 249)

12. Restou demonstrado nos autos que a matéria veiculada pelo reclamado/recorrente
também foi divulgada por diversos outros canais de comunicação, além do que a data de
publicação é fevereiro de 2018, por tanto anterior a sentença absolutória de outubro de
2019, não cabendo a alegação de que o reclamado imputou prática de atos criminosos ao
reclamante e propagou notícias, como se ainda aquele estivesse encarcerado, mesmo
ciente da sentença absolutória proferida pela Justiça Militar.

13. Ante o exposto, conheço do recurso, porém dou-lhe parcial provimento para reformar em
parte a sentença vergastada, para julgar IMPROCEDENTE os pedidos de danos morais
pleiteados pelo autor e manter em seus demais termos a sentença pelos seus próprios
fundamentos.

14. Deixo de condenar o recorrente ao pagamento das custas processuais e honorários


advocatícios em razão do provimento parcial do recurso.

15. A súmula de julgamento servirá de acórdão, conforme regra do art. 46 da Lei nº. 9.099/95.

Belém-PA, 08 de março de 2022

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ANA LÚCIA BENTES LYNCH
Relatora – 2ª Turma Recursal Permanente dos Juizados Especiais

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