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CÁLCULO I

J. Roberto S. Nascimento

Aula: Taxa de Variação. Derivadas. Reta Tangente.

Objetivos da Aula
• Definir taxa de variação média e a derivada como a taxa de variação instantânea;

• Conhecer a interpretação geométrica da derivada em um ponto.

1 Taxa de Variação
Suponha que y seja uma quantidade que depende de outra quantidade x. Assim, y é uma função de x
e escrevemos y = f (x). Se x variar de x1 a x2 , então a variação em x (também chamada de incremento)
será
∆x = x2 − x1
e a variação correspondente em y será

∆y = f (x2 ) − f (x1 ).

De posse destas informações, definimos:


Definição 1 (Taxa média de variação de y em relação a x). O quociente das diferenças
∆y f (x2 ) − f (x1 )
=
∆x x2 − x1
é denominado taxa média de variação de y em relação a x no intervalo [x1 , x2 ]
Vejamos alguns exemplos:
Exemplo 1. Consideremos a reação
A+B →C
onde A e B são os reagentes e C é o produto. A concentração de um reagente A é o número de mols por
litro e é denotada por [A]. A concentração varia durante a reação, desse modo, [A], [B] e [C] são funções
do tempo t. A taxa média da reação do produto em um intervalo de tempo t1 ≤ t ≤ t2 é dada por
∆[C] [C](t2 ) − [C](t1 )
=
∆t t2 − t1
Uma observação importante é que na reação acima, a taxa de reação do produto é positiva e dos reagentes
é negativa (Por quê?).
Exemplo 2. A temperatura Fahrenheit F é dada em termos da temperatura Celsius C pela fórmula

F = 1, 8C + 32.

Determine a taxa média de variação de F em relação a C quando a temperatura passa de 20◦ C a 30◦ C.
Solução: Considerando o intervalo dado: [20, 30], temos:
∆F F (30) − F (20) 86 − 68
= = = 1, 8 F/◦ C.
∆C 30 − 20 10
Isto significa que no intervalo considerado, cada aumento de 1◦ C corresponde a um aumento de 1,8 F,
ou seja, a temperatura em Farenheit aumenta 1,8 vezes mais rapidamente que em Celsius.


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Exemplo 3. Considere um círculo de área A e raio r. Determine a taxa de variação média da área desse
círculo em relação ao seu raio quando r varia de 2 a 2, 1.

Solução: Sabemos que


A(r) = πr2
Logo,
∆A A(2, 1) − A(2) 4, 41π − 4π 0, 41π
= = = = 4, 1π.
∆r 0, 1 0, 1 0, 1


Exemplo 4. Se uma barra ou pedaço de fio forem homogêneos, sua densidade linear será uniforme e estará
definida como a massa por unidade de comprimento.
m
ρ=
L
onde ρ é a densidade linear, m é a massa e L é o comprimento. Suponha que a barra não seja homogênea,
mas que sua massa, medida a partir da extremidade esquerda até um ponto x seja m = f (x). A massa da
parte da barra que está situada entre x1 e x2 é dada por

∆m = f (x2 ) − f (x1 )

Logo, a densidade média daquela parte da barra é

∆m f (x2 ) − f (x1 )
=
∆x x2 − x1

Considere agora que f (x) = 3
x e que x1 = 1 e x2 = 1, 1. Então, a densidade média da parte da barra
entre x1 e x2 é dada por
√ √
3
∆m f (1, 1) − f (1) 3
1, 1 − 1 1, 032 − 1 0, 032
= = ≈ ≈ ≈ 0, 32kg/m
∆x 1, 1 − 1 0, 1 0, 1 0, 1


2 Taxa Instantânea de Variação


Se uma quantidade y é função de uma quantidade x, isto é, y = f (x), já vimos que a taxa média de
variação de y por unidade de variação em x, no intervalo [x1 , x1 + ∆x], é dada por:

∆y f (x1 + ∆x) − f (x1 )


= .
∆x ∆x
O "limite" deste quociente, quando ∆x → 0, isto é,

f (x1 + ∆x) − f (x1 )


lim (1)
∆x→0 ∆x
é o que definimos como a taxa (instantânea) de variação de y em relação a x em x = x1 .

Exemplo 5. Usando a função dada no Exemplo 3, determine a taxa de variação de A em relação a r quando
r = 2.

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Solução: Inicialmente vamos calcular a taxa média de A em relação a C no intervalo [2, 2 + ∆r], com
∆r 6= 0.
∆A
Taxa Média =
∆r
A(r + ∆r) − A(r)
=
∆r
π(r + ∆r)2 − πr2
=
∆r
πr − 2πr∆r + π(∆r)2 − 
 2
 2
πr
=
∆r
∆r(2πr
 + π∆r)
=
∆r

= 2πr + π∆r
Assim, a taxa instantânea é dada por:
lim (2πr + π∆r) = 2πr
∆r→0

Então se r = 2, temos que a taxa instantânea de variação é 4π.



Observação 1. Você observou que a taxa de variação instantânea da área do círculo resultou na expressão
do comprimento da circunferência? Você saberia explicar esse fato? Tente explicar geometricamente.
Exemplo 6. Considerando a função f (x) dada no exemplo 4, determine a densidade linear exatamente em
x = 1.
Solução: Calculemos a taxa média de variação entre x = 1 e x = 1 + ∆x, isto é:

3
∆m f (1 + ∆x) − f (1) 1 + ∆x − 1
= =
∆x ∆x ∆x
Agora, calculemos o limite das taxas médias de variação para ∆x → 0.
∆m
ρ = lim
∆x→0 ∆x
√3
1 + ∆x − 1
= lim
∆x→0 ∆x
√ √ √
3
1 + ∆x − 1 ( 3 1 + ∆x)2 + 3 1 + ∆x + 1
= lim . √ √
∆x→0 ∆x ( 3 1 + ∆x)2 + 3 1 + ∆x + 1
1 + ∆x − 1
= lim √ √
∆x→0 ∆x(( 1 + ∆x)2 + 3 1 + ∆x + 1)
3

∆x

lim  √ √

=
∆x(( 3 1 + ∆x)2 + 3 1 + ∆x + 1)
∆x→0 
1
= lim √ √
∆x→0 ( 1 + ∆x)2 + 3 1 + ∆x + 1
3

1
= kg/m
3


Velocidade e Aceleração
Suponha que uma partícula se move ao longo de uma reta horizontal com sua posição no instante t
dada pela função posição x(t). Quando o tempo sofre uma variação de t a t + ∆t, a partícula se move da
posição x(t) a x(t + ∆t). O deslocamento da partícula, neste intervalo de tempo, é então dado por:
∆x = x(t + ∆t) − x(t).

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Calculamos a velocidade média v da partícula, dividindo o deslocamento pelo tempo gasto neste deslo-
camento. Assim,
x(t + ∆t) − x(t)
v=
∆t
E definimos a velocidade instantânea v da partícula no instante t, como o limite da velocidade média,
quando ∆t → 0, isto é,
x(t + ∆t) − x(t) dx
v(t) = lim = . (2)
∆t→0 ∆t dt
De modo análogo, definimos a aceleração a da partícula como a taxa de variação instantânea de sua
velocidade:
v(t + ∆t) − v(t) dv
a(t) = lim = . (3)
∆t→0 ∆t dt
Além desses exemplos, podemos abordar outros que confirmam e enfatizam a importância de estudarmos
as taxas de variações instantâneas, entre eles podemos citar ainda:

• Corrente elétrica

• Compressibilidade

• Taxa de crescimento Instantâneo

• O custo marginal

• Taxa do fluxo de calor

• Gradiente de temperatura

• Potência

• Gradiente de velocidade do sangue

• Taxa de divulgação de um boato

• Taxa de desenvolvimento de desempenho

Mesmo com nomes diferentes, todos eles são a derivada. Segue a definição de derivada da função f num
ponto x = p.

Definição 2. Seja y = f (x) uma função real e p ∈ Df . Dizemos que a função f é derivável em x = p se
existir a taxa de variação instantânea de f em x = p e caso ocorra, escrevemos

df ∆f f (p + ∆x) − f (p)
f 0 (p) = (p) = lim = lim
dx ∆x→0 ∆x ∆x→0 ∆x
Exemplo 7. O custo em real da fabricação de x brinquedos é dado pela função:

C(x) = 110 + 4x + 0, 02x2

Encontre a taxa com a qual o custo está variando quando x = 40.

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Solução: A taxa pedida é a derivada da função custo C em x = 40.


∆C
C 0 (40) = lim
∆x→0 ∆x
C(40 + ∆x) − C(40)
= lim
∆x→0 ∆x
110 + 4(40 + ∆x) + 0, 02(40 + ∆x)2 − (110 + 4.40 + 0, 02.402 )
= lim
∆x→0 ∆x
110 + 
 160 + 4∆x + 
 32 + 1, 6∆x + 0, 02(∆x)2 − 
 −
110 −
160 32

= lim
∆x→0 ∆x
4∆x + 1, 6∆x + 0, 02(∆x) 2
= lim
∆x→0 ∆x
∆x(4 + 1, 6 + 0, 02∆x)

= lim
∆x→0 ∆x
 
= lim (4 + 1, 6 + 0, 02∆x)
∆x→0
= 5, 6

3 Derivada e Reta Tangente


Começaremos essa seção falando do problema da tangente. A ideia de tangente é conhecido desde os
gregos antigos, porém de uma forma um tanto que imprecisa. Nessa seção, procuramos resolver o seguinte
problema: Dada uma curva y = f (x) como determinar a reta tangente à curva em um ponto P
dado?.
Então, considere uma função y = f (x). Sabemos que, dado um ponto (x0 , f (x0 )) pertencente à reta,
a equação da mesma é dada da forma:

y − f (x0 ) = m(x − x0 )

Logo, nosso problema se resume em: Determinar o coeficiente angular da reta tangente ao gráfico
da função f (x) no ponto (x0 , f (x0 )). Desse modo, considere um número x0 ∈ Df e o ponto (x0 , f (x0 ))
sobre o gráfico da função, representado pela letra P . Seja x ∈ Df e considere o ponto Q como sendo o
ponto (x, f (x)).

Figura 1: Gráfico de uma Função f

Assim, podemos traçar uma reta que liga os dois pontos e notamos que essa reta é secante ao gráfico
da função f .

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Figura 2: Gráfico de uma Função f

O coeficiente angular mQ dessa reta secante é dado por:

f (x) − f (x0 )
mQ = tg θ =
x − x0
Se fizermos x se aproximar cada vez mais de x0 , a cada x tomado, temos uma nova reta secante.

Figura 3: Gráfico de uma Função f

Quando o ponto Q se aproxima do ponto P , temos que x → x0 . Se mQ tender a algum número, então
definimos que a reta tangente ao gráfico da curva f no ponto P é a reta que passa em P e possui
coeficiente angular:
f (x) − f (x0 )
mP = lim (4)
x→x0 x − x0

Figura 4: Gráfico da reta tangente ao gráfico da função f no ponto P

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Dessa forma, a reta tangente ao gráfico de f no ponto (x0 , f (x0 )) é dada pela equação:
y − f (x0 ) = mP (x − x0 ) (5)
O limite em (4) já foi visto na seção anterior e recebe o nome de derivada. Dessa forma, podemos interpretar
geometricamente a derivada de f no ponto x = x0 , como sendo o coeficiente angular da reta tangente ao
gráfico de y = f (x) no ponto de abscissa x = x0 .
Observação 2. A derivada está presente na seção anterior como a taxa de variação instantânea e nesta
seção como o coeficiente angular da reta tangente. Há alguma conexão entre as duas interpretações?
Exemplo 8. Seja f (x) = x3 .Calcule:
a) f 0 (2);

df
b) .
dx x=−5
Solução:
a)
f (x) − f (2) x3 − 23  2 + 2x + 4)
−2)(x
(x
f 0 (2) = lim = lim = lim = lim x2 + 2x + 4

x→2 x−2 x→2 x − 2 x→2 x− 2
 x→2
2
= 2 + 2.2 + 4 = 12

Então, f 0 (2) = 12.


b)
(−5 + h)3 − (−5)3

df f (−5 + h) − f (−5)
= lim = lim
dx x=−5 h→0 h h→0 h
h3 − 15h2 + 75h − 
125
+ 125

= lim
h→0 h
3 2
h − 15h + 75h
= lim
h→0 h
2
h(h − 15h + 75)

= lim
h→0 h

= lim h2 − 15h + 75 = 02 − 15.0 + 75 = 75
h→0

df
Então, = 75.
dx x=−5

Exemplo 9. Determine a derivada das funções dadas nos pontos indicados em cada item.

a) f (x) = x e x0 = 3;
1
b) g(x) = e x0 = −1.
x
Solução:
a)
√ √ √ √ √ √
df f (x) − f (3) x− 3 ( x − 3)( x + 3)
= lim = lim = lim √ √
dx x=3 x→3 x−3 x→3 x−3 x→3 (x − 3)( x + 3)
x−
  3 1
= lim √ √ = lim √ √
(x
x→3  −3)( x + 3) x→3 x + 3

1
= √
2 3

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b)
1 1 1
f (h − 1) − f (−1) − +1
f 0 (−1) = lim = lim h − 1 −1 = lim h − 1
h→0 h h→0 h h→0 h
h
h 1
= lim h − 1 = lim

= lim
h→0 h h→0 h(h − 1) h→0 h − 1
= −1


Observação 3. Para que não fique nenhum resto de dúvida, se faz necessário justificar a ideia de "a
reta tangente tocar em um ponto". Isso se dá por que lembramos apenas das retas tangentes a uma
circunferência, mas a reta tangente não deve ser entendida como uma reta que toca em apenas um ponto
do gráfico da função f . Para isso, considere a função f (x) = x3 − 2x + 3, cujo gráfico é:

Figura 5: Gráfico da função f (x) = x3 − 2x + 3

A reta tangente ao gráfico da função f no ponto (1, f (1)) é


y =x+1
Graficamente,

Figura 6: Gráfico da reta tangente à função f (x) = x3 − 2x + 3 no ponto (1, f (1))

Mas, note que o ponto (−2, −1) pertence a reta, de fato, pois
y(−2) = −2 + 1 = −1

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E a reta y = x + 1 é tangente ao gráfico da função f no ponto (1, f (1)). Isso mostra que existem tangentes
que tocam em mais de um ponto.
Usando a ideia de que o limite é uma propriedade local, podemos afirmar que existe então uma vizinhança
do ponto x0 na qual a reta tangente toca o gráfico da função f , apenas no ponto de abscissa x0 .

Vejamos alguns exemplos:

Exemplo 10. Seja f (x) = x2 + 3. Determine a equação da reta tangente ao gráfico de f nos pontos
indicados abaixo:

a) (1, f (1));

b) (−2, f (−2)).

Solução:

a) Note que f (1) = 12 + 3 = 4 e que

f (1 + h) − f (1) (h + 1)2 + 3 − 4 h2 + 2h + 4 − 4
f 0 (1) = lim = lim = lim
h→0 h h→0 h h→0 h
2
h + 2h h(h + 2)

= lim = lim = lim h + 2
h→0 h h→0 h
 h→0
= 2

Logo, a equação da reta tangente ao gráfico de f no ponto (1, f (1)) é dada por:

y − 4 = 2(x − 1) ⇔ y = 2x + 2

Graficamente,

Figura 7: Exemplo 1

b) Note que f (−2) = (−2)2 + 3 = 4 + 3 = 7, e também que

f (x) − f (−2) x2 + 3 − 7 x2 − 4
f 0 (−2) = lim = lim = lim
x→−2 x − (−2) x→−2 x+2 x→−2 x + 2
(x − 2)(x+ 2)

= lim = lim x − 2
x→−2 x+2
   x→−2
= −4

Dessa forma, a equação da reta tangente ao gráfico de f no ponto (−2, f (−2)) é

y − 7 = −4(x − (−2)) ⇔ y = −4x − 1

Graficamente,

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Figura 8: Exemplo 2

Resumo
Faça um resumo dos principais resultados vistos nesta aula, destacando as definições dadas.

Aprofundando o conteúdo
Leia mais sobre o conteúdo desta aula na seção 2.7 do livro texto.

Sugestão de exercícios
Resolva os exercícios da seção 2.7 do livro texto.

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