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2º Período

Disciplina – Psicologia
Tema – Processos mentais. Conceitos estruturantes: cognição, emoção e mente. Caraterizar os
processos cognitivos estruturantes da ação humana: perceção, aprendizagem e memória.

Os processos cognitivos estruturantes da ação humana: perceção, aprendizagem e


memória
Memória

 A memória é o processo através do qual codificamos, armazenamos e recordamos informações.


Deste modo, pode-se considerar que a memória é o suporte essencial de todos os processos de
aprendizagem, permitindo ao ser humano um sistema de referências relativas à sua experiência
vivida e ao reconhecimento de si como pessoa dotada de identidade própria.
 A memória de aprendizagem como mudança sistemática do comportamento supõe implicitamente
a memória como condição de conservação da resposta aprendida. Sem memória, as aprendizagens
estaríamos permanentemente na fase de aquisição, o que equivale a dizer que estaríamos sempre
no ponto zero.
 Não ter memória seria o mesmo que não ter aprendido nada.
 Aprendizagem e memória são processos indissociáveis, na medida em que, por um lado, só se pode
reter ou memorizar aquilo que, de certa forma, foi aprendido.
 De acordo com o modelo de processamento de informação, de inspiração cibernética, a memória
inclui três momentos essenciais. (Ler texto de Linda Davidolff – Introdução à psicologia).

Etapas do processo de memorização (ou processo mnésico):


- Codificação: a informação é recebida, tendo que ser devidamente preparada para que o
armazenamento possa ser feito. Assim, para que os novos conteúdos possam ser assimilados, têm
de ser codificados e, para que que isso possa acontecer, a informação a memorizar tem de ser
transformada numa linguagem que permita a sua retenção. Há três tipos principais de codificação: a
acústica, a visual e a semântica. Na codificação acústica, codificamos sons, na visual, imagens e na
semântica, o significado dos conteúdos que queremos reter. Ex: imagina que queres memorizar a
palavra imperador. Se usares a codificação acústica, podes tentar focar-te no som da palavra ou, se
preferires, podes decompor a palavra em sílabas, im-pe-ra-dor, e tentar memorizar o som de cada
uma delas. Se usares a codificação visual, podes tentar usar a imagem do imperador Carlos Magno,
que há uns anos viste num livro de História, de um peixe que viste num aquário ou do hotel que fica
perto de tua casa. Se usares a codificação semântica, terás de usar o conhecimento que tens do que
é um imperador: o soberano de um império. (Ver manual pág. 26)
 Armazenamento: depois do tratamento das informações, estas são arquivadas na memória. Os
conteúdos são armazenados, isto é, passam a residir na mente por um período de tempo, de modo
latente (um conteúdo latente é aquele que não está atualmente na mente, mas pode ser evocado a
qualquer momento. A tua morada não está na tua mente neste momento, mas podes recordá-la se
quiseres. Quando o fazes ela deixa de estar em modo latente e torna-se presente, manifesta). (ver
página 112).
 Recuperação: a ativação de um conteúdo anteriormente armazenado. É a fase que evocamos os
conteúdos anteriormente retidos, em que tornas presente na tua mente o número de telefone do
teu amigo para quem queres telefonar. (Ver página 112)
 A estas três etapas pode-se ainda acrescentar uma quarta, que assegura a possibilidade de formar
novas memórias: o esquecimento.
 Esquecimento: desaparecimento de dados anteriormente armazenados, essencial para a aquisição
de novos conteúdos. (Ver página 36)

Memórias – Tipos de memória: memória sensorial, memória a curto prazo e memória a longo
prazo

Memória sensorial
 Os inputs ou informações sensoriais provenientes dos estímulos são armazenados na memória
sensorial por um curtíssimo espaço de tempo, cerca de 0.25 segundos até cerca de 2 minutos. Aí
são retidos, onde permanecem como dados brutos, isto é, sem qualquer tratamento ou análise.
 A memória sensorial desdobra-se numa série de registos sensoriais, tantos quantos os sentidos:
icónico (visão), ecoico (audição), tátil (tato), olfativo (olfato) e gustativo (paladar).
 A memória visual permite-nos, por exemplo, percecionar o movimento contínuo numa tela de
cinema, quando o que de facto está a ser projetado é uma sucessão de imagens fixas. A linguagem
oral é também uma sucessão de sons soltos, que só fazem sentido pela recordação dos sons
anteriores. É a memória auditiva que nos irá permitir compreender posteriormente o discurso,
dando sentido àquilo que ouvimos. As informações passam por esta memória, sem receberem
nenhum tipo de processamento. Se não lhes prestarmos qualquer tipo de atenção, estas
informações acabam por se perder. Se lhes prestarmos atenção, esses dados acabam por ser
transferidos para a memória a curto prazo.
 A capacidade de armazenamento desta memória é limitada. No entanto, podemos ultrapassar
esta limitação utilizando algumas estratégias. Ex: Já decoraste um número de telefone, que é
composto por nove algarismos. Uma vez que o nove é maior que o sete, uma boa estratégia para
superar esta dificuldade, é agrupar alguns algarismos em conjuntos. Assim, em vez de decorares os
nove algarismos isolados, 956354218, podes juntá-los, por exemplo, em quatro conjuntos, 95  635
42 18 e memorizar mais facilmente o número de telefone.
 Caso decidas armazenar durante mais tempo um qualquer conteúdo, compete à memória a
curto prazo selecioná-lo e enviá-lo para a memória a longo prazo.

Memória a curto prazo (p. 29)


 A memória a curto prazo é considerada o centro da consciência, na medida em que é nela que
se encontram os pensamentos, as informações e as lembranças que em determinado momento
estamos a utilizar.
 A sua função é reter temporariamente a informação, que aí permanece durante um período
mais longo do que na memória sensorial, não ultrapassando, mesmo assim, sessenta segundos. As
informações só estão aí disponíveis durante o tempo necessário para serem utilizadas.
 Este tipo de memória tem uma capacidade limitada de armazenamento, codificando apenas
cerca de oito itens. Esta capacidade pode ser aumentada se os itens forem associados em grupos.
Assim, é difícil reter a curto prazo o número de telefone 0012122306083. Contudo, é possível retê-
lo se for lido por agrupamentos. Ex: 001 (País) 212 (cidade) 230 (zona) 6083 (residência).
 É a memória a curto prazo que utilizamos quando queremos fazer uma chamada telefónica.
Depois de descobrir o número que precisamos, retemo-lo, repetimo-lo mentalmente e marcamo-lo
no telemóvel. Mas, se o número não estiver disponível e tentarmos a ligação uns minutos mais
tarde, é provável que já não saibamos o número de cor, pelo que teremos de o consultar
novamente.
 A repetição da informação permite que o conteúdo se mantenha na memória a curto prazo
durante mais tempo e, eventualmente, passe para a memória a longo prazo. Todavia, se surgirem
interferências, essa transferência não é bem-sucedida, os elementos deterioram-se e acabam por
desaparecer.
 Na memória a curto prazo distinguem-se duas componentes: a memória imediata e a memória
de trabalho (página 29).

Memória a longo prazo (pág. 30/31/32)


 O sistema de memória a longo prazo confere-nos a capacidade de recordar uma quantidade
substancial da informação durante períodos bastante longos: horas, dias, semanadas, anos e, em
alguns casos, para sempre. É nela também que se encontram armazenados os materiais,
provenientes da aprendizagem, que foram sujeitos à codificação na memória a curto prazo.
 Diversos psicólogos têm-se dedicado ao estudo dos códigos da memória das imagens visuais e
auditivas associadas à linguagem, parecendo ter chegado à conclusão de que há uma grande
flexibilidade na codificação dos materiais. Tanto se pode codificar em termos de imagens como em
termos verbais ou recorrendo a ambos. No caso de se tratar de material verbal, este é
essencialmente retido pelo seu significado.
 Estamos continuamente a recuperar informação da memória a longo prazo, sendo a
recordação um processo gerido pela memória a curto prazo. Às vezes, a tarefa é fácil e
automática, como, por exemplo, dizer o nome da mãe. Outras vezes torna-se mais difícil,
dependendo de condições fisiológicas, como o estado de saúde ou o grau de cansaço. Há ainda
ocasiões em que, sem razão aparente, a pessoa não consegue lembrar-se de uma informação,
como acontece, por exemplo, quando não conseguimos recuperar o nome de uma pessoa que
temos a certeza de saber.
 Memória a longo prazo: memória declarativa (memória episódica e memória semântica) e
memória não declarativa. (ver pág. 31/32)

Memória construída (ver página 33/34/35)


 Processo ativo.

Esquecimento
 A aprendizagem implica transferência de dados, durante o armazenamento, do depósito a curto
prazo para o depósito a longo prazo e, durante a recuperação, deste último para o primeiro. Esta
recuperação faz-se normalmente sem esforço ou dificuldades de maior. Porém há momentos em
que se apresenta difícil, exigindo estratégias específicas, tornando.se algumas vezes praticamente
impossível. Fala-se, então, de esquecimento. Pode definir-se este como a incapacidade de
recordar, de recuperar dados, informações, experiências que foram memorizadas. Esta
incapacidade pode ser provisória ou definitiva.

 Fatores responsáveis pelo esquecimento: (pág. 37/38)


 Distorção do traço mnésico (Esquecimento regressivo)
- Muito do que aprendemos desaparece ao longo do tempo. E relativamente ao que retemos,
podem ocorrer modificações que deturpam o que inicialmente foi aprendido. Ex: os depoimentos
em tribunal podem diferir entre as várias testemunhas, mesmo sem que haja intenção de mentir.
Quando maior o intervalo temporal entre a ocorrência e o testemunho, maior a probabilidade de
isso acontecer. Os detalhes esquecidos por uns serão evidenciados por outros e nem todos lhes
darão, certamente, a mesma ênfase.
- A distorção do traço mnésico deve-se a falhas que podem ocorrer na codificação, no
armazenamento ou na recuperação dos conteúdos.
 Falhas na codificação: quando lemos um texto e não prestamos atenção àquilo que está escrito,
não é possível que nos lembremos do seu conteúdo. Não sendo codificado, o material não é
armazenado ou, então, é-o de uma forma incorreta.
 Falhas no armazenamento: os conhecimentos armazenados na memória a longo prazo estão
sujeitos também a falhas e perdas. Nestas falhas interfere o fator tempo, as atividades da pessoa
e outros mecanismos de inibição.
 Falhas na recuperação: devem-se à interferência de outras informações, a erros na recuperação
dos sinais que dão acesso ao local onde a informação está armazenada, à supressão de um
pensamento ou acontecimento que provoca perturbação no sujeito ou ainda ao desaparecimento
da informação por falta de ativação.

 Interferência de outras aprendizagens


- A interferência de outras aprendizagens pode também conduzir ao esquecimento ou à capacidade
de recordar um determinado conteúdo. Essa interferência pode fazer-se sentir de forma proativa
ou retroativa.
- Nos casos de influência proativa (inibição pró-ativa), a recordação de uma informação anterior
impede a memorização de uma nova informação. Ex: é o que acontece quando não conseguimos
fixar uma nova palavra-passe porque só nos conseguimos lembrar da palavra-passe anterior;
Imagina que o teu número da turma mudou. É possível que, enquanto não te habituares ao novo
número, continues a lembrar-te do antigo. A memória antiga interfere com a mais recente.
- Nas situações de influência retroativa (inibição retroativa), é a nova informação que inviabiliza a
recordação de uma informação anterior. Ocorre quando as memórias armazenadas recentemente
perturbam a capacidade de recordar memórias passadas. Ex: quando depois de fixar uma nova
palavra-passe deixamos de conseguir recordar-nos da palavra-passe anterior; aprendeste há uns
tempos a falar castelhano e estás agora a aprender a falar italiano. Pode muito bem acontecer que
se tentares falar castelhano utilizes algumas palavras italianas. Neste caso foi a nova aprendizagem
que interferiu com a antiga.

 Motivação inconsciente (Esquecimento motivado)


- Segundo S. Freud, o fundador da psicanálise, o processo de esquecimento é seletivo: não
esquecemos tudo, mas apenas aquilo que inconscientemente nos interessa esquecer.
- O caráter incomodativo de recordações como a dor, o medo, a ansiedade ou a angústia faz com
que sejam reprimidas, isto é, afastadas da consciência. Por isso, a pessoa é incapaz de
voluntariamente as evocar.
- Freud chamou recalcamento (processo destinado a eliminar da consciência representações
causadoras de conflitos intrapsíquicos) ou repressão à tendência que os seres humanos têm para
evitar inconscientemente a recordação de certas impressões e situações penosas.
- Estas interpretações freudianas apresentam-se plausíveis para explicar factos da vida corrente. Ex:
esquecermo-nos de ir à consulta marcada no dentista, de comparecer a um encontro com amigos
maçadores ou a uma reunião de trabalho marcada pelas horas inconvenientes. A este propósito
Howard Kendler (1919) refere-se a soldados que regressavam da guerra com perturbações
mnésicas do modo seguinte “ (…) Eles não tinham esquecido quem eram, nem o nome da sua
cidade natal, número de regimento ou qualquer outra coisa que as pessoas normais geralmente
podem recordar com facilidade. O seu esquecimento é notoriamente seletivo: são incapazes de
recordar qualquer pormenor de certas experiências de combate. (…) Sucede muitas vezes que as
experiências que os soldados esquecem são aquelas de que têm mais vergonha. Talvez lhes pareça
que se portaram como cobardes ou que, de qualquer maneira, «faltaram às suas obrigações».
Esquecendo tais incidentes, estes soldados, escapavam à intensa angústia e humilhação que a
recordação deles teria produzido.”
- Esquecemos muito do que aprendemos e, em muitos casos, com bastante rapidez. Mas nem
sempre o esquecimento é algo de negativo. Há uma dimensão positiva no esquecimento, na
medida em que desempenha uma insubstituível função seletiva.
- Desta forma, evitam-se perturbações graves, associadas à impossibilidade de a memória fazer a
gestão normal das informações. É pelo esquecimento que nos libertamos do peso de informações
sem interesse e nos mantemos disponíveis, abertos a outras aprendizagens.
- Assim, podemos concluir que sem memória não há cognição nem aprendizagem ou adaptação.
Em cada instante, reagiríamos ao mundo como se fosse pela primeira vez. É a memória que
suporta os nossos estados mentais. Sem ela seríamos incapazes de ouvir um discurso ou uma
melodia, de ver um filme ou seguir uma sequência de acontecimentos e, talvez de modo ainda mais
fundamental, seríamos incapazes de nos reconhecer como sendo os mesmos ao longo do tempo.

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