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FILOSOFIA

FILOSOFIA DA LINGUAGEM

Antonio Francisco Bezerra Filho


Apresentação
Prezado(a) aluno(a),
A Filosofia da Linguagem é um convite à compreensão do ser cognoscente,
isto é, aquele ser que se manifesta com vontade própria na existência. A
linguagem como língua pode ser clara e distinta quando se trata do ser humano
que tem o domínio da fala, e, agora, quando se inclui outros seres não humanos
estamos na manifestação de alguma forma de linguagem. Como área estudada
da Filosofia, a Linguagem é o ramo que estuda a essência e natureza dos
fenômenos linguísticos. Vem elencar a natureza do significado linguístico, o seu
modo de ser expressada, entendida, aprendida, interpretada, bem como pela
forma em que pode ser geradora de criatividades dos seres de fala e os pontos
fundamentais linguísticos do pensamento e da experiência. Por outro lado a
Filosofia da Linguagem nos aponta a sintaxe, a semântica, a pragmática e a
referência. E, por fim, as questões investigadas pela Filosofia da Linguagem nos
situam tanto no foco de como as frases compõem um todo entendido, como
também do entendimento das "partes" (palavras) das frases ou seu significado. O
querer saber o significado torna-se fundamental uma vez que nos faz
compreender como fazemos e como usamos a linguagem socialmente.
O conteúdo da disciplina é dividido em 14 capítulos: sendo a UNIDADE 01 -
A ESTRUTURA DA LINGUAGEM uma forma de sistema de signos, sendo o signo
uma coisa que está no lugar de outra sob algum aspecto; na UNIDADE 02- A
ESTRUTURA DA LINGUAGEM (PARTE II), entre tantos tipos de linguagem, surge
uma pergunta fundamental: para que servem as linguagens? e suas funções
comunicativas da língua verbal, bastante ampla que também pode ser usada para
as demais linguagens; Na UNIDADE 03 - ESTUDOS DA LINGUAGEM PRÉ-
ANALÍTICA: O CONVENCIONALISMO DE PLATÃO, onde há grande preocupação,
tornando-se um assunto especializado, onde o filósofo trata de questões relativas
à relação entre os nomes e as coisas que os mesmos designam; Na UNIDADE 04 -
ESTUDOS DA LINGUAGEM PRÉ-ANALÍTICA: O NATURALISMO PLATÔNICO, traz
um nome que é uma representação, entendida como uma exibição da coisa
nomeada, onde o nome que é a sua imitação; os nomes manifestam, representam
as coisas, por meio da semelhança com elas, e não por uma convenção casual; Na
UNIDADE 05 - A LINGUAGEM EM ARISTÓTELES, é visto como as palavras são
símbolos de carismas da nossa alma. A relação de símbolos se refere à relação
entre os sons da voz e as modificações da alma; assim como relação entre os
caracteres da escritura e as expressões vocais, os sons incluem nomes, verbos, o
discurso e suas formas; Na UNIDADE 06 - A QUESTÃO DOS UNIVERSAIS nos
aponta que no período escolástico (IX ao XVI d.C.), a busca de harmonização
entre a fé cristã e a razão manteve-se como problema básico de especulação
filosófica. Além de apresentar a característica fundamental da filosofia medieval,
que é a referência às questões teológicas, bem como da escolástica que avança
no estudo da lógica e na compreensão do conceito de universal; Na UNIDADE 07
- A FILOSOFIA ANALÍTICA DE RUSSELL E WHITEHEAD, vem eliminar os paradoxos
metafísicos da “existência” e os paradoxos dos não existentes, bem como da
teoria das descrições de Russell afirma essencialmente que as expressões
denotativas; Na UNIDADE 08 - A FILOSOFIA ANALÍTICA DE RUSSELL E
WHITEHEAD (PARTE II), traz à visão a construção da metafísica ou visão de mundo
em que se baseia, num entrelaçasse, em mútua relação com as generalizações
mais avançadas das ciências; Na UNIDADE 09 - WITTGENSTEIN E O AUGE DA
FILOSOFIA ANALÍTICA, traz o que o pensamento representa ou espelha da
realidade, sendo que a cada elemento constitutivo do real corresponde outro
elemento no pensamento; Na UNIDADE 10 - O WITTGENSTEIN DAS
INVESTIGAÇÕES FILOSÓFICAS nos diz que compreender se reduz a dar
explicações que se resumem em definições ostensivas, que postulam toda aquela
série de atos e processos mentais que deveriam explicar a passagem da
linguagem à realidade; na UNIDADE 11 - O ESTUDO DA LINGUAGEM EM
FERDINAND DE SAUSSUR, afirma que a gramática serve apenas para prescrever o
que é a norma culta e a filologia investiga a origem das palavras no
desenvolvimento histórico das línguas e as pessoas acabam se comunicando sem
prestar atenção em tais conhecimentos; Na UNIDADE 12 - O QUE É SEMIÓTICA?,
vem abordar que estudos da linguagem se concentra mais nos símbolos e signos
existentes na fala e na escrita, sendo o nome Semiótica a ciência dos signos; Na
UNIDADE 13 - A SEMIÓTICA EM PEIRCE, traz um novo horizonte das chamadas
ciências humanas, onde o seu desenvolvimento histórico da semiótica não é
considerada um ramo do conhecimento aplicado, mas sim um saber abstrato e
formal, generalizado, onde as pessoas exprimem o contexto à sua volta através de
uma tríade como alicerce de sua teoria; Na UNIDADE 14 - A SEMIÓTICA EM
PEIRCE (PARTE II); percebemos que um signo intenta representar, em parte pelo
menos, um objeto que é, portanto, num certo sentido, a causa ou determinante
do signo, mesmo se o signo representar seu objeto falsamente.
Bons estudos!

Antonio Francisco Bezerra Filho


Bacharel em Filosofia e Teologia

Licenciado em Filosofia e Sociologia.


Especialista em Educação e Filosofia.
UNIDADE 01 - A ESTRUTURA DA LINGUAGEM

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Objetivos: Analisar os estudos estruturais da linguagem e sua utilidade.

ESTUDANDO E REFLETINDO

A linguagem é formada por um sistema de signos, sendo o signo uma


coisa que está no lugar de outra sob algum aspecto. Por exemplo, a lágrima no
rosto de uma pessoa que pode indicar um estado de dor física ou de tristeza, mas
também pode indicar um estado de felicidade ou de realização. A lágrima pode
ser signo de todas essas coisas e, para decifrá-lo adequadamente, precisamos
saber o contexto em que ele ocorre e ter familiaridade com a situação em que se
expressa.
Os números e palavras também são signos, isto é, estão no lugar das
quantidades reais de objetos ou do próprio objeto. Se o signo está no lugar do
objeto, ele passa a representar o objeto, sendo um objeto pode ser representado
de várias maneiras, dependendo da relação que existe entre ele e o signo.
Quando a relação é de semelhança, temos um signo de ícone, o desenho de um
cachorro é um ícone quando apresenta semelhança com ele.
Se a relação é de causa e efeito, uma relação que afeta a existência do
objeto ou é por ela afetada, temos um signo do tipo índice. Por exemplo, a
fumaça indica o quê? A resposta certa seria o fogo, pois aqui nós estabelecemos
uma relação causal entre a o fogo (que é a causa) e a fumaça (que é o efeito do
fogo), outros exemplos podem ser usados para exemplificar essa ideia, como o
chão molhado que indica que choveu, estabelecendo uma relação causal de
efeito (chão molhado) e causa (chuva) mostrando que a relação entre a coisa e a
linguagem não precisa ser de semelhança para que ocorra uma mensagem.
E, por último, se a relação é arbitrária, regida simplesmente por convenção,
temos o símbolo. As palavras são o melhor exemplo de símbolo, mas há muitos
outros: nas culturas ocidentais, o preto é símbolo de luto: o uso da aliança no
dedo anelar da mão esquerda simboliza a condição de casado: o desenho de um
coração simboliza amor, amizade. Esses signos são aceitos pela sociedade como
representação dos objetos de luto, casamento e sentimento de amor e mantêm-
se por convenção hábito ou tradição.
O ser humano cria símbolos, isto é, signos arbitrários em relação ao objeto
que representam e que são convencionais: para serem usados, precisam ser
aceitos por todos os membros da sociedade. Como não há relação alguma entre
o signo e o objeto por ele representado, necessitando de uma convenção, aceita
pela sociedade, de que aquele signo representa aquele objeto. Só a partir dessa
aceitação podemos comunicar, sabendo que, ao usar o signo-símbolo, o nosso
interlocutor entenderá o que estamos querendo dizer. A linguagem, portanto, é
um sistema de representações aceito por um grupo social que possibilita a
comunicação entre os integrantes do grupo.
O laço entre representação e objeto representado é arbitrário, podendo
dizer que ele é necessariamente uma construção da razão, isto é, uma invenção
do sujeito para poder se aproximar da realidade. A linguagem, deste modo, é
produto da razão e só pode existir onde há racionalidade. A linguagem é um dos
principais instrumentos na formação do mundo cultural, porque nos permite
transcender nossa experiência. No momento em que damos nome a qualquer
objeto da natureza, nós o individualizamos, diferenciando-o do resto que o cerca:
ele passa a existir para a nossa consciência.
O nome, ou a palavra, retém na nossa memória, enquanto ideia daquilo
que já não está ao alcance dos nossos sentidos: o cheiro do mar, o perfume do
jasmim numa noite de verão, o toque da mão da pessoa amada, o som da voz do
pai. O simples pronunciar de uma palavra representa, isto é, torna presente à
nossa consciência o objeto a que ela se refere. Não precisamos mais da existência
física das coisas: criamos, por meio da linguagem, um mundo estável de ideias
que nos permite lembrar o que já foi e projetar o que será. Através da linguagem,
o ser humano deixa de reagir somente ao presente, ao imediato; passa a poder
pensar o passado e o futuro e, com isso, a construir o seu projeto de vida.
Só o ser humano é capaz de criar signos arbitrários, pois os animais são
apenas capazes de entender ícones e índices. Os cachorros, por exemplo, utilizam
o signo inicial do cheiro, sendo capazes de reconhecer o cheio do dono em uma
roupa, em um lugar. O cheiro indica a presença do objeto (dono) que ele procura,
ele reconhece, ainda, o tom de voz, as ações que indicam passeio, castigo ou a
hora de comer. A aprendizagem dos signos se dá por meio de outros signos,
inclusive misturando linguagens.
Por exemplo, para explicar o signo-palavra “casa” para uma criança,
podemos fazer um signo- desenho de uma casa. O desenho, nesse caso, é um
segundo signo que interpreta, dá sentido ao primeiro, pela semelhança com o
objeto representado. Um sinônimo explica igualmente um signo: “casa” pode
também ser interpretada por meio da palavra “lar”. O segundo signo (lar)
interpreta o primeiro em sentido bastante específico de “minha casa” ou “lugar
onde moro e considero meu refúgio”.
Existem também, outros elementos essenciais na linguagem, como a ideia
de repertório, pois estamos interagindo com um sistema de signos, sendo
necessária uma memorização de signos que a compõem. O repertório das
linguagens verbais (ou línguas, como são chamadas) é bastante amplo e costuma
ser relacionado em dicionários. Além do repertório, também é preciso que se
estabeleçam as regras de combinação dos signos, pois não podemos combinar
signos que tenham sentidos opostos: subir/descer, nascer/morrer, entre outros.
Devemos estabelecer as regras de uso dos signos na linguagem, só quando
conhecemos o repertório de signos, as regras de combinação e as regras de uso
desses signos é que podemos dizer que dominamos uma linguagem.
Todo signo tem um significado próprio, estabelecido por convenção social.
Esses são os significados que constam do dicionário, porém o signo tem mais de
um significado, uma vez que seu uso foi sendo modificado ou ampliado em
tempos e lugares diferentes. Logo, só podemos saber com qual significado o
signo está sendo usado a partir da frase, que oferece o primeiro contexto da
comunicação. A situação social na qual a frase é dita é o segundo contexto que
nos auxiliará na decodificação do signo e da mensagem. Não basta, portanto, ter
domínio do código para interpretar corretamente os signos e as mensagens, é
preciso ter conhecimento das situações sociais, isto é, da cultura na qual a
linguagem é utilizada e a comunicação ocorre.
Com a contínua criação de vários tipos de linguagem que permite os seres
humanos pensar as diversas formas da realidade e, também, de se expressar e de
se comunicar com seus semelhantes. Os avanços tecnológicos nos obrigam a
adaptar as linguagens já existentes e a criar outras, mais adequadas às
necessidades da contemporaneidade. A questão em jogo está em, se essas novas
linguagens se estruturam da mesma forma? O repertório de signos e as regras de
combinação e de uso desses signos são similares?

BUSCANDO CONHECIMENTO

Podemos afirmar que algumas linguagens têm estrutura mais flexível do


que outras, como, por exemplo, a moda e sua linguagem flexível, onde
percebemos que o repertório de signos é alterado com muito mais rapidez do
que os sons e as palavras que compõem uma língua. Quanto às regras de
combinação, elas também são variáveis, pois ainda se baseando no exemplo da
moda, podemos hoje usar botas e outros calçados pesados com roupas de
tecidos leves, criando, assim, um grande contraste.
A flexibilidade característica da linguagem da moda decorre do fato de que
ela não se estabelece, como as línguas faladas, por meio de um processo de
cristalização social. Ao contrário, ela é ditada por um pequeno grupo de
costureiros, desenhistas e editores de moda que, em uma sociedade capitalista,
incentivam mudanças que estimulem o consumo. Outro exemplo que podemos
utilizar são as linguagens de computador, que são fortemente estruturadas e
bastante inflexíveis. Essas linguagens têm um número limitado de signos e de
regras de combinação, e o computador só responderá dentro desses limites.
As linguagens artísticas constituem um meio-termo. Por um lado,
respeitam a especificidade de cada campo artístico; por outro, tendem a explorar
esse campo e as possibilidades de cada linguagem até seu limite máximo. E é
exatamente a essas explorações que devemos o desenvolvimento e a criação de
novos estilos e técnicas; neste ponto, as linguagens só se desenvolvem em função
de projetos. As linguagens artísticas, por serem mais flexíveis, podem se estruturar
e reestruturar com base em projetos específicos.
UNIDADE 02- A ESTRUTURA DA LINGUAGEM (PARTE II).

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Objetivos: Analisar os estudos estruturais da linguagem e sua utilidade.

ESTUDANDO E REFLETINDO

Entre tantos tipos de linguagem, surge uma pergunta fundamental: para


que servem as linguagens? Na tentativa de responder a essa pergunta, o linguista
contemporâneo Roman Jakobson propôs uma abordagem das funções
comunicativas da língua verbal bastante ampla que também pode ser usada para
as demais linguagens. Após estudar a semiótica clássica, Jakobson percebeu a
necessidade de firmar a linguagem como elemento de comunicação humana por
excelência. O linguista, então, distingue seis fatores fundamentais na comunicação
verbal que dão origem a seis funções linguísticas diferentes. Esses fatores são:
contexto, emissor, mensagem, destinatário, contato e código. Gerando seis
funções diferentes.

Jakobson foi um dos grandes linguistas do


século XX, estudando a estrutura e a utilidade da
linguagem do ser humano.

Essas funções são: a função referencial, que é orientada para o contexto da


comunicação, isto é, refere-se ao que está ao nosso redor, como a afirmação:
“hoje faz frio.”. A função expressiva ou emotiva: está centrada no emissor, que
declara a sua atitude afetiva sobre o assunto do qual está tratando, por exemplo,
a poesia lírica ou os xingamentos. A função conativa: é orientada para o
destinatário, invocando-o ou dando-lhe uma ordem. A função fática: tem por
objetivo estabelecer, manter ou interromper a comunicação. Na função
metalinguística: a mensagem discute o uso do próprio código, esclarecendo-o,
como quando perguntamos o significado de uma palavra; também pode ser o
caso de uma linguagem comentar outra linguagem, como a leitura de uma obra
de arte. E, por fim, a função poética, que é aquela que visa à mensagem em si,
colocando em evidência a sua própria forma. A mensagem poética ou estética é
sempre estruturada de maneira ambígua em relação ao código, não se
manifestando claramente.
Essas funções não se apresentam separadamente em cada mensagem, mas
combinam-se entre si. A diversidade das mensagens depende da hierarquização
das várias funções, com predominância de uma sobre as demais. Considerando a
linguagem do ponto de vista funcional, Jakobson dá conta não só dos aspectos
cognitivos da língua, mas também de aspectos afetivos que fazem parte de quase
toda situação comunicacional.
Ampliando essas funções para outras linguagens, podemos dizer que tanto
a linguagem da moda quanto as obras de arte expressionistas fazem uso da
função expressiva. Já os manuais técnicos e todas as obras realistas apresentam
uma preponderância da função referencial. A propaganda, as preces e a arte
romântica estão centradas sobre o destinatário, tendo função conativa. A
introdução de qualquer peça musical ou o apagar das luzes numa encenação
teatral tem o objetivo de testar ou estabelecer o contato com o destinatário,
realizando, portanto, a função fática. Quando fazemos uma paródia, estamos
usando a função metalinguística; o mesmo acontece quando adaptamos um texto
para o teatro ou cinema. Já a função poética necessariamente está presente em
todas as obras de arte.
Com isso, podemos responder à pergunta sobre a utilidade da linguagem:
para nos comunicarmos com os outros seres humanos de hoje, passado e futuro;
para expressar nossos afetos positivos ou negativos; para falar da realidade que
nos circunda; para despertar uma reação no destinatário; para discutir o código
que estamos usando ou outro qualquer; para reafirmar o contato com o outro,
sem o que não haverá comunicação; e para fazer arte.
Assim, como existem diversos tipos de linguagem, existem também
diversos tipos de pensamento. Há o pensamento concreto, que se forma a partir
da percepção sensível, ou seja, da representação de objetos reais, e é imediato,
sensível e intuitivo; e o pensamento abstrato, que estabelece relações (não
perceptíveis), que cria os conceitos e as noções gerais e abstratas, é imediato
(precisa da mediação da linguagem) e racional. Quando somamos 4+4, estamos
lidando com uma noção geral de quantidade, pois não encontramos o número 4
na natureza, encontramos certa quantidade de laranjas, abacates, etc.,
representados abstratamente pelos números que são construção da nossa razão.
Cada tipo de pensamento tem uma linguagem específica para representá-lo,
como: o pensamento abstrato e conceitual, que se afasta do sensível, do
individual, a língua se apresenta como condição necessária, por ser um sistema de
signos simbólicos que, como já dissemos, nos permite ir além do dado vivido e
construir um mundo de ideias.
Se cada linguagem possui uma estruturação própria quanto ao repertório e
às regras de combinação e de uso, isso resulta na afirmação de que cada
linguagem organiza a realidade de modo diferente de outra, pois estabelece
repertório e regras diferentes. O fato importante de ser ressaltado, entretanto, é
que, se uma língua tem um maior número de palavras para recortar a realidade, a
existência dessas palavras leva a uma percepção diferente da realidade. A língua
influencia a percepção da realidade e os níveis de abstração e generalização do
pensamento, outros tipos de linguagem, entretanto, em especial as linguagens
artísticas, são mais adequados ao pensamento concreto, como, por exemplo, o
pintor está mais ligado ao mundo visual das cores e formas do que ao mundo dos
conceitos.
Além de estruturar o pensamento, a linguagem mantém estreita relação
com a cultura. Se, por um lado, as várias linguagens fixam e passam adiante os
produtos do pensamento sob forma de ciência, técnica e artes, elas também
sofrem a influência das modificações culturais. A reestruturação da linguagem
responde a mudanças de valores, de anseios e de buscas no seio da cultura de
cada sociedade.

BUSCANDO O CONHECIMENTO

A linguagem é um produto bastante sofisticado que só a razão humana


pode criar, sendo a linguagem simbólica a linguagem específica do ser humano. A
estrutura dessa linguagem, adequando-se à cultura dentro da qual se desenvolve
apropriadamente ao tipo de pensamento que vai comunicar ou expressar. Ela
permite que o ser humano vá além do mundo vivido, do presente, para o mundo
das ideias, da reflexão; permite que ele ultrapasse sua realidade de vida e entre no
mundo das possibilidades.
Nesta unidade, estudamos a estrutura que compõe a linguagem, como os
diversos signos que constituem a base inicial para a formação simbólica que
caracteriza a nossa linguagem verbal. Vimos, também, a importância do repertório
linguístico e das regras de combinação, sendo que só podemos combinar a nossa
linguagem literalmente se possuímos o domínio desses dois elementos. A
linguagem aparece, aqui, ligada ao pensamento, gerando uma relação intrínseca
entre os mais diferentes tipos de linguagem, com as diversas formas de
pensamento, dando, por fim, a resposta da utilidade linguística para as nossas
vidas, que é a comunicação com os humanos de hoje, do passado e do futuro,
expressando as nossas diversas emoções e conhecimentos.
UNIDADE 03 - ESTUDOS DA LINGUAGEM PRÉ-ANALÍTICA: O
CONVENCIONALISMO DE PLATÃO

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Objetivos: Compreender as análises da linguagem antes do período analítico.

ESTUDANDO E REFLETINDO

A linguagem sempre foi uma preocupação da maioria dos filósofos, pois é


somente através dela que os filósofos podem passar os seus conhecimentos para
as gerações futuras. Desde Platão, a linguagem assume uma grande
preocupação, tornando-se um assunto especializado em seu livro Crátilo, onde o
filósofo trata de questões relativas à relação entre os nomes e as coisas que os
mesmos designam.
Para o filósofo, os nomes na verdade correspondem às coisas, pois é uma
espécie de imitação dos seres, porém a linguagem não é uma cópia perfeita,
tendo como dever basear-se nos caracteres ou qualidades essenciais a serem
imitadas, sem as quais os nomes seriam impossíveis. O modo natural de fazer os
nomes, portanto, deve levar em conta o conhecimento do modelo, isto é, do ser,
para se fazer a imitação.
Com Aristóteles, o estudo da linguagem seguiu um caminho diferente dos
estudos realizados por Platão; as palavras, para Aristóteles, representam alguma
coisa que tem lugar no interior do homem. A linguagem simbolizaria aquilo que
vai ao espírito, resultado do impacto do mundo sobre o homem, o modo como
aquilo o afeta. Sendo assim, é necessário o desenvolvimento de uma ferramenta
para que exista uma harmonia entre o pensamento e o mundo, a qual o filósofo
nomeia de lógica e possui uma articulação racional do pensamento.
Outro significativo discurso sobre a linguagem ocorreu na idade média
com a questão dos universais. De um lado, os pensadores realistas que
postulavam a existência de coisas exteriores a nós e independentes do que
pensamos sobre elas. E, do outro lado, os pensadores nominalistas que afirmavam
que nenhuma substância metafísica se esconde por trás das palavras: as pretensas
essências não existem além de palavras ou signos que representam coisas sempre
singulares.
Platão (427 – 347 a.C.) nasceu em Atenas, pertencendo a uma das mais
nobres famílias atenienses. Seu nome verdadeiro era Arístocles, mas, devido à sua
constituição física, recebeu o apelido de Platão, termo grego que significa “de
ombros largos”. Platão foi discípulo de Sócrates, sendo que, depois da morte do
mestre, o filósofo empreendeu inúmeras viagens num período em que ampliou
seus horizontes culturais. Por volta de 387 a.C., retornou a Atenas, onde fundou
sua própria escola filosófica, a Academia, nos jardins construídos por seu amigo
Academus. A maior parte do pensamento platônico nos foi transmitida por
intermédio da fala de Sócrates, nos diálogos socráticos, escritos por ele mesmo,
Platão.
Um dos aspectos mais importantes da filosofia de Platão é a sua teoria das
ideias, com o qual procura explicar como se desenvolve o conhecimento humano.
Segundo ele, o processo de conhecimento se desenvolve por meio da passagem
progressiva do mundo das sombras e aparências para o mundo das ideias e
essências. Em Crátilo, o filósofo desenvolve seu conceito de linguagem e mostra
os problemas existentes entre a linguagem e o mundo, questionando se essa
relação entre a linguagem e o mundo se dá por meio de uma convenção ou de
uma relação natural, que consiste na própria essência da palavra.
Em sua análise, Platão divide a teoria da linguagem em dois lados: os
convencionalistas e os naturalistas. Para o convencionalismo, a relação entre as
palavras e o que os nomeiam (o objeto) se dá por meio de convenção: se alguém
atribui um nome a alguma coisa, esse é considerado o seu nome correto; as
palavras são como adesivos verbais que aplicamos aos objetos. Já no naturalismo,
ao contrário, as palavras exprimem a essência dos objetos que nomeiam, ou seja:
ao usarmos as palavras para nos referimos a algo, já estamos dizendo a própria
coisa.
Um dos maiores defensores da teoria convencionalista foi o filósofo
Hermógenes (século V a VI a.C.) que sustentava que a relação entre as palavras e
o objeto que elas nomeiam é estabelecida por uma convenção ou acordo, sendo
que a origem do significado das palavras se deve ao hábito, pois alguém
provavelmente no passado nomeou um objeto com determinada palavra. Essa
prática foi sendo imitada por outras pessoas e, com o tempo, tornou-se hábito,
vindo a fixar-se, por fim, em costume ou lei. Os nomes e as palavras adquirem
seus significados, através de um acordo social, o qual é produto unicamente do
hábito, por parte dos usuários de linguagem, de se referir a determinadas coisas
com as mesmas palavras de forma constante.
Segundo Platão, o convencionalismo defendido por Hermógenes seria uma
generalização da concepção de batismo (colocar nomes nas coisas) para todas as
outras espécies de palavras. O uso da palavra, segundo Hermógenes, se dá por
meio de regras que são definidas pela convenção, sendo que não existe nada que
vincule de forma necessária e não ambígua um nome a determinado objeto. Toda
denominação é arbitrária, não segue nenhuma regra ou critério, a não ser o
capricho de quem dá um nome a alguma coisa. Para Hermógenes, poderíamos
até mesmo substituir, a qualquer momento, os nomes dos objetos por outros
nomes, como, por exemplo, chamar de “caneta” aquilo que hoje nós chamamos
de “cachorro”, pois as palavras são meros acidentes que possuem o significado
que têm no momento.
A crítica de Platão ao convencionalismo de Hermógenes consiste no
pressuposto de que todo e qualquer nome é verdadeiro. Sócrates (personagem
que Platão usa para expressar seus conceitos em seus livros) imediatamente
associa essa tese com a afirmação dos sofistas de que o homem é a medida de
todas as coisas. Para os sofistas, as coisas são para as pessoas tais como elas as
percebem: toda sensação é verdadeira, como as nossas opiniões, que se baseiam
nas sensações, única fonte de conhecimento; sendo assim, impossível falar de
falso e contradizer.
Se todas as opiniões são verdadeiras, então todos os homens seriam
sábios, bons, virtuosos e não seria mais necessária a educação, pois todos teriam
as suas opiniões tidas como verdade, já que as coisas são tais como cada um
percebe particularmente. Para Platão, as coisas têm uma essência fixa, sendo
possível dizer-se a verdade ou mentir, existindo discursos falsos e verdadeiros; o
discurso verdadeiro só o é, se for verdadeiro nas partes; a menor parte do
discurso é o nome e, como os nomes são partes do discurso, eles também podem
ser verdadeiros ou falsos.
Platão observa que nomear é um ato, e em todo ato realizamos algo, a
função da linguagem divide-se em duas: de ensinar, isto é, comunicar algo sobre
o mundo a outras pessoas, e de distinguir os seres, existindo critérios objetivos
para o uso dos nomes. A função da linguagem é comunicar a verdade, os nomes
devem referir-se às coisas que realmente existem e a características, nessas coisas,
que realmente sejam tais como descritas. Nomear não é atribuir uma palavra,
concebida como uma mera sequência de sons, a um objeto, mas descrever a
essência de uma coisa. Aqui percebemos que, o nome não é apenas um rótulo
arbitrário aplicado no objeto, mas tem uma função de descrever corretamente a
essência, distinguindo-o das outras coisas.
UNIDADE 04 - ESTUDOS DA LINGUAGEM PRÉ-ANALÍTICA: O
NATURALISMO PLATÔNICO

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Objetivos: Compreender as análises da linguagem antes do período analítico.

ESTUDANDO E REFLETINDO

Na teoria naturalista, o nome é uma representação, entendida mesmo


como uma exibição da coisa nomeada. Dizer um nome de uma pessoa seria,
então, como que apresentar à pessoa em questão o nome que é a sua imitação;
os nomes manifestam, representam as coisas, por meio da semelhança com elas,
e não por uma convenção casual, como acredita Hermógenes. No diálogo em
Crátilo, Sócrates discute sobre a visão naturalista de Crátilo mostrando que, para
ele, não há nomes mal aplicados, nem nomes melhores e piores do que outros:
todos os nomes são corretos, bem atribuídos, ou não são nomes. Não podemos
nem dizer que o nome seja mal aplicado ou errado, pois é impossível falar falso,
assim, apesar de a posição de Crátilo ser diametralmente aposta à de
Hermógenes, ele leva às mesmas conclusões do convencionalismo.
Para escapar dessas contradições, Platão claramente separa nome e objeto:
uma coisa é nome, outra coisa é o objeto que é nomeado pelo nome.
Comparando com uma pintura, o filósofo diz que o nome seria como que uma
imitação (mímesis) da coisa, como, por exemplo, um retrato de um homem, em
relação a um homem que seria uma atribuição correta, ao contrário da relação
entre o quadro do homem e uma mulher. Para que ocorra uma atribuição correta
dos nomes, é necessário distribuir os elementos da mesma forma como os
elementos correspondentes ao objeto se organizam, isto é, não se deve deixar
nada faltar, nem acrescentar nada mais do que o contido no objeto.
Todavia, um nome que deixe de fora aspectos relevantes do objeto, ou que
acrescente coisas que não lhe pertencem, seria um nome mal produzido e mal
atribuído, mas não deixaria, por isso, de ser um nome, uma imagem, uma
imitação, embora precária, do objeto. O nome, para se referir a algo, não precisa
ser uma duplicação exata do objeto: não é preciso representar todas as
características do objeto, mas apenas as que são essenciais para a sua
identificação.
Se o nome contém todos os elementos essenciais, é bem-aplicado, e é um
nome verdadeiro; se não, sendo mal estabelecido, é um nome falso. Assim, uma
imagem não deixa de ser imagem de determinado objeto, se algo lhe é
acrescentado ou diminuído (desde que não for algo essencial da representação
do objeto); analogicamente, um nome não deixa de ser nome de algo, se
acrescentamos ou retiramos letras que o compõem. Um nome que não seja
adequadamente atribuído terá algumas letras que não apresentam a coisa, mas,
ainda terá as necessárias para representar a coisa, e será o nome dessa coisa.

Platão foi um dos primeiros filósofos a refletir


sobre a função da linguagem.

(Fonte: http://filosofiaocupada.com.br/2014/06/14/download-e-
book-platao-filebo-gorgias-teeteto-os-pensadores-midias/)

A conclusão de Platão em Crátilo, é que não é possível determinar o


significado das palavras por meio das outras palavras, pois, neste caso, qualquer
palavra pode, mediante alterações adequadas em suas letras componentes,
significar qualquer coisa. E também não é possível explicar o sentido das palavras
derivando-as de outras palavras, pois adicionando, suprimindo ou transpondo
letras, pode-se transformar qualquer palavra em qualquer outra e, desta forma,
atribuí-la a qualquer coisa; isso significa que a linguagem também não tem fixidez.
O ponto de Platão contra as duas teorias é que elas não explicam o fato de que
nós podemos compreender o significado das palavras, independentemente da
forma na qual elas são grafadas.
O filósofo defende uma teoria proposicional da linguagem, na qual as
ideias fazem papel do que metafísicos contemporâneos chamam de proposição.
O conteúdo cognitivo que elas transmitem, isto é, seu significado, permanece
constante, de certa forma, apesar de quaisquer alterações que os nomes sofram,
resultando na afirmação de que as palavras não são, em si, portadoras de
significado, mas transmissoras dele.

BUSCANDO CONHECIMENTO

Para refletir sobre o assunto, apresento um excerto do artigo do


pesquisador Rogério Santos dos Prazeres sobre o naturalismo platônico.1
O Crátilo de Platão é a referência fundamental para encetar reflexões sobre
a linguagem, e em mais específico, sobre a semântica. Nele está o embasamento
do raciocínio moderno, em que se possibilitou aperfeiçoar abordagens da
linguística contemporânea, de Saussure a Chomsky, e contributos
interdisciplinares relevantes ao estudo da linguagem ou, contemporaneamente, a
crítica da linguagem. Isso porque o logos, conforme Auroux, em Heráclito,
“designa tanto a expressão do pensamento humano quanto o princípio que
determina o devenir cósmico”, a tese da instabilidade de todas as coisas.
O modo dialético em que Platão expõe o debate acerca da realidade e a
correspondência entre os enunciados no Crátilo inquieta pela busca da verdade.
Por isso, ao se considerar a relação pensamento e linguagem, pode-se concluir
uma epistemologia vinculada a esta relação, cujo intuito primário é trazer à tona a
verdade. Trata-se de uma elucidação da análise do que é percebido e o seu
significado, “o exprimido, cujo sentido só é acessível por um contato direto e que
                                                            
1
Disponível: <http://revistas.pucsp.br/index.php/reveleteo/article/view/15692/11759>, acesso em: 22/10/2014.
irradia a sua significação sem abandonar o temporal e o espacial”,
contextualizados na conexão existente entre linguagem e conhecimento. Com isso
“não há então nada de espantoso que em Platão, por várias vezes, no Théétète
(189e), no Sofiste (263e) e no Philèbe (38c) identifique-se o logos e a dianoia, isto
é, o pensamento” propriamente dito.
É justamente a linguagem que nos arremete a uma teoria do conhecimento
platônica no Crátilo, ao se tratar da verdade nos enunciados. A esse respeito, há
no Crátilo um dispositivo dialético que alterna perguntas e respostas entre os
interlocutores Crátilo, Hermógenes e Sócrates, embora as argumentações estejam
estabelecidas a cargo, principalmente, de Sócrates.
Distinguem-se no texto de Platão duas partes. Isto é, um colóquio entre Sócrates
e Hermógenes; e outro, entre Sócrates e Crátilo. “Na primeira parte, combate-se a
tese de Hermógenes a partir de uma análise minuciosa dos elementos da
linguagem; mas na segunda parte, o diálogo se detém mais na tese de Crátilo”.
Em ambos os casos, “em termos saussurianos, a questão é saber se o signo
linguístico é arbitrário”. Então se submete à apreciação duas proposições que
desencadeiam investigações sobre a reprodução da essência do objeto no nome,
primadas em duas vertentes: a convencionalista (387 d); e a naturalista (390 e).
UNIDADE 05 - A LINGUAGEM EM ARISTÓTELES

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Objetivos: Compreender a análise linguística realizada por Aristóteles.

ESTUDANDO E REFLETINDO

Aristóteles
Aristóteles (384 – 322 a.C.) nasceu em Estagira, na Macedônia, foi um dos
mais importantes filósofos gregos da Antiguidade. Filho de Nicômaco, médico do
rei da Macedônia, aos dezoito anos foi para Atenas e ingressou na Academia de
Platão, onde permaneceu por cerca de vinte anos, tendo uma atuação
crescentemente expressiva. Com a morte de Platão e a colocação de outro
filósofo para dirigir a Academia, Aristóteles, decepcionado com o episódio, deixou
a Academia e partiu para Assos, na Mísia, Ásia Menor, onde permaneceu até 345
a.C. Pouco tempo depois foi convidado pelo rei Felipe II, rei da Macedônia, para
ser professor de seu filho Alexandre, o que se estendeu até 340 a.C., quando

Alexandre assume a direção do império Macedônico.


Por volta de 335 a.C., Aristóteles regressou a Atenas, fundando sua
própria escola filosófica, que passou a ser conhecida como Liceu. Em 323 a.C.,
após a morte de Alexandre, os sentimentos antimacedônicos ganharam grande
intensidade em Atenas. Devido à sua notória ligação com a corte macedônica,
Aristóteles passou a ser perseguido, refugiando-se em Cálcis, na Eubeia, até a sua
morte, em 322 a.C. Apaixonado por biologia, dedicou inúmeros estudos à
observação da natureza e à classificação dos seres vivos. Tendo em vista a
elaboração de uma visão científica da realidade, desenvolveu a lógica para servir
de ferramenta do raciocínio.
Ao analisar a linguagem, Aristóteles diz que as palavras são símbolos de
carismas da nossa alma. A relação de símbolos se refere à relação entre os sons
da voz e as modificações da alma; assim como relação entre os caracteres da
escritura e as expressões vocais, os sons incluem nomes, verbos, o discurso e suas
formas. No pensamento de Aristóteles, a linguagem não é mais vista como o
princípio da união total que liga a palavra ao ser, mas sim como símbolo de um
estado psíquico, o que equivale a dizer que a relação da linguagem com o ser não
é imediata.
Estando ciente da diversidade da língua, Aristóteles reconhece que as
palavras não são significantes por elas mesmas, pois, se fossem, não haveria mais
que uma única língua para todos os homens. Como a palavra é símbolo de um
estado psíquico e como este último é uma imagem das coisas reais, a linguagem
não tem qualquer relação de semelhança com as coisas. Ao fazer uma
contraposição à teoria da linguagem dos sofistas, afirmando a impossibilidade
factual de uma ligação natural e imediata entre as palavras e as coisas, tem-se
que, para os sofistas, existia uma relação, ainda mediata, da linguagem com a
realidade.

Aristóteles organizou um estudou sistemático sobre a linguagem


e sua função.

(http://pt.wikipedia.org/wiki/Arist%C3%B3teles)

A linguagem para Aristóteles representa símbolos de carismas da nossa


alma, e não tem qualquer relação de semelhança com as coisas.
As coisas relativas às vozes não se restringem apenas à convenção, que
podemos chamar também de vozes significativas ou símbolos. Podemos
reconhecer em Aristóteles algo que chamaremos de vozes significativas não
convencionais, que são sons inarticulados, como aqueles dos animais brutos; eles
exprimem alguma coisa, sendo que nenhum deles é um nome. Temos, assim, por
um lado, o som natural e não articulado e, por outro, o som convencional e
articulado. As palavras, ou vozes significativas convencionais são compostas, e
suas partes não são por si só significativas, são também sons vocais desprovidos
de sentido que poderíamos chamar de vozes não significativas.
A significação das palavras se deve ao fato de serem constituídas por
certa estrutura articulada, absolutamente convencional. Embora Aristóteles afirme
que a linguagem é um conjunto de símbolos ou vozes significativas
convencionais, reserva um espaço para as vozes não convencionais. O caráter
simbólico da linguagem se apresenta nos discursos, que reenvia os carismas da
alma, relacionando-se mediatamente com os símbolos. Aristóteles também define
a linguagem como signo, pois manifesta ou evidencia alguma coisa que não é ele
próprio, como, por exemplo, a fumaça é signo de fogo, porém, a linguagem,
enquanto simbólica e convencional, não pode ser identificada com a totalidade
dos signos, pois muitos destes se relacionam real e naturalmente com aquilo que
são signos. Se a linguagem enquanto símbolo é signo, é porque, constituindo-se
como uma voz significativa convencional, evidencia ou manifesta estados
psíquicos. Assim, a linguagem não manifesta as coisas, mas as significa. O símbolo
é, portanto, um signo convencional; todavia, a significação dos nomes não
prejulga a existência ou a inexistência das coisas; não é juízo, pois faz a abstração
da existência ou inexistência da coisa significada. A verdade passa a adquirir uma
conotação de similitude, pois os discursos verdadeiros são semelhantes às
próprias coisas, sendo verdadeiro quando revelarem conexões que existem
realmente nas coisas e falsos no caso contrário.
O discurso se assemelha às coisas não na medida em que é discurso, mas
na medida em que reflete conexões reais, isto é, na medida em que é verdadeiro.
O ato de estabelecer ligações entre os termos não pertence propriamente à
linguagem: as conexões possuem um estatuto psíquico; revelam-se nas afecções
psíquicas, sendo que o intelecto é capaz de receber as formas inteligíveis e
estabelecer as relações entre os universais. É verdadeiro não tanto enquanto
símbolo convencional, mas na medida em que é signo imediato de um carisma
semelhante a algo real, manifestando imediatamente esta similitude (carisma) e
mediatamente a coisa existente.

BUSCANDO CONHECIMENTO

Para um melhor aprofundamento, apresento um excerto retirado do site


Filosofando, sobre a linguagem em Aristóteles.2
Na Filosofia Antiga, Pitágoras, Demócrito e Empédocles trataram da
origem da linguagem entendendo que a mesma é o espelho imediato das coisas
– natureza ou divindade -. As mesmas (natureza ou divindade) expressam,
mostram, a linguagem. Demócrito, cf. Cassirer (1977: 183), (...) foi o primeiro a
propor a tese de que a linguagem humana se origina de certos sons, de caráter
puramente emocional. Cassirer (op. cit., p. 178) reporta-se ao princípio
cosmológico do ser de Heráclito quando diz: O logos transforma-se no princípio
do universo e no primeiro princípio do conhecimento humano. Ou seja, a palavra
é o princípio da existência do ser, porque sustenta o ser, continua Cassirer (op. cit.,
p. 179): Mesmo no pensamento de Heráclito, a palavra, o Logos, não é
simplesmente um fenômeno antropológico. Não está confinado nos estreitos
limites do mundo humano, pois possui verdade cósmica universal.

                                                            
2
 Disponível: < http://filosofando.no.comunidades.net/index.php?pagina=1351052977_04> , acesso em: 
20/12/2014. 
[...] Na vida ateniense do século V, a linguagem se tornara instrumento
para propósitos práticos definidos e concretos, sendo a mais poderosa das armas
nas grandes lutas políticas. Sem ela ninguém poderia esperar desempenhar um
papel importante. [...]
Para Aristóteles, a linguagem é instrumento do pensamento e tem como
função representar as coisas. As coisas passam a existir, diz Aristóteles, à medida
que a nomeamos. De acordo com Aristóteles, a linguagem é natural na sua
função e convencional na sua origem. Ou melhor, a linguagem está presente na
natureza humana no seu aspecto funcional de representar as coisas para
intrumentalizar o pensamento; e no aspecto de sua origem, ela é convencional. A
partir da necessidade intrínseca funcional da linguagem é que o homem inventa a
mesma num contexto sócio-cultural.
UNIDADE 06 - A QUESTÃO DOS UNIVERSAIS

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Objetivos: Analisar como a linguagem foi estudada no período medieval.

ESTUDANDO E REFLETINDO

A questão dos Universais.


No período escolástico (IX ao XVI d.C.), a busca de harmonização entre a fé
cristã e a razão manteve-se como problema básico de especulação filosófica.
Além de apresentar a característica fundamental da filosofia medieval, que é a
referência às questões teológicas, a escolástica trouxe significativos avanços no
estudo da lógica. E ocorreu por meio de Boécio que aperfeiçoou o quadrado
lógico, sistema de relações entre afirmativas, que fornece a base lógica para
garantir a validade de certas formas elementares de raciocínio. Também foi o
primeiro a introduzir a questão dos universais, problema filosófico longamente
discutido por todo período da escolástica.

O método escolástico de investigação privilegiava o estudo da linguagem (o


trivium), para depois passar para o exame das coisas (o quadrivium). Desse
método surgiu a seguinte pergunta: qual a relação entre as palavras e as coisas?
Por exemplo: rosa é o nome de uma flor. Quando a flor morre, a palavra rosa
continua existindo. Nesse caso, a palavra fala de uma coisa inexistente, de uma
ideia geral. Mas como isso acontece?
O grande inspirador da questão foi o filósofo neoplatônico Porfírio (234 –
305), em sua obra Isagoge. Era grande discussão sobre a existência ou não das
ideias gerais, isto é, os chamados universais de Aristóteles. A relação entre as
coisas e seus conceitos envolvia não apenas problemas linguísticos e
gnosiológicos, mas também teológicos, surgindo duas posições antagônicas: o
realismo e o nominalismo. O realismo sustentava a tese de que os universais
existiam de fato, ou seja, as ideias universais existiram por si mesmas. Assim, por
exemplo, a bondade e a virtude seriam modelos ou moldes a partir dos quais se
criariam as coisas boas. Os termos universais seriam entidades metafísicas,
essências separadas das coisas individuais.
O abade Beneditino e o arcebispo de Cantuária (cidade inglesa) Santo
Anselmo (1035 – 1109) são exemplos de filósofos que defendiam o realismo, eles
acreditavam que as ideias universais existiriam na mente divina. O filósofo e bispo
francês Guilherme de Champeaux (1070 – 1121) também era realista e acreditava
que entre o universo das coisas e o universo dos nomes havia uma analogia tal
que quanto mais “universal” fosse o termo gramatical, maior seria o seu grau de
participação na perfeição original da ideia. Desse modo, por exemplo, o
substantivo brancura teria uma perfeição maior do que o adjetivo branco, que se
refere a um ente singular. Na mesma linha de raciocínio de Platão, o conceito
brancura seria mais perfeito do que qualquer coisa branca existente.
O nominalismo sustentava a tese de que os termos universais, tais como
bondade e virtude, não existiam em si mesmo, pois seriam apenas palavras sem
uma existência real. Para os nominalistas, o que existe são apenas os seres
singulares e o universal não passa, portanto, de um nome, de uma convenção. O
filósofo francês Roscelin de Compiègne (1050 – 1120) foi um dos principais
pensadores nominalistas: ele fala que só existiria a individualidade, logo se anulam
os termos universais. Roscelin também negava que Deus pudesse ser uno e trino
ao mesmo tempo, porque, para ele, cada pessoa da trindade seria uma
individualidade separada.
Entre essas duas posições contrárias, surgiu uma terceira, o realismo
moderado, sustentado por Pedro Abelardo (1079 – 1142): segundo o filósofo, só
existem as realidades singulares. No entanto, é possível que se busquem
semelhanças entre os seres individuais, através de abstração, de tal maneira a
gerar os conceitos universais. Tais conceitos não seriam, de acordo com Abelardo,
nem entidades metafísicas (posição do realismo), nem palavras vazias (posição do
nominalismo), e sim discursos mentais, categorias lógico-linguísticas que fazem a
mediação, a ligação entre o mundo do pensamento e o mundo do ser.
A importância da questão dos universais está não só no avanço que essa
discussão possibilitou em relação à busca do conhecimento da realidade, mas
também porque, através dela, se alcançou um alto nível de desenvolvimento
lógico-linguístico, que propiciou o surgimento de uma razão autônoma em
relação à teologia, por volta do século XII.

Pedro Abelardo fez uma síntese das duas correntes da


disputa dos universais da sua época, criando, assim, o
realismo moderado, em que mostra a possibilidade de
encontrar nos seres individuais os conceitos universais.

(http://dosefilosofia.blogspot.com.br/2011/11/abelardopedro.html)

BUSCANDO CONHECIMENTO

Para uma melhor compreensão, apresento um texto que fala sobre a obra
do filósofo medieval Pedro Abelardo.3
Pedro Abelardo (1079 - 1142)
A frase "a dúvida nos leva à pesquisa e através dessa conhecemos a
verdade" é um dos princípios de Abelardo que direciona tanto seus pensamentos
filosóficos como teológicos. O filósofo parte dessa idéia inicial para formar e

                                                            
3
 Disponível: <http://filosofiacienciaevida.uol.com.br/ESFI/Edicoes/41/artigo158680‐1.asp>, acesso em: 
20/12/2014.  
fundamentar o seu raciocínio crítico. A dúvida é onde começa o caminho para a
pesquisa, é uma frequente interrogação que nos leva a um exame mais
aprofundado das questões que nos interessam. Através da dúvida o filósofo
Abelardo emprega um caráter científico às suas investigações.
A dialética é para Abelardo muito mais do que um discurso feito de forma
habilidosa, ela é o instrumento que ajuda a distinguir com clareza o verdadeiro do
falso. Seguindo regras lógicas ela vai conseguir determinar se o discurso científico
é verdadeiro ou é falso. Abelardo pretende utilizar o vigor da dialética nos
estudos e nas argumentações teológicas para descobrir quais são os argumentos
legítimos e quais são os argumentos não autênticos e através dela fazer
prevalecer as verdadeiras doutrinas cristãs. Não é a razão que vai assimilar a fé,
mas a fé que vai apropriar-se da razão, pois o discurso filosófico não vai tornar
sem efeito o conjunto de sentenças da teologia, mas vai auxiliar no seu
entendimento e torná-lo mais fácil de compreender. A filosofia vai ser a
mediadora entre as verdades reveladas e o pensamento humano. Segundo a
filosofia de Abelardo, não é possível crer nas coisas que não se compreende.
O método lógico de análise utilizado por Abelardo consistia em estudar a
questão filosófica fazendo um exame das partes que a constituem, percebendo
assim os diversos pontos de vista incoerentes e contrários. É necessário a
realização de uma investigação completa que vai determinar as diferenças entre
as argumentações de um tema. A razão vai prevalecer sobre a opinião de quem
tem grande entendimento sobre determinado assunto. Abelardo não vai contra a
utilidade do pensamento de uma autoridade enquanto não houver meios ou
conhecimentos suficientes para se colocar em prática a razão. A partir do
momento que a razão encontrar condições de por si mesmo encontrar a verdade,
a autoridade passa a ser inútil.
Abelardo busca fazer uma conciliação, um entendimento, um acordo ou
ao menos um diálogo ente os primeiros filósofos, em especial Platão, e as teorias
teológicas do cristianismo. Pedro Abelardo acreditava que os primeiros filósofos,
mesmo estando fora do cristianismo, buscavam também a verdade através da
investigação lógica. Os primeiros filósofos e os filósofos cristãos estão unidos pela
razão.
A essência de Deus é impossível de ser definida, pois ela não pode ser
expressa. E não pode ser expressa porque para isso Deus teria que ser uma
substância, e Deus está fora de todas as coisas que conhecemos e que possamos
vir a conhecer. Para tentar explicar a trindade da pessoa divina Abelardo usa
como metáfora a gramática que diferencia quem fala, para quem se fala e o que
se fala. Na unidade divina as três pessoas podem ser uma só, pois é possível falar
de si a si mesmo. A primeira pessoa é também o fundamento das outras duas,
pois se não existir quem fala não existirá também o que se fala e a quem se fala.
Sobre as questões éticas Abelardo afirma que o pecado não é em si a
ação física, mas o elemento psicológico dessa ação, ou seja, o pecado é a
intenção de pecar e não a ação.
UNIDADE 07 - A FILOSOFIA ANALÍTICA DE RUSSELL E WHITEHEAD

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Objetivos: Compreender as análises da linguagem realizada pelo filósofo Bertrand


Russell.

ESTUDANDO E REFLETINDO

Bertrand Arthur William Russell nasceu em 18 de maio de 1872, em


Ravenscroft, nas proximidades de Tintern, em Monmouthshire. Depois da morte
precoce dos seus pais, foi acolhido na casa de sua avó, recebendo uma educação
inicial de preceptores particulares agnósticos; aprendeu perfeitamente o francês e
o alemão e, na biblioteca de seu avô, adquiriu gosto pela história e descobriu a
geometria de Euclides, encantando-se pelo rigor e clareza da matemática.
Boa parte de sua vida foi influenciada pelo pensamento idealista dos
alemães Kant e Hegel, somente com as discussões com o seu amigo e
companheiro acadêmico Moore, aconteceu a transformação, libertando-se das
cadeias do idealismo e voltando-se à trilha tradicional do empirismo da filosofia
inglesa. Entre 1899 – 1900, o filósofo desenvolve uma filosofia do atomismo lógico
e a técnica de Peano na lógica matemática; o atomismo lógico pretendia ser uma
filosofia que unia o empirismo radical a uma lógica astuta, sendo que a lógica
oferecia as formas-padrão do raciocínio correto e o empirismo oferecia as
premissas, que são proposições atômicas ou proposições complexas, construídas
a partir das primeiras.
A proposição atômica descreve um fato, afirmando que uma coisa tem
qualidade ou que determinadas coisas têm certas relações. Um fato atômico é o
que torna verdadeira ou falsa uma proposição atômica, por exemplo: “Sócrates é
ateniense.” - é uma proposição atômica, que expressa o fato de Sócrates ser
ateniense. Em outro exemplo, “Sócrates é ateniense e marido de Xantipa.” - é uma
proposição complexa ou molecular, pois une uma ou duas proposições atômicas.
Com o seu livro Princípios da Matemática (1903), a preocupação do
filósofo é mostrar, em primeiro lugar, que toda a matemática procede da lógica
simbólica, depois de descobrir, tanto quanto possível, quais são os princípios da
lógica simbólica. Para desenvolver as suas concepções filosóficas, Russell estuda o
pensamento do filósofo e lógico alemão Gottlob Frege, de que ele tira
importantes reflexões para dar continuidade à sua obra. Analisaremos, agora, os
principais conceitos desse filósofo, para dar um maior entendimento ao
pensamento de Russell.
Antes de Frege, a lógica se estabelecida baseava-se basicamente no
sistema aristotélico, que permaneceu inalterado até o século XIX. Porém, os
estudos realizados por Gottlob Frege (1848 – 1925) resultaram em consequências
que derrubariam a concepção aristotélica de lógica e provocariam um
desenvolvimento revolucionário nessa disciplina. Segundo o filósofo, a lógica não
são as “leis do pensamento”, aliás, nada têm a ver com pensamento, as relações
lógicas são independentes do pensamento humano. O ser humano pode
conhecer a lógica, aprendê-las, desconsiderá-las, entendê-las erradamente, mas
podemos fazer tudo isso com muitas outras coisas que existem
independentemente de nós. O principal na filosofia de Frege é saber se as
proposições lógicas são verdades objetivas ou não.
Podemos aprendê-las, ou deixar de aprendê-las, mas sua existência nada
tem a ver com qualquer aspecto do pensamento humano. Desde Descartes, a
filosofia ocidental fora dominada pela pergunta: “O que posso saber?” A teoria do
conhecimento estivera no centro; e isso passou a significar que o que acontecia
nas mentes das pessoas era o principal tema de investigação. Mas a ideia de
Frege teve a consequência de despsicologizar a filosofia. Se o que vem ao caso e
o que decorre disso é independente da mente humana, então nossas tentativas
de entender o mundo não podem legitimamente centrar-se na teoria do
conhecimento.
A filosofia, para Frege, deve se basear na lógica e não na teoria do
conhecimento; e o trabalho do filósofo acelerou mudanças nessa direção que
seguiram incontroláveis em várias das principais áreas da filosofia ao longo do
século XX. Com isso, Frege inicia um estudo minucioso a respeito do nosso
entendimento da matemática, os argumentos e demonstrações matemáticos,
como todos os outros argumentos e demonstrações, têm, a partir de algum lugar,
de contar com algumas premissas; e também têm de ter, pelo menos, uma regra
de procedimento se quiserem ir além de suas premissas. Como não é possível
para uma demonstração provar a validade de suas próprias premissas, ou de suas
próprias regras de procedimento, pois resultaria em um circulo vicioso, isso
significa que toda demonstração matemática parte de premissas não provadas e
usa regras de procedimento cuja validade ela não estabelece.
O que uma “prova” matemática válida realmente prova é que, dadas tais
regras de procedimento, tais conclusões decorrem de tais premissas. Ela não
prova que as conclusões sejam verdadeiras, porque não pode provar que as
premissas são verdadeiras; isso se aplica em todos os argumentos e
demonstrações matemáticos sem exceção. Toda a matemática tem ser vista como
flutuando livre no ar, sem nenhuma base de apoio visível. Estudando aritmética,
Frege visava mostrar que todas as suposições e regras não poderiam ser
derivadas dos mais elementares princípios da lógica. Isso tem como consequência
a validação da matemática como um corpo de verdades necessárias derivadas de
premissas puramente lógicas.
A meta para Frege era estabelecer a matemática em funções sólidas; mas
esse programa teria dois conjuntos de efeitos secundários que foram, ambos, de
importância histórica. Continham toda a matemática dentro de si, como uma
consequência necessária: seria tão verdadeiro dizer que a lógica era parte da
matemática quanto dizer que a matemática era parte da lógica, transformando o
estudo da lógica em um campo vasto e altamente técnico que se sobrepõe ao da
matemática. Outro efeito secundário foi que, se a matemática era paralela à
lógica, então a despsicologização da lógica automaticamente implicava a
despsicologização da matemática.
A matemática teve, ao longo da sua história, uma disputa entre os que
viam ela como um produto puramente mental, como a linguagem, e os que a
viam como tendo uma existência própria independente. Na visão de Frege, essa
disputa se concluiria em favor da segunda opinião. Com Frege, Russell considera a
matemática como a redução da lógica, que não existem conceitos típicos da
matemática que não possam ser reduzidos a conceitos lógicos e, que, com maior
razão, não existem procedimentos de cálculo e de derivação dentro da
matemática que não possam ser resumidos em derivações de caráter puramente
formal.
Russell sustenta também o modelo realista da matemática proposto por
Frege, existindo independente do sujeito que a pensa: existe e é sempre
verdadeira. Porém, Russell se distancia de Frege ao propor a teoria das descrições
(1905), dizendo que, embora algumas expressões indiquem a mesma coisa, dizem
coisas diferentes. O filósofo distingue o sentido e o significado ou, em outros
termos, a conotação e a denotação. As duas expressões têm o mesmo significado
ou a mesma denotação, ou seja, indicam o mesmo objeto, ao passo que o seu
sentido ou conotação, isto é, o que dizem desse objeto, é diferente.
Para evitar os becos sem saída e os enigmas a que expressões
denotativas levam, o filósofo propôs uma análise que visava a fazer desaparecer
tais expressões, eliminando também qualquer razão de crer que o objeto por ela
indicado tenha algum tipo de existência. Nas reconstruções realizadas por Russell,
desaparecem as expressões denotativas e desaparecem as formas o verbo “existir”
e do verbo “ser” em função de não ligação. Russell pensava em eliminar os
paradoxos metafísicos da “existência” e os paradoxos dos não existentes. Em
suma, a teoria das descrições de Russell afirma essencialmente que as expressões
denotativas são incompletas, ou seja, são incapazes de ter significado por si sós e
se distinguem claramente dos nomes próprios.

BUSCANDO CONHECIMENTO

Sendo um grande analista da linguagem, Russell submeteu ao


“microscópio da lógica” toda a série de questões filosoficamente relevantes e
frequentemente difíceis e complicadas. Sempre se preocupando com a relação
que a linguagem deve ter com os fatos, analisando o conhecimento válido, tendo
sempre em mente os limites do empirismo, Russell critica o pragmatismo e
também a corrente neopositivista por terem esquecido que o objetivo das
palavras é o de se ocupar de coisas diferentes das palavras. Todavia, o seu maior
ataque foi o seu próprio discípulo que, com o tempo, mudou radicalmente de
visão a respeito da linguagem, condenando severamente o “segundo”
Wittgenstein e a filosofia da linguagem desenvolvida por ele.
UNIDADE 08 - A FILOSOFIA ANALÍTICA DE RUSSELL E WHITEHEAD
(PARTE II)

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Objetivos: Compreender as análises da linguagem realizada pelo filósofo Alfred


North Whitehead.

ESTUDANDO E REFLETINDO

Alfred North Whitehead.


Alfred North Whitehead nasceu em Ramsgate, no Kent, em 1861. Sem
deixar de lado as línguas clássicas e a história, dedicou-se ao estudo da
matemática. Junto com Russell, escreveu Princípios da matemática (1910 – 1913),
ensinou matemática em Cambridge e depois em Londres até 1924. Nesse ano,
aposentou-se como professor de matemática, mas, ao mesmo tempo, foi
chamado para ensinar filosofia na Universidade de Harvard. Deu aula até 1937,
morrendo em 1947.
O projeto filosófico de Whitehead era construir uma metafísica ou visão de
mundo que se baseasse, se entrelaçasse e estivesse em mútua relação com as
generalizações mais avançadas das ciências. A relação existente entre filosofia e
ciência é uma relação mútua em que uma ajuda a outra; a filosofia trabalha pela
concordância das ideias que aparecem ilustradas pelos fatos concretos do mundo
real. O sistema filosófico deve esclarecer os fatos concretos que a ciência
contempla, e as ciências devem encontrar seus princípios nos fatos concretos que
o sistema filosófico apresenta.
A ciência pode apresentar fatos invencíveis e obstinados que por muitas
vezes contrariam e se chocam com as generalizações filosóficas, ao passo que,
por outro lado, vemos que as instituições filosóficas se transformam em métodos
científicos, e que o ofício próprio da filosofia é o de desafiar as meias verdades
que constituem os princípios da primeira ciência. A visão “orgânica” é a finalidade
a que essa relação recíproca tende a chegar. O universo e a vida são, segundo o
filósofo, um processo no espaço e tempo, sendo que nós não experimentamos
substâncias e qualidades, mas muito mais um processo constituído pela
incessante verificação de eventos uns em relação com os outros.
A ideia de substância, de matéria inerte e de tempo e espaço absoluto
eram conceitos da física newtoniana, mas é a física contemporânea que nos força
a abandonar tais categorias e a falar de acontecimentos em um constante
processo. Assim, o universo inteiro não é mais uma coisa estática, mas um
processo. Ele não é uma máquina, mas um organismo, onde o sujeito não é como
pretendem os idealistas, o ponto de partida do processo, e sim um ponto de
chegada, no sentido de que a autoconsciência é aquele acontecimento bastante
raro que se realiza a partir de outro conjunto de acontecimentos que é o corpo
humano.
O universo é um organismo que não se esquece do passado; pelo
contrário, condiciona a criação de sínteses sempre novas, que são potencialidades
e possibilidades que o processo da realidade seleciona e realiza. Desse modo, o
processo é permanência e emergência, que Whitehead chama a totalidade dos
objetos eternos de Deus. Deus é o princípio da realidade concreta, vive no
processo, cresce em conjunto com o universo; como natureza originária, Deus é a
harmonia de todos os valores; como natureza consequente, é a realização do
valor no processo.

BUSCANDO O CONHECIMENTO

Depois de um bom tempo no idealismo alemão, o filósofo Russell se liberta


desse tipo de pensamento, voltando-se para os estudos empíricos da tradição
inglesa. Com o seu conceito de atomismo lógico, em que ele funde o empirismo
radical com uma lógica astuta, o filósofo pretende descrever os fatos, afirmando
que uma coisa tem qualidade ou que determinadas coisas têm certas relações.
Com o seu livro Princípios da Matemática (1903), Russell mostra que toda lógica
matemática pode se reduzir a formas lógicas da linguagem; com isso, a
objetividade tão procurada pelos seres humanos se torna algo possível, pois a
lógica matemática é capaz de captar essa objetividade.
Esse estudo só foi possível, graças às pesquisas do filósofo alemão Gottlob
Frege, que propõe uma revolução no campo lógico, campo que permaneceu
quase inalterado desde a lógica aristotélica. Para o filósofo, a filosofia deve se
basear na lógica e não nas teorias do conhecimento, pois ela não é totalmente
objetiva. Desde Descartes, o sujeito é a base para o conhecimento. Só a
matemática pode fornecer a prova válida para as ciências e para as funções mais
sólidas do ser humano.
Russell sustenta esse modelo de Frege da lógica matemática, mas se
distancia dele, ao propor a teoria das descrições, onde separa o sentido do
significado, afirmando que o mesmo objeto pode ter várias expressões, porém o
sentido de cada significado é diferente. Russell se tornou um grande analista da
linguagem, atuando como um selecionador de questões filosoficamente
relevantes e frequentemente difíceis e complicadas. Critica as correntes
pragmatistas e a filosofia da linguagem desenvolvida pelo seu próprio discípulo
em sua segunda fase, que propõem um estudo da linguagem da vida cotidiana,
ignorando os princípios lógicos e matemáticos.

Bertrand Russell.

(http://www.theguardian.com/commentisfree/2014/jan/06/bertrand-russell-everyday-value-of-philosophy)

Alfred North Whitehead


(http://www.iep.utm.edu/whitehed/)

E, por último, vimos o pensamento de Alfred N. Whitehead, grande


colaborador de Russell: em sua obra central, Whitehead se preocupa com a
questão da reciprocidade da ciência e da filosofia, construindo, assim, uma
metafísica na qual as duas se cooperam mutuamente para a construção de um
conhecimento forte e seguro. Para o filósofo, a visão do mundo mudou, passando
de uma visão "mecânica" para uma visão "orgânica", onde o universo seria um

organismo que está em um constante processo, sendo Deus o princípio da


realidade concreta, a natureza originária.
UNIDADE 09 - WITTGENSTEIN E O AUGE DA FILOSOFIA ANALÍTICA

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Objetivos: Compreender o estudo da linguagem realizado pelo filósofo Ludwig


Wittgenstein.
Discípulo de Russell em Cambridge, mestre de escola elementar, de 1920 a
1926, a partir de 1930, tornou-se docente de filosofia em Cambridge, Ludwig
Wittgenstein (1889 – 1951), descendente de uma das mais importantes famílias
vienenses, influenciará fortemente os neopositivistas do Círculo de Viena, com o
seu grande livro: Tractatus logico-philosophicus (1921).

ESTUDANDO E REFLETINDO

Ludwig Wittgenstein nasceu em Viena, em 1889. Encaminhado pelo pai


(dono da indústria de aço no império dos Hasburgos) para estudar engenharia,
inscreveu-se na Tchnische Hochschule de Berlim-Charlottenburg (1906 – 1907),
transferindo-se posteriormente para a faculdade de Engenharia de Manchester,

onde conheceu G. Frege, que o aconselhou ir para Cambridge estudar


fundamentos da matemática, sob a guia de Russell. Em 1914, com o início da
Primeira Guerra Mundial, alistou-se como voluntário no exército austríaco. Preso
em 1918, passou quase um ano no campo de prisioneiros de Cassino e, em 1919,
foi libertado, encontrando-se na Holanda com Russell para discutir o trabalho que
seria publicado em 1921, com o título proposto por Moore, de Tractatus logico-
philosophicus.
Em Tractatus, a teoria da realidade corresponde à teoria da linguagem, ela
é uma representação projetiva dos fatos. O pensamento representa ou espelha a
realidade, sendo que a cada elemento constitutivo do real corresponde outro
elemento no pensamento; a realidade consta de fatos que se resumem em fatos
atômicos, compostos por seu turno de objetos simples. A linguagem é formada
de proposições complexas (moleculares), que podem ser divididas em
proposições simples ou atômicas (elementares), não ulteriormente divisíveis em
outras proposições. A proposição atômica é a menor entidade linguística da qual
se pode proclamar o verdadeiro ou o falso. O fato atômico é o que torna
verdadeira ou falsa a proposição atômica. O fato molecular é uma combinação de
fatos atômicos que torna verdadeira ou falsa uma proposição molecular.
Desse modo, a teoria do Tractatus define-se como uma forma de
representação daquilo que existe de comum entre a figuração e o afigurado e a
possibilidade de que as coisas no mundo estejam relacionadas, como o estão os
elementos da figuração. Embora uma sentença possa afigurar a realidade, ela não
é capaz, no entanto, de fazê-lo no que respeita à sua própria forma de
representação, essa forma lógica existente em todas as figurações não podem ser
afigurada por nenhuma figuração. Pois se isso acontecer, irá cair em uma
regressão ao infinito, ou seja, seria necessário supor uma segunda linguagem que
representaria a primeira, e assim sucessivamente.
Em Tractatus, Wittgenstein acreditava que as palavras e a realidade
compartilham a mesma lógica, sendo possível uma representação da realidade
por meio da linguagem.
As proposições e a linguagem em geral repousam na noção de “nome”,
que é o signo simples empregado nas sentenças. Além de o nome ser um signo
simples, deve satisfazer a outra exigência, que é a de representar uma coisa
simples, o nome, que o filósofo chama de “objeto”. Os objetos, no Tractacus, são
concebidos como absolutamente simples, e não simples apenas em relação com
algum sistema de notação; os objetos formam a substância do mundo, e por isso
mesmo não podem ser compostos; a substância é o que subsiste
independentemente do que ocorrer; o fixo, o subsistente e o objeto são um só,
enquanto que a configuração constitui o mutável, o instável.
O nome não é uma figuração do objeto e, portanto, sozinho nada diz.
Somente através da combinação de nomes é possível figurar a realidade; em
outros termos, isso significa que o centro da teoria da linguagem como figuração
encontra-se nas sentenças. Como resultado dessa análise surgem as proposições
elementares que se definem como proposições que consistem de nomes em
vinculação imediata. Somente as proposições elementares representam uma
configuração de objetos simples; por outro lado, comenta Wittgenstein, mesmo
que cada fato consista em muitos estados de coisas, e que cada estado de coisas
seja constituído por muitos objetos simples, uma proposição admite uma, e
somente uma análise em proposições elementares. Uma vez analisada
completamente, a proposição será composta por nomes simples, cujo significado
será um objeto simples.
As proposições elementares não são arbitrárias, decorrem diretamente de
suas preocupações acerca da relação entre o pensamento e a linguagem, de um
lado, e a realidade, de outro. Sua teoria baseia-se na ideia de que a realidade é
afigurada pela linguagem e, nesse caso, seria necessário admitir-se a existência de
proposições. Todavia, não se deve inferir daí que tais proposições apresentem
uma verdade autoevidente. Assim, das proposições elementares dependeriam
todas as outras proposições, em outras palavras, as proposições não elementares
seriam funções de verdade de proposições elementares; não fosse assim,
nenhuma sentença poderia dizer alguma coisa ou ser entendida.
Para tornar manifestas as condições de verdade de uma proposição,
Wittgenstein empregou o método das tábuas da verdade. Uma vez que a
proposição em questão é função de verdade de outras proposições, o objetivo
seria mostrar a relação entre a verdade das últimas e a verdade da primeira. Dois
são os casos limites entre os possíveis grupos de condições de verdade das
proposições. Um deles ocorreria quando uma proposição fosse verdadeira para
todas as possibilidades de verdade das proposições elementares: tal proposição é
chamada tautologia. O outro caso diz respeito à proposição que seja falsa para
todas as possibilidades de verdade; essa proposição é denominada contradição.
Conquanto seja conveniente referir-se tanto às contradições, como às tautologias,
como “proposições”, ambas não são, a rigor, proposições, pois, além de não
determinarem condições de verdade, já que uma é incondicionalmente verdadeira
(tautologia), e outra é incondicionalmente falsa (contradição). Assim, a tautologia
e a contradição não são figurações da realidade, não representam nenhuma
situação possível, pois a primeira permite todas as situações possíveis, enquanto a
segunda, nenhuma.
Assim, os chamados princípios de lógica ou verdades lógicas são simples
tautologias, não expressam pensamentos, nada dizem. Não se pode afirmar,
contudo, que não possuam qualquer sentido: o simples fato de uma dada
combinação de proposições exibir uma tautologia revela algo acerca das
estruturas das proposições constituintes, mostrando as propriedades formais da
linguagem, do mundo.

BUSCANDO CONHECIMENTO

A teoria da figuração mostra que as proposições genuínas dizem apenas


como as coisas são e não como elas devem ser. A única necessidade que pode
existir é a necessidade lógica expressa pelas tautologias ou por equações
matemáticas. No entanto, nem as tautologias, nem as equações matemáticas
dizem coisa alguma sobre o mundo. Por conseguinte, no mundo, não existe
necessidade. Tudo no mundo, segundo Wittgenstein, é acidental, mesmo que
uma proposição possa ser inferida de outra, tal conexão não ocorre entre o
estado de coisas, cuja existência não pode ser inferida a partir de outro estado de
coisas, completamente diferente. A partir dessas concepções, o ato de vontade e
a realização daquilo que é desejado passam a ser consideradas duas ocorrências
inteiramente diferentes, a relação entre a vontade e aquilo que acontece no
mundo só pode ser acidental. O homem não pode fazer nada acontecer, nem
mesmo um movimento de seu corpo.
A partir disso, Wittgenstein retira a conclusão de que não pode haver
proposições em ética. Com isso, ele queria dizer que se alguma coisa possui valor,
tal fato não pode ser acidental: a coisa tem de possuir aquele valor. No mundo,
entretanto, tudo é acidental; consequentemente, não existe valor no mundo, se
houvesse um valor, ele deveria permanecer fora de todos os acontecimentos, pois
todos os acontecimentos são acidentais. Em outros termos, o sentido do mundo
deve estar fora dele; o que faz não acidental não pode estar no mundo, pois, no
caso contrário, isso seria de novo acidental.
UNIDADE 10 - O WITTGENSTEIN DAS INVESTIGAÇÕES FILOSÓFICAS

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Objetivos: Continuar a explicação iniciada na unidade anterior sobre a filosofia


analítica de Wittgenstein.

ESTUDANDO E REFLETINDO

O Wittgenstein das Investigações filosóficas.


A segunda fase do Wittgenstein se inicia com as publicações do livro azul
e marrom (1933 – 1935), e principalmente com a publicação de Investigações
filosóficas (1945 – 1949). As investigações filosóficas se iniciam com uma crítica ao
esquema tradicional de interpretação que vê a linguagem como um conjunto de
nomes que denominam ou designam os objetos, nomes de coisas e de pessoas,
unidos pela aparelhagem lógico-sintática.
O compreender se reduz a dar explicações que se resumem em
definições ostensivas, que postulam toda aquela série de atos e processos mentais

que deveriam explicar a passagem da linguagem à realidade. Como se vê, a teoria


da representação, o atomismo lógico e o mentalismo estão estreitamente
conjugados. Na realidade, porém, o jogo linguístico não é nenhum primário. Com
efeito, se eu digo, indicando uma pessoa ou um objeto, haverá sempre para quem
me escuta certa ambiguidade, já que não sabe a que propriedade da pessoa ou
objeto me referi. A teoria da representação sustenta que, com a nossa linguagem,
nós fazemos apenas uma coisa: denominamos. Mas Wittgenstein está convencido
de que, ao contrário, com nossas proposições, fazemos coisas mais diversas.
Com a linguagem, fazemos as coisas mais variadas. Os “jogos linguísticos”
são inumeráveis: existem diferentes tipos de emprego de tudo que chamamos de
“sinais”, “palavras” e “proposições”. Essa multiplicidade não é algo fixo ou algo
dado de uma vez por todas, mas novo tipo de linguagem, novos jogos
linguísticos, como poderia dizer, surgem continuamente, enquanto outros
envelhecem e são esquecidos. A linguagem é um conjunto de jogos de
linguagem, sendo o significado de uma palavra é seu uso e todo uso tem regras.
A regra é equivalente a obedecer a uma ordem: somos adestrados para
obedecer à ordem. Seguir uma regra, fazer uma comunicação, dar uma ordem ou
jogar uma partida de xadrez são hábitos, sendo essas regras que aprendemos,
constituindo exemplos de adestramento público. No entano, o mundo de nossa
mente se enche de problemas filosóficos, que não são de origem empírica, mas
sim problemas que se resolvem penetrando na operação de nossa linguagem de
forma a reconhecê-la, contra uma forte tendência a subentendê-la. A filosofia se
torna um campo de batalha contra o encantamento de nosso intelecto, por meio
da nossa linguagem.

Wittgenstein foi um dos maiores


expoentes da filosofia da linguagem, e até
hoje, esse pensamento serve de fundamento
para os novos estudos da linguagem.

(Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Ludwig_Wittgenstein)

A origem dos problemas filosóficos aparece quando falta linguagem.


Quando os filósofos usam uma palavra – “saber”, “ser”, “objeto”, “eu”,
“proposição”, “nome” – e tentam captar a essência da coisa, devemos sempre
perguntar: essa palavra é efetivamente usada assim na linguagem, na qual tem
sua pátria? A linguagem opera sobre o fundo de necessidades humanas, na
determinação de um ambiente humano. E como o significado de uma palavra é o
seu uso na linguagem, a função da filosofia é puramente descritiva. Portanto, não
devemos buscar o seu significado, mas o seu uso.
Em filosofia, as pessoas sentem-se forçadas a ver um conceito de
determinado modo. O que Wittgenstein propõe é inventar outros modos de
considerá-lo, outras possibilidades nas quais jamais ninguém teria pensado. A
maioria das pessoas, diz o filósofo, consegue ver uma possibilidade ou, no
máximo, duas; além disso, Wittgenstein mostra que era absurdo esperar que o
conceito se adequasse a possibilidades tão restritas assim, libertando dessa prisão
em que vivia a filosofia, que agora pode olhar em volta, no campo da expressão, e
descrever seus diversos tipos de uso. Em suma, a filosofia é a terapia das doenças
da linguagem, é a saída dos equívocos linguísticos criados ao longo dos tempos.

BUSCANDO O CONHECIMENTO

Wittgenstein foi um dos maiores estudiosos da linguagem do século XX, e


até hoje muitos pesquisadores analisam as suas duas grandes obras que, para
alguns, são antagônicas e, para outros, elas se completam. O Tractacus serviu
como uma "bíblia" para os membros do círculo de Viena, que seguiam uma linha
do princípio de verificação e no mais estrito rigor antimetafísico. Os
neopositivistas do círculo de Viena queriam compreender o funcionamento da
linguagem da ciência, se preocupando muito com aquilo que a ciência não pode
dizer como a ética e a religião.
No Tractacus, o filósofo intensificou a busca de uma estrutura lógica que
pudesse dar conta do funcionamento da linguagem, sendo que a estrutura da
linguagem deveria corresponder à realidade dos fatos. As proposições se
apresentam sob forma de nome, que representa uma coisa simples, ou um objeto.
Só através de uma combinação de nomes podemos figurar a realidade, sendo a
sentença essa união de vários nomes, resultando assim em proposições
elementares que têm uma condição necessária entre a linguagem e pensamento
de um lado, e a realidade do outro. Mas, para ter a função de verdade, as
proposições elementares dependem de proposições não elementares, que são as
tautologias e as contradições.
Na sua segunda fase, Wittgenstein se afasta da compreensão da verdade
como proposição que deve ser verificada na experiência do mundo real, passando
a afirmar que a linguagem não captura a realidade, não é a reprodução do objeto,
mas sim, uma atividade, um jogo. Os jogos de linguagem adquirem o seu
significado no uso social, nos diferentes modos de ser e de viver no qual a fala
está inserida. A linguagem comum possui uma riqueza de espécies e tipos de
frases que são usadas em situações específicas e formam os "jogos de
linguagem", que se produzem socialmente e não individualmente.
UNIDADE 11 - O ESTUDO DA LINGUAGEM EM FERDINAND DE
SAUSSURE

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Objetivos: Compreender a análise realizada pelo filósofo Ferdinand de Saussure


(1857 – 1913).

ESTUDANDO E REFLETINDO

Ferdinand de Saussure foi um linguista e filósofo suíço, cujas preparações


teóricas propiciaram o aumento da linguística enquanto ciência independente.
Ferdinand de Saussure Pronúncia francesa: nasceu em Genebra, em 26 de
novembro de 1857. Filho de um eminente naturalista foi introduzido pelo filólogo
e amigo da família Adolphe Pictet nos estudos linguísticos. Saussure estudou
Física e Química, mas continuou sendo introduzido nos cursos de gramática grega
e latina. Em 1874 começou a estudar sozinho o sânscrito, usando a gramática de
Franz Bopp. Por fim, convenceu-se que sua carreira estava nos estudos da
linguagem e ingressou na Sociedade Linguística de Paris (fundada em 1866).
Estudou línguas europeias na Universidade de Lípsia, onde ingressou em outubro
de 1876. Após pouco menos de dois anos, transfere-se por curto período à
Universidade de Berlim.
A seguir, um excerto sobre o pensamento e obra do filosofo da
linguagem.4
Fundamentos do que hoje se entende por Lingüística foram lançados pelo
pensador suíço Ferdinand de Saussure no livro Curso de Linguística Geral, na
verdade, uma compilação de anotações feitas por alguns alunos seus a partir de
                                                            
4
 Disponível: <http://ricardovigna.wordpress.com/estudos‐de‐semiotica‐e‐filosofia‐da‐linguagem/1‐1‐a‐
importancia‐da‐linguagem/>, acesso em: 20/12/2014. 
aulas proferidas na Universidade de Genebra entre os anos de 1907 e 1911. Estas
palestras, depois de divulgadas, promoveram uma revolução no estudo da
linguagem. Até então o estudo da expressão era, sobretudo, o da gramática, em
que se propõe regrar o uso da linguagem e o da filologia, em que se busca a
origem das palavras ao se relacionar línguas atuais com as antigas. Saussure,
tendo uma visão mais ampla do fenômeno da comunicação, cria um novo
paradigma para o estudo do mesmo. Ora, se muitas pessoas sequer conhecem as
regras gramaticais e se expressam bem, se há povos que sobreviveram por
séculos sem desenvolver a escrita , é sinal que a linguagem é algo mais complexo
que a mera organização gramatical e a busca do étimo das palavras. A gramática
serve apenas para prescrever o que é a norma culta e a filologia investiga a
origem das palavras no desenvolvimento histórico das línguas; as pessoas,
todavia, se comunicam no mais das vezes sem prestar atenção em tais
conhecimentos. Daí que a função primordial da linguagem é a comunicação e o
uso da norma culta nem sempre é adequado para a diversidade de situações
sociais que vivemos. Por exemplo: se estamos em um ambiente descontraído,
simplesmente conversando com os amigos, provavelmente soaria mal um
linguajar formal, técnico, porquanto pareceria uma tentativa de ostentação ou
algo semelhante.
O pensador suíço, por conta disto, propõe uma mudança de paradigma
no estudo da linguagem: além de estudarmos a história e a normatividade das
línguas, devemos abordá-las sincronicamente, ou seja, observá-las num dado
momento de sua história e verificar como as pessoas realizam a comunicação, ou
dito em outras palavras: em vez de abordarmos a diacronia das línguas (descrição
de uma língua ou de uma parte dela ao longo de sua história, com as mudanças
que sofre.), devemos abordá-las em sua sincronia (estado de língua considerado
num momento dado, independente da evolução histórica da mesma). Assim, o
linguísta suíço dirige seu foco principalmente para o modo como funciona a
comunicação em um certo momento da existência de um idioma ( a atualidade,
por exemplo), aproximando assim o estudo da linguagem da prática da mesma.
Saussure, ao promover esta nova abordagem no estudo das línguas, é
tido por muitos como o fundador da Linguística Moderna, que se propõe a ser a
ciência da língua. Além disso, por entender que a comunicação não se dá tão
somente pelo uso das palavras, mas também por gestos, olhares, roupas, cortes
de cabelo e quaisquer elementos que possam ser usados como signos, ele propõe
que a Linguística seja incorporada futuramente por uma ciência mais ampla: a
Semiologia, também denominada Semiótica , que estuda o funcionamento dos
signos e da linguagem em geral.
Vejamos então alguns conceitos desenvolvidos por Saussure.

Linguagem, Língua e Fala


A primeira questão tratada por Saussure foi a de delimitar o seu campo
de estudo e, assim, definir o objeto da ciência à qual se propôs desenvolver. Para
tanto, o autor trava inicialmente uma diferenciação entre língua e linguagem:
“Mas o que é a língua? Para nós, ela não se confunde com a linguagem; é
somente uma parte determinada, essencial dela, indubitavelmente. É, ao mesmo
tempo, um produto social da faculdade de linguagem e um conjunto de
convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício
dessa faculdade nos indivíduos. Tomada em seu todo, a linguagem é multiforme e
heteróclita […] ao mesmo tempo física, fisiológica e psíquica, ela pertence além
disso ao domínio individual e ao domínio social: não se deixa classificar em
nenhuma categoria de fatos humanos, pois não se sabe como inferir sua unidade.

A língua, ao contrário, é um todo por si e um princípio de classificação.”


Vemos então que a linguagem é uma das “faculdades” do ser humano, a
maneira que o homem tem de se expressar através de signos; a língua (o idioma)
é parte “essencial” da mesma, ou seja, um dos modos (o principal, aliás) de o
homem manifestar aquela capacidade. Deste modo, a citação acima revela uma
dificuldade em definir a linguagem e usá-la como base para formar uma “ciência
da comunicação”, por não ser facilmente delimitada pelo pensamento. O autor
justifica tal negação com três argumentos:
a) “a linguagem é multiforme”, pois se manifesta através de diferentes
tipos de signo;
b) ela é “heteróclita”, não permite que a classifiquemos em regras
definidas, pois está sempre sendo recriada conforme os homens necessitem criar
novas realidades (a linguagem dos computadores é exemplo disto);
c) ela não pode ser estudada exclusivamente por uma única ciência, uma
vez que pertence a diferentes domínios: “o físico, o fisiológico, o psíquico”.
Portanto, a complexidade da linguagem e sua “instabilidade” são obstáculos para
torná-la o objeto central de uma ciência da comunicação.
A Língua, por sua vez, é “dominável” e pode ser considerada um “todo”,
uma vez que possui um código de normas que a rege e a preserva coesa,
impedindo a dispersão. Dito em outras palavras: embora os usuários de uma
língua possam criar diferentes combinações de palavras em frases e até mesmo
criar novos significados para os signos linguísticos, eles sempre, em maior ou
menor grau, têm por base “um modo adequado de se expressar”, um modo de
organizar frases e de atribuir regularmente determinadas significações à certas
palavras. Assim, há uma certa padronização no uso dos idiomas, uma espécie de
gramática espontânea criada pelos usuários, pois todo falante, ao apreender uma
língua, sabe que não pode inventar palavras à revelia dos demais usuários e nem
deve construir caoticamente as frases, se o mesmo quer se comunicar de maneira
satisfatória. Ao longo dos séculos a regra gramatical criada pela espontaneidade e
pelo costume foi acolhida pelas gramáticas oficiais. Deste modo, em maior ou
menor grau, até mesmo o usuário que não frequentou o ensino formal segue um
parâmetro ao usar a língua.
Em suma, toda língua possui um regulamento ora mais, ora menos
levado em conta pelos usuários, um modo de organização dos signos que
possibilita a comunicação e evita que ela se disperse. Para Saussure, isto permite
que consideremos a língua como “um todo”, algo estável, com certa uniformidade
e constância e é por conta desta perenidade que ela pode ser tomada como
objeto central da ciência da comunicação.

BUSCANDO CONHECIMENTO
Língua, portanto, é o sistema abstrato convencionado por um grupo
social, regido por um código de funcionamento que lhe garante certa unidade e
que surge em certas condições histórico-políticas. É ela o principal objeto da
Linguística saussureana. Tal teoria, todavia, credita alguma importância também
ao estudo da fala.
UNIDADE 12 - O QUE É SEMIÓTICA?

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Objetivos: Analisar o conceito de semiótica.

ESTUDANDO E REFLETINDO

A semiótica também faz parte dos estudos da linguagem, porém ela se


concentra mais nos símbolos e signos existentes na fala e na escrita. Para refletir
sobre esse tema, apresento um excerto extraído do livro “O que é Semiótica” da
pesquisadora Lúcia Santaella.5
Semi-ótica — ótica pela metade? ou Simiótica — estudo dos símios?
Essas são, via de regra, as primeiras traduções, a nível de brincadeira, que sempre
surgem na abordagem da Semiótica. Aí, a gente tenta ser sério e diz: — "O nome
Semiótica vem da raiz grega semeion, que quer dizer signo. Semiótica é a ciência
dos signos.". Contudo, pensando esclarecer, confundimos mais as coisas, pois
nosso interlocutor, com olhar de surpresa, compreende que se está querendo
apenas dar um novo nome para a Astrologia.
Confusão instalada, tentamos desenredar, dizendo: — "Não são os signos
do zodíaco, mas signo, linguagem. A Semiótica é a ciência geral de todas as
linguagens". Mas, assim, ao invés de melhorar, as coisas só pioram, pois que,
então, o interlocutor, desta vez com olhar de cumplicidade — segredo
desvendado —, replica: — "Ah! Agora compreendi. Não se estuda só o português,
mas todas as línguas".

                                                            
5
 Disponível: 
<http://disciplinas.stoa.usp.br/pluginfile.php/232218/mod_resource/content/1/oquesemiotica‐
luciasantaella‐130215170306‐phpapp01.pdf>, acesso em: 20/12/2014. 
Nesse momento, nós nos damos conta desse primordial, enorme
equívoco que, de saída, já ronda a Semiótica: a confusão entre língua e
linguagem. E para deslindá-la, sabemos que temos de começar as coisas de seus
começos, agarrá-las pela raiz, caso contrário, tornamo-nos presas de uma rede
em cuja tessitura não nos enredamos e, por não nos termos enredado, não
saberemos lê-la, traduzi-la.
Aqui encontro a função deste pequeno volume sobre Semiótica: juntos
perseguirmos as questões desde seus começos, para que, por fim, cheguemos a
um patamar que torne possível ao meu leitor prosseguir, caso queira, livre no seu
próprio caminho de investigação e de descoberta.

Uma definição ou um convite?


Alguns anos atrás, em um seminário sobre Semiótica, realizado em uma
das cidades do Brasil, um aluno que permanecia ainda muito curioso, apesar de já
ter assistido a algumas palestras, subitamente me perguntou: — "Mas, afinal, o
que é Semiótica?".
Assim, de chofre, tomada de surpresa no corredor de passagem de uma
sala a outra, devo ter respondido algo parecido com isto: — "Quando alguma
coisa se apresenta em estado nascente, ela costuma ser frágil e delicada, campo
aberto a muitas possibilidades ainda não inteiramente consumadas e consumidas.
Esse é justamente o caso da Semiótica: algo nascendo e em processo de
crescimento. Esse algo é uma ciência, um território do saber e do conhecimento
ainda não sedimentado, indagações e investigações em progresso.
Um processo como tal não pode ser traduzido em uma única definição
cabal, sob pena de se perder justo aquilo que nele vale a pena, isto é, o
engajamento vivo, concreto e real no caminho da instigação e do conhecimento.
Toda definição acabada é uma espécie de morte, porque, sendo fechada, mata
justo a inquietação e curiosidade que nos impulsionam para as coisas que, vivas,
palpitam e pulsam".
Sei que, em vez de dar uma resposta direta e positiva (função que
provavelmente me cabia na ocasião), estava tentando armar uma estratégia de
sedução. Em lugar de saciar ã sua curiosidade, só queria aumentá-la. Contudo, o
peso das certezas ó sempre mais forte que o das dúvidas. Recebi, por isso, uma
segunda pergunta que, aliás, não era mais uma pergunta, mas uma crítica só
levemente velada: — "Que importância pode ter isso para nós? Nós que temos a
resolver um problema muito mais. prioritário e urgente, o da miséria e da fome?".
Acenei, então, mais uma vez com uma sugestão de resposta: — "Há duas
espécies de fome: a da miséria do corpo, esta, mais fundamental e determinante,
visto que interceptadora de quaisquer outras funções, necessidades e realizações
humanas; mas há também a carência de conhecimento, este, outro tipo de fome.
Nossa luta tem de ser travada sempre simultaneamente em ambas as direções. A
Semiótica está rapidamente se desenvolvendo em todas as partes do mundo. Por
que haveremos nós de cruzar os braços, ficando à espera dos restos de sopa
científica que os outros poderão, porventura, nos deixar de sobra?"

Linguagens verbais e não-verbais


Antes de tudo, cumpre alertar para uma distinção necessária: o século XX
viu nascer e está testemunhando o crescimento de duas ciências da linguagem.
Uma delas é a Linguística, ciência da linguagem verbal. A outra é a Semiótica,
ciência de toda e qualquer linguagem. As principais relações fundamentais de
semelhança e oposição entre ambas são problemas que tentaremos ir focalizando
oportunamente no decorrer do percurso que iremos efetuar neste livro.
Como ponto de partida, porém, que tentemos desatar o nó de um
equívoco de base: a diferença entre língua e linguagem em conexão com a
diferença, quê buscaremos discriminar, entre linguagens verbais e não-verbais.
Tão natural e evidente, tão profundamente integrado ao nosso próprio
ser é o uso da língua que falamos, e da qual fazemos uso para escrever — língua
nativa, materna ou pátria, como costuma ser chamada —, que tendemos a nos
desaperceber de que esta não é a única e exclusiva forma de linguagem que
somos capazes de produzir, criar, reproduzir, transformar e consumir, ou seja, ver-
ouvir-ler para que possamos nos comunicar uns com os outros.
É tal a distração que a aparente dominância da língua provoca em nós
que, na maior parte das vezes, não chegamos a tomar consciência de que o nosso
estar-no-mundo, como indivíduos sociais que somos, é mediado por uma rede
intrincada e plural de linguagem, isto é, que nos comunicamos também através da
leitura e/ou produção de formas, volumes, massas, interações de forças,
movimentos; que somos também leitores e/ou produtores de dimensões e
direções de linhas, traços, cores... Enfim, também nos comunicamos e nos
orientamos através de imagens, gráficos, sinais, setas, números, luzes... Através de
objetos, sons musicais, gestos, expressões, cheiro e tato, através do olhar, do
sentir e do apalpar. Somos uma espécie animal tão complexa quanto são
complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simbólicos, isto
é, seres de linguagem.

BUSCANDO CONHECIMENTO

Em síntese: existe uma linguagem verbal, linguagem de sons que


veiculam conceitos e que se articulam no aparelho fonador, sons estes que, no
Ocidente, receberam uma tradução visual alfabética (linguagem escrita), mas
existe simultaneamente uma enorme variedade de outras linguagens que também
se constituem em sistemas sociais e históricos de representação do mundo.
Portanto, quando dizemos linguagem, queremos nos re-ferir a uma gama
incrivelmente intrincada de formas sociais de comunicação e de significação quê
inclui a linguagem verbal articulada, mas absorve também, inclusive, a linguagem
dos surdos-mudos, o sistema codificado da moda, da culinária e tantos outros.
Enfim: todos os sistemas de produção de sentido aos quais o desenvolvimento
dos meios de reprodução de linguagem propiciam hoje uma enorme difusão.
UNIDADE 13 - A SEMIÓTICA EM PEIRCE

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Objetivos: Compreender as contribuições feitas pelo filósofo C. S. Peirce ao estudo


da semiótica.

ESTUDANDO E REFLETINDO

Charles Sanders Peirce (1839 – 1914) era filho de Benjamin Peirce, na


época um dos mais importantes matemáticos de Harvard. Licenciou-se em
ciências e doutorou-se em química em Harvard. Ensinou filosofia nesta
universidade e na Universidade Johns Hopkins. Foi o fundador do Pragmatismo e
da ciência dos signos, a semiótica. Antecipou muitas das problemáticas do Círculo
de Viena.
Para refletir sobre o tema, apresento um excerto extraído do livro “O que
é Semiótica” da pesquisadora Lúcia Santaella.6
O LEGADO DE C. S. PEIRCE

A Semiótica, a mais jovem ciência a despontar no horizonte das


chamadas ciências humanas, teve um peculiar nascimento, assim como apresenta,
na atual fase do seu desenvolvimento histórico, uma aparência não menos
singular. A primeira peculiaridade reside no fato de ter tido, na realidade, três
origens ou sementes lançadas quase simultaneamente no tempo, mas distintas no
espaço e na paternidade: uma nos EUA, outra na União Soviética e a terceira na
Europa Ocidental.

                                                            
6
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<http://disciplinas.stoa.usp.br/pluginfile.php/232218/mod_resource/content/1/oquesemiotica‐
luciasantaella‐130215170306‐phpapp01.pdf>, acesso em: 20/12/2014. 
Esse surgimento em lugares diferentes, mas temporalmente quase
sincronizados, só vem confirmar uma hipótese de que os fatos concretos — isto é,
a proliferação histórica crescente das linguagens e códigos, dos meios de
reprodução e difusão de informações e mensagens, proliferação esta que se
iniciou a partir da Revolução Industrial — vieram gradativamente inseminando e
fazendo emergir uma "consciência semiótica”.
Não foi senão essa consciência de linguagem em sentido amplo que
gerou a necessidade do aparecimento de uma ciência capaz de criar dispositivos
de indagação e instrumentos metodológicos aptos a desvendar o universo
multiforme e diversificado dos fenômenos de linguagem.
São três, conforme já disse, as fontes nas quais a ciência Semiótica
encontrou seu nascimento e através das quais veio teoricamente se
desenvolvendo. Dedicarei, no entanto, a quase totalidade deste pequeno livro a
uma dessas fontes, a norte-americana, que germinou nos trabalhos do cientista-
lógico-filósofo Charles Sanders Peirce. No último capítulo contudo, o leitor
encontrará um panorama geral das outras duas fontes, de modo que possa tomar
conhecimento de um quadro mais complexo dos caminhos da Semiótica.

Um Leonardo das ciências modernas


C. S. Peirce (1839-1914) era, antes de tudo, um cientista. Seu pai
(Benjamim Peirce) foi, na época, o mais importante matemático de Harvard, sendo
sua casa uma espécie de centro de reuniões para onde naturalmente convergiam
os mais renomados artistas e cientistas. Portanto, desde criança, o pequeno
Charles já conduzia sua existência num ambiente de acentuada respiração
intelectual. É por isso que químico ele já era, desde os seis anos de idade. Aos 11
anos escreveu uma História da Química; e em Química se bacharelou na
Universidade de Harvard.
Mas Peirce era também matemático, físico, astrônomo, além de ter
realizado contribuições importantes no campo da Geodésia, Metrologia e
Espectroscopia. Era ainda um estudioso dos mais sérios tanto da Biologia quanto
da Geologia, assim como fez, quando jovem estudos intensivos de classificação
zoológica sob a direção de Agassiz.
Em nenhum momento de sua vida, contudo, Peirce se confinou
estritamente às ciências exatas e naturais. No campo das ciências culturais, ele se
devotou particularmente à Lingüística, Filologia e História. Isso sem mencionarmos
suas enormes contribuições à Psicologia que fizeram dele o primeiro psicólogo
experimental dos EUA.
Como se isso não bastasse, conhecia ainda mais de uma dezena de
línguas, além deter realizado estudos em Arquitetura e cultivado a amizade de
pintores. Conhecedor profundo de Literatura (especialmente Shakespeare e Edgar
Allan Poe), fez elaborados estudos de dicção poética e chegou a escrever um
longo conto (A Tale of Thessaly) para o qual não encontrou editor. Mais para o
fim de sua vida, estava escrevendo uma peça de teatro. Praticava ainda a "arte
quirográfica", além de ser um grande experimentador de vinhos, tendo
desenvolvido essa aprendizagem numa estada de seis meses em Voisin.
Como explicar essa quase assombrosa diversidade de campos e
interesses?
Repetimos: Peirce era, antes de tudo, um cientista. E como cientista
sobreviveu, trabalhando para o governo federal a serviço da "Costa e Inspeção
Geodésica", durante o dia, de 1861 a 1891, e simultaneamente, por algum tempo,
no Observatório de Harvard College, durante a noite; trabalhos que
aparentemente o afastaram da Química para pesquisas em Astronomia e ciências
correlatas. No entanto, ao se aposentar, aos 52 anos de idade, Peirce tentou se
estabelecer como engenheiro químico, numa atividade que hoje chamaríamos de
free-lancer.
Um cientista, portanto, ele jamais deixou de ser, tendo produzido
contribuições importantes e originais na Matemática e outras ciências até poucos
dias antes de sua morte, em 1914. No entanto, por trás de tudo isso, existia um fio
condutor: sendo um cientista, Peirce era, acima de tudo, um lógico. Essa foi a
grande e irresistível paixão de toda a sua vida. A quase inacreditável diversidade
de campos a que se dedicou pode ser explicada, portanto, devido ao fato de que
se devotar ao estudo das mais diversas ciências exatas ou naturais, físicas ou
psíquicas, era para ele um modo de se dedicar à Lógica. Seu interesse em Lógica
era, primariamente, um interesse na Lógica das ciências. Ora, entender a Lógica
das ciências era, em primeiro lugar, entender seus métodos de raciocínio. Os
métodos diferem muito de uma ciência a outra e, de tempos em tempos, dentro
de uma mesma ciência. Os pontos em comum entre esses métodos só podem ser
estabelecidos, desse modo, por um estudioso que conheça as diferenças, e que as
conheça através da prática das diferentes ciências.

BUSCANDO CONHECIMENTO

Essa gigantesca empresa foi o que Peirce tomou para si, durante toda a
sua vida. E, pela enormidade dessa empresa, pagou o preço da solidão, da miséria
e de uma existência sem qualquer tipo de glória. Durante 60 anos de sua vida,
lutou pela consideração da Lógica como uma ciência. Mas o dia da Lógica não
havia ainda soado...
Peirce estava perfeitamente consciente (e isso ele declarou muitas vezes)
de que a deliberada diversificação de seu trabalho em múltiplas ciências impediria
que ele atingisse a eminência que ele deveria ter atingido, se tivesse concentrado
seus esforços em apenas uma delas, ou mesmo em algumas ciências
proximamente relacionadas. No entanto, para ele a Lógica não era uma opção,
mas uma paixão da qual não podia se desviar, mesmo que quisesse.
É por isso que as poucas e temporárias vezes que penetrou, como
professor convidado, os umbrais da Universidade do seu tempo, foram para
ministrar palestras sobre Lógica. É por isso que, ao ser nomeado membro da
Academia Americana de Ciência e Artes, em 1867, ele não apresentou senão cinco
estudos, todos sobre Lógica. E, em 1877, ao ser nomeado membro da Academia
Nacional de Ciências (depois de ter sido indicado por cinco anos consecutivos),
ele assim o foi, apesar de ter enviado apenas quatro estudos sobre Lógica, pelos
quais queria ser julgado um homem da ciência ou não. Ao responderá Academia
pela honra concedida, Peirce expressou sua satisfação pelo reconhecimento
implícito da Lógica como ciência.
Mesmo assim, foi apenas na edição de 1910 em Quem é quem na América
que compareceu, pela primeira vez, uma referência à profissão de Peirce como
aquela de um lógico. Mas foi só depois de sua morte que ele passou a ser
considerado um filósofo.
UNIDADE 14 - A SEMIÓTICA EM PEIRCE (PARTE II)

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Objetivos: Compreender as contribuições feitas pelo filósofo C. S. Peirce ao estudo


da semiótica.

ESTUDANDO E REFLETINDO

O objetivo dessa unidade é continuar o estudo iniciado na unidade


anterior.7

Definição de signo
Há uma enorme quantidade de definições de signo distribuídas pelos
textos de Peirce, umas mais detalhadas, outras mais sintéticas. Dentre elas,
escolhemos uma que, para os nossos propósitos, parece exemplar:
"Um signo intenta representar, em parte pelo menos, um objeto que é,
portanto, num certo sentido, a causa ou determinante do signo, mesmo se o

signo representar seu objeto falsamente. Mas dizer que ele representa seu objeto
implica que ele afete uma mente, de tal modo que, de certa maneira, determine
naquela mente algo que é mediatamente devido ao objeto. Essa determinação da
qual a causa imediata ou determinante é o signo, e da qual a causa mediata é o
objeto, pode ser chamada o Interpretante".
Esclareçamos: o signo é uma coisa que representa uma outra coisa: seu
objeto. Ele só pode funcionar como signo se carregar esse poder de representar,

                                                            
7
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substituir uma outra coisa diferente dele. Ora, o signo não é o objeto. Ele apenas
está no lugar do objeto. Portanto, ele só pode representar esse objeto de um
certo modo e numa certa capacidade. Por exemplo: a palavra casa, a pintura de
uma casa, o desenho de uma casa, a fotografia de uma casa, o esboço de uma
casa, um filme de uma casa, a planta baixa de uma casa, a maquete de uma casa,
ou mesmo o seu olhar para uma casa, são todos signos do objeto casa. Não são a
própria casa, nem a idéia geral que temos de casa. Substituem-na, apenas, cada
um deles de um certo modo que depende da natureza do próprio signo. A
natureza de uma fotografia não é a mesma de uma planta baixa.
Ora, o signo só pode representar seu objeto para um intérprete, e porque
representa seu objeto, produz na mente desse intérprete alguma outra coisa (um
signo ou quase-signo) que também está relacionada ao objeto não diretamente,
mas pela mediação do signo.
Cumpre reter da definição a noção de interpretante. Não se refere ao
intérprete do signo, mas a um processo relacionai que se cria na mente do
intérprete. A partir da relação de representação que o signo mantém com seu
objeto, produz-se na mente interpretadora um outro signo que traduz o
significado do primeiro (é o interpretante do primeiro). Portanto, o significado de
um signo é outro signo — seja este uma imagem mental ou palpável, uma ação
ou mera reação gestual, uma palavra ou um mero sentimento de alegria, raiva...
uma idéia, ou seja lá o que for — porque esse seja lá o que for, que é criado na
mente pelo signo, é um outro signo (tradução do primeiro). Mas, para que a
definição de signo fique melhor divisada, convém esclarecer que o signo tem dois
objetos e três interpretantes.
O objeto imediato (dentro do signo, no próprio signo) diz respeito ao
modo como o objeto dinâmico (aquilo que o signo substitui) está representado
no signo. Se se trata de um desenho figurativo, o objeto imediato é a aparência
do desenho, no modo como ele intenta representar por semelhança a aparência
do objeto (uma paisagem, por exemplo). Se se trata de uma palavra, o objeto
imediato é a aparência gráfica ou acústica daquela palavra como suporte portador
de uma lei geral, pacto coletivo ou convenção social que faz com que essa
palavra, que não apresenta nenhuma semelhança real ou imaginária com o
objeto, possa, no entanto, representá-lo.
O interpretante imediato consiste naquilo que o signo está apto a
produzir numa mente interpretadora qualquer. Não se trata daquilo que o signo
efetivamente produz na minha ou na sua mente, mas daquilo que, dependendo
de sua natureza, ele pode produzir. Há signos que são interpretáveis na forma de
qualidades de sentimento; há outros que são interpretáveis através de experiência
concreta ou ação; outros são passíveis de interpretação através de pensamentos
numa série infinita.
Daí decorre o interpretante dinâmico, isto é, aquilo que o signo
efetivamente produz na sua, na minha mente, em cada mente singular. E isso ele
produzirá dependendo da sua natureza de signo e do seu potencial como signo.
Por exemplo: há signos que só produzirão sentimentos de qualidade. Ao ouvirmos
uma peça de música, se não somos conhecedores dos diferentes códigos de
composição musical (o que nos levaria também a outros tipos de interpretação), a
audição dessa música não produzirá em nós senão uma série de qualidades de
impressão, isto é, sensações auditivas, viscerais e possivelmente correspondências
visuais. É claro que podemos traduzir essas sensações numa pseudo-significação
ou interpretante puramente emocional: alegria, tristeza, monotonia,
mudança...Assim, aquele signo, dada a limitação do nosso repertório, não
produzira em nós senão um interpretante dinâmico de primeiro nível, isto é,
emocional. (Sobre os modos de se ouvir uma música, veja-se o capítulo Maneiras
de Ouvir, do livro O que é Música, pois lá o autor, J. Jota de Moraes, indica essas
maneiras em correspondência com as categorias peirceanas.)
Vejamos aqui, porém, o segundo nível do interpretante dinâmico. Se você
recebe uma ordem de alguém que tem autoridade sobre você, por respeito ou
temor, essa ordem produzirá um interpretante dinâmico energético, isto é, uma
ação concreta e real de obediência, no caso, como resposta ao signo.
Se o signo for convencional, ou seja, signo de lei, por exemplo, uma
palavra ou frase, o interpretante será um pensamento que traduzirá o signo
anterior em um outro signo da mesma natureza, e assim ad infinitum. Este outro
signo de caráter lógico é o que Peirce chama de interpretante em si. Este consiste
não apenas no modo como sua mente reage ao signo, mas no modo como
qualquer mente reagiria, dadas certas condições. Assim, a palavra casa produzirá
como interpretante em si outros signos da mesma espécie: habitação, moradia,
lar, "lar-doce-lar" etc.
Percebendo que o signo não é uma coisa monolítica, mas um complexo
de relações, que retenhamos em nossa rotina mental essa sutis diferenciações
entre as partes do signo, para que possamos passar para as principais
classificações de signos onde essas relações serão retomadas com vistas a uma
maior elucidação.

BUSCANDO CONHECIMENTO

Aí estão explanadas as três grandes tríades dos signos. Como se pode ver,
trata-se de uma divisão lógica a mais genérica, espécie de mapeamento
panorâmico das grandes matrizes sígnicas e das fronteiras que as definem. A
partir disso, por combinação lógica entre essas matrizes, Peirce estabeleceu 10
classes principais de signos que dizem respeito às misturas entre signos que são
logicamente possíveis.
Como matrizes abstratas, as três tríades definem campos gerais e
elementares que raramente serão encontrados em estado puro nas linguagens
concretas que estão aí e aqui, conosco e em uso. Na produção e utilização prática
dos signos, estes se apresentam amalgamados, misturados, interconectados.
Por exemplo: todas as linguagens da imagem, produzidos através de
máquinas (fotografia, cinema, televisão...), são signos híbridos: trata-se de
hipoícones (imagens) e de índices. Não é necessário explicar por que são imagens,
pois isso é evidente.
São, contudo, também índices porque essas máquinas são capazes de
registrar o objeto do signo por conexão física. A respeito da fotografia, Peirce
esclarece: "O fato de sabermos que a fotografia é o efeito de radiações partidas
do objeto, torna-a um índice e altamente informativo". Embora o processo de
captação da imagem televisiva seja diferente da fotografia, o caráter inicial de
conexão física, existencial e factual nele se mantém.
Poderíamos estender os exemplos de misturas sígnicas indefinidamente.
Não o faremos, porém. O que cumpre reter é que as tríades peirceanas funcionam
como uma espécie de grande mapa, rigorosamente lógico, que pode nos presta
em pauta, décadas mais tarde. Nessa medida, a recuperação dessas investigações
pelo Ocidente tem sido lenta, fragmentária e só nos últimos anos alguns trabalhos
sérios têm conseguido reconstituir esse legado num quadro mais geral e
elucidativo.
De qualquer modo, tentaremos delinear aqui, em breves lances, as
características mais gerais das fontes e do desenvolvimento mais recente que
essas fontes têm recebido na União Soviética, remetendo, ao final deste volume, o
leitor mais interessado num aprofundamento, para uma pequena bibliografia já
existente sobre o assunto no Brasil.
BIBLIOGRAFIA

Bibliografia Básica

ANDERY, M. A. et alli. Para Compreender a Ciência: uma perspectiva histórica. Rio


de Janeiro/São Paulo: Espaço e Tempo/EDUC, 2000.
CASSIRER, E. Ensaio sobre o Homem, São Paulo, Martins Fontes, 2001
ARANHA, M. L. & MARTINS, Maria H. Temas de Filosofia. SP: Ed. Moderna, 1998.

Bibliografia Complementar

GRAMSCI, A. Os Intelectuais e a organização da cultura. RJ: Civ. Bras.,1989.


RICOEUR, P. Interpretação e Ideologias (org. de Hilton Japiassú). Rio de Janeiro:
Francisco Alves, 3ª ed., 1988.
GEUSS, R., Teoria crítica: Habermas e a escola de Frankfurt, Campinas, Papirus,
1988.
GONZALES, M.E.Q.L. et alii (orgs.), Encontro com as ciências cognitivas, Marília,
Fac. de Filosofia e Ciências, 1997.
ECO, Humberto. As formas do conteúdo, São Paulo, Perspectiva 1974.
POLO MATRIZ

Av. Ernani Lacerda de Oliveira, 100


Parque Santa Cândida
CEP: 13603-112 Araras / SP
(19) 3321-8000
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