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Dualidades

“...- Concede-nos o auxílio de Tuas Luzes e dirige os nossos


trabalhos à perfeição. Concede que a Paz, a Harmonia e a
Concórdia sejam a tríplice argamassa com que se ligam as
nossas obras”.

Vivemos uma época dual. As polaridades se apresentam, furiosas. Esquerda – direita; morte por
doença – morte por fome; desespero – serenidade. Tudo parece mentira e tudo parece verdade, ao gosto de quem
interpreta. O momento é fértil para essas coisas.

Perguntamo-nos, como maçons, o que podemos ou devemos fazer para defrontar esse quadro. A mim
parece que nós tentamos enfrentar isso raciocinando como profanos, por que, claro, todos estamos imersos na
sociedade profana. Temos família, amigos, trabalho e lazer profanos. É instintivo que pensemos profanamente.
Convido-vos a pensar como maçons.

Todos ouvimos falar, desde antes da Iniciação, que a Maçonaria utiliza a Cabala. Vamos tentar
entender, de forma simples, esse uso.

A Cabala pode ser usada desde a Criação de tudo – o TODO – até a criação individual de qualquer
coisa: uma situação, um negócio, uma obra de arte e qualquer processo criativo.

A origem da Criação é o GADU, representado pela Sefirá KETER. Logo em seguida, divide-se em
mais duas, que dão origem às POLARIDADES. Aí começa o intelecto e a intuição; o positivo e o negativo; o
masculino e o feminino; o ativo e o passivo.

De um lado temos o Pilar da Severidade, intelectual, de raciocínio frio, apoiado inteiramente no


CONHECIMENTO; do outro lado temos o Pilar da Misericórdia, intuitivo, todo coração, apoiado nas impressões
inatas, na INTUIÇÃO.

Quando ocorre a divisão polar, imediatamente após a Criação (GADU) – ou ideia inicial de algum
projeto (Homem), à qual nos ateremos. Depois da ideia original, Keter, ainda una, primeiramente é criado
Chokmah, a Intuição da luz divina no caso do Criador e a INTENÇÃO da ideia inicial que o Eu nos propõe. Do
outro lado, temos Binah, o Conhecimento, que nos dá subsídios para analisar friamente o que nos propõe o
coração. Mas, por utilizarmos só o conhecimento é que existem armas que não deveriam existir. É necessário
que analisemos também o que a intuição nos diz, por que ela vem de cima e não deve ser menosprezada. Todos
os que já contrariaram uma intuição e se deram mal sabem disso.

No próximo nível temos, no lado do Conhecimento, Guevurah, a JUSTIÇA, mas a justiça fria, a
aplicação literal da lei. Aí não se avalia se o ente julgado, por exemplo, teve motivação e que motivação. A lei
foi infringida e a pena é esta. Fim de conversa. Aplique-se a lei. Mas, no lado da Intuição temos Chesed, a
MISERICÓRDIA. É ela que proporciona que o juiz se atenha não somente à lei, mas também ao caso. Se o
pêndulo for para a esquerda, teremos uma simples aplicação da lei; se for para a direita, teremos um perdão
completo a tudo. O que fazer?
A próxima Sefirah está no meio, no Pilar do Equilíbrio. Ela se chama Tipheret e representa a luz
equilibrada que vem de todas as anteriores. Seria o ideal materializado, a luz divina equalizada o suficiente para
ser interpretada pelas próximas Sefirot.

Teremos então Hod e Netzach, que são parecidas com Binah (Conhecimento) e Chokmah (Intuição),
mas num nível muito mais material. Seriam as resoluções finais da formação da ideia, bebendo das luzes
anteriores, Hod da Coluna da Severidade e Netzach da Coluna da Misericórdia, e também de Tipheret, que
recomenda equilíbrio.

Tudo se concentra em Yesod, a mente. Nela têm-se a ideia pronta e acabada, que se executa em
Malchut, o mundo material.

Isso é o processo cabalístico de criação. Se soubermos buscar o caminho do meio, conseguiremos


um bom resultado final.

Nesse momento nacional, de crise extrema, a busca por esse caminho deve ser consciente para nós
que temos a necessária instrução. Não temos o direito de nos render à tentação fácil e simplória do julgamento
parcial e profano. Decisões devem ser tomadas. Darão causa a efeitos posteriores. Algumas serão acertadas,
outras não. O mais arriscado por um lado (Coluna da Severidade) pode causar um desastre futuro; o mais seguro
por outro lado (Coluna da Misericórdia) também pode causar um desastre, pela inércia de não agir. Como
encontrar Tipheret? É uma questão que ninguém tem uma resposta certa, nem nós, Maçons. Só o que temos
certeza absoluta é de que a nossa conduta deve ser a de servir. Servir à sociedade, servir às nossas famílias e
servir a nós mesmos, Malchuts que somos, com honestidade e humildade e recebendo, através de Tipheret, o
Equilíbrio, a Luz de Keter, o Grande Arquiteto, que nos guiará nessa escuridão. Essa é, efetivamente, aquela a
que nos referem como a Verdadeira Luz.

Vosso Irmão Hermeto Silva


Em 06 de abril de 2020 da E.’. V.’.
Epidemia COVID-19

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