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Capa

Manual Teológi
Para
Catecúmenos

1ª Ediçã
Catecúmenos

Dedicatória

Dedico este singelo manual teológico para catecúmenos a


memória do habilidoso e destemido conselheiro norte americano Rev.
J. E. Adams. Fui informado do seu falecimento enquanto trabalhava
na conclusão deste manual.
Tive a honra de conhecê-lo a partir das leituras dos seus escritos
(Manual do Conselheiro Cristão e Conselheiro Capaz – nesta ordem).
Não obstante, permanece o sentimento de admiração e dívida para
com este servo de Deus; sobretudo, em um momento turbulento da
vida, no qual o Senhor me amparou pelos ensinamentos de Sua
Palavra presentes na pena deste ilustre mestre.

2
Catecúmenos

Agradecimento

A conclusão desse simples manual teológico para catecúmenos


não seria possível sem a compreensão e paciência por parte da minha
família: Erydan e Johann, esposa amada e filho querido, os quais me
permitiram desfrutar do tempo necessário a dedicação na pesquisa e
escrita. Bem como, não posso deixar de falar do apoio que recebi por
parte da congregação presbiteriana de Chico Mendes/PE, a qual tenho
o enorme privilégio de pastorear neste tempo e, sobretudo, de onde me
surgiu a oportunidade para elaborar tal material, com vista a suprir as
lacunas existentes e cooperar com o crescimento espiritual daqueles
irmãos.
Por fim, elevo ao Senhor meus sinceros e modestos
agradecimentos, principalmente, segundo o reconhecimento de que Ele
de nada necessita para alcançar seus propósitos, mas, em sua infinita
graça, quis me usar como instrumento em Suas Mãos a fim de ajudar
aqueles que ainda precisam tomar do leite espiritual, tão útil e vital
para a vida cristã alcançar sua maturidade no propósito de, como filhos
de Deus, crescermos segundo a imagem de Jesus Cristo, para sua
glória e para a glória de Seu Nome.

Rev. José Valdeci Monteiro


Novembro de 2020

3
Catecúmenos

Sumário
A Escritura – Parte 1
1. A Palavra de Deus.....................................................................................9

1.1. Deus e a Palavra São Um................................................................10

2. Inspiração, Inerrância e Autoridade.........................................................11

2.1. Inspiração........................................................................................13
2.2. Inerrância.........................................................................................14
2.3. Autoridade.......................................................................................14

3. Autógrafos e Traduções...........................................................................15

3.1. Autógrafos.......................................................................................15
3.2. Traduções........................................................................................16

4. Cânon e Suficiência.................................................................................17

4.1. Cânon..............................................................................................17
4.2. Suficiência.......................................................................................19

5. Pregação...................................................................................................20

Referências...............................................................................................21

Teontologia – Parte 2
1. O conhecimento de Deus.........................................................................22

1.1. Consciência de Deus.......................................................................24

2. Seus Atributos..........................................................................................25

2.1. Atributos Incomunicáveis................................................................27


2.2. Atributos Comunicáveis..................................................................28

3. Trindade...................................................................................................30

4. Decreto de Deus.......................................................................................32

4
Catecúmenos

Referências..............................................................................................34

O Homem – Parte 3
1. Criação..............................................................................................35

2. Natureza e Integralidade do homem.................................................36


2.1. Alma Vivente............................................................................37
2.2. Homem e Mulher......................................................................37
2.3. Vice-Regente de Deus..............................................................38
2.4. Natureza Essencial....................................................................38
2.5. Elementos Essenciais................................................................39
2.6. Imagem de Deus.......................................................................40

3. Pacto de Obras..................................................................................41

3.1. Pacto.........................................................................................41
3.2. Elementos do Pacto..................................................................43

4. A Queda............................................................................................46

4.1. Estado de Pecado......................................................................47


4.2. Efeitos da Queda.......................................................................49
4.3. Natureza do Pecado..................................................................52
4.4. Transmissão do Pecado............................................................53
Referências.............................................................................................54

Nosso Salvador (Cristologia) – Parte 4


1. A Dupla Natureza de Jesus Cristo....................................................56

1.1. A Humanidade de Cristo..........................................................56


1.2. A Divindade de Cristo..............................................................56

5
Catecúmenos

2. Ofícios: Profeta, Rei e Sacerdote......................................................59

2.1. Profeta......................................................................................59
2.2. Rei............................................................................................60
2.3. Sacerdote..................................................................................61

3. Humilhação e Exaltação de Cristo....................................................62

3.1. Humilhação de Cristo...............................................................62


3.2. Exaltação de Cristo...................................................................63

4. Pacto da Graça..................................................................................64

4.1. Diferenças entre o Pacto de Obras e o Pacto da Graça............65


Referência..............................................................................................67

Nossa Salvação – Parte 5

1. Salvação............................................................................................68

1.1 O Espírito Santo e a Sua Obra..................................................69


1.2 Eleição e Predestinação............................................................70

2. A Ordem da
Salvação........................................................................74

2
2.1 Justificação...............................................................................76
2.1.1 A justificação e a controvérsia entre Fé e
Obras.............77
2.2 Adoção......................................................................................78
2.3 Vocação Eficaz.........................................................................80
2.4 Novo Nascimento.....................................................................83

2.
2.1.
2.2.
2.3.
2.4.
2.4.1 A Carne é o Inverso do Espírito....................................87
6
Catecúmenos

2.5 União com Cristo......................................................................89


2.5.1 Estar Em
Cristo.................................................................90
2.6 Arrependimento, Fé e
Conversão..............................................91
2.6.1 Arrependimento.............................................................92
2.6.2 A Fé...............................................................................94
2.6.3 Conversão......................................................................97
2.7 Santificação..............................................................................99
2.8 Glorificação............................................................................104
2.8.1 Transformação.............................................................105

Referências......................................................................................107

Igreja – Parte 6

1. Igreja Invisível e
Visível..................................................................109
2. As Marcas da
Igreja.........................................................................115
2.1. Pregação Fiel da
Palavra.........................................................115
2.2. Administração dos Sacramentos.............................................116
2.3. Disciplina Eclesiástica............................................................117
3. Tipos de Governo............................................................................119
3.1. Episcopal................................................................................120
3.2. Congregacional.......................................................................121
3.3. Presbiteriana...........................................................................121
Referências...........................................................................................123

7
Catecúmenos

Sacramentos – Parte 7

1. Batismo...........................................................................................125
1.1 Profissão de
Fé........................................................................127
2. Ceia do Senhor................................................................................131

Referências...........................................................................................135

Igreja Reformada – Parte 8

1. A Reforma e Os
Reformadores........................................................137
2. As Doutrinas da
Graça.....................................................................144
3. Os 5
Solas........................................................................................147
4. Confessionalidade...........................................................................151

IPB – Parte
1. Breve Histórico...............................................................................153
2. Símbolos de Fé................................................................................156
2.1. A Assembleia de Westminster................................................157
2.2. O Trabalho da
Assembleia......................................................158
2.3. A Confissão de Fé e os
Catecismos.........................................158
3. A Teologia da Confissão de
Fé........................................................160
4. Manual
Presbiteriano.......................................................................160
4.1. Constituição da IPB, Direitos e Deveres dos Membros.........161
4.2. Código de Disciplina..............................................................163
4.3. Conselho e as Instâncias Superiores.......................................164

5. Sociedades Internas.................................................................. 171

8
Catecúmenos

9
Catecúmenos

Parte 1

A ESCRITURA

1. A Palavra de Deus

Toda a Escritura é inspirada por Deus e


útil para o ensino, para a repreensão,
para a correção, para a educação na
justiça
II Timóteo 3. 16

Uma das primeiras coisas as quais precisamos compreender


acerca da Escritura é que ela mesmo defende ser a revelação de Deus
para nós hoje.
Quando falamos sobre ser a revelação de Deus é preciso levar em
consideração que Deus se revelou aos homens de várias formas, como
por exemplo, a partir de: voz audível, sonhos, visões, teofanias e
profecias, dentre outras. Mas, foi por meio do registro da Escritura que
Deus resolveu se revelar pessoalmente aos homens.
Segundo Groningen, “o texto bíblico apresenta evidencias
insuperáveis de que a revelação foi iniciada por Deus se revelando
pessoalmente, e revelando suas intenções e seus propósitos”.1 Isto
quer dizer que a Bíblia é e contém a palavra de Deus.
Ela é a palavra de Deus porque se trata dos registros confiáveis da
revelação progressiva de Deus no tempo aos homens.
Ela também contém a Palavra de Deus porque se sabe que Deus,
os profetas, Jesus e os apóstolos proferiram muitas outras palavras, as
quais não se encontram na Escritura Sagrada. 2
Porém, esse fato em nada diminuí a exclusividade, importância e
confiabilidade existente na Bíblia como a Palavra de Deus.
10
Catecúmenos

Tanto é, que nossos irmãos no passado não deixaram de entender,


assim como a igreja antiga entendia, que a Bíblia é a palavra de Deus.
O Catecismo Maior de Westminster (CMW), em sua 3ª pergunta,
diz: Que é a Palavra de Deus? Sua resposta é: “As Escrituras Sagradas,
o Velho e o Novo Testamento, são a palavra de Deus, a única regra de
fé e prática”.
Sendo assim, a Bíblia Sagrada é o registro da Revelação, ou seja,
o meio pelo qual Deus usou para que a sua Revelação - neste caso, a
sua Palavra - chegasse até nós. Logo, devemos entender que o meio
pelo qual a Revelação vem é inseparável da Revelação em si. 5
Então, não resta dúvidas a respeito de que a Bíblia, Antigo e
Novo Testamento, são a Palavra de Deus a nós.

1.1. Deus e a Palavra são um

Uma das razões que torna a Bíblia confiável é que a Palavra de


Deus e Ele são um. Isto é possível porque comunicação é essencial
para a natureza de Deus. Ele é dentro todos os seus outros atributos,
um Deus que fala. 3
A Bíblia nos ensina essa verdade em João 1. 1 – 14, quando usa o
termo Palavra especificamente para se referir a segunda pessoa da
Trindade.
Neste sentido, não há diferença entre Palavra como atributo e
Palavra como o Nome do Eterno Filho de Deus.
Observe sobre isso que Paternidade é um atributo divino, mas, Pai
também é o nome da primeira Pessoa da Trindade. 4
Neste caso, a Revelação de Deus em sua Palavra feita por meio
dos profetas, apóstolos e escritores bíblicos se apresenta tão humana
quanto divina. Logo, não há dificuldades em entendermos que Jesus
Cristo e o Logos (Palavra) são o mesmo, e que a Palavra de Deus é
uma palavra pessoal.
Então, não devemos esperar uma revelação somente espiritual,
mas, devemos compreender essa natureza divino-humana contida na

11
Catecúmenos

Revelação especial de Deus e tomá-la assim com ela é: A Palavra de


Deus aos homens!

2. Inspiração, Inerrância e Autoridade

Sabendo, primeiramente, isto: que nenhuma profecia


da Escritura provém de particular elucidação;
porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por
vontade humana; entretanto, homens santos falaram
da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo.
(II Pedro 1. 21 e 22)

Quando se fala a respeito da natureza da Escritura ser tanto divina


quanto humana, estamos falando a respeito da Inspiração e da
Inerrância das Escrituras: aspectos que descrevem ações preservativas
da parte de Deus sobre os autores dos Registros da sua Revelação.
Inevitavelmente, essas ações têm como resultado outro aspecto da
natureza das Escrituras quanto palavra de Deus aos homens: Sua
Autoridade.
Um texto para ser aceito no meio acadêmico tem a necessidade de
passar por processos que asseverem sua autenticidade e veracidade.
Por sua vez, esses aspectos da natureza da Escritura vão corroborar
como provas para sua aceitação como Palavra de Deus aos homens.
Vejamos cada um deles:

2.1. Inspiração
A inspiração é um dos mais importantes, porém polêmicos,
aspectos presente na natureza das Escrituras. Esse aspecto da natureza
das Escrituras se refere ao fato de ter Deus inspirado homens, por meio
do Espírito Santo, a escreverem a partir de sua própria experiência.

12
Catecúmenos

A Bíblia tem cerca de 40 autores, os quais na sua maioria viveram


em épocas diferentes e lugares diferentes, o que levou 1.500 anos para
que ela fosse escrita.
Os autores bíblicos escreveram utilizando seu próprio
vocabulário, seu próprio estilo, e, por vezes foram seletivos em seus
escritos, chegando até mesmo a usar escritos seculares (vv. Atos 17.
28).
Pedro diz que “...homens falaram da parte de Deus, movidos pelo
Espírito Santo”. A palavra “movidos” usada aqui é a mesma usada por
Lucas para se referir a descida do Espírito Santo em Atos 2. Neste
evento homens comuns e indoutos foram cheios de sabedoria e poder,
a ponto de abandonarem suas próprias vontades e passarem a fazer a
vontade de Deus.
O significado desta palavra em relação a inspiração nos leva a
entender que “os escritores da Bíblia foram levados ao longo de seus
escritos a escrever as palavras que Deus planejava que fossem
registradas. Eles escreveram como pessoas, mas pessoas movidas pelo
Espírito Santo”.6
Há algumas divergências sobre como os autores bíblicos foram
inspirados e teorias sobre esse assunto surgiram com o passar do
tempo. Há pelo menos duas delas no meio ortodoxo, que são:
A teoria do ditado inspirado A teoria do conceito inspirado

Os autores humanos da Bíblia Deus só concedeu aos autores


registraram apenas o que Deus lhes pensamentos inspirados, e os
havia ditado, palavra por palavra. autores tiveram liberdade de revesti-
los com palavras próprias.

Em sua Teologia sistemática, A. H. Strong apresenta uma visão


que vem sendo denominada inspiração conceitual. Deus teria
inspirado apenas os conceitos, não as expressões literárias particulares
com que cada autor concebeu seus textos. Deus teria dado seus
pensamentos aos profetas, que tiveram toda a liberdade de exprimi-los
em seus termos humanos. Dessa maneira, Strong esperava evitar

13
Catecúmenos

quaisquer implicações mecanicistas derivadas do ditado verbal e ainda


preservar a origem divina das Escrituras. Deus concedeu a inspiração
conceitual, e os homens de Deus forneceram a expressão verbal
característica de seus estilos próprios7.

2.2. Inerrância (Infalibilidade)


Outro aspecto importante sobre a natureza da Escritura é a sua
Inerrância. Ela decorre do fato da Escritura ser inspirada pelo Espírito
Santo e diz respeito a ela não conter erro. Ou seja, “tudo quanto Deus
declara é verdade isenta de erro” 8 e “nada do que a Bíblia ensina
contem erro”.9
É interessante notar que a Bíblia não se apresenta como um livro
científico ou histórico, muito embora ela contenha história. Sua
intenção não é comprovar teorias ou fatos, mas, nem por isso
encontraremos erros que a torne indigna de sua aceitação.
Ocorre que muitos de seus críticos apontam para “resultados
comprovados” ou “descobertas cabais” quando querem desacreditar a
Bíblia como Palavra de Deus inerrante e infalível. Contudo, tanto a
história como a arqueologia, numa marca contínua, têm derrubado os
tais “resultados comprovados” contrário a inerrância e infalibilidade
das Escrituras através de investigações e de achados arqueológicos, e,
com isso, a posição ortodoxa da igreja em relação as Escrituras vem se
fortalecendo diante dos olhares de seus críticos. 10
Outra crítica contrária a inerrância e infalibilidade das Escrituras
é dizer que ela é de autoria humana. Contudo, não percebem estes que
se a Escritura é inspirada ela tem de ser inspirada verbalmente no uso
de uma linguagem e mídia* humana.
Neste sentido, inspiração verbal é infalibilidade. 11

14
Catecúmenos

2.3. Autoridade
Por fim, outro aspecto da natureza da Escritura é o fato dela ser
autoritativa, ou seja, possui a autoridade em si mesma para declarar os
dogmas e ensinos aos quais a igreja deverá crer e defender. Ela dá
testemunho de si mesmo e seu testemunho é suficiente para crer nela
como a Palavra de Deus.
A Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR) faz um contraponto
a essa questão afirmando “que, com respeito a nós, ela (Escritura)
recebe sua autoridade divina da igreja”. 12
Contudo, isso esse argumento se mostra um equívoco para com a
autoridade advinda da própria Escritura, a qual a Confissão de Fé de
Westminster reconhece e apresenta da seguinte forma no Capítulo I e
seção IV:
A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser crida e
obedecida, não depende do testemunho de qualquer homem ou
igreja, mas depende somente de Deus (a mesma verdade) que é o
seu autor; tem, portanto, de ser recebida, porque é a palavra de
Deus.
Logo, as razões pelas quais a Escritura detém e exerce autoridade
sobre a igreja são duas e está na sua autoria – Deus é o seu autor;
também está na sua inerrância, aqui vista como sua veracidade – como
Deus ela é a verdade; e, por meio dela Deus continua a falar a sua
igreja.
Não devemos pensar que há partes da Escritura que não possuam
autoridade, mas, toda a Escritura possui autoridade. Não só aquelas
partes que para nós são atraentes, convincentes, relevantes ou
culturalmente respeitáveis. Mas também, aquelas das quais temos
dúvidas, não gostamos ou temos dificuldades em aceitá-las.
Boice nos explica como a Escritura foi usada ao longo da história
da seguinte maneira:
As Sagradas Escrituras eram autoridade suprema e inerrante
em todos os aspectos para os seguidores de Cristo. A Palavra
podia ser negligenciada e até contestada, havendo discordância
15
Catecúmenos
sobre o que o Livro realmente ensinava, no entanto, mesmo
assim, a Bíblia era aceita como a Palavra de Deus. E essa era a
única regra de fé e prática infalível dos cristãos. (BOICE,
2001)

Essa posição foi observada pelos reformadores e se traduziu de


maneira prática em um princípio de interpretação extremamente caro a
igreja.
Boice a descreve com a citação de Montgomery assim:
a Escritura pode interpretar-se, e certamente se interpreta, ao
fiel a partir de si mesma. A Escritura é sua própria intérprete,
Scriptura sui ipsius interpres, como Lutero coloca, de forma
que ela não somente dispensa papas ou concílios para nos
dizer, como Deus, o que ela quer dizer; ela pode, na verdade,
desafiar pronunciamentos papais ou conciliares, convencê-los
de que são ímpios e falhos, e exigir do fiel separar-se deles.
(BOICE, 2001)

3. Autógrafos e Traduções

Quando vieres traze a capa que deixei em


Trôade, em casa de Carpo, e os livros,
especialmente os pergaminhos.
(II Timóteo 4.13)

Agora é preciso tratar com uma informação que pode ser para
você impactante, porém, óbvia: A Escritura que temos em nossas mãos
são cópias de cópias dos textos originais chamados de Autógrafos.
Além disso, para que a Escritura se tornasse acessível a nós,
nossos exemplares precisaram ser traduzidos para nossa língua. Eis
que surgem as traduções da Escritura, ou seja, não temos apenas
cópias dela, mas também temos cópias traduzidas dela.
A pergunta que surge é: Essas cópias traduzidas são confiáveis?

16
Catecúmenos

1.
2.
3.
3.1. Autógrafos
Autógrafo é o texto original, escrito pelo autor bíblico em sua
língua e usando o material de sua época para isso. É importante
destacar que “só os manuscritos originais, conhecidos por autógrafos,
foram inspirados por Deus”.13
Outra coisa importante de dizer é que os originais não mais
existem. Então, os críticos afirmam que não há como assegurar a
confiabilidade das cópias que temos em nossas mãos se não temos os
originais para comprovar. Acontece que também não foi encontrado
nenhum autógrafo falível que desqualificasse as cópias que temos.
Acima de tudo, a Escritura não requer um método de exame empírico
para se aceitar sua inerrância.
O que temos em mãos é uma cópia que foi vertida com toda
precisão, cuidado e zelo por homens qualificados e dotadas de
capacidade.
Estes eram chamados de escribas e detinham um elevado
conhecimento e técnica sobre a crítica dos textos.
Estavam prontos para identificar corrupção, erros e problemas a
serem corrigidos, pontuados e explicados, com o viés de preservar o
texto e restaurar a sua forma original como escrito pelo autor ou como
deixado pelas mãos do editor final.

17
Catecúmenos

3.2. Traduções
Os textos originais forma escritos em 3 línguas: Hebraico,
Aramaico e em um Grego mais popular, hoje usado apenas pelos
estudiosos bíblicos chamado de Coiné.
Com o tempo surgiu a necessidade de tradução dos textos
bíblicos, pois, o povo de Israel foi sendo espalhado por outras regiões
e passou a ter contato com outras culturas e povos, o que os
influenciou a traduzir as Escrituras para as línguas nativas daqueles
povos.
Geisler e Nix nos dão uma ideia sobre a quantidade de traduções
até o século IV d.C:
As traduções mais antigas continham trechos do AT e às vezes
também do Novo. Apareceram antes do período dos concílios
da igreja (c. 350 d.C.), abarcando obras como o Pentateuco
samaritano, os Targuns aramaicos, o Talmude, o Midrash e a
Septuaginta (LXX). [...]. Antes do Concilio de Nicéia (325)
surgiram traduções do NT para o aramaico e para o latim.
(GEISLER. NIX, 1997)

A medida que o tempo foi passando outras traduções eram


organizadas e atualizações, revisões e versões foram compiladas. Até
que, a imprensa foi construída e a bíblia foi difundida por todo o
mundo em várias línguas.

4. Cânon e Suficiência
A Bíblia possui 66 livros, dos quais 39 estão presentes no Antigo
Testamento e 27 no Novo Testamento.
Ainda existem outras classificações internas que descrevem
conjuntos de livros e particularidades, como: A Torá (A Lei), livros
históricos, poéticos, proféticos (maiores e menores) e etc.

18
Catecúmenos

Talvez você nunca tenha pensado no porquê de a Bíblia ter esses


livros e nesta quantidade. Mas, para se alcançar esse padrão foi
necessário passar por um processo chamado de Cânon.
Esse foi um processo que ocorreu primeiramente com o Antigo
Testamento. Só depois é que veio ocorrer com o Novo Testamente, e,
mesmo assim, muitos textos foram colocados e tirados e, até
recolocados, ao longo do processo.

1.
2.
3.
4.
4.1. Cânon
A palavra cânon deriva do grego kanõn ("cana, régua"), que, por
sua vez, se origina do hebraico kaneh, palavra do AT que significa
"vara ou cana de medir" (Ezequiel 40. 3). 14 O conceito mais antigo de
cânon é encontrado no texto sagrado e remonta o período de Moisés.
Um livro é canônico é um livro inspirado. Como já vimos, a
inspiração é dada por Deus e, neste caso, a canonicidade é descoberta
pelos homens. Isto, foi feito pela igreja através de várias medidas
(réguas), onde se buscou descobrir livros verdadeiros e separá-los dos
falsos ou dos chamados apócrifos. As medidas utilizadas estão nos
princípios contidos nos livros inspirados:
a. Autoridade – o livro é dotado de autoridade divina;
b. Profecia – o livro veio de um profeta de Deus, com profecias
fiéis;
c. Confiança – o livro fala a verdade acerca de Deus e dos
homens;
d. Dinamismo – o livro trouxe mudanças a vida dos homens;

19
Catecúmenos

e. Aceitação – o livro foi aceito pelo povo de Deus.


Maioria de nós ainda não pensou sobre o processo de canonização
no qual os livros da Escritura estiveram submetidos ao longo do
tempo. Nem pensou que muitos livros, dos quais consideramos hoje
como canônicos, estiveram debaixo de suspeitas, até que houvesse seu
reconhecimento.
Alguns deles até chegaram a entrar no cânon e, logo depois,
foram retirados com a mesma rapidez que entraram. E, em seguida,
voltaram, pois, a medida que outros livros eram aceitos estes também
foram.
A seguir, temos uma tabela que demonstra o processo de
canonização dos textos do Novo Testamento do séc. I ao IV, d.C.:

20
Catecúmenos

4.2. Suficiência
Vimos como a canonicidade foi importante para a formação da
Bíblia como a conhecemos hoje; e, esse assunto nos leva a outro
deverás importante: a suficiência das Escrituras.
Completado o cânon bíblico, a revelação de Deus cessou. Com
isso, a igreja está de posse do “Assim diz o Senhor” e não deve buscar
outros tipos de revelação para a sua direção. Fazê-lo é substituir a
segurança e a verdade pela mentira e engano.
A Escritura é nossa “regra de fé e prática” e acrescentar algo a ela
é correr um risco terrível, assim como fazer outros correrem o mesmo
risco.
Por exemplo, a ICAR a partir do Concilio de Trento entende que
“as tradições da Igreja de Roma devem ser recebidas com a mesma
devoção que as Escrituras”.15 Este ato a coloca sob maldição,
conforme nos diz Apocalipse 22. 18:
Se alguém lhe fizer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os
flagelos escritos neste livro.
Por essa razão, as Escrituras do Antigo e Novo Testamento tem o
condão de ser suficientes para o povo de Deus. Isto quer dizer que
tudo que Deus teria para nos dizer a respeito da sua obra Redentiva na
criação está presente nas Escrituras.
Quando falo sobre a obra redentiva não estou falando apenas da
obra soteriológica completada por Cristo e aplicada pelo Espírito
Santo em nossas vidas. Mas, estou falando sobre se ter a expectativa
de que ela nos forneça revelação de Deus acerca de questões que
sejam do interesse da Ciência, História, Psicologia e Filosofia. Pois,
como disse Frame: “a própria redenção é muito ampla, regenerando
cada área da vida humana”.16
Neste sentido, a Escritura nos é suficiente não só em termos
soteriológicos, mas, em relação a toda nossa vida.

21
Catecúmenos

5. Pregação

Que fazer, pois, irmãos? Quando vos congregais, cada


um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem
língua, tem interpretação. Faça-se tudo para
edificação.
(I Coríntios 14. 26)

A pregação é parte essencial do culto a Deus, pois, ela é um dos


meios efetivos pelo quais Deus comunica sua palavra a nós hoje. 17
Obviamente, ela se torna eficaz apenas quando o significado da
Escritura é comunica. Então, ouvimos a palavra de Deus.
Devemos ter a atenção de notar que pregadores as vezes erram e,
nesse caso, a palavra de Deus deixa de ser comunicada.
Um exemplo clássico de atenção e de zelo no ouvir e receber a
pregação como palavra de Deus está nos irmãos de Beréia, em Atos
17. 11, O texto os chama de nobres por conta da atitude de ouvir com
avidez e examinar as Escritas diariamente: “Ora, estes eram mais
nobres do que os de Tessalônica, porque receberam a palavra com
toda avidez, examinando diariamente as Escrituras para ver se estas
coisas eram assim”.
O texto de 1 Coríntios 14. 26 usa 2 termos próximos em sua
conotação, embora sejam diferentes: pregação (gr. kerysso) e ensino
(gr. didache).
O primeiro se refere a pregação com conteúdo elementar e feito a
primeira vez a determinados grupos. O segundo se refere ao ensino da
doutrina, por isso, ele é de caráter mais amplo do que o primeiro e
toma um modo de anúncio ou uma ênfase histórico-redentiva. Por fim,
seja a pregação de coisas elementares ou de doutrinas mais
substanciais, se a pregação for feita fielmente, esta deve ser recebida
como palavra de Deus e conferida com zelo, pois, ela trará edificação
a igreja.
22
Catecúmenos

Referências
1
GRONINGEN. V. G. O Progresso da Revelação no Antigo Testamento, Ed. Cultura
Cristã, pág. 14;
2
FRAME. J. M. A Doutrina da Palavra de Deus, Ed. Cultura Cristã, pág. 60;
3
Ibid., pág. 61;
4
Ibid.
5
Ibid., pág. 79;
6
BOICE. J. M. Fundamentos da Fé Cristã – Um manual de teologia ao alcance de
todos, Ed. Central Gospel, pág. 41;
7
GEISLER. N; NIX. W. Introdução Bíblica - Como a Bíblia Chegou Até Nós, Ed.
Vida, pág. 17;
8
Ibid., pág. 25;
9
Ibid., pág. 26;
10
BOICE. J. M. Op. Cit., pág. 69;
11
Ibid.
12
WATSON. T. A Fé Cristã – Estudos Baseados no Breve Catecismo de Westminster,
Ed. Cultura Cristã, pág. 46;
13
GEISLER. N. NIX. W. OP. CIT. PÁG. 61;
14
Ibid., pág. 31;
15
WATSON. T. Op. Cit., pág. 47;
16
FRAME. J. M. Op. cit., pág. 151;
17
FRAME. J. M. Op. Cit. Pág. 226;
* expressão usada por John Frame em sua obra (A Doutrina da Palavra de Deus, SP: Ed. Cultura
Cristã, 2013, capítulo 12, pág. 78) para se reportar aos meios usados por Deus para o registro da
revelação.

23
Catecúmenos

Parte 2

TEONTOLOGIA

O temor do SENHOR é o princípio da


sabedoria, e o conhecimento do Santo é
prudência.
(Provérbios 9.10)

Parece estranho falar sobre o conhecimento de Deus logo após ter


estudado a respeito da Escritura Sagrada.
Para alguns, o estudo teológico deveria ser iniciado a partir da
Teontologia, ou seja, a partir do estudo sobre o Ser de Deus. Mas,
convém explicar que é impossível analisar o Ser de Deus como se Ele
fosse um objeto de estudo onde um cientista o analisa através de seu
microscópio dentro do laboratório. Não há como dissecar Deus.
Veremos que Ele é e está além das coisas criadas.
Todavia, aqueles que querem se aproximar do estudo teológico
devem crer que Deus existe e que Ele se revelou aos homens por meio
das Sagradas Escrituras.
Por essa razão, não iniciamos os estudos tratando sobre
Teontologia.

1 O Conhecimento de Deus
Há 3 tipos de conhecimentos que descrevem nossa realidade: o
conhecimento cientifico, o conhecimento de emocional e o
conhecimento de Deus.

24
Catecúmenos

O conhecimento cientifico é aquele pelo qual a realidade é


observada apenas pela razão. Essa é uma abordagem desenvolvida por
Platão e assumida pelo pensamento gregos e romano, depois dele. 1
Na filosofia de Platão, o conhecimento verdadeiro é o
conhecimento da essência eterna e inalterável das coisas, não apenas o
conhecimento de fenômenos multáveis; é um conhecimento de formas,
ideias e/ou ideais. Nosso equivalente mais próximo seria as leis da
ciência.2
O conhecimento emocional é algo que vem sendo explorado com
mais interesse em nosso tempo. Porém, seus traços estão presentes
desde a antiguidade a partir dos rituais místicos religiosos que
prometiam união com a divindade.
Religiões como o hinduísmo, taoísmo, budismo, confucionismo e
o xintoísmo tem conseguido espaço com a prática da meditação
transcendental, ioga, expansão da mente, potencial de movimentação
humana e com a busca pela cura da alma e do corpo. Dessa forma o
conhecimento emocional tem preenchido as lacunas deixadas pelo
racionalismo.
O terceiro conhecimento diz respeito a abordagem da existência
de um Deus que criou todas as coisas, que Ele mesmo estabeleceu um
propósito para sua criação e que podemos conhece-lo.
O conhecimento de Deus diz respeito a conhece-lo pela descrição
ao qual Ele mesmo faz de si. É isso que a Bíblia quer dizer quando fala
sobre conhecer a Deus.
É importante conhecer a Deus, pois, somente assim se pode entrar
no que a Bíblia chama de vida eterna. Por conseguinte, o
conhecimento de Deus também é importante por quê a partir dele será
possível conhecer a nós mesmos.
Calvino se refere em sua obra magna que há dois tipos
conhecimento:
Quase toda a soma de nosso conhecimento, que de fato se deva
julgar como verdadeiro e sólido conhecimento, consta de duas

25
Catecúmenos

partes: o conhecimento de Deus e o conhecimento de nós mesmos.


Como, porém, se entrelaçam com muitos elos, não é fácil,
entretanto, discernir qual deles precede ao outro, e ao outro
origina.3

1.1 Consciência de Deus


Com as palavras de Calvino sobre a existência de apenas dois
tipos de conhecimento teremos como resultado a verdade de que todos
os homens, por mais distantes que estejam de uma cultura cristianizada
como a nossa, possuem um senso de religião presente em suas
consciências.
Uns terão uma consciência mais acurada do que outros, isto por
quê, a Escritura afirma que as coisas espirituais se discernem
espiritualmente (Romanos 1. 18 – 32 e Coríntios 2. 14)
A distinção entre esse senso religioso e uma verdadeira
consciência sobre Deus é algo que quero partilhar abaixo usando as
palavras de Boice:

Conhecer Deus é penetrar no conhecimento de nossa profunda


necessidade espiritual e da providência dEle para essa
necessidade, e daí vir a confiar no Senhor e reverenciá-lo. Ter
consciência sobre Deus é meramente uma sensação de que há
um Deus e que Ele merece nossa obediência e adoração.
Homens e mulheres não conhecem, obedecem ou adoram a
Deus naturalmente. Contudo tem uma consciência sobre Ele.
(BOICE, 2011).

Calvino denominou essa consciência de semente da religião


divinamente implantada, muito embora por este mesmo senso o
rejeitamos e nos tornamos inescusáveis.4
A Escritura demonstra esse assunto afirmando que quando o
homem sem Deus faz algo bom, procede, por natureza, de
conformidade com a lei, [..] porque a Lei foi escrita em seu coração
(Romanos 2. 15). Este fato torna os homens inescusáveis diante de
Deus.
26
Catecúmenos

Sobre esse assunto Thomas Watson nos diz: “A consciência é


prova da deidade, ela é uma representante e uma delegada de Deus. A
consciência é uma testemunha da deidade. Se não houvesse uma
Bíblia para nos dizer que há um Deus, a consciência o faria”.5
Outra forma dos homens terem consciência sobre o conhecimento
de Deus é através da observação da criação. Como o Salmista diz no
Salmo 19. 1 - 5:
Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as
obras das suas mãos.
Um dia discursa a outro dia, e uma noite revela conhecimento a
outra noite.
Não há linguagem, nem há palavras, e deles não se ouve nenhum
som; no entanto, por toda a terra se faz ouvir a sua voz, e as suas
palavras, até aos confins do mundo. Aí, pôs uma tenda para o sol,
o qual, como noivo que sai dos seus aposentos, se regozija como
herói, a percorrer o seu caminho.
Essa forma de conhecimento de Deus é chamada de revelação
natural, ou seja, é possível que através da observação das leis da
natureza e da harmonia presente na criação, os homens pressuponham
a existência de um ser que deu origem a tudo e esteja além das coisas
criadas.
Ocorre que, é impossível aos homens ter um conhecimento de
Deus sólido e capaz de apontar para a necessidade de Salvação, e,
logo, para o meio pelo qual poderá ser salvo, observando apenas a
revelação natural. Ela é insuficiente a esta finalidade! Lucas demonstra
isto com a pregação de Paulo em Atenas dizendo a forma como eles
são supersticiosos, possuindo vários altares para inúmeros deuses
demonstra uma busca “cega” pela divindade, embora, Deus não
estivesse longe deles (Atos 17. 22 – 27).
Por outro lado, por meio da revelação especial, ou seja, da
Escritura Sagrada é possível ao homem ter um conhecimento
verdadeiro e sólido a respeito de suas necessidades, da salvação e de
Deus.
27
Catecúmenos

Neste sentido, a pergunta “quem é Deus?” poderá ser feita com


segurança e receberá a resposta adequada a partir das informações que
o próprio Deus apresenta de si mesmo em seus atributos.

2 Seus Atributos
Uma definição bem simples sobre os atributos de Deus é dada por
Thomas Watson: “A glória de Deus se apresenta principalmente em
seus atributos, que são vários raios pelos quais a natureza divina se
irradia”.6
Os atributos são as qualidades pelas quais Deus se apresenta aos
homens por meio de sua revelação de forma inteligível ou
compreensível.
A teologia descreve dois tipos de atributos: os comunicáveis e os
incomunicáveis.
Os comunicáveis são os atributos aos quais os Deus compartilhou
com os homens em sua imagem e semelhança na criação e os capacita
a se distinguirem das demais criaturas, bem como, os permite ter
comunhão com Deus.
Os incomunicáveis são as qualidades as quais somente Deus
possui, pois são as que o fazem ser Deus, ou seja, Ele não
compartilhou com os homens, do contrário, Ele não seria Deus.
Vamos observar primeiramente os atributos incomunicáveis e,
logo após, veremos os atributos comunicáveis.

2.1 Atributos incomunicáveis


São eles: a Auto existência, a Imutabilidade, a Infinidade e a
Unidade.
I. Auto existência: Deus é auto existente, isto é, ele tem em si
mesmo a base da Sua existência. Ele é o ser não causado, que
existe pela necessidade do seu próprio Ser. 7 Esse atributo
28
Catecúmenos

também aponta para a independência do Ser de Deus em suas


virtudes, decretos, obras, e assim por diante.
Textos: Salmo 33.11; 94. 8ss; Isaías 40.18; Daniel 4. 35 João
5. 26;
II. Imutabilidade: é a perfeição pela qual não há mudanças nele,
não somente em Seu Ser, mas também em Suas perfeições, em
Seus propósitos e em suas promessas. Pois, qualquer mudança
seria para melhor ou para pior, isso não é possível em Deus. 8
Textos: Êxodo 3. 14; Salmo 102. 26 – 28; Isaías 41. 4; 48. 12;
Malaquias 3. 6; Romanos 1. 23; Hebreus 1. 11 e 12 e
Tiago 1. 17.
III. Infinidade: é a perfeição de Deus pela qual Ele é isento de
toda e qualquer limitação. Isto implica que Ele não é limitado
de maneira nenhuma pelo universo, pela relação tempo-espaço
e que ele não fica encerrado no universo. Ela compreende a
perfeição absoluta de Deus; sua eternidade e sua imensidade. 9

a. Perfeição absoluta – Deve ser considerada num sentido


qualitativo, pois, qualifica todos os atributos comunicáveis
de Deus, sendo a ausência de todo o defeito e limitação,
com potencialidades ilimitadas.10
Textos: Jó 11. 7 – 10; Salmo 145. 3; Mateus 5. 48.
b. Sua Eternidade – é a perfeição de Deus sobre a qual Ele é
elevado, acima de todos os limites temporais e de toda a
sucessão de momentos, e tem a totalidade da Sua existência
num único presente indivisível.11
Textos: Salmo 90. 2; 102. 12; Efésios 3, 21.
c. Sua imensidade (Onipresença) – é a perfeição do Ser
divino pela qual Ele transcende todas as limitações
espaciais e, contudo, está presente em todos os pontos do
espaço com todo o Seu ser.12

29
Catecúmenos

Textos: 1 Reis 8. 27; Isaías 66. 1; Jeremias 23. 23; Atos 7. 48


e 49; 17. 27 e 28.
IV. Unidade: Este atributo salienta a unidade e a unicidade de
Deus, o fato de que Ele é numericamente um e único.
Textos: Êxodo 15. 11; Deuteronômio 6. 4; I Timóteo 2. 5.

2
2.1

2.2 Atributos comunicáveis


São eles: Espiritualidade; Conhecimento de Deus; Sabedoria,
Veracidade; Bondade; Santidade; Justiça e Soberania.
I. Espiritualidade: A Escritura não nos fornece uma definição de
Deus, mas, o que ela mais se aproxima disso é a palavra dita por
Jesus à mulher samaritana: “Deus é Espírito” (João 4. 24). Isto
indica que Deus não possui matéria, ou seja, em sua Substância é
um Ser imaterial, invisível e sem composição e nem extensão.
Mas, todas as qualidades que pertencem a espiritualidade estão
presentes nele: um ser autodeterminante e autoconsciente. 13
Textos: I Timóteo 1. 17; 6. 15 e 16.
II. Conhecimento: a perfeição de Deus pela qual Ele, de
maneira inteiramente única, conhece-se a Si próprio e a todas
as coisas possíveis e reais num só ato eterno e simples. 14
Textos: I Samuel 2. 3; Jó 12. 13; Salmo 94. 9; Isaías 29. 15
III. Sabedoria: a perfeição de Deus que aponta para a aplicação
de sua inteligência superior na escolha dos melhores meios
para a consecução do melhor fim em seus propósitos. 15
Textos: Romanos 11. 33; 14. 7; Efésios 1. 11 e 12;
Colossenses 1. 16.
30
Catecúmenos

IV. Veracidade: é a perfeição de Deus pela qual Ele responde


inteiramente pela ideia da divindade, é perfeitamente
confiável em sua revelação e vê as coisas como realmente
são. 16
Textos: Êxodo 34. 6; Números 23.19; Deuteronômio 32. 4;
Salmo 25. 10; Isaías 65. 16; Jeremias 10. 8, 10 e 11;
João 14. 6; 17. 3; Tito 1. 2; Hebreus 6. 18; I João 5. 20
e 21.
V. Bondade: envolve sua bondade, misericórdia,
longanimidade, graça e amor pelas criaturas.

a. Bondade – A perfeição de Deus que o leva a tratar


benévola e generosamente todas as suas criaturas. 17
Textos: Salmo 145. 9, 15 e 16; Mateus 5. 45; 6. 26; Lucas 6.
35.
b. Misericórdia – a perfeição de Deus que o leva a ser
bondoso com aqueles que se acham na miséria ou na
desgraça, independente de seus méritos.18
Textos: Deuteronômio 5. 10; Salmo 57. 10; I Crônicas 16. 34;
Salmo 136; Esdras 3. 11; Lucas 6. 35 e 36.
c. Longanimidade – é o aspecto da bondade ou amor de Deus
em virtude do qual ele tolera os rebeldes e maus, a despeito
da sua prolongada desobediência.19
Textos: Êxodo 34. 6; Salmo 86. 15; Romanos 2. 4; 9. 22; I
Pedro 3. 20.
d. Graça – a imerecida bondade ou amor de Deus aos que
perderam o direito a ela e, por natureza, estão sob a
sentença de condenação.20
Textos: Efésios 1. 6 e 7; 2. 7 – 9; Tito 2. 11; 3. 4 – 7.
e. Amor – a perfeição de Deus pela qual Ele é movido
eternamente à Sua própria comunicação.21

31
Catecúmenos

Textos: Isaías. 43. 25; 48. 11; João 16. 27; I João 3. 1.
VI. Santidade: é a perfeição de Deus, em virtude da qual Ele
eternamente quer manter e mantém a Sua excelência moral,
aborrece o pecado, e exige pureza moral em Suas criaturas. 22
Textos: Êxodo 15. 11; I Samuel 2. 2; Isaías 57. 15; Oséias 11.
9.
VII. Justiça: é a perfeição pela qual Deus se mantém contra toda
violação da sua Santidade e mostra, em tudo e por tudo, que
Ele é santo e infinitamente reto em si mesmo. 23
Textos: Esdras 9. 15; Neemias 9. 8; Salmo 119. 137; Jeremias
12. 1; João 17. 25; II Timóteo 4. 8; I João 2. 29; 3. 7;
apocalipse 16. 5.
VIII. Soberania: é a perfeição de Deus pela qual seu poder
soberano e absoluto se manifesta por meio de Sua vontade
em relação a liberdade, governo, pecado e propósitos. 24
Textos: Salmo 115. 3; Daniel 4. 17, 25. 32; Romanos 9. 18 e
19; 11. 33 e 34; efésios 1. 5, 9 , 11.

3 Trindade
Segundo Thomas Watson, a trindade se trata “de um mistério
sagrado, que a luz dentro do homem jamais poderá descobrir. 25
Boice argumenta sobre a Trindade que

uma de nossas dificuldades é que não temos uma palavra


adequada em nossa língua para expressar a natureza das
diferentes existências dentro da Trindade. O melhor termo de
que dispomos é pessoa, derivado da palavra latina persona, que
significa a máscara que um ator usava quando representava um
personagem num drama grego. (BOICE, 2011).

A Confissão de Fé de Westminster (CFW) no Capítulo II, Seção


III, nos dá uma definição a respeito da Trindade da seguinte maneira:

32
Catecúmenos

Na unidade da Divindade há três pessoas de uma mesma


substância, poder e eternidade - Deus o Pai, Deus o Filho e Deus o
Espírito Santo, O Pai não é de ninguém - não é nem gerado, nem
procedente; o Filho é eternamente gerado do Pai; o Espírito Santo
é eternamente procedente do Pai e do Filho.
A Escritura não apresentará essa definição a partir de textos
explícitos. Essa foi uma doutrina cunhada através de uma observação
interpretativa de alguns textos que lógica e dedutivamente levaram a
igreja a compreensão desta verdade revelada.
Por exemplo, no batismo de Jesus em Mateus 3. 13 – 17, vemos
uma teofania de Deus com a reunião das três pessoas em um mesmo
evento: o Pai se revela em voz audível, o Logos se revela no Filho
encarnado e o Espírito se revela na forma corpórea da pomba, que veio
sobre a cabeça do Filho.
Ainda, é possível deduzir a veracidade da Trindade a partir das
afirmativas diretas feitas por Jesus, principalmente, quando Ele
assevera ser um com o Pai: em discussão com os fariseus, Jesus diz em
João 10. 31: “eu e meu Pai somos um”; em João 17. 21, na oração
sacerdotal, Jesus ora pelos seus discípulos dizendo assim: “E eu lhes
dei a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos
um”.
Mas, para que se não diga que essa dedução só pode ser feita a
partir do Novo Testamento, é preciso dizer há textos no Antigo
Testamento que aponta para a Trindade, tais como: a adoração de
Abraão diante de três homens que lhe apareceram em Gênesis 18. 2;
também, na afirmação de Davi sobre “o Senhor dizer ao seu Senhor
para assentar a sua direita até que pusesse os teus inimigos debaixo
dos teus pés” no Salmo 110.1; na indicação de João sobre Jesus ser o
Verbo que estava com Deus e encarnar, em João 1. 1 e 2, 14. E, por
fim, com as afirmações da Escritura em que Espírito Santo porta
atributos da Divindade: eternidade em Hebreus 9. 14, onipresença no
Salmo 139.7 - 10, onisciência em I Coríntios 2. 10 e 11 e onipotência
em Lucas 1. 35.

33
Catecúmenos

A figura abaixo nos dá um exemplo gráfico da representação do


Deus Triúno e a relação existente entre as Pessoas:

Embora cada Pessoa da Trindade possua os atributos de Deus em


comum, no conselho eterno foi decidido o papel que cada Pessoa seria
responsável. De maneira bem geral, se definem assim: o Pai é o
Criador e Sustentador; o Filho é o Redentor; e o Espírito é o
Regenerador e aplicador da obra da Salvação.
Todavia, isto não implica dizer que há confusão entre a vontade
das 3 Pessoas, mas, que estas trabalham em favor do mesmo propósito.
Uma resposta dada por Daniel Webster retrata bem como deve ser
nossa postura diante doutrina: Cremos na doutrina da Trindade não
porque a entendemos, mas porque está registrada na Bíblia e porque o
próprio Espírito testemunha em nosso coração que assim é. 26

4 Decretos de Deus
Este é um dos assuntos mais controversos à cristandade, mas que,
ao mesmo tempo, é o que junto a outras doutrinas faz nosso coração
saltar de alegria.
Hoje há um grupo intitulado de evangélicos que usa a palavra
decreto sem a menor reverência e extremamente distante do que a
teologia compreende ser os decretos de Deus.
Falamos no plural “os decretos de Deus”, contudo, trata-se de um
único decreto articulado na eternidade por Deus em sua sabedoria
infinita.

34
Catecúmenos

O Decreto envolve não apenas a salvação e sua forma, mas, todas


as ações e coisas que são necessárias a fim de que os propósitos
eternos de Deus sejam realizados, no tempo determinado, e, cujo fim
seja a sua glória.
Uma boa e concisa definição sobre o assunto decretos de Deus
pode ser encontrada no Breve Catecismo de Westminster, na pergunta
7:

Que são os decretos de Deus?


Os decretos de Deus são o seu eterno propósito, segundo o
conselho da sua vontade, pelo qual, para sua própria glória, Ele
predestinou tudo o que acontece.
É importante distinguir a predestinação em si, ou seja, o ato de
Deus em predestinar uns, tanto para a salvação como para a
condenação, do Decreto Divino.
A predestinação está contida no Decreto, mas não é o Decreto.
O teólogo Louis Berkhof explica o decreto da seguinte forma:

O Decreto de Deus tem a mais estreita relação com o


conhecimento divino.[...]. Este conhecimento fornece o
material para o decreto; é a fonte perfeita da qual Deus extraiu
os pensamentos que Ele desejava objetivar. Deste
conhecimento de todas as coisas possíveis, Ele escolheu, por
um ato da Sua vontade perfeita, levado por sábias
considerações, o que desejava levar à realização, e assim
formulou o Seu propósito eterno. (BERFHOF, 2004)

Percebe-se que o Decreto se relaciona não apenas com Deus, mas


também com o homem e suas ações. Por isso, é importante dizer que
embora o Decreto seja eterno, imutável, universal, eficaz e
incondicional; referente ao pecado, o decreto é permissivo.

35
Catecúmenos

Por seu Decreto Deus tornou as ações pecaminosas do homem


infalivelmente certas de acontecerem, sem decidir efetuá-las agindo
imediatamente sobre ela na vontade finita. Isto quer dizer que Deus
não opera positivamente no homem tanto “o querer como o realizar”,
quando o homem vai contra a Sua vontade revelada. É interessante que
por essa permissão os homens não estão “soltos” ou “livres” para
efetuarem seus propósitos malévolos, mas, ao mesmo tempo que Deus
não impede a autodeterminação pecaminosa da vontade finita, ele
também regula e contra o resultado dessa autodeterminação
pecaminosa. Salmo 78. 29; 106. 15; atos 14. 16; 17. 30.
No entanto, o Decreto Divino torna certo o futuro das coisas.

Referências
1
BOICE. J. M. Fundamentos da Fé Cristã – Um manual de teologia ao
alcance de todos, Ed. Central Gospel, pág. 20;
2
Ibid.
3
CALVINO. J. Institutas da Religião Cristã, Livro I, cap. I, seção 1, pág. 49;
4
Ibid. Livro I, Cap. V. seção XV, pág. 76;
5
WATSON. T. A Fé Cristã – Estudos no Breve Catecismo de Westminster,
ed. Cultura Cristã, pág. 59;
6
Ibid. pág. 74/5
7 BERKHOF. L. Teologia Sistemática, Ed. Cultura Cristã, pág. 57;
8
Ibid. pág. 58;
9
Ibid. pág. 59;
10
Ibid.
11
Ibid.;
12
Ibid. pág. 60/1;
13
Ibid. pág. 64;
14
Ibid. pág. 65;
15
Ibid. pág. 67;
16
Ibid.
17
Ibid. pág. 68;
18
Ibid. pág. 70;
19
Ibid.
20
Ibid. pág. 69;
21
Ibid.
22
Ibid. pág. 70;
23
Ibid. pág. 72;
36
Catecúmenos
24
Ibid. pág. 73;
25
WATSON. T. Op. Cit. pág. 135/6
26
BOICE. J. M. Op. Cit. pág. 102;

Parte 3
O Homem

1 Criação

Porque assim diz o SENHOR, que criou os


céus, o Deus que formou a terra, que a fez e
a estabeleceu; que não a criou para ser um
caos, mas para ser habitada: Eu sou o
SENHOR, e não há outro.
(Isaías 45. 18)

A Escritura afirma, na narrativa da criação, que Deus criou todas


as coisas em 6 dias. E, neste ato, Deus também criou o homem.
Vejamos:

Dia Criação Referência

1º Deus criou os céus, a terra e a luz Gn 1. 1 – 5

2º Deus fez a separação entre o firmamento Gn 1. 6 – 8


37
Catecúmenos

Deus fez os mares, a terra seca e disse a terra relva que


3º Gn 1. 9 – 13
produzisse sementes e desse fruto de todas as espécies
Deus criou o sol, a lua e as estrelas para fazerem
4º Gn 1. 14 – 19
separação entre dia e noite

5º Deus criou os animais marinhos, terrestres e as aves Gn 1. 20 – 23


Deus criou o homem a sua imagem e semelhança, para
governar sobre toda a criação; os abençoou com a
6º Gn 1. 26 - 30
capacidade reprodutiva e lhes deu as ervas, as frutas da
terra e todos os animais como mantimento

Com relação à luz, aos astros celestes, ao firmamento, aos


vegetais e aos animais, Deus ordenou a criação através do poder de sua
palavra.
Através da obra da providência Deus tem sustentado a existência
deste mundo, suas leis, suas criaturas, o tempo, estações e toda vida.
Para concluir sua obra, Deus cria o homem no sexto dia. Desta
feita, temos a compreensão de que a pessoa humana não existe
autônoma ou independente, mas como criatura de Deus. 1
Podemos dizer que o homem é a coroa da criação; possui
aspectos de semelhança com os animais, foi criado da terra assim
como eles, mas, é distinto e diferente, pois, possui capacidades
superiores.

2 Natureza e Integralidade do Homem


Todas as demais coisas foram criadas pelas ordens de Deus,
todavia, quando observamos a criação do homem vemos que ele foi
criado como resultado de um conselho divino, de uma deliberação
soberana do Deus Triúno.2
Mas, o homem não é apenas uma criatura, como foi dito
anteriormente, ele é também uma pessoa. Isto é, ele possui capacidade
de tomar decisões, expressar-se, estabelecer objetivos, possuir
liberdade; ele tem o poder de autodeterminação e autodireção.
38
Catecúmenos

A CFW no capítulo IX, que trata sobre o Livre-Arbítrio, ressalta


nas seções I e II o fato do homem ter essas capacidades:
Deus dotou a vontade do homem de tal liberdade, que ele nem é
forçado para o bem ou para o mal, nem a isso é determinado por
qualquer necessidade absoluta da sua natureza.
O homem, em seu estado de inocência, tinha a liberdade e o poder
de querer e fazer aquilo que é bom e agradável a Deus, mas
mudavelmente, de sorte que pudesse decair dessa liberdade e
poder.
Vê-se que a CFW ainda trata sobre ter o homem sido criado com
um tipo de liberdade a qual não o deixasse refém de uma obrigação
natural. Além de que, também foi criado num estado de inocência
capaz de poder e quere fazer o que fosse agradável a Deus.
Porém, o homem foi criado mutável.
Acontece que as antropologias falham quando não apresentam o
homem como uma criatura, mas, somente como pessoa.
Por outro lado, o homem não pode ser desumanizado por uma
antropologia determinista, como se ele fosse um robô ou marionetes na
mão de um titereiro*.
Por essas razões, faz-se necessário um olhar mais aprofundado a
respeito da natureza e integralidade do homem.
O caminho a ser percorrido não pode ser o cientifico, vez que
sabemos que a ciência não traz uma resposta completa a esse assunto,
mas, apenas alguns espectros referentes ao mundo e as coisas. O
caminho a ser percorrido deve ser o de retorno ao início de tudo, ou
seja, uma volta a criação para se analisar o que o Criador fez e falou a
respeito da criatura no seu estado original.

2.1 Alma Vivente


Adão foi feito alma vivente a partir do sopro divino (Gênesis 2. 7)
e foi criado à imagem e semelhança de Deus (Gênesis 1. 26 e 27).
39
Catecúmenos

Porém, primeiro, o homem é um ser terreno, criado do pó da terra


e só se tornou alma vivente quando Deus lhe soprou nas narinas fôlego
da vida.
Ter sido criado alma vivente fez do homem a única criatura capaz
de se relacionar com seu Criador.
Há um significado muito importante em relação a Adão ter sido
criado como alma vivente. Paulo diz que o primeiro Adão foi feito
alma vivente, o ultimo Adão, Cristo, é espirito vivificante. Enquanto o
primeiro homem, formado da terra, é terreno; o segundo homem é do
céu.3

2.2 Homem e Mulher


A raça humana foi criada sexuada, isto é, homem e mulher, com
funções próprias.4
O homem foi criado primeiro e a mulher foi criada do homem,
conforme Gênesis 2. 21 e 22 e I Timóteo 2. 13. Por sua vez, Eva é
criada como auxiliadora de Adão, sua esposa. Aquela que iria
complementá-lo, pois, embora todos os privilégios que recebera, Adão
não estava completamente satisfeito.

2.3 Vice-Regente de Deus


Uma das capacidades que tornam o homem superior aos animais
e que o faz possuir o designativo de coroa da criação é o fato de que
Deus o fez seu Vice-regente, o encarregando do governo, do cuidado
e da administração de sua criação.
O texto de Genesis 1. 26 nos demonstram que Deus delegou
poderes a sua criatura, a fim de que houvesse crescimento e
desenvolvimento no mundo, pois, o propósito de Deus é o de que a
sua criação explorasse todas as suas potencialidades, de maneira santa
e plena, a fim de reconhecê-Lo e honrá-Lo como o Senhor providente
e abençoador de toda raça-humana e de todo o cosmos.
40
Catecúmenos

O homem é feito o seu representante na terra e deve cultivar,


pesquisar, criar, mudar e transformar, coisa que ele já havia dado
início no Éden (Gênesis 2. 15).

2.4 Natureza Essencial


Nós fomos ensinados pela ciência que pertencemos ao reino
animal e nos acostumamos a ideia de uma classificação entre animais
irracionais e racionais. Mas, é deste pensamento que surge a ideia de
uma evolução entre as espécies e que exclui a narrativa bíblica - além
do Deus da Bíblia - de toda a história humana e de nosso
conhecimento.
Segundo a Escritura nós somos criaturas humanas e não animais
racionais. A natureza humana é essencialmente diferente da natureza
animal. O homem constitui um reino à parte.5
O homem é uma criatura racional, moral, pessoal e espiritual e
isto é um abismo maior do que o que separa os animais do reino
vegetal e dos minerais.
Deus soprou no homem o fôlego de vida, isto significa que seu
corpo pode proceder da terra assim como os animais, todavia, sua alma
vem de Deus. De forma que, como Bavink diz: “evita-se assim o
panteísmo e o materialismo”.6 É isso que torna o homem
completamente especial e diferente de outra criatura aja vista somente
o homem ter a capacidade de se relacionar com Deus.

2.5 Elementos Essenciais


Para alguns teólogos e até reformadores o homem é constituído
de 3 elementos essenciais: Corpo, alma e espírito. Para essa forma de
pensar há uma classificação chamada de tricotomia.
Consequentemente, há outros teólogos e reformadores que
acreditam que o homem é constituído apenas de 2 elementos no qual
um elemento é material, o corpo, e o outro elemento é o um elemento
41
Catecúmenos

imaterial, a alma ou espírito. Essa forma de pensar é chamada de


dicotomia.
Para melhor explicar essa questão é preciso perceber uma questão
interpretativa existente na Escritura em que os termos alma e espírito
são sinônimos, contém um núcleo de significado comum, ao mesmo
tempo em que comunicam nuances peculiares de significado.
Quando aplicadas ao ser humano, essas palavras designam um
único elemento imaterial, o qual inclui vários aspectos ou faculdades,
tais como intelecto, emoções, vontade, amor e capacidade de se
relacionar com Deus.
A passagem que é usada por ambos os lados para a defesa de sua
vertente é I Tessalonicenses 5. 23:
O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito,
alma e corpo sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda
de nosso Senhor Jesus Cristo.
Mas, a questão é simples de ser resolvida: como vimos no ponto
2.1, Deus criou o homem Alma Vivente soprando em suas narinas o
fôlego de vida. A pergunta que se pode fazer é: Adão só foi criado
com alma e não com espírito? Ou cremos que alma e espírito são
tomados como sinônimos ou cremos que em algum momento após a
criação o homem foi dotado de espírito. Pois, a passagem da criação
do homem como sendo alma vivente só apresenta dois elementos:
corpo e alma.

2.6 Imagem de Deus


O termo “imagem” indica que Deus é o arquétipo (modelo
padrão) do qual o homem é o éctipo (cópia).
O termo “semelhança” indica que uma expansão de qualidade do
primeiro termo. Ele ressalta que a imagem corresponde integralmente
ao original.7

42
Catecúmenos

Esses termos abrangem as faculdades e a funcionalidade do


homem, incluindo toda a natureza humana.
Não implica dizer que o homem tenha sido criado com um corpo
divino ou que Deus tenha corpo, mas, no sentido de que a procedência
divina se manifesta também na perfeição do corpo humano e por ser
este o instrumento de manifestação da alma.
Neste caso, o homem foi criado um ser espiritual, com poder,
conhecimento e locomoção. É uma pessoa, dotado de inteligência,
vontade, emoções, imortalidade; criado reto (ou em justiça) e santo.
Isto quer dizer que o homem foi feito imediatamente, fisicamente
e eticamente maduro, com conhecimento na mente, retidão na vontade
e santidade no coração (Colossenses 3. 10).8
A CFW no capítulo 5, Seção II, descreve a Imago Dei da seguinte
forma:
Depois de haver feito as outras criaturas, Deus criou o homem,
macho e fêmea, com almas racionais e imortais, e dotou-as de
inteligência, retidão e perfeita santidade, segundo a sua própria
imagem, tendo a lei de Deus escrita em seus corações, e o poder
de cumpri-la, mas com a possibilidade de transgredi-la, sendo
deixados à liberdade da sua própria vontade, que era mutável [..].

3 Pacto de Obras

E plantou o SENHOR Deus um jardim no Éden, na direção do


Oriente, e pôs nele o homem que havia formado.
Do solo fez o SENHOR Deus brotar toda sorte de árvores
agradáveis à vista e boas para alimento; e também a árvore da
vida no meio do jardim e a árvore do conhecimento do bem e
do mal.
Tomou, pois, o SENHOR Deus ao homem e o colocou no
jardim do Éden para o cultivar e o guardar.
43
Catecúmenos

E o SENHOR Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do


jardim comerás livremente,
mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás;
porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás.
(Gênesis 2. 8 – 9 e 15 – 17)

Quando o homem foi feito já contava com a revelação geral de


Deus, tanto em seu coração por causa da escrita da Lei, ou seja, de sua
consciência, quanto da natureza em si, ou seja, da criação.
Todavia, uma revelação maior que coroaria o processo da religião
seria estabelecida a partir de uma relação face a face entre Deus e o
homem.
Essa revelação era vital para que o homem alcançasse o estado de
perfeição em seu nível mais alto, onde haveria a confirmação da
benção e da bondade de maneira permanente, isto é, sem a
possibilidade de pecar.
Para isto, Deus coloca o homem sob prova, onde ele
permaneceria de posse do que tinha à medida que não cometesse
pecado, mas esse não seria um estado no qual a continuidade de seu
status moral e religioso pudesse ser-lhe garantida. 9
Era necessário que o homem fosse cientificado sobre os termos
deste estado de provação ao qual seria submetido, o que ocorreu por
meio da instituição de um Pacto.

3.1 Pacto
Para alguns há um problema na aceitação da doutrina do pacto
visto que não é encontrado o termo no relato da criação.
Quanto a essa argumentação, já vimos que também não iremos
encontrar o termo trindade em nenhum lugar das Escrituras, porém,
não é o fato de não encontrar que poderia anular essa doutrina se ela
pode ser clara e logicamente deduzida dela.
44
Catecúmenos

Além disso, o texto de Oséias 6. 7 faz referência direta a respeito


do Pacto realizado por Deus com nossos primeiros pais:
Mas eles transgrediram a aliança, como Adão; eles se portaram
aleivosamente contra mim.
Sendo assim, não se pode deduzir ao contrário de que a doutrina
do Pacto é uma doutrina bíblica e, por isso, válida, que deve ser aceita
e incorporada ao escopo doutrinário do qual a igreja tem o dever de
zelar e ensinar.
Pacto, de maneira geral, é um instituto ou contrato estabelecido
entre duas partes, no qual direito, deveres e as condições em virtude de
quebra contratual estão estabelecidas.
A concepção antiga de pacto a qual se tem conhecimento é a que
uma das partes é superior a outra. Esse tipo de pacto é chamado de
pacto de suserania ou pacto de um soberano.
Neste pacto, um soberano venceu a batalha contra outro soberano,
e passa a ter o direito de instituir termos sobre as posses e direitos
daquele foi vencido. Este último só possui o direito de aceitá-los. De
certa forma, esse pacto tem um correlato atual nos decretos e nas leis
governamentais.
O Pacto das obras é um tipo de pacto ao qual possui este aspecto
unilateral que é presente no pacto de suserania. Neste sentido, Deus é a
parte maior por conta da sua infinita superioridade e Adão,
representante da raça humana, é a parte inferior.
Por meio desse pacto Deus oferece a Adão a oportunidade de
assegurar eternamente a raça humana o estado de santidade ao qual ele
foi criado. Em condições exigíveis e possíveis Deus deu a toda a raça
humana em Adão a oportunidade de garantir a imutabilidade da Imago
Dei.
O pacto de obras, portanto, é a manifesta da bondade e
condescendência de Deus, pela qual uma obediência temporária
poderia ser graciosamente aceita como fundamento para que Deus

45
Catecúmenos

assegurasse a Adão eterna santidade, felicidade e comunhão com


Deus.10

3.2 Elementos do Pacto

Os elementos do Pacto de são: as partes envolvidas, o selo, a


promessa, a condição e a penalidade.
a. As partes envolvidas – as partes envolvidas no pacto de
obras foram a Trindade e a raça humana representada em
Adão.
Essa representação é bíblica, como se pode perceber: (1)
do argumento do apóstolo Paulo em Romanos 5. 12 – 19 e
em 1 Coríntios 15. 22, 47, onde a representatividade de
Cristo é comparada à representatividade de Adão; (2) da
afirmativa bíblica de que o pecado e a morte vieram como
resultado do pecado de Adão (Romanos 5. 12 e 1 Coríntio
15. 22); e (3) do fato incontestável de que as penalidades
da quebra do pacto – a morte (Gênesis 2. 17), bem como a
dificuldade para conseguir sustento e as dores de parto (3.
16 – 19) – recaíram sobre toda a raça humana e não
apenas sobre Adão e Eva;11
b. O Selo – é um sinal visível que o simboliza e assegura.
Um tipo de assinatura, um carimbo, uma solenidade
pública como um aperto de mãos, uma aliança de
casamento, etc.
Nos pactos de Deus com o homem, foram empregados
vários tipos de selo para simbolizar e garantir o
cumprimento da sua promessa. Com Noé,
comprometendo-se a não mais destruir a humanidade por
meio de enchente, Deus selou sua aliança com um arco-
íris (Gênesis 9. 12 e 13. Com Abraão o selo utilizado foi o
sacramento da circuncisão (Gênesis 17. 9 – 11; Romanos
4. 11).
46
Catecúmenos

De maneira semelhante, a árvore da vida, que Deus fez


nascer no centro do Éden, é interpretada por teólogos
reformados como o selo do pacto de obras;12
c. A Promessa – A promessa do pacto de obras é a vida
eterna;
d. Condição do Pacto – era a obediência irrestrita à vontade
de Deus, simbolizada pelo fruto proibido. Para os teólogos
reformados a condição de não comer do fruto da arvore do
bem e do mal é representativa e inclui toda a lei moral que
havia sido impregnada por Deus na consciência dos nossos
primeiros pais.13
e. A penalidade – está exposta em Gênesis 2. 17: “no dia em
que dela comeres, certamente morrerás”. A morte seria o
resultado da quebra do pacto pelo homem.
O sentido de morte aqui não é o de aniquilação, e sim, o
de separação. E, também é abrangente: inclui a morte
física – separação da alma do corpo e a inevitável
corrupção do corpo até a volta ao pó (Eclesiastes 12. 7;
Hebreus 12.23); a morte espiritual – a separação temporal
de entre o homem e Deus, com a destruição da Imago Dei
moral e depravação do homem (Isaías 52. 2; Mateus 7. 23;
Efésios 2. 1; 1 Timóteo 5. 6; Apocalipse 3. 1); e a morte
eterna – a separação eterna de Deus, quando os ímpios
serão definitivamente lançados no inferno (Apocalipse 20.
6 – 14).
O pacto das obras tem sua validade até o momento da entrada do
pecado no mundo. Pois, a infringência ocasionada pela desobediência
do homem o fez caducar. Todavia, é preciso antecipar que o alvo de
Deus para a humanidade - o estado de glória prometido na obediência
do homem - não se perdeu com ele.
Todavia, muitas coisas se perderam, principalmente, o estado da
Imago Dei originária da criação é afetada substancialmente pelo
pecado.
47
Catecúmenos

Então, Deus em sua infinita sabedoria, fez um pacto com seu


Filho, o segundo Adão, o qual alcança aquilo que o primeiro Adão
falhou, e o faz como representante de todos aqueles que o Senhor em
seu decreto escolheu para salvar. Esse é chamado o pacto da graça!

48
Catecúmenos

4 A Queda

Mas a serpente, mais sagaz que todos os animais selváticos que


o SENHOR Deus tinha feito, disse à mulher:
É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim?
Respondeu-lhe a mulher: Do fruto das árvores do jardim
podemos comer,
mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse
Deus: Dele não comereis, nem tocareis nele, para que não
morrais.
Então, a serpente disse à mulher: É certo que não morrereis.
Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos
abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem
e do mal.
Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer,
agradável aos olhos e árvore desejável para dar
entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao
marido, e ele comeu.
Abriram-se, então, os olhos de ambos; e, percebendo que
estavam nus, coseram folhas de figueira e fizeram cintas
para si.
(Gênesis 3. 1 – 7)

No texto de Gênesis 3. 1 – 7 a Escritura nos afirma que o homem


falhou quanto a condição estabelecida no pacto das obras.
Por este motivo o homem passa por estados diferentes desde sua
criação até o estado eterno: estado de inocência (em que foi criado),
estado de queda (em que nascem todos os descendentes de Adão),
estado de graça (em que se encontram os regenerados nesta vida),
estado intermediário dos redimidos (entre a morte e a ressurreição),
estado intermediário dos ímpios (também entre a morte e a
49
Catecúmenos

ressurreição); estado de glória (destinado aos regenerados após a


ressurreição do corpo), e de condenação eterna (destinado aos ímpios
após a ressurreição do corpo).

Um diagrama14 pode nos dar uma visão melhor de todos os


estados:
Estado de
Estado Glória Eterna
Estado de
Intermediário
Graça
dos Justos

Estado Pacto de Estado de Pacto da


Original Obras Pecado Redenção

Estado Estado de
Estado de Condenação
Intermediário
Pecado Eterna
dos Ímpios

Até aqui vimos, o estado de inocência ao qual o homem fora


criado, o pacto de obras estipulado por Deus diante do homem, e
agora, iremos analisar a queda tratando sobre: o estado de pecado, a
natureza do pecado e os resultados desta queda.

4.1 O Estado de Pecado


O homem entrou no estado de pecado quando desobedeceu a
Deus comendo da árvore do conhecimento do bem e do mal (não era
uma maçã!), quebrando sua aliança e se expondo as sanções
provenientes de sua ação.
Antes de falar sobre os resultados deste acontecimento é
necessário, primeiramente, tratar sobre a origem do pecado.
Anglada explica que algumas vertentes do cristianismo, e até
mesmo os racionalistas, possuem outro ponto de vista quanto a origem
do pecado na humanidade, pois, dissociam a pecaminosidade da raça
humana do pecado de Adão. 15

50
Catecúmenos

A explicação bíblica para a origem do mal está na queda, na


transgressão e no pecado.16 Precisamente na queda dos anjos e
subsequentemente, na queda dos nosso primeiros pais.
Houve um instrumento de tentação que induziu propositalmente
Eva e que deixa evidente o fato da origem do mal no universo ser
anterior a queda de Adão e Eva. Neste sentido, o pecado surge no
mundo angelical.
Deus não pode ser acusado pelo mal, pois, ao contemplar a sua
criação viu Deus que tudo era bom (Gênesis 1. 31). Mas, as Escrituras
revelam que alguns anjos pecaram e caíram de seu estado original,
corrompendo-se em sua natureza (Judas 6).
Pedro diz que Deus não poupou esses anjos, antes, foram
precipitados no inferno (2 Pedro 2. 4).
Não há como encontrarmos uma citação explicita que nos leve
diretamente a compreender como seres originariamente perfeitos
caíram de seu estado e passaram a um estado de corrupção, mas, textos
como o de Ezequiel 28. 11 – 19, de Isaías 14. 12 – 15 e as advertências
de Paulo em I Timóteo 3. 6 contra a ordenação de neófitos ao
episcopado confere segurança e condições de entendermos que a
entrada do mal e do pecado no mundo se deu a partir da origem da
soberba no coração de Lúcifer.
Por outro lado, a queda humana é explicada no 3 capítulo de
Gênesis e se dá pela desobediência de Adão à vontade revelada de
Deus.
O elo entre a queda do homem e a queda angelical está na
serpente, como instrumento de tentação.17
Esse relato tem sido interpretado por meio de duas vertentes: uma
literal e outra figurada.
A vertente literal interpreta que tudo ocorreu exatamente como
está escrito, contudo, o instrumento de tentação não era o diabo, e sim,
um animal.

51
Catecúmenos

Já a vertente figurada interpreta que tudo não passa de um mito,


uma estória (diferente de história) que foi inventada por Moisés.
Todavia, a Escritura faz inúmeras pontes entre textos que tratam
Gênesis 1 – 3 como uma narrativa verídica.
Por isso, podemos analisar que a serpente realmente era um
instrumento do diabo e uma figura adequada para a representatividade
do mal.
Satanás é identificado explicitamente com a serpente em
Apocalipse 12. 9:
E foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, que se chama
diabo e Satanás, o sedutor de todo o mundo, sim, foi atirado para a
terra, e, com ele, os seus anjos.
É preciso entender que a participação de Satanás na queda não
mitiga ou diminui a culpa de Adão, pois, conforme Tiago, o pecado é
concebido no coração humano, “pela própria cobiça, quando esta o
atrai e seduz (Tiago 1. 14).
Em relação a Adão, como um ser moral, criado à imagem e
semelhança de Deus, nas melhores condições possíveis, ele poderia ter
resistido à tentação escolhendo o caminho da obediência. E, até
mesmo nós que possuímos a natureza corrompida e inclinada para o
mal, podemos resistir ao diabo (Tiago 4. 7).
Por nosso pais terem sucumbido a tentação e quebrado o pacto
todos os descendentes foram transportados do estado de inocência para
o estado de pecado, em que todo ser humano vem ao mundo.

4.2 Efeitos da Queda


Os efeitos da queda foram imediatos e aplicados de maneira legal
e natural. Então, eles ocorrerem como consequência natural e como
punição em virtude da incredulidade.

52
Catecúmenos

a. Depravação da Imago Dei – eles não caíram no último grau


de depravação, mas, todas as áreas de sua vida foram
verdadeira e gravemente afetadas pelo pecado.
Eles passaram imediatamente a experimentar a vergonha dos
seus próprios corpos (Gênesis 3. 7), o medo de Deus (Gênesis
3. 10) e a consciência passou a acusá-los.
Eles perderam a santidade, a pureza moral e a capacidade
natural para conhecer a Deus. Sua vontade agora é rebelde e
se inclina para o mal. Seus sentimentos ficaram desordenados
e a alegria não consiste mais em amar e obedecer a Deus.
Além disso, essa corrupção se manifesta na limitação das
capacidades físicas e intelectuais do homem;
b. Intelectual – a depravação do intelecto humano se manifesta
no erro, na mentira, no engano, na blasfêmia, na heresia, na
oposição à verdade, na incredulidade, na idolatria e na
ignorância. O homem está intelectualmente impossibilitado
de compreender salvificamente a revelação divina (2
Coríntios 4. 4; 1 Coríntios 2. 14);
c. Volitiva – a vontade do homem corrompida opera em
rebeldia, desobediência e insubmissão a Deus. É governada
pelas paixões da mente, da carne e pela vontade do diabo
(Efésios 2. 1 – 3). Sua inclinação é para a carne (Romanos 8.
7);
d. Emocional – a depravação das afeições, emoções e
sentimentos do homem no estado de pecado se manifesta no
prazer pelo pecado e no ódio ou aversão a Deus e à sua
vontade. Se expressa através da alegria que sente em fazer a
vontade da carne, e do desagrado em amar, obedecer, servir e
adorar a Deus. Prazer na luxúria, na iniquidade, no adultério,
na glutonaria, na bebedice, na preguiça, na mentira, no
orgulho, na autossuficiência e etc. neste sentido, o homem
natural ama o mundo e as coisas que há no mundo;
e. Corrupção funcional – Eles se esconderam de seu Criador
(Gênesis 3. 8), pois, não suportaram a presença santa de
53
Catecúmenos

Deus. O fato de terem transgredido os termos da aliança o


levaram a estar debaixo do juízo de Deus e quando a isto nada
poderiam fazer.
A consequência inevitável é a separação de Deus e de sua
comunhão conforme Isaías declara (59. 2). O pecado indispõe
o nosso coração para com Deus e Deus também se afasta do
pecador, pois, sua santidade não convive com o pecado.
Sendo assim, os nosso primeiros pais são expulsos do Éden,
que simbolizava o templo de Deus;
f. Inabilidade Espiritual – o homem não pode, por seus próprios
meios, fazer nenhum bem espiritual. Ele não pode alcançar o
favor divino, o perdão dos pecados e ele não está habilitado a
fazer nada que possa mudar a sua condição de pecador (João
6. 44, 65; Romanos 8. 7 e 8; Efésios 2. 1 – 3);
g. Morte – o pecado também afetou o cosmos de maneira que
deflagrou a degradação da criação: “maldita é a terra por tua
causa... ela produzirá também cardos e abrolhos” (Gênesis 3.
17 e 18). Podemos entender que tudo que é prejudicial ao
homem no mundo orgânico, vegetal e animal é efeito desta
maldição. Todo o tipo de praga, enfermidade, calamidades
naturais estão incluídas neste resultado. Além do mais, o
próprio homem é atingido pela morte por ser ela o salário do
pecado (Romanos 6. 23a), de forma que ele pode sofrê-la em
3 aspectos: física, espiritual e eterna;
h. Conflito, Sofrimento e Dor – O conflito nas relações foi
estabelecido pelo pecado. Isto pode ser visto na relação entre
o homem e a mulher que antes era harmoniosa e após o
pecado passou a ser inescrupulosa. No diálogo entre Deus e o
Adão, este último coloca a culpa pela transgressão
indiretamente em Deus e diretamente em sua mulher (Gênesis
3. 12). Da mesma forma, Eva terceiriza a sua culpa apontando
para a Serpente (Gênesis 3. 13). Daí em diante, as maldições
do pacto recaem sobre cada um deles e são compostas de
sofrimento, conflito e fadiga nas funções que cada um

54
Catecúmenos

desempenha. Na sua função principal, Adão passou a


providenciar o pão de cada dia em fadiga e sofrimento
(Gênesis 3. 17 e 19); assim como Eva, em sua função
principal de ser a procriadora da descendência e a auxiliadora
de seu marido, passou a fazer a primeira com dores, além de
que, na sua relação com o marido a existência de uma tensão
na posição que assume diante de seu marido será sempre uma
constante baseada na rebeldia (Gênesis 3. 16).
A queda corrompeu toda a criação e por esse motivo nossa
realidade não pode ser compreendida à parte da revelação divina.

4.3 Natureza do Pecado


a. Definição reformada – o BCW diz que pecado é “qualquer
falta de conformidade com a lei de Deus, ou qualquer
transgressão dessa lei”;
b. Transgressão – a queda foi uma transgressão da vontade de
Deus e sua lei moral. A ideia básica no original sobre a
desobediência a lei de Deus é a de “errar o alvo” (1 João 3. 4)
c. Mal Moral – em geral a filosofia não faz distinção entre o mal e
pecado. Biblicamente falando, o pecado é um tipo de mal dos
quais os outros males são decorrentes. Contudo, o pecado
possui um aspecto ético, como um ato deliberado de rebeldia.
Logo, biblicamente o pecado é toda não conformidade a lei de
Deus, e a lei de Deus de modo geral, não apenas os 10
mandamentos, mas, a toda a vontade revelada do Criador.
d. Relação Com O Coração – o pecado procede da própria alma
humana, conforme Jesus diz em Mateus 5. 19ss. Jeremias
também aponta essa verdade dizendo: “Enganoso é o coração,
mais do que outras coisas, desesperadamente corrupto; quem
o conhecerá?” (Jeremias 17. 9). Por isso, todos nascemos em
estado de corrupção e de perversa incredulidade, debaixo de
culpa por causa da queda e com uma natureza carnal que
55
Catecúmenos

milita contrário ao Espírito, pois são opostos entre si (Gálatas


5. 21).
Abaixo temos um gráfico que ilustra bem a dinâmica do pecado:

Lei de Deus

Natureza Pensamentos, vontades Hábitos Ações ou


Pecaminosa e sentimentos pecaminosos Omissões
pecaminosos pecaminosa
s

Figura: ANGLADA. P, Imago Dei, ed. Knox, pág. 117.

4.4 Transmissão do Pecado


O conceito reformado sobre a transmissão do pecado está
amparado no fato de que Adão tem dupla relação com a raça humana:
uma relação natural e outra federal (legal).
Na relação natural, Adão é pai de toda a raça humana e por esta
razão todos nós herdamos a sua natureza corrompida em virtude da
queda.
Mas, Adão também foi colocado por Deus em uma relação legal
com a humanidade, sobre a qual ele é o representante de todos os seus
descendentes diante do pacto feito por Deus no Éden.
Desta forma, o estado em que todos os homens nascem pode ser
explicado por estes âmbitos: o pecado foi herdado naturalmente e a
culpa foi imputada legalmente. Contudo, não é a depravação da raça
que produz a culpa e sim a culpa de Adão que produziu a depravação e
está foi imputada a toda a raça.

56
Catecúmenos

Referências
1
HOEKEMA. A. Criados À Imagem de Deus, Ed. Cultura Cristã, 1999, Pág.
16;
2
ANGLADA. P. Imago Dei, Ed. Knox, pág. 24;
3
Ibid. pág. 26;
4
Ibid.
5
Ibid. pág. 34;
6
BAVINK. H. Dogmática Reformada, Vol. II, pág. 555;
7
Ibid. pág. 532;
8
Ibid. pág. 557/8;
9
VOS. G. Teologia Bíblica – Antigo e Novo Testamento, Ed. Cultura Cristã,
pág. 37;
10
DABNEY. R. L. Systematic Theology (Edinburgh e Carlisle, Pennsylvania:
The Banner of Truth Trust, 1985), pág. 302;
11
ANGLADA. Op. Cit. Pág. 78;
12
Ver, por exemplo, Berkhof, Teologia Sistemática, págs. 257/8; Vos,
Teologia Bíblica – Antigo e Novo Testamento, pág. 27/8;
13
ANGLADA. Op. Cit. pág. 81;
14
Op. Cit. pág. 91;
15
Op. Cit. pág. 93;
16
Op. Cit.
17
Op. Cit.
* Quem manipula uma marionete

57
Catecúmenos

Parte 4

Nosso Salvador

No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o


Verbo era Deus.
Ele estava no princípio com Deus.
Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que
foi feito se fez.
Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens;
E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua
glória, como a glória do unigénito do Pai, cheio de graça e
de verdade.
Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigénito, que
está no seio do Pai, esse o fez conhecer.
(João 1. 1 – 3; 14 e 18)

A promessa de um Salvador não é algo que aparece tardiamente


na Escritura. Pelo contrário, essa promessa vem logo em seguida a
transgressão cometida pelo nosso pais. Assim que o Senhor Deus
estabelece as maldições pactuais, também é feita a promessa da
redenção por meio de um Salvador.
A medida que a história da redenção é desenrolada no tempo o
momento de surgimento do Salvador é aguardado pelo povo de Deus,
porém, assim que ele chega a esse mundo não foi reconhecido por
estes como o tal.
Num esforço necessário os evangelhos descrevem a narrativa dos
fatos que se seguiram a chegada do Salvador. Só que o evangelho de
João tem início apresentando diante mão a divindade e humanidade
deste Salvador, apresentando-o como a própria revelação de Deus
encarnada.

58
Catecúmenos

Diante da impossibilidade dos homens em buscar o favor divino,


era necessário um representante a altura, para satisfazer a lei e vencer a
morte. Para isto, este representante precisaria ser divino-humano.

1 A Dupla Natureza de Jesus Cristo


Essa doutrina é rica para a igreja e para a nossa salvação, aja vista
o homem ter a necessidade de um salvador que o represente diante de
Deus por ser impossível para ele justificar-se diante do seu Criador.
Ela esclarece que o Salvador é um ser especial, em quem reside,
ao mesmo tempo, duas naturezas distintas, as quais não se confundem.
Deve-se abandonar qualquer ideia que nos leve a pensar que o
“Logos” passou apenas a habitar num corpo humano ou que há duas
pessoas existente na 2ª Pessoa da Trindade. Também devemos
abandonar a ideia de que o Salvador sofre de um tipo de esquizofrenia,
como se comportasse duas personalidades.
Ou, mesmo: que havendo duas naturezas, a natureza divina
absorveu a natureza humana, passando-se a se falar apenas em uma
natureza –a divina.
Feitas as considerações em relação as heresias que surgiram
quando a igreja esteve construindo sua teologia sobre o tema, vamos
analisar esse assunto a partir de agora sabendo que a união entre as
duas naturezas de Cristo é um mistério que não podemos compreender
e por essa razão, é um assunto constantemente negado.

1.1 A Humanidade de Cristo


Nosso interesse em trata sobre a humanidade de Cristo não reside
unicamente na questão de a 2ª pessoa da trindade ter encarnado, mas
também, nos argumentos que revelam sua impecabilidade e a própria
necessidade de seu sofrimento.

59
Catecúmenos

Há uma necessidade de dizermos que o Cristo não foi apenas


homem, mas, também divino. Muito embora, como homem ele está
apto para representar aquilo que é essencial a doutrina da expiação. 1
Por causa da queda era necessário que o homem sofresse com a
penalidade de sua transgressão. Por essa razão, o pagamento realizado
por Cristo envolvia sofrimento de corpo e alma, cabível apenas ao
homem (João 12. 27, Atos 3. 18 e Hebreus 2. 14).
Cristo assumiu a natureza humana com todas as suas propriedades
essenciais e com todas as debilidades a que está sujeita, depois da
queda.2
Por isso, pode-se dizer que ele desceu a degradação em que o
homem havia caído, porém, com uma extrema diferença, era preciso
que ele fosse um homem sem pecado; tornando-se o mediador
verdadeiramente humano, por ter o conhecimento experimental das
misérias, por se manter acima de todas as tentações, e se identificar
com todas as experiências, provações e tentações do homem (Hebreus
2. 17 e 18; 4. 15 – 5. 2), sendo um exemplo perfeito para seus
seguidores, assim como está em Mateus 11. 29, Marcos 10. 39, João
13. 13 – 15, Filipenses 2. 5 – 8.
O Salmista confirma que é impossível a um irmão remir a seu
irmão, mesmo que desse a sua própria vida em resgate (Salmo 49. 7).
Contudo, Jesus é este irmão capaz de remir a vida de qualquer dos
homens, pois, ele possui a integridade natural, moral e perfeita
necessária para ser impecável diante da lei de Deus.
Isso significa não apenas que Ele pode evitar o pecado, mas
também que lhe era impossível pecar, devido a ligação essencial entre
as duas naturezas humana e divina.3
A Bíblia demonstra essa verdade de maneira transparente nas
seguintes passagens: Lucas 1. 35; João 8. 46; 14. 30; II Coríntios 5. 21
e Hebreus 4. 15.
A Bíblia nos diz que Jesus se fez pecado judicial, todavia, ele
estava livre da depravação hereditária como do pecado factual. Nunca
houve uma confissão de pecado e desafiou seus inimigos a convencê-
60
Catecúmenos

lo de pecado. Pelo contrário, a Escritura o aponta como o ideal moral


em Hebreus 2. 8 e 9; I Coríntios 15. 45; II Coríntios 3. 18 e Filipenses
3. 21.

1.2 A Divindade de Cristo


Por outro lado, as Escrituras nos ensinam que Cristo também é
Deus. E, uma das formas pelas quais ela mostra isso é através da
consciência que própria de Jesus.
Ele sempre demonstrou estar cônscio de sua tarefa e de seu
relacionamento com o Pai por meio de suas palavras como Filho de
Deus: Mateus 11. 27; 21. 37 e 38; 22. 41 – 46; 24. 36; 28. 19 em
conjunto com as paralelas.
Algumas passagens atestam a sua consciência messiânica; outras
o fato de que ele estava cônscio a respeito de ser o Filho de Deus no
sentido mais elevado, falando sobre a 1ª Pessoa da Trindade como seu
Pai (Mateus 7, 21; 10. 32, 33; 11. 27; 12. 50; 15. 13; 16. 17; 18. 10,
19, 35; 20. 23; 25. 34; 26. 29, 53; Lucas 2. 49; 22. 29; 24. 49.
A Escritura também demonstra a divindade de Jesus através da
Antigo Testamento por meio de predições acerca do Messias (Ungido)
(Salmos 2. 6 – 12 c.c. Hebreus 1. 5; 45. 6 c.c. Hebreus 1. 8 e 9; 110.1
c.c. Hebreus 1. 13).
Quando lemos os evangelhos sinóticos e os escritos de João e
Paulo é impossível negar que eles não ensinem acerca da divindade de
Cristo como se vê em passagens como Mateus 5. 17; 9. 6; 11. 1 – 6;
Marcos 8. 38; João 1. 1 – 3; 2. 23; 4. 14; Romanos 1. 7; 9. 5; I
Coríntios 1. 1 – 3; 2. 8; II Coríntios 5. 10, e etc.
Em especial assevera-se explicitamente a divindade do filho e
aplica-se a Jesus Cristo nomes divinos, perfeições divinas (eternidade,
onisciência, onipresença e onipotência, imutabilidade), ações da
criação e da providência, perdão dos pecados, ressurreição e juízo, a
restauração e a consumação de todas as coisas, bem com a honra
divina (João 1. 1; 20. 28; Romanos 9. 5; Isaías 9. 6; 40. 3; I Timóteo 3.
61
Catecúmenos

16; Apocalipse 1. 8; 22. 13; Mateus 18. 20; 28. 20; João 2. 24, 25;
21.17; Filipenses 3. 21; Hebreus 1. 10 – 12; 13. 8; Colossenses 1. 16;
Hebreus 1. 2 e 10; Lucas 10. 22; João 3. 35; 17. 2; Efésios 1. 22;
Mateus 9. 2 – 7; Marcos 2. 7 – 10; Mateus 25. 31 e 32; João 5. 19 –
29; Atos 10. 42; Hebreus1. 10 – 12; Apocalipse 21. 5; João 5. 22 e 23;
14. 1; I Coríntios 15. 19 e Mateus 28. 19.
Finalizo esse ponto asseverando a unipersonalidade de Cristo na
união de suas duas naturezas em uma pessoa, destacando que não há
mudança em sua natureza divina por causa de sua encarnação, pois, a
natureza divina não sofre, não muda e nem morre.
Berkhof salienta que o princípio de unidade do homem não está o
corpo, mas na alma. Assim como no Mediador, seu princípio de
unidade não está na natureza humana, mas na natureza divina. 4 E,
como a influência da alma sobre o corpo é um mistério, também o é a
relação das duas naturezas de Cristo e as influências que uma exerce
sobre a outra.
Tudo que acontece no corpo é atribuído a pessoa, então, tudo que
as duas naturezas de Cristo fazem também é atribuído à Sua Pessoa.

2 Ofícios: Profeta, Rei e Sacerdote


1.
2.

2.1. Profeta
O ofício profético de Cristo encontra sua primeira base nas
palavras de Deus a Moisés em Deuteronômio 18. 15:
“O SENHOR, teu Deus, te despertará um profeta do meio de ti, de
teus irmãos, como eu; a ele ouvireis”.
Em Isaías 9. 6, Cristo é chamado de Maravilhosos Conselheiro
denotativo que aponta sua faculdade de ensinar e aconselhar.
62
Catecúmenos

Montgomer afirma que um profeta é alguém que fala por outro. 5


Neste caso, a Escritura contém várias afirmações de Cristo em que ele
diz não falar sobre ele, mas sobre outro (João 5. 31 e 37; 7. 17 e 28; 8.
28, 42, 54; 12. 49 e 14. 10).
Ao final do sermão do monte, a Escritura afirma que Jesus era
alguém que ensinava como quem tem autoridade, diferentemente dos
escribas e fariseus (Mateus 7. 28 e 29).
Como profeta, ele diz que veio para cumprir a Lei e os profetas
(Mateus 5. 17), e, desta forma, ele se identifica como o Messias sobre
o qual o Antigo Testamento fala.6
Ele fez advertências sobre ouvir suas palavras e não as praticar
(Mateus 7. 24 e 25), assim como, também fez advertências sobre fugir
dos falsos profetas (Mateus 7. 15).

2.2. Rei
O reconhecimento de realeza de Cristo é vital para o próprio
progresso do evangelho, uma vez que sua mensagem pode ser
entendida como o anúncio da vitória de um rei que está a reivindicar o
seu despojo e a submissão de todos.
Essa era uma mensagem subversiva aos ouvidos dos imperadores
romanos, a ponto de perseguirem os cristãos, prendê-los e matá-los por
conta disto.
Uma das passagens mais significativas que podemos encontrar a
respeito do ofício real de Cristo está no Salmo 2. Não obstante,
também é possível encontrarmos claramente o Novo Testamento
dando destaque a este ofício na passagem da entrada triunfal de Jesus
em Jerusalém (Mateus 21. 1 – 11).
O apóstolo Paulo também confirma este ofício de Cristo de
maneira significativa quando escreve a sua primeira carta a Timóteo
dizendo para que os eu pupilo guardasse esse mandamento, sem
mácula, até a aparição do Nosso Senhor Jesus Cristo, a qual a seu

63
Catecúmenos

tempo mostrará o bem-aventurado, e único poderoso SENHOR, “Rei


dos reis e Senhor dos senhores” (I Timóteo 6. 15).
Além do mais, a revelação de João nos traz justamente a imagem
de Jesus Cristo como um rei sentado em seu cavalo, empunhando a
espada e marchando triunfalmente com seu exército rumo a última
batalha (Apocalipse 19. 11 – 17).

2.3 Sacerdote
Jesus é identificado com o nosso Sumo Sacerdote (Hebreus 2.
17).
Sendo assim, ele se identifica federativamente com aqueles aos
quais representa diante de Deus, estando ele a interceder por estes e a
fazer propiciação pelos seus pecados.
Em Cristo, essa função sacerdotal ou mediadora é satisfeita de
duas formas: primeiro, ao oferecer-se como sacrifício pelo pecado
(algo que os profetas do Antigo Testamento não poderiam fazer) e,
segundo, ao interceder por Seu povo no céu.7
Tudo isso indica a suficiência do sacrifício de Cristo realizado na
oferta de sua própria vida para expiação do pecado e para o
preenchimento das exigências penais da Lei de Deus por causa da
queda.
Os sacrifícios realizados pelos sacerdotes do antigo Israel eram
ineficientes para remir o pecado do povo e o próprio sacerdote
(Miqueias 6. 6 e 7; Hebreus 10. 4 - 7). Todavia, eles apontavam para o
caminho da salvação por meio do sacrifício de Cristo, como o cordeiro
de Deus (João 1. 29).
Quanto a Jesus, a Escritura nos afirma a sua falta de necessidade
expiatória por si mesmo, uma vez que não há pecado nele (Hebreus 7.
26 e 27). Além do mais, os sacrifícios do antigo Israel tinham a
necessidade de serem realizados diariamente, quanto ao sacrifício de

64
Catecúmenos

Cristo, este foi realizado de uma vez por todas, pois, é um sacrifício
eterno e completo (Hebreus 10. 12 -14).
Neste sentido, como nosso Sumo Sacerdote Jesus é nosso
Mediador e advogado, estando a destra de Deus intercede pela sua
igreja em todas as áreas, de forma que, nossas orações são recebidas e
ouvidas por Deus somente em seu Nome.

3. Humilhação e Exaltação de Cristo


A obra da redenção possui dois aspectos importante para Cristo,
são: Sua humilhação e exaltação.
Em ambas se vê que o objeto dessa doutrina se trata da
obediência perfeita de Cristo diante da vontade de Deus em seu
decreto e sua Lei.
Quando falamos a respeito da obediência ao decreto, o
entendimento que de que Cristo se submeteu a todo o propósito
contido nele em respeito à sua obra redentora.
E, quando falamos a respeito da obediência a Lei de Deus, o
entendimento é de que, muito embora sendo Cristo o próprio
Legislador e Juiz, também é o Executor perfeito desta lei. Ao passo
que, tanto obedeceu perfeitamente a ela, quando sofreu em sua vida a
sanção primaz da Lei - o aguilhão da morte - por se fazer pecado e
maldito.
Mas, tanto a humilhação quanto a exaltação compreendem outros
pontos aos quais veremos a seguir.

3.1 A Humilhação de Cristo


Temos que reconhecer que o fato do Deus verdadeiro ter
encarnado é algo extraordinário e se tratar de um grandioso milagre.
Todavia, a humilhação de Cristo tem início exatamente com este
milagre.

65
Catecúmenos

Aquilo que para nós se trata de uma grandiosa benção, para Cristo
foi a humilhação de se rebaixar as limitações da sua criatura.
Além do mais, ele se esvaziou de alguns de seus atributos a fim se
submeter a vida humana tendo necessidades e limitações físicas, bem
como percepções e sentimentos humanos.
Ele sentiu dor, sofreu, chorou, sentiu fome, frio, calor, luto,
passou por rejeição, vergonha, acusações das mais variadas; foi
agredido moral e fisicamente, desacreditado por muitos e por algum de
seus discípulos, traído por judas, julgado e sentenciado por Roma,
pelos fariseus e pelo povo, por fim foi morto entre “dois malfeitores”
da forma que só os cruéis e perigosos criminosos morriam: em morte
de cruz.
Em sua humilhação ele também foi obediente em tudo, se
submetendo a todas as exigências da Lei, a ponto de dizer que não
veio para revogá-la, e sim, para cumpri-la (Mateus 5. 17).
Sua obediência é vista como ativa, pois, de maneira positiva ele
cumpriu eficazmente todas as exigências da Lei de Deus. E, também é
vista como uma obediência passiva, em ter suportado tudo aquilo que
estava reservado aos transgressores da Lei.
Por fim, ele foi o único ser totalmente abandonado por Deus, e,
conquanto tenha sido abandonado, nunca esqueceu quem realmente é
(Marcos 15. 34).
O texto de Isaías 53. 1 – 9 e Filipenses 2. 1 – 8 nos remetem a
todos esses fatos sobre a humilhação de Cristo.

3.2 A Exaltação de Cristo

Mas, a obra de Cristo não se limita apenas a sua humilhação. Na


verdade, sua obra é confirmada também por sua exaltação.

66
Catecúmenos

A exaltação de Cristo se refere ao fato dele não ter sido deixado


na morte ou de a morte, o pecado e o diabo não exercer qualquer poder
sobre ele.
Havia uma promessa no antigo testamente em que a alma do
Ungido de Deus não seria deixado no mundo dos mortos (Salmo 16.
10 c.c. Atos 2. 27). Essa promessa claramente retrata o ocorrido sobre
a ressurreição de Jesus ao terceiro dia após sua morte, assim como os
evangelhos narram.
A exaltação de Cristo também envolve o fato de que ele não
permaneceu neste mundo, mas, foi assunto aos céus de onde veio
(Atos 1. 9 e 2. 34).
Os textos de Isaías 53. 10 - 12 e Filipenses 2. 9 – 11, muito
embora tratem a respeito da humilhação, também se comprometem em
trazer à tona a vontade de Deus em exaltar Seu Filho retratando as suas
conquistas.
Em Mateus 28. 18 – 20, também é possível de vermos que o Filho
de Deus é exaltado sobre tudo e sobre todos, pois, saído vencedor de
sua obra, ele conquistou o direito sobre tudo, exercendo o poder de
governador do cosmos, ao qual todo joelho deverá se dobrar
(Filipenses 2. 10).
Sua exaltação, seu reino e seu poder serão visíveis de forma plena
em seu retorno.

4. Pacto da Graça
Na parte 3 estudamos o Pacto de Obras e seus elementos, o qual
foi estabelecido por Deus com Adão e envolvia um teste de
obediência.
Agora que aprendemos sobre a Pessoa do Senhor Jesus Cristo,
iremos estudar o Pacto da Graça.
Antes, é preciso afirmar que alguns estudiosos acabam
interpretando a maneira como Deus se relaciona com o homem a partir
de dispensações.

67
Catecúmenos

Dispensações seria uma faixa temporal em que Deus estabeleceu


uma forma de se relacionar com o homem a partir de um pacto. O
exemplo disto seria um sistema pactual formado através de vários
pactos estabelecidos com vários agentes diferentes.
Então, os chamados dispensacionalistas creem na existência não
apenas do pacto de obras, feito em Adão, mas também, no pacto
abraamíco, no pacto davídico, no pacto salomônico, e assim por
diante; até alcançar o pacto da graça feito em Cristo Jesus.
Há também os dividem o modo de interação de Deus com os
homens a partir de duas dispensações. Estes falam sobre um período
da lei e outro período que seria o da graça.
É importante destacarmos que o próprio Jesus disse que não veio
para abolir, ou seja, para revogar a Lei, mas para cumpri-la (Mateus 5.
17), logo, não há de se falar em dispensação da Lei e dispensação da
Graça.
Por outro lado, aqueles que creem na teologia do pacto percebem
apenas a existência de dois tipos de Pacto: o Pacto de Obras e o Pacto
da Graça. Justamente porque a própria Escritura faz menção ao
paralelo entre o primeiro e o segundo Adão, isto é, o primeiro e o
último homem.
Sendo assim, faz-se necessário verificarmos como o Pacto da
Graça foi estabelecido.

4.1 Diferenças entre o Pacto de Obras e o Pacto da


Graça
Podemos ver que uma das diferenças entre os Pactos está na
condição exigida por Deus em cada um.
A condição exigida por Deus no Pacto de Obras é a obediência
perfeita de Adão. Desta forma, no primeiro deslize realizado pelo
homem não haveria saída e o pacto é invalidado.

68
Catecúmenos

Outra diferença entre os Pactos está no fato de o Pacto da Graça


criar uma saída para a situação na qual o homem se meteu pela quebra
do Pacto de Obras.
O pacto da graça possui como mediador Jesus Cristo (Hebreus 12.
24), enquanto que não há mediador no Pacto de Obras.
Isto dá ao Pacto da Graça condições para mudar a situação do
homem em relação a Deus. Todavia, como no primeiro pacto, neste
também há uma exigência, embora seja diferente da exigência do
primeiro, pois, a exigência que Deus faz no Pacto da Graça é a fé
(Romanos 4. 5).
Outra diferença entre o Pacto de Obras e o Pacto da Graça está no
fato do Pacto da Graça ser um pacto perpétuo e de paz (Isaías 55. 3;
Ezequiel 37. 26).
Mais adiante, quando estivermos estudando sobre a Salvação,
teremos oportunidade de vermos outros aspectos e relações entre o
Pacto da Graça, a Salvação do homem e o Senhor Jesus como o
Mediador nesta Salvação.

69
Catecúmenos

Referências
1
BERKHOF. L. Teologia Sistemática, Ed. Cultura Cristã, pág. 292;
2
Op. cit. pág. 293;
3
Op. cit. pág. 292;
4
Op. cit. pág. 298;
5
BOICE. J. M. Op. Cit. pág. 261;
6
Op. cit.
7
Op. Cit. 263;

70
Catecúmenos

Parte 5
Nossa Salvação

Para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que


o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em
louvor, e honra, e glória, na revelação de Jesus Cristo;
Ao qual, não o havendo visto, amais; no qual, não o
vendo agora, mas crendo, vos alegrais com gozo inefável
e glorioso;
Alcançando o fim da vossa fé, a salvação das almas.
Da qual salvação inquiriram e trataram diligentemente os
profetas que profetizaram da graça que vos foi dada.
(I Pedro 1. 7- 10)

1 Salvação
A salvação é um ato gracioso de Deus em favor do homem caído
e imerecedor. Ocorre que, a partir do estudo da religião podemos ver
que há muitas variações quanto a compreensão de como ela é e como
acontece.
Algumas variáveis tratam a salvação como um segundo projeto de
Deus após a queda de Adão. Outras, veem a salvação como um tipo de
processo no qual o homem tem uma parcela de participação em
conjunto com outra parcela divina.
Diante destas situações é extremamente vital para a boa
compreensão deste assunto que analisemos o que a Escritura afirma
sobre a salvação a partir daquilo que a teologia passou a apresentar
como “ordem da salvação”.
É importante iniciarmos esse estudo tratando sobre o responsável
em executar a ordem da salvação na vida dos homens: o Espírito
Santo. E, com isso, aproveitarmos, também, para tratar sobre a
71
Catecúmenos

distinção entre eleição e predestinação antes de partimos para a falar


sobre a ordem da salvação.
1.1 O Espírito Santo e a Sua Obra
Como vimos na parte II, as três pessoas da Trindade são Deus,
iguais em poder e glória. Todavia, também ficou esclarecido que na
relação trinitária cada pessoa executa uma obra na salvação do
homem.
Neste caso, o Pai determinou salvar; o Filho realiza aquilo que é
necessário para salvar; e o Espírito aplica a salvação na vida do
homem.
Podemos encontrar promessas da parte de Deus presentes no
Antigo Testamento e que falam sobre a obra do Espírito Santo na vida
humana (Isaías 32. 14 e 15; 57.15; Ezequiel 11. 19; 36. 26; 37. 14; Joel
2. 28).
Quando observamos o que o Novo Testamento descreve em
relação a atuação do Espírito Santo, veremos que Paulo escreve ao
jovem pastor Tito dizendo que “(Deus) nos salvou mediante o lavar da
regeneração e renovação pelo Espírito Santo”.
Já o Senhor Jesus soprou seu Espírito sobre os seus discípulos
(João 20. 22) e diz ao fariseu chamado Nicodemus que é “quem não
nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus” (João
3. 5).
Além do mais, o Senhor Jesus fez algumas indicações sobre o
envio do Espírito aos homens. A primeira delas está em João 16. 7
quando Jesus chama o Espírito Santo de o Consolador (gr.
Parakletos), que quer dizer: chamado para estar ao lado, advogado.
Em outro momento - agora com o corpo glorificado, mas ainda
sem ter ascendido aos céus -, Jesus dá instruções importante aos seus
discípulos dizendo para que eles permanecessem em Jerusalém
esperando a promessa do Pai (Atos 1. 4 cc. Joel 2. 28; Atos 2. 1 – 4; 2.
2. 16 – 21).

72
Catecúmenos

Também é possível de ver que o Espírito Santo é responsável em


guiar a igreja do Senhor por toda a verdade. Assim como, é
responsável em fazê-la lembrar de tudo quanto lhe foi ensinada (João
16. 13). Isso está diretamente ligado ao fato de que é o Espírito Santo
que nos ilumina para entendermos as verdades de Deus, presente na
Escritura, abrindo nossos olhos espirituais e nos dando a mente de
Cristo, para que tenhamos uma compreensão espiritual sobre as coisas
(1 Coríntios 2. 12 – 16. Efésios 1. 17 - 18).
O Espírito Santo também é apontado como o selo da promessa, o
qual é posto sobre todos aqueles que creem no evangelho da salvação;
e o penhor da herança, a qual será resgatada como propriedade do
Senhor (Efésios 1. 13 e 14).
Por fim, Ele também é responsável em glorificar a Deus,
sobretudo, na anunciação do Evangelho de Jesus Cristo (João 16. 14).
Neste sentido, o Espírito Santo é apontado como a Pessoa da
Trindade encarregada de aplicar a obra da salvação aos homens.
Em um sentido prático, podemos afirmar que o ministério do
Senhor Jesus continua através do ministério do Espírito Santo
aplicando a ordem da salvação na vida dos eleitos.

1.2 Eleição e Predestinação


O que é eleição? O que é predestinação? Seriam a mesma coisa
ou há diferença entre elas?
Primeiramente, é importante dizer que tanto a doutrina da eleição
quanto a doutrina da predestinação acabam sendo negadas por alguns
seguimentos ditos evangélicos.
Isso é um grande problema porque a Escritura está recheada de
textos que confirmam a existência tanto de uma como de outra e causa
uma grande celeuma no tocante a confiabilidade da própria Escritura
como palavra de Deus a sua igreja.

73
Catecúmenos

Nesta mesma esteira seguem aqueles que dizem não ser de bom
proveito ensiná-la a igreja, pois, muitos não suportaram o seu
conteúdo e em sua fraqueza poderão abandonar a fé.
Segundo, alguns seguimentos até que tratam sobre a doutrina da
eleição e da predestinação, só que o fazem dentro da perspectiva que
toma a presciência de Deus como fundamento para estas doutrinas.
Paralelamente a isto outros seguimentos entendem que a eleição
e a predestinação são aplicadas a Israel (também espiritual). Mas, essa
maneira é uma maneira incompleta de enxergar tais doutrinas.
Terceiro, é importante frisar que essas doutrinas não são para
serem usadas como objetos de nossa arrogância na pretensão de inflar
o ego humano. Calvino diz que “a predestinação não é celebrada
para que sejamos alçados a audácia e tentemos perscrutar por
nefária temeridade os inacessíveis segredos de Deus; antes, pelo
contrário, para que, humilhados e prostrados, aprendamos a tremer
ante seu juízo e a mirar-lhe a misericórdia”.1
Tendo então essas informações iniciais quanto aos temas
propostos, seguiremos ao conceito de Predestinação: “Chamamos
predestinação o eterno decreto de Deus pelo qual houve por bem
determinar o que acerca de cada homem quis que acontecesse. Pois
ele não quis criar a todos em igual condição; ao contrário,
preordenou a uns a vida eterna; a outros, a condenação eterna”.2
Diante deste conceito, é importante trazer à baila o assunto do
Decreto de Deus, aja vista que tanto a predestinação quanto a eleição
são produtos do Seu Decreto.
Neste sentido, vê-se que a predestinação é a determinação de
Deus em seu decreto eterno em preordenar uns a vida eterna e outros a
condenação.
Assim, não se pode confundir a eleição com a predestinação.
Pois, enquanto que a predestinação é preordenar uns a vida e outros a
condenação, a eleição é a escolha de Deus quanto a aqueles que ele
desejou incluir por meio da adoção em sua família e,
consequentemente, os salvará.
74
Catecúmenos

Calvino conceitua a eleição da seguinte forma: “Deus, por seu


desígnio secreto escolhe livremente àqueles a quem quer, rejeitando a
outros, contudo, sua eleição gratuita ainda não foi exposta, senão
pela metade, até que se haja vindo às pessoas individualmente, às
quais Deus não só oferece a salvação, mas de tal forma a confere, que
a certeza de conseguir seu feito não fica suspensa nem duvidosa”.3
Dados os conceitos, ainda é preciso dizer a doutrina da eleição
está sistematizada na Escritura de maneira que temos a disposição
inúmeros textos para seu embasamento.
Por exemplo, Paulo é o escritor que explora bem esse tema em
suas cartas, de forma que encontramos este assunto em quase todas
elas. Mas, também é possível vê-lo presente nos evangelhos,
principalmente, no evangelho segundo João.
Começando por Marcos, nos eu evangelho ele fala sobre Deus
abreviar os tempos a fim de que os eleitos não se percam (Marcos 13.
20); e, sobre enviar seus anjos para recolher os eleitos dos quatro
cantos da terra (Marcos 13. 27).
Em João 10. 14 -16 o Senhor Jesus afirmar conhecer as suas
ovelhas e que há outras que não são daquele aprisco. Assim como, ele
afirma em João 10. 26 que os fariseus não eram suas ovelhas.
Ainda em João, na sua oração sacerdotal, Jesus diz aos discípulos
que não foram eles que o escolheram, mas, foi ele que escolheu a cada
um deles, para que eles fossem e dessem fruto (João 15. 16).
Em Atos 13. 48, Lucas afirma sobre a 1ª viagem missionária de
Paulo e Barnabé, que tendo eles chegado à Antioquia, pregaram aos
gentios, e, neste instante, creram todos aqueles que haviam sido
destinados à vida eterna.
Na carta aos Romanos, no capítulo 9, o apóstolo Paulo traz à tona
o ato divino em realizar seu propósito quanto a eleição utilizando o
exemplo de Jacó e Esaú, mesmo antes deles terem nascido ou
executado alguma obra.

75
Catecúmenos

Esse texto é extremamente explicativo para mostrar que a escolha


divina é livre e não amparada em atos, condições ou capacidades dos
homens, mesmo que sejam – assim como são – previstas em sua
onisciência.
Ainda somos confrontados com a resposta da seguinte pergunta:
“Que diremos pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo
nenhum” (v.14). A partir daqui, Paulo apresenta o fato que Deus
soberana e livremente escolhe quem será alvo de misericórdia
(Romanos 9. 15 – 18).
A carta de Paulo aos Efésios possui o texto mais direto sobre. No
capítulo 1. 3 – 5, temos:
Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem
abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões
celestiais em Cristo, assim como nos escolheu nele antes da
fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante
ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos,
por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade
[...].
O texto se refere a “quem é o autor”, “quando foi”, “para que
foi”, “para quem foi”, por meio de “quem foi” e “como foi” realizada a
eleição. Vejamos detalhadamente:
a. Quem é o autor? “Bendito Deus e Pai... assim como nos
escolheu”;
b. Quando foi? “...antes da fundação do mundo”;
c. Para que foi? “...sermos santos e irrepreensíveis perante ele”;
d. Para quem foi? “...para ele, para adoção de filhos”;
e. Por meio de quem foi? “... por meio de Jesus Cristo”;
f. Como foi? “ ...e em amor (nos predestinou) ...segundo o
beneplácito de sua vontade”.

76
Catecúmenos

Não só Paulo, mas também, outros autores fizeram referência ao


fato de que Deus os escolheu, chamou e gerou tendo como
fundamento o seu querer (Tiago 1. 18
Outros textos deixam claro que a predestinação não se aplica
apenas aos homens, mas também aos anjos: 1 Coríntios 6. 3 e 1
Timóteo 5. 21.
A doutrina da predestinação e da eleição exaltam a soberania e
glória de Deus em revelar o livre poder de sua vontade em determinar
um fim que expresse nitidamente a perfeição de todos os seus
atributos.

2 A Ordem da Salvação

Porque os que dantes conheceu, também os


predestinou para serem conformes à
imagem de seu Filho, a fim de que ele seja
o primogênito entre muitos irmãos; e aos
que predestinou, a estes também chamou; e
aos que chamou, a estes também justificou;
e aos que justificou, a estes também
glorificou.
Romanos 8. 29 e 30

Em Romanos 8. 29 e 30 Paulo apresenta resumidamente a ordem


da salvação.
Quando se fala sobre a ordem da salvação deve se ter em mente
um conjunto de atos e elementos externos e internos, extraordinários e
ordinários, que formam a cadeia infalível e inquebrável do
ato/processo sem o qual os homens não podem ser salvos.
Na grande maioria dos atos da ordem da salvação os homens
possuem uma participação passiva. Isto quer dizer que, a maioria dos

77
Catecúmenos

atos são realizados graciosa e ativamente por Deus sob a vida dos
homens.
Obviamente, há elementos que “necessitam” da participação
humana para que eles sejam realizados ou alcancem seu fim, contudo,
mesmo necessitando da participação humana a glória destas obras não
pertencem aos homens, mas sim, a Deus.
Nosso propósito é observar cada ato/elemento que compõem essa
cadeia de ações e juntos formam a ordem da salvação; conceituando-
os e descrevendo a relação existente entre cada um deles.
A princípio é importante ter em vista o que diz a CFW em seu
capítulo 3, §IV, nos esclarece bem sobre a ordem da criação a partir
dos decretos de Deus dizendo:
Assim como Deus destinou os eleitos para a glória, assim também,
pelo eterno e mui livre propósito da sua vontade, preordenou todos
os meios conducentes a esse fim; os que, portanto, são eleitos,
achando-se caídos em Adão, são remidos por Cristo, são
eficazmente chamados para a fé em Cristo pelo seu Espírito, que
opera no tempo devido, são justificados, adotados, santificados e
guardados pelo seu poder por meio da fé salvadora. Além dos
eleitos não há nenhum outro que seja remido por Cristo,
eficazmente chamado, justificado, adotado, santificado e salvo.
A CFW ressalta que a salvação está inclusa nos atos eternos do
decreto divino e, para tanto, seu propósito engloba a preordenação dos
meios cabíveis para tal fim. Assim, todos os elementos presentes na
ordem da salvação foram, de antemão, decretados por Deus para a
eficaz salvação dos eleitos.
Então, segundo o texto de Romanos 8. 29 e 30, temos uma noção
de alguns elementos que estão envolvidos na “ordo salutis” (ordem da
salvação em latim): chamado divino (ou vocação eficaz), justificação e
glorificação.
Além destes elementos mencionados no texto de Romanos, há
outros elementos quanto a ordem da salvação presentes em toda a
Escritura, os quais também são reconhecidos pela CFW, tais como: a
78
Catecúmenos

Adoção, Novo Nascimento, União com Cristo, Arrependimento, Fé,


Conversão e Santificação.
Neste sentido, cabe-nos uma verificação apurada sobre a
revelação bíblica a fim de detectarmos cada elemento, seus efeitos e
suas implicações no ato-processo de salvação por parte de Deus aos
seus eleitos.
Iremos começar este estudo verificando a justificação, após,
seguiremos pela adoção, vocação eficaz, novo nascimento, fé,
arrependimento, conversão, união com Cristo, santificação e obras; e,
finalizaremos com o último elemento da ordem da salvação: a
glorificação.

2.1 Justificação

Justificados, pois, mediante a fé


temos paz com Deus, por meio de
nosso Senhor Jesus Cristo.
Romanos 5. 1

A justificação é um ato federal e judicial efetuado por Deus que


eficazmente é realizado sobre os seus eleitos.
A CFW em seu capítulo 10, §I, conceitua a justificação da
seguinte forma:
Os que Deus chama eficazmente, também livremente justifica. Esta
justificação não consiste em Deus infundir neles a justiça, mas em
perdoar os seus pecados e em considerar e aceitar as suas pessoas
como justas. Deus não os justifica em razão de qualquer coisa neles
operada ou por eles feita, mas somente em consideração da obra de
Cristo; não lhes imputando como justiça a própria fé, o ato de crer
ou qualquer outro ato de obediência evangélica, mas imputando-
lhes a obediência e a satisfação de Cristo, quando eles o recebem e
79
Catecúmenos

se firmam nele pela fé, que não têm de si mesmos, mas que é dom
de Deus.
É interessante que ela se preocupa, primeiramente, em nos
distanciar do erro de entender que a justificação seja a infusão de
justiça da parte de Deus ao homem e esclarece que se trata do perdão
dos pecados e aceitação do homem como justo, tendo em consideração
a obra expiatória de Seu Filho.
Ela também esclarece que a justificação não tem como motivação
a fé ou a obediência do homem, mas, a obediência e satisfação de
Cristo, por meio da fé, como um presente de Deus aos eleitos (Atos
13. 39; Romanos 3. 21 - 5. 2; Gálatas 2. 15 – 21; 3. 11; ).

2.1.1 A justificação e a controvérsia entre Fé e Obras


A carta do apóstolo Tiago no capítulo 2. 14 – 26 abre uma
discussão em torna da seguinte questão: a justificação é somente pela
fé ou também depende das obras?
O autor chega a ser contundente em sua argumentação com a
afirmação de que “a fé, se não tiver obras, por si só estará morta” (vv.
17).
É importante destacar o contexto no qual o autor está inserido
para que se possa tirar conclusões mais assertivas sobre o que
realmente ele quis dizer.
Tiago escreveu a uma igreja que sofria perseguição. E, nos
primeiros momentos de sua carta, ele fez referências sobre a utilização
da fé.
Ele menciona o ânimo dobre como um estado de espírito
contrário a fé autêntica e que desagrada a Deus (vv. 6). Em seguida,
ele fala sobre o nascimento do pecado no coração do homem (v. 12 –
15) e destaca que toda boa dádiva e dom perfeito vem de Deus (v. 16 –
18).

80
Catecúmenos

Então, do verso 19 - 27 Tiago admoesta os destinatários de sua


carta para que não sejam apenas ouvintes, mas, sejam praticantes da
palavra.
Com isso, ele está a atacar a prática farisaica dos judaizantes,
assim como os antinominianos (pessoas que creem na ab-rogação da
Lei de Deus) e que acreditavam que ter apenas uma fé credal tornaria
alguém salvo.
Para Kistemaker, Tiago “dirige seu ensinamento para as pessoas
que pensam que só a fé importa e que questões de fé são, na verdade,
uma confissão intelectual”.4 Em contrapartida, Kistemaker afirma que
“ela difere da fé subjetiva, que exibe um relacionamento pessoal com
Jesus Cristo”.5
E ele conclui dizendo: “tanto Tiago quanto Paulo indicam que o
resultado da fé de Abraão foi a justificação, ou seja, Abraão gozou de
um relacionamento reto com Deus, pois recebeu a aprovação de Deus
durante sua vida”.6
Uma vez esclarecida a diferença entre justificação e obras, nosso
passo seguinte será discorrer a respeito do próximo ato na ordem da
salvação.
Agora, seguiremos para o próximo passo da ordem da salvação.
Este não é bem reconhecido por muitos cristãos, justamente por uma
visão romantizada a respeito da filiação de suas criaturas.

2.2 Adoção

Mas, a todos que recebeu deu o


poder de serem feitos filhos de
Deus, a saber, aos que creem no
seu nome.
João 1. 12

81
Catecúmenos

A adoção é um ato na ordem da salvação muito falado pelos


cristãos e, que, talvez, seja pouco compreendido.
De maneira regular vemos os cristãos falando que são filhos de
Deus. De forma geral, este modo de falar não está errado. Mas temo
que não haja tanta compreensão sobre o que realmente está sendo
afirmado por grande parte. Porque, basicamente, esta afirmação se
baseia no entendimento predominante de que somos criaturas de Deus.
Então, usa-se a doutrina da criação para confirmar a filiação, que,
na verdade, é objeto da doutrina da adoção.
Isto é gerado pela falta de compreensão quanto ao fato da Bíblia
reconhecer apenas um como Filho de Deus: Jesus Cristo. Sendo que,
os demais são reconhecidos como criaturas de Deus - filhos de Adão
por natureza ordinária; e do Diabo, por natureza espiritual (Gênesis 1.
28; CMW, Pergunta 22 e 26; João 8. 44).
Logo, a doutrina da Adoção é extremamente importante não
apenas para que tenhamos compreensão do nosso status enquanto não-
justificados, mas, principalmente, para que tenhamos a compreensão
de nosso status enquanto justificados.
Assim, a CFW explica a respeito da adoção em seu capítulo 10, §
I, da seguinte forma:
Todos os que são justificados, Deus se digna fazer participantes da
graça da adoção em e por seu único Filho Jesus Cristo. Por essa
graça, eles são recebidos no número dos filhos de Deus e gozam a
liberdade e privilégios deles; têm sobre si o nome deles, recebem o
Espírito de adoção, têm acesso com confiança ao trono da graça e
são habilitados, a clamar "Abba, Pai"; são tratados com
comiseração, protegidos, providos e por ele corrigidos, como por
um pai; nunca, porém, abandonados, mas selados para o dia de
redenção, e herdam as promessas, como herdeiros da eterna
salvação.
Perceba que a doutrina da adoção tem a ver, em grande grau,
com a doutrina da Aliança. Elas se assemelham em grande parte.

82
Catecúmenos

Porém, aquela tem relação direta com a predestinação na obra de


Cristo e os privilégios que nos foram conquistados (Efésios 1).
A adoção é obra de Deus sobre aqueles que foram predestinados
e justificados, recebendo-os no número dos filhos de Deus.
A Escritura nos apresenta a única forma de sermos feitos filhos
de Deus: cremos no nome de Jesus Cristo (João 1. 12).
A nossa filiação difere da de Cristo. Ele é o Filho de Deus pela
geração eterna, o filho desde a eternidade. Por outro lado, a nossa
filiação é pela criação e pela adoção. 7
Desta forma, quando os não-crentes se autoproclamam filhos de
Deus sem crerem de maneira redentiva no Filho de Deus, estão se
autoenganando.
A obra de Cristo é importantíssima para o entendimento desta
doutrina e para seu desfrute prático. Pois, é por meio da fé na Pessoa
de Cristo e na sua obra de Cristo que somos enxertados no corpo de
Cristo, ou seja, na igreja, família de Deus, e passamos a andar na Sua
casa (I Timóteo 3. 15 - 16).
Por essa razão, é interessante apresentar os privilégios que são
conferidos a aqueles que foram adotados por Deus, pois, uma vez
conhecidos teremos a real compreensão sobre como se dá a graça da
filiação e da adoção na vida dos filhos de Deus:
a. Recebidos no número dos filhos de Deus – Efésios 1. 5;
Gálatas 4. 4 e 5.
b. Gozam da liberdade e privilégios dos filhos de Deus –
Romanos 8. 17; João 1. 12.
c. Tem o nome de sobre si – Jeremias 14. 9.
d. Recebem o Espirito (Santo) de adoção – II Coríntios 6. 18;
Romanos 8. 15.
e. Tem acesso com confiança ao trono da graça – Efésios 3. 12;
Gálatas 4. 6.
f. Habilitados para chamá-lo de Pai(zinho) [gr. Abba] –
Romanos 8. 15.

83
Catecúmenos

g. São tratados com comiseração, protegidos, corrigidos e


providos –
h. Nunca serão abandonados – provérbios 14. 26; Hebreus 12. 6
i. São selados pelo Espírito Santo para o dia da Redenção –
Efésios 1. 13; 4. 30.
j. Herdeiros da promessa da eterna salvação – I Pedro 1. 3 – 4.

2.3 Vocação Eficaz

E aos que predestinou, a esses também


chamou; e aos que chamou, a esses
também justificou; e aos que justificou, a
esses também glorificou.
Romanos 10. 17

A CFW, no capítulo XIII, seção I, fala sobre a santificação e traz


essa ideia bíblica quanto ao ato da regeneração, dizendo:
Os que são eficazmente chamados e regenerados, tendo criado em si
um novo coração e um novo espírito [...].
É importante notar que dentro da ordem da salvação a justificação
é algo que acontece fora do eleito e que o atinge o seu status diante de
Deus.
Quando se fala a respeito do chamado eficaz, dentro da ordem da
salvação, está se falando sobre outro elemento externo ao eleito, mas
que tem o a sua efetivação de maneira interna no eleito.
Ela começa externamente, na pregação do evangelho, e terminar
internamente, no reconhecimento da mensagem e a aceitação do
evangelho.
É preciso entender que a vocação para salvação é gênero que se
desdobra em dois tipos: vocação geral e vocação eficaz.

84
Catecúmenos

De maneira geral todos os homens são chamados para a salvação.


E, de maneira eficaz, os todos os homens são chamados, mas, só
os eleitos são chamados eficazmente.
O que estou dizendo é que o chamado do evangelho é para todos
os tipos de homens independentemente de qual nação sejam. Porém,
somente aqueles que são eleitos e justificados em Cristo é que darão
ouvidos ao chamado eficaz.
Mateus dá uma luz a essa questão com o seguinte texto: “Porque
muitos são chamados, mas poucos, escolhidos” (Mateus 22. 14).
A compreensão é simples e nos leva ao entendimento de que
Mateus está falando sobre a vocação geral quando se refere primeira a
“chamar a muitos”; e, por fim, se refere a vocação eficaz quando fala
sobre “poucos, escolhidos”.
Há muitas passagens que nos explicam com clareza esse chamado
eficaz da parte de Deus, por exemplo:
Romanos 1. 6 e 7: “de cujo número sois também vós, chamados para
serdes de Jesus Cristo. A todos os amados de Deus, que estais em
Roma, chamados para serdes santos, graça a vós outros e paz, da
parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo”;

1 Coríntios 1. 9: “Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados à


comunhão de seu Filho Jesus Cristo”;
1 Coríntios 1. 26: “Por causa disso, os entregou Deus a paixões
infames; porque até as mulheres mudaram o modo natural de suas
relações íntimas por outro, contrário à natureza”;
2 Pedro 1. 10: “Irmãos, procurai, com diligência cada vez maior,
confirmar a vossa vocação e eleição”.
O autor da vocação eficaz é Deus; o texto de Romanos deixa isso
claro: “Aos que predestinou, a esses também chamou” (v. 30). Isto esta
relacionado diretamente à absoluta soberania exercida por Deus

85
Catecúmenos

A vocação é o primeiro ato aplicativo de Deus em relação a


salvação dos homens estabelecido no conselho e propósitos Eternos.
Murray explica com vivacidade essa analise dizendo: “não se
deve pensar que o Pai está distante de seu povo quando a redenção é
aplicada, pois é ele o agente desse ato desde seu início”.8
Falando a respeito da extensão temporal desta vocação o apóstolo
Paulo nos afirma que ela é irrevogável (Romanos 11. 29).
Além do mais, a Escritura aponta que esse chamamento é feito
numa pessoa, isto é, em Cristo Jesus: “Fiel é Deus, pelo qual fostes
chamados à comunhão de seu Filho” (1 Coríntios 1. 9). Somos unidos
a Cristo a partir do chamado e Deus passa a nos trata como seus filhos.
Murray pondera sobre esse ponto afirmando o seguinte: “[...]
deve-se lembrar, também, que o chamado nunca está separado de
Cristo. Nenhum outro fator torna mais claro essa advertência que o
fato de o conselho do Pai, nas eras eternas, em relação ao chamado,
sua concepção e propósito, não estava separado de Cristo”.9
Por fim, devemos ter mente que o chamado eficaz requer uma
resposta provocada no coração, na mente e na vontade da pessoa
chamada.

2.4 Novo Nascimento

Respondeu-lhe Jesus: Em verdade, em


verdade te digo que se alguém não nascer
de novo, não pode ver o reino de Deus.
João 3. 3

O novo nascimento, também chamado de regeneração, é um


elemento importantíssimo presente na ordem da salvação.

86
Catecúmenos

É sine qua non (indispensável) para a salvação do indivíduo que


ele seja regenerado. Do contrário, não se pode falar em salvação.
É exatamente isto que o Senhor Jesus apresenta no diálogo que
teve com o mestre Nicodemus, em João 3. E também, que é impossível
ao homem natural responder ao chamado de Deus sem que antes tenha
regenerado sua vitalidade espiritual. Consequentemente, se isso não
ocorrer, também é impossível que seja salvo.
O conceito de regeneração pode ser descrito como o ato de Deus
sobre o qual aqueles que ouviram a pregação da palavra recebem sobre
si o Espírito Santo, são feitos nova criatura pela sua habitação, capazes
de se arrependerem de seus pecados e crerem em Jesus como seu
Salvador.
A Escritura carrega a ideia conceitual de implantação de um novo
coração no indivíduo, ou seja, a implantação de uma nova vida.
A CFW, no capítulo XIII, seção I, fala sobre a santificação e traz
essa ideia bíblica quanto ao ato da regeneração, dizendo:
“Os que são eficazmente chamados e regenerados, tendo criado em si
um novo coração e um novo espírito [...].
Logo, devemos entender que a regeneração nada mais é do que a
criação de um novo coração, um novo espírito, no interior do homem,
capaz de responder positivamente ao chamado realizado por Deus.
Explico:
Uma vez que a queda encerrou o homem debaixo de corrupção e
miséria - isto é, debaixo da morte espiritual, afastando-o
completamente e eternamente de seu Criador -, para que sua
comunhão, e, consequentemente, sua vida espiritual viesse a ser
restaurada, tornou-se necessária sua vivificação espiritual habilitando-
o e capacitando-o a responder ao chamado feito por Deus.
Por conseguinte, o homem só pode responder positivamente a
este chamado se for tirado de seu estado natural de morte. Ele precisa
nascer novamente, a partir da nova vida gerada por Deus, para se

87
Catecúmenos

tornar capaz de responder ao chamado e ter iniciado em si a


restauração de seu ser.
Dessa forma, pode-se dizer que a salvação começa por sua
condição federativa diante de Deus, alcança seu coração e se estende
por todo seu ser e sua vida.
Entende-se por isso que a salvação não envolve apenas o
pagamento dos pecados cometidos pelo homem - como vimos no
capítulo anterior sobre a justificação -, mas também, envolve a
restauração do homem por inteiro e está começa com a regeneração.
Vejamos alguns textos bíblicos que comprovam essa verdade:
Deuteronômio 10. 16: Circuncidai, pois, o prepúcio do vosso
coração, e não mais endureçais a vossa cerviz.
Salmo 51. 10: Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em
mim um espírito estável.
Ezequiel 11. 19: E lhes darei um só coração, e porei dentro deles um
novo espírito; e tirarei da sua carne o coração de pedra, e lhes darei
um coração de carne.
Ezequiel 18. 31: Lançai de vós todas as vossas transgressões que
cometestes contra mim; e criai em vós um coração novo e um espírito
novo; pois, por que morrereis, ó casa de Israel.
Ezequiel 36. 26: Também vos darei um coração novo, e porei dentro
de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra,
e vos darei um coração de carne.
Gálatas 6. 15: Pois nem a circuncisão nem a incircuncisão é coisa
alguma, mas sim o ser uma nova criatura.
Tito 3. 5: Não em virtude de obras de justiça que nós houvéssemos
feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou mediante o lavar da
regeneração e renovação pelo Espírito Santo.
1 Pedro 1. 3: Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo,
que, segundo a sua grande misericórdia, nos regenerou para uma
viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos.
88
Catecúmenos

A soberania de Deus em relação a nossa regeneração é


completamente perceptível na verificação destes textos, assim como é
dito por Boice: “A regeneração é obra de Deus, e não do ser humano
pecador”.10
É realizada pelo Espírito Santo na instrumentalização da palavra
de Deus em nossos corações. Alguns textos demonstram isso:
Romanos 10. 17: Logo a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de
Cristo.
Hebreus 4. 12: Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais
cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a
divisão de alma e espírito, e de juntas e medulas, e é apta para
discernir os pensamentos e intenções do coração.
Nascer de novo é ter um novo coração, voltado em pensamentos,
atitudes, intenções, percepções, desejos, sentimentos, ações e caráter
para as coisas de Deus. É ser uma nova criatura criada em Cristo para
as boas obras, com o fim de ser a imagem e semelhança de Jesus
Cristo, Filho de Deus (Romanos 8. 29).
Logo, a regeneração leva em conta deixar o velho homem para
trás, assim como: velhos hábitos, vícios, desejos, pensamentos e
pecados. E, viver em novidade de vida, conforme II Coríntios 5. 17:
“Pelo que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas
velhas já passaram; eis que tudo se fez novo”.
Agora, é preciso dizer que, um grande detalhe que fará toda a
diferença para nosso entendimento em relação a ordem da salvação é o
de não confundir a regeneração com a santificação. Fazer algo assim,
inevitavelmente, faz com que venhamos acreditar na possibilidade do
regenerado decair da graça.
Este modo de pensar - historicamente falando - está presente no
pelagianismo e no arminianismo.11
Porém, por mais que encontremos nas Escrituras ordenações
cheias de exigibilidade quanto a santidade e perfeição no modo de
viver do crente, não devemos supor que exista, para aqueles que
89
Catecúmenos

nasceram novamente, a condição de decair da graça, caso não


consigam alcançar este alto padrão de exigência. O motivo é muito
simples:
1. a obra de Cristo seria insuficiente para a justificação;
2. nenhum crente, por mais santo que seja, conseguiu, consegue ou
conseguirá alcançar o alto padrão exigido por Deus na santificação;
3. graça diz respeito a favor imerecido. Logo, se a nossa salvação
viesse depender das obras que realizamos deixaria de ser graciosa e
seria meritória;
4. o selo do Espírito Santo sobre os escolhidos teria o condão de poder
ser retirado dos eleitos;
5. o regenerado seria alguém que poderia morrer e reviver
espiritualmente a qualquer momento;
6. a salvação seria incerta até para os mais santos e obedientes.
Algumas interpretações sobre determinados textos bíblicos
podem nos levar a compreensão sobre a possibilidade de decairmos da
graça. Já, outros textos asseveram a nossa impossibilidade de
decairmos da graça por estarmos guardado e seguros em Cristo Jesus.
Todavia, essa verdade não anula a responsabilidade do crente de
zelar por sua vida espiritual e de verificar a veracidade de sua
regeneração, uma vez que a própria Escritura afirma que o Espírito
Santo testifica com nosso espírito que somos filhos de Deus (Romanos
8. 15 e 16).

2.4.1A Carne é o Inverso do Espírito


Encontraremos nas Escrituras, principalmente no Novo
Testamento, a terminologia usada por Deus para definir a natureza
pecaminosa contrária a natureza espiritual criada na regeneração pela
habitação do Espírito naqueles que são regenerados.
A natureza que Paulo chama de velho homem ou velho Adão,
também é chamada de carne.
90
Catecúmenos

A carne, juntamente com o mundo e o diabo, são os inimigos do


crente nesta realidade pós regeneração.
Em Romanos Paulo dá descrições importantes sobre essa relação
entre a carne e o Espírito demonstrando a vida espiritual após a
regeneração.
Veja a tabela abaixo feita a partir do texto de Romanos 8 e
entenda a condição dos regenerados diante dos não regenerados em
um comparativo entre a natureza carnal e a natureza espiritual.

Romanos 8
Verso Natureza Carnal Natureza Espiritual
s

v.1 Estão condenados Nenhuma condenação há

v.2 Lei da morte Lei do Espírito e da vida

v. 3 Enfermidade da carne; Cura do espírito, justificou


condenou Deus, o pecado Deus, o homem*

v. 4 O preceito da lei não se O preceito da lei se cumpre


cumpre em nós* em nós

v. 5 Os que se inclinam para a Os que se inclinam para o


carne, cogitam das coisas Espírito, cogitam das
da carne coisas do Espírito

v.6 Pendor da carne dá para Pendor do Espírito é vida e


morte paz

v. 7 Pendor da carne é Pendor do Espírito é


inimizade contra Deus, não amizade com Deus, está
está sujeita a lei de Deus e sujeita a lei de Deus e pode
nem pode estar estar*

v. 8 Não podem agradar a Deus Podem agradar a Deus*

v. 9 Está na carne; o Espírito Não está na carne; o


91
Catecúmenos

de Deus não habita; Não é Espírito de Deus habita em


de Cristo* vós; é de Cristo

v. 10 O corpo e o espirito estão O corpo está morto por


mortos* causa do pecado, mas o
espírito vive

v. 11 - O mesmo que vivificou a


Cristo vivificará também
vosso corpo mortal

v. 12 Não somos devedores a Somos devedores


carne

v. 13 Viver segundo a carne é Mortificar os efeitos do


caminhar para a morte corpo para viver

v. 14 Não são filhos de Deus* São filhos de Deus

v. 15 Espírito de escravidão Espírito de Adoção

v. 16 Testifica que somos filhos Testifica que somos filhos


do diabo* de Deus
*Os textos em negritos são inferências diretas do texto.

Neste comparativo entre a carne e o Espírito, facilmente


percebemos a inversão entre as duas naturezas, bem como os
benefícios daqueles que foram regenerados.
Também percebemos a impossibilidade dos que foram
regenerados em serem condenados novamente e a indicação de sua
responsabilidade em se esforçarem na vida espiritual em viver guiados
pelo Espírito.
No ponto 2.7 trataremos melhor sobre esse assunto.

2.5 União com Cristo

92
Catecúmenos

Mas, o que se une ao Senhor é um


só espírito com ele
I Coríntios 6. 17

Ainda falando sobre elementos externos na ordem da salvação,


chegamos a um elemento completamente misterioso no conjunto dos
elementos, a União com Cristo ou União Mística.
Uma vez que o indivíduo nasceu de novo o Espírito Santo passou
a habitar nele. Isto, indubitavelmente, faz do indivíduo um novo ser.
Consequentemente, seu status diante de Deus já mudou por conta da
aceitação por parte de Deus aos méritos de Cristo em seu sacrifício
vicário, justificando aquele que foi substituído diante de seu
julgamento.
Mas, ainda há algo nesta representatividade que merece ser
explicado.
Quando o indivíduo é justificado, nasceu de novo, teve seus
pecados expiados, sua substituição aceita por Deus e o Espírito Santo
passou a habitar nele, esse indivíduo também é feito um com Cristo.
Ou seja, biblicamente falando: ele passou a estar em Cristo (e Cristo
nele).
As várias implicações sobre esse elemento já foram descritas
acima. Contudo, ainda se faz necessário outras considerações para
melhor entendimento.

2.5.1 Estar Em Cristo


O Senhor Jesus relatou sobre seu relacionamento com o Pai
descrevendo que É um com Ele (João 8. 29, 42; 10. 30; 17. 22, 25).
O relacionamento de Cristo com Deus Pai é fruto da natureza
divina que ambos compartilham, muito embora, não se confundam.

93
Catecúmenos

Logo, aqueles que nasceram de novo também compartilham desta


natureza uma vez que passaram a estar ligados a Cristo, por causa do
novo nascimento da habitação do Espírito Santo.
O apóstolo Paulo é o escritor que mais trata sobre este assunto.
Para tanto, ele utiliza uma figura de linguagem bem comum para a
época: “em nome de Jesus Cristo” ou “estar em Cristo”.
Tal figura diz respeito a representar aquele ao qual você está ou
veio em nome dele diante de outros. É falar por outro, ou ter uma
procuração de alguém para representa-lo diante de outro.
Cristo nos representou diante de Deus e nós também temos a
representatividade de sua pessoa por termos seu nome, seu sacrifício e
sua pessoa sobre nós.
Paulo explica bem para nós essa situação quando diz em
Romanos que tanto estamos mortos para o pecado, como podemos nos
considerar vivos para Deus em Cristo (Romanos 6. 11).
Ele também diz que nenhuma condenação há para aqueles que
estão em Cristo Jesus (Romanos 8. 1). Além de não haverá criatura,
largura, profundidade, altura, ou qualquer outra coisa que possa
separar o nascido de novo do amor de Deus que está em Cristo Jesus
(Romanos 8. 39).
E com uma metáfora anatômica ele descreve que embora muitos,
somos um só corpo em Jesus Cristo[...] (Romanos 12. 5).
Por fim, ele diz que somos santificados em Cristo (I Coríntios 1.
2); recebemos a graça de Deus em Cristo (I Coríntios 1. 4); que somos
de Deus em Cristo (I Coríntios 1. 30); somos sábios em Cristo (I
Coríntios 4. 10); fomos gerados pelo evangelho em Cristo (I Coríntios
4.17); fomos lavados, santificados e justificados em Cristo (I Coríntios
6. 11); seremos vivificados em Cristo (I Coríntios 15. 22); somos
novas criaturas em Cristo (2 Coríntios 5. 17); fomos crucificados em
Cristo e vivemos em Cristo (Gálatas 2. 21); também fomos batizados
em Cristo e revestidos de Cristo (Gálatas 3. 27).

94
Catecúmenos

Todas essas situações são produto da união inexplicável e mística


existente entre Cristo e aqueles aos quais ele morreu substitutivamente
e que agora estão nele (em Cristo).
É importante que o crente conheça a respeito desta união com
Cristo, pois, é por meio dela que somos ouvidos em nossas orações
(João 16. 26).
Também, é debaixo dessa união que somos batizados em Cristo e
feitos um com Ele (Gálatas 3. 27).
Essa união é eterna, inquebrável e inexplicável pois está firmada
na graça e amor de Deus para com seus filhos.

2.6 Arrependimento, Fé e Conversão

E, assim, a fé vem pela pregação, e a


pregação, pela palavra de Cristo.
Romanos 10. 17

Neste capítulo nos deteremos a tratar sobre dois assuntos


diferentes, mas que, a princípio, andam juntos: a fé e o
arrependimento.
Foi Jesus que falou para seus discípulos, antes de ascender aos
céus, que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de
pecados a todas as nações, começando por Jerusalém (Lucas 24. 47).
Desta feita, o arrependimento é outro elemento importante dentro
da ordem da salvação, o qual todo regenerado foi submetido.
Não obstante, a fé não está em outro patamar, mas, também é
outro elemento importante e que precisa ser observado.
Vamos começar o nosso estudo exatamente observando o
elemento do arrependimento, e, depois, passaremos para o elemento da
fé.
95
Catecúmenos

2.6.1 Arrependimento
Apesar de ser um elemento negativo, o arrependimento é um
elemento que é somente encontrado naqueles que nasceram de novo.
Algo que se aproxima do arrependimento é o sentimento do
remorso. Porém, ainda que ambos sejam parecidos, na verdade, são
distintos.
Uma pessoa que possui remorso demonstra insatisfação sobre um
acontecimento do qual é responsável. Até mesmo, pode ser envolvida
por uma profunda tristeza a ponto de demonstrar sua incapacidade de
suportar conviver com o fato. Ou seja, pode chegar as vias do suicídio.
Já com o arrependimento é diferente! Embora ele seja um
elemento negativo, o arrependimento tem o condão de encaminhar a
pessoa à vida.
Na verdade, o arrependimento se configura em um
reconhecimento profundo de seu demérito diante da graça irresistível
que opera no coração do arrependido. Esse reconhecimento provoca
uma tristeza pelos pecados e pela forma de vida vivida até aquele
momento.
O texto que expressa claramente a distinção entre o remorso e o
arrependimento, assim como define muito bem a natureza do
arrependimento está em II Coríntios 7. 9 – 11:
“Agora, me alegro não porque fostes contristados, mas porque
fostes contristados para arrependimento; pois fostes contristados
segundo Deus, para que, de nossa parte, nenhum dano sofrêsseis.
Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a
salvação, que a ninguém traz pesar; mas a tristeza do mundo
produz morte. Porque quanto cuidado não produziu isto mesmo em
vós que, segundo Deus, fostes contristados! Que defesa, que
indignação, que temor, que saudades, que zelo, que vindita! Em
tudo destes prova de estardes inocentes neste assunto”.

96
Catecúmenos

Paulo faz o contraste entre a tristeza segundo Deus


(arrependimento) e a tristeza segundo o mundo (remorso). A primeira
livra do sofrimento e encaminha para a vida. A segunda, aprofunda a
tristeza e leva à morte.
Todos sabemos que Judas foi aquele que entregou o Senhor Jesus
aos seus inimigos por trinta moedas de prata para que ele fosse morto.
Ele foi alguém que provou do remorso e teve como resultado o
suicídio (Mateus 27. 3 – 5).
Diferentemente do que ocorreu com Pedro, o qual negou a Jesus
por três vezes: quando este se encontra com Jesus, nos 40 dias após a
ressurreição, ele teve a oportunidade de se arrepender (João 21. 15 –
18).
Outros servos do Senhor também demonstraram, em vários
momentos de sua vida, essa tristeza profunda quando estavam
arrependidos por seus pecados.
Davi, quando foi repreendido pelo profeta Natã por seu pecado
escandaloso com Bateseba, caiu em arrependimento (2 Samuel 12. 1 –
25).
Paulo, quando foi chamado pelo Senhor Jesus, também ficou
depressivo, sem comer e sem beber, até que o Senhor envia Ananias
até ele para pregar o evangelho. Paulo já o esperava, e quando Ananias
o encontra, aquele foi o momento de sua conversão.
Podia relatar também o arrependimento da mulher adúltera
quando foi trazida pelos religiosos da época diante de Jesus, e, na qual
o Senhor orientou para que “fosse; e não pecasse mais!” (João 8. 11).
Em todos eles se vê que o arrependimento segundo Deus
transformou a vida das pessoas. A princípio, elas estão quebradas
pelos seus pecados; depressivas por sua culpa; sentem o peso de seu
demérito - como é o caso de Davi no Salmo 51 -, mas, em seguida,
elas têm sua vida transformada da água para o vinho.
Este arrependimento só é efetivado naquele que o Senhor
escolheu, bem como, é uma marca indelével (que não se pode apagar)
97
Catecúmenos

naqueles que realmente foram alcançados pela pregação e convertidos


pela mensagem do evangelho.

2.6.2 A Fé
A fé e o arrependimento fazem parte daquilo que é visto como
conversão.
A conversão é explicada facilmente a partir de sua etimologia
(significado do termo a partir da formação da palavra). Na Bíblia o
termo utilizado para se referir a conversão vem do grego: “metanoia”.
E, significa: mudança de trajetória. É como se alguém estivesse a
caminhar retamente para a beira de um abismo, e, no meio do trajeto,
houvesse algo que interferisse nesta trajetória a ponto de fazer a pessoa
dar meia volta e passar a caminhar no sentido contrário livrando-a da
morte.
Fé é um elemento ao qual todos os homens possuem. Isso não
quer dizer que a fé de um indígena da época de Pedro Álvares Cabral,
na descoberta do Brasil, seja a mesma fé que teve Abraão quando
Deus se revelou para ele.
Observe que todos os homens possuem um tipo de fé que os
fazem ser o que são e fazer o que acreditam como propósito.
Desta forma, podemos dizer que todos os homens possuem um
tipo de fé que os move e qualifica. E, que do menor e menos
importante ato até o ato mais importante é necessário que o homem
tenha fé. Mesmo que alguém acredite que religião e ciência, por
exemplo, “não se misturam”.
A fé é algo presente desde os primórdios.
A própria Escritura diz, em Hebreus 11. 6a: “Ora, sem fé é
impossível agradar a Deus [...]”.
Então, para se agradar a Deus é necessário ter fé. Mas, que tipo de
fé?

98
Catecúmenos

A Escritura fala sobre a origem da fé dizendo em Romanos 10.


17, que “a fé vem pela pregação, e a pregação pela palavra de Deus”.
Então, podemos acreditar em muitas coisas, mas, a fé autentica,
verdadeira; a fé que o Senhor Jesus sempre falou a respeito dela, é
aquela que tem sua origem na palavra de Deus.
Foi exatamente para não haver confusão quanto ao entendimento
da verdadeira fé que Deus usou o autor aos Hebreus para registrar a
definição exata sobre ela, em Hebreus 11. 1:
“Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de
fatos que se não vêem”.
Se olharmos para aquele que é chamado de o pai da fé: Abraão.
Veremos que Abraão, quando ainda era Abrão, quando ouviu as
palavras ditas por Deus, imediatamente creu e fez tudo no primeiro
momento sem questionar (Gênesis 12. 1 – 6).
A fé é um elemento que estará presente durante toda a vida do
regenerado, como mostra o apóstolo Paulo em Gálatas 2. 20:
“Logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse
viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que
me amou e a si mesmo se entregou por mim”.
A Escritura também aponta a fé com sendo o instrumento da
justificação do crente em Efésios 2. 8:
Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de
vós; é dom de Deus;
Desta forma, podemos afirmar que o tipo de fé na qual o Senhor
opera sobre a vida dos seus eleitos é chamada de Fé Justificadora.
Como aprendemos no ponto 2.1: o justo vive por fé (Romanos 1. 17).
Thomas Watson12 define a fé justificadora destacando 3 aspectos
que compõem a sua natureza:
a. A auto-renúncia: “sair para fora” do eu, de nossos méritos e
enxergar que não temos direitos próprios: “Não tendo justiça
própria” (Filipenses 3. 9)
99
Catecúmenos

b. A confiança: A alma se lança sobre Jesus Cristo. A fé é


depositada na pessoa de Cristo. A fé crê na promessa, pois tal
promessa é a própria pessoa de Cristo.
c. Aplicação de Cristo em nós mesmo: O sangue de Cristo, sem
a fé em Deus, não salva. Quando aplicamos esse conceito a
Cristo, o chamamos de receber a Cristo (João 1. 12)
Watson também destaca que a fé é trabalhada em nós “pela ação
do bendito Espírito Santo de Deus, que é chamado o “Espírito da
graça”, porque ele é a fonte de toda a graça (Zacarias 12. 10). O
mesmo poder é exercitado pelo Espírito de Deus ao operar a fé ”.13
A afirmação de Watson descreve a ação do Espirito Santo em
iluminar a mente humana e subjugar à vontade, de forma que,
anteriormente a vontade se mostrava como uma fortaleza
intransponível diante das palavras persuasivas da pregação do
evangelho, mas, pelo poder do Espírito Santo, ela é desarmada e se
inclina para as coisas do Espírito. Por sua vez, o pecador passa a
desejar a Cristo e tem a alma animada para as verdades de Deus,
dobrando-se ao governo pacífico de sua vontade soberana (Efésios 1.
18).
Quanto a iluminação, é possível que alguém que tenha sido
iluminado e passou a desenvolver uma fé volte atrás e pise novamente
no sacrifício de Cristo; esses nunca nasceram de novo (Hebreus 6. 4 –
6).
Não podemos achar que a fé é um mero assentimento ou
conhecimento das coisas espirituais. Mas, é a certeza segura e
enraizada da salvação e das coisas que a envolvem.
2.6.3 Conversão
A voz que nos chama ao arrependimento, por meio da pregação,
também nos leva a conversão.
A conversão é um elemento implícito dentro da ordem da
salvação. Isto porque, não encontraremos um texto bíblico que trate
sobre a ordem da salvação e que contenha, ao mesmo tempo, o
elemento da conversão de forma direta.
100
Catecúmenos

É possível de se notar a conversão a partir do modo de vida que


anteriormente o indivíduo levava e passou a ter após sua regeneração.
Logo, a conversão diz respeito as mudanças provocadas no indivíduo
pela nova vida gerada na regeneração e que abarcam tudo aquilo que
for delimitado e prescrito na palavra de Deus.
Podemos pontuar com muita facilidade a própria mudança de
perspectiva quanto a Deus, o mundo, as pessoas e si mesmo ao qual o
indivíduo é submetido após sua conversão.
Paulo descreve está mudança muito bem em Romanos 12. 1 – 2
dizendo: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que
apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a
Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este
século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que
experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”.
No verso 2 temos algumas palavras que se referem ao termo
grego Metanoia, e são: “Tranformai-vos pela renovação da vossa
mente”.
Ser transformado e, mais precisamente, ter a mente renovada é
exatamente o que define biblicamente a conversão de alguém.
Refere-se a mudança interior a qual acontece sobre a visão de
mundo que a pessoa possuía e passou a ter por causa da nova vida a
fluir em seu si e por conta do conteúdo revelacional que passou
aceitar.
Os pontos de vistas, julgamentos e pressupostos sobre todas as
coisas vão sendo mudados à medida que sua conversão acontece.
Além do mais, a vontade, valores, princípios, desejos,
pensamentos, hábitos, relacionamentos e propósitos também são
modificados neste processo de conversão.
O apóstolo Paulo é um nítido exemplo de alguém que foi
convertido. Ele afirma que antes era blasfemador, perseguidor e
injuriador; mas, alcançou misericórdia (I Timóteo 1. 13).

101
Catecúmenos

O texto de Filipenses 3 é um retrato do seu ponto de vista quando


era esse judeu zeloso, mas, ignorante:
Um dos personagens bíblicos que retrata bem essa mudança
proposta na conversão é Jacó.
Jacó era um aproveitador! Ele tramou contra o irmão a ponto de
roubar sua primogenitura. Fugiu de casa e foi para casa de seu tio
Labão. Lá se apaixona por uma de suas filhas e faz um acordo com o
tio para tê-la como esposa. Trabalhou sete anos por ela. Mas, teve a
sua irmã. Depois, renovou o acordo e, a partir daí, como administrador
do rebanho do tio conseguiu juntar um rebanho para si maior do que
de seu tio. Sai de lá para vagar pelo deserto, cheio de bens e de servos.
Mas, quando estava no deserto, o terror de seu irmão bate à sua porta.
Esaú queria visitar Jacó. Atormentado pelo temor da chegada de seu
irmão, Jacó resolve ir ao vau de Jaboque sozinho. Lá Jacó se depara
com o Anjo do Senhor, agarra-o firmemente não permitindo que fosse
embora, isso dura a madrugada e quando chega o alvorecer, o Anjo
toca a perna de Jacó para que ele o soltasse. Jacó fica manco e o Anjo
do Senhor diz que ele bravamente havia lutado com Deus e
prevaleceu, por isso, seria abençoado. Jacó teve seu nome mudado
para Israel, foi ao encontro de seu irmão Esaú e deixou de ser um
aproveitador (Gênesis 32. 22 - 33. 17).
Outro personagem que demonstrou verdadeira conversão foi:
Zaqueu.
Zaqueu era um cobrador de impostos, o qual tirava além do que
convém dos seus contribuintes. Certa vez, ele soube que Jesus estava
em sua cidade e decidiu ir vê-lo. Chegando próximo a multidão
Zaqueu não conseguia ver a Jesus, pois, era de pouca estatura. Ele teve
a brilhante ideia de subir em uma árvore para conseguir ver o Mestre.
Foi quando Jesus disse a ele que descesse da árvore porque hoje iria
comer em sua casa. Uma vez lá, Jesus pregou e Zaqueu recebeu o
evangelho, a ponto de afirmar que iria devolver tudo que roubou,
quatro vezes mais.

102
Catecúmenos

Concluímos as observações sobre a conversão dizendo que:


Claramente, ela é a externalização do novo nascimento. Porém, tanto o
novo nascimento quanto a conversão tornar-se-ão mais límpidas e
possíveis de serem constatadas no próximo elemento da ordem da
salvação que iremos tratar: a santificação.

2.7 Santificação

E o próprio Deus de paz vos santifique


completamente; e o vosso espírito, e alma e corpo
sejam plenamente conservados irrepreensíveis
para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.
I Tessalonicensses 5. 23

A primeira coisa que se deve perceber quanto a santificação é que


podemos facilmente confundir o novo nascimento com a santificação,
assim como, também é possível confundi-la com as obras realizadas
pelos crentes ao longo da vida.
Isto é possível porque há de fato uma relação muito próxima entre
estes elementos dentro da ordem da salvação, o que torna necessário
distingui-las, muito embora elas possuam uma relação intrínseca.
Começaremos falando sobre a santificação.

2.7.1 Santificação
Thomas Watson diz que a santificação “é um princípio da obra da
graça salvadora pela qual o coração se toma santo e é feito segundo o
coração de Deus”.14
Observe que Watson trata a santificação com uma profundida
maior do que meramente realizar boas obras. Ele trata a santificação a

103
Catecúmenos

partir de uma mudança interior e de caráter realizada no coração do


homem.
Quando se observa a santificação nesta ótica é fácil queremos
confundi-la com a regeneração. Só que a regeneração é o princípio
ativo ou a fonte da qual a santificação passa a funcionar.
Por outro lado, há pessoas que são chamadas de “santas” por conta
das obras que realizam. Geralmente, se tratam de obras sociais ou de
socorro aos carentes e necessitados e por causa dessas obras diz-se que
essas pessoas são pessoas que santas.
O princípio presente nesse tipo de observação é que “pelos frutos
conhecereis as árvores”.
Todavia, é possível que pessoas não regeneradas também façam
boas obras; até mesmo, obras maiores do que as obras feitas pelos
regenerados (Filipenses 3. 3 – 9).
Então, se a santificação não a mudança primária ao qual os homens
necessitam, ou seja, o novo nascimento, e nem pode ser confundida
com a realização de boas obras, enfim, do que se trata então a
santificação?
O CFW nos dirá, em seu capítulo XIII, sessão 1, que:
Os que são eficazmente chamados e regenerados, tendo criado
neles um novo coração e um novo espírito, são, além disso,
santificados, real e pessoalmente, pela virtude da morte e
ressurreição de Cristo, por sua Palavra e por seu Espírito, que
neles habita; o domínio do corpo do pecado é destruído, as suas
várias concupiscências são mais e mais enfraquecidas e
mortificadas, e eles são mais e mais vivificados e fortalecidos em
todas as graças salvadoras, para a prática da verdadeira
santidade, sem a qual ninguém verá o Senhor.
Primeiramente, a que se dizer que a santificação é algo real –
Somos de fato e de verdade santos aos olhos de Deus (I Coríntios 1. 1
e 2; 2 Coríntios 1. 1; Efésios 1. 1, 4, 15; 2. 19; 3. 8; Filipenses 1. 1).

104
Catecúmenos

Em segundo lugar, santificação é algo pessoal, onde um não pode


ser santo pelo outro ou fazer o outro ser santo por ele. E, sim, a
santificação é requerida a cada um e cada um feito santo e tratado
individualmente como santo diante do Senhor (Êxodo 20. 7 e 1 Pedro
1. 15).
Em terceiro lugar, somos santificados pela aplicação das virtudes
da morte e ressurreição de Cristo, na ação de sua Palavra e Espírito, os
quais em nós habita (1 Coríntios 6. 11; Hebreus 10. 10, 14).
Em quarto lugar, a santificação tem a ver com a destruição do
domínio do corpo do pecado e o enfraquecimento e mortificação das
suas várias concupiscência, o que envolve também o fortalecimento
das graças salvadoras na vida do indivíduo.
E por último, a santificação é operada em nós por meio da
obediência aos mandamentos de Deus, em suas implicações e
princípios elementares.
O apóstolo Paulo ilustra muito bem como é a vida daqueles que
foram regenerados e passaram a trilhar o caminho da santificação em
Romanos 7. 4 - 25.
Perceba que Paulo afirma que a lei não tem mais poder sobre a vida
do regenerado, pois, este foi liberto por Deus que ressuscitou a Cristo
(v. 4).
A condição anterior era de frutificar as obras da carne, mas agora, o
regenerado está morto para estas obras e serve a Deus em novidade de
espírito a fim de frutificar para Ele (vv. 5 e 6).
Isto não quer dizer que a Lei tornou-se pecaminosa ou algo ruim,
mas que, o real propósito da Lei escondido em Cristo foi revelado: o
de ser o nosso guia quanto a realidade da nossa prisão em relação a
natureza pecaminosa (vv.7).
Por sua vez, a lei é boa e espiritual; nos aponta o pecado e nossas
concupiscências e nos faz entender que não somos capazes de sermos
salvos pela observância de seus mandamentos (vv. 8 – 14).

105
Catecúmenos

Sendo assim, a lei torna perceptível para nós o efeito do pecado em


nosso interior quando em nosso modo de agir não compreendemos
aquilo que fazemos, e fazemos aquilo que não queremos por causa do
pecado que em nós habita (vv. 15 – 17).
Logo, a natureza pecaminosa ainda permanece presente mesmo nos
regenerados e estes desejam o bem no seu interior, mas, a prática do
mesmo na sua integralidade ainda não os é possível, por causa da lei
do pecado na habitação da carne.
O resultado disto é que o regenerado se verá querendo fazer o bem
e não o efetivando em todos os momentos de sua vida – o que trará
para ele grande desespero.
Mas, tal desespero não é algo intransponível! Pelo contrário! Paulo
pergunta no verso 24: “quem me livrará do corpo desta morte?” E a
resposta ele mesmo dá em seguida no verso 25: “Graças a Deus por
Jesus Cristo, nosso Senhor. E nos dá uma informação importante
sobre a santificação na continuação do verso: “De maneira que eu, de
mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a
carne, da lei do pecado”.
Paulo traz à tona o ambiente da santificação no interior do homem,
precisamente em seu coração, na luta travada entre a carne e o
Espírito.
Aos gálatas Paulo faz uma descrição mais clara quanto a essa luta
(Gálatas 5. 16 e 17):
16 Digo, porém: andai no Espírito e jamais satisfareis à
concupiscência da carne.
17 Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a
carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que,
porventura, seja do vosso querer.
No verso 16, Paulo traz uma ordem imperativa de que os
regenerados devem andar em Espírito e não devem satisfazer os
desejos da carne para, só então, descrever o ambiente em que acontece
a santificação, afirmando a existência de uma luta entre dois
elementos: a carne e o Espírito, caracterizando-os como opostos e
106
Catecúmenos

arrematando que ambos o resultado desta luta se mostra na vontade do


regenerado em obedecer ou desobedecer a Deus.
Isso é algo muito sério e que não deve deixar de ser considerado
por aqueles que foram libertos do pecado e querem andar em novidade
de vida.
Paulo revela que dentro do regenerado há um elemento ao qual a
bíblia chama de carne, o qual está em luta constante com outro
elemento, o qual ajuda o regenerado a se santificar, o Espírito.
Quanto a isto, resta aos regenerados a ordem de não ceder a carne,
mas, andar em Espírito para que dessa forma possam ser santificados.
Neste aspecto, os meios de graça são extremamente necessários
para a santificação do regenerado.
A palavra de Deus, a oração, os sacramentos são instrumentos
usados nesta luta a fim de que o Espírito prevaleça diante da carne.
Porém, a carne e suas concupiscências também contam com a ajuda
de outros inimigos espirituais dos regenerados: o mundo e o Diabo.
Essa tríade são os inimigos diretos do regenerado a fim de derrubá-
los na sua caminhada.
João diz na sua primeira carta, capítulo 2. 15: “Não ameis o mundo
nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do
Pai não está nele”.
Pedro diz na sua primeira carta, capítulo 5. 8: “Sede sóbrios e
vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão
que ruge procurando alguém para devorar”.
Entretanto, estes dois inimigos diretos exerçam algum tipo de
influência sobre os regenerados, de fato, o inimigo mais danoso ao
qual enfrentamos realmente é a carne, pois, a mesma está alojada em
seu interior (Romanos 6. 19).
Ela opera na vontade a partir das concupiscências pecaminosas
presentes no coração e, uma vez que cedemos a elas, dão origem ao
pecado através das obras da carne (Gálatas 5. 19 – 21; Tiago 1. 15).
107
Catecúmenos

Então, santificar-se é exatamente ter tais obras mortificadas dentro


de si, de forma que elas não sejam encontradas em nosso coração.
Neste caso, as intenções, motivações, desejos e afeições do
regenerado são o alvo da santificação, ou seja, o homem interior é
mudado com o fim de agradar e glorificar a Deus em tudo (1 Coríntios
10. 31).
Isto é possível a medida que vai abandonando seu modo antigo de
viver e ao invés de ceder a carne passa a ceder ao Espírito Santo que,
por causa do resultado gerado pela sua habitação, gera dentro de nós
o(s) fruto(s) do Espirito (Gálatas 5. 22 – 23).
Assim, a santificação é operada em nosso interior e florescerá em
nosso exterior, de modo que se apresenta uma vida virtuosa, piedosa e
de boas práticas. Pois, a santificação opera no regenerado a mudança
de caráter tão necessária para que ele seja conhecido como um filho de
Deus e o glorifique em tudo do começo ao fim.
A implicação dessa mudança está no fato de que Deus está a nos
refazer a imagem e semelhança de seu Filho e, a priori, isto não diz
respeito as obras que realizamos, mais a aquilo que realmente somos e
é apresentado em nosso caráter.

2.8 Glorificação

Eis que vos digo um mistério: nem todos dormiremos,


mas transformados seremos todos, num momento, num
abrir e fechar d’olhos, ao ressoar da última trombeta. A
trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e
nós seremos transformados.
I Coríntios 15. 51 e 52

Chegamos ao último elemento formador da ordem da salvação: a


glorificação.
108
Catecúmenos

Por sua vez, ele não está sozinho, mas, envolve outros eventos dos
quais ele é dependente e que são caros a fé cristã.
Há também alguns assuntos que orbitam na atmosfera deste
elemento, tais como: o estado intermediário, o julgamento final, a
restauração de todas, a vida no porvir e etc., porém, não temos como
tratar sobre todos eles agora.
Assim, nossa atenção repousará apenas em vermos como a bíblia
nos apresenta a glorificação.

2.8.1 Transformação
Quando se fala a respeito da glorificação estamos falando sobre o
último estágio da santificação do crente - o qual teve seu início na
regeneração, com a transformação interior do regenerado, a partir da
geração de uma nova vida - e terá sua conclusão com a transformação
do seu corpo. Assim, concluindo-se a obra de Deus na salvação do
eleito por inteiro: corpo, alma e espírito (1 Tessalonicenses 5. 23)
Tal evento depende diretamente de outro evento maior inserido na
história da redenção: a Parousia ou 2ª vinda de Cristo (Filipenses 1.
6).
Neste evento, haverá uma ação que será realizada pelo próprio
Cristo, a qual a Escritura chama de Arrebatamento e consiste em levar
para Si os que foram ressuscitados e os que estão vivos transformando
todos eles (I Tessalonicenses 4. 17).
Obviamente que, aqueles que estão mortos e não são de Cristo
também serão ressuscitados, porém, serão levados para passarem pelo
julgamento final.
Os anjos serão os responsáveis em fazer a remover os que são de
Cristo (Mateus 24. 31) e Cristo irá separar e julgar os que não são dEle
(Mateus 25. 31 - 34).
Acho que você observou que a Escritura usa vários termos
diferentes para denominar a glorificação: ressurreição, transformação

109
Catecúmenos

do corpo, glorificação, incorruptibilidade e etc.. Todos eles falam


sobre a mesma ação de Deus em completar sua obra em transformar os
eleitos na imagem de Cristo.
Embora Paulo fale inicialmente sobre um mistério, o que se pode
esperar desse elemento é algo que já é possível de ser vislumbrado,
precisamente, no evangelho de João, quando se lê a respeito da
ressurreição e glorificação do próprio Jesus Cristo.
Diz o texto de I Coríntios 15. 20 que Jesus Cristo é a primícias dos
que dormem. E que há uma ordem na ressurreição: primeiro Cristo,
depois os que são de Cristo, na sua vinda (vv. 23).
Então, o evangelho de João nos mostra alguns aspectos dessa
ressurreição:
- A glorificação nos fará perfeitos (João 20. 14; 25);
- Não haverá limitações entre a carne e o espírito (João 20. 26 - I
Coríntios 15. 50);
- Comeremos, embora não tendo necessidade (João 21. 12 e 13 e A
grande Ceia);
- Provavelmente, iremos trabalhar (João 14. 2);
- Veremos a Deus e não morreremos (Apocalipse 22. 4).

110
Catecúmenos

Referências
1
CALVINO. J. Institutas da Religião Cristã, 3. XXIII. xii., pág. 420;
2
Ibid. 3. XXIII. v., pág. 388;
3
Ibid. 3. XXI. vii, pág. 391;
4
KISTEMAKER. S. Comentário do Novo Testamento, pág. 132;
5
Ibid.;
6
Ibid.;
7
WATSON, T. A Fé Cristã – Estudos no Breve Catecismo de Westminster,
pág. 269;
8
MURRAY, J. Redenção Consumada e Aplicada, Ed. Cultura Cristã, pág. 85;
9
Ibid.;
10
BOICE. M. Fundamentos da Fé Cristã – Um Manual de Teologia ao
Alcance de Todos, Ed. Central Gospel, pág. 351;
11
Para melhor compreensão sobre o Pelagianismo e Arminianismo leia:
www.monergismo.com/textos/arminianismo/pelagianismo.htm e
www.monergi
smo.com/textos/arminianismo/fe_reformada_arminianismo1_murray.htm
12
WATSON, T. Op. Cit. P. 251;
13
Ibid. p. 252;
14
Ibid. p. 278;

111
Catecúmenos

Parte 6
Igreja

Tendo Jesus chegado às regiões de Cesareia de Felipe,


interrogou os seus discípulos, dizendo: Quem dizem os
homens ser o Filho do homem?
Responderam eles: Uns dizem que é João, o Batista;
outros, Elias; outros, Jeremias, ou algum dos profetas.
Mas vós, perguntou-lhes Jesus, quem dizeis que eu sou?
Respondeu-lhe Simão Pedro: Tu és o Cristo, o Filho do
Deus vivo.
Disse-lhe Jesus: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas,
porque não foi carne e sangue que to revelou, mas meu
Pai, que está nos céus.
Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta
pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno
não prevalecerão contra ela;
dar-te-ei as chaves do reino dos céus; o que ligares, pois,
na terra será ligado nos céus, e o que desligares na terra
será desligado nos céus.
Então ordenou aos discípulos que a ninguém dissessem
que ele era o Cristo.
Mateus 16. 13 - 20

É neste texto que a palavra Igreja aparece pela primeira vez nas
Escrituras. Porém, isto não quer dizer que a igreja passou a existir a
partir deste momento. Pelo contrário, mesmo que não encontremos a
palavra igreja no Antigo Testamento seus aspectos conceituais estão
presentes no antigo Israel.
Além disto, a palavra igreja tem sua origem na palavra sinagoga –
local criado pelo povo de Israel, durante o período de exílio

112
Catecúmenos

babilônico, com o fim de cultuar a Deus, ensinar sua Lei e tomar


decisões de cunho teológico e social.
A criação das sinagogas se deu em um momento em que o templo
não existia mais e o povo encontrava-se distante de sua terra.
Sinagoga em seu conceito amplo quer dizer assembleia ou a
reunião de uma multidão indiscriminada, quer seja regularmente
organizada ou não, seja para propósitos civis, seja para propósitos
eclesiástivos.¹ E, no caso da igreja, diz respeito a assembleia dos
santos ou reunião, congregação. Neste sentido, a igreja diz respeito a
uma instituição divina e espiritual e não deve se confundir com
qualquer outra instituição humana.
Obviamente que encontraremos outros sentidos na Escritura para
a palavra igreja, mas, neste estudo iremos nos deter a observar o que
os símbolos de fé ensinam quanto a este tema, começando por analisar
o que vem a ser a igreja invisível e a igreja visível que a CFW nas §§ 1
e 2 do capítulo XXV se referem.

1. Igreja Invisível e Visível


Um conceito sobre a igreja que é extraído da Escrituras pode ser
encontrado na Confissão de Fé de Westminster, no capítulo XXV, §1,
que diz:
A igreja Católica ou Universal, que é invisível, consiste do número
total dos eleitos que já foram, dos que agora são e dos que serão
reunidos em um só corpo, sob Cristo, seu Cabeça; ela é a esposa, o
corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todas as coisas.
A primeira coisa que pode ser necessária de fazer diante deste
conceito talvez seja a de desconstrução do conceito de catolicidade
que é originário da historicidade quanto ao nosso país ter se
desenvolvido em conjunto ao processo de cristianização provocado
pela igreja católica romana.

113
Catecúmenos

Logo, é preciso entender que ser católico não tem a ver com ser
da igreja católica romana - a própria CFW, na mesma sessão, cuida
em explicar isto – mas, tem a ver com o aspecto de a igreja ser
universal, ou seja, ser composta por pessoas de todas as
nacionalidades e estar “presente” e poder ser encontrada em qualquer
lugar do mundo.
Em seguida, a CFW apresenta a expressão invisível; com isso,
refere-se ao aspecto transcendental e espiritual encontrado no fato de
a mesma ter um número exato de participantes, o qual não está
limitado ao tempo, lugar e condições em que estes estejam
submetidos, mas, unicamente, ao fato de estarem ligados a Cristo,
como seu Cabeça e, consequentemente, uns aos outros, como seu
Corpo.
São justamente estas coisas que conferem a igreja esse caráter de
invisibilidade. Do qual, se destaca na verdade de que só Deus
conhece o total de todos os que compõem sua igreja. E, quanto a nós,
por enquanto, conhecemos apenas uma parte desta igreja, situada em
um determinado tempo e lugar.
Esse caráter invisível presente na igreja destaca algo sumamente
importante para os crentes e que está intimamente ligado com o
último ato encontrado na ordem da salvação, que é a glorificação,
pois, é neste ato que a igreja invisível será reunida numa assembleia
na presença de Deus.
A CFW usa as expressões “ela é a esposa, o corpo, a plenitude
daquele que cumpre tudo em todas as coisas” para nos remeter a este
momento.
Em Colossenses 1. 18 esse ensino é exposto com clareza, veja:
Ele é o cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o primogênito
de entre os mortos, para em todas as coisas ter a primazia.
A Escritura se utiliza de algo extremamente prático para explicar
a natureza desta comunhão entre Cristo e a sua igreja quando usa
como tipo o relacionamento marital presente no casamento. Isto

114
Catecúmenos

favorece nosso entendimento sobre aquilo que ocorrerá nos tempos


eternos.
A carta de Paulo aos Efésios também nos dá essa mesma ideia
no capítulo 1. 10, 22 e 23:
De fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos,
todas as coisas, tanto as do céu como as da terra... E pôs todas as
coisas debaixo de seus pés, e para ser o cabeça sobre todas as
coisas, o deu à igreja, a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que
a tudo enche em todas as coisas.
As expressões “dispensão da plenitude dos tempos” remete-nos a
pensar sobre o Dia do Senhor e, no Dia do Senhor, o que acontecerá é
que Cristo colocará todas as coisas debaixo dos seus pés, fazendo-as
convergir para Ele, demonstrando assim que Ele é o Cabeça.
Neste caso, a igreja invisível desfrutará de todas essas coisas,
uma vez que chegado este tempo, a ela como esposa do Cabeça serão
dadas todas essas coisas, como diz o texto.
Outra imagem presente nas Escrituras e que é usada pela CFW
para denotar com clareza o relacionamento entre Cristo e a igreja é a
imagem do Corpo.
Não há vida em uma cabeça sem corpo, da mesma forma de
modo inverso. Então, subentendemos que a vitalidade do corpo, isto
é, da igreja, está na ligação espiritual de Cristo com ela, pelo Espírito
Santo.
Desta forma, mesmo que a igreja possua este aspecto espiritual e
que, a priori, somente Deus conheça sua totalidade, é possível
verificar condições em que este aspecto não se torna uma barreira
para enxergarmos aqueles que realmente compõem a igreja.
Nas palavras de Jesus em Mateus 7. 16 – 20 temos uma ideia
concreta de como isso é possível:
16 Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas
dos espinheiros ou figos dos abrolhos?

115
Catecúmenos

17 Assim, toda árvore boa produz bons frutos, porém a árvore má


produz frutos maus.
18 Não pode a árvore boa produzir frutos maus, nem a árvore má
produzir frutos bons.
19 Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada ao
fogo.
20 Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis.
O texto fala a respeito da produção de frutos espirituais;
originados do processo de santificação, o qual: somente os verdadeiros
filhos de Deus podem passar.
Então, a observação da veracidade do relacionamento de alguém
com Cristo pode ser feita a partir da verificação da presença destes
frutos no decorrer da sua vida cristã desta pessoa.
Outra passagem que intensifica este entendimento utiliza
justamente a analogia do corpo na exortação paulina de que à igreja
não iniciasse um processo de autofagia (canibalismo), o que
irremediavelmente a levaria a sua autodestruição. Paulo diz em
Gálatas 5. 15:
Se vós, porém, vos mordeis e devorais uns aos outros, vede que não
sejais mutuamente destruídos.
Essa exortação de Paulo nos leva a entender a importância da
presença dos frutos do Espírito na vida da igreja. Por ele, a vitalidade
espiritual que igreja possui e que é transmitida por Cristo pode ser
notada por ela e pelos de fora.
Aqui encontramos à deixa necessária para começarmos a falar
sobre o aspecto visível da igreja.
O aspecto visível da igreja se conceitua na sessão 2, do capítulo
XXV da CFW, quando diz:
A igreja visível, que também é católica ou universal, sob o
Evangelho (não sendo restrita a uma nação, como antes sob a Lei),
consiste de todos aqueles que, pelo mundo inteiro, professam a
verdadeira religião, juntamente com seus filhos; é o Reino do
116
Catecúmenos

Senhor Jesus Cristo, a casa e família de Deus, fora da qual não há


possibilidade ordinária de salvação.
Esse aspecto é mais abrangente do que o aspecto invisível. Não
obstante, ambos têm sua importância quanto a natureza espiritual da
igreja.
Agora, enquanto que o primeiro envolve a igreja que perpassa
tempo e lugar, o segundo observa a igreja sob o evangelho e destaca
sua subserviência ao Evangelho.
Assim, subentende-se que, o Evangelho é fundamental para a
igreja no que concerne a sua natureza como casa e família de Deus e
que isto é algo da própria salvação. Neste aspecto, qualquer reunião
ou assembleia que possua o nome de igreja de Cristo, mas, que nela
não seja encontrada o Evangelho, não terá a capacidade de levar as
pessoas a salvação e, por isso, não tem a capacidade de ser
reconhecida como igreja visível e muito menos faz parte da igreja
invisível.
A figura abaixo ilustra a relação entre a igreja invisível e a
visível, demonstrando que a abrangência da igreja invisível é maior
do que a da igreja visível, de modo que, a igreja visível está no tempo
presente e, desta feita, está contida na igreja invisível. Mas, é a igreja
invisível que comportam o número total daqueles que compõem a
igreja e dos quais somente Deus conhece.

Igreja Invisível

Igreja Visível

Passado Presente
Futuro

117
Catecúmenos

Por outro lado, se analisarmos esses mesmos aspectos dentro de


um recorte em que a igreja se encontra em fraqueza espiritual ou
mesmo em decadência, veremos que a possibilidade desta igreja ser
mais ou menos visível é correta. Além disto, a depender de como está
sendo feita a administração do evangelho quanto ao combate da
mistura e do erro, será possível de verificar que certas igrejas terão
deixado de ser igrejas de Cristo e passaram a ser sinagogas de Satanás
(CFW, XXV, § V).
Isto aponta para a possibilidade de que alguns em dado tempo
podem decair da graça de Cristo, assim como Paulo adverte aos
Gálatas no capítulo 5. 1 – 7.
Em Apocalipse 2, o Senhor fala a João sobre 7 igrejas que
estavam na região da Ásia. E, para uma delas a advertência foi:
“Conheço a tua tribulação, a tua pobreza (mas tu és rico) e a
blasfêmia dos que a si mesmos se declaram judeus e não são, sendo,
antes, sinagoga de Satanás” (Apocalipses 2. 9).
Então, é possível que uma igreja tenha apenas o título de igreja de
Cristo, mas que, nela não seja encontrado o Evangelho, e sim, uma
caricatura dele.
Contudo, seja possível que uma igreja caia da graça há oura
situação em que uma igreja poderá se tornar menos visível. Veja como
Paulo chama as pessoas que formavam a igreja de Corinto, mesmo
com ela passando por uma decadência espiritual (1 Coríntios 1. 1 – 4).
Por último, o aspecto universal da igreja em nada atrapalha que
ela seja reconhecida pelo seu caráter local.
São muitos os textos aos quais os escritores bíblicos se referem a
igreja a partir de sua localização geográfica.
Assim, tanto o fato de a igreja ser reconhecida e representada pela
localização geográfica como o fato de a igreja ser tratada como o
corpo de Cristo, nos levam para o mesmo argumento: a igreja possuía
um local para se reunir e realizar suas atividades eclesiásticas.

118
Catecúmenos

Isto é importante porque tem surgido em nossos dias o


entendimento de que um indivíduo só pode ser reconhecido como
igreja. E, a partir disto, surge a anulação dos deveres dos membros do
corpo de Cristo de se reunirem para cultuar e congregarem juntos.
É importante que esse argumento não seja alimentado para que se
não se perca de vista o que o autor aos Hebreus diz no capítulo 10. 24
e 25:
24 E consideremo-nos uns aos outros, para nos estimularmos ao
amor e às boas obras,
25 Não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns,
antes admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais, quanto
vedes que se vai aproximando aquele dia.
Como podemos estimularmos uns aos outros ao amor e as boas
obras se não estivermos juntos?

2. As Marcas da Igreja
As marcas da igreja é um conceito provenientes de ponderações
que foram feitas a partir do advento da reforma protestante.
São diretrizes basilares pelas quais se verifica a genuinidade de
uma igreja. Ou seja, caso essas marcas forem encontradas em
determinada igreja, isto significa que esta igreja se trata de uma
verdadeira igreja de Cristo.
São as marcas de uma igreja de Cristo:
a. Pregação Fiel da Palavra
b. Administração dos Sacramentos
c. Disciplina Eclesiástica

2.1. Pregação Fiel da Palavra


Essa é a marca fundamental da igreja de Cristo. E, por essa razão,
as demais marcas estarão apoiadas por ela.
119
Catecúmenos

Ela tem a ver com o fato de Deus ser fiel em sua palavra, tanto na
exposição da mesma como no seu cumprimento. É só verificarmos que
desde os tempos antigos o Senhor usou profetas como instrumentos
para tornar conhecida a sua vontade. E o que Ele requeria do profeta
era apenas que fosse fiel na exposição da mesma, sendo contra aqueles
que eram falsos quanto a pregação da mesma (Isaías 44. 24 – 25;
Jeremias 23)
É importante que tenhamos em vista que a Pregação Fiel da
Palavra como marca da igreja não está vinculada meramente em
encontrarmos fidelidade na exposição que o pregador/pastor faz da
bíblia dominicalmente. Mas, também está no fato de que tudo aquilo
que a igreja faz como igreja de Cristo necessita estar baseado e
amparado pela autêntica e fiel interpretação do texto bíblico. De modo
que, se a igreja se reuni, de forma pública, para cultuar ao Senhor em
determinado dia da semana, o faz porque encontra amparo nas
Escrituras. Se a igreja faz orações de adoração, de gratidão e de
petições a Deus, por meio do nome de Jesus Cristo, durante suas
reuniões, o faz porque encontra base nas Escrituras para isto. Se a
igreja faz recolhimentos de ofertas durante o culto, também o faz
porque há nas Escrituras um posicionamento favorável para tal
questão. E, assim, por diante com relação a todas as coisas que a igreja
deve fazer é necessário que ela esteja certa quanto ao suporte Fiel das
Escrituras sobre aquilo que ela pretende fazer ou faz.
Sobretudo, é importante ressaltar que, a pregação fiel da palavra
estará visível quando a pregação é feita de forma cristocêntrica e que
expõem o real conteúdo daquilo que está nas Escrituras, levando os
ouvintes a terem diante de si o evangelho.

2.2. Administração do Sacramentos


A Administração dos Sacramentos como marca da igreja de
Cristo é algo que encontra amparo nas Escrituras pelo fato de que o
próprio Cristo determinou ordenanças quanto à formula e contínua
administração dos Sacramentos.
120
Catecúmenos

Primeiramente, é preciso dizer que diferentemente da ICAR as


igrejas protestantes reconhecem apenas 2 sacramentos e não 7. São
eles: o batismo e a Ceia do Senhor.
A administração destes dois sacramentos está amparada pela
própria ordenança feita por Jesus Cristo e seguida de perto por seus
discípulos (Mateus 28. 19; João 6. 53; Atos 2. 37 – 42; e 1 Coríntios
11. 22). Assim, à igreja faz-se necessário observar a administração
destas ordenanças como marcas inerentemente presentes na verdadeira
igreja de Cristo.
No capítulo seguinte iremos tratar com mais detalhes a respeito
dos sacramentos.

2.3. Disciplina Eclesiástica


A disciplina eclesiástica como uma das marcas da igreja é
necessária quanto a: manutenção da pureza na igreja e a identificação
dos verdadeiros regenerados com a expulsão dos ímpios.
A disciplina na igreja está intimamente ligada com o poder da
chave do reino outorgado por Cristo aos seus apóstolos, tendo Ele
como a Pedra Fundamental (de esquina ou angular) sobra a qual a
igreja está firmada e não pode ser vencida pelas portas do inferno
(Mateus 16. 17 – 19 cc 18. 15 – 20).
Na disciplina eclesiástica aqueles que se encontram em falta são
postos e acompanhados pelas autoridades eclesiásticas num processo
de restauração espiritual, com o fim de que se tenha restabelecida a
comunhão entre o membro, a igreja e o Senhor.
Jesus ensina a respeito de sua disciplina no texto da videira
verdadeira, dizendo:
4 permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. Como não pode o
ramo produzir fruto de si mesmo, se não permanecer na videira,
assim, nem vós o podeis dar, se não permanecerdes em mim.
5 Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu,
nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.
121
Catecúmenos

6 Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora, à


semelhança do ramo, e secará; e o apanham, lançam no fogo e o
queimam.
Uma igreja que está sem disciplina eclesiástica além de correr o
risco de se tornar uma igreja impura, também corre o risco de ser
compostas de pessoas não-regeneradas, podendo vir a se tornar uma
Sinagoga de Satanás.
A disciplina eclesiástica é aplicada com vista a glória de Deus na
prevenção de que coisas assim aconteçam.
O texto de Provérbios 3. 11 e 12 diz sobre disciplina:
11 Filho meu, não rejeites a disciplina do SENHOR, nem te enfades
da sua repreensão.
12 Porque o SENHOR repreende a quem ama, assim como o pai,
ao filho a quem quer bem.
Hebreus 12. 4 - 13 também demonstra esse amor de Deus por
meio da disciplina de seus filhos, os reconhecendo na aceitação de sua
aplicação:
4 Ora, na vossa luta contra o pecado, ainda não tendes resistido
até ao sangue
5 e estais esquecidos da exortação que, como a filhos, discorre
convosco: Filho meu, não menosprezes a correção que vem do
Senhor, nem desmaies quando por ele és reprovado;
6 porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem
recebe.
7 É para disciplina que perseverais (Deus vos trata como filhos);
pois que filho há que o pai não corrige?
8 Mas, se estais sem correção, de que todos se têm tornado
participantes, logo, sois bastardos e não filhos.
9 Além disso, tínhamos os nossos pais segundo a carne, que nos
corrigiam, e os respeitávamos; não havemos de estar em muito
maior submissão ao Pai espiritual e, então, viveremos?

122
Catecúmenos

10 Pois eles nos corrigiam por pouco tempo, segundo melhor lhes
parecia; Deus, porém, nos disciplina para aproveitamento, a fim
de sermos participantes da sua santidade.
11 Toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo
de alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto
pacífico aos que têm sido por ela exercitados, fruto de justiça.
12 Por isso, restabelecei as mãos descaídas e os joelhos trôpegos;
13 e fazei caminhos retos para os pés, para que não se extravie o
que é manco; antes, seja curado.
Os mal-intencionados e aqueles que são avessos a qualquer tipo
de controle na igreja julgaram com desprezo a questão da disciplina
eclesiástica e dirão que ela é algo que deveria ficar na idade-média.
Porém, aqueles que temem, por meio da Escritura, sabem que
Deus não toma o culpado por inocente, não se deixa escarnecer, abate
ou resiste ao soberbo e permite-nos julgar não segundo a aparência,
mas, segundo a reta justiça (Êxodo 34. 7; Números 14. 18; Gálatas 6.
7; Isaías 2. 12; Tiago 4. 6 e João 7. 24).

3. Tipos de Governo
Quando ouvimos falar que há na igreja um governo, logo
podemos confundir com a ideia - pouco aceita por muitos - quanto a
mistura entre política e religião.
A coisa não funciona bem assim. Mas, é preciso esclarecer que o
homem é um ser político, e a política diz respeito ao bem-estar das
pessoas enquanto seres sociais e relacionais.
Sendo assim, não se pode anular o fato de que a igreja foi inserida
por Deus dentro deste ambiente. Por isso, inevitavelmente, terá e será
conduzida por regras e por uma forma de se tomar decisões.
Ela precisará ser administrada e, para tanto, tendo Cristo como
seu cabeça, outorgou aos seus discípulos o poder da chave do reino
(Mateus 16 e 18).
123
Catecúmenos

Assim, Cristo é representado por aqueles que foram vocacionados


por Ele para pastorearem seu rebanho. Logo, o governo da igreja se dá
de forma representativa. O poder foi outorgado, pois, Ele é derivado
do cabeça da igreja.
E, perceba que desde o período antigo, o povo de Deus se
organiza na condução do seu viver.
Esse fato se torna mais notório na igreja a partir da morte de Jesus
e o estabelecimento do apostolado e do diaconato (Atos 1 e 6).
Desde então, a igreja vem se organizando politicamente a partir
de várias formas de governos onde as mais exercidas são:
a. Episcopado;
b. Congrecionalismo;
c. Presbiterianismo.
Tecerei explicações sobre cada uma delas.

3.1. Episcopado
O episcopado ou prelado, é a forma de governo de um homem só.
A igreja tem em seu governo um único representante, o qual está
acima de qualquer outro oficial.
Na ICAR, a forma de governo adotada é o episcopado e se dá a
partir do reconhecimento do papa como o sucessor do apóstolo Pedro.
Mesmo que existam outros oficiais - e que estes tenham escolhido
por meio de eleição o papa -, estes estão debaixo do seu governo.
Por outro lado, há igreja protestantes, como é o caso da igreja
Episcopal Anglicana, que também usam essa forma de governo, por
entender que Deus escolheu apenas uma pessoa para responder pelo
seu rebanho.
Esse entendimento é proveniente do conteúdo vetero-
testamentário que apontam a escolha de Deus em relação aos reis de

124
Catecúmenos

Israel e ao fato de o Novo-Testamento se utilizar da palavra Bispo para


se referir aos pastores das igrejas.
Em nossos dias muitas igrejas fazem uma mistura entre a
episcopado papal e a forma de governo política que é chamada na
ciência política de presidencialismo: Uma única pessoa é vista como o
pastor presidente, e mesmo que existam outros pastores com ele,
somente o pastor presidente é reconhecido como o pastor da igreja.
Diante mão, ele tem o poder de determinar e vetar aquilo em que
a igreja deve crer e como a igreja deve se portar.
Ele é escolhido por meio de voto, em assembleia reunida com
esse fim, e, a depender do estatuto vigente na igreja, a membresia pode
ou não participar diretamente da escolha dos seus pastores e de
algumas decisões importantes.
Geralmente, o mandato dos pastores presidentes é vitalício.

3.2. Congregacionalismo
Esta forma de governo, como o nome já diz, é encontrada nas
igrejas congregacionais e, até mesmo, em algumas igrejas batistas.
Ela se difere da forma de governo Episcopal da seguinte maneira:
Não é apenas um que exerce o poder da igreja, e sim, todos. Isso se dá
por meio de assemblei geral onde todos os membros possuem o direito
e o dever de votarem sobre a pauta estabelecida.
Por outro lado, no Congregacionalismo o pastor não está sozinho
e nem está acima dos demais oficiais no quesito da administração da
igreja. Estes tem o mesmo poder e suas funções são de assistência e
fiscalização.
Por outro lado, o pastor tem a responsabilidade de doutrinar,
pastorear e cuidar do rebanho em conjunto com os presbíteros da
igreja.

125
Catecúmenos

Sua escolha se dá por meio de votação, assim como é com os


demais oficiais.

3.3. Presbiterianismo
Como o próprio nome impõem, essa forma de governo é achada
nas igrejas presbiterianas e tem muitas diferenças entre as demais.
Primeiramente, pode ser visto que no presbiterianismo há a
presença de 6 princípios basilares quanto a forma de governo da igreja:
1. Eleição dos oficiais pelo povo (Atos 6);
2. Pluralidade de Presbíteros (Atos 20. 17);
3. Isonomia entre seus oficiais (Gálatas 2. 14);
4. A presença de Presbitérios (I Timóteo 4. 14; 5. 22);
5. A possibilidade de recorrer a instância superior (Atos 15);
6. O governo da igreja não está debaixo de um poder temporal
(Atos 5. 29).
Esses princípios são extremamente importantes para a
manutenção e preservação da representatividade de Cristo por meio de
sua igreja.
Caso um destes princípios não sejam observados, vê-se que
biblicamente, a igreja terá suprimida seus direitos ou deveres para com
o reino de Deus pelo comprometido do governo e das qualidades da
igreja como coluna e baluarte da verdade e a casa e família de Deus.

126
Catecúmenos

Referências
1
BANNERMAN. J. A Igreja de Cristo: Um Tratado Sobre a Natureza,
Poderes, Ordenanças, Disciplina e Governo da Igreja Cristã, Vol. 1 e 2, PE:
Ed. Os Puritanos, 2014, pág. 28;

127
Catecúmenos

Parte 7

Sacramentos

Ide, portanto, fazei discípulos de todas


as nações, batizando-os em nome do Pai,
e do Filho, e do Espírito Santo;
ensinando-os a guardar todas as coisas
que vos tenho ordenado. E eis que
estou convosco todos os dias até à
consumação do século.
Mateus 28. 19 - 20

Sacramento é outra palavra que não encontraremos nas Escrituras.


Ela vem de um termo em latim (lat. Sacramentum) e tem a ver com
juramento que um soldado faz a seu comandante.
O teólogo Louis Berkhof conceitua o sacramento da seguinte
forma:
Um sacramento é uma santa ordenança instituída por Cristo, na
qual, mediante sinais visíveis, a graça de Deus em Cristo e os
benefícios da aliança da graça são representados, selados e aplicados
aos crentes, e estes, por sua vez, expressam sua fé e sua fidelidade a
Deus.¹
Então, através deste conceito já somos comunicados a respeito
das características presente em um sacramento.
Primeiro, o sacramento é uma ordenança – Foi Deus quem
ordenou a sua utilização.
Segundo, o sacramento contém sinais visíveis – sempre está
relacionado a um ato ou objeto que o representa.
128
Catecúmenos

Terceiro, o sacramento possui graça espiritual – comunica os


benefícios espiritual aos que participam dele.
Quarto, o sacramento contém o selo da graça – aplicado e
recebido pelo crente com fé é selada a união entre o sinal e o
significado.
Ainda que o sacramento contenha um símbolo, não se deve
apenas reconhecer seu valor simbólico, e sim, deve-se perceber que ele
contém um valor moral e espiritual, de modo que, quando ele é
recebido com fé a graça de Deus o acompanha.
Isto pode ser visto desde os sacramentos do Antigo Testamento,
que eram: A Circuncisão e a Páscoa.
A circuncisão foi instituída por Deus em Gênesis 17. 9 -14, no
encontro com Abraão. E foi dito que essa era a maneira pela qual
Abraão e sua descendência estaria guardando a Aliança do Senhor.
A circuncisão apresenta um sinal visível na carne e a graça
comunicada é a de pertencer a Aliança de Deus.
Já a Páscoa, que quer dizer passagem em hebraico, foi instituída
por Deus em Êxodo 12 com Moisés.
Está é representada por meio de um sacrifício de um cordeiro sem
defeito, oferecido para a redenção do povo de Israel do cativeiro
Egípcio e o seu sangue demarca aqueles que são da aliança de Deus.
Veremos que houve uma transição entre a Antiga Aliança e a
Nova Aliança e que os sacramentos tiveram seus sinais mudados, sua
graça aperfeiçoada, mas, que os significados permaneceram os
mesmos.
Os sacramentos presentes na nova aliança são: O Batismo e A
Ceia do Senhor. Vamos vê-los!

129
Catecúmenos

1. Batismo
O batismo é uma forma de iniciação que já era presente em outras
religiões e antes mesmo de Jesus ter instituído.
A própria Escritura fala do profeta João como sendo o Batista, ou
seja, alguém que batizava pessoas (Mateus 3. 1 – 6).
Seu batismo já estava eivado de motivos os quais, a frente, são
repetidos por Jesus na sua pregação (Mateus 3. 11 cc 4. 17 e Marcos 1.
4).
Então, é claro para nós que o elemento do batismo tem a ver com
o significado de purificação e lavagem de pecados.
Seu elemento é a água que é conhecida como o solúvel universal.
É interessante ressaltar que embora Jesus tenha sido batizado por
João Batista, e o batismo de João fosse para arrependimento de
pecados, quanto a Jesus, esse motivo não se aplicou. De fato, o motivo
para o batismo de Jesus e sua apresentação como o Ungido de Deus
em Mateus 3. 13 – 17:
13 Por esse tempo, dirigiu-se Jesus da Galiléia para o Jordão, a
fim de que João o batizasse.
14 Ele, porém, o dissuadia, dizendo: Eu é que preciso ser batizado
por ti, e tu vens a mim?
15 Mas Jesus lhe respondeu: Deixa por enquanto, porque, assim,
nos convém cumprir toda a justiça. Então, ele o admitiu.
16 Batizado Jesus, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os
céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba, vindo
sobre ele.
17 E eis uma voz dos céus, que dizia: Este é o meu Filho amado, em
quem me comprazo.
Obviamente, isso ocorre porque Jesus não pecou em momento
algum, então, ele não tinha do que se arrepender e nem do que ser
perdoado, uma vez que nasceu sem pecado e nunca pecou. O seu
batismo apresenta-se como o sinal visível da sua real Filiação com
Deus. Ele é o Unigênito Filho em que Deus se compraze.
130
Catecúmenos

Já em relação aos pecadores regenerados, o batismo com que são


batizados tem outra serventia. Qual seja, a de declarar publicamente
que eles tiveram seus pecados perdoados e que agora vivem uma nova
vida em Cristo Jesus (Atos 2. 38; Gálatas 3. 27).
Além disso, o batismo é o sinal visível da administração do Pacto
de Deus, como o selo sobre o qual está naqueles que foram
regenerados e estão guardados em Cristo Jesus.
A Escritura possui outra analogia literária, além da purificação e o
lavar com água, para tratar a respeito do significado do batismo, que é:
a de que o velho homem foi sepultado no batismo, assim como aqueles
que creem em Jesus foram sepultados com Ele na sua morte e unidos a
Ele, para que a semelhança d’Ele, ressuscitem no último dia (Romanos
6. 3 - 5).
Dessa forma, a Escritura nos mostra que o batismo se torna algo
importante para os seguidores de Jesus a ponto de, mais a diante, o
Senhor Jesus apresentar a fórmula pelo qual o seu batismo deve ser
administrado e determina que todos os que cressem no Evangelho
sejam batizados no nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo em
Mateus 28. 19:
19 Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os
em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;
Essa é a formula pela qual todos os discípulos de Cristo são
batizados. Logo, a Trindade tem presença neste ato.
Agora, vamos falar sobre a profissão de fé, o momento do
batismo, sua administração e seus efeitos.

1.2 Profissão de Fé
Bannerman afirma que cerimônia do batismo indica que são
necessários um conhecimento e uma profissão de fé em Cristo como
pré-requisitos ao batismo.¹

131
Catecúmenos

A profissão de fé é o ato de declaração pública presente no


momento do batismo pelo qual o recém-convertido, pessoal e
publicamente, afirma ter fé no Pai como seu Senhor e Criador, em
Jesus Cristo como o Filho de Deus e seu Salvador e no Espírito Santo
como seu Consolador e o aplicador da Salvação.
Esse ato expõe de maneira pública a cristandade e aos de fora a
iniciação da fé por um discípulo de Cristo e a união com o Cristo e seu
corpo, a igreja (Efésios 4.3 – 5).
Porém, vale ressaltar que isto não significa que a união com
Cristo e com a igreja se deu de maneira espiritual exatamente neste
momento e não em momento anterior, ou que para alguém ser salvo é
preciso ser batizado.
Um indivíduo que fez apenas a declaração pública de fé e que não
foi batizado pode ser salvo. Por exemplo, um dos ladrões crucificados
ao lado de Jesus não foi batizado, e, mesmo assim, Jesus declarou sua
salvação. Isto porque, o ladrão declarou fé em Jesus como o seu
Salvador (Lucas 23. 39 – 43).
Logo, o ato requisitado para a salvação não é o batismo, e sim, a
declaração de fé, a qual, de maneira excepcional, até pode não ser
pública, ou não ter sido externada, mas, estar presente apenas na
consciência do indivíduo. Vejamos alguns textos:
Mateus 10. 32 – 33: Portanto, todo aquele que me confessar diante
dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos
céus; mas aquele que me negar diante dos homens, também eu o
negarei diante de meu Pai, que está nos céus.
Romanos 10. 9 e 10: Se, com a tua boca, confessares Jesus como
Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os
mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para justiça e com
a boca se confessa a respeito da salvação.
Da mesma forma, alguém pode ter sido batizado, mas, na
verdade, pode não se tratar de um salvo (Atos 8. 13).

132
Catecúmenos

Agora, é impossível pensar que aqueles que compreendem o


grande amor de Deus por eles, em ter entregue seu Único Filho para
nossa salvação, não queiram e nem se esforcem em externar a
declaração de como o Deus que salva pecadores fez o que fez,
anunciando isto de maneira pública. Essa é a profissão de fé que deve
ser realizada no batismo e em toda a vida.
Foi assim que muitos que ouviram a respeito do evangelho, do
Senhor Jesus e de sua obra, quiseram ser batizados imediatamente.
Veja os seguintes textos: Atos 2. 41; 8. 36 e 10. 44 – 48.
Portanto, ainda que a Escritura não tenha uma imposição
definitiva para o momento correto do batismo, a ordenação e a prática
do batismo na Escritura são claras e evidentes e negligenciá-lo é
pecado.
Assim, sua administração é feita por outro fiel, e especialmente,
pelos ministros do evangelho, assim como foi com os apóstolos.
Mas, o poder do batismo não depende ou está vinculado a este ou
mesmo ao seu elemento. O poder do sacramento está nele mesmo, a
depender da fé daquele que o recebe e não é limitado ao momento de
sua administração.
De fato, como aconteceu na instituição dos sacramentos vetero-
testamentários, os sacramentos do novo testamento também produzem
seus efeitos após sua aplicação.
Em relação ao batismo, ele deve ser relembrado pelo cristão em
seu significado e a declaração que é feita no momento da profissão de
fé deve ser guardada como um juramento solene a fim de ser usada nos
momentos de fraqueza e de tentações na luta contra o pecado e o
diabo.
Desta maneira, o batismo é visto como um meio de graça, um
instrumento pelo qual o Senhor nos fortalece espiritualmente a partir
das promessas presentes em sua Palavra. E, diferentemente da Ceia do
Senhor, o ato do batismo é realizado uma única vez.

133
Catecúmenos

Em caso específico, a IPB possui determinação para o batismo de


pessoas oriundas de outras igrejas (SC - 2006 - Doc. 98), tais como:
ICAR, IURD, Mundial do Poder de Deus e Verbo da Vida.
Por fim, para a maioria dos evangélicos de nosso tempo há algo
no batismo que se apresenta como errado e que, para alguns,
historicamente é visto como uma herança do catolicismo romano e é: o
pedobatismo.
A igreja do Senhor, historicamente falando, sempre batizou seus
infantis. Veja Atos 2. 37 a 39:
37 E, ouvindo eles isto, compungiram-se em seu coração, e
perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos,
irmãos?
38 Pedro então lhes respondeu: Arrependei-vos, e cada um de vós
seja batizado em nome de Jesus Cristo, para remissão de
vossos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo.
39 Porque a promessa vos pertence a vós, a vossos filhos, e a todos
os que estão longe: a quantos o Senhor nosso Deus chamar.
A palavra empregada aqui para filhos é criança ou menino. Logo,
Pedro cogita que eles se arrependam e sejam batizados para remissão
de pecados e, por fim, alega que as crianças deveriam participar, pois,
a promessa também é para elas.
O batismo das crianças se apoia, segundo Bannerman, em 5
argumentos²:
1. O pacto da graça em relação ao seu povo é essencialmente o
mesmo em todos os períodos e sempre incluiu as crianças;
2. A igreja de Deus é, essencialmente, a mesma nos tempos
anteriores e posteriores e, sempre incluiu as crianças entre
seus membros;
3. A ordenança da admissão exterior da igreja, em sua
característica essencial e significado, é a mesma tanto nos
tempos do AT como nos tempos do NT; e sempre foi
administrada as crianças;

134
Catecúmenos

4. O princípio sobre o qual é administrada a ordenança inicial de


admissão na Igreja de Deus é o mesmo tanto nos tempos do
AT como nos tempos do NT, e sempre foi posto em prática
com as crianças;
5. A prática da administração da ordenança inicial é a mesma
tanto nos tempos do AT como nos tempos do NT, e sempre
incluiu as crianças.
Por causa destes entendimentos IPB coloca como sendo dever dos
pais encaminharem suas crianças ao batismo, por meio da sua fé,
ensinando-as o caminho do Senhor, para que, alcançando a idade
adulta não venham se desviar dele. Mas, se tornando responsáveis por
si mesmos, venham declarar sua fé de maneira pública na profissão de
fé.
Ao mesmo tempo, a igreja é responsável em ajudar estes pais
quanto ao cuidado com os menores, supervisionando, encorajando,
aconselhando e exortando para que sigam os ensinos do Senhor.
Desta forma, fica claro para os pais que eles são
responsabilizados pela conduta dos seus filhos, até que completem a
idade maior e passem a responder por suas ações.
Ainda há outra coisa que pode se tornar controverso nesse
sacramento e é: sua forma.
O batismo quanto a sua forma se torna controverso por conta da
existência de dois entendimentos: o batismo por imersão e o batismo
por aspersão.
É preciso dizer que as formas não alteram em nada o sacramento
e seu poder sobre o indivíduo. Porém, com elas o que se pretende é
obedecer a ordenança da forma bíblica.
A controvérsia se dá no significado da palavra que é usada para
batismo.
Para uns a palavra expressa imersão ou submersão, para outros a
palavra significa purificação e, assim, expressa o mesmo ato de

135
Catecúmenos

aspersão de sangue realizado por Moisés em Êxodo 24. 8 sobre o


povo, que significou o selo da aliança de Deus segundo suas palavras.
Por essa razão, uns usam a forma do batismo por imersão e outros
usam a forma de batismo por aspersão, sendo está última a forma
usada pelas igrejas reformadas.

2. Ceia do Senhor
A Ceia do Senhor é o segundo sacramento que foi ordenado pelo
Senhor Jesus Cristo antes de sua morte e que deve ser observado por
sua igreja.
Houve muita controvérsia quanto aos aspectos característicos
presentes neste sacramento, principalmente, em relação ao tipo da
presença de Cristo nos elementos.
Por sinal, há um feriado nacional que é proveniente de um evento
envolvendo este sacramento, o dia de corpus christi. Não há ordenança
bíblica para este feriado, mas, a tradição católica romana o instituiu
por meio do papa Urbano IV, o qual foi convencido por uma freira que
afirmou ter tido uma visão do Senhor ordenando que houvesse
celebrações voltadas a Eucaristia (Ceia do Senhor). O papa não ouviu,
mas, dias depois um suposto milagre que envolveu o sangramento da
hóstia usada na missa da eucaristia fez com que o Papa mudasse de
ideia e ordenasse as celebrações com procissão.
Agora, observe que há ordenança da parte do Senhor para a
realização deste sacramento pela sua igreja.
Vemos o próprio Cristo em declarações contundentes, afirmando
que “aquele que comer da (sua) minha carne e beber do (seu) meu
sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia” (João 6.
54)
De fato, Jesus chocou os seus ouvintes com essa e outras
afirmações semelhantes, mas, com ela ficou claro que o

136
Catecúmenos

comprometimento entre o salvador e os salvos é completo, profundo e


eterno. E isto é possível visivelmente apresentado neste sacramento.
Diferente do outro sacramento, este se trata de uma refeição,
igualmente ao sacramento da Páscoa que possuía a presença de dois
elementos: o pão ázimo e o sangue do cordeiro, que deveria ser
passado nos umbrais da casa; ambos simbolizavam, respectivamente, a
carne e o sangue de Jesus Cristo.
Assim, Jesus é reconhecido como o Cordeiro de Deus que tira o
pecado do mundo e também como o cordeiro pascal (João 1. 29, 36; 1
Coríntio 5. 7)
O próprio instituidor celebrou este sacramento como um exemplo
junto aos seus discípulos antes de sua entrega (morte), e o fez
apontando a sua duração (Lucas 22. 14 – 18).
Assim, todos os que creem que tiveram seus pecados justificados,
devem ser participantes deste sacramento, pois, nele há o significado
do nosso perdão na morte de Jesus Cristo bem como a união com ele
está representada nesta refeição.
Além disso, o critério que é exigido a aqueles que querem
participar da ceia é o da autoavaliação, o que nos exercita a
santificação, a manutenção da comunhão com Deus e com nossos
irmãos e afasta aqueles que são obstinados, rebeldes e ímpios de sua
participação. E, proporciona a disciplina do Senhor sobre aqueles que
não consideram essas questões antes de tomarem o sacramento.
Confira 1 Coríntios 11. 23 – 32:
23 Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei: que o
Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou pão;
24 e, havendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo que
é por vós; fazei isto em memória de mim.
25 Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice,
dizendo: Este cálice é o novo pacto no meu sangue; fazei isto,
todas as vezes que o beberdes, em memória de mim.

137
Catecúmenos

26 Porque todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes do


cálice estareis anunciando a morte do Senhor, até que ele
venha.
27 De modo que qualquer que comer do pão, ou beber do cálice do
Senhor indignamente, será culpado do corpo e do sangue do
Senhor.
28 Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma do pão e
beba do cálice.
29 Porque quem come e bebe, come e bebe para sua própria
condenação, se não discernir o corpo do Senhor.
30 Por causa disto há entre vós muitos fracos e enfermos, e muitos
que dormem.
31 Mas, se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos
julgados;
32 quando, porém, somos julgados pelo Senhor, somos corrigidos,
para não sermos condenados com o mundo.
É importante que aqueles que devem participar se encontrem
aptos biblicamente para tomar a ceia. Ou seja, não que tenhamos
dignidade para este feito - na verdade, não temos nenhuma -, mas, que
se respeite aquilo que a Escritura evoca nos versículos 28 a 32 como
advertência pertinaz.
Para tanto, é preciso entender algumas coisas sobre a Ceia do
Senhor:
1. A participação deste sacramento é exclusividade de cristãos
declarados, ou seja, daqueles que já passaram pelo batismo;
2. O pão não se transforma em carne e o vinho não se
transforma em sangue (Não há transubstanciação);
3. A presença de Cristo é real e espiritual na Ceia;
4. Os elementos são retirados do uso comum naquele momento
para o uso especial e espiritual, porém, não há neles poder
algum;
5. O poder também não está no celebrante;
6. Para participar da Ceia o comungante deve realizar sua
autoavaliação;
138
Catecúmenos

7. Caso encontre algum pecado, deve confessá-lo diante de


Deus (a depender do caso, também pode ser necessário
confessá-lo diante dos homens);
8. O comungante deve participar da Ceia com fé e entender que
este sacramento não se trata apenas de um memorial e, sim,
de um meio de graça para aumento da sua fé; assim, os
cristãos não devem esquivar-se dele, mas, esforçarem-se na
sua participação;
9. Para as crianças não é permitido participar deste sacramento,
por conta de sua imaturidade, ou seja, pela falta de
discernimento quanto ao significado deste sacramento;
10. A Ceia bem como o batismo, se tratam de elementos de culto;
por isso, não devem ser realizados fora deste contexto.

Referências
1
BANNERMAN. J. A Igreja de Cristo – Um Tratado Sobre A Natureza,
Poderes, Ordenanças, Disciplina e Governo da Igreja Cristã, PE: Ed. Os
Puritanos, 2014, Vol. I e II, pág. 535;
² Ibid. págs. 530 – 561;

139
Catecúmenos

Parte 8

Igreja Reformada

“Igreja
reformada,
sempre
reformando”

Muitos de nós não temos a mínima ideia do que aconteceu na


história para que as igrejas fossem da forma de que são, e, ainda mais,
do que aconteceu para a existência de duas ou várias igrejas.
Muitos não se dão conta de que eventos pontuais no século XVI
trouxeram a ruptura interna da Igreja Católica Romana, e que o mundo
ao qual conhecemos é da forma que é por causa desta ruptura.
Talvez, você nunca tenha ouvido falar sobre: indulgências, 95
teses, expiação limitada, sacerdócio universal, Lutero, Calvino,
Zwínglio, Armínio, e etc.
Talvez você não sabia que a bíblia era lida apenas pelos
catedráticos e clérigos da Igreja Católica Apostólica Romana; que a
missa era celebrada em Latim e o povo não sabia o que era dito; que
havia perdão de pecados por meio de cartas papais e que se comprava
esse perdão.
Pois é! A igreja nem sempre foi assim como a conhecemos hoje!
Mas, para que ela chegasse ao que chegou, com a bíblia em nossa
própria língua, com participação do povo no culto, e, principalmente,
com o verdadeiro entendimento sobre o evangelho, a pessoa de Cristo
e sua obra, a história nos revela os caminhos da Reforma Protestante
140
Catecúmenos

do século XVI e dos homens que foram levantados por Deus para que
houvesse luz após as trevas (Post tenebras lux).

1. A Reforma e Os Reformadores
A reforma do século XVI é um evento importante não apenas
para a igreja do Senhor, mas, para todo o mundo.
A ICAR era reconhecida como a verdadeira igreja do Senhor
Jesus. Contudo, as práticas das altas cúpulas estavam associadas com
interferência estatal e corrupção espiritual.
Pecados eram perdoados por meio de cartas escritas pelo Papa em
troca de dinheiro para construção da Basílica de S. Pedro, em Roma.
Pregadores comissionados pelo Papa iam de cidade em cidade, de
vilarejo em vilarejo, pregarem a remissão de pecados dos vivos e até
dos mortos assim que o tilintar da moeda fosse ouvido no fundo do
gazofilácio.
Um dos nomes mais conhecidos e importantes para a reforma
protestante é o de Martinho Lutero.
a. Martinho Lutero (1483 – 1546) – Ele foi um monge alemão
que possuía uma crise de consciência enorme quanto a sua
condição de pecador e o seu sentimento de culpa.
Para entender melhor o que ocorria com ele, seu mentor o
enviou para a fonte (para Roma).
Ao chegar em Roma, Lutero se deparou com corrupção e
imoralidade.
Os clérigos se prostituíam, o povo estava seduzido pelas bênçãos
das indulgências e sua crise apenas se agravou. Mas, ele havia sido
enviado para lá afim de estudar as Escrituras, e foi o que fez até se
tornar o professor da cadeira mais importante da universidade de
Wittemberg, na Alemanha.

141
Catecúmenos

Daí em diante, Lutero começou a ensinar o evangelho e a


justificação pela fé na obra de Jesus Cristo como condição para a
salvação do homem.
Lutero leu Romanos 1. 16 e 17 e viu que Deus havia enviado seu
Único Filho para fazer o que nenhum homem pode fazer por si.
Foi então que Lutero compôs suas 95 teses contra os ensinos das
indulgências, a construção da Basílica de S. Pedro, o tratamento
desonesto com os pobres e o perdão de pecados por meio de cartas
papais. Essas 95 teses foram pregadas por Lutero no dia 31 de outubro
de 1517, na porta da catedral de Wittemberg, para que todos pudessem
ler.
Anos depois, suas continuas ações, escritos, ensinos e sermões o
levaram a enfrentar a inquisição da ICAR, no que foi chamado de “a
Dieta de Worms” (local onde aconteceu).
Lutero foi chamado para se retratar a respeito dos seus
ensinamentos, e quando estava diante dos seus inquisidores ele temeu
estar errado. Pediu um tempo para pensar e melhor se preparar para
responder sobre todos os assuntos, o que foi concedido.
No dia seguinte, já mais tranquilo e preparado, Lutero enfrentou
seus acusadores com maestria e terminou sua defesa dizendo que:
“...não iria se retratar a respeito do ensinou, pois, não poderia ir de
encontro a sua própria consciência. Que Deus me ajude!”
Naquele momento, o povo que assistia a dieta se levantou e se
mostrou a favor de Lutero, ele saiu do recinto e foi logo protegido por
um Rei, passando 3 anos escondido em seu castelo. Lá, Lutero
traduziu a Bíblia para o alemão e teve início o evento que passou a ser
reconhecido como a reforma protestante (por protestar contra os
ensinos errados e heréticos da ICAR).
Lutero não queria romper com a ICAR, mas, ele queria reforma-
la, retirando tudo aquilo que estava em contradição a fé genuína e
verdadeira. Ele não queria retirar algumas tradições presente na ICAR,
somente aquilo que atrapalhava o povo de reconhecer a salvação por
meio da fé em Jesus Cristo.
142
Catecúmenos

Por outro lado, a liderança da ICAR reagiu sobre isso com um


movimento chamado de contra-reforma, então, Lutero foi
excomungado e os padres e pessoas que aderiram aos seus
posicionamentos passaram a serem chamados de protestantes.
Hoje há uma igreja protestante por nome de Igreja Luterana e que
leva consigo a maioria dos ensinos de Lutero.
b. Ulrich Zwinglio (1583 – 1531) - Paralela à reforma de Lutero,
surgiu na Suíça um reformador chamado Úlrico Zwínglio.
Era mais novo do que Lutero apenas 50 dias, mas tinha
formação e idéias diferentes do reformador alemão.
Úlrico Zwínglio nasceu na Suíça, no dia 1º de janeiro de 1484.
Seu pai era magistrado provincial. Sua família tinha uma boa posição
social e financeira, o que lhe permitiu estudar em importantes escolas
daquela época. Estudou na Universidade de Viena, de Basiléia e de
Berna. Graduou-se Bacharel em Artes, em 1504, e Mestre dois anos
depois.
Em 1506 Zwínglio tornou-se padre, embora o seu interesse pela
religião fosse mais intelectual do que espiritual. Em 1520 Zwínglio
passou por uma profunda experiência espiritual, causada pela morte de
um irmão querido. Dois anos depois iniciou um trabalho de pregação
do evangelho, baseando-se tão somente na Escritura Sagrada. O Papa
Adriano VI proibiu-o de pregar. Poucos meses depois, o governo de
Zurique, na Suíça, resolveu apoiar Zwínglio e ordenou que ele
continuasse pregando.
Em 1525 Zwínglio casou-se com uma viúva chamada Ana
Reinhard. Nesse mesmo ano Zurique tornou-se, oficialmente,
protestante. Outros cantões (estados) suíços também aderiram ao
protestantismo. As divergências entre estes cantões e os que
permaneceram fiéis a Roma iam-se aprofundando.
Em 1531 estourou a guerra entre os cantões católicos e os
protestantes, liderados por Zurique. Zwínglio, homem de gênio forte,
também foi para o campo de batalha, onde morreu no dia 11 de
outubro de 1531.
143
Catecúmenos

Zwínglio morreu, mas o movimento iniciado por ele não morreu.


Outros líderes deram continuidade ao seu trabalho. Suas idéias foram
reestudadas e aperfeiçoadas. As igrejas que surgiram como resultado
do movimento iniciado por Zwínglio são chamadas de igrejas
reformadas em alguns países, e igrejas presbiterianas em outros.
Dentre os líderes que levaram avante o movimento iniciado por
Zwínglio destacam-se Guilherme Farel e João Calvino.

c. João Calvino (1509 – 1564) - O homem responsável pela


sistematização doutrinária e pela expansão do protestantismo
reformado foi João Calvino. O “pai do protestantismo
reformado” é Zwínglio. Mas o homem que moldou o
pensamento reformado foi João Calvino.
Por isso, o sistema de doutrinas adotado pelas Igrejas Reformadas
ou Presbiterianas chama-se calvinismo.
João Calvino nasceu em Noyon, Picardia, França, no dia 10 de
julho de 1509. Seu pai, Geraldo Calvino, era advogado e secretário do
bispado de Noyon. Sua mãe, Jeanne leFranc, faleceu quando ele tinha
três anos de idade.
A família Calvino tinha amizade com pessoas importantes. E a
convivência com essas famílias levou João Calvino a aprender as
maneiras polidas da elite daquela época.
Geraldo Calvino usou o seu prestígio junto ao bispado para
conseguir a nomeação de seus filhos para cargos eclesiásticos,
conforme os costumes daquela época. Antes de completar doze anos,
João Calvino foi nomeado capelão de Lá Gesine, próximo de Noyon.
Não era padre, mas seu pai pagava um padre para fazer o trabalho de
capelania e guardava os lucros para o filho. Mais tarde essa capelania
foi trocada por outra mais rendosas.
Em agosto de 1523, logo depois de ter completado 14 anos, João
Calvino ingressou na Universidade de Paris. Ali completou seus
estudos de pré-graduação no começo de 1528. A seguir foi para a
Universidade de Orléans onde formou-se em Direito.
144
Catecúmenos

Em maio de 1531 faleceu Geraldo Calvino. E João, que estudara


Direito para satisfazer o pai, resolveu tornar-se pesquisador no campo
de literatura e filosofia. Para isto, matriculou-se no Colégio de França,
instituição humanista fundada pelo rei Francisco I. Estudou Grego,
Latim e Hebraico. Tornou-se profundo conhecedor dessas línguas.
Em 1532 João Calvino lançou o seu primeiro livro: Comentários
ao Tratado de Sêneca sobre a Clemência.
Os intelectuais elogiaram muito a obra. Era um trabalho de
grande erudição. Mas o público ignorou o lançamento – poucos
compraram o livro.
João Calvino converteu-se a Jesus Cristo entre abril de 1532 e o
início de 1534. Não se sabe detalhes da sua experiência. Mas a partir
daí Deus passou a ocupar o primeiro lugar em sua vida.
No dia 1º de novembro de 1533 Nicolau Cop, amigo de Calvino,
tomou posse como reitor da Universidade de Paris. O seu discurso de
posse falava em reformas, usando linguagem semelhante às idéias de
Lutero. E o comentário geral era que o discurso tinha sido escrito por
Calvino. O rei Francisco I resolveu agir contra os luteranos. Calvino e
Nicolau Cop foram obrigados a fugir de Paris.
No dia 4 de maio de 1534 Calvino compareceu ao palácio do
bispo de Noyon, a fim de renunciar ao cargo de capelão. Foi preso,
embora por um período curto. Libertado logo depois, achou melhor
fugir do país. E no final de 1535 chegava a Basiléia cidade protestante,
onde se sentiu seguro.
Em março de 1536 Calvino publicou a sua mais importante obra –
Instituição da Religião Cristã. O prefácio da obra era uma carta
dirigida ao rei da França, Francisco I, defendendo a posição
protestante.
Mas a Instituição era apenas uma apresentação ordenada e
sistemática da doutrina e da vida cristã. A edição definitiva só foi
publicada em 1559.

145
Catecúmenos

A Instituição da Religião Cristã, conhecida como Institutas de


Calvino, é a mais completa e importante obra produzida no período da
Reforma.
Em julho de 1536 Calvino chegou a Genebra. A cidade tinha se
declarado oficialmente protestante no dia 21 de maio daquele ano. E
Guilherme Farel lutava para reorganizar a vida religiosa da cidade.
Calvino estava hospedado em uma pensão, quando Farel soube
que ele estava na cidade. Foi ao seu encontro e o convenceu a
permanecer ali para ajudá-lo na reorganização da cidade.
Calvino era bem jovem – tinha apenas 27 anos. A publicação das
Institutas fizera dele um dos mais importantes líderes da Reforma na
França. Mas o seu início em Genebra foi muito modesto. Inicialmente
ele era apenas um preletor de Bíblia. Um ano depois foi nomeado
pregador. Mas enquanto isso elaborava as normas que pretendia
implantar e fazer de Genebra uma comunidade modelo.
João Calvino teve muitos adversários e opositores em Genebra. À
medida que ele ia apresentando as normas que pretendia implantar na
cidade, a fim de torná-la uma comunidade modelo, a oposição ia
crescendo. Finalmente a oposição venceu as eleições. E no dia 23 de
abril de 1538, Calvino e Farel foram banidos de Genebra.
Calvino foi para Estrasburgo, onde pastoreou uma igreja
constituída de refugiados franceses. Ali viveu os dias mais felizes de
sua vida. Casou-se. A escolhida se chamava Idelette de Bure. Era
holandesa. E viúva. Genebra, enquanto isso, passava por várias
mudanças. Os adversários de Calvino foram derrotados. E, no dia 13
de setembro de 1541, ele entrava novamente em Genebra. Voltava por
insistência de seus amigos.
Voltava fortalecido. E, enfim, pôde reorganizar a vida religiosa da
cidade.
Calvino introduziu o estudo do seu catecismo, o uso de uma nova
liturgia, um governo eclesiástico presbiterial, disciplinou a vida civil,
estabeleceu normas para o funcionamento do comércio e fez de
Genebra uma cidade modelo.
146
Catecúmenos

No dia 29 de março de 1549 Idelette faleceu. Mas Calvino


continuou o seu trabalho. Pesquisava, escrevia comentários bíblicos e
tratados teológicos, administrava, pastoreava, incentivava...
Em 1559 fundou a Academia Genebrina – a Universidade de
Genebra. Jovens de vários países vieram estudar ali e levaram a
semente do evangelho na volta à sua terra. Esses jovens se espalharam
pela França, Países Baixos, Inglaterra, Escócia, Alemanha e Itália.
João Calvino faleceu em Genebra, no dia 27 de maio de 1564.
Mas a sua obra permaneceu viva.

d. John Knox (1505/15?-1587) - Os seguidores do movimento


iniciado por Zwínglio e estruturado por Calvino se
espalharam imediatamente por toda a Europa. Na França eles
eram chamados de huguenotes; na Inglaterra, puritanos; na
Suíça e Países Baixos, reformados; na Escócia,
presbiterianos.
A Escócia é uma país muito importante na história do
protestantismo reformado. Foi lá que surgiu o nome presbiteriano. Por
isto, alguns livros de história afirmam que o presbiterianismo nasceu
na Escócia.
O grande nome da reforma escocesa é John Knox. Pouco se sabe
a respeito dos primeiros anos de sua vida. Supõe-se que tenha nascido
entre os anos 1505 a 1515. Estudou teologia e foi ordenadosacerdote,
possivelmente em 1536. Não se sabe quando e em que circunstâncias
ocorreu a sua conversão.
Em 1547 foi levado para a França, onde ficou preso dezenove
meses, por causa de sua fé. Libertado, foi para a Inglaterra, onde
exerceu o pastorado por dois anos. Em 1554 teve que fugir da
Inglaterra, indo, inicialmente, para Frankfurt, e depois para Genebra,
onde foi acolhido por Calvino. Em 1559 voltou para a Escócia, onde
liderou o movimento de reforma religiosa. Sua influência extrapolou a
área religiosa, atingindo também a vida política e social do país. Sob a
sua influência, o parlamento escocês declarou o país oficialmente
147
Catecúmenos

protestante, em dezembro de 1567. A igreja organizada por ele e seus


auxiliares recebeu o nome de Igreja Presbiteriana. John Knox faleceu
no dia 24 de novembro de 1587.
O presbiterianismo foi levado da Escócia para a Inglaterra; de lá,
para os Estados Unidos da América.
Em 1726 teve início um grande despertamento espiritual nos
Estados Unidos. Este despertamento levou os presbiterianos a se
interessarem por missões estrangeiras. Missionários foram enviados
para vários países, inclusive o Brasil. No dia 12 de agosto de 1859
chegou ao nosso país o primeiro missionário Confessionalidade e
Símbolos de Fé presbiteriano: Ashbel Green Simonton (este foi
fundador da Igreja Presbiteriana do Brasil).

2. As Doutrinas da Graça
A Teologia Reformada enfatiza as doutrinas da Graça. Ás vezes,
estas doutrinas são resumidas em inglês pelo uso de acróstico
T.U.L.I.P. (em Português seria D.E.E.G.P.):
a. Total depravity = Depravação total
b. Unconditional election = Eleição incondicional
c. Limited atonement = Expiação limitada
d. Irresistible grace = Graça irresistível
e. Perseverance of the saints = Perseverança dos santos

a. Total Depravity (Depravação total) - Todos os homens nascem


totalmente depravados, incapazes de se salvar ou de escolher o
bem em questões espirituais.
Isso não quer dizer que todas as pessoas são tão más quanto elas
poderiam ser. Significa, antes, que todos os seres humanos são
afetados pelo pecado em todo campo do pensamento e da conduta, de
forma que nada do que vem de alguém, separado da graça
regeneradora de Deus, pode agradá-lo. À medida que nosso
148
Catecúmenos

relacionamento com Deus é afetado, nós somos tão destruídos pelo


pecado, que ninguém consegue entender adequadamente Deus ou os
caminhos de Deus. Tampouco somos nós que buscamos Deus, e, sim,
é ele quem primeiramente age dentro de nós para levar-nos a agir
assim.
Entre os constantes mal-entendidos do termo “Depravação Total”,
uns entendem que ele quer dizer que o homem é incapaz de fazer
qualquer tipo de bem, que lhe é impossível fazer o bem em todo e
qualquer sentido da Palavra. Mas não é isso que queremos dizer com o
termo Depravação Total. Acreditamos que ainda o homem é capaz de
realizar: (1) o bem natural; (2) o bem civil ou a justiça civil; e (3)
externamente, o bem religioso. Até mesmos os incrédulos fazem algo
de bom.

b. Unconditional Election (Eleição incondicional) - Deus


escolheu dentre todos os seres humanos decaídos um grande
número de pecadores por graça pura, sem levar em conta
qualquer mérito, obra ou fé prevista neles.
Uma ênfase na eleição incomoda muitas pessoas, mas o problema
que as preocupa não é realmente a eleição; diz respeito à depravação.
Se os pecadores são tão desamparados em sua depravação, como a
Bíblia diz que são, incapazes de conhecer a Deus e relutantes em
buscá-lo, então, o único meio pelo qual eles podem ser salvos é
quando Deus toma a iniciativa de mudá-los e salvá-los. É isso que
significa eleição. É Deus escolhendo salvar aqueles que, sem sua
soberana escolha e subsequente ação, certamente Pereceriam.
Antes da criação do mundo, em sua simples e livre graça e amor,
Deus elegeu a muitos pecadores para uma completa e final salvação,
contudo, sem prever a fé ou as boas obras, ou qualquer outra coisa que
lhes servisse de condição ou causa, que movesse Deus a escolhê-los.
Que seja afirmado, a base da eleição não estava neles, mas em Si
mesmo.

149
Catecúmenos

c. Limited Atonement (Expiação limitada) - Jesus Cristo morreu


na cruz para pagar o preço do resgate somente dos eleitos;
O nome é, potencialmente, enganoso, pois ele parece sugerir que
os reformadores desejam de alguma forma limitar o valor da morte de
Cristo. Não é o caso. O valor da morte de Cristo é infinito. A questão é
saber qual é o propósito da morte de Cristo e o que ele realizou com
ela. Cristo pretendia fazer da salvação algo não mais que possível? Ou
ele realmente salvou aqueles por quem morreu? A Teologia
Reformada acentua que Jesus realmente fez a propiciação pelos
pecados daqueles a quem o Pai escolhera. Ele realmente aplacou a ira
de Deus para com seu povo, assumindo a culpa sobre si mesmo,
redimindo-os verdadeiramente e reconciliando verdadeiramente
aquelas pessoas específicas com Deus. Um nome melhor para
expiação “limitada” seria redenção “particular” ou “específica”.
A visão reformada sustenta que a expiação de Cristo foi destinada
e tencionada só para eleitos. Cristo deu sua vida por suas ovelhas - é só
por suas ovelhas. Além disso, a expiação garantiu a salvação para
todos os eleitos. A expiação foi uma obra real de redenção e não
simplesmente potencial. Nesta visão, não há possibilidade de que o
desígnio e intenção de Deus para a expiação sejam frustrados. O
propósito de Deus na salvação é infalível.
d. Irresistible Grace - (Graça Irresistível) - A Graça de Deus é
irresistível para os eleitos, isto é, o Espírito Santo acaba
convencendo e infundindo a fé salvadora neles.
Abandonados em nós mesmos, nós resistimos à graça de Deus.
Mas, quando Deus age em nosso coração, regenerando-nos e criando
uma vontade renovada, então, o que antes era indesejável torna-se
altamente desejável, e voltamo-nos para Jesus da mesma forma como
antes fugíamos dele. Pecadores arruinados resistem à graça de Deus,
mas a sua graça regeneradora é efetiva. Ela supera o pecado e realiza
os desígnios de Deus.
Nós, que antes éramos filhos da ira e estávamos espiritualmente
mortos, nos tornamos os "chamados" pela virtude do poder e da

150
Catecúmenos

eficácia da vocação interior de Deus. Em sua graça, o Espírito nos dá


olhos para ver o que não veríamos e ouvidos para ouvir o que de outra
maneira não ouviríamos.
e. Perseverance of Saints (Perseverança dos Santos) - Todos os
eleitos vão perseverar na fé até o fim e chegar ao céu. Nenhum
perderá a salvação.
Um nome melhor seria “perseverança de Deus para com os
santos”, mas ambas as ideias estão realmente juntas. Deus persevera
conosco, protegendo-nos de deixar a fé, que certamente aconteceria se
ele não estivesse conosco. Mas, porque ele persevera, nós também
perseveramos. Na realidade, perseverança é a prova definitiva de
eleição.
Temos segurança porque a salvação é do Senhor e somos feitura
sua. Ela dá o Espírito Santo a todo crente como uma garantia de que
completará o que começou. Semelhantemente, Deus selou todo crente
com o Espírito Santo. Ele nos marcou de maneira indelével e nos deu
um pagamento antecipado ou sinal que garante que concluirá a
transação.

3. Os 5 Solas
Durante muito, os primeiros cristãos foram perseguidos e até
mortos por causa de Cristo. A situação mudou quando o imperador
romano Constantino, 313 d.C., institui uma série de benefícios ao
Cristianismo, tais como: isenção de impostos, terras, pagamento dos
bispos e ajuda na construção de templos. Poder e dinheiro passaram a
influenciar a vida da Igreja, que, em 392 d.C., se fundiu com o Estado,
tornando-se a mesma coisa.
Com isso, muitos passaram a fazer parte da “nova religião”, não
por convicção e fé, mas por favores e benefícios. Aquela vida
comunitária, aquele amor cristão, o partir o pão de casa em casa e o
socorrer aos necessitados viraram práticas do passado. O Cristianismo

151
Catecúmenos

começou a decair moralmente, e seus fiéis não corresponderem à


Palavra e à vontade de Deus.
Já sabemos que na idade média, quem mandava na Igreja era o
Papa. Naquela época, ele tinha plenos poderes para instituir e derrubar
reis e reinos: A igreja passou de perseguida a perseguidora, e muitos
sofreram nas mãos dessa “Igreja Cristã”. Foi criado o “clero”, que era
uma liderança muito mais política que espiritual, e mantinha uma
distância enorme do povo. O clero não parecia de forma alguma com o
grupo dos apóstolos, que viviam em meio ao povo.
Veja alguns erros que a Igreja neste período:
380 d.C. – Oração pelos mortos
535 d.C. – Instituição das procissões
538 d.C. – Celebração da missa de costa para o povo
757 d.C. – Adoração de imagens
884 d.C. – Canonização de santos
885 d.C. – Adoração da “Virgem Maria”
1022 d.C. – Legalização da penitência por dinheiro
1059 d.C. – Aceitação da transubstanciação dos elementos da
Ceia (acreditar que o pão e o vinho se transformam verdadeiramente
no corpo e sangue de Cristo, de forma tal, que embora pareça pão e
vinho, o que você esta comendo e bebendo é o próprio e real corpo e
sangue de Jesus).
1215 d.C. – Adoção da confissão auricular
1470 d.C. – Invenção do rosário
Diante de tantas coisas erradas e corrompidas uma Reforma era
urgente.
A palavra latina Solas significa “somente”. Os reformadores
definiram cinco lemas usando essas palavras e suas variações.
Vejamos.

152
Catecúmenos

a. Sola Scriptura – Somente as Escrituras


A Bíblia era conhecida somente pelos estudiosos da Igreja
Católica que a utilizavam como bem entendiam. A Igreja defendia
práticas totalmente estranhas à Palavra de Deus ensinado “doutrinas
que são preceitos de homens” (Marcos 7. 7). O movimento da
Reforma disse “não” a esse procedimento da Igreja Romana e afirmou
Sola Scriptura, ou seja, somente cremos e praticamos o que a Bíblia
ensina, somente a Bíblia deve ser a nossa regra de fé e prática.
Os reformadores se empenharam em traduzir a Bíblia para que
todas as pessoas tivessem acesso a ela e pudessem julgar os ensinos da
Igreja por meio do próprio estudo da Palavra. Muitas vezes não damos
o devido valor ao fato de hoje termos a facilidade da Palavra de Deus
impressa em nossa própria língua e não a estudamos tanto quanto
deveríamos. Lembre-se: devemos ser guiados somente pela Escrituras.
b. Solus Christus – Somente Cristo
Cremos que a Bíblia é a nossa única regra de fé e prática e,
estudando-a, verificamos que Cristo é o tema central das Escrituras.
Quando a Palavra de Deus é tomada como regra de vida,
obrigatoriamente termos Cristo como centro de nosso viver.
Jesus mesmo afirmou que as Escrituras testificam dele (João 5.
39). Ao caminhar com os discípulos de Emaús, após ter ressuscitado,
Cristo falou sobre o fato de que toda a Escritura testificava dele e que
aquelas coisas deveriam acontecer (Lucas 24. 25 - 27).
A teologia não pode estar centrada no homem, mas em Cristo. A
igreja Romana, jeitosamente, colocava o homem no centro. Eram as
necessidades do homem que precisavam ser atendidas e não a vontade
de Deus expressa em sua Palavra. Devemos nos lembrar das palavras
do apóstolo Paulo aos gálatas: “Porventura, procuro eu, agora, o
favor dos homens ou o de Deus? Ou procuro agradar a homens? Se
agradasse ainda a homens, não seria servo de Cristo” (Gálatas 1. 10).
Somos servos de Cristo e não de homens.
Portanto, somente Cristo.

153
Catecúmenos

c. Sola Gratia – Somente a Graça


A Igreja Romana ensinava que a graça de Deus era concedida ao
crente à medida em que ele cooperava com ela. Os reformadores se
levantaram contra isso afirmando a verdade bíblia de que a graça é
imerecida. Em momento algum, mesmo que realizando um ato de
extrema bondade aos olhos dos homens, somos dignos de qualquer
merecimento da parte de Deus. Afirmar que o homem coopera com a
graça de Deus é buscar uma pregação centrada nos homens e não em
Deus, “porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o
realizar, segundo a sua boa vontade” (Filipenses 2. 13). Lembramos,
ainda, das palavras de Paulo aos Romanos: “Assim, pois, não depende
de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua
misericórdia” (Romanos 9. 16).
Mesmo no meio evangélico, por vezes, há o equívoco de se
pregar uma graça divina submissa à vontade do homem. Dizem os
pregadores que, pedindo com insistência, fazendo jejuns, “correntes”,
e coisas parecidas, Deus vai responder ao que se está pedindo.
Dificilmente se fala sobre a condição miserável do homem em sua
natureza pecaminosa e sua necessidade total da maravilhosa graça de
Deus. Precisamos urgentemente reafirmar: somente a graça!
d. Sola Fide – Somente pela Fé
A Igreja Romana não negou a necessidade da fé para a salvação.
Porém, eles referiam-se a uma fé que, na verdade, era um mero
consentimento ao ensino da igreja. Não é essa a fé da qual fala bíblia.
Os reformadores demonstraram que a fé que traz a salvação é a
confiança na promessa de Deus e Cristo de salvar pecadores.
Somos tornados justo pelo sacrifício perfeito de Cristo, pois
somente ele é perfeitamente justo. A justiça de Cristo é imputada a nós
pela fé. Não se trata de uma fé, que também seria “cooperativa”, mas
da fé que nos é concedida por Deus: “Porque pela graça sois salvos,
mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus” (Efésios 2. 8).

154
Catecúmenos

Devemos ter fé, mas é preciso esforço, empenho, pois podemos


“cair da graça”, é o que dizem muitas pregações. A palavra de Deus
nos ensina: somente pela fé!
e. Soli Deo Gloria – Somente glória a Deus
“Prega a Escritura é pregar a Cristo; pregar é Cristo é pregar a
cruz; pregar a cruz é pregar a graça; pregar a graça é pregar a
justificação; pregar a justificação é atribuir o todo da salvação à glória
de Deus e responder a essa Boa Nova em grata obediência por meio de
nossa vocação no mundo.” (Michael Horton, “Os Sola’s da Reforma”
in Reforma Hoje, Editora Cultura Cristã, 1999, pág. 124).
Essa frase de Michael Horton resume bem o que representam os
sola’s da Reforma. Tudo resulta na glória de Deus. Todas a glória é
devida ao seu nome. Deus revelou-se através das Escrituras; enviou
seu Filho para morrer no lugar de seus escolhidos; concedendo,
somente por sua graça, a salvação pela fé. Os alcançados pela graça
divina rendem louvores em espírito e em verdade ao Deus Todo-
Poderoso.
Devemos nos perguntar se reconhecemos de fato que somente
Deus é digno de adoração. É isso que transparece em nossos cultos?
Neles, exalta-se o nome de Deus, ou o “grande” pregador, o pastor que
cura, o conjunto musical? Os pregadores, em seus púlpitos, estão
preocupados em render glória a Deus por meio de sua pregação ou
somente em fornecer mensagens “confortadora” para o rebanho, que
sirvam como um momento de “relaxamento” e “descontração”?
Devemos ter em mente que toda glória deve ser dada somente a Deus.

4. Confessionalidade
Confessionalidade é um termo que se refere a possuir uma
confissão, seja ela declarada ou privada, daquilo se crê como dogmas
básicos ou primários da fé.

155
Catecúmenos

Todos nós, independentemente da religião, possuímos uma


confissão, que pode ser declarada/pública ou privada.
De maneira prática a confessionalidade na igreja se expressa a
partir de documentos elaborados com o fim de tornar público e
conhecido através de declarações aquilo que se crê.
Isto é feito a partir de documentos que são denominados de
símbolos de fé, confissão, catecismo, manual e todos eles também se
apresentam como instrumentos para ensinar outras gerações sobre a fé.
Esses documentos sempre estiveram presentes na igreja de Cristo
e, com o passar do tempo, a produção deles se tornou extensa.
A criação geralmente se dá pela necessidade em dado momento e
contexto, que pode ser: desde o ensino aos catecúmenos até a
confrontação de heresias perniciosas.
Quanto a produção destes documentos: há documentos elaborados
por uma só pessoa e documentos que foram elaborados por concílios,
os quais foram formados para debater a respeito de determinado
assunto caro à igreja até ser formando um consenso em relação ao
assunto.

156
Catecúmenos

Parte 9

IPB

1. Breve Histórico
O nome da igreja se dá pelo seu sistema de governo.
Diferentemente das igrejas episcopais, que são governadas por um
bispo, a igreja presbiteriana é governada por um colegiado de
presbíteros. Por isso, é chamada de igreja presbiteriana.
O surgimento do presbiterianismo no Brasil resultou do
pioneirismo e desprendimento do Rev. Ashbel Green Simonton (1833-
1867). Nascido em West Hanover, na Pensilvânia, Simonton estudou
no Colégio de Nova Jersey (a futura Universidade de Princeton) e
inicialmente pensou em ser professor ou advogado. Alcançado por um
reavivamento em 1855, fez sua profissão de fé e pouco depois
ingressou no Seminário de Princeton. Um sermão pregado por seu
professor, o conhecido teólogo Charles Hodge, levou-o a considerar o
trabalho missionário no estrangeiro. Três anos depois, candidatou-se
perante a Junta de Missões Estrangeiras da Igreja Presbiteriana dos
Estados Unidos, citando o Brasil como o campo de sua preferência.
Dois meses após sua ordenação, embarcou para o Brasil, chegando ao
Rio de Janeiro em 12 de agosto de 1859, aos 26 anos de idade.
Início (1860-1869)
Em 22 de abril de 1860, Simonton dirigiu o seu primeiro culto em
português. Em janeiro de 1862, recebeu os primeiros membros, sendo
fundada a Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro. No breve período em
que viveu no Brasil, Simonton, auxiliado por alguns colegas, fundou o
primeiro jornal evangélico do país (Imprensa Evangélica, 1864), criou
o primeiro presbitério (1865) e organizou um seminário (1867). O
Rev. Simonton morreu vitimado pela febre amarela aos 34 anos, em
157
Catecúmenos

1867 (sua esposa, Helen Murdoch Simonton, havia falecido três anos
antes).
Os principais colaboradores do pioneiro nesse período foram seu
cunhado Alexander L. Blackford, que em 1865 organizou as igrejas de
São Paulo e Brotas; Francis J. C. Schneider, que trabalhou entre os
imigrantes alemães em Rio Claro, lecionou no seminário do Rio e foi
missionário na Bahia; e George W. Chamberlain, grande evangelista e
operoso pastor da Igreja de São Paulo. Os quatro únicos estudantes do
"seminário primitivo" foram também grandes obreiros: Antônio
Bandeira Trajano, Miguel Gonçalves Torres, Modesto Perestrello
Barros de Carvalhosa e Antônio Pedro de Cerqueira Leite.
Outras igrejas organizadas no primeiro decênio foram as de
Lorena, Borda da Mata (Pouso Alegre) e Sorocaba. O homem que
mais contribuiu para a criação dessas e outras igrejas foi o Rev. José
Manoel da Conceição (1822-1873), um ex-sacerdote que se tornou o
primeiro brasileiro a ser ordenado ministro do evangelho (1865). Ele
visitou incansavelmente dezenas de vilas e cidades no interior de São
Paulo, Vale do Paraíba e sul de Minas, pregando o evangelho da graça.
Consolidação (1869-1888)
Simonton e seus companheiros eram todos da Igreja Presbiteriana
do Norte dos Estados Unidos (POUSA). Em 1869 chegaram os
primeiros missionários da Igreja do Sul (PCUS): George Nash Montou
e Edward Lane. Eles se fixaram em Campinas, região onde havia
muitas famílias norte-americanas que vieram para o Brasil após a
Guerra Civil no seu país (18611865).
Em 1870, Morton e Lane fundaram a igreja de Campinas e em
1873 o famoso, porém efémero, Colégio Internacional. Os
missionários da PCUS evangelizaram a região da Mogiana, o oeste de
Minas, o Triângulo Mineiro e o sul de Goiás. O pioneiro em várias
dessas regiões foi o incansável Rev. John Boyle.
Os obreiros da PCUS também foram os pioneiros Amazônia). Os
principais foram John Rockwel] Smith, fundador da igreja do Recife
(1878); DeLacey Wardlaw, pioneiro em Fortaleza; e o Dr. George W.
158
Catecúmenos

Butler, o "médico amado' de Pernambuco. O mais conhecido dentre os


primeiros pastores brasileiros do Nordeste foi o Rev. Belmiro de
Araújo César, patriarca de uma grande família presbiteriana.
Enquanto isso, os missionários da Igreja do Norte dos Estados
Unidos também davam continuidade ao seu trabalho, auxiliados por
novos colegas. Seus principais campos eram Bahia e Sergipe, onde
atuou, além de Schneider e Blackford, o Rev. John Benjamin Kolb;
Rio de Janeiro, cuja igreja inaugurou o templo em 1874, e Nova
Friburgo, onde trabalhou o Rev. John M. Kyle; Paraná, cujos pioneiros
foram Robert Lenington e George A. Landes; e especialmente São
Paulo. Na capital paulista, o casal Chamberlam fundou em 1870 a
Escola Americana, que mais tarde veio a ser o Mackenzie College,
dirigido pelo educador Horace Manley Lane. No interior da província
destacou-se o Rev. João Fernandes Dagama, português da Ilha da
Madeira. No Rio Grande do Sul, trabalhou por algum tempo o Rev.
Emanuel Vanorden, um judeu holandês.
Entre os novos pastores -nacionais" desse período estavam
Eduardo Carlos Pereira, José Zacarias de Miranda, Manuel Antônio de
Menezes, Delfino dos Anjos Teixeira, João Ribeiro de Carvalho Braga
e Caetano Nogueira Júnior. As duas igrejas norteamericanas também
enviaram notáveis missionárias educadoras: Mary Parker Dascomb,
Elmira Kuhl, Nannie Henderson e Charlotte Kemper.
Dissensão (1888-1903)
Em setembro de 1888 foi organizado o Sínodo da Igreja
Presbiteriana do Brasil, que assim tornou-se autônoma, desligando-se
das igrejas-mães norte-americanas. O Sínodo compunha-se de três
presbitérios – Rio de Janeiro, Campinas-Oeste de Minas e Pernambuco
– e tinha vinte o veterano Rev. Blackford. O Sínodo criou o Seminário
Presbiteriano, elegeu seus dois primeiros professores e dividiu o
Presbitério de Campinas e Oeste de Minas em dois: São Paulo e
Minas.
Em 1957, a IPB contava com seis sínodos, 41 presbitérios, 489
igrejas, 883 congregações, 369 ministros, 127 candidatos ao

159
Catecúmenos

ministério, 89.741 membros comungantes e 71.650 não-comungantes.


Os primeiros presidentes do Supremo Concilio foram os Revs.
Guilherme Kerr, José Carlos Nogueira, Natanael Cortei, Benjamim
Moraes Filho e José Borges dos Santos Júnior.
A Campanha do Centenário foi lançada em 1946, tendo como
objetivos avivamento espiritual, expansão numérica, consolidação das
instituições da igreja, afirmação da fé reformada e homenagem aos
pioneiros. A Comissão Central do Centenário, organizada em 1948,
enfrentou muitas dificuldades. Após 1950, a campanha ganhou ímpeto.
A Comissão Unida do Centenário (IPB, IPI e Igreja Reformada
Húngara) planejou uma grande campanha evangelística com os
pregadores Edwyn Orr e Wilharri, Dunlap que se estendeu por todo o
país em 1952. Outras medidas foram a criação do Museu
Presbiteriano, do Seminário do Centenário (Vitória, ES) e do jornal
Brasil Presbiteriano, resultante da fusão de O Puritano e Norte
Evangélico (1958). A 18ª Assembleia da Aliança Presbiteriana
Mundial reuniu-se em São Paulo de 27 de julho a 6 de agosto de 1959.
O lema do centenário foi: “Um ano de gratidão por um século de
bênçãos”.

2. Símbolos de Fé
A Igreja Presbiteriana do Brasil adota, como exposição das
doutrinas bíblicas, a Confissão de Fé de Westminster, o Catecismo
Maior e o Catecismo Menor ou Breve Catecismo. Nossa única norma
de fé e conduta é a Bíblia Sagrada. Todavia, em virtude de a Bíblia
não apresentar as doutrinas já sistematizadas, adotamos a Confissão de
Fé e os Catecismos como exposição do sistema de doutrinas ensinadas
na Escritura.
A Confissão de Fé e os Catecismos são conhecidos,
historicamente, como Símbolos de Westminster. Eles foram
elaborados pela Assembléia de Westminster (1643-1648), convocaria
pelo Parlamento inglês para elaborar novos padrões doutrinários,
litúrgicos e administrativos para a Igreja da Inglaterra. Para se
160
Catecúmenos

entender as circunstâncias da formulação desse importante documento,


é preciso relembrara história da Reforma Inglesa

2.1. A Assembleia de Westminster


Tiago foi sucedido no trono por seu filho Carlos 1, que reinou de
1625 a 1649. Seu principal conselheiro era William Laud, arcebispo de
Cantuária, um adepto da teologia amimaria e da uniformidade
religiosa. Em 1637, Carlos I e Laud tentaram fazer com que os
presbiterianos da Escócia se submetessem ao governo e culto da Igreja
da Inglaterra, com seu sistema episcopal (bispos e arcebispos).
No ano seguinte, os escoceses assinaram um Pacto Nacional no
qual se comprometiam a defender o presbiterianismo e entraram em
guerra contra o rei.
Carlos precisava de mais homens e dinheiro para lutar contra os
escoceses e assim foi forçado a convocara eleição de um Parlamento.
Para seu horror, os ingleses elegeram um Parlamento puritano. Ele
rapidamente dissolveu o parlamento e convocou nova eleição, que
resultou em uma maioria puritana ainda mais expressiva. O rei
novamente tentou dissolver o Parlamento, que entrou em guerra contra
ele. Estava iniciada a guerra civil inglesa.
Entre outras coisas, esse Parlamento puritano voltou sua atenção
para a questão religiosa. Fazia quase um século que os puritanos
vinham insistindo que a Igreja da Inglaterra tivesse uma forma de
governo, doutrinas e culto mais puros. Assim sendo, o Parlamento
convocou a "Assembleia de Teólogos de Westminster", composta de
121 dos ministros mais capazes da Inglaterra, além de 20 membros da
Câmara dos Comuns e 10 membros da Câmara dos Lordes. Todos os
ministros, exceto dois, eram da Igreja da Inglaterra. Praticamente
todos eram puritanos, calvinistas. Infelizmente, não havia unanimidade
entre eles quanto à forma de governo: a maioria era composta de
presbiterianos, muitos eram partidários da forma congregacional e
alguns defendiam o episcopalismo. Os debates mais longos e
acalorados foram travados nessa área.
161
Catecúmenos

A Assembleia de Westminster iniciou seus trabalhos na majestosa


abadia com esse nome, em Londres, no dia 1' de julho de 1643, e
continuou em atividade durante cinco anos e meio. Nesse período,
houve 1163 reuniões do plenário e centenas de reuniões de comissões
e subcomissões.

2.2. O Trabalho da Assembleia


Durante seus cinco anos e meio de atividade, a Assembleia de
Westminster produziu os chamados Padrões Presbiterianos. Ao ser
concluído, cada documento era encaminhado ao Parlamento como o
"humilde conselho" da Assembleia. O Parlamento não aprovou
automaticamente o trabalho da Assembleia, mas gastou muito tempo
estudando e discutindo cada documento.
Os Padrões Presbiterianos, na ordem em que foram concluídos
pela Assembleia, são os seguintes: (a) Diretório do Culto Público a
Deus: concluído em dezembro de 1644 e aprovado pelo Parlamento
em janeiro de 1645. Substituiu o Livro de Oração Comum. (b) Forma
de Governo Eclesiástico e Ordenação: concluída em novembro de
1644 e aprovada pelo Parlamento em 1648. Era uma forma
presbiteriana de governo e substituiu o episcopalismo na Igreja da
Inglaterra. (c) Confissão de Fé: foi concluída em dezembro de 1646 e
aprovada pelo Parlamento em março de 1648. (d) Catecismos Maior e
Breve: foram concluídos no final de 1647 e aprovados pelo
Parlamento em setembro de 1648. (e) Saltério: versão métrica dos
salmos para o culto; havia várias versões concorrentes, mas a de
Francis Rous, membro do Parlamento e da Assembleia, foi finalmente
aprovada em novembro de 1645, após uma extensa revisão. Foi
aprovado pelo Parlamento no ano seguinte.

2.3. A Confissão de Fé e os Catecismos


O esboço inicial da Confissão de Fé de Westminster foi preparado
por duas comissões a partir de outubro de 1644, com a plena
participação dos representantes da Igreja da Escócia. O plenário da
162
Catecúmenos

Assembleia discutiu o documento de julho de 1645 a dezembro de


1646. Alguns dos debates foram acalorados, especialmente sobre
temas como o decreto de Deus, a liberdade cristã e a liberdade de
consciência, e a liderança de Cristo. De um modo geral, houve uma
notável unanimidade entre os participantes.
No dia 26 de novembro de 1646 o texto ficou pronto, com a
exceção do prefácio e de algumas emendas. Estes foram concluídos no
dia 4 de dezembro, quando a Confissão de Fé foi apresentada à
Câmara dos Comuns. Todavia, o Parlamento exigiu a apresentação de
textos bíblicos de apoio, cuja preparação e discussão continuou até
abril de 1647. Em 29 de abril, a Confissão com as passagens bíblicas
foi apresentada ás duas câmaras. A Câmara dos Comuns determinou a
impressão de 600 cópias, somente para os membros do Parlamento e
da Assembleia. O título era: "O humilde conselho da Assembleia de
teólogos que por autoridade do Parlamento ora está reunida em
Westminster... com respeito a uma Confissão de Fé, com a adução de
citações e textos da Escritura".
A Confissão foi aprovada pelo Parlamento somente em 1648,
com o seguinte título:
"Artigos de religião cristã, aprovados e sancionados por ambas as
casas do Parlamento, segundo o conselho da Assembleia de teólogos
ora reunida em Westminster por autoridade do Parlamento".
O Catecismo Maior, concluído no final de 1647 e aprovado pelo
Parlamento em setembro de 1648, compõe-se de 196 perguntas e
respostas distribuídas em três seções:
1ª Parte: Da finalidade do ser humano, da existência de Deus, da
origem e da veracidade das Escrituras (perguntas 1-5).
2ª Parte: O que o ser humano deve crer sobre Deus (perguntas 6-
90).
3ª Parte: O que as Escrituras requerem do ser humano como seu
dever (perguntas 91-196).

163
Catecúmenos

O Breve Catecismo, também concluído no final de 1647 e


aprovado pelo Parlamento em setembro, de 1648, possui 107
perguntas e respostas, sintetizando os pontos mais importantes dos
documentos maiores. Inclui uma abordagem detalhada dos Dez
Mandamentos (perguntas 41-81).

2.4. Teologia da Confissão de Fé


A Confissão de Fé pode ser considerada um pequeno manual de
teologia bíblica. Seus 33 capítulos abordam os temas mais importantes
da teologia cristã, conforme segue: doutrina da Escritura Sagrada (cap.
1); doutrina de Deus: seu ser e obras (caps. 2-5); doutrina do homem e
da redenção (caps. 6-9); doutrina da aplicação da salvação (caps. 10-
15); doutrina da vida cristã (caps. 16-19); doutrinado cristão na
sociedade (caps. 20-24); doutrina da igreja (caps. 25-31); doutrina das
últimas coisas (caps. 32-33).
A Confissão de Fé é uma expressão da teologia agostiniana e
calvinista que há mais de um século vinha influenciando os teólogos
ingleses. Especificamente, a forma da Confissão foi influenciada pelos
chamados Artigos Irlandeses, elaborados pelo bispo Ussher em 1615.
Quanto à estrutura teológica geral na qual os teólogos de
Westminster agruparam suas principais doutrinas, trata-se do sistema
conhecido como Teologia Federal ou Teologia do Pacto (Pacto das
Obras e Pacto da Graça). Como declaração da doutrina reformada e
como afirmação do calvinismo do século 17, a Confissão de Fé é um
documento extremamente moderado e judicioso.
O autor Wilham Beveridge concluiu: "Devemos agradecer a Deus
por essa declaração sábia, completa e equilibrada de nossa fé, que
chegou até nós como uma preciosa herança da Assembleia de
Westminster".
1

164
Catecúmenos

3. Manual Presbiteriano
Em 1924, foram aprovadas pequenas modificações no antigo
Livro de Ordem adotado quando da criação do Sínodo (1888). Em
1937, entrou em vigor a nova Constituição da Igreja (os independentes
haviam aprovado a sua três anos antes), sendo criado o Supremo
Concilio. Houve protestos do Norte contra alguns pontos: diaconato
para ambos os sexos, o termo “confirmação” em vez de “profissão de
fé” e o nome “Igreja Cristã Presbiteriana”.
Em 1950, foi solenemente promulgada uma nova Constituição e
no ano seguinte o Código de Disciplina e os Princípios de Liturgia.
Assim, o chamado Manual Presbiteriano foi formado e, com o passar
dos anos, passou a ser atualizado com a chegada de Estatutos e
Regimentos Internos em seu corpo.

3.1 Constituição da IPB, Direitos e Deveres dos


Membros
A constituição da IPB é uma federação de igrejas que tem a bíblia
como sua única regra de fé e prática e está administrativamente
amparada pela sua Constituição.
Todo membro da IPB deve conhecer um mínimo sobre a
Constituição da IPB, pois, ela versa sobre os direito e deveres, dando
início sobre o assunto a partir dos critérios para se ser membro, no art.
11, da CI-IPB, dizendo:
Art. 11. São membros da Igreja Presbiteriana do Brasil as pessoas
batizadas e inscritas no seu rol, bem como as que se lhe
tenham unido por adesão ou transferência de outra igreja
evangélica e tenham recebido o batismo bíblico.
Constitucionalmente a membresia tem 2 tipos de membros: o
membro comungante e o membro não-comungante, conforme o art.
12, CI-IPB:
Art. 12. Os membros da Igreja são: comungantes e não-comungantes.
165
Catecúmenos

Comungantes são os que tenham feito a sua pública profissão de


fé; os não-comungantes são os menores de 18 anos de idade que,
batizados na infância, não tenham feito a sua pública profissão de fé.
O art. 13, CI-IPB, estabelece que somente os comungantes
usufruem dos privilégios e direitos da igreja:
Art. 13. Somente os membros comungantes gozam de todos os
privilégios e direitos da Igreja.
§ 1º. Só poderão ser votados os membros maiores de 18 anos e os
civilmente capazes;
§ 2º. Para alguém exercer cargo eletivo na Igreja é indispensável o
decurso de seis meses após a sua recepção; para o presbiterato
ou diaconato, o prazo é de um ano, salvo casos excepcionais, a
juízo do Conselho, quando se tratar de oficiais vindos de outra
Igreja Presbiteriana;
§ 3º. Somente membros de Igreja evangélica, em plena comunhão,
poderão tomar parte na Santa Ceia do Senhor e apresentar ao
batismo seus filhos, bem como os menores sob sua guarda.
Quanto aos deveres dos membros, é o art. 14, CI-IPB, que cuida
em apresentá-los da seguinte forma:
Art. 14. São deveres dos membros da Igreja, conforme o ensino e o
espírito de nosso Senhor Jesus Cristo:
a) viver de acordo com a doutrina e prática da Escritura
Sagrada.
b) honrar e propagar o evangelho pela vida e pela palavra.
c) sustentar a Igreja e as suas instituições, moral e
financeiramente.
d) obedecer às autoridades da Igreja, enquanto estas
permanecerem fiéis às Sagradas Escrituras.
e) participar dos trabalhos e reuniões da sua Igreja, inclusive
assembleias.

166
Catecúmenos

Mas, é possível que os membros percam seus privilégios e


direitos, a depender de sua conduta e do resultado diante do
enfrentamento de um processo disciplinar contra si; e a depender de
sua própria vontade, como prescrevem o art. 15, CI-IPB, concorrente
com os arts. 8º e 16 do CD:

Art. 15. Perderão os privilégios e direitos de membros os que forem


excluídos por disciplina e, bem assim, os que embora
moralmente inculpáveis, manifestarem o desejo de não
permanecer na Igreja.

Art. 8º. Não haverá pena, sem que haja sentença eclesiástica,
proferida por um concílio competente, após processo
regular.

Art. 16. Nenhuma sentença será proferida sem que tenha sido
assegurado ao acusado o direito de defender-se.
Agora, para ser admitido ou mesmo readmitido como membro e
desfrutar dos direito e deveres é preciso observar o que está prescrito
no art. 16 da CI-IPB:
Art. 16. A admissão aos privilégios e direitos de membro comungante
da Igreja dar-se-á por:
a) profissão de fé dos que tiverem sido batizados na infância;
b) profissão de fé e batismo;
c) carta de transferência de Igreja evangélica;
d) jurisdição a pedido sobre os que vierem de outra
comunidade evangélica;
e) jurisdição ex-offício sobre membros de comunidade
presbiteriana, após um ano de residência nos limites da
Igreja;
f) restauração dos que tiverem sido afastados ou excluídos dos
privilégios e direitos da igreja;
g) designação do Presbitério nos casos do§ 1º do Art 48.

167
Catecúmenos

3.2 Código de Disciplina


O código de Disciplina (CD), é o código que versa sobre as
penalidades eclesiásticas que podem ser aplicadas aos membros que
foram processados e julgados diante do tribunal eclesiásticos e que
tiveram uma sentença eclesiásticas proferida contra si. Ele também
trata a respeito da forma e dos procedimentos do processo eclesiástico,
apresentando os prazos, recursos, princípios e atos que devem ser
praticados no processo.
Conforme o art. 2º, do CD, a disciplina eclesiástica é aplica
segundo a jurisdição espiritual da igreja sobre seus membros e de
acordo com a palavra de Deus.
Ela visa: edificar o povo de Deus, corrigir escândalos, erros ou
faltas, promover a honra de Deus, a glória de Nosso Senhor Jesus
Cristo e o próprio bem dos culpados (Parágrafo Único, do art. 2º).

3.3 Conselho e Instâncias Superior


Como foi dito em outro momento, o governo da igreja
presbiteriana é exercido de maneira colegiada através de concílios.
Há instâncias inferiores e superiores, guardando uma gradação
entre eles, conforme o art. 61, CI-IPB:
Art. 61. Os concílios guardam entre si gradação de governo e
disciplina; e, embora cada um exerça jurisdição original e
exclusiva sobre todas as matérias da sua competência, os
inferiores estão sujeitos à autoridade, inspeção e disciplina
dos superiores.
O art. 62, da CI-IPB, apresenta todos os concílios da igreja
presbiteriana do Brasil e delimita sua competência:
Art. 62. Os concílios da Igreja Presbiteriana do Brasil em ordem
ascendente são:
a) o Conselho, que exerce jurisdição sobre a Igreja local;
168
Catecúmenos

b) o Presbitério, que exerce jurisdição sobre ministros e


conselhos de determinada região;
c) o Sínodo, que exerce jurisdição sobre três ou mais
presbitérios;
d) o Supremo Concílio, que exerce jurisdição sobre todos os
concílios.
O art. 75, da CI-IPB, versa sobre o conselho tratando sobre sua
jurisdição e composição:
Art. 75. O Conselho da Igreja é o concílio que exerce jurisdição sobre
uma Igreja e é composto do pastor, ou pastores, e dos
presbíteros.
Como visto anteriormente sobre o governo da igreja, há igrejas
em que o pastor é aquele que tem poder diretivo em todas as esferas.
Mas, quanto a igreja presbiteriana, por causa da sua forma de governo,
esse tipo de situação não é possível. Isto porque o pastor presbiteriano,
muito embora seja reconhecido como aquele que deve presidir o
Conselho, conforme pode ser visto no art. 78, da CI-IPB, ele não tem
soberania quanto ao poder diretivo, mas, compartilha com os demais
participantes, isto é, presbíteros, as decisões eclesiásticas. Além de
que, a presidência do Conselho é uma função meramente
administrativa, que pode ser compartilhada com outro ministro e até,
excepcionalmente, na falta de um ministro, algum dos presbíteros
poderá assumi-la.
Art. 78. O pastor é o presidente do Conselho. Este, em caso de
urgência, poderá funcionar sem ser presidido por um
ministro, quando não se tratar de admissão, transferência ou
disciplina de membros; sempre, porém, ad referendum do
Conselho em sua primeira reunião.
As funções do Conselho estão elencadas nos incisos do art. 83, da
CI-IPB e são:
Art. 83. São funções privativas do Conselho:

169
Catecúmenos

a) exercer o governo espiritual e administrativo da Igreja sob


sua jurisdição, velando atentamente pela fé e comportamento
dos crentes, de modo que não negligenciem os seus privilégios
e deveres;
b) admitir, disciplinar, transferir e demitir membros;
c) impor penas e relevá-las;
d) encaminhar a escolha e eleição de presbíteros e diáconos,
ordená-los e instalá-los, depois de verificar a regularidade do
processo das eleições e a idoneidade dos escolhidos;
e) encaminhar a escolha e eleição de pastores;
f) receber o ministro designado pelo Presbitério para o cargo de
pastor;
g) estabelecer e orientar a junta diaconal;
h) supervisionar, orientar e superintender a obra de educação
religiosa, o trabalho das sociedades auxiliadoras femininas,
das uniões de mocidade e outras organizações da Igreja, bem
como a educativa em geral e quaisquer atividades espirituais;
i) exigir que os oficiais e funcionários sob sua direção cumpram
fielmente suas obrigações;
j) organizar e manter em boa ordem os arquivos, registros e
estatística da Igreja;
l) organizar e manter em dia o rol de membros comungantes e
não-comungantes;
m) apresentar anualmente à Igreja relatório das suas atividades,
acompanhado das respectivas estatísticas;
n) resolver caso de dúvida sobre doutrina e prática, para
orientação da consciência cristã;
o) suspender a execução de medidas votadas pelas sociedades
domésticas internas da Igreja, que possam prejudicar os
interesses espirituais;
170
Catecúmenos

p) examinar os relatórios, os livros de atas e os das tesourarias


das organizações domésticas (internas), registrando neles as
suas observações;
q) aprovar ou não os estatutos das sociedades domésticas
(internas) da Igreja e dar posse às suas diretorias;
r) estabelecer pontos de pregação e congregações;
s) velar pela regularidade dos serviços religiosos;
t) eleger representante ao Presbitério;
u) velar para que os pais não se descuidem de apresentar seus
filhos ao batismo;
v) observar e pôr em execução as ordens legais dos concílios
superiores;
x) designar, se convier, mulheres piedosas para cuidar dos
enfermos, dos presos, das viúvas e órfãos, dos pobres em
geral, para alívio dos que sofrem.
Quanto ao presbitério, ele é a instância acima do Conselho, ou
seja, a instância ao qual o Conselho responde diretamente. Sua
constituição está descrita no art. 85, da CI-IPB:
Art. 85. O Presbitério é o concílio constituído de todos os ministros e
presbíteros representantes de igrejas de uma região
determinada pelo Sínodo.
Já suas funções se encontram presentes no art. 88, da CI-IPB, e
são:
Art. 88. São funções privativas do Presbitério:
a) admitir, transferir, disciplinar, licenciar e ordenar candidatos
ao ministério e designar onde devem trabalhar;
b) conceder licença aos ministros e estabelecer ou dissolver as
relações destes com as Igrejas ou congregações;
c) admitir, transferir e disciplinar ministros e propor a sua
jubilação;
171
Catecúmenos

d) designar ministros para igrejas vagas e funções especiais;


e) velar para que os ministros se dediquem diligentemente ao
cumprimento da sua sagrada missão:
f) organizar, dissolver, unir e dividir igrejas e congregações e
fazer que observem a Constituição da Igreja;
g) receber e julgar relatórios das igrejas, dos ministros e das
comissões a ele subordinadas;
h) julgar a legalidade e conveniência das eleições de pastores,
promovendo a respectiva instalação;
i) examinar as atas dos conselhos, inserindo nas mesmas
observações, que julgar necessárias;
j) providenciar para que as igrejas remetam pontualmente o
dízimo de sua renda para o Supremo Concílio;
l) estabelecer e manter trabalhos de evangelização, dentro dos
seus próprios limites, em regiões não ocupadas por outros
presbitérios ou missões presbiterianas;
m) velar para que as ordens dos concílios superiores sejam
cumpridas;
n) visitar as igrejas com o fim de investigar e corrigir quaisquer
males que nelas se tenham suscitado;
o) propor ao Sínodo e ao Supremo Concílio todas as medidas de
vantagem para a Igreja em geral;
p) eleger representantes aos concílios superiores (cf. Artigos 89 e
90/CI/IPB)
A próxima instância é chamada de Sínodo, e a ela os Presbitérios
de determinada região respondem diretamente. A composição de um
Sínodo é apresentada pelo art. 92, da CI-IPB, e se dá da seguinte
forma:
Art. 92- O Sínodo constituir-se-á de, pelo menos, três presbitérios.
Quanto as suas funções, o art. 94, da CI-IPB, esclarece que:
172
Catecúmenos

Art. 94. Compete ao Sínodo:


a) organizar, disciplinar, fundir, dividir e dissolver presbitérios;
b) resolver dúvidas e questões que subam dos presbitérios;
c) superintender a obra de evangelização, de educação religiosa,
o trabalho feminino e da mocidade, bem como as instituições
religiosas, educativas e sociais, no âmbito sinodal, de acordo
com os padrões estabelecidos pelo Supremo Concílio;
d) designar ministros e comissões para a execução de seus
planos;
e) executar e fazer cumprir suas próprias resoluções e as do
Supremo Concílio;
f) defender os direitos, bens e privilégios da Igreja;
g) apreciar os relatórios e examinar as atas dos presbitérios de
sua jurisdição, lançando nos livros respectivos as
observações necessárias;
h) responder às consultas que lhe forem apresentadas;
i) propor ao Supremo Concílio as medidas que julgue de
vantagem geral para a Igreja.
Por último - porém, não menos importante -, está o Supremo
Concílio, concílio maior da Federação das igrejas Presbiterianas do
Brasil, ao qual todas as demais instâncias são sujeitas e respondem.
Sua descrição e composição se encontra no art. 95, da CI-IPB,
que diz:
Art. 95. O Supremo Concílio é a assembleia de deputados eleitos
pelos presbitérios e o órgão de unidade de toda a Igreja
Presbiteriana do Brasil, jurisdicionando igrejas e concílios
que mantêm o mesmo governo, disciplina e padrão de vida.
E suas funções, conforme o art. 97, da CI-IPB, são:
Art. 97. Compete a ao Supremo Concílio:

173
Catecúmenos

a) formular sistemas ou padrões de doutrina e prática quando à


fé, e estabelecer regras de governo, de disciplina e de liturgia,
de conformidade com o ensino das Sagradas Escrituras;
b) organizar, disciplinar, fundir e dissolver sínodos;
c) resolver, em última instância, dúvidas e questões que subam
legalmente dos concílios inferiores;
d) corresponder-se, em nome da Igreja Presbiteriana do Brasil,
com outras entidades eclesiásticas;
e) jubilar ministros;
f) receber os dízimos das igrejas para manutenção das causas
gerais;
g) definir as relações entre a Igreja e o Estado;
h) processar a admissão de outras organizações eclesiásticas,
que desejarem unir-se ou filiar-se à Igreja Presbiteriana do
Brasil;
i) gerir, por intermédio de sua Comissão Executiva, toda a vida
da Igreja, como associação civil;
j) criar e superintender seminários, bem como estabelecer
padrões de ensino pré-teológico e teológico;
l) superintender, por meio de secretarias especializadas, o
trabalho feminino, da mocidade, de educação religiosa e as
atividades da infância;
m) colaborar, no que julgar oportuno, com entidades
eclesiásticas, dentro e fora do país, para o desenvolvimento
do reino de Deus, desde que não seja ferida a ortodoxia
presbiteriana;
n) executar e fazer cumprir a presente constituição e as
deliberações do próprio concílio;
o) receber, transferir, alienar ou gravar com ônus os bens da
Igreja;
174
Catecúmenos

p) examinar as atas dos sínodos, inserindo nelas as observações


que julgar necessárias;
q) examinar e homologar as atas da Comissão Executiva,
inserindo nelas as observações julgadas necessárias;
r) referendar os direitos, bens e propriedades da Igreja.
Parágrafo único – Só o próprio concílio poderá executar o
preceituado nas alíneas a, g, h, j, e m.

4. Sociedades Internas
A Igreja Presbiteriana do Brasil, desde sua formação, tem
organizado o trabalho de suas atividades através das Sociedade
Internas.
São elas organizações internas as igrejas, formadas por pessoas de
gênero, idade e afinidades comuns, com a intenção de desenvolver
atividades e cooperar com a obra do Senhor.
Elas têm governo a partir de uma diretoria eleita pelos sócios e
que responde diretamente ao Conselho da igreja a qual a Sociedade é
vinculada.
Também são regidas pelo GTSI (Guia de Trabalho das
Sociedades Internas), que determina a sua formação da diretoria,
realização de eleições e reuniões ordinárias, direitos e deveres dos
sócios(as), tipos de secretarias e atividades a serem desenvolvidas.
O GTSI reconhece as seguintes Sociedades Internas, conforme
seu art. 1º e seu parágrafo único:
Art. 1º. A UPH (União Presbiteriana de Homens); a SAF (Sociedade
Auxiliadora Feminina); a UMP (União de Mocidade
Presbiteriana); a UPA (União Presbiteriana de Adolescentes)
e a UCP (União de Crianças Presbiterianas) são Sociedades
Internas da Igreja Presbiteriana do Brasil, e verdadeiras
forças de integração que congregam seus sócios sob o critério

175
Catecúmenos

de sexo e/ou idade, sob a orientação, supervisão e


superintendência do Conselho da Igreja, com o qual se
relacionam por meio de um Conselheiro.
Parágrafo único - As congregações presbiteriais ou de Igrejas locais,
bem como os campos da Junta de Missões
Nacionais, poderão organizar Sociedades
Internas.
Quanto a participação por idade as Sociedades Internas se
organizam como determina o art. 4º, do GTSI:
Art. 4°. As Sociedades Internas obedecerão às seguintes faixas etárias
para seus sócios:
a) UCP = de 6 a 11 anos;
b) UPA = de 12 a 18 anos;
c) UMP = de 19 a 35 anos;
d) SAF e UPH = a partir dos 18 anos.
§1º. As faixas etárias são ponto de referência adaptáveis às
realidades locais ou regionais, à critério do Conselho da
Igreja ou Presbitério, enquanto não houver as Sociedades
ou federações específicas organizadas.

176
Catecúmenos

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