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Girl’s disinterest in the practical classes of physical education in high school
RESUMO
Objetivou-se analisar os motivos que levam as alunas do ensino médio de uma escola pública
de Coração de Jesus-MG a não participarem das aulas práticas de Educação Física.
Estudo qualitativo, realizado com alunas do ensino médio de uma escola da rede pública
estadual do município de Coração de Jesus- MG. Foram utilizadas entrevistas
semiestruturadas. Em seguida realizaram-se técnicas de leitura para análise e agrupamento de
informações relevantes, por meio da análise de conteúdo por categorias. Percebe-se que os
motivos para a não participação das aulas práticas de Educação Física estão relacionados à
falta de oportunidade dadas à elas e as desigualdades de gênero.
Palavras- Chave: Educação Física; Desinteresse; Desigualdades de gênero; Ensino Médio.
ABSTRACT
The objective was to analyze the reasons that lead high school students from a public school
in Coração de Jesus-MG not to participate in practical Physical Education classes. Qualitative
study, carried out with high school students from a state public school in the city of Coração
de Jesus-MG. Semi-structured interviews were used. Then, reading techniques were
performed for analysis and grouping of relevant information, through content analysis by
categories. It is noticed that the reasons for not participating in practical Physical Education
classes are related to the lack of opportunity given to them.
Keywords: Physical Education; Motivation; High School.
1 INTRODUÇÃO
Ao longo dos anos a Educação Física Escolar (EFE) passou por diversas
transformações, ressignificando o campo da educação do país (SILVA, 2017). Com o passar
do tempo e as diversas transformações ocorridas nos contextos políticos, econômicos e sociais
no Brasil, a partir dos anos 80 houve o surgimento de novas correntes pedagógicas dando
novos rumos para a Educação Física de modo geral, em especial no contexto escolar. Dessa
maneira, houve o aprimoramento das estratégias de ensino, além das abordagens ensinadas
tendo como base a Psicomotricidade, Saúde Renovada, Parâmetros Curriculares Nacionais,
dentre outras tendências que surgiram a fim de melhorar a concepção de Educação Física
(DARIDO et al., 2010).
Analisando então o cenário escolar, o Ensino Médio é uma fase em que os alunos
apresentam maior grau de criticidade e responsabilidade e, assim, expõem mais suas opiniões
e ideias sobre as diferentes situações e fatos, o que inclui as aulas ofertadas e seus conteúdos
propostos. Diante de tal fato, a EFE enquanto componente curricular da educação básica,
enfrenta desafios para ter seu reconhecimento por parte dos discentes e também de outras
disciplinas. É fato que essa disciplina não tem sido vista com a medida da sua importância e
que o interesse pela mesma nesse nível de ensino diminui acentuadamente, sendo perceptível
o afastamento dos adolescentes nas aulas ministradas (ANISZEWSKI et al.,2019).
De acordo com Bento et al. (2017), os aspectos motivacionais que levam a adesão dos
escolares para a participação nas aulas de Educação Física devem ser considerados levando
como pressuposto os diferentes tipos e domínio, os quais envolvem a valorização a diversos
aspectos, como o apoio, amizades, competição, saúde, estética, recreação, lazer dentre outros,
que variam de acordo com as técnicas e abordagens utilizadas durante as aulas.
Ademais, a respeito desse assunto, Pizzarollo, Fernandes e Rosa et al. (2018)
complementa que o estudante motivado tende a apresentar interesse durante o processo de
ensino e aprendizagem, o que o faz se envolver em desafios e tarefas durante determinado
tempo. Alves et al. (2016) em seus estudos afirmam que saber os reais motivos que conduz
um indivíduo a executar determinadas tarefas, é um fator relevante para proporcionar ao
professor subsídios para elaborar aulas voltadas aos interesses dos alunos.
Quando analisado por gênero, por diferentes razões, há um maior desinteresse
relacionado as alunas. Isto posto, essas adolescentes têm deixado de participar da EFE no
ensino médio, o que denota impactos negativos, visto que essa atividade poderia contribuir
positivamente para a formação humana, social e política, bem como para a qualidade de vida,
ainda mais nessa fase da escolarização, onde as pressões para o futuro profissional e ingresso
em Instituições de Ensino Superior aumentam (LAFETÁ et al., 2017).
Sob esse ponto de vista, de acordo com Oliveira (2017) é necessário investigar as
causas que levam os alunos a participarem ou não das aulas de Educação Física, sendo porque
gostam dos conteúdos aplicados, ou participam somente para alcançar uma avaliação
adequada na disciplina. Além disso, Brito et al. (2017) enfatiza que as aulas de Educação
Física no ambiente escolar, serve para trabalhar a consciência corporal dos alunos, além de
coordenação, agilidade, interação social, além de muitos outros aspectos desenvolvidos
durantes as aulas dessa disciplina.
Segundo Malvar (2020) o ser humano apresenta influências por parte da comunidade
que restringem o seu comportamento a padrões considerados como “normais” para a
sociedade, como o modo de se vestir, falar, comportar e participar de certas atividades, e
quando as pessoas não se enquadram nestes modelos elas são marginalizadas e excluídas de
determinados grupos sociais. Esses estereótipos em sua maioria são atribuídos ao sexo, e
foram construídos ao longo da história com uma base machista, e a transmissão desses
preconceitos ao longo das gerações impacta até os dias atuais no modo de agir das pessoas,
definindo o ser masculino e o ser feminino, limitando as suas atividades ao seu sexo biológico
(GONÇALVES JUNIOR; RAMOS, 2005; MALVAR, 2020).
A introdução da Educação Física na Escola ocorreu de maneira oficial após a Reforma
Couto Ferraz no ano de 1851 (RAMOS, 1982 apud SOARES, 2012), e desde a sua inserção
diversos problemas foram desencadeados por parte das alunas e seus responsáveis, que
consideravam as atividades desenvolvidas durante as aulas como inadequadas, com isso
questões culturais ligadas a padronizações das atividades que cada gênero podia executar
acabaram marcando a EFE e perpetuando esses aspectos até o dia de hoje (MONTEIRO,
2017; NASCIMENTO et al., 2007).
O fator docente é outro ponto que provoca impacto na participação maciça de todos
durantes as aulas, pois ele é o autor do processo de ensino e aprendizagem, e quando este não
apresenta interesse algum de modificar tais aspectos então não ocorrerá a participação de
todos (RAPHAEL, 2005). Quando ocorre a divisão dos alunos em masculino e feminino por
parte do próprio docente responsável muito provavelmente não ocorrera mudanças, pois os
alunos não apresentam autonomia para modificar essas atitudes para que ocorra a participação
de todos durante as aulas (MALVAR, 2020)
Então dois pontos estão associados a redução da participação das mulheres nas aulas
de Educação Física, sendo um deles a herança social deixada pela comunidade que não aprova
a participação de pessoas do sexo feminino em algumas áreas esportivas, chegando ao ponto
de questionar a sua feminilidade, e a outra é a falta de incentivo por parte do próprio docente
em organizar as suas aulas a fim de promover a participação de todos.
Diante do exposto, considerando que a EFE deve assumir a inclusão do aluno de modo
integral e, diante da problemática acerca da possível falta de participação feminina nas aulas
de Educação Física escolar, este estudo tem por objetivo analisar os motivos que levam as
alunas do ensino médio de uma escola pública de Coração de Jesus-MG a não participarem
das aulas práticas de Educação Física.
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 Métodos
Será apresentada e discutida aqui, nesta sessão, a percepção das alunas entrevistadas,
de acordo com o tema proposto. Para melhor entendimento e construção textual foram feitas
formações de categorias e alguns recortes das falas das alunas. As categorias elencadas foram
as seguintes: alunas e alunos; Relação entre alunas e alunos; Conteúdos diversificados e
alunas e Condução do professor na participação das alunas. As participantes entrevistadas
serão chamadas de (A1, A2, A3...), garantido o anonimato das participantes.
De modo geral, participaram do estudo oito alunas, tendo a maioria 18 anos de idade
(50%) e todas pertencentes ao ensino médio (100%). Boa parte das entrevistadas relataram
participar uma vez por semana das aulas da Educação Física (50%), ter divisão de atividades
entre gêneros nas aulas (75%) e não ter a participação de todos os alunos durantes as aulas
(50%).
A primeira pergunta teve por objetivo saber a percepção das alunas quanto a Educação
Física. Em seguida foi investigado se as alunas costumavam participar das atividades
propostas e quais participavam ou não. A próxima pergunta analisava como as alunas
avaliavam a participação dos colegas de turma durante as aulas presenciais de EF. Também
foi perguntado se havia divisão das atividades entre gêneros durante as aulas. Seguindo essa
temática, foi questionado acerca da opinião das alunas sobre a divisão das aulas por gênero,
quais aspectos eram considerados positivos e negativos, como era a relação entre alunos e
alunos durante as aulas. Em seguida, foi perguntado sobre a obrigatoriedade da participação
durante as atividades, se todos participavam, se as alunas mudariam algo nas aulas e, como
essas avaliavam a atuação do professor de Educação Física no trato com as alunas durante as
aulas. Também foi analisado se essas alunas participavam de alguma atividade física fora da
escolar, como tem sido as aulas de Educação Física durante a pandemia da Covid-19, as
principais atividades propostas no ensino remoto, o que elas sentiam mais falta nas aulas de
EF presencial, como avaliava a participação feminina nos esportes em geral fora da escola e,
se gostariam de acrescentar algo a mais no que foi questionado.
Portanto, a seguir serão apresentadas as categorias para a análise do conteúdo obtido
durante as entrevistas.
2.2.1 Categoria 1 – Alunas e futsal
“[...] eu sempre queria participar das aulas, praticar o futsal porém elas nunca
queiram e sozinha não tinha como (os meninos sempre queriam jogar futsal e
sozinhos) [...]” (A1)
“[...] Não costumava participar do futebol que era mais voltado para os
meninos, faltava incentivo e espaço para as alunas aprenderem e participarem.”
(A5)
Tendo em vista as respostas apresentadas acima, nota-se que todas fazem referência ao
futsal como sendo um esporte masculino ou ao menos mais voltado para os alunos. O que se
constata é que essa cultura machista, apesar de algumas modificações, segue arraigada na
forma como esse esporte se expressa na Educação Física escolar e conta com a anuência
pedagógica do professor, que também está imerso nesses valores hegemônicos expressos no
esporte na sociedade fora da escola no qual também o influencia culturalmente.
A consequência é o afastamento de muitas alunas da vivência desse conteúdo por não se
sentirem representadas pela abordagem de ensino e pela falta de pertencimento ao que o
professor propõe como prática pedagógica nesse conteúdo. Isso fica evidente na resposta da
primeira aluna (A1) que apesar de ter o desejo de participar das aulas de futsal é impedida
pela não participação das colegas e também pelo fato que os alunos “sempre querem jogar
sozinho”, demonstrando que o futsal na experiência das alunas, continua sendo um território
essencialmente masculino, de pertencimento exclusivo dos alunos porque ainda é tratado de
modo tradicional, elaborado para favorecer apenas os mais “habilidosos” e a partir dos
códigos culturais do futebol de alto rendimento, conforme Bracht (1992).
A segunda resposta (A5) revela exatamente a percepção de que o futsal, na forma como é
desenvolvido, não permite espaço para as alunas e não foram elaborados para a participação
feminina e por isso não há incentivo para a prática das alunas. É a naturalização da exclusão
pelo gênero. Por fim, a aluna 7 também associa a falta de motivação para a prática do futsal
pelas alunas, devido a preferência de escolha e domínio dos alunos na realização dos
conteúdos das aulas.
Silva (2014) explica que a falta de incentivo e motivação, para a prática do futsal
feminino nas aulas está interligada à construção social que discrimina e classifica os esportes,
como sendo “pertencentes” à dado gênero. Santos e Hirota (2012) em seus achados
demonstraram que alunas que possuem um melhor convívio social e familiar, com menos
chances de culturas discriminatórias, além de um bom relacionamento com o professor de
Educação Física, tendem a serem mais motivadas a participarem das aulas, principalmente
quando o conteúdo programático refere-se ao futebol ou futsal.
É necessário então, buscar proporcionar a essas alunas uma maior oportunidade de
experimentação, buscando superar a desigualdade existente, principalmente em ambientes que
devem propiciar a aprendizagem e respeito entre todos, como é o caso da escola. Com isso,
através da possibilidade de participação e escolha de pertencimento nesse esporte, as alunas
podem se sentir mais motivadas e ativas nas aulas, além de disseminarem a realização dessa
prática por outros ambientes fora da escola.
Ao longo dos anos, um dos esportes que vem ganhando grande notoriedade no Brasil é
o futsal. Essa prática esportiva é facilmente vista no cotidiano das comunidades, sendo
realizadas em grandes quadras ou até mesmo em pequenas quadras de bairros. No entanto,
apesar da grande disseminação dessa modalidade, é visivelmente perceptível que ainda existe
uma grande separação de gêneros e oportunidades (BALDISSERA, 2018).
A inserção da prática do futsal pelas alunas ainda é algo que muitos paradigmas e
preconceitos das normas sexistas que ainda persistem no contexto do esporte. Nesse sentido,
comparado ao futsal masculino, as mulheres ainda precisam lidar com vários desafios para
poder praticar o esporte (HUNHOFF, 2017).
É fato que construções culturais machistas ao longo da história humana sempre
buscaram justificar ideologicamente as desigualdades e uma das mais arraigadas é a visão de
que as mulheres são seres naturalmente frágeis. Essa designação sexista, por sua vez, a
inviabilizou mulheres de ocupar vários espaços em diversas situações da construção da
sociedade (OLIVEIRA, 2019), incluindo aí o próprio esporte. Desde o início, gerou-se uma
ideia que as mulheres deveriam preservar a feminilidade, a delicadeza, a beleza angelical,
sendo afastada de possíveis contextos que as fizessem perder esses atributos (SANTIAGO,
2017).
Nesse cenário, o futsal feminino levou mais tempo para ser aceito do que se
comparado ao jogo masculino. A ideia era que a prática de esportes que não ressaltavam e
promoviam a beleza e sexualidade feminina, poderia manchar e desonrá-las, além de associar
essa prática à uma masculinização da mulher (COSTA, 2019). Desse modo, a propagação do
esporte entre o público feminino vem ocorrendo à passos curtos, devido aos rótulos pré
concebidos envolvidos, sendo ainda mais difícil a inserção no contexto escolar diante de uma
construção cultural pautada na separação entre homens e mulheres (MALVAR; SOUZA
JUNIOR, 2021).
Um dos aspectos mais importante investigado foram as relações entre alunos e alunas
da turma durante as aulas de Educação Física. As respostas foram bastante reveladoras:
“Não, na minha opinião deve ser todos juntos porque assim eles não se sentem
superiores as meninas.” (A1)
“Não tinha uma relação. Meninos jogavam e meninas ficam olhando.” (A4)
As falas acima expressam de forma evidente que as relações entre alunos e alunas
são repletas de tensões e conflitos, acontecem de forma recorrente e estava bem
consolidado nas aulas de Educação Física em que as entrevistadas participavam. Apesar de
opinarem de formas diferentes sobre a separação das turmas, todas as respostas revelam
uma certa dominação dos alunos quanto ao uso da quadra, quem joga e uma forte
hierarquia nas relações interpessoais entre os dois grupos. A primeira aluna (A1) ressaltou
que a separação da turma pode favorecer o olhar de superioridade dos alunos sobre os
conteúdos e escolhas dos temas desenvolvidos. A segunda aluna (A4) apontou que não
havia relação entre a turma, uma vez que apenas os alunos participavam das atividades,
enquanto as alunas apenas observavam. Já a outra (A8) demonstrou preferir a separação,
devido ao desconforto em ter que lidar com os alunos mais violentos e competitivos
durante as aulas.
Apesar de argumentos diferentes, as três alunas constatam uma realidade que passa
longe da prática pedagógica do professor e se estabelece como prática social dominante no
que pesquisadores chamam de “currículo oculto”, ou seja, são elementos educativos que
ocorrem por fora dos conteúdos curriculares mas que ensinam normas e instituem formas
de organização, no caso, uma forma onde predominam os interesses dos alunos no que se
refere aos conteúdos e na apropriação do espaço.
As questões que abordavam a avaliação das aulas presenciais, participação dos
colegas de turma e o fator negativo visto pelas alunas durante as aulas de Educação Física
trazem mais elementos dessa conflituosa relação com os alunos:
“Péssimo, eu sempre queria participar das aulas, praticar o futsal porém elas
nunca queiram e sozinha não tinha como (os meninos sempre queriam jogar
futsal e sozinhos) as meninas só participavam quando a professora dava muitos
pontos de participação.” (A1)
“Muitas meninas ficavam com vergonha de jogar e errar em algum coisa, porquê
os meninos sempre criticavam.” (A7)
A relação entre gêneros nas escolas e fundamentalmente nas aulas de Educação Física
ainda é um assunto que engloba diversos tabus. A construção social pautada na criação de
mulheres para serem responsáveis pelos lares, e dos alunos para o trabalho fora de casa é algo
que fundamentou por muitos anos o modo de se relacionar e conviver na sociedade
(BERTELI; DE BONA, 2020), sendo reproduzido fortemente nas escolas e,
consequentemente, nas aula de Educação Física e seus conteúdos também. Ademais, as
instituições sociais responsáveis pela formação educacional de valores presentes nas
atividades diárias normatizaram rigidamente os papéis sociais de homens e mulheres,
caracterizados pela separação, diferenciando roupas, condutas, esportes, dentre outras coisas
(DORNELLES, 2018).
Dentro dessa construção cultural sexista e machista, os homens obtiveram privilégios
sociais e, com isso, mais oportunidades sociais do que as mulheres, com reflexos em vários
campos da vida social, incluindo o esporte e na Educação Física escolar. Por causa dessa
construção, as mulheres foram vivenciando perdas de experiências que poderiam contribuir de
modo significativo para o seu desenvolvimento (ALTMANN et al., 2018).
Ainda hoje é comum observar nas escolas a separação de gênero presente durante as
atividades escolares, seja de modo formal ou “naturalizadas” pela forma de organização
segregada. De acordo com Dornelles (2018), a proposta de diferenciação de práticas
corporais na Educação Física para alunos e alunas esteve sempre atrelada ao modelo
educacional e social voltado para uma conduta higiênica e eugenista.
Além disso, a autora disserta afirmando que a separação feita pelos professores é
justificada pelo fato dos
alunos possuírem certas características físicas que podem propiciar alguns momentos de
agressividade durante os exercícios propostos, além das alunas serem mais “tímidas” e
acabarem recusando participar, devido essa possível diferença de forças, reforçando as
ideologias machistas e sexistas nas aulas de Educação Física.
Ademais, é importante frisar que a prática de atividade física traz diversos benefícios
para a saúde integral dos indivíduos, em especial para adolescentes mulheres que
vivenciam grandes tensões nos últimos anos do ensino médio. Além de propiciar uma
melhora cognitiva no desempenho de atividades escolares, se manter ativo pode possibilitar
a diminuição da ansiedade e estresse causados pelos vestibulares, pressão familiar para a
decisão da carreira e outras dificuldades que um adolescente pode vivenciar (ALMEIDA;
MARTINS, 2020). Diante disso, é fundamental que as alunas mulheres, assim como os os
alunos homens, participem e realizem as aulas propostas, de modo a oportunizar
democraticamente as práticas corporais a todos.
Matana (2018) explica que é muito comum observar durante a prática das atividades
nas aulas de Educação Física um engajamento dos alunos mais habilidosos, enquanto os
com menos destrezas sejam “excluídos” das aulas. A autora ainda enfatiza que,
normalmente, os alunos são mais habilidosos devido exatamente as diferenças de
oportunidades e estímulos que advém para os diferentes gêneros e as respectivas
construções culturais que atualmente ainda conduzem uma série de normas machistas que
afastam as alunas das atividades da Educação Física escolar.
Sendo assim, levando em conta o papel da Educação Física em incluir todos os
gêneros e propiciar o maior desenvolvimento educacional integral possível, principalmente
durante a fase escolar dos indivíduos, é importante que os professores envolvidos estejam
atentos à essas questões das desigualdades de gêneros para através da preparação de aulas
com a finalidade de unir o grupo e incluir todos e produzir uma maior motivação e
interesse do público feminino para as aulas de Educação Física.
2.2.3 Categoria 3- Conteúdos diversificados e alunas
“Não, atividade não tem gênero, todos têm a mesma capacidade.” (A1)
“Eu gostava de quase todas, queimada, três cortes, totó, handebol, uno, era
muito fã sempre queria participar e eu menos gostava era do vôlei por ser minha
dificuldade. ” (A1)
Por outro lado, essas alunas também apontaram o que mais sentiam falta nas aulas de
EFE presenciais. Abaixo são apresentadas algumas respostas:
“Ela nós trata muito bem porém deixa a desejar fazendo com que deixe as
meninas fazerem o que querem e muitas vão conversar e sendo assim não tem a
atividade concluída pois precisa de mais pessoas para a prática dos esportes.”
(A1)
É possível interpretar que as participantes do estudo, apesar de terem uma boa relação
com seus professores, também identificam um certo desinteresse desses no planejamento
adequado de atividades para serem ministradas, além do desinteresse em motivar as alunas à
participarem das aulas. Segundo Gomes (2014) a Educação Física no ensino médio estabelece
uma grande função de transformação na vida do adolescente, propiciando um modo de
visualização individual de si e da sociedade. Desse modo, é importante se atentar as
motivações relacionadas à esses sujeitos, não os deixando perder o interesse e possível
abandono das aulas. Sendo assim, sugere-se a utilização de aulas mais dinâmicas,
estimulantes e que motivem a todos, em especial as alunas a participarem, as fazendo se
sentirem parte dos conteúdos ministrados (PEDRETTI et al., 2017).
Nesse contexto, ao analisar a participação dos alunos investigados, as alunas
apresentaram em sua maioria não haver obrigatoriedade na realização das aulas, como
abordado nos relatos abaixo:
“Nem sempre, por isso muitas nem participavam de nada, quando era pra
ganhar pontos todos iam mas por interesse.” (A1)
Ainda nesse cenário, ao serem perguntadas sobre o que mudariam nas aulas de EFE,
foram obtidas as seguintes respostas:
Através desse estudo pode-se perceber que os motivos que levam as alunas do ensino
médio investigado a não participarem das aulas práticas de Educação Física estão
relacionados à falta de oportunidade dadas à elas, visto a superioridade pautada nas decisões
dos alunos nas escolhas das atividades realizadas. Além disso, também observou-se que falta
estímulo dos professores quanto a despertar o interesse das alunas para as aulas, diante da
exclusão pelo entendimento dessas serem mais fracas e sensíveis para determinados
conteúdos.
Outro ponto relevante na análise realizada por esse estudo, é a diversidade de
conteúdos planejados para as aulas. Tendo em vista que de acordo com as alunas
entrevistadas, as atividades normalmente são mais voltadas para os alunos, devido à esses
serem considerados mais habilidosos, essas alunas tendem a ficarem isoladas e excluídas das
aulas, perdendo o momento de experimentação e vivência com novos movimentos e,
consequentemente, não podendo aprender jogando.
Diante disso, levando em consideração o papel da escola em propiciar um
desenvolvimento integral do sujeito e, a disciplina de Educação Física como um instrumento
promotor de saúde e bem-estar para todos, é importante que os professores e coordenadores
escolares estabeleçam estratégias que visem diminuir a não adesão das alunas às aulas, e
possibilitando um espaço rico em aprendizagens e livre de preconceitos e diferenças entre
gêneros.
Ainda, diante da necessidade de mudança nesses cenários, sugere-se o
desenvolvimento de novos estudos que visem sanar as lacunas ainda existentes, além de
fomentar a literatura escolar e social, quanto as dificuldades que ainda assolam o ambiente
escolar quanto o processo de ensino-aprendizagem e desigualdade de gêneros.
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