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E PÍ T O M E I

D A , '

GR AMM A T I Ç A
D A
* » -

língua
P O R T U G U E Z A .
<|>w
C OMPOSTÀ
Y O R

ANTONIO DE MORAES 5ILVA,

Natural d* Rio de Janeiro.

LISBOA. M. DCCCVI.

NA OFF. DE SLMLO THADDEO FERREIRA.

Ctm licença da Mita d$ Desembarco do Páfa „

Vtadc-sç m loja dc farèl Borel, t Companhia.


N o u i avons compliquê nôtre G r a m m a i r e , parce
Hue nous l'avons Tóulu feire d'aprcs les; G r a m m a r s
Latines. Nous ne la s i m p l i f i e d , qu « t a n t
nous rappellerons les expressions aux elemens du dis-
CQUrs ^

Condillac , G r a m m . p. 3 . chap. 1 1 , note ( ) pa J .


2 0 5 , edit, d e - 1 7 8 0 . a G e n e v e .
* j.» >
AO LEITOR BENEVOLO.

n
p .
J L R o p u z me nesta Grammatica dar te idéyar mais
claras, e exactas , do que comummente se achãò
nos livros d e s t e assumpto , que tenho visto no nosso
idioma , tanto á cerca das Partes Elementares da Ora-
ção , como da sua emendada composição.
Nelles não se explica por exemplo o que é arti-
go ; dizem te que se ajunta aos nomes para mostrar os
números , e os casos. Mas os norrv?s J ? d $ u g u e z e s , exce-'
ptos Eu , Tu , e Elie , não tem c i f r u í ; 4 C i t t e r ^ j ^ j w
usao com artigos. D e m a i s , sendo o artigo '.uni adjecti^'
v o , quem fala , ou escreve deve saber o venero dó no«?
m e , a que o artigo precede, para usar d e l e n a va-
riação correspondente ao género , e numero do 1107
me , como se faz com qualquer outro adjectivo.
Nenhum G r a m m a t i c o , á excepção de Duarte N u -
nes do Lião ( a ) te diz quando deves usar do arti-
go , e quando omitti-lo. Ensinão te que se não"
diz v. g. navego Tejo sem preceder 9 a Tejo , por-
que soaria mal. Mas os nossos bons Poetas dicerão
Tejo leva na mão o gran T r i d e n t e „ e , , Gua-I
dia na atras tornou as aguas „ sem o artigo. (Ji)
. Passando aos nomes , fazem te não sei quantái
declinações , e dão lhes wão sei quantos casos : mat
os nossos nomes não tem casos , ou desmentias fí-
naes d i v e r s a s , senão eu ,, tu , elle : os mais ió se v a -
ria o para indicar o numero p l u r a l , v . g. casa , casàf ;
templo , templos,
A estes sonhados casos dão lhes nomes de N o -
minativos 9 G e n i t i v o s , D a t i v o s , A c c u s a t i v o s , & c . Se
A ii lhe»
ig. íi/íi? ••-••'"

( a ) Na Ortografia da Língua Portugueza , pag. $ 0 5 ,


« seg. da edição de 1 7 8 4 . «
(']>) F e r r e i r a , E g l o g a 1 . e Gamões na Lusíada, 4.
IV
lhes perguntares o que é i s t o , dir-te hío , que em
Latim s í o diversas terminações do mesmo nome cue
sprvem para indicar as varias relações , em que <e
.'representa o objecto significado pelo nome Ma»
alem de que são idéyas falsas dizer, que ha genitives
dativos , &c. em Portuguez , também serião falsas no-
ções as que se dessem de correspondências entre o
Latim , e Portuguez. Me v. g. parece se com o ac-
cusativo Latino , quando dizemos feriu me, matou
me: mas me também indica o termo da acção , quan-
do esta tem paciente , e termo , v. g. matou me um
Cavallo; cortou uma a r v o r e , deu me um L i v r o
as quaes relações no Latim se representão por out o
caso diverso; ( m n i e não m e ) e no Portuguez mui-
tas vezes a mim representão o mesmo.
A l e m d'isto ; a tua lingua deve servir te de meyo
para aprenderes as estranhas, e seria absurdo querer
te explicar o artificio da Sintaxe , ou composição
d e l i a , por meio de outra l i n g u a , e suas regras, que
demais de serem inapplicaveis aos idiotismos Portu-
guezes, te são i g n o t a s , e mais difliceis
Quasi todos os Grammaticos, que tenho visto ,
engrossão os seus livros com conjugações: as regras
da composição , parte tão principal das Grammaticas ,
reduzem nas a muito poucas. Çu cuido que te expli-
quei esta parte da Grammaticá com assás curiosidade ,
propondo-te o que neila é mais recondito , e muitos
exemplos dos bons autores, que seguramente imites ,
porque também a copia delles te fará cair mais facil-
mente na i n t e l l i g e n t , e applicação das regras. A j u n -
tei algúas observações á cerca de frases , e construc-
t s erradas, ou menos seguidas, para que imitando
o bom dos livros Clássicos , mo sigas também os
e r r o s , e descuidos, ou o que já hoje se não usa ge-
ralmente. (c)

Acha»

(c) Isto mesmo praticarão na lingua Ingleza o Bis-


po L o w t h na sua Short Introduction to the English
Grammar 3 o Dr. Priestley • e Mr, ^ a j i J y e r r i F r a n c e i .
Acharás neste Compendio alguas p a l a v r a t , 1 con-
jugações , e frases, que te dou como antiquadas , pa-
ra que não as estranhes nos bons a u t o r e s , e não ás
imites
N I o te contentes toda via com as noções cie*
mentares deste compendio : Sirvão te somente de guia
para leres os bons autores , que desde os anhos de
i j o o fixarão, e aperfeiçoarão a nossa l i n g u a , e co-
meçarão a es&rever tão cultamente, ao menos os seu»
Dramas , como os Italianos que ptimeiro O fizerão
na Huropa moderna , antes que os Francezes , Ingle-
Z':s , e outros tivessem Poetas correctos , e elegantes ,
nem Historiadores , e Oradores dignos, de se lerem
como os nossos Castanheda, B a r r o s C o u t o , Anto-'
nio Pinto .Pereira, L u c e n a , Diogo de Paiva' 'cfAndra-
d i , G i l Vicente , Francisco de Sá de. Miranda , A n -
tonio Ferreira, e a immortal L u s i a d a , tão superior
aos nossos Épicos em invenção, grandeza e interesse
do ascumto , elegancia, pureza, e majestade d e s t i l o ,
e fSo justamente invejada do grande Tasso. ( d )
Del-

0 0 Voltaire diz que T a s s o é mui superior a Ca-


m õ e s , a pezar das i n v e j a s , que o nosso Épico fazia
ao Italiano. JVIas Voltaire nunca leu Camões senão na
má traducção Ingleza do Fanshaw : e se entendia bem
a Gentsalemè Liberata , entenderia melhor C a m õ e s ,
do que o T a s s o , ^ue reconhece a propria inferiori-
dade ? Sei que Gabriel Pereira de Castro na U Í i s s e a ,
Vasco Mausinho de Q u e v e d o , no Afonso A f r i c a n o , ,
e a Malaca Conquistada do Menezes tem muito me-
recimento ; mas estes tiverão em Camões um grande
exemplar; e elle só pôde ler para formar o seu esti-
lo , a Castanheda, e Barros ; e Jorge Ferreira de V a s -
concelos ; poetas só a G i l Vicente , e Bernardim R i -
beiro ; e os do Cancioneiro de Resende porque Sá
de Miranda , e Ferreira & c . sairão á luz depois de
composto o seu poema y \ ou no mesmo anno , em
que se imprimiu. A i ! e a? parte dos Palmtirins pu-
• VI
Dulles tirei os exemplos, que te p r o p u z ; nelles
te exercita ; conversa-os de dia e de noite , porque
se basta o estudo de um anno para saberes meyamen-
t e um idioma estrangeiro , , quando quizeres saber a
lin-

Micárão se em 1 ^ 7 2 , anno em que se fizerão as duas


primeiras edições da Lusiada : Camões formou se a si'
mesmo na sua l i n g u a , e teve felicidade em todos os
e s t i l o s , quando não foi grande, e sublime. A ' i n v e -
ja , que o perseguira na sua vida , resuscitou ha poti-
o , preferindo lhç^a Ulisséa de Gabriel Pereira, e até
Malaca, Conquistada, Mas a Ulissea só tem o mere-
cimento tia d i c ç ã o , em que Camões lhe foi mestre,
e guií], A fabula é imitada, e copiada das de Home-
ro e Virgilio , e despida das bellezas dos Originaes,
e das suas excel lentes allegorias. Quanto á grandeza ,
e interesse dos assumtos, não é necessário- gastar pa-
lavras. Se Camões introduziu n o m e s , e allegorias ti-
radas das Divindades do Paganismo , elle dá a sua
descarga ; e devíamos lembrar n o s , que no seu tempo
o Papa Clemente X . , os Cardeaes' , & c . escrevião
fer Deos atque homines, e usavão os imitadores de
Cicero , e Virgilio dos seus modos de dizer confor-
mes á religião dos antigos Romanos. Voltaire censu-
ra a Camões por ter falado ao R e i de Melinde nas
navecações de Ulisses, e E n é a s , como se um barba-
ro Africano das Costas de Zanguebar tivesse lido
Homero , e Virgilio. Mas elle mesmo não leu o que
Camões diz na est. h i . do Canto 2 . , para prevenir
e n a censura; e não sabia, que na I n d i a , e especial-
mente em Ormuz , d o n d e se navegava até á Costa
de Zanfíuebar, os Reis ouvião ler Chronical das his-
torias R o m a n a , e Grega ; e não sabia , que pola í n -
dia toda andavão obras dos Poetas de todas as ida-
des , e de todas as nações , que trazião os Soldados
c Elches E u r o p e u s , e muitas vezes os nossos toma-
rão entre os despojos? Que inverisemelhança ha lo-
g o , ou impossibilidade de que um l i e i tivesse noti-
Vil ;

lingua patria perfeita, e elegantemente, deves éstu»


dar toda a vida , e com muita reflexão os autoreij,
Clássicos, notando principalmente as analogias pecu-
liares ao gênio do nosso idioma. E deste modo pode-
rás imita Jos , não repetindo sempre servilmente às
atuas palavras t , e frazes, e remendando com ejlas as
tuas composições , como alguns tem feito , mas di-
zendo coisas n o v a s , sem barbarismo? , sem Gallicif-
m o s ,7 ltalianismos ,7 e A n»g iP
l i c i s m o s , J corno mui
I • vulgar-
• 'J L
mente se lem , e mais de ordinário nas traducçóes
dos pouco versados nas linguas estrangeiras , e talver
menos ainda ná sua.
Sigamos o exemplo dos bons ingenhos, que na
Arcadia Portuguèza resiíscitárao as elegancias do idio-
ma materno ; aproveitemos as reflexões sobre a lin-
gua , que tem feito alguns membros da R e a l Acade-
mia 'das Sciencias de Lisboa , e chegaremos a fazer
nos capazes de produzir mais copiosas advertências
sobre o artifício , purezas , e elegancias do nosso idio-
ma , do que por hora t e m o s , sendo elle rnüito di-
gno de occupar os desvelos dos patriotas eruditos.
A s s i m teremos quem suppra as faltas desses G r a m -
matico* , com quem Cesar , Augusto , e o mesmo
t Ci-

cia das navegações de Ulisses , e de Enéas ? Quanto


ao silencio dos Poetas seus contemporâneos, que to-
dos se regalarão de elogios reciprocos , e nenhum
( s a l v o Diogo Bernardes ) derão a Camões , Horá-
cio nos predice ha muito a causa destas desgraças
( E p i s t . i , L. a . )

U r i t enim fulgore suo , qui prsgravat artas


Infra se positaj :

Mas com quanta vergonha- dos detractores do


nosso Épico não se verifica apredicção do Lyrico K o -
manc, extiuctus amabitur idem 2
rim
Cicero « t u d a v í o , e o n f e r i i o , O depon de '
,» n t ó d m i „ c t o s 0 „ d , r e , , F o U I d a t « e ^

e
; emèndaHa " g r a n d e t 0 ' P « * " 5 o o «abere.n fa-
**t emendada, e puramente.

Nam ipsum Latine loqui „t illud quidem j n


magna laude ponendum , non tam sua spon-

tnim t Z q U , e S t a p l e r , ^ l , e n e glectum. Non


pr C,arum
Te Z l * « t scire L a t i n e , c ^ a m t u r .
P n e w , r e ; neque tam id mihi Oratoris, q u a a >
U v i i K o m a n i proprium videtur.

Cicero*

V»!e.

EPI-

Hr-Y' °irratado Dí
GrammaU eSutfon.
nas Vidai de C e s a r , e Augusto.
E PIT O M E
D A

GRAMMATÍCA
P O R T Ü G U E Z A.

INTRO.DUCÇÁa

1. JL V Grammatíca è a r t e , que ensina a de-


clarar bem os nossos pensamentos, por meyo de pa-
lavras.
2. A Grammatica Universal ensina os nrethodos
e principios de falar communs a todas as linguas.
j . A Grammatíca particular de qualquer lingua
v . g. da Portugueza , applica os principios communt
de todos os idiomas ao nosso , segundo os usos ado-
ptados pólos que melhor o falão. t
4. T r a t a pois a Grammatíca das S e n t e n ç a s , ( is-
to é , ensina a fazer proposições , ou sentidos perfei-
tos ) e das diversas partes, de que ellas se compóefti.
5. A s sentenças constão de Palavras ( * ) : as Pa-
la-

( * ) A palavra é uma quantidade de som articula*


d o , que significa algum conceito era qualquer idfò-
ir.a : o som contínuo não articulado, insignificante,
não é objecto da G r a m m a t í c a , nem p são palavras,
OU partículas , que por si nada significa o , como algun»
chamão ao adverbio , i n t e r d i ç ã o , preposição , & c .
, íl
L® E P I T O M E
h y r a s de-. Sillabas ; as Sillabas" de Sons elementares e
suas modificada • e estes representão se aos olhos com
Lettras.
6. Os sóns elementares , que a voz humana articu-
la , formados pelos orgáos da f a l a , são ou vo°aes
b
OU consoantes. '
7. Os sons vogaes são simples sons articulados
pelo impulso da voz , e somente pela abertura da
boca de um certo modo , v. g. « , e , i , 0 , «.
í . Os sons consoantes sào os que se não podem
pronunciar bem per si só-s , mas modificão preceden-
do os sons v o g a e s , e formão com elles um som ar-
ticulado composto , por movimentos particulares das
diversas partes da boca.
9- Quando pronunciamos alguns sons vogaes
soltas? também o som pelos narizes, e estas vogaes
se dizem nas a es , y . g. ê, í , bn , i , ü ( * ) . &
1 0 . O Ditongo, ou som vogal composto , é t
umao de dois sons vogaes pronunciados em um só
impulso da voz , v . g, ai , ui , & c .
11. A Sillaba é a pronúncia de uma vogal s ó ;
ou

O Q
ue as nasaes sao vogaes se prova : i . ° porque
a voz trina sobre cilas , ouvindo-se distinctamente,
v . g. sobre o an de amante , ou sobre o o de cera-
fões; que se o til , ou m , ou n , representassem co-
mo consoantes, não se ouvirião , como quando se tri-
na sobre bar-ba-ro , porque os rr só se ouvem , quan-
do a voz cessa da vogal'trinada , e passa á outra
sillaba. Os Poetas sempre fazem elisão das nasaes
com as vogaes seguintes, v . g. „ A ti se d<tvem'os
altos fundamentos „ Parece que envcrde^mVdi, mais
cores. „ Florecirt/nVntre tanto novas flores „ : O mes-
mo é no Latim. Note se que em fioreclom a elisão c
do o final jioviciao , que é como se deve escrever,
mas este exemplo prova o que digo 3 ainda nos ca-
sos de má ortografia.
DA GRAMWATICA P O R T Ü G ü E Z A . u
'i íl r ' ' t! K±Jp.> ,, i
ou c r m b i n a d a , e precedida de consoantes, t)U tam-
bém de qualquer ditongo ; sendo proferidas a vogal #
ou o ditongo erpAnna só emissão , ou impulso da
v o z , e formando uma palavra , como a, t/e , lei ,
Útil , soo ; ou parte de uma palavra v . g. , t
a-d> o , tem-plo , es-cri tii-m , sec-ptro. ^ „
1 2 . Os sons vogaes s i m p l e s , que t e m o s , são os
seguintes >4' á f o r t e s , ou a g u d o s ; A , à g r a v e s ; >4
* mudos; t , agudos; È ^ graves; E e mudos;
í I agudos, I i níudos; Ôó agudos; Ò 3 graves; O
• mudos ; Ú tí agudos ; U u mudos.
1 Exemplos das vogaes agudas, ou fortes : G í r -
ro , F e r r o , T i r o , P o r t a , F«ro.
1 4 . Exemplos das g r a v e s : LÀma , Camèlo , O v O j
Eòlo.
1 5 . Exemplos das m u d a s : T&ca , -Tosse Ájuia,
T e m p l o , Còrj«ges.
1 6 . O s ditongos, ou sons vogaes compostos são ,
de vogaes puras os seguintes <w , ei, o i , ui, an , eu,
in , ou , v . g. em C o n t r a i , L è i , F ò i , Fúi huto ,
F è « d o , F e r i » , Gozou (*).
1 7 . Muitas vezes pronunciamos como ditongps ;
ou fazendo uma vogal c o m p o s t a , e urrrç sillaba, as
vogaes seguintes ià , io , na , ue , ui , v . g. em í-ptia ,
só; bri» , á-gM<i, de-lin-q«en-tt , li-q«i-do. „ T â m b e m
m o v e m da guerra as negras furirtí „ A terra da ( M i r
púscH4 e das Asturuií ,, Em Canusio reliqwiai só de
Cannas , , ( Lusíada 4 . 0 1 1 . e 20. )
1 8 . O s ditongos compostos ate vogaes nasaes sã®

( * ) Outros escrevem ao por <w ; eo por e pôr


et/o , i» por ia , v. g. pao , leo , ferie , o que dá occa-
sião a muitos equívocos na ortografia vulgar. ( V e j a -
se a nota (c) ) Léij , R e y , Grey y 001113/ final são
contra a etimologia ( de regi , legi, gregi tirado o g-
m e d i o ) É desnecessário o y , bastando o nosso i ;
alias o j G r e g o soa mui diversamente do nosso i. V .
Leão Ortêgr.f. 302.
IA ÍE P I T O M B
o j seguintes &a y , ã» , tf} ^
, «o. O s nossos mayores usarão a l g u n s , que já não
usámos ; antes os reduzimos a sons nasaes simples •
ntfc náo pronunciamos v . g. Lã-a, mas Lã : elles di-
cerão , e escreverão bee , que nós ainda dizemos, pos-
to que escrevemos bem , e impropriamente ; dicerão
f q u « dizemos <* fim , dicerão U-o , , que
hoje dizemos W , Aw» . São pois os dittos na-
saes, de que hoje i r a m o s , exemplificados nas pala-
vras seguintes Mãe, ou Mãi, S™ Bfc, Fe/ , R í -
x^íj , Pois , üfl ; e M m , e Mií/ío , que ninguém pro-
nuncia com u puro , como os de / m , T V & c .
19. A s lectras, com que representamos os sons
vogaes s l o A a, E e, I ; , <? 0 ? [/ «. Os sinaes
dos ^ c c ^ í c f , ou tons m a i s , ou menos fortes , com
que proferimos as vogaes são ( ' ) agudo , ( ' ) gra-
v e : as mudas não tem sinal particular : o accento
o r c u m f l e x o não o t e m o s ; a s vogaes , que com elle
se n o t ã o , são graves. ( b ) A s nasaes notamos com
um

0 0 O s nossos mayores assim o escreverão, e cui-


do , que assim os pronunciarão , se já não era os-
tentação de etimologias escrever La a de Lana Bei
de jene , Béo , d« Bono , Afu de Afiais , Hã-o dzUno ,
Lua de Luna. Commumrnente forão mais exactos 1 es-
crevendo o til (M ) sinal do som nasal, sobre a v o -
gal , que o é , e não na outra vogal , de que se for-
ma o ditongo , v. g. João , Naã , Mac , &c. o que é
erro ( V , Leão Ortogr. / , 2 1 1 . 2 1 6 . 2*0. Lusíada 1 0 .
lir bôos , ediç. de 1 7 $ j. y. v o l u m . Duarte Nu-
nes de Leão justamente reprova escrever os ditongo*
nasaes por am em vez de ão : as nasae», simples em
ü assim se escrevem m e l h o r , porque o m em am in-
dica , que se pronuncie fexando a boca , contra o
som aberto e final das nasaes. V . Ortogr. de Leão , e
Barros , Gram. f . 1 0 5 .
(b) Á cerca dos accentos circunflexos, v . o clt. Leão
Ortogr, f . ilS. e 217. edif. de 1 7 8 4 .
DA GRATOMATLCA PORTUGUEZA. **
um til («H ) , quand© f o r m ã o d i t o n g o s , v . g. ™ Z t J
lio, vels, ?Õis, cãiba , &c. equando são simples na-
saes com O ) v . g . W , sã \ ou com , m , V . g . c<wi-po ,
*ew-po , íim-ples, pom-pa , tww-ba ; ou com o « , v . g.
;
5í?/»-to, fte/i-to , Jí/i-to , p / j - t o , jtfn-to. "
20. O s sons consoantes , que temos em Portu*
g u e z , são os seguintes: ; .
Bè,Cè , Vè , F ^ , Gè ( soando como ) Jè , £ < f ,
Mè , , P<> , g è ( c ) R è , , T e , Vè Zè, Yè y
que vulgarmente se dizem Be, £ e , D e , tf/V, G e ,
soando como o I consoante , É / e , E m e , E / i e , Pè,
, E r r e , É j í e , Tè , U consoante , X/f , Ze , T/mí-
/o/j ; e H ( hagá ) sinal de aspiração , desconhecida
em Portuguez.
2 1 . T e m o s mais ( segundo a escritura Vulgar ) Ch
hora com som de x em chapéu ; hora como í em
charidaâe , choro , Christo & c . : L/IÍ em folha afilho\
Nh em ninho, , sons consoantes simplts repre-
sentados por duas lettras ( * ) .
2 2 . A s figuras das consoantes maiusculas são B ,
C, D, F , G, H J , L , iW, I f , P , 5,
T , F , JT , Z , e T a que damos som d e ^ e ej K :
as menores são b , c , , g, j , /, w , « , >f í
r, t i v , x , z t y , k\ é h, Çd}
.•/•••'.•• Pas-

( c ) N a ortografia vulgar temo» caso» , e m que que f


e qui soão como /:e, /:i; outros em que soão fcwe,
e estés de com mum não se d i s t i n g u e m , deven-
do notar-se com dois pontos 9tie : e m g « e , gui
também soão hora como senão tivera « , outras v e -
zes soa o u , e deve havejr a mésma distinção-com
os ( • • ) sinal que nao se ditongão as vogaes.
0 ) O nh , não fere as vogaes das palavras com-
postas , v . g. in-habil, iii-habHadâ , in-herencia^ in-hihir,
&c.
0 0 i . O Alfabeto Portuguez é , como outros m u i -
tos , e m partes redundante , em partes f a l t o de let-
tras ; e talvez tem , e usa caracteres e q u i v o c o » , e i -

M iíSSíí
14 EPI T O M E
Passemos ás p a l a v r a s , que dos sons se compõem ,
ft de que consta a oração.
LI-

•primincta as mesmas lett ras sons dififerentes; e talvez


diferentes lettras representao o mesmo som.
2, Redunda em C antes de a, o com som de Q ,
ou K ; no H antes das vogaes , que não aspiramos:
e c antes de i homônimo d e í e , si: em Ç soan-
do como
T e m falta de caracteres s i m p l e s , que representem
os *ons L / i , Nh : X suppre a Ch , mas não sempre.
4 , Exprimem se sons diflferentes com as lettras C y
e G , que antes de a o u soão Ka , Ko , KÍÍ ,
Ga , Go , Gil, e antes do é , i soão se , si, je , ji •
e aqui mesmo temos diversas lettras G e / com os
mesmos s o n s , assim como em ph com som d e . / ; e
c/i de K , e de que. Outra incoherencia é o x com
som de in e m exemplo , que se diz m e i n p l o ; ou
com som de is, v . em sexto , text& , que se leni
seistê, teisto , como muitos Clássicos escreverão.
5. O r usão muitos por i nas palavras derivadas
da lingua Greça , v . g, lu/dra , stjnodo : mas é super-
fluidade. O uso , que d'elle se deve fazer , é como de
consoanté entre vogâes , que tem semelhante som ; v .
g. pra-ya , idê-ija , vè-ija , vè-:/» , cor-rèijo^ vi-t/a , bri-
yo , eu ri-i/o, o ri-ijo corre ; por diflferença de elle ri-o-se ,
e d'o ri-o corre , como hoje se e s c r e v e m ; e de veo
para veo , e para „ elle vei/o , , de vir, See. Receo e Or-
Jeo ( n a Lusíada est. 2 . ) não são consoantes, poií
que soão reccjo e Orfeu , e a rima pede Orfej/b. O a
de cria , lia , c»mia , elegia &c. não he puro , mas
ouve-se precedido d e y e cxi-i/n } comi-ija , li-ya ; elegi-
da ( elegei a L a t i n o " ) . Quando a estes verbos se segue
a relativo , v . g. leste a carta ? Y\-ya ; viste-fl ? vi-^íi ;
assim se tirará o hiyato denfre as v o g a e s ; nós o ti-
ramos com n em virão-;ie , busquem-no ; e por eufonia
dizemos tu búsca-!>, em v e z de buscas-v'} v è - l o , pof
ves-o ? buscá-lo , por buscar-o , & c .
DA GRATOMATLCAPORTUGUEZA.**

L I V R O I.
Das Palavras por si sis ou partes da Sentença.

¥ ,
j. J L \ S palavras , de que consta qualquer sen-
tença , são as seguintes v:;; ' / ^
2. I. Nomes , ou Sustantlvos, cora que significa-
mos os indivíduos da natureza , ou da a r t e , v . g.
P<idro \ casa, pomo : e as qualidades de per si como
alvura , .doçura, l'i ,
3. II. Os Adjectivos Articulares , que ajuntamos
aos nomes , para determinarem ^ e x t e n s ã o i n d i v i d u a l ,
a cue «e applica um nome çommum , v . g. o homçm ,
falando dos- indivíduos da especie h u m a n a ; este ho-
mem , aquella casa , itm pomo , toda pessoa , ne-
nfxú horwem , & c .
4. I I I . Os Adjectivos Attributives , que ajuntamos
aos nomes , , pára significar os attributos , proprieda-
des , qualidades, e accidentes das c o i s a s , v. g. ho-
mem bom y fruta doce , seda atui, homem moral, & c .

6. Concluiremos esta nota observando , que not


liv,ros antigos- seaçhão vogaes dobradas, para indicar
s e , que são agudas, ou.que é aguda a simples , v. g ,
Jara a y por fará ; outras vezes para mostrar que havia
duas vogaes na l i n g u a , donde se derivou a Portugue-
7 a , v . g. pòboo , pòvòo , de pop alo , Cidadão* de Cibda~
dan» r vòsfarees àzfá,redes mais a n t i g o , como amnacs
de atiiadss dp Latim ama,tis , que dizemos amáis. As-
sim dobrandg; consoantes no principio das dicções, v*
g. sseendo , s e n d o ; rreepto, reino ^ p isto talvez por-
que S e R. tem sons diversos. V . as Ordenações Afoiv*
unas j e 01 IntdiUs da Academia, j , v»l. foi. & c .
IA E PI T O M E
os seguintes & f S e ^ q i , * ? } e e ^ ê i , t e , t i , g 0 , r i a ,
/

uij üo. O s nossos mayores usarão a í g u n s , que já não


u s á m o s ; antès os reduzimos a sons nasaes simples :
não pronunciamos v . g. Lâ-a, mas Lã : elles di-
cerão , e escreverão bêe, que nós ainda dizemos, pos-
to que escrevemos bem , e impropriamente; dicerão
, que dizemos a fim , dicerão hâ-o , /uí-o, que
hoje dizemos , /ihoj (<i). São pois os diUngos na-
saes , de que hoje ijsamos , exemplificados nas pala-
vras seguintes Mãe, ou MSi, S ™ , Bee, F ã " , R * .
, Pois , üd ; e M a / , e , que ninguém pro-
nuncia com « puro , como os d e / m , Tui & c .
1 9 . A s lettras, com que representamos os sons
vogaes são A a, E c , I ; , 0 a , U u. Os sinaes
dos accentos, ou tons m a i s , ou menos fortes , com
que proferimos as vogaes são ( ' ) agudo , ( 1 ) gra-
ve : as mudas não tem sinal particular: o accento
circumflexo não o t e m o s ; as vogaes , que com elle
se notão , são graves. ( b ) A s nasaes notamos com
um

0 0 Os nossos mayores assim o e s c r e v e r ã o , e cui-


do , que assim os ptonunciavão , se já não era os-
tentação de etimologias escrever Lãa de Lana, Bcè
tebcne , Boo d« Bana , Afu de Afiais, Hií-o de Uno ,
Lua de Luna. Commuminente forão mais exactos es-
crevendo o til ( m ) sinal do som n a s a l , sobre a v o -
gal , que o é , e não na outra vogal , de que se for-
ma o ditongo , v . g. Joaõ , Naà , MaÉ , & c . o que c
erro. ( V , Leão Ortogr. f , a n . 3 1 6 . 2 * 0 . Lusíada 1 0 .
S j , bõos, ediç. de 1 7 $ j , 5. volum. S . ° ) Duarte N u -
nes de Leão justamente reprova escrever os ditongo*
nasaes por am em vez de ão: as nasae», simples em
ü assim se escrevem m e l h o r , porque o m em am in-
dica , que se pronuncie fexando a boca , contra o
som aberto e final das nasaes. V . Ortogr. de Leão , e
Barros , Gram, f , 105.
(b) Acerca dos accentos circunflexos, v . ocit.Leãâ
Ortogr.f, i f g . <• 2 1 7 . ediç. dc 1 7 8 4 .
DA GRAMMATICA PORTUGUEZA. If
• A
um ti! (Tm-) , quando f o r m ã o ditongos , v . g. mae^
lio, vels, , CÍ7(7;Í? , &c. e quando são simples na-
saes com (<- ) v . g . lã , sã | o u com , m , V . g. c<?m-po ,
tan-po , íim-ples , p m - p a fz/m^ba ; ou c o m 0 n 5 v . g.
San-to , hen-to , ií/J-to , / w i - t o , jw/i-to.
20. Os sons consoantes , que temos e m Portu*
g u e z , são os s e g u i n t e s : ) . M'
Bè,Cè , Dè , F ^ , ( soando como g w ) JTè ,
JW<), , P«J, ^ ( c ) R è , Sè , T V , F è , Xè , Z<> , té ,
que vulgarmente se dizem Be, Ce, De y t f e , G * ,
soando como o I consoante , É/tf, È m e , E / i r , Pè,
, Err<r, Éíítf , Tè , U consoante , X t / , Z<? , Ypsi-
/O/Í ; e H- ( hagá ) sinal de aspiração , desconhecida
em Portu guez.
21. T e m o s mais ( segundo a escritura vulgar ) Ch
liora com som de x em chapéu ; hora como k e m
chtu-ldade , choro , Chrlsto & c . : I</i« em folha ,filho ;
em /ii/íAo, mi/iAtf, sons constoantes simples repre-
sentados por duas lettras ( * ) . -
2 2 . A s figuras das consoantes maiusculas são B ,
<?, D , F , G , H r J , L 0 M , N 9 P y « , A , 5 ,
T , V , X , Z , e Y a que damos som de ^tf ej K j
as menores são b f c j g »/> »>, « , /», ^ »
r, Í, V, * , é A, (</)
4
<, Pas-

( c ) Na ortografia vulgar temos c a s o i , em que que ,


c qui soão como kc, /:/; outros em que soão hue %
km , e estês de com mum não se d i s t i n g u e m , deven-
do notar-se com dois poptos qiie qüi: em gue 9 gui
também soão hora como senão tivera u , outras v e -
zes soa o u , e dejre havejr a mesma distinção com
os ( • • ) sinal que nao se ditongãó as vogaes.
m m nh , não fere as vogaes das palavras c o m -
postas , v . g . in-habll, in-habhado , iii-hereitcia , in-hibir,
&c.
(Í/) i . O Alfabeto Portuguez é , como outros m u i -
t o s , em partes redundante , em partes falto de let-
traj • e talvez tem e usa caractéies e q u i v o c o s , e * -
1 41 E P I T O M E
, jjfi'V r
Passemés ás p a l a v r a s , que dos sons se compõem ,
«s de que consta a oração.
LI-

primindo as mesmas lettras sons differentes ; e talvez


diíTerentes lettras representão o mesmo som.
2. Redunda em C antes de a , o com som de Q ,
o u K ; no H antes das vogaes , que não aspiramos:
e c antes de e, i homônimo d e í t r , si : em Ç soan-
do GO mo S.
J. T e m falta de caracteres simples , que representem
os áorw Lh>, Nh: X suppre a Ch , mas não sempre.
4. Exprimem se sons differentes com as lettras C y
e G , que antes de a o u soão Ka , K o , K í < ,
Ga , Go , Gii, e antes do é, i soão se , si 0 je , j i ;
c aqui mesmo temos diversas lettras G e / com os
mesmos s o n s , assim como em ph com som d e , / ; e
c/i de cc , e de que. Outra incoherencia é o x com
som de ir, e m tfccemplo , que se diz e/templo ; ou
c o m som de is i v . «r. em sexto, texto , que se Icm
scisto, teísta , como muitos Clássicos escreverão.
f . O r usão muitos por i nas palavras derivadas
da lingua Grega , v . g. hydra , sijnodo : mas é super-
fluidade. O u s o , que d'elle se deve f a z e r , é como de
consoanté entre v o g a e s , que tem semelhante som ; v .
g . pra-ija, idê-Ua , vc-i/a , vè-!/o , cor-rèyefa vi-i/a , bri-
t/o , eu ri-t/o, o ri-t/o corre ; por differença de elle ri-o-se ,
e d'o ri-o corre , como hoje se e s c r e v e m ; e de veo
para véo , e para ,, elle vei/o ,, de vir , & c . Keceo £ Or-
Jeo ( na Lusíada 3. est. 2 . ) não são consoantes, pois
que soão reajo e Orfeu , e a rima pede Orfejb. O <*
de ctU, comia,., & c . não he puro , mas
ouve-se precedido de cri-//« , comi-na, li-y<r; çlegi-
ya ( elegel a L a t i n o ) . Quando a estes verbos sç segue
a relativo , v . g. leste a carta ? W-ya ; viste-« ? vi-y<i;
assim se tirará o hiyato denrre as v o g a e s ; nós o ti-
ramos com 11 em vlrão-no , busquem-no; e por eufonia
dizemos tu búsca-h, em vez de buscas-v, v è - l o , po?
ves-o ? buscá-lo , por buscar-o , & c .
DA GRAMMATIGA PORTUGUEZA

L I V R O I.
( Das Palavras por si sés ou partes da Scnúnça./Mjtii

j, JL \ S palavras , de que consta qualquer sen-


tença , são as s e g u i n t e s : ' j-% " .
2. I. Nomes , ou Sustontlvos, com que significa-
mos ns indivíduos da natureza , ou da a r t e , v . g.
Po'dro ] casa, pomo ; e as qualidades de per si c o m o
alvura , doçura.
3. 'II. O s Adjectivos Articulares , que ajuntamos
aos n o m e s , para determinarem extensão .individual ,
a cue- se applica u m n o m e c o m m u m , v . g. o homem ,
falando d o * indivíduos da especie h u m a n a ; este ho-
m e m , aquella casa , um p o m o , toda pessoa , ne-
nliü homem , & c . „.?,>• ^MÈ^mí
4. I I I . Os Adjectivos Attributives, que ajuntamos
aos n o m e s , para significar os a t t r i b u t o s , proprieda-
des , q u a l i d a d e s , e accidentes * das c o i s â s , v . g. ho-
m e m bom , f r u t a doce, seda azul, h o m e m moral, & c .

6. Concluiremos esta nota observando , que no«


livros a n t i g o s - s e açhão vogaes d o b r a d a s , para indicar
s e , que são a g u d a s , o u . q u e é aguda a s i m p l e s , v . g ,
J f a r a à y p 0 r . J a r á ; outras vezes para mostrar que h a v i a
duas vogaes na l i n g u a , donde se derivou a Portugue-
7 3 , v . g. pòbeo, pòvoo , de populo , Cidadã a» de Clbda-
dan», vos farees àtfáredes mais a n t i g o , como amaaes
d e arhades do L a t i m ama.tis , que dizemos amais. A s -
sim dobrando consoantes no principio das d i c ç õ e s , v*
g. sseendo , s e n d o ; rreegno, reino l, p isto talvez por-
que S e R. tem sons diversos. V . as Ordenações Afon«
tinas, e 0 1 Inéditos da Academia, 3. v»L foi. &e.
• JS - I T o MB
V y. I V . O s Verbos, ou palavras , com que primei*
j r o a f i r m a m o s , que algum attributo compete a algui
ama coisa v . g. „ este pomo é doce „ Pedro' é amaii-
te da verdade „ Pedro ama a verdade; ou segundo
declaramos o nosso desejo de que alguma coisa , o u
pessoa tenha alguma qualidade, e attributes , ou f a ç a ,
ou sofra alguma a c ç ã o , v. g. „ filho sè amante da
Verdade,, filho ama os teus semelhantes „ : Perdoai i
e sereis perdoados „ são duas sentenças , uma (per-
doai ) mandativa , ou exhortativa ; a outra ( sereis & c . )
assertiva ( f c ) .
I 6. V . Os Advérbios, 011 palavras , com que mo-
dificamos os attributos das coisas , v. g. muito branco t
pouco quente; e também os attributos significadas pe-
los v e r b o s , v . g. ama mtnto, fala pouco: não exclue
o attributo adjectivo , ou verbal ( * * ) .
7. V I . As Preposições , com que declaramos as re-
lações , que umas cq^as tem com o u t r a s , v . g. Se-
nhor d a casa; d'a casa ao prado ha cem braças; ho-
mem sem briyo ; d'o Norte para o Sul.
8. V I I . As Conjunções , 011 palavras, que indicao
í» correlações das sentenças, e as atío entre si , v . g.
Pedro é intrépido, mas é imprudente; J o ã o não f o i
lá , nem Francisco: P e d r o , e J o ã o são amaveis.
-

( * ) Donde se vc , que a sentença é proposição ,


ou exposição com palavras do que passa n a nossa
alma , quando julgamos, ou queremos ; numa palavra
aó , como amo, amas , ama tu ; ou dividindp , e ana-
lisando o que ellas contcm , por palavras equivalent
t e s , eu sou amante; tu és amante; tu sè amante, '
(**) Não amo , é , exiato não amante, sem amar Z
, , A Egypcia foi b e l l a , e não pudica, ou inpudiça „
existiu com belleza , e sem pudicícia : „ NSo. sofre o
peito forte „ o peito forte é insofrido , htol0ánte ;
nio-sofrido. O verbo sempre affirma a existência do
attributo , que a negação exclue , ou nega : não fiquei
bom „ não nega que fiquei, mas o modo \ i. e. fiquei
não-hom, sem bondade fisiea, ou moral.
DA GR AMM ATIÇA PORTUGUEZA. 17 |
9. V I I I . Éstas -são as palavras , de que i t s a m o ^ ' v
na linguagem analisada, e discursada- As paixões r t á n f
bem se exprimem ás vezes com uma só palavra , A
g. ai guai ^ hui , que equivalem a tó/jgí dor
cu 'hatiniu , e me compadeço „ eu me admiro. Estas pa-
lavras pois equivalem a sentenças sentimentáes; e tal
vez se arrojão , ou entreniettèm com aâ da linguagem
finalisada , v . g. ai dc mim 1 gciai do tirano I e poí
isso se cliamãò Interjeições.
10.' Em gérál as palavtas ^ que ficão descriptas ,
signifição i . ° ° o s objectos, que se appreseqtão â nossa
alma : ou 2? o que ella julga , affirma , e quer á cerca
d'elles; ou as correlações, que ella vè entre e l l e s ;
e entre os j u í z o s , que forma delles.
11. Significamos os objectos com Os Nomes è Ad-
jetivos d'attributos} o que pensamos , oii julgamos $
e queremos com os verbos ; as cotrelações^ entre as
coisas com as Preposições as correlações dentre 0»
juízos 3 òu sentenças, com as conjunções. (<j)
Mas em aíguas palavras abhão se juntamehte
declarados os objectos , e attributos , e outras circun-
stancias , v . g. E u significa o homem , òü m u l h e r ,
que te falo ; Amo quer dizer por si só tanto c o m o . : ,
Eu sou amante agora : Teme eqilival a Tu sè te-
mente agora ; e n'estas duas palavras Amo e Teme se
encerrão duas sentenças , isto é i noções dos Sujeitos
Eu e Tu, de quem se affirma, ou deseja terem os
attributos amante e temente ; e o que a nossa alma
afirma , e quer á cerca dos sujeitos, e attributos amai*
ie e temente. (/>)
B ij*
-- ' ... '• - • - • '• •• - • —• •i r

( n ) Os adjectivos articulares indicãò O modo ^ em


que a alma v.d a extensão individual dos nomes dè
classes , generós , especies, h é. a quantos individuo*
estende a significação do nome.
( i ) Os advérbios são destas palavras compostas, v ,
g. ngora de hac hora Latinos hoje de hoc die ; oganê
de hoc átwo j haameiiU de bem* mente • & c . : Outrem OU-
i B f f i . é r i T O M E
Ifli. "De cada uma destas partes da O r a ç ã o , OH da.
Sentença direi aqui a natureza , e u s o s , é assim os
a c i d e n t e s , de que se acomparihão. No L i v r o seguin-
t e da composição d'eilas em S e n t e n ç a s , e Proposições..-

C A P I T U L O I.

Dos Nomes , ou Substantivos•

í« V T Ornes são as p a l a v r a s , com que indicamos


as coisas , que existem por si , v . g, CíI »
Sa, pomo, hontem ; ou as qualidades, que representa-
mos como existindo sobre s i . v . g. alvura , riqueza ,
doçura, mansidão, & c . estes se dizem nomes abstra-
ctos. (a")
•2. O s nOmeS o u são individuaes , c o m o v . g. Ca-
too , Scrtorio , Kym<7 , Eum? : ou commuus , e geraes pa-
ra os individuos de u m g e n e r o , de u m a especie , o u
alas se Jisica , como v . g. planta , arvore , arbusto , cíí-
, ; ou moral, v . g. Cidadão , Jtiis , Fí/mo-
/í» , &c.
j . Quando falamos de mais de um individuo da
especie, classe , ou g e n e r o , variamos os nomes dizen-
do o v- Cn0 sioguhr) um cavallo , esta arvore,
w/w

Ira pessoa; Ninguém nenhúa pessoa ( de neminem L a -


tino ) .
(<0 O s substantivos proprios de coisas , qtie exis-
tem por. s i , significão obscuramente um s u j e i t o , o u
base de attribütos individuaes , ou ccmmuns aos indi-
víduos de uma classe , genero, especie, e por-isso se
chamão concretos , a diflferença dos que significão os;
attribütos separados pelo nosso entendimento das coi-
s a s , em que estão, e se dizem nomes abstractos, i. é ,
separados , de qualidades separadas dos indivíduos.

1 1
1
v av. f
Í DA GRAMMATICA PORTUGUEZA. I
ttm cidadão j e no numero plural , dois cav alios , M N f
trtí -drvores, ires cidadãos. ^ 1
4. Os nomes , e appellidos individuaes não t ^ i
p l u r a l , senão quando pertencem aos de uma familia ,
v. os Almeidas, Albuquerques; ou por figura se dão
a sujeitos, que tem qualidades, ou nomes semelhan-
tes , v . g. Dá a terra Lusitana ScljHÔes , Césares y
Mesçandros, tf Augustos : as duas Vlanas , &c.
5. Os nomes significão talvez animaes da mesrtia
especie , mas de sexos differentes , Variando se o mes-
mo n o m e , v. g. coelhocoelha, rato, trata : outras .
vezes indicamos a diferença sexual por nomes d i y ç r ^ g g
• s o s , v . g. homem , mulher ; cava lio, Vgwtf.
6. Os nomes, que significão o macho da e s p e c i e , '
se dizem masculinos • os "que significão as femeas são
Jemininos; e ésta diferença dos séxos, indicada pelos
nomes se diz o genero d'elles , na linguagem dos G r a m -
maticos.
7 . As diversas relações, que as coisas significadas
pelos nomes tem e n t r e ' s i , em alguas línguas te dç-
clarão , variando as -finaes dos n o m e s , v . g. no La-
tim , Domi/Jíif ( o S e n h o r ) , em Domi/it ( do Senhor ) ,
Domin§ ( ao S e n h o r ) , Domi/w/n ( ao Senhor ) , Domi-
ne ( ó S e n h o r ) . Esta? diversas terminações dos no-
mes chamão se casos.
3. Nós em Portuguez temos algua semelhança de
casos nos nomes seguintes , que os. Grammaticos cha-'
mão Pronomes.
9. Eu nome , com que quem fala de si se no*
m e y a , em lugar do seu nome proprio, tem as varia-
ções Me, Mim, Migo no singular. Se quem tala dô
si se considera como d o i s , diz Eus, v . g. „ Em mim'
ha dois eus, um segundo a carbe, outro segundo o
espirito. „ ( Heitor Pinto. )
1 0 . a Quando alguém afirma algua coisa de s i , e
de outros, diz N ç s ; e tem mais as variações J V o f ,
e Nosco. Eu, e Nós se dizem pronomes d'a primeira
pessoa. ;
l i . Quando falamos a outrem * doemos familiar»
B ii men*-
IMP I \E PI T O ME ^ V , J
ii^nte T « , Te , T i , ; e no plural a m a i s ' d e
üfn , Vós , Vos, Foíi-í), e tal é o pronome da segunda
o
;j Quaesquer outras pessoas , ou c o i s a s , ' q u e não
são a p r i m e i r a , ou segunda p e s s o a , se dizem tercei-
•ràs pessoas , , v . g, Pedro , o cavalio , a arvore_ ; e quan-
do se põem em relação comsigo m e s m o s , temos as v a -
riações , ou casos Se, Si, , para o singular, e
plural , v . ,g. Pedro é Senhor de si : Paulo, íeriu se :
Estes andão malavindos entre si , ou comsigo. Do
uso dos casos direi mais na Sintaxe , ou regras da
composição. °
15. Quando falamos a qualquer pessoa , ou coisa ,
• então se reputa segunda pessoa , v . g. 6 Pedro6
monte Sião: T u s ó , til puro amor, &c. (6)
1 4 . A influencia, que tem na composição os gê-
neros dos nomes , e as variações do plural , tem Ni-
glia coisa de commum com os adjectivos, e por isso
depois dos Capítulos seguintes tratarei dos Gêneros dei
Nomes , e das Formações dos seus Pluraes. ( V. Cap. 4. )
15. Dos n o m e s , e adjectivos primitivos sederivão
os diminutivos: v . g. de homem homemzj/rfio; de mu-
lher mulheriliha ; de cavallo c avail mho, & c . e os au-
men-

(*) Eu indica mais e melhor o individuo , que


affirma de si algiía coisa , que o nome proprio do
sujeito , o qual pôde ser ignorado da pessoa, a quem
f a l a m o s ; e ao mesmp tempo que individua tanto , é
commum a todos os que o dizem de si. Tu quasi
sempre fequer nome a d j u n t o , quando ha varias coi-
sas , ou pessoas presentes , a quem falamos , v . g .
Tu só , tu puro amor , &c.
(A) Se alguém fala a si mesmo trata'se como a se-
gunda pessoa. Socrates (dizia elle entre s i ) conhe-
ces o teu engano ? Se fala de si pelo seu nome pro-
prio , considera se como terceira pessoa , v . g. S o -
crates ( e s c r e v e n d o a o u t r e m ) vos envia saudar j òu 7
eu vos saúdo.
DA GRATOMATLCAPORTUGUEZA.**
mfntatiòos , y ; ' g . hmemtarrão ,• mulhtr.àça , ou mullfc- < {
ryia, c.avallãó , & c . dos adjectivos, v . g. doido doidw'
rão, louco lott(]UÍnho\ secco sec carrão Ladrão }
vás , flcc. ( c ) .

' C A P I T U L O II.

Doí Adjectivos Articulares.

1. S adjectivos articulares ajuntão se aos n é -


V - A mes g e r a e s , ou communs , para determi-
narem o numero , ou quantidade de indivíduos , de
que f a l a m o s . •
2, Entre estes tem o primeiro lugar o artigo sim-
ples o , a , o qual indica , que o nome se. tomar em
toda a extensão dos i n d i v í d u o s , a que a sua signifi-
cação é applicavel , v . g. O homem é moçtal .: ®
cavallo é quadrupedé , s e r v i ç a l , ; a laranjeira é arvo-
re de espinho: „ A mayor pouquidade , que eu na
homem acho , c querer bem de siso a nenhua mulher „
(Eitftosin, 5. 1 S 1 . diz de todo homeiíi e m
r ai. )
J. Se queremos tomar o nome i n d i v i d u a l , e ex-
tensivamente, mas restricto a um só sujeito , ou a
menos de todos os da especie , limitamos a generali-
dade., que indica o artigo simples , com outras cir-
cunstancias , v . g. o homem , ífue hontenr vimos : o
•velho da montanha :. o homem sábio : o casquilho da
bairro. Outras vezes subentende se facilmente a cir-
cunstancia , ou circunstancias restrictive , v . g. £ viste
o homem ? i. -é , de quem já falámos. g Foste J | praça }
i. é , á praça desta Cidade. £ J á v e y o o Pedro ? i. é , o
moço de casa d'este nome.
V-: • . - . . i. ^.

(c) Os Grammaticos dividem os nomes em eolketi-


vos, .partitivos, & c . mas todas as divisões , que fazem
não influem n a d a , nem servem na composição G r a m -
matical , senãô o que vai no I . do Liv, II. C. I
n a nota. v
If?® - E P
I T O M E \ \I
Os nomes individuaes, ou propriosr são de si
J | f e q s m o s determinados , em quanto á sua extensão; e
-^ar isso não admittem adjectivos articulares. Assim
não dizemos o Catão , o Sertório fez isto; Roma i
Cidade antiga. ( « ) „ $e a cubiça de Italia , e as de-
licias dc Asia não devassarão Portugal. „ ( Ettfr. 2. Sc.
5. ) „ Africa , Europa , è Asia as adorou. „ ( Camões ,
Soneto 44. e V . Lí<í. 1 0 . est. 97. tfjeg. ate' 1 0 3 . Bar-
roí ,. Gram. Dedicator, )
5, Todavia achâo se nomes proprios de regiões,
e os dos r i o s , e dos montes com artigos, pois di-
zemos , v. g. a Índia, 0 Egito, o Cairo , a Eí/j/o-
)f>i<i , íj China , o Japão , 0 Decan , o Canará; o T<r-
, o , o JSí.i« ? o Keízíuio, o iVorte , »
, & c . / I s t o procede a s s i m , porque os nomes indi-
v i d u a e s , a quem não conhece os indivíduos, não dão ,
pela mayor parte , idéya a l g i í a , nem da ciasse , a que
pertencem ; e por isso era usual ajuntar se o nome
commum com o proprio , a p p o s t o , v . g. o Rio Mon-
dego , o Rio Tejo , o Lago , ou a Legòa Meo this ,y a re-
gião Africa', a Cidade Meca , o monte Etna , o ma/ífe
Vesuv'o , tf rW/w Mc ti 11 de , a Cidade Beja ; ,, « Cidade Zei-
1a situada «« terra Africa. , , ( V. Barros D. 3. L . i .
$•!)?> a terra Ásia „ o releio Decan „ íi Ilha In-
glaterra „ ( Barros. 1. 9. 1» e 2. 6. 1. ) & c . Depois
que as noticias geograficas sé divulgarão m a i s , foi se
omittindo o nome commum , e ficou o artigo tal-
vez com o nome proprio. E d'acjui véi a variedade,
com que os mestres da lingua hora e x p r i m e m , hora-
calão o artigo antes dos taes nomes. ( ó ) „ L è o que
' - A'
••".'' • 'D1,-,11 f 'f , ,
. . • • < •
,1 > 'Vi^n1 .
(rt) Quando o noíns individual não basta, usamos
do artigo posposto , com algiía circunstancia indivi-
duante , v . g. Lucullo o rico ; D. Jorge de Menezes
o Baroche; D. Sancho o Capcllo j D. Afonso o bravo;
Catão o Mayor.
(-/;) Assim lemos nos clássicos de Asia , de Egito,
de Et hiopia, de Grécia , de Melinde , de Africa sem ar- ;
tigps: e logo que o nome é muito usual perde o ir-
DA GNAMMATLCA PORTUGUEZA. AJ %
África , i l r t â t f , M i te escrevem. „ ( F o r . Carta *f \
t. 2. ) . ' ' I
6 Os nomes próprios de terras , que sSo ' C O *
a duas, ou levão epithetos , ficão como appellativ^ ,
e usão se com artigo , v . g. * Índia Oriental , e «
Occidental; o Algarve d'aquem mar ; «s Arabia* tres.
0 mesmo c dos^nomes de homens, v. g oCamJes,
1 é o poeta Gamões; o Seneca , i. é , o Filosofo Sene-
ca ; o Magalhães , i. é , o que descobriu o e s t r e i t o ; *
Pacheco , i. c , o Duarte tão célebre nos fastos da,His-
toria Oriental Portugueza ; * Catão de Adwson , i. e ,
o drama intitulado Catão ; « Casfro de Ferreira , i. e ,
a tragedia intitulada Castro ; a Asia de Barros , para
a distinguir da Asia de Diogo do Couto ; « Venus de
Medicis; i. é , a estatua; o Anfmoo , &c.
7 . Os nomes propvios de terras , que d antes erao ,
e ainda são appellativos , ou communs , usão se com
a r t i g o , v . » « Bahia , o Rio deJaneiro , a Casa bran-
ca o Porto. Pela mesma razão se diz na Astronomia
a Ursa , o Cão , a Ura , fl Domclla , o Escorpião , &C.
€ Jupiter , Saturno , que forão nomes de homens , sem
artigo ( Lusíada io. 8.2.')
g. Omitte se o artigo todas as vezes , que o
nome commum se usa atributivamente , v . g. e s -
te

tigo : antigamente dizia se o Pombal-, hoje , o Mar-


quez de Pombal o mosteiro das Cellas ( j u n t o .de
Coimbra V: hoje dizem t o d o s : / « / a Cellas; venho de
Cell as : d'antes dizia se „ o Secretario do estado da guer-
ra , dos nerocios do Reino, &c. hoje o Secretario d'Es-
tado. „ ( V. do Arceb. L.,,6. C. j. no fim , cOrden. L.
}. T. 5. princ. e§. ? ) Lucena diz dc Japão , em que
tantas vezes fala ; e dizemos de Torres Novas;, dc Alhos
vedros , & c o R i o de ToitrSes | e na Lusiada 4. 2Í.f
vci Guadiaia. sem artigo ; Douro , e Tejo com elle.
V e j a sã toda xEgloga 1 . de Ferreira , e Lusitan.Transf,.
f . i j i . Palmeir. p. v f . » P c l ° r í * TV<> acr
tna. „ ,'••". . ././>''
MR? E P I T O M E
b animal é eavallo, é boi; ou guando se dá por at-
r i b u t o , por meyo de uma preposição , v. g. esta
§ P f deferro. Em taes casos podemos substituir um
•adjectivo ao nome sem artigo , v . g. esta pclla é fer-
rn; este animal é cavallar-macho , & c ç pela contra-
rio „ d'o/erro, que me deste , fez se um punhal „
« cavallo de Pedro „ quando o nome se toma tw^/j-
sivamente ; i. é , de todos , de certos, ou de um indi-
víduo da classe, genero, especie, &ç,
9* Igualmente se cala o artigo , quando o contex-
t o dá a entender assás, que o nome se toma exten-
sivamente , v . g. „ Pobreza não é vileza „ Não sabe
homem como se valha contra a calúmnia „ Homem ç
mais obrigado a si , que a outrem „ (c) venho de
casa ( jsto è de minha casa ) porque os antigos não
ajunta vão o artigo simples com os articulares posses-
sivos , como abaixo direi ; assjm mesmo dizemos „
Pedro vçl de casa ( s e . de sua casa ) e „ veis de ca-
4 a } i. é. de tua casa. ( V . .'abaixo o numero 1 7 . )..-.-
1 0 . Quando fazemos duas classes oppostas usamos v
do artigo repetido ? v . g, Virá a julgar os] vivos: q
os
' 1 1 • •• » • .ff —> ,

f ( O Este modo de usar da palavra homem imitámos


do Francez antigo hom , que se corrompeu em on ( y .
a Grammaire Generate Wraisonnée , Part. 2, chap. 1 9 ,
574. Condiliac, Grammaire , chap, 7. pag. 1 2 5 .
rí/ií. de Geneve , 17.So. ) „ Qi.sem razom seria ao aftli- '
çto acçrescentar Ao/» afíTicçom. „ ÇOrdèn, do Snr. D. "
Duarte. ) Neste sentido o dizem as mulheres de si. V .
Camões, Anfitriões A. 1. Sc. a. „ Há-os Ap/?jt?/)j de tra-
zer nos amores assi mornos', „ e no Filodemo | J . 2.
5, : Barros , Clarim. L, 2. 2 2 , : Vjislpo de Jor-
ge Ferreira 9 f . j S . I/joÍ^ f<?/??. J , / . w Homem não
pôde jurar por ninguém. „ (Etrfhs, 1, ó . / . 52. V .
J. ív Ferreira Comedias J\ 24. $ 1 , Ulisipo Co-
rtuti.f. 1 1 8 . É 1 9 1 . edições K/Í. ) Os editores ignoran-
te^ accrescentár3o o «ní^o em semelhantes modos de
j*gr ? o que não vçi nas antigas edições.
DA G R A M M A T Í C A P O R T U G U E Z A . W M
cs mortos : Alias diremos sem repetição „ os honrados^
e leaes vassallos de V. Alter,a „ .
11. Os nossos raayóres usarão do articular um acom-
panhado do artigo s i m p l e s , v . g. „ náo posso servir-
vos por duas razoes; a uma porque é fora de tempô.,
a outra & c . Ainda dizemos: todos á ima, sc. voz :
( aa uma : por uma , sc. razão. ) /
1 2 . Muitas vezes o artigo parece t r a z e r á memo-
ria o nome antecedente , v . g. viste o cavailo de
. J o ã o ? V i -o. Mas realmente aqui ha elipse , ou falta do
nome cavailo , que facilmente se subentende : o artigo
não muda de natureza, nem é pronome como eu, e

i Se usamos dos adjectivos attributivos em v e


dos nomes abstractos, v . g. o doce , o agro , p o r <*
doçura, a agrura , o artigo refere se,. e modifica ao
nome ser subentendido , bem como se dizemos , v . g.
„ Que o ser de tão formosos olhos preso , cantá-/<»
( 3 . à, cantar o ser preso, a minha p r i s ã o ) bastaria
a contentar-me. ^ ( Camões ) N o mesmo singular mas-
culino usamos do a r t i g o , quando se refere a uma fra-
s e , em que deve subentender se um infinitivo , v . g .
,, Que vos prometta os mares , e as areyas não lh'o
creais. „ i. é. não lhe creais o prometter-vos, ou i) pro-
. mettimento : „ Sé me tratou b e m , devo-í> ao vosso
patrocínio , , i. c. devo o tratar-me bem &c. O artigo
sempre se refere a nome claro., ou occulto , e suben-
tendido , como todos os demais adjectivos. ( V . abai-
xo no L. 2. Cap. 2. a nota ( / ) ) . L Isto pelo c u e
respeita ao artigo simples, (r/)

((f) A natureza do artigo parece que foi inteiramen-


te desconhecida dos nossos G-ramma ticos , um dos quaes
d i z , que delle usamos antes dos nomes p r o p r i o s v .
g. o Tejo , o Mondego -,v porque soaria mal dizer j v .
g. eu navego Tejo ; navego Mondego. Mas dizem OS
nòssos Poetas . „ Tejo leva na mão o grão Tridente „
\Fcrr. Egl. i . personificando o R i o ; j „ O u v i u - o o
i «1 CE P I T O M Ê
V '
1 4 . Alem deste temos os adjectivos articulares nii-
ljheraes wn , dois, três , & c . e os nüm.eraes ordinaes
vimeiro , segundo, terceiro : wn denota incerteza.
' i 5. O articular Elie tráí á memoria um nome
antecedente, v . g. conheces o Pintor da Madalena?
Pois

monte Ar tab: o , e Guadiana atrás tornou as aguas de


rredroso. „ {Lusiada") „ entre T e j o , e Guadiana „
(JJTtsipo Com. f . 35a.) ,, Dautibio eiifre* -•„ Camões
Ègl. i . Outro Grammatico nos diz , como advertên-
cia sua mui especial , que De c artigo ás vezes : mas
De sempre foi , e é unia preposição ; e ésta falsa no- ,
çSo veyo-lhe de ler e m alguns Grammaticos .France-
ses., que D» , e Dcs são artigos, no que elles erra-
rão*, porque Da equival a de te, Dcs a deles, isto c ,
equivalem á preposição de , e ao artigo te , ou les no
plural ( V. Grammaire Générale tf raisonnce , chap. 7 .
jDes Articles, pag. 9 6 . c 1 0 5 édlt. de 1 7 8 0 . - ) O nosso
Barros também' desconheceu a natureza do artigo , e
chama d'os , e d'as a r t i g o s , que são combinações da
preposição de, com os artigos os, as, como c v i s i - '
v e l . Duarte Nunes do Leão atinou melhor : Compare
se o que elle diz na Ortografia a f . 3 0 6 . com a Gram-
jnatiça de Barros a f , 9 9 . 1 0 0 . ; e la Grammaire Gé-
nérale e?' raUon. pag, 1 0 5 . # pag. 4 5 9 . ( édit, de 1 7 8 0 .
à Paris. > Cf' 4 7 8 . 4 7 9 . CondUlac , pag. 164". Os drCi.^os
não mostrão casos dos n o m e s , que os não t e m , nem
se ajuntão a Eu, e Tu que os tem ; o género do no-
me governa o do artigo , e não o artigo ao genero
do n o m e , pois o substantivo governa as variações
do adjectivo respondentes a o s generos, e números dos
substantivos. Na ,lingua Latina a i a í t a do a u i g o sim-
ples dava o c c a s í á o a modos de falar e q u í v o c o s , v . g.
„ Fillus Dei tu es „ que .pôde significar „ Tu es fi-
lho de Deus „ e „ Tu es o Filho te Deus „ duas sen-
tenças d s m u i d i v e r s o s e n t i d o porque a primeira po-
de dizer s e de t o d o h o m e m p-jr graça de adopção j
a secunda s ó do Unigénito de Deus.
DA GRAMMATICA PORTUGUEZA.15*;.jàí'M
Pois eile foi quem pintou o retabolo. Quasi sempre
elle vemi sem nome expresso, que ás vezes se declá;
ra , v . o1. „ d i c e , que elle Idalcão não releria aáyç*Ü-
sas', 8lc. „ e i s t o observa se,, quando ha mais de uma
terceira pessoa do mesmo genero , e numero. Éljp tem
os casos Lhe , e Lhes, e impropriamente lhe cliámãò;
pronome da terceira pessoa, sendo um adjectivo arti-
cular derivado do Latino illc , Via , ilíud, que no Por-
tuguez se usa muito com ellipse do substantivo , a
que pertence. \ '
16. Este determina „a extensão do nome , a que
se a j u n t a , pela circunstancia de estar o o b j e c t o , que
elle significa, junto á primeira pessoa, o u n e l l a : Esse
pela circunstancia de estar o objecto modificado por
elle junto á pessoa , a quem falamos : Aijuelle indica
o objecto remoto da primeira , e da segunda pessoa.
„ Que espada é essa ? „ perguntamos a outrem , que a
tem ; e elle mostrando-a responde „ esta espada c a
minha : Aijuelía áíem c de Pedro. „ Os Grammati-
cos chamão a estes Pronomes demonstrativas ; mas são
verdadeiros adjectivos articulares demonstrativos , ( e )
cujos substantivos, se calão , ou expressão.
17.
———mtmm^m^mmm^tmm^mmmmtmm^IAMIOMAAI^BM

(e) Isto , Isso , 'Jquilh dizem alguns G r a m á t i c o s t


que são variações neutras de Este, Esse, Aquelle. Mas
isto, uso , aí/uiUo nunca se ajuntão a n o m e s , ou sub-
s t a n t i v o s , antes estão per si sós na s e n t e n ç a , v . g .
isto , que aqui tenho , e não sei , ou não quero no-
meyar • isso que ai tens com t i g o , e não q u e r o , ou
não sei nomeyar ; aqui lio , que alem vês , que c ? Isto9
Isso , Aquilio c lindo ! concordao com lindo na forma
masculina < E temos nós variações adjectivas para
nomes neutros , que não conhece a nossa lingua } .Um
a , mu b não tem differença sexual , ou generic*; e
com tudo dizemos um a , um b , como hm homem,
um boi; e um pomo, que também c masculino , e sem
sexo. „ Mas isto, ( assi não fosse W/tf v e r d a d e ! ) sa»
2% YE P I T O M E
17. Mc'rt , Teu 5 , IVtfj.ío , Fk.uí) dizem os G r a n i "
'matjcos , que são yronomes possessivos • mas são verda-
dç^rós. articulares possessivos. D e l l e s usavão nossos
m a j o r e s sem artigo s i m p l e s . , v . g. c filho de meu
pai : \é effeito de tua , de vossa bondade. S ó acom-
p a n h a v í o estes possessivos com o artigo , quando ca-
lavao o nome , v . g. ésta espada é minha ; a vossa é
aquella : ou quando se falava de algúá coisa habitual ,
V. g. „ estou com a minha dòr „ .
18. Todo é outro a r t i c u l a r , que usavão sem o ar-
t i g o , para indicar a totalidade de i n d i v í d u o s , v. g .
, , Só Deus é verdadeiro , e todo homem mentiroso „ e m
toda parte „ a toda hora. S ó acompanhavao todo com
o artigo , quando falavão da totalidade de partes de
u m a c o u s a , v . g . o homem todo não é mortal : ar-
deu a casa toda : passei todo o dia com J o ã o . Ho-
je mui vulgarmente se ajunta o artigo a Tedo e m
ambos os casos , e dizem promiscuamente : Todo o
VlUiin
—————— .11 - )

b e i , que A m o r usa de m a n h a , , ( Sá Mir.') „ Não


poderá Isto tão facilmente desejar, como lhe elle sue- \
cedia. „ ( Clarim. L. 1. C. 1 . ) Nestes exemplos elle
masculino trás á m e m o r i a , e refere se a Isto ; logò
ou elle é n e u t r o , ou isto é masculino. Por onde de-
v e m o s c o n c l u i r , que Isto , Isso , Aquilio, equivalem
a vários elementos da O r a c a o ; Isto d. este objecto pro-y
ximo a mim ; isso a esse objecto proximo a ti , ou que
nomeijaste ; ítt/mlb áquelle objecto remoto. A.ssiin mes-
m o Outrem quer dizer outra pessoa ; wjnguem , neiihua
pessoa , isto c ; e^uiv.dem a nomes combinados com ar-
ticulares. ,, Bem sei que outrem ninguém pôde valer-
m e „ ( Lobo , Peregr. ) V . aqui o Cap. 4. §. 2. n. 1 5 .
nota (e) . „ De ninguém outrem se poderão aceitar suas
coisas „ (Ulislpó j j . Sc. 2 . ) Tudo não c variação
neutra de Todo ; mas uma palavra , que significa to-
da coisa , ou todas as c o i s a i , v . g. ,, tudo 'nesta ca-
sa respira g o v e r n o , e ordem , , tudo é bem íeito. „
DA GRAMMATICA PORTUGUEZA.15*;.jàí'M
mundo,; por todas as pessoas, que o compóem ( q u e
antigamente dízião Todo mundo }, e por a totalidade
das partes do Mundo. ( V , Lusíada , 1 0 . 78. e %'ffijjíl
Ferreira, Bristo, J . 2. Sç. 1 . j . )
19. Algum , Nenhum , , Qualquer são outros
tantos artiòu lares, cujo sentido é obvio. Só notarei
a respeito de Algum , que é erro cuidar se , que a
transposição d'este articular ao nome , y . g. pessoa ai-
güa , equival , sem a negativa não , a Ncnhíta pessoa.
Nos livros clássicos se acha o dito articular posposto
sem força negativa , v. g. „ Palavra Arabia algiía se
lhe entende ,, D'es ta gente refresco algum tomámos „
E da que lia menina tiveste noticia algiía ? ( Camões Lu-
síada 5? 69. 75. 7 6 . e V. Cant. est. 7 1 . 2.0 est,
0
44. 5. est. 4. e 64. Os Estrangeiros de Sá de Miran-
da ; 2. 0 Cerco de Diu , 57. )
2 0 . Que , Qual, Quem , CVyV são articulares relati-
vos , conjunctivos , que trazem á memoria o nome an-
tecedente , e ajuntão a sentença , em que está o ar-
ticular , com a antecedente , v . g. ,, « Cí7ja , que eu
tdijiquei é vossa , , i. é „ e eu edifiquei-a „ a quin-
ia, cujo dono era um amigo meu „ i. é , e um ami-
go meu era dono delia. O v u l g o diz erradamente
0 cujo , a cuja , em vez de 0 qual, a qual, v . g.
U m homem , o cujo c meu amigo ; que tanto v a i
. como dizer : o da qual é meu amigo : porque Cuj*
significa sempre do qual, cuja da qual : de cuja ca-
sa vim i, c. da casa do qual ; e correcto. ( L e ã o ,
Descr. C. 75. usa-o impropriamente dizendo ,, Sant I a -
go Interciso de cuja nação fosse não nos consta „ ( is-
to c um Latinismo. ) < Deque nação, deque terra é ?
dizemos nós. „ O S e n h o r , de cujo ha de ser o edi-
fício „ é erro : ( Bari*? Prol. D, 1 . ) deve ler s e :
o S e n h o r , cujo ha de ser <kc.
21. Onde c articular conjunctivo , que traz í me-
moria o lugar antes mencionado ; Quando, o t e m p o ,
V. g. estiveste no theatro , onde, e quando ( no tem-
po , em que ) eu estive também. Onde figuradamen-
te se refere ás pessoas , v . g» 5> £ u chamo v u l g o ?
ou-
JO E P I T O M E"
•tide ha baixos intentos ,, ( Ferreira ) isto c , aquelleS ,
cm quem ha & c . ( t / )

C A P I T U L O III.
v
/ D o j Adjectivos Attributives,

1. T ? Stes signiíicão as qualidades existentes em


algum objecto , v . g. branco , louro , man-
so, /cfl/, amavel, quando coexistem com homem , m o
líí/U> , & c .
As qualidades ? e attributos das coisas admit-
tem ordinariamente mais, e menos , ou muito. O que
é W J pôde ser MÍ»Í bom , ou melhor , ou optimo a
respeito de outro ; o que é grande pôde ser nmj/or ,
máximo, ou mui grande menor , ou minima, ou mui
pequeno.
j. E m alguas linguas o adjectivo attributivo sim-
ple? , ou positivo , se altera para indicar a m a y o r i a ,
® u differença comparativa , v . g. doctus ( d o u t o ) em
Latim , varia se em doctior ( mais douto ) e doctissi-
mus ( muito douto ) ; Minor ( m e n o r ) Minimus ( m í -
nimo ) .
4. As v a r i a ç õ e s , que significão mais com o attri-
fcuto , dizem se adjectivos comparativos ; as que ajlintão
milito aos attributos, superlativos.
5. Nós temos comparativos em forma simples
Maijor , Melhor , Menor , Pcijor , Anterior , Interior ,
Exterior , Inferior , Superior , Citerior , Posterior , Ul-

,
terior , &c. adoptados do Latim ; os mais , que nos
faltão , supprimos com a palavra »J<JÍÍ , v . g. WIAÍJ tf/-
vo

( / ) Em Portuguez , dizemos „ aquelles, d'ondevz-


llho „ por de cjuem descendo , como Horácio disse :
'JLavimm Valeri genus , wide Superbus regno pulsus
ftiit : e Terencio ; e Latronibus , unde emi : unile
por ex tptibus ; e Philosoph&s do mi habuit 3 unde dis-
sefôt 3 & c , p o r , e quibus discereti
DA GR AMM ATIÇA PORTUGUEZA.17|
no, mais verdadeiro', e usando dos nomes por adjecti-
vos , dizemos, v . g. mais hamem , que outrem
viae, que a v ó ; o mais sem honra. v -
6. Dos superlativos temos algiías formas simple?
tomadas do Latim , v . g. Maximo , Mínimo , Colimo ,
•péssimo , e Humiílimo , SimilUmo , Paupérrimo pouco
usados. Outros formamos segundo as regras seguintes
ensinão. < ^
7. Os adjectivos acabados em o , e , mudão o
ou £ em íssimo, v . g. Douto, Doutíssimo , Felice y
Felicíssimo. Excepções : Sagrado , Sacratíssimo ; vi/»/-
g-0 , Amicíssimo ; F r i o , Frigldlsslmo ; Áspero ,
perrlmo , ou Aspei Íssimo ; Mísero , Misérrimo ; Magni-
fico , Magnificentíssimo • Célebre , Cekberrimo ; iV<j-
Are , Nobilíssimo; Salubre, Saluberrimo ; Agro , ^cc»-
r/mo , &.C.
8. Os adjectivos em Ão , tem o superlativo ein
nisslmo , perdendo o 0 , e mudando a nasal « em <Í
puro , v . g. Wu) , Vaiiisslmo ; , S anis Hino ; Chris tão
tem CÍmstlanlssimo.
9. Os positivos acabados em L , ou R , tem os
superlativos em i-fJi/nt;, v . g. NaturalNaturalíssimo ;
Cruel, cruelissimo ; Util, utilíssimo ; Geral, ou General
tem Generalíssimo; Particular, Particularíssimo ; F i t 7 y
Fidelíssimo ; Infiel, Injidcllsshno ; Fácil, Dijficll, Fa-
cilllmo, ou Facilllsslmo, e JDljfícWlmo } ou Dijficillissí-
mo ; Miserável, Miscravelissimo.
1 0 . Os positivos em ÍW , e um mudão o em
nisslmo , v . g. , Boníssimo (a) ; Çommum , commu*
nisslmo ; Um , itnlssimo.
11. Alguns positivos em Z , ou £V , mudão o
ou E em cissimo , V. G. ./ÁÍ/OS, Atrocíssimo ; Capai , C<Z-

( a ) Este superlativo é clássico ; mas. de comrnum


usamos de Optimo tomado do Latim Bonus, Mellor,
Optimus, alterados em BÓni , Melhor , Optimo. Assim
dizemos SWia por o mayor de t o d o s , v, o
ío/j a e , , Ultimo , MxtremoK

iràviftKí-se
32 E P I T OM É
pacissimo; Feliz , Felicíssimo , 8cc. Outros derivao eStet
superlativos dos positivos B.apace, Pertinace 7 Voracé7
y Felice, hiftàlke. Bellacisjímo não tem posití-
v o x ii^ituguez,
t
l á l Q u a n d o não temos superlativos derivados dos ad-
jectiva^ p o s i t i v o s , a j u n t a m o s a esteâ o adverbio müito ,
V. g. milito politico ; muito ajudado ; milito f avorecido,
1 3 . T a l v e z se ajuntão os advérbios /«<t('í , ião ,
muito aos superlativos, v. g. muito grandíssima suber-
b a ; /M«/fa péssimo ; wí/ís1 intimo ; íío beUicoslssimo ,
tão mínimo. Alguns adjectivos* - parece , qüe não admit-
tirião superlativo por sua significação,, v. 2;. Divinís-
simo de Divino ; Mesmíssimo de Mesmo ; Unissimo de'
Um • Infinitissimo de Infinito ; e todavia assim ,s'e achão
nos bons autores.
1 4 . Muitas palavras se usão de ordinário co'mo
nomes , que são verdadeiros adjectivos attributivos ,
V. g. 0 hermo , e herdades hernias ; o missal e Livro
missal; o passador e sêtta passadora ; 0 fedegoso , e
hervas , o u coisas fedegosos , ( Ordenação Afonsina L. I,
Tit. 28. 6. 1 6 . ) homem ou mulher herege, e hereges
opiniões ; o homem adultero , -e" o adultero engano, & c .
1 5 . Advirta s e , que com os attributivos qualifica-
mos de ordinário as coisas ; e que também o fazeinqs
c o m os nomes acompanhados da preposição de , v . g .
homem de valor , ou valoroso ; de saber ou Sabio.
Assim mesmo negamos, ou tiramos os attribütos pe-
la preposição sem , v , g. O scn&ventura amante.
Nestes últimos casos também usamos de mais e /»«£-
•to para supprir comparativos , e superlativos, v. g.
o homem de mais honra , de mais saber ; o mais sem-
honra ; minto sem-sabor i T u es mui para pouco.
( Costa , Terenc. t. 2. f . 267. )
1 6 . Os adjectivos attributivos usão se por nomes
abstractos , v. g, o agro desta f r u t a ; o doce do mel ^
o teso do monte , &c. mas não se subentenderá o no-
me verbal ser ? (£)
, 17.

(1b) Camões dice , que o ser preso de t ã o f o r m o - .


DA GRATOMATLCA PORTUGUEZA. **
I7v Abaixo tratarei dos Participios, que são adje-
ctivos attributives verbáes, o u derivados dos verbos
(v.cTi.y. V / ; . .
C A P I T U L O IV. "?)

D* alguns accidentes communs aos nomes } e adjectivai

1. S nomes, e os adjectivos > que os modi-


\ _ J ficão , varião de terminações, quando sU
gnificamos muitos objectos; v . g. um dia , dois dias,
este pomo verde , aqaelles pomos doces : isto é , íf o no*
nae , ou adjectivo ao plural.
2. Igualmente se varião os nomes para indicar os
séxos dos indivíduos ; e os adjectivos que os modifi-
c ã o , para apparecer a qual nome se referem : assim
dizemos, v . g. Leão bravo ; Leoa parida , b r a v a ;
homens mios j fer«i tigres .

§. I. *

Da formação dos Vluráes dos Nomes, e Adjectivos;


/ - v

1. T A apontei, que os nomes de um Só indi-


t l viduo não se usfio no plural, senío é fi-
guradamente , quando os damos a sujeitos de caracter
semelhante : v . g . " Andão os Scipiões pelos hospitáes »
/ ' .C
. 1 —
sos o l h o s ; cantálo bastaria a contentar-me t e J o r g e
Ferreira na Vlisipo, At„ 5. Sc. 7. " Pessoa, e ser é
o de Florença , para um Principe a toiViar por mulher. * •
Canta-fo , i. c , cantar o ser preso : ser é o de Floren-
I ça , i. è , 0 ser de Florença. / •
w
( * ) Em outras linguas os nomes, e adjectivos „tem
^ terminações fináes diversas, a que chamão casos , e
são mais ou menos ; nas linguas vivas, pela mayor
parte só tem casos os nomes respondentes a Eu, Tuf
Elie; e alguns adjectivos articulares possessivos.
34 Í * I T O M E
i; é , os grandes capitães: " Haja Mecenas, e haverá
Virgltios )) i. c , tenha o mundo protetores das M u -
8 ^ 1 i terá grandes poetas. . .
. Eu considerando-se como dois tem Eys , e por
a n a l g i a " em ti há dois tus » como " E m mim há
dois »
j. Deus faz Deuses; o Sol Soes; e damos plural
a cousas únicas , cuando questionamos se é possível
existirem mais como edas. La giíão outros soes , e
outros mundos. " Se nos afigurou , cue viamos duas
Verias ; . . . e que se nos offeree ião ao encontro duas
JDiauas : )) figuradamente ( hunt. Transf. f . 3 5 9 . ) . Os
Adonis , & c .
4. Os nomes de metáes não se usão no p l u r a l ,
salvo para significar p e ç a s , e instrumentos feitos del-
les., e especies accidentalmente diflíerentes, ou quan-
tidades, e porções ; v . g. tinha umas pratas na bol-
sa , os aços, os ferros do passador , das lanças , e pri-
s õ e s ; dos ferros uns são doces, outros pedrex.es, e que-
bradiços : assim dizemos os sáes neutros , l i x o s ; as
cáes metallicas; as aguas ardentes, mineráes , ther-
jnáes ; os vitriolos , terras , barros, ocres, assacares ,
&c.
f . Não admittem plural os nomes de qualidades
habituáes, senão usados poios actos d e l i a s ; v . g duas
fés, e crenças; as caridades que me fez ; as nobrezas
deste homem ; essas tuas paciências , e sofrimentos : " a
alma assaiteada de invejas , cubiças , ambições , odios ,
e deshenestidades : Deus aborrece avarezas » i. c , os
actos viciosos d'inveja , & c .
• 6. Os nomes de Ventos usão se no p l u r a l , quan-
do cursão dias, e temporadas: v . g. " entrárão-lhe os
Sues , os Nordes tes , as Brisas. ))
7. Nós dizemos os azeites , méis , oleos , assucares %
mail"

(*) Heit. Pinto, D. da Rellg. C. 3 " Em mim há


dous eus, hum segundo a carne , outro segundo o es-
pirito. »
' DA GRAMMATICA PORTUGUEZA. 49
manteigas , especiarias , pimentas , vinhos , leites , dar
enccnsos ; famas ; os dos exercitos, memorias ?
os quaes alguns Grammaticos dizem, que só sse.'íü5>lo
no singular. Pelo contrario usamos no singuL , ,• uma
fava, um grão de b i c o , um tremoço, uma lentilha; a
o ffírello , o alforge, &c\ os quaes I W t m i n s i n a ,
que só se usão no plural : 44 Todas as forças de-San-
são levou uma <«<wr<i )) diz elle contra a sua re-
gra ( a ) .
S. jlcírtí, Algemas , Alviçaras , Andas , Andllhas 9
Ceroulas , Grelhas , FCZCÍ , Exéquias , Fauces , Pre-
, Póstres, PÍÓJ , Viveres , e os nomes das horas
Canónicas Vesperas, Completas , Matinas, Laudes usão
se no plural : dizemos OÍ mlòllos , e não <?J cérebros
de um homem ; mas o cerebro , e o cerebéllo ( Vllssea ,
1 0 . í í í . 89. ) Os adjectivos numeráes só tem plural ?
quando diremos os jcíej 5 OÍÍOÍ , ou «ovej do baralho ;
, não há quem não dé seus cincos , ou cintadas.
9. Os nomes verbáes infinitos , quando significão
figuradamente coisas, em vez de acções , usão se no
plural ; v . g. para seus comeres , beberes 5 os seus teres,
e haveres. Assim mesmo dizemos : isso tem seus quês;
saber os porquês das coisas ; dar os améns ; estar aos
itens , & c .
Vejamos como se formão os pluráes dos nomes
e adjectivos.
C ii 10.

(fl) V . a Grammatico de Sarros , pag, 97, e O D/V.


i/rt Viciosa vergonha , 304. Os antigos dicerão mclles
de mel. Inéditos , 2. pag. 1 1 6 .
(£) Duarte Nunes de Leão , Ortegr. f . 31Ç. e Ferrei*
ra , Carta 9. do L. 2. trazem no singular a fêx , e Leo/».
ia Costa , Tmí/Jc. tow. i . f XLVIII. " da fêx. » e " os
Athenienses untavão o rosto com fèzes: » " a quem te
não r o g a , nem v o g a , não lhe vás á voda :» Farello,
Mend.' Pinto, C. 104. " para mal de costado é bom a
abrolho » ( Eitfr. 2. Sc. 4. ) " Dar-te-ia o pái boa alvi-
$ara» ( Ferreira , Br is to , 5. $Ct j. ) 9 bofe 3 ófa vises'
ra : é pouco usado, . '
L® E P I T O M E
1 0 . Os que . acabão em vogal p u r a , ou n a s a l , t e m
© plural accrescentando se ao singular um s : v . g*
€u'S0f c boa , boas •, lebre , lebres ; leve, levesNe-
hr.i, . < toris • Dono , DO/WÍ ; Sá, Sjj ; Lã , L«J ; , Cãs ;
Bahú Bahús. Rei/es de RÍ< ; Lcj/ej de Ltfi ; PÍIJ/<?J de
P a i i : Ivaráes de Alvará ; e Péis de Pé são antiqua-
dos. ( PíjJvrt , S m » , trás péis, <? F . Mendes ) .
11. Os nomes acabados no ditongo nasal Ão, tem
o plural mudando o ão em ões ; v . g. razão, razões.
Outros seguem a regra g e r a l , e tem o plural ém ãjs :
V. g. Accórdão , Alão , /Wo , AnciãoCastellão , £7; «O ,
Chris tão , Coimbrão , Commar cão , Cortesão , Grão Ir-
mão , Lódão , Mão , Órfão , Órgão , Orégão , Pagão ,
Rábão, São, "'Sótão, Soldão, Temporão, Vão, Xá.i-
gão. Alguns dão plural em turj a F/7/ÃO, Aldeão, Ben-
ção , Anão , Qdãd<ít> , Cortesão (c) .
1 2 . T e m plural em a es Capellão , Cão animal r .4/-
Icmão , Catalão , Deão , Ermitão , Escrivão , Guardião ,
Massapão, Pão, Sacristão, Tabellião : dicerão alguns
Foliães ; hoje dizemos Foliões. Os Bulcões, os Vulcões ,
de Bulcão , e Vulcão , ou Bulcãos, e Vulcãos , que são
mais conformes á regra geral.
ij. Os nomes , e adjectivos terminados em <t/,
©7, ul mudao no plural o l tm es : g. ;
Natural , Naturáes ; So/ , Soei ; , , T<i-
jTu/, Tafues. Mal tem por plural , CVi/ de moi-
nho

( c ) T o d o s dizemos as benções do Ceo. ( Souza , F .


do Arceb. 1, 4. C. 1 5 . Elegiada , f ) e os Clás-
sicos dicerão benções da Igreja , ( Ined, 2. pag 1 2 j, )
que hoje dizem bênçãos. Peões de Pedones barba-
ro , é mais usual , que peães : <c imumeros peõej. )>
( Lusíada ) Pcfõfí é variação feminina ( V . Etifros. J.
3. S t . 2 . pag. 1 1 5 . " as outras peães. D) e será peóes
para homens. Aldeão , aldeães: Os Cãos perto de Lis-
boa ; os velhos encanecidos, com cãs; " velhas cãs ', »
palavras cãs, mui idosas, antigas. Alão tem no plu-
ral alães, alãos, é alões.- V . o Dicconario.
DA GR AMM ATIÇA PORTUGUEZA. 17 |
liho Cales; de pedra, ou ostras, as cáes metallic as , & c ;
Consul Cônsules , Curúl Curáles , Aiixsl Ànzoes : ( Aq,-
íolos é antiquado de Amolo ) . moeda iiu'J fina-
r i a ; o plural rtíáa abrevia se em réis: v . g. jw?. réis.
1 4 . Ós nomes, e adjectivos em el mudãó Í;;Ó plu-
ral o / em Is : v. g. Sável Sáveis ; Amável Al iáveis ;
ouropel, plur. ouropclles ( Arracs , 10. 74. ) . Aos termi-
nados em il agudo muda se o / em J : v . g. Anafil
Anafis , Vi7 V / J G a z í l Gaus : ( Anafiles de Ana-
fil , c poúco usado ) Edil, Ediles, ou Edis. Os que
não tem o accento no il mudão-no em"eis : v . g. Fá-
cil , Fáceis; Dócil, Dóceis. Habiles , Faclles , Terribi-
l e s , e semelhantes pluráes , que usarão os clássicos,
estão antiquados. Os antigos dicerão melies , nos méis.
1 5 . Aos nomes acabados nas nasáes em, im , om ,
wrn , muda se no plural o m em ns ( * ) v . g. Bom ?
Bons ; Do/71 n o m e , e prenome de honra Dons ; ( o s
clássicos f terminavão Does por dadivas ) u Bem , fas
Beiis , que se pronuncia Bees , assim como Vintêes ,
Armazees, e semelhantes ( que assim se escrevião , e
seguiao a regra dos nomes acabados em vogal , ou
ditongo nasal ) a Canon , Nomocanon , accrescenta se
u m es , Cânones.
16. Os nomes , é adjectivos em r , J-, ar, * tem
plural accrescentando se lhes um es : v . g. Pet,ar , Pe-
lares j Clamor , Clamores ; Rapás, ou Rapace , Rapazes ;
Fo-

(*) c singular, vè plural : obrão como quem


ião: Qttem erãoj £Lusíada 1. 50. ) Ninguém, no fi-
gurado : " são uns ninguens. » Alguém , Outrem não se
usão no plural. A analogia da nossa lingua na corru-
pção dos vocábulos Latinos , que tem n entre duas
v o g á e s , é tiralo , fazendo nasal a vogal , que prece-
de ao n : v. g. bene bee ; rationes i\izÔ~es vcnit, po-
nit, vei, põi: Romano , Romã-o ; tzitiana, terç/?~<z;
bono , bõ-o ; Luna , Lií-a ; por onde se vè , que o til de-
v e ir sobre a nasal , que precede á ultima v o g a l ,
quando se ditongão.
4* E P I T O M E
Von™ , Vorates; Feliz , Felizes (d) . Alferes , Arreies , o
€.«?.<, Ourives , Duples , Píos , (7//;// ; , plur. Ju*>
i- 'bilros , v , g, da Natmeza ) simples, hoje são in*
varia !ê«s no plural (V) . Dizemos porém os'simplices,
Ingredientes, que pntrão em composições Medicináes.
-tún o plural Cif ices ; Appendix , Appendices ; I/*--
iiex j ou Índice, Indices: Fénix não se varia no plu-
t a l , e dizemos n* /Vuoc. Barros ( 4 . 4. 8. ) escreveo
• J t7aet.cjí ; mas cáej plur. é usuíd.
17 As palavras compostas , ou soldadas de duas
mudão no plural as partes , que se v a r i a ) , e que 6c\ío
por inteiro: v . g. Cada-uns , Faç'alvos,, Quaesijucr de
Qualquer , Gentis homens de Genill-homem ( /*} mas P/W-
^/fffíTí , Rectaginrdas , Republicas , Vanglorias , Dí>/«
Abbades , não seguem a regra. Gray por Grande é in-
variável , e assim o deve ser em Gran-Cruz , Grau*
Cruzes, e Gr an-Mestres , que os Antigos dicérao os
Grãos-Mestres, alterando, contra a analogia , o gjvr/j
sincopado para qrãí?. ( £ ) Gr^w fortaleza grdm T u r c o
(Caminha J . } 6 . ) . Os que escrevião por <r/n os di-
tongos em ão riérão occasião aos que menos attenta-
rão nisto , para depois confundirem grau com grão,
e san com são.

{ d ) Outros us ao Fàice , Infelice , Felices , hifeli-


tes •, Feroces , e Feróvps ; Atroces, &c.
( e ) Os clássicos usarão os pluráes Alferezes ,
ve^.íí.ç • simpliees , e simples ; Cáezes.
35, " vierão muitôgv?/;í<7homens.))
Vieira, Cari a 1 0 7 / tem. 1 , " pareceremos pouco g-eàíi/
homens a essa Senhora :)) mas dizemos os Gentis homens
da Camara . Arrues, D. 9. C. c Conto , D. IO- L ,
4. i . dizem i><mvens no plur. de vai verbo , e
vem também verbo , declinando vais como plural de
vai , segundo a analogia dos nomes , e não como é
o verbo no p l u r a l , que seria w - v e m , e se não diz.
(g) Duarte Nunes diz expressamente, que Gran ,
e Sant são contracções de Grande ? e Santo: mas a
' DA GRAMMATICA PORTUGUEZA. 49

II.

Dos Gêneros dos Nomes , e Variações dos Al JvQf


respondentes a elles. Dos nomes proprios. "

1. f \ S nomes de h o m e n s , A n j o s , Deuses da
K J ? Fábula são masculinos : v . g Achilles , Jo-
tie, o Serafim \ no figurado diz ,se ; aquella Serafim
( Ulisipo , At. i 5 c . 6. ) .
2. Os nomes de m u l h e r , Deusas, N i n f a s , Fúrias
são femininos : v. g. Ana , Chtho ; Eê/ío Ninfa ( e c o ,
ou , som r e f l e x o , é masculino) íris .ninfa é te-
minino ; o arco c masculino ; e no figurado o iris
dos o l h o s , das lentes: " eo Íris , que a paz nos asser
gura : )) outros dizem , o arco da Iris C Leão, Desr
cripç. ) . O)
3. Os nomes proprios de V e n t o s , R i o s , M o n t e s ,
M a r e s , e Mezes são masculinos; dizemos porém o
Meotuis, 011 a M e o t h i s , segundo o referimos a l a g o ,
ou alagoa ( Naufr. de Sepulv. f . 3 9. e 40. ) e a £ j -
tige , i> Esiige (Eneida , 12. 1 9 3 ) .
4. Os nomes proprios de R e g i õ e s , Cidades, V i l *
1 las

tendeocia da Lingua para fazer terminações masculinas


em ao fez Grão , e São para algumas composições;,
e conservou G » a « , e San noutras: v. g. San Pedro ,
Sa:i-Joáf'> , San-Joatjitim , S an-Tclmo , Sant' Iago , San-
Jca ieiras , & c . Grão RX\irco , g/Yít? destroço , grão tra-r
b a l h o , &c. ( V . Lcão,r Ortogr. f . 221. <; 2 3 8 . -ediÇ*
de 1 7 S 4 ) > *
( * ) Quando se appõi um nome como attribute»
modificante , os adjectivos concordão com o principal:
VÍ-. g y <c Aíjuclle fonte de eloquencia Tullio )) ( Rcje/z-
de , P/-í?/. í/a Lê/ia ) . cc Morto atjuelle peste do Mundo
Herodes )) ( Paiva , &írm. t, r. ) . " Y e y o Francisco efe
T a v o r a em a sita Rei grande ( s e . nau ) . )) Barros
2. 3. 6.
4* E P I T O M E
glas e l u g a r e s , achão se coihmummente f e m i n i n o s ; c
talvez masculinos referindo se aos nomes c o m m u n j
»>. Villa , Reino , Cidade , Regido , Praça Assim Ca-
tníitr; vivai Diu m a s c u l i n o , e feminino ( Lusiada , 2.
• 5 ® ; 1.710 1 0 . cjí. 64. 6 7 / ) Freire , « illustre
Viu^yutro Diu ( Castanheda L. 8 . / . 5 5 . ) " T u a -
g"ír<? populoso , e /1 <f«r/r Arzila, Porem t'//<u em fim
por força entradas » (lusiada 4. est. 5$. 56.).
^ j w M a <?r/77ífj ( Lusiada 1 0 . cjí. J J . ) . " 0,-
trnis . . . e toma d'elle posse )) ( 2. 0 Cerco de Diu, f .
4 J4- ) . " A opulenta Bisando , e. 0 Epiro » ( Naufr.
de Sepulveda , / . 24, ) : « guerreira Carthago \ a infa-
wtr ; a bimar Corintho ; a Beja . . . .
Trancoso destruída ( Lusiada 3. 63. ) . Santarém é
tomado ( L ^ w , CVok. D. A/] 1 . ) . Sn//* , e Cha-
ribde mascul. ( L u s i a d a e Ferreira ) e femin. 1//ÍJ-
í í a , 8. 7 2 . ( * ) .
5, T o d a v i a os nomes proprios usados sempre em
u m genero não se alterão; e é erro vulgar dizer to-
do Lisboa, todo Castdla; e menos proprio dizer se
um Chipre, um Gnido ; porque o nome commum , e
mais o b v i o , a que devem referir se e s t e s , é ilha:
1
outra Chipre, outra Gnido ali se via )> Seg. Cerco
de Diu, f . i88, a fresca Cypre ( Lusitan. Transf.
c<
j . 21}.) Nesta ilha Cypre a Venus dedicada. »
N a Jornada d'Africa vei ( e mal ) todo Hespa-
nha , todo Berbéria ; Féz o novo , & c . ( a f . 49. e
99' ) • Todo Hespanha será todo o territorio , ou reino
Jtíespanha ?
6. Nóte se , que os nomes proprios dos L u g a r e s ,
que antes forão appellativos, ou communs , seguem
o genero das terminações ; v . g . o Porto , o Pombal,
a Bahia, os llhéos, &c.

Dos

(*) F. Mendes, C. 1 0 7 . huma Roma, huma Vent-


ia j huma Constantinopla, hum Paris y hum Londres.
DA GRAMMATICA PORTUGUEZA. 4!
:
1
Dos nomes communs.

7. Os nomes communs dos animáes, que iigm*


ficãò o macho são masculinos; os que significào a fe-
mea são femininos; v g. o homem, a mulher y-j o cão ,
a cade lia; elefante , elefanta ou aléd, má , mtia,
8. Outros nomes de animáes debaixo da mesma
terminação são sempre masculinos, ou sempre femi-
ninos ; v . g O Javali, o Corvo , o L.igarto , ( a lagar-
ta insecto ) o Roixi.iolo Golfinho , o Noitibo , & c .
A cárua cozinheira, se dice por uma preta : a Onça ,
Serpente, Águia, Corvina , Cobra , Enxova , Fataça ,
a Andorinha , a Codornir., a Betarda , a Fenis , a u ®
no figurado também se usa masculino: v g. " V ó s ,
meu J e s u s , Divino Fenis )) (Vieira ) o Sol é o Fé-
nis dos Planetas ( V . Lusit. Transf. f . 37 3 . )
9. Nomes há em fim , que são masculinos, e fe-
mininos ; v . g. Eu e Tu ; o, e a Alcião, o Tigre, a
Tigre , o Crocodilo, a Crocodilo : e quando houver dú-
vida , e necessidade de mayor precisão , diremos , con-
forme a analogia da lingua , a crocodila , a golfinho.;
ou o golfinho Jemea; a cobra macho, ou o macho da
cobra ? & c .
10. Os nomes de officios , e exercícios proprios
de homens são masculinos ; os de mulher femininos f
e são de ambos os generos os que convcm a a m b o s ;
V. g. O Juiz , Desembargador , o General; a Costurei-
ra, a Comméndadeira; o eaTaful (a); o Personagem ,
e a Personagem : o e a Homicida , Matricida , Parrici-
da (Jj) , Hypocrita , o e a Ojficial: u este homicida muií-

( a ) A plebe dis certas tqfulas , devendo dizer cer


tas tafues\ e j á se lê na tradução do Glibras. Dizemos
a juíza dè irmandade : e porque não diremos a Mo-
ttarclia, como a Soberana , a Regente, &c. ?
(b) Alguns dão variações em o a homicida, e hipó-
crita : v . g. desejos homicidos; hypocrito verdugo j mas
'42 FV. E P I T O M E . V
do » ( Ltisit. Trans/, f 15 5. ) : 0 e a apóstata, &c.
N
Sentinela é feminino : Guarda de n a v i o , e prisão mas-
- alias dizemos : traz uma guarda de cavalla-
ria;( ;orpo da guarda ; as guardas Reáes; os Guar-
das m( •iihas ; as gaardacastas!" tfj e íij K/V^j , J t a -
homens; mas a Atalaia, a VigiaY postos ,
Sempre' são femininos : <» galas, homens , ou
mulheres; mas as gulas cordoes; fc ninino : os , q as
espias homens; (Freire,/, 398. ) uma espia l u g a r ; e
corda nautica : trombetas bascardas ( por trombeteiros )
no f e m i n i n o , e logo u vestidos de s e l a . . . e mui t i
bem encavalgados; )) traz Resende ( Çron de D. João
C. 1 2 8 . ) com boa distinção. , Moc/ila h o r n e t é
masculino ; saco é feminino.
li. Nos nomes acima , e outros como Fiador %
Fiadora ; Juis , Juha ; Doutor , Doutora • ídolo , Idola ;
Infante , Infanta ; Parente , Parenta ; Pregador , Pre-
gadora vemos a analogia , que dirigiu os inventores
das linguas , para darem diversos gêneros, e termina-
ções diversas para m a c h o s , e femeas. ( c ) Não se v è
porém a razão , porque dicémos o Páo , o Pão mascu-
l i n o s , a Pedra, a Fari iha femininos. Nestes de coi-
sas sem sexo , apellativos , ou c o m m u n s , seguiremos
as regras abaixo.

Ge-

c improprio. " Ferro homicldo passa ao Rei homicida »


é uma incoherencia , sendo ferro e Rei masculinos
c Elegiada , /. 19.).
(c) iNos Livros clássicos , e nas Leis vemos fiador
mascul. e feminino , e assim Predador. Autor. Ser-
« t u ' '
vidor , Devedor, Inventor, Senhor , Juis : v . g eu
sou wá Jais ; Infante. Mas ja os clássicos mesmos di-
cerão Moradora , Tragadora , & c . Hoje geralmente da-
mos variações em a femininas a todos; e no femin.
também dizemos a Poeta , ou Poetiza ; a Pro/cta, ou
Profetiza', o e a Mártir, &c.
DA GRATOMATLCA PORTUGUEZA. **

Gêneros dos nomes , que 'se regulao pelas terminações^

' > S & x L ,


12. Os nomes communs terminados em a puro 9
0« nasal são femininos; v. g. casa , romã. Except. Al-
vará , Clima , Cometa , Dia , Diadema, FmbUjia^ o
Nada , o Nunca , o Agora, o Enigma , EmplemaEí/c-
3TíJ<7 , Tema , Dilema ,Theorem* , Anathema , Sofisma ,
Prisma; o trombeta, o trompa, o clarineta fig. por o
que toca : Mapa , Estratagema , Poema , Sistema , Pro»
blema , e outros masculinos (V) .
rj. Os nomes em e são masculinos. Except, ylr-
vore , Cohorte, Neve, Face, e muitos outros acaba-
dos em ade , e ice , exc. o ./í/nce; o Vertice : os que
terminao em ^ agudo ; v . g. Maré, Galé : mas Ta/V,
"Boldrié, Rapé, Petipè, Rosicré, e outros são mascu-
linos. Arvore acha se nos clássicos masculino , mas c
antiquado. golge masc. : t Jríe de a v e s , e cria-
ção , e tòríe femininos.
14. Os nomes em i , o , u são masculinos; v . g.
G r e i , Lei\ Comboi; Lenho, Bahií. Except. Beilhò,
jE/iaró , X//t£Í , 7VÍJ femininos : Tribu ácha se cómünienté
masculino nos bõs autores.
1 5 . Os terminados nos ditongos em , tee, ou
em são femininos. Except. Carvão, Colxão , Feijão ,
Ferrão , Mellao , Pão , Trovão , Arção , Massapão , Ca~
beção , Pavel hão , Torrão , Tostão , Trotão , Artesão ,
Tesão, Aivão , Gavião, Torsão , e outros, masculinos;
e assim o são Bedee ou Bedem , Vintee, ou Vintém ,
Arrehèm, Vaivém , Bem , Trem , Desdém , Assèm , & c .
Os clássicos dicérão talvez o Linhagem , que hoje é
feminino. Quem , Alguém , Ninguém são communs (<?) .
16.

(«O Nos Livros clássicos vemos femininos Clima 9


Cometa, Diadema , Estratagema , Maná , Mapa ; Scis-
ma • nós dizemos o Scisma do O r i e n t e ; e " metteu-
çe-lhe áquella scisma na cabeça)) e r r o n i a , má opinião.
(ej " Não havia ali ninguém isenta d estas coisas :
44 E PI T O M E
1 6 . Os nomes em om , i/n, um são masculinos.
Fim acha se femirt. nos antigos, mas é desusado j e
CiZ^mos o meu fim : este Jim teve.
171 Os nomes em / , e r são masculinos. Except.
Cal, ÍMAtr , Dor, Flor; ésta cor, vontade , acha se
liosí, l i v r o s clássicos ; esta cor é usual. Os Infinitos
dos verbos sao masculinos: v, g. o amar, o ler, o ou-
vir ; o serdes letrados; o sermos feyas ( * ) .
18. Os nomes em s , e z são masculinos : v . g.
um Atlas; um As dos naipes; a Az esquadrão ( Cla-
rim. c. 1 1 . ) um Ras panno ; Jus, Alcatras, AJ-
eassús : são femininos Andas, Arras, Cócegas , Alvi-
qaras , e outros usados no plural , e assim Preces,
Efemerldes; & c . Cutis é feminino e assim o são Paz ,
Tenaz , Vèz , Tor quer, , Buíz , ou Boiz , Matriz , Foz ,
Vóz , Nóz , Cruz , Luz , & c .

Das variaçqçs dos adjectivos accommodadas aos generos


dos substantivos.

1 9 . Os adjectivos de duas. terminações era i t , e


0 tem ésta para os nomes masculinos; as em a para
OS femininos; v . g. casa nova , templo novo. Parvo tem
o feminino párvoa , e dizemos uma parva de almoço :
Ca- .

alguém andava então bem saudosa : ella é a quem amo. »


(V. Barros , Clarim. L. 3. C. 1 8 . ) u outrem mais bem
prendada. » Vieira, Serm, 1 1 . j. 11. 96.
( * ) E é de notar, que o a d j e c t i v o , que se refe-
re ás pessoas do infinito pessoal, concorda comellas
em genero , e numero, como v i m o s ; se se refere ao
infinito puro , usa se na variação masculina singular:
v . g. o ser infinito , o ser árduo cc o sermos sós )) só*
concorda com nós subentend. ( Costa, Terenc. tom. 2.
J- 257. ) " O ser eu cativa tua )) : " Letrados , que 0
são fracos » ( Veiga Ethiop. ) : a' ser vista , deixada
( Cam. Eleg. S. ) ; está por o seres tu Belisa vista,
deixada . ( V , o Diecionar. art. Infinitivo)
-V \
DA GRATOMATLCA PORTUGUEZA. **
M r t é i n v a r i a v e l , ou commum : cada homem, OU
mulher. Í
20. Os terminados em e servem para norçies dc.
ambos os g e n e r o s v . g. caio g r n v e , materia ç~avc :
, A(\uelle, mudão o e final em <
com os nomes femininos; e assim Cafre Her(^
Parente. É invariável Infante adjectivo : mas divinos
a Senhora Infanta , posto que os antigos dicérão nes-
te sentido- Infante. Regente , Penitente , Amante são
communs ; e assim mesmo outros adjectivos verbáes
emflrtie, ente, e inte. {Cam. Filod. tom. 4. f . 1 6 } . )
Constantemente dizemos uma corrente, talvez suben-
tendendo cadeija ( V . JBrt/roJ , Clarim. L. 1. C. 28. ) : a
vasante, <1 descente da maré ; na minguante da lua,
í. é , na quadra minguante : na minguante dos vocá-
bulos ( Lit sit. Transf.) ; o pendente do brinco , e do-,
sello do Chancel ler ( O r d e n . Afons. ) .
a i . Meu , Teu , , Sandeu, Judeu tem òs femi-
ninos Minha , Tua , 5kíj , Sandia , Judia : aos em *
puro accrescenta se um <1 na fôrma feminina : v . g.
'Nu 1 Nua', Cru Crua.
2 2 . Os adjectivos terminados no ditongo nasal
perdem o 0 final para os nomes do genero f e m i n i n o :
V. g. lugar chão, terra chã ; mej/ão , mcj/Ã; jfo , kz ,
( / ) melhor ortografia que vieãa , chia, pagã a , & c f
2 j , Os terminados nas nasáes om , e um são Bow ,
que tem £0« para os nomes femininos ( g ) ; Algum,
Nenhiim, 17,n , tem os femininos em âto , ou «m<t.
, ..' â w i -

(*) Souza. , V. do Arceb. 2. c. $ 2 . dis


( ediç. de Paris ) ; Cafra ( Castanheda> ) .
( / ) O som nasal d'estes femininos assim se deve
escrever, que termina pom a boca aberta, e náo por
a m , pois que o m faz cerrar a b o c a ; e mais absurdo
é escrever am por ão ( V . Barros , Gram. f . 10$. £
teão , Ortogr.f. 219./ 'diç. 17 84- ) •
(gO Alguns dizem ainda boa CQrao Barm escreveu
( Grain. / . iS. < 1 1 9 . ) •
4* E P I T O M E
Çommum tem Commiía femin. nos Livros clássicos; o t |
commwn para ambos os generos ; e alguns os i m i t ã o ;
Alais ordinariamente dizem com/nua , contra aqu.elles
« x e m o l o s , e a analogia de um , e derivados (h) : Ca-
bruni § Cabra a , ou Cabrua»
Os adjectivos , o i nomes acabados em or
achaV^ se nesta iinsma forma communs para os mas-
c u l i n o s , e femininos : v . g. Senhora Superior, Fiador ,
Peccador, Tutor , Curador, 8cc. Se alguém achar L o - ,
bo , ou ave caçador ( Orden. L. 5. f . 6 2 . ) Assim
mesmo dicerão : a tsFação Portuguez : frutas monte-
ies ( Barr. Dec. e Cia ri n. L. 2. c 28. ) : hoje damos
femininos em a a estes adjectivos ; v . g. Fiadora , Su-
periora , Priora y e tudo o que pôde pertencer a mu-
lher. " Pales do manso 1gado guardadora )) ( Camões
^
Eglog. 2. ) : mas com os nomes de coisas sem séxo
são invariaveis os adjectivos em or , quando não si-
gnificão officio ; v . g. obra , formosura superior a todas ;
noticia ulterior. Assim dizemos a nação Portuguesa,
Jiigleza , Fra-iceza. Preitèz , Préstei , Ditples , Simples ,
e semelhantes são communs a,ambos os generos. T o -
davia cuido , que ainda dizemos guie montanhês : fru-
tas , e cabras moiter.es : ( i ) na V. do Arceb. L. ),
c. 20. ediç. de Paris , e Naifr. de Sepulveda , 1 0 . foL
3. v e m monteias, f .
CA-
CA) Paiva ,Serm. 1. f . 344. JE«/h 2. S c . 1./.
SJ. tf. vVc. 5 . / . 1 8 $ . tf. Elegia da , /*. 1 3 9 . tf,

trazem commãa , e outros clássicos : mas geralmente


não guardarão a analogia dos adjectivos em um; e a
mayor parte usão de commum com nomes f e m i n i n o s :
V. g. commum opinião ; mulheres comuns.
(i) " Lettras conservadores de todas as boas obras )) traz
garros no Prol, da Dec. 1 . edições de 1 5 5 2 . e 1 6 2 8 .
( V . Ined. ). f 8 4 . ) mas o mesmo Barros (no Cla-
rim, L. ) dice : " a Loba marinha grã tragadora : )) è
Camões " Eternas moradoras do Parnaso : » e ésta é a
Variação 3 que geralmente se usa com os nomes femi-
DA GRAMMATICA P O R T U G U E Z A . 4j

C A P I T U L O V.

Do Verbo, e Seus Modos, Attributes, Temmm e

«/|#
1. Verbo é a p a l a v r a , com que decljyWrioi
V / o que a alma julga, ou quer á cerca dos
Sujeitos , e dos attributos das sentenças; com elle
firmamos, e mandamos : v . g. Eu sou amante : o
pomo ê doce : Filho sê temente a D e u s , e ama o.
2. Á significação, ou officio principal dos verbos
anda annexa a significação de algum attributo , e da
pessoa ou coisa , em quem o atrributo existe , ou
queremos, que exista; e das diversas épocas em que
o attributo existe, existiu , ou existirá no sujeito.
Assim Amo por si só equival a Eu sou aman-
te actualmente : Ama a Deus , a , Se tu amante de
Deus : Amei refere o attributo ao passado ; Amarei ao
futuro.
j. Quando a alma julga, ou quer pensa de dois
modos diversos; e por isso as variações dos verbos
que declarão a afirmação , e o nosso mando, ou que-
rer se dizem Modos do verbo, Hora nós podemos af-
i r m a r , ou querer com ajguas differenças, e modifi-
cações ; e por tanto os Modos do verbo podem ser
também diversos, á proporção d essas differenças acci-
deritáes de affirmar, ou querer. Mas a Grammatica só
reconhece por modos diversos aquelles, que se expri-
mem com palavras differences ( V ) .
_ _ _

limos. Alguns dizem a Priora das Ordens terceiras


que as tem ; e a Prioreza do Mosteiro, de Ordem
Religiosa : foi juiz da pendência a mulher do a k
f
caide : e a juiui da festk : a mentira autor de
toda maldade ( Eufros. 1. 4. / . 40. ) : bom pacificador
o arruidos está ésta {ibid. f . j8. ) . E u sou má lé~
dor de letra tirada (J\ 7 0 . ) peccador ( ibi ) .
0 0 Os Gregos tem um Optativo p r ó p r i o , que os
MR? E P I T O M E
4. Na lingua materna temos dois modos verda- -
deiros , o Indicativo ou Mostrador, com que affirnaa-
í n o s , e o Imperativo, ou Mandativo, com que man-
damos , pedimos, exhortamos , ou declaramos o nosso
querejh.directamente a alguém.
t T e m o s mais variações verbáes ditas do Modo
Câhj iilctivo , ou Subjunctivo , as quaes não declarão
affirm;-;ão , nem m a n d o ; mas ajuntão um attributo
verbal referido á primeira, segunda, ou terceira pes-
soa , e tudo subordinado a outra sentença p r i n c i p a l ,
em que entra verbo no Indicativo , otr no Imperati-
vo : v . g. Não espero, que venhas cá : Ama, para
que te amem ([b) .
6. Estas variações verbáes subjunctivas tanto não
affirmão , nem mandão , que se podem supprir com
um nome abstracto , que signifique o attributo ver-
bal , e um articular possessivo , ou com infinitos
pessoáes ; v. g. " Filho mais queria qüe morresses 9
que

Latinos não tem. Veja se a Grammaire Generate ü*


Raisonnée , Part. 2. Ch. 16. n. 1. pag. 1 7 7 . édit. de
Paris , 1 7 8 0 . Os nossos Grammaticos referem ao mo-
do Subjunctivo variações dos v e r b o s , que são do mo-
do indicativo : V. g. se eu amara , quaera , &C. eu iria ,
faria se podesse : iria , viria são visivelmente compos-
tas de ia vir , ia ir , como irei , virei de hei c vir,
ir ; ir-me-hás, por ir ás-me , prová o que digo ir-hei,
hei tensão d'ir , eliipticamente hel-d'ir ; tenho d ir. Far-
me-hás por farás-me é analogo , e tudo do Indicativo ,
como se lá voa : se sei, & c . com conjunções. ( V .
Leão, Orig. C. 1 9 . )
( £ ) Quando dizemos : Venha a nós o teu Reino;
seja feita a tua vontade : faltão os verbos do Indica-
t i v o Peçs, Rogo , Desejo , que venha , . . . que seja
feita & c . Peço vos que me ampareis , ou me ma-
tai ( Clarim. L. 2. c. 21. pag. 2 1 7 . ) . Sobre os Mo-
dos dos tierbos veja se a Short Introduction into the
English Grammar, pag. 66. ( Lond. 1 7 8 4 . ) n»U C 7 ) <
pag. $2. not* (4; .
' DA GRAMMATICA PORTUGUEZA. 49
que efenderes a teu Creador com pecçado mortal »
( Fios Sanct. Vid. de S. Luis , f . CVÍll. ediç. de M<$7 \
" O Imperador desejava muito de ficardes ( que fiqueis }
na sua terra : A c a u s a , que me fez ctnhectrvo.il essa
me faz que vos leixe (Barros , Clarim. Lei±% pof
Deixar}i : T r a b a l h a , filho m e u , por agradarem*]UM
3 13 >}
68 ) ' ° U P°r(l"e * * r a d e m í Pin S , c
7. Nos exemplos citados a que morresses podemos
•ubstituir a tua morte » ficando o mesmo sentido '
a ofenderes podemos substituir « tfensa tua a Deus •
ou que o ofendesses: )) i s t 0 é , ao infinitivo pessoaí
pelo subjunetivo : a ficardes podemos substituir vos-
sa ficada , ou que ficásseis , o subjunetivo pelo infini-
t i v o pessoal. L m lugar de conhecer vos podemos u s a ,
de vos conheça -, e por fer, leix*r vos, òu a mi-
1
nha detxação de vós.
8. D estes mesmos exemplos se v è aue o* I n t i
nitiyos Pessoáes ( m u i proprios , e talv'ez só da L i n -

5n, v P r UgUCZa } ^ Sá
° O U t r o s m o d « verdadeiro,
dos Verbos • mas palavras equivalentes ao attribute
do verbo refendo a uma das tres pessoas, como se
f a n a por meyo dos arhculares possessivos Men > Teu
Sejt) Nosso, Vosso Seu d'elles. Assim Lermos\ Ler-
des, Lerem sjgnificao a nessa Lição, ou , nosso Ler -
• vosso Ler ou a vossa Lição ; e 0 Ler ou Lição d'eí
Jes f e s t a s variações verbáes decópói se o verbo mais
que nas do s u b j u n e t i v o , porque 'neste modo o at-
ributo se refere a urna época ; nas variações infini-
iivas pessoaes, p.rde « t a significação accidental de tem-
po ( F . Clarim. L. 2. c. 2 4 . p a ^ z 6 l lih . v
« O vosso tngcHaç » equival to L ^ r é l ,
"IO folgardes d obturar «julval to
9. Isos Infinuv» puros representamos sónwnte o
attributo v e r b a l , sem a f f i r m a r , nem querer , 1 "
laçao co pessoas, ou tempos ; files a i o verdadeiro,
nomes verb.es abstractos: ( 0 0 murmuror do rÒL\

• 2 ^ m m
t -
( c ) O s Infinitos puros 3 e pesjoae», ião sujeito*
4* E P I T O M E
é a murmuração do povo. 0 variar faz bell a a Natu-
Kza t Por isso concordão com adjectivos articulares,
è attributivos. u Porem v ó s , tristes R e i s , 'neste ser
Reis , negais a natureza, de que Deus vos formou, »
( Men \ Pinto , c. i 6 3 )
; . Dos mesmos verbos se derivão as palavras em
nr.
an-
. ^it-

de proposições , e são regidos de preposições; e por


consequência são palavras, que exprimem um objecto
abstracto ; e modificado por um articular possessivo
nos infinitivos pessoáes. Assim dizemos: v . g. " 0 sa~
tem fey 'is nao as deve desconsolar ; )) onde o serem é
sujeito precedido do artigo o ; e é sujeito do verbo de
ve. " Tentarão difamarem de mim , para indinarem a
V . Alteza (Couro) : )) difamarem é paciente de tenia?
rão , e indinarem regido da preposição para, " Aíjuelle
seu dizerem , e fazerem não se acha nestes dias : )) ^ão
infinitivos modificados por a que lie , e seu. Donde se v c ,
<jue, 'nestas palavras prevalece o caracter de substanti-
vos , os quaes sós são sujeitos de proposições , e regi-
dos pelas preposições. É de notar porern , que os ar-
tigo? , que se lhes ajuntão concordão no singular mas-
culino ; como com os infinitos , mas os attributivos ac-
crescentados aos infinitos pessoáes concordão cõ a pes-
s o a , ou pessoas, a que se refere o attributo : v. g.
" Presumimos de honrados, e de gente de primor; e
queremos ser tidos por esses : » i. é , presumimos de
ser homens honrados & c . onde honrados concorda modifi*
cando o infinitivo com o nome nós ; e assim tidos
junto a ser; " O serem feijas : 0 ser de tão formo-
sos olhos preso &c. )) i. é , o serem ellas feyas : o ser
eu preso. Assim mesmo os Latinos usavão dos seus in-
finitivos : Nam istud ipswn non esse, cum fueris, mi*
serrimum puto ( Cicer. Quaest. Tuscul. L. i. n. i a )•
e Horácio dice : néscias uti \ metuens contingere ; recita»
re timentis ; ciilpari dignos ; piger scribendi ferre labo-
rem j & c . V . Severim de Faria, Discurso a . pag. 6 j .
¥lt. ediç. 1791,

#
DA GRAMMATICA PORTUGUEZA.FF
ante , ente, lute, que sígnificSo adjectivamentè o at»
tributo do verbo ; v. g. eu sou amante. (<0 Estas to*
mão-se commummente por1 substantivos : v. w
p. o Referi»
O
te , a vasante , o Intendente , a corrente , sc. cadey? , &C.
li. Derivão-se mais dos verbos outras palaV^* em
ando , endo , indo , que significão o attributo verbal
adjectivamente , e i m p e r f e i t o , actual : v . g. a^iei a
Pedro dançando, cantando. Os Grammaticos ÍKés cha-
ínãb Participios de presente (<?) . Estas mesmas pala-
v r a s se tomáo como substantivos abstractos, que re*-
D li pre-
li • •• .......

( d ) O s nossos mayores usarão das palavras em àri±


te , ente , inte, como de participios á maneira dos La*-
tinos : v. g. " Eu o Conde D. J o ã o Afonso temente
( por temendo ) minha morte. )) ( Monarch. Lus. t. 6.f.
JO. tf. ) " Rompente o alvor da manhã. » ( Nobiliar.
do Conde , f . j j . ) Camões dice : " as perlas imitantes a
côr da A u r o r a : )) e Ferreira ; " a aguia mais voante. »
(tom. 2. f . i i S . )
(<?) Na Cron. ant, do Condestavel, Capit. 10. 12,
1 5 . 59. 63. na Monarch. Lus. t. 6 . f , 506. < 5 1 2 . e i á
Fernão Lopes , Cron. de B.João I. e Camões , íowo I V .
fag. 54. 55. t % . de Ulissea , 7. 0 1 j , e 1 5 . vei
os gerúndios com preposições mui frequentemente á
imitação do que se usa nas Línguas F r a n c e s a : v . <*.%/»
rú/rtí, fowí enjouant; e ' n a Ingleza : v . g. in actin»
em representando 5 in raising, em excitando. (
dmUt , /j? s 10 ) Animus i/i consulendo J i b e r : é de Sa/*
lust. Bell Catll. na fala de Catão. ( V. Terent, Ajidr.
«cf. I K . jc. IV. v. )2. in pariundo) N a Lin m a Iri^
gleza o gerúndio serve de sujeito de proposições ac5-
paiihado do artigo the : " the making of war :» o fazendo
ou fazer d'a guerra (Spectator, » Ò . 7 Í ) . Nós dizemos
semelhantemente : " E sabendo elles, que me hão-de achar
com sigo , quando menos o esperarem , bastará para an-
darem espertos ; )) onde sabendo elles está como o sa.
lerem elles... bastará para & c . i. é. o gerúndio pe r ~
sonaüsado por sujeito do v e í b o ( £ « j x a , V. do Areei
?T E PI T O M E ;
presentão o attributo verbal i n c ô p l e t o , imperfeito
a c t u a l , e nisto differem dos infinitos puros : v.<%
" muitas outras coisas contém o L i v r o , que entre len-
do se- verão : ) ) i. é , ao ler , ou na Jeituw : " A ' manei-
ra d' aurcsccntanio o desejo ao pedido ; )) ( Alen c
, peg. do Tiiulo , edição í/r i s $9. í L. 2. c. 4. )
1
Si >/ sendo resistidos, nem punidos : )) ( Cortes d'Évora
de 1 4 4 2 . art. 1.) " O I m p e r a d o r , em lhe acabando
t u de talar , dice me , & c . )) « Como tudo se a l e m
«m vós Súindo ! » Neste sentido estas variações se cha-
mão Gerundios , e são verdadeiros n o m e s , pois são re-
gidos de proposições. Posto eu á mesa ; é frase elli-
p t i c » ; i. à, em eu estando posto à mesa : morto He-
rodes , i. c , em sendo morto : como ; em moços l i
se forão ; sc. em sendo m o ç o s : cm verde colhidas •
SC. em sendo verdes , & c . ( V . Leão, Cron. tomo 1. f .
s $ 4 . edição de 1 7 7 4 ) A q u i o adjectivo luodificante
con-

lobo , Cort. Dial. 9. f . 1 7 6 . " porque nomeando estas


partes diante das m u l h e r e s , não c corteúa. )) ) V . a Or-
dennç L. 4. 1 0 0 . §. 5. «< È que por tanto ajuntan-
do-se duas casas, e morgados em úa só p e s s o a , & c .
será causa, CTc. )) V . Barros, Gram pag. 12. no Jim. D'
estes exemplos temos múicos outros nos bons auto-
res ; e q u e os gerundios se personifiquem é vulgar : v .
«."emeu o vendo : em tu saindo'. » onde a preposição
cm aflecta os gerundios , e náo aos nomes eu , e tu ,
que se fossem complementos da preposição irião aos'
casos mim , e ti. Assim mesmo , quando personifica-
mos os i n f i n i t o s , as preposições não affectao os no-
mes : v . g. " para tu saíres : para iu veres : )) e " por eu
dher a verdade : » &c. A'cerca dos Adjectivos verbáes
em ante, ente, iate, dos Participios, e G e r u n d i o s , ç
5 u p i n o s vejão-se as notas de Duelos à la Grammairc
General* £í" Raisonitie\ part. 2. chap. 2 1 . pag. 201. <
Condiliac , Ortm/wrtirtf , Part. 2. chap. 21. pag. 203. tWf.
Vc 1 7 8 0 . G f W v r . Dos Participros, e Supinos direi
msTaboas dat Conjugates 7 no Jim d'esta Grammatical

a
• Í É
DA GRATOMATLCA PORTUGUEZA. **
con cor cía co' o nome : v . g, Em tu saindo tão formos»
t bellã.. . . " V
li. T e m o s mais palavras derivadas dos v e r b o s ,
terminadas em ado , ido , que se tomão adjectiramenfte ,
e significão o attributo do verbo passivamente com-
pleto , e acabado : v. g. o livro está tido ^^SÊLW
da , paramentada. Então se dizem pariicipiosdo/^rete*
rito , ou passado. Outras vezes se tomao como substan-
tivos , que só se usão no Singular , no genero maseeN
lino 7 e repfesentão o attributo do verbo abstractamente
mas como acabado , e perfeito no sentido activo 'h ou
neutro : v. g. tenho lido livros , acabado obras , visto Ci-
dades. Neste sentido sé' tipi nose são nomes re-
gidos , ou pacientes dos verbos Haver e Ter; porque
assim dizemos tenho um vestido , uma casa , cotfio tenho
lição , ou leiturafeita , que c o mesmo que tenho lido, ©V.
Os Latinos tem participios'j-ou adjectivos verba'es ,
que referem o attributo a uma época futura j a que
chamão participios de futuro. Nós os imitámos , e dellea
tomamos vindoiro duradoiro , futuro, e poucos mais.
O s antigos dicerão recebedoiro , digno de r e c é b e r s í r j
does ta doiro , digno de ser doestado; & c . -
n. A'cerca dos Modo? verháes; advert iremo» , que
os Poetas , imitando a simplicidade primitiva ( usada
inda entre i g u á e s , e familiarmente; ou dos superiores;
com os. seus subordinados ) usarão pedindo , do m o d o
Mandative" : v. g. " Agora tu Calliope me inspira :
outras vez»s do subjunetivo ellipticamente ; v. g. u Mu-
sa honremos o heroe & c . » e assim pedimos cortezttieiii
te. O Legislador manda , ou prohibe predizendo , c o t »
0 futuro do Indicativo : v . g, " Amarás a Deus ; .não
jurarás o seu santo nome em vão. » C o m m u m m e n t e
usamos pròhibindo, dissuadindo , ou pedindo que não ^
do modo subjunetivo : fi< Nao nos deixes cair e m ten-
tação : $?ào se mova ninguém ; assegurai vos ( Sá c Mír.
Estràng. Prol.): Não cuideis , que sendo t a ! i l l , blas-
femo , renegador podereis entrar no reipo dos Ceos
( Paiva, Ser IH. t. ) . » " Esforça, Infante , nem c ' o pe-
so inclina : » o imperativo inclina , por inclines do
1
$4 E P I T O; M E
subjunctivo , é um Latinismo. £ Mausinho, African, f .
89. y . ) Isto pelo que respeita aòs modos dos verbos,
1 4 . O Attributo verbal nas mesmas variações se
refere is pessoas eu , tu, elle, nós , vós , dies : v. g.
lej/o 1 Us , lè , /tf/fíoj , ledes , /J/m : , e nój são as pri*
nieiv .j pessoas; do singular eu , nós do p l u r a l ; iu c a
s e g u i d a pessoa do s i n g u l a r , vos a segunda do plural :
tí>da ou^rá c o i s a , 011 pessoa , a que se pode ajuntar o
pronome ella , elle , é terceira pessoa do singular ; elles
d o p i u r a l . As. variações verbáes , que respondem a es-
tes pronomes se dizem pessoas do verbo no numero sin-
gular , ou plural. *
1 5 . Alguns verbos não tem: variações responden-
tes à primeira , nem á segunda pessoa , que são de com-
inum homens , porque os attributos dos taes verbos
não podem cópetir a h o m e n s : assim não dizemos : eu
chovo , eu corisco , eu-troveja : no sentido figurado po-
rém dizemos: " tu nos choves altas doutrinas (Cami-
nha,t Ode 8. e Epist. 1 4 . ) . )) Dizemos mais o Cea
chove, gaja, neva , trovoa. A estes verbos chamão Os
G r a m m í t i c o s impessoáes, ou carecentes de variações
pessoáes ; mas elles as t e m , ao menos d'as terceiras
pessoas* Por uso não dizemos eu fedo, d t feder , nem
muno., brando , de munir , brandir , e aos verbos se-
melhantes chamão defectivos. ( V. a pag. 52, no fim
d'esta Gramm. )
I 6. Civilmente usamos , falando a u m só , das va^
riações verbaes correspondentes a vós: v. g. ^ Sabeis,
Senhor, o que v a i ? Ponde, meu Deus, em m i m os
olhos: ( f ) Outras vezes u s a m o s ' d a terceira pes-
soa : v. g. " Lingua tem V . A l t e z a ; Elk por si lho
di-

( / ) Então é incorrecto usar do verbo na segunda


pessoa do singular : u. g. Porque a v ó s v o s impor-
ta seres boas: » por , serdes. ( L. da Costa , Tereiicio ,
Heaatont. At. 2. sc. 4, f 6 7 . ) Outros dizem mal sè-
reis, vèrets , buscáreis; por serdes, verdes, buscardes.
Negar porem 5 que os infinitivos Poituguezes tenhão
DA GRAMMATICA PORTUGUEZ A. FF
diga. » ( R e s e n d e , F . do Inf. V . Ulisipo , /*. 40.
" que vè cila em nós ? » ) Was quando alguém fala ,
ou se exhorta a si mesmo , considera se como segunda
pessoa : " Morre , Afonso d' A l b u q u e r q u e , morre (di*
,1 zia
V .11*
vy
_ M
- ,

propriamente variações pessoáes, ou sejão *Jptíftoáes ,


é negar a existencia do que se vc ; e nasce de se não
considerar o que c essencial ao verbo ; e como d'elle
se vão derivando palavras complexas em quanto ao
sentido , que representao per si sós coisas , que po-
demos significar por outros elementos , ou partes da
oração : v. g. em tu saindo , que equival ao saíres , ã
tua sàida ; bem como amo a eu sou amante; onde amo
significa syntheticamente, o mesmo que analysamos
com as palavras eu sou amante. ( V . Severim , Discurs.
2. pag. 65. tom edic. de 1 7 9 1 . ) O que não pódô
representar se , senão por outro verbo , é a ajfirma*
f ão , que por isso se reputou entre os melhores G r a m -
matico* por o caracter essencial do verbo , ou pala-
vra por exeellencia, porque elle só ás vezes contem
uma sentença perfeita. V . Harrisx Hefrmes^ pag. 164.
Grammaire Generate Raisonnée., Part. 2. Chap. 1 j.
Condillac dis , que se os verbos affirmassem,, nunca
poderíamos fazer proposições n e g a t i v a s ; mas njío ad«.
vertiu , que o não afrecta o attribute an nexo ao verbo :
«u não amo c eu existo não-amante : o verbo sepre affir-
ma o a t r i b u t o mais g e r a l , que c a existencia, pri-
v a d a , ou. descópanhada de outros attributos por meyo
do adv. vão , que se ajunta aos adjectivos attributi-
vos ,. e nomes usados attributirámente: ÍC Não fiquei
homem )) é " fiquei iião-homeni.; )) como Young, dice
em I;h%iez : I was u n d o n e , I w a s wimancd: Eu fui
desfeito do sev de homem. Os advérbios affeetãç o,
at tributo verbal : eu não minta, quer dizer, euyiou9
existo não-mentirozo : não temo , sou sem temor , seu impa-
vido. V. Grammaire Génerale V Raisonnée, pag. 5 4 1 .
Le verbe est dane le signs de I*existence ©'<?. Condillac ,
Grammaire 3 pag. 90. V . aqui o cap. 6. do Adverbio.
L® E P I T O M E
í i a elle Co'slgo mesmo ) que cumpre á tua honra
morreres y> (Couto, D. 4. L 6. 7 / 1 1 1 / )
1 7 . Os Soberanos falavão de si com os verbos n a
p m r a l : v.g. mandamos , faiemos saber , Wç. Os Prela-
dos mayores ainda hoje o fazem : mas não ha rasao
p o r | i ; um particular d i g a , por exemplo : « EscrC
V3da de
J o i o de Castro » e loço : « c
JVos V a r e m o s o pregão universal de sua f l o r i a &c. »
transformando se o escritor de um em muitos.
1 8 . O s at tributos annexos á significação dos verbos
sao actios : v. g. ferir , matar , dar • ou de mero ata-
l uaUr
Z ( 5er igual ) , parecer. Assim
os verbos Portuguezes em razão dos attributes são ou
activos, ou dc estado. O , Latinos tem verbos deriva-
. d 0 ' a c , t l v o s > " o s quaes se affirma , que o sujeito é
paciente da acção do verbo a c t i v o : v . g. feriar , eu sou
lendo derivado de/lW* activo , eu firo : ãquelles ver-
t a s cliamao-lhes passivos ; nós não temos verbos pas-
Y
sivos.
1 9 . Verbos i. é , nem a c t i v o s , nem pas-
sivos , chamao os Grammaticos áquelles, que não si-
gnincao acção : g. « O vento ^ r m í , o mar s aí
ondas jazem; O Cisne iguala a neve na candura : » ou
que sigmficao uma a c ç ã o , que fica no mesmo sujei-
to , de quem se affirma : g. e u ando, salto, respi-
ro , fon-í? , v/uo , í?*c>
2 0 . Os verbos activos commummente tem um pa-
ciente , ou objecto , em quem passa , ou se emprega a
sua acção : u. g. feri a Pedro ; matei a lebre ; remar o
batel ; remei meet remo ; pelejar as pelejas do Senhor ;
«fV. estes se dizem verbos Transitivos; mas ás vezes se
usao sem paciente : v..g. " N ã o teme , não espera a
consciência p u r a ; » i. c , não t e m e , não' espera na-
da: espnyu , acabou, se. a vida, o alento , e alma :
primeiro haveis de alimpar como marmello ; )> i. i ,
wear limpo : " as minas d'Hespanha esgotarão • » & c .
21. Pelo contrario aos v e r b o s neutros ajuntamos
ás vezes pacientes , como aos transitivos : v . g. viver
nida fehs; çorrer carreiras ; correr seu curso ; o homem
mo-
DA GRATOMATLCA PORTUGUEZA. **
medroso tudo o estremece ( Eitfr. 4. ) ; Deu» chovia
maná aos Israelitas :• A planta mal nascida o Ceo a geya ,
neva , abrasa , e chove ( Lobo y Egl. 7. ) : i l Bem o parece
no semblante : » i. c , se lhe assemelha, parece-se com
elle : voar aves, lançá-las a v o a r : a mina voou o mu-
ro : subir o basilisco á fortaleza; fazer subir : avitar
os do loccorro com o inimigo; arrostá-los a o s p e r i g o l
& c . a chuva reverdeço a t e r r a : o verão rcfiorecerbs jar-
dins : não soia a ser ( Paiva , Serm. ) &c.
22. Alguns verbos neutros; v. g estar, i r , vir ,
sair, parar, usão-se com paciente, para designarmos
espontaneidade , e energia do sujeito : v. g. entrou o
anno; e entrou se o inimigo pela porta : parou a pedra ;
e parou-se o galgo : Pedro ficou doente , ou preso ; e , lá
se ficou por sua vontade. " He hum estar se preso por
vontade (Carnes, Son. l i . ) . )) " E m fim lá se fica-
rão , cá me estou ( Cruz , Poes. f . 74. ) . )) " Os ven-
tureiros se ficarão quedos Ç Jornada d'Africa , f . 61. ) .»
" Stja-se elle vosso servidor ( Eufr. j . ) . )) Fuão
cativou : por , ficou cativo ; trazem Telles , Hist. Ethiop.
Lobo, Corte, D. 4. Lucena, L. 4. c. 1 6 . porque se
dicérão cativou-se , ou cativarão-se , dârião a entender,
que voluntariamente o fizeráo , como quando dize-
mos : cativou-se dqcorteúa , da formosura ( * ) . Dizemos
rir se , enfastiar se ia , o\i enfastiar a verdade ', rir a hi-
pocrisia ; &c. (Paiva , Scrw. 1. $a. Ferreira y Carta
L. i . ) ' "g
aj.

( * ) Assim dizemos doer se de algiía p a r t e , 011 cau-


sa j por queixar s e ; magoar se, por dizer magoas : mas é
improprio dizer ; u a avezinha se caiu morta , ou mor-
reuse ( V . Men. \ Mofa , f . 4. e i $ } . ) : » nenhiía
destas acções c espontanea. Finou-se , acabou; porque
finar c ativo , acabar, posto que antiquado : " ador-
meci-me cansado » é igualmente improprio, quando
alguém não se agita, ou faz sdjjiía diligencia por ador-
mecer-se : u este menino adormiee-se cantando elle mes-
1510 » t direito: " E u te fico » tem diverso s e n t i d o ,
<8
* /
EPI T O M E
2 ) . Quando o sujeito faz a acção em si mesmo :
v . g. Pedro feriu se , cortou se ; dizem os Grammalicos ,
que estes verbos são reflexos. Se o» sujeitos são recipro-
camente agentes , e pacientes ; v. e . " Pedro e João amao
se ; ferirão se : )) chamão-lhes verbos recíprocos : mases-
tes /verbos são o s mesmos na figura , e no sentido ,
que guando tem agentes , e pacientes diversos. O u -
tras Íiírrgüas tem propriamente ( i s t o é , em sentido ,
e figura ) verbos médios ; dobradamente activos , Wc. de
que nós carecemos : os reflexos, ou pronomináes, e os
recíprocos são activos p u r o s , usados com s u j e i t o s , e
pacientes idênticos.
24. A falta , que temos de verbos p a s s i v o s , sup-
pre se de dois modos : 1? usando dos verbos Ser e E j -
tar com os participios passivos : v. g. sou amado ; es-
tou ferido r. u Foi tido por honra , e riqueza, ter mui-'
tos amigos ( Heit. Pinto , da Verdad. 4miX" c' 4« ) : ®
c<
Por ser j u s t o , e devido o dever íc-guardar tal m o d o
( Hist, dos Illustr. V,ar. de Távora , f , 1 0 J ) • ))
2 J . O 2? modo de supprir a falta dos verbos pas-
sivos c ajuntar o c a s o . j e aos sujeitos da terceira pes-
soa , que 11 ão: podem fazer a acção em si m e s m o s : v.
g. u cortão se arvores ; tccem se sedas ; edifica sé o ediji*»
cio ( Lusíada , i©. i j o ) : Festa sem comer não se
festeja ( Cru*., Paes. f . 66. ) ; Quanto se tem se vai; )>
í. é , quanto haver se t e m , tanto valor se vai (Ca-
minha , Epist. j . ) . Ve s<:,, Parece se ; é v i s t o , parecia
do. C ** ) " Deus , quer , que só a elle se ame; nin-
guém se deve amar, senão a um Senhor tão poderoso
( Paiva, 'Serih. l. ) . »
.k ,xt:\ - '; 26.

e é : " cu te fico fiadar, asscgurador , ou m e obrigo ,


que assim se faça .; » onde i aftermo , como lhe e m
" tudfl lhe succede hem y ^^àconteccu-sc é igualmente im-
proprio , posto que este caiu-se , morreu-se , e seme-
lhantes se achem nos bons autores imitando os Cas-
telhanos. 'V
„ • C *) Quando os verbos se apassivão de qualquer
DA GRAMMATICA P O R T U G U E Z A .15*;.JÀÍ'M
1 6 . E m táes casos será equivoco apassivar os ver-
b o s , quando o sujeito pôde fazer a acção em si ires»
m o : v. g. iC ja se estendem, por terra muitos : )) por f
v são

dos dois m o d o s , os sujeitos concordão com o verbo


e m numero , e pessoa ; e sendo os sujeitos imínitivos
apassivados, os verbos da sentença ficão no singular.
Assim diremos vem-se homens , como são vistos ho•*
mens, e não vê-se homens ; porque homens é paciente
a q u i ; equal será o sujeito , sem o qual não se dá sen-
tença perfeita ? " Os progressos forão quaes se devia es»
p e r a r : » é e r r o , deve ser : quaes se deviao esperar,
o u deviao ser esperados. Quaes se devia esperar, é má
imitação de um Gallicismo correcto: on devoit les at*
tendre, ou s' attendre; onde on c home sujeito , e tem
o verbo devoit no singular. ( V . nesta Grariunatica o
L. I. Capit. 2. n. 9. o que notei á cerca de homem f
e on ) " Porão as penas, que virem , que é necessá-
rio pòrem-íe :' j) é correcto ( Orden. $. Tit. 1 $6. ) .
V Fará as citações , que forem necessários fazer se : *
ç incorrecto ( na Orden. \. T. 24. §. 2 8 . ) : t c as coi-
sas , que por cumpriínento ê necessário fazerem se p
bem, ( Filosof, de PrincipeJ, tomo 1. f . 6 5 . ) Quan-
do se apassivão os S u p i n ò s , são invariaveis : v .
Tem se impresso livros ; sentido falta de gente; tem se
feito muita obra : tem-se idos muitos ; c erro : mas é
correcto , são idos, vindos , o verbo ser com participios :
as casas tem-se avaüado, o i l , tem sido avaliadas par
vezes; são exemplos correctos, porque os adjectivos ,
que modificáo o infinito ser , e os seus gerúndio, e
supino concordão com o sujeito : v. g. o seres bella ;
em sendo minha te servirei melhormente ; as casas tem sir-
do avaliadas. Quando se dis : tem sefeito soldados; tem
se feito fortes : damos dois sentidos; o activo signifi-
cando , que alguns se exercitarão na milicia , e se fize-
rão fortes ; outro passivo , soldados tem se-feito , ou re-,
lt
cjutadocomo honrão se Venus e Amor có sacrifí-
cios )) p o r , são honrados, V . o num. a a q u i .
4* E P I T O M E
são estendidos cõ golpes : " um se matou: f> por foi
morto : " cativarão se muitos )) por tforão cativos (Pin-
to Pereira, L . j . c. a2. L . a.j^. $ 9 . ) . Outras vezes
é sem equivoco : v . g. u P a f o s , onde se honrão Ve-
nus , e Amor có sacrifícios : )) p o r , são honrados : e
íl
Verás esquecerem se Gregos , e Romanos pelos feitos ,
que hão-de fazer os vossos L u s i t a n o s : )) por , serem
esquecidos" ( V. Lusíada, a 4 4 . ) . Isto c bem , quan-
do os sujeitos não costumãò fazer a acção a si mes-
mos.
27. T a l v e z damos ao sujeito uma acção , que elle
não pôde exercer em si mesmo : v. g . E m terra estra-
nha , e alheya muitos os ossos para sempre sepultarão.
( Lusíada, 8 1 . ) u E os que neste sentido o acom-
panharão , Os membros em penhascos transformarão. »
( Uiirsea , 5. 9 1 . ) Aqui o sentido não padece dú-
vida.
28. Os Grammaticos chamão ao verbo Ser substan-
t i v o , porque a elle se ajuntão todos os a t r i b u t i v o s ,
e ainda nomes usados comprehensivamente , TDU a t r i -
butivamente ( : v. g. ser amado , ferido ,. amante.
" A ser vosso , Senhora, me condemna (Camões). » ct O
campo ensina ser justo ós pequenos ( F e r r e i r . tom. 2 . f ,
1 0 1 . ) , » " T u d o é suspeito , e pouco seguro para as
mulheres , até o serem virtuosas ( Menina e Moça , L „
t . v . 2 . " ) . )) u O ' vós, que Amor obriga a ser suj-
eitos a diversas vontades £ Camões , Soneto I. ) * » " A
tro-

( * * * ) T a l v e z se cala o infinito substantivo set\, o i r


serem: v.g, " d e q u e maneira pod ião escapar , de mor-
tos , ou cativos ? )) i. é, de serem mortos , ou cativos.
(Jornada d'Africa , f . 8o. ) <c em moços lá sefarão : ))
i. c , em sendo elles moços : " em ligeiro é uma aguia : »
se. em ser ligeiro iTc. Onde ha adjectivo só có pre-
posição , deve subentender se nome : u segundo os
cavalleiros desta casa sáo pouco costumados a ociosos : *
i. é , a serem, ou estarefn ociosos ( Polmúrim , P . a.
<?.. I J 4 . ) .
DA GRAMMATICAPORTUGUEZA.15*;.JÀÍ'M
troco de ser senhora ( Camões ) . )» " Deposérão Malaca
de ser Cidade ( F . Mendes Pinto , cap. » 1 9 . ) . ) ) De todas
as palavras , que contém uma noção attributive , pro-
pria , ou figuradamente se derivão verbos : v . g. de
Platão PJatonhar, pensar como Platão ; Emiamperi-
nar se t|eZamperini (dice o autor da elegantíssima Sa-
tira do Entrudo ) àejustiça justiçar ; de Avante «van-
tejar. T e m o s alguns verbos frequentativos: f. ba-
tocar , jogaetár , sopetear ; outros diminutivos : v. g.
chuviscar , mollinhar, choromigar , beberricar, de com-
mum usados no estilo familiar , ou chulo.
2 9 . O verbo Fazer substituè-se aos activos , e neu-
tros , que não queremos repetir: vt g, " não ames
a riqueza como o faz o avaro : » " cairão no m a r , e
assim á fix cã o outros : y> 'nestas frazes o refere se aos
infinitivos amar , cair, calados por ellipse.
j o . 0 s verbos tem variações accommodadas aoí
t e m p o s , ou épocas , cm que o attributo coexiste , coex-
istiu , bu hade coexistir com o sujeito ; v. g. eu es-
crevo, sou amante; eu escrevi , fui amante , eu escre-
verei, }serei amante. Estas tres cpocas do presente , em
que escrevo , ou amo ; dó passado , em que escrevi, ou
miei ; do futuro , em que escreverei , ou d/mirei, sao
simples na figura dos verbos , e absolutas no sentido.
ji. Outras variações do verbo indição épocas r#-
Jativas; i. é , de um attributo presente, e actual em
época passada : v. g. eu escrevia, lia hontem j e
de um a t t r i b u t o , que existiu em época passada: v .
g. já eu lèra , eserevèra , quando tu chegaste. Estas
variações relativas também se declarão no Portuguez
por uma figura simples dos v e r b o s : v. g-. lia, amava ,
Ura , amára , cantara , €2*c.
5 a. T a l v e z queremos declarar mais o estado da
acção significada pelo v e r b o ; i. é , se era imperfeita 9
e incõpíeta; e usamos do verbo Estar com os partici-
pios <lo preáente , v. g. estou escrevendo , lendo j, esta"
vtf j estive, estivera, estarei lendo \ escrevendo; ouse
era já acabada , peifeita, e cópleta então usamos dos
verbos activos dé possessão Ter, e Haver 7 e dos Su*
'' pi-
«2 E P I T O M E
pinos ; tr. g, Tenho , ou Hei lido , escrito; Tinha , oil
Havia lido , escrito, ÍSTc. " E com sigo trará a formo-
sa dama , que Amor por grã mero: ihe i<?rá dada. #
( Lusiada ) A razão disto é , porque tanto monta affir-
mar , que a a c ç S o , ou attributo verbal existe no su-
jeito , como que elle o possite ; que por analogia
assim possuímos um vestido , como uma qualidade
abstracta o amor , ou amar , que sáo o mesmo ; e ama-
do 7 lido, que são o amar , e ler çópletos , a c a b a d o s ,
p e r f e i t o s ; os quaes amar e ler , attributes energicos ,
podem ter um paciente ; v. g. tenho lido livros , ama-
do vários objectos ; ( g ) e apassivar se com se ; v. g,
eomido-se , lido-se , dançado-se ; bem como ler-se,
dan-

( g ) Haver sempre é activo , e nunca significou exis-


tir , como dizem Argole , e outros. T a n t o c incorre-
to dizer z r Ha homes ~ por existe homens ; como su-
por , que na significação de ter c idiotismo Fortuguez
concordar com sujeitos do plural. Ha homens á uma
sentença elJiptica, có sujeito do s i n g u l a r ; i. è-, o
mundo , a especie humana tem homens : " nesta terra
ha boas frutas ;' » i. é , a especie das frutas (/10) tem ,
contêm : " E m mim ha dois eus; » i. é , o meu indi-
v i d u o , sujeito , supposto c o n u m dois eus. " Duas
coisas se hão de notar no texto ; » i, & , duas coisas
hão lugar d e n o t a r se no texto. Hão na Lagica ou-
tros termos » é e r r o , porque o sujeito proprio d'esta
sentença è : Linguagem Filosofica , Ou Scientifica ha ,
o ü tem na Lógica outros termos. " Pôde haver ho-
mens tão grandes, como os que já forão ; )) i. è, a
especie humana pôde ter h o m e n s , & c . " R e p u g n a
haver em hua a l m a , no mesmo tempo , duas consola-
ções contrarias ; » i. é , é repugnante ter a natureza
humana em ua a l m a , ao mesmo tempo duas consola-
ções contrarias. T o d a s as vezes p o i s , que o verbo se
usa no s i n g u l a r , deve supprir se a sentença com u m
sujeito nome no Singular; porém quando o sujeito é
dó plural, o verbo liaver vai ao plurar: v. " ho-
DA GRAMMATICA PORTUGUEZA. T]
Jançêr-sé , comer-se, beberse j c Utulo-st o$ livros , daá'*
' f ando-se minuetes , comendo-ie comidas gulpsas , bebendo-
se~ vinhos puros , & c . >
Si. Com semelhantes cõbinações do verbo Estaf
cô os participios do presente ; e de Ter , ou Haver c'os
Supinos indicarr.os a imperfeição , ou o acabamento .d*
acção , ou attributo verbal no subjunctivo ; v. g. que
eu esteja, ou estivesse lendo; se eu csiivqr lendo, que
eu haja , ou ten há lido ; que eu houvesse, ou tivesse
lido ; como eu houver , ou tiver lido.
34 Nos Infinitivos dizemos estar lendo; ter, ou
A f l t w sc. t e n ç ã o , ou necessidade de ler ^ ter ou haver
lido ; i. é , lição feita.
35. Todas estas variações verbáes se verão nas
t a b o a s , ou exemplares das Conjugações dos v e r b o s ,
que vão no fim desta o b r a , para se consultarem,
quando for necessário ; pois os que estudarem esta
Grammatica já as saberão por uso. Ahi mesmo Se acha-
rão os verbos Irregulares , que se desvião do e x e m p l a r ,
e regra analógica de conjugar; e os Vefectivos , a que
faltão alguns t e m p o s , ou variações pessoáes.
3 6. Os verbos Estar , Ser , Ter , Haver , que ajudao
a formar tempos imperfeitos , e perfeitos sham ao se auxi-
liares : e tanto vai dizer ; que o sujeito existe acom*
pa-

m e n s , que hão visto ; que hão de saber: )) i. é , que


hão razão , ou motivo de saber , & c . 4< artes , que os ho-
mens , os mãos hão inventado. )) " Após mim não ha
outro mim (Mem. eMoça , L. 1 . c. 1 8 . ) ; )) i. 6 ,
depois de mim ( p o r minha m o r t e ) o mundo , ou a
espécie humana não ha ( tem , possue ) outro eu. V .
o cap. 6. das Preposições , nota (</) . " Os homens , que
ha visto o mundo : )) o mundo é sujeito , e nunca ho-
mens ali o pôde ser ; ao contrario de " O s homens s
que hão visto o mundo c i v i l i s a d o : a c e y a , que esta
noite haveis de haver : » i. é , tendes d e s t i n o , ou sor-
te de ter ( Clarim, 2.1 c. J j . ) . V , abaixo o cap, 7*
«lot* (d).
«4 E P I T O M E
I ,
pan ha d o , o u modificado por um attributo , como <li-
i e r , que o sujeito o possue : assim amo, sou amante ,
ejfow amando j tenho o attributo amar, toi/10 «aror , tu*
do v e m ao mesmo sentido. (A)
J 7 . O verbo Ser quando affirma attributos immu*
dáveis usa se no presente: ê , v. g. " Deus é infini-
to ; o todo é mayor que a p a r t e ; Camões é poeta
CO,» » '
CA-

CA) Do que fica dito se v ê , que o verbo exprime


juntamente o sujeito , a asserção ou dezejo , o attribu-
to , e o t e m p o , a que referimos a sua e x i s t e n c i a , e
tem uma significação mui complexa. D'aqui as diver-
sas definições , que se derão d elle : todavia o seu ea-
racter essencial, e distinctivo é significar o que a nossa
alma pensa á cerca das coisas , e seus attributos. E m
outras Linguas tem os verbos variações derivadas da
mesma r a d i c a l , para lhe dar um sentido dobradamen-
te activo ; ou de uma acção reflexi sobre o sujeito
mesmo & c . tem v a r i a ç õ e s , que indicio o sexo do
s u j e i t o , e cõpõem se mesmo com a negação & c . O
mais notável é , que em muitas Linguas falta verbo
Correspondente ao substantivo ser, como é na Chine-
s a , e na dos índios Galibis , e na Lingua geral dos
Brasis ; e quando querem affirmar ajuntão o sujeito » u
Home com o adjectivo : v. g. " Fraudei impa : )) Fran-
cezes ( s e . s ã o ) bons ; e negão por m e y o do adver-
bio : " Francici irupa ua : # Litteralmente; Francexet
bons não; sem verbo. ( V . Harris Hermes, pag. 1 6 4 .
Grammaire Generate «9* Kaisonie , Part. 2. Ch. i|.
Uncyclop, articl. Construction , par Du Marsais. A theo*
rica dos temp»s dos verbos assas e n g e n h o s a , mas dif-
ficil na Gram, Génér. de Bauzée, acha se mais simpli-
ficada no Hermes de Harris , L. 1 . c. 8.
( / ) Procede isto de que o presente cõpõi-se de par-
te do passado , do momento , que corre, e do que v»i
a passar; ou porque damos uma certa latidão ao tem*
p o do momento á hora p r e s e n t e , ao dia de h o j ç , a
DA GRAMMATICA PORTUGUEZA. V,

G A P I T U L O VI. '01':

Vos Advérbios.

1. M ^Zem°3 : v
' *mo com ternura, com
i.^1 constaneia-, e no mesmo s e n t i d o : amo ter"
nn mente , constantemente : éstà 'nacjuelle lugar , OU <j/í ;
fez Í/Í? boamente , ou Í/Í ?M» ME/IF* ; cantar A revezes , o u
alternadamente ; & c . T o d a s éstas frases com ternura ,
com constançia modificão o verbo amo , determinando
o modo de a m a r ; naquelle lugar, ou «li , determinão
uma circunstancia do verbo ; boa mente, mi
, modificão a acção do verbo fez , & c . E s t a s
frases pois se chamão frases adverbiáes ; e as palavras
que se substituem ás frases modificantes do verbo , co-
mo , bem , mal, agora , hoje , ©v. se dizem Adverbior.
2. Devo porém n o t a r , que os Advérbios não são
uma parte elementar das sentenças , porque todo*
elles são úomes , e^.talvez combinados com attributi-
vos , e regidos de preposições c l a r a s , ou occultas, que
por brevidade se o m m i t t e m , e também se exprimem :
v
- S- igualmente ( « ) j de antigamente; a cá, a lá ; de
E aiJm

este mez , a este anno , a este século e em fim á eter-


nidade. Assim é improprio d i z e r , das máximas sem-
pre verdadeiras, e perpétuas, com as Jinguagens dó
imperfeito : y. g.." dizia um Sabio , que o bom R e i
devia ser um bom pai : )) dizia está b e m ; mas hou-
vera de dizer deve; porque o bom R e i em todo tem-
p o deve ser bom pai • & c . " Dizia elle , que não ha-
via mór vileza , que ser avaro : )> deve s e r , que não
h a \ porque é uma verdade moral perpétua, ou que
se inculca como tal. " A f f i r m a v a não existirem antí-
podas ; )) é correcto , porque os infinitivos não referem
o attributo a época algúa ; i. é affirmava a não-exis-
tencia dos antípodas. j
(O Alguns p e f t e n d e m , que mente v e m do L a t i m
«2 E P I T O M E
untes ; hoje ; agora • í/í hoje ; d'agora a/i è a prepo*
sição <i com li relativo , como em a-i, a-quí, ('b)
até i , i , dèshoje , «íe // , íifé qui\ <e Buscai </e
hoje outro Pastor (Lobo) : )) de melhormente (Lusíada) :
u
Dc sempre forom ( Orden. Afons. 2. T, 59. §. 9. ) : »
^ para todo sempre. » $e síut \ juntamente, CW.
5. T . 1 0 9 . é L. i.T. 63. §. 24.
.3. O s advérbios regem , ou pedem outras p a l a v r a s ,
que completem , e determinem a significação de úma das
palavras, de que os mesmos advérbios se-compõem : t v g ,
jNão podia em meu verso o meu Ferreira
Igualmente á dor minha ,ser chorado :
Caminha , Eleg. 4. )
3. é , ser chorado de modo igual á minha dor : bem de
resistencia'. assás de pouco faz quem perde a vida (Ca-
mões") : " estavão assentados arresoadamente dc tiros d'
arteliiaria. » ( Castanheda , L. 5. c. 3 5 . ) " O Senhor
da embarcação , que tinha igualmente de nobreza , e bran-
dura ( Lobo , Dcseng, f . 2. ) : » i. é , tinha igual m o -
do ,

mente, bonâ mente ; outros que do Céltico meat, que


significa modo ( Bullet, Memoir es stir h Langue Cel-
iique , <jri/'c7<? Ment ) . Como quer que seja , ,Latino , ou
Céltico , mente c um substantivo. D'antigamente (Or-
den. 3. 21. f . Ferreira , Egloga I . )
( 6 ) Nos clássicos acha se y , i , ou /»' relativo a,
lugar c o m , ou sem preposição: v. g. i estavas tu .
T é li , té qui , para qui , per hi ; que â i ? ai. V .
.Ferreira , CÍOM , 2. .te. 3. e 5. tf «o fomo l , / . M 9 »
, ,/;. " B i - v o s dVu , boca de p r a g a : , ')) ide-vos
d'esse lugar ( Cam. Filod. A. 2. sc. 5 . . ) . E s t e i , o u M
adoptamos do Francez y , como hu ( o n d e ) , qu an-
tes p i antiquado, de «V : " nom cries gallinhas, hu
raposa mora. )) Ende antiquado C f 4 f | do eu Fran-
cez , o u in de L a t i n o , corVupto o in em en á FrancezS» ,
como SengrcMra de singkr , & c . / ' Seul quedar ende por
contar In rem : )) sem ficar d'isso por contar ahi coi-
. sa. .CFerr. Sonet. }4. 2, Jfarr, Gram. f . 193«)
T>A GRAMMATICA PORTUGUEZA. 6F
dó , pu partes iguáes de nobrez* , e bondade. ( * ) « Di-
zei-lhe r que dos meus pôde v i r seguramente {Karros') . »
4. O s adjectives attributives usão se ellipfcicamen-
te na variação masculina s i n g u l a r , por adverbiqs :
g. " as fustas andavão pielhor '{émeiras (Barrai,
,1. 7. ) : )) ÍT/ÍÍ bradando : i. é , de m o d o , ou em sô
a l t o : " Doce t a n g e s , P i e r i o , dace cantas : » i. t , d*
modo , ou com som, e voz doce ; ou com ellipse de
rrtentc : " doamcnte suspira , e doce canta. )) ( Ferr.
Egl 2 , e Cafta 1 0 , L. 2.) " T e v e mais di-
ta í » mííito mais rezão (Palmeirim, j, P. c. 1 7 . ) " Faya
que sobe ao Ceo de puro altiva (Camões , E Í Í , Quartas) : »
iȒ//wr parados , muito unidas : isso C muito verdade ( e
nao ) : já é wrfif* no/íe : erc. Quando dizemos j
v . g". Corpos w<?i/0 ardidos ( Cerco de Diu, CVi/ií*
6. e 1 6 . ) : Parede ma/o derribada ( Pinto Pereira , L.
/• ) : »»<?//<> está sem a preposição por : de to*
do; sc. m o d o , panto, ( c ) L o w * muito; i. é -em
muito modo. V . Ined. tomo }. f . 7 7 . " Louvo em
E li mü\-

O Qs Latinos diceráo ubiitam gentium ; ubique ter-


ramn 'T Credo ego inesse illic auri, & argenii lar*i~
ter., Plant. Ritaens , 4. jc. 4. v. 1 4 6 . V . Barros,
Gram. / . 1 5 8 . da regencia dós Advérbios. Dentro de
ou em ; a dentro , afora , tfc. tf/arj mj* ; j . £ f ficart-
do esse a fora dò conto , ou numeração.
( c ) Analogas São. : vender barato , comprar caro : to-
caci^a junto foi de medo e de ira ( Lusíada , 6. 6$. )
, &c. Os clássicos tãbé dizem : v. g. paredes
meyas desfeitas ( Barros , Clarim. L. a? c. 2%. ) : L o u -
vores justo devidos ( Seg. Cerco de Diu, f . 2 \6. ) : Pa-
lavras meyoformadas: troncos meyo+seceos ( Cruz. Pões,
f . 1 8 . ) : Paredes meyas-, i. é , cómúas aos donos de
duas casas contíguas , travejadas na mesma parede
m e y a , ou m e d i a : " O s menos conhecidos iío os me-
lhores parados: )) é e r r o ; deve ser melhor ad v e r b a l -
mente , como os mais bem parados. ( V . Vascancel,

Sitio, / . S4, as melhor cepos tos corpos. $
io6 EPITOME
miiito D ens: )) " estvpou em muito. D Saíras , x. ç. S,
( V . o Diccionar. art. Adverbio )
5. Os A d v é r b i o s , ou frases adverbiáes indicão a»
circunstancias de tempo : v. g. Hoje , llontem , Agora,
Jtr , 'Nunca , Sempre , Entretanto , Antes , Depois , Wc.
6. As da lugar , e distancia : v.g. Cá , Lá t Aqui, Hi,
OU J/ij , Ali , ^'cercfl , Além , Aquém , Avante , J«t<?J ,
a Diante , Siriri , Apôs, contraídos em Diante , Tras,
PCJ ; e talvez usados como preposições : v. g. diante , >
, fl^ílí m/m.
7. As de quantidade : v . g\ J j j í Í í , Pouco , iVfüifff ,
JWflií , Grandemente , Sem , J j í i m , TÃO , , TrJo-
bem , «Tc. Outros escrevem Tam , Qjiam, conformes
« etimologia , e contra a pronúncia.
8. O modo : v. g. Prestesmente , Asinha , Ardente-
mente y Cortezmeute 9 &c> Mal, Sem , Melhor , Sabia-
mente , a fertta , tf li/íle.
9. A ordem : t>. g-. Primeiramente, Segundariamen-
te , ou Primeiro , Segundo , Terceiro , Quarto , C!?*c. usan-
do os attributivos ordináes ellipticamente, por em
terceiro , quarto , ÍC. lugar. " Para isto foi que as car-
tas primeiro se inventarão ( Loio , ) . ))
1 0 . De affirmar *, S i m , Certamente: de negar;
7»j<?ij , Nunca , ÍVÍ7Í> , IVWrt , de nenhum modo. De du-
vidar : ^ziiíífl, do Italiano cAt já. (Leon. da Costa,
Terenc. f . 2 1 7 . tom. 1 . ) vulgarmente quiçá.
1 1 . "Concluirei advertindo: 1 ? que os advérbios
nnodiíicão os adjectivos attributivos , e os nomes usados
attributivamente : u. g. bem douto ; mui virtuoso. V . Al-
teza mflií mÃc, que avó d'elRei : era já mííito noi-
te: Por mais r i c o , e mais príncipe, que homem s e j a :
hú mez de não-camiuho. Vieira, (*)
12.

( * ) " O coração não-senhor de s i . . . é uma das cou-


sas , que mais prjvão a luz do entendimento ( Barros,
Panegir. f . - 1.8$ ) . )) Os nao-cldadaos ( Jrraes , 4. c.
9.): Tornar tão cordeiro quem tão Uão.vlera ( Sou-
sa ) . ))
DA GRAMMATICA PORTUGUEZA, 9$
12 2? Qufe dos Superlativos se fazem advérbios
superlativos : v. g. amantissimamente , tenacissimamen-
te , rellgioshslmamente , de amantíssimo , tenacíssimo ,
religiosiissinio,
1J. Que os advérbios modificão outros ;" u. g .
íWfíííí? a dentro \ mais bem ; muito mais razão ; tão pouco
admirados ; não mui prudentemente ; muito mais atras.
( V . Ferreira , Brijío , / . 7 5. 2 , Poesias ,
S . / . 5 4 . ) (<0

C A P I T U L O VII.

Das Preposições,

I. A S Preposições ( assim chamadas, porque se


i ~ V prepóem , ou põem ances dos nomes , a
que se referem outros nomes correlativos anteceden-
tes , e que as preposições arão entre si ) servem de mos-
trar a connexão , e correlações , que o entendimento
concebe entre dois objectos significados pelos nomes
s ó s , ou modificados por adjectivos, ou verbos. (<i)
2.
L •. •
' '"" """ mw-m^mmmm^mmt^—'
(<d) Acarão , Adrede , A dar , Qttiçais , e outros são
advérbios antiquados <5 cujo sentido se verá nos voca-
bulários ; (juiçais é rusticidade , vista a sua origem de
Chi sá , quem sabe. ( V . o numero l o . d este Capit. )
Camanho , ou Quamanho alterou a inorancia dos edito- *
res em Tamanho no Clarim, tomo 2, pag. 3$. e 43, ediç.
de 1 7 9 1 . São antiquados Cá, porque; alhures5 dosa-
das , tí'c. Sa micas dò Italiano Sà mica.
( a ) A Preposição, dizem os nossos Grammaticos ,
serve para mostrar os casos dos nomes. 1 E que casos ,
ou diversas terminações tem os nomes Portuguezes ,
â excepção de Eu , Tu , Elie ? Destes mesmos as pre-
posições todas só se ajuntão a mim , ti , si ; e a prepos.
com a migo , tl^o , sigo. Se pois temos preposições, que
pedem genitivos , dativos , acctisaílvos , ablativos , ou
5 t i , i i são todos éstes casos, ou pão sabemos
;
' '' * F Í T O M t
2. Ellas fazém variar os nomes , ou pronomes Ew ,
em Mim , Migo , Nós , Nosco ; Tu em Ti, Tigs Vós ,
Vosco -j e quando se trata da terceira pessoa eiar relação
com sigo mesma, precedem ao caso Si : v. g. de mim , a
tuim , por mim , pura mim , par* f j , por si, a si,
J< , cow migo , cow jigv> , ítgv. Nas l i n g u a s , que
tena casos eJlas influem n e l l e s , ou determináo o caso
e relação do nome , a que precedem.
i . A s preposições designão primariamente relações
físicas de l u g a r , aonde algua coisa está , donde se
p a r t e , para onde se vai , onde termina algua a c ç ã o ;
de posição : v, g. saí de casa, fui a o templo , lancei
cncenso 'na ara , prostrei-me por terra , bati 'nos pei,
tos , voltei para casa ; voltei-me contra o Oriente ;
lancei-me sobre à cama ; olhai por mim ; Síç„
4. De indicar as relações físicas passarão figurada-
mente a outras semelhantes : v. g, a mostrar o pacien-
te da acção do verbo , que é como lugar para onde
ella passa , e onde se termina ; assim dizemos: feri a
Pedro, amo a Pedro , louvo a Deus ; dou o livro a
ti, a Joãê. ( b) V e y o a casa; veyo a ser bom Rei,
( Barros , Paneg. )

qMc todas as preposições rejao senão um caso ( á ex-


cepção de com ) de cada um dos pronomes pessoáes.
N o Latim 5 e mais linguas , cujos nomes tem casos ,
estes se conhecem pelas declinações ; a preposição rege
tal , 011 tal caso , ou segundo a relação , que signifi-
c a , ajunta se lhe o nome em tal , ou tíil caso. As pre-
posições de algiías Linguas pospõem-se aos nomes regi-
dos por ellas; v. g. na Lingua Persiana , e n a Geral
Brasiliana ; os Latinos diziao quietim , mecum ; os í n -
giezes pospõem mui frequentemente as preposições ;
nós raríssima vez : v. g. u Impor-tp o jugo eu bem
s e ' quem h W c : » i. é , eu bem sei quem ha • ( sc,
p o d e r ) de ijnpor-te ò jugo. ".v
( £ ) Quando' a preposição concorre com a artigo ,
fpjitnhem se ou ajuntaò se éin á com acceuto agu-
IBÜ'"
DA GRAMMATICA >ÔRTUGÚEZA: 7$
f . A fonte nasce d'esta pedra ; e figuradamente , a
má vontade- nasce d'o coração; o odio d'a inveja , d'o
temor.
6. Vamos á praça ; e fig. á verdade , ao fundo d'as
coisas ; a demonstrar ; a adivinhar ; Í?V.
7. Parte d'a casaSenhor' d'a casa ; Senhor </'<*
materia', d'a negociação , paixõesSenhor de si,
8. Não cabe cm CÍJÍÍI ; não lha cabe cabeça \ não
cabe em si , ÍJ/JJ RÍISÍU» humana ; tempo ; Fe ; C^c.
9. Da casa para praça-, de mim para ti, da ver-
dade para a mentira * de trez para (jUatro.
10. Â ponte át-a com a Cidade ; estai contigo ; a man-
sidão abraçada com a caridade ; mentiras com verdades :
correr cô alguém ; movido oom a mão ; com razoes , e
carinhos , &cs
IT. Nestes exemplos vemos como por semelhança
passarão as preposições dé mostrar as correlações entre
dois termos físicos, a outros intellectuáes , moraes, e
geralmente incorpóreos; Estas são as preposições sepa-
radas ; de cujos officios tratarei mais nas regras da Syn».
taxe, ou Composição; poique ellas são partes conn«-
sivus dos nomes entre si , ou s ó s , ou modilicados por
attributives: v. g. homem hábil phra as Lettras,; Pe^
dro navega para a Asia \ destina sc á Vida Litterar-ia.
u
Os^nomes regidos talvez se calão : v. g. Tenhò-o por
homem circunspecto ; e pib de consciência: )) i. é , e
por homem de consciência.
1 2 . As preposições calão se muitas v e z e s , quando
a relação do nome não padece equivoco. Assim dize-
mos : Amo a Deos, a João : e sem preposição: A-mo

do : se concorre com o artigo , perde se ás vezes,, e ó faz


se agudo ; v. g. fui ó templo , bradei ós Ceos. De con-
correndo com o artigo perde o e e fica d'a , d'o , d'as ,
dios. Em com o artigo perde s e , e fica na n'o por
em a , em o. For com o artigo perde O r , ou muda se
este em l: v, g. po-lo campo , ou por o campo-, Per
em Fel, pela casa. /
io6 EPITOME
o Grego cantor ; a caça , o jogo , eTc. tc Este ata nzerao
os nossos grandes feitos; » por-, em este dia : navegamos
costa abaixo ; sc. por acosta,,.. •!'••.
1?. Outras vezes o nome se ofFerece, ao nosso en-
tendimento em duas relações: v. g. aporta de sobre o
muro: onde muro se offereçe como possuidor da pórta,
e como lugar , sobre que ella estava ( c ) . tí porem
vicioso dizer de d'onde , porque o d', que precede a
•nde , é a mesma preposição de expressa por inteiro e
sincopada em d'onde. É igual erro dizer ad'onde está ;
p o r , a onde está ? Só diremos bem : voltei a d'onde
saíra; i. é , voltei ao l u g a r , d'onde saíra, quando o
sentido pede a do qual, da qual, dos quaes , das quaes ,
calando se o nome regido por a , ou o que esta pre-
posição pede : assim é a ellipse , com que dizemos :
v. g. foi tido por néscio , e por para pouco ; i. é ,
foi tido por homem néscio , e por homem hábil para
poucij negocio, s e r v i ç o , ou feito. Igual erro é juntar
* a até ; v. g, até a o muro ; deve ser até o muro , até
0 campo , até as estrsllas.
1 14. Se aos pronomes Eu e Tu se juntarem os adjecti-
vos um , ou outro , ficão os pronomes indeclináveis, ou
nestes mesmos casos: x>. g. por outro tu, cun outro
eu ; mas Si é constante neste caso com a preposição:
v. g. " fica homem tão diverso d'aquelle outro si, que
trás de Adão. )> ('d)
15.

(c) Os Hebreus tinhao o mesmo uso. V . Oleastri,


Hebraism. Canon. 5. Non auferetur sceptrum de Jehu-
dáh , & Sçriba de inter pedes e j u s , donsc venjat Si-
l ó h , & ei obedientia gentium. Ós Latinos usarão o
mesmo : v. g. in ante diem ; insuper rogos; desuper:
nós dizemos d'entre muros ; perante, empós, apôs de ;
Vês,10 tehipo, Dèsde, de Des e De. " forao-me .tirar
dos claustros , e de sobre os livros ( V . do Arccb. ) : ))
" De sob as arvores ( Men. e Moça) : )) u mora a Sob-
ripas. ))
-00 Ajuntai-me dita3 e saber, vereis ttm eu : » e não 3 •
' - . • • A l - . - ' m
DA GRAMMATICA PORTUGUEZA. 7*;.jàí'M
i ç . Oütraí preposições contão os nossos Gramma-
ticos , que o não são : v. g. á cerca , que é advérbio ,
e acima , abaixo , álem , aquém , antes , ao redor , trai 9
diante , a par , á roda , a riba , ainaj , de baixo , ci-
ma , defronte , dentro , jfrro , depois , defora , de trás ,
em cima , por baixo , por cima , em diante , ao diante ,
/wr diante , porá- ÍIVJJ , /w<z de tras, íFc. onde é vizivel
a preposição verdadeira combinada com o nome , ou o
nome sem ella , que pède talvez . outro nome com
preposição : v. g. das portas afora , a dentro ; por den-
tro ; por de fora, d'aquem para além j antes ou atras 9
adiante de mim ; n ccrca d' isso ; depois d'is se \ por cima
ilo telhado : " -do diante vos espero , ítf o caso vai
( Filodemo , 2 . Sc. 3. ) :)) defox. em fora ; <J defora dor-
mireis ; o que sinto í/e/zír* em mim ; Hora uma
preposição indica o nome correlato com o anteceden-
te , e o pede ; mas não pede outra preposição. Junto
c o adj. usado adverbialmente ; e assim o são Conforme y
c Segundo : v. g. está junto ( e m lugar j u n t o ) da Igre-
ja ; isso é conforme a Lei ; salvo conforme aos gárrulos
trovistas; i. c , salvo julgando de modo conforme aos
gárrulos trovistas : conforme aos princípios' da F é ;
julgamos tudo conforme ás paixões. ( V . Paiva, Ser-
mões , T . i.f 82 , 95 , 96. Vid: do Arceb. L. \, c. 1 2 .
* L. 2. c. 22. ) Segundo c outro adjectivo usado ad-
verbialmente : g. fareis segundo virdes; i. c , do
modo segundo for o que virdes : Segundo a Lei; i. ç ,

• do

um mim ( UUsipo, ^ í . 5. JC. 6. ) : O que com oíifnj


somente ousara (Ferr. Carta 4. L. 2 . ) : P*r ou-
tro tu teu filho (/V. ) : V . Caminha , j.
T o d a via dizemos : audas tão outro de ti: Heit. Pin-
to dice ; apartado d'a quelle outro si, que traz de Adão :
e na Men, e Moça vem ( L. 1 . c. 1 8 . ' ) : Que após mi
não ha outro mi. Este ultimo exemplo mostra, que
ha, significa tem , e não existe ; alias dir se hia : não
ha outro eu • c o m o , não existirá outro eu: Já anda 0*-
tro eu, outro Sósia,
74"-V È P l T Õ M E, M

do modo segundo a Lei mànda : $egunêè o que di-


zeis , devo o b r a r ; i. é , devo obrar do modó segundo
é o que me dizeis. O s nossos5 mayores dicerão a seguir-
ão ; i, é, axnodo s e g u i d o : " a segundo- a>policia; We-
lindana • )Y * segundo se yè ( Camões , Lusiada- VI, 2 .
i j. e VIt. 47. Eleginda , C $. n i - ) • Adornado
1
segundo séus costumes, e primores ( IJKJ. ) : i. é , se-
gundo são sèus costumes. w A s coisas trodas a- apparen-
cia t e m , Segundo os olhos• J<?Í> , com que se v e m . )>
( Lüsitan. Transf. f . 1 2 4 . Vida do Arab. 4. c. 5.
segundo erav as casas. )
1 6 . E m fim* tudo o- que não faz variar os nomes
Eu , Tu, Elie em iW't/H, Ti , S i não e preposiqão.
O
17. São pois as verdadeiras Preposições Portuguezas
mim , ^íftf mim , Após mim , Até mim , Contra
m i m , Dd mim , Em m i m , Èntre m i m , Para m i m ,
Por m i m , Per mim , Per si , Sobre íflim , Sob mim.
Perante m i m , e Desde íiiinv são duas preposições em
uma , Per e Ante , Dês e De. Com migo , Com tigo ,
Com sigo , Com nosco , Com vosco. '
i3. T e m o s outras preposições combinadas com
n o m e s , com adjectivos, e verbos , que talvez influem
na sua significação , e se dizem inseparáveis : e são de
ordinário tomadas do Latim , de que darei alguns
exemplos. De A1 e vante formámos avante, e derivá-
mos avantajem , &c. de De' e redor fizemos derredoi es:
» Os

C ) J á apontei , que isto não se entende , quando


Eu e Tu se ajuntão aos infinitivos pesàoáes , e gerún-
dios , regidos o infinitivo , e gerúndio dq preposições:
v. g. para cu ir comtigo : am tu saindo. T o d a prepo-
sição deve ter depois \ie si nome c l a r o , o u o c c u l t o ,
que é o segundo termo ern relação com o anteceden-
t e ; e todas as palavras acima apontadas se usão adver-
b i a i m e n t e , com nomes d e p o i s , regidos de outras pre-
posições., o u s e m outra regência-.; v. g, estavão^. mor-
tos , ou <í cerca ( ou quasi / . v ,
• i'
DA GRAMMATICA PORTUGUEZA, 9$
Os seus derredorçs (. arredores de a e redor ) e deser-
tos ficarão santificados )) ( Fej/o , Trat, 2. dos San-
tvs íntrocentes , f . 46. ) .Vejamos as inseparáveis toma-
das do Latim , que muitos não estudão , a quem im-
porta entender isto, . v
1 9 . Ab ou Abs denotão l u g a r , c o i s a , d'onde se"
aparta ; d'aqui Abrogar , ou rogar que se tire a L e i ;
Abster se, ter se longe , apartar se ; .Abstêmio , Absti-
nente , Absente eorruto em Ausente. "
20. Ad designa termo , l u g a r , para onde se ache-
ga , ajunta : v.g. Adjunto, Adventício , Adverbio , Admoes-
tação. O éd muda se em ac , at, c f , dg, as, al9
«r ; v. ç. em Accomodado , Ac correr , Accusar , Attend
tar , Ajjfligir', Aggravar, e Arrogar se , Alluvia9, As-
sentar , &c.
21. Anfe denota precedencia ; v. g. Anteposto : e
prioridade , antecedencia ; v. g. Antepassado , Ante-
cedente, Antevidcncia , Antecuto. (e)
22. Anti denota contrariedade , opposicão : v. g,
Anticristão , Antipapa , Antiscorbutico.
23. Co, Com, Con, de Cum Latino , indica relação
de companhia, concomitância: v. g. Cooperar, obrar
com o u t r e m ; Composto; Conforme; Cônjuges ; &c,
24. De , Des declarão t e r m o , d'onde se aparta;
d'aqui Desvio , Desviado ; Desgraçado ; Desvalido , apar-
tado da graça , do v a l i m e n t o , &c. Por isso Des indi-
ca geralmente privação , mudança : v. g. Desmaj/ar,
Desanimar , ü'c. Deportação , Derretido , Devolvido.
25.^ Dis indica' variedade, diversidade de partes;
v. g. Disperso , esparso por varias, partes ; Distribuir
a vários ; Dispdr plart?tas em vários lugares : Dissentir ;
Discordar ; Dilapidar perdido O s , como am Diverso.
Alguns confundem Dis com Des ou De , e dizem Dis-
forme , D is graça por desforme , ou deforme, sem fornia,
desfigurado , e por desgraçado.
t . * 'ÍlÊÈÉÊfi 2 6t

(e) Barros confunde Ante , que é preposição , com An.


ies adverbio. V . Grammaíica , f , 296. e noutros luga-
res j f. 4 5 . ante Deus , e ante do p refaço;
io6 E P I T O M E
76. Em cie In Latino , on En , denota lugar pari'
onde , ou aonde se está. Empregar em algua coisa ;
Endividar se em t a n t o : Embdizado, arcado d'a feição
da boíz de caçar ; Enlevar se, ©V.
27. JE«tré de L r f c r : v . g. Entreter-se. em algua
coisa , por ter se entre as p a r t e s , cuidados d'ella ; í/i-
terpor-se ; Intcrmissão.
28. JEx indica o termo d o n d e : v. g. Extrair, ti-
rar dè algua coisa ; Extracto , tirado de ; Exigir , pe-
dir d'alguem ; Exportar, tirar do porto em fóra. JEcc-
tra ; f o r a , alem : v. g. extraordinário , extravagante;
fora do ordinário , que vaga fora d^ coUecção , 011 do
proceder comum.
29. Í/Í disigna lugar para o n d e ; g. Importar,
trazer , ou levar para dentro ; Induzir , guiar a algua
a c ç ã o ; Influir; Inspirar, soprar em alguém. Outras
vezes o in indica p r i v a ç ã o : v. g . In-habil, Inepto. In
muda se em ///1, Immovel; em /7, Illicito ; i r , Irra-
cional.
jo. designa o que está defronte , diante , para
onde se o l h a : -u. g. Observar; Obstáculo. CA muda se
em 0c : v. g. Occorrer , Occupar ; em op : u, g. Oppòr ,
Opposto ,
31. Per indica o meyo, espaço : u.g. Perpassar , pas-
sar por algua c o i s a , ao longo d ' e l l a ; Permeyar; Per-
lender. T a m b é m indica acabamento : u. g . Perfeito,
copletamente fçito ; Perlinace , acabadamente, mui
tenaz ; Perspicaz ; Perdurável; Perturbado ;
32. PÓJ indica posterioridade: v. g. Pospôr, pôr
depois ; Posterior ; Postergar, lançar após , ou atras
das c o s t a s : Póspello , contra, o pello ( c o n t r a r i o de
ál pello*) mal transformado empassapello (,/)• '
$ J.

Cf")'De al pello se derivou a pello , opp®sto a rf/JoJ-


pello. V. Cruz , Poesias > Eg/. 1 0 . / . 6 6 . " Que a pello •
me não falta na amizade » i. é , liza , direita , e
não revessamente : outros interpretão a pés e pello ,
descalço ? ou a pé 3 e nu ; çu mal roupado. t c a j w c -
' DA GRAMMATLCA PORTUGUESA.
1 7?
jj. Pre indica precedencia em ordem , l u g a r , po-
der , t e m p o : daqui Presidencla ; Presumir, tomar an-
tes para s i ; Presuppor; Prever; Predomínio;
34. Pro designa o lugar o n d e , a presença : v, g.
Proposto , posto ai ; Promessa , expressão da vontade
posta no n e g o c i o ; Proposito, tenção posta em algua
coisa.
3 5 . Re indica r e p e t i ç ã o : v. g-. Reimpresso, Re-
vender , Repor ; sou vosso e Revosso : ás vezes vai' o
mesmo que retro para trâz v. g. Repulsa , Repellir,
Recambiar , Rebotar , Rechaçar , ReluçUr , tFc. Re/w
a carreira ; alter, em arrepiar , & c .
36. Retro , para traz : v. g\ Retrogradar, voltar a-
tras , desandar; Retrógrado movimento , desandando.
37. Só , , Sotto , , debaixo : v. g , Sòcolor ,
Sobordinado , Sottoposto, Subtrair. O ob muda se e m
CC em soccorrer; em or em Sorrir ; em OJ em Soster;
u
e m 0 e m Sòpena ; em up ; v. g . as suppostas chamas. »
Sottopiloto alterou se em &>íírjpiloto , «u piloto subor-
dinado ao primeiro piloto ( g ) .
38. Sobre em cima : Sobrepor.; Sobrestar , estarem
cima , assentar se , e fig. parar : v. g. Sobreestar 119
n e g o c i o , na execução , que o v u l g o dis Sub star , Sus-
tar , e até já passou assim para as Leis (/») .
- 39-

pello vir da sua aldeya. )) ( Garção, Epist. 2. v ê i erra-


:
do apasfapello) -k . r
•(g) Assim mesmo se diz Sotavento , por Sotavento
do Italiano Soto. T o d o s s a b e m , que os Peçonhas pri*
meiros almirantes do mar , e sua tripulação , que elles
assoldadavão, erão Italianos, d'onde ficarão termos
Italianos na Nautica : v. g. galeote , Comitre, gúmena ,
e outros. ( V . Severim , Noticias , Disc. I I . §. X I I I . )
( h ) E c o m sentido absurdo , porque Sáhstár • é .estar
debaixo da L e i , ou execução ; assim mesmo dizem Des-
feyar por affeyar , devendo ser o contrario ; ácsfeyar f
•desfazer, diminuir a feyaldade. ( V . Cruz, Pocs. Egl.
1 0 . " i Queres que nosso canto sçbreesteja em quan-
E p i t o M ;jg"."'
39. Estas pfepòsicões de ordinário fazem ajuntaf
outras semelhantes , aós n o m a s , que os verbos , e adje-
ctivos compostos regem : v.g. consultar com a l g u é m ;
contrahir cõ /Outrem ; eompojto com a má f o r t u n a ; in-
fluir em a l g u é m ; attender it, attentat- a t i d o ; descen-
der de a l g u m ; & c . Mas isto tem muitas e x c e p ç õ e s ,
que o u s o , e leitura e n s i n a r ã o ; e n a duvida o éxcel-
Jente Diccionario Português da R e a l Academia das
Sciencias de Lisboa mostrará as preposições , que se
usão com os a d j e c t i v o s , e v e r b o s , « suppre muito bem
a uma Leitura comparativa dos Livros Clássicos, que
nem a todos é fácil. 4

C A P I T U L O VIII.
Das Conjunções.

A S Conjunções átão as sentenças, que tem


/ T l algiía connexão , ou correlação entre s i ^
de semelhança de juízo , dq opposição , de modificação :
E m " Pedro e J o ã o forão a caça )) a conjunção e in-
dica , que vou aflrirmar o mesmo de ambos.' " Nem
Pedro , nem J o ã o tal fez : » nem indica a correlação
de negação entre as sentenças.
2. E m " Pedro é bom , mas inconstante )) modi-
ficamos com mas a asserção da bondade , a que pare-
ce põe modo a inconstância. " I r e i , se vós f o r d ç s : »
se indica a correlação hypothética.., ou condicional' da
sentença principal irei, com a hypothética subordina-
da a ei la.
3. Assim as conjunções indicão os modos de ver
da nossa alma entre diversas sentenças , os quaes ás
vezes se expressão por. mais de uma palavra : v. g%
^.-hSs^ amo-

to v o u buscar que cozinhemos ? )) Neste sentido u l o


ha exemplo clássico de Substar, senão de Sobrestar. V*
Çrdài. }. 20. 2 6. Arrues, 3. c. a, (
DA GRAMMATICA PQRSNJGTTEEA.
amo-vos ; cem tudo não sofrerei esse desatino ; farei
isso r com quanto me cirsta ; em que lhe peze.
Os Gramrraticps coritão Varias % especies de con-
junções , a saber :
4. As Copulativas , ou que ajuntão as sentenças ena
uma são E , Outrosim , Tambeip : Item Latina adopta-
da ( a ) . N
5. A s Disjunctivãs Nem , Ou, Ja , Quer.
6. A s Condicionáes Se , Sf/j/ro , ÍA/IÍO ,
que ; CVw quanto : destas muitas limitão.
7. A s Causáes Porque , PO/J , Por onde , Porquanto.
8. As de concluir , e inferir Logo , portanto, Pelo*
çte, Jssimtjue.
9. As Comparativas : v. yáíjirn ? Assim como 3
Bem como : os antigos escreverão Assi
1 0 . A Í A d v e r s a t i v a s , que modificão por opposi-
ção : Mas , Parêni , Postooue , ComcjUfinto , Supposto ,
Todavia , Ainda assim, tif c. Porém usou se como ad-
verbio , por isso ,, polocjue. " Porém mandamos: ; »
pelas causas ditas. ( do Latini pr.oin.de )
11. A s conjunções cpndicionáes , p e r m i s s i v a s , o
outras geralmente fazem usar os verbos no Modo sub-
junctive : v. g. a irei sefordes; contanto que elle tam-
bém vá: desejo., q u ^ r o , mando que va : não creyô
que tal fuça , Wè. )) Mas o que dirige os modos dos v e r -
b o s , é o modo de pensar , cue queremos exprimir j
assim d i z e m o s : se tu vais , eu também vou : e todas
as asserções directas, e absolutas são do modo indica-
tivo ; as uniões de attributes verbáes subordinadas ás
assersóes principles v ã o ao subjunetivo : v. g, Desejp
que vas, ou a tita ida ; eu o diria , se soubesse, & ç e
por aqui s e v è , que diria , faria, iria , e .semelhantes
são variações i n d i c a t i v a s , e n ã o subjunetivas.
W V ' ' " . ' C A-
» •• , Iy - ., ...

03 Qite é o articular usado com ellipse de v e r b o :


v. g. " Digo que cs bom : >) i. é , digo isto , que
tu es bom : " quero que venhas : » quero isuto-,
tjye ^ > a tu* vinda i ou 0 vires, | j^MBMBHE
So E P I T O M E
Ml.
s

C A P I T U L O IX.

Das Interjeições.

1. p Aixões violentas exprimem se em uma , o u


I T poucas palavras ; as quaes equivalem a uma 1
sentença : v . g. al, tenho d o r ; guai , compadeço-me ,
lastimo ; til! admiro-me. Al, Guai, VI são Interjei-
ções , ou palavras arremessadas entre as da linguagem
analisada, para exprimir as paixões. ^
2. Às vezes se cópleta o senfido da sentença co-
meçada a exprimir pela interjeição , com outras pala-
vras. Al j v. g. sinifica eu tenho dor ; se lhe ajuntamos
de ti ( ai de ti ) indicamos o objecto da dòr , ou a
causa ( a ) . cc Uni por mi , e pela minha vida ! »
('Ferr. Bristo , 2. sc. 3 . ) " Hai tanta diligencia tão per-
dida 1 » i. é , Eu lastimo tanta diligencia & c ( F e r r .
Eleg. 1 , ) ou doe-rne ,tanta diligencia 8cc. como u doe-
me ver estai coisas, )) Destas palavras contão se v a -
rias especies, que mostrão os affectos seguintes: ^
De admiração, ah , oh , ui.
De excitar attensão , 0', Siu , Cê , Ah hum , Ah.
De dor , Ai ! Guai 1 Ui, ou Hai !
De espanto , Am ; O' ; A'pr'e ! Hum , tu tens s i -
30 ? ( Ferr. Cioso ) Da

(d) Assim mesmo dizem os Latinos V* tlbl, ai de


t i : V* vobls, aj de vós : por onde se v ê , que as in-
terjeições pedem ou regem o seu complemento , ou as
p a l a v r a s , que completão a sua significação. ( V . Bar-
ros, Gram. f . 160. ) . " Ai de ti )) dirão que é " por
amor de ti : » mas quem rege a por amor ?^ou a queni
serve por amor de complemento , senão a ai, tenhp
dor ? Os Grammatico? Gregos confundem os advérbios
com as interjeições; mas éstas equivalem a uma sen-
tença perfeita com verbo ; os advérbios a uma frase m o -
dificativa do attributo verbal j de adjectivos -3 e nomef
attributos,
DA GRAMMATICA P O R T U G U E S E ? i |
I | P | § | D e desejo , Oxalá Oh , Itíálf
t f ; D e e x c i t a m e n t o , Cia , et/a rÀus , horêíat. A
1
D e silencio , Tá., 4*. '
D e aversão , irra !
De d e r i s l o , h$ ha ! ;
De pedir attensão aos o b j e c t o s , ou d e o s m o á *
t r a r : v. g. eis; de excitar Á lerta ( do Italiano últ
erto ) .
}. Assim é adverbio c o m p a r a t i v o , è não interjei-
ção. Assim te eu veja R e i , como me dás o quê
té peço : » équiyal a : " A s s i m d e s e j o , que eu te veja
R e ? , como d e s e j o , que me dés kc. » O muito dese-
j o d o b e m , que affirmamos áquelles , a quem r o g a m o s ,
excita a sua benevolencia para nos cumprir o outrd
desejo acerca do que se lhei-pede. Outras vezes se w%
c m frases a s s e r t i v a s :

Assim me veja eu casar i \


C o m o despida em camisa . *
Se ergueu por vos escutar ( C a m . F i W . ) í

t é , assim , ou tanto desejo ver-me c a s a r , como é


verdade % que dc,spida em camisa sé ergueu rp a r a v o s ei-
cutar ( j j ) . ° ••
4. Assim l dizemos elipticamente ; p o r , è possível
isso assim , como o dizeis ! aqui toesmo c adverbio
c o m p a r a t i v o , e não interjeição. ' '

,: u . :

C O Assim, ó T h a i s , os Deuzes bem me queirão.


Vue Ja te quero bem | •
. . ( Costa t Tcrcnc| Eunuch. J< 5. sc. at }
Assim , ou tanto é certo j qUe te quero bem , quanto
d e z e j o , que os Deuses ^me qUeirão bem. V e j a se o
dice da Lusuanp Transforma , nova edic. art. AssL
P e ç o ^ o s , Senhor , assi Deus p r o v e j a sempre com
prpspendad? vossas c o i s a s q u e m t queimes ajudar » 1 1
(Barn,, Clar>»,. i. ,, ) ^ ^
fc o d e z e j o , que v a i por e l l i p s , „ M outras w m e n ç *
I p p l p l l f I • ' ' ^ :'

w» n a n m &
LIVRO II.
' '2?« Cmposição- das partes da Sentença entre si , ou
Sj/ntaxe.

<••*>' C A P I T U L O I. ) # / - p z

Introducção.

, i, D A boa composição das partes da oração en-


tre si resulta a sentença , ou sentido perfeito , com que
nos fazemos entender, falando com palavras'.
2 . Todas as sentenças se reduzem va declarar o qué
julgamos das coisas : v. g. este pomo é doce; João é
virtuoso : ou aquillo que queremos , que as pessoas ou
coisas sej?ío , facão , ou sofrão : v. g, Filho sò estudioso ;
trabalha ; sòfre-te com os trabalhos; está-me a tento. )
j . Nestas são notáveis : I? O Sujeito , de quetn se ãf-
firma, o qual deve ser um nome só , ou modificado
por articulares , e attributives í v. g . " este homem
'<.,'' . vir- '

" Assim sejas de Filis sempre .amado como, ou ^«r


m e digas os versos ? que cantaste : )) assim desejo
( t a n t o ) , que sejas iempre amado , como dezejo que me
iigas &c.
(*) A tento é frase adverbial derivada do uso de con-
tar por tentos ; donde dizemos contou tudo tentim
por tentim : os editores Ignorantes o confundirão com
attento adjectivo: tal é a sinte ( de a scieate ) ; a tor'
to, adredeestar a direito ; á conta, á razão com *U
\ jguem: " pf&ri a tento y)) como quem calcúla ( Uli-
slpo, Com. A. j. se. 4 . ) de v a g a r : " Vai-me Amor ma-
l 1
, (ando um. a UaU. » Cm* i u ' t
/;F|. DA G R A M M A T I C A P O R T U G Ü E Z A . FF
vírtmo foi infeliz : » ou por nonvs com preposições:
v. g. " O templo de Deus é lugar santo :<)» de Veús
modifica a o templo , e determina aqueile dc que fala*
m ô s , que é o de Deus verdadeiro.
""4. 2.° O Attributo, que se declara por adjectivo»
ittribmívos • Ivi g. infeliz : outras vezes j>or nomes
Com preposições ; v. g. " Pedro c sujeito de verda-
de , de honra ; » por verdadeiro, honrado : ou " é ho-
mem sem honra. )>
5> J.° O Verbo r que affirma , e ajunta osattributoi
aos sujeitos ; ou exprime a v o n t a d e , e mando; v.
" T u és a m a n t e ; sè amante : » o qual verbo muitas
vezes é urna só p a l a v r a , v. g. amas ( p o r és sman-
* 0 ; orna tu ( por amante); faz uma sentençz
perfeita.
6.y 4 . ° As vezes o Verbo significa acção , que se
emprega no paciente : v. g. feri a Pedro , dei um li-
vro ; e termina em alguém : v. g. dei o livro a Pedro;
deu saúde mum enfermo : ensinei • Gramaticaaos me-
ninos. v
7. O v e r b o , ou a c ç ã o , que elle significa f tal-
v e z é modificada, e acópanhada de circunstancias dc
l u g a r , t e m p o , m o d o , instrumento , fim , &c. v . g .
" Dá esmolas aos pobres em segredo, com alegria
para consolação da sua afflição , sem vexame da* sua
v e r g o n h a , e p o r satisfação da tua verdadeira liberalida-
d e , sem mistura devãgtoria. »
t. Em segredo designa o lugar secreto , onde se
faz a acção dar esmolas ; cem alegria o modo , que acom-
panha a acção ; para consolação o fim d e l i a ; sem ve-
xame , outra circunstancia do d a r ; por satisfação, o
motivo de ciar j sem mistura, outra circunstancia *©.
g a t i v a , e'modo de dar esmolas, assim como sem v*>
**me & c .
9. 6.° São também de nótar as sentenças, que mo-
dificão uma palavra da sentença principal, explicando*»
m a i s : v. g. " a virtude , que sempre é respeitável
nem sempre é a m á d a : )> ou limitando, edeterminará
do-a a um , ou mais individuos; v . r . " a casa èaa.
f » • i C
(
H E P I T O M t
1 } : JM
Untem vimor, é minha : Os livras , qu» eu tinhm, per»
derão-se-me em uri^ naufrágio » Estas sentenças, em
que entrão os articulares relativos conjunctivos , qui,
ytàny qual, onde , quando , CTc. ( * ) cliamão-se incide/t-
ies, e são explicativas , ou determinativas do sentido
de uma palavra da sentença principal.
„:. i o . Geralmente falando em todas as sentenças tra-
tamos de coisas connexas com seus attributos, ou d«
coisas, que tem algua relação , ou dizem respeito a ou-
tras coisas. T o d o o artificio pois de compor sentenças
consiste em mostrar as connexões, ou correlações en-
tre os nomes de coisas, e seus attributos significados
poios adjectivos ; entre os nomes das coisas , e os adje-
ctivos articulares , que os modificão determinando'a
extensão, em que se to mão ; e entre os nomes sujei-
tos ^ e os attributos annexos aos verbos com a affir-
m a ç í o , ou querer. As regras , que ensinão a mostrar
ãs connexões entre os n o m e s , e os adjectivos , e os ver-
bos se dizem Sintaxe de Concordância.
11. Á s outras correlações entre os n o m e s , e no-
mes m o s t r ã o s e , i . ° variando a terminação do nome
correlato com o seu antecedente, e isto principalmen- „
te nas linguas , que tem casos: 2 . ° por meyo de pre-
posições , que indicão a correlação , que ha entre os
nomes dos objectos : pondo *o nome correlato jun-
to do o u t r o , que está em relação com e l l e , por meyo
de algum verbo modificante do nome antecedente ( * * ) .
12.

a y.-e-
1
estive no theatro quando tu lá esta-
vas : )> i. e , no tempo , quando , ou no qual, Quando
veis ? u c , dize me o tempo , quando vcis ? 0 como ,
1
o quando; é o modo, como ; o tempo , quando. " Ensi-
jiai-me o como : )) i. é , o modo, de como , & c . donde
se vé , que como seirípre pertence a uma proposição in-
cidente , que modifica uma palavra subentendida, 0 «
clara da proposição principal : alguns Clássicos escre-
verão qumo, de quo modo Latinos..
K•O .1- " '-vFed™
V .• ' oJfaU
VW. 1 '.ri,:.- » a correlação
I: entre/<w<*
' •'.'•." 1
DA GKAMMATICÁ PÒRTUGUEZA. U
" j t. E m Latim por exemplo Temptum significa tem-
p l o , Domi/tus S e n h o r ; quando se quer pôr em relação
de possessão , ou considerar o templo como coisa possuí-
da , e do Sénhor, o nome Dominas muda a terminação
em D o m i n i , e dizem Templum Domini. E m Portuguez
geralmente falando os nomes não se varião na termir
nação para 5» este fim , mas dizemos: t c T e m p l o
Senhor: » onde a preposição de indica, que o Senhor
é o possuidor do templo ( * * * ) .
1 ) . Semelhàntemente o nome Dens em Latim cor-
responde a Deus Portuguez ; os Latinos dizião Amo
Deum ( amo « Deus ) mudando o us de Deus em úwf
nós representamos. Deus como paciente, por mejrp da
preposição a. Quando dizemos: a mulher ama o manii.
do : a mulher antes do verbo é o sujeito da proposi-
ção ; e se dicessemos : o marido «ma a mulher : ò mari-
do antes do verbo seria sujeito , e a mulher o objecto
da acção do verbo -ama, ou paciente , indo este depois
do verbo. O lugar indica a relação de Sujeito, ou de
paciente da mesma palavra , e não o artigo , que se nã<r
m u d a , variando as relações tanto.
1 4 . A palavra, que muda de caso , ou é acõpa-
nhada de preposição , e é segundo termo de Uma rela»
Ç ã o , se diz regida pela palavra antecedente correlata ,

como objecto amado ,, ou paciente a respeito de Pedrê>


agente resulta de aimte attributo unido ao verbo ê r
pois ama r a l é amante : em , home hábil para as lei-
bras ; )) a correlação entre homem e lettras mostra-a $
preposição para, que indica o fim, e que cópleta o-
sentido T a ç o de homem hábil % o qual o pôde ser parâ
muitas coisas: " homem de lettras )) de indica a pos-,
sessão da Litteratura competente ao homem, que s
posstíe.
0 * * ) E m I.nglez usa-se de preposição o J \ 01» de ajur^;
tar um s ao n o m e : v. g. house of Peter y ou Peters
'house; casa de Pedro , ou de Pedro casa, imitando,Q
genitivo Latino*
V
Çí.tfi r , " I T O M t • : M
o u p e j a preposição, ou pelo verbo : e as regrai , q u *
ensinão amostrar as relações entre os n o m e s , por ineyo
das preposições, e casos, ou da colocação , são z Sin-
taxe de Rege/teia, ''7 ^;

§. í.

Da Sintaxe de Concordância,

I. V T (5s mostramos , qual é o adjectivo % que


1 > I modifica um nome , usando do adjectivo náj
Variação respondente ao genero, enumero do nome :
v. g. bom homem , mui hen honesta , varões doutos , mu*
lheres devotas. Isto é concordar o adjectivo com é seu
substantivo.
a. Se os adjectivos tem ,uma só terminação pari
os dois generos, e n u n e r o s , por-se hão junto do» no-
mes , a quem pertencem : v. g, nobre marido da Senho-
ra : o marido da nobre Senhora : a casa , ou casas , prés* s
tes de tudo.
A relaçao , que ha entre o nome sujeito da pro-
posição , e o verbo d'ella , mostra se , usando do Ver-
bo
na variação pessoal, e no numero correspondentes
4 pessoa do sujeito , e ao numero d'elle : v. g. Eu amo ,
Tu amas , Peiro ou elle am tf ; Nós àmamos , Vóâ
amais, Elles amío. Não ha sentença sem nome sujei-
to , è sem verbo expressos, ou occultOs , diversos ,
"ou cognatos : v. g. ct e justo e devido , o dever se guar-
dar tal modo : )) c í Foi tido por honra, e riqueza ter
muitos amigos. » ( Hist, dos Varões illastres de Tavo-
ra, f . IOJ. Heit. Pin» , Ver d. A mix., e. 4 . ) u i)or-
fttffflj se sonos traiKjuillos : etpwitos , qu; espantem. »
£Ferreira , T . 2. f , 109. ) " Festa semcoinet não se
festeja. )) ( Crun , Po es, ) te A quem o saber mesmo tãç
mal sabe. )) (Ferreira , f . i\z. ) ;
4. Estas são as concordâncias regulares, e naturáeí
dos nomes c o s a d j e c t i v o s , e c'os v e r b o s ; outras con-
êordancias ha de nomas no singular com Adjectivos no
plural j e com verbos no plural j e dos adjectivos e m
di-
PA ORAMMATICA PORTUGUEZA. tj
diversos generos; dos verbos em diversas pessoas das
expressas nas sentenças , as quaes concordâncias dão á
côposição apparencias, ou figuras irregulares ; mas não
o são , sendo usadas dos bons autores , e fundadas na
theorica geral das L i n g u a s ; cliamao se poiií as taes con-
cordâncias Figuradas, de que direi no Capit. seguçjdo
(a) y e ahi mesmo das regências, figuradas.

(a) Os bons autores dizem variamente: " , e u soi|


O que faliei, ou o que foliou: » o primeiro é mais
clássico > e conforme á rasão; porque que refere s e , o u
.substitue se a eu , e vale tanto como , e eu faliei: ^ eüf.
sou uma dona, que venho aqui : )> " eu Fui aquelle 4
que menos senti: » " eu sou a que ando nas mexiri-
cadas. » ( Barros , Clarim. L. 2. c. 2. e 19, Sá Miram
da, Egl, V. Lusíada.. 5. $0. ) " Quem es dique me
falias ? )> é analogo. " Esse tu , que \í estás,
e Moça , L 2. c. 22. e Camões , Anfitriões ) Com tu-
d o , nos mesmos clássicos se acha : u eu sóu a que lhe
inayor bem quer : )) e " perdeis a mim vosso irmão ,
; que v o s tanto bem quer : )) parece que em ambos dér
v e ser quero. ( Clarim , L 2. e. 21 , e 26. ) Na Vlis-
sea, j . 8a. Lava, e estou faze parecer diversos sujei*
tos das incidentes., sendo um só. . >
Quando as proposições incidentes determinão um^
classe de indivíduos , o verbo d ellas deve ir ao plural :
v. g. " João é um dos homens , que, se portarão melhor
'naquella acção. )) Por tanto à incorrecto dizer: " Est$
Cidade foi uma das que mais se corrompeu da heresia: )*
devia s e r ; das que mais se corromperão. Outra coísaj.
seria, se a classe fosse já determinada, por qualquer
attributivo , e a incidente explicasse só o sujeito da,
principal : v. g. " Eu sou um d'aqueUes 'mfclices , «j
o que *mais'sofri nessa desgraça. » V . Leão , Cron, T,
j , f , 23 c . " f o i um dos R e i s ruai* liberaes , ,
d'os que mais V i l l a s , e Castellos derão, e que a ids ,
d'elRei seu irmão a Castella tomou por grand» a fro a - '
(a : )) é um exemplo correcto, o primeka ^«c' det^-j
tt X PI T O M R R

D« Sintaxe da Regência,
;
\
A 8 relações dos nomes mostrão se pelos ca-
/ V SOS em iVíe , T * , Se , L/je, flfo , , Lhes
*em preposições; pelos casos Mim * Ti, .Migo,
Tigvj, S i g o , iV<>j, F Ó J , Wo/co , VOÍCO , acõpanhadqs
de preposições O . » A s relações dos nomes, que não
tem casos , indição se pelo l u g a r , que tem na sen-
ten-

«»ina a classe geral dos Reis, o segundo dá mais attri-


bute! a um dos Reis. /
Ha homens, ha frutas não ião concordâncias ir-
regulares : nestas sentenças, e semelhantes falta um su-
jeito do singular; e os nomes do plural são a coisa pos-
füida pelo verbo
activo Haver : " acabadas as inimi-
zades , que havia entre Deus, e os homens: » j. é t
inimiaadei, que o peccadà havia posto , feito, ciiu-
iado , entre Deus, e ot homens , &c. ( V . oCapii.'j.
I . num. j2. not* (g)
Povo, Gente , Parte e outros nomes , que signi-
ficíb miJitos indivíduos , levão o adjectivo, e o verbo
« o plural
*ne : v. g. " » Gente
vão movendo. cega nem
( Ferreira, Carta os
8. estimo
L. i . ) ,Quan-
nem
do falamos a i ^ n por cortezia como a muitos : v. g.
vis çstaís múi ancho , e contente : o verbo vai ao plu-
ral ; os adjectivos ficão no singular. O mesmo é se al-
JUem fala de si , com verbo no plural : v. g. çt mifi
largo temos sido : )) " quando d'isso formos sabedor, »
Sendo o sujeito e attributo nomes , o verbo concorda
com o sujeito : v. g. 0 dote , 6 Pamphilo , étseis mil es-
tudos. » c< As armas do Imperador é uma agiiia, » (Lo-
to , Corte na Aid.) Ma* disto direi mais na 'Sintajce
figurada. *
O " Por salvar mi offereeeo si I » (Inéditos, T,
a
P S' J T o « ) é uma an ti guaíha desusada : o mesmV
|Í0 migo ? ttgê j sigo um fftm.
s • ,
.' yK .
/;F|. DA GRAMMATICA PORTUGÜEZA. fF
tença; ou por preposições, que significão a relação,
em que o nome regido , ou o segundo termo de uma
relação está com o seu antecedente só , ou acompanha-
r
do de adjectivo , ou verbo.
2. Vejamos as principles relações, em que qual-
quer coisa se nos pôde representar, e com que artificio
se declarão. ' ^ . V ^
3- O sujeito da sentença, quando é a primeira'
pessoa falando de s i , diz se Eu : (**) se é a segunda
pessoa, a quem falámos, affirmand^-lhe d elia algtfá
coisa , ou mandando-a, fazer, dizemos Tu : v. g. Ta
Us, e Vai tu. Se alguém se manda , oii exhorta a si
mesmo, trata se como a qualquer segunda pessoa:
v. g. " Morre, Afonso de Albuquerque! , ( dizia elle
a si mesmo ) que cumpre á tua honra morreres ( Cou-
to ) . ))
4« a? Se o sujeito é nome sem caso , e o verb®
tem paciente sena preposição, antepói Sfe o sujeito ao
verbo : v. g. íf A águia matou a serpente : » o pa-
& cien-
- . ...
...
( • * ) O sujeito do infinitivo em Português também
ê o nome Eu nesta figura : v. g. 44 Todos sabem *
ser eu dos teus mayores amigos, » " Fazenwe te-
rrier i: )) é , faiem temer a si, cairão temor a s i : por-
que o nome abstracto , e os infinitivos são idênticos:
" Ver-me-has do Reino ser privada » é " verás a
rnim o ser privada do Refino : » sendo • ser privada
paciente de verás , eme o termò , como quando se diz :
" vi-lhe uma espada; viu-me a cabeça ferida; Wc. »
" Se faz temer ao Reino de Granada » é " faz temer
se ao Pveino : » sendo temer paciente de faz , se pacien-
te de temer ; ao Reino termo desfaz temer , como fes
temor a todos : ou temer se, ser temido , paciente ; a«
Reino , termo á maneira dos Latinos, que dão um da-
tivo aò verbos passivos, a que arremeda a o Reino,
" Isto lhe f cl de ter-se ali. )) ( Clarim. T 2. f . »24.)
ے
o tempo, e a idade te fazem desconhecer-me : » cau>-
sío * ti o desconheceres-me. ( Ferreira , Br isto , J. 2. )
\ J T TF". R- '• 7
9® B P I T O M » f
ciente vai depois do verbo. Mas quando o sujeito i
Lde numero d i v e r s o , v. g. do singular, e o paciente
cjo plural , pôde se alterar a ordem : v. g . l i Ambo»
h&a alma anima , ambos sustenta. )) " O (sc. homem)
que é temido de m u i t o s , miíitos tanc.» Nestes exem-
plos ambos e muitos são pacientes , porque os verbos
cnima, sustenta , e teme devem ter sujeitos do sin-
gular.
j. T a m b é m se põi o paciente antes do sujeito, e
do verbo , quando o attributo , ou acção do verbo evi- -
dentemente, compete ao objecto significado por um
dos n o m e s : v. g. " Depois que o leve barco ao duro
remo . Atou o pescador pobre P a tenro : » onde bar»
CO é evidentemente paciente da acção atar propria de :
P alemo pescador, e sujeito da sentença. rí
6. j ? Mas logo que o verbo pôde concordar <só o
s u j e i t o , ou có o paciente, e o seu attributo cópetir \
a um , ou a outro , devamos tirar a amfibologia , ou
dtívida, ajuntando ao paciente a preposição a : v* g ,
" Combate ao fraco esprito a dor antiga: »

E não serrf gran destroço,


e orno quer a atita
Que a a moça queira o moço. (Camões, Filed.')

N o segundo verso observa se a ordem directa do su-


jeito antes do verbo quer com o paciente ama depois:
no terceiro, verso como se i n v e r t e , precede a prepo-
sição ao nome >»oça paciente, que vai anl|es de quei-
ra. Geralmente , todas as vezes que o paciente se
alonga do verbo , è mais u s u a l , e claro ajuntar se -
lhe a preposição a: v. g. " Em quanto eu estes can-
io , e a vós não posso : » onde se subentende cantar
alôngado de vós ; e*M<ejestá sem preposição c'o mesmo
verbo p r o x i m o : " T o d o homem ama os partos de leu
entendimento , e ás vezes mais que aos mesmos filhos -
( Souza ) . »
7\; 4? Quendo o paciente c a primeira pessoa Eu,
ou a segunda Tu , usamos dos casos me> ter, v. g. roa-
DA G R A M M A T I C A PORTUGTTEZAÍ *T
iott-me, matou-tc (a) : " Vós matais-vds ,e maiais-me : )t
e se é uma terceira pessoa referida por elle , ou pelo
artigo dizermos : matou-o, matou-a , ou matou a elle $
a ella : e pondo se a terceira pessoa em relação com si-
go mesma , isto é , sendo ella o agente , e paciente ,
diremos elle matou se , feriu se C**) •
8. Táoberri dizemos a mim, a ti, a si', a elle ,
pacientes, quando, a sentença começa pelo paciente *
ou ltd dois pacientes : v. g. a mim buscavas ? a ti bus-
cava matas a mim , e a ti : " escureciao o ouro , a mim
matavão (Camões) . » " Deus . , . a elle só toma por teu
casamenteiro. » ( F e r r e i r a , Bristo , / . 5 7 . ) Muitas vezes
por mais energia se ajuntáo os casos me e a mim , te
e a ti, se e a si; o artigo o , e o pronome elle precedido
est? da preposição ; v. g.quam me a mim diria tal ? »
• ^ melhor siso me deu -a mim Deus. )) ( Eufros. }. 1 .
V . Ferreira , Cioso, At. t. toda a scena 4 . ) " quem te
vira então a ti tão vanglorioso ? Que se inata a si mais
facilmente matará os outros: quem o capacitará a elle 9
e o desenganará do. seu ,erro ? )) ( Ferr. Bristo , 2? f .
e8 .'e j? 6. 4, 0 5. Lobo , Peregr. /. 1 7 . * a o . )
9. No plural os sujeitos são nós, vósj os pacientes

(<F) Limita sé quando aos nomes eu , e t w s e a j u n t ã o


os adjectivos wit , e. outro ^ covnó já apontei no Çapit* |
7. nas notas ao numero . 1 4 , e 1 6 (d) e ( * ) -r|f|
( * • *) Muitos autores usão de se , si, sigo imprópria^
m e n t e : v. g. " Saiu o Grão Duque a esperá-lo, e tres
Cardeáes com sigo,: O )) devia ser com j elle; 1 i. é ,' e tres r j
Cardeáes sairão co elle: " o grão Duque levou com sigo
tres Cardeáes » é correcto. V . do Arceb. L. 2^ c. 2 0 . )
" eu ando mal com elle f> elle anda mal com „ de-
savindo tom sigo, aborrido de si mesmo. " elRei sajü
com a g e n t e , que ficou com sigo » é e r r o ; dev« ser
que ficou com Elle, oti que Elle deixou cçtn sigo , Vt.
" a virtude por srmesma è respeitável )) e nap por ella
mesma. i Í5erá próprio " Tu amas o saberpôr si sãmen-
te ? » ( Ferreira '. V. do Araeb. L. 2. c. 25. )
9% E P I T O ME
nos., vos, os;-tUes com preposição; e se. Então se o»
pacientes se antepõem , ou se ha d o i s , usamos de/«fr ,
tvòs e si com preposição : vt g. " a H/ÍJ buscavas?
VÓÍ òffendia de palavra : vós para verdes outrem, e
pu para ver a vós. )) Neste caso também se ajuntão
nos, vos, se , com « «ój , a vis , e <w n elles 1 v. g.
" que III/ ame <» , que t w respeite o VÁJ obrigação
é sua : quem a «//« atormenta ; quem es o eitos v è
tão v ã s , e suberbas, & c . quem se o si tanto exaltão ;
mal os podia livrar a elles , quem a si se não livrava. »
( Paiva , Ssrm.")
10. Quando o verbo teni um termo da sua ac-
ção , e é a primeira pessoa, ou segunda, usamos de
me, te ; e sendo terceira pessoa usamos de lhe (&) , t
se, ou a die : v. g, deu me, deu-ie o livro ; deu se,
deu lhe mil tratos : " a quem o déste ? a tile meswo. ))
Usamos também para indicar o termo dos casos a mim ,
c ti, a elle , a nós , a vós , a elles , A .«/, quando a sen-
tença começa pelo termo , ou ha dois : v. g. a ti pe-
ço , ó bom Deus ! a mim o dizião elles: a elle dirás :
" A terra , que vès i darei a ti , e a tua geração ( Ca~
thec. Romano): » a quem o darei? a ti, ou a elle ?
dês-

O c a s o lhe, elhes c t e r m o , e não paciente:


g. cc tomou-lhe a mííc com hktorias velhas ; tomou-o a
noite a l i : » i. é , sobreveyo lhe naquelle lugar. " T o -
mou-Me a noite ali : » no mesmo sentido de tomou-o a
noite ; c incorrecto; e assim o são *. " a D u q u e z a , que
em estremo lhe amava : )) por , o amava ( Palmeir. P.
i , c. 7 4 . ) : Cí tomou-lhe tanta dor : tomou-lhe medo : )l
p o r , tomou o tanta d o r ; e tomou-o o medo: " tomar-
lhe medo: » é.concebè-lo de alguém. ( V . Men. e Mo-
ça , L. 2. u o tomou ali a noite )) e. 9. et. J Í . " to-
mou-lhe tanta dor; )) m a l , pois dizemos: tòmou-o um
eccidente ; tomou-o a nova dor sobre a affiicção ainda re-
eenie , í^c. Eu lhe «mo , lhe edoro: são erros das Cò-
lonias : (juero-lhe como « minha vidai se. quero-Uic iem ^
como Wç. í correcto.
DA GRAMMATICA PORTUGUEZA, 9$
áéste-0 a mim, ou a João ? Então também se rèpetem os
Casos me è a mim , te e a ti , se c a si : lhe a elle , nos ±
e a nós , e rt vós, se e a si, lhes e a elles : u. g. Se '
elle me quizera a mi n , como eu lhe querO; se te falá-
ra a ti ' a verdade, como te eu f a l e i ; se se tirara a si
a residencia , como owtros lha tirão ; &c. " Quern nos
faria então a nós crivei ò que hoje vemos , e apalpa-
mos ? » " Quem vos podia a vás dar a imniortalidade ,
senão o Ser Supremo , e o Altíssimo , que vos creou ? »
" « elles parecem, lhes nadas as misérias dos proximos: »
*£ os que tanto se arrogao a si , e nada concedem aos
benemeritos, esses vos d i g o , que são o mesmo espi-
rito da suberba. ))
11. 6? 0' tu , ó vós, ó montes , dizemús chamando ,
invocando , exhortando , apostrofando , &c. com ó ,
talvez sem elle , v. g. " Meu Deus valei-me : » o ver-
bo no imperativo , ou subjunetivo : v. g. " Ouça Se-.
nhor, o que digo : )) tirão a duvida , e a declarão a
relação de objecto invocado , chamado©*c. a qj-iem fal-
íamos. '
1 2 . 7? Todas as mais relações , em que se podem
considerar a primeira, e a segunda pessoa no singular,
se declarão por preposições , e pelos casos Mim , Ti,
S i ; e no plural pelos casos Nós Vós, Si (c) .
13|'

( c ) Os nossos bons escritores muitas vezes ommit-


tem as preposições , que havião de preceder aos nomes,
e indicão depois as relações d'estes , usando dos casos
dos pronomes referidos aos nomes , ou do articular re-
lativo coin preposições, ou junto ao verbo : v. g. " O
menino , que quem o afaga , ó choro lhe accrescenta

Bromia , quem com vida ter ( por a quem )


J á da vida desespera, Í •
Que lhe poderás dizer ? ( Camões )

" Regida pela lei das mulheres, que lhes parece inére*
cer mais o tempo, que a vontade : )) p o r , a quem pa-
*4 E P I T O M Ê
i }> :( A* relações diversas das apontadas, em que re*?
presentamos os nomes sem casos , ipdicão se pelas pre-
posições , qufe passo aexpôr brevemente.
A indica o paciente^ e ó termo da acção ; o lurar
para onde algüa coisa se move; a que outra está proxi•»
ma ; v. g. mora a o arco da Graça : o modo porque al-
güa coisa se'far.-, v. g. «pressa; ir a cavallo ; sup irar
a medo ; estar atento; á conta-, a direito com alguém'
faner a sinte l o tempo , em que aconteccu; v. d noi-
te ,
«os três dias ; © por semelhança , a o passar o rio r
a o assinar a carta : o preço , v, g. vende >se a vinte : o
lugar occupado ; v. g. estar á janella : o instrumento $
morto a lerro : o fim ; sai a ver : a causa ; morto á fo*
me : a proximidade do termo ; v. g. está a partir : o acto
inesmo ; v. g. «o sair da porta.
- - , T4.
rece. ( Clarimi. 2. c. 6. pàg. 57. ) u Qatm tão confia-
do he em seus guardadores , escusado lhe seria eu. )>
(Barr. Clarim. 3 . 1 9 . ) "Que, porque do salgado mar
nasceu; Das aguas o poder lhe obedecia. » (Lusiada )
6
Vereis este, que agora presuroso por tantos medos
o Indo vai buscando, tremer d'clle Neptuno. » ( Lu-
siada ) í e Em Diu não estavão as armas ociosas , por-
que Rumecão valeroso, e constante , não o assombra-
vão os damnos recebidos. » ( F r e i r e ) " Aquclle, ena
quem ponho a vista , por esse dou a sentença. )) (Ca-
Piões , Anftr. e V. Lusíada , a. 40. ) " De Subdiáeono
não seja ordenado quem lhe faltar esta qualiiade. »
C Sour,a , V. do Areei,) " Uma vida de quem lhe não,
lembra nada da outra. )) ( V . Paiva, Serm. 1 . / . 7 4 . )
Até qui bem ; mas é incorreto dizer : Qite eu em san-
gue , e nobreza , o claro Ceo me estremou (Camões , Fir
lod. ) : devia ser: Qiie a mim , em sangue , * nobreza,
0 Ceo me estremou : alias eu será sujeito sem verbo.
" Da cavalgada ao Mouro já lhe peza : )) o lhe escusa-
do
serve d'encher o verso. ( Lusiada , i* 90. ) " Gom
OS quaes lhe pareceu a D. João Mascarenhas, que pO-
dia intentar coisas may ores ( Freire J: » o lha c su-
pérfluo.

I
DA GRAMMATICA ÍORTUGUKZA. 9T
1 4 . Ante indica o objecto , era cuja presença se acha
outro; v. g. u ante nós appareceu: )) que também di-
zemos Perante nós : " não mereço tanto ante Deus; »
para com Elle : " em quã baixo predicamento está
Deus ante nos! )> Também indica antecedência • v. g.
" ante maduros annòs amostrando pensamento viril : »
u
Li li a ante Celia pondo ? » ( Ferreira ) v.
1 5 . Após designa o objecto , (fim outro sc^fc: v. g.
Orfeu levou as pedras após si , após seu canto (<t) ;
após a fama falsa e mentirosa.
16. Até indica o termo de um espaço , ou distancia ;
u. g. de casa até a praça; até cima das cilhas ; desd'
o R e i até o mendigo todos somos snortáes : de manha
até a noite, (e)
' 17.

(</)-" Após de mim v i r á quem melhor me fará : )»


" Vem logo após de mi, por aqui dentro. )) (Costa ,
Terenc. 2. p*g. 2 S 1 . ) Nestes exemplos «pós usa se co-
mo adverbio , como depois, atrás ; em todos £ visivel
a,combinação das preposições a e de com pós , que os
antigos dicérao espós, empós ( como os Latinos inan-
te , insuper , desuper ) e talvez pós : v g. " claro após
chuva o S o l , pós noite o dia. » ( Ferreira , Ode 2 L.
2 . ) V . a His tor. dos Varões llluitr. do apellido de Ta-
vora j f , 156. « 1 5 7 . e o D iccionar, art. Pós , e Após,
Sousa, Hist. P. 2. L. a. c. íSJ. 94. Inedit. 1 .
f . 5 j i... Diante mim, diante si vem no* clássicos; 3
diante Reis , diante Imperadores ; outras vezes diante de
Deus c dos homens. ( V . Sagramor, 1 . 17. Palmeir. 1 .
r. j j . Bernard. Flores do Lima)
(e) Até ás vezes parece adverbio , também : " F^oi
tão grande v o contentamento , que até a Pradelio , que
tão lastimado í a , coube parte d'este gosto, » ( Lui.
Transf, f . 140. ) " E do que até nos agros se sente
falta. » (Lobo y Corte, D. \.f 6\. ) " E até a su* pre-
sença lhe valeu pouco. )) (Id. Primav.") Nos Livros
antigos vem atá por ate (Orden, Afons-,t Aturara t
Cron. do Condest.) - % ' „.
• 96 WFJM E PI T O MB
17» ( q u e faz variar Ea em migo, 7 V e m í?
go , iVíJj em nosco , em vasco, S i em Sigo ) indi-
ca a (coisa, com que outra se ac6panha : v. foi com
João; está c»in Pedro ; mudou se com a idade; entesta
com Lusitania ; misturar cal cSareya; o bem cã o malj
e causa , que actipanha o efeiU; " fez isso com medo
delJe : )) o instrumento , arte, me//<>; " feriu-me cont
a espada , com a lingua ; com os dentes ; caçar cô boiz:
í modo ; V. g. tratou-me com brandura : o preço ; pagou
oiro, e fig. .cow ioaj palavras: a circunstancia do
tempo ; v. g\ acabou CO??i CÍÍ/« ; a pessoa, ou
eoisa , A respeito de quem te exerce algúa qualidade ; v. g,
caridoso com «s pobres ; suberbo com os suberbos ; « por
analogia trata? se , vizitar s e , corresponder se com al-
guém ; concorrer com alguém, consentir com , contrair
com , e muitos adj. e verbos compostos de com pedeóT
ésta preposiçSo.
1 t . Contra indica o objecto , a que outro está oppos-
to ; v. g. voltado coiitra o Oriente ; e moralmente « ob^
jecto de opposição , inimizade ; v. g. " estáe fala contra
mim. )> ,
19. De denota o lugar d'onde s-aímos; v. g. sai da
casa; e fig. desviar se de min ; amansar da faria , por
indicar apartamento , separação : v. g. arrancar da ter-
ra , puro </<r espinhos; limpo rfe ; dobrar alguém
ia resolução ; esquecer se dV co/ja ; ganharão í/o
tirano ; deposto da dignidade , da graça : desconformida-
de , opposição, aversão ; v. g\ desgostar se de algúa coi-
sa ; diverso de todos: acoisa, deque outra é parte; v .
g. um quarto </* caía , rtW : é contida
em outra ; bolsa de dinhtiro : rt que é pertença e possui-
da; v. g. Senhor </a caja ; e vice versa, <1 cpijíi çmí
possuí ; V. g . ffljfl do Senhor, a porta da Cidade: os,
fccidentes a respeito do que os tem ; homem de còr : «
jeru/Yo e préstimo; v g. moço de recados : <j ; mo-
v i d o ' , lembrado </<7 ; cego da ira , tocado de medo ;
cubiçoso, desejoso de fama ; arder de amoresr, desponta
de agudo: o agente , ou origem ; v . g. " é se este dos
Denies i v e ^ m e 70/771 nunca te foi feita injuria: »

ouft-
., ... ' • ;• " f^ÊÊp
DA GRAMMATICA PORTUGUEZA. 9*;.jàí'M
iiunca a recebeste , ouviste : a materia de que algua cai-
ta se fax, ; vaso de oiro , cobre , berro ; e fig. homem
de nada : o modo de Jazer a coisa ; v. g. de pressa , de
vagar : o instrumento ; v. g. dar de lançadas , dar d'es-
poras; figur. usar dejiervas , ensalmos 5 valer se das ha-
bilidades : d'a parte para o tedo como pertença ; v. me-
tade do dia , de minha alma; nua dos pés, rapado </<1
cabefa : gwen? <í especie; v. g. o sentido í/o tacto;
a virtude da castidade : o sujeito do attributo ; v. g. o po-
bre de mim ; tnesejuinho de mim : o accidente ; v, g\ cha-
ma se d'este nome ; chamando os defracos , e covardes í
Accusar é ellipse , e falta reo, que do crime
m o d i f i c a , e'copleta : assim é : u forão d'elles a cavai-
lo , e d'elles a pé ; » onde falta parte. Nós dizemod
com equivoco o amor da patria , a caridade de Christo ,
significando o amor , que a patria tem , ou o que te-
mos á patria; a caridade ou amor de Christo a nó« , ou
que temos a Christo , ou em Christo. Por tanto falan-
do do a m o r , que temos í patria diremos : o amor ã
Patria , ao Rei; a veneração aos Santos ; a caridade de
Ç/nisto com nosco; a charidade , (jur cm Christo temor
com alguem , ou a alguém ; para alguém, ( j f ) como
" Tive indinação aos maos, vewdo a pai do peccador. *
( Cathec. Rom. J . 1 0 6 . ) *
20. Desde indica o termo, d'onde se mede conta t
G al-

( / ) Quando pois queremos, indicar o objecto do


amor , e semelhantes qualidades energicas , é menos
equivoco usar' de a , ou para ; v. g. o seu amor ás let-
tras, e para o proximo. Diremos bem geralmente fa-
lando : " o amortdo proximo ê dever essencial; » por-
que c um dever m u t u o , deque devemos ser sujeitos,
e objéctos. " Para que juntos dispozessem a resistencia
do comrnum inimigo : )) seria melhor ao comum inimipo
( Freire ) . " Não s e i , se do amor á patria , ou da be-
ne vòlenci a ao Governador nascerião estes estremo*: » ó
mais claro que do amor da patria ; t da benevolência d0.
Governador, de que este ^erá objecto. J,»/'
io6 EPITOME
algãa extensão, espaço , série: v. g. desde o paço Até
a quinta : desde o San João ate o Natal. Des acha se só :
v. Íles i (g) , des oy , des honiem , des que ; e Duar-
te Nunes de Leão (Ortogr. / . 324. a/í. erf.) expressa-
mente aponta entre os erros do vulgo o dizer desde que
por des que ; etal c desno : V . os artigos Des, e DÍÍ-
de , e 05/, e Des i ( Diccionario , Seg. edição. )
ai. Em indica o lugar, para onde nos movâhtos ,
passamos : v. g. saiu em terra ; e fig. inspira cm mim
táes sentimentos ; de pastores em pastores passou a his-
toria. 0 estado , « que a coisa se passou , mudou : v. g.
transformado em Santo 0 peccador ; brotar em blasfê-
mias ; desarmar em vão ; rebentar cm lagrimas. , . 0
tempo como termo : v. g. de dia em dia. 0 fim : v. g.
deu-lhe , tomou-o em pagamento ; o que fez em vingan-
ça; em honra de D e u s ; em observando da L e i ; & c . O
lugar, onde algãa coisa está; o objecto , em que alguém
entende , e se occupa : v. g. está em casa , medita na
morte, entende no trabalho ; e fig. a época : v. g. no anno
de 5 0 0 ; em moços lá forão ; na vida ; na morte. 0 va-
lor , conta , preço : v. g. avaliado em dés crusados ; fig,
tem se em conta de sábio , em muito (/J) .cair 'no la{o ,
*na boU , 'no engano , 'no bretc , 'na conta , em si.
22.

( g ) Dès i acha se n a s reimpressões dos Livros Clás-


sicos escrito assim de si com sentido absurdo,; dès 1
quer dizer depois d'isso , desse l u g a r , passo, época.
Vejão se as obras de Barros , o Lélio de Resende , 9
outros.
Çi) Em não se muda e m n ; mas cala se antes do
artigo, e. a este ajunta se n por eufonia; òs antigos
dicérão " cm no tempo : em no eu vendo : Em nhãs
assenhas:)) ( Foral de Tomar de 1 1 6 2 . traduz, ) por que
escrevião ho , ha artigo : " Dá poder aos Judeos so-
bre os Christãos cm nas suas ovenças pruvicas: em nas
possissões : em no termo : reduzer em na servidom. (0r~
Jen. Afonsina , L . 2. T . 1 . « 5. > " T e m por injuria fa-
n
zerem-tw, )) (H. Pinte, pag* 41 ) " '
DA GRAMMATICA PORTUGUESA. 99
22. Entre designa dois ou mais objectos no meyo dos
quaes está outro ; v. g. estava entre as arvores ; e figu-
radamente no meyo : entre os qnnos de 600 e 700 ;
ire roixo e azul; entre lasco efusco ; entre bêbado e ale-
gre ; entre ti, e mim ( i ) : as artes e siencias tem gran-
de connexão entre si, umas com as outras: amizade
entre os imigos.
23. Para declara o lugar , para onde se move ,
, olha, attende, considera; <7««? JC tem como termo de
relação , cr comparação : v. g. fui para França; olhei
-pr/T mi;rt : " p ^ pequenos uns N e r o s , pura
des tudo feros : )) de a para 4 ha a mesma razão , que
de 3 p*rr« 6 : bom para elles • zelo para as cousas da
Religião ; amor pdra o proximo. O fim : v,g. buscar le-
nha para ofogo ; propenso para as lettras ; procurar pa-
ra si. O termo approxiaiado : gastou duas para 3 horas :
a proximidade da acção ; v. g. estou para partir; está
para morrer. ( Pera dicerão os antigos. )
^24. Por indica o espaço , lugar , extensão , onde al-
güa coisa se move, dilata : u. g. p<mar pe/o caminho %
pola cidade, por terra, polo mar ; fig. palas chamas|
polas Ia aças ; por , c dessabores : privilegio » í r
fl/j/w. I/írffVrt o espaço de tempo : succedéu ifto
/w a/i/w de 600, até 602. 0 motivo , o agente, « ^
•ia: v. g-, feito por mim, ferido por mim; esmolar por
<wwr de Deus - quebrar por desavenças, e desconfianças ~
conhecido por Aomon insolente; illustre, nobre por ar-
mas , e lettras 5 por O fiz. 0 p r ^ a , estimação
G
li opi-

Iograr ? » por , queen a hade lograr ? ( Cruz, Poesias


/ . 1 1 5 . ) " Tanto é mór a dor Quanto é mór quem
na deu. )) ( Men. e Moça , Egl. 3, ) Em todos os exe-
plos precede o n ao artigo , que devia seguir se a em •
outras vezes dizemos ; v. g. de o fazerem , para evitar
o Inato de fazerem-o $ « sofrião muito mal terem no por
Regedor. » ( Leão , Cron. T. j.f 2 1 8 . ediç. de 1 7 7 4 N
0) Pinto Pereira, L. 2. f . j 3. dis mal : « p a r a ^
el R e i
de Portugal , e « < : » devia ser e mim.
ICJO E P I T O MÊ
.úpinião , a celsa substituída : v, g. tido por néscio; po»
h todo tãbem se toma a parte ; porei por escudo o so-
frimento ; vender gato por lebre ; levando a virtude por
farol; a ira por antolhos ; o cego Arpor por guia. O mo-
do de conseguir: v. g. por geito ; julgar poios frutos ;
não has-de emendar o mundo por mais razões, qu»
despendas ; fa2er as coisas por si , ou por procurador. A
pessoa por quem pedimos , rogamos ; fazemos : v. g. faz
por nis esta rezao; e fig. a praça está por elRei ( cr
sua , tem a sua voz ) ; levantárão se por ElRei. 0 Ins-
trumento : v. g. observar pelo telescopic ; e fig. o mej/o :
v. g. averiguou por cálculos exactíssimos ; mandou di-
zer pob Bramene; mandou-o lazer por um Ourives. As
pessoas ou coisas entre quem se parte, divide: v. g< re-
partiu por todos ; um por um. Ir por algãa coisa , ir
buscá-la, como motivo da ida (V.Leão, Ortogr.f, 2 8 8 . ) .
Por transforma se em Per muitas vezes : os Clássicos
distinguirão por de per, e dizião fui por amor de t i ,
dar por Deus; e foi pela praça, corria pelo rosto; por
indicando a cansa , motivo, CSV. per o espaço verdadei-
ro , ou similitudinario : mas- já nos seus escritos véi
uma por outra preposição : v. g, polo mar , poios ares ,
e pelo amor de Deus , & c .
2 5 . Sem indica a coisa , deque ha privação , falta '.
v. g. o Lar está sem lenha ; estar sem sentidos ; c sem
falia , e sem defeito. u Estavão muitas peças d'artelha-
ria miúda , sem outras grossas : )) i, é , sem contar ou-
tras grossas.
26. Sob indica a coisa, debaixo deque outra está:
v. g. sob a cama ; e neste sentido físico é desusada :
jura má sob pedra vá : Sob Poncio Pilatos; i. c , de-
baixo , ou no tempo do seu governo , império , ordens ,
mando. " Sob as bandeiras de seus Capitães (Clarim.
3. c. 16. ) . » Sub 110 mesmo sentido é antiquado : Sub
ti. Desob são duas preposições: " fui me sentar de sob
a espessa sombra ( Men. c Moca , L, 1 . c. 2 . ) : )) com-
binação antiquada como a sob.
27. Sobre indica a coisa em cima da qual se pÕi, ou
está entra : sobre a mesa ; anda sobre a terra ; sobre as
m-
.' " ' • w '-'Vi" 0 'imMf '•':'•• . : - -
DA GRAMMATICA PORTUGUESA, ioi
etulas d o m a r : e fig. sobre minha cabeça; sobre minha
palavra , meu credito , minha f é , minha verdade, minha -
honra, t o m e i , j u r e i , p r o m e t t i . Indica, precedencia : v.
g. pòr alguém sobre .u : ité sobre si, o que não está
cõ outro , nem defende d'elleu g\ v i v e sobre si; «
h o m e m sobre si ( que não trata outros por dependen-
cia , n e m grangearia ; pouco gasalhoso como indepen-
dente ) . Indica demasia , excesso : v. g. comer sobre
posse : u era sobre impaciente teimoso ; )) i. é , além
de impaciente. J á sobre tarde : i. é , perto da noite. A
coisa dominada , regida , subordinada : reinar sobre os
Portugueses; íig. ter império sobre as próprias paixões.
G o l p e s sobre golpes , trabalhos sobre trabalhos; i. é ,
uns após outros , amiúde. Falar sobre algiía coisa , c o m o
materia , as sum to. Ir sobre a praça , a c3batè-la<d'assen-
to. Sobre pensado ; sobre contas feitas ; i. c , depois de
reflectir , deliberar. (/-)
2 8 . Isto dice e m bíeve das Preposições, e das R e -
lações , que ellas indicão. Elias são u m a grande p a r t e
das

( O Tras usao os Clássicos hora como preposição ;


v. g. tras mim , tras elle ; hora como adverbio ; v. g.
atras de mim , de ti , dclle ; e assim o usamos hoje. Sal-
vo é o verbo Salvar por exceptuar : z salvo eu i fican-
do eu salvo , ou exceptuado , onde salvo é adjectivo.
Excepto alguns, como preposição , acha se nos Livros
clássicos ; outros o usão melhor como participio : " ex-
- ceptas as cartds do Marquez ( Vieira , Cart, T . 2. f .
l ü j . ) : )) o mesmo é Mediante, e Obstante , e Duran-
te : mas é mais correcto usá-las como participios : v ,
g. " mediantes as quaes promessas : não obstantes quaes-
quer leis em contrario : )) e " durante o Concilio » mas
" durando as festas » e presentes eVas. V. Barros, Gram.
/ 7 1 . Monarch. Lus. T. 2./. 6. e 2Z4. Ulisipo, A.
1. sc. 1. Resende , Cron. / . II. c. 117. Souza , V. do Ar-
eeb. L. 5. c. 24. " A s coisas tocante á Religião » c erro
de concordância, e u m Qallicismo deve ser tocantes,
como pertencentes.
io6 EPITOME
das connexivas dos elementos das sentenças; e deve se
estudar com muito cuidado os usos dos Mestres da L i n -
gua , quando preferem uma preposição á o u t r a , que
parece indicar a mesma relação. Elles usájão de alguas
em sentidos , que hoje não usamos : v. g. " viemos
em as hortas de Bruto ; J) hoje diremos ás hortas : " pas-
sou em França ; )) e dizemos agora -passou a França ,
a Italia , a Africa : " Começa de servir ; » hoje a ser-
vir : começou de servir, e acabou em mandar , ou por
mandar , é usual ; por , começou a sua vida ; e de in-
dica a origem , como em vei do Ceo , do sangue de Da-
vid , &c. ou começa de servir, SC. o trabalha de servir,
29. Nos livros modernos achão se muitos barba-
• rismos , adoptando se a fraseologia das preposições das
Linguas estrangeiras : v. g. misturar ossos a ossos; com-
passo a parafuso ; soltar ao cume do monte ( por no
cume) . Por muitas vezes se confunde com Para ,
Arreda-me a teu coval ( por de teu ) c erro.
30. As Preposições em fim sempre regem um no-
me , que c o outro termo da relação entre dois no-
mes , e correlato ao antecedente : e quando se diz : v. g.
cc
o conselho que tomarão sobre se quererá : )) è ellipse ,
e falta , saber, sobre saber se quererá &c. ( Costa, Te-
renc. T . i. pag. ó j . ) Couto , 6. 4. 3. " T o m o u conselho
com os Capitães sobre ( sc. resolver ) se iria commetter
aquella V i l l a . )) Q ) ^

( / ) Este modo de expôr a cõposiçao dos nomes cõ


os nomes ( por si s ó s , ou acõpanhado o primeiro de
adjectivos , e verbos ) explicando em geral as relações
delles , que as Preposições declarão, parecerá difficil ;
mas qualquer meyã capacidade entenderá o que é re-
lação entre dois termos, começando a explicar-lhas das
• fizicas, e passando ás semelhantes incorpóreas: v. g.
sobre a terra , sobre mim , sobre minha palavra , fé ver-
dade , V'c. Alias que quer dizer: tal, nome , adjecti-
v o , verbo , ou preposição rege em Portuguez geniti-
vo , dativo , accusative ? Isto é dar ideyas falsas, por-
DA GRAMMATICA PORTUGUEZA.15*;.jàí'M

# C A P Í T U L O II.

Da Sintaxe , ou Composição Figurada,

1. / " " V U a n d o na composição não observamos as


K ^ f regras expostas, a sentença ê incorrecta,
Mas ás vezes a incorrecção é apparente ,
e dá uma nova f i g u r a , ou apparencia á composição ,
que por isso.se diz figurada.
2. Estas semelhanças de incorrecção , ou Figuras ,
procedem i.° da falta de algua palavra , que facilmen-
te sesuppre para a sentença ser completa; e a figura,
cue a sentença toma pela dita f a l t a , se diz Ellipse', a
frase elliptic a:
2? procede a figura de se accrescentar algua pa-_
lavra desnecessária ao complemento da sentença, e se
dis Pleonasmo ; a sentença pleonastica :
4. 3. 0 de se pôr uma parte da sentença , ou qual-
quer accidente delia por o u t r o , e se diz Enallage: •
5. 4. 0 de se alterar a collocação , que as partes da
sentença devem ter entre s i , para ser o sentido cia-
ro,

que não temos táes casos; e se o qitizermos explicar


por meyo dos casos L a t i n o s , e seus u s o s , daremos ou-
tras ideyas falsas, e explicaremos o que se ignora, ç
é difficil, por meyo de outras coisas mais ignotas, e
difficeis : e com tudo os nossos Grammatiços reconhe-
cendo , que não temos casos , todos torpeçárão nos
Nominativos, Genitives , Dativos , ®'c. V . Duarte Nu~
ties, na Ortogrqf, f . 306. w/í. ediç. Clave deferro dize-
mos , e de ferro dirão os Grammatiços é genitivo : mas
em Portuguez não , porque ferro só se varra emferros ;
em Latim menos , porque lá dizé ferrea clava , ou de
ferro , como de duro est ultima ferro : onde está logo ,
ou como está de ferro em genitivo ? Outros exemplos
vem analogos: v. g. Evandrius ensis , espada d'Evt»«-
dro , Wc.
io6 E P I T O M E
to., o que se diz Hyper baio, ou Synchise. Vejamos u m
pouco de cada uma :
6. Ellipse é falta de palavra , que facilmente se en-
t e n d e , e s u p p r e : v. g. a frase eliiptica : a Deus: aque
faltão as palavras te deixo ( a ) " A s do Senhor mtl v e -
zes : » onde falta bejo as mãos. (b) Que forão dos Troya-
nos ? i. é , que jiis foráo feitos ( c ) . Tem gênio , con-
dição ; sc. forte : (ã) " Teve fortuna ;)) sc, boa : " co-
bre se logo d estrellas, nascem d'ellas, põe se d'ellas ; »
sc. alguas d e l i a s , ou parte: " E u chamo p o v o , on-
de ha baixos intentes; )) i. é , aquelles h o m e n s , onde
ha &c. " Usai antes de cortet, ; )) i. é , de ser homem
cortez , ou os termos de homem cortez : no meado de
Outubro ; i. é , no mez meado. ( V . Ined. f . 57.)
7. Da Ellipse procedem as concordâncias de um ad-
jectivo 'numa só forma modificando nomes de diverso
gênero , e numero : v. g, u as aguas cobrarão o sabor,
e suavidade antiga : )) o s a b o r , sc. antigo. u O favor
e ajuda , que 'nelle estavão certos (\e) : » sc. dois b e n s ,
que estava© certos.
8.

0 0 V . Sá e Miranda , Vilhalp. At. I. sc. 1. è j .


([b) Eafr. At. j. sc. i.
(c) Nossos mayores dicerão fazer fim. V. do Areei.
X . J . c . 29. fez, fim á sua escritura : que forão d a quel'
les Cavallciros ? Inéditos , T. \ . f . 325.
Cd) " O que queira dizer a nossa Eunuco ; )) j. c ,
a nossa Fábula , 011 Comedia intitulada E u n u c o : " mor-
to aquelle peste do mundo ; » i. é , aquelle homem
peste do Mundo Herodes : cc a quelle fonte da Eloquên-
cia Cicero ; )) aquelle Cicero fonte da eloquencia : o
serdes jeyas ; i. c , mulheres feyas ; eu sou o fora de mim ;
i é , o que est-ou fora de mim. ( Camões , Anfitr. )
tc
Outros R e i s ,os seus estados guardão de armas ro-
deyados ; vós rodeijado de amor ; )) vós guardais os vos-*
sos rodeyado de amor ( Sá e Mir. ) .
(j) u Ventos e aguas sempre se mostrão duras para
magnas ; )) sc. duros e duras : " Entre as hervas de
DA GRAMMATICA PORTUGUEZA.9*;.jàí'M
X. A ccricordancia faz se muitas vezes com o no-
me , que o autor tem na m e n t e , indicado talvez por
outros equivalentes: v. g. " A causa de E l R e i Vian-
dar lançar e$ta\ gente por toda aquella Costa , vestidos f
e bem ataviados ; )) erão negros de Guiné. ( Barros, De-
cad. i . L, j . c. 4 . ) " Vendo ali o seu cuidado ( â sua
Dama ) vestida da propria roupa &c. )) ( Palmeirim , P .
2. c. 120.) " Achou- o segredo de sua alma (Clarinda)
vestida de umas roupas índias. )) ( Clarim. L, 2. c.
3 2 . ) " Lin«'iia tem V. Alteza , Elle por si lho diga. »
( Resende, V. do Inf. D. Duarte ( / ) , / . 3. 3 9 . tf.
'Barros , Paneg, delRci )

Mas já o Planeta , que no Ceo primeiro


Habita , cinco vezes apressada . . . (Lusiada) :

o planeta , a que o Poeta allude na perifrase que no


Ceo primeiro habita , é a Lua; por isso diz apressada.
Cg) Es- I

prado não ha machos ( sc. indivíduos ) t femeas conhe-


cidas ? )) ( Camões ) Daqui se v ò , que os adjectivos
modificando dois n o m e s , não s e u s ao sempre no plu-
ral masculino , nem por ser mais nobre ( como os
Grammaticos dizem ) : exprimem se numa forma , e
subentendem se 'noutra.
( / ) " Q u e bem lembrado estaria S.Santidade. )) " Pe-
dia a S. Majestade ( e l R e i ) , que fosse servido. )) (Sou-
za , V, do Arceb. L. 4. 16. e 1 7 . e L. á f e ? . ) Con-
cordar o adjectivo com o titulo feminino W è r r o , sal-
v o quando o titulo c o n v ê m , e sè dá a Senhora. Na
Vedicat. ao Principal v e m erradamente : u V. Excel-
lencia , gozando ella : )) deve ser elle. ( V . Duarte Na-
nes, Descripç. de Po^tug. ult. ediç. je. Borel) V.- Ca-
mões, Filodemo , 1? sc. 2. e 2? sc. 3. e Barros no Pane-
gir. delRei a cada passo tras : V. Alteza . .. Elle : e Sou-
za , V. do Arceb. L. 5 c . 2 5 . V. Senhoria . . . elíe , c
não ella ; que tora õallicismo ? ou Italiaiiismo. V. Cou-
to , Dedicat. da 4. Década,
io6 E P I T O M E
Estas figurai Çhamão-se Sintheses. ( V . Palmer.
P. 2. c. 1 2 5 . lusíada, 4,0 g?. c 7.0 4 7 . )

CgO O artigo o , todas as vezes que se refere a um


adjectivo attrihutivo , ou a nome usado como attribu-
t o , nunca varia daquella figura respondente ao genero
masculino no tiumero singular : v. g, u Asfei/as , nem
por o serem , c razão que v i v ã o descontentes : ))
U m dos respeitos , que o barbaro teve " para ma-
„ tar tão cruelmente os Christãos, foi porque depois
„ de o serem , ja os havia mais por vassalos de Portu-
, , gal , do que seus : Forão-no , e são-w para morrerem ,
,, e não o serão para os defendermos ? )} (Lucena) " O s
seus doutores , que o são fiacos. )) (Veiga, Ethiop. f
47- y . ) " Foi ver a sepultura de seu i r m ã o , que o
havia de ser sua. )) (Pinto Pereira , j . c. 24. ) " T i -
rando-a de mulher de quem o e r a , fez que o fosse, de
quem o não queria ser. D ( Idem ) " Todos tem recebi-
do de vós obras de grande amigo, e eu ( L i n d a r i f a )
ainda livre delias , como se o eu não fosse grande
vossa. )> ( Clarim. i . e . 6. ) E m todas estas frases lia
ellipse do infinitivo ser, p u r o , ou pessoal, com que
concorda o artigo o, como quando dizemos o ser dou-
to : quanto o serem ( meus males ) por ti me dá de glo-
ria. ( Camões , Eleg. %.) 0 seres fexja ; o serdes discretas ;
o ser , ou não ser oiro , e prata , c o tudo & c . Quan-
do pois vei o artigo só , subentende se o infinito p u r o ,
ou pessoaL; v. g. " querião , que os ordenandos co-
nliecessera*a dignidade (sacerdotal c a estimassem pelo
q:-te ella é : )) i. é , pelo ser que ella c ( V . do Arceb.
l>. i. c. 1 7 . # j . c. 1 5 . ) . Mas os adjectivos , que se
ajuntão , quando é pessoal , concordão có a pessoa em
genero , e numero : v. g. u consultão os seus doutores,
que o são fracos; )) i. c , que são o ser doutores fracos :
" as feyas nem por o serem fej/as ; » e ellipticamente
hem por o ssrem. Dirão que não dizemos ser o serfeya }
Mas o infinitivo ser a cada passo se acha sujeito cognato
DA GRAMMATICA PORTUGUEZA.9*;.jàí'M
9. Por semelhante ellipse, dois nomes do singular
levão o verbo ao p l u r a l : v. g. " Pedro e J o ã o ( J C ,
am-

de si mesmo modificado por outros attributívos : v.


tc
que seria , serdes tanta gente. . . e leixardes vos assi
vencer ? )) ( I n e d . 3. / . 26. ) " As condições do R e i n o
forno sempre serem os vassallos flhos, e o R e i (sc. ser)
pai , e Senhor. )) (Jornad, d' Africa , f . 73.) " Ser
Principe é ser o que tu ès. )) (Caminha, Epist. 12.)
" Grande dignidade é ser mõi de Deus , e <? proprie-
„ dade sua JçT advogada , t» qual ( s c . jcr advogada )
„ Ella mostrou nas vodas de Caná. )) ( Flos Sandor.
V. de N. Senhora , c. 1 ó. ediç. de 1 5 6 7 . ) " O jcJr do
homem são honras , riquezas. )) ( F e r r . Carta 9. L. 2 . )
Igualmente dizemos : v. g. , c A ilha era de Mouros
( M o u r i s c a ) e também o era toda a C o s t a . )) (Castan.
L. 1. c. S . ) " Não seja o amor com tanto excesso (tão
e x c e s s i v o ) , porque se o for. )) (Paiva, Cas. Perf. )
" T u d o nas íauilheres Í? suspeitoso, até o serem virtuo-
sas , e paia o serem sem perigo requer se muita pru-
dência : » t c Pessoa, e ser é o ( sc, ser ) de Florença ,
para um Principe a tomar por mulher. )) XJlisip. Com.
A. 5. se. * j . f 3 5 5 . ) Cí A condição , que mais lustra em
Principes , é ser Uberáes. )) ( ibid.f326. c V . f . 327. )
tc
Nobreza c ser rico, e vir de pais, que ofossem, >>
( V . Vlisipo , f . 357. ult. ediç, ) " Jsso é serdes Senhor
absoluto , e dissoluto. )) ( Vida do Arceb. ) j " Quem
negará serdes, meu D e u s , um ser infinitamente bom ,
e que o sois de toda a Eternidade ? )) Com ésta mesma
analogia dizemos nas cõparações : " é mais moÇa, mais
formosa, «j<uj mulher do que tu :)) aqui o artigo rèfere se
a attributos : " tem mais antiguidade, da que lhe dão : ))
chorou mais lagrimas d'as que lhe viste chorar : mais en-
levada Filosof a , da que tratarão todos os Gentios escri-
tores ( Barros, Vic. Verg. ) : inda são mais embaraços
dos que eu quizera comigo ( Sa de Mir. E>jl. 2. Vasconc.
Sit io , 67. ) . Nestes exéplos o artigo refere se a sub-
stantivos táes, *ntiguidade } lágrimas 3 F ilvsojia , emba-
1,5* EPITOME
a m b o s , ou estes dois sujeitos") forno á caça, » T a l v e z
se exprime o nome do plural com os,dois do singular :
V g. a N ós is lavamos , minha prima , c eu , assentados, ))
C ii >/'*. ./• 1 7 . tf. ) " Se , e tile vos enfadais : »
(ibid, f 7 1 . ) Onde é de notar, que todas as vezes
que entra o nome eu vai o verbo á primeira pessoa do
plural , porque se subentende nós, e quando entra tu,
vai á segunda pessoa do plural, porque, se subentende
-vós. " Sós nunca entrámos em barca, vós e eu. »
C Vlis.f. 6 6 . )
10. Quando a palavra véi clara nas sentenças com-
postas por conjunções , e se hade subentender outra
vez sem mudar de figura , ou accidentes : v. g. " Deus
arcou o , C e o , e a T e r r a , os Anjos , e os homens : ))
esta especie de Ellipse se chama Zeugma : se a palavra
torna a subentender se com accidentes diversos , diz se
òilkpse : v. g. " as aguas cobrarão o sabor ( s c . anti-
go), e a suavidade antiga. )) 41 Entrarão duas naus ,
uma

t-aços ; e por isso o artigo se varia segundo o genero,


e numero : " nós somos mais amigos do que éramos
dantes: )) amigos atributivamente tem o referido : " nós
somos mais amigos (em numero) dos que cuidavatnos,
que aqui seriamos'nestas vodas : » aqui amigos c sub-
stantivo. Assim mesmo o é invariavel referido a attri-
bütos com verbos neutros: v, g. cc dizeis , que ides ,
vindes , estais , ficais saudosa , e eu tãbcm o estou , vou ,
fico , venho de vós, como irmã, que muito vos amo : ))
contra es;.e uso tão coustanse se lè no Triunfo do Sagro
Amor , L. i. c. 29.fi 1 2 5 . tf. " Pedragonte partiu mui
saudoso, de quem a não ficava d elle.; )> ( e r a uma da-
ma ) e d e v e ser : de quem o não ficava. 44 Pobres don-
zelJas postas em risco de deixar de sè-las : )) é erro ;
devia dizer, de o serem , ou de sè-lo , mas não rimava,
có dfinrelias. V. Lusíada , 4, 17. vtrfo 2. e J. est. j .
tc
í? mãi, que tão pouco o parecia : )) onde a precede
amai substantivamente; o parecia r sc.: o ser mãi, a t r i -
butivamente.
DA GRAMMATICA PORTUGUEZA. F|FF|
uma ( sc. entrou )' Ingleza, outra ( s e . entras ) Fran"
ceza. )) A Ellipse é viciosa, quando a palavra expre f sa
pôde lazer subentender outra totalmente diversa: v .
g. " Amor quer sem te ver matar-me de saudades : »
que pôde ser seiii te elle ver , ou sem te cu ver. (U lis-
sea\ eV. no Canto 3. a est. 5. obscura pelos mesmos
defeitos )
1 1 . A este respeito é notável nos Clássicos usarem
verbos- homonimos , ou semelhantes nos sons a n o m e í ,
e referirem adjectivos aos nomes occultos semelhantes :
v. g,
< Não vez , dizer queria, que desmaj/o ?
Quando ( coisa , que mal me será crida I )
No mar ferido de um , do barco cayo ? ÇBernardes)
1
-onde um refere se a desmaio , que deve ser nome , e J
v c i . como verbo no primeiro verso, " Se tão fácil me II
Fill
fora fazer isso como eu deseja, o vosso ( s c . dex.ejo,
n o m e ) estaria contente. )) ( C l a r i m , L. 2. c. 1 6 . c
outro exêph a pag. 10Z.'ediç ^ 1 7 9 1 . ) Mais notáveis
são os exemplos seguintes, " Coroando-o de brazas , 'pa-
ra o ser de rosas. )) ( J o r n . d'Afr. f 2 6 3 . ) " O Se-
nhor Theodosio trabalhe , que bem grande lh'o empres-
to : )) i. c , grande trabalho lhe empresto. " Não vos etffefc.
deis se me alargar mais do necessário, porque o heide . •
ser : )) i. c. mais largo. " o condemnárào á marte dc forca , .
e assi ofoi'. » i. é , enforcado. (Tempo d' Agora , Tom.
2 - f > 65. y . 77. e 85. ) Estes exeplos são obscuros;
os de Bernardes, e Barros mais toleráveis.
12. Os Grammaticos chamão Ènallqge á figufa de
composição , que se faz usando as partes da oração, e
seus accidentes uns por outros, sem razão , nem fun-
damento : v. g. " Que foi daquelle cantar das gentes
tão celebrado ? )) ( Camões ) Mas cantar é nome , e
tem plural os cantares. " 0 logo destes é como O nun-
ca dos desenganados. )> O logo dizem que sendo adver-
bio , se usa aqui por nome , e assim o nunca ; mas s os
advérbios são n o m e s , usados ás vezes elliptjcamentôs}
Sem preposição. V. o L. 1 . c. 6. (fata Gram. " E n j
.nfa
lio E P I T O M E
não querendo-me vós morro por esse não quero: J) pa-
rece enallage de não quero, como n o m e ; mas é frase
elliptica , morro por esse dizer, que é, não quero. (Lo-
bo /Peregr. f . 1 9 7 . )
1 j . Outro excplo de Enallage seria usar de um mo-
do por outro : v. g. u Esforça I n f a n t e , nem c'o pe-
20 inclina : » por , nem inclines; mas isto é um La-
tinismo, que o Poeta admittiu , barbarizando por for-
ça do consoante. (/1) Por semelhante caso dice Camões
" Os Livros que tu pedes não. trazia : )) por não tra-
go. ( Lusíada , i.u est. 66. )
1 4 . Dizem m a i s , que c Enallage usar de um caso
por outro ; v. g. u eu sou mais velho que ti : se fo-
ra como ti : agora se a ti f o r a , faria outra coisa : se
a vòs fora : &c. (<) í/1 as estes casos são incorrectamen-
te usados , porque as táes sentenças são ellipticas ; e
suppridas ficão assim : " eu sou mais velho a respei-
to do que tu es : se eu fora do modo como tu es : se
eu fora t u : Folgara de ser como tu és. )) (Ferr. Bris-
cc
to, At. 2. sc, i . ) Se tu foras eu que farias ? sevos
fôreis eu ; se eu fora vòs : se eu fora a ti*, ou a vós : ))
tfc. semelhante ou idêntico a ti , a vós. (k)
IJ.

( O V . O cap, 5. do L. I . 72? 1 3 . d'esta Grammatical


outro exemplo vci 11a Eneida de Barreto, 9. est. 1 7 1 .
" A alta ilha de Prochina retina; )) em vez de retine
no indicativo, que o sentido pede ali.
Estas Enaliages são de Camões , no FHod, c An fit.
e na Ode I. de Ferr. no Bristo , Al. 2. sc. 4. e Cioso , f .
1 7 7 . Sa Mir. Estrang. scena uli. onde quasi sempre
talão criados, e os Poetas itnitarião , ou remedarião a
incorrecção da frase; porque quando no Bristo fala o
Cavalleiro Annibal diz : " Todos querias, que fossem
como eu ? então para que prestava ? )) Responde o pa-
rasito : " Para o que elles prestarião , se fossem coiuó
.ti. » QV. Bristo , f . 1 7 . A. 2. sc. 1 . e f . 40, e 47. )
( £ ) Nós dizemos correctamente se tu foras eu , f o r -
que, o v e r b o concorda com o nome tu sujeito , em nu-

, , • • • ..jf •-.;.>• ' •;..•* •» . ••/tf, .^•V'' .-- •^•m'l""


DA GRAMMATICA PORTUGUEZA.| 111
1 5 . T a m b é m se reputa È.tallage usur de preposições^
onde ellas não c o n v é m ; v. g. antes dó n o m e , que
está em relação de sujeito do verbo : cc 'O primeiro au-
t o r , em quem se lê este n o m e , cem S. Martinho de
Toiirs : )) (S eve rim, Notic.) deve ser: é S. Martinho : sem
preposição. " Em toda terra , em que punha os pes , era
sua : )) ( Godinho , Rei, f , 2 . ) deve ser : Toda a terra y
&c. era sua : u «o primeiro , a quem encontrou, foi
a Livao : )) ( Barros, no Clarim.) devia ser : 0 primei-
ro , & c .Joi Livao: porque osujeitb da sentença nunca
c regido, mas é a palavra principal, qus rege todas
as mais , que o explicão ; e o mesmo ó d'o n o m e , que
serve de attributo cõ o verbo ser , porque de commum
•se podem converter; v. g. " eu sou tu, e tu cs eu. »
|6. O Pleonasmo consiste em usar mais palavras das
necessarias para a perfeita declaração de sentença : se
isto se faz por belleza é uma figura Rhetoric*: v, g.
í
ainda ainda imos gastando do que trouxemos: » ( V.
do Arccli. ) " Escapei quando já já me engulia, )) ( 1 $ *
sit. Transf. f , 3 39. )
Para o Ceo cristallino alevantando
Com Jagrimas os olhos piedosos,
Os olhos, porque as mãos lhe estava atando
Hum dos duros ministros rigorosos... (Lus 3,125.)
(/) Quan-
, , ^.^VwHÍ
m e r o , e pessoa; logo invertendo diremos se cufora tu :
como : suppõe , que eu sou tu , e que tu és eu ; que tu
és elle, e que elle é tu. " Que eu em sangue e nobre-
za o claro Ceo me estremou ; )) devia ser: tc que a mint
em sangue & c . o claro Ceo me estremou. )) V . aqui
o Cap. 1 . §. 2. num. 12. nota (a) . " Discípulos Santos ,
quem vos fez mais maviosos, que a vosso Divino
Mestre ? » é correcto , sendo a sentença supprida ; dò
que fez mavioso a vosso Mestre : e é igualmente cor-
recto : " Para mim não vejo mayor perigo que a
mim : » i, é , do que vejo a mim : em ambas o verbo
supprido tem os pacientes mostrados pela preposição 1
a , e os sujeitos são diversos , e incluídos nas variações
p e i i o á e s , ou antes em quem fez , e eu vejo.
IX* E P I T O M E ™
(/) Quando porém a redundancia não serve de o r n a - 1
t o ; é uma incorrecção, e Perissologia : v. g. " Nesta1
terra vimos também nella Mouros casados: Está u m a l
fonte , em que dentro nella nasce agua ( Tenreiro, Iti-I
ner. c, 2%. c 4 2 . ) ; A s minhas botas , qu é delias cilas ? )) |
todas estas perissologias são viciosas^ e i n c o r r e c t a s : !

usou d' os meyos os mais violentos: )) repetindo o i
artigo antes de um só n o m e , é perissologia. u Tal c o - 1
mo ella poucas táes : )) tal é de mais,. e desconcorda. 1
(Crux,, Pees,') " Dessas pérolas poucas táes na d u - I
2Ía : )) ( Ulisipo ) é correcto. I
1 7 . O s Grammaticos chamão Ordem Naturalou I
Directa da construcção, ou collocação das p a l a v r a s , á 1
que se guarda quando véi primeiro o sujeito da sen- I
tença com os seus modificantes, logo o verbo com os
seus modificantes, depois o paciente com os s e u s , e
o termo com o s , que o modificão : v. g. " Aquelle
homem virtuoso senpre fez muito grandes bens a to* '
dos os seus a m i g o s , no tempo em que tinha grandes
riquezas , e mesmo depois que foi pobre. » Se muda-
mos ésta ordem , fazemos uma inversão, ou construc-
ção indirecta ; se a inversão é disacostumada , toma
lima figura, a quê os Grammaticos chamão Hiperba-
to : i K g . " Desejo saber ao que v i m : )) p o r , o ( s c .
negocio ) * (jue vim. (jn) " No tempo , em que tinha
gran-

(l) " Dormimos sonos alheyos , os nossos não òs dor-


mimos; rimos os risos alheijos ; )) dis Sa de Mir. pin- ,
tando o caracter s e r v i l , e lizongeiro ; e para ajuntar os
epítetos expressa os pacientes cognatos sonos , V risos
juntos a dormimos, e rimos. Semelhantes a estes são :
por séculos dos séculos; esta é a verdadeira verdade ; pe-
lejar as pelejas do Senhor ; 6cc.
( " 0 " Lhe refere o que pede , e o a que vinha. »
( Eneida , 1 0 . $ 5 . ) " Nunca me esquecerá Alfeu o
( sc. perigo ) a que te aventuraste por meu respeito. J>
n(_Lobo , Prim av. f . 1 0 0 . ) " T u d o o, a que te incli-
nas. y> ( Caminha , J . J2. Leão 9 Cron. T, i . /. lOp,
írfif. 1 7 7 4 . ) ^

- " r ' • : 4 W m
- iXKsS-• ; •':•>;••.../:•;„ • ^ ^ Ú r ^ f ^ ^ m Ê S
DA GRAMMATICA PORTUGUEZA. F|FF|
grandes riquezas, e mesmo depois , que foi pobre fez
este homem virtuoso muitos bens &c. » ( n ) •
í 8. Quando se perturba muito a ordem da construo-
ção a figura , que ella toma , ciiama se Synchise : v.g.

Sobre uma ponte de metal corria,


De [upIter o estrepito imitando
Dos trovões, que imitar se mal podia (Vlissea) :
e : Quebrar tivera a náo ali em nada (Eneida) .

19. Muitas outras figuras numerão os Grammati-


e o s , que são mais próprias das Linguas Grega , e La-
tina , mais artificiosas que a nossa ; e por isso as dei-
x o ; só tratarei brevemente de algúas Figuras dc dic-
ções , que consistem -
ao. 1 . ® N o accrescentamento dealgiía lettra : v. g.
m a r t i r r por m á r t i r . A t l a n t e , e H e r d a r por A t l a n t e *
Herdar; atamborcs , por tambores.
21. P o r diminuição de l e t t r a : v. g. career;
marmor, por car cere , mármore , como hoje dizemos :
" Que mais se pode' sp'rar : )) por esperar. ( Bem. Ri-
mas , f ; 7 8. )
32. Quando se absorve a v o g a l , que concorre"
com outra , ou pura , ou nasal: v. g. a preposição , e a
artigo em á : g fui á praça : )) a o em ò : " fui ò teía-
p l o ; » t/V , d'a, c'o^ c'a , qu e\}e\ por de o, de a,
com o , com a : " Co' os anafis os Mouros respondião. )>
2j. 4 . 0 Quando por eufonia se muda a
consoante áspera em o u t r a , buscá-h , ou básü-lo
buscar-o9 Iníscas-o \ tère-to , por teres-ol"
24. J Q u a n d o por eufonia se entremette consoan-
H
U ~ - fôSf te':

( n ) Nas L i n g u a s , que tem c a s o s , onde a transposi-


ção das palavras é mais l i v r e , pôde ser a construcção
indirecta sem h.yperbato , figura mais ordinaria nas L i n - )
guas mais sujeitas á collocaçao directa. V . a Lusíada ^
U ?
2 . est. 87. 90. tf 9 1 . e Lusit. Transform./, 83. "E ass i
o nosso rústico Pão ateu cantar não invejoso &c, »
lio
E P I T O M E
te entre v o g á e s , para evitar o hiato : v . p buscárà»-
no, não no deveis , fazercrn-no Os antigos dicérão:
em no tempo : em nas suas a v e n ç a s : en has casas: por
evitarem o hiato''da nasal cm com o, e as, artigos
que escrivião ha, ho , has, hos ( * ) . Depois ommittí-
irios a preposição cm, e ficou o artigo precedido do n, 'no,
*na ; por onde dizem m a l , que em se muda em n. (V.
aqui <>§. 2, do cap. i. num, 21. nota (Ji) pag. 98. e
Paiva, S. i. 5j.
2 5 . 6.° Quando ditongamos duas vogáes : v. g.
<c
o im-pitj R e i dos annos: )) " Al%üa coisa que pa-
reça. )) ( F i l e d . 2. sc. j . ) " Seria entre os tormen-
tos , e crueldade, » ( Vlissea , 8. 40. )
26. 7 . 0 Quando dividimos os ditongos : v. g. T u - i ,
por Tui : " Por que quando ò Sol sá-i facilmente. »
( Lusíada, 89. e S.° $ 0 . ) " Considerando o cir-
culo Lacte-0. )) ( E l e g i a d a , J . 2 2 0 . e 2 5 9 . ) " Q u e d e
trofeos não, enchesse aterra. )) Q.F&rr.)
2 7 . % 8.° Quando se contrahem, ou ahrevião pala-
vras : v. g. San , ou S a n t , ou São por Santo; gr an ,
ou grão por grande : I por ide , Is pos ides ; hemos ,
heis , por havemos , haveis : mór por mayor; eal-te ,
(jttés , por cala-te , queres. ( Leonel da Costa , Terene. T.

2%. 9 . 0 Quando se divide a p a l a v r a , e entremette


o u t r a : v. g. dir-vo-lo-hei QCam, Filod. 2 . 2 . ) Dir-fe-
i a , Far-íe-ia ; onde é notável t a m b é m , que dir efar
são contracções de dizer e fazer.
29. T o d a s estas figuras de dicção , usadas mais fre~. v
quentemente na Poesia' ( onde talvez se alterao os tons
das vogáes : v.g.impía por ímpia) tem seus nomes Gregos,
de que é escusado carregar a m e m o r i a ; báste-nos saber
o que ha em nossa L i n g u a , para 'nella exemplificar-
mos os preceitos, e observações das m o r t a s , e éstranhas,
ç melhor entendermos as analogias , que tem com o
jnosso idioma.
:
M CA-

( * ) Assim o escreverão Resende no Lellio, Goes nas


Crônicas, e outros derivando-o de hac 3 e hoc Latino».
DA G R A M M A T I C À PORTUGUEZÀ. II F

C A P I T U L O III

1
PCÍ Composições viciosas,

1. 4 S Composições são viciosas , quando o í


^adjectivos , e os verbos não se usão 'nas
variações correspondentes ao genero e numero dos no-
mes : v. gv homem boa , bons homem ; os homens mor-
reu : quando os proriomes não se varião em c a s o s , se-
gundo a relação , que a preposição indica: v.g-, s ç d i -
cessemos a me , de migo , por a mim , ou comigo : " e i *
lhe amo , lhe adero : )) por , amo-o ^ adoro-o. ( a )
2. Quando não apparece claramente, quem c o
paciente , quem o agente , e se confundem_as relações:
v. g. , . . Batto , que em dura pedra converteu
Mercúrio pelos f u r t o s , que revela Jt
( Lobo , Co tide st« Í\ i o . )
quem ignora a Fabula não sabe se Batto converteu ,
ou foi o convertido. Para tirarmos esta àmfibòlogla 6
devia dizer-se a Batto, como u A Poh/doro m a t a è l R e í
Treício. » ( Lusíada ) Ç)

Ç a > Nos dizemos correctamente eu quero-lhe bem :


gabo-lhe a paxorra : onde lhe c termo ; bem , e paxorra
pacientes. Este equivoco é talvez inevitável : v. g. ti-
rei-lhe o chapéu, por cortejei-o e tirei-lhe o que ellc ti-
nha ; comprei-lhe a , c<».r<j; para elle , ou a elle* As cir-
cunstancias tirão a duvida : " indo S. Geraldo dedicar-
lhes uni templo : » não a elles mas para uso d e l l e s , e
sua casa d'oração. (Descrlpç. de Port.) " O Capitão . . .
Recebendo o Piloto , que lhe v i n h a , Foi delle alegre-
mente agasalhado : » l quem foi agasalhado, o P i l o t s
por Vasco da G a m a , ou este pelo Piloto ? (Lusíada,
k 95.) IlSKlI
O ) " A m a o povo o bom , R e i , e he d'elle am*-
d o : » deixa em dúvida -quem é o sujeito , que a m a ;
( F * # r . Carta i . do L, a. ) mas o equivoco aqui c fe-
m m Í M T O M E i f l l i l
Quando não se entende b e m , aquém modifí-
c5o as incidentes pelo articular que , ou quem , qual' c
o*i</e ; havendo dois nomes antecedentes : v . <r. " j o f o
Antipapa com Pedro Diácono, a quem o P o v o perse-
guio por haver usurpado & c . ) ) Parece á primeira , què
«quem se refere a Pedro , por estar mais proximo' ( F
y V
Vlíssca, C. 2. 7.) f )
- 4. , Quando não appareCe a quem se referem os pro-
n o m e s , ou articulares, havendo diveráas pessoas, ou
coisas , que podem trazer á memoria : v. g. " Queria
ter comsigo ( L o p o Vas de S a m p a y o ) Pero de Faria
porque era do seu bantfo , e fora de parecer que elle era
o Governador , sobre elle ter com elle muitos cotupri^
m e n t o s , sobre os quaes lhe respondeo Eitor da Sylvei-
r a , que bem sabia d'elle a verdade , & c . » (Couto D.
4. L. 2 c. 8.) ? '
, / 5. Quando os participas , e adjectivos podem re-
ferir se a n o m e s , a que não pertencem : v. g. < c C o r -
„ neille é de opinião contraria, talvez por ter dado
, , ao publico o seu Polieutes, antes de ter lido Áristo-
teles , apoi/ado em Minturno : )) apoyado parece per-'
tencer a Aristóteles a quem ignorar, quanto precedeu
Aristóteles a Minturno, " £ por sentença de Platão
„ foi o mesmo Homero , escrevendo da Republica 9
„ degradado da sua Cidade: » onde escrevendo parece
modificar a Homero. ( Pinto Per. Prol. ) Estes dois ví-
; cios
' Vi.

l i z , e a sentença verdadeira de qualquer modo. V . à


Vlissea, 10. est. 7S. " Astrea ))
>(**) " O. 1 " um bosque sobre as ondas parecia }) refe-
re se a armada, precedendo uma incidente (que par-
tia ) c uma principal " E as proas para Tenedo inclina-
rão. » Outro exemplo v e i no T o m o I. das Cron. de
Duarte Nunes , pag, 208, ediç. de 1 7 7 4 . onde dis : " sta-
vai neste tempo & c , ali se acolheu parece referir se a S .
ÍAUS , que herdara o Reino , aonde de Roma se acolheu
Sec. mas c do Papa. ( V. Freire , pag. 39S. edif. de Pa-
ris : " despachou algüas espias & c . » )
DA G R AMM A T I Ç A P O R T U G U E Z A . ity
cios nascem das más construcçóes, é são Anfiboii*
gias. . :: •.. - ','.;' V|V- g
6. O Barbarismo , ou Estrangeirismo, consiste no uso
de palavras estrangeiras, e 'frases compostas com Sin-
taxe estrangeira , ou collocação tal : v. g. deu aspe-
nas , por foi castigado , que é um Latinismo ; porque
darpensem Português é causá-las, impò-las. " Proveu
a natureza, que o corpo não fizesse müito negocio ao
homem (b): » é outro LatinismO, por ,déssepejo ,
incommodo : dar lugar aos bens ; p o r , fazer cessão de
bens ( m a l traduzido de cedere bonis) . " Todos vie-
mos em as hortas de Décio Eruto : » por , ás hortas.
Na construcçao : " Isto tive da amizade , qüe voi? di-
cesse- » " Remedio da , que já se pèrdià, paz nó
mundo : )> " Dá-nos Senhor aquella, de que necessita-
f
m o s , paz. )) ( Barros , Gram. ) / * :
7. O Solecismo é qualquer outra offerisa, óu erro
contra as regras das declinações dos casos dos prono-
mes , das concordâncias, das preposições mal usadas *:
v. g. " a Nação sç tem dignado em acolher: misturár
ossos a Ossos i &c. )> de que tenho apontado assás d'
exemplos. Concluirei a proposito notando, que hoje.
seria um Solecismo snpprir os tempos compostos dot
v e r b o s , com participioi passivos, em vez dos s u p R
nos. Os nossos Autores clássicos muitas vezes os con-»
fundirão dizendo : v. g. " T i n h ã o uns vendidas , e dei-
xadas , outros trocadas as armas pela mercancia , e pos-
to afortaleza naquelle estado, )) ( Lucena , folio 37 j .
col. I. ) " Depois que tivesse vista % Rainha ; e depois
de a^ ter visto. t ( 4 . Pinto Pereira, L. 1 . c. 19. )
Não tem elRei meu Senhor ganhadas as í n d i a s , e
quantos Reinos tem ganhado. » (Comment. d'Albuq.) P.
*• c. 60. ) Hoje compomos os tempos complexos com
ossupinos , que são nomes verbáes invariáveis : v. g.
iinhão vendido, deixado , trocado as armas : depois que

( b ) Má
versão de negttium facesscret H em o LtU
lio ' dc Resende. ' mÊÊm
1 LI T F®|; EP I T O M E
tivesse visto a Rainha : tem ganhado as índias: Só
usamos dos participios , quando não queremos signifi-
car o complemento da acção verbal, mas queremos
qualificar a coisa , que possuímos , ou temos * v. g. te--
nho ainda as armas compradas para aquella occasião\
tenho feito (acabei ) duas moradas de casas ; tenho
( p o s s u o ) duas moradas de casas feitas, e acabadas,
:
por m i m , ou por outrem (e) " arrependia-se de ser
Mid* do Castello [Men. e Moça , l . 2. e. 2%. ) : »

CO Os Infinitos, Supinos , e Gerúndios são nomes


vcrbáes invariaveis , com estas diflferenças , que o I/»-
jinlto significa o attributo verbal , sem relação a t e m -
po algum ; v. g. ler, escrever: o Gerúndio designa o
mesmo attributo, ou acção abstracta actual , e imper-
feita ; v . g, eni lendo, entre lendo : o Supino e outro
nome , que significa a acção em abstracto referida ao
passado , ou completa : v. g. " tenho lido , escrito; »
eue è lição feita, escritura acabada : temos rido muito ,
dançado ; temos jôgado ; 0*c. " Os que havendo post9
sua confiança em D e o s , desanimarão c'os trabalhos, e
a tem posta nas ajudas do mundo , conhecerão 0 seu
-erro : » é um exemplo correcto : " As prisões , em que
as temos atados: » (Freire) " Instituiu-nos a obser-
vância , cue a maldade dos tempos tinha esquecida, e
ta ida : » (Hist. de S. Domingos, Tom. f . 148. ult.
ediç.) São exemplos certos da c«isa possuída modifi-
cada por participios : " Tenho a fortaleza de Diu derri-
bada até t cimento : )) ( Freire ) " os inimigos tem der-
ribado a fortaleza até o cimento : » são correctos, o G o -
vernador tinha A fortaleza; o inimigo tinha-a só der-
ribado,
Como pois sejão nomes abstractos verbáes, ser-
t?em de segundos termos de relações , com as preposi-
ções : v. g. a ler, para ler , entre lendo , sem sabendo ;
e quando lhes ajuntamos os n o m e s , eu , ou tu como
personificando os infinitas, e gerúndios, as preposições
não fazem mudar 01 ditos nomes: v. g. ç por et*
W
f . ' --.. '•• -r--I" - V-.K TV','" " ' ' . BjjS ,.(••.'•'.:' .,.';'„>.-.., .."Ji. '
DA G R A M M A T I C A P O R T U G U E Z A . ii®
e<
cÕ os verbos #cr,, ou haver diríamos; <?//<» se arre-
jpendia de ter saido &c. >
8; A Composição £ viciosa por concurso de sons em
palavras, que dão sentido torpe, ao que chamão ca-
cofonia , ou máo som ; v, g. te çtt' olhões tamanhos tem
aquella lebre ( Barros , Gram. J . i6S. ) : » a isto cha-
márão os nossos bons Autores caçajatão. , e Se m'amas ,
amigo. » ( Fcrr. Eleg. 5. ) (
9. Viciamos também as dicções nos tons das v o -
gáes, ou seus accentos: v. g. emrílos por <>mulos, in-
trep/do por intrépido , esplendido por esplêndido , & c .
( Ltfõo, Ortogr. ) «JÁj conjunção por mas com a mu-
do , & c .
C A P I T U L O IV.

Dos Sináes Ortográficos, e da Pontuação.

1. A Ortografia ensina as regras de escre-


T \ . ver bem , isto é , de representar aos olhos
os sons com lettras distinctas , e cada uma para seu
som proprio , e que não sirva juntamente de sinal de
dois sons. Disto já dice no principio o que basta para
um Resumo Grammatical.
Temos mais alguns sináes ortográficos dos tons
das vogáes em cada palavra, que já apontei no prin-
ci- j
•:V- • -'""•• I

ler , para eu ver , em eu sabendo , como por tu saberes ,


ou para tu ; e não por ti saberes; salvo se ti fosse
cemplernento de saberes: v. g. " bem obraste, se o fi-
zeste para saberes por ti mesmo a verdade , e não d'ou-
vida • )) onde por ti indica o meyo , ou pessoa, por quem
se faz a acção saber , com. sentido diverso de por tu sê-
beres , frase , na qual não se exprime o meyo , ou mo-
do de saber, mas só o motivo. " D'aqui dou o viver
^á por vivido: 1) è participio cognato do nome infiai-
tò. viver.;':-: '
0 0 Com a mesma differença e de sentido dirião os
Franceses die ests sortie , e elle a sorti. r
ISO . , ft P I T O M E
cipio desta Grammatica • chamão-lhes accentos 'pro-
sodicos O ) grave; ( ' ) agudo. (<>) v
2. Os Accentos oratorios, ou os tòns da v o z , com
que se proferem as sentenças : notão se cóm ( ! ) as
sentenças admirativas; u. g. j ó milagre estupendo !
Para as interrogativas temos ( ? ) v. g. ± Quem foi ?
i Quem o viu ?
3. Quando sesupprime Uma vogal usamos de O
V. g. d'o , d'as , 'no, 'nas , e não /10 , na ; porque o
que se supprime é a preposição em > e onde falta a vo-
gal , ai deve ir o sinal: v. g, c'o homem , por coin
o j chama se a isto ( ' ) sinale/a.
4. O Parêntesis ( ) inclue uma sentença inteira,
que corta outra, não tendo dependenciá uma da ou-
tra para o sentido : v. g. i E se a contecer essa desgra-
ça , (de que Deus vos livre) que será de vós ?
5. O sinal de divisão das palavras e ( - ) v. g. ás-
pero , Pro-consul, sem-sabor. (£)
6.

( a ) O accento circumflexo dos Antigos era sinal de


'evantar o tom da v o g a l , e logo abaixá-lo; nós não
temos semelhantes vogáes, e 0 accento circumflexo
nos é desnecessário ; os nossos Grammatico* accentujío
com elle vosjáes grave? : -v. g. vêo , fio , por vè-yo ,
jè-yo, Vc. Commumente não usamos de accentos pro-
sódicos , senão é para distinguir palavras' homonimas,
ou da mesma escritura , e divarsos sons e sentidos : v.
g . e s t a a caia de Pedro; está a casa de Pedro; -azeda*
ad;ect. de aztMas verbo ; /mpio de imp/o com licença
poética; tÀrno nome, de t<ímo verbo; saiída dividin-
do o « d o « , ou ditongando em l*«Ha , e panta, &c.
«em o accento , ou ápices : v. g, saüda, graúda , miú-
da. \
(b) Duarte Nunes , e outros adoptarão na divisão
das palavras as razoes da Ortografia. Latina , onde aspe-
rat, v. g. no fim da regra se dividiria a-spero, porque
ha palavras Latinas , que começão por sp, e assime
aspecto, &C. Mas£isto£C inapplicavcl ao Por tuguèz
DA GRAMMATICA PORTUGUEZA. F|FF|
6. Os Apices ( . . ) sobre duasVogáes indicão, que
não são di ton nadas: v. g. saüde , que se hade ler sa-tt-
</<?; feria de f e r i r , e diveiso deferia Outros nqtSo
estas differences com o accento: v. g. saúde, f e n a ,
feria. ""
7. A Virgulas ( , ) que aparta os adjectivos unidos por
conjunções, as frases incisas atadas por ellas : v. g.
homem douto , virtuoso , e amável; viu , e icw muito ;
, para ouvir o que me dizias : as incidentes ; v. g»
"João, que é meu amigo , veyo aqui. »
8. O ponto e virgula ( ; ) que aparta os sentidos per-
feitos com dependência de outros : v. g. dice, ^r/e vi-
ria a man ham , e ^ue praticaria nisso ; mas que em tan-
to &c. isto mesmo se nota talvez com dois pontos ( : )
Direi a Deus : Não me condemneis , Senhor.
9. O ponto só ( . ) que indica sentença acabada,
e sem dependencia de outra: v. g. Creou Deus o Ceo ,
e a Terra. A R ainha N . S. fundou a Academia Real dai
Seiencias de Lisboa.

TA-

contra a razão Filosófica. T o d a consoante deve ser


seguida de vogal , ou de Um e mudíssimo ; e onde elle
m o se escreve , tanto importa que a consoante fique
com a vogal antecedente, como que acompanhe outra
consoante : v. g. es-creve, que soa e-se-ke-rc-ve , por-
que se dividirá ao modo Latino e-screve ( p r ^ - s e t i b o )
e não es-creve, espelho ( speculum ) e não es-pelho. (fir*
togf. pag, i f ] , eseg.)
»" E P I T O MK

/V T A BOA S
(

Das Conjugações dos Verbos Auxiliares

Ser Estar Ter Haver.


M O D O S I N D I C A T I V O S .

Variações simples do Present®.

Pessoas do numero singular.


1 . E u Sou Estou Tenho Hei
2. T u J E J ( 0 Estás Tens, Tees Has
3. Elle É c u
He O) Está Tem,TU (}) Ha (4)
Pessoas do numero plural. '
l . N ó s Somos Estamos Temos Havemos,Hemes antiq.
a. V ó s Sois Estais Tendes Haveis, Heis antiq]
J. Elles São Estão Tem, Teem Hão

Va-

C O Nos antigos acha se Som , Sam , São , por Sou z


" ainda que eu pcca são : )) ( Camões , Tóm. 4
pesa tras por erro a ultim. ediç. ) Ercs por HJ.
( 2 ) Vulgarmente se escreve he com h contra a E t i -
mologia Latina , e o uso de alguns Authores Clássicos,
que escreverão é.
( 0 Ties , Tée escreverão os Clássicos conforme à
pronúncia , e á etimologia de Tenes, Tenet, Latinos.
C4> Ha ou á nunca foi variação do verbo Ser ; na
frase " Que como des gran tempo ha fosse conten-
da )) 011 dès, o LI ha se devia ornmittir; f i c a n d o , que
como dès gran tempo fosse contenda , ou que coma ha
gran tempo fosse contenda. C V . Elucidar, de Palav. A/ií,
art, A )
DA GRÀMMATICA PORTUGUESA» I*$

Variações simples do Passado.


Singular.
1 . Eu Fai Estive Tive Houve
a. T u Foste Estiveste Tiveste Houvêsie
3. Elie Foi Esteve Teve Hotrte
Plural.
1 . Nós Fomos Estivemos Tivemos Houvemos
2 Vós Fostes Estivestes Tivestes Houvestes
3, Elles For a o Estlverao Tiverão Heuverão

Variações simples dõ Futuro.


Singular.
í . E u Sn-ei Estarei Terei Haverei
2. T u Serás Estarás Terás Haverás
3 E l i e Será Estará Terá Haverá
Plural.
I.Nós Seremos Estaremos Teremos Haveremos
« • V ó s Sereis Estareis Tereis Havereis
} . Elles Serão Estarão Terão Haverão

Variações simples relativas

D o Presente , e do Passado.
Singular,
1 . Eu Éra Estava Tinha Havia
2. T u Eras Estávas Tinhas Havias
3. Elie Éra Estáva Ti alia Havia
Plural;
I Nós Éramos Estávamos Tínhamos Havíamos
a . V ó s Éreis Estáveis Tínheis Havíeis ($)
J.Elles Érao Estávao Tínhão Havíão
:
\ , ^ : ; V ; . " ' ,, " Po

( O O s Antigos dicçrão haviades 9 tinhades, & c . Bar*


ros , e outros ommittirão o d , e dicerão tinhais, ltavietis9
C?c. V . o Clarim. L. 2. c. 3 x.J. 377. e vários outro? lu-
gares : fail ais j f . 384. e 4 1 7 . queriais , / . 420. M J á vós
jazedes (jazeis ) peixes nas redes )) ê um resto daqüel-
Je uso antigo nesta frase proverbial. Muitos dosanti^
1*4 E M T O M E

Do Passado em época passada,


Singular.
I . E u Fòra Estivera Tivera Hottvéra
Tu Fòras Estiveras Tivéras Houveras
}. Elle Fòra Estivera Tivera Houvera
Plural.
1.Nós Fôramos Estivéramos Tivéramos Houvéramos
2. Vós Fôreis Estivéreis Tivéreis Houvéreis
3- Elles Fòra» Estiver«<? Tiverao Houvérãó

Do Futuro relativo ao Presente , e ao Passado , que de-


nota incerteza, ou aproximação.
Singular.
1. Eu Seria Estaria Teria Haveria
2. T u Serias Estarias Terias Haverias
J. EIJe Seria Estaria Ter in Haveria
Plural.
I . N ó s Seriamos Estaríamos Teríamos Haveríamos
a. VÓS Seríeis Estaríeis Teríeis Haveríeis -
3. Elles Ser ião Estar ião Ter ião Haveriao

„ As variações compostas do Modo Indicativo for-


mão se com os verbos auxiliares , e os gerúndios, para
indicar o attributo verba! actual, imperfeito : v . g. Estou
tendo , Estive Lendo, Estarei Lenda , Estava Lendo, Esti-
vera Lendo,Estaria Lendo, As que representão o attributo,
ou acção do verbo como perfeita , e acabada , compõem
se dos auxiliares Ter , Haver , com os Supinos .: v.g. Te-
nho Lido, Tive Lido, Tivera Lido , ou Hei Lido , Houvéra
Lido, Haverei Lido, &c. As mesmas variações perfeitas do
verbo auxiliar Ter se formão cotn as simples s u a s , ou
do verbo Hei: v. g. Eu hei tido , ou tenho tido ; eu
houver* tido ; eu houve comido ; eu houvera tido, lido ,
contidj ; &c. Haverei Sido , Terei Sido , Estado , Tido ,
Li-_

go? escreverão Aayrr sem h , e dicérão ai por <í i , ou


V. a Ulisipo , /. 1 5 . 2ó. z 12. Barros, Oram.
DA GRAMMATICA PORTUGUEZA.
Lido , &c. Hei 4c ser , Havia , Tiníia de ser, & c . são de
Futuro. ( 6 ) ft
Modos Imperativos.
Singular.
2. Sè tu Está tu Tem tu Há tu (Have a n t i q . )
Plural,
Sede -vós Estai v ó s Tende v ó s H<iv<Jivós

M O D O S SUB J U N C T I V O S

De Futuro a respeito do Presente, e ainda do P w ^


saolo. ( 7 )
Singular.
l^ Eir Sfyá Esteja ( 8 ) Tènha Hája
2. T u Sr/aí Estèjas Tenhas Hajas
j^EJle Sèja Esteja, Tènha Hája
Plural,
1 . Nós Sejamos Estejamos Tenhamos Hajamos
2. Vós Sejáis Estejais Tenhais Hajais
J . Elles Sèjao Estèjão Tènhiiê Hájao
De

( 6 ) Mas impropriamente sç dizem tempos dos ver-


bos.; são frases ellipticas, Hei de ser,, é hei tensão,
desígnio , esperança , intento , resolução de ser.
( 7 ) E u (juero. que sejas \ Deus qiih que tu fosses.
Quando 1 a acção do Subjunctivo ainda não^é completa t
feita , mas actual , ou futura , ajuntamos àos pjreteritot
do Indicativo as variações de futuro \ V. g. Deus anis
que sejas avictima deste sacrifício. ( V . Lus. j . a o . )
" Este (j uii o Ceo justo quefioreça, )) U lis se a , 7 . 6 Í .
J o ã o escreveu-me , que lhç appromte umas caias » quan-
do inda não as a p p r o m t e i , se houvesse appromptado
diria : " escreveu-me que lhe appromtasse as casas; )> e nes-
tas mesmas variações também indicamos aperfeição d»
acção , i. é , que lhe tivessejromptas, QV. Lusiada3».
« i - h . • • , ; m .
( S ) Estè, Estès y-Estè , Esternos , Esteis, Estem , dí»
Subjunctivo são antiquados, e SUdes pòr e s t e j á e ^ l
HL E PI T O M E

De Futuro a respeito do Passado.

Singular.
I, Eu Fàsse Estivesse Tivésse Houvesse
S. Tu Fosses Estivesses TivésseS Houvés-ses
f. Elle Fòsse Estivesse Tivesse Houvesse
Plural.
1. Nós Fôssemos Estivéssemos Tivéssemos Houvéssemos
2. Vós Fósseis Estivésseis Tivésseis Houvésseis
} , Elles Fossem Estivessem Tivessem Houvessem

De Futuros do Subjunctivo,
Singular.
I. EU" For Estiver Tiver Houver '
a. Tu Fores Esúvéres Tivéres Houveres
3. Elle Fòr Estiver Tiver Houver
Plural.
1. Nós Fòrmot Estivermos Tivermos Houvermo»
a. Vós Fordes Estiverdes Tiverdes Houverdes
J , Elles Forem Estiverem Tiverem Houverem
Neste modo Subjunctivo também combinamos
• s Auxiliares com os Gerúndios, e Supinos, para indi-
car o estadoimperfeito : v. g. que eu esteja sendo , lendo ,
ouvindo ; OU estivesse sendo , lendo , ouvindo ; estiver
lendo, ouvindo : e para indicar o estado perfeito dos
Auxiliares Ter , Haver ; v. g. que eu tenha , ou haja
estado , sido , tido , lido , ouvido ; se eu tivesse, ou hou-
vesse sido 9 tido , lido, ouvido j quando eu tiver sido,
houver tido , lido , ouvido,

MODOS I N F I N I T I V O S

Impessoáes, e sem relação a época alguma.

Ser Esta)- Ter Haver


Singular*
Pessoáes.
I.ic/'CU Estire u Ter eu Havère u
a . Se-
DA G R A M M A T I C A P Ò R T U G U E Z A . iaf
t. Seres tu Estares tu Tères tu . Havères tu
Ser clle Estárelie Tcrelle Hávèr elle
Plural. :,,.
1 , Sermos nós Estarmos nós Tèrmos nós Havèrmos nós
3, Serdes vós Estardes vós Tèrdes vós Haverdes vós
j. Serem elles Estarem elles Tèrem elles Haverem elles

Supjnos e Partioipios do Passado.

Sido Estado Tido Havido. Sido nio é par tf*


cipio , pois Ser nunca foi passivo , ainda que digamo*
seja-se designando espontaneidade de.ser tal , ou tal.

Gerúndios , e Participios do Presente.

Sendo Estando Tende Havendo (j)

Exm

( 9 ) Também cõbinamos os Infinitos auxiliares com


os Gerúndios, ou Participios, e Supinos: v. g. Estar sen-
do , Jendo , ouvindo ; e com,os Supinos t v. g. Tcrhido ,
Lido, Estado, Ouvido: mas éstas côbinaçóes háo se
referem a tempo, senão ao estado de im perfeição, ou per-
feição 1 ; e são os participios concordando comas pessoas
a quem se attribue a acção , v. g. " estar eu lendo então
ou a ler, me fez não advertir, que passavas. # Ter
lido, c ter o attributo ler completo, acabado, y, " o
ter lido agora , Jwntem , o ter lido á manha , quando vie-
res , ó o menos, o mais é , ou será ter decorado. » Haven-
do de, haver algum risco ( Lobo, C. Dial. iq. ) é , em
havendo caso de haver algum risco; havendo d'haytr *
i. c , razão, direito, caso, Inedit. Temo } / . a « i à
que haveis de haver, se. destino, sorte de haver, (Cla-
rim. )
m E P I T O MÊ

x
E M P L O

Das Quatro Conjugações Regulares em Ar, Er,


•> I r , C?r. ( i )

Variações simples absolutas dos Modos Indicativos f

Do Presente, a
Singular.
Eu Amo Defendo Appláudo Pònho
T u Amíií Defende* A p p l á u d a v Pois , ou Pões
Elle Am« Defende Appláude Pói, ou Põe
Plural.
Nós Amámos Defends/no* Appláudwnof! Pomos
Vós Am ais Defendeis Applaudix Pondes
Elles AmÃo Defende/n Applaudest Põem

Do Passado.
Singular. v
E u Am^i Defend/ Applaud/ Púr.
T u Amáste Defendeste Applaud/si* Poxêsic
Elle Kmòu Defendi Applaud/" Pò
. Plural. v -1
Nós Amámos DefendeWí Applaud/mo* Pozémos
Vós Amóítfí Defendeííex Ápplaud/jíèí Pozéstes
Elles Amarão Defenderão Applaudirão Poiérão

_: Escrevo Pois , Põi,Pozesíe , Pótimos , Pozestes ,


Pozérão , por serem mais análogos ao Latim Pouis,
Ponit , Posuisti , Posiumus , &c, e assim se pronuncião
como os escrevi : outros escrevem Puzcsic, Puícmos,
tó Ev ' . &c.

( i ) Os Verbos em or antigamente tinhão o infiniti-


v o em er , eerao irregulares da a? Conjugação , porque
dináo Poer Compoer , Prdpoer & c . agora fiz dei les uma
quarta conjugação , ou exemplar de P o r , e seus deriva-
dos., que como elle se tonjugão.
PA GRAMMATICA PÓRTUGUEZÁ.
be. com it, por o mudo. Lus. 8. 70. proposerao , op*
postrão, J ," "v
t':-:'•/'•• "'. DoFutyro, If | f J S l
Singular.
Eu Amarèl Defenderei ApplaucM Porèi
Tu A m (trás Defenderá* Applaudirá* .' Porás
Elle Amará Defender! 'Applaudim Porá
Plural.
Nós Amíjrèmpj.Derendtr^joí ApplaudWmoJ Porèmoi
Vós Amareis Defenderè/j Applaudirèií Porèii;
Siles Amarão Defendera o Applaudinw Porão1

Variações simples relativas do Indicativo*

Do Presente a respeito de uma época passada^

•Singular.
Eu Amáv<i- Defend/fl ; Applaud/í» Punha
Tu Amátw Defend/Vu Applaud/aJ <• Punhas
Elle | m á v 8 Defendia Applaud/a Punha
,r
Plural. , ' , - , -
Nós 'Amávamos Defend/tfwof Applaud/âmoí Púnhamos
Vós Amáveis Defend/etJ Applaüd/eií Púnheis
Elles Amávão Defend/^ Applaud/^ Púnlião

Do Passado em época passada*


Singular.)./ ' • , * * "
Eu 'Amara DefendcW Applaud/n» Pozêra
Tu Amáras Defendeu Applaud/rflí Pozéras
Elle Amára Defendera Applaud/m Pozérá
Plural. A • • l. '
Nós Amáramos "Defendêramos AppjáudírrtmoJ Pozéramó»
Vós Amáreis Defendêreis Applauding Poz éreis
^lles'Amarão D e f e n d e r á Applaudír*™ Pozérão

Os Antigos dicerao Amárom , Defendèrom , App/ati-


dtrom, &C, e antes Amarum , Ficaram } & c . do Lati?n
amaruirt por, amaverunt• os Franceses m 11 dando o #wj
, m
t derao as desinências em oni V. Elucidário y Art,

I
Iff ';'Wf I P I T O M E
Jiabilon , T . 1 . /wg. 1 6 $ . col I. Daarte , Orig. c.
29. adverte bem , que os futuros em ei, farei, om^rci,
& c . e os em ia , <77»<?ri<i, leria , são os Infinitos compos-
tos' com hei de h a v e r ; e os em iíi do imperfeito de ir ;
eu amaria, i. é , eu ia amar , ou hia por havia,

Do Futuro a respeito do Presente e do Passado, designan-


do incerteza, possibilidade, ( a )

Singular. ,
E u À m aria Defendi Applauding Por ta
T u Am arias Defend erías Applaudir/ru Porias
Elle Amaria Defender/a Applaudir/a Poria
Plural. ,
Mós Amaríamos Defenderíamos Applmdiriàms Poríamos
V ó s Amaríeis Defenderíeis Applaudir/m Poríeis
EllesA maríao Defenderia Applaud iríão Poríão

Os tempos imperfeitos se formão com o Auxiliar


Estar, e com os" participios, ou gerúndios: v.g. Estou, Es-
tive, Estarei, Estava, Estivera, Estaria amando , de-
fendendo , &c.
Os tempos perfeitos compõem se dos AuxiliaresTcr
ou Haver com o supino : v. g.-Hei ou Tenho lido^, Hou-
ve lido , Haverei ou Terei lido ; Havia , ou Tinha li-
do > Houvera ou Tivera lido , Teria ) lido, &c.

Mo-

( a ) A m e s m a incerteza se denota com o futuro ab-


soluto do Indicativo fallando directamente . . . ^
Que gente será ésta< ( e i n si dizião). x
Que costumes, que L e i , que R e i terião.
-Lusiada , 1? f f e 2. 0 3. •
" L á estarão tres até quatro mil homens. » " ' Q u a n d o
T u i ao camp D , estarião lá perto de tres mil homens. Ti
Dice que virião , .absolutamenre; é , que virião , se po-
des sem i acondicionai se fez O vi rião incerto** / ^ . i
DA GRAMMATICA PORTUGUEZA. F|FF|

M o d o s Imperativos.
Singular. , t
Ânírttu Defende tu A p l a u d e tu Põí t u , o u P ^
Plural.

A m ái vós Defendi); vos Applaud/ vós ( 3 ) Pónde v ó s

Modos Subjunctivos. ( 4 )
Singular,
Eu 2me Dê find a Appiáuda Ponha
Tf.il Amei- Defendei Appíáudtfj Ponhas
Elle i m e Defenda Appiáuda Ponha
Plural.
Nós Armemos D e f e n i a m s Applaudà/woi Ponhamos
Vos- Amèis : -Defen&íii AppiaucMi* Ponhais •
Elles Ami/?) Defendia Appiáudíío Ponhao
Singular.
Eu Âmásse Defendc^íe Applaud isiè Pozésse
T u Amrt-ncí Defend<?««' Applaud/jíM Potésses
Elle • Amásst Vekridèsse Apphud/íJe Pozésse "a
Plural.
Nós Amássemos Defendêssemos Applaud;ssemos Pozêsscnioi
MM Amásseis Defendèíjeij A p p l a u d f r j m Pozésseis
Elles Amássem Detende'.UÍ/N ApplaudíJJffff» Pozéssem .
I ii N.
O ) Os Antigos dicérão no plural do Imperativo
de , D-jendede \ AppUudide , conforme á E t i m o l o g i a La-
t i n a ; depois tirarão o d, e ficou 'aniae , defende jjj, ap-
piau die, iNas Ordenações Afonsinas se achão exemplos.
o L 1. T . 1} ç. 5. 1 1 antes lha comprle i e guardaet, »
( 4 ) N a T a b o a dos Auxiliares dice ô uso das varia-
ções subjunetivas; as primeiras usão se , quando o ver»
bo no Indicativo está rto>presèwe.:" v . g. q^er!à' que de-
fendas ; as segundas quando o verbo principal está no
preterito : v . g. qua que defendesses : ."eu .fvtria que
amasses a Deus : m u i t o favor ms faria* a g o f a , s f f f ^ e i
comprar-mé isso. Lusíada, a. est. 7, u d'4gun.s-' què
trazia, porque podessem ser aventurado 8 ? MaHda dole
porque notem. )) ( F , a Estança l). do èh. Ciht, a . )
IJL E P I TOME

N . B. O uso destas variações fica explicado nos


Subjunctivos dos Verbos Auxiliares, a p a g . 1 2 5 . n o t a ( 7 ) .

Futuros do Subjuncrivo.
Singular.
E u Amar "Defender Applaud/r Por. ir
T u Amares Defender*/ Applaud/rtfJ Po teres
Elle Amir Defender Àpplaud/r Poiér
Plural.
Kós Am irmos Defend^rmoj ApplaudíVmtfí Pozérmos
Vós Amardes Dcknúèrdes Applaud/rcfej Poiérdes
Elles Amárem Defendera» Applaud/Vív?» Po té rem

Nestes Subjunctivos compomos o Auxiliar Esteja


Subjunct-ivo com os gerúndios, ou participioá do pre-
sente para denotar a imperfeição da acção : v. g. que eu
esteja ou estivesse amando , lendo, ouvindo : e dos Au-
xiliares Tenha , Haja , Tivesse , Houvésse com os su-
pinos para designar o complemento da acção , oú do
attributo verbal : v. g. que eu haja ou tenha lido ; se
cu houvesse ou tivesse lido ( 5 ) ; se eu estiver lendo;
quando eu houver ou tiver lido , &c.

Infinitivos puros.

Amar Defender Applaud/r» Pèr


In-

N .
( $ ) Mas estas variações requerem um tempo futuro :
v . g. manda , que amanha lhe tenhas aparelhado a ca-
sa : mas na Lusíada , 1 . 74. " Está determinado que
tamanhas victorias hajão alcançado os Portuguezes das
indianas gentes )> é improprio , e devia ser que alcan-
eem , que não rima com determinada , e por isso o Poe-
ta não usou da v a r i a ç ã o , que o sentido p e d e ; htyão
àtançado suppõe uma época futura determinada , den-
tro da qual a acção deve estar perfeita : v. g. que anu-
níiã por noite hajas «cubado.
DA GRÀMMATICA PORTUGUESA» I*$
Infinitivos Pessoáes são como os futuros dos Sub"
junctivos, Araar, Am arcs, & c . Defender, D e f e n d ^ * , See.
Applaud/r , Applaud/rctf , & c . Os do verbo P à r e deri-
vados são assim : Par eu , Pòres tu , Pòr elle , Pormos
n ó s , Pordes vós , Pòrem elles.

Supinos e Participios do Passado,


Amido Defend ido Applaud/cfo Pòsto

Gerúndios, e Participios do Presente.

Knúr.do DefendtWo Applaudí/W* Pòndo


4 ' . ' âr

Dos Verbos Irregulares,

que tem o Infinitivo em ar.


Estar já vai na Taboa dos verbos Auxiliares ; se-
guem-no seus derivados , Constar , Prestar , Sobreestar
( e não substar como diz o v u l g o ) .
Bar : Presente do Indicativo Dou, Dàs , & c . coiflo
Estou , Estás ,.&c, Dava, Davas, &c. como Estava , Es-
tavas , &c. Passado Dei, Déste, Deu , Dêmos , Destes ,
Déreo. Passado relativo ao passado D m r , Dtr<iJ, & c .
como Defender a , Defend èras , &c. Subjunctivo E u D * t
T u D& , EIJe D ^ , Nós Demos, Vós Deis, Elles Dew.
Eu , T u Desses ; como Eu Defendesse , T u De-
fendesses } & c .
Os verbos em car mudão à c em du antes de e :
v . g. Busquei, Toquei, , TÍK/WÍ , & c . T a m b é m
os verbos am gar, tem u depois do g , quando se se-
gue e : V. g. joguei, folguei. Estas duas irregularidade»
nascem dos diversos sons , que dão a g , c c antes de
« o u e i , \t da má Ortografia que adoptámos.

Supinos e Participios dos verbo em ar.

Annex a do de Annexar Annex», adj. anda annexo'?foí


aiinexad,o',jáfoianNt-
9ta de outros prédios.
1,5* E P I T O M E
Captlvado de Captivar Captivo, adj.
Cegado — Cegar Cego , adj. cegado o fosso com
fachina , partic.
Descalçado —Descalçar Descalço : v . g. tendo descalçado
os sapatos\cstou descalço.
JEntre
ado —Entregar Entregue ; e Entregado á morte.
( Lusíada , j. )
Enxugada — E n x u g a r Enxuto ; e j f j : ^m
gado bons cópos.
Jzscttsado —Escusar Escuso foi , ou Escusado : foi
CK/O do s e r v i ç o ; foi
trabalho escusado , bal-
dado , desnecessário ;
despesas —.
Exceptuado —Exceptuar Excepto ( 6 ) .
Expressado —Expressar Expresso : a s u a vontade é ex-
pressa; e foi expressada
bem energicamente : é
, decisão expressa da Lei,
Expulsado —Expulsar Expitlso.
Fartado —Fartar
Infestado —Infestar Farto.
Infestado : a terra anda Infestada
de ladrões; homens in-
festos ao nome Christão ;
os mares infestados de
Cossairos.
Inquietado —Inquietar Inquieto é adj. tem inquietado ; e
tras inquietos.
Isentado —Isentar Isento.
Juntado —Juntar. Junto : se tiúMo junto muitos v a -
rões em Veneza. (Severpn,
.'„.."* JSTotic. )
Limpado —Limpar Limpo à adjectivo.
Muni/estado —Manifestar Manifestado , e Manifesto , v .

If*.
( 6 ) Dizemos : cxceptos Pedro e Francisco : excepto
eu : ío\ exceptuado deste numero ; ficou exceptuado o
e&cepto ( no Foro ) contra quem se ailegou excepção.
DA GRAMMATICA PORTUGUEZÀ. I JF
g. a Lei de Deos foi manifestada a todos pelo:
A p o s t o l o s : este principio de moral è claro
e manifesto : todas essas razões me forão ma
infestadas por vós inesmo , e já me erã<
manifestas pela minha reflexão., e por ou-
tras averiguações.
Matado de Matar ? dizem : a peste tem morto muita gen-
t e ; J o ã o foi
morto- na briga ; depois de ha-
ver morrido , ou ser morta muita gente. Mor-
rido participio não se diz : v . g. estou morrido ;
mas morto.
Molestado —Molestar Molestado participio usual , OU
molesto : v.-g. está molesto de ca-
ma : tem um braço molestado da
queda. " deste causa á molesta
rporte sua, ))
Occulta do —OcQultar Occulta.
Pagadj —Pagar Pagado , e Pago : as dividas estão
pagas : dos enganos de Amor t i o
pagado j satisfeito , contente : re-
munerado. husiada , 10.
Professado —Professar Professado: a Religião ChristS pro
fessáda em toda a Europa : caval-
Jeiro , frade professo : tem profes-
sado miíitos noviços , ativa , «
neutramente. ( 7 )
Quietado"—Quietar Quieto: Quedo é de Quedar, antiq
Salvado — S a l v a r Solvo, \
Seccado —Seccar Secco.
Se-

( 7 ' ) V. g. este anno tem professado m$ji$os noviços,


u
i . c , feito profissão: este P. tem professado muitos no-
viços , p o r , tomado a profissão : como , muita gente tem
hoje comungado recebido a còmmunhão ; este P. tem
com mangado hoje a muitos , p o r , dado, a Communhão , ou
recebido á C o r a m u i i h ã o Sacramentai : o homem eftá con-
fessado y c commungado , de queto coinmungou : faleceu
confessado , e íommttngàdo. %'""N*' ff
V
,,6 FIP ITOM.Í
Segurada de Segurar Seguro; e Segurado, que fei asse-
gurar o navio , & c .
Sepultado —Sepultar ( insepulto ) foi sepultado.
Soltado —Soltar Solto,
Suspeitado —Suspeitar Suspeitado : estar a tenção suspei-
tada , differe da" tensão , ou v o t o
suspeito : lugar suspeito , homem
suspeito ; de que se tem suspeita,
.duvida, desconfiança , receyo.
'Vagado —Vagar Vag0 ' está vago o officio ; tem
vagado muitos benefícios.

Afecto , e Grato , Promto, Kapto , não se derivão


- de Verbos Portuguezes , e assim Ignoto , e Misto ; mas
são adjectivos : este sujeito me é mal afecto pouco gra-
to ; estar promto ; sujeito promto ; estava rapto ; náquelle
rapto \ rapto movimento ( Lusíada ) ; causas ignotas; pa-
lavras mistas de L a t i m , ePortuguez: Murcho é adje-
c t i v o ; Murchado participio. o cheiro traz perdido , a
f hr murchada. » (Lusíada , 3. ) A flor está murcha; an- .
fia tão triste, e tão murcho.
DA GRAMMATICA PORTUGUEZA.| 111
j E P I T O M E
DA GRAMMATICA PORTUGUEZA. F|FF|
1
»40 m i l l * T O M l
Eu , QaMr ± Sôukér y Treuxcr , Valèr, Podêr,
Vicei-, Ler, í r t r : as rnais variações são regulares
como De fen d-cr,—eres, —-ar, -ermos, -er de?,-trem.
Vir, --vires, &c. como Applau^ir,—ires,—ir,—innos%
—irdes,—irem. ..

O s Infinitos puros fição apontados. O s Infiniti-


v o s Pessoaes são como os do regular Defender —cres
*R,. —ÍRWO/ , — W C J , — Í-AV,,. '
O s G e r ú n d i o s , e Participios do presente em en-
en
> * Í° ' Querendo, Sabendo, & c.
O s S u p i n o s , c Participios do passado em ido ;
menos os jrregularcs, que v ã o na T a b o a seguinte. ( 5 )

Supinos e Participios differentes, dos verbos .que


tem os Infinitivos em er.

De S Pârt
A, . »P- - *
^solver A b s o l v i d o — i d o . Absolto de culpa'e pena :
é homem absoluto ; que não respeita supe-
rior. Abioluto, it. absolvido ( Freire ) : ÍIÍ-
W/o ( S o u z a ) .
Absorver Absorvido Renda , absorvido : a al-
ma ÍJAJO^ÍZ em Deus : absorto nas ondas :
absorto em contemplação.
Accender Accendido Acceso. os brados accendidos \
part. ( 6 ) '
• • " ' Agra- .

O ) O 5 Antigos formara® os Participios em udo : v . g.


T W * ( h o j e appellido que por ignorancia escrevem
1 hemudo ) Creiído , por Temido , Crido ( ainda hoje di-
zemos Tf/Wa e Mantcúda m a n c e b a , cava!lo manteúdo;
o owttjfâb da c a r t a , f a r d o , caixa ) i reteúdo , r e t i d o ;
tendudo pendão , t e n d i d o , & c . são archaismos.
( 6 ) O estomago accendido , acessa a guerra. Lus.
est. 48. e 5 1 ; e 57. Dardania .aVcíM j abrasada*
accendido em sanha ( Clarimundo) a alma d»
paixão , &de 6.) , (Palmer.
e M ^ / r , ) palavras accesas de S / C y p r i a n o ( Arra.es )
DA GRAMMATICA PORTUGUEZA. F|FF|
Agradecer Agradecido — - i d o : animo grato , por
agradecido no sent, activo. \
Apprazer ApprazídO —ido. 1 V , ,
Attender Attendido — i d o ; it. attentat y.-g. at-
tentas as razões, part.
Caber Cabido —ido.
Conhecer Conhecido —ido.
Convencer Convencido — i d o : convicto, part. p. us.
Converter Convertido — i d o t dizemos porém irmã0
v
converso. *. *~'
v
Corromper Corrompido — - i d o .: e talvez corrupto. V .
o Diccionario.
Defender Defendido — i d o : Defeso , prohibido :
v. g. portos defesos , fazendas defesas.
Eleger Elegido Eleito : «s Antigos dicerão elegido,
*no participio. • ' , li
Encender Encendido «—ido. * .
Envolver Envolvido Envolto 1 it. envolvido nadéi T
g r a ç a : embrião envolto nas tunicas; corpo
envolto em carnes ; vox, envolta em choro,"
Escrever Escripto o mesmo : escrevido c antiq.
Estender Estendido o mesmo : estense i adj. ou tx~
tenso.
Haver Havido o mesmo. / • "••.. ^
Jazer / Jazido carece, (r
Incorrer Incorrido o mesmo ; e também incurso.V.
O Diction, art. Incorrido. W"'^
Interromper Interrompido Interrupt» ; p.-us,
Nascer -Nascido ido '.nadoé aatiq. f,*
Morrer Morrido Morto : morto também c S u p í n o : v .
g. " Lembre-vos quem tendes morto ; )) que
mais prepriamente é de matar : morrido nun*
ca é participio , poigquè não dizempa sou ,
nem estou morrido , ainda que digamos c'«
Supino tem morrido muita gente,
k
s , ' f! v ' % Pren-

febre accesa (ttist. Nauti T . 2. f . 65.) accesa earida»


de (JFhi Sanct.f. 254. f , jft ' ^ ^ ^ Ê Ê Ê .
E P I T O M E
Prender Prendido % Preso. fí'f
Preverter Prevertido } P r e v e n d o : dizemos também
no part, homens, a costumes preversos, ou
perversos.
Querer Qubrido, Sup. ePartic, it o p a r t , quisto ;
bem ou mal quisto : é querido , e amado de
todos.
Resolver Resolvido Resolvido : dizemos porém :
é homem resoluto , já' vinha resoluto a fazer
isso ; fasolutos neste pensamento.
Romper R o m p i d o Roto também c partic. • sup.
o roto alunno ; as rotos velas; vão rotos oS
Reis de Sevilha e Granada: tem roto, c
destroçado. Supin. (Lusíada, Canto í.^
Saber Sabido o mesmo ; e conao adj. homem sa-
bido , e res a bid o,
Ser S i d o : não tem partio. nunca se dice c , ou'
está sido.
Suspender ; Suípendido,.sup. e part. Suspenso no fig. estar
suspenso , ficar suspenso : como sup. os Bis-
pos que tinha suspensos,, p. us. ( Cron. Cis-
ter, L. 6. c. 1 0 . ) Suspendido, pendurado.
Ter T i d o , sup, e part.
Torcer T o r c i d o : T o r t o , part. it. os olhos , as vis-
tas torcidas , olhos tortos; tortf de olhos t
pés : a linha , a régua torta , ou torcida.
Os verbos derivados conjufão se como as suas
raizes : v . g. Desfazer , Reler , como Fazer , e Ler Pro-
ver como ver , e assim se, deve dizer Proveja , Provejas ,
, &c. no Sub;, como Veja , Vejas , &c. Prova , Provas ,
no Subj. são erros do vulgo, V.o Dicc. art. Prover. " - P o r
tanto Senhor proveja, que eu desembargado seja. ))
Cam. R*edond. e Lus. i . 5 5 / e do mais necessário vos
proveja T a l é o uso clássico.
Eleger , Reger, mudão o g em j antes de a e de
o : Eleja , Reja , como Veja , bic. Jazer , eu Jaço ; Sub-
jifnct. elle jaça, ou jaza , como hoje dizem : Jouve y
Jouvéra , Jouvesse , pouc. ui.Jazi , Jazeste , Jazeu , Ja-
zeria , zJaiésKès, por Jottve , Jouvest* , Jouvcmos , dizem
agora. ^ j)0»
DA GRÀMMATICA PORTUGUESA» I*$
§44 - E P ITOIilE
DA GRAMMATICA PORTUSUÉZA. •. ''ti.'
M?
E RI T O M E
*>À GRAMMATIGA PORTUGUESE
1,5* E P I T O M E
Medir segue a Pedir mudando o d em f , coin©
Medir, Meço, Peço-, Meça r Peça, no Subjunctivo.
Advertir , Despir , Digerir , Ferir , Fregir , Men-
tir , Seguir , Sentir , Vestir , e seus derivados, conjuga©
se como Servir , e mudão O f e m i , como Servir : v .
g. eu Advirto , e Advirta , Dispo e Dispa > Digiro e
Digira, Firo e Fira, Frijo e Frija , Minto e Minta ,
Sigo e Siga , Sinto e Sinta. Os Antigos dicerão Sento,
por Sinto , e eonsento , &c. Senta por Sinta : Sigue , Im-
perat. pot Segue.
Acudir , Bitllir , Construir , Consumir , Cuspir ,
Destruir , EnguJir , Fugir , Sacudir , Sumir , Tus sir , e
outros conjugão se como Subir, e mudão o u e m » ,
onde Subir o m u d a : os Antigos porem dizião Açude ,
Construe , Consume, Destrne , Tuge , Sume , «em mudar
o u era o , como agora geralmente fazemoí : " Que fogo
hè só qué queima e não consume. )) Camões.
Os Verbos , que tem g antes de i , mudão-no em
j antes de a e » : v. g. Finjo , Dirijo , Finja , Dirija , kc.
O s Compostos do Verbo Pedir , Impedir , Despe-
dir , tem no presente do Indicativo e Subjunctivo I m -
pido , Impida , Despido s Despida ; ainda que algun» di-
zem Despeço , Despeçà-se : despida, S u b j u n c t i v o , confun-
dir se-ia com despida , lemin. de despido.
Rir ; eu Ri* , ou «ntes Ryo , tu KÍJ , elle Ri; nós
Rimos , vós Rides, elles Rim. Imperativo , R i tu , Ri-
de vós. Subjunctivo , Ria , Rius, Ria , Riamos, Riáis ,
Rião : Risse, Risses , Sic. como o regular applaudissc 3
—isses , & c . Alguns dizem : eiles riem-se t mas rim é
clássico , riem íinalo t ;o a rident, tira o equivoco de
rim verbo com o rim nome.

Supinos , e Participios dos Verbos em ir.

Sup. Part.
Abrir AbrUh Aberto : comrmimente dÍ7«rn
aberto no Supino. " tem-llit
aberto os olhos : por ter abertt
a «..uccessãojcontra ÍIB ordens,í
Abs-
DA GRAMMATICA PORTÜOUEZA. 15 F
Âbstrahir Abstraindo Abstracto. ' *
Affligir Afligido Afligido t Ajpicto: ' P 7 , 1
Cobndo
Coberto, e s e u s derivados; cp-
berto por Supino é usual,
Concluir Cohcluido Concluído. Concluso o ' f e i t o .
Confundir Confundido Confundido: Confuso estilo 5
idej/as confusas.
Contrahir Contraindo Contraindo ; v . g. dividas con-
^ trahidat: contracto por abrevia-
do.
> DitTundir Diftendido Difundido : v . g. Lttx.es difundi-
e
v." das : Difuso estilo,
Dirigir DinV/í/é» Dirigido : Directo por direi-
to ; v . g. ordem directa , oppose
ta a inversa ; por modo directo y
' indirecto.
Distinguir Distinguido D is tin cto : tem fc distinguido ; #
m«/ distincto o caso.
Dividir Dividido Dividido. Diviso, pouco usado,
frigir Erigido Erigido, C Erecto
Exhaurir Exhaurido E o c L 4 , e E c c i w , de for-
ças , de dinheiro : as dilações
estão exhauridaj y acabadai"; t.
forense.
Expellir Expellido Expulso.
Expremir Expremido Expresso.
Extinguir Extinguido Extincto.
Extrahir Extraindo Extraindo : certidão— ; j f e r * .
cif óleo ; os Extractos na Far-
inada ; oiro extraindo ; fazendas
. . extrahidas.

oprimir Imprimido é antiquado; dizemos: " Tem se


Impresso nníiíos Livros : foi o Livro im-
presso em Lisboa : » chitas impressas ; pala-
vras impressas ; &c.
Jrickiir incluído Inchado : v . g . ficou inchado nfr
qüelie n u m e r o , ou conta ; a carta inclusa":
cc
â sentença , que jaz no verso inclusa. *
In-
L6O 'E P 1 T O M E
Infundir Infundid• Infundido , posto de i n f u s ã o :
idéyts infundidas , infusas;
s ciência infusa j lux. infusa.
Inserir inserido Inserto.
Instruir Instruído Instruído, Instructo, pouco u».
no batalhão instruido , esquadrão
—— ; apparel hado d'armas ^
apercebido.
Opprimir Opprimtd* Opprimido : Oppresso é pouco
«sado.
Possuir Possuído Possuído: Possesso do Demónio.
R e p r i m i r Reprimido, c partic. Represso, pouco usad.
Submergir Submergido , e partic. e Submerso ( n o figura-
do)—em vaidade.
Snpprimir Supprimido, e part. it. Suppresso,pouco usad.
Surgir- Surgido Surto.
Tingir Tingido Tinto : " o rtsto tint• do pallòr
da morte. ))

Muitos destes participios do Passado usão se tam*


bem em sentido a c t i v o : v . Agradecido, o que agra-
dece , s;rato. Appressndo, Arrecadado , Arriscado, At-
irc"JÍdo% Atle-itado ; Bebido , que bebeu ; Calado, que calâ •
Comido, o que comeu ( D a v o bem comido , e melhor bebi-
do ) Commwigado , o que commungou ; Confiado , Conhe-
cido , Considerado, Costumado, Desattentado, Vesatte.i-
to , Desconfiado , Desenganado , Desmaiado , Encolhido ,
^Entendido , Esferçado , Lido , Ousado , Prevenido , Pri-
vado , Recatada Resaiido , Sabido , Sentido , Stkrado ,
Valida, e o u t r o s , quando se lhes subentende homem
ou mulher: v . g. t 6 entendida sois S e n h o r a ; í i. è , do-
,tada de entendimento. ( V . Leto , Origem, f . 5 4 . ) " « «
n«j desenganada: » homem desenganado , qUe não «n~
gana ; it. livre do engano , em que estava#
A l e m das Conjugações a n t i q u a d a s , que tenho
anontado , n o t a r e m o s , ^ue os Antigos terminavão e m
teus, edes , muitas variaçó«s , que depois terminarão e m
, e ee, r . íuscacs fax.ee , e hoje seterminão em
ais , ceis ; v. g, tenhades , por tenhais ; havedes , dedcs
por
DA GRAMMATICA P O R T U G U I Z A . «61
•por haveis, dels. Outra» vezes terminarão em ais as que
hoje usamos em eis; v . g v o s tínheis por tínheis (0r~
deu. A fens. L . j . T . % 6. ) : a Arder mudarão o d e m c ,
Arço , Àrça. Moura e Moura ou Moira , Morro, e Mir-
ra de Morrer.
Usárãe mais Participios de f u t u r o em oiro no
sentido passivo ; v . g. Havedoiro , capaz de haver s t , o u
acquirir se , recebondo : Avorrecedoirt, digno de se abor-
recer : Docstadviro, digno de ser doestado , deshonrado t
ou que deshonra ; v . g. a Saciedade doestadoira dos J u -
deus : Penadoiro , digno d® ser penado , ou castigado*
( Orden. Afonsinas ,fre*. )
N o mesmo sentido usarão Participios e m $ndê\
v . g. bolo recebondo , cavallo recebonio , capai de se
receber em paga , ou satisfação do que se é obrigado t
p a g a r , ou ter. ( 7 ) Miserando , Nefando , são á imita-
ção dos Participios passivos do futuro da L i a g u a L a t i -
na : " colhem o mel para os fabricaados f a v o s . ) ) p.usado.

Dos V e r b o s Defectivos.

feder não tem outras variações , em que entre


4 nem a depois do d. Brandir, Compclllr, Demolir $
Vis-

( 7 ) J á a p o n t e i , que os nossas mayorei usarão dos


adjectivos verifies em ante , ente, inic , como de parti-
cipios á maneira dos L a t i n o s ; estes mesmos usavão
deli es como de adjectivos. Nós recebemos alguns do»
V e r b o s Latinos , q u e não adoptámos ; v . g. coruscante f
trepidante 9 insolente ( Lusíada , 2. est. ça, ) por e x -
traordinário , não v u l g a r , nem costumado : adjacente,
excellente ? fulgurante , continente : outros com algüa d i f
ferenca ; v . g obediente do Latim obedio , que imitam»»"
e m obedecer , mas não dizemos obeicccnte ; penitente , & c .
de pólens derivámos potente, e possante": " Se acafyante
aqueile feito o G o v e r n a d o r se fora logo s u r g i r : )Y por
acabando, o u a c a b a d o , diz Couto, D . 4 , L. 7. c. 4.
ira nante t o m á m o s do ítalianq trcmurc. (Vlissea, 6. 9 4 . )

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