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Copyright © 2020 Sarah Mercury

NOS BRAÇOS DO MAFIOSO

1ª Edição | Criado no Brasil


Edição digital

Autora: Sarah Mercury


Revisão e diagramação:Luana Souza
Artes dos capítulos:Luana Souza
Leitura final:Larissa Freitas
Capa: Alicia Lorena

É PROIBI
DA A REPRODUÇÃO TOTAL E PARCIALDESTA OBRA, DE QUALQUER
FORMA OU POR QUALQUER MEIO ELETRÔNICOOU MECÂNICO, INCLUSIVEPOR
MEIO DE PROCESSOS XEROGRÁFICOS, INCLUINDOAINDA O USO DA INTERNET,
SEM A PERMISSÃO EXPRESSA DA AUTORA (LEI 9.610 DE 19/02/1998).
ESTA É UMA OBRA DE FICÇÃO. NOMES, PERSONAGENS, LUGARES E
ACONTECIMENT
OS DESCRITOS SÃO PRODUTOS DA IMAGINAÇÃO DA AUT
ORA.
QUALQUER SEMELHANÇA COM ACONTECIMENT OS REAIS É MERA
COINCIDÊNCIA.
TODOS OS DIREIT
OS DESTA EDIÇÃO SÃO RESERVADOS PELA
AUTORA.
Atenção
Dedicatória
Agradecimentos
Sinopse
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Epílogo 1
Epílogo 2
Trilogia "Camorra"
Outros trabalhos meus
Sobre a autora
Redes sociais
Esse livro trata-se de um romance dark. A obra
contém cenas de sexo explícito, violência, tortura,
palavras de baixo calão e assassinato. Portanto, é
indicado para maiores de 18 anos. Se você é
sensível a esse tipo de conteúdo, não leia, pois
contém gatilhos.
A autora não concorda de forma alguma com
tais atrocidades. É uma história fictícia.
Dedico a todas as pessoas que acreditam no amor, e que
mesmo em meio as dores e sofrimentos, conseguem enxergar
o lado positivo da vida e encontrar forças para continuar
lutando por um mundo melhor.
Agradeço a Deus por me capacitar, e à minha
família e amigos pelo apoio. Em especial, ao meu
amigo Mikael, que me desafiou com o tema e foi um
grande incentivador na criação dessa obra, e que
por várias vezes quando pensei em desistir, me deu
forças para continuar. Também agradeço a todos os
leitores que acompanham meus trabalhos na
wattpad e à minha amiga Luana por sempre ler,
revisar e me ajudar com dicas essenciais para as
construções dos capítulos finais desse livro.
Muito obrigada!
Lorena Ávila é brasileira e aos quatorze anos foi raptada e
vendida aos Lourenço através do tráfico humano. Obrigada a
trabalhar para uma famíliade mafiosos que são sem escrúpulos,
capazes de tudo por dinheiro e poder, Lorena se vê em meio a uma
guerra da qual não pediu para entrar. Seu maior erro foi se
apaixonar por quem deveria odiar. Ela é doce, de personalidade
forte e almeja a liberdade.
Vincent Lourenço é conhecido por ser uma máquina de matar.
Desde cedo aprendeu que na vida em que nasceu, era ele ou os
outros. Ele sente prazer no que faz. Vincent não tem compaixão e
pela famiglia é capaz de fazer qualquer coisa. Inclusivearmar e se
aliar aos seus inimigos para tirar do poder todos aqueles que ele
acredita prejudicar a Camorra e o legado deixado pelo seu pai. O
sujeito frio, calculista e almeja vingança.
É possível nascer amor em meio a tanto ódio, armações e
guerra?
SALVADOR, BAHIA - BRASIL
PASSADO

Vou correndo para casa. Já passou do meu horário. E


provavelmente meu irmão já tenha chegado e irá me dedurar para a
nossa mãe. Fugi da escola e fui com a Karen, minha melhor amiga,
ao elevador Lacerda, um dos pontos turísticos mais conhecidos de
onde eu moro. Quando se sobe nele tem uma vista muito bonita
para o mar da Baía de Todos os Santos (uma costa litorânea que
cruza a Bahia). O mercado modelo, que fica em frente, é outro ponto
que vale a pena conhecer. Ele é muito antigo, hoje abriga mais de
duzentas lojas que vendem artesanatos e lembrancinhas. De lá,
fomos ao Pelourinho, o qual possui uma enorme ladeira, várias
construções coloridas e diferentes. Também há muitas lojinhas que
vendem coisas para turistas, como camisas, acessórios e objetos
decorativos sobre Salvador. Aqui as religiões que reinam são as de
matrizes africanas, principalmente o Candomblé.
Ainda nem citei o farol da barra, que é lindo e fica na praia
mais famosa daqui, além do Centro Histórico e os museus que
mostram a história do nosso povo. Salvador é uma cidade histórica.
Tiramos o dia para visitar esses lugares maravilhosos,
confesso que fiquei tão entretida que não vi a hora passar. Agora
estou aqui quase colocando a alma pela boca para chegar em casa.
Não é que minha mãe não nos deixe sair, ela só não gosta que eu
fiqueandando sozinha até tarde da noite. Às vezes é bem neurótica
sobre segurança, o que, particularmente, acho o maior exagero.
Não é como se onde nós moramos seja perigoso.
Viro a esquina com o coração na mão, torcendo para que Vítor
não tenha chegado ainda e que dona Clarice não esteja no portão
com uma cinta, a minha espera. Acredite! Ela já fez isso, garanto
que foi a maior vergonha que passei em minha vida. A rua inteira
me viu apanhar porque saí e me esqueci de avisar. Esses adultos
são tão chatos! Eu já tenho quatorze anos e sei me cuidar.
Um carro anda bem devagar perto da calçada que estou. Olho
no intuito de conseguir ver quem dirige, mas os vidros escuros e
fechados não me permitem identificar pessoa de dentro dele.
Acelero meus passos quando percebo que está muito devagar, cada
vez mais encostado. A porta então se abre, um cara vestido de
preto sai e vem em minha direção. Corro o mais rápido que posso,
deixando minha bolsa para trás no processo. Eu consigo avistar o
portão da minha casa e grito para chamar a atenção de quem
estiver por perto, mas é tarde demais. O homem me alcança, cobre
minha boca com um pano que cheira a algo muito forte, então tudo
fica escuro e eu desmaio.

(...)

Acordo amarrada, deitada no chão frio. O lugar fede a algo


podre que parece ter morrido há dias. Ao longe escuto vozes, mas
infelizmenteé um idioma diferente do meu. Olho tentando achar um
meio de escapar, só que está muito escuro. Cada vez que acordei,
estava em um lugar diferente. Não sei dizer onde estou ou com
quem, mas todas às vezes que consegui minha consciência de
volta, eu era dopada novamente. Não façoa mínimaideia de quanto
tempo se passou ou que dia é hoje, só sei que quero sair daqui.
Quero minha famíliade volta! Quero ser livre de novo! Sei que será
quase impossível,mas nada que me impeça de continuar tentando
e lutando para conseguir me libertar. Não vou desistir. Nunca!
Tento afrouxar as cordas, contudo elas estão muito bem
amarradas. Alguém abre uma porta, a claridade bate em meu rosto
me cegando por um tempo. Ponho-me em alerta e olho para o
invasor. Ele falaalgo que não entendo, então não respondo. Coloca-
me de pé e pega uma facapara cortar as cordas dos meus pés. Por
instinto tento me afastar, com medo, porém o cretino me segura e
me empurra para fora. Subimos uma escada que dá acesso a uma
sala muito bonita e bem decorada. Sou jogada aos pés de um
senhor que veste um terno escuro fumando charuto. Ele me avalia
por um tempo, então começo a ficar com medo.
— Por favor, não me machuque! — não me envergonho de
implorar.
O homem que me trouxe para cá começa a rir do meu
desespero. Já o senhor, se mantém com seu olhar em mim,
aparentando ser tão ou mais frio do que o chão que estou. Ele faz
sinal para que eu levante, e aos poucos, com muita dificuldade, por
me sentir fraca, me levanto e fico em pé a sua frente. Ele traz suas
mãos ao meu rosto e vai descendo aos meus seios. Começo a
tremer de pavor.
— Não me machuque! — peço dando um passo para trás.
Finamente o senhor sorri, entretanto não é um sorriso
amigável. É predatório, é maligno. Ele me pega pelos cabelos, me
joga no sofá enorme que estava sentado. Começo a chorar e a me
debater, prevendo o pior acontecer.
Tenho minha roupa rasgada, meu corpo violado de todas as
piores formas que possam imaginar. Depois do que eu imagino
serem horas de abusos e humilhações, sou levada ao mesmo
quarto que estava, por fim, trancada novamente. Pela primeira vez
em minha vida entendo o que mamãe tentava me dizer sobre os
perigos que tinham do lado de fora. Acreditei que tudo passado na
televisão diariamente, nunca iria acontecer comigo, e agora estou
pagando caro. Eu queria poder voltar no tempo, ter ficado em casa!
Eu nunca mais serei a mesma depois disso. Eu só espero
sobreviver a tudo isso, ter minha liberdade um dia de volta.
12 ANOS DE IDADE
MILÃO - ITÁLIA
PASSADO

Desço as escadas à procura do tio Luigi. Ele disse que iria me


levar para treinar. Segundo ele, tenho que aprender a controlar
meus impulsos ou serei expulso de mais uma escola. Não tenho
culpa do moleque ter me provocado. Eu apenas revidei. O que eles
esperavam de mim? Que eu apanhasse calado?
Mamãe disse que eu nasci com uma condição que me torna
diferente das outras crianças. Não entendo bem, eu só sei que
tenho tendência a perder a paciência e não sinto culpa quando bato
em alguém, geralmente parto para a agressão quando me sinto
muito irritado, o que é quase sempre. O médico disse que tenho que
tomar alguns remédios, mas eu odeio.
Outro dia uma mulher me chamou de psicopata. Não sei direito
o que é, porém não ligo. Desde que o filho dela me deixe em paz,
pode me chamar do que quiser. Mas agora que ambos meus pais
morreram em um trágico acidente de avião, meu tio se tornou o
novo capo, ele ficou com minha guarda e muitas coisas mudaram
desde então. Não preciso ir mais aos vários médicos que eu ia
antes, por exemplo. Tio Luigi disse que eu não preciso de nenhum
remédio, porque o que tenho é uma dádiva e não devo me
envergonhar por não ser igual aos outros. Ele disse que quando eu
crescer, vou entender melhor e agradecer por isso.
— Vincent? Vamos! — tio Luigi me chama caminhando para a
porta.
Desço correndo ao seu encontro. Saímos de carro, andamos
por um tempo até chegar a um velho galpão, do qual entramos. Por
foraparece ser velho, enferrujado,porém, dentro é bem arrumado e
cheio de equipamentos de luta. No centro tem um ringue onde há
vários homens treinando, chutando uns aos outros. No canto da sala
há alguns que estão atirando em um boneco. Olho com curiosidade.
Papai nunca me trouxe em nenhuma de suas saídas, por mais que
eu pedisse, sempre eram as mesmas respostas: “Você é muito
novo” e “Ainda não está pronto”. E até quando cogitava em me
trazer, mamãe dava um jeito de fazê-lo mudar de ideia.
— Vejo que gostou do lugar. Quer tentar? — diz Luigi apontado
para um boneco todo furado.
— Eu posso? — pergunto incerto.
— Sim. Você está em uma boa idade. É hora de aprender a
ser homem. Se passar no teste, logo se tornará um made man. Tem
que saber se defender.
Balanço a cabeça concordando, então coloco o fone que me
entregam, um óculos transparente, mas antes ganho uma aula
sobre posição e postura correta. Me ensinam como destravar a
arma, mostram como cada uma delas funciona. Sou levado para
uma linha vermelha para começar e tio Luigi vem para o meu lado.
— É normal se sentir nervoso em sua primeira vez. Esqueça o
resto e apenas relaxe! Tente se concentrar somente no seu alvo! A
arma não esta carregada, mas você terá seis chances.
Eu não estou nervoso, mas sim animado em poder fazer as
coisas de adulto. Pego a glocke me posiciono. Destravo a arma,
miro no alvo e atiro. Repito o processo mais cinco vezes, e por fim,
quando a arma descarrega, é que paro. Sinto-me de repente
satisfeito comigo mesmo. Todo estresse que tenho sentido nos
últimos dias foram embora. Estou em êxtase pelo meu feito.
Chegamos onde o boneco está, para verificar quantos tiros
acertei, e sou aplaudido quando percebem que dos seis tiros que
dei, acertei quatro. Um na cabeça, dois perto do coração e um no
braço.
— Muito bom, Vincent! Claramente você tem um dom! Agora
vamos à outra sala para que possa fazera sua iniciação? Você está
mais do que pronto.
O olho confuso. Não precisa ser mais velho? Ao menos era o
que papai me falava todas as vezes em que eu pedia para ir junto
em alguma de suas missões.
— Sim, eu acho. — respondo e seus homens gargalham como
se eu tivesse falado algo muito engraçado.
— Ele não vai conseguir matar alguém. Isso não é para
qualquer um. — diz Henrique, seu consigliere.
— Você só esqueceu que meu sobrinho não é qualquer
pessoa, Henrique. Ele ainda vai comandar isso aqui e será nosso
maior trunfo. Quero que você o treine!
Escuto tudo sem entender nada, apenas observando as
pessoas a minha volta.
— Vamos? — tio Luigi diz saindo andando na minha frente.
O acompanho para uma sala onde tem um homem amarrado e
sangrando no chão.
— Vincent? Esse homem é culpado pelo acidente dos seus
pais. Estávamos à sua procura há algum tempo e só agora que o
encontramos. Se você quer ser tratado como um homem, ter o
respeito da máfia, tem que atirar nele. Está pronto para isso?
— Estou. — digo com segurança.
Olho o cara no chão tentando se soltar das amarras, com os
olhos arregalados. Um dos homens do meu tio me mostra uma
mesa com variadas armas, de vários tamanhos e modelos
diferentes. Pego uma que me chamou atenção, um punhal de cabo
preto. Volto para onde meu tio está, vejo que todos estão
claramente surpresos com minha escolha. O que muitos deles não
sabem é que desde os oito anos caço e mato os animais que
conseguia pegar nas armadilhas em que eu criava na floresta.
Como não podia acompanhar papai, arrumei um jeito de me divertir
preso em casa. As facas são minhas fiéis companheiras. Eram as
únicas armas fáceisde conseguir e que ficavamà minha disposição.
— O bom e velho punhal? — tio Luigi pergunta, arqueando a
sobrancelha.
— Eu gosto deste. — digo olhando o brilho na lâmina da faca
conforme eu a viro.
— Nada contra sua escolha. Eu também gosto, mas o negócio
é que isso causa muita bagunça. Você foi bem com a arma lá
dentro. Tem certeza que não vai querer trocar?
— Não ligo! Quero essa! — falo com determinação.
Volto analisar o cara, procurando uma maneira de atingi-lo.
Escolho o pescoço. É um local certeiro e a morte é rápida.
— Saiba de uma coisa, filho, na máfia não existe lugar para
pessoas fracas. Ou é você ou é seu alvo. Um erro, uma hesitação...
e nem a máfia ou seus inimigos perdoarão.
Não digo nada, visto que gosto do silêncio nessas horas. É
uma pena o cara estar amarrado. Não será tão divertido quanto às
vezes em que brinquei com os coelhos. Chego perto dele, seguro
seu cabelo para que seu pescoço fique a mostra, então o cara
começa a se debater. Eu me animo com o desafio. Seguro firme o
punhal, passando apenas uma vez. O corte foi perfeito. O sangue
jorra sujando para todos os lados. Ele se debate, faz uns barulhos
parecidos com os que os animais faziamquando eu os cortava. Aos
poucos vai parando, até que seus olhos ficam desfocados e sem
vida.
Me viro para meu tio, que agora ostenta um grande sorriso. Ele
vem até mim, me abraça, diz o quanto fui bem e como está
orgulhoso. Sou levado a outra sala, onde um cara tatua em meu
braço esquerdo o símbolo da famiglia : um punhal com duas flores
vermelhas. Uma vez eu perguntei ao meu tio o porquê das rosas
com o punhal, e ele me explicou que a faca é um lembrete de que
matamos sem piedade — olho por olho, dente por dente — e as
flores são para a nossa morte, porque lutaremos até o último suspiro
por nossa causa. Embaixo é escrito o juramento, que repito mais
tarde na cerimônia de iniciação feita especialmente para mim,
perante a sala cheia de pessoas importantes para a organização.
— Pela máfia eu vivo, pela máfia eu morro!
LOS ANGELES, CALIFÓRNIA
PRESENTE

Todo dia a mesma merda! Tenho que levantar cedo para limpar
a boate inteira com as meninas depois de passar a noite toda
acordada atendendo esse bando de filhos da puta que fedem a
bebida barata, e a charuto de péssima qualidade. Não aguento mais
essa vida! Qualquer dia desses, eu vou dar uma de doida e meter o
tiro na cara de um deles.
Eu odeio esse lugar e tudo o que ele representa. Eu queria ter
minha vida de volta! Sinto tanta falta da mamãe e do meu irmão
Vítor. Será que eles estão bem? Será que ainda se lembram de
mim? Eu quero voltar para a minha famíliae ter meu direito de
escolha! Já tentei de tudo para sair daqui e nunca consegui nada.
Aliás, consegui sim: um braço e três costelas quebradas. Luigi é um
monstro! Com ele não tem esse negócio de meio termo. Ele manda
e você obedece. Eu demorei um tempo para aprender isso, e até
alcançar esse nível de entendimento, apanhei muito e fui deixada
por dias passando fome no calabouço. Um dia tive que ceder.
E não! Eu não desisti de sair desse inferno! Eu apenas não
achei um jeito ainda. Mas vou conseguir minha liberdade de volta,
nem que seja a última coisa que eu faça nessa minha vida
miserável.
— Lorena! Luigi quer que você recepcione seus convidados
hoje à noite. Vista algo sexy e não o decepcione, ou sabe o que vai
acontecer, não é? — a vaca da Antonella diz.
— Sim, senhora! Estarei lá. — Forço um sorriso de boca
fechada.
Minha vontade é de pular no pescoço dessa cafetina. Por
culpa dela, tive que ser castigada várias vezes. Eu não a suporto!
Um dia ela terá o que merece.
— Muito bem! E só para deixar claro, é melhor nem olhar para
o Vincent. Luigi sabe do seu interesse pelo sobrinho e não está
nada feliz com isso. — Sai me deixando de boca aberta.
Desgraçada! Já esteve fofocando de novo. Eu não tenho
interesse amoroso no subchefe, apenas o acho bonito. Contudo, o
que tem de lindo, tem de perigoso. O cara tem fama de degolar suas
vítimase se deleitar com isso. Há até mesmo um boato de que ele
fezisso com algumas prostitutas que dormiram com ele. Eu que não
quero chegar perto para descobrir se é verdade essa história!
Volto aos meus afazeres. Depois de verificar se tudo está
como ordenado, subo para tomar um banho e escolher minha roupa
da noite. Arrumo meu cabelo, termino de passar maquiagem.
Quando estou pronta, desço para recepcionar os convidados. Luigi
já está sentado no sofá, bebendo, e quando me vê, faz sinal para
que eu vá até ele.
— Estou ao seu agrado, senhor? — pergunto me sentindo
insegura.
— Vejo que hoje está obediente. — diz me puxando para seu
colo. — É assim que eu gosto de você: mansinha feito uma
ovelhinha.
Seguro a vontade de vomitar quando ele vira meu rosto para
um beijo. O homem é um escroto!
— Serão muitos convidados para hoje? — digo tentando tirar
seu foco do meu corpo.
— Sim. E é melhor preparar o quarto especial. Hoje eu e um
amigo queremos brincar com você. — fala com seu sorriso
diabólico.
Fico rígida com suas palavras, o fazendo gargalhar. Oh, não!
Todas as vezes que ele me leva para lá e me divide com seus
colegas, eu sempre me dou mal. Dez anos sendo torturada,
violentada praticamente todos os dias, e ainda assim não me
acostumei.
— Você é tão transparente, doce Lorena. Eu me deleito com
sua rebeldia. Você me excita quando pensa que pode se livrar de
mim. Seu corpo me pertence e faço com ele o que eu quiser,
entendeu? — diz me fazendo arfar com seu aperto em meus
cabelos.
— Sim, mestre! — digo segurando o choro quando a dor vem
forte demais.
— Isso!Assim que eu quero você. Engula o choro e ajoelhe!
Me dê prazer com essa sua boquinha carnuda! Estou muito excitado
agora.
Faço o que ele pede. Abro o zíper da sua calça, tiro seu pau
para fora o coloco na boca enquanto começo a masturbá-lo. Luigi
segura minha cabeça e começa a bombear em minha garganta com
força.Sinto falta de ar, mas quando tento sair para respirar, ele não
deixa. Me faz continuar chupando até tê-lo se derramando em
minha boca. Levanto-me para poder sair, mas travo quando ele me
segura.
— Sobre esperar meu amigo, mudei de ideia. Quero comer
você agora! Tire a roupa e empine essa bunda para mim!
— Mas... — tento argumentar, mas antes de sequer formar a
frase, levo uma bofetada na cara.
— Eu disse para tirar a roupa e abrir as pernas para mim,
vagabunda! Eu falei que você é minha! Qual parte não entendeu
ainda?
Balanço a cabeça e me viro fazendo o que pede. Nessas horas
é impossível segurar as lágrimas. Choro em silêncio quando ele
entra em mim com brutalidade, me machucando no processo.
Gemo, mas meus gemidos não são de prazer, e sim da dor que
sinto com suas estocadas violentas. Seguro na mesa, me firmando
para não cair, apenas respirando fundo, deixando minha mente
vagar para quando eu era livre e saía com minha amiga Karen, ou
quando ia passar o dia na praia com minha família.Esse é meu
refúgio, é onde me escondo até tudo acabar. Ele se segura em
minha cintura e estoca uma última vez antes de se derramar em
meu interior.
— Gostosa! Você nunca decepciona. — Bate em minha bunda,
saindo de dentro de mim. — Vá se limpar, porque à hora que meu
convidado chegar, quero que você dê o mesmo tratamento a ele, ou
nós dois iremos ter bem mais do que uma conversa.
Coloco meu vestido e saio o mais rápido possível de sua
frente. Esbarro em alguém no corredor, mas nem me importo em
olhar para ver quem é a pessoa. Me sinto tão humilhada, indefesae
usada, que nada interessa nesse momento. Ele sente prazer em me
ferir e tudo que sinto é nojo dele.
Entro no banheiro e me sento no chão, permitindo que toda
dor, humilhação, saiam em forma de grandes e grossas lágrimas
salgadas. Ali eu permito que minha máscara caia, me tornando
novamente a menina que foitirada do seio de sua família,sem aviso
prévio ou direito de escolha, e jogada nesse mundo monstruoso.
Posso ser a prostituta dos Lourenço e ferida o quanto for, posso ter
meu corpo usado, judiado e até mesmo sodomizado pelos seus
amigos sádicos, mas eles nunca terão a minha rendição, nem minha
alma, sempre terão que me ter à força. Não vou me render, nem
deixar que tirem o mais importante de mim: a minha dignidade.
Levanto do chão, limpo meu rosto para voltar. Ainda têm
muitas horas pela frentepara enfrentare eu façode cabeça erguida,
como uma verdadeira brasileira de sangue quente nas veias, porque
desistir não faz parte do meu ser.
LOS ANGELES, CALIFÓRNIA
PRESENTE

Chego ao Dark Nigth e saio à procura de Luigi. O vejo


comendo sua prostituta pessoal e o aguardo terminar para falarcom
ele. Esse tipo de coisa não é comum aqui na parte de baixo, pois
tenho clientes que não fazem parte da máfia. Para isso temos os
quartos no segundo andar, todavia meu querido tio não é seguidor
de regras e estou sem vontade nenhuma de discutir sobre isso.
Olho a mulher sair chorando, arqueio uma sobrancelha para ele. Ela
foi enviada para cá com Antonella há cerca de seis meses e tenho
um pressentimento de que não veio a passeio. A garota cheira a
problema, e tudo que menos preciso no momento é ter alguma dor
de cabeça.
Não sei o que meu tio andou fazendo na Itália para vir
correndo à Los Angeles, mas tenho a leve impressão de que não irei
gostar da resposta. Odeio que esteja bagunçando minha boate e
trazendo seus amigos para o meio dos meus negócios. Uma das
coisas que pedi quando aceitei o cargo de subchefe, foi para que ele
não se metesse. O respeito muito, só que não tolero desrespeito,
nem dele e muito menos de ninguém.
Sob meu comando, nossa organização cresceu bastante e tem
se expandido rápido para outros estados. Consegui deixar tudo
muito bem organizado, sem a federal no nosso pé até o momento.
Entretanto, imagino que com meu tio aqui, não teremos essa paz
por muito tempo. Ele tem tendência a levar o caos por onde passa e
isso me preocupa. Não estou a fim de perder o controle e nem
entrar na mira do FBI. Estou vendo que esses dias, com sua
presença, serão verdadeiros testes de paciência.
— Se divertindo? — digo me sentando ao seu lado.
— Um pouco de diversão nunca é demais. — diz rindo.
— Como andam os negócios em casa? Imaginoque sua vinda
até aqui tenha um motivo.
— Direto como sempre, hein? Queria sentir novos ares, e nada
melhor do que onde meu querido sobrinho está.
— Os negócios estão indo muito bem por aqui, pelo que vejo.
— Sim! Tudo dentro dos conformes, como tem que ser.
Convidei Lucca Vitiello para uma reunião. Fiquei sabendo que ele
está interessado em fazeruma aliança conosco, até ofereceua mão
da filha Giovanna para selar o compromisso.
Filho da puta! Sabia que tinha algo fedendo com sua chegada.
— Eu não tenho interesse em fazer nenhum tipo de negócio
com ele, tio. Estou indo muito bem sozinho. Essa semana mesmo,
consegui expandir nossas vendas de drogas para outros territórios,
inclusive México e Nova York.
— Eu sei, filho. Não estou dizendo que você não é capaz. Tem
se mostrado muito competente em tudo que faz. Só acho, que se
tivéssemos o controle de Las Vegas, seria bom também. E você
está em uma boa idade para se casar. A filha dele é jovem e muito
bonita. Tê-la como esposa não será nenhum sacrifício e trará
vantagem para nós.
— Eu não quero! Se está tão interessado assim, case-se você
com ela!
Ele fecha a cara, se levanta, ficando de frente para mim.
— Está se esquecendo de quem é que manda aqui, Vincent.
Eu continuo sendo o capo e você me deve respeito. O que eu digo é
lei. Antes de dar suas respostas finais, pelo menos escute sua
proposta.
Meu sangue ferve, a mão chega a coçar para pegar meu
punhal e enfiar em sua garganta, mas me mantenho inexpressivo,
frio. Não irei deixá-lo ver que me atingiu em cheio. Se pensa que irá
me controlar feito uma marionete, está muito enganado. Quando eu
era pequeno, talvez tenha me manipulado, mas hoje não permito
que tenha esse poder sobre mim.
— Como quiser, capo. — digo olhando em seus olhos. —
Afinal, como você mesmo acabou de pontuar, ainda é o chefe.
Ele franze a testa com minha resposta, por certo na dúvida se
baixei a guarda ou o ofendi.
— Assim que eu gosto. — Dá uns tapinhas em minhas costas
e sai para receber seus convidados que chegaram.
Faço sinal para que Marco, que está a poucos passos de mim,
se aproxime. Preciso montar uma estratégia de emergência.
Sempre estou dois passos à frente e agora não será diferente.
— Quero saber tudo o que Luigi tem feitopelas minhas costas!
Ache todos os seus pontos fracos! Também quero estar por dentro
do verdadeiro interesse do Lucca em nosso território!
— Ouvi o que ele disse e isso não é bom. Trazer o inimigo
para dentro de casa é um tiro no pé.
— Eu sei. Luigi nunca foi inteligente. É muito ganancioso, vive
metendo os pés pelas mãos. Não foi por pouco que quase nos
expôs e fez afamigliaafundar várias vezes.
— Acha que ele ficará pouco tempo? — pergunta curioso.
— Bem que eu queria. Porém, se minhas desconfianças
estiverem certas, dessa vez veio para ficar. Melhor nos prepararmos
para algumas possíveisretaliações! Luigi não abandonaria tudo em
Milão por pouca coisa. Isso está me cheirando à encrenca, e das
grandes.
— Irei mandar uma equipe investigar. Não se preocupe! Tente
agir com naturalidade e não deixe que ele jogue fora anos de
trabalho duro que tivemos!
— Não deixarei. Nem que para isso eu tenha que tomar
medidas drásticas. — digo me sentando no sofá e dando sinal para
que me tragam uma bebida.
Marco cresceu junto comigo. Fomos treinados na mesma
época, por Henrique. Por termos a mesma idade, acabamos nos
tornando amigos, por assim dizer. Quando fui promovido, o recrutei
para ser meu executor. Com o tempo, ele acabou se tornando meu
braço direito. Em minha ausência, ele é meus olhos aqui dentro. Por
esse motivo o permito me aconselhar, valorizo muito suas opiniões
sobre meus negócios. É o único que deixo chegar mais perto de
mim e tem minha total confiança.
— Farei algumas ligações. Deixarei Thadeo como seu guarda
até eu voltar. — diz apontando para o moleque mais a frente de
onde estamos.
— Tudo bem. Ele tem se destacado bastante nos
treinamentos. Estou pensando em colocá-lo na nossa equipe
principal. O que acha?
— É um caso a se pensar. Farei mais alguns testes com ele.
Balanço a cabeça concordando e ele vai até o garoto para
orientá-lo.
Lorena desce as escadas com uma roupa diferentedessa vez,
vai ao pole dance, começa a dançar com sensualidade no ritmo da
música que toca. Reparei que gosta de ir para o palco sempre que
está triste ou chateada. Não porque gosta de se exibir, e sim como
um meio de extravasar o que sente, assim como eu gosto da tortura.
Tomo meu drink , observando-a, e meu pau se anima com sua
desenvoltura. Não posso deixar de sentir desejo por ela. Tenho a
evitado desde quando chegou aqui. É a queridinha do meu tio,
então fico longe para não causar nenhum tipo de confusão. Faço
sinal para que Ashley venha até mim.
— Precisa de mim? — pergunta se sentando ao meu lado.
— Sim! Suba e me espere no quarto! — ordeno sem olhá-la.
Apenas quando a apresentação da morena acaba é que me
levanto e vou atrás de Ashley. Acendo um cigarro, entro no quarto.
Encontro-a ajoelhada e nua no chão, com as mãos para trás, como
ensinei.
Depois dos treinamentos pesados que tive com Cavallaro e
seus homens, fiquei com algumas manias. Uma delas é foder as
mulheres amarradas para que não me toquem, desse modo não
corro o risco de ser morto na hora do sexo. Me acostumei assim,
chego a sentir prazer em vê-las a minha mercê.
— Levante, vá até a cama e estique os braços!
Ela fazcomo mando. Vou até a gaveta, pego uma algema para
prender seus pulsos. Ashley sabe como eu gosto, já está
acostumada, mas por via das dúvidas, não baixo a guarda. Não
tenho o trabalho de tirar a roupa, posto que não irei demorar. Será
apenas uma transa rápida para me acalmar. Coloco o preservativo,
me arrumo entre suas pernas compridas, entrando dentro dela com
uma única estocada. Ela arfa com minha invasão, e meto em seu
canal escorregadio, com força, até alcançar o clímax. Saio dela,
soltando seus pulsos, liberando-a para sair. Descarto o preservativo
usado e fecho o zíperda calça. Simples assim! Um sexo duro, cru,
sem conversa, beijo, toque ou carinho. Ela está aqui para me servir
e é bem paga para isso.
Saio do quarto, mais controlado, e desço para encarar essa
reunião com os malditos Vitiello.
Desço do palco, peço uma bebida para o barman. Ao longe
observo os convidados de Luigi. Do seu lado está Vincent, sério,
com seu cigarro nos dedos. Ashley senta comigo e também pede
um drink. Desde que cheguei aqui, ela foi a única que me tratou com
respeito. Em nossas poucas conversas a sós, me confidenciou que
também foi sequestrada ainda pequena quando muito mais nova do
que eu. Não cheguei a conhecê-la na Itáliaporque ela já havia sido
despachada para cá.
Quando fui entregue as mãos de Luigi, fui enviada juntamente
com outras doze meninas de variadas idades para um casarão
afastado da cidade, onde éramos vigiadas vinte e quatro horas por
dia. Fomos treinadas por Antonella para sermos submissas
perfeitas, ou melhor dizendo, escravas sexuais. As meninas que não
falavam a língua local, como eu, tiveram que aprender o suficiente
para poderem se comunicar com os clientes. Aprendi a falar inglês
com uma das minhas companheiras que era americana.
Nesse mesmo terreno tinha um galpão que era usado como
uma boate clandestina para pedofilia, com o nome bem propício
para o local. Devil's
Games era como chamava o maldito lugar. Lá,
três vezes na semana, éramos vestidas a caráter e levadas para
servir os convidados especiais. Políticos, juízes, policiais e
empresários eram alguns da extensa lista de homens importantes
para a sociedade, que na mídia se passavam como defensores da
família, dos bons costumes, mas pelas costas iam para lá
extravasarem seus fetiches sádicos e doentios em meninas
inocentes.
Só era permitido ficar morando nesse lugar até completarmos
dezoito anos. Depois disso, fomos todas separadas e jogadas em
boates, como essa, por sermos consideradas velhas. Até hoje não
me esqueci da pequena Melissa que morreu em meus braços por
ter sido abusada em uma das salas de jogos. Ela só tinha onze anos
e não aguentou os ferimentos, vindo a falecer. Minha única
consolação é que onde estiver, ao menos ficou livre daqueles
monstros.
— Noite difícil? — pergunta Ashley me tirando dos meus
pensamentos sombrios.
— E todas as noites não são? — respondo chateada.
— Sim. Me pergunto se um dia poderemos responder
diferente. — diz bebericando sua bebida.
— Podemos sonhar, não? Mas acho cada vez mais difícil.Já
tentei pensar em algo, mas sempre falho miseravelmente em todas
as minhas opções.
Ela se vira de frente para mim, me estudando.
— Talvez esteja investindo na pessoa errada. Já parou para
pensar nisso?
— Como assim? — digo com curiosidade.
— Eu acho que a sua porta de saída dessa vida é o chefe.
— Luigi? — Rio na sua cara. — Aquele ali me mataria antes
que eu cogitasse pronunciar a palavra liberdade. Ele se sente meu
dono.
— Não disse que é o velho babão. Estou falando do Vincent.
Eu vi como ele te comeu com os olhos na hora que estava no palco,
e não é de hoje que reparo nisso.
Arqueio a sobrancelha, duvidando de suas palavras.
— Você é doida! O cara tem a fama de matar mais do que
come. Sem contar que está se preparando para ser o novo capo.
Nunca se envolveria mais intimamente com uma prostituta. Seria
considerado um sinal de fraqueza.
— Pode ser, mas não custaria você tentar. De todas as formas,
já estamos condenadas à morte mesmo. Ou acha que viveremos
por muito tempo sofrendo abusos e violências de todas as formas
possíveis, todo santo dia?
— Você está bem? Ele te machucou? Vi que foi atrás de você
para o quarto. — pergunto preocupada com ela.
Eu sei o quanto os homens podem ser ruins e sem coração
conosco.
— Nada que eu já não esteja acostumada, minha amiga. De
todos os homens que passam pela minha cama, eu posso te dizer,
com toda certeza, que Vincent é quase um gentleman. Só estou
muito cansada disso tudo.
Meu coração dói por ela. Por nós. Anos de sofrimento uma
hora começa a cobrar seu preço. Queria mesmo ter esse poder de
ajudar. Não só a ela, como todas as meninas que sofrem o mesmo
que nós. Mas não sou capaz nem de me ajudar, como eu poderia
mudar isso para as outras?
— Pense no que te falei! Às vezes a solução está mais perto
do que imaginamos. Se existe alguém, de todas nós, que pode sair
daqui, é você. E talvez, de quebra, possa conseguir nos tirar
também. — diz saindo e indo atender um dos convidados.
Será? Não, não! Issoé loucura! O cara me evita desde quando
cheguei, como se eu tivesse uma doença contagiosa. Nem ao
menos fala comigo. Nunca me deixaria chegar perto dele. Mas... E
se eu tentasse? Não custará nada. Como Ashley disse, o pior seria
eu morrer, e nessa vida que levo, não vejo como isso poderia ser
algo ruim.
Viro para olhar a mesa onde estão e Luigi aponta para cima.
Eu me levanto entendendo seu comando. Lá vamos nós de novo
para esse inferno na terra! Entro no quarto e apenas espero por
mais uma seção de tortura. Se existir purgatório, imagino que seja
assim, e que eu já esteja em um. Preparo-me para o que está por
vir, contudo para minha surpresa, quem entra minutos depois é
Romeo, com seu sorriso idiota.
— Parece estar com sorte hoje, gracinha. O cara recusou o
convite, porém o chefe me deu o aval para vir me divertir um pouco
com você, por tê-lo ajudado a marcar essa reunião.
— Uau! Que sorte eu tenho, não? Saí dos braços do diabo
para cair nas mãos do satanás. Grande diferençamesmo! — rebato
com sarcasmo.
Ele gargalha jogando a cabeça para trás.
— Eu gosto de você assim, Lorena, só que te aconselho a me
tratar bem. No dia que o chefe não te quiser mais, vou pedi-la para
mim. Então seja mais suave, querida! Posso ser seu passaporte
para sair dessa vida que leva.
Quem ri agora sou eu.
— Pois eu prefiro que ele meta uma bala no meio da minha
testa. Seria um fim muito mais digno do que ter você como marido.
Mal termino de falar e levo uma bofetada na cara, caindo no
chão com o tamanho da força aplicada. A segunda do dia. Eu e
essa minha boca!
— Levanta, sua puta, e venha fazer seu serviço! E fique feliz
por eu não te dar uma boa surra, por tamanho desrespeito.
Desgraçado! Também, sendo filho da cafetina, só poderia ser
podre como ela. Levanto do chão, ainda sentindo meu ouvido
esquerdo zumbir, tiro minha lingerie
, permitindo que meu corpo seja
abusado mais uma vez. Só que meus pensamentos são diferentes
agora. A todo instante repasso minha conversa com a Ashley, e ali,
tendo meu corpo violado contra a minha vontade, tomo a decisão de
colocar meus planos em ação. Talvez esse seja o real motivo de eu
ter sido mandada para esse lugar. Ou tento, e com muita sorte
obtenho sucesso, ou eu vou morrer tentando. E seja qual for o
resultado, será lucro para mim.
Estou correndo na esteira enquanto ouço Pompeii de Bastille,
quando o interfone do meu elevador privado toca avisando que tem
alguém aguardando eu liberar a entrada para o meu apartamento.
Sete horas da manhã, e já vem um idiota torrar minha paciência.
Não tenho nem tempo de tomar um café descente para suportar a
carga de problemas, dos quais sei que irão se derramar para cima
de mim assim que aquelas portas se abrirem.
Meu apartamento fica na cobertura da boate, pegando todo o
andar. Comprei esse prédio exatamente pela comodidade de poder
morar em cima do local onde trabalho. Gastei uma fortuna para
reformar tudo e deixá-lo ao meu gosto, mas valeu a pena cada
centavo. Gosto da minha privacidade, e morar sozinho sempre foi
uma prioridade para mim desde que completei dezoito anos. No
quarto andar estão meus homens de confiança e no terceiro ficam
as meninas que trabalham para mim. Logo abaixo estão os quartos
que alugamos para os clientes passarem a noite, e no primeiro está
à boate, onde mantenho meu cassino e o ringue de luta ilegal, que
comando há algum tempo.
Todo o dinheiro que juntei com meus trabalhos para a máfia,
gastei aqui. É um investimento pessoal e posso dizer que tudo isso
aqui é meu, fruto de muito suor. Quando alguém mexe no meu
território, trazendo inimigos para cá, automaticamente assina seu
atestado de óbito. Foi exatamente isso que tio Luigi fez ao me
desafiar aceitando o acordo com o capo de Las Vegas. Ele passou
por cima dos meus desejos, deixando claro que não me respeita
como seu subchefe, muito menos como seu sobrinho e único
parente vivo. Então, como não possuí nenhuma consideração por
mim, por que eu deveria ter por ele? Se há uma coisa que aquela
reunião da semana passada deixou claro para mim, é que mereço
subir novamente de cargo, do qual me pertence por direito. Estou
levando o nome da famíliaadiante, então quero ser reconhecido
como chefe.
Enxugo o rosto, desligo a música, vou até a porta digitar o
código, liberando a entrada da pessoa. Sento no sofá e a aguardo
entrar. Deixo minha arma debaixo da almofada, por precaução, e
apenas espero. Logo Marco aparece em meu campo de visão,
então relaxo.
— Bom dia, chefe! Vim te trazer algumas informações valiosas.
— diz se sentando ao meu lado.
— Espero que sejam notícias boas!
— Oh, são sim! Veja você mesmo! — Me entrega uma pasta.
Abro com curiosidade, visualizando seu conteúdo. Tiro de lá
várias fotos e relatórios.
— Mas que porra é essa?! Luigi está com o FBIna cola dele
novamente?! — Levanto puto pelo que vejo.
— O pior nem é isso. Olha os motivos no outro envelope!
Sento novamente, começo a ler uma por uma das
documentações, e a cada uma que abro, com mais raiva fico.
— Esse imbecil está metido com tráfico humano? É isso
mesmo que estou lendo aqui?
— Sim. Estou indo mais a fundo, Vincent, mas há boatos
espalhados por aí de que ele está metido com tráfico infantil
também. Ainda não sei dizer se é verdade, mas vou conseguir
descobrir.
— O desgraçado faz merda no território dele e foge para cá
com o rabo entre as pernas, achando que vou deixar respingar em
mim?! Ele vai ver só o dele! Não nadei feito louco para morrer na
praia. Dessa vez ele vai se virar sozinho!
— Eu sei que você está zangado, e não tiro a sua razão, mas
precisamos ir com calma. Se fizer qualquer coisa que coloque em
risco a vida do capo, você será morto por traição! Por mais que isso
prejudique a organização, nada disso é proibido em nosso mundo.
Issoé verdade. Nada disso tiraria ele do poder, ainda haveria
quem batesse palmas para essa palhaçada. Entendam bem! Sou
um mafioso,porém me considero um criminoso de colarinho branco.
Estou dentro dos padrões normais do crime. Nunca matei um
inocente.
Mexo com tráfico de drogas, todavia não obrigo ninguém a
comprar. Todos que usam, compram por vontade própria. Não saio
por aí viciando ninguém. Issovale para o cassino também. Cobro o
que me devem. Se jogam criando uma dívida grande, é tudo de
forma consciente e é gente que vem com as próprias pernas. No
ringue, ofereço uma premiação para o ganhador e todos os
participantes são adultos capazes de fazeremas próprias escolhas.
Lá não entra nenhum santo. Tenho minhas próprias regras e não
aceito crianças nem pessoas que são, de alguma forma, forçadasa
participar.
Têm as prostitutas que trabalham para mim, pagando suas
dívidas,sejam elas de jogos, de dinheiro que pegaram emprestado
ou de vícios que querem manter garantidos. Tudo bem que têm
algumas que meu tio me manda e tenho lá minhas dúvidas de onde
vieram, contudo recebem um bom dinheiro por seus trabalhos e
ainda sou generoso em deixá-las morarem aqui, com as despesas
praticamente pagas.
O que mais eu poderia fazer? Sou um mafioso, não um bom
samaritano. Disse que não leso a vida de quem não me deve nada.
Muitas dessas mulheres não conseguiriam lá fora nem metade do
que ganham aqui. Elas têm que ser gratas por terem comida na
mesa e onde dormir. Aqui, todos que entram, sabem que não saem.
É a regra! Um juramento feito no sangue, onde se entra vivo e só sai
morto. No entanto, Luigi tem passado dos limites. Anos de papai no
poder, e nunca vi tantos agentes nos perseguirem, como acontece
com o meu tio no comando. Ele traz direto suas merdas para nossa
porta colocando toda a organização em perigo.
— Temos que fazer alguma coisa, Marco. Tente juntar mais
provas e depois marcaremos uma reunião com todos os nossos
subchefes para mostrar os perigos que estamos correndo.
— Eu não sei se irão querer ficar contra seu tio, Vincent. A
maioria foi colocada lá por ele, se sentem em dívida com o capo.
Todos estão nas mãos do Luigi.
— Se acaso eles não quiserem tomar partido, vamos ao plano
B.
— Qual seria? — pergunta não acompanhando minha linha de
raciocínio.
— Tirá-lo do nosso caminho é a nossa meta. Se não vai sair
por bem, faremos sair por mal.
— Pretende matá-lo? Isso seria suicídio. Todos se virariam
contra você e o julgariam por trair a famiglia.
— Eu não. Já seus inimigos, todos querem sua cabeça. Eu
não seria penalizado se meu tio caísse e morresse em mãos
inimigas, certo?
— Um plano audacioso, arriscado, que pode dar certo ou nos
ferrar de vez.
— Não tenho medo da morte. Você tem? Trinta anos me
parece uma boa idade para morrer. — digo fazendo disso uma
piada. Marco ri.
— Nós temos muito a viver ainda. Você tem uma cadeira para
sentar e governar por muitos anos. Podemos tentar primeiro dentro
das leis da máfia,do jeito certo, caso não tivermos resultado, vamos
montar outras estratégias.
— O que me preocupa é Henrique. Dele sim eu tenho um certo
receio, visto que é um homem muito misterioso, reservado. Lembro
quando chegou lá em casa e entrou na máfia. Aos poucos foi
subindo, até conseguir ser o conselheiro. A meu ver, é um cargo
muito importante para quem é comum e não fazparte de nenhuma
das famílias tradicionais.
— É um homem visionário, Luigi percebeu isso, mas até
mesmo o Henrique perdeu o controle sobre as ações de seu tio.
— Por pouco tempo, meu amigo. Luigi até o momento não
tinha encontrado um adversário à altura. Já está na hora de
mostrarmos a ele que seus pupilos cresceram e irão derrotar o
mestre.
Marco me entrega uma dose de whiskypara brindarmos. É
cedo, mas a ocasião pede uma exceção.
— À queda de Luigi! — diz levantando seu copo.
— À nossa vitória! — confirmo levantando o meu também,
virando a minha dose de uma só vez.
Que vença o melhor nessa guerra, e com certeza vencerei,
porque não estou disposto a perder, então irei até as últimas
consequências para ter o que desejo.
Limpo o cassino com a Ashley, para podermos nos arrumar
para a noite. Hoje é dia de luta. Uma vez na semana Vincent vai
liberar lutas clandestinas valendo muita grana. Como o espaço
estava passando por reforma e só foi liberado ontem, eu nunca tinha
assistido a uma dessas lutas. Dizem ser uma coisa de louco, onde
vale de tudo, inclusive, que já teve gente que morreu nessa disputa
sanguinária. O lado bom é que todos que participam são criminosos,
então não sinto pena de nenhum desses imbecis.
Estou muito ansiosa, porquanto hoje vou tentar minha primeira
aproximação com o Vincent. Essa semana tentei chegar mais perto,
no entanto com a presença constante de Luigi em cima de mim, não
deu. Contudo, como no momento ele está viajando, essa será minha
chance de colocar meus planos em vigor.
— Está muito quieta hoje. Tudo bem? — Ashley pergunta me
analisando.
Puxo-a para o lado, olhando a nossa volta, a fimde verificarse
não há alguém por perto.
— Estive pensando sobre o que me falou semana passada.
Quero tentar, mas estou muito insegura. Não sei praticamente nada
sobre ele. Me passe algumas dicas, para que eu não coloque tudo a
perder!
— Não se preocupe, eu sou uma boa observadora. Não sei de
muita coisa, porque ele é bem fechado, o único que chega muito
perto dele é o Marco.
— É impressão minha ou você só faltou derreter aí quando
disse o nome do executor? Está rolando algo entre vocês?
— Que nada! Ele nem olha para mim. — diz cabisbaixa. —
Mas voltando ao assunto “Lourenço”,tudo que precisa saber é que
ele gosta de foder mulheres amarradas, porque odeia ser tocado.
Não tem conversa, beijos ou qualquer coisa do tipo. É somente
sexo. Não pergunte nada por enquanto, ele é bem desconfiado,
caso perceba que está tentando manipulá-lo, irá matar você sem
pensar duas vezes.
Bem animador, não?!
— Como vou chegar perto dele, se de todas as meninas daqui,
você é a única que ele chama?
— Na próxima vez vamos trocar! Em vez de mim, será você
que irá atendê-lo. Diz que eu passei mal e mandei você em meu
lugar. Só se lembre de não questionar nada de início. Conquiste a
confiança dele!
— Okay! Deixa comigo!
— O que as mocinhas tanto fofocam aí no canto?
Compartilhem conosco! Também queremos saber. — Antonella
pergunta nos fazendopular de susto quando entra acompanhada de
seus filhos Romeo e Thadeo.
— Nada de importante! Estamos ansiosas pelo dia de hoje.
— Hum! Estou de olho em você, Lorena. Não pense que vai
fazer o que bem entender apenas porque o chefe não está aqui.
Tenho ordem restrita para puni-la caso necessário.
Vagabunda!
— Mas não precisará, porque tenho feitomeus serviços direito.
Não sabia que estava proibido conversar!
— Muito cuidado com o jeito que fala comigo, menina, ou eu
posso acidentalmente deixar você ser espancada por um cliente até
a morte! Luigi não ligaria de substituir seu brinquedinho por uma
versão mais nova. — cospe suas palavras de ódio.
Tremo de raiva. Na minha cabeça se passa um tutorial das
várias maneiras que eu gostaria de matá-la agora. Mas não posso!
Preciso manter o foco e ao menos tentar livrar as meninas daqui.
Essa será minha única chance. Não vou desperdiçar por conta
dessa cobra.
— Voltem aos seus afazeres! Não estão sendo pagas para
ficarem trocando figurinhas sobre como os clientes fodem vocês. —
diz com um sorriso de deboche virando-se para sair.
Ashley dá um passo à frente para atacá-la, então a seguro
para não fazer merda.
— Calma! Não faça nada que vá fazê-la se arrepender depois!
— Qualquer dia desses eu mato essa ajudante do inferno.
Mulherzinha nojenta!
— Ela tem prazer em me humilhar. Desde quando cheguei ao
casarão, nunca gostou de mim.
— Issoporque antes de você, ela era a preferida de Luigi, e
jurava, na minha época, que seria a nova senhora Lourenço.
Reparei que o velho nem olha mais na direção dela, a não ser que a
queira fazendo algo para ele.
— Pois que faça bom aproveito daquele monstro! Só não digo
que não me importaria de ser trocada por outra, porque sabemos
onde ele busca as substitutas. — falo com desânimo.
Ashley também faz uma cara de tristeza e mudamos de
assunto. Terminamos nossa parte, subimos para nos aprontar. No
quarto, ela me passa mais algumas informaçõessobre Vincent, me
diz para ficar preparada, porque caso a oportunidade surja, me
avisará.
Desço ao primeiro andar, vejo o quanto está lotado. Olho para
os lados tentando achar Vincent, no entanto não consigo vê-lo em
lugar algum. As pessoas começam a ir à área, lugar em que está o
ringue. Acompanho a multidão animada, que grita obscenidades de
todos os tipos. Encosto na parede tentando ver quais serão os
lutadores, entretanto não enxergo em meio a tanta gente. Alguém
agarra meu braço, me assustando com o aperto doloroso em meu
pulso.
— Não era para você estar aqui! — a voz grossa diz atrás de
mim me fazendo tremer pelo contato.
Não preciso me virar para saber que é ele. Meu corpo, minha
mente sabem, e ambos no momento estão gritando com uma
grande placa em letras neon escrita PERIGO. A vontade de sair
correndo é grande, mas me mantenho presa no lugar, apenas
respirando, a fim de me acalmar e conseguir fazer as palavras
saírem sem gaguejar.
— Só queria poder assistir a luta. — digo tentando manter a
voz baixa e calma, sem transmitir o que estou sentindo.
— Isso aqui irá ficar muito violento em pouco tempo.
Seguro a vontade de rir do seu comentário.
— Sério? Mais violência do que já vi?! Impossível!Nada mais
me assusta.
Ele ri muito perto agora, minha pele se arrepia todinha.
— Não se engane, doce coelhinha! Te garanto que tudo que já
presenciou em sua vida, não é nem metade do pior que existe em
nosso mundo.
Franzo a testa com sua escolha de apelido. Coelhinha? Por
quê? Pareço ser inofensiva? Se ele soubesse de tudo que já me
aconteceu, não diria isso, todavia não estou afim de dizer nada
também.
— Talvez esteja certo. Porém, vivendo nesse meio, conviver
com o perigo é inevitável.
Viro-me de frente para vê-lo melhor. Seus olhos não desviam
dos meus, me analisando.
— Pode ser. Mas se quer realmente assistir, terá que sair
daqui e ir ao outro lado, onde é mais seguro. — diz me soltando, e
imediatamente sinto falta de seu toque.
Ele começa a andar e eu o acompanho.
— Quem irá lutar hoje? — pergunto para puxar assunto.
— Vou abrir a noite.
Somente isso. Curto e grosso! Me deixa junto as outras
meninas e sai.
— Vejo que conseguiu algum progresso. — Ashley diz. — Me
escuta! Ele vai lutar, e quando sair, vai pedir para que eu entre, na
intenção de extravasar o restante da sua adrenalina. Além disso, ele
vai precisar de ajuda com os ferimentos. Será sua chance,
entendeu?
— Quando diz “extravasar”,está falando sobre sexo, né? —
pergunto para tirar minhas dúvidas.
Ela gargalha achando engraçado meu embaraço.
— Sim! Lembre-se de tudo o que te falei e vai dar certo.
Ashley me passa mais algumas orientações e balanço a
cabeça concordando. Pouco tempo depois um participante grande,
todo tatuado entra na gaiola. Quando Vincent entra, do outro lado,
as pessoas gritam eufóricas, fazendo com me questione se ele
ganhará daquele homem. O cara é muito maior e aparentemente
mais forte.
— Esse adversário irá acabar com o Vincent. Olha o tamanho
dele! — digo admirada.
— Relaxa! O chefe nunca perdeu uma luta, olha que já pegou
adversários muito piores que esse. — Marco, com sua enorme
barba, diz ao meu lado.
— Se você diz. — Viro para frente sem me desprender do que
acontece lá dentro.
A luta inicia com os dois dançando um em volta do outro,
encarando-se. Uma sucessão de chutes começa, o que parece
durar uma eternidade. O cara consegue acertar o maxilar de
Vincent, fazendo-o tropeçar e quase perder o equilíbrio, mas ele se
recupera dando um sorriso provocativo. O adversário revida a
provocação com uma tentativa de acertar um chute na parte inferior
de sua barriga, entretanto, Vincent com a perna esquerda bloqueia e
revida com um soco na boca do estômago de seu oponente,
seguido de outro que acerta o nariz, tirando-lhe sangue. Antes de
receber mais um golpe, o lutador rival consegue se recuperar, e
devolver o ataque recebido, levantando uma perna, dando um chute
alto na cabeça de Vincent, fazendo-o cambalear para trás e cair no
chão.
Dou um gritinho, arrancando algumas risadas a minha volta.
Então ele se recupera rapidamente, levantando o braço para se
defender de alguns golpes. Aproveita a guarda aberta do adversário,
volta com tudo para cima do cara, iniciando uma sequência de
socos. Após várias pancadas na cabeça do oponente, o mesmo cai
no chão e não se levanta mais. Vincent se joga em cima do homem,
como se estivesse possuído por uma besta, continua a bater no
cara desacordado. Como esperado, é declarado o vencedor,
levando a galera à loucura com o resultado.
Ele sai da gaiola sendo recebido por algumas pessoas que lhe
dão os parabéns. Olha para onde estamos, prendendo seus olhos
nos meus por um curto período de tempo, depois desvia fazendo um
sinal para Ashley, que vá ao banheiro. É minha chance! Despeço-
me da minha amiga, pedindo mentalmente para que Iemanjá, a
minha deusa de amor, me abençoe e ajude a conquistá-lo. Com
pensamentos positivos, parto para minha missão.
Entro no banheiro, tiro o short para tomar meu banho, sentindo
o sangue quente da adrenalina ainda correndo em minhas veias. O
filhoda puta conseguiu acertar alguns golpes em mim. Não era nem
para eu ter demorado tanto, visto que geralmente no primeiro round,
eu já derrubo meus adversários. No entanto, aquele toque me
desconcentrou, e eu ainda podia sentir o quente de sua pele em
minha mão. Pude até mesmo perceber seus batimentos acelerando
diante de meu toque. Ela é difícil de ler. Consigo estudar, até
adivinhar alguns dos seus comportamentos, por serem repetitivos,
mas no geral é quieta e calada. Notei que poucas pessoas se
aproximaram dela lá fora, então com certeza foram avisadas para
manterem distância.
Fecho meus olhos, lembro do seu cheiro gostoso. Me segurei
para não pegar uma mecha de seu cabelo e trazer ao meu nariz,
feito um tarado. Meu pau fica ainda mais duro com a lembrança,
levo minha mão para acariciar e acalmá-lo um pouco. Gemo
sentindo o gozo já na borda, então acelero os movimentos,
deixando-me esvair em êxtase, imaginando ser ela aqui me tocando
com suas delicadas mãos de unhas pintadas de vermelho sangue.
Gostei dessa cor nela. Abro os olhos, termino de me enxaguar,
coloco a toalha na cintura e saio do chuveiro.
Como se uma miragem saíssediretamente da minha cabeça e
se materializasse em minha frente, ali está ela com uma caixa de
primeiros socorros nas mãos. Reprimo os pensamentos
pecaminosos, procurando tomar o controle do meu corpo
novamente.
— O que está fazendo aqui? — pergunto com raiva por ter
baixado a guarda.
— Eu... — Ela lambe os lábios ao olhar meu peitoral molhado.
— Ashley me mandou aqui.
— Por quê? Ela sabe que esse é o serviço dela. — a corto.
— Ela precisou subir, porque não estava se sentido bem.
— Não me interessa! Pode deixar isso aí e cair fora daqui
antes que alguma conversa chegue aos ouvidos do meu tio e você
me traga problemas!
— Eu posso fazer isso no lugar dela. Ela me orientou sobre
como você gosta. Deixe-me ajudá-lo!
Parto para cima dela, prendendo-a na parede. Ela me olha
com seus olhos azuis arregalados, temendo meus próximos passos.
Isso,coelhinha! Tenha medo de mim, fique o mais longe possível,
antes que eu estraçalhe você com minha fome.
— Não! Você não pode! Eu não sou suave, garota! Gosto de
duro e forte, e a Ashley aguenta tudo sem reclamar. Então dê meia
volta e vaze daqui!
Como se eu tivesse ligado um interruptor dentro dela, seus
olhos vão de amedrontados para raiva em um piscar de olhos. Ela
me empurra, joga a caixa no chão e tira a roupa, ficando nua em
minha frente.
— Eu não sou frágil, querido, nem vou quebrar. Acredite em
mim quando digo que já passei pelo fogo e sobrevivi. Não será uma
foda dura que irá me fazersair correndo daqui. — fala rápido e sem
tomar fôlego.
Analiso suas falas,me afastoquando a minha mente grita para
que eu a deixe sair sem aceitar o desafio. Mas logo depois abaixo
meus olhos para o seu corpo e meu membro pulsa de desejo. Ela é
magra, porém com curvas nos lugares certos. Seus seios são
medianos, caberá perfeitamente em minhas mãos. Sua feminilidade
lisa me deixa com a boca salivando para prová-la. Qual será seu
gosto?
— O quê? Não vai ser homem para fazero serviço? Acho que
quem vai sair correndo daqui será você. — me provoca.
Foda-se!
— Ah, coelhinha, você não sabe com quem está brincando! —
digo jogando ela na parede e segurando seus cabelos compridos. —
Vire de costas e coloque as mãos para trás!
Ela faz o que mando. Paraliso quando vejo suas costas
marcadas. Não ouso perguntar o que aconteceu e quebrar o clima,
mas acho que agora entendo o que ela quis dizer sobre estar no
nosso mundo e já conhecer a violência. Rasgo sua calcinha usando
a mesma para amarrar seus pulsos. Cheiro seu pescoço, ela se
arrepia. Sorrio perverso vendo o quanto eu a afeto.Nesse momento
seu corpo diz tudo o que preciso saber sobre ela.
— Você cutucou o lobo com vara curta, Lorena. Muito curta!
Por isso pagará pelo seu atrevimento.
— Estou ansiosa por isso. — diz me olhando sobre os ombros.
Puta que pariu! Que mulher é essa?!
— Vamos às regras: você não fala,não tenta me tocar na hora
do sexo e nem me beija. Entendeu? — digo e ela balança a cabeça
em concordância. — Muito bem! Agora fique quietinha! Não saia
daqui ou terei que te punir.
Vou até a minha bolsa com roupas, pego um preservativo.
Jogo a toalha no chão, rasgo o pacotinho e cubro meu pau. Chego
por trás dela, segurando sua cintura, mordo seu pescoço, belisco
um dos seus mamilos e depois pincelo meu membro em sua
abertura. Coloco a glande e tiro, provocando sua entrada, então ela
começa a querer se mexer. Dou dois tapas em sua bunda
arrebitada, encaixo nela e a empalo de uma só vez. Ela arfa e eu a
deixo se acostumar com meu tamanho. Não sei porquê, mas quero
que ela sinta tanto prazer quanto eu. Quero marcá-la para que sinta
que nunca terá outro igual a mim. Começo a me mexer, aos poucos
vou aumentando minhas estocadas. Caralho! Ela é muito
apertadinha. Tenho dificuldade para entrar novamente depois que
saio de dentro dela. Como pode uma prostituta ter uma boceta
apertada assim?! Ou os homens que ficaram com ela têm paus
pequenos ou só pode ser algum tipo de genética.
A fodo com força, deliro com o seu canal molhado me
sugando. Levo meu dedo ao seu botãozinho, ela geme baixinho.
Aproveito seus sucos e passo o dedo devagar em seu clitóris,
apenas atiçando. Ela se contorce e eu a seguro para não escapar
de mim, nem cair no chão. Acelero meu dedo ao mesmo tempo em
que acelero minhas batidas. Lorena começa a choramingar e eu me
deleito com sua entrega.
— Por favor, pare! Eu acho que vou fazerxixi. — diz com a voz
preocupada.
Segurei o riso porque a situação não é para rir. Não sei se é
alguma atuação dela, mas deixo que continue seu teatro.
— Não vai, querida. Confia em mim! Deixe vim! — digo
continuando.
— Oh, meu Deus! — ela grita alto quando o orgasmo vem
forte.
Tenho certeza que lá fora todos ouviram e sabem exatamente
o que estamos fazendo.
Eu não consigo me controlar mais, então feito um animal no
cio, deixo me levar. Aproveito que sua boceta me esmaga em um
aperto de morte e me esvazio dentro dela com um gemido gutural.
Respiro fundo, saio para tirar o preservativo, desamarro suas mãos
deixando-a se recuperar. Tomo outro banho, me visto e sento no
banco, aguardando ela terminar de se vestir. Ficamos em um clima
estranho pós-foda. Normalmente essa é a hora que saio ou mando
a prostituta sair.
— Passe a pomada em meu machucado! — digo querendo me
livrar logo dela.
— Okay! Só um momento. — fala indo pegar a caixa no chão.
Ela senta ao meu lado e começa a passar os remédios.
— Nunca tinha gozado antes? — pergunto fazendo suas
bochechas ficarem vermelhas.
Interessante!
— Se está se referindo àquilo que senti... Não.
Só pode ser mentira dela. Resolvo mudar de assunto.
— Quem fezessas marcas em suas costas? — a curiosidade
me vence e pergunto.
— Seu tio. Fazia parte do treinamento doentio dele. — diz
dando de ombros.
— Que treinamento? As mulheres não precisam ser treinadas
para serem prostitutas.
— Vocês nos tratam como se fôssemosobjetos, só que somos
pessoas de carne e osso, com sentimentos. Sentimos dor, tristeza,
alegria. — diz colocando mais forçado que o necessário no algodão
que passa em minhas feridas.
Então seguro seu pulso.
— Já chega! É o suficiente. — Levanto e me afasto dela. —
Deixe a caixa aí, pode sair! Seus serviços não são mais
necessários.
Ela muda a postura e fechaa cara. Levanta para sair, mas não
antes de dizer algumas frases que ficariam rondando minha cabeça
o restante da noite.
— Logo se vê que não entende nada sobre o nosso mundo.
Nem todas nós estamos nessa vida porque escolhemos, e mesmo
aquelas que vieram por vontade própria, merecem respeito. Somos
pessoas, como vocês, não somos máquinas. — Sai pisando duro,
sem olhar para trás.
— Só essa que me faltava agora! Depois irei ter uma
conversinha com a Ashley. Quem essa atrevida pensa que é para
me enfrentar desse jeito?! — digo jogando a caixa dentro da bolsa e
saindo do banheiro.
Vou à procura de Marco, já que quero saber das novidades
sobre meu querido tio. Lucca Vitiello já começou a me pressionar
para marcar a festa de noivado com sua filha, contudo estou
adiando o quanto posso para sair foradesse acordo. Não darei uma
resposta até saber exatamente quais são seus interesses nessa
união. Tenho desconfiança de que estão tentando derrubar nossa
organização. Se tem uma coisa que aprendi em meus duros
treinamentos, é que não se deve confiar cem por cento em ninguém,
nem mesmo nos que estão sentados à nossa mesa, comendo
conosco.
Encontro Marco encostado na parede do banheiro me
aguardando sair. Como de costume, sempre alerta, mantendo-se
por perto para me proteger. Faço sinal para que venha comigo ao
escritório. Existem certos assuntos que não dá para falar estando
perto de tanta gente desconhecida. Sento em minha cadeira
fazendo sinal para ele prosseguir.
— A garota saiu cuspindo fogo. Tem certeza de que foi uma
boa ideia ficar com ela? Não que eu seja contra você ficar com
quem desejar, mas isso pode nos causar algum problema
futuramente com o seu tio. Ele é obcecado pela morena.
— Não se preocupe! Ela não é ninguém importante, garanto
que não irá acontecer novamente. Foi apenas um descuido que não
se repetirá. — digo sucinto e ele balança a cabeça em
concordância.
— Já que esclarecemos essa parte, preciso te dizer algo nada
agradável sobre o sumiço de uma carga de drogas que estava
sendo transportada para Nova York.
Paraliso com a mão no ar, segurando o isqueiro que estava
indo acender meu cigarro na boca.
— Como assim sumiu? Estava tudo dentro do planejado,
também estamos com o pagamento dos policias em dia. Conseguiu
descobrir quem foi o desgraçado?
— É aíque ficainteressante. Pegamos um dos homens do seu
futurosogro com um dos produtos roubados. Segundo ele, comprou
de alguém daqui de dentro, já tenho quase certeza de que foi do
Romeo, pois ele não viajou com seu tio, o que é bastante estranho,
visto que anda atrás dele feito uma maldita sombra desde moleque.
Mas, por via das dúvidas, prendemos no galpão o indivíduo que
efetuou a compra.
— Filho da puta! — digo batendo na mesa, com raiva.
— Literalmente, não? Não acho coincidência ele ter chegado
com seu tio, marcado a reunião com o chefe de Las Vegas, e na
semana seguinte, um dos nossos produtos estarem nas mãos deles.
— Faz sentido. Já tentou arrancar a confissão do imbecil?
— Não. Deixei esse presente para você, sei o quanto gosta
desse tipo de diversão.
Sorrio. Ele me conhece bem. É uma das coisas que não abro
mão. Para mim não é sacrifício nenhum fazer pessoalmente.
— Então vamos! Preciso arrancar a pele de alguns ratos. —
falo animado.
Saímosda boate, dirigimos por uma estrada de terra para ir ao
local que tenho afastado da cidade. O lugar é um antigo armazém
de agricultores, sendo de difícilacesso, bem escondido no meio da
mata. Para entrar e saber daqui, precisa ser um dos meus homens
de confiança.Desço do carro, ansioso pelo que está por vir. Já sinto
a adrenalina me tomar novamente. Entro indo em direção à sala
separada especialmente para resolver esses tipos de assuntos. O
desgraçado está amarrado a uma cadeira. Fico em sua frente e ele
levanta a cabeça para me encarar. Jogo meu cigarro no chão, piso
nele para apagar.
— Quero ter uma conversa com você! Te aconselho a
colaborar comigo. Não sou conhecido por ser paciente, muito menos
por dar clemência, ainda mais quando se refere a quem ousa me
passar a perna.
— Foda-se! — diz ele cuspindo em meus pés.
Sorrio de sua atitude. Gosto dos rebeldes, pelo simples fatode
serem os que mais me dão prazer em torturar.
— Palavras difíceispara um homem considerado morto. —
digo com uma calma que não estou sentido por dentro.
— Eu já disse tudo que sabia aos seus homens. Não vou dizer
mais nada!
Aproximo-me mais dele.
— Não, não disse. Mas não se preocupe, você não é o
primeiro que me diz essa frase e nem será o último. Todos falam a
mesma coisa até eu começar. — digo pegando meu punhal,
movendo-o de um lado ao outro, fazendo o reflexo bater em seu
rosto.
Me abaixo estudando ele.
— Quando eu terminar com você, saberei até mesmo onde
seus antepassados viveram. — Acerto um soco em cima da costela
do seu lado direito.
— Quer que eu deixe preparada uma transfusão de sangue?
— Marco pergunta ao meu lado.
— Não. Ele irá falar logo. Vamos ver quanto tempo aguentará
se manter calado. Qual foi meu recorde da última vez?
— Vinte e cinco minutos, chefe. — responde rindo.
— Estou apostado quinze nesse. Pendure-o nas correntes! —
peço, arrancando algumas risadas a minha volta.
Arregaço as mangas da minha camisa e começo meu trabalho.
Alguns socos em lugares estratégicos, quatro facadas mais tarde,
logo já tinham não somente o nome do idiota que me traiu, como
também o endereço do local onde foi feita a entrega dos meus
produtos.
— A sua sorte é que estou muito ansioso para fazero babaca
que ousou me roubar, pagar. Caso contrário, não me importaria de
passar a noite inteira aqui, brincando com você. — Passo meu
punhal em sua jugular, dando fim na sua vida medíocre.
O cheiro de cobre do sangue toma conta do lugar. Um dos
meus homens me entrega uma toalha para que eu limpe-me. Olho
ao meu Rolex confirmando quanto tempo gastei, mas Marco
responde primeiro.
— Levou vinte minutos. Bateu seu recorde da última vez.
— Cinco minutos depois do planejado. Na próxima eu consigo
os quinze. — Sorrio. — Vamos atrás do filho da puta! Só finalizarei
minha noite depois de colocar uma bala no meio de sua testa.
— Ainda acho que isso tem dedo do Romeo. — ele diz
exasperado.
— Se ele tiver envolvido o recado de hoje já irá assustar o
mandante e deixá-lo com o rabo entre as pernas.
Saímos do galpão indo atrás do traidor. Somente depois que
dei cabo da sua vida é que voltamos à boate. É tarde da noite, só
está no local algumas pessoas e funcionários. Passo arrancando
alguns suspiros e exclamações, mas minha mente está ligada no
foda-se para o que eles pensam de mim nesse momento. Vou até o
bar, coloco algumas doses de tequila no copo, jogando-as para
dentro em um único gole.
Entro no elevador privativo para subir e levanto meus olhos
encontrando os dela arregalados me observando de onde está. Sei
que sou um filho da puta assustador quando quero, só que com a
camisa embebida de sangue, devo parecer o monstro que tanto me
chamam pelas costas, ou como a maioria me define: o psicopata
que ama matar. Imaginoque ela esteja pensando o mesmo agora e
me comparando ao meu tio, que a torturou. Isso, coelhinha! Veja
como eu sou e entenda porque tem que ficar longe de mim.
Enquanto a porta se fecha, não desvio meus olhos dos seus,
deixando que ela veja minha verdadeira face. Quando o elevador
sobe para o meu andar, e entro em minha fortaleza,tudo que penso
é de qual maneira vou tomar o controle da minha vida de volta. Isso
que aconteceu hoje foi só o início de tudo.
Tomo outro banho e acendo um charuto para relaxar. Quando
permito fechar meus olhos para dormir, não sonho com as mortes
que tenho em minhas mãos, nem com os rostos de meus pais,
como de costume, mas sim com um par de olhos azuis assustados
como os de um cervo perante um farol de um carro desgovernado.
A intensidade do seu olhar me tem toda arrepiada. Foi um
claro sinal de alerta para que eu fique na minha e não chegue mais
perto. Vê-lo todo sujo de sangue me mostra o quanto estou ferrada,
percebo que estou metendo em um beco sem saída. Se ele fez
aquilo com o intuito de me causar medo, teve efeito contrário. Meu
corpo traidor reconheceu sua presença assim que entrou, antes
mesmo que eu virasse e o visse entrando na boate. Ah, minha
deusa mãe! Não deixe que o feitiço vire contra a feiticeira. Tenho
que tê-lo comendo em minhas mãos, não o contrário.
Termino de limpar as mesas, de organizar as bebidas em seu
devido lugar e subo para meu andar. Preciso urgentemente falar
com Ashley e lhe passar o resumo do fiasco da noite.
Bato na sua porta aguardando ela abrir.
— Oi! Algum problema? — diz abrindo a porta e me fazendo
um sinal para entrar.
— Não sei dizer. Acho que fiz tudo errado, também não sei
como consertar.
— Como foi com o Vincent? — pergunta se sentando em
minha frente cruzando as pernas.
— Foi do jeito que você falou. — digo fazendo um breve
resumo sobre o ocorrido. — Mas no final acabamos discutindo, ai
ele me colocou para correr de lá. Em minha defesa, ele mereceu
ouvir cada palavra dita por mim.
Ashley engasga com a própria saliva, levanta-se tossindo.
— Você o quê?! Discutiu com o chefe?! Você está doida?! —
fala atropelando as palavras.
— Ele me ofendeu, acabei perdendo a cabeça. Não vai
acontecer de novo. Eu juro!
— Mas não vai mesmo! Estou sem acreditar em como você
está inteira aqui na minha frente. Combinamos que você iria
conquistá-lo para nos ajudar a sair daqui e não nos matar de vez.
Ele deve estar muito puto comigo. — Coloca as mãos na cabeça,
andando de um lado para o outro.
— E acha isso ruim? Não foi você mesmo quem disse que
iremos morrer mais cedo ou mais tarde nessa vida?
— Só não precisa ser tão cedo, né, amiga? Eu não quero
saber como ou pelas mãos de quem eu vou morrer. — diz levando
uma mão ao pescoço.
O arrependimento bate ao saber que posso ter prejudicado ela
com minha burrice. Não quero que ela sofra por minha causa.
— Eu vou dar um jeito, não se preocupe! Ireipedir desculpas a
ele e bancar a boa submissa que fui treinada para ser.
Ela gargalha segurando a barriga.
— Desculpa Lorena! “Você” e “submissa”na mesma frase é
até engraçado. Quantas vezes você se enfia em encrenca por ter
esse gênio forte?
— Não tenho culpa se não nasci com uma veia submissa. Eu
sou assim mesmo, só que às vezes abaixo a cabeça para evitar
punição.
— Acho que é por isso que você chama tanta atenção. Tem
uma aura diferente a sua volta, isso te torna valiosa. Todos eles te
enxergam como um desafio,e com Vincent não será diferente. Você
tem que continuar tentando! Eu ouvi falar que nossos documentos
estão guardados no cofre do apartamento dele. Então com você o
conquistando, talvez consiga descobrir a senha e ter acesso para
pegar nossos passaportes.
— Como tem tanta certeza de que ele vai ceder a mim?
— Porque ele é um homem e tem um pau nos meio das
pernas.
Inclinoa cabeça pensando no que acabei de ouvir, então ela
me devolve o olhar por um tempo balançando a cabeça sorrindo.
— Você não vê mesmo, não é? Está com todas as cartas nas
mãos, Lorena. Basta saber jogar usando as certas.
— Nunca fui boa em nenhum tipo de jogo de cartas. Sempre
gostei de dominós. — falo arrancando outra risada dela.
— Meu Deus! Você é a melhor! Veja bem o que irá fazer!
Amanhã cedo leve o café da manhã dele lá em cima, vista sua
roupa mais sexy e chegue lá arrasando! Faça a sua melhor cara de
arrependida ao desculpa a ele! Vincent sempre acorda antes do dia
amanhecer, para treinar, geralmente pede seu café no mesmo
horário. Esteja lá embaixo entre às cinco e seis da manhã para que
você atenda sua chamada. Será sua chance de arrumar essa
bagunça que fez.
— Okay! É bem cedo, então não correrei o risco de Antonella
me ver subindo.
— Aquele demônio está com seus dias contados. Escreve o
que estou te dizendo. Pega aqui! Esse é o endereço da Starbucks
que ele gosta e o que geralmente pede de manhã.
Guardo o papel e me levanto para sair.
— Vou descansar, já que está tarde e terei que levantar bem
cedo.
— Será por uma boa causa. — Dá uma piscadela e abre a
porta.
Vou para o meu quarto, rolo na cama metade da noite, ansiosa
pelo que vou fazer, mas consigo cochilar um pouco.

(...)

Quando o bip do celular dispara, levanto correndo para não ser


vista, nem perder o horário. Arrumo-me e desço, esperando sua
chamada. Começo a roer os esmaltes das unhas, de nervoso,
enquanto olho sem piscar para o telefone. É uma pena que essa
porcaria seja rastreada, vigiada vinte e quatro horas por dia por uma
equipe de soldados escolhidos a dedo, ou eu iria ligar para a minha
família.Uma vez tentei avisar à polícia sobre mim e fui descoberta.
Apanhei tanto de Luigi e dos seus comparsas, que só de me
lembrar, estremeço de pavor. Por fim, isso também nem adiantaria,
já que eles têm o controle sobre as autoridades locais. Naquele dia
eu estive tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe da saída.
Não demora muito para que o telefonetoque, então eu atendo.
— Dark Nigth
. Bom dia! — Meu coração parece que vai sair
pela boca.
— Mande meu café aqui para cima! Quero o de sempre, porém
com um expresso duplo hoje!
Grosso! Nem sequer deseja um bom dia antes de passar seu
comando.
— Sim, senhor! Já estou subindo.
Desliga na minha cara.
— Lorena? O que faz acordada há essa hora?
Congelo com a voz atrás de mim, mas suspiro de alívioao ver
que é Thadeo. Apesar de ser o filho mais novo de Antonella, ele
nunca me fez mal. Diferente da mãe e do irmão.
— Hum! Vincent pediu seu café,então estou indo buscar. Eu ia
pedir para um dos soldados irem comigo. Você pode me
acompanhar?
— Claro! Vamos lá, antes que o chefe ligue de novo.
Entramos no carro, vou com ele até a bendita lanchonete.
Faço o pedido, e volto com tudo para a viagem.
— Você está bem próxima dele, não é? — pergunta me
estudando. Eu seguro a respiração.
— Na verdade não. Só estou fazendo meu trabalho. Acho
muito difícil alguém ser próxima ao V
incent. O cara é assustador!
Ele ri concordando.
— Sua fama o define bem. É um exemplo para nós novatos.
Todos queremos ser como ele um dia.
— Uau! Parece que ele tem um fã, hein? — brinco com ele.
— Só sei reconhecer o seu trabalho. O cara levou nossa
organização a outro nível, além de estar fazendo seus próprios
investimentos pessoais. Isso é um feito e tanto para a sua idade.
Não sei muito dos seus negócios, então fico calada.
Chegamos de volta à boate e vou até o elevador para subir ao seu
apartamento.
— Obrigada pela ajuda!
— De nada! — diz com um sorriso bonito.
Quem vê assim, nem imagina que é tão letal quanto os outros
mafiosos.
Entro no elevador e aperto o botão. Meu estômago começa a
revirar, minhas pernas tremem de medo pelo que vou enfrentar.
Respiro várias vezes aguardando ele liberar minha entrada. As
portas se abrem e ali está ele, todo suado, com sua habitual
carranca me aguardando.
— Você de novo? Parece que não tem amor à própria vida,
não é? — diz sério, me observando de cima a baixo.
Engulo em seco, sem saber o que falar. A sensação que tenho
é que meu cérebro acabou de ter um curto-circuito, porque tudo que
havia ensaiado, sumiu da minha cabeça, restando somente um
branco.
Ela engole em seco e chama minha atenção para seu pescoço
delgado. Espero ela falar alguma coisa, mas somente me encara
travada.
— Vamos, Lorena! Diga o que você quer de mim.
— Na... Nada. Quer dizer... Apenas vim trazer seu café e te
pedir desculpas por ontem. — diz com a voz trêmula.
— Se é só isso, pode deixar tudo ali no balcão e sair. — Me
afasto da porta para que ela passe.
Ela passa quase se esbarrando na parede e eu seguro a
vontade de rir. A garota é engraçada. Está com medo, mas mesmo
assim veio aqui na toca do lobo mau. Ela se inclina sobre o balcão
para deixar as coisas, como pedi. Seu vestido curto — se é que
pode chamar esse pedaço de pano de roupa — sobe mostrando a
polpa da sua bunda empinada. Meu pau fica duro com a bela visão,
assim, em dois passos estou atrás dela, segurando-a no lugar.
— Sua mãe nunca te disse que você não deve entrar na casa
de estranhos, coelhinha?
Sinto-a ficar tensa com minhas palavras.
— Sim. Mas esse conselho não me ajudou muito. Nunca fui
boa em seguir regras.
— Eu vejo que não. — A seguro pelo pescoço para que se
levante, sinto sua pulsação acelerada em meus dedos, o que me
deixa ainda mais excitado.
— Diga, Lorena, que veio aqui porque gostou do que fizemos
ontem e está em busca de mais! — digo baixo em seu ouvido.
— Sim, eu quero. — Responde com um gemido.
Seus seios estão pontudos e a roupa fina não ajuda a
esconder esse fato. Esfrego-me em sua bunda sentindo meu pau
babar em meu short. Mordisco sua nuca enquanto aperto seus seios
empinados e então desço minha mão para o meio de suas pernas.
Ela se abre mais para mim, brinco de passar os dedos por cima da
sua calcinha, deixando um deles escorregar para dentro,
encontrando ela molhada. Tiro o dedo e trago ele aos meus lábios,
provando-a. Ela me olha com suas pupilas dilatadas, quase do
tamanho de suas íris azuis, de tão excitada.
— Issotudo é para mim, coelhinha? Quer o meu pau aqui? —
Volto o meu dedo para dentro dela e rodeio sua entrada, apenas
para provocá-la.
— Oh, Deus! Sim! — Joga a cabeça em meu ombro,
totalmente entregue aos meus avanços, sorrio do seu desespero.
— Coloque as duas mãos na mesa e se segure. Não vire para
trás, nem tente me tocar. Tudo bem? — eu digo e ela balança a
cabeça afirmando. — Boa menina!
Rasgo a sua calcinha e desço por trás dela sentido seu
delicioso cheiro de fêmea. Coloco minha língua em sua entrada e
gemo quando seu gosto explode em meu paladar. Direto da fonte é
ainda melhor. Seguro-a firme no lugar quando começa a se mexer
com meu ataque em seu clitóris. Lorena começa a tremer, dando
sinais de que está perto de gozar.
— Já volto. — digo levantando e praguejando quando vejo que
estou longe do quarto, então me afasto e vou para lá.
Vou até a minha gaveta, pego uma gravata e alguns
preservativos. Volto para onde a deixei e coloco suas mãos juntas,
amarrando-as para trás. Rasgo um pacotinho e encapo meu
membro com rapidez.
— Abre mais as pernas para mim, babe! — digo me
encaixando em sua boceta, entrando em seu canal.
Jogo a cabeça para trás sentido o puro êxtase em minhas
veias. Começo a estocar dentro dela, me segurando em sua cintura
fina.
— Humm! — Geme ao ser empalada pelo meu pau até o talo.
Bato em sua bunda a fazendo gritar e me regozijo com as
marcas de minha mão em sua bunda morena. Direciono uma mão
para o meio de suas pernas na intenção de levá-la ao seu limite e
fazê-la gritar de prazer.
— Goza para mim, coelhinha! — digo aumentando os
movimentos do meu quadril e dedo quando sinto ela me apertar.
— Deixa vir, Lorena! Não se prenda! Se entregue ao prazer!
Ela choraminga. E foda-se se esse som me deixa ainda mais
duro e pronto para explodir a qualquer momento dentro dela!
Levanto uma de suas pernas e a posição me fazir mais fundo, nos
fazendo arfar com a sensação. Lorena começa a gemer mais, e
como da primeira vez, solta um grito alto gozando por todo o meu
pau, e de quebra me leva junto, me derrubando de um precipício de
prazer e luxúria. Respiro fundo até a minha respiração voltar ao
normal, então saio de dentro dela. Viro-a de frente para mim
segurando em seus cabelos para que me olhe nos olhos.
— Vou perguntar apenas uma vez, espero que não minta para
mim, Lorena! É meu tio que está te mandando aqui? O que ele quer
que você tire de mim? Responda!
— Não. Ele não me mandou aqui. Eu juro!
— Para o seu bem, espero que esteja falando a verdade,
porque se estiver mentindo ou tentando me manipular, não serei
nem um pouco misericordioso com você. Estamos entendidos?
— Sim. Entendi.
Solto minha mão de seus cabelos, seguro seu queixo.
— Quero continuar a transar com você, mas nunca mais tente
invadir meu espaço sem que eu permita, Lorena, ou as
consequências serão muito desastrosas! Eu te chamo quando
quiser sua presença, mas sempre será só sexo. Repete para mim o
que sempre será!
— Só sexo. — responde rápido.
Ela acha que me engana. Está em busca de algo que ainda
não descobri. Só que isso é questão de tempo.
— Bom! Muito bom! — A puxo para ficar encostada em meu
peito. — Porque será a única coisa que terá. Não tenho sentimentos
e muito menos me deixo ser manipulado por alguém. Então pense
bem no que está tentando fazer.
Ela balança a cabeça concordando e eu a pego com a guarda
baixa para beijar seus lábios carnudos e tentadores. Ela se derrete
em meus braços. Aproveito que já está com as mãos amarradas e a
levo ao quarto ao lado do meu, deitando-a na cama. Ela me olha
curiosa, ofegante pelo que está por vir.
— Vai ter que confiarem mim. — digo pegando outra gravata e
usando nela como uma venda.
Sua respiração acelera, desse modo me afastopara vê-la ali a
minha mercê. É bonito ver o contraste de sua pele com seus
cabelos negros espalhados nos lençóis de cetim vermelho. Vou
testá-la, saber seus limites, para explorá-los. Não todos hoje, porém
já será um começo.
— Somente aqui você pode me chamar de Vincent, e nunca
foradesse quarto. Vou levá-la a outro nívelde prazer. Se não gostar
de algo, poderá me dizer que irei parar, mas aqui, sou eu quem
mando e seu corpo é meu para fazer o que quiser. Quer desistir e
sair?
— Não! Eu quero isso! — Morde os lábios, nervosa, eu sorrio
de sua entrega.
Vou até a maleta onde guardo alguns acessórios e brinquedos,
pego uma vela aromática, acendo e trago até ela.
— Se for demais para você, me diz. — falo virando o caldo da
vela em seus seios, a fazendo arfar
.
Ela não pede para parar, então vou descendo devagar,
derramando em sua barriga plana até alcançar seu centro. Lorena
se contorce, me coloco entre suas pernas, a chupando com
voracidade. Porra! Eu poderia me viciar nesse gosto. Enfio minha
língua em seu buraco apertado, tirando alguns gritos dela no
processo. Levanto-me para colocar outro preservativo, me posiciono
em sua entrada, vou entrando aos poucos, apenas curtindo e
testando, para somente depois de um tempo, agora com ela já no
limite, posso acelerar. A fodo como gosto, feito um animal faminto:
com força e profundo, até tê-la me apertando e implorando por
alívio.
— Por favor, Vincent!
— Por favor o quê,mia bella
?
— Humm! Por favor, me deixa gozar!
Sugo um de seus mamilos e belisco seu clitóris, o que é mais
do que o suficiente para tê-la gozando e gritando novamente meu
nome. Eu me permito vir tão forte enchendo o preservativo com
minhas sementes, que por um instante cheguei a pensar que o
mesmo tinha estourado e eu estava nu dentro dela.
Nos acalmamos e eu saio, tirando sua venda, desamarrando
seus pulsos.
— Vá se limpar, que você precisa descer antes que todos
acordem. Têm toalhas no armário de cima. — digo ajudando ela a
se levantar.
Saio e vou ao meu quarto tomar um banho rápido. Quando
termino, volto a minha cozinha para tomar meu café. Logo, ela vem
ao meu encontro, meio sem jeito. Não tem muito que falar. Ela
precisa entender que não terá tratamento especial apenas porque
fodemos. Por fim, digito o código do elevador para que entre.
— Ninguém deve saber nada sobre isso, Lorena, ou nós dois
estaremos com muitos problemas.
— Eu sei. Tomarei cuidado.
Fecho a porta permitindo que ela desça ao seu andar.
Faz muito tempo desde que estive com uma mulher a minha
disposição para realizar meus fetiches. Infelizmente,a última armou
para mim há cinco anos quando se juntou com o inimigo e tentou
me matar na hora que estávamos fazendonossos jogos sexuais. Eu
baixei a guarda e quase fui morto pelo inimigo. Depois disso, nunca
mais permiti que mulher nenhuma me tocasse. Mas talvez com ela,
eu possa brincar um pouco, ao menos até descobrir o que
realmente esconde de mim.
MILÃO - ITÁLIA

O telefone toca e desvio os olhos da janela para ver quem é.


Vejo o nome de Romeo na tela e atendo imediatamente, ansioso por
notícias de Los Angeles.
— Luigi! — digo soltando a fumaça no ar
.
— Chefe, achei que iria gostar de saber que já passei a carga
aos Vitiello como parte do combinado.
— Ótimo! Não esperava menos de você.
— Devo dizer que a segunda parte do plano também está indo
muito bem. Ashley fez um excelente trabalho aconselhando sua
pupila, pelo que fiquei sabendo ela já anda se esgueirando pela
cama do seu sobrinho.
— Maravilha! Continue de olho nele e deixe Lorena livre! Isso
vai nos calhar mais à frente.
— Acha mesmo que Vincent vai confiar nela ao ponto de
contar seus planos?
— Acredito que sim. Eu vi como ele andou a observando
quando pensou que não tinha ninguém olhando.
— Entendo. Falta somente Vincent confirmar o noivado com
Giovanna. Lucca está muito ansioso para fazer o anúncio oficial.
— Ele vai cumprir com o combinado. Nunca voltei atrás em
minha palavra e não será agora que começarei.
— Um dos nossos homens foi sacrificado. Marco desconfiou e
tive que montar uma estratégia de emergência. Ficou muito perto de
eles descobrirem que fomos nós, porque o soldado dos Vitiello deu
com a língua nos dentes, então tive que improvisar.
— Não se preocupe! Issofoi por um bem maior. Se mantenha
neutro e continue fazendo como o combinado. Quero todos esses
negócios em minhas mãos de volta, Romeo! Chegou a hora de meu
sobrinho cumprir seus deveres com a famíliae parar de brincar de
ser chefe por aí. A única maneira de ele voltar ao meu controle é se
eu quebrar as suas asas. Isso já foi longe demais! Eu não posso
deixá-lo tomar posse da minha cadeira e se voltar contra mim.
— Entendido, chefe! Serei discreto.
— Me mantenha informado de tudo!
Desligo e sento em minha cadeira, bebendo meu vermute,
ouvindo Moonlight Sonata de Beethoven ao fundo, contemplando a
visão da menina sentada no banco lá fora. Ela é a minha mais nova
aquisição. Já estava na hora de começar a treinar uma substituta
para Lorena, que está começando a se rebelar contra mim. Gosto
de cortar o mal pela raiz.
Henrique entra pela porta com as papeladas que detesto olhar.
— Nós precisamos conversar! — diz jogando as pastas em
cima da minha mesa, fazendo a maior bagunça.
— Ainda não é muito cedo para estar estressado e me trazer
problemas?
— Não quando as pessoas estão começando a questionar
sobre a nossa contabilidade. Luigi, os gastos estão muito maiores
do que as entradas, para variar, tiveram várias perdas esse mês. O
FBIestá em cima, já prenderam muitas das nossas mercadorias, e
até mesmo alguns dos nossos homens. A situação está ficando
insustentável! Mesmo comprando muitos deles, ainda não foi o
suficiente. Os outros representantes do conselho estão ficando
preocupados e pedindo uma reunião. Andam cogitando a troca do
capo.
Levanto-me fechando o terno, agora muito chateado.
— Mucchiodi maledetti ! Pois eles que ousem me desafiar e
questionar como administro os negócios da famiglia! Se muitos
deles têm cargos importantes, foi porque eu os coloquei lá, mas
posso arrumar um jeito de tirar também.
— Iriacaçar guerra com todos os subchefes e aliados apenas
para provar seu ponto?
— Se for preciso? Sim! Minha famíliaestá no poder há anos e
nunca conseguiram nos derrubar. Comigo não será diferente. Eu
sou o chefe, não deveriam me questionar tanto, como estão
fazendo. Minha palavra é lei!
— Olha! O caso é que as coisas aqui estão indo de mal a pior.
Não seria melhor pedir para o Vincent voltar? Os negócios de Los
Angeles e Nova York vão muito bem, tenho certeza de que com sua
ajuda poderemos rapidamente colocar os daqui em ordem também.
— Não! Já estou resolvendo isso. Tenho outros planos para o
meu sobrinho.
— E posso saber quais são? Eu sou seu consigliere, tenho que
ficar por dentro dos assuntos para poder acalmar os outros.
Abano a mão, desdenhando. O escolhi para ser meu
conselheiro exatamente pela sua inteligência e faro para os
negócios, além de ter pertencido, por muitos anos, ao grupo de elite
do exército dos Estados Unidos. Ele trouxe consigo o treinamento
pesado que aprendeu, e passou aos meus soldados, porém,
ultimamente, tem me torrado muito a paciência, já estou me
questionando se fiza coisa certa ao colocá-lo em um cargo tão alto.
Odeio questionamentos, e atualmente eles andam me cercando por
todos os lados.
— Vou fazer uma aliança com o capo de Las Vegas. Um
casamento vai selar a paz e nós iremos ganhar muito com essa
união. Eles conseguiram autorização de quem está no comando do
território mexicano, para ter livre acesso entre as cidades.
— Com o homem que suspeitamos ser o mandante das mortes
do seu irmão e cunhada? Vincent concordou com isso?
— Issosão detalhes. Já fazmuito tempo e meu sobrinho não
precisa saber disso. Se conseguirmos essa aliança, o problema de
entrada na fronteira vai ser resolvido. Eles têm os melhores pontos
para entrega de drogas, sem serem rastreados, junto deles teremos
permissão para entrar e entregar nossas cargas sem tanta dor de
cabeça. Logo tudo voltará a ser como antes.
— Se você diz, acredito em sua palavra. Vou marcar uma
reunião com os membros das outras cidades e passar as novidades
para ver se consigo acalmar os ânimos.
— Faça isso! Estou sem paciência para tantos dramas
desnecessários.
Só essa que me faltava! Já não basta a maioria dos meus
homens se bandearem para o lado do meu sobrinho, o
considerando mais chefe do que eu, agora surgem esses malditos
que querer me tirar do poder. Só se for por cima do meu cadáver!
Não cheguei ao meu extremo, fazendo tudo o que fiz, para abrir
mão agora. Esse casamento veio a calhar, posto que irá expandir
muito mais os negócios e tirar Vincent do meu calcanhar. Tenho que
tirar o foco dele daqui da Itália, consequentemente, a noiva e o
sogro o manterão muito ocupado para continuar se intrometendo
nas minhas escolhas. Ninguém nunca soube dos meus
investimentos no tráfico humano e vai continuar assim enquanto eu
viver.
Chegando ao andar, vou direto ao meu apartamento e sento
na cama, repassando tudo que aconteceu lá em cima. Só agora me
permito respirar de alívio. O cara é gostoso e sabe o que está
fazendo.Nunca tinha ficadocom alguém que se preocupasse com o
meu prazer, e sinceramente, não me importava com isso. Sempre
tive somente relações sexuais contra minha vontade, sendo assim
tudo que eu sentia era dor. Nunca vi motivos para gostar de ter meu
corpo violado dessa forma. Toda vez que me olho no espelho, me
condeno por viver nessa vida, sinto nojo de mim, fico com aquela
sensação de que estou suja o tempo todo. Porém, com ele não, pois
pela primeira vez senti desejo. Não sei se será uma boa ideia
continuar com isso. Quando Vincent me virou de frente e perguntou
o que eu queria dele, não infartei por pouco, porque meu sangue
gelou, achei que iria morrer. Juro que até mesmo vi aquele filme da
retrospectiva da minha vida passando na minha frente. Tenho que
tomar cuidado, calcular bem meus próximos passos, dado que ele é
muito esperto, desse modo será questão de tempo até que saque
meu jogo.
Coloco a cabeça em minhas mãos, me sentindo cansada de
repente. Onde é que fui me meter? Todos os questionamentos que
eu faziae mantive trancado por anos, ameaçam sair. Faço um chá
com a intenção de me ajudar a acalmar, para assim conseguir
pensar com mais clareza. Logo depois termino de me arrumar e
desço até a boate para começar meu dia infernal. Mal coloco o pé
para fora do elevador e já sou cercada por uma Ashley ansiosa.
— E aí? Deu tudo certo? — pergunta assim que me vê.
— Se “dar certo” para você significa que eu não tenha
ganhado uma bala na cabeça ou conhecido o famoso punhal dele,
então sim, saiu como o planejado.
— Você demorou, me deixou bem preocupada. Já estava
quase subindo para ver se estava tudo bem.
— E teria morrido. Uma hora achei que não sairia de lá com
vida, porque ele me pressionou achando que seu tio estava me
mandando atrás dele.
Ashley parece perder a cor do rosto.
— Que bobagem! Ele deve ter feito isso como uma armadilha,
acreditando que você iria cair. Continue firme, porque está no
caminho certo.
— Tudo bem com você? Está pálida.
— Si... Sim! Me lembrei que esqueci algo lá em cima, então
vou buscar, já volto!
Observo minha amiga sair com pressa, há algo estranho em
seu comportamento. Seja o que for, parece ser importante. Organizo
minha parte, e subo ao palco para treinar minha dança de hoje.
Duas vezes por semana me apresento, dias dos quais considero os
melhores, posto que prefiro ter os homens me olhando, desejando
de longe do que no meio das minhas pernas. Esse é o momento em
que deixo minha alma viajar, tornando-me livre com as batidas da
música. É uma rota de fuga para meu corpo tão ferido pelo destino
cruel em que me encontro.
Seguro na barra de ferro, me alongando. O maravilhoso poder
do pole dance! Além de ser uma arma poderosa na conquista,
também ajuda a manter a forma, porque trabalha todos os músculos
do corpo, incluindo postura e barriga. Começo fazendo alguns
movimentos isométricos, cruzo as pernas em uma posição de
crucifixoinvertido e volto, subindo aos poucos para cima e sentando
na barra para fazer o movimentoseats tesoura . Depois passo para o
twisty split
, intercalando com a diva cruzada. Desço devagar, giro
meu corpo fazendoum Scorpions,finalizandocom o gemini . Fico de
costa, levo minhas mãos para trás na intenção de me firmare rebolo
sensualmente, deixando meu corpo me levar nas batidas de The hill
da banda The Weeknd.
Quando a música que eu dançava termina, se inicia Killing
Strangersde Marilyn Manson, quando abro os olhos, me deparo
com o dono de um par de olhos azuis me observando, perto do
palco. Solto a barra, me preparando para ir até ele, rebolando ao
ritmo da música. Sento na cadeira, desço a mão pelo decote da
blusa, apalpando meus seios. Vincent acompanha todo o caminho
que faço com ela até alcançar o cós do short, onde passo o dedo,
provocando, ameaçando abrir. Ele está sentado na poltrona de
couro preta, respirando pesado, me estudando como um leão
faminto quando se prepara para atacar sua presa. Não desvio os
olhos dos seus, sentindo meu corpo ferver diante do seu desejo
óbvio. Tomo coragem e começo a dar passos vacilantes em sua
direção, até ficar em sua frente.
— Gostou da dança? — pergunto atrevida.
— Deveria dançar assim para mim da próxima vez que eu te
chamar.
— Não será nenhum sacrifício.— digo baixinho para que
somente ele escute.
— Você está brincando com o perigo, Lorena. Como te
mostrei há pouco, não sou um cara gentil e muito menos um bom
moço. Suas táticas de sedução não funcionarão comigo.
— Não é o que eu vejo. — digo olhando para a sua calça bem
marcada que forma o desenho do seu enorme pau muito animado.
— Talvez eu goste do que é perigoso.
Um leve tremor em seus lábios, sugerindo um sorriso, me diz
que ele não é tão imune quanto tenta aparentar. Chego mais perto e
fico entre suas pernas, descendo bem devagar e ficando diante do
seu rosto.
— Só para que saiba, não estou usando calcinha, então não
terá que rasgar outra da minha coleção.
— Puta que pariu! — Puxa minha boca para a sua, grudando
nossos lábios. Sua língua duela com a minha em um beijo quente
de tirar o fôlego. — Eu só não te fodo aqui porque tenho que sair e
estou muito atrasado. Caso contrário, te amarraria naquela barra e
esbofetearia sua bunda enquanto te fodia por trás, na frente de
todas essas pessoas, para que assim você aprenda a não brincar
com coisa séria.
Só agora que olho a minha volta vejo várias meninas de boca
aberta nos olhando. Até mesmo Marco está encostado na parede do
outro lado com os olhos semicerrados. Estou ferrada! Olho de volta
para ele me lembrando do que disse sobre manter nós dois em
segredo para não causar nenhum tipo de problema.
— Desculpe! — Engulo seco. — Eu... Eu não tive a intenção
de te prejudicar. Não pensei nas consequências.
Ele segue a direção do meu olhar.
— Ninguém falará nada. — diz com sua voz grossa e rouca
acompanhada do seu hálito quente que fazcócegas no meu ouvido.
— Como tem tanta certeza disso?
— Ninguém aqui é idiota de me trair ou causar algum mal-
entendido, porque sabem que não viverão o suficientepara cometer
outro erro.
Sua certeza me traz arrepios na coluna, a adrenalina de pouco
tempo atrás volta com força. Esfrego a perna uma na outra,
excitada, chamando sua atenção. Qual é a porra do meu problema?!
— Você não sente medo de mim, coelhinha? — Se aproxima
segurando uma mecha do meu cabelo entre os dedos.
— Não. — respondo firme, mesmo que não seja totalmente
verdade.
— Pois deveria. Eu sou um monstro, seria melhor se lembrar
disso quando for brincar comigo da próxima vez.
— Ou você prefere que todos pensem assim, para mantê-los
afastados. Acredito que até mesmo os monstros têm um coração
que bate por alguém.
Ele solta meu cabelo e levanta rápido, se afastando.
— Não se engane, garota, nem mesmo fique achando que me
conhece, ou acabará virando comida de lobo mau. Quero você hoje
à noite em meu apartamento assim que terminar aqui!
Ele se vira, saindo acompanhado de seus homens. Levanto-
me, passo pelos burburinhos, fingindo que não estão falando de
mim, procuro refúgio em meu quarto, lugar do qual saio somente
quando chega a noite e o horário da minha apresentação.
Saio da boate, entro no carro seguido de um Marco que me
analisa feito um verme no microscópio. Não dou abertura para ele
perguntar alguma coisa, pois não terei uma resposta descente para
seus questionamentos. Entretanto, como eu já esperava, ele não
pega a dica clara que lhe dou.
— Está perdendo o controle. Já te disse que essa menina irá
atrapalhar os nossos planos!
Não discordo, uma vez que sei que é verdade.
— É só uma prostituta, Marco, como todas as outras. Se meu
tio não quisesse que eu a tocasse, teria levado a garota com ele,
não acha?
— Acha que Luigi está usando a morena para manipular você?
— pergunta chocado.
— Tenho minhas desconfianças. — Dou de ombros.
— Ainda assim continuará se envolvendo com ela, mesmo
sabendo disso?
— Dois podem jogar o mesmo jogo. Posso fazê-la se
apaixonar por mim, tirar dela tudo o que meu tio tem aprontado.
Seria um triunfo em nossas mãos. Lorena deve saber muita coisa de
Luigi, já que está com ele há anos.
Ele me olha por um tempo, de cenho franzido, mas depois
concorda com o meu ponto de vista.
— Você deve saber o que está fazendo.Só tome cuidado para
você mesmo não cair na sua armadilha e entregar todas as
munições para o inimigo usar contra nós.
— Tranquilo, meu amigo. Agora me conte o que mais
descobriu sobre aquele filho da puta.
— Luigi tem uma encomenda para chegar daqui a alguns dias.
É uma carga grande de meninas para serem entregues aqui. Seu tio
tem brincado com fogo, sem o menor medo de ser queimado.
Fico na dúvida se ele está sendo ousado em fazer negócios
aqui, debaixo do nosso nariz, ou se apenas está sendo um idiota
mesmo.
— Ligue para o FBI, passe o local e o horário da entrega!
Vamos fecharo círculoe apertar ainda mais. O que Henrique disse?
— Que por lá as coisas não andam bem, mas tem feito sua
parte para ajudar. Seu tio foi pego na mira deles e acho muito difícil
sair. Nem todos os seus contatos na política têm dado conta. Além
disso, os membros estão preocupados com essa exposição e
seguem pressionando seu tio.
Sorrio ao saber disso. Ele mesmo vai se quebrar, pois mais
cedo ou mais tarde os membros do Conselho irão ceder e chegar à
conclusão de que eu sou a melhor opção para ocupar a chefia.
— Será questão de tempo até eu pegar o que me pertence.
— Sim. E é melhor se preparar. Te aconselho a arrumar um
bom advogado, para que quando a bomba estoure, você saia livre e
com o mínimo de respingos possível.
— Veja isso para mim! Eu quero o melhor ao nosso lado.
— Pode deixar. Já comecei a pesquisar.
Saímos do carro e fomos para o encontro marcado, onde será
feita a entrega das armas que encomendei. Quero verificar uma por
uma antes de enviá-las ao Afeganistão. O que para muitos são
maldições, para mim são negócios bem sucedidos. Estou levando a
organização a um patamar de sucesso nunca alcançado antes, nem
mesmo na época do meu pai. Ele tinha um certo receio em ousar,
por conta da nossa família,tinha medo de nos colocar em risco.
Será mais uma carta que terei na manga contra Luigi. Em pouco
tempo nós estaremos no topo, do jeito que sempre sonhei. Não é
por menos que os Vitiello estejam buscando aliança, até porque o
meu nome já está rodando por todos os cantos do mundo, onde
fazemos negócios.
— Trouxe tudo que pedi? — pergunto em um espanhol fluente
ao responsável da entrega.
Tive que aprender várias outras línguas para lidar não somente
com os aliados estrangeiros, como também com inimigos. Não tem
graça torturar alguém que você não possa entender o que fala.
— Tudo. E o chefe mandou mais algumas de brinde como
forma de agradecimento por fazer muitos negócios conosco. — diz
me entregando uma submetralhadora MP5.
— Agradeça a ele por mim, diga que me lembrarei disso
quando estiver no comando de tudo!
Dou sinal para que meus homens olhem todas as caixas
conferindo meus pedidos. Quando meus agentes confirmam que
está tudo certo, libero o pagamento.
— Pode entregar a mala, Marco! — dou a ordem sem tirar os
olhos do visitante.
— Foi um prazer, senhores! Estaremos sempre à disposição.
— diz se virando para ir acompanhado por alguns dos soldados até
a saída.
— Você já sabe o que fazer. Essa encomenda tem prazo de
entrega, preciso que alguém da nossa confiançaleve a mercadoria
pessoalmente ao Mohammed Shariq.
— Será feito, chefe! eTnho a pessoa certa para isso.
— Confio em suas escolhas, sei que não falhará comigo.
— Lucca tentou entrar em contato com você de novo? —
questiona curioso.
— Sim. Ele quer marcar a festa de noivado.
— Vi as fotos da sua futura noiva, a moça é muito bonita e
bem criada, como manda a tradição.
Torço o nariz com a menção da garota mimada e sem sal.
— Merda! Também vi a pasta que me trouxe. A garota parece
uma boneca de porcelana. Um toque meu é o suficiente para
quebrara-la em mil pedaços. Imagina se presenciar o meu pior
.
Marco gargalha, visto que sabe que é verdade.
— Você não terá muito do que reclamar se revolver aceitar
esse acordo maluco. O lado bom é que ela já está acostumada com
a vida que as mulheres têm na máfia,então não ficaráquestionando
nada.
— Você está parecendo meu tio. Eu só vejo muita hipocrisia
nisso tudo. Essa baboseira deveria ser enfiadano cu de quem criou,
até porque, com tudo que fazemos, nossas almas já estão
condenadas ao inferno. Logo, não há motivos para seguir regras de
igreja e tradições descabidas.
— Nisso eu concordo contigo, no entanto fazparte da famiglia
e serve para manter as aparências diante da sociedade.
— Vamos! Eu preciso treinar um pouco, porque estou com
muita energia acumulada e esse assunto me deixa ainda mais
estressado. — Coloco meus óculos escuros e saímos rumo ao
galpão de treino onde me sinto em casa.
Treino até meu corpo não aguentar mais. É assim que aprendi
a controlar meus instintos assassinos, até acabei descobrindo que
sou tão bom no combate corpo a corpo quanto sou com a arma ou
meu punhal nas mãos.
Horas mais tarde volto à boate. Sento no bar, peço uma dose
de whiskypuro. Ao longe, observo Lorena dançando a coreografia
que ensaiou mais cedo. O desejo toma conta de mim e meu pau fica
duro imediatamente. Meu sangue pulsa em minhas veias quando
imagino que mais tarde a terei sob minha disposição para fazer o
que eu quiser com seu delicioso corpo tão viciante e perigoso
quanto uma dose letal de heroína. Todos os homens presentes têm
seus olhos presos ao palco, como uma mariposa sendo pega pela
armadilha da aranha. Ela é como uma sereia: bonita e sedutora,
enfeitiçando todos a sua volta com sua beleza e desenvoltura,
apenas esperando os otários caírem em seu encantos para uma
inevitável e prazerosa morte. Para um homem como eu,
acostumado com o pior do submundo, isso tanto me deixa em alerta
quanto me excita. Se o demônio Lilith tivesse um rosto, com toda
certeza Lorena a representaria bem. Foda-se! Eu me deixaria ser
levado para o fogodo infernopor ela e sua maldita boceta apertada.
No fundo, torço para que ela não esteja ao lado do meu tio, já que
assim como foi com a Jessie, não lamentarei por ter que tirar a sua
vida.
São quatro da manhã, estou aqui há algum tempo parado na
porta do apartamento dela, pois a espertinha achou que seria uma
boa ideia me desafiar. A esperei subir, mas nada dela aparecer. Me
provocou e depois não veio apagar o fogo que ela mesma atiçou.
Então agora vou mostrar quem manda aqui.
Abro a porta com a chave mestre que uso para possíveis
casos de emergência, entro (esse é o lado bom de ser o dono do
prédio), avanço, olhando tudo a minha volta e vejo que a porta do
seu quarto está entreaberta com apenas a luz fraca do abajur
acesa. Observo sua silhueta coberta por um lençol branco e fino o
suficiente para que eu consiga ver que por baixo dele Lorena está
dormindo sem nada no corpo. Tiro minha roupa e subo na cama
afastando seus cabelos do caminho para que eu possa ter livre
acesso ao seu pescoço. Passo meu dedo suavemente por suas
costas, tomando o cuidado de não tocar em suas marcas, cheiro
seus cabelos de fios macios e tão escuros como a noite sem lua.
— Você é muito teimosa, coelhinha. — falo baixo em seu
ouvido.
Ela pula assustada, mas a mantenho firme no lugar.
— Vincent? O que está fazendo aqui?! — sua voz é apenas
um resmungo grogue de sono.
— Pegando o que me prometeu. — Mordo sua nunca.
— Achei que estava dormindo, e por isso não subi.
— Pois achou errado. Te esperei até agorinha, e como não foi,
vim buscar pessoalmente o que me pertence.
— Quanta gentileza sua. — diz sarcástica.
Rio baixinho do seu atrevimento. Está cada vez mais solta e eu
prefiro essa sua versão. É melhor do que a outra que conheci há
pouco tempo: cabisbaixa, submissa e pronta para correr a qualquer
momento, amedrontada. Ela é um desafio e tanto, do qual quero
muito ganhar.
— Vamos ver se na hora que eu acabar, você ainda pensará
que sou gentil.
Puxo seus braços para trás, aproveitando que já está de
bruços, e rasgo o lençol para amarrar suas mãos.
— Que maravilha! Estamos evoluindo. Mudamos de rasgar
calcinha para rasgar lençol.
Bato em sua bunda e ela grita com a cara enfiada no
travesseiro.
— Vai pagar pelo seu atrevimento, coelhinha!
Desço raspando minha barba por toda a sua coluna, sento ela
estremecer. Alcanço a polpa de sua bunda e dou pequenas
mordidas.
— Ai! — reclama.
— Shi! Você está sem moral aqui. Fique quietinha e me deixe
te comer do jeito que eu queria mais cedo, quando saiu do palco.
Coloco a língua em sua entrada, sentindo seu néctar em
minhas papilas. Sou fascinado pelo seu gosto afrodisíaconatural
que me deixa instantaneamente duro por ela. Pincelo a glande em
sua entrada e enfiosomente a cabeça, provocando-a. Entro nela de
uma vez, nos fazendoarfar, deito em cima de suas costas enquanto
seguro seus cabelos.
— É isso que você queria de mim quando me provocou na
frente de todos?
Ela só geme, então bato mais forte dentro dela.
— Fala, Lorena! Queria meu pau enterrado dentro de você, te
fodendo duro assim e arregaçando essa boceta apertada do
caralho?
— Oh, Deus! Sim! Eu queria exatamente assim.
— Então toma meu pau, sua safada!Sente ele todinho enfiado
até o talo nessa bocetinha gulosa.
Ela empina a bunda para receber minhas estocadas brutas,
me fazendo ir ainda mais fundo. |Prendo-a no lugar e bato mais
rápido e forte em seu canal que me recebe escorregadio, pingando
seu prazer. Levo minha mão para o meio de suas pernas, abrindo
seus lábios vaginais para tocar seu clitóris que pulsa em meu dedo.
Ela grita alto agora e isso me deixa fora de controle. Fico
ensandecido com sua total entrega a mim, sem nenhum pudor. Seu
gozo vem forte, encharcando todo meu membro, e por pouco não
gozei dentro dela. Eu tiro do seu canal no último segundo e jorro
meu esperma em sua bunda, marcando-a com minha porra.
— Provocadora! Nunca mais me deixe esperando. — digo
dando duas palmadas em sua bunda e entrando nela novamente.
Mexo devagarzinho, construindo novamente seu prazer, viro
sua cabeça para beijá-la.
— Então, Vincent... Por que você me chama de coelhinha?
Paro de me movimentar, penso em uma resposta que não
possa assustá-la.
— Porque você me lembra as coelhinhas da playboy. — minto.
Não vou dizer que ela parece uma por ser bonita e arisca,
contudo fácil de cair em minhas armadilhas.
— Por que será que eu não acredito em você?
— Não sei. Talvez porque eu seja um homem selvagem que
adora comer um bichinho indefeso. — Mordo seu ombro.
— Essa versão eu acho mais parecida com a realidade.
Rio da sua sinceridade e começo a estocar dentro dela de
novo. Seguro-a em meus braços fazendosua costa grudar em meu
peito e aumento a força das minhas batidas.
— Ficar me atiçando e depois correr, não vai te ajudar em
nada, Lorena. Agora que já tive um gosto seu, quero mais. Você
pertence a mim para eu fazero que quiser e partir de hoje a única
cama que esquentará é a minha. Te proíbo de ficar com outros,
entendeu?
— Okay! Obrigada!
Franzo o cenho com seu agradecimento, mas depois entendo
o porquê.
— Você não tem motivos para me agradecer. Continuará com
seus serviços, mas a diferença é que terá apenas eu como seu
cliente.
— Tudo bem. O que vai acontecer quando seu tio chegar e...
— para de falar, insegura.
— E... Ele terá que se revolver comigo. Se não quisesse que
alguém te reivindicasse, não teria mandado você para meu território.
Depois de mais uma rodada de sexo, tiro suas amarras e a
solto. Levanto-me para ir embora, porém ela pula da cama ficando
em minha frente.
— Posso te tocar da próxima vez?
— Eu prefiro que não. Não sei fazersexo de outra forma, nem
quero aprender. Estou sendo até mais maleável com você do que fui
com as outras, mas não pense que isso vai mudar algo entre nós,
porque não vai. — digo balançando o dedo entre mim e ela.
— Você não gosta de toques. Por quê?
— Porque há algum tempo uma vadia tentou me matar na hora
em que eu a fodia.
Ela arregala os olhos, surpresa com minha resposta.
— Não tenho nada aqui comigo que possa te machucar. — fala
dando uma voltinha e se virando. — Jamais faria isso!
— Vou fingir que acredito em você, porque se eu pensar o
contrário, teria que te eliminar. Nós dois não iríamos querer isso,
certo?
— Está bem! Isso já é o suficiente para mim por enquanto. —
Sorri mordendo o lábio inferior. — Eu mudarei sua opinião mais para
frente, mostrando que você pode confiar em mim.
— Estou curioso para ver você tentar. — Semicerro os olhos
para ela e saio do seu apartamento.
No corredor dou de cara com uma Antonella bêbada.
— Meu doce Vincent! Veio à minha procura? Sinto falta de
você em minha cama. — diz esticando a mão para me tocar.
Dou alguns passos para trás, me afastando de seus toques
nojentos.
— Pois eu não sinto nenhuma. Saia da minha frente!
Ela joga a cabeça para trás, rindo.
— Você não era assim antes. Se aproveitou bem desse
corpinho aqui quando era mais novo. Deveria ser grato a mim por
ter te ensinado a foder tão gostoso.
Sinto repulsa das lembranças. Luigi contratou Antonella no dia
em que fui iniciado, para que ela — nas palavras dele é claro — me
fizesse virar um homem completo. Olhando para trás percebo o
quanto esses dois me usaram para seus interesses. Ela é tão
mesquinha e podre quanto aquele imbecil.
— Tudo que sinto por você é nojo. Eu era somente uma
criança.
— Que dramático! Depois cresceu e continuou vindo me
procurar para se aliviar em meu corpo. Confesse, querido, que você
gostou de tudo que fizemos!Aposto que se eu te tocar agora, vou te
encontrar duro.
Levo a mão para trás para pegar meu punhal e ela segue
meus movimentos, dando um passo para trás. Ainda assim, a
encurralo na parede com as duas mãos, uma de cada lado de sua
cabeça.
— Como se sente ao saber que dormiu com todos os
Lourenço, mas nenhum quis assumir você? Todos te descartaram.
— Disgraziato
! — diz tentando me empurrar.
Seguro seu pescoço com uma mão e coloco a lâmina afiada
em sua garganta.
— Você me subestima, Antonella. Não sou mais um pobre
moleque manipulável. Só não te mato agora porque você, por
enquanto, me é útil, mas seu momento ainda irá chegar.
— Stronzo!Você me paga por isso! Todos vocês!
— Ficarei ansioso esperando por esse dia.
Solto-a e ela entra correndo em seu apartamento, batendo a
porta. Inferno!Não vejo a hora disso tudo acabar e dar um fim
nesses miseráveis. Estou cansado de lidar com todos eles. Amanhã
mesmo irei começar a colocar meu plano B em ação e acabar com
tudo isso de vez.
Acordo disposta de uma forma que não me sentia há muito
tempo. Estou muito feliz!Só de saber que não terei que me sujeitar
a dormir com vários estranhos, já considero uma batalha vencida.
Tudo tem dado certo, caso continue assim, logo, logo, vou
conquistá-lo e tornar realidade os meus planos de sair daqui.
Tomo meu café, começando meu dia ligando a minha playlist,
ouvindo as batidas de The Weeknd explodirem na caixa de som.
Amo esse homem e sou capaz de ter um orgasmo ouvindo apenas
o timbre da sua voz sensual. Rebolo no ritmo da música, separando
as minhas roupas para lavar, depois dou uma organização em meu
apartamento. Além de morar sozinha, passo praticamente o dia fora,
sendo assim quase não tem bagunça. Apesar de ser domingo, não
temos descanso, para variar hoje é o dia que a boate mais enche.
Haja paciência para aturar os bêbados sem noção!
De repente alguém bate na porta, me tirando do meu momento
reflexão. Viro a maçaneta surpresa por encontrar Thadeo com sua
postura de "eu sou fodão, então não mexa comigo, senão eu te
mato".
— Posso te ajudar, menino bonito?
Ele sorri, balançando a cabeça.
— O chefe pediu que eu te acompanhasse até uma loja para
você comprar um vestido e todas as coisas de mulher que precisar.
— Não é que eu não goste de fazer compras, mas... por que
tudo isso?
— Ele irá a um evento hoje à noite e quer a sua companhia.
Ah! Ele pediu para que escolhesse uma roupa formal.
Bato palma de felicidade. Vou sair um pouco, e de quebra,
ganhar presentes. Quem diria?! Viro-me para ir trocar de roupa e
volto rápido, parando em sua frente, fazendo ele rir da minha
animação.
— Vamos! Antes que ele mude de ideia. Sabe me dizer que
tipo de evento será?
— Não sei dizer. Sabe que ele é bem fechado, né? Apenas
disse o que já te passei e deu carta branca.
— Tudo bem. Deixa comigo, que sei o que comprar.
Chegamos a uma dessas lojas de roupas bem chiques que
custam os olhos da cara. No meu caso, pior, visto que nem se eu
vendesse todos os órgãos do meu corpo conseguiria comprar algo
aqui. Entretanto, como Vincent deu carta branca, vou aproveitar.
Escolho um vestido na cor salmão de frente única, com um decote
nas costas que vai até a cintura e na frentetem uma fenda na coxa.
Experimento e fica perfeito em meu corpo. Compro bolsa e sapatos
para combinar, saio da loja satisfeita.Peço que Thadeo pare o carro
no salão, digo para pagar um serviço VIPpara mim, com tudo que
tenho direito. Se é para acompanhar o chefe,vou chegar arrasando,
para não fazer vergonha.
Depois de algumas horas em mãos habilidosas, saio renovada:
cabelos brilhantes, unhas e sobrancelhas bem feitas,uma pele mais
macia após o banho de beleza que levei com óleos aromáticos.
— Uau! Todas essas horas de castigo aqui forafizeramvaler a
pena.
Sorrio do seu elogio.
— Estou pronta para voltar. Não sei que milagre é esse que
Vincent não ligou.
— Ligou várias vezes, na verdade, para verificar se você não
tinha fugido. Você é a menina de ouro dos Lourenço.
Minha alegria cai junto com as suas palavras. Por algumas
horas pude-me sentir livre, mas agora vamos voltar para a prisão
em que vivo.
— Desconfiei.
Fico calada o restante do caminho. Mamãe sempre falavaque
quando você não tem nada de bom a dizer, o melhor a fazeré calar-
se.

(...)

Estou terminando de passar o batom quando Vincent entra.


Ele está com um terno preto de três peças e um sobretudo por cima.
Um verdadeiro mafioso! Só faltou o charuto pendurado no canto da
boca. Poderia questionar sua entrada de novo sem minha
permissão, no entanto não vou criar confusão logo agora que
consegui um pouco da sua confiança. Ele me observa de cima a
baixo, me comendo com os olhos.
— Bellíssima ! Mas estou vendo que terei muita dor de cabeça
por conta desse vestido.
— Por quê? Não gostou? — digo dando uma voltinha para
mostrar o decote na costa que quase revela o rego da bunda.
— Merda, Lorena! É para ser um evento formal com algumas
pessoas do alto escalão e eu não quero causar nenhum desconforto
ou ter que matar alguém que fizeralguma piadinha sobre seu corpo.
— Ciúmes? Achei que era apenas a sua prostituta particular.
— digo cruzando os braços.
Vincent se aproxima de mim com seu jeito predador, ofego
com a intensidade do seu olhar, dando passos para trás até
encostar na parede. Ele coloca as suas mãos em minha cintura,
cheirando meu pescoço.
— Se comporte, coelhinha! Lá estarão alguns membros que
fazemparte da famiglia. Esse jantar é muito importante para mim e
preciso causar uma boa impressão.
— Prometo me comportar. E o vestido, que nem é tão
escandaloso assim, escolhi pensando em você. — Me aproximo
mais, quase encostando em seu peito. Arrisco pegar em seu braço,
mas ele apenas observa meus movimentos. Passo a palma de sua
mão sobre minha coxa para que ele sinta a minha pele macia e vou
subindo até onde a fendalateral permite. — Se você ficarexcitado e
quiser me foder, tudo que precisará é puxar para o lado sem
precisar rasgá-lo para ter livre acesso.
Seus olhos incendeiam e suas pupilas dilatam de desejo.
Ponto para mim!
— Provocadora! Depois conversaremos sobre essa sua mania
de me desafiar.
— Promessas, promessas... — desdenho o fazendogargalhar.
Saímos juntos do prédio e lá fora tem um de seus carros
esportivos, um jaguar na cor preta. Ele coloca as mãos em cima da
minha costa, quase choro agradecendo por inconscientemente ele
me ajudar a ficar sobre meus enormes saltos. Abre a porta para
mim, como um verdadeiro cavalheiro, vai para seu lado ligando o
carro e acelerando. Logo atrás, uma comitiva de outros carros se
forma para nos seguir. Dois passam na nossa frente e os outros dois
ficam atrás, fazendo a nossa guarda.
— Não é muita segurança para apenas um jantar? — digo
abismada.
— Não. Lá vão estar vários subchefesreunidos em um mesmo
lugar, então o risco de um atentando contra nós é muito alto. Temos
todos que nos preparar.
Andamos por volta de meia hora antes de parar perto de um
grande hotel de luxo, onde tem um enorme tapete vermelho
esticado na frente. Quando entramos, entendi o porquê de sua
preocupação e toda a recomendação. O lugar “grita”luxo do chão
ao teto. Logo na entrada tem um enorme lustre de cristal nos dando
boas-vindas.
Somos levados até uma área reservada com uma grande
mesa que tem pelo menos umas vinte pessoas. Há soldados
espalhados por todos os lados, de vigia, acabo me sentindo sem
jeito quando vejo a mesa lotada de mulheres muito bem vestidas e
cheias de joias. Acho que tem mais pedras preciosas aqui do que na
Tiffany. Elas esbanjam elegância e de repente me sinto sem graça
perto delas. De cara percebo que não irei fazerparte da panelinha,
já que os olhares em seus rostos ao me examinarem de cima a
baixo são impagáveis. A sensação é de que sou um dos bichos
raros postos em zoológicos para a exibição da elite. Algumas
expressam curiosidade, todavia outras já me olham com os narizes
empinados, deixando claro que não sou bem vinda ao grupo. Tudo
bem! Não façoquestão de suas hipocrisias mesmo. Os homens, ao
contrário de suas esposas, só faltam colocar a língua para fora e
babar feito cachorros no cio. Se essas olhadas não forem
desrespeitos, eu não sei o que é.
— Boa noite, senhoras e senhores! Desculpe o atraso. Estava
aguardando minha acompanhante terminar de se arrumar. Sabem
como são as mulheres, não é? — Vincent diz brincando, tirando
algumas risadas dos homens presentes.
— Eu diria que a espera valeu a pena, não? A moça está
deslumbrante. — um senhor de uns setenta anos, sentado na ponta
da mesa, responde.
— Una bella ragazza
! — confirmaum jovem loiro que aparenta
ter a minha idade.
Esse daí eu diria que só falta tirar o pau pra fora de tanto que
me despe com o olhar. Vincent, então, dá um passo à frente.
— Cuidado, Filippo! Não queremos confusão aqui. — Vincent
diz com a voz arrastada e carregada de ameaças.
— Está certo, meu jovem. Vamos jantar para tratar de
negócios.
Vincent puxa uma cadeira para que eu me sente ao seu lado e
fico grata por ter percebido o clima nada agradável com a nossa
entrada. O jantar transcorre bem, sem nenhuma faca ou arma
puxadas. Quando finalizamos a sobremesa, as mulheres se
levantam para sair e me sinto novamente deslocada, sem saber o
que fazer.
— Você pode ir dar uma volta no jardim se não quiser
acompanhar as senhoras.
— Vou me esforçarpara me enturmar. Caso eu não seja bem
recebida, irei dar um passeio pelo local.
Retiro-me da mesa e saio à procura da ninhada de cascavel.
Antes de alcançá-las, tenho meu braço puxado por uma delas.
— Querida! Você não é uma de nós e não tem que estar aqui.
Não nos misturamos com gente da sua laia!
Meu sangue ferve diante da afronta.
— E a qual laia pertenço? Posso saber?
A cobra faz cara de nojo, me avaliando.
— Claramente não é a nossa. Fazemos parte da alta
sociedade, e você, no máximo, é uma meretriz. Não sei como ele
pôde fazer isso conosco. Nem assumiu o compromisso com a
Giovanna e já está envergonhando a família.
— Quem é Giovanna?
Ela sorri feliz como se tivesse acabado de ganhar o melhor
presente no dia de natal.
— Oh! Você não sabe? Vincent irá oficializarseu noivado com
a bela Giovanna Vitiello. Muita educada e refinada a menina.
Meus olhos se enchem de lágrimas. Mais pela humilhação do
que a menção de outra mulher em si. Então me viro para sair, mas
não antes de falar o que ela merece.
— Sabe por que vocês odeiam tanto a nossa classe e tentam
nos rebaixar? A verdade é que no fundo vocês sabem que são tão
incompetentes e frias,que seus maridos não acham o que precisam
em casa, então vão atrás de quem sabe fazero serviço direito. Por
isso esse desrespeito todo conosco.
— Sua desaforada!
— E pode avisar a essa Giovanna sei lá do quê, que ela terá
uma concorrente forte.Não entro em uma briga para perder. — Viro-
me e saio de lá, deixando-a de boca aberta. Não vou permitir que
alguém entre no meu caminho, tirando de mim a última chance de
conseguir voltar a minha terra.
O jantar termina e as mulheres imediatamente se levantam
para sair, desocupando a mesa para que possamos tratar de
negócios. Elas não fazem parte das conversa, sempre foi assim.
Mulher tende a falar demais uma com as outras, o que pode nos
prejudicar. Sem contar que em uma armadilha, não precisaria de
muito para abrirem a boca e contar tudo aos inimigos. Felizmente,
para elas, não é necessário fazero juramento de sangue, como nós,
nem passar por duros treinamentos para aprenderem a aguentar as
torturas, no caso de serem pegas por organizações rivais. No
entanto, isso não as torna propriamente livres, já que uma vez
nascidas aqui, não saem e nem terão uma vida normal.
Observo Lorena de longe ser barrada por uma das antigas
matriarcas. Trazê-la comigo nesse maldito jantar, talvez não tenha
sido uma boa ideia, visto que essas mulheres irão comê-la viva.
Depois de algumas trocas de palavras, que imagino não terem sido
nada amigáveis, a morena sai rumo ao jardim com uma expressão
de chateada. Dou sinal para que um dos meus soldados a vigie e
volto a minha atenção à mesa, sem a mínima vontade de ficar
ouvindo as baboseiras que esses velhos idiotas estão falando. Fui
avisado em cima da hora dessa reunião, entretanto tive que
comparecer, porque essa é a minha chance de tentar mostrar aos
outros membros que sou responsável, a fim de colocá-los ao meu
lado, para futuramente não ter nenhum impedimento quando
alcançar o meu posto. Pior do que ter inimigos fora da organização,
é ter dentro dela.
O cargo de capo é desejado por muitos e nessa mesa não dá
para contar nos dedos quantos estão ansiando pela chefia. Apesar
dos Lourenço estarem no comando há anos, não somos
necessariamente uma dinastia onde somente membros da minha
famíliapossam ocupar esta cadeira. Existem outras organizações
por aí que levam como uma das regras passar o cargo de chefe de
pai para filho, sucessivamente. Porém, a nossa não é assim, desde
que o capo pertença a uma das sete famílias tradicionais e
fundadoras, está valendo, o que me torna um odiado concorrente
nesse momento, posto que meu nome é o mais cotado para assumir
depois de Luigi.
— Ficamos sabendo que você está levando o nome da
famigliaainda mais longe do que imaginamos um dia. Traficar armas
para um país em guerra é uma ideia muito inteligente. Somente o
governo dos Estados Unidos esteve no topo, lucrando há anos com
essa estratégia.
Semicerro os olhos com a fala de Alessandro, um dos nossos
antigos subchefes. Acabei de fazer esse negócio com os árabes e
poucas pessoas sabiam disso.
— Vejo que estão muito bem informados sobre o que ando
fazendo. — digo com os dentes trincados.
— Podemos não estar mais ocupando a cadeira, Vincent, mas
não somos idiotas, portanto, não tiramos os olhos de cima de
nenhum dos nossos novos subchefes, e isso inclui você, meu caro.
Estamos apenas tomando precauções para que as coisas não
saiam do controle. — retruca me analisando.
Merda!
— Essa vigilância também se estende aos mais velhos que
ainda ocupam algum cargo na máfia? — questiono sua audácia em
achar que nós que podemos prejudicar os negócios.
— Como é? Está querendo nos acusar de algo? — Carlo sobe
a voz achando que me fará ter medo de continuar.
— Quem tem sujado o nome da Camorranão são os novatos,
mas sim alguns dos mais velhos, que deveriam ter sabedoria
adquirida com a idade. Eu tenho feitoo que posso, mas ainda assim
não é o suficientepara apagar o fogoque tem se alastrado na mídia
sobre a organização, com essas histórias de tráfico humano.
Imagina quando chegar aos ouvidos das autoridades que também
temos alguns velhos sem escrúpulos nenhum sequestrando
crianças para suas taras sexuais.
Vejo pelo menos metade da mesa empalidecer. Figli di puttana
!
— São somente especulações, das quais sempre tiveram e
sempre terão. Nada que comprove nosso nome no meio. —
Anthony, um dos anciões mais antigos, diz secando a testa com seu
lenço.
Estúpido! Acabou de provar que tem culpa no cartório.
— Não dessa vez. O FBIestá nos cercando cada vez mais,
para variar, meu tio não tem colaborado como deveria. Estamos
cada dia mais perto de sermos presos e ter nossa organização dada
de mão beijada para eles fazerem o que quiserem com ela. Na
Itália,as coisas não andam nada bem, e por lá, eles já estão nos
dando grandes prejuízos financeiros.
— Estamos sabendo disso, porém o capo já está tomando as
devidas providências, então não temos razões para fazerum alarde
e nos desesperarmos. Ainda mais agora, que a sua união com a
menina Vitiello veio em boa hora. Trate de marcar logo a data do
casamento, já que você é o mais cotado para ser o próximo capo! —
Mariano, amigo chegado do meu tio, dá ênfase na última palavra,
me provocando.
— Concordo com o Mariano. — Francesco, outro imbecil da
época do meu pai, confirma.
Desgraçados! Eles sabem dos podres do meu tio.
Provavelmente são uns dos beneficiados com essa sujeira, só que
estão com medo de sobrar para eles.
— Não vejo aonde essa união irá nos ajudar sobre esse
assunto, já que o nosso maior inimigo, no momento, que anseia por
nossa queda, é a Polícia Federal, e possivelmente, os governantes
do país. Não duvido que até mesmo os russos estejam enfiados
nisso, já que peguei alguns rondando nosso território há pouco
tempo.
Um silêncio recai na mesa e o clima está pesado. Eles sabem
que não é de hoje que os Volkovtentam tomar nossos postos. Sem
contar que o atual senador não é exatamente nosso fã e seu nome
está no topo da lista para ser o próximo presidente. O cara usa a
cartilha de tolerância zero para as drogas e o uso de armas. Imagina
se descobrem sobre os tráficos. Não duvido que tenha dedo dele
por trás dessa perseguição, o que vem a calhar com meu tio no
poder, contudo, não deixa de ser um grande risco e prejuízo para
todos essa caças às bruxas.
— É por isso que precisamos fazerum tratado de paz com os
Vitiello, logo, para nos beneficiarmos da aliança deles com os
cartéis mexicanos. Vamos poder mudar todas as nossas rotas de
entrega, o que vai ajudar a acalmar as coisas, dando tempo de nos
recuperarmos de tudo o que perdemos. — Alessandro responde
com uma pitada de acusação.
Parece até que estou ouvindo a porra do meu tio falando
nessa merda.
— E depois? Vamos ficar nos casando e misturando nossos
sangues com os dos inimigos até quando? Suponho que o próximo
passo será nos unir aos malditos Falcone ou até mesmo aos
próprios Sanches, para sobreviver.
— Se for preciso, sim. O que você sugere como uma melhor
opção? Compartilhe conosco. — Carlo diz com deboche.
Jogo a pasta na mesa, contendo nela a cópia dos documentos
que comprovam o que alguns deles têm feito pelas costas.
— Cortar o tráfico humano seria uma ótima opção, assim como
negociar com o governo a entrega de alguns bodes expiatórios
responsáveis. Então, desse modo, resolveremos esses problemas.
Eles querem apenas mostrar serviço, e um “cala boca” desse
tamanho irá tirá-los do nosso pé.
Anthony bate na mesa, indignado.
— Seu moleque insolente! Você está louco?! Entregar um dos
nossos aliados para esses abutres?! Nunca nos aconteceu isso
antes e não vai ser agora que iremos aceitar. Talvez devêssemos
repensar sobre a sua indicação ao cargo de subchefe.
Levanto-me puto com seu afronte, doido para enfiar meu
punhal bem no meio do seu coração. Vejo alguns dos soldados se
preparando para o combate, até mesmo Marco enfia a mão dentro
do blazer, pegando sua arma.
— Tenho que lembrá-los de que não cheguei aqui apenas por
indicação, e sim por mostrar trabalho. Já consegui para essa
organização muito mais do que todos vocês juntos durante seus
anos no comando. Não diminua o que fiz para aCamorra.
— Nos mostre respeito, rapaz! — Pietro, que até o momento
estava calado, se intromete no meio. — Reconhecemos o que tem
feito, mas não concordaremos com essa ideia absurda. Tire isso da
sua cabeça, pois não terá o nosso apoio. Case-se com a Vitiello,
assunto encerrado!
Não é surpresa para mim que não ficariam do meu lado, por
esse motivo que ontem mesmo pedi para que Marco desse inícioao
nosso segundo plano. Sorrio com desprezo enquanto meu sangue
ferve de ódio. Meu lado animal quer vir à tona nesse momento,
faminto por uma luta sangrenta onde o fim seria a cabeça de todos
esses traidores em uma bandeja de prata em cima dessa mesa.
— Claro, senhores! Marcarei a festa de noivado para o mais
breve possível,como desejam. Ireime sacrificar pelo bem da máfia
e deixar o inimigo entrar pela porta da frente, para dentro do nosso
território, com a bênção de todos vocês.
Levanto-me da mesa dando por encerrada a reunião,
cumprimento os demais e saio. Troco um olhar com Marco, que
aponta a porta dos fundos, vou à procura de Lorena para sairmos
logo daqui, antes que eu façaalguma besteira e tudo acabe em um
banho de sangue.
Saio à sua procura, olhando ao redor do prédio, no entanto
não encontro Lorena em lugar nenhum. Vejo meu soldado
encostado na parede, fumando, e vou para onde ele está mantendo
a guarda.
— Cadê ela?
— Está ali, chefe, desde a hora que saiu.
Peço que nos dê privacidade, ando em meio aos arbustos,
onde a vejo sentada em um banco no jardim olhando para o céu,
pensativa. Sento-me ao seu lado aproveitando o silêncio para esfriar
a minha cabeça, também, e não voltar lá dentro.
— Você está bem? — questiono para puxar assunto.
— Fisicamente sim, mas emocionalmente é outra história.
— Uma noite ruim! — digo mais para mim do que para ela.
— Me diz você! — Vira de frente para mim, chateada. —
Quando iria me contar que está noivo?
Caralho! Essa noite só melhora.
— Não tem porque te falar sobre os negócios da famiglia ,
Lorena. Não confunda o que temos com algo mais. Eu disse isso a
você e nunca te enganei ou menti.
— Sim, já entendi o meu lugar. Sou somente a sua amante, ou
melhor dizendo, a sua prostituta particular, enquanto a moça de
família nobre não chega para esquentar sua cama.
— Issonão é assunto seu. Nem deveria ter te trazido comigo,
pois você não pertence a esse lugar.
— E acha que eu não sei disso? Eu daria tudo para nunca ter
vindo parar aqui, nas mãos da sua família.— fala se levantando e
me dando as costas.
Enrijeço meu corpo com sua atitude rebelde, agarro-a pelo
braço e puxo-a para mim.
— Não brinque comigo, Lorena! Eu não estou em um bom
momento para ser desafiado. Odeio que me deixe falando sozinho,
porra! Fiz um combinado com você, se não está bom, podemos
colocar um fimnisso agora e você volta a ser apenas a prostituta do
clube. Por mim tudo bem! Não terá problema nenhum se escolher a
segunda opção.
— Esse não é um acordo justo, Vincent, levando em
consideração o fato de que eu não tenha outras opções melhores.
— Tenta se soltar do meu aperto, indignada.
— É o melhor que posso te oferecer.
— Não, não é! Você poderia escolher me deixar ir, já que tem
esse poder, mas age como o seu tio, me mantendo presa aqui
contra a minha vontade.
— E parecer um fraco diante de todos? Acha que Luigi a
deixará viver livre dele? Se está aqui é porque há um motivo. Pare
de bancar a inocente e tentar me manipular com os seus dramas.
Nenhuma das prostitutas vieram para essa vida sem ter quebrado
alguma regra ou ter feito algo para a máfia.
— Seu idiota! Eu não escolhi! Acredite em mim quando digo
que não foi escolha minha. — fala socando meu peito, com raiva.
Não sei o que fazer diante da cena a minha frente, mas não
quero descontar nela toda a ira que estou sentindo daqueles
imbecis lá dentro. Então tomo a atitude que fui ensinado desde
muito cedo quando o assunto é mulher. Seguro seu pescoço,
trazendo sua boca para a minha, a empurro para um dos arbustos, a
escondendo da vista de quem ousar passar por ali, e abro o zíper
tirando meu membro para fora, pronto para ela. Levo meu dedo ao
seu clitóris, o esfregando delicadamente, no entanto de início ela
reluta e tenta me empurrar, porém, eu a seguro em meus braços,
acariciando seus cabelos e beijando seu ombro. Aos poucos ela vai
se acalmando e abre mais as pernas, permitindo que eu coloque o
meu dedo em seus lábios encharcados que palpitam por mim.
— Quer que eu pare, coelhinha? — Cheiro seu pescoço,
sentindo um delicioso e delicado aroma de flores. — Me diz para
parar! Fala para mim que não me quer como eu a quero!
Ela geme encostando a cabeça na parede e eu seguro suas
mãos, porém ela puxa se soltando.
— Não quero ser amarrada! Se vai me foder aqui, vai ser
comigo te tocando.
Observo-a, pensando nos prós e contras da situação, e como
esperado, todo o meu bom senso se foi no momento em que meu
sangue desceu e se concentrou completamente na cabeça de baixo.
— Se tentar alguma coisa...
— Não vou! Confia em mim. — me corta antes que eu termine
a ameaça, trazendo suas mãos para o meu rosto e alisando minha
barba.
Ela morde minha orelha, me fazendoarrepiar, leva suas mãos
para baixo. De início acaricia meu pau e o masturba devagarinho,
então depois fica de joelhos e o leva para dentro de sua boca.
— Ah, inferno! Essa boca é assassina, mulher! — Me seguro
na parede com uma mão enquanto levo a outra para a sua nuca e
estoco meu membro em sua garganta, sentido a maciez da sua
língua rodando a glande. — Isso, querida! Ordenha meu pau!
Ela fazalguns sons com a garganta, que vibra por todo o meu
corpo. Estou na borda e necessitado dela desde que a vi nesse
vestido. Venho em jatos fortes em sua boca e ela sobe limpando os
respingos no canto, chupando o dedo. É uma visão extremamente
pornográfica que me deixa pronto novamente em segundos. Ela se
segura em mim e encaixa meu pau em sua entrada molhada. Com
um único empurrão, estou dentro do seu corpo. Gemo com a
conexão e beijo sua boca sentindo a mistura do seu gosto com o
meu.
— Você me deixa louco! Essa boquinha é tão gostosa quanto a
sua boceta. — digo ao seu ouvido enquanto me movo dentro dela.
— Mais forte, Vincent! — pede me fazendo rir da sua gula.
— Assim, minha safada? Gosta de duro e forte?
— Oh, sim! Humm! — Encaixa uma de suas pernas em minha
cintura.
Aumento a velocidade dos meus movimentos, fazendo
exatamente o que ela me pede. Sua boceta me aperta como um
punho fechadoe eu perco totalmente o controle, querendo me fundir
cada vez mais nela, de todas as formas.
— Goza para mim, baby! Deixe todo o meu pau molhado com
seu mel. — Aperto sua bunda em minhas mãos, me permitindo
segurá-la para não se machucar com as batidas na parede.
Seus choramingos se iniciam e sei que está tão perto quanto
eu. Suas unhas grandes machucam meu pescoço, onde segura,
quando ela goza com um gemido abafado, mordendo meu ombro.
Foda-se se fico mais louco ainda com a pitada de dor e prazer!
Então me permito gozar em seu canal, com um grunhido alto, feito
um animal selvagem acasalando com sua fêmea. Beijo novamente
sua boca, ainda palpitando dentro dela até a última gota.
— Vamos! Aqui não é um bom lugar para ficarmos por mais
tempo.
Desço Lorena, tirando meu membro de dentro do seu calor, e o
guardo. Fecho o zíper, dou-lhe um tempo para se arrumar e saímos
de lá para irmos embora. Passo por Marco, que balança a cabeça
em negativa. Com certeza terei que ouvir depois uma enorme
palestra sobre meu descuido. Mas por agora, não quero ter que
escutar nada que possa estressar ainda mais.
Entro no carro dando partida e volto para a boate, por todo o
caminho pensando sobre o maldito jantar de merda. Esse bando de
filhosda puta escolheram o lado errado e eu vou conseguir o que eu
quero. É só uma questão de tempo até que eu derrube um por um
que ficou em meu caminho. Em minha mente vem à imagem de
minha mãe com seu sorriso doce me dizendo para ser um bom
menino e não deixar o ódio me consumir. Balanço a cabeça para
afastar os pensamentos. Desculpa, mãe! Já estou perdido há muito
tempo. Ainda irei achar os mandantes do atentando contra a vida
dos meus pais e acabar com ele. Isso é uma promessa!
Quatro semanas se passaram após o fracassado jantar.
Vincent tem me chamado quase todos os dias para o seu
apartamento e aos poucos fui conquistando sua confiança. Antes
ele era mais fechado comigo, mas agora o sinto mais aberto sobre
alguns assuntos. Claro que ele não falacomigo sobre a máfiae nem
tocou mais no assunto da noiva, o que também não quero saber.
Ocasionalmente ouço uma coisa aqui, outra ali, entretanto não
comento nada e nem procuro me meter. Se tem uma coisa que
aprendi em todos esses anos sendo uma escrava, é que quanto
mais você tentar entender alguma coisa sobre eles, mais confusairá
ficar. Os homens daqui nos veem como objetos e isso não vai
mudar. Não espero que Vincent vá me assumir, até porque ele já
deixou claro que sou apenas uma substituta temporária, também
não sou burra de ficar esperando algo a mais dele. Como todos os
outros, eu somente sirvo para lhe dar prazer.
O meu foco é a missão que tenho para cumprir e tudo que me
importa é conseguir sair daqui, e de quebra, tirar a Ashley comigo.
Eu sei que não tenho o poder de mudar o mundo — bem que eu
gostaria —, mas isso é sonhar alto demais. O pouco que eu
conseguir fazer, já valerá a pena todo o meu sacrifício.
Entro no Elevador, aperto o botão da cobertura. Diferente de
como era no início, não sinto mais medo do Vincent, posto que
aprendi a lidar com suas constantes mudanças de humor. Marco
libera minha entrada com uma cara de poucos amigos. Ele não
gosta de mim e não me importo com isso também, porque meu foco
é o seu chefe e o que ele guarda no cofre.
Deixo seu café na mesa, como de costume, e me viro para
procurá-lo.
— Bom dia, Marco! — tento aparentar simpatia, mesmo não o
engolindo nem com um pacote inteiro de açúcar.
— Bom dia, menina! Vincent está tomando banho. Quero
aproveitar que estamos a sós para te perguntar uma coisa que tem
ficado em minha mente todos esses dias, espero que não minta
para mim.
— O que seria? — Viro-me de frente para ele.
— O que você estaria disposta a fazer para ter a sua
liberdade? — Me olha de braços cruzados, esperando minha
resposta.
— Não entendi. Aonde quer chegar? — digo desconfiadae ele
se aproxima, me encurralando entre a parede e o balcão da
cozinha.
— Entendeu sim, Lorena. Você quer algo do chefe,eu imagino
que seja isso. Não pense que me engana. Tenho te observado e
pesquisado sobre você, então descobri sobre a sua vontade de sair
daqui.
Oh, porra! Eu estou muito ferrada!
— Não sei do que você está falando. — encaro, tentando não
demonstrar meu medo de ser descoberta.
— Ah, não? Então me deixe refrescar a sua memória. — Joga
um envelope em cima do balcão ao meu lado.
Pego o envelope com os dedos trêmulos, abro, encontro um
relatório sobre mim com algumas fotos minhas de quando mais
nova. Vejo duas ao fundo, que me chamam atenção: uma da
mamãe e a outra do meu irmão, ambos mais velhos. Meus olhos se
enchem de lágrimas e choro passando o dedo no rosto dos dois. A
saudade aperta em meu peito. Como queria estar com eles, nem
que fosse por pouquinho tempo.
— Vai me dizer que não foisequestrada e que Luigi não tem te
mandado aqui para arrancar algo do Vincent? Vai negar que tem
algum interesse oculto nessa aproximação?
Tento falar, mais não sai nada. A emoção de vê-los me deixa
de pernas bambas.
— Aqui está o que você vai fazer! Não estou pedindo, portanto,
não é uma escolha. Você irá nos contar tudo o que sabe sobre os
negócios do capo ou eu vou acabar com você.
Desvio meus olhos e encontro os azuis gelados do Vincent,
que está encostado na parede, sem camisa, somente de calça de
flanela nos observando sério. Nesse momento ele me lembra muito
o seu tio.
— Eu... Eu fui sequestrada e vendida ao Luigi quando tinha
quatorze anos. — Engulo a saliva, com dificuldade.— Não sei muito
sobre o que ele faz,mas posso dizer que traficagarotas menores de
idade. Fiquei presa em uma de suas casas de pedofilia até
completar dezoito anos. Isso é tudo! Ele não falava de seus
negócios comigo.
Marco me estuda, buscando uma mentira. Não sei dizer se viu
a verdade em meus olhos, mas dá um passo para trás, me
libertando.
— Agora é com você, chefe. Meu trabalho aqui acabou. Só
queria que visse com seus próprios olhos o quanto tem sido
descuidado ao baixar à guarda em meio a uma guerra. Essa garota
com certeza está aqui somente para prejudicá-lo. — diz se
afastando e indo em direção ao elevador.
Agacho para pegar as fotos que caíram e volto a olhar cada
uma. Queria tanto saber como eles estavam, e mesmo não sendo
do jeito que eu esperava, tenho a minha resposta em mãos.
— Se levante, Lorena, e venha até aqui! — sua voz retumba
feito um trovão.
Levanto-me do chão, vou ao seu encontro, parando em sua
frente.
— Há mais de um mês convivendo comigo e não achou que
deveria me dizer essa parte da sua vida, hum?
— E diria o quê? Que seu tio é um monstro? Que me tirou da
minha família, me estuprou, me colocou à venda e que
provavelmente esteja treinando a minha substituta, para me
eliminar? Você se importaria, Vincent, com as dores que uma
prostituta carrega? Você mesmo me acusou de estar nessa vida por
escolha.
Ele me segura pelo pescoço e me empurra na parede.
— Não! Eu não me importo! Mas essa mancha vai sair do
nome da minha família.Eu nunca matei um inocente e posso ser um
monstro, mas não sou pedófilo, nem a favor de traficar crianças.
— Diz o cara que traficaarmas para o Afeganistão.Armas que
provavelmente vão parar nas mãos de muitas crianças inocentes. E
ainda tem a sua boate, que está cheia de mulheres vindas do
tráfico. Você tem tanto sangue nas mãos quanto seu tio.
Com a rapidez de um piscar de olhos, seu punhal vem parar
na minha garganta.
— Anda me espionando, Lorena? O que eu façopara a minha
organização, não é da sua conta. Eu deveria matar você por ousar
me desafiar desse jeito.
Seguro sua mão e pressiono a faca ainda mais.
— Mata, Vincent! Se tiver um resquício de bondade em seu
coração de pedra, por favor, acabe com essa agonia!
Ele pressiona, me cortando, o que causa uma ardência
desgraçada. Eu fecho os olhos esperando o golpe final, que não
vem, e apenas ouço o barulho do metal bater no chão com um
tilintar seco.
— Abra os olhos, coelhinha! — diz sussurrando perto do meu
ouvido, lembrando aquela vozinha maldosa que te incentiva a fazer
algo errado. — Olhe para mim!
Abro meus olhos, encarando seu rosto, suas feições são
rígidas. Nada me lembra o Vincent dos últimos dias. Nesse
momento, eu tenho o mafioso, o homem frio e cruel feito o próprio
diabo.
— Matar você acabaria com toda a diversão que tenho
planejada. Não sou misericordioso, então viver aqui será seu castigo
por esconder de mim a verdade e tentar me enganar, como fez
durante todas essas semanas. Não vou te matar. Você trabalhará
para mim e virá para a minha cama sempre que eu quiser que
venha. Será tratada com a puta que é!
As lágrimas voltam a derramar com mais intensidade.
— Não! Você não entende! Eu só queria ir para casa. Não pedi
para ser quem eu sou. Você nasceu na máfia, mas eu não sou
desse mundo.
— Mas está nele e não sairá, a não ser que morra. Só que não
será pelas minhas mãos. Se quiser, pode tirar sua vida você
mesma. — diz apontando para o punhal caído no piso.
— Você é um desgraçado! — me jogo em cima dele com uma
patética tentativa de acertá-lo, porém, como era de se esperar, ele
me segura.
— Nem tente, Lorena! Não adianta me provocar. Você não
conseguirá tirar de mim mais nada, por essa rebeldia será punida.
Lembre-se que tentei negociar com você, te dar uma chance, mas
agora vai aprender a nunca mais tentar me usar ou mentir para mim.
Ele me puxa pela mão até o quarto que temos dividido todos
esses dias, me joga na cama, tirando uma algema da gaveta e
prendendo minhas mãos.
— Ashley arrumará suas coisas e a trará para cá. A partir de
hoje, aqui será seu lugar. Ou é isso ou vai voltar para a Itália.
Arregalo os olhos com a menção de ir para Luigi de novo. Não,
não, não!
— Estava certo o tempo todo. Não existe humanidade em
você. Realmente é um monstro, como todos dizem.
Sua respiração é pesada e seus olhos escurecem ao ponto de
suas pupilas ficarem tão grandes e escuras feito uma ônix, com as
minhas palavras.
— Que bom que enfim percebeu quem eu sou. Bem vinda ao
covil do lobo, chapeuzinho! Se acha que sofreu nas mãos do meu
tio, é porque não sabe o quanto posso ser ruim para aqueles que
me traem ou se tornam meus inimigos.
Vincent sai, me deixando ali, e mais uma vez me sinto
indefesa, lamentando minha existência. Choro por ter nascido
mulher, por ter vindo parar aqui, pela minha famíliaque nunca mais
verei e pelo meu trabalho de meses que foi jogado fora. Apenas
deixo sair, para colocar para fora toda a mágoa que sinto por ser
uma fraca, que até mesmo quando tenta fazero certo, ainda assim,
dá tudo errado.
Encosto a cabeça na porta tentando controlar a agonia que
sinto. Escuto Lorena chorar baixinho e minha vontade é de ir
consolá-la. Eu queria voltar e dizer que menti, que me importo sim
com ela, no entanto não posso demonstrar fraqueza, uma vez que
querendo ou não, ela me enganou. Não tenho ponto fraco e é por
isso que cheguei tão longe. No meu mundo, não temos tempo para
sentimentos tolos. Esfrego meu peito tentando aplacar a sensação
de vazio que me consome me lembrando que a última vez em que
me senti assim, foi quando os meus pais morreram.
Lorena sorrateiramente tomou conta do ambiente, da minha
vida, da minha cama. Nunca mais toquei outra mulher depois que
toquei nela, porra! Sei o quanto a máfiapode ser ruim e capaz de te
quebrar por dentro, mas quem está de foranão entende um terço do
que vivemos, do que temos que fazer para manter o poder.
Precisamos ser fortes e temos que abrir mão de praticamente tudo,
isso inclui até mesmo a família,se necessário. Apesar de não sentir
muito e não ter nenhum tipo de ligação sentimental com as pessoas,
tive meu lado cruel aflorado desde pequeno, fui forjado a ferro e
fogo para me tornar cada vez mais frio, calculista... Um verdadeiro
monstro, como ela afirmou. Não posso fraquejar agora, porque
tenho uma guerra para ganhar e vários inimigos para derrubar.
Meu celular toca e atendo, até mesmo sem olhar para a
porcaria da tela, o que me causa arrependimento logo quando ouço
voz irritante de Luigi na linha.
— Você ainda não foi visitar sua noiva?
— Não tenho motivo para fazersala a ela, pois minha resposta
já foi confirmada. O que mais você quer?
— Que compareça na festa de noivado semana que vem. Não
trate com descaso essa aliança, Vincent. Lucca não está satisfeito
com sua recusa em atendê-lo e tudo que menos preciso é que volte
atrás com sua palavra por conta da sua falta de interesse.
— Foda-se! Tem certeza que esse cara não tem uma vagina
no lugar do pau? Está sendo muito dramático com um assunto que
já está resolvido.
Ele gargalha ao telefone, me irritando ainda mais, fazendo a
minha cabeça latejar.
— Apareça na festa e entregue um anel de noivado para a
Giovanna. Isso irá acabar com quaisquer especulações.
— Okay! Farei isso. — Massageio a testa no intuito de diminuir
a dor.
Uma porra! Antes de misturar meu sangue com o do inimigo,
eu derrubo esse merda da cadeira. Desligo a chamada, olho para a
porta do quarto onde Lorena está. Troco de roupa, entro no elevador
para ir à reunião marcada na empresa Willians & Associados, da
qual solicitei que me indicassem o melhor advogado. Para a minha
surpresa, descobri que meu tio está sendo representado per Oliver,
filho do senhor Willians. Tenho que acelerar meus planos, porque
Luigi não está brincando no ponto. Sabia que sua visita há um mês
era para muito além do que a negociação com os Vitiello. Ele veio
atrás dos seus contatos aqui para livrar a sua cara, que prepararei
sua queda usando a mesma estratégia. Depois de passar minhas
ordens à Ashley e ao Thadeo, referentes à Lorena, saio da boate.
— Estamos atrasados. — Marco diz ao meu lado, entretanto
não digo nada. Ainda estou por um fio com tudo o que aconteceu lá
em cima. — Sei que está chateado com o que acabei de fazer, só
que eu precisava te deixar em alerta. Você estava perdendo o foco e
se esquecendo da nossa causa, por conta dela.
Viro-me ficando cara a cara com ele.
— Deixa que da Lorena cuido eu! Você não toca nela sem a
minha permissão! Entendeu, Marco?
— Entendi, chefe! — Levanta as mãos se rendendo. — Só
lembre-se de que não confraternizamos com os inimigos, e ela é
uma inimiga enviada pelo seu tio. Porra, Vincent! Não abaixe a
guarda.
— Vamos logo para essa bendita reunião, pois quero dar início
à segunda fase do plano. — digo dando por encerrado o assunto.
Chegamos ao prédio da empresa, peço para que a secretária
avise sobre a minha chegada, e logo em seguida, já entro no
escritório do senhor Willians.
— Vincent! Quanto tempo! Foi uma enorme surpresa quando
me ligou querendo falarcomigo. Não te vejo desde que você tinha o
quê? Quatorze anos?
— Faz bastante tempo. Acontece que ando muito ocupado.
Você sabe, né? As coisas da máfia e tudo mais.
Tenho uma certa abertura para falar sobre a organização com
ele, já que era o advogado de confiança do meu pai.
— Entendo, filho. Pode dizer o que te fez, depois de todos
esses anos, vir pedir minha ajuda?
— Desde a morte dos meus pais, as coisas desandaram na
organização e eu quero limpar a famiglia
de algumas sujeiras. Luigi
está metido até o pescoço com o tráfico humano e isso tem nos
trazidos muitos problemas. Os prejuízos financeiros são
incalculáveis.
Ele se senta na cadeira, nos servindo dois copos de bebidas.
— Eu sabia que quando seu tio pegasse o poder, as coisas
não seriam mais as mesmas. Sempre foi ganancioso, desde a
época de comando do seu avô. Como te disse por telefone, ele me
procurou e pediu um representante, mas não entramos em detalhes.
— Sei. Ele sabe que as coisas vão explodir a qualquer
momento e quer tirar o dele da reta.
— Suponho que você também, não?
— Pretendo tirar Luigi do poder, para pegar o comando, para
isso preciso do seu melhor advogado. Quero Eduardo Gonzalez me
representando! Marco fezuma pesquisa sobre ele e o cara é muito
bem requisitado, além de ter bons contatos. Preciso de alguém
assim ao meu lado.
Ele sorri, coçando a cabeça.
— Vejo que feza lição de casa. Porém, sinto dizer, que ele não
irá querer pegar esse caso. Já até dispensou o do seu tio. Eduardo
é... digamos... muito certinho. Ele não andaria do outro lado da lei
nem se pusessem uma arma na sua cabeça.
— Eu posso tentar fazê-lomudar de ideia. A arma eu já tenho
aqui. — Arqueio a sobrancelha, tirando uma gargalhada dele.
— Você me lembra muito o seu pai. Ele gostava de sair por aí
ameaçando os outros, mas mudou muito quando conheceu sua mãe
e mais ainda depois que você nasceu.
A conhecida dor no peito volta ao ouvir sobre eles.
— Eu ainda vou achar os culpados. Não desisti de continuar
procurando.
— E achará! Só que nem pense em tocar em meu pupilo!
Eduardo é como um filho para mim. Diga a sua proposta e o
convença. Você também é muito bom nisso.
— Tudo bem! Mande chamar o tubarão. — digo zombeteiro me
referindo ao ridículo apelido pelo qual ele é conhecido em sua área
profissional.
Logo que o cara entra, somos apresentados. É óbvio que não
gosta da minha famíliae percebo isso ao ver a feição que faz
quando ouve o sobrenome. Falo sobre meus planos, deixando uma
boa parte do lado de fora, no entanto ele reluta de início a
possibilidade de aceitar. Por fim, com a ajuda do Willians, ele
finalmente parece ser convencido. Esperto! Sabe que se ganhar a
causa irá alavancar ainda mais a sua carreira e ficaráconhecido por
ajudar a derrubar o chefe de uma das organizações mafiosas mais
famosas nos Estados Unidos. Todos querem ganhar um pedacinho
de qualquer jeito do que faturamos.
Saio chateado pela sua enrolação em confirmar se realmente
aceita, entretanto pelo menos fiquei com a garantia de que ele me
dará a resposta em breve. O que não contei a ele, nem ao antigo
amigo da família,é que preciso somente que alguns aliados caiam
com o meu tio, e já tenho as pessoas certas para incriminar,
deixando a organização sair intacta dessa sujeira. O FBIsomente
irá limpar meu nome de todas as acusações feitas até agora contra
nós. Meu tio já tem a cabeça encomendada e ninguém tocará nele
antes que eu possa ter meu tão esperado acerto de contas.
Pedi para voltar dirigindo sozinho, uma vez que precisava
esfriar um pouco a cabeça. Estou a dois quarteirões da boate
quando recebo um forte impacto do meu lado direito. Sou
arremessado para frente, sem tempo de sequer entender o que
aconteceu. O zumbido alto da pancada na minha cabeça me deixa
tonto e confuso por alguns segundos. Meu peito dói e não duvido
que ao menos uma costela tenha sido quebrada com tamanha força
aplicada sobre ela pelo airbag. Pego minha arma, me preparando
para sair e acabar com o filho da puta que me atingiu. Se foi sem
querer ou não, ele não viverá para sequer pedir desculpa pelo seu
erro estúpido. Tento sair do carro, mas com certa dificuldade,
lidando com uma falta de ar. Foi muita sorte, ou eu teria sido jogado
pela janela por ter esquecido de colocar o cinto de segurança.
Arrasto-me para o chão, sentindo todo o meu corpo dolorido, e
seguro na porta para me firmar.
— Fomos pegos em uma armadilha! — Marco diz chegando
logo em seguida para me ajudar a levantar.
Um dos responsáveis sai de trás de um dos carros parados
mais a frente e começa a atirar em nossa direção. Mesmo me
sentindo desorientado, ainda consigo acertar um tiro nele, que cai
no chão. Meus homens o cercam terminando o serviço.
— Filhos da puta! Estavam nos aguardando. Eu vou acabar
com esses desgraçados! Vá para o carro, Vincent, que nós daremos
cobertura.
Começo a ir em direção ao outro veículoblindado, no entanto
antes mesmo de alcançar a porta, somos alvejados com mais uma
chuva de tiros. Sinto o momento em que uma das balas entra em
meu ombro, com outra atingindo meu quadril. Encosto na porta,
fazendo alguns disparos, mas é tudo em vão. Os atiradores não
estão mais visíveis.Não conseguimos identificar de cara por onde
os tiros estão vindo, mas seja quem for o responsável pela cilada,
foi muito bem planejada e pode se considerar um homem morto.
— Merda! Coloque o chefe no carro! AGORA! Tem snipersno
outro prédio, à nossa esquerda. — diz Alec, um dos meus guardas
pessoais.
— Entra nesse carro, Vincent, e não saia dessa porra, nem se
todos nós morrermos! Vou chamar reforço. — Marco grita ao meu
lado.
— Sua sorte é que estou sentindo muita fraqueza,senão ia te
ensinar a não gritar de novo comigo.
Viro-me para entrar na Mercedes, me jogo no banco de trás,
minutos se passam até eles voltarem e já estou entre o mundo dos
sonhos e da realidade.
— Aguenta firme aí, meu amigo, que já estamos saindo daqui.
Tento dizer algo, porém não consigo. Sei que não deve ser
grave, mas a quantidade de sangue que perdi, me derrubou. Olho
para os prédios altos e imponentes que passam, assim meu último
pensando vai a Lorena, na forma em que ela me olhava magoada,
implorando para que eu tirasse sua vida. Não podia fazer isso, não
puno e nem tiro a vida de pessoas inocentes. Ela pode ter mentido,
me feitoperder a cabeça ao tentar me manipular, mas eu a entendo.
O desespero te leva a fazer coisas horríveis, e algumas delas são
sem volta ou chances de redenção.
Tento manter os olhos abertos, contudo a escuridão vem ao
meu encontro, me levando a apagar logo em seguida, sendo
transportado para umas das minhas mais dolorosas lembranças.

***

FLASHBACK
13 ANOS DE IDADE

Entrono galpão com meu tioe Henrique.Hoje será maisum


dia de treinamento. No começo, eu gostava de viraqui todos os
dias,só que agora nem tanto.Gostode machucarhomens maus, no
entantonão aqueles que nunca me fizeramnada. Observo Marco
amarrado sendo açoitado pelos outros soldados. Ele geme,
arrancandorisadasdos outrosque estão assistindo. Quanto mais
gritosliberados,mais ele apanha. É por isso que aguento tudo
calado. Chorar não iráfazereles diminuírem ou terempena, só
causará mais punições.
— Vailá,Vincent,é a sua vez de baternele!— TioLuigi
dize
eu o olho com raiva.
Elesabe que não gosto quando me dá ordens ou me obriga
fazer o que não quero.
— Não posso! Ele é meu único amigo.
— Não pense que se fosseMarco aquiem seu lugar
, elenão
faria
o mesmo com você. Aquinão temosamigos,apenas soldados,
você tem que aprender isso desde cedo.
Olho para Henrique, que mantém o maxilar trincado
observando o desenrolarda cena a nossa frente.Não entendo o
Henrique,porque quando está sozinho conosco, é diferente,não
usa da violência
para nos ensinar
. Porém, quando estácom meu tio,
se torna tão ruim quanto ele ou. pior
Dou algunspassos à frentee um dos homens me entre ga o
chicote. Marco está desacordado e ganha um banho de água gelada
para despertar
. As pedrasde gelocaem no chão se misturandocom
o vermelhocarmesimdo sangue. Elegeme, levantaa cabeça para
me olhar com apenas um dos seus olhosabertos,uma vez que o
outroestároxo e inchado.Por fim,me dá um sorrisotriste,
com sua
boca ferida.Tento recuar
, contudo ganho um chute na costela,me
fazendo cair de joelhos no meio do molhado.
— Já disse que não se deve mostrarfraquezaou o seu inimigo
iráte estraçalhar
. — Dominic,outrosoldadoque nos treina, retruca.
— Agora levante-se e faça o que lhe foi mandado!
Seguro a vontade de xingá-lo e fico de pé novamente.
— Tudo bem, Vincent,pode fazer!Não ireificar
com raivade
você. Não deixe eles te punirempor minha causa! — Marco fala
baixinho, com certa dificuldade para formar as palavras.
Levantoo chicote,porém travo.Não quero machucá-lo.Não
consigo! Não sei explicara nossa ligação,mas gosto dele da
mesma formaque gostavados meus pais.É a únicapessoa que me
entendee não tentame obrigara fazeralgumacoisacontraa minha
vontade.O único,que em meioàs minhascrises,me ajudaa voltar
a não me perder na escuridão.
— Se não fizer o que foipedido, deixareimeus homens te
surraremcom o dobro do que ele levou! Se fizer , terá sua
recompensa mais tarde.ocê
V escolhe! — Luigi tenta me convencer
.
Não quero ser recompensado por ele. A últimavez que falou
que eu ganharia um presente, fiqueitrancado três dias sendo
obrigadoa foder com a prostitutaasquerosa dele. Para ser um
made man, eu não podia ser virgem, pois é uma das regras doentias
da máfia.
Solto o chicote no chão, sabendo qual será o meu castigo.
— Peguem o garotoe o coloquemno lugardele!Têm a minha
permissão para fazerem o que quiserem, menos matá-lo.
Imediatamente tomeio lugarde Marco e ganhei o dobro das
chicotadasque elelevou.Meu tio,com raivade mim,fezquestãode
aplicaralguns dos seus corretivos pessoalmente.Passei o dia
amarradopelas correntes,recebendo chutese socos. Por fim,tive
muitos hematomas pelo corpo, um braço e várias costelas
quebradas.Depoisdisso,aindafuilevadoao porão, lugarque fiquei
por uma semana sem direito a nenhum remédiopara dor ou sequer
podia sairpara ver a luz do sol, enquanto ganhava um pratode
comida um dia sim, um dia não.

***

Aquele dia foi somente um dos piores que passei durante o


tempo em que fui submetido aos sádicos ensinamentos das leis da
máfia,todavia esse foio mais marcante, visto que ali eu aprendi que
não deveria baixar à guarda e nunca subestimar meus inimigos.
Também passei a nutrir um ódio mortal por Luigi. O gosto da
vingança na boca passou a me acompanhar dia e noite, naquele
fatídico dia, ele selou a sua sentença de morte sem saber.
Depois do que parece terem se passado horas, Ashley entra
pela porta do quarto abrindo minhas algemas. Já me aconteceram
coisas bem piores do que isso. Se fosse com Luigi, estaria em um
porão nojento e provavelmente ficarialá por vários dias. Issose não
fosse violentada por seus homens como forma de castigo. Não
saberia dizer qual das duas seria a pior escolha.
Confesso que ficar presa não me incomodou, e sim a maneira
que ele disse sem emoção alguma que não se importava com meus
sentimentos. De duas, uma: ou ele é um ótimo ator ou é muito
fingido mesmo. O cara esteve entre minhas pernas por semanas
dizendo o quanto gostava de estar ali, jurava que estava
conquistando-o aos poucos. Ele até mesmo me deixava tocá-lo.
Ledo engano! Já contava com o ovo dentro da galinha, como diria a
mamãe. Achei que estava com metade da batalha ganha, quando
na verdade, quem estava caindo em uma armadilha era a tola aqui.
Foquei em Vincent e me esqueci dos seus aliados.
— Oh, ele te machucou? — Ashley pergunta olhando meu
pescoço.
— Não! Estava somente testando se a lâmina era afiada. —
respondo mal humorada.
— O negócio foi feio. Está até mesmo soltando farpas.
— Não se faça de sonsa! O desgraçado do seu amado me
entregou de bandeja para ele. Só faltouele mesmo me enfiara faca.
— Eu sinto muito! Talvez não tenha sido uma boa ideia ter te
incentivado a continuar com isso.
— Você bateu com a cabeça, Ashley? Eu tive muito tempo
para pensar enquanto estava sozinha, já que não morri, cheguei à
conclusão de que isso é um presente dos deuses.
Ela me olha confusa e a minha vontade é de dá-lhe um chute
na bunda. Foi só começar a dormir com o executor, que seu cérebro
virou mingau.
— Não entendo qual é a parte boa nisso. Perdeu o resto da
liberdade que tinha. Se antes você já era vigiada, agora tudo será
dobrado. Ele não confiamais em você. — Se joga na cama bufando
e esticando os braços.
— Jesus, amiga! Se todas as pessoas apaixonadas ficarem
como você, estarei matando o meu cupido, porra!
Ela gargalha.
— Você já está caidinha pelo chefe.Só está magoada com ele
por ter escondido sobre o noivado com a princesinha Vitiello.
— Sou realista. Precisei ter a verdade esfregada na minha
cara para entender que não posso deixar a minha boceta me
controlar.
— Não seria o coração? — ela diz e eu a olho com raiva. —
Ah, deixa para lá! Mas me diz onde você vê benefício nisso.
Belisco sua coxa a fazendo gritar. Haja paciência!
— O cofre, sua tonta! Estarei mais tempo perto dele. Poderei
pensar em um meio de abri-lo, pegar os nossos passaportes e
dinheiro para fugirmos.
— Oh, meu Deus! — grita dando um pulo da cama, finalmente
caindo na real.
Thadeo chuta a porta com a arma em punho nos olhando
desconfiado. A vontade de rir é grande. Um homem desse tamanho
com medo de duas mulheres que não alcançam nem seu peito
direito.
— Tudo bem por aqui?
— Hum... Sim. Eu me assustei com uma enorme barata
voadora.
Ele balança a cabeça olhando agora para todos os lados em
busca do bicho imaginário.
— Tudo bem! Eu vou deixar vocês à procura dela. — Sai
quase correndo do quarto.
Tapamos a boca para os risos não saírem histéricos.
— Sério! Um cara que teve que fazerum juramento de sangue
e passar por um treinamento pesado, tem medo de uma barata? —
Ashley se acaba de rir.
— Já sabemos seu ponto fraco. — Sorrio olhando a porta.
— Voltando ao nosso assunto, Lorena. Eu procurei pelas
nossas documentações no apartamento de Antonella, mas não
achei. Só pode estar aqui mesmo.
— Vai dar certo! Só precisamos moldar nossos planos. Se
antes buscávamos uma maneira de subir mais vezes para cá, agora
temos que achar uma oportunidade de sair quando tivermos a
chance.
— Se não acharmos uma maneira, nós criaremos. Esse cofre
tem que ser aberto.
— Por que às vezes eu tenho uma leve impressão de que está
mais interessada na abertura do cofre do que em sair daqui,
Ashley? Tem algo que você saiba e não me disse?
Arregala os olhos me deixando ainda mais desconfiada.
— Nãaao! Como pode pensar uma coisa dessa de mim? Eu
quero sair daqui tanto quanto você. Espero por esse momento há
muito tempo.
— Está bem. Quando chegar a hora, eu te aviso.
Acredito em sua palavra, pois não tenho porque duvidar dela,
que tem me ajudado desde quando cheguei aqui.
— Vou ter que descer. As ordens eram para somente trazer
suas coisas pessoais e te soltar.
— Quanta gentileza, dele, não? — desdenho.
— Tente não atacá-lo quando ele voltar. Por mais chateado
que esteja, ainda assim não te castigou como teria feito com
qualquer uma de nós.
Eu sei.
— O que nada impede de fazer quando voltar. Vou tentar
controlar meu gênio forte e não enfiar a porcaria do punhal em seu
maldito peito.
Ela estremece me olhando com uma cara de espanto.
— Você está falando umas coisas muito estranhas
ultimamente. A convivência diária com o chefe tem te deixado tão
fria quanto ele.
— Pode ser isso. — Dou de ombros.
Pouco tempo depois ela sai acompanhada por Thadeo e mais
dois soldados, então eu volto a ficar com minha solidão. Porém, a
paz não dura muito tempo. Logo chega Marco carregando um
Vincent desacordado e todo ensanguentado para dentro do
apartamento. Seja o que for que tenha acontecido, foi feio.
Encosto na parede olhando a multidão de gente ajudando a
deitar ele na cama. Pela primeira vez vejo uma fagulha de
humanidade no temido Marco Moretti, que late ordens para todos a
sua volta, desesperado para que possam ajudar.
— Já ligou para o médico? — pergunta ao Thadeo.
— Sim. Já está a caminho.
— Foi um atentado? — pergunto meio sem jeito.
Marco muda a sua expressão instantaneamente, se fechando
quando percebe a minha presença.
— Issonão é assunto seu, menina! Vá buscar algumas toalhas
para que possamos limpá-lo!
Entro no banheiro, pego todas as toalhas que encontro no
armário, molho algumas com água e o ajudo a tirar todo o sangue.
O cheiro forte de cobre toma conta do quarto. Em pouco tempo ele
está limpo, parecendo um ser humano novamente. Jogo as toalhas
sujas no cesto e me afasto.
— Não é melhor levá-lo ao hospital? — pergunto observando
que ele ainda não acordou.
— Não! — diz seco.
— Teríamos que responder muitas perguntas, então é melhor
ficar aqui. — Thadeo complementa.
Um senhor idoso vestindo jaleco entra minutos depois com
uma maleta branca, começa a examinar Vincent e tratar das suas
feridas. Conversa baixinho com Marco, passa o que imagino ser a
receita de remédios e vai embora.
— Você cuidará dele até eu voltar. Tenha ciência de que se
fizerqualquer coisa com ele, acontecerá o dobro com você. — fala
para mim com os seus olhos semicerrados.
— Eu sei.
— Ótimo! Thadeo e mais dois guardas estarão de vigia na sala
também.
— Ousado quase nada! Com mais alguns quilos e pelo menos
uns cinco centímetros maior, eu ia lhe dar umas porradas bem no
meio da cara. — resmungo para mim mesma quando ele some da
minha vista.
— E estaria morta nos minutos seguintes. — diz a voz na
cama me fazendo saltar com um grito de susto.
Ele ri baixinho.
— Está precisando de algo?
Me observa por um tempo, como se estivesse analisando
minha alma. Se é que eu ainda a tenho depois de tudo.
— Sim. Quero um pouco de água. — diz se sentando devagar
e encostando na parede.
Vou até a cozinha buscar enquanto os seguranças se mantêm
em cima de mim olhando o que estou fazendo.Por certo com medo
de que eu coloque algo em sua bebida. Até parece! Não sou tão
idiota ao ponto de pensar em matar o chefe dentro da sua casa
lotada de soldados treinados. Seria suicídio.Entrego o copo, deixo a
jarra na cabeceira da cama e me viro para sair.
— Fique! — sua voz rouca me para quando alcanço o batente
da porta.
— Precisa de mais alguma coisa?
— De você!
A pancada deve ter sido forte.
— Hum! Você acabou de sair de um acidente, ou seja lá o que
lhe aconteceu, e já quer transar? — Abro a boca chocada.
— Eu não disse que quero sexo, Lorena. Quero que me conte
sobre você.
Arregalo os olhos sem saber o que ele quer realmente dizer
com isso.
— Não tenho nada de interessante para falar. O que eu
poderia dizer, já foi revelado mais cedo pelo seu cão de guarda.
— Não tudo. Quero saber como era sua vida antes de ser
jogada aqui! Qual é a motivação que te faz,com tanto afinco,querer
voltar?
— Bom... Quando se inclui a parte de viver em meio à
violência, sendo tratada como moeda de troca, não precisa de muito
para querer sumir daqui. — falo o fazendo tremular o canto direito
do lábio. — Mas também tenho minha família. É por eles que
continuo lutando. Você não faria qualquer coisa pela sua?
Uma fagulha de dor se passa pelos seus olhos, mas foi tão
rápido que me perguntei se realmente vi ou foi só coisa da minha
cabeça.
— Me fale deles então!
— Vo... Você... — Sinto um aperto no peito ao imaginar que ele
queira saber de algo para matá-los, como uma punição.
— Não matarei eles, se é isso que está pensando. Apenas
perguntei por curiosidade. — ele me corta como se adivinhasse
meus pensamentos e eu suspiro de alívio com sua resposta.
Sento na poltrona, mantendo um pouco de distância, então
começo a narrar como é Salvador, como era minha vida antes de
chegar aqui, como vim parar nas mãos do seu tio. Conto como foi à
experiência na casa do satanás onde fiquei e sobre a pequena que
morreu em meus braços.
Ele escuta tudo atentamente sem mostrar nenhuma reação ao
meu relato, apenas fica ouvindo. Raramente pergunta algo, até que
se cala de novo. Quando termino, vejo que ele ia falar algo, porém
Marco entra com sua cara de bunda e eu me retiro. Fico torcendo
para que tenha um coração ali com alguma outra função que não
seja somente bombear sangue, que o faça cair na real e acabar com
pelo menos essa parte sombria da máfia. Talvez o lobinho não seja
tão imune assim a mim.
Vejo-a sair assim que Marco entra e eu o olho perguntando
silenciosamente o que ele fez. Como se entendendo a minha
pergunta, dá de ombros e se joga na poltrona onde Lorena sentava
há pouco.
— O que disse a ela?
— Somente avisei que estou de olho nela.
Faço o meu melhor olhar de "não me foda". Sei que não foi só
isso, pois ele é como eu, e nós nunca somos suaves com as nossas
palavras e avisos. Nunca são somente avisos.
— Foda-se! Deixa que eu irei resolver as coisas com ela do
meu jeito. — digo o recriminando.
Ele me lança seu olhar raivoso sabendo que não irei ceder,
então muda de assunto.
— Você escapou por pouco. A bala da cintura passou somente
de raspão, já do ombro entrou e saiu. Alguns dias de repouso te
deixará novinho em folha.
— E eu lá tenho tempo de ficar descansando, Marco! Já
passamos por coisas muito piores do que essa e sobrevivemos. Não
serão duas balas que irão me parar.
— Isso é verdade. — diz pensativo, olhando para o chão.
— Descobriu mais alguma coisa sobre os atiradores?
— Pegamos um dos caras. Mas antes de interrogá-lo, o
desgraçado engoliu um comprimido de placebo e espumou até a
morte, antes de sequer ganhar o primeiro soco.
Veneno! Tática de suicídio que os malditos da máfia russa
usavam quando eram pegos em alguma armadilha, desde a época
do meu bisavô no comando. Ouvi muitas histórias sobre isso.
— Os desgraçados dos russos! — digo minhas suspeitas.
— Também pensei que eram, porém, o cara não tinha
nenhuma tatuagem ou algo que ligasse ele aos Volkov ou aos
Ivanov . Esse serviço foi encomendado por outra pessoa, que
inclusive pode ser gente da família.
— Quem seria? — pergunto gemendo de dor. — Não acho que
seja Luigi, pois não faria sentido ele mandar me matar se está
contando com o meu casamento para calar a boca do Conselho.
Alguém mais não quer que cheguemos perto da verdade e no
momento pode ser qualquer um dos nossos inimigos.
— Não podemos descartar nada, porque você conseguiu irritar
muita gente naquela reunião. Não é coincidência sermos atingidos
no exato dia em que fomos à empresa do antigo advogado da sua
família.Alguém daqui pode estar jogando dos dois lados e eu vou
descobrir quem é.
Encosto a cabeça na parede fechando os olhos, me sentindo
cansado.
— Eu achei que íamos morrer. — me permito desabafar com
ele.
— Eu já disse que antes que isso aconteça, eu teria que ir
primeiro. Minha vida pela sua, lembra? — repete o juramento que
me fez há anos.
— Temos o mesmo direito, Marco. Não se diminua.
— Não temos. Eu sei disso, você sabe e todos sabemos como
os bastardos são tradados na máfia.
— Eu vou mudar isso. Você terá seu reconhecimento.
— Não me importo com essa merda! Ficarei satisfeito em te
ver chegar ao topo. E se... — Passa as mãos no cabelo, os
bagunçando de nervoso. — E se eu tiver que morrer no processo,
morrerei feliz, desde que você esteja lá e cumpra nosso combinado.
— Chega! Nenhum de nós dois irá morrer nessa porra! Se tem
alguém que não merece respirar, esse alguém é Luigi.
Ele concorda com um pequeno sorriso, mas ainda tem a testa
franzida.O conheço o suficiente para saber que por mais que tente
negar, isso o incomoda.
— Não seja teimoso! Tome seu remédio e descanse. Estarei a
poucos passos daqui e só sairei depois que você voltar totalmente à
consciência. Não confio nessa garota.
Arqueio minha sobrancelha, contudo decido não discutir por
agora com ele. Estou sem energia. Apenas fecho os olhos confiando
em sua palavra e me permito dormir.

(...)

É tarde da noite quando acordo. Levanto meio trôpego para ir


à procura de algo para comer e encontro Lorena dormindo na sala
com a televisão ligada. Mais adiante dela está Marco, que se
encontra concentrado mexendo no seu notebook com uma garrafa
de cerveja do lado.
— Assistindo pornô? — o provoco.
— Assistir na sala com uma inimiga a cinco metros do meu
pau? — devolve com sarcasmo.
— Não seria a primeira vez que faria isso.
— Em minha defesa, eu não sabia que a garota era filha do
chefe do cartel.
— Uhum! E descobriu isso na hora que estava dentro da
empregada dela ou depois?
— Como eu ia adivinhar que a garota ia aparecer tarde da
noite na cozinha, exatamente na hora que eu fodia a mulher?
— Cara! Era a casa dela. Sua sorte foique a menina era muito
tímida para dizer algo a seu pai, ou Sebastian já teria batido aqui
para matá-lo.
— Bem provável! Está melhor? — pergunta
— Muito melhor do que já me senti depois dos nossos
treinamentos. O que tanto procura aí?
— Estive fazendoalgumas pesquisas e descobri no sistema do
FBI que o cara que se matou trabalhava para uma gangue de
motociclistas daqui.
— Mc's? Achei que tínhamos fechado um acordo com eles e
colocado todos para correr, deixando claro quem manda nessa parte
da cidade.
— Eu vou fazer uma visitinha para eles logo que amanhecer.
Estou com algumas suspeitas do que pode ter acontecido e quero
tirar todas as minhas dúvidas antes de acabar com eles.
— Eu vou com você.
— Não, não vai! A sua ida iria mais atrapalhar do que ajudar.
Está ferido e preciso de você aqui, seguro.
— Mas que porra, Marco!
— Se eu estiver certo em meu palpite, iremos fazer um belo
churrasco de ratos. Já que está melhor, vou descer lá para baixo e
cuidar das coisas por lá. Aproveite que tem uma meretriz a sua
disposição e vá foder para pôr um pouco dessa sua raiva para fora.
Semicerro meus olhos para ele, o fazendo rir.
— Às vezes eu acho que você gosta de me ter no meu limite.
— Esse é um dos meus trabalhos. — diz saindo.
Volto meus olhos para Lorena, que dorme tranquilamente em
minha frente. Meu pau dá sinal de vida, sento na beirada do sofá
tirando alguns fios de cabelos caídos sobre os seus olhos, a
fazendo parecer quase um anjo. O lençol a cobre contornando
exatamente o seu corpo, me tentando a tirá-lo do caminho. E é
exatamente isso que faço. Suas belas pernas ficam nuas me
deixando ver sua calcinha cor de rosa. Quase rio quando vejo o
quão pequena é. Mal cobre sua boceta lisinha. Ah! Lorena, você não
colabora! Feito um tarado, desço para o meio de suas pernas para
senti-la em minha boca. Ela geme quando coloco minha língua por
cima da calcinha, provocando-a. Chupo seu brotinho e arranco um
gritinho dela quando façoum pouco mais de pressão. Escorrego um
dedo para dentro, a abrindo para meu ataque. Enfio minha língua
em seu buraco, pegando seu gosto vicioso que tem me deixado
louco por todas essas malditas semanas. Merda! Eu estou muito
ferrado! Não sou um bom homem e minhas intenções com ela são
ainda piores. Mas fodido eu serei se não a ter para mim ou deixar
outro tocá-la depois que provei o que é o paraíso.
— Vincent? — sua voz doce e rouca me chama.
Levanto meus olhos encontrando os seus sonolentos.
— Oi, coelhinha.
Subo devagar por cima dela até alcançar as duas delícias que
cabem perfeitamenteem minhas mãos. Dou um pouco de atenção a
cada uma e beijo seu pescoço.
— Seus ferimentos! — diz se lembrando que estou
machucado.
— Não me importo! Eu quero você, e agora! — falo beijando
sua perfeita boca pecaminosa.
Abaixo minha calça o suficiente para tirar meu pau pulsando
desejoso por ela e me encaixo em sua entrada encharcada,
empalando-a. Gememos quando alcanço o fundo do seu canal.
Começo a fodê-la lento e suave, apenas a sentido um pouco mais.
— Diga para mim de quem você é, Lorena!
— Minha! — geme me puxando mais para si.
Ela gosta de me provocar e mostrar que eu sempre a terei,
mas porque permite isso. Eu adoro tê-la me desafiando, somente
para provar que tenho o controle, no final de tudo, sobre seu corpo.
— Vamos tentar de novo, querida! A quem essa boceta
pertence? — Estoco mais forte dentro dela.
— A mim! Seu desgraçado!
— Não, coelhinha! Você é todinha minha!
— Continue dizendo isso para convencer a si mesmo.
— Provocadora!
Meu ombro dói e meu quadril está me matando, no entanto só
sairei de dentro dela depois de ter aplacado ao menos um pouco da
minha fome por ela. Como a safada que é, move seu quadril de
encontro ao meu e eu me perco mais uma vez. Insanode desejo, a
viro de barriga para baixo, volto para dentro do seu corpo apertado,
seguro em sua cintura e a fodo, extravasando tudo que tenho
sentido nesses últimos dias, como tensão, raiva, luxúria, tudo aquilo
que quero e ainda está fora do meu alcance. Mas de repente a
escuridão aparece querendo me tomar e me dominar.
— Vincent? — sua voz me puxa para forado buraco negro em
que eu estava e volto a me concentrar nela. Tento me controlar e
pensar somente no agora.
— Não se controle! Eu quero mais forte!
Porra! Ela é perfeita para mim.
— Vem, Lorena, e me dê o que é meu! Goza para mim! — digo
saindo e voltando com tudo.
— Aah, sim! — Empina sua bunda em busca de mais.
Faço de novo, levo meu dedo molhado com seus fluídospara
seu clitóris, passando devagar, apenas deixando-a saber que estou
ali e que com um pequeno toque terei seu prazer se derramando em
mim. Sinto-a me apertando, então acelero para acompanhá-la para
o mundo desconhecido do prazer. Jogo-me sem medo com ela e
fico a sua mercê, vulnerável, dominado e sem chances de
escapatória, mesmo não sabendo disso, ela me tem. Como estou
fodido por isso! Pela primeira vez em minha miserável vida, me
questiono o que é certo ou errado por culpa de uma mulher que não
posso ter e que eu nem deveria estar tocando.
O dia mal amanheceu e eu já estava de pé. Para falar a
verdade, nem fechei os olhos para dormir direito. Fiquei até tarde
pesquisando todos os possíveis locais que aqueles Mc’s se
instalaram, até que achei. Não sossegarei até ter acabado com
aqueles imbecis. Não vou deixar ninguém atrapalhar nossos planos.
E quando digo ao Vincent que estou disposto a morrer por nossa
causa, não estou brincando, pois faria qualquer coisa por ele, sem
pensar duas vezes. Ele teve seus pais arrancados drasticamente
pelos inimigos, foi iniciado na máfia e abusado tantas vezes que
teve uma época da nossa vida a qual achei que não iríamos
sobreviver. Ao contrário de mim, que não tenho nada, ele tinha tudo.
Sua causa virou a minha, seus sonhos se tornaram os meus e sua
vida se tornou a minha prioridade.
Não sei o que é amar ou ser amado por alguém, não tive quem
me cobrisse a noite ou aos menos me contasse uma história na
hora de dormir. Aprendi cedo o quão duro à vida pode ser. Ele é a
pessoa mais próxima de mim, lutou ao meu lado, apanhou em meu
lugar e esteve lá no meu pior. A nossa ligação instantânea sempre
foi inexplicável e ninguém nos entendia. Fomos várias vezes
punidos por esse elo, por esse motivo valorizo o que temos e
sentimos um pelo outro. Seja lá o que for que nos une assim, vai
além do sangue, dos nossos juramentos ou grau de parentesco.
Sim, porque em tese somos da mesma família.Luigi engravidou
minha mamma e simplesmente a abandonou como uma qualquer.
Ela foirechaçada de sua família,jogada em um bordel, onde morreu
anos depois por um erro que nem foi dela. Ela foi enganada por
aquele miserável e a única punida por isso.
Cresci sendo jogado de um canto para o outro feito um animal
indesejado até ter idade para entrar na máfia. Com a minha
habilidade de rastrear qualquer coisa, como um hacker, acabei
chamando a atenção do stronzodo meu pai. A partir daí conheci
meu primo quando fomos treinados e passei a nutrir por ele um
carinho de irmão. Eu vou ajudá-lo a chegar onde ele deseja e vingar
todos aqueles que se colocarem em seu caminho. É minha missão
de vida até meu último suspiro e vou acabar com qualquer um que
tentar impedir que aconteça ou tentar feri-lo, como fizeram ontem.
— Todos prontos? — pergunto à equipe que escolhi a dedo
para me acompanhar e sair à caça.
— Sim! Thadeo e Alec já estão lá em cima protegendo o chefe
e Nino está com a outra equipe protegendo a entrada.
— Ótimo! Avise a eles que se houver qualquer coisa, pode nos
chamar de volta.
— Sim, senhor!
Entro no carro dando a ordem de seguir para o local. O sangue
bombeia forte em minhas veias e me coloca pronto para mandar
mais algumas almas ao inferno, sem arrependimento nenhum. A
adrenalina de saber que estou indo para o combate me deixa
animado. Se os inimigos querem assustar alguém, eu estou foradas
suas listas. Gosto do desafio de me sentir vivo, de saber que tenho
o poder de decidir na hora quem vive e quem morre. Todos me
temem! Não por ser o executor de Los Angeles, mas por saber que
sou uma verdadeira besta sozinho ou acompanhado. Por onde
passo, todos sabem quem sou, pois deixo a minha marca.
— Parem aqui! — aviso assim que vejo um antigo casarão
cercado de arames farpados, onde os Mc's ousaram, pelas nossas
costas, fazer a nova moradia deles.
— Quero somente o presidente deles, todo o resto vocês
podem matar!
— Até as mulheres, senhor?
Viro-me de frente para o jovem soldado recém-iniciado.
— Eu falei grego? Qual a parte de “todos mortos” você não
entendeu?
— Desculpe! — Abaixa a cabeça envergonhado.
— Caso alguém ainda tenha alguma dúvida na hora que for
disparar no inimigo, lembrem-se que ontem eles atacaram o nosso
chefe, sem hesitar, então se algum deles pegarem um de vocês,
não terão clemência por suas vidas. Entenderam?
Ouço um coro de “sim”,então me viro para invadir o lugar.
Fomos pelo fundo, perto da mata, e encontramos um pedaço sem
vigia.
— Sávio e Miguel? Vocês ficarãoresponsáveis por espalharem
as bombas. Assim que saímos, mandem tudo pelos ares! Não
deixaremos rastros, nem provas contra nós. Não falhem, ou
acabarei com vocês quando sair de lá e os jogarei em uma vala,
como fazemos com os traidores.Capiche?
— Entendido, senhor!
Cercamos todo o local pegando os inimigos desprevenidos.
Derrubamos um por um até chegar ao alvo. Atiro em suas pernas e
o amarro.
— Gostaria de dizer que é um prazer reencontrá-lo, Dragon,
mas nós dois sabemos que não será. Ao menos não para você.
— Por favor, Marco, eu sou um associado. Um de vocês.
— Um de nós? — Rio sem humor e os homens acompanham
meu riso forçado.— Nossos associados são do alto escalão. Você é
no máximo um inseto irritante, uma sanguessuga tentando nos tirar
tudo que conseguimos com nosso sangue e suor.
Ele começa a implorar e isso me irrita. Acerto um soco em sua
mandíbula, o fazendo parar
.
— Então mandou um dos seus homens nos cercar e tentar
contra as nossas vidas? A pergunta é: por quê? O combinado não
foi esse e você estava sendo bem recompensado trabalhando ao
nosso lado da outra parte da cidade.
— Não sei do que você está falando. Eu não tenho a mínima
ideia do que está acontecendo.
— Não sabe? Então quer dizer que um dos seus subordinados
estava no meio de um atentado ontem e você nem faziaideia? Que
tipo de presé você?
— Ele fez por conta própria. Não tínhamos mais nenhuma
ligação com ele. Eu juro!
— É lamentável que você não queira colaborar comigo. Estou
muito estressado, com sono e sem paciência para relevar suas
mentiras. Se não me serve nem para uma informação, vou acabar
com o seu sofrimento. — digo tirando minha arma do coldre e
apontando para a sua cabeça.
— NÃO! Por favor, não! Tudo bem... Eu falo o nome da cidade
de onde foi enviado o pacote com o comando. É tudo que sei!
— De onde? — pergunto tremendo de raiva.
— Miami. Foi de lá que veio. Não estava assinado e havia
somente o dinheiro com as instruções do que tínhamos que fazer
.
Mariano! Figlio de una cagna.
— Uma pena que você nos traiu. O preço da traição na nossa
organização é a morte, Dragon.
— Mas eu te contei tudo. Eu colaborei para você me deixar
vivo.
— E em nenhum momento eu disse que o deixaria viver. Diga
ao diabo que eu mandei lembranças. — Destravo a arma e meto um
tiro no meio da sua testa.
Observo com satisfação quando uma linha fina de sangue
escorre do buraco da bala, entretanto, tenho minha atenção puxada
quando vejo um pequeno vulto na parte de cima.
— Verifiquem tudo e destruam qualquer coisa que acharem
referente à máfia! Não quero que sobre nada!
Corro escada à cima empurrando as portas pelo corredor
estreito, verificandouma a uma até chegar em frente a última. Olho
a minha direita onde estão as cortinas balançando com o vento que
entra pela janela e os arrepios em meu corpo dizem que não estou
sozinho. Eu acredito em meus instintos.
— Vou contar até três! Se não sair antes, vou atirar em você!
Um, dois...
Antes de terminar, uma jovem loira sai de dentro do guarda
roupa surrado e caído aos pedaços, muito pálida e tão magra que
até mesmo dá para ver seus ossos sobressaindo na pele. Ela deve
ter no máximo quinze anos.
— O que faz aqui, menina? É filha dele?
— Na... Não! Sou uma das prostitutas do clube.
Observo atentamente, analisando suas palavras. Caralho!
Quem em sã consciência conseguiria sentir tesão por uma menina
anêmica, com olheiras profundas e aparência de morta viva? Eu
com toda certeza não!
Levanto a arma para atirar e ela se encolhe mais na parede,
me olhando sem esperança e ao mesmo tempo com um certo alívio,
como se torcesse por isso. Vejo perfeitamente as nuances de
emoções em seus olhos azuis feito água cristalina.
— Qual é o seu nome?
— Angel. — diz baixinho.
É claro que para me atentar e me foder de vez, ela se
chamaria assim.
— Some, Angel! Vá embora daqui! Espero nunca mais te ver
em minha frente, ou eu mesmo me certificareide que nunca mais irá
respirar de novo. Entendeu?
Balança a cabeça rapidamente e sai correndo. Como ela ainda
consegue andar, eu não sei. Vejo a menina pular a janela no finaldo
corredor sumindo em meio a densa floresta. O que acontecer com
ela a partir daí, não será minha culpa. Não vou ter nas minhas
costas a morte de uma criança com nome de anjo. Já tenho muitos
pecados a pagar. Desço as escadas para conferiro trabalho e assim
que verifico que está tudo ao meu gosto, vou ao encontro dos meus
homens. Quando estamos a uma distância segura, Sávio explode
todo o local e ficamos observando tudo ir para o alto. Agora é só ir
atrás do outro traidor e ter a certeza de que nunca mais levantará
um dedo contra nós ou outro membro da família.
Ando entre as folhas secas, indo em direção a nossa casa de
campo. É estranho ter meu eu de agora refletido nas águas do
nosso pequeno lago. Sempre encontro mamãe perto da ponte, e
toda vez que eu a via, eu era mais jovem. Aperto o passo mais um
pouco e sorrio quando vejo que lá está ela, sentada em um tronco,
me esperando como das outras vezes.
— Oi mamma! Sou eu, Vincent. — digo quando me observa
sem falar nada por um longo tempo, como se não me reconhecesse.
— Está diferente. Esse não foi o filho que eu deixei. — diz
alisando meu rosto com carinho.
Está linda com seus cabelos loiros encaracolados, do jeito que
eu lembrava.
— Isso porque não sou o mesmo. Muitas coisas aconteceram
depois que você se foi.
— Eu sei, mio amore, mas a vingança tem te consumido. Ela
tem um preço alto a se pagar e não trará nenhum benefí
cio. Veja o
quanto isso mudou você.
— Não me importo. Estou disposto a pagar o valor que for.
Ela balança a cabeça, decepcionada.
— O poder pode cegar as pessoas. Você já tem tudo e não
precisa causar uma guerra por mais. Você é muito melhor do que
isso, querido.
— Mamma, você não entende. Tudo de mais importante me foi
tirado: você e papà. E tio Luigi me usou, me manipulou e tem sujado
o nome de nossa família,portanto, não merece continuar vivendo
depois de tanto mal que fez em benefício próprio.
— E se acha melhor do que ele, tomando todas essas
decisões? Deixa isso para lá! Você irá sofrer muito com suas
escolhas. Veja qual foi nosso fim em meio a tanta ganância.
— Não! Eu não vou desistir! Não mudarei de ideia. É o que eu
quero e é o que irei ter.
Seus olhos ficam tristes com minhas palavras, todavia não
insiste mais.
— Che Dio ti protegga.
— Ele não olha mais por mim, mamma. Eu sou uma ovelha
perdida.
— Não, não é! Você só quer que todos pensem assim. Mas
aqui... — diz colocando sua pequena mão no meu coração. — Ainda
tem bondade. Eu sei disso!
— Eu sinto sua falta! Por que só você aparece para mim?
— Não sei te dizer, mio angelo. Preciso ir. Lembre-se que ti
amo.
— Não! Não vá!
Ela se levanta, me joga um beijo como sempre fazia quando
eu era pequeno e some na nuvem de fumaçabranca. A dor no peito
é forte, como das outras vezes. Odeio esse momento! Fazia muito
tempo que não via minha mãe e em todas as vezes que ela
aparece, eu aproveito cada segundo ao seu lado, só que nunca é
fácil a nossa despedida.
(...)

Acordo suado, sentido a angústia de quando sonho com ela.


Parecia tão real! Linda como sempre foi e com uma voz tão doce
que seria impossível não compará-la com um ser divino. Olho
Lorena dormindo ao meu lado e saio de fininho para não acordá-la.
No relógio marca que já são oito da manhã. Meu celular escolhe
esse momento para tocar insistentemente e me xingo por não ter o
deixado somente vibrando. Preparo-me para as más notícias,
suspirando quando vejo o nome de Marco na tela. Atendo
rapidamente assim que me lembro da nossa conversa na
madrugada.
— Tudo certo?
— Por aqui sim. Preciso ir à Miami resolver um assunto
urgente. Amanhã estarei de volta.
Franzo a testa com sua fala. Ele está me escondendo algo.
— O que descobriu? — eu pergunto e ele fica em silêncio por
um tempo. — Marco? Desembucha! — uso minha voz de chefepara
que entenda que não estou pedindo e sim ordenando.
— Um pacote foienviado de lá e estou indo investigar quem foi
o mandante. Só volto quando tiver uma resposta e acabar com o
culpado.
— Esse é o território sobre o poder de Mariano. Acha que ele
está envolvido nisso? Seria muita burrice e óbvio demais.
— Como eu já disse, não podemos descartar ninguém. Tudo é
possível quando estamos em meio a uma guerra que tanto temos
inimigos de fora como de dentro da organização, lutando por poder.
Tudo é válido para ganhar.
— Tudo bem. Me deixe informado de cada detalhe e faça o
que for preciso. E... Marco?
— Sim?
— Tome cuidado! Não deixe rastro e leve o Nino com você.
— Tranquilo! Se cuide você também!
Desligo o telefonee ficoum tempo pensando no que vou fazer
a partir daqui. Eduardo já me disse que vai ajudar e marcou uma
reunião com seus contatos, porém, é muita burocracia. É por isso
que gostamos de resolver as coisas por nossa conta e risco. Não
tenho paciência de ficar esperando a lentidão que esse povo leva
para ler um pedaço de papel. Mas é preciso aguardar o desenrolar
das coisas. Ainda tem a investigação que Marco está fazendosobre
os possíveis locais onde Luigi esconde as garotas.
Esfrego a cara me sentindo ansioso de repente. Odeio me
sentir de mãos atadas. Logo sinto braços quentes me abraçar por
trás e me viro para ver a minha perdição em pé atrás de mim. Puxo
Lorena para a minha frente e a beijo.
— Ainda está muito bravo comigo? — pergunta sem jeito.
— Não, Lorena. Bravo não, mas chateado pelo que me
escondeu, sim. Eu preferia ter ficado sabendo da sua boca sobre o
seu passado do que pela de Marco.
Ela abaixa os olhos e eu levanto seu queixo para que me olhe
novamente.
— Entenda uma coisa! Eu tolero tudo, menos que me traiam.
Não julgo seus motivos, mas sou egoísta demais para te libertar.
— O que quer dizer com isso?
— Que você é minha! Que eu não sou um bom homem para
deixar você ir para longe de mim, mesmo sabendo que é a coisa
certa a se fazer. Que eu nunca deixei alguém chegar tão perto como
você e agora não quero outra pessoa.
— Eu... Eu não entendo. Até ontem você disse que não se
importava comigo. O que mudou?
— Eu quase morri em meio a um tiroteio e percebi o quanto
você é importante para mim. Eu no seu lugar teria feito o mesmo.
Lutaria e faria qualquer coisa para ter meus pais de volta.
— Então me deixe ir, Vincent! Me deixe ter meu direito de
escolha.
— Porra, mulher! — Me afasto dela com raiva de mim, dela e
de tudo. — Eu acabo de abrir o meu coração para você e tudo que
tem a dizer é que deseja ir embora?
— Você vai se casar e eu mereço muito mais do que ser “a
outra” na sua vida. Nós dois sabemos que a família não me
aceitaria. No meu país não tem essas regras descabidas e lá eu
posso ser eu, a Lorena Ávila, a menina que sonhava em ser
enfermeira para ajudar os outros, não a prostituta que só tem
serventia para que homens tenham seus paus molhados quando
necessitam.
— Eles não aceitam muita coisa e eu não me importo de ir
contra todos eles.
— E morrer? Você estaria disposto a morrer por mim, Vincent?
Largaria tudo isso aqui e me acompanharia?
— Essa é a minha vida. É tudo que sei e tenho, Lorena. É meu
legado e está no meu sangue comandar isso aqui. Fui preparado
para isso desde pequeno.
— Eu não. Eu não fui preparada para viver aqui. Depois de
tudo que passei, estar aqui é uma tortura.
Encosto minha testa no vidro da janela que vai do chão ao
teto, olhando a rua lá embaixo com todas as pessoas passeando
felizescom suas famíliase seus cachorros, como se o mundo fosse
um lugar seguro, sem guerra, sem nenhum conflito ou violência.
Tudo em perfeita ordem. Uma tremenda hipocrisia!
— Vincent? — diz tentando se aproximar de mim.
— Me deixe sozinho, Lorena, e volte ao seu apartamento.
— Não se feche de novo e não me empurre para fora! Por
favor!
— Eu acho melhor a gente separar as coisas. Eu estou
confuso e isso não é bom para o momento que eu estou passando.
Não posso perder o foco e você me distrai.
Ela se joga em meus braços e se segura forte em mim. Gemo
com o impacto do meu ombro na parede.
— Não vou deixar que me expulse daqui. Se não posso ter
minha vida de volta, ao menos me deixe ficar aqui com você. Não
quero que outro me toque ou me machuque. Faça o que quiser
comigo, mas não me deixe voltar para o controle do seu tio.
Ela se ajoelha puxando minha calça para baixo e massageia
meu pau. Em outro momento eu estaria excitado e agradecido, mas
não agora, não com suas lágrimas escorrendo por todo o seu rosto,
mostrando seu desespero e tristeza. Foda-se! Desde quando as
lágrimas de uma mulher me incomodam? Eu saí de dominador para
ser o dominado.
— Pare! — A puxo pelas mãos, para que se levante.
— Me deixe te dar prazer com a minha boca.
— Não! Por mais que eu ame sua boca em mim, eu não quero
assim. Venha aqui! — A seguro em meus braços e ela soluça forte.
— Não chore, mia bella . Eu jamais te mandaria de volta para o meu
tio. Eu disse aquilo na hora da raiva.
Aos poucos ela vai se acalmando. Limpo seu rosto com a
minha mão e beijo a ponta do seu nariz arrebitado.
Eu estou muito, muito ferrado! Se meus inimigos ficarem
sabendo que uma mulher consegue me controlar com suas
lágrimas, eu vou morrer fácil, caralho! Isso é um enorme ponto
fraco. Um que tentei ao máximo ficar longe, e mesmo assim não
consegui. Uma fraquezaque me fará criar uma guerra para tê-la ao
meu lado. Marco vai arrancar meu pescoço fora quando eu contar
que não quero seguir adiante com o casamento com a Giovanna.
Nós vamos ter que acelerar as coisas, porque depois de acabar com
essa, vou ter outra batalha para enfrentar.
Quando o dia amanheceu, percebi que tinha acordado nos
braços do Vincent. Estava tão drenada dos acontecimentos dos
últimos dias, que simplesmente apaguei. Marco ainda não voltou da
sua viagem, seja lá para o que ele foi fazer, e isso tem deixado
Vincent muito estressado. É notório que algo não esteja saindo
como deveria, pois o clima ficou mais tenso por aqui. Como vim
parar na cama, eu não sei. Desci ontem para ajudar as meninas na
limpeza da boate, ensaiei um pouco e depois bebi com a Ashley,
para me distrair. Só me lembro de deitar no sofá para tirar um
cochilo e acabei foi apagando. Eu sou muito fraca paras bebida,
alguns goles são o suficiente para me derrubar. Bebo de teimosa e
porque gosto da sensação de dormência que o álcool me traz,
sempre me ajudando a aplacar um pouco das minhas dores e
solidão.
Viro de frente para o homem bonito ao meu lado, analiso seu
rosto de semblante fechado até mesmo dormindo e fico o admirando
por um tempo. Se não fossem as circunstâncias em que me
encontro, eu iria arriscar deixar meu coração em suas mãos, mas
não posso. Por todos os motivos errados, não posso ficar aqui e
simplesmente fingir que nada aconteceu, tendo em vista que
poderei esbarrar em Luigi ou qualquer outro cliente que tive, a
qualquer momento. Só de imaginar essa cena, já me dá um nó no
estômago. Issoporque não estou contando com o fato de que ele
está noivo, ou seja, não tenho nenhuma razão para querer ficar.
Meu lugar é longe daqui e tudo conspira para me provar isso.
Sua declaração me pegou desprevenida há alguns dias.
Depois do episódio no qual eu surtei, ele não tocou mais no
assunto, mas percebo em seu olhar que espera algo de mim, até
mesmo pela maneira que me toca e me beija quase que em aflição,
como se tentasse me provar com seu corpo, que estava falando
sério. Eu ainda tenho lá minhas dúvidas sobre isso. Passei muitos
anos nas mãos de sua famíliapara aprender que eles são capazes
de tudo quando querem chegar aos seus objetivos, inclusive fingir
sentimentos. Eu vi muitos dos soldados manipulando e brincando
com as meninas no clube, por fim as jogando fora quando
conseguiam o que queriam delas. Eu até gostaria que fosse
diferente, entretanto como ignorar todas as coisas erradas se elas
estão gritando em alto e bom som a minha volta?
— Seus pensamentos estão muito altos. — diz com a voz
rouca de sono.
— Sério? Então me diz no que estou pensando agora.
Ele me observa com olhos de falcão.
— Que sou um homem maravilhoso e que me quer dentro de
você para o resto da sua vida.
Gargalho alto.
— Seu sonho, não é?
Ele suspira resignado.
— Não nego. O que tenho que fazerpara que possa acreditar
em mim, hein? — Ele pergunta e eu não respondo nada. O que eu
quero, ele já disse que não me dará. — Eu sei exatamente o que
quer, Lorena. Eu só queria que me desse uma chance de provar o
que sinto por você.
— Como me provaria isso? — pergunto curiosa.
— Fique comigo! Três meses é tudo que te peço e preciso
para te provar que não tenho nada a ver com o que aconteceu com
você. Pretendo te recompensar por tudo o que passou.
Seu rosto está inexpressivo no momento, me avaliando. Às
vezes ele é tão transparente, e em outras se fecha tanto que não
consigo ver absolutamente nada.
— Eu não sei o que dizer. Não tenho nada a oferecer, Vincent.
Ele deita em cima de mim, beijando suavemente meus lábios.
— Lorena, você é tudo que eu preciso para continuar lutando
pelas coisas certas.
O olho surpresa. Choque é a descrição mais correta. Ele está
falando sério ou é mais algum dos seus joguinhos?
— É algum tipo de teste?
— Eu tenho honra, coelhinha. Quero você, já deixei isso claro,
mas tenho planos de mudar algumas coisas e preciso desse tempo.
Nada pode sair errado ou poderei me prejudicar diante da famiglia
.
Não caia nessa, Lorena! Mafiosos são sem escrúpulos.
Continue com seu plano, que é mais seguro.
— Eu não sei de mais nada, então não sei como eu poderia
ajudar.
— Nem se for para acabar com tráfico humano dentro da
máfia?
Arregalo os olhos. Agora ele tem minha total atenção. Isso só
pode ser brincadeira! Teria um novo objetivo para lutar, algo muito
maior do que eu.
— Está falando sério?
— Muito sério! Mas não posso falar todos os detalhes para
você.
— Eu sei. Negócios da máfia e tudo mais. — Bufo revoltada.
— É isso ai! Mas ao contrário do que me acusou, eu não sou a
favor e quero acabar com isso. O negócio é que ainda não tenho
todo o poder que necessito. Só preciso de você ao meu lado, mia
bella
. Me dê pelo menos esse tempo. Se depois que tudo isso
acabar, você ainda querer ir embora, vou fazer tudo o que tiver ao
meu alcance para que saia daqui com segurança.
— Me dê a sua palavra! Jura pelo seu sangue? — Eu sei o
quanto esse juramento é importante para ele.
Ele levanta a sobrancelha.
— Se isso forfazervocê reconsiderar a minha proposta, então
juro pelo meu sangue.
Não tenho nada a perder, certo? Não vou mudar de opinião.
Três meses é pouco tempo e vai passar rápido. Se forverdade dele,
não estarei me colocando em risco tentando fugir. O beijo com todas
as forças, feliz por ele ao menos me oferecer essa chance. Por
favor, minha deusa! Prometo te entregar várias oferendas. Não
deixe ser mentira.
— Tudo bem. Eu vou ajudar no que for preciso.
— Bom... Merece até uma recompensa por ter feito a escolha
certa. — sussurra em minha boca, parecendo satisfeito com minha
resposta.
Depois de uma rodada deliciosa de sexo na banheira, ele se
troca e sai. Quem diria que sexo seria bom? Eu achava nojento
antes e agora até anseio por seus toques.
Ando de um lado para o outro com a cabeça a mil, visto rápido
minha roupa e saio correndo para falar com a Ashley. Bato em sua
porta aguardando ela vir me atender. Só que como a vida é uma
cadela vira-lata, quem abre a porta é Romeo, somente de toalha e
com seu imbecil sorriso de crocodilo.
— Ora, ora! Sentiu saudade de mim, meu bem? — diz me
medindo de cima a baixo, mordendo o lábio inferior.
— Nenhum pouco! Depois falo com minha amiga. — Me viro
para sair, no entanto ele é mais rápido e puxa meu braço, me
encurralando.
Tento acertar um chute em suas bolas, porém ele já esperava
por isso e prende minha perna entre as suas.
— O que foi? Agora que esquenta a cama do chefe, não sou
bom o suficiente para você? — Segura em meu pescoço e empurra
minha cara na parede.
— Me solta, seu desgraçado! Ou eu irei acabar com você!
Ele gargalha.
— Você sabe o quanto eu amo quando você luta, querida. O
sexo fica muito mais interessante e sua boceta bem mais apertada
em volta do meu pau. — Esfrega seu membro em meu traseiro
fazendo a bile subir em minha garganta, por nojo.
— Eu odeio você! — falo já esperando pelo pior.
— Não! Você ama! Já disse a ele o quanto você gosta de duro
e forte? Que gritava com meu pau enterrado até o fundo?
— Seu doente! Eu gritava de dor, não de prazer.
Ele aperta forte a mão em minha garganta, cortando meu ar.
— Solte ela, Romeo, ou você estará cavando sua própria cova!
— Thadeo grita ao nosso lado.
— Qual é, irmãozinho? Vai dizer que nunca quis molhar seu
pau na bocetinha mais disputadas pelos chefes?Eu não me importo
em dividi-la com você. Ela até gosta de ser preenchida por dois. —
cita às vezes em que Luigi me obrigou a ficar com ele e vários de
seus amigos asquerosos ao mesmo tempo.
— Isso não é da nossa conta. Solte ela agora!
Ele me puxa pelo pescoço e encosta seu lábio próximo ao meu
ouvido, deixando com a ponta da sua língua um rastro molhado.
— Você ainda vai ser minha, doce Lorena, e é só questão de
tempo até ele enjoar de você também. Então eu vou fazer você
pagar por todas as vezes que me rejeitou!
Ranço é o que sinto só de imaginar que isso pode acontecer
um dia. É disso que eu falava! De como eu não teria paz a cada vez
que tivesse que encarar algum dos homens que abusou do meu
corpo.
Ele se afasta, só depois de vê-lo sumir respiro aliviada.
— Você está bem? — Thadeo pergunta me examinando.
— Sim. Eu vou subir. Se ver a Ashley, diga que preciso falar
com ela!
— Tudo bem.
Saio de lá com o coração nas mãos. Que diabos! Logo ele
tinha que estar com a Ashley hoje! Essa foi por pouco. Vou ter que
tomar um banho com desinfetante para tirar toda a sujeira que seus
toques repugnantes me trouxeram. Não sei se depois do Vincent, eu
conseguiria voltar a ser quem era antes. Uma vez que se conhece o
outro lado da vida miserável que levamos, não queremos mais voltar
para ela. Ele disse três meses. Respiro fundo para me acalmar. Só
mais noventa dias e terei minha vida de volta. Eu posso aguentar
mais um pouquinho.
Desço ao escritório para resolver as papeladas da boate.
Tenho que deixar tudo organizado para ir à Las Vegas conversar
pessoalmente com o Lucca. Ireipedir um pouco mais de tempo para
o anúncio do noivado. Ele vai ter que entender meu lado, visto que
afinalde contas, serei eu com a corda no pescoço. Mas estou vendo
que do jeito que as coisas estão, vai ser impossívelsair daqui hoje.
Marco está surtando com as informações que passei. No geral, ele é
o mais racional de nós dois, entretanto vejo que as coisas em Miami
tem o deixado em seu limite, o fazendo perder fácil a paciência
nesses dias que precisou se afastar. O que nos traz ao momento de
agora.
— VOCÊ SÓ PODE ESTAR BRINCANDO COMIGO,
CARALHO! — grita pela chamada de vídeo. Estamos a mais de
vinte minutos nesse impasse. — EU SAIOPOR MENOS DE CINCO
DIAS E VOCÊ JÁ ESTÁ CAÇANDO SARNA A PRA SE COÇAR?!
Se ele não estivesse tão revoltado, eu iria rir das suas
expressões.
— Eu a quero, Marco. O plano de início segue como
planejamos. Apenas estou acrescentando mais uma cláusula.
— Você fez o quê? — pergunta incrédulo.
— Falei a ela que darei sua liberdade se por acaso tudo passar
e ela ainda queira ir embora.
— Só pode ser feitiçaria! E olha que nem acredito nessas
coisas.
— Dei minha palavra, jurei pelo meu sangue e não voltarei
atrás.
— E espera o quê? Que em três meses ela esteja caidinha aos
seus pés? Vocês estão juntos há semanas e ela ainda continua com
o mesmo pensamento. Acha mesmo que vai mudar de opinião em
um passe de mágica?
— Tenho esperança que sim. Ela odeia o tráfico, e se nós
derrubarmos, acabaremos com essa escória de dentro da máfia,
além de fazê-lafeliz.Será minha última tentativa. Se não der certo,
eu caso com a Giovanna, como combinado.
— E até você se lembrar do seu compromisso com a famíglia,
vai enganar o seu tio e o Lucca Vitiello até quando? A gente não
precisa de mais um inimigo na nossa cola.
— Vai levar o tempo que precisar. Eu estou aguardando o
desenrolar da reunião com o Eduardo.
— Você só pode estar querendo me foder, cacete!
— Com lubrificante ou sem?
Ele me mostra o dedo e eu gargalho.
— Oh! Foda-se, Vincent! Não banque o espertinho comigo. Eu
só não quebro a sua cara porque estou muito longe. A boceta dessa
mulher deve ser muito boa para você se colocar em uma enrascada
atrás de outra por conta dela.
Esse stronzotem muita sorte por eu considerá-lo muito, se não
já teria mandado ele à merda. O que não quer dizer que de vez em
quando eu não tenha que me impor e lembrá-lo quem sou, mesmo
dando minha vida por ele.
— Vou desconsiderar o que acabou de falar porque sei que
está muito nervoso, mas se voltar a desrespeitá-la de novo, iremos
resolver na gaiola as nossas desavenças. Capiche? — Respiro
várias vezes tentando manter a calma.
O teimoso continua me encarando de cara feia e me olhando
como se tivesse nascido mais duas cabeças em meu pescoço.
— Porraaa! Nem acredito que estou ouvindo isso. Ligue para o
Lucca e combine com ele para adiar a festa de noivado. Arrume
qualquer desculpa! Se vire! Você se colocou nessa merda, então a
resolva. Eu estou muito ocupado aqui ainda.
— Vai dar tudo certo, Marco. Fique calmo e confie em mim
quando digo que vamos resolver isso.
— Tenho lá minhas dúvidas. Do jeito que você está se
deixando levar por seu pau, não irei me surpreender se você me
disser que desistiu de tudo no dia que eu chegar aí.
— Issonunca! Eu honro com a minha palavra e isso é muito
mais do que uma briga pelo poder. É vingança por tudo que aquele
desgraçado nos fez.
Ele respira fundo e ficamos nesse jogo de quem cede primeiro
ao outro por um bom tempo. E como sempre, mesmo a contragosto,
não me decepciona.
— Tudo bem! Estou do seu lado. Mesmo não concordando
com isso e achando que a união com a Vitiello seria o caminho mais
seguro no momento, eu respeito sua decisão e não vou voltar atrás
no que te prometi.
— Eu agradeço pelo seu apoio, mio amico.
— Não me agradeça. Se ela nos trair ou dizer algo que nos
prejudique, é melhor me matar, Vincent, porque nem você e nem o
próprio diabo em pessoa me impedirá de colocar uma bala no meio
da testa dela.
O frio me toma só de pensar na possibilidade de ter que
escolher um dia entre os dois. Espero que nunca chegue a esse
ponto.
— Juntos até a morte!
— Sempre! — diz ainda chateado.
Desligo o notebook mais tranquilo porque sei que ele estará
comigo. Torço para que um dia possa se apaixonar e sentir o que
sinto por ela. Só assim ele me entenderá. Por um tempo eu achei
que nem coração eu tinha, e que tudo o que importava era cumprir
com minhas obrigações e minha sede por justiça, só que agora eu
tenho mais um motivo para continuar lutando.

(...)

O apartamento está silencioso, olho tudo a procura dela. Me


distraí lá embaixo e esqueci de parar até para comer. Só me toquei
que fiquei muito tempo lá quando olhei pela janela e vi que já era
noite. Ela está de costa vestindo sua roupa da noite para se
apresentar no palco. Odeio que ela vá se expor para aquele bando
de babacas, porém, ela gosta, e foi a primeira coisa que descobri
sobre ela. Chego silencioso por trás e beijo seu pescoço.
— Ai! Que susto! — diz colocando a mão no coração. — Um
“olá” quando se está entrando, evitaria um infarto.
— É uma das minhas habilidades... — paro de falar quando
vejo a marca roxa em seu pescoço. — Quem fez isso?
Instintivamenteela leva a mão ao local e dá um passo para
trás, se afastando de mim.
— Não foi nada!
— Anda, Lorena! Me diz quem foi o filho da puta que ousou
tocar no que é meu!
— Romeo. — fala incerta.
— Eu vou matá-lo!
Vejo tudo vermelho em minha frente e me viro para ir atrás do
desgraçado.
— Vincent, não precisa! Thadeo me ajudou e ele nem chegou
a fazer nada.
Coloco minhas mãos em suas bochechas e a façome encarar.
— Esse é o meu território e ele tocou em alguém que está sob
a minha proteção. E não bastando isso, me desrespeitou debaixo do
meu teto. Não há perdão para isso.
Ela tenta me segurar quando me viro, no entanto puxo meu
braço de suas mãos. Entro no elevador e vou direto para onde ele
está, sentado no bar com duas mulheres, uma de cada lado, se
sentindo o rei do pedaço. Não falo nada, apenas acerto meu punho
em sua mandíbula o fazendo cair por cima da mesa lotada de
bebidas.
— Você a quer, não é? — digo o óbvio e ele sorri zombeteiro
cuspindo no chão o sangue da boca.
— Qual é, Vincent? Eu estive dentro daquela boceta primeiro
que vo... — não o deixo terminar, acertando outro soco.
— Se quer tanto tê-la, vai ter que ser direito. Te desafio a
entrar comigo no tatame e lutar como um verdadeiro homem de
honra faria.
Tiro a parte de cima do meu terno, jogando-a para trás. Ele
sabe que não ganhará de mim, pois sou o melhor na minha
modalidade, e o único que chegaria perto de me derrubar, seria o
Marco. Isso porque fomos treinados pela mesma pessoa. Mas
Romeo é orgulhoso demais para pular fora,ainda mais depois que o
desafiei em meio a uma multidão.
— Você não vai machucar o meu bebê! — Antonella grita ao
meu lado.
— Se o seu bebê não honra as calças que veste, se
escondendo atrás da barra da saia da mamãe, não tem porque ele
está na famiglia.
É mais um motivo para eu acabar com ele. Não
temos tempo para homens fracos aqui.
— E de fraquezavocê entende bem, não é, chefe? Vamos lá!
Não vou deixar você se sentir envergonhado por se prestar ao
ridículo de brigar por uma mulher que já passou nas mãos de
metade dos homens da Itália.
— “Metade”que vou descobrir o nome e matar um por um por
ter violentado ela quando era somente uma criança. A começar por
você.
Seus olhos piscam conhecimento. Ele sabe que eu sei de tudo,
só que não me arrependo de dizer o que vou fazer, posto que
acabei de contar um dos meus segredos a um homem morto.
Mortos não falam, e ele será um em breve.

(...)

Subo na gaiola em meio aos gritos e aplausos do público,


gostando do showzinho extra.
— O vencedor ficacom a bella donna.Já sabemos quem será,
não é? — o provoco com a certeza de qual será o resultado final.
— Se eu fosse você, não teria tanta certeza assim.
Ele tenta acertar um soco em meu abdome, entretanto é muito
lento, o que me faz pegá-lo desprevenido e chutar sua costela
quando chega muito perto. O mundo parece parar a nossa volta.
Minutos se passam e eu me desligo de tudo. É só eu e ele aqui e as
nossas vidas em jogo. Meu sangue bombeia tão forte que o sinto
pulsar por todo meu corpo. Ele vem para cima de mim, conseguindo
atingir alguns golpes, mas não o suficiente para me derrubar. Tenta
novamente acertar mais um soco, porém me defendo acertando o
cotovelo em seu braço, o deixando pendurado, mostrando que
desloquei do lugar. Ele recua fazendo uma careta de dor, mas se
mantém firme.
— Pensando em desistir?
— Nunca! — fala respirando pesado.
— Eu bem que gostaria de ficar brincando mais um pouco com
você, mas tenho uma mulher para cuidar.
Com satisfaçãoataco cada um dos pontos mais sensíveisque
sei que irá enfraquecê-lo. Agora é para valer! Os golpes são muito
mais violentos, fazendoo chão ficarvermelho com os respingos dos
nossos sangues. Mais dele, do que meu. Tenho que admitir que ele
é corajoso. Mesmo eu sendo muito melhor que ele no kickboxing ,
estou realmente impressionado. Poderia ter o matado sem sequer
sujar as minhas mãos, com uma única bala em seu maldito crânio,
contudo eu teria acabado com isso antes mesmo dele perceber o
porquê de estar sendo morto, o que seria rápido demais. Todos os
homens que a tocaram contra a sua vontade, merecem ter uma
morte lenta e dolorosa. Escolhi lhe dar uma chance justa, mas não
porque sou bom, e sim pelo prazer de vê-lo quebrar, se debater e ter
uma pequena esperança, até no último minuto, por fim, arrancar
todas as suas chances, mostrando o quanto foram inúteis seus
esforços.
Acerto um chute em sua canela e outro em sua cabeça,
fazendo a mesma virar e ele cair no chão. Pulo em cima dele o
estrangulando e vendo aos poucos a vida deixar seus olhos.
Somente solto ele quando dá seu último suspiro. As pessoas gritam
eufóricas com a minha vitória. Peço uma arma ao meu soldado e
atiro para ter certeza de que não pegará o caminho de volta do
inferno.
Olho em meio à multidão tentando encontrá-la e a vejo no
canto com a mão na boca, assustada, me observando de olhos
arregalados. Não desvio meus olhos dela enquanto eu desço do
tatame e vou ao seu encontro. Coloco meus braços a sua volta
puxando-a para mim. Beijo a marca em seu pescoço com suavidade
para que entenda que fiz tudo por ela e que enquanto estiver
comigo, eu a protegerei de tudo e de todos. Essa foi a minha
primeira prova do quão sério eu falo sobre recompensá-la pelo que
passou, inclusive da minha parte que a ignorou de início e não
acreditou nela.
Perplexa! Essa é a palavra que me defineagora. Estou tão em
choque, que não consegui sair do lugar. Acho que nem pisquei os
olhos. Já tinha ouvido falarsobre como ele é mortal, impiedoso, frio,
só que saber e ver são coisas completamente diferentes. O que ele
fez por mim me deixou sem palavras. Alguém me defendeu depois
de anos gritando em silêncio, sem ninguém para me ouvir ou ajudar.
Estou tão emocionada quanto petrificada. Eu passeio entre duas
possíveis reações: correr para beijá-lo em agradecimento ou fugir.
Sim! Fugir para o mais longe possível quando vejo seus olhos
famintos. Se no dia em que chegou à boate, sujo de sangue, ele
parecia intenso e assustador, hoje está dez vezes mais.
Ele me segura pela cintura, beija meu pescoço,
involuntariamente meu corpo responde ao seu toque. Sem dizer
uma única palavra, ele traz seus lábios ao meu em um beijo
exigente. Sua língua não pede licença e simplesmente toma o que
seu dono quer e deseja. Gemo em seus braços e o sinto me
carregar. A próxima coisa que vejo é que estou deitada nos lençóis
da nossa cama, com ele pairado sobre mim. Sinto o gosto do
sangue em minha boca, e ao contrário de uma pessoa normal, em
vez de nojo, fico excitada, porque é o sangue que ele derramou por
mim.
Ele tira minha roupa e delicadamente me beija dos pés à
cabeça. Fecho os olhos sentindo uma avalanche de sentimentos me
atropelarem feito um caminhão desgovernado. Não quero sentir,
mas não tenho controle. É como se eu tivesse me perdido e de
repente me achado. O quão louca eu sou por pensar assim?
— Olhe para mim, coelhinha! — ele pede e eu abro os olhos,
vendo os seus belos azuis me observando. — Está com medo de
mim?
Eu deveria, não é? Mas não... Não estou com medo. O que
estou sentindo, não consigo colocar em palavras.
— Não. Estou apenas sem saber como agir depois do que
houve lá.
— Foi por você, miabella!Ele nunca mais encostará um dedo
em você. Eu irei te proteger de todos eles.
Meus olhos se enchem de lágrimas não derramadas. Tudo me
bate, porra! Qual é o meu problema? Será que anos de abusos
fizerameu me tornar um deles? Eu o vi matar um homem na minha
frente, e em vez de me lamentar, porque alguém morreu por minha
causa, estou feliz. Muito aliviada, na verdade. Na minha cabeça se
passa um filme de todas as vezes que Romeo me machucou ou
ajudou Luigi a escolher meus clientes. Eram sempre os piores, os
mais sádicos para poder me punir por rejeitá-lo. Sei que não deveria
dizer isso, no entanto quero que ele queime no fogo do inferno se
realmente existir um. Que sofra o triplo do que me fez passar!
— Obrigada! — Aliso seu rosto trazendo sua boca novamente
para a minha.
— Você está em choque. — Encosta sua testa na minha. —
Deixa eu pegar um pouco de água para você.
Como explicar que estou mais sem reação pela sua atitude do
que pela morte do Romeo em si?
— NÃO! — O seguro. — Por favor! Só fique aqui comigo!
— Tudo bem, coelhinha. Não sairei daqui.
Puxo sua calça para baixo afim de ter mais contato com seu
corpo. O desejo pulsa em cada fibra minha.
— Me foda! Me puna do jeito que você gosta! Tire toda a
marca que ele deixou em mim.
— Eu não vou fodê-la, Lorena. Não hoje. Não agora, pelo
menos. Você merece mais do que isso.
— Por quê? Não faz isso, Vincent. Eu preciso de você nesse
momento.
— Porque, mio amore, quando eu entrar em seu corpo, eu
estarei indo devagar, lento e muito suave. Irei fazer amor com você.
Oh! Foda-se! Meu coração traidor falha uma batida.
— Então me mostre como é. — peço baixinho, duvidando que
haja uma diferença entre um e o outro.
Ele volta a deitar em cima de mim, desce rumo a minha boceta
que pinga de necessidade e a chupa devagar, me torturando,
explorando cada parte minha como nunca ninguém fez antes dele.
Já percebi que como um ritual, ele me dá prazer primeiro, só depois
que vem em busca do seu.
— Você me quer em você? — diz pincelando seu pau em
minha entrada encharcada.
— Sim, Vincent! — Eu o quero tão ruim que não sei se choro
ou me condeno.
Arqueio minha coluna querendo que entre logo em mim.
— Minha menina gulosa!
Ele se encaixa e entra bem devagar, no mesmo instante em
que sua língua toma minha boca. Move o quadril em estocadas
rasas e lentas em combinação com a maneira que me beija. Cada
toque seu é registrado pelo meu corpo, minha mente e meu
coração. Estou caindo duro por ele. Com cada movimento eu sinto
um fogo líquido e quente me consumir, como se fosse feita uma
marca em minha pele, da qual nunca conseguirei me livrar. Sei qual
é a diferença dessa vez em relação às outras: tem sentimento,
muita emoção, veneração. É diferente de tudo que já senti em toda
a minha vida. Sinto-me única e totalmente completa. Ele se move
em mim de um jeito sensível, sensual, tão puro, tão cru, tão certo, e
ao mesmo tempo com um leve gosto de proibido, doentio e
insaciável.
Quando ele sussurra ao meu ouvido que me ama, que eu sou
sua e ele é somente meu, sou dominada por um orgasmo que me
bate, tirando todo o meu fôlego. Venho forte com um grito alto,
sendo arrebatada para um outro mundo completamente diferente.
Nesse, eu e ele somos apenas um. Não têm monstros, nem prisão
ou dor. É onde sou livre como sempre sonhei. Não porque saídessa
vida, mas porque tudo fez sentido e eu encontrei de uma maneira
estranha a libertação que procurava por todo esse tempo, nos
braços de um mafioso.

(...)

Olho seu lado da cama e vejo que estou sozinha. Levanto e


saio à sua procura. Tudo parece tão irreal que estou em dúvida se
dormi e sonhei ou se realmente aconteceu. O encontro na sala com
vários papéis sobre a mesa, como se nada tivesse acontecido. Ele
levanta seus olhos, fixando aos meus.
— Você está bem? — Inclina a cabeça me analisando.
— Sim. Eu acho. — Tudo é tão estranho.
— Venha aqui. — Me estica uma de suas mãos.
Dou alguns passos e coloco a minha mão na sua. Mãos fortes
e macias. Nem parece que estrangulou um homem até a morte.
— Está com fome,mia bella
?
Sorrio com meu novo apelido carinhoso. Ele tem me chamado
muito assim ultimamente, e sinceramente gosto mais desse.
Vejo uma pequena mala no chão e a curiosidade me toma.
— Vai viajar?
— Preciso ir a Las Vegas revolver um problema. Quer vir
comigo?
— Me levaria? — Fico animada com o convite.
— Sim! De lá preciso dar uma passada rápida em Miami. Creio
que você não conhece lá também, não é?
— Tá brincando? Nem a Itáliaonde tive morada por dez anos,
eu conheço direito.
— Então me deixe te mostrar ao menos um pouco, coelhinha.
— Beija minha mão. — Deixa eu te ajudar a descobrir o mundo.
— Você não vai pegar leve, não é? Está decidido a me fazer
cair por você.
— Se estiver funcionando, não medirei esforços.
Ai meu coração! Te controla, porra!
— Quando vamos sair? — mudo de assunto porque ainda não
estou preparada para assumir meus sentimentos.
— Estava só esperando você acordar.
— Tudo bem! Eu irei me arrumar para podermos ir.
— E o seu café? Coma alguma coisa! Está muito tempo sem
se alimentar.
Como mamãe diria: saco vazio não para em pé. Olho para a
bela mesa na minha frente, chamativa e repleta de guloseimas. A
minha ansiedade é tão grande que não conseguiria comer nem uma
rosquinha sequer, porém, para não fazer desfeita, nem criar caso,
como um pouco, então corro até o quarto para me arrumar e
escolher as roupas que irei levar.
Vinte minutos depois estamos no aeroporto e pego minhas
coisas para irmos ao balcão de embarque, mas sua mão me para.
— Não iremos em voo comercial, pois chamaria muita atenção.
— diz apontando para a fila de homens vestidos de preto logo atrás
de nós.
Realmente! É de assustar as pessoas que não sabem quem
eles são, e pior ainda as que sabem.
Fomos para o terminal executivo, onde tinha um jatinho nos
esperando. Entramos, e logo que alçamos voo, observo pela janela
as nuvens passando admirando cada detalhe. Permito-me imaginar
que estou indo ver mamãe e Vítor, que tudo não passou de um
terrível pesadelo e que logo irei acordar com dona Clarice gritando
que irei perder a hora de ir à escola. Estou tão confusa. Por que as
coisas não poderiam ser mais fáceis? Com esse pensamento
encosto minha cabeça na poltrona e acabo tirando uma soneca.

(...)

— Lorena! Chegamos.
Levanto atordoada e saímos rumo aos carros que já nos
espera. Olho tudo a minha volta com um sorriso bobo no rosto feito
uma criança no parque de diversões. Tudo é novo e fascinante aos
meus olhos. Quem passa por mim, logo percebe que sou uma
turista. Para que ficassemais óbvio, só faltouum chapéu de palha e
uma máquina fotográfica pendurada no pescoço.
— É tudo tão lindo! Estou apaixonada pelo lugar.
— Assim que eu cumprir com meus compromissos, irei levá-la
para conhecer os pontos turísticos daqui.
— Jura?! — pergunto e ele me olha como se me achasse
louca, até que me toco sobre o que falei. — Não no sentido figurado!
É só uma expressão.
Rio da cara que ele faz.Sinto um pequeno apertar da sua mão
em minha coxa, como se dissesse que me entende. Percebo que no
exato momento que saímos da boate, ele mudou seu
comportamento. Está sério, observador e muito calado. Imaginoque
assumiu essa postura perante os seus soldados, para não mostrar
fraqueza diante deles. Até mesmo o senti um pouco mais distante
de mim. Entendo, posto que no mundo dele quem abaixa a cabeça,
é morto em um piscar de olhos. Os fracos são submetidos a serem
como escravos ou mortos. Não sei de tudo o que eles fazem ou
como vivem dentro das suas próprias leis, mas com base em mim,
posso dizer que é horrívelnão poder colocar limite ou mostrar uma
opinião contrária. Se não for pedir muito, gostaria de mudar ao
menos o que está errado diante dos meus olhos. Se ele realmente
estiver disposto há ceder um pouco, eu ficaria imensamente feliz.
Vamos ver como será daqui em diante. Meu coração pode ter
amolecido, meu corpo estar em total sincronia com o seu, porém,
minha mente não. Sempre me orgulhei de ser racional e pensar com
todo o cuidado sobre o que iria fazer. Aprendi a usar essa habilidade
ao meu favor, essa será a última parte de mim a ceder. É graças a
ela que me mantive viva até hoje e não será diferente porque ele
disse palavras bonitas quando fizemosamor. Vou lhe dar a chance
de realmente me provar o que disse, mas não em palavras, mas sim
em atitudes.
Faço check-in no hotel Bellagio, subimos e peço nosso
almoço. Depois que terminamos, levo Lorena para dar uma volta
pela cidade. Muito mais tarde digo ao motorista para me deixar em
frente ao cassino da família Vitiello, onde tenho marcado uma
reunião com Lucca. Deixo ordem aos meus homens para não
tirarem os olhos dela enquanto compra sua roupa para o nosso
passeio de hoje à noite e saio do carro. Respiro várias vezes para
me controlar, já me preparando para o estresse que essa conversa
me trará. Logo na entrada encontro o Enzo e o nosso consigliere
Henrique Cavallaro que veio representar meu querido tio que está
hospitalizado. O desgraçado também sofreu um atentado e nem
para morrer logo e tirar um grande problema do meu ombro, serviu.
— Cavallaro! — o cumprimento. — Como está Luigi?
— Melhor. Não foi tão grave quanto achávamos. E você?
— Ótimo! Para a minha sorte e azar dos meus inimigos, estou
pronto para outra.
Ele treme o canto do lábio e me dá um olhar de conhecimento.
— Vittello! Como vai?
— Olha se não é o nosso subchefe preferido! Achei que vocês
iriam novamente arrumar uma desculpa. Se não os conhecesse, eu
poderia dizer que estão dando para trás em nosso combinado. —
critica.
Não digo que o que ele acha saber sobre nós, não chega nem
perto do que realmente somos.
— É por isso que estamos aqui. Houve alguns contratempos
que me impediram de vir antes.
— Estou sabendo dos atentados que sofreram. Imaginoque já
tenham achado e punido os culpados, não?
— Claro! Mas vamos aos negócios. Não estamos aqui para
trocar dicas de como matamos e torturamos nossos inimigos.
Ele semicerra os olhos e eu me mantenho sério. Não somos
amigos deles, tão pouco estou felizcom esse arranjo. Quero deixar
claro que mesmo que eu me case com sua irmã, não será motivo o
suficiente para dividir segredos sobre a nossa organização.
— Está certo! Vamos subir! O capo já nos aguarda.
Observo a minha volta, procurando uma possívelrota de fuga
caso seja necessário. Estamos em desvantagem em terreno inimigo
e qualquer passo em falso pode causar um derramamento de
sangue. Dou sinal para que Alec e Miguel se mantenham em alerta.
Liberei Thadeo dessa viagem, contudo não para plantear a perda do
imbecil do seu irmão, mas sim porque não confio nele perto de mim
e nem da Lorena por agora. As pessoas tendem a ser irracionais e
voláteis quando estão de luto. Entramos no escritório e Lucca, junto
com vários de seus homens, se levanta para nos receber.
— É um prazer tê-los
conosco. Minha filha ficou decepcionada por ter cancelado a
festa de amanhã.
— Tudo que posso oferecerno momento é um anel. Ela vai ter
que esperar mais um pouco para ter o nome da minha família.
Acredito eu que você não esteja ansioso por isso. — Sorrio com
escárnio.
— Não mesmo! Mas essa união será muito vantajosa para a
Outfilt
, então, certos detalhes insignificantes temos que deixar
passar. — devolve na ponta da língua.
— Por minha conta, nem teria aceitado esse acordo, pois
estamos levando muito bem sem vocês. — revido.
— Não é o que fiqueisabendo. O FBIestá em cima, com todos
esses ataques que estão sofrendo. Suponho que ficar na boca da
mídia e perder muito dinheiro, tem dado bastante prejuízo.
— Cuidado! — Dou um passo à frente — Quem te escutar,
pode achar que você realmente se preocupa com os nossos
negócios, ou pior, que esteja nos atacando para tentar nos
enfraquecer e se beneficiar com isso.
Ele solta uma risada forçada.
— Não me tenha por tolo, rapaz. Nós podemos ajudá-los e
você deve conhecer o ditado: uma mão lava a outra. Logo, nossas
famíliasestarão ligadas e não quero que sobre nenhuma confusão
para mim.
— Vamos com calma, cavalheiros! Estamos aqui para
negociar, não criar uma guerra. — Henrique tenta apaziguar a
situação.
— Para quando pretende marcar a data de oficialização? —
Riccardo, seu consigliere
, questiona.
— Quando eu resolver alguns problemas que tenho
pendentes. Como podem ver, o momento não é propício a festas.
— Espero que resolva logo! Quanto às fronteiras,permitiremos
que passem por elas assim que os papéis forem assinados. Até lá,
nenhuma outra proposta nos interessa. — Enzo responde de mal
humor.
— Entendemos seu ponto de vista. Não estamos aqui para
cobrar nada, apenas pedimos um pouco mais de paciência até tudo
se resolver. Três meses nem é tanto tempo assim. — digo sucinto.
— Tudo bem! Desde que apareça hoje à noite na minha casa e
coloque o anel no dedo da minha filha, não irei me importar de
esperar um pouco mais. Espero que isso não seja um problema
para você. — Lucca diz me “fuzilando”.
— Estaremos lá! — Henrique se levanta, sendo seguido por
mim.
Caralho! Lá se vão meus planos com a Lorena.
Saímos do prédio e me despeço de Henrique, mas não sem
antes ouvir um dos seus sermões.
— Está sendo muito relapso, Vincent. Trazer a menina para cá
e matar Romeo, não está ajudando a limpar sua barra com seu tio.
Nem pergunto como ficou sabendo. Imagino que Antonella
deve ter ido choramingar com Luigi a morte do seu precioso filho.
— E você acha que eu quero limpar algo com ele?
— Sei que não quer, porém precisa. Não se esqueça de que
ele é seu capo e você lhe deve todo o respeito.
— Uau! Por um instante eu jurei que era ele aqui na minha
frente em carne e osso. O babaca estava no meu território e me
provocou. Não esperava que eu relevasse e ensinasse os outros a
fazerem o mesmo, não é?
— Vai me dizer que não tem nada a ver com a bela morena
que está te esperando naquele carro?
Merda!
— Você tem uma ideia muito errada sobre mim, Cavallaro.
Sempre gostei de ter meu pau molhado por uma boa boceta. A
idade está afetando a sua visão e o fazendo enxergar coisas onde
não existem.
Me dói dizer isso dela, no entanto não posso deixá-lo achar
que tenho um ponto fracoe futuramenteusá-lo contra mim. Retribuo
seu olhar sério, que desde mais jovem parecia ter o poder de ver
além de mim e saber exatamente o que eu escondia ou fazia por
suas costas. Com o passar dos anos, tanto Marco quanto eu
aprendemos a respeitá-lo, o que não quer dizer que não temos os
dois pés atrás com ele. Henrique só parece ser calmo, mas é muito
observador, tão ou mais letal que eu, afinal, foi ele que nos treinou,
ensinou tudo que sabemos. Vamos dizer que não iremos querer ele
como inimigo. Até hoje tento entendê-lo, descobrir de qual lado ele
está exatamente e o que realmente quer.
— Só digo que se cuide! Da mesma forma que eu percebi, eles
também podem. Nos vemos à noite no jantar. — Olha para o carro
mais uma vez e sai.
Inferno!
Vou ao encontro da minha coelhinha, levá-la para conhecer os
pontos turísticos da cidade, como prometi.

(...)

Aguardo Lorena descer para irmos jantar. Não quero chateá-la,


então somente depois que nós jantarmos, é que irei encarar a
mansão do monstro. De repente ela vem ao meu encontro, linda em
um vestido longo e vermelho. Tudo que ela veste, fica perfeito em
seu corpo tentador. Faço uma anotação mental de pedi-la para
vestir essa cor mais vezes. Pergunto-me quando foi que passei a
reparar nesses pequenos detalhes. Logo eu que sempre fui
desligado assim? Ou só comecei a reparar agora por ser ela?
Seguro em sua cintura, admirando o brilho em seus olhos, que
antes não estava lá. Decido ali, fazertudo para que ela não o perca.
A beijo suavemente apreciando o gosto de cereja do seu batom.
Tão minha!
— Você vai sujar sua blusa. — diz rindo.
— Eu não me importo. Precisamos ir logo! Infelizmente,depois
terei que comparecer a um jantar de negócios.
— Você veio para ver ela, não é?
— Não se preocupe com isso, mia bella . Tudo que importa
para mim, é você. Eu irei resolver isso da melhor forma que eu
puder. — eu digo e ela me olha duvidosa. Não posso deixar de me
culpar por isso. — Vamos? — Pego em sua mão, colocando-a em
meu braço.
Apesar do hotel que hospedamos ter dois restaurantes cinco
estrelas muito requisitados, a levo para o restaurante Aureoleno
hotel Mandalay Bay, por ser uns dos meus preferidos devido as
opções de pratos das mais diferentes origens e culinárias, e claro,
também por ser o único daqui que possui a maior carta de vinho da
América do Norte.
Somos levados à nossa mesa e Lorena absorve tudo a sua
volta. Depois que pedimos nossos pratos e escolhemos o vinho, é
que ela fala algo.
— Eu sempre gostei de vinho e estou encantada com essas
enormes torres de vidro cheias deles.
— São quatro andares para ser mais exato. O melhor daqui é
que se pode escolher o vinho por estilo, região ou tamanho.
Sorrio de sua cara de espanto e percebo que ultimamente
tenho rido mais ao seu lado. Ela é diferente de tudo que conheci.
Uma menina presa no corpo de uma bela mulher. Ingênua e ao
mesmo tempo sensual, sem precisar de muitos esforços ou
acessórios caros para se destacar. Entendo o porquê meu tio e
Romeo se encantaram ao ponto de morrer por ela. Pensar nele e
imaginar que ele que a tocou primeiro, me tem fervendo,e a minha
vontade é de trazê-lo de volta somente para matá-lo de novo.
Espanto os péssimos pensamentos e me concentro de novo nela.
— Eu gostaria de saber como eles fazem para pegá-los
quando o cliente pede um que não têm na parte mais baixa.
— Espera e verá! Eu escolhi um vinho que fica exposto na
parte mais alta.
— Você não fez isso... — ela para de falar quando ver uma das
garçonetes sendo presa e subindo pelas torres para pegar o vinho
desejado. — Uau! Isso foi demais!
Desfrutamos do nosso delicioso jantar e aproveito para saber
um pouco mais sobre ela. Lorena é falante e muito expressiva. Se
nota suas emoções por todo o seu rosto quando fala de sua família
e novamente me bate uma pitada de arrependimento por não ter
prestado atenção detalhadamente sobre ela.
A deixo em nosso hotel e saio para mais esse infortúnio
encontro. Sinto que essa noite vai ser para lá de longa e tudo pode
acontecer.
Saio de fininho do meu quarto, desço em direção a cozinha
dos empregados, onde sei que todas as noites ele vai fazer um
breve lanche quando acontece a troca de soldados e chega o fim
das suas rondas noturnas. Ele é muito mais velho do que eu e não
me importo. Odeio saber que logo serei sacrificada como um
cordeiro, dada como uma promessa de paz que todos sabemos que
não durará muito tempo. Só de pensar que não estarei mais em
seus braços, já sinto uma dor imensa no peito. Não me importaria
de fugir e viver longe daqui. Nada disso aqui me importa. Mas nós
dois sabemos como seria nosso fim. Papai não me perdoaria. Além
de ser expulsa de casa, deserdada, eu seria jogada em um bordel
qualquer, e de quebra, o matariam por tocar em uma das mulheres
da família.Seríamos sentenciados e condenados pelo resto das
nossas vidas.
Chego por trás de suas costas e o abraço.
— Você demorou. Achei que não viria hoje. — diz acariciando
minha bochecha.
— Samantha custou a dormir e fiquei com medo de que me
visse sair.
Nos olhamos por um tempo, com todas as palavras
engasgadas, ao mesmo tempo sem ter o que falar. Sabemos que
nada pode ser feito.
— Eu estou com medo. — assumo sentindo a angústia me
tomar.
— Seja corajosa, principessa! Nossos destinos foram traçados
desde o nosso nascimento. Não há nada a se fazer.
— Eu sei. — Tremulo os lábios segurando o choro. — Promete
não se esquecer de mim?
Ele segura em meu pescoço e junta nossas testas.
— É tudo que posso te prometer, pequena.
— Quero que saiba que posso até ser dada a ele em
casamento, mas nunca terá meu coração, porque eu te amo.
Nessa hora meus olhos já estão alagados, e mesmo que eu
tente segurar, as lágrimas escorrem pela minha bochecha. Isso é
muito injusto!
— Faz amor comigo! Por uma última vez. — peço com jeitinho.
E ele faz.Me beija e me toma em seus braços, amando todo o
meu corpo de uma maneira marcante e carinhosa. Mal sabia eu que
quando eu disse aquelas palavras, inconscientemente selava ali o
fim de uma história de amor tão trágica quanto às de Shakespeare
que eu lia desde menina.

(...)

Arrumo-me em frenteao espelho, passando mais um pouco de


corretivo nos olhos a fim esconder as olheiras. Mamãe entra,
seguida por Samantha, que apenas me aguardam para me levarem
ao meu velório. Escolhi um vestido preto que usei no funeral da
vovó, exatamente para mostrar o quanto estou me sentindo infeliz
com tudo isso.
— Eu sei que você não está feliz com esse noivado, mas
precisava vestir preto? Quer que o seu pai te bata na frente de todos
eles e me humilhe perante nossos convidados?
— É só um vestido, mamãe, de alta costura, muito caro e
bonito demais para ser usado somente uma vez na vida.
— Você que sabe! Depois não diga eu que não avisei.
Descemos as escadas e a conversa para instantaneamente.
Todos me observam como se eu fosse à atração da noite. O que
não deixa de ser, já que estão montado todo esse circo na sala para
no fim me servirem como prato principal. Papai aperta os lábios em
uma linha fina ao ver a roupa que eu escolhi.
— Giovanna, minha filha, venha conhecer seu noivo! — Seu
aperto é firme em meu braço, deixando claro o quanto odiou a
minha rebeldia.
— Olho para frente batendo meus olhos no jovem homem de
expressão indiferente, como se eu fosse um mero incomodo a ser
suportado. Pior do que ele é o outro mais velho ao seu lado com
olhar mortal e mais frio que uma geleira. Engulo em seco quando
não desvia seus olhos dos meus. Se antes eu já sentia medo, agora
estou apavorada.
— Esse é o Vincent, o subchefe de Los Angeles. — Papai
aponta para o mais novo. — Vincent, essa é a minha doce
Giovanna.
Ele apenas dá um leve balançar de cabeça em cumprimento,
me estudando, puxa do bolso uma caixinha azul com um anel
solitário de várias pedrinhas pequenas o enfeitando e me entrega.
Não fazquestão de colocar em meu dedo, deixando claro o quanto
está chateado com isso também. Maravilhoso! Além de ser um
assassino cruel, terei um marido que nem me conhece e já me
odeia. Mil vezes ótimo!
— Já que todos estamos devidamente apresentados, vamos
comemorar. — Papai bate palmas, feliz, me fazendo lembrar da
apresentação de uma foca que vi na televisão. Ele parece ser o
único aqui radiante com isso.
O Jantar transcorre como o desejado e somos dispensadas da
mesa assim que terminamos. Todos os homens são levados até a
sala para conversarem.
— Teremos três meses para preparar tudo. — Mamãe diz ao
meu lado. — Ele pediu esse tempo ao seu pai.
— Parece tão pouco. — Ao menos sei agora quanto tempo
terei perto do Damien.
— Para! Você deveria estar feliz com a escolha. Seu pai
poderia ter dado sua mão a um velhote qualquer. Ao menos seu
marido é um homem jovem e bonito.
A olho chocada. Ela acha que isso é bom?
— Uau, mamãe! Estou ansiosa para conhecer o peso da sua
bela e jovem mão. — digo sarcástica.
— Sua insolente! — Me olha de cara feia e se afasta.
Espero ela subir para seu quarto e saio disfarçada pela porta
dos fundos a fimde ver se encontro meu amado. O vejo fumando no
jardim e corro até ele.
— Temos somente três meses juntos. — digo sem fôlego, me
jogando em seus braços.
— Giovanna! Não deveria estar aqui. É muito perigoso. — Me
recrimina.
— Eu sei! É que não aguentei ficar mais tempo lá dentro...
longe de você.
Ele me empurra para o tronco de uma árvore, me beija
delicadamente. Um contraste interessante: ele grande e eu
pequena. Porém, me trata com muita delicadeza.
— Você me deixa louco! Eu já disse que não podemos fazer
mais isso. — diz esfregandosua ereção em mim me fazendogemer
com o seu toque.
Minha respiração é pesada e eu pulso o desejando. Tenta se
afastar, mas eu o puxo de volta, colando seu corpo ao meu. Um
barulho de palmas a nossa direita nos chama a atenção, nos
fazendo virar para ver quem é, e congelamos logo em seguida.
— É interessante o romantismo de vocês e tudo mais, mas não
posso deixar de me perguntar se o seu pai sabe que a princesinha
dele anda se enroscando com um de seus guardas. — o homem de
olhos frios que meu pai chamou de Henrique, fala encostado no
muro.
Eu não consigo falar.
— Não é isso que o senhor está pensando. — Damien tenta se
explicar, ficando na minha frente e tentando me proteger
.
— Não tenho nada a falar com você. Sabe qual é o preço a se
pagar pela traição. — Um estopim seco da arma é tudo que escuto
em seguida.
Um grito alto sai da minha boca quando Damien cai em cima
de mim. Eu não preciso verificar para saber que ele está morto. E
antes de poder tocá-lo, Henrique me puxa pelo braço, me levando
para longe do meu amado.
— Você vem comigo, garota!
— Mas o que está acontecendo aqui?! — Papai e todos os
convidados vêm aos gritos. — Espero que você tenha uma boa
explicação para isso, Cavallaro!
— Eu acho que isso te pertence. Peguei a garota agarrada a
um dos seus soldados. Eu não sabia que vocês eram tão generosos
e tinham a mania de dividir suas mulheres com eles.
— Sua vagabunda! — Papai acerta um tapa em meu rosto, me
fazendo cair no chão.
Eu não ligo! Mereço isso e muito mais. Por minha culpa,
Damien morreu. Eu o condenei por ser tão impulsiva.
— Acho que não temos mais nada a tratar aqui, não é? Nosso
acordo está desfeito. — meu agora ex-noivo fala.
— Negativo! Tem a mão da minha outra filha. Daqui a seis
meses ela completará seus dezessete anos e estará pronta para
desposar.
— Não! — grito quando percebo que estraguei mais uma vida.
— Por favor, papai! Ela é só uma menina.
— Calada, sua inconsequente! Você não tem direito de dizer
mais nada!
— Por favor, Enzo! — Olho para meu irmão, implorando por
ajuda, mas ele vira o rosto assim que começo a falar.
Papai continua com seu discurso, enfiando a última faca em
meu coração.
— A partir de hoje será jogada em um bordel. Já que gosta
tanto dos meus soldados, fique satisfeita em servir todos eles. Você
não faz mais parte dessa família. Podem levá-la daqui!
Choro mais forte.
— Um momento! Nós não nos casamos com criança, Vitiello.
Deveria saber disso. — a voz do desgraçado do Henrique que
acabou com a minha vida, soa de novo. — Nós viemos aqui para
entrarmos em um acordo e selar a paz. Já que Vincent, com todo o
direito, é claro, não a quer, eu assumo o compromisso.
— Você aceita se casar com ela? Mesmo estando danificada?
— meu pai pergunta admirado.
Eu queria gritar e dizer para todos irem se foder, contudo meu
egoísmo me colocou aqui, se eu fizer mais alguma coisa, será a
minha irmãzinha quem irá pagar por isso.
— Sim! Pode chamar o padre, oficializaremos agora. Há de
concordar comigo que não necessitará de uma festa, já que não terá
a tradição do sangue no lençol.
Stronzo!
— Você quem sabe. A escolha é sua. — Papai ri alto com seus
homens.
— Ótimo! Então vamos agilizar essa palhaçada, porque eu
quero terminar logo com isso e voltar para casa.
— Enzo! Leve-a para se trocar e mande chamar o padre,
imediatamente.
Deixo-me ser levada sem falar nada, uma vez que estou
anestesiada demais para lutar contra algo que eu mesma causei.
Aceito qualquer coisa para salvar ao menos a honra de Samantha.
Não tive tempo de chorar pelo meu amor, nem guardar meu luto,
porque uma hora mais tarde eu estava em frenteao padre e de toda
a família, sem direito sequer a uma aliança, assinando com dor no
coração a minha sentença infernal para o resto da vida. Deixo
definitivamente de ser uma Vitiello e passo a ser a senhora
Cavallaro.
Aguardo ela entrar no carro e acelero para o aeroporto. Não
quero ficar mais um segundo aqui. Eu sou um cara prático. Se tem
como resolver na hora, não tem porque ficararrumando desculpas e
empurrando para a frente. Ela pode não entender agora, no entanto
foi a melhor forma que achei de ajudá-la. Se fosse qualquer outra
pessoa que os tivessem pegos, correria o risco de até mesmo
pedirem a sua morte, por desrespeito. Esses jovens de hoje não
sabem seguir as malditas regras e evitarem problemas. Não ia me
meter, mas como Vincent pulou fora, eu tinha que fazer algo. O
porquê eu me importei, não sei dizer, mas talvez seja para salvar a
mais nova de uma vida miserável ao nosso lado. Uma vez inimiga,
sempre será tratada como inimiga pelo nosso povo. Não queria me
casar, contudo, mais cedo ou mais tarde isso iria acabar
acontecendo. Pelo menos saímos com tudo resolvido e ela é muito
bonita, de família nobre, me dará os herdeiros que preciso.
Desligo o carro e a olho por um tempo tentando entender o
que fazuma pessoa arriscar tanto sua vida em prol de alguém que
nem mesmo lutou por ela, que a mantinha escondida como um
segredinho sujo. Uma porra de uma piada! Tirou sua honra sem se
preocupar se o atual marido poderia matá-la na noite de núpcias ao
descobrir a verdade. Eu deveria era ter descarregado minha arma
nele.
— Pegue as suas coisas! Temos que ir!
— Eu não tenho nada. Não viu que só saí com a roupa do
corpo?
— Quando chegarmos em Milão, você compra tudo novo.
Estará no centro da moda.
— Que maravilha! Eu deveria me ajoelhar e te agradecer por
isso?
Petulante!
— Se quiser! De preferência com a sua boca em meu pau, o
chupando.
Ela arregala os olhos.
— Stronzo!Nunca me tocará! Somente se for à força.
Tão inocente. Nunca fui desse tipo, não vai ser agora que
serei. Chego bem perto dela para que veja a verdade em meus
olhos.
— Eu não vou precisar, boneca. Não tocarei um dedo em você
até que queira isso. Pode demorar um pouco, mas eu te garanto
que logo terei você implorando por meus toques, meus beijos e meu
grande e grosso pau.
Ela arfa com minhas palavras, ficando com suas bochechas
coradas.
— Você é muito convencido, não é?
— Não. Sou seguro de quem eu sou e de onde eu irei chegar.
— Eu odeio você! Eu o amava, e por sua culpa, ele vai ser
enterrado como um traidor.
— Mas ele não te amava, menina, e era sim um traidor. Fique
felizpor ele ainda ser enterrado, pois eu o teria jogado no lago para
os jacarés comerem e não deixar sobrar nada, por ter ousado tocar
no que não lhe pertencia.
— Não fale dele! Não diga o que não sabe! — diz com a voz
embargada.
— Não precisei de muito, pois o que vi foi o suficiente para
saber sobre a índole dele. — Tento suavizar minha voz para não
deixar ela mais assustada. — Escuta! Eu poderia dizer todos os
motivos do porquê ele não te respeitava e não tinha um pingo de
consideração por você, mas vou deixar que descubra isso sozinha.
Você poderia estar nesse momento sendo violentada por uma horda
de homens que não teriam um pingo de piedade, então eu salvei
você. Não seja uma ingrata! Preciso chegar logo em casa, então
deixe de dramas e entre logo no jato, que eu tenho meus
compromissos a cumprir.
Ela sai marchando em minha frente e eu entro logo depois
dela.
Somente, quase doze horas depois, chegamos ao nosso
destino. Camillo arqueia uma de suas sobrancelhas quando a vê
descer comigo.
— Senhor? Como foi a viagem?
— Foi bem, Camillo. Quero te apresentar a Giovanna, minha
esposa! — Ele me olha sério, apenas movimentando a cabeça. —
Você será o responsável por sua segurança a partir de hoje!
— Como quiser!
— Oh! Eu não vou ter uma coleira ou algo do tipo? Fiquei
sabendo que vocês gostam de escravizar mulheres. — ela responde
sarcástica.
— Não é do nosso feitio,espertinha, mas se faztanta questão,
eu posso providenciar uma para você.
— Nunca!
— E só para que saiba, meus homens terão uma mão cortada
antes de tocá-la. Nem tente achar que vai ter um caso com algum
deles ou eu mato os dois dessa vez. Entendeu?
— Claro como água, boss! — Vai andando na nossa frente.
— Ela dará trabalho, chefe. — Camillo comenta rindo.
— Bom... Nós quase não estamos tendo problemas.
Estávamos precisando de mais ação por aqui. — Saio o deixando
gargalhando atrás de mim.
Sou paciente e posso esperá-la cair na real. Ela vai entender
que o babaca não deveria ter a prejudicado. Seu serviço era
protegê-la, pelo jeito nem para isso serviu, já que o seu maior perigo
foi ele mesmo. Deixou seu pau o governar não cumprindo seu
juramento. No momento em que coloquei meus olhos nela, sabia
que seria minha. Teria ficado de fora se Vincent tivesse ido em
frente com seu compromisso, entretanto as coisas aconteceram de
outra maneira e não poderia ter sido diferente.Não espero amor, me
respeitando e sendo uma boa esposa para mim, já estará de bom
tamanho.

(...)

DUAS SEMANAS DEPOIS

De novo ela está sentada na maldita sacada, me ignorando. Já


tentei de todas as formas me aproximar, contudo a garota sempre
me repele feito um inseto, isso tem me deixado muito chateado.
Pensei que com o passar desses dias, ela iria se adaptar e
esquecê-lo, contudo acho que devo ter calculado errado. Sirvo-me
de uma generosa dose de vodca bebendo em grandes goles. O
álcool sempre foi um grande companheiro e agora não poderia ser
diferente. Sento-me na poltrona, a admirando de longe. Pior do que
ter desejo por uma mulher que não é sua, é ficarlouco por uma que
corre de você e mal te suporta. Eu poderia sair e procurar uma boa
boceta para me aliviar que ninguém ousaria me julgar por isso, mas
cá estou eu, sendo fiel aos meus votos e ansiando por ela embaixo
de mim, comigo estocando profundamente dentro dela.
Esses dias têm sido muito estressantes, posto que Luigi está
aprontando alguma coisa e estou feito um maluco trabalhando
dobrado. Está cada vez mais difícil segurar as pontas e fiquei
extremamente decepcionado com suas atitudes. Esperava mais
dele como capo, só que o homem parece um gafanhoto, destruindo
tudo por onde passa, deixando só os estragos para que eu arrume.
Ele anda me escondendo as coisas, meu faro me diz que isso não
vai prestar.
O celular toca na minha mesa, olho pensando se devo
continuar aqui e deixar a chamada cair na caixa postal ou se atendo
essa porcaria que só me traz problemas. Analiso atentamente a tela
e vejo o nome do meu antigo colega de profissão. A curiosidade me
vence e eu atendo.
— Estou surpreso! Faz algum tempo que não tenho notícias
suas.
— Isso porque andei muito ocupado. Foi um mês muito
puxado.
— Eu imagino! Do que precisa?
— Está chegando o momento. Ele está muito perto da verdade
e devemos nos preparar para o combate.
— Entendo! Não queria tirar férias dos problemas mesmo. —
eu ironizo e ouço sua risada.
— Quero que saiba que seremos eternamente gratos pelos
seus serviços. Esse será o último. Eu prometo!
— Tudo bem! Desde que cumpra com o nosso combinado, por
mim será fechado com chave de ouro.
— Será feito! Até lá,mio amico
!
— Até!
Desligo feliz por saber que finalmente estamos chegando ao
fim dessa merda, visto que já não aguentava mais fingir ser uma
pessoa que não sou. Fiz uma promessa ao meu amigo de infância
há muito tempo, e mesmo depois de sua morte, continuei sua luta.
Mais por motivos pessoais do que pela promessa em si. Depois de
anos de tortura, finalmente a hora do Luigi está chegando, e ele
pagará por todo o mal que causou para a minha amada irmã.
Acordei passando mal e fui correndo ao banheiro, sentido um
gosto amargo na boca. Nossa viagem, por mais rápida que tenha
sido, foi maravilhosa. Amei conhecer Las Vegas e Miami, apesar de
não ter explorado muito a segunda tanto quanto a primeira, por
conta de algo que estava acontecendo por lá. Também não teria
tanta graça, já que não venho me sentindo tão bem nesses últimos
dias. Não comentei nada com Vincent, para não preocupá-lo, nem
atrapalhar suas reuniões de negócios. Porém, desde a nossa volta,
tudo piorou, e eu imagino o que esteja acontecendo. Só era essa
que me faltava! Em meio a uma guerra fodida, eu ter engravidado.
Antonella sempre manteve os métodos contraceptivos de
todas as meninas em dia, para acaso algum cliente não respeitasse
as normas, não pudesse nos deixar grávidas. Mas desde que me
desliguei dela e passei a ficar somente com o Vincent, não me
cuidei mais, nem tinha coragem de ir até aquela cafetina para pedir
algo. Seus favores sempre foram caros demais. Também não me
lembrei, porque estava tão focada em sair daqui, que não me
importei com esse detalhe, do qual agora veio me morder na bunda,
me mostrando o quão estúpida eu fui. Como será que Vincent
reagiria? Me mandaria tirar, como vi acontecer com várias das
meninas, ou ficaria feliz por me manter presa a ele. Quero nem
imaginar o resultado disso. Uma criança nesse mundo iria sofrer
muito. Se a máfianão é piedosa com as mulheres e com os homens
de berço, imagina com os bastardos. Porque é isso que meu bebê
seria, não é?
Bebo um chá de camomila para poder acalmar o estômago
que tem me dado trabalho de segurar algo nele. Ainda bem que
Vincent anda tão ocupado que não percebeu nada. Eu também
sempre fui muito magra, o que me deixará passar despercebida por
um tempo. É, eu sei! Estou sendo uma cretina por me manter
calada, no entanto em minha defesa, estou protegendo a mim e a
esse pequenino que tenho quase certeza que já existe. Não quero
que ele seja usado como algum tipo de moeda de troca, da maneira
que eu fui.
As crianças que nascem na máfia,nascem juradas no sangue,
e provavelmente meu bebê seria tirado de mim assim que nascesse.
Não vou pensar nisso. Só de imaginar, começo a suar frio e meu
estômago embrulha de novo.
— Há algo de errado? — Ashley pergunta.
— Não. Por quê?
— Está a um bom tempo sentada aqui, sem falarnada, apenas
olhando para a parede.
— Eu só estou pensando. Depois que Antonella foidispensada
daqui, as coisas melhoraram muito para todas nós, não é?
— Sim! E graças a você! As meninas estão muito felizescom
isso. Você acredita que o chefe, de manhã, disse que aquelas que
tinham vindo do tráfico humano, iriam ser liberadas?
— Ele disse isso? — Meu coração a acelera.
— Sim! Pelo que parece, ele vai apenas ficarcom as mulheres
que estão dispostas a trabalhar para ele por vontade própria e pagar
muito bem a elas. Isso é mérito seu, Lorena! Ninguém antes se
preocupava com o nosso bem estar e Antonella só nos explorava. E
você sabe... vivíamossob ameaças de morte o tempo inteiro para
mantermos nossas bocas fechadas.
Sorrio ao saber que elas estão felizes.
— O mérito é nosso! Fico imensamente feliz que ele, por
vontade própria, tenha chegado a essa conclusão de tomar essa
decisão. Ninguém acreditava na gente até pouco tempo atrás e o
tráfico estava sendo mantido a sete chaves. Era como se fosse um
mito ou uma especulação da mídia.
— Vale lembrar que os interessados nesse tipo de serviço,
eram homens poderosos que nunca iriam querer ser expostos se
tudo chegasse a vir à tona. É claro que iriam esconder bem, para
não manchar as suas belas reputações hipócritas.
— Pois é! Gostaria que ele fizesseessa mudança em todas as
boates, mas sabemos que isso não será possível,a não ser que ele
fosse ocapo e desse essa ordem.
— E de Luigi a gente sabe que nunca partirá esse comando.
Gera muito dinheiro para ele por debaixo dos panos.
— Não mesmo!
— Mas me diga uma coisa. Se ele fosse o capo e mudasse
tudo isso, você não reconsideraria ficar?
— Não sei. Estou muito confusa, Ashley. Passei anos da
minha vida com apenas um foco, e agora todas as paredes que eu
construí, ele está conseguindo derrubar uma por uma.
— Eu sei como é. Eu bem que gostaria que Marco me olhasse
da mesma forma que ele olha para você.
— Como está o relacionamento de vocês dois?
— Que relacionamento? Ele só me procura, como todos os
outros, e depois some. Ontem mesmo ele ficou com a Deborah. Foi
doloroso vê-la relatar o que fizeram e eu ter que ouvir sem poder
dizer nada. Eu não sou tão importante para ele como você é para o
chefe. — Seus olhos estão lacrimosos e eu sinto muito por ela. Sei
como é ser tratada como apenas um pedaço de carne. — Sabe o
que é o pior de tudo? É que passei anos tentando sair daqui, e
agora que está chegando o momento, eu não sei para onde ir ou
como seguir frente. Nem sei se minha famíliaainda é viva ou se irão
me querer por perto. Eu não tenho mais nada, Lorena. Tudo que
tinha, eu perdi e não sei como recuperar.
— Me peguei pensando o mesmo sobre a minha família.
Somos mulheres quebradas, mas podemos procurar ajuda e voltar a
ter uma vida normal, Ashley.
— Será? Eu duvido muito que um dia sejamos completamente
normais. Nós teríamos que nos manter caladas. Pode imaginar a
cara das pessoas quando dissermos que fomos prostitutas durante
vários anos?
— As mulheres iriam nos ver como rivais, e os homens lá fora,
com toda certeza imaginariam cenas sexuais conosco. O tempo
inteiro isso seria, de alguma forma, jogado em na nossa cara.
— É bem isso, minha amiga. O mundo é cruel. Podem tirar as
prostitutas dos bordéis, mas nunca da mulher.
— A não ser que comecemos a vida com novas identidades.
— eu digo e ela arregala os olhos.
— Claro! Como foique não pensei nisso antes? Você bem que
poderia me ajudar a conseguir documentações diferentes, né?
Rio porque eu não consegui essa proeza para mim, imagina
para outras pessoas. Olho para ela, com a sobrancelha arqueada, e
meu riso morre quando percebo sobre o que está falando. O maldito
cofre!
— Ah, não! Não vou queimar meu filme com ele logo agora
que as coisas começaram a entrar no eixo.
— Você não se importava com isso antes e estava bem
empenhada em abri-lo. Eu não acredito que você vai dar para trás
logo agora que tem ele nas suas mãos.
— Sim! Porque estávamos sem opção nenhuma. Os motivos
que nos fez montar aquele plano, não existem mais, já que não só
eu, mas todas vocês, irão sair daqui também.
— De que plano estão falando? — a voz grossa do Marco nos
faz saltar e eu semicerro meus olhos para uma Ashley pálida na
minha frente.
— Plano de acabar com a cafetina. — respondo a primeira
coisa que vem em minha mente. — Todas nos odiávamos como ela
nos tratava quando estava aqui.
— Sei! — Ele prende seus olhos em mim por um tempo me
deixando com o cu que não passa nem uma agulha. — Sabe que se
você aprontar, não serei como o chefe, não é, Lorena?
Reviro os olhos para mais um dos seus avisos, tentando
mascarar minha tensão.
— Sim, Boss. Você não me deixa esquecer a cada
oportunidade que tem. Porque não pega essa merda de arma e
descarrega logo em mim?
— Vontade não me falta! Mas não teria graça nenhuma fazer
isso sem uma boa dose de adrenalina antes.
— Ou você sabe que se fizesse isso, daria uma boa dose de
adrenalina ao seu chefe mais tarde. — repito sua frase, a jogando
contra ele.
O canto de sua boca sobe com a sombra do que seria um
sorriso. Pequeno, mas ainda assim perceptível.
— Está confiante demais, sua atrevida.
— Bom, querido, sinto lhe dizer que eu tenho todos os motivos
para me sentir segura, já que meu homem matou um dos seus por
mim e todas as noites diz que me ama quando está entre as minhas
pernas. — Sorrio dando-lhe uma piscada, me dando por vencida.
Ele faz uma careta de nojo me fazendo rir mais forte da cara
dele. Não nos tornamos exatamente amigos ainda, todavia, ele está
mais maleável comigo depois que voltamos da viagem. Creio que
seja por conta do Vincent, porque se fosse por mim, já teria me
colocado para correr, com toda a certeza. Mas vou conseguir
quebrar um pouco dessa parede que Marco criou e logo ele gostará
de mim também.
Nos viramos para a Ashley, que está feito uma pedra,
movendo seus olhos entre mim e Marco, quase que sem respirar.
Coitada!
— Jesus! Vão se foder os dois! Eu achei que teria um
derramamento de sangue na minha frente. Vocês me assustaram.
Não caguei aqui porque não tinha bosta pronta.
Marco franzeo nariz, sobe uma de suas grossas sobrancelhas
agora e eu gargalho alto. Ele dá um pequeno sorriso sutil mostrando
dentes tão brancos que nos deixa paralisadas por alguns segundos.
— Caramba! Por um tempo eu achei que o motivo de você não
sorrir, era por ser banguela. — digo provocando.
Se o homem já se destaca quando está o tempo inteiro com
sua cara de mal, sorrindo ele é ainda mais letal. Que Vincent não
me escute!
— A piada deve ter sido boa. — ouço sua voz perto do meu
ouvido e logo em seguida sinto um delicado e rápido beijo deixado
no meu pescoço.
Falando do diabo! Em público vejo que ele continua cauteloso,
me tratando com certa distância e frieza, no entanto quando está
somente nós dois, ou como agora, apenas Marco e Ashley por
perto, ele se permite relaxar e até arrisca fazer algumas piadinhas.
O que me deixa muitas das vezes em choque ainda por conhecer
esse outro lado dele, mais descontraído e brincalhão.
— Foi só mais uma das tentativas do Marco de me assustar
que falhou.
— Está ameaçando ela de novo? — ele o encara.
— Fazendo perfeitamente meu serviço de sempre. — Marco
responde como se estivesse falando sobre o clima.
— Preciso falar com você em particular. E meninas, preciso
que organizem uma despedida de solteiro. Teremos convidados
especiais hoje. — diz indo para o seu escritório.
— Tudo bem! — respondemos juntas.
Os dois saem e eu me viro para minha bocuda amiga,
fuzilando ela com os olhos.
— Se quer me foder, é só me beijar, porra! Essa foipor pouco!
Se controle, ou nós duas não precisaremos de nenhuma
documentação se os nossos destinos for o lugar para onde eles
costumam mandar os cadáveres.
Ela se treme toda, esfregando os braços, e demos nossa
conversa por encerrada sobre esse assunto. Minha mente já está
montando todo o cenário perfeito para agradecê-lo por mais essa
prova de amor.
Sentado em meu escritório penso na maneira em que vou
convencer o advogado a acelerar o bendito processo. Não queria
entregar as pastas com minhas pesquisas pessoais, mas estou
vendo que vai ser o jeito. Marco em sua viagem para Miami
conseguiu descobrir vários casarões por lá, como o que a Lorena
nos descreveu. Creio que meu tio em um momento de desespero
mudou todos os locais para tirar os policias do seu pé e confundi-
los. A pior das hipóteses é ter alguém dentro do próprio FBI
passando informação, prejudicando o nosso trabalho. A sensação
que tenho é de que estou patinando sem sair do lugar.
Lá fora a música alta e os gritos das pessoas me deixam
ciente de que a festa já está a todo vapor e eu nem saí daqui para
ver como ficou a organização da despedida. Para começar, estou
evitando meu tio, que chegou de surpresa para me trazer mais
problemas sobre seus deslizes, além de que não estou com cabeça
para lidar com seus olhares gulosos direcionados à Lorena.
Coloquei homens de vigia para que me avisassem caso ele
chegasse perto dela na tentativa de fazeralgo, só que ele é esperto,
sabe que estou por um fio, ou seja, não quer criar inimizade agora,
ainda mais estando lotado de problemas e precisando de apoio dos
novos subchefes. Gostaria de subir e mandar todos, inclusive ele,
para o inferno, entretanto esse compromisso é muito importante e
não posso adiar.
— O advogado chegou. — Marco avisa da porta.
— Ótimo! Vamos acabar logo com isso, estou precisando
resolver o quanto antes esse problema.
Saio para ir ao seu encontro. Mal vejo o idiota e já quero matá-
lo por ousar despir e comer a minha mulher com os olhos. Lorena,
para me foder, dança no pole dance vestida somente de lingerie
vermelha. Ele está praticamente babando no seu copo de bebida,
observando hipnotizado sua desenvoltura na barra de ferro.
O ciúme fala mais alto e em poucos passos estou ao seu lado.
— Tira o olho, que essa me pertence! — falo trincando os
dentes.
Como se para me provocar, ele me olha, vira-se novamente ao
palco para analisá-la e lentamente volta seus olhos para mim,
levantando uma sobrancelha em provocação.
Pezzo di merda!
— Se não quer que ninguém a admire, não deveria deixa-la
dançar praticamente nua aos olhos de todos, não acha?
O cara é corajoso! No meu território, desacompanhado, e me
provocando. Dou um sinal discreto aos meus homens para segurá-
lo e coloco meu punhal em seu pescoço.
— Às vezes penso que você não tem medo de morrer. — digo
analisando sua reação.
— Para estar na profissão que escolhi, lidando com mafiosos
filhos da puta e bandidos da pior espécie, é preciso ter coragem.
— Vejo isso! — dou sinal para os caras o soltarem.
Vamos ver o quão corajoso ele é no mano a mano.
— Não vou pedir desculpa por isso.
— Pelo quê? — pergunta confuso.
Acerto meu punho em seu rosto, fazendo seu nariz entortar
sangrando instantaneamente. Ele fica atordoado, não reage como
eu esperava. Lento, muito lento! Logo mando mais outros golpes
seguidos de um chute na costela, o fazendo cair no chão,
desacordado. Fraco!
— Leve ele para meu escritório, deixe a donzela acordar!
Marco me olha com um olhar recriminador e eu faço cara de
paisagem.
— Sempre impulsivo! Agora que terminou o show e chamou a
atenção das pessoas a nossa volta, que tal mandar a Lorena ir se
vestir antes que você resolva botar fogo em tudo?
— Vá se foder! — resmungo para ele e saio à procura dela.
A encontro no camarim já vestida com um roupão.
— Não poderia ter escolhido uma roupa menos provocativa,
mia bella?
Ela cruza os braços fazendo seus seios quase pularem de
dentro do minúsculo sutiã.
— E faria diferença? Você está agindo feito um homem das
cavernas. Daqui a pouco ninguém vai querer mais vir aqui por conta
dos seus chiliques.
— Foda-se! Eu odeio que você fique mostrando demais. Não
percebe o quanto aqueles caras estavam quase pulando em cima
do palco, salivando por um pedaço seu?
— E daí? Sempre foi assim. Inclusive, você se sentava a
distância para me ver rebolar.
Chego mais perto dela e a puxo para meu peito, encostando
seu corpo gostoso no meu.
— É por saber exatamente o que eles estão imaginando fazer
com você, que eu fico louco.
— E o que eles estão pensando? Pode me mostrar? — Segura
em minha gravata, levando minha boca para a sua.
Ela se esfrega em mim deixando meu pau tão duro que não
duvidaria que o filho da puta pudesse criar vida própria, rasgar a
calça e pular para fora. Sua pequena mão desce e massageia
minhas bolas, arrancando um gemido meu. Morde meu pescoço e a
ponta da minha orelha.
— Eu amo dançar e você estragou meu show, por isso vai ficar
de castigo para aprender a não roubar meu momento. — Sai
correndo me deixando atordoado e com um grave caso de bolas
azuis.
— Lorena! Venha terminar o que começou! — Ela já sumiu
porta a fora. — Provocadora! Mais tarde você me paga por esse
atrevimento!
Depois de me recompor, volto ao meu escritório e fico
esperando a bela adormecida abrir os olhos. Não demora muito e
ele levanta a cabeça analisando o ambiente.
— Que porra aconteceu aqui?! — pergunta confuso.
— Ah! Finalmente acordou?
— Que tipo de reunião é essa?
— Eu tinha que disfarçar e te tirar de lá para conversamos a
sós.
— E precisava me amarrar e bater?
— Solte ele, Marco! — ele passa a mão no rosto e encara
Marco com raiva, o fazendo rir.
— Acho que ele não gostou das boas vindas, chefe.
O idiota, “inteligente”como é, parte para cima do meu amigo,
conseguindo acertar alguns golpes de sorte. Coitado! Se soubesse
que em um estalar de dedo, Marco poderia acabar com essa
estúpida luta, não estaria o provocando.
— Chega! — grito para os dois. — Eduardo? Meu tio estava lá
embaixo. Se eu não tivesse feito isso, teria desconfiado.— Em uma
parte é verdade, mas em outra, é porque mereceu mesmo.
— Já deixo claro que meus honorários serão dobrados, por
esse desaforo.
Seguro o riso. O cara é um bebezão.
— Por mim tudo bem. Já disse que dinheiro não é problema
para mim. Agora vamos ao que realmente te trouxe aqui.
— Você tem sorte de que eu sou um homem de palavra.
Depois de uma recepção tão calorosa, estou pensando seriamente
em te deixar se foder sem minha ajuda. — Se senta na cadeira,
ainda puto pelo ataque, enquanto eu e Marco não aguentamos e
gargalhamos da sua cara feia.
— E aí? O que tem de bom para mim?
— Descobri que meu tio vai ter uma grande entrega no mês
que vem. É a nossa chance de tentar incriminá-lo.
— Calma aí, apressadinho. As coisas têm que ser bem
planejadas. Já conversei com meus contatos sobre uma negociação
e eles estão dentro, desde que seja bem planejada, para não ter
pontas soltas. Caso contrário, você também terá que se entregar,
entendeu?
Nem morto!
— Como faremos, então?
— Me passa a data e o horário certo que essa entrega chegará
e vou deixá-los informados. Aí será com eles. Não vai ser muito,
mas irá ser um ponto positivo para você. Quando tudo estiver
pronto, o FBI entrará em contato para armarmos uma emboscada.
— Porra! Eu tenho pressa. Quero esse desgraçado fora do
meu caminho.
— Estou fazendoo que posso. Eles estão montando um bom
processo com o que você já entregou. As chances de sair
praticamente sem nenhuma acusação é alta. Só peço que não faça
nada que te prejudique nesse tempo.
— Tudo bem. Tomarei os devidos cuidados. Marco? Pega a
pasta e entrega para ele.
— Isso ainda existe? — pergunta chocado.
É lamentável o que tem ali. O local parece um clube, como o
meu, porém, em vez de ter mulheres vestidas com roupas sensuais,
são várias crianças.
— Infelizmentesim. Descobri por acaso que existe, em uma
das minhas pesquisas. Eu tenho pouco tempo. O circo está se
fechando e meu tempo não é tão grande quanto eu pensava.
— Vou levar isso aqui. Talvez assim agilize as documentações.
— Ficarei aguardando. — Se levanta para ir embora.
— Já vou indo. Qualquer coisa eu ligo.
— Como uma recompensa, tudo que gastar será por conta da
casa, inclusive as mulheres.
— Devo agradecer tamanha generosidade? — Ele diz
sarcástico.
— Não precisa. Vai curtir sua noite.
— A porra que vou! A próxima reunião pode deixar que eu vou
marcar o lugar. — Rimos da sua revolta. O cara é um comediante!
— Não duraria um dia dentro da máfia. Algumas porradas e ele
já pediu arrego. — Marco gargalha.
— É, mio amico
! Esse mundo é para poucos.
— Acha que ele vai cumprir com a palavra?
— Eu espero que sim. Cuide de tudo aqui, que eu tenho uma
outra conta a acertar lá em cima.
— Vai lá! Mais um pouco e o advogado chorão iria te processar
por assédio se tivesse visto como chegou aqui.
— Admirando meu pau, Marco? — Rio da sua expressão de
indignado.
— Vai se lascar, idiota! Eu não sei porque eu ainda arrisco
minha vida por você. — Sai resmungando, me fazendo rir ainda
mais forte.
Vou atrás da minha coelhinha para fazê-la pagar por ter me
deixado necessitado por ela. Faz um tempo que não abro minha
maleta de tortura sexual e hoje eu irei puni-la devidamente como
merece.
Sinto sua presença no instante em que entra pela porta do
quarto. Pedi que colocassem uma das barras aqui em cima para eu
dançar para ele. Fiz Nino ir semana passada comigo ao sex shop
comprar um conjunto de fantasia de coelhinha. A cara que ele fez
dentro da loja foi hilária, me fez ter uma crise de risos com a sua
reação a cada vez que eu jogava algo em cima do balcão. O homem
arregalava os olhos e ficava mais vermelho do que uma cereja de
tanta vergonha. Para combinar com a calcinha que é apenas um fio
dental, eu comprei um plug anal com pompom na cor branca, que
depois que coloca, dá a sensação de realmente ser o rabo do
pequeno animalzinho. Ficou perfeito em meu corpo para atiçar meu
homem faminto e agradecê-lo por suas boas atitudes.
Olho por cima dos ombros encontrando-o sorrindo. Seus olhos
são puro fogo e ele nem precisa me tocar para que eu esteja
queimando e derretendo por ele.
— Ah, coelhinha! É hoje que eu te como inteirinha! — diz
andando devagar, tirando sua roupa pelo caminho e sentando nu na
cama, em toda a sua glória.
— Gostou do meu rabinho? — Balaço a bunda para o seu
lado, o fazendo jogar a cabeça para trás, rindo.
— Vou comer ele com gosto, sua safada!
— Oh! Eu não duvido. Mal posso esperar por isso, senhor lobo
mau. — Pisco inocentemente o fazendo rir todo cafajeste.
Lindo! Todo pecaminoso com seu pacote de seis gominhos
nessa barriga trincada dos seus exercícios matinais. Ligo a música
Earnerditde The Weeknd e começo a balançar lentamente meu
corpo ao ritmo da batida. Seguro no poste, me esfregonele como se
estivéssemos fodendo, tiro o sutiã e depois a calcinha, e desço
devagar arrebitando minha bunda para sua privilegiada visão. Subo
na barra e faço meus movimentos sensuais, arreganhando ao
máximo as minhas pernas e fazendo um giro completo. Ele tem
seus olhos em mim enquanto move sua mão em seu pênis com
tanta rapidez que me pergunto se ele não está o machucando.
Minha boca saliva para senti-lo em minha língua, ansiando em tê-lo.
Quando minha apresentação termina, eu estou ofegante e
pingando de necessidade, mas novamente esse tirano roubou meu
show e jogou o feitiço contra mim. Parece ser outra de suas
habilidades.
— De joelhos, querida! Quero que venha engatinhando para
mim.
Subo na cama e fico de quatro, indo em sua direção. Ele
morde o lábio inferior e eu beijo sua coxa, chegando perto do seu
pau que brilha saindo pré-sêmen. Coloco a língua para fora, e
quando seu gosto agridoce toca minhas papilas degustativas, eu
gemo querendo mais dele. Chupo todo o seu membro, sentido o
pulsar em minha boca e sugo seu prazer, arrancando gemidos do
fundo da sua garganta. Subo beijos por sua barriga, peito, queixo e
finalmente chego em sua boca deliciosa. Nos beijamos de forma
urgente e esfomeada, como se estivéssemos há dias sem provar
um ao outro. Ele vira meu pescoço para o lado, raspando sua barba,
e logo em seguida mordendo suavemente.
— Eu vim para te punir e quem saiu punido fui eu. — Sorrio
com sua fala.
— Eu tinha que te compensar por tê-lo deixado sofrendo de
tão duro.
— Bela recompensa! Para ficar ainda melhor, eu vou ter que
comer esse seu rabinho lindo, que há muito tempo eu desejo. — fala
apertando minha bunda com um pouco de força.
— Todinho seu! Sua coelhinha está muito faminta por uma
cenoura enorme que só você tem. — Massageio seu pau e esfrego
em minha entrada encharcada.
Sem tirar meus olhos dos seus, encaixo seu membro e desço
em cima dele, rebolando.
— Oh, mulher safada! Assim você vai me matar!
O cavalgo gostoso com muito desejo e controlo seu prazer.
Hoje eu estarei no comando, deixando ele saber o quanto posso
deixá-lo louco também. Não demora muito para que meu orgasmo
venha e eu mordo seu ombro, gritando, o fazendoperder o controle
e derramar sua essência no fundo do meu canal que ainda pulsa o
ordenhado, tirando cada gota dele.
— Isso foi forte! — falo sem fôlego.
— Forte vai ser agora!
Ele me joga de barriga para baixo, bate várias vezes em minha
bunda e depois a alisa como se fosse para acalmar a ardência. A
picada de dor combinada com seu carinho me tem pronta de novo.
Somente ele consegue me fazer sentir prazer dessa forma. Entra
em minha vagina e começa a fazer os movimentos de vai e vem
junto com o plug. É como ser fodida por dois ao mesmo tempo. Eu
odiava quando era submetida a esse tipo de sexo, mas esse homem
impossível me faz desejar tudo com ele.
Tira delicadamente o objeto de mim e começa a estimular meu
clitóris. A vantagem é que o plug anal me preparou para que a sua
invasão não fossetão dolorida. Eu empino mais para ele, o sentindo
derramar mais um pouco do lubrificante e pincelar a cabeça do seu
pau em minha entrada de trás. Lentamente ele entra em mim e nós
dois gememos quando sua pélvis fica colada nas minhas nádegas
até o punho.
— Humm! Que delícia, amor! Tão apertadinho! É isso que você
queria? Me deixar insano e ser devorada por mim?
— Sim! Me come mais forte, Vincent!
— Seu desejo é uma ordem, linda. Tome pau nesse cuzinho
gostoso!
Ele mexe lentamente seu quadril e a ardência do início vai
sendo substituída pelo prazer. Aos poucos vai acelerando
gradativamente até estarmos os dois se chocando um contra o
outro. Seu dedo volta ao meu clitóris, que pisca ansioso querendo
sua atenção, e o massageia na pressão certa, construindo meu
segundo orgasmo. Ele mete mais forte percebendo que já estou em
meu limite e pronta para vir de novo.
— Vem para mim, Lorena! Goza gritando por seu macho, vai!
E como se meu corpo traidor só estivesse esperando o
comando dele, eu venho forte me balançando toda com a força do
meu gozo, sentindo todo o meu corpo se arrepiar no processo. Em
algum lugar longe do nosso mundo real, eu escuto seu gemido
gutural quase primal, mostrando que ele me acompanhou. Vincent
beija minha costa enquanto eu me recupero. Minhas pernas estão
bambas e meu corpo ainda não entendeu que acabou. Estou
lânguida e saciada, sem forçapara sequer sair do lugar. Não posso
deixar de sorrir quando a música Sideto sidede Ariana Grande me
vem à cabeça. Acho que acabei de entender o que sua música
depravada queria dizer. Sortuda! Descobriu antes de mim o quanto
é bom ser bem fodida.
— Tudo bem? — Ele pergunta se retirando.
— Mais do que bom! Gostou da surpresa?
— Se gostei?! Meu pau invadindo todos os seus buracos e os
enchendo com meu esperma, deixou alguma dúvida?
— Uau! Que romântico! — o provoco.
Ele franze o nariz me fazendo ri.
— Quer romantismo? Me deixe tentar de novo. Meu membro
avantajado entrando em seus doces canais corporais, fazendoamor
com você e expelindo toda a minha essência masculina, não te
respondeu?
Rio mais forte dessa vez.
— Credo! Parece que você acabou de me vender um produto
erótico com uma descrição muito, muito ruim.
Ele dá um tapa na minha coxa.
— Sua provocadora! Vou te mostrar já, já, o quão ruim o
produto pode ser, estocando novamente dentro de você. — diz
chupando um dos meus mamilos e me fazendo soltar um gritinho
por ele estar muito sensível.
— Adoro! Vem, cretino! Me come todinha e não deixe sobrar
nada!
Ele gargalha alto.
— Se você soubesse o que essas palavras fazemcomigo, não
ficaria me provocando.
— E está esperando o que para me mostrar?
— Meu pau se recuperar. Uma coisa é a minha mente querer
te foder até você esquecer seu nome, outra é ele cooperar para
isso.
Agora quem gargalha sou eu. Ele me analisa sério por um
tempo e se joga em cima de mim.
— Vai me pagar por rir da minha cara. — diz prendendo meus
braços em cima da cabeça e me fazendocócegas na barriga até eu
pedir arrego.
— Eu achei que os lobos eram insaciáveis. — falo assim que
me solta.
— Insaciávelé uma coisa, ninfomaníacoé outra. Nós também
temos nossos limites.
— Para mim dá no mesmo. — Eu prendo os lábios com os
dentes tentando reprimir mais uma crise de riso.
— Shiu! Que você não entende nada de lobo, coelhinha. Você
só entende de reprodução.
E meu riso morre na menção de filhotes.
— É. Você talvez tenha razão. Vamos tomar um banho então,
que a segunda parte da surpresa está lá.
Tento disfarçar e não deixá-lo perceber o quanto isso mexeu
comigo. Saio correndo para o banheiro e ele me acompanha.
— Perece que esteve muito ocupada depois que subiu, hum?
— Claro! Com tudo que temos direito.
Falo observando ele mexer na água da banheira com flores e
óleos aromatizantes que coloquei. Na bancada da pia, vários outros
brinquedinhos sexuais comestíveisnos esperam para a nossa noite
de prazer. É hoje que eu amanso esse lobinho de uma vez por
todas!
Aguardo ansioso Marco chegar. Faz uma semana que Luigi
está aqui e tenho certeza que tem algo a ver com o nosso caso. Ele
está calado e observador, mas isso em vez de me relaxar, só tem
me deixado ainda mais nervoso. Droga de justiça lenta! O elevador
apita e eu libero a passagem sabendo que é meu amigo. Marco
entra com uma expressão pior do que quando saiu e me tenho em
alerta. Parece até um déjà vu quando se senta no sofá e me encara
como se procurasse uma maneira de falar e não me fazer surtar.
— O que aconteceu? — pergunto impaciente.
— Cara! Eu sinto muito, mas delataram o lugar da entrega.
Acabei de saber que passou despercebido por nós uma enorme
carga de garotas. Alguém passou panos quentes na entrada delas,
e mesmo com todos os meus contatos de olho, seu tio foi avisado
sobre a emboscada e desviou o caminho.
— Que caralho! — Bato na mesa, com raiva. — Issonão podia
ter acontecido! Não conseguiram descobrir nada? Ao menos um
local? Elas podem estar escondidas aqui ainda em algum lugar que
não pensamos.
— Todos os nossos homens e pessoas de autoridades
confiáveisestão no caso, mas é como se tivessem sido evaporadas
do mapa.
— E as casas de Miami?
— Vazias! Todas as provas que tinham lá, foram... — ele faz
uma pequena pausa e eu arqueio a sobrancelha — apagadas.
Não! Luigi não fez isso!
— Como assim apagadas? — Eu sei o que isso significa,
porra! Mas me recuso a acreditar nisso.
— Mortas, Vincent! Todas as meninas que estavam lá, foram
sacrificadas.
Coloco a mão na cabeça, me sentindo culpado. Mortas! Todas
pagaram com suas vidas por causa do meu estúpido erro. Tudo
porque eu não fui rápido o bastante.
— Não foi sua culpa! Você fez o que podia. Infelizmentenão
podíamos ir lá e atacarmos por conta própria o território de Fellipo
logo após da morte do Mariano. Iria levantar muita suspeita para
nós.
— Eu sei. Nós também não temos tanto poder nas mãos para
um ataque desse nível.
— É por isso que estamos tentando o FBI,Vincent. Sem seu
tio no poder, você poderá dar a ordem para todos se desfazerem
dessas casas e punir os que se rebelarem contra você.
— Ele é seu pai. Você parece se esquecer disso às vezes.
— Foda-se! Não quis me reconhecer como seu filho, também
não o reconheço. Vamos continuar nossa luta!
— Ligue para o Eduardo e peça o nome do seu contato. Quero
falar pessoalmente com ele.
— Tudo bem! Só tente manter a calma. Vai dar tudo certo!
Dou um breve balançar de cabeça, sem vontade de continuar
conversando. Eu nunca tinha sentido culpa pelos meus atos antes,
mas isso porque todas as pessoas que matei, eram criminosos da
pior espécie e não mereciam continuar respirando. Só que nesse
momento, eu me sinto perdido e decepcionado comigo mesmo.
Eram apenas crianças com a vida inteira pela frente, que nunca
mais poderão ter a chance de ver suas famílias de novo.
Lorena me vem à mente nesse momento, fazendo minha
consciência pesar ainda mais. De certa forma e de um jeito bem
egoísta, estou tirando essa chance dela também. Depois que isso
tudo passar, se ela quiser ficar, irei levá-la para ver sua famíliae
passar um tempo com eles. E se não me quiser, darei a liberdade
que tanto almeja, mesmo que arranque no processo um pedaço do
meu coração, ou o que seja que tenho no peito.
— Ele aceitou te encontrar, Vincent. — volto meus
pensamentos para o presente com a voz de Marco. — Então...
Vamos?!
Ele fica ao meu lado e dá uma pequena batida em meu ombro
me deixando saber que está comigo. Chegamos vinte minutos
depois no local marcado e lá está o cara, já nos esperando,
encostado na sua motocicleta Harley Davidson
.
— Obrigado por ter aceitado meu convite. Sou Vincent
Lourenço.
— Gabriel Miller. Confesso que estou curioso com sua
insistência em me ver.
— Eu queria falar pessoalmente contigo sobre meu caso.
Eduardo disse que você tem ajudado ele a encontrar as pessoas
certas para nos auxiliar, e eu preciso de agilidade para isso.
— Eu só aceitei ajudar porque tenho um grande interesse
nesse assunto específico.Há algum tempo venho fazendo minha
pesquisa sobre isso e dois nomes sempre aparecem em destaque,
todas as vezes: Luigi Lourenço e Alejandro Montez.
— Montez? Do quartel mexicano?
— Sim. O filho mais novo do cara se mudou para Los Angeles
anos atrás e virou pastor.
— Deixa eu adivinhar. A igreja é de fachada?
— Tudo indica que sim. Sabem o que dizem: filho de peixe,
peixinho é. Assim que seu tio cair, eu vou atrás dele para descobrir
até onde ele está enfiado nessa sujeira.
— Por essa eu não esperava. Então é por isso que meu tio
tem vindo muito para cá.
— Imagino eu que ele esteja tentando fazeruma aliança com o
tal pastor Jorge ou sua família, procurando aliados para que possa
possivelmente fugir e receber asilo.
Não! Isso não!
— O que podemos fazer para acelerar as coisas?
— Vou conversar com meu chefe e verificara possibilidade de
conseguirmos o juiz Schmitz para o caso. Se tivermos um pouco de
sorte e ele pegar o seu processo, as coisas serão mais rápidas.
Aquele homem tem um gênio do cão, porém, é implacável em todos
os seus anos de profissão.
— Ótimo! É disso que preciso. Pessoas que não irão
abandonar o caso no meio do caminho ou pular fora acaso receba
alguma ameaça. O que você vai querer em troca, para me ajudar
nisso?
Ele coloca os óculos escuros e puxa a jaqueta de motoqueiro.
O cara parece mais um chefe de quadrilha, com todas as suas
tatuagens, do que um agente. Deve passar batido quando precisa
se infiltrar no meio do crime.
— Fica me devendo um favor. No dia que eu precisar, vou te
cobrar.
— Combinado!
Ele monta na sua moto e sai levantando poeira.
— Os Montez são pessoas muito influentes fora do México e
dentro dele. Se eles se aliarem ao Luigi, acabou para nós.
— Não vamos deixar que isso aconteça. Vamos segui-lo mais
de perto. E... Marco? Quero o dossiê desse pastor de araque na
minha mesa.
— Como desejar, oh, meu senhor! O que você não me ordena
que eu não derramo meu sangue para conseguir?
Rio.
— Palhaço! Vou voltar, porque eu não confio no Luigi sozinho
com a Lorena.
— Eu vou atrás das informações. Qualquer coisa me liga.
Entro no carro para voltar ao Dark Nigth . Tenho tentado achar
uma solução para provar de vez à Lorena que estou sendo fiel a
minha promessa. Além de derrubar o tráfico, quero fazer mais.
Então me veio na mente as investigações sobre o advogado, onde
descobri que sua irmã e a atual namorada trabalham na fundação
Amélia Goulart. Ireifazeruma proposta generosa aos responsáveis
para ampliarem a instituição e criar uma nova ala psicológica para
tratar as mulheres que sofreram algum tipo de abuso. Já sei que
trabalham com crianças vítimas de violência sexual e me interessei
muito pelo trabalho deles. Vamos juntar o útil ao agradável.
Peço que o motorista mude nossa rota e pare em frente da
instituição, para que eu desça.
— Bom dia! Em que posso ajudar? — a secretaria pequena
sorri.
— Bom dia! Preciso falar com a coordenadora Rebeca Evans.
Ela está?
— O senhor tem hora marcada?
— Não. Mas tenho certeza que irá me receber. O que eu tenho
para falar com ela, será de seu total interesse. — Dou meu melhor
sorriso sedutor para convencê-la.
— Claro! A quem devo anunciar?
— Vincent Lourenço.
Ela sai por alguns instantes e volta logo em seguida avisando
que a mulher já me aguarda.
— Obrigada, querida! — Beijo sua mão em agradecimento, a
deixando vermelha.
— Olá! Quando minha secretária me avisou sobre você, tentei
puxar na memória se já nos conhecíamos e não me lembrei. Você
não é nenhum dos meus ex-peguetes não, né?
Levanto uma sobrancelha para a pergunta.
— Não. Nunca nos vimos antes.
— Claro que não! Eu me lembraria de um espécime feitovocê.
— Pisca sorrindo.
Impossívelnão sorrir. Uma mulher simpática e muito bonita
com seus cabelos vermelhos e olhos verdes. Se encontrasse ela em
qualquer outro lugar, eu iria jurar que era alguma das modelos da
Victória Secret.
— Então, Rebeca, confesso que meu aparecimento não é
apenas curiosidade de conhecê-la, mas sim vontade de firmamos
uma parceria pelo bem da instituição.
— Estou gostando. Pode me dizer que tipo de parceria seria
essa?
— Eu tenho interesse em ajudar aqui, e se você aceitar, doaria
uma boa quantia para a construção de mais salas de atendimentos,
desde que abrisse espaço para atender também as mulheres
vítimas de violência.
— Meu Deus! Você é algum tipo de anjo que caiu do céu?
Sorrio do seu entusiasmo.
— Eu sou mais do tipo caído, Rebeca. Eduardo que o diga.
— É amigo daquele traste?
— Amigo é uma palavra muito forte. Ele é meu advogado.
— Ele te conhece e não me apresentou? Que cara de pau! Me
escondendo o pote ouro.
Gargalho da sua revolta. O cara conheceu a sua versão
mulher. Interessante! Quase que sinto dó dele.
— E aí? Aceita minha proposta ou não?
— Meu querido! Por mais que eu esteja eufóricacom isso, não
sou inocente e muito menos tonta. Você é um cara charmoso e tudo
mais, porém, nada vem de graça nessa vida, e com toda certeza
uma proposta desse naipe tem algum objetivo por trás. A questão é:
qual seria?
Esperta! Gostei dela.
— Gosto de pessoas como você, Rebeca, que saca as coisas
no ar e vai direto ao ponto. Como eu disse, quero ajudar e estou
sendo muito sincero nessa proposta. A minha única exigência é que
uma pessoa muito especial para mim fique como uma das
responsáveis e que o projeto criado para atender essas vítimas, leve
seu nome.
— Uau! Issoque é romantismo! Deveria ensinar àquele cavalo.
Por mim tudo bem. Irei fazer uma reunião com os filhos da
fundadora e passar sua proposta para eles. Hoje ainda eu entro em
contato com você e te dou a resposta.
— Ficarei muito grato por isso. Pense com carinho!
— Eles irão gostar e com toda certeza a resposta será um
grande e sonoro sim. Era o desejo de sua mãe Amélia, que Deus a
tenha. Mesmo depois de sua morte, eles continuaram levando
adiante seus sonhos.
— Ótimo! Será muito bom contribuir. Ficarei aguardando sua
resposta. Foi um prazer conhecê-la.
— O prazer foi meu, Vincent.
Me despeço e saio feliz em poder não só ajudar essas
pessoas a se recuperarem, como de quebra me redimir ao menos
um pouco e provar novamente à Lorena minha promessa de que
nunca compactuei com esses tipos de atrocidades.
Sento na cadeira e escuto atentamente cada palavra que o
advogado de meia tigela me passa. Aparentemente estou calmo por
fora,mas por dentro estou com uma imensa vontade de acabar com
todos a minha volta. Merda de sangue ruim que minha famíliatem!
Estão sempre passando a perna uns nos outros e tentando me
derrubar da minha cadeira.
Vincent não precisava armar contra mim, pois é meu sucessor
por direito e eu o preparei para pegar meu lugar. Era só ter um
pouco mais de paciência. — Suspiro. — Mas a quem eu estou
querendo enganar? Ele puxou totalmente ao pai. Se fosse igual a
sua mãe, não teria ambição, seria bondoso e se contentaria com
muito pouco. Pensar em minha doce Ariella me traz boas
lembranças. Eu deveria tê-la reivindicado quando pude e não ter
deixado meu irmão tomá-la de mim. Eu fui seu primeiro e ela era
minha por direito, mas aquele imbecil tinha que passar na frente e
me tomar mais uma coisa que me pertencia. Uma pena ter morrido
tão rápido, porque eu teria gostado de ficar dias o torturando, como
planejei várias vezes. Ao menos duas das minhas coisas, eu
consegui de volta: minha cadeira e meu filho. Meu ponto fraco!
Mantive o segredo por sua segurança, mas acho que está na
hora dele entender que tudo que viveu e esteve a sua volta, foi uma
mentira criada. Eu vou trazê-lo para o meu lado, mas antes eu vou
ensiná-lo quem manda e ele irá me agradecer depois que entender
que cada uma das coisas que eu fiz,foipara seu bem, para deixá-lo
mais forte e não ser um fraco como eu já fui um dia.
— Senhor Luigi? Está me escutando? — Volto minha atenção
para Oliver.
— Estou. Descubra quando será essa reunião, me fale o que
foi combinado e quem participou dela. Quero nomes, endereços e
quais seus pontos fracos. Preciso dessas informações para ontem,
Oliver.
— Issoé fácil de conseguir. Mas irá realmente me dar o cargo
de consigliere
?
— Sim. Você é de famíliaitaliana e meu atual não me serve
mais, porque ele se bandeou para o outro lado e eu não confiomais
nele.
Ele sorri feliz achando que acabou de ganhar um enorme
prêmio no poker. Coitado! A máfia não é para qualquer um. Muitos
quiseram entrar por conta própria, mas nenhum conseguiu sair.
— Eu serei eternamente grato, meu senhor. Cresci ouvindo
sobre você e não entendo o porquê meu pai os abandonou.
— Seu pai era amigo do meu irmão. Era de se esperar se
afastar. Mas devo te dizer que esse não será qualquer cargo, meu
rapaz. Terá que fazer o juramento, e com uma falha sua, não
precisará se explicar para mim, e sim diretamente ao diabo.
Ele engole em seco.
— Farei o meu melhor. Posso lhe garantir isso.
— Assim espero! Mais alguma coisa que devo saber? —
pergunto já impaciente, querendo sair.
— Não. Isso era tudo o que precisava saber
.
— Ótimo!
Saio do restaurante com a cabeça fervilhandoplanos para dar
uma bela lição ao meu querido e amado Vincent. Logo chego na
boate e encontro Antonella na porta sendo barrada por soldados.
— O que está acontecendo aqui?
— Eles não querem me deixar entrar, e preciso falarcom você.
— Vamos dar uma volta. — digo entrando novamente no carro,
logo atrás dela.
— Eu quero meu posto de volta, Luigi. Você prometeu que se
eu mantivesse seu segredo guardado, me deixaria ter controle sobre
as boates. Eu perdi tudo, não vê? Seu sobrinho me tirou meu
serviço, e ainda por cima, matou nosso filho.
— Seu filho!Eu não tenho filhoscom prostitutas. Para mim, ele
era só um soldado. E se dê por satisfeita que eu não tenha matado
ele anos atrás quando me enganou.
— Como pode ser tão frio assim? Ele deu duro, provando ser
merecedor de estar ao seu lado, e pagou por isso.
— Morreu por culpa dele mesmo. Eu mandei que vigiasse os
passos do meu sobrinho e não que fosse procurar encrenca com as
próprias mãos.
— A fruta podre não cai longe do pé! Ele era todo você. Uma
pena que não o valorizou quando pôde. Eu quero vingança, ou irei
pessoalmente ao Andrei Volkov contar como foi que a querida irmã
dele, sequestrada anos atrás, morreu. Ele vai adorar saber que tem
um sobrinho bastardo perdido por aqui.
Agarro seu pescoço tendo o prazer de sufocá-la.
— Ousa me ameaçar depois de tudo que fiz por você?
— Lu... Luigi! Por favor! — e
Tnta falar engasgada.
— Você tem que entender seu lugar, sua cafetina!Eu tirei você
de uma vida miserável, deixei que ficasse com as suas crianças, te
dei casa e um cargo de destaque, como outro não faria, e é assim
que me paga?
— Desculpe! Eu falei sem pensar.
A solto, me recompondo.
— Ninguém tocará no Vincent! Ou eu pessoalmente acabarei
com você e com todos que tiver alguma ligação.
— Seu precioso está te traindo e tudo que você ainda faz é
defendê-lo? Parece que gosta de ser torturado pelas lembranças
dela.
— Cale a boca! Não falede Ariella com essa sua boca imunda!
— Por quê? Eu amei você, fiquei ao seu lado, te dei um filho
homem e tudo que você queria era correr atrás do que não podia
ter. Foi por sua culpa...
Rodo a mão na cara dela.
— Nunca mais lembre aquele dia, ou também será a última
vez que me lembrará como foi que eu a perdi.
Ela me fuzilacom raiva e eu bato na divisória para pedir que o
motorista volte.
— Peça para que o Thadeo se prepare. Eu entrarei em contato
com ele em breve para um serviço.
— Ele vai acabar morrendo também.
— Ótimo! Assim me livro de mais um problema.
Saio deixando ela no carro e subo para meu apartamento
provisório. Inferno!Odeio quando ficam me lembrando dos meus
erros. Eu não sabia que ela iria estar com ele. Não foi intencional.
Era para ter terminado de uma forma diferente. Eu a amava, porra!
Ela foi a única mulher que eu me permiti baixar a guarda e
demostrar sentimentos. Eu fiz de tudo por nós! E para quê? Para me
trair, me enganar e fazer como todos os outros sempre fizeram?
Escolher Matteo em meu lugar. Maldito! Que onde estiver, esteja
pagando dolorosamente por ser um traidor covarde.
Hoje será a bendita reunião com os interessados no meu caso
e espero que dê tudo certo com eles. Luigi está aprontando algo e
eu preciso estar a sua frente dessa vez. Marco está feito um doido
trabalhando dobrado à procura de quem é o traidor entre nós,
porém, até o momento, a pessoa se manteve na sombra. A única
coisa boa é que Gabriel já me avisou que o Juiz Schimitz se
interessou e pegou o processo. Agora é só torcer para que aceitem
a proposta e deem seguimento, sem mais demora.
Encontro Eduardo já me aguardando e vou ao seu encontro.
— Tudo pronto? — pergunto.
— Sim. Preciso dar uma palavra com você antes de entrarmos.
— Pode falar.
— Preciso que você me deixe levar o caso. Naquela sala
estarão pessoas influentes que podem aceitar a proposta ou não.
Eu conheço esse juiz e sei que qualquer palavra errada e tudo irá
por água abaixo. Fale somente quando for solicitado.
— Tranquilo. Mas tenho que te dizer que estamos sendo
vigiados. Meu tio anda me cercando e desconfio que alguém tenha
passado algumas informações para ele.
— E só agora me diz isso, porra?! Tem chance de ele aparecer
aqui e pôr tudo a perder? É sua única chance, Vincent. Um passo
em falso e você estará tão encrencado quanto seu tio.
— Luigi não será burro de atacar em um tribunal em plena luz
do dia cercado de câmeras e policias. Ele não é tão idiota assim. E
tenho homens de confiança lá fora para barrarem qualquer
imprevisto.
— Desconfia de alguém? Eu tomei todos os cuidados
necessários para não deixar escapar informações. — diz chateado.
— Não sei ainda, mas já coloquei gente para averiguar e
descobrir quem é o traíra.
— Vamos entrar. Está na hora.
Entramos na sala e todas as pessoas necessárias já estão
presentes, inclusive Gabriel e o futuro senador que tem interesse
político e pessoal em derrubar nossa organização. Todos nos
cumprimentamos e sentamos nos nossos devidos lugares.
O primeiro a iniciar é o juiz Schmitz. Ele fala que estavam
conversando antes de nós chegarmos, sobre a proposta, e que tudo
o que entreguei é o suficiente para levar Luigi ao julgamento. O
chefe do FBIcomeça com a sua baboseira dizendo que eu pedi um
preço muito alto e que as provas entregues por mim incriminam
diretamente ao meu tio, mas nada prova que ele faça parte da
máfia. Sério? Eles achavam que eu era algum idiota e estavam
esperando que eu fosse entregar a nossa organização? Bando de
sanguessugas! Anos tirando vantagens de nós e ainda querem
pagar de santos.
— Com todo o respeito, senhor, meu cliente está disposto a
colaborar com o que for preciso, e até mesmo dar seu depoimento.
Não acho que seja um preço tão alto assim. Vocês estão no caso há
anos e nunca conseguiram pegá-lo. Tudo que meu cliente entregou
até agora, não só vai ajudar a prender o chefe,como também várias
pessoas envolvidas diretamente. Vocês irão derrubar uma grande
rede de tráficocom vários outros criminosos que possivelmente nem
na lista de vocês estão.
Boa, Eduardo! Agora entendi o porquê ele é considerado o
melhor.
— O que você não entendeu é que podemos conseguir e ter
todo o caso arquivado meses depois. Luigi tem bons contatos e não
é a primeira vez que estamos tentando essa jogada. Anos atrás
tivemos provas nas mãos e testemunhas para montar o processo,
mas na semana do julgamento o caso dele foi arquivado a pedido
do desembargador da justiça na época.
Não aguento mais me segurar e tomo a frente.
— Como assim? Estão querendo dizer que podem ter as
provas e ainda assim não valerem de nada?
Se não conseguem nos prender e nem provar nada, por que
caralho nos perseguem?
— Sim, é isso que estou dizendo. Tudo depende de quem for
comandar esse caso. Por isso solicitamos o juiz Schmitz para essa
reunião informal. Estamos escolhendo a dedos quem irá entrar
nesse processo, para tentar diminuir as chances de ele escapar de
novo.
— Porra! — Respiro fundo para não chamá-los de
incompetentes.
O babaca do senador começa a dizer o quanto é honroso o
que estou tentando fazer, apesar de não acreditar que eu esteja
colaborando apenas por ser uma boa pessoa, e sim por interesse
próprio. É claro que tenho interesses. Eles acharam que eu estaria
aqui, me sujeitando a participar dessa palhaçada, se eu tivesse
outras opções?
— Tenho interesse pessoal sim. Meus pais foram mortos a
mando dessas pessoas e minha mulher foi uma das milhares de
crianças que são tiradas do seu lar e jogadas nesse mundo. Posso
ter nascido na máfia, mas não concordo com muitas coisas que
existem por lá.
Todos ficaram surpresos com essa informação, inclusive
Eduardo, que não sabia disso. Tenho que ser convincente o
suficiente e vale de tudo se for para acabar de vez com isso.
— O que nos garante que não irá remontar tudo depois que
tirarmos o seu tio do caminho? — pergunta Gabriel.
— Não vou. Pretendo mudar muita coisa depois que Luigi sair
do comando.
— Vocês não têm suas próprias regras dentro desse mundo?
O que te faz tentar pelo lado certo da lei e não resolver com as
próprias mãos?
Piada! Se eu pudesse, já teria matado aquele filho da puta. O
problema é que ele é muito esperto.
— Eu seria morto por eles após ser considerado um traidor.
Não quero meu nome envolvido exatamente por isso. Acreditem em
mim quando digo que quero tentar pelo lado certo para não me sujar
com a família, ou todo o meu trabalho será jogado fora.
— Entendo. Então estamos todos de acordo em dar imunidade
a ele se der tudo certo? — diz o juiz Schmitz.
— Sim. Se ele cumprir com a promessa e fizer sua parte,
estamos dispostos a limpar seu nome. — diz o chefe do FBI.
— Mas que fique bem claro que depois disso, estaremos de
olho em você. E qualquer deslize seu, não terá mais clemência. —
finaliza o juiz.
— Entraremos em contato em breve para que você nos
entregue ele. Espero não me arrepender. — Gabriel diz me
encarando.
Me despeço e saio de lá confiantede que agora vai ser do jeito
que eu quero. Meu celular apita assim que entro no carro e vejo a
mensagem de Nino avisando que Luigi está em meu escritório me
aguardando. O que me deixa puto não é ele invadir meu local e sim
a parte que diz que a Lorena está com ele.
— Marco, acelera esse carro! Luigi está com Lorena!
— Foda-se! Mantenha a calma. Seja o que for, somente revide
se for extremamente necessário.
Não respondo, pois meus nervos estão a flor da pele e sou
capaz de matá-lo se estiver tocado em um fio de cabelo dela.
— Vincent! — Marco me chama de volta.
Estou me perdendo com o monstro em meu interior querendo
se assumir.
— Olha para mim! Se controle! Não podemos colocar tudo a
perder. Seja o que for que você veja lá, lembre-se da nossa
promessa. Entendeu?
— Okay! — Aos poucos enxergo seu rosto de novo.
— Eu estarei a poucos passos de você. Estarei lá dentro em
poucos segundos.
— Tudo bem!
Controlo minha respiração e estou fora do carro antes mesmo
dele parar direito. A primeira coisa que vejo é Antonella na porta
com um sorriso sarcástico no rosto. Só essa que me faltava!
— A reunião vai ser para lá de interessante. — diz indo na
minha frente.
A ignoro e entro no escritório. O que eu vejo me deixa pronto
para fazer uma carnificina com todos aqui. Luigi tem Lorena
ajoelhada o chupando e todas as armas dos seus homens estão
apontadas para ela. Respiro e tento manter a calma, mas tudo que
enxergo é vermelho... O vermelho do sangue desse filho da puta
que eu irei derramar quando chegar a hora. Vou esfolá-lo vivo, sem
nenhuma piedade. Não olho para Lorena, pois não tenho coragem.
Meu coração está saindo pela boca, por minha mulher ter que
passar por isso. Meus olhos estão nele, gravando cada expressão
do seu rosto, para quando for a minha vez de tê-lo nas mãos,
devolver o favor
.
Luigi geme alto quando chega ao seu ápice, deixando claro
seu recado. Seu pau vai ser a primeira coisa a ser tirada do seu
corpo. Nunca mais irá sonhar em tocar qualquer mulher quando eu
acabar com ele.
Lorena se levanta e sai de cabeça baixa. Eu quero correr atrás
dela, pedir que me perdoe e dizer que isso é minha culpa, mas não
posso mostrar meus sentimentos por ela. Estou por um fio de fazer
uma besteira e não posso mostrar fraqueza em sua presença.
— Mandou me chamar? — cada palavra sai raspando da
minha garganta como se fossem cacos de vidro.
Ele fecha a calça, senta na minha cadeira e calmamente
acende um dos meus charutos, me desafiando a fazer algo. Não
hoje, querido tio! Seu momento irá chegar e vai ser bem mais
demorado do que seus míseros cinquenta segundos de ereção.
— Mandei, mas já está dispensado.
Saio de lá antes que eu perca o meu controle. Encontro Marco
na porta e ele me diz que descobriu ser Thadeo o traidor.
Coincidência, não? Eu deveria saber. Uma mãe gananciosa e
pedófilae um irmão no mesmo caminho, não deveria ser surpresa o
outro ser um traidor. Mas hoje eles sairão da minha lista de
preocupação. Chegou a vez de Antonella pagar por tudo o que me
fez e ir encontrar seus amados filhos do outro lado de suas vidas
medíocres para uma reunião em família.
Somente muito mais tarde é que volto para os braços da minha
amada, para mimá-la como merece. Se antes eu tinha alguma
dúvida do porquê lutar por ela, hoje todas foramtiradas. Eu vou lutar
com qualquer um que ousar tentar tirá-la de mim e isso incluirá
Luigi, que está no topo da minha lista de inimigos, e não é de hoje.
Ele está ansioso. Eu o conheço tempo o suficiente para saber
que nada de bom virá disso. Sinto medo por mim e pelo pequeno
aqui dentro. Fiz o teste de farmácia assim que Vincent saiu, e como
suspeitava, deu positivo. Agora estou aqui no chão amarrada feito
um animal pronto para ser abatido. A incerteza de que sairei com
vida me tem tremendo.
— Doce Lorena! Achou mesmo que ia conquistar meu
sobrinho, o jogar contra mim, e eu não iria fazernada? Você é bem
mais ardilosa do que pensei.
— Não fiz nada, senhor.
Ele gargalha alto.
— É claro que não. Ashley e Antonella fizeram um ótimo
trabalho.
Levanto a cabeça sem entender.
— Ashley?
— Sim! Eu mandei que colocasse nessa sua cabecinha a ideia
de conquistar o Vincent.
— Mas... Ela sempre me disse sobre abrir o cofre,pois nossos
passaportes estavam lá.
— Qual? Esses? — Ele joga um monte de passaportes dentro
da lata de lixo, despeja um pouco de bebida e taca fogo.
— Vocês não têm documentações nenhuma, lembra? Esses
aqui foram feitos para emergência e no intuito de tirar os polícias da
minha cola acaso dessem batida nas minhas boates. Vocês não
existem! São indigentes!
Lágrimas descem pelo meu rosto.
Ashley entra com Antonella e fica encostada na parede, de
cabeça baixa. Eu nunca senti tanta vontade de matar alguém como
estou sentido nesse momento.
— Eu achei que você era minha amiga, mas o tempo todo
estava me usando. Ele já ia te liberar. Não precisava disso.
— Sim! Mas eu iria para onde? Sem dinheiro, sem casa, sem
nada. Eu teria que sair com uma mão na frente e outra atrás. Isso
não é justo, Lorena!
— Eu teria te ajudado! — Lágrimas escorrem pelo meu rosto.
Raiva e decepção são as maiores causadores delas.
— Não me julgue por algo que você mesmo faria se estivesse
no meu lugar.
— Seus serviços não são mais necessários aqui! Como eu sou
um homem de palavra e prometi que te daria a liberdade, vou
cumprir.
Ele dá sinal para Antonella, que entrega para Ashley uma
bolsa pequena. Ela pega e me olha uma última vez, sussurrando um
“desculpe”.Eu a fuzilocom ódio e ela sai. Nesse instante o telefone
do Luigi toca e ele o atende rapidamente.
— Alô? Pode falar. Interessante. Dê seguimento à segunda
fase então.
Segunda fase do quê?
— Não tem problema. Deixe acharem que não sabemos de
nada. Sim, sim! Tenha paciência, que logo nos vingaremos de todos
eles.
Ele desliga e fica me observando. As lembranças da primeira
vez em que vim parar em suas mãos me vêm a mente.
— Fique de joelhos! — ordena.
— Sim, senhor. — digo trêmula.
Abre o zíper da calça e tira seu pau para fora. Assim que a
cafetina avisa que Vincent chegou, ele pede com seu sorriso sádico
para que o deixe entrar.
— Abra a boca, querida, e faça o seu melhor trabalho, ou eu
irei atirar na cabeça dele assim que passar pela porta. Você
escolhe!
— Não! Por favor! Eu faço qualquer coisa. — Encho meus
olhos de lágrimas.
E como da primeira vez, seu pau incha perante a visão de meu
desespero. Leva seu membro até meus lábios e o desliza para
dentro. Vincent entra e seus homens destravam as armas. Não
preciso olhar para saber que elas estão apontadas para mim e
prontas para serem disparadas caso seja necessário.
Luigi mete seu pau na minha boca até explodir em jatos fortes
na minha garganta. A ânsia sobe e eu me seguro para não
desmoronar na frente dele e tornar a situação ainda mais
humilhante.
— Muito bem, querida, pode ir.
Saio sem coragem de olhar para ninguém, me sentido suja e
sem valor nenhum.

(...)
Jogo fora tudo que estava em meu estômago, por nojo, e
choro ao menos uma hora seguida. Depois de ter pena de mim
mesma, levanto e escovo meus dentes até quase vê-los sangrar.
Deito no sofá com os olhos fixos na janela de vidro, sem vontade
nenhuma de sair do lugar ou sequer levantar para ir fazeralgo para
comer. Não sei o que aconteceu para fazerLuigi agir daquele jeito,
mas com toda certeza foi algo que Vincent feze que o deixou muito
irritado.
“Abraa boca, querida, e façao seu melhor trabalho, ou eu irei
atirar na cabeça dele assim que passar pela porta. Você escolhe!”
Isso teve um peso enorme sobre mim, pois me lembrou
exatamente o que sou aqui e me trouxe na mente a conversa que
tive com a Ashley.
“Podem tirar as prostitutas dos bordéis, mas nunca das
mulheres.”
Lembrar de sua traição ainda me dói, mas ela está certa, pois
no lugar dela, eu também teria feito qualquer coisa para sair daqui.
Quem eu queria enganar? Até pouco tempo atrás, era eu procurado
uma fuga. Eu sabia que Vincent estava presente e eu senti o exato
momento que ele entrou naquela sala. Meu corpo queimou diante
da sua presença, mas não ousei virar para vê-lo, com vergonha.
Humilhação me definia ao ser submetida a passar por tudo aquilo de
novo.
— Senhora! Eu fiz um chá para você tomar. — Nino diz me
entregando uma xícara com o líquido fumegante.
— Obrigada! Pare de me chamar de senhora. Não sou
senhora de nada. Nem da minha vida eu sou dona.
— Eu sinto muito! Eu não pude fazer nada, ou ele teria te
matado. Eu sei que não deveria me meter nesse assunto, mas não
é culpa do chefe. Ele está tentando fazera coisa certa e isso causa
muitos inimigos.
— Eu sei, Nino. O pior de tudo é que eu sei. Todas essas
guerras e todos esses atentados é por ele estar se rebelando contra
o tráfico.
Ele fica calado. Mesmo que saiba os reais motivos em
detalhes, não pode compartilhar comigo. Minha cabeça parece que
tem uma escola de samba dentro dela e todo o meu corpo dói de
exaustão. Termino o chá, volto a me deitar, fecho meus olhos e
cochilo.
Braços fortes me carregam e me sinto ser colocada em um
lugar muito mais macio. Não preciso abrir meus olhos para saber
quem é. Não quero ouvir nada agora, só esquecer as cenas
deploráveis que passei mais cedo.

(...)

Levanto devagar da cama, ainda muito abalada pelo


acontecido. O cheiro de algo na cozinha faz meu estômago roncar
me lembrando o quanto estou sendo relapsa comigo e com a
criança inocente dentro de mim. Vincent está mexendo algo no
fogão, apenas de cueca box. Em outro dia eu estaria babando em
seu belo corpo musculoso, mas agora estou sem saber como me
aproximar. Como se sentido minha presença, ele se vira e tranca
seus olhos aos meus, e nesses poucos segundos nos olhando, tudo
foi dito sem precisar que nenhum de nós falássemos qualquer
palavra. Ele desliga o fogo, vem em minha direção, me puxa para
seus braços e me beija, colocando minha cabeça em cima do seu
peito. Eu escuto as batidas fortes e descompassadas do seu
coração tão acelerado quanto o meu.
— Eu sinto muito, mia bela
! Sinto muito! Eu não sei nem o que
dizer para me desculpar por você ter ficado no meio do fogo
cruzado. — Me aperta ainda mais forte.
— Não tem que falar nada, Vincent. As coisas são o que são.
Eu só fui mais uma vez lembrada de qual é o meu lugar aqui. Uma
vez prostituta, sempre uma prostituta.
— Não fale assim! Não se diminua desse jeito.
— É a realidade. Você diz que vai me provar que não é como
ele e eu sei que você pode ser diferente, Vincent. Mas e eles lá
fora? E toda a família?Quantas lutas você terá que enfrentar para
ficarmos juntos?
— Eu vou dar o meu jeito! Acredite em mim quando digo que
ninguém ficará entre nós.
Rio. Mas meu riso é doloroso e sem vida.
— Para, Vincent! Você está se enganando. Vamos dizer que
você derrube o Luigi. O novo capo e uma prostituta? Sério que você
acha que irão aceitar isso? Com tantas perfeitas bonecas de
plástico, nascidas em berços de ouro, para se casar? Não acha que
vai ter uma retaliação das outras famílias por se sentirem
ofendidas?
— EU NÃO LIGO PARA O QUE ELES PENSAM! EU JÁ
DISSE QUE SOMENTE VOCÊ ME IMPORTA! — grita socando a
parede, com raiva.
— MAS EU SIM!EU ME IMPORTO! — Respiro tentando me
acalmar. — Porque você e eu morreríamostentando. Eu me importo
porque eu te amo e você foi um desgraçado em me fazer me
apaixonar por você sabendo que não nascemos para ficar juntos.
— Lorena! — Em dois passos me deixa encostada na parede e
me beija com urgência. — Você é minha, meu amor! Eu não vou
desistir de continuar lutando pela minha causa e nem por você. Eu
não me importo se eu tiver que pagar com a vida, porque nada fará
sentido se eu não tiver você comigo.
Choro mais forte.
— Ah, Vincent! Você é tão teimoso! O que eu façocom você,
hein?
— Minha mãe falava a mesma coisa. Persistência é meu
segundo nome.
— Eu vejo! — sorrio em meio as lágrimas.
— Agora diz de novo!
— Dizer o quê?
— Diz que me ama!
Inclino a cabeça reparando que nesse momento eu o vejo
diferente de todas as outras vezes. Nesse momento ele parece um
menino perdido, esperando por qualquer farelo de carinho. Apenas
o Vincent homem, sem máscaras, sem armadura e sem cargos
pesando nas costas.
— Eu te amo! Eu não deveria entregar meu coração a você,
mas acho que fui sua desde a primeira vez que o vi.
Seus olhos brilham com a minha confissão.
— Também te amo, coelhinha!
Ele volta a me beijar mais forte dessa vez e tudo vira uma
confusão de roupas pelo chão e toques desesperados. Quando ele
entra em mim e nossos corpos de fundem, eu sei que não serei de
mais ninguém e que se por acaso nos separarmos em um futuro
próximo, eu nunca mais serei a mesma mulher, porque com todo o
meu corpo, alma e coração, eu pertenço somente a ele.
ALGUMAS SEMANAS DEPOIS

Depois de participar na semana passada da última reunião


para trocarmos informações com o chefe do FBI e saber que
poderíamos a qualquer momento finalizar esse pesadelo, um peso
saiu dos meus ombros. Parece que finalmentea sorte voltou a sorrir
para mim. Após semanas exaustivas à procura de qualquer deslize
de Luigi, encontramos onde ele estava escondendo as garotas e
conseguimos dessa vez invadir o local a tempo. Não vai trazer as
outras que morreram de volta, mas ao menos essas tiveram um final
feliz. Além disso, minha proposta foi aceita pela fundação — não
que eu tivesse dúvidas de que isso iria acontecer — e desde então
começaram as construções da nova ala. Tenho certeza de que
minha coelhinha vai gostar muito. Eu vou aproveitar o dia da entrega
para pedi-la em casamento e será a minha última prova para
convencê-la a ficar. Até mesmo já andei olhando algumas casas
para comprar.
— Devemos nos preparar para o pior, Vincent. Seu tio vai vir
com força total.
— Eu sei. Minha maior preocupação é a Lorena. Não quero
que nada aconteça com ela novamente.
— Vamos dobrar toda a segurança do lugar e tomar mais
cuidado a partir de hoje.
— Confio em você! — digo pensativo.
— Eu sei que eu disse que não iria me meter mais, porém, não
seria melhor liberar ela?
Viro meu rosto instantaneamente para ele.
— Você está louco?! Eu não vou abrir mão dela, porra!
— Todos os nossos inimigos sabem dela e virão direto para ela
com o intuito de te ferir.
— Você acha que eu não sei? Que minha cabeça não está
explodindo com todos os cenários possíveis dos quais irei receber
uma ligação dizendo que a levaram de mim?
— Somente dei uma sugestão. — Dá de ombros como se não
tivesse acabado de me deixar mais chateado.
No fundo eu sei que ele tem razão. Todos que quiserem me
atingir, saberão exatamente onde e quem pegar.

(...)

Estou há horas sentado aqui no meu escritório pensando sobre


o que Marco falou e não consigo chegar a um consenso comigo
mesmo sobre o assunto. Nino bate na porta me avisando que
Henrique está aqui e me levanto curioso por sua visita inesperada.
— Cavallaro? Não estava te esperando.
— Gostaria de dizer que a minha visita é de rotina, mas o que
tenho a dizer é muito sério, Vincent. Precisamos conversar.
— Claro! Posso te oferecer uma bebida?
— Vodca! Se tiver.
Sirvo duas doses para cada um e entrego a dele.
— Imagino que seja muito sério, para te tirar de Milão. O
casamento vai bem?
— Sim! — Suspira. — Mas não é sobre isso que quero falar.
— Tudo bem! — Me arrumo na cadeira e espero ele continuar.
— Anos atrás, seu pai me procurou pedindo ajuda porque
desconfiava que Luigi estava envolvido com as mortes e o
desaparecimento de algumas meninas na Itália. Daí surgiu a
desconfiançade que ele estivesse mexendo com o tráfico humano.
Eu tinha saído há pouco tempo do exército e com a ajuda do seu
pai, fui iniciado na época para ter acesso a famíliae o ajudar. Nos
conhecíamos desde a adolescência e não foi difícil ele me
convencer. Mas as coisas saíram do nosso controle muito rápido.
Seu pai passou a receber várias ameaças, tanto de fora como de
dentro da máfia, e não conseguíamos encontrar o autor. Foram
vários traidores. E quanto mais acabávamos com eles, mais
apareciam.
Me vem na mente o que estou passando agora. Ataques e
traidores de dentro e de fora da família.
— Meus pais foram mortos por isso? Por tentar acabar com o
tráfico, como eu?
— Sim, Vincent. Quando estávamos chegando perto da
verdade, eles sofreram o atentado. E bom... Você sabe o resto da
história. Mas o que ficou muito bem escondido, foi o nome do
mandante, e eu levei todos esses anos arrumando aliados para me
ajudarem a provar a verdade, e enfim, agora eu sei quem foi.
Me levanto nervoso querendo que ele acabe com esse
suspense. Anos procurando o verdadeiro culpado e agora
finalmente saberei quem é.
— Fale! Quem foi o desgraçado?
— Seu tio! Luigi orquestrou tudo, detalhe por detalhe. Ele é o
responsável por trás das mortes dos seus pais e de vários outros
membros da família que ajudavam seu pai na época.
— Sério mesmo? — Não acredito nisso! Como deixei isso
passar?!
— Eu já desconfiava dele há anos. Achei um vídeo no
escritório, da época do seu pai. Nele há uma discussão entre eles e
logo depois que Matteo sai, Luigi recebe a visita de nada mais, nada
menos, que Alejandro Montez.
De novo esse desgraçado?! Me lembro de Gabriel dizendo que
o nome dos dois estavam sempre ligados. Claro! Eles fizeram um
acordo. Filho da puta! Eu vou esquartejar Luigi quando o tiver em
minhas mãos. São poucas as coisas que me deixaram sem palavras
nesses meus trinta anos, mas essa está no topo da minha lista. Me
lembro do sonho onde mamãe falavasobre preço alto e ganância, e
que tudo iria me fazermal quando a verdade viesse à tona. Tudo se
encaixa agora. Estava o tempo inteiro na minha frente e eu não vi.
— Por quê? Papai era seu sangue, seu único irmão. — Como
se isso valesse algo nessa família. Minha consciência ri de mim.
— Isso só ele poderá nos dizer
.
Como se sentido minha ansiedade e frustação, o agente
Gabriel me liga no exato momento.
— Diga que você tem boas notícias para mim. — falo nervoso.
— Será hoje! Luigi está novamente na cidade e estamos com
tudo pronto para pegá-lo dessa vez. Vou te passar as coordenadas.
— Assim ele faz logo após encerrar a chamada.
Reconheço o local imediatamente quando me passa, pois é
um dos meus armazéns. Eles não sabem disso, porque como a
boate, esse é um dos meus outros investimentos pessoais e não
está ligado à organização. Eu conheço esse lugar como a palma da
minha mão.
— Marco?
— Ele saiu, senhor. — É Nino que responde.
— Para onde ele foi?
— Não sei dizer. Saiu com a senhora Lorena há uns quarenta
minutos.
— Prepare os homens para a nossa saída! — Adrenalina em
alta. — Nós vamos à caça!
— Sim, senhor!
Tento falar com Marco e só dá fora de área. Meu celular torna
a tocar e eu olho a tela, vendo que recebi uma mensagem. Abro na
esperança de ser ele retornando, mas tudo que vejo é o meu pior
pesadelo se concretizando. Um vídeo de Lorena desacordada,
amarrada e jogada ao chão aparece na tela. Luigi surge sorridente
logo que o foco é tirado de cima dela.
“Querido sobrinho, não achou que as coisas se tornariam tão
fáceisassim, não é? Eu sempre estou dois passos a sua frente.Vou
ser bonzinho com você. Peça para todos recuarem! Você vai ligar
para o advogado e dizer que voltou atrás na negociação, ou sua
querida amada aqui e a esposa grávida dele, não verão mais a luz
do dia. Você sabe onde me achar.”
O vídeo acaba.
Meu coração acelera e a dor me dilacera, como se vários
canivetes me cortassem de dentro para fora. O que tanto temi,
aconteceu. Lorena está de novo em suas mãos e novamente falhei
com ela e meu amigo Marco, que a essa hora pode até mesmo
estar morto.
Quebro tudo que vejo pela frente. Garrafas de bebidas se
espatifam na parede, fazendo os cacos de vidro voarem para todos
os lados. Henrique me segura pedindo calma, mas eu estou longe.
A raiva guardada por todos esses anos vem à tona e me deixa cego,
com sede de vingança.
— Me solta, porra! Eu quero matar esse desgraçado e
ninguém vai me impedir disso!
— Não vai adiantar pirar agora! Se controle, seu merda!
Guarde essa raiva para quando estivermos com ele nas mãos. Você
vai ter a sua vingança, como eu vou ter a minha.
— Eu vou matá-lo! Eu vou acabar com ele! — repito como se
eu estivesse em transe.
— Eu concordo com você e estou totalmente do seu lado
nisso. — Henrique diz atrás de mim.
Saímos rumo ao local e meu pensamento se divide entre
Lorena e Marco. Nem vi como chegamos ou o que falei com
Eduardo por telefone. Minha mente tem um único objetivo nesse
momento e tudo isso só terminará quando aquele imbecil não
estiver mais respirando.
Mando uma mensagem avisando a Gabriel sobre nossa
chegada. Viemos por trás do galpão e estamos aguardamos o
momento certo de entrar. Poucos minutos depois escutamos dois
disparos. Nos preparamos para invadir, quando vejo Eduardo
seguido de alguns homens correndo na mesma direção.
— Droga! Eu disse para ele ficar fora disso. Isso nos
complicará ainda mais.
— Isso não vai ser bom. — Henrique diz a minha frente. —
Vamos nos separar e entrar. Teremos mais chances de encontrá-los.
— A prioridade é tirar o Marco e a Lorena de lá. Alguns de
vocês cubram as costas daqueles idiotas que entraram.
Não espero pela confirmação. Apenas nos separamos e
entramos cada um por um lado. Encontro Eduardo com sua equipe
bancando os espiões e eu teria rido se não fosse trágico, pois o cara
nem consegue segurar direito a arma nas suas mãos e quer ser o
herói. Trocamos poucas palavras e invadimos a sala onde Luigi
está. O tiroteio começa e no meio do fogo cruzado vejo que o
advogado consegue sair com sua mulher. Menos mal! Não queria
que se ferissem e me complicasse. Continuo atirando e consigo
derrubar três dos homens do Luigi, mas em compensação perco
quatro dos meus. Ele coloca a arma na cabeça de Lorena, que
parece dopada. Seus olhos estão desfocados e ela mal se aguenta
em pé com Luigi a segurando.
— Se não parar agora, eu irei atirar nela.
Dou um passo para trás e olho ao redor tentado achar Marco.
No chão há vários corpos espelhados, onde dois deles eu nunca vi.
Um estrondo no fundo deixa claro que os federais estão entrando.
— Acabou, Luigi! Desista!
— Nunca! Eu não irei ser preso e já até arrumei um jeito de
sair daqui. Acha mesmo que me entregaria tão fácil assim? Seu
moleque ingrato!
— Você matou meus pais! Você deve saber o que acontecerá
vindo de mim, deles lá fora ou até mesmo dos membros da família.
De todo jeito, você será um homem morto.
Seu sorriso vacila.
— Então já ficou sabendo disso? Era para ter sido somente o
Matteo. Como eu ia saber que a Ariella estaria junto?
— Matou seu irmão a troco de quê? Inveja?Ou para cobrir
suas perversões doentias?
— Não! O matei porque ele tomou a minha famíliade mim.
Não bastou usurpar a minha cadeira e se meter em meus negócios,
mas também pegou a minha mulher grávida do meu filho e me
escondeu.
— Do que você está falando?
— Você é meu filho, Vincent! Ele sabia disso e me escondeu
esse fato por anos.
Vacilo com o impacto de suas palavras.
— Mentira! Minha mãe amava meu pai. Ela jamais se prestaria
a esse papel.
— Sua mãe tinha muitas qualidades, mas contar a verdade
não era uma delas. Ela era a minha prometida e me trocou por ele,
escondendo a gravidez de mim. Já que ser capo era um requisito
tão importante para ela, eu iria virar um e tê-la de volta.
— Você é um idiota se pensa dessa forma! Como pode dizer
uma coisa dessa depois de matá-los?
— Somos um monstro! Tal pai, tal filho. Você não é diferente
de mim. Romeo era seu irmão bastardo e você acabou com ele sem
pensar duas vezes. Você é a minha versão mais nova, Vincent. —
Novamente um balde de água gelada em mim. — Agora vamos
deixar de conversas desnecessárias, que eu estou sem tempo. Vou
te dar uma chance de provar o quanto você é diferente.
— Não vou provar nada a você. Solte ela!
Dois dos seus homens entram trazendo Marco, que é colocado
de joelhos ao lado de Lorena, todo machucado. E eu vejo todo o
cenário sendo montado a minha frente, me destruindo pedaço por
pedaço.
— Escolha, Vincent! Seu único irmão vivo ou sua amada? —
Ele dá o último golpe impiedoso.
Estou sem chão. Entre a cruz e a espada. Eu não posso
escolher e todos vamos acabar morrendo.
— Se não escolher, a dor será dobrada, pois irei matar os dois.
Escolha um e viverá como eu, sentido o peso da culpa, e só assim
poderá me entender. — repete quase a mesma frase de anos atrás,
do nosso treinamento.
— Não posso!
— Fraco! Eu não te treinei para ser fraco desse jeito. Talvez
precise de um incentivo. — Atira na perna direita da Lorena, a
fazendogritar. Sua primeira reação desde que cheguei. Quero ir até
ela e tirá-la de suas mãos. Ele percebe, pois sorri. — O próximo
será na cabeça. ESCOLHE! — grita.
Levanto a arma e miro em Marco, como se fosse um déjà vu
do dia em que ele estava amarrado apanhando com o chicote.
— Pode fazer, Vincent. Eu não vou ficar com raiva de você.
Não deixe que ele te puna por minha causa. — Marco diz levantado
a cabeça e sorrindo em meio ao sangue seco dos ferimentos em
seu rosto, fazendo uma lágrima solitária descer dos meus olhos.
Meu irmão! Sempre me protegendo e pronto para levar uma
bala por mim. A mesma frase de anos atrás me bate, e se era
possível morrer mais nesse momento, eu acabo de descobrir. A
arma dança entre ele e Lorena. Eu não posso! Qualquer um dos
dois que for morto nesse momento, vai levar um pedaço de mim.
— Atire, Vincent! — Luigi fala quase cantarolando, sentido
prazer em me ter em suas mãos. — É sua última chance.
Ele coloca a sua arma na cabeça de Lorena enquanto seus
homens miram em Marco. Anestesiado pela dor, eu também levanto
a minha arma, respirando várias vezes para limpar a minha mente.
Então eu engatilho, miro e atiro.
O erro de Luigi foi achar que ainda somos aqueles garotos de
quatorze anos, sem experiência e manipuláveis, e que não
crescemos e não nos tornamos mais ardilosos, sempre com um
plano reserva nas mãos. Olho para Marco, que pisca o olho bom me
dando o sinal que preciso. Engatilho, miro e no último instante viro a
arma para Luigi e atiro, acertando o meio do seu peito ao mesmo
tempo que Marco toma a arma de um dos homens ao seu lado e
atira em ambos. Tão rápido que nem mesmo eles esperavam por
isso, mas não rápido o suficiente para ajudar Lorena que recebe
outro tiro de uma das armas dos desgraçados.
A sala de repente se enche com os agentes e o restante dos
meus homens. Henrique corre até Marco, o ajuda a se levantar e eu
pego Lorena nos braços, gritando por ajuda. Paramédicos entram e
começam os procedimentos para socorrê-la. De onde eles saíram,
não faço a mínima ideia, mas nesse momento os detalhes pouco me
importam. O tiro pegou em seu abdômen e eles tentam conter o
sangramento para que ela não entre em choque pela perca de
sangue.
Eu estou sem rumo, sem saber o que fazer. Minha mulher está
morrendo e o desgraçado que procurei por anos está há poucos
passos de mim, ainda respirando. Henrique pede que eu o deixe
com ele e vá acompanhar Lorena, e é exatamente isso que faço.Eu
a escolho acima da minha vingança. Sempre será ela em primeiro
lugar.
Entro na ambulância e em tempo recorde chegamos ao
hospital. Logo na entrada ela teve uma parada cardíaca da qual me
deixou louco e tive que ser contido pelos seguranças. A médica fala
algo e eu não entendo nada, pois minha mente está vazia, longe
dali. O caso dela não poderia ser tratado por nosso médico em
casa, ou ela iria morrer. Como irei explicar sua falta de documentos
eu não sei e nem me importa, desde que ela se salve.
— Senhor? Está em choque e precisa ser avaliado. — a
enfermeira diz levando uma luz aos meus olhos.
— Eu estou bem! Como ela está? Me deixe vê-la! — digo em
desespero.
— O senhor precisa se acalmar ou iremos ter que pedir que se
retire. Está assustando os outros pacientes.
Olho para o lado me dando conta das várias pessoas no
corredor me olhando espantadas. Só aí percebo o quanto devo
estar parecendo assustador com a roupa suja de sangue.
— Desculpe! Eu só quero saber notícia dela.
— Eu entendo! Tudo que sei é que ela está na mesa de
cirurgia. Quando terminarem, a médica que a atendeu virá para
poder lhe dizer mais notícias.
Esfrego o rosto, com impaciência, e me sinto impotente. Alec
chega acompanhado de Nino e me entrega uma bolsa com meus
produtos de higiene e uma muda de roupa. Não quero sair e perder
o momento que alguém vier com o boletim médico, mas saio à
procura de um banheiro com a promessa de que Nino me chamará
acaso alguém resolva aparecer. Tomo meu banho, me troco em
tempo recorde e volto para meu lugar à espera de qualquer migalha
que possa vir.
Duas horas se passaram e ninguém me diz nada. Nunca fui
um homem de igreja e nem entendia a maioria das palavras que o
padre falava quando ia com mamãe, mas nesse exato momento
imploro para qualquer ser divino que existir acima de nós, que não a
leve de mim. Prometo até mesmo libertá-la se tudo ocorrer bem e
ela sair dessa.
— Parente da senhora Lorena Lourenço?
Tive que mentir seu sobrenome, ou eles não iriam atendê-la.
— Sou eu! — Me levanto ansioso. — Como ela está?
— Está estável no momento. A cirurgia foi um sucesso e com
poucos dias em observação poderá ir para casa. Porém, eu sinto
muito, pois não conseguimos salvar o bebê.
— Bebê? — pergunto atordoado com a pequena informação.
— Sim! Acredito eu que sabiam, não? Ela estava de oito
semanas. Não se preocupe! Nada causou danos permanentes ao
ponto de atrapalhar a paciente de ter outros filhosfuturamente. Logo
ela será transferida para o quarto e o senhor poderá vê-la.
— Obrigado! — É tudo que consigo pronunciar.
Minha mente parou na palavra bebê. Meu filho! Por minha
culpa, ele morreu. Sento de cabeça baixa e ali eu ficoinerte. A culpa
espezinha meu peito e me quebra novamente, o que achei que não
fosse possível. Agora eu te entendo, mamma! O preço foi alto
demais! Esse eu não estava disposto a pagar. Meus olhos ardem e
eu me seguro para não chorar e mostrar fraqueza aos meus
homens. Eu tenho que ser fortee não me deixar abater. Essa guerra
ainda não terminou.
Sinto alguém se sentar ao meu lado e levanto a cabeça para
ver Marco, como sempre me mostrando seu apoio, e mais a frente
está Henrique encostado na parede, conversando com Nino.
— Como você está? — pergunto tentando tirar o foco da
angústia que me sufoca.
— Bem! Nada que eu já não tenha passado antes. E ela?
— Acabou de sair da sala de cirurgia. Ela... — travo a
mandíbula tentando em vão prender a dor que sinto ao pensar no
bebê. — Ela estava grávida. Eu deixei que ele me tirasse mais uma
coisa.
— Sinto muito! — Ele aperta meu ombro em conforto.
— Você estava certo o tempo todo.
— Sobre o quê? — Me observa abatido.
— Eu deveria ter libertado ela e evitado que passasse por isso.
Mesmo que me perdoe, eu nunca vou esquecer disso. Prepare tudo
que ela precisar e peça a Nino que arrume suas coisas. Quando ela
sair daqui, quero que a leve em segurança para o seu país.
— E vai desistir dela depois de tudo que fez para tê-la?
— Não estou desistindo, Marco, eu estou libertando ela.
Porque eu a amo demais para ter sua morte em minhas mãos, e
Lorena merece alguém melhor do que eu.
— Você que sabe! Se é o que quer, irei providenciar tudo.
Encosto a cabeça na parede, sentido um cansaço me abater.
Eu perdi uma parte de mim agora, mas eu tenho que ser, ao menos
uma vez na vida, altruísta. Ela merece uma vida melhor que essa e
o melhor que posso fazer para provar meu amor é deixá-la ir
.
A enfermeira avisa que ela foi para o quarto, mas ainda está
sob efeito anestésico. Entro no pequeno cômodo que cheira a
desinfetante e álcool e paraliso ao vê-la pálida e frágil deitada na
cama, ligada por vários aparelhos e com uma intravenosa em sua
mão direita. Chego mais perto e toco as pontas dos seus dedos
gelados. Levanto sua mão com cuidado e trago aos meus lábios.
Aqui, entre só eu e ela, com as paredes brancas de testemunha, me
permito chorar feito uma criança. Passei anos me sentindo sozinho
e vivendo uma vida com apenas um objetivo em mente, mas quando
encontro uma chance de recomeçar depois que a tempestade
passasse, eu estrago tudo. Não tinha tudo sob as minhas mãos
como achei que tinha e fiz a pessoa que mais amo pagar caro por
isso.
— Oi, mia bella! Eu não sei se você pode me escutar, mas
quero te dizer que... — Respiro fundo. — Você foi a coisa mais
preciosa que eu tive. Eu não sei como será a sua reação quando
acordar e souber de tudo e sou muito covarde para ficar e ver em
seus lindos olhos, ódio por mim. Prefiro ficar com as boas
lembranças de você sorrindo e dizendo que me ama. Só peço que
se for possível,um dia possa me perdoar. Ficarei felizem saber que
teve a chance de superar, mesmo que seja longe de mim. Eu... Eu
te liberto! Quero que saiba que sempre vou te amar. Seja feliz,
minha coelhinha! — Beijo seus lábios com carinho.
Fico um tempo absorvendo cada detalhe de suas delicadas
feições pela última vez e saio deixando com ela a minha melhor
versão, parte do meu coração e todo o amor que um dia me permiti
sentir. Peço que Alec me leve embora, pois não estou em condições
de dirigir. Quando chego na boate, pego a última garrafa de whisky
que sobrou intacta, como se estivesse me esperando, e subo para
meu apartamento vazio e tão sem vida — exatamente como eu
estou me sentindo.
Olho para a porta na esperança de vê-lo entrar, mas quem
estou querendo enganar? Ele cumpriu com a sua palavra e eu o
admiro por isso. A única parte dolorosa disso tudo é que no
processo acabei me apaixonando por ele e isso não tem cura. Suas
palavras ainda queimam em minha cabeça.
“Eu...Eu te liberto! Quero que saiba que sempre vou te amar.
Seja feliz, minha coelhinha!”
Eu queria gritar com ele, dizer que não o culpava e que não
aceitava, depois de tudo, ele me deixar, mas eu não conseguia. Eu
sentia sua dor, sua raiva e seus medos dentro de mim porque
compartilhávamos os mesmos sentimentos. Mas como ajudar
alguém a se curar se nem mesmo você consegue estancar as suas
feridas? Talvez ele esteja certo em acabar com tudo. Nós dois
estávamos fadados ao fracasso desde o início e não iríamos dar
certo. Eu queria liberdade e ele me deu. Ponto final! Enfim eu
poderei ver a minha famíliadepois de anos separados. Espero que
eles me aceitem do jeito que sou hoje e me entendam, sem
julgamentos. A minha maior decepção seria enxergar nojo ou pena
nos olhos deles.
Quando a médica me explicou o que aconteceu, eu chorei e
me revoltei pela vida que perdi antes mesmo de ter nascido. Mas
nada me preparou quando Marco entrou pela porta e disse que
assim que eu ganhasse alta, iria para a casa. Senti um misto de
ansiedade, felicidade e decepção por Vincent não ter vindo ao
menos se despedir pessoalmente. Eu entendo, pois deve ser
doloroso para ele me ver partir, e o conhecendo bem, deve estar se
culpando por tudo que o aconteceu.
— Tudo pronto para a sua partida. — Marco avisa da porta. —
A vontade de perguntar por ele é imensa, mas me calo.
— Estou indo. — Pego minhas coisas e o acompanho para a
saída.
Depois de quase duas semanas de molho, finalmente fui
liberada do hospital. Fomos direto para o aeroporto. Marco e Nino
me acompanharam, ambos na maioria do tempo calados e apenas
fazendo seus trabalhos. Quando questionei sobre a ida dos dois,
Marco respondeu que era uma exigência do chefe, para me deixar
segura e entregue à minha família.Depois disso não questionei
mais nada e apenas entrei no avião, me permitindo curtir cada
momento de uma nova etapa na minha vida.

(...)

Saio do carro e olho para Marco, que ainda se mantem quieto.


Somente vi ele esboçar uma reação quando ligou para alguém, o
que não duvido ter sido Vincent.
— Diga a ele que sou muito grata por tudo o que fezpor mim e
pelas meninas.
Apenas movimenta a cabeça, sério.
— Ele pediu para que eu te entregasse isso. — Me passa um
envelope.
— O que tem dentro? — pergunto com medo de abrir.
— Dinheiro para recomeçar e fazer a sua faculdade. — Se é
possível, eu o amei ainda mais nesse momento.
— Diga que eu o agradeço. — Seguro a vontade de chorar. E
ele ainda se achava um monstro.
— Será dito, Lorena. — Nino, sempre mais educado, que me
responde.
— Obrigada!
— Se cuide! — Liga o carro dando partida.
— Você também!
Foram nossas palavras finais. Não mandei dizer que o amava,
pois ele já sabia disso e não faria sentido dizer para outra pessoa
passar esse tipo de recado. Agora estou aqui em frente a minha
antiga casa, sem saber como e a quem chamar. No portão vejo Vítor
se preparando para sair e eu o grito eufórica. Ele se vira me
analisando por um tempo.
— Vítor? Sou eu! A Lorena! Lembra?
— Olha, moça! Eu não sei quem é você e como me conhece,
mas pare de brincar com coisa séria. Respeite nossa dor e a
memória da minha irmã.
— Sou eu, mano! A sua bonequinha. — falo chegando mais
perto para que ele me veja melhor.
— Isso não é possível! Por favor
, pare de mentira.
— Me deixe provar que sou eu. Me pergunte qualquer coisa.
Ele cruza os braços me analisando.
— Me diz uma coisa que somente eu e Lorena saberíamos
então.
Sorrio porque isso é bem típico do meu irmão.
— Hum! Você me pagava para comprar camisinhas para você
porque tinha vergonha de entrar na farmácia e escondia sua revistas
pornôs em cima da caixa de descarga do banheiro. Você dizia que
eu e mamãe éramos pequenas para alcançar, então lá era o melhor
esconderijo.
Ele me olha de queixo caído e se aproxima mais, ainda
desconfiado.
— É você mesmo? — pergunta me olhando pálido, como se
estivesse vendo um fantasma.
Imagino que eu seja exatamente isso para eles, depois de
tanto tempo sem dar nenhuma notícia.
— Sim! Você mudou muito. — Sorrio em meio as lágrimas.
Finalmente se dá conta de quem sou, então vem correndo em
minha direção e me puxa para seus braços.
— E você também! Só tenho certeza de que é mesmo você
pela cor dos seus olhos, que são inconfundíveise que ainda te
fazem parecer uma boneca.
Rio do seu jeito molecão, exatamente como eu me lembrava.
— E a mamãe? — A insegurança bate forte por medo da
rejeição.
— Ela está lá dentro. Vamos entrar, que você tem muito a nos
contar, mocinha. Nós iremos querer saber de tudo, cada detalhe.
Não sabe o quanto sofremos sem você. — diz atropelando as
palavras, me fazendo rir de novo.
— Eu prometo contar tudo que vocês queiram saber, mas me
deixe ver a mamãe primeiro. Estou com muitas saudades!
O carro que até o momento estava parado a uma distância
segura com Marco e Nino dentro, acelera passando por nós e vai
embora. O olho com pesar e com uma certa saudade, mas sei que
vou ficar bem. Entramos em nossa pequena casa e mamãe está de
costas na pia com sua longa saia florida e um turbante da mesma
estampa na cabeça.
— Mainha? — pergunto chegando mais perto.
Como em câmera lenta, ela se vira e arregala os olhos
deixando os pratos que enxugava caírem no chão.
— Lorena?! — Arregala os olhos e coloca as mãos na boca, já
chorando. — Oh, minha mãe abençoada! Você a trouxe de volta!
Me abraça apertado, e como Vítor fez,me analisa para ver se
sou eu de verdade. Viramos uma bagunça de lágrimas salgadas.
— Oh, Mainha! Como sonhei com esse abraço. — Beijo seu
rosto e alguns fios brancos dos seus cabelos se desprendem do
turbante, marcando sua idade.
— Eu achei que nunca mais fossevê-la, minha filha.Eu quase
morri a sua procura e não te achamos em canto nenhum. Me conte
o que aconteceu com você! Temos que ir na delegacia e avisar que
te encontramos. Vítor, vá chamar suas tias! Elas precisam saber!
— Eu sei que tenho muito o que explicar, mas me deixe sentar
um pouco e curtir vocês dois. Mais tarde nós iremos fazertodos os
procedimentos necessários, okay?
Depois de perguntar por todo mundo e saber como foram
todos esses anos que estive fora, contei uma versão resumida do
que aconteceu comigo, deixando de fora a parte sobre o Vincent e
os mafiosos. Apenas falei sobre o meu sequestro e sobre a casa da
qual fui submetida a ficar, sendo escravizada, e como foi meu
resgate. De uma forma meio tosca, não quero que ela tenha raiva
dele e o culpe por tudo o que aconteceu comigo. Ficou no passado
e eu só quero seguir em frente a partir de agora, ou ao menos
tentar.
A casa vira uma bagunça de gente a minha volta entrando e
saindo, querendo me ver com os próprios. Até Karen veio com seus
filhos me visitar e colocar um pouco do nosso papo em dia, ou
melhor dizendo, ela me contou sobre a sua vida, porque eu fiquei
insegura de falar sobre mim.
Não pude deixar de pensar nele em várias das ocasiões em
que alguém falava ou fazia algo que me lembrava ele, mas tentei
jogar no fundo da mente e me convencer de que esse foi o nosso
fim e um novo começo para mim.

(...)

CINCO MESES DEPOIS

Estar de volta em casa é muito estranho. Nos primeiros dias eu


não saí e também não quis falar com mais ninguém os detalhes
sobre o que aconteceu. Mamãe e Vítor já sabiam e isso era o mais
importante. Depois passei a falar apenas o necessário e sem entrar
em mais detalhes, para os curiosos. Porém, esse era o foco das
conversas dentro da nossa família.Todos perguntavam a mesma
coisa e eu já não tinha mais paciência para responder tantas
especulações. Eu percebia que eles me tratavam diferente,como se
eu fosse quebrar, e alguns com certa desconfiança, como se tudo
que eu falava fosse mentira. Não me passava despercebido suas
expressões e olhares de incredulidade. Issoporque eu nem contei a
parte da prostituição.
Não conseguia ser a mesma de antes e eles ficavam
esperando por isso. No nosso primeiro almoço em famíliaeu tentei
me enturmar e sair com os primos para as festas, mas não tinha
jeito. Me sentia deslocada. Fomos em uma boate, e lá, como era de
se esperar, me senti a vontade, consegui me soltar e até me
arrisquei a dançar. Foi a primeira vez em dias que me senti feliz,só
que foi uma felicidade momentânea, pois assim que o efeito do
álcool passou, eu voltei a me sentir vazia e solitária. O quão
estranho isso era? Eu queria voltar a ser a Lorena de antes: alegre,
risonha e que fugia de casa para ir às festas às escondidas. Porém,
essa parte de mim não existia mais, e eu achei que iria recuperá-la
quando chegasse aqui, e que tudo seria diferente,mas me enganei.
Criei expectativas demais e fiquei decepcionada comigo mesma
quando não foi do jeito que eu imaginei.
Eu não queria ser julgada ou mal compreendida, então na
maioria das vezes ficava sozinha e me isolava para evitar que
alguém tocasse nesse assunto novamente. Uma hora ou outra eu
me pegava pensando em Vincent e espantava com dor no coração
as lembranças. A primeira vez que saí sozinha, achei muito
estranho estar em meio a tanta gente. Ficava olhando por cima dos
ombros com a sensação de que tinha alguém me vigiando e temia
ser sequestrada de novo. Eu não conseguia ser totalmente normal e
parecia paranoica.
Tanto que lutei para ser livre e tudo parecia sem sentido agora,
já que ainda assim uma parte minha estava presa em Los Angeles
com ele. A maldade maior que ele me fezfoifazereu me apaixonar,
somente para me empurrar depois que eu já tinha caído de amores.
Sua atitude por mais altruísta que fosse, ainda assim, foi insensível
em ter simplesmente se afastado. Sinto sua falta, do seu corpo, de
suas palavras de carinhos e dos seus toques. Ainda doem todas as
vezes em que me pego lembrando dos nossos momentos juntos e
penso que eu não os terei mais.
Eu fui dando passos pequenos a cada dia e tentava a todo
custo reaprender a viver em meio a esse novo mundo que me foi
apresentado. Mainha me incentivou a procurar ajuda psicológica,
mas fuiem três seções e não consegui ir mais. Não tive coragem de
me abrir. Eu sentia que a psicóloga não iria me entender e ia acabar
me julgando. Eu não conseguia explicar o porquê desse buraco
dentro de mim. Quer dizer... Eu sabia que uma parte era por conta
dele, mas quando chegava a essa conclusão, eu me recriminava e
guardava na caixinha que criei mentalmente de assuntos proibidos.
E assim eu vivia a minha atual vida, tentando passar por um dia de
cada vez e fingido que estava tudo bem.
— Lorena?
— Sim, Mainha!
— Filha? Há algo que não me contou e que tem lhe
incomodado? Eu vejo que você está sempre suspirando pelos
cantos e parece que não está aqui completamente.
— Estou tendo dificuldade em sair e fazer amizades. Me
inscrevi na faculdade e nem consegui assistir as aulas sem me
sentir fora do lugar.
— Oh, querida! Levará um tempo até se acostumar com a vida
aqui fora. Você deveria continuar com as suas consultas e sair mais
com suas primas.
— Eu nem consigo falar com as pessoas que eu conheço.
Como vou falar com os estranhos?
— Olha o filho da Cidinha! Ele faltou comer você inteira
quando te viu. Saia com ele, vá ver gente e curtir a vida! Está jovem
para ficar trancada em casa.
— É tão estranho ver a senhora me mandando sair e me
incentivando a namorar. A minha cabeça dá um nó. — Rio me
lembrando de como era antes.
— O tempo passou e hoje você é uma mulher jovem e bonita.
Não tem porque se prender e não aproveitar o que a vida tem de
melhor.
— Eu sei! Eu juro que estou tentando! — E é verdade.
— Vamos cortar o tempero e fazeraquela moqueca que eu sei
que você gosta. Vou te lembrar de todas as suas travessuras e já,
já, estará se sentido você novamente.
Apenas sorrio concordando, não querendo deixar que se
chateie comigo ou me venha com mais perguntas.
A cada história que mamãe contava, eu sentia que era sobre
outra pessoa e isso me matava aos poucos. Talvez ela tenha razão
e eu precise ao menos tentar seguir em frente e esquecê-lo de vez.
E quem melhor seria do que outra pessoa totalmente diferentedele?
Não custa tentar e ver o que vai dar.
UM ANO DEPOIS

Meses sem ela. Meses de agonia sabendo apenas o básico


pela boca dos outros, sobre como ela estava. Eu me afundei no
trabalho, me arrisquei mais do que acostumava, me testei e coloquei
em segundo plano qualquer sentimento que sentia, apenas para
continuar sobrevivendo. Marco voltou alguns dias depois e Nino
ficou para trás. Eu queria ter a certeza de que ela se adaptaria e que
nada aconteceria para atrapalhar isso. E enquanto ela estava
reaprendendo a viver, eu me contentava com os vídeos que Nino
me enviava constantemente dela. Eu a via indo para a faculdade,
saindo com a famíliae dançando na boate. Me embebia de suas
imagens para aplacar a dor que eu sentia com sua partida.
Eu estou me sentindo tão perdido, sem um objetivo. Tudo
parece sem graça e sem cor, e para diminuir minha solidão, eu saia
para caçar os traidores. Fiz da sua ausência um combustívelpara a
minha vingança. Eu destrocei, manipulei e burlei todas as leis que
foram criadas, apenas para me sentir vivo de novo. Deixei que a
sede que eu sentia dela, fosse como heroína em minhas veias, me
impulsionando a continuar minha luta. A cada tiro que dei, a cada
pessoa que torturei e matei, era para descontar as frustações de
não tê-la comigo. Mas quando a adrenalina passava e eu me
afundavaem meu escritório com uma garrafa de bebida nas mãos,
era quando eu me sentia drenado, sozinho e carente dos seus
sorrisos, dos seus beijos e do seu corpo acolhedor, quente,
apertado e gostoso recebendo o meu e me causando sensações
indescritíveis,que só ela me proporcionava. É um inferno!Até tentei
buscar em outros corpos o alívio que procurava, somente para me
chatear ainda mais, pois não era o dela.
Dias depois de sua partida, Luigi conseguiu fugir do hospital
em que estava recebendo atendimento, e daí foram semanas o
procurando. Minha parte eu tinha feito ao FBI e eles o deixaram
escapar debaixo dos seus narizes. Nem fizeram questão de
procurá-lo, já que tinham outros cabeças da investigação em suas
mãos, que eu mesmo entreguei: políticos, juízes, empresários e
homens do mais alto escalão admirados pela mídia e pelo público
em geral. Um prato cheio para o FBI, que ganhou todo o crédito pela
queda do tráfico.
Foi difícilencontrá-lo e quebramos a cara várias vezes com
pistas falsas implantadas de propósito, mas a sua escapada não
durou muito tempo. Graças a aliança que ele tanto quis firmar com
os Vitiello, entramos no México e o achamos escondido em um dos
pontos sob o poder do quartel dos Montez, que nada besta preferiu
entregá-lo do que ter problemas com duas organização diferentes.E
assim meu adorado tio veio parar em minhas mãos para meu tão
esperado e merecido acerto de contas.
Entro no galpão e o vejo amarrado na cadeira, com arame
farpado.— Cortesia de Marco, que adora deixar nossos convidados
à vontade.
— Sentiu saudades, Luigi? — pergunto com deboche. —
Espero que a festa de boas-vindas esteja do seu agrado.
Ele me olha com raiva.
— Eu deveria ter acabado com você quando tive a chance.
— Deveria! Só que agora a chance é minha e pode ter certeza
de que não irei ser sentimental e fraquejar com você de novo.
— Nossos convidados especiais chegaram. — Marco diz
entrando acompanhado de Lucca, Enzo e Henrique.
— Isso vai ficar interessante e muito divertido. Já que sou o
anfitrião, nada mais justo do que eu começar.
Vou até a mesa de metal, onde todas as minhas ferramentas
de diversão estão espalhadas. A primeira que pego é o maçarico
profissional, comprado especialmente para ele.
— Você traiu a nossa família, e como punição, merece a
morte. Porém, antes que possamos começar, vou apagar o símbolo
da Camorra. Você não merece tê-lo no seu corpo.
Ligo a ferramenta e levo ao seu braço, onde está esculpida a
tatuagem. Ele grita quando a chama de temperatura de mil e
quatrocentos graus entra em contato com a sua pele, fazendo
derreter a carne instantaneamente.
— Por favor!Para! — grita em desespero e eu me congratulo
com isso.
— Quantas meninas devem ter dito essa mesma frase e você
não ouviu, hein?
— Chega! Eu sou seu pai e você deveria me agradecer por ter
sido o único a te contar toda a verdade. — Ignoroa parte sanguínea
que não me comove nem um pouco.
— Desculpe! Se eu não fizesse isso, outro iria fazer em meu
lugar. Você me ensinou isso, lembra? Aguente firme! Estou te
ajudando a purificar seu corpo e a se acostumar com o calor que
encontrará no lugar para onde vai.
— Seu desgraçado! É melhor me matar, porque se me deixar
vivo, eu vou acabar com todos vocês!
— Não se preocupe! Nenhum de nós tem a intenção de ter
misericórdia. — Henrique completa.
Continuo a tortura por mais um tempo, e quando me dou por
satisfeito, eu desligo e passo para a próxima etapa. Pego uma
tesoura de jardineiro e volto para onde ele está. O suor e o sangue
se mesclam com o cheiro de carne queimada.
— Essa parte vai ser em homenagem a cada uma das
meninas que você sequestrou e estuprou sem nenhuma piedade, e
isso inclui a minha Lorena. — Levo a tesoura para o meio das suas
pernas enquanto. Enquanto ele dá seus gritos de protesto, eu corto
seu pau fora, o levantando na sua frente e enfiado em sua boca. —
Já que gosta tanto de abusar de crianças, espero que em seus anos
de experiência, você saiba se dar prazer.
Os homens a nossa volta riem da cena e eu passo a vez para
Marco, que estava ansioso por esse momento tanto quanto eu.
Quando ele termina sua parte, precisamos fazeruma transfusão de
sangue no imbecil, que teve uma parada cardíaca. Deixamos ele
descansar por um tempo, apenas para começarmos tudo de novo.
A maior surpresa foi quando Henrique confessou que a sua
vingança foi por Eva Moretti, nos deixando chocados com a
revelação de que ele era tio de Marco, por ser irmão da mulher que
foi enganada por Luigi e jogada em um bordel. Também confirmou
depois, apenas para mim, que meu pai havia lhe confessadoque eu
não era mesmo o seu filho, porém, ao contrário do que Luigi tinha
me contado, minha mãe nunca foi prometida ao desgraçado, mas
sim ao meu pai Matteo, só que Luigi no intuído de burlar as regras, a
dopou e a violentou. Meu pai, como a amava, assumiu mesmo
assim o compromisso e me registrou como dele quando a gravidez
foi confirmada.
A minha raiva foi a nível máximo com mais essa descoberta,
ao saber que desde o início ele vinha prejudicando a minha família.
Só não entendi o porquê papai não o matou na época, se ele era o
capo e ninguém iria contra o que ele fizesse.Mas depois de pensar
bem, cheguei à conclusão de que mamma deve tê-lo impedido, já
que odiava vingança e tudo que vinha com ela. Ao menos agora,
tudo acabou e vou ter paz de espírito para continuar com a minha
mudança na organização.

(...)

O dia da minha posse como novo chefe chegou. Ao me sentar


na mesa e olhar a festa que os hipócritas fizerampara comemorar,
me dá ânsia. Metade dos que estão aqui, sabiam de tudo o que
Luigi tinha feito, mas nenhum se deu ao trabalho de levantar o
tapete e limpar a sujeira. Agora, os mesmos que se sentavam na
mesa com ele e se diziam seus amigos, me congratulam por tê-lo
matado. Bando de idiotas! Duas caras!
— Agora que é o novo chefe,tem que se casar. Não pega bem
um homem com seu cargo, não ter uma boa mulher do lado. —
Carlo diz querendo me pressionar.
— Luigi ficou viúvo e não vi nenhum de vocês o pressionando
para casar de novo.
— Ele já era macaco velho, mas você ainda é muito jovem e
precisará de herdeiros em breve.
Meu peito aperta com a lembrança do que perdi.
— Na hora certa eu tomo essa decisão. — eu respondo, e logo
após, ele se levanta e sai.
Até mesmo porque a única pessoa que desejo e quero ao meu
lado, está há quilômetros de distância.
— Você não parece muito feliz. — Henrique diz se sentando ao
meu lado.
— Estou radiante!
Ele ri baixinho.
— Estou vendo. Porque não vai buscá-la?
— E causar outra guerra? Não, obrigado! — A verdade é que
eu queria fazer exatamente isso.
— Você nunca foi de fugir de uma batalha. O que aconteceu
com o cara que praticamente sozinho conseguiu o que nem eu e
seu pai juntos conseguimos?
— Estou cansado. Só quero um pouco de sossego.
— Eu sei que como seu conselheiro, deveria te dizer o
contrário do que vou falar agora, mas um amor como o de vocês
não se encontra muitos por aí.
O encaro tentando ver se é realmente ele me falando isso.
— Você falando de amor? Cuidado! As pessoas podem achar
que está ficando mole. — o provoco.
— Fraco é o homem que se limita a não amar em meio a vida
miserável que levamos. Seu pai amava sua mãe e nem por isso
deixou de ser o melhor capo que tivemos. Eu estou feliz com as
minhas decisões. E você? — Olha para onde Giovanna está
sentada, um pouco distante de nós, conversando com as outras
mulheres.
— O casamento parece ter te feito bem. — aponto o óbvio.
— Vamos dizer que eu passei a ver a vida de outra forma
depois que uma bela italiana de sangue quente entrou nela. —
Sorrio de sua fala. — Realmente! As coisas são muitos estranhas e
eu só posso agradecer por ter sido dessa forma.
— Entendo! — Sei bem como ele se sente.
— Eu vou chamar minha belladonna para dançar. Se quer um
conselho de amigo... Lute por sua mulher! Eu nunca tinha te visto
tão felizcomo você era quando estava com ela. Hoje você parece a
casca do homem que foi quando a tinha.
— Eu prometi não ir atrás dela quando eu dei sua liberdade.
— Nós somos mafiosos, Vincent. Não desistimos do que
queremos e vamos até as últimas consequências para conseguir.
Sai me deixando com suas palavras fervilhando em minha
cabeça e em meu coração teimoso, que pulsa somente por ouvir
seu nome.
Ando pela festa somente para marcar presença e depois saio
para ir me esconder em meu refúgio. Fico vendo suas fotos, seus
vídeose sentindo seu cheiro nas roupas que ficaram para trás. Me
martirizo pelas coisas não terem sido diferentes.A vozinha incidente
no fundo da minha mente bate na mesma tecla e fazas palavras do
Henrique ficarem me torturando a todo o momento.

(...)

Sento na mesa com os outros membros do conselho e analiso


com cuidado cada palavra que irei falar.
— Estou curioso por essa reunião. — Francesco diz recebendo
um coro de afirmações.
— Convoquei cada um de vocês para deixar claro que a partir
de hoje está estritamente proibido o tráfico humano e a pedofilia
dentro da organização. E qualquer um que ousar me desobedecer e
fazerpelas minhas costas, irei considerar como uma traição e puni-
los com a morte.
— Você deixou isso bem claro na última reunião e todos aqui
estamos de acordo que esse assunto nos trouxe muita dor de
cabeça. — Alessandro toma a frente dos demais.
— Ótimo! Também quero informar que minha noiva será de
nacionalidade brasileira e estaremos nos casando assim que eu a
buscar.
— Mas isso é uma afronta! Uma estrangeira dentro da máfia?
Não dará certo! Ela não conhece nossos costumes e não saberá se
portar em público. — é a vez de Anthony abrir a boca.
— Eu lhe garanto que ela conhece mais da máfia do que
qualquer uma de suas esposas e filhas juntas.
— Ela nunca será aceita por nossa famíliae pelas outras
mulheres. Com tantas opções, você quer logo uma de fora? Vai criar
especulações e logo todos acharão que você não será um bom
capo. — Felippo retruca.
Rio sem vontade alguma.
— Engraçado que vocês não se importavam de enfiar seus
paus nas bocetas estrangeiras que eram traficadas, não é? Pois eu
desafio qualquer um a vir dizer na minha cara que eu não serei um
bom chefe depois de tudo que eu fiz para afamiglia.
— A questão não é o que você fez,mas sim o que faráa partir
de agora. Um homem na sua posição não deve se deixar levar pela
boceta de uma vagabunda qualquer. — Giany, filho mais novo de
Anthony, fala do fundo da sala, estufando o peito.
— Ele está falando por você, Anthony?
— Não! — Arregala os olhos.
— Qual dos seus filhos será o seu sucessor?
— Lorenzo! — responde rápido.
— Bom! Então não precisará desse, certo? — Puxo a arma e
acerto o tiro no meio da testa do atrevido que me desrespeitou em
frentea sala cheia de homens governados por mim. — Mais alguém
nessa mesa acha que serei conduzido por meu pau e não farei o
meu trabalho direito?
Um silêncio absoluto reina na sala e todos me olham receosos.
— Quero lembrá-los de que muitos estão como subchefespelo
bem da família e porque não irei prejudicar a organização por
desavenças pessoais. Eu espero que saibam valorizar esse voto de
confiançae me respeitem como capo. Passem esse recado para as
suas esposas e filhos também. Se eu souber que alguém andou
cercando e maltratando minha mulher, a conta a se pagar será bem
alta.
Todos concordam com minhas falas e saem com o rabo entre
as pernas.
— Quero que saiba que ao contrário do meu pai, fico felizque
esteja no comando. — Lorenzo diz puxando meu saco, achando que
não enxergo além dele e de suas palavras vazias.
— Ótimo! Eu também fico feliz por saber que não tenho mais
um inimigo para me preocupar. Retire seu irmão daqui e faça os
procedimentos necessários.
— Quando vamos para o Brasil? — Marco pergunta assim que
todos desocupam a sala.
— Agora!
Ele ri.
— Eu sabia que não ficaria longe dela por muito tempo. Você
até que demorou para tomar essa decisão. Foi mesmo amarrado
pelas bolas! — Zomba.
— Até parece que você não anda vigiando cada passo de uma
certa garçonete por aí. Está sem moral para me zoar, amigo.
Passo por ele, rindo da sua cara de espanto. Ele acha que não
sei dos seus passos. Estou só esperando o momento que irá se
render pelo seu pequeno anjo loiro.
Hoje vim até a praia para entregar a minha oferendaà Iemanjá
em agradecimento pela sua proteção e por tudo o que fezpor mim.
Mesmo sendo uma filha relapsa e que só agora teve coragem de
pagar a promessa, como a mãe bondosa e amorosa que ela é, eu
sei que me entende e sabe que não fiz por mal.
— Minha protetora Iemanjá. Enfermeira dos que sofrem,
consoladora dos aflitos e conselheira dos angustiados. Mãe de
todos. Te agradeço por todas as graças que me concedeu. Indigno-
me de tua áurea luminosa e rendo-te minha homenagem, rainha das
águas, que contribui caridade e amor entre todos os seus filhos. Eu
te agradeço, minha mãe, por me atender nas horas que recorro a
teus poderes. Divinas graças te dou pelas tuas radiações
milagrosas. Eu agradeço dizendo obrigado por tua proteção
constante e tudo que tens me proporcionado. — Agradeço baixinho
enquanto o barquinho com as velas e as flores vai embora sendo
levado pelas ondas do mar.
Eu ouso pedir que ela tire do meu coração essa sensação de
solidão por não pertencer a lugar algum. Eu não quero ser fraca, eu
quero ser forte.
Voltei a fazera terapia e em meio a uma de nossas conversas
saiu o assunto síndrome de estocolmo, onde a psicóloga apontou
que minha ligação com Vincent é devido ao relacionamento forçado
que tivemos e que eu enxerguei nele um herói que não existe.
Segundo ela, isso não é um sentimento saudável. Fiquei calada.
Como eu poderia explicar a ela, que do jeito torto dele, ele me
protegeu, me amou e eu o amei de volta? Que dentro dele existe um
menino quebrado e forçado pela máfia a ser o que era? Eu via
dentro dele um homem bondoso, com medos e inseguranças, como
qualquer ser humano. Eu estava ao seu lado quando ele acordava
suado e gritando porque as lembranças do seu treinamento o
perseguiam até mesmo quando dormia. Ela não entenderia. Quem
não nasce na máfia, não consegue enxergar nada além dos seus
crimes e do que a mídia fala.
Eu vi nele, desde a primeira vez em que fui atrás dele no
banheiro, o que ele tentava esconder. Porra! Ele se achava um
monstro, um ser sem alma. Quantas vezes o vi se afastar dizendo
não ser bom para mim, que não valia nada e que eu merecia coisa
melhor? Eu estava lá quando se culpou pelas mortes das garotas
que Luigi matou. Eu vi sua luta dia após dia para me provar que não
era igual ao tio. E conseguiu! Apesar do que faz, ele tem um
coração bom e tem amor para dar. Ele só não conseguia se
expressar e muitas das vezes tinha que esconder e usar uma
máscara de homem frio, para não sofrer .
Eu o amo mesmo vivendo na vida em que nasceu e fazendo
tudo o que fez. Eu o compreendo porque comigo ele era apenas
meu Vincent. As pessoas julgam o que não conhecem, pois é mais
fácil assim do que tentar olhar por um outro ângulo desconhecido.
Eu fui assim no início também, e continuo não concordando com
muita coisa que existe lá dentro, mas ele estava fazendoas coisas
certas e seguindo outro caminho. Isso deve contar alguns pontos.
Olho o balançar do mar e não deixo de me comparar a ele
nesse momento: bonito e ao mesmo tempo turbulento, com uma
imensidão de possibilidades e ainda assim, dentre elas, existe a
escolha errada que pode levá-lo a morte.
Me levanto da areia e começo a andar na calçada a beira da
praia para voltar. Estou tão despercebida que não notei na minha
frenteum carro parado e o homem que tem povoado todos os meus
sonhos, encostado nele, parecendo uma miragem em meio ao
deserto seco. Paro de andar e o olho com calma, verificando se
realmente estou o vendo ali ou se estou começando a ficar louca.
— Vincent?! — sussurro.
— Mia bella
! — falacomeçando a dar alguns passos em minha
direção.
Ele para a uma distância segura, meio indeciso e com as mãos
no bolso da calça. Nesse momento volta a ser o meu menino
inseguro e machucado.
— O que fazaqui? — pergunto ainda não acreditando que ele
está na minha frente.
— Sabe? Eu estava esperando outro tipo de recepção. — ele
diz me avaliando.
— E esperava o quê? Que eu soltasse fogos?
Ele arqueia a sobrancelha e dá um sorriso safado.
— Vim buscar o que é meu! Eu não consigo ficar longe de
você, coelhinha, e pelo que vejo, você também não.
— E como sabe disso? Eu poderia ter me adaptado e estar em
um outro relacionamento, inclusive.
Ele trinca o maxilar e vejo em seus olhos o fogo queimando.
— Se isso fosse verdade, eu jamais viria aqui. Mas nós dois
sabemos que não é assim que tem vivido. Você mal sai de casa e
nem para a faculdade, que tanto queria fazer, não foi mais. —
Inclina a cabeça me olhando.
— Está me espionando?
— Vamos dizer que mantive um olho em você.
Meu queixo cai.
— Então era por isso que eu me sentia sendo vigiada? — falo
mais para mim do que para ele. — Quem?
— Nino. Ele me manteve atualizado com informações diárias
suas.
Corro até ele, mas como uma pessoa nada normal que sou e
mesmo morrendo de saudades por estar sem vê-lo há muito tempo,
em vez de beija-lo, eu dou primeiro uns tapas nele por ter me jogado
para longe sem sequer me dar a chance de dizer algo. Ele apenas
fica lá recebendo as pancadas até eu ter minhas mãos doendo e
parar.
— Isso foi por você ter me empurrado para longe! — Ele
balança a cabeça apenas concordando com o que falo. — E isso é
por mesmo de longe, ter se preocupado comigo! — O puxo pela
camisa e bato minha boca na dele, saboreando seu gosto único:
uma mistura de cigarro com bala de menta.
Suas mãos me firmam no lugar e eu agradeço por ele fazer
isso, pois estou de pernas bambas. Seus toques me têm gemendo
em seus braços de músculos firmes que tanto senti saudade.
— Senti tanto a sua falta! — diz encostando sua testa na
minha.
— Eu também! Achei que você não queria mais me ver.
— Só eu sei o quanto foi difícilme manter longe de você todo
esse tempo. Eu não queria quebrar a minha promessa.
Alisa meu rosto com carinho.
— Mas quebrou. E a pergunta é: por que demorou tanto?
Ele joga a cabeça para trás, soltando uma gargalhada gostosa.
Amo seus sorrisos e amo ainda mais saber que sou a causa deles.
— Por você, eu quebro todas, miabella ! Eu estava colocando
a casa em ordem antes de vir atrás de você.
— O quanto está disposto a me convencer a voltar? —
provoco.
— Eu sou um mafioso inescrupuloso e capaz de tudo pela sua
amada.
Rio da sua cara pau.
— É bom que esteja preparado para muitas provas e disposto
a ceder um pouco mais, seu cretino.
— Vai ser difíc il, mas vou deixar que façaa sua escolha, e irei
respeitar, seja ela qual for.
Ele me estende uma de suas mãos.
— Vai me deixar vir visitar a minha famíliasempre que eu
quiser?
— Estamos negociando? — Franze a testa, me avaliando.
— Sim! Prefiro que me fale agora, antes que eu caia em sua
lábia de novo. Sem usar chantagem e sem promessas quebradas
dessa vez.
— Tudo bem, senhorita! Manda bala!
Faço careta com a menção da palavra bala, o fazendo rir. É
tão bom vê-lo mais relaxado, sem a pressão em seus ombros, que o
deixava sério e fechado.
— Chega de bala por um tempo. Não sou uma prisioneira e
quero poder sair para fazer as minhas coisas e vir ver a minha
família quando tiver saudade.
— Tudo bem! Desde que aceite e entenda que precisará de
seguranças o tempo todo ao seu lado. E isso é inegociável. Eu
apoio que você seja independente.
Bom! Estamos quase chegando lá.
— Não vou ser “a outra” se afamiglia
não me aceitar.
— Eles obedecem a seu chefe e eu sou ocapo deles agora. —
Pisca para mim. — E um chefe precisa de uma bela esposa ao seu
lado.
Olho para ele buscando sinceridade em suas palavras.
— Está me pedindo em casamento?
— Sim! Só que quando eu for fazer o pedido oficial, não será
de qualquer jeito e sem um anel descente para colocar em seu
dedo. — Beija meus dedos suavemente.
— Ounty! Você sendo romântico é tão fofo!
— Vou te mostrar o quanto mais romântico e fofoeu posso ser
depois. — Me sinto pulsando com a promessa velada de tê-lo em
mim de novo. — Então, senhorita Lorena Ávila, aceita ser minha?
Irreversivelmente dessa vez!
Coloco a mão no queixo, pensando por um tempo, o que faz
ele semicerrar os olhos. Sorrio para a sua impaciência e coloco
minha mão na dele.
— Claro, meu lobinho favorito!
Ele rosna me puxando para beijar meus lábios mais uma vez.
— Vamos sair logo daqui, antes que eu te foda bem ali, com
você jogada no capô daquele carro.
— Que selvagem! Bem seu estilo fazer isso mesmo.
Ele sorri me puxando apressado para o carro e dá partida para
sairmos daqui.
Olho para trás e não vejo mais a minha oferenda, mas sorrio
para o mar na esperança de que minha deusa mãe me veja felize
sinta toda a minha gratidão pelo seu imenso amor por mim e por me
fazer ser amada, de um jeito torto e nada convencional, por um
homem que passa longe de ser perfeito, mas que é incrível para
mim com todos os seus defeitos.
Chegamos tão rápido ao hotel onde me hospedei, que nem vi.
Estávamos tão sedentos um pelo outro que mal abrimos a porta e já
estávamos nos devorando. Era como se todo esse tempo
estivéssemos perdidos em um deserto e de repente
encontrássemos um oásis. E não está tão longe da verdade, pois é
exatamente assim que me sinto.
Viramos uma confusão de toques, beijos e roupas espalhadas
por todos os lados, loucos para termos mais um do outro e aplacar
esse fogo ardente. Somente nós dois entendíamos a causa da
nossa necessidade, dessa ânsia e de querer mais. Boca na boca,
língua com língua, corpo no corpo, e enfim, coração com coração.
Deito ela na cama e espalho beijos por todo o seu delicado
corpo. Ela está mais magra. Eu vinha acompanhando de perto seu
progresso e vibrava a cada conquista que minha menina dava, mas
também me preocupei quando a vi se perder de si mesma. Não
suportei saber que estava se isolando e se afastando de todos. Me
doía sua expressão de tristeza, e a cada passo que ela dava para
trás, eu me sentia mais culpado ainda. Quando Nino me disse que
até mesmo em suas consultas, ela não ia mais, eu sabia que era
grave e tinha que me meter. Não suportaria vê-la se diminuindo e
achando que tudo que passou a tornaria incapacitada e diferente
das outras pessoas. Eu achei que a enviando de volta para sua
família, iria ficar feliz e se sentir completa de novo. Eu queria que ela
se curasse, e que se algum dia viesse atrás de mim, fosse por sua
decisão. Eu esperaria o tempo que precisasse, porque ela vale a
pena.
Toco a pequena cicatriz em sua barriga, da qual me lembrará
de nunca mais errar ou hesitar em minha vida. Um descuido meu a
fez perder o fruto do nosso amor, e de quebra, quase a perdi
também. Essa marca a fazainda mais bela para mim e me mostra o
quanto ela foi forte e corajosa até o último minuto.
— Miabella ! Senti tanta saudade de você e do seu corpo. —
Subo meus lábios de encontro aos seus. — Eu temi que você se
apaixonasse por outra pessoa e me esquecesse.
— Eu tentei! Mas não consegui seguir em frente.Eu sou sua e
sempre serei.
Eu sabia que ela saia com o vizinho da sua família.Foi a parte
mais dolorosa de assistir.
— Eu sei, mio amore! E não posso deixar de me culpar por
isso. Você merece alguém melhor do que eu.
— Eu não quero que você se culpe, Vincent, e nem que ache
que não é bom para mim. Eu quero esquecer isso! Só me ame,
como sempre fez.
— Tudo que você quiser, coelhinha!
Ela sorri me puxando para ela. Feito uma sincronia perfeita,
nossos corpos se unem em um só, e nesse momento eu me sinto
completo, como se somente agora voltasse o ar para meus pulmões
e eu pudesse respirar de novo. Pode parecer piegas para muitos,
mas eu sou completamente louco por ela. Existem apenas duas
versões de mim, e uma delas, somente Lorena conhece e trouxe à
tona.
Balanço meu quadril entrando e saindo da sua doce boceta, da
qual sonhei noite dia e me dei prazer com minha mão imaginando
estar assim com ela. Enquanto eu estava empenhado em ensiná-la
a fazer amor, ela me ensinou a amá-la irremediavelmente, e foi
muito difícil ficar todo esse tempo sem tê-la em meus braços.
— Vincent! — balança seu corpo junto com o meu quando bato
no ponto dentro dela, que sei que a deixa louca.
— Vem para mim, amor! Me dê todo o seu prazer!
E ela vem forte, gritando, pulsando e me apertando feito um
punho de aço, me levando junto quando se entrega a mim como
sempre fez, de corpo e alma. Coloco meu rosto na curva do seu
pescoço, sentido seu cheiro único e inconfundível,para recuperar o
fôlego. Ela acaricia meus cabelos da nuca me fazendo arrepiar.
Levanto para vê-la sorrindo e é impossível não retribuir
.
— Tudo bem? — pergunto admirando suas bochechas
coradas.
— Sim! — Toca em minha barba, com o maior com carinho,
me fazendo fechar os olhos e apreciar seu toque. — Eu te amo!
Muitas vezes ansiei ouvir essas palavras de novo, quando
estava no fundo do poço, sozinho, e pensando nela.
— Eu também te amo! E muito! — Beijo sua mão.
Deito de lado, colando seu corpo ao meu, e coloco sua cabeça
em meu peito. Acaricio seus cabelos que estão cortados em um
estilo mais curto, porém não menos bonito. A deixou com um
aspecto mais mulherão. Ela poderia ter os cortado em estilo
“Joãozinho”,que provavelmente eu ainda a acharia a coisa mais
linda do mundo. Droga! Eu virei mesmo um desses caras amarrados
pelas bolas. Fico um tempo olhando-a, com medo de dormir e
quando acordar perceber que foi um sonho, mas o cansaço da
viagem e o nosso encontro me deixaram esgotado. Fecho meus
olhos e me permito, depois de mais de um ano sem ela, dormir
tranquilo.
(...)

— Então quer dizer que você é o novo capo? Isso significaque


Luigi morreu? — pergunta curiosa enquanto comemos o lanche que
pediu para nós.
Eu a atualizo dentro do que posso falarsobre como foiem Los
Angeles sem ela por lá.
— Sim. Acabou, mio amore
! Não se preocupe com isso.
— Bom! Não vou ser hipócrita e dizer que sinto muito. Me
preocupo, na verdade, é sobre o que os outros membros irão falar
quando me ver com você.
— Não irão falar nada. Já deixei claro minha decisão e eles
tiveram que aceitar.
— Sem uma luta? — questiona duvidosa.
— A maioria deles está com medo de perder seus cargos,
agora que não têm mais Luigi para passar a mão em suas cabeças.
Então, mesmo não gostando, eles não irão mais se meter.
Não quero dizer para ela que tive uma grande dor de cabeça
quando reuni o conselho e contei minha decisão. Não quero
preocupá-la.
— Eu comecei a fazer a faculdade de enfermagem e não
consegui continuar, pois não me sentia parte daquelas pessoas.
Tanto tempo presa, que me senti estranha.
Eu já sabia disso, só que prefiro ouvir dela como se sente e o
que se passa por sua mente, para poder ajudá-la.
— Você tentou cedo, Lorena. Não deveria ter parado com suas
consultas. Eu sei que é difícilse abrir com estranhos, mas vai te
ajudar a se encontrar de novo e trabalhar seus medos e
inseguranças.
— E como sabe disso?
— Eu andei pesquisando sobre o assunto e tenho me
envolvido em projetos sociais para crianças e mulheres vítimas de
abusos. Fiz uma parceria com uma instituição. Até doei um dinheiro
para aumentar mais o espaço e atender mais pessoas.
Vou deixar para mostrar o projeto com seu nome quando
chegarmos lá. Demorou um tempo para ficar pronto e pedi que
deixasse para inaugurar assim que voltasse. De preferência com
ela, para lhe fazer uma surpresa.
— Oh, Vincent! Estou tão orgulhosa de você! — diz com os
olhos cheios de lágrimas.
Sorrio.
— Não façomais do que a minha obrigação, Lorena. De certa
forma, quero me redimir por ter demorado tanto tempo para destruir
essa parte suja da nossa organização.
— Foi um grande passo. Eu sei que não falaremos sobre os
negócios da máfia e respeito isso, mas quero que me prometa que
não deixará esse crime voltar para dentro da Camorra.
— Enquanto tiver sob o meu comando, isso nunca mais
passará impune. Eu te prometo isso.
— Eu tenho que aprender muita coisa sobre vocês, porque eu
só sei o básico.
— Não muito, querida. Como deve saber, as mulheres não
fazem parte das reuniões e tomada de decisões. E eu prefiro que
continue assim.
— Se for como imagino, eu prefiro ficar mesmo de fora.
Nossos filhos terão que passar pelo mesmo treinamento que você?
Penso com calma sobre o que responder. Com toda certeza
eles terão que ser treinados para serem fortese se prepararem para
quando for o momento de governar em meu lugar.
— Eu preciso os ensinar a se defendere treiná-los para serem
bons chefes depois de mim. Tudo que posso te prometer é que não
passarão pelo que eu passei. Aquilo que Luigi fazia com seus
homens e comigo, beirava ao sádico.
Ela parece respirar de alívio.
— Sendo assim, eu concordo. É horrívelse sentir indefesa e a
mercê do inimigo.
— Quando voltarmos, vou treinar você. Também precisa
aprender a se defender e manusear uma arma caso precise.
— Sério? Não vai contra as leis da máfia ou algo do tipo?
— Não. As mulheres não têm a necessidade de treinar, por
não ocuparem cargos perigosos, porém, não é proibido ensiná-las a
se proteger.
— Deixa eu adivinhar! Os maridos preferem deixá-las
ignorantes e totalmente dependentes deles, porque são muito
desprezíveis para abrir mão dos seus domínios sobre elas.
— Eu diria que eles têm medo de treinar um inimigo que dorme
na mesma cama que eles. — falo sério.
— E você não tem?
Levanto meus olhos, analisando suas feições.
— Você usaria uma arma contra mim, Lorena?
— Se tivesse me feito essa pergunta há uns quase dois anos
atrás... Provavelmente!
Rosno para ela, a fazendo rir.
— Você não está se ajudando, mulher. Acho que vou repensar
sobre o uso da arma. Vou somente te ensinar a lutar.
— Ah, não! — Gargalha. — Você sabe que estou brincando.
Se prometeu, tem que cumprir!
— Posso descumprir!
— Nem ouse, seu cara de pau!
Me levanto e dou a volta na mesa para pegá-la. Ela percebe
minha intenção e sai correndo para o quarto.
— Primeira lição, coelhinha: nunca fuja para dentro e sim para
fora.
Corro atrás dela a alcançando antes que feche a porta. Agarro
ela e a jogo no ombro, batendo em sua bunda. Chego perto da
cama e a coloco deitada, segurando seus braços com uma mão.
— O que vai acontecer agora? — Seus olhos brilham em
expectativa.
— Vou comer um ensopado de coelhinha!
Ela ri mais forte dessa vez.
— Então venha! — Abre as pernas me fazendo encaixar em
sua entrada.
— Provocadora! Vou com todo o prazer.
Entro em seu canal molhado e a fodo com força, a fazendo
gritar. Dessa vez não será carinhoso, mas sim depravado, sujo e
muito selvagem, do jeito que eu gosto e sei que minha mulher ama.
Quando venho em jatos fortes dentro dela, eu sei que dessa vez
tudo ficará bem e não haverá mais uma despedida e sim um
reencontro definitivo. Ela terá que se contentar e se adaptar com a
minha vida e com tudo que sou e significo. Deixá-la ir de novo seria
meu fim, pois por ela eu fui capaz de tudo, e agora que a tenho
novamente, não conseguiria mais libertá-la.
Passamos uma semana em Salvador antes de voltarmos para
Los Angeles. Claro que levei Vincent para a minha famíliaconhecer,
e charmoso como é, conquistou a todos rapidinho. Bonitinho foi vê-
lo tentando falar em português. Segundo ele, andou treinando
algumas frases para não passar vergonha. Dizer à mamãe e a Vítor
que eu iria voltar com ele, não foi fácil. Ambos ficaram tristes, mas
mainha me chamou para conversar e disse que mesmo doendo nela
reconhecer, eu não estava feliz aqui com eles. Me fez prometer vir
sempre visitá-la e disse que a casa sempre estaria aberta para mim
caso eu precisasse e quisesse voltar. Eu não irei precisar, pois
minha casa é ele. Vincent é a pessoa com quem me sinto completa.
Quando chegamos em Los Angeles, fui recebida com carinho
pelas meninas que escolheram ficare fiznovas amizades assim que
cheguei. Graças ao projeto na instituição, conheci Rebeca, Lara e
Camilla. Todas muito queridas e de personalidades distintas.
Rebeca é a que não tem papas na língua, então é impossível ficar
perto dela sem rir; Camilla é a brincalhona e Lara é muito amorosa e
conselheira, sempre pronta para ajudar e acolher todos a sua volta.
Me identifiquei de cara com ela por sua história de vida ser muito
parecida com a minha, e através da sua superação, eu quis voltar
meu acompanhamento para conseguir melhorar cada vez mais, e
assim, ajudar outras pessoas que passaram pelo mesmo que eu.
Chorei na inauguração quando Vincent explicou a origem do
projeto e que eu seria uma das responsáveis por ele. Fiquei muito
feliz. O lugar ficou lindo e acolhedor. O que nos surpreendeu foi a
rapidez em que cresceu nesses últimos seis meses. É incrível a
quantidade de mulheres que se inscreveram para participar logo nas
primeiras semanas. Cada uma com suas particularidades, pedindo
socorro e sofrendo silenciosamente. Muitas histórias fortes que
marcaram de alguma forma suas vidas e não tinham com quem
compartilhar, e que assim como eu, se escondiam por se sentirem
diferentes e com medo de serem julgadas. Aqui, na terapia em
grupo, conseguiram se encontrar e fazer amizades com outras
pessoas que iriam compreendê-las, por saber exatamente como se
sentem. Os casos iam desde abusos sexuais a violência doméstica.
Através do projeto, consegui descobrir minha verdadeira
vocação e iniciei a faculdade de Psicologia para poder me entender
melhor e orientá-las da maneira correta. Nunca estive tão feliz em
toda a minha vida. Me sinto útil e necessária para outras pessoas
iguais a mim. Pude entender com o tempo, que eu não podia mudar
o meu passado, mas poderia superar e me tornar uma pessoa
melhor e mais forte.
Olho para a porta, onde uma jovem mulher entra sem jeito,
meio acanhada. Se conhece as vítimaspelos seus comportamentos
atípicos. Elas chegam se sentindo fora do lugar, e na maioria das
vezes, ficam caladas nas reuniões, pois se acham um peixe fora
d’água. Me aproximo dela com delicadeza para me apresentar e
conversar com ela.
— Oi. Seja bem vinda! Eu sou Lorena. Posso te ajudar?
— Oi. Eu sou Catharina. — diz com vergonha e muito baixinho.
— Veio participar da reunião?
— Ah, não! Eu só... queria conhecer a instituição. O agente
Gabriel me falou daqui.
— Fique conosco! A reunião já vai começar e você não precisa
dizer nada se não se sentir à vontade.
Ela analisa o ambiente como se procurasse uma desculpa
para fugir. Não vou pressioná-la, então apenas deixo o convite em
aberto. O primeiro passo ela já deu, que foi vir atrás de conhecer.
Agora é só aceitar que precisa de ajuda e fazer o acampamento.
— Tudo bem! Eu vou ficar um pouco.
Sorrio com sua resposta e a chamo para entrar na sala onde
as profissionais estão fazendouma atividade dinâmica com o grupo,
para que as mulheres fiquem mais relaxadas e aprendam a se
enturmar, antes de começarmos a falardos assuntos sérios. O tema
de hoje é autoestima e consiste em ir passando uma pequena caixa
com um espelho dentro entre o grupo. No início da brincadeira, é
falado que tem uma foto na caixa e a pessoa tem que dizer três
qualidades e três defeitosda pessoa que vê, sem revelar quem é ao
restante do grupo. Porém, não tem foto nenhuma, e sim um
pequeno espelho onde a pessoa irá ver apenas sua imagem
refletida e se auto avaliar. A caixa irá passar nas mãos de todas as
integrantes da roda, e cada uma, quando chegar a sua vez, fará o
mesmo. É uma atividade de autoconhecimento que ajuda elas a
trabalharem a confiançaem si mesmas e se aceitarem do jeito que
são.
Catharina olha tudo com curiosidade, sentada no canto, e
depois que as brincadeiras terminam e se inicia a terapia, conforme
as meninas vão falando sobre seus progressos, vejo seu interesse
aumentar. Em alguns momentos ela até mesmo abaixa a cabeça e
chora. Lara com seu jeitinho delicado e voz angelical, senta perto
dela dando seu apoio e conversando com ela até acalmá-la. Logo a
vejo sorrindo de algo que Rebeca fala e fico felizem ver mais uma
mulher se sentir acolhida por nós.

(...)
Saio da instituição, cansada, mas muito satisfeita com os
resultados de hoje. Nino não me perde de vista com os outros
soldados e Vincent me espera sentado dentro do carro e mais a
frente dois carros nos aguarda.
— Irá assustar todas as mulheres que saírem e verem esse
tanto de homens vestidos de preto aqui fora. — digo entrando no
carro e o cumprimentando com um beijo.
— Estou sendo é muito bonzinho melhorando o dia delas com
nossa ilustre presença.
Gargalho dando um tapa em seu braço.
— Mas é um convencido!
— Tenho uma surpresa para você, miabella.— dá partida no
carro, pegando o caminho da praia.
— Não está um pouco tarde para irmos tomar banho de mar?
Ele ri achando engraçado meu embaraço.
— Tenha calma, que logo você verá.
Relaxo e curto a visão que vai passando pela janela, até que
ele vira em um caminho de cascalhos e para diante de uma casa de
dois andares feita de pedras, com janelas de vidro transparente e
um enorme gramado na frente com variadas flores espalhadas a
sua volta. Porém, o que me chama a atenção e deixa o lugar ainda
mais magnífico,é a piscina natural logo na entrada da casa, que
não sei dizer como o arquiteto conseguiu essa proeza, pois a água
da piscina é ligada diretamente a água do mar. A casa é cercada, e
para onde se olha, vê areia e mar a perder de vista. Olho admirada
a beleza do lugar.
— Vamos? — ele pergunta me esticando sua mão.
— Quem mora aqui? — pergunto curiosa.
— Logo você verá!
Subimos a escada e paramos em uma grande porta dupla de
vidro. Vincent tira um chaveiro do bolso e abre a porta. Seja quem
for que more aí, deve ser alguém com quem ele tenha muita
intimidade. Continuamos andando pela casa pintada de cor creme e
com alguns detalhes em dourado no teto abobadado. No meio da
sala um lustre de cristal dá charme e elegância ao lugar. Nós
continuamos nossa caminhada até chegarmos em uma varanda na
parte superior com uma mesa arrumada e bem decorada para duas
pessoas jantarem. Sorrio ao perceber aonde ele quer chegar. Viro
para trás olhando meu belo homem encostado na parede, me
observando.
— Me diz que você não fezisso! — digo já pulando por dentro
de felicidade.
— Você falou que sentia falta de duas coisas no Brasil: morar
em um lugar próximo da praia e ter sua famíliapor perto. Então
comprei essa casa para você matar a saudade. Assim você vai
poder jogar seus barquinhos quando fizeruma promessa para a sua
deusa.
— Se chama oferenda.
— É! Isso aí mesmo.
Rio tentando não chorar para não estragar toda a minha
maquiagem e ficar parecendo um guaxinim. Me jogo em seus
braços o beijando.
— Eu amei! Isso é maravilhoso!
— E não acabou, mio amore
.
— Não?
Não dá tempo de ele responder, pois mainha já entra
sorridente junto com Vítor.
Aí não tem jeito! Eu me derramo em lágrimas, os abraçando.
— Não acredito que vocês estão aqui!
— Seu homem pode ser muito convincente quando quer. —
ela fala rindo.
Vincent se ajoelha e abre uma caixinha, deixando a mostra um
lindo anel de brilhante.
— Bom! Eu não levo jeito com as palavras, mas quero
aproveitar esse momento especial para pedir sua mão em
casamento. Aceita se casar comigo?
— Homem, meu coração não aguenta tantas emoções. É claro
que aceito!
Ele se levanta sorrindo e coloca o anel em meu dedo.
— Que bom! Porque sua mãe veio especialmente passar uma
temporada conosco para te ajudar a organizar a festa que
acontecerá semana que vem.
— Jura?! — Me viro olhando para mainha, que chora
emocionada.
— Viemos ajudar, minha menina. Eu vou ter um trabalhão
organizado um casamento baiano com um toque italiano, mas
superar desafios é o meu sobrenome do meio.
Rio do seu jeito alegre e entusiasmado. Seu inglês não é um
dos melhores, pois ainda está aprendendo, mas dá para entender.
Para mim, é o melhor sotaque.
— E eu vou aproveitar para curtir minha estadia e treinar meu
inglês. Se eu gostar daqui, vocês terão que me expulsar para ir
embora. Mamãe volta sozinha. — fala meu irmão.
Mainha lhe dá uns tapas, brigando com ele e nos fazendo rir
de novo das suas reclamações.
— Vamos! Temos que deixar os pombinhos à vontade.
Aproveitem o jantar! Eu fiz com muito carinho.
— Obrigada, mainha!
— Por nada! — Pisca saindo e puxando Vítor.
Viro para o homem ao meu lado, sorrindo.
— Eu já disse que te amo hoje, meu lobinho?
— Não que eu me lembre, coelhinha. Também não fez mais
aquelas dancinhas no pole dance, que eu tanto gosto.
— Um bom dia para recompensá-lo, não?
— Eu adoraria! — Faz cara de pidão me fazendorir mais forte.
Sentamos para desfrutar da deliciosa comida que só minha
mãe sabe fazer:aquele vatapá de camarão com azeite de dendê. —
Tempero único da minha terra. — Olho para o mar, admirando a
vista, e não posso deixar de me sentir grata pelos bons frutos que
venho colhendo. Eu sofri muito, e se eu pudesse ter chegado aqui
sem passar pelo vale sombrio e tortuoso, eu teria com toda a
certeza cortado o caminho, mas não mandamos no nosso destino.
O que está escrito para cada um de nós, irá acontecer independente
de querermos ou não. O importante para mim é que quando veio a
minha recompensa, fezvaler a pena, pois consegui mudar não só a
minha história de vida, como de várias pessoas ao meu redor, e isso
por si só, é muito mais do que eu desejei e pedi um dia.
Como nossa história de amor, o nosso casamento não poderia
ter sido mais diferenciado. Para não ter confusão e nenhum dos
lados ficarem chateados, decidimos fazer duas cerimônias. A
primeira foi um casamento civil, no estilo do casamento tradicional,
para agradar a famiglia. Foi realizada por um juiz de paz. Não
poderia me casar na igreja católica, pois eu precisaria me converter
ao catolicismo, fazer o catecismo e me batizar de acordo com a
doutrina. Então não seria possível.É claro que deu muito o que falar
e temi até mesmo que pudesse sair uma nova guerra por conta de
divergências religiosas, mas as coisas se acalmaram depois que
cedi a uma festa grandiosa e luxuosa para o povo de lá se mostrar
aos outros membros. Tudo aconteceu em um salão alugado e muito
bem decorado, com direito a bolo, tapete vermelho e vestido de
noiva de alta costura, como manda o figurino e protocolo da máfia.
Diante de quase duzentas pessoas das quais nunca vi em minha
vida, dizemos o tão esperado “sim”finalizandocom a famosa valsa
dos noivos, jogada de buquê e tudo que tínhamos direito.
Hoje acontecerá a segunda cerimônia: um casamento mais
parecido com o estilo do candomblé. Não será o tradicional que
aconteceria no terreiro com o sacerdote responsável e nem teremos
o obi, o fruto sagrado formado por quatro gomos, que na cerimônia
original é comido pelos noivos em agradecimento à bênção após
uma consulta com os orixás se é da vontade deles o casamento.
Foram os sacrifícios que tivemos que fazer para ficarmos
juntos. Apesar de sofrermos muito preconceito, minha religião não
discrimina as outras. Muito pelo contrário. Nós respeitamos e
achamos que toda fé é importante e deve unir as pessoas,
independentemente de suas crenças. Porém, como Vincent não é
um filhode santo, chamamos somente os amigos dele que são mais
próximos e os meus mais íntimos, como todos os colegas da
instituição e seus familiares.
A cerimônia será na praia e em estilo festa havaiana, com
direito a pratos típicos da Bahia, muito axé e outras músicas
brasileiras para animar nossos convidados.
Sento na penteadeira para retocar a maquiagem. Escolhi um
vestido branco, porém não é tradicional como o do civil. Esse é mais
estilo “f
esta ao ar livre”:justo no busto, de estampas florais e muito
longo. Rebeca deu a dica de usar a coroa de flores na cabeça e eu
amei a ideia, pois lembra muito a coroa de obará, que representa as
alianças nos casamentos da minha religião.
Mainha entra no quarto e fica toda boba me olhando, com os
olhos marejados.
— Está tão linda, filha! Oxalá deve estar muito orgulhoso de
você.
— Será que os orixás não irão se irritar por não pedirmos suas
bênçãos?
— Eles são justos e não teriam colocado vocês juntos se não
fosse da vontade deles. Eu desejo que todos os orixás os abençoem
nessa nova caminhada.
— Eu sou agradecida a eles por todas as bênçãos alcançadas.
— Isso é o mais importante! Não esquecer de quem você é e
ser sempre grata por tudo aquilo que lhe for concedido.
Vítor entra no quarto e sorri ao me ver.
— Quem diria que um dia eu ia ter a chance de levá-la ao
altar? Estou muito feliz por você, bonequinha.
— Para! Irá me fazer chorar. E você não vai querer irritar a
Rebeca.
— Aquela mulher é fogo! Em outra encarnação, ela foi um
homem, com toda a certeza.
Rimos da sua analogia.
— Pronta? — Lara pergunta da porta.
— Sim!
— Queremos entregar os presentes das tradições. No outro
casamento, mal chegamos perto de você, e por ser de estilo italiano,
preferimos não nos meter. — Rebeca explica.
— Quais tradições se refere? — pergunto curiosa.
— É uma tradição muito antiga da qual te presenteamos. Diz
trazer boa sorte aos noivos.
— Toda sorte será bem vinda! — Sorrio permitindo e Camilla
bate palmas, feliz.
— Então vamos começar! Esse é seu “algo azul”.— Camilla
entrega um colar com várias pedras na cor azul.
— Lindo! Eu amei! Parecem conchas. — falo admirando as
pedrinhas.
— Esse é o meu. É o seu “algo emprestado”. — Lara me
entrega um par de brincos de pérolas. — Eu ganhei de vovó e
adoraria que você os usasse. Ela me emprestou no meu casamento
e me trouxe muita sorte.
— Muita obrigada, Lara!
— E esse é o seu “algo novo”. — Rebeca me entrega uma
lingerie branca de cinta liga, toda bordada.
— Perfeito, Beca! Acho que vou ter que tirar o vestido para
colocá-la.
Rebeca se joga de joelho no chão.
— Levanta esse vestido, mulher, que eu te ajudo a colocar
rapidinho.
— Mas... O quê? Ai! — dou um gritinho quando ela arrebenta
minha calcinha fio dental.
A meninas riem da minha desgraça.
Vítor sai voando do quarto, resmungando e fazendo todos
rirem da presepada.
— Rebeca, o que você está fazendoaí? — Eduardo pergunta
da porta.
— Ajudando Lorena a trocar de calcinha.
— Pode falar! A boca dela é mágica, não é? — ele fala rindo,
com cara se safado.
— Não é isso que você está pensando. — eu tento explicar.
— Não era para você estar lá embaixo? — Camilla pergunta.
Minha nossa! Minha cara está no chão de vergonha. O
momento é para lá de constrangedor e Rebeca não colabora
enfiada debaixo da saia do meu vestido.
— Gatinha, por mais que eu goste de imaginar você com outra
mulher, Charlotte encheu a frauda e eu não estou afim de tentar
trocar sozinho essa porra e causar o mesmo acidente da outra vez.
— Te vira, Eduardo! Eu estou ocupada, e se eu sair daqui, não
vai ser só a bebê que precisará trocar alguma coisa.
A sala cai na gargalhada.
— Que porra é essa, Rebeca?!
— A sua porra! Não gostou de virar os olhos? Agora aguente
as consequências!
— Oh, mulher dos infernos! — resmunga esticando os braços
com Charlotte para a frente e faz cara de nojo.
— Sai daqui seu, cavalo! Antes que Vincent resolva aparecer e
causar a terceira guerra mundial.
Rapidinho ele some da porta e Rebeca olha sem entender
nada.
— Se eu soubesse que a palavra mágica era “Vincent”, eu
teria dito antes.
Seguro o riso. Acho que ela não sabe da surra que ele levou
na boate, por me encarar, e eu que não vou contar.
— Eu amei! — Olho a Lingerie já imaginando o Vincent
arrancando ela mais tarde.
— Vocês são todas doidas! — Catharina diz tapando a boca e
rindo.
Convidamos o escroto do seu marido somente para servir de
ajuda ao Gabriel em sua investigação. Ele terá muito trabalho para
convencê-la de que o casamento que tem é abusivo. Estamos
fazendo o que podemos para ajudá-la nas terapias, mas a sua
mente é muito fechada ainda, pela religião que segue.
— Vai se acostumando, Cat, que é daqui para pior.
— Olha! Eu não sei muito sobre essas tradições, porque não
tive no meu casamento, mas Rebeca me deu umas dicas e eu
trouxe seu “algo antigo”.— Ela me entrega uma presilha de cabelo
em formato de uma grande rosa vermelha. — É a única coisa mais
antiga que eu tinha e ela foi um presente da minha bisavó no meu
aniversário de quinze anos.
Meus olhos marejam com tamanha delicadeza. É simples,
bonito e de um significado tão grande que nenhum dinheiro compra.
— É perfeita! Vai combinar com o buquê. — A abraço em
agradecimento.
— Chega de chorar! Se não vamos ficar parecendo a Lara
quando acorda. — Rebeca zoa.
— E que jeito eu pareço, Rebeca?! — Lara coloca a mão na
cintura, encarando amiga e nos fazendorir, porque ela parece uma
smurfde tão pequena que é.
— A encarnação da noiva cadáver.
— Eu mereço! Vamos descer antes que eu te jogue pela
janela. E olha que nem sou violenta.
Elas saem do quarto e Vítor entra soltando um assobio.
— Caramba! Todas essas mulheres juntas deixam qualquer
um doido.
Descemos os degraus ouvindo o delicioso batuque dos
tambores. Ligo meu braço ao do meu irmão e caminhamos pelo
tapete de flores. A leve brisa bate em meu rosto, trazendo o cheiro
da água salgada do mar. Sorrio quando vejo Vincent vestido
totalmente fora dos padrões que está acostumado. Ele usa short,
camisa colorida e um colar de flores no pescoço. Os membros do
conselho infartariam se o vissem assim. É incrível como tudo cai
bem nesse homem. Seus olhos não desviam dos meus enquanto
dou passos em sua direção. E quando paramos em frente um do
outro, ele pega minha mão, a beijando.
— Está linda, mio amore
!
— Você também, lobinho.
Nos viramos de frente para o mestre de cerimônia e demos
inícioao casamento. Quando chega as nossas vezes de falar, estou
uma bagunça de lágrimas. Como já trocamos as alianças na
primeira cerimônia, apenas iremos reforçar nossos votos, sem a
pressão de escolher as palavras ou o medo de expressar nossos
sentimentos.
— Vincent, eu jamais imaginei estar aqui um dia. Tudo isso é
muito louco e eu ainda acho que estou sonhando. Eu só tenho a
agradecer aos orixás por terem te colocado em minha vida e me
tirado da prisão em que eu vivia. — Seus olhos amolecem com
minha fala. — Você vive me dizendo que não é bom e que eu
mereço muito mais, e eu vou continuar dizendo que não concordo.
Eu hoje afirmo que você é perfeito para mim e eu te amo
exatamente do jeito que é. Que possamos passar por todas as
turbulências que vier e sair juntos muito mais fortes do outro lado.
Prometo ser sua casa, como você é a minha, e estar do seu lado em
todos os momentos, para resto das nossas vidas.
Ele sorri e me dá um selinho.
— Mia bella ! Eu prometo ser e fazer o melhor para você e te
proteger com a minha vida se preciso for. Estarei ao seu lado em
todos os momentos, e até mesmo naqueles em que eu não puder
demostrar todo o meu sentimento por ti, quero que saiba que em
meu silêncio, eu continuarei te amando. — Ele me beija e somente
para que eu ouça, fala junto aos meus lábios a sua promessa. —
Jurado no sangue e nascido no sangue, por você eu vivo e por você
eu morro.
— Te amo! — digo retribuindo seus beijos.
Foi o mais próximo que pudemos fazerpara lembrar as minhas
origens e ficoumaravilhoso. Mais importante do que nossas crenças
diferenciadas, é o jeito que nosso relacionamento começou e como
foi a construção do nosso amor e respeito um pelo outro ao longo do
caminho. Para mim, isso é mais do que o suficiente para que eu
possa esquecer o passado, porque eu sei, no fundo do meu
coração, que assim como ele luta e morre pela famiglia , cumprirá
sua promessa feita para mim, e eu o amarei mesmo no seu pior,
incondicionalmente.
Temos que nos mudar para a Itália? — Lorena questiona.
Estamos fazendo nossa viagem de lua de mel e estou
mostrando a ela um pouco mais sobre a minha cultura, já que nunca
lhe foi permitido sair do casarão no tempo em que morou aqui.
— O certo seria isso, mia bella . Foi aqui que iniciou a
organização, então é como se fossea matriz. Mas não pretendo sair
de Los Angeles, pois foionde trabalhei para ganhar reconhecimento
e conheci você. Por mais que eu ame a minha terra, aqui não me
traz boas lembranças.
— E como ficará então? — pergunta curiosa.
— Coloquei Riccardo, o filho do Carmo, como subchefe daqui.
Eu e Henrique estaremos sempre de olho nele e em sua
administração.
Ela parece aliviada. Imaginoeu que não seja fácil para ela se
lembrar do que passou aqui nas mãos do Luigi.
Entro na casa onde cresci e tenho uma leve nostalgia quando
olho para as escadas. Parece que vejo papai descendo impecável,
vestido em seu terno, e mamãe logo atrás tirando pelos invisíveis,
apenas para passar as suas recomendações das quais ele fingia
que ouviu, sendo que iria fazer tudo ao contrário e irritá-la
profundamente. Sorrio ao imaginar a cena dele chegando com a
cara mais lavada do mundo, sem um pingo de arrependimento, e
pedindo desculpa por ter feito algo que ela disse para não fazer,
apenas para que não fique dias sem falar com ele.
Chego mais perto da parede onde tem um grande retrato dos
dois comigo mais jovem e observo suas fisionomias.
— Você é a mistura de ambos. — Lorena falaparando ao meu
lado e olhando o retrato também. — Tem a aparência do seu pai,
mas os seus olhos e o seu sorriso puxaram os da sua mãe.
Apesar de Matteo não ser o meu pai biológico, eu puxei mais a
ele na aparência do que a Luigi. E para respeitar sua memória e
tudo o que ele fez por mim e pela minha mãe, o segredo morreu
com Luigi. Para todos os efeitos, eu sou filho de Matteo e Ariella
Lourenço.
— Ela se vangloriava sobre isso.
— Ela era linda. Fico pensando... Se um dia tivermos uma
filha, será que ela terá chances de nascer com esses cabelos de
cachos loiros?
Tento pensar como ela e não me vem na cabeça uma menina
assim, e sim morena, de cabelos escorridos e de profundos olhos
azuis, como os dela. Isso traz outro sorriso aos meus lábios.
Provavelmente eu teria que dobrar a segurança para cuidar da
minha princesinha.
— Todas as vezes que falamos de filhos, você apenas cita
meninas. Por quê?
Ela desvia os olhos.
— É porque eu não consigo imaginar meus filhos chegando
todos ensanguentados como você quando chega de alguns dos
seus trabalhos. Eu infartaria cedo!
A puxo para mim e beijo sua cabeça.
— Você falava isso dos treinamentos e agora implora para
participar.
— Porque quero ser capaz de ajudar se por acaso formos
atacados. E você chama aquilo de treinamento? Na maioria das
vezes termina com nós dois fodendo feito coelhos.
Abro um sorriso predador para ela e passo meu nariz na
extensão do seu pescoço, fazendo-a arfar
.
— Eu não vejo problema nenhum nisso. É a melhor parte do
início do meu dia.
— Sei! Deixa eu aproveitar o momento bem oportuno e te dar
um presente. — Tira da bolsa uma caixa e me entrega.
— É alguma data especial?
— Vai se tornar! — diz sorridente.
Abro a caixa e encontro duas pequenas luvas de boxe dentro
(uma rosa e a outra azul). Olho para ela, tentando entender a dica,
mas nada me vem na cabeça, até que meus olhos batem onde está
sua pequena mão. Sinto o coração acelerado diante da
possibilidade.
— Lorena?! — questiono, já me sentindo emocionado. — Você
está grávida, mia bella?
Ela balança a cabeça confirmando e eu a puxo para mim, sem
saber o que falar. Na garganta um nó se forma de emoção.
— Eu queria que fosse especial e tivesse significado. — fala
com a voz embargada.
— Você é especial, amor, e eu amo tudo o que vier e fazer
parte de você.
— De nós dois! Porque terá um pedacinho de você também.
E eu concordo com ela. Um filho! Meu e dela! Uma mistura de
características interessantes que estou louco para conhecer e ter
em meus braços. Dessa vez eu vou ser mais cuidadoso e os
proteger melhor. Sorrio a beijando e alisando sua barriga, onde
descansa a minha preciosidade.
Sento no sofá olhando Vincent chegar de mais uma de suas
noites sangrentas. As luzes estão apagadas, o que não permite que
ele me veja, mas a claridade da lua lá fora me deixa vê-lo
perfeitamente de onde estou. Senta na poltrona e coloca a mão na
cabeça, pensativo. Todas as vezes são assim e nunca fica mais
fácil.É sempre horrívele pesado, e não tem um jeito melhor de lidar
com isso. Odeio vê-lo tão perdido dentro de si e se condenando por
algo que precisou fazer. Me levanto devagar, vou até onde está e
me ajoelho em sua frente, tomando cuidado para não assustá-lo.
— Você está bem? — pergunto suavemente.
— Não toque em mim, amor. Estou muito sujo e não quero
contaminar você.
A sua voz está distante, como se sua mente não estivesse
aqui.
— Não sinto nojo, Vincent. Me deixe cuidar de você!
Ele levanta a cabeça e me olha sério.
— Me perdoe! Como protegerei vocês, se o perigo vive
batendo na nossa porta? Se eu não consigo ser um bom marido,
como serei um bom pai? — suas palavras são dolorosas e rasgam
meu coração por ele.
— Não faleassim! Vamos tomar um banho e se sentirá melhor.
Pego sua mão e o levo para o chuveiro. Sua respiração está
forte e seus olhos estão sem foco. Ele está se perdendo e é minha
obrigação trazê-lo de volta e mantê-lo controlado. O lavo com
cuidado, passando suavemente a bucha por todo o seu corpo. O
chão branco do banheiro agora está vermelho do sangue que
escorre junto com a água pelo ralo. Tento não prestar atenção nesse
detalhe, para não pirar. Nesse momento é tudo por ele e para ele.
Quando está limpo o suficiente, eu levanto meus olhos e
encontro os seus luxuriosos. Eu o prefiro cheio de tesão do que em
arrependimento.
— Eu preciso de você! — diz me puxando pela nuca e
beijando suavemente meus lábios.
— Então pegue! Me use como quiser para extravasar essa
angústia que sente.
— Não quero machucá-la. — Me abraça apertado.
Eu sei que ele se controla e tenta ser mais cuidadoso agora
que estou grávida, mas eu gosto de todas as suas versões e amo
quando me fode ou me ama. Eu quero tudo dele e estou sempre
disposta por mais. Levanto minha perna e me encaixo em sua
cintura sem tirar meus lábios dos seus. Levo seu membro para
dentro de mim e começo eu mesma a fodê-lo como sei que deseja.
Ele logo me joga na parede e arremete com mais força,me fazendo
gritar com a sua invasão bruta e certeira. Passo minhas unhas por
suas costas, o arranhando de leve e tirando dele um rosnado
animalesco.
— Eu não quero que se segure, Vincent!
Mordo seu pescoço o fazendo gemer mais alto e meter mais
forte em minha vagina que pinga e se contrai querendo explodir em
um orgasmo que só ele é capaz de me dar.
— Vem amor! Me deixe te sentir gozar em meu pau! — Gira
seu quadril e atinge o local que me faz, alguns segundos depois,
estar gritando seu nome.
Meu corpo ondula e eu me deixo vir, o fazendo grunhir e me
acompanhar logo em seguida. A água morna escorre entre nós, o
deixando ainda mais lindo com uma áurea quase selvagem.
— Te machuquei? — pergunta preocupado, me fazendo rir.
— Nem se você quisesse, me machucaria, Vincent. Nós
estamos bem. E você? Está melhor?
Ele abre um sorriso lindo me deixando saber que o tenho de
volta.
— Estou ótimo! Obrigado! — Me beija de novo.
Saímos do banho e fomos em seguida até a cozinha para
prepararmos um lanche.
— Marco anda sumido. Está acontecendo alguma coisa? —
pergunto estranhando seu sumiço daqui.
— Ele está perseguindo sua presa.
— Presa?
— Sim! Ele libertou uma mulher tempos atrás em um dos seus
trabalhos e disse que se a visse de novo, iria matá-la. Agora que ele
a reencontrou, ela foge dele como o diabo foge da cruz por medo
dele cumprir a promessa, e ele está a perseguindo.
— Eu também fugiria. Marco me assusta até hoje.
Ele gargalha.
— Só quero ver a queda dele. Riu tanto de mim, que agora vai
chegar a minha vez de zoar com ele.
— Bom! Quem sabe assim ele amolece um pouco aquele
coração de pedra. Ashley até que tentou, mas não teve nenhum
êxito.
— Nem me fale dessa garota. Só não fui atrás dela porque
você pediu. Espero nunca mais vê-la em minha frente ou não serei
capaz de cumprir minha promessa.
Também espero nunca mais vê-la. Não desejo o seu mal, mas
torço para que o caminho que ela escolheu, tenha realmente válido
a pena ter jogado a nossa amizade fora.Acho que todos nós depois
de tudo que sofremos, merecemos uma segunda chance.
TREZE ANOS DEPOIS

— Papá! Papá! Gianna está treinando escondida com o Enzo.


— Matteo grita atrás de mim.
Agacho ficando a sua altura para entender melhor sua fala.
— Como assim treinando?
— Eu li no computador dela que ela está marcando de ir agora
a tarde encontrá-lo.
— Seu pirralho mentiroso! Você não tem lição de casa para
fazer, em vez de ficar me espionando?
— Eu sou um homenzinho e logo serei um made man. Eu
tenho que proteger a família.
Sorrio com sua convicção. Ele só tem dez anos, mas é muito
disciplinado e aplicado nos seus treinamentos, ao contrário de mim
na sua idade. É claro que por enquanto só treina luta comigo ou
Marco, porém, em mais alguns anos, terá que avançar.
Olho para a minha filha, que o fuzila com os olhos.
— Gianna? Quantas vezes vou ter que dizer que não quero
saber de você fugindo e muito menos treinando sem supervisão?
— Ah! Pelo amor de Deus, papá! Você e tio Marco pegam leve
comigo só porque sou mulher. Eu quero treino pesado e com armas.
Para a minha perdição, ela é a cópia fiel da Lorena, tanto em
beleza quanto em rebeldia.
— Enzo é maior que você e já foi iniciado. Não quero que ele
te machuque, principessa , ou terei que puni-lo por isso e tenho
certeza de que Seu tio Marco não gostará de ver seu filho sendo
castigado por sua causa.
— Isso é muito injusto! Na minha idade, Matteo estará se
preparando para ser iniciado, e só eu que tenho que ficar me
humilhando para poder aprender a me defender. Eu quero ser
tratada como ele e receber o mesmo treinamento.
Suspiro tentando buscar paciência do fundo do oceano. Ela
ama armas tanto quanto eu. Se eu for sincero comigo mesmo, ela é
até mesmo melhor do que seu irmão.
— Gianna, filha! Temos soldados para te proteger, então não
precisa se preocupar com isso. Continue somente treinado luta com
sua mãe.
O fogo da teimosia se incendeia em seus olhos azuis.
— Um dia eu vou sentar naquela cadeira e irei mudar as leis
onde proíbem as mulheres de estarem no comando e ocuparem
algum cargo. Somos tão capacitadas quanto vocês!
Prendo a vontade de rir.
— E como vai fazerisso? — cruzo os braços, curioso por sua
resposta.
— Tirando todos vocês do poder. Ireimontar a minha própria
equipe e matarei todos aqueles que não aceitarem minhas ordens e
ficarem em meu caminho.
Bom! Por essa eu não esperava. Uso um dos meus golpes
mais leves e a derrubo no chão, a fazendo soltar um grito de
surpresa. Levo meu punhal para a sua garganta e pressiono
levemente.
— Papai! — Grita assustada.
— Vincent? — Lorena me chama.
Olho para cima e digo com meus olhos para que confie em
mim e não se meta. Ela se afasta ao ver que estou apenas dando
uma lição na nossa pequena e provavelmente futura executora.
— O primeiro passo para mudar algo é ser cautelosa sobre o
que fala e com quem fala. Se você fosse qualquer outra pessoa,
sendo mulher ou não, meu punhal teria afundado em sua garganta
agora. — Ela arregala os olhos vendo a seriedade das minhas
palavras.
— E teria coragem de me matar?
Amoleço um pouco meu tom, mas sem deixar de ser o capo
nesse momento.
— Eu teria que proteger a famiglia , filha. E se você for
considerada uma ameaça para todos, meu cargo não a protegerá de
sua punição. Não se deve ameaçar uma autoridade. Issoalém de
ser uma falta de respeito, é crime de traição e motivo o suficiente
para você ser condenada à morte. Pense bem antes de fazer
qualquer besteira e seja prudente nas suas escolhas. Entendeu?
— Sim, papá! Me desculpe!
— Eu te amo, principessa , mas não escapará das minhas
punições se tentar prejudicar a organização e me desrespeitar. —
Beijo sua cabeça, a liberando.
Seus olhos se enchem de lágrimas. Foda-se! Issome dói! Mas
tenho que ser duro com ela. Se quer ser tratada como um dos
homens, tem que aprender primeiro a baixar a cabeça e receber
ordens, mesmo não gostando. Ninguém irá passar a mão na sua
cabeça por ser minha filha. Se ela errasse, eu teria que estar morto
antes de deixar alguém tocar nela ou alguém da minha família.A
puxo para meus braços e digo olhando em seus olhos para que veja
a verdade.
— Vista uma roupa apropriada, pois a partir de hoje aprenderá
como se manuseia uma arma.
— Sério?! Vai mesmo me ensinar?!
— Sim, bambina! Mas passo a passo. Nada de treinar sozinha,
para não se ferir.
— Você é o melhor pai do mundo! — diz me abraçando. — Eu
prometo que vou provar para você e para todos o quanto eu sou
melhor do que qualquer um dos homens da nova geração. — Se
vira saindo saltitante do cômodo com Matteo logo atrás a
provocando.
Sei que no fundodaqueles olhos azuis gelados, ela falousério.
Vejo a mesma determinação que eu tinha na idade dela. Se tiver um
terço da minha força de vontade, ela causará uma guerra até ter o
que quer, e que Deus nos proteja quando esse dia chegar.
— Eu estou ansioso para saber como ela irá burlar as leis da
máfia.
— Não acha que foi muito duro com ela? – Lorena questiona
me olhando de longe.
— Ela precisa aprender a se controlar ou se colocará em
grandes problemas.
— Quer que eu fale a quem ela puxou?
Estico a mão para que venha até mim e sorrio a admirando.
Vem andando devagar em minha direção por conta da protuberância
de sua barriga de quase nove meses de gestação.
— Trate de colocar nosso bambinopara fora, mia bella
, que eu
vou precisar de um exército bem treinado para me ajudar a cuidar
da nossa filha quando ela ficar maior
.
— E acha que seu exército parará a nossa Gianna?
Respiro fundo, imaginando o furacão.
— Acho que não. E isso me preocupa.
— Nada vai acontecer com nossa menina. Ela tem o melhor
treinador.
A beijo sentido seu gosto viciante e gostoso que me deixa duro
instantaneamente.
— É melhor pararmos ou vou ter que te jogar na mesa do
escritório e te castigar por ser uma esposa tão provocadora.
— Eu adoro esses castigos, marido, mas vou dispensar dessa
vez porque estou sentido leves fisgadas desde a hora que acordei
da minha soneca.
— Quer ir para o hospital?
Quando chegou o dia de Gianna nascer, eu estava uma pilha
por ser pai de primeira viagem e quase coloquei o hospital abaixo
para que nos atendessem. Na vez do Matteo, fiquei mais controlado.
Nesse, estou ansioso, porém tranquilo também.
— Ainda é cedo, e acredito que são contrações de
treinamento.
— Então venha comigo e Gianna. Se caso as dores
aumentarem, eu estarei por perto.
Saímos para o treinamento e cinco horas mais tarde demos
entrada no hospital para o nascimento do nosso filho Dominic
Lourenço. Minha esposa, como sempre, foi maravilhosa e trouxe
nosso pequeno ao mundo feito uma verdadeira guerreira. E ali
vendo nosso bambino ser amamentado pela mãe, eu só podia
agradecer por tantas maravilhas em minha vida. Consegui minha
vingança contra todos aqueles que prejudicaram minha família,me
tornei o capo e mudei muita coisa errada dentro da nossa
organização, que ao longo desses anos só prosperou ainda mais
em meu comando, e de quebra formei uma famílialinda e saudável
com a minha amada. Eu sou um filho da puta muito sortudo!

Fim!
NOS BRAÇOS DO MAFIOSO
RENDIDA AO MAFIOSO
HERDEIROS DA MÁFIA

———

RENDIDA AO MAFIOSO (2)


Link: https://amz.onl/0YluDpT
Marco Moretti sempre se sentiu perdido desde criança. Ele
passou a viver na sombra do seu melhor amigo Vincent para sentir
que tinha um propósito de vida. Nunca quis coisa alguma para si e
jamais ambicionou nada, até o dia em que em uma de suas
missões, seus olhos bateram nela. “Misericórdia” era uma palavra
desconhecida para o homem sem coração e com um único objetivo:
vingar a morte de sua mãe e colocar o melhor amigo no poder.
Angel foi quebrada tantas vezes que achava que seu propósito
de vida era sofrer. Sozinha e contando consigo mesma, se deixou
ser usada e caiu no mundo das drogas para aplacar a dor que
sentia. Ela nunca quis tanto sobreviver quanto no dia em que seus
olhos encontraram os dele. A garota achou que seria seu fim, mas
foi o início de tudo, e vai entender por bem ou por mal que quando
Marco fica obcecado por algo, ele luta com tudo dentro de si para
conseguir.
O Anjo e o demônio terão que compreender que depois do
caos, sempre vêm as tempestades, mas que unidos podem
ultrapassar todas elas e saírem mais fortes.
Ela só quer recomeçar.
Ele deseja tê-la para si.
Ela foge dele porque o teme.
Ele a persegue porque precisa dela para se sentir vivo.
Duas almas perdidas e feridas são capazes de encontrarem a
redenção juntas?
HERDEIROS DA MÁFIA (3)
Em Dezembro na Amazon

Gianna Lourenço

Eu nasci na máfia e desde pequena ouço que nós mulheres


devemos ser a base da casa. Minha mãe sempre foi mais liberal e
nunca colocou pressão sobre as minhas costas por isso e meu pai
sempre me amou do jeito que eu sou. Mas isso não me impediu de
ser pressionada para ser uma moça recatada e exemplar por ser a
filha docapo. Todos sempre esperam de mim, nada menos do que a
perfeição. Eu tentei, e juro que tentei, suprir todas as expectativas
da famiglia, contudo, ser submissa não está no meu sangue. Eu
quero mais. Desejo poder, controle e escolha. Almejo ser mais que
uma esposa troféu com um útero feito de incubadora para conceber
as próximas gerações.
Então, mesmo contra a vontade do meu pai, treinei, lutei,
aprendi a usar armas e fui fundo no submundo. Eu sou a rainha do
meu reino e dona de mim. Não preciso de um príncipe encantado e
muito menos de um protetor, porque eu sou a porta de entrada para
qualquer lugar que eu queira ir. No meu mundo, eu mando e todos
me temem, mas não pelo peso do meu nome, e sim porque eu
conquistei o respeito deles.
Tudo ia perfeito e meu plano de ser reconhecida como a chefe
estava a todo o vapor. Até ele...
Até Enzo Moretti se meter no meu caminho e querer me
dominar como se eu fosse um cavalo selvagem que precisa colocar
cabresto e ser domado. A minha desgraça começou no dia em que
passamos a nos olhar com desejo, paixão e luxúria. É um jogo
perigoso que nenhum de nós temos medo de jogar as cartas,
mesmo sendo proibido e fatal. Nos jogamos nos braços um do outro
sem pensar no amanhã. E agora que esse dia chegou, preciso
decidir o que é mais importante para mim: o cargo que tanto ansiei
ou o amor do único homem que conquistou meu coração e me fez
amar tão profundamente que me afoguei em meus próprios
sentimentos.
O que fazer quando o que almejamos a vida toda e o que
passamos a desejar, se tornam coisas diferentes? Qual escolha
você faria se amasse tanto uma pessoa, que sentisse que foi
consumida por inteira? Você escolheria seguir seus planos ou o seu
coração?
MARCAS DO PASSADO
Link: https://amz.onl/10DfOCk

Lara Bitencourt é uma jovem de 29 anos, psicóloga infantil.


Desde muito cedo ela teve que aprender a lutar sozinha, sem poder
confiar em ninguém. Foi julgada, mal compreendida e colocada em
segundo plano na vida de todos aqueles que ela amava. Sofreu em
silêncio, e para tentar superar seus fantasmas quis recomeçar
longe daqueles que a feriram e fizeramdela uma pessoa marcada.
Viu na psicologia um meio de ajudar aqueles que têm feridas tão
profundas quanto as que ela esconde.
Lucas Ferraz tem 35 anos. Ainda muito jovem perdeu os pais
em um acidente de carro, e com muita dificuldade teve que criar o
irmão caçula sozinho. Um acaso do destino o colocou no lugar
errado e na hora errada, e por esse erro foi acusado e condenado a
pagar por um crime que não cometeu.
Duas pessoas marcadas pelo destino e que veem seus
mundos colidindo e entrelaçando-se sem chances de fugir. É
possível esquecer o passado e dar uma chance ao amor?
RAZÃO E EMOÇÃO
Link: https://amz.onl/7w22Sda

Eduardo González é um advogado criminalista conhecido por


ser um tubarão nos tribunais. Não foi fácil alcançar esse
reconhecimento, mas trabalhou duro para conseguir, deixando uma
extensa lista de inimigos pelo caminho. Arrogante, bem sucedido e
bonito. E acredite, ele sabe disso. Usa e abusa da sua aparência e
status para ter qualquer mulher que desejar aos seus pés, mas se
engana aquela que achar que ganhará seu coração. Só terá a
chance de tê-lo apenas por uma noite.
Até ela...
Rebeca Evans é uma assistente social, conhecida por ser
umas das coordenadoras da fundação Amélia Goulart. Teve seu
coração partido no dia do seu casamento. A traição deixou feridas
profundas,feridasque a fezprometer a si mesma nunca mais deixar
ser enganada. Corajosa, independente e linda. Não acredita em
príncipes encantados. Para ela todos os homens são iguais e só
servem para a diversão.
Ele coleciona corações partidos. Ela coleciona homens pela
sua cama. Uma noite e tudo muda.
Quem vencerá essa batalha? A razão ou a emoção?
ENTRE O CÉU E O INFERNO
Em breve na Amazon

Catharina Alencar é uma típica e honrada moça de igreja que


foi criada dentro de doutrinas e ensinada desde cedo que mulher
servia ao marido e não opinava em casa, muito menos fora dela. O
que ele falasse era lei e ela deveria seguir à risca ou estaria
pecando contra os mandamentos divinos. Só que ela não era feliz.
Por trás da bela moça de olhos castanhos e cabelos cacheados,
tinha sofrimento, tristeza, mentiras e muita violência. Ela aguentava
tudo calada e perdoava por se achar merecedora de todo o castigo
que lhe era aplicado. Até que um dia ela conhece Gabriel Miller, seu
novo vizinho charmoso e com nome de anjo, mas que de santo não
tinha nada. Ele é um típico solteirão depravado e totalmente
descompromissado, que segundo ela, foi enviado pelo próprio
Lúcifer para atentá-la e implantar dúvidas em seu coração, das
quais irão fazera doce dona de casa se questionar sobre tudo o que
lhe foi ensinado e se despertar das mentiras e manipulações que
sofrera, desejando ser livre da prisão que se encontra.
Ela terá que escolher entre viver a vida fantasiosa que criaram
para ela ou seguir novos caminhos onde descobrirá os prazeres
pecaminosos do corpo e encontrará a libertação de sua mente.
O que fazer quando o que dizem ser pecado, se torna aquilo
que te salva?
Meu nome é Sarah Mercury, tenho 27 anos, sou formada em
Administração, casada há 10 anos e mãe de três filhos que são
minhas razões de viver e lutar por um mundo melhor. Leitora
compulsiva, descobri a leitura aos sete anos de idade, tornando meu
hobby favorito, e desde então, nunca mais parei.
Na adolescência, eu adorava fazer poemas e criar histórias
pequenas, chegando até a fazer parte de um grupo de teatro na
escola, onde apresentei uma dos meus contos.
Sempre sonhei em escrever um livro, mas nunca tive a
coragem de tirá-lo do papel. “Marcasdo passado”foiminha primeira
obra, a qual abriu caminho para as outras. Todas são feitas com
muito amor, carinho e dedicação.
Instagram: https://instagram.com/sarah.mercury
Wattpad: https://embed.wattpad.com/user/SarahMercury

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