É PROIBI
DA A REPRODUÇÃO TOTAL E PARCIALDESTA OBRA, DE QUALQUER
FORMA OU POR QUALQUER MEIO ELETRÔNICOOU MECÂNICO, INCLUSIVEPOR
MEIO DE PROCESSOS XEROGRÁFICOS, INCLUINDOAINDA O USO DA INTERNET,
SEM A PERMISSÃO EXPRESSA DA AUTORA (LEI 9.610 DE 19/02/1998).
ESTA É UMA OBRA DE FICÇÃO. NOMES, PERSONAGENS, LUGARES E
ACONTECIMENT
OS DESCRITOS SÃO PRODUTOS DA IMAGINAÇÃO DA AUT
ORA.
QUALQUER SEMELHANÇA COM ACONTECIMENT OS REAIS É MERA
COINCIDÊNCIA.
TODOS OS DIREIT
OS DESTA EDIÇÃO SÃO RESERVADOS PELA
AUTORA.
Atenção
Dedicatória
Agradecimentos
Sinopse
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Epílogo 1
Epílogo 2
Trilogia "Camorra"
Outros trabalhos meus
Sobre a autora
Redes sociais
Esse livro trata-se de um romance dark. A obra
contém cenas de sexo explícito, violência, tortura,
palavras de baixo calão e assassinato. Portanto, é
indicado para maiores de 18 anos. Se você é
sensível a esse tipo de conteúdo, não leia, pois
contém gatilhos.
A autora não concorda de forma alguma com
tais atrocidades. É uma história fictícia.
Dedico a todas as pessoas que acreditam no amor, e que
mesmo em meio as dores e sofrimentos, conseguem enxergar
o lado positivo da vida e encontrar forças para continuar
lutando por um mundo melhor.
Agradeço a Deus por me capacitar, e à minha
família e amigos pelo apoio. Em especial, ao meu
amigo Mikael, que me desafiou com o tema e foi um
grande incentivador na criação dessa obra, e que
por várias vezes quando pensei em desistir, me deu
forças para continuar. Também agradeço a todos os
leitores que acompanham meus trabalhos na
wattpad e à minha amiga Luana por sempre ler,
revisar e me ajudar com dicas essenciais para as
construções dos capítulos finais desse livro.
Muito obrigada!
Lorena Ávila é brasileira e aos quatorze anos foi raptada e
vendida aos Lourenço através do tráfico humano. Obrigada a
trabalhar para uma famíliade mafiosos que são sem escrúpulos,
capazes de tudo por dinheiro e poder, Lorena se vê em meio a uma
guerra da qual não pediu para entrar. Seu maior erro foi se
apaixonar por quem deveria odiar. Ela é doce, de personalidade
forte e almeja a liberdade.
Vincent Lourenço é conhecido por ser uma máquina de matar.
Desde cedo aprendeu que na vida em que nasceu, era ele ou os
outros. Ele sente prazer no que faz. Vincent não tem compaixão e
pela famiglia é capaz de fazer qualquer coisa. Inclusivearmar e se
aliar aos seus inimigos para tirar do poder todos aqueles que ele
acredita prejudicar a Camorra e o legado deixado pelo seu pai. O
sujeito frio, calculista e almeja vingança.
É possível nascer amor em meio a tanto ódio, armações e
guerra?
SALVADOR, BAHIA - BRASIL
PASSADO
(...)
Todo dia a mesma merda! Tenho que levantar cedo para limpar
a boate inteira com as meninas depois de passar a noite toda
acordada atendendo esse bando de filhos da puta que fedem a
bebida barata, e a charuto de péssima qualidade. Não aguento mais
essa vida! Qualquer dia desses, eu vou dar uma de doida e meter o
tiro na cara de um deles.
Eu odeio esse lugar e tudo o que ele representa. Eu queria ter
minha vida de volta! Sinto tanta falta da mamãe e do meu irmão
Vítor. Será que eles estão bem? Será que ainda se lembram de
mim? Eu quero voltar para a minha famíliae ter meu direito de
escolha! Já tentei de tudo para sair daqui e nunca consegui nada.
Aliás, consegui sim: um braço e três costelas quebradas. Luigi é um
monstro! Com ele não tem esse negócio de meio termo. Ele manda
e você obedece. Eu demorei um tempo para aprender isso, e até
alcançar esse nível de entendimento, apanhei muito e fui deixada
por dias passando fome no calabouço. Um dia tive que ceder.
E não! Eu não desisti de sair desse inferno! Eu apenas não
achei um jeito ainda. Mas vou conseguir minha liberdade de volta,
nem que seja a última coisa que eu faça nessa minha vida
miserável.
— Lorena! Luigi quer que você recepcione seus convidados
hoje à noite. Vista algo sexy e não o decepcione, ou sabe o que vai
acontecer, não é? — a vaca da Antonella diz.
— Sim, senhora! Estarei lá. — Forço um sorriso de boca
fechada.
Minha vontade é de pular no pescoço dessa cafetina. Por
culpa dela, tive que ser castigada várias vezes. Eu não a suporto!
Um dia ela terá o que merece.
— Muito bem! E só para deixar claro, é melhor nem olhar para
o Vincent. Luigi sabe do seu interesse pelo sobrinho e não está
nada feliz com isso. — Sai me deixando de boca aberta.
Desgraçada! Já esteve fofocando de novo. Eu não tenho
interesse amoroso no subchefe, apenas o acho bonito. Contudo, o
que tem de lindo, tem de perigoso. O cara tem fama de degolar suas
vítimase se deleitar com isso. Há até mesmo um boato de que ele
fezisso com algumas prostitutas que dormiram com ele. Eu que não
quero chegar perto para descobrir se é verdade essa história!
Volto aos meus afazeres. Depois de verificar se tudo está
como ordenado, subo para tomar um banho e escolher minha roupa
da noite. Arrumo meu cabelo, termino de passar maquiagem.
Quando estou pronta, desço para recepcionar os convidados. Luigi
já está sentado no sofá, bebendo, e quando me vê, faz sinal para
que eu vá até ele.
— Estou ao seu agrado, senhor? — pergunto me sentindo
insegura.
— Vejo que hoje está obediente. — diz me puxando para seu
colo. — É assim que eu gosto de você: mansinha feito uma
ovelhinha.
Seguro a vontade de vomitar quando ele vira meu rosto para
um beijo. O homem é um escroto!
— Serão muitos convidados para hoje? — digo tentando tirar
seu foco do meu corpo.
— Sim. E é melhor preparar o quarto especial. Hoje eu e um
amigo queremos brincar com você. — fala com seu sorriso
diabólico.
Fico rígida com suas palavras, o fazendo gargalhar. Oh, não!
Todas as vezes que ele me leva para lá e me divide com seus
colegas, eu sempre me dou mal. Dez anos sendo torturada,
violentada praticamente todos os dias, e ainda assim não me
acostumei.
— Você é tão transparente, doce Lorena. Eu me deleito com
sua rebeldia. Você me excita quando pensa que pode se livrar de
mim. Seu corpo me pertence e faço com ele o que eu quiser,
entendeu? — diz me fazendo arfar com seu aperto em meus
cabelos.
— Sim, mestre! — digo segurando o choro quando a dor vem
forte demais.
— Isso!Assim que eu quero você. Engula o choro e ajoelhe!
Me dê prazer com essa sua boquinha carnuda! Estou muito excitado
agora.
Faço o que ele pede. Abro o zíper da sua calça, tiro seu pau
para fora o coloco na boca enquanto começo a masturbá-lo. Luigi
segura minha cabeça e começa a bombear em minha garganta com
força.Sinto falta de ar, mas quando tento sair para respirar, ele não
deixa. Me faz continuar chupando até tê-lo se derramando em
minha boca. Levanto-me para poder sair, mas travo quando ele me
segura.
— Sobre esperar meu amigo, mudei de ideia. Quero comer
você agora! Tire a roupa e empine essa bunda para mim!
— Mas... — tento argumentar, mas antes de sequer formar a
frase, levo uma bofetada na cara.
— Eu disse para tirar a roupa e abrir as pernas para mim,
vagabunda! Eu falei que você é minha! Qual parte não entendeu
ainda?
Balanço a cabeça e me viro fazendo o que pede. Nessas horas
é impossível segurar as lágrimas. Choro em silêncio quando ele
entra em mim com brutalidade, me machucando no processo.
Gemo, mas meus gemidos não são de prazer, e sim da dor que
sinto com suas estocadas violentas. Seguro na mesa, me firmando
para não cair, apenas respirando fundo, deixando minha mente
vagar para quando eu era livre e saía com minha amiga Karen, ou
quando ia passar o dia na praia com minha família.Esse é meu
refúgio, é onde me escondo até tudo acabar. Ele se segura em
minha cintura e estoca uma última vez antes de se derramar em
meu interior.
— Gostosa! Você nunca decepciona. — Bate em minha bunda,
saindo de dentro de mim. — Vá se limpar, porque à hora que meu
convidado chegar, quero que você dê o mesmo tratamento a ele, ou
nós dois iremos ter bem mais do que uma conversa.
Coloco meu vestido e saio o mais rápido possível de sua
frente. Esbarro em alguém no corredor, mas nem me importo em
olhar para ver quem é a pessoa. Me sinto tão humilhada, indefesae
usada, que nada interessa nesse momento. Ele sente prazer em me
ferir e tudo que sinto é nojo dele.
Entro no banheiro e me sento no chão, permitindo que toda
dor, humilhação, saiam em forma de grandes e grossas lágrimas
salgadas. Ali eu permito que minha máscara caia, me tornando
novamente a menina que foitirada do seio de sua família,sem aviso
prévio ou direito de escolha, e jogada nesse mundo monstruoso.
Posso ser a prostituta dos Lourenço e ferida o quanto for, posso ter
meu corpo usado, judiado e até mesmo sodomizado pelos seus
amigos sádicos, mas eles nunca terão a minha rendição, nem minha
alma, sempre terão que me ter à força. Não vou me render, nem
deixar que tirem o mais importante de mim: a minha dignidade.
Levanto do chão, limpo meu rosto para voltar. Ainda têm
muitas horas pela frentepara enfrentare eu façode cabeça erguida,
como uma verdadeira brasileira de sangue quente nas veias, porque
desistir não faz parte do meu ser.
LOS ANGELES, CALIFÓRNIA
PRESENTE
(...)
(...)
***
FLASHBACK
13 ANOS DE IDADE
***
(...)
(...)
(...)
(...)
(...)
— Lorena! Chegamos.
Levanto atordoada e saímos rumo aos carros que já nos
espera. Olho tudo a minha volta com um sorriso bobo no rosto feito
uma criança no parque de diversões. Tudo é novo e fascinante aos
meus olhos. Quem passa por mim, logo percebe que sou uma
turista. Para que ficassemais óbvio, só faltouum chapéu de palha e
uma máquina fotográfica pendurada no pescoço.
— É tudo tão lindo! Estou apaixonada pelo lugar.
— Assim que eu cumprir com meus compromissos, irei levá-la
para conhecer os pontos turísticos daqui.
— Jura?! — pergunto e ele me olha como se me achasse
louca, até que me toco sobre o que falei. — Não no sentido figurado!
É só uma expressão.
Rio da cara que ele faz.Sinto um pequeno apertar da sua mão
em minha coxa, como se dissesse que me entende. Percebo que no
exato momento que saímos da boate, ele mudou seu
comportamento. Está sério, observador e muito calado. Imaginoque
assumiu essa postura perante os seus soldados, para não mostrar
fraqueza diante deles. Até mesmo o senti um pouco mais distante
de mim. Entendo, posto que no mundo dele quem abaixa a cabeça,
é morto em um piscar de olhos. Os fracos são submetidos a serem
como escravos ou mortos. Não sei de tudo o que eles fazem ou
como vivem dentro das suas próprias leis, mas com base em mim,
posso dizer que é horrívelnão poder colocar limite ou mostrar uma
opinião contrária. Se não for pedir muito, gostaria de mudar ao
menos o que está errado diante dos meus olhos. Se ele realmente
estiver disposto há ceder um pouco, eu ficaria imensamente feliz.
Vamos ver como será daqui em diante. Meu coração pode ter
amolecido, meu corpo estar em total sincronia com o seu, porém,
minha mente não. Sempre me orgulhei de ser racional e pensar com
todo o cuidado sobre o que iria fazer. Aprendi a usar essa habilidade
ao meu favor, essa será a última parte de mim a ceder. É graças a
ela que me mantive viva até hoje e não será diferente porque ele
disse palavras bonitas quando fizemosamor. Vou lhe dar a chance
de realmente me provar o que disse, mas não em palavras, mas sim
em atitudes.
Faço check-in no hotel Bellagio, subimos e peço nosso
almoço. Depois que terminamos, levo Lorena para dar uma volta
pela cidade. Muito mais tarde digo ao motorista para me deixar em
frente ao cassino da família Vitiello, onde tenho marcado uma
reunião com Lucca. Deixo ordem aos meus homens para não
tirarem os olhos dela enquanto compra sua roupa para o nosso
passeio de hoje à noite e saio do carro. Respiro várias vezes para
me controlar, já me preparando para o estresse que essa conversa
me trará. Logo na entrada encontro o Enzo e o nosso consigliere
Henrique Cavallaro que veio representar meu querido tio que está
hospitalizado. O desgraçado também sofreu um atentado e nem
para morrer logo e tirar um grande problema do meu ombro, serviu.
— Cavallaro! — o cumprimento. — Como está Luigi?
— Melhor. Não foi tão grave quanto achávamos. E você?
— Ótimo! Para a minha sorte e azar dos meus inimigos, estou
pronto para outra.
Ele treme o canto do lábio e me dá um olhar de conhecimento.
— Vittello! Como vai?
— Olha se não é o nosso subchefe preferido! Achei que vocês
iriam novamente arrumar uma desculpa. Se não os conhecesse, eu
poderia dizer que estão dando para trás em nosso combinado. —
critica.
Não digo que o que ele acha saber sobre nós, não chega nem
perto do que realmente somos.
— É por isso que estamos aqui. Houve alguns contratempos
que me impediram de vir antes.
— Estou sabendo dos atentados que sofreram. Imaginoque já
tenham achado e punido os culpados, não?
— Claro! Mas vamos aos negócios. Não estamos aqui para
trocar dicas de como matamos e torturamos nossos inimigos.
Ele semicerra os olhos e eu me mantenho sério. Não somos
amigos deles, tão pouco estou felizcom esse arranjo. Quero deixar
claro que mesmo que eu me case com sua irmã, não será motivo o
suficiente para dividir segredos sobre a nossa organização.
— Está certo! Vamos subir! O capo já nos aguarda.
Observo a minha volta, procurando uma possívelrota de fuga
caso seja necessário. Estamos em desvantagem em terreno inimigo
e qualquer passo em falso pode causar um derramamento de
sangue. Dou sinal para que Alec e Miguel se mantenham em alerta.
Liberei Thadeo dessa viagem, contudo não para plantear a perda do
imbecil do seu irmão, mas sim porque não confio nele perto de mim
e nem da Lorena por agora. As pessoas tendem a ser irracionais e
voláteis quando estão de luto. Entramos no escritório e Lucca, junto
com vários de seus homens, se levanta para nos receber.
— É um prazer tê-los
conosco. Minha filha ficou decepcionada por ter cancelado a
festa de amanhã.
— Tudo que posso oferecerno momento é um anel. Ela vai ter
que esperar mais um pouco para ter o nome da minha família.
Acredito eu que você não esteja ansioso por isso. — Sorrio com
escárnio.
— Não mesmo! Mas essa união será muito vantajosa para a
Outfilt
, então, certos detalhes insignificantes temos que deixar
passar. — devolve na ponta da língua.
— Por minha conta, nem teria aceitado esse acordo, pois
estamos levando muito bem sem vocês. — revido.
— Não é o que fiqueisabendo. O FBIestá em cima, com todos
esses ataques que estão sofrendo. Suponho que ficar na boca da
mídia e perder muito dinheiro, tem dado bastante prejuízo.
— Cuidado! — Dou um passo à frente — Quem te escutar,
pode achar que você realmente se preocupa com os nossos
negócios, ou pior, que esteja nos atacando para tentar nos
enfraquecer e se beneficiar com isso.
Ele solta uma risada forçada.
— Não me tenha por tolo, rapaz. Nós podemos ajudá-los e
você deve conhecer o ditado: uma mão lava a outra. Logo, nossas
famíliasestarão ligadas e não quero que sobre nenhuma confusão
para mim.
— Vamos com calma, cavalheiros! Estamos aqui para
negociar, não criar uma guerra. — Henrique tenta apaziguar a
situação.
— Para quando pretende marcar a data de oficialização? —
Riccardo, seu consigliere
, questiona.
— Quando eu resolver alguns problemas que tenho
pendentes. Como podem ver, o momento não é propício a festas.
— Espero que resolva logo! Quanto às fronteiras,permitiremos
que passem por elas assim que os papéis forem assinados. Até lá,
nenhuma outra proposta nos interessa. — Enzo responde de mal
humor.
— Entendemos seu ponto de vista. Não estamos aqui para
cobrar nada, apenas pedimos um pouco mais de paciência até tudo
se resolver. Três meses nem é tanto tempo assim. — digo sucinto.
— Tudo bem! Desde que apareça hoje à noite na minha casa e
coloque o anel no dedo da minha filha, não irei me importar de
esperar um pouco mais. Espero que isso não seja um problema
para você. — Lucca diz me “fuzilando”.
— Estaremos lá! — Henrique se levanta, sendo seguido por
mim.
Caralho! Lá se vão meus planos com a Lorena.
Saímos do prédio e me despeço de Henrique, mas não sem
antes ouvir um dos seus sermões.
— Está sendo muito relapso, Vincent. Trazer a menina para cá
e matar Romeo, não está ajudando a limpar sua barra com seu tio.
Nem pergunto como ficou sabendo. Imagino que Antonella
deve ter ido choramingar com Luigi a morte do seu precioso filho.
— E você acha que eu quero limpar algo com ele?
— Sei que não quer, porém precisa. Não se esqueça de que
ele é seu capo e você lhe deve todo o respeito.
— Uau! Por um instante eu jurei que era ele aqui na minha
frente em carne e osso. O babaca estava no meu território e me
provocou. Não esperava que eu relevasse e ensinasse os outros a
fazerem o mesmo, não é?
— Vai me dizer que não tem nada a ver com a bela morena
que está te esperando naquele carro?
Merda!
— Você tem uma ideia muito errada sobre mim, Cavallaro.
Sempre gostei de ter meu pau molhado por uma boa boceta. A
idade está afetando a sua visão e o fazendo enxergar coisas onde
não existem.
Me dói dizer isso dela, no entanto não posso deixá-lo achar
que tenho um ponto fracoe futuramenteusá-lo contra mim. Retribuo
seu olhar sério, que desde mais jovem parecia ter o poder de ver
além de mim e saber exatamente o que eu escondia ou fazia por
suas costas. Com o passar dos anos, tanto Marco quanto eu
aprendemos a respeitá-lo, o que não quer dizer que não temos os
dois pés atrás com ele. Henrique só parece ser calmo, mas é muito
observador, tão ou mais letal que eu, afinal, foi ele que nos treinou,
ensinou tudo que sabemos. Vamos dizer que não iremos querer ele
como inimigo. Até hoje tento entendê-lo, descobrir de qual lado ele
está exatamente e o que realmente quer.
— Só digo que se cuide! Da mesma forma que eu percebi, eles
também podem. Nos vemos à noite no jantar. — Olha para o carro
mais uma vez e sai.
Inferno!
Vou ao encontro da minha coelhinha, levá-la para conhecer os
pontos turísticos da cidade, como prometi.
(...)
(...)
(...)
(...)
Jogo fora tudo que estava em meu estômago, por nojo, e
choro ao menos uma hora seguida. Depois de ter pena de mim
mesma, levanto e escovo meus dentes até quase vê-los sangrar.
Deito no sofá com os olhos fixos na janela de vidro, sem vontade
nenhuma de sair do lugar ou sequer levantar para ir fazeralgo para
comer. Não sei o que aconteceu para fazerLuigi agir daquele jeito,
mas com toda certeza foi algo que Vincent feze que o deixou muito
irritado.
“Abraa boca, querida, e façao seu melhor trabalho, ou eu irei
atirar na cabeça dele assim que passar pela porta. Você escolhe!”
Isso teve um peso enorme sobre mim, pois me lembrou
exatamente o que sou aqui e me trouxe na mente a conversa que
tive com a Ashley.
“Podem tirar as prostitutas dos bordéis, mas nunca das
mulheres.”
Lembrar de sua traição ainda me dói, mas ela está certa, pois
no lugar dela, eu também teria feito qualquer coisa para sair daqui.
Quem eu queria enganar? Até pouco tempo atrás, era eu procurado
uma fuga. Eu sabia que Vincent estava presente e eu senti o exato
momento que ele entrou naquela sala. Meu corpo queimou diante
da sua presença, mas não ousei virar para vê-lo, com vergonha.
Humilhação me definia ao ser submetida a passar por tudo aquilo de
novo.
— Senhora! Eu fiz um chá para você tomar. — Nino diz me
entregando uma xícara com o líquido fumegante.
— Obrigada! Pare de me chamar de senhora. Não sou
senhora de nada. Nem da minha vida eu sou dona.
— Eu sinto muito! Eu não pude fazer nada, ou ele teria te
matado. Eu sei que não deveria me meter nesse assunto, mas não
é culpa do chefe. Ele está tentando fazera coisa certa e isso causa
muitos inimigos.
— Eu sei, Nino. O pior de tudo é que eu sei. Todas essas
guerras e todos esses atentados é por ele estar se rebelando contra
o tráfico.
Ele fica calado. Mesmo que saiba os reais motivos em
detalhes, não pode compartilhar comigo. Minha cabeça parece que
tem uma escola de samba dentro dela e todo o meu corpo dói de
exaustão. Termino o chá, volto a me deitar, fecho meus olhos e
cochilo.
Braços fortes me carregam e me sinto ser colocada em um
lugar muito mais macio. Não preciso abrir meus olhos para saber
quem é. Não quero ouvir nada agora, só esquecer as cenas
deploráveis que passei mais cedo.
(...)
(...)
(...)
(...)
(...)
(...)
(...)
Saio da instituição, cansada, mas muito satisfeita com os
resultados de hoje. Nino não me perde de vista com os outros
soldados e Vincent me espera sentado dentro do carro e mais a
frente dois carros nos aguarda.
— Irá assustar todas as mulheres que saírem e verem esse
tanto de homens vestidos de preto aqui fora. — digo entrando no
carro e o cumprimentando com um beijo.
— Estou sendo é muito bonzinho melhorando o dia delas com
nossa ilustre presença.
Gargalho dando um tapa em seu braço.
— Mas é um convencido!
— Tenho uma surpresa para você, miabella.— dá partida no
carro, pegando o caminho da praia.
— Não está um pouco tarde para irmos tomar banho de mar?
Ele ri achando engraçado meu embaraço.
— Tenha calma, que logo você verá.
Relaxo e curto a visão que vai passando pela janela, até que
ele vira em um caminho de cascalhos e para diante de uma casa de
dois andares feita de pedras, com janelas de vidro transparente e
um enorme gramado na frente com variadas flores espalhadas a
sua volta. Porém, o que me chama a atenção e deixa o lugar ainda
mais magnífico,é a piscina natural logo na entrada da casa, que
não sei dizer como o arquiteto conseguiu essa proeza, pois a água
da piscina é ligada diretamente a água do mar. A casa é cercada, e
para onde se olha, vê areia e mar a perder de vista. Olho admirada
a beleza do lugar.
— Vamos? — ele pergunta me esticando sua mão.
— Quem mora aqui? — pergunto curiosa.
— Logo você verá!
Subimos a escada e paramos em uma grande porta dupla de
vidro. Vincent tira um chaveiro do bolso e abre a porta. Seja quem
for que more aí, deve ser alguém com quem ele tenha muita
intimidade. Continuamos andando pela casa pintada de cor creme e
com alguns detalhes em dourado no teto abobadado. No meio da
sala um lustre de cristal dá charme e elegância ao lugar. Nós
continuamos nossa caminhada até chegarmos em uma varanda na
parte superior com uma mesa arrumada e bem decorada para duas
pessoas jantarem. Sorrio ao perceber aonde ele quer chegar. Viro
para trás olhando meu belo homem encostado na parede, me
observando.
— Me diz que você não fezisso! — digo já pulando por dentro
de felicidade.
— Você falou que sentia falta de duas coisas no Brasil: morar
em um lugar próximo da praia e ter sua famíliapor perto. Então
comprei essa casa para você matar a saudade. Assim você vai
poder jogar seus barquinhos quando fizeruma promessa para a sua
deusa.
— Se chama oferenda.
— É! Isso aí mesmo.
Rio tentando não chorar para não estragar toda a minha
maquiagem e ficar parecendo um guaxinim. Me jogo em seus
braços o beijando.
— Eu amei! Isso é maravilhoso!
— E não acabou, mio amore
.
— Não?
Não dá tempo de ele responder, pois mainha já entra
sorridente junto com Vítor.
Aí não tem jeito! Eu me derramo em lágrimas, os abraçando.
— Não acredito que vocês estão aqui!
— Seu homem pode ser muito convincente quando quer. —
ela fala rindo.
Vincent se ajoelha e abre uma caixinha, deixando a mostra um
lindo anel de brilhante.
— Bom! Eu não levo jeito com as palavras, mas quero
aproveitar esse momento especial para pedir sua mão em
casamento. Aceita se casar comigo?
— Homem, meu coração não aguenta tantas emoções. É claro
que aceito!
Ele se levanta sorrindo e coloca o anel em meu dedo.
— Que bom! Porque sua mãe veio especialmente passar uma
temporada conosco para te ajudar a organizar a festa que
acontecerá semana que vem.
— Jura?! — Me viro olhando para mainha, que chora
emocionada.
— Viemos ajudar, minha menina. Eu vou ter um trabalhão
organizado um casamento baiano com um toque italiano, mas
superar desafios é o meu sobrenome do meio.
Rio do seu jeito alegre e entusiasmado. Seu inglês não é um
dos melhores, pois ainda está aprendendo, mas dá para entender.
Para mim, é o melhor sotaque.
— E eu vou aproveitar para curtir minha estadia e treinar meu
inglês. Se eu gostar daqui, vocês terão que me expulsar para ir
embora. Mamãe volta sozinha. — fala meu irmão.
Mainha lhe dá uns tapas, brigando com ele e nos fazendo rir
de novo das suas reclamações.
— Vamos! Temos que deixar os pombinhos à vontade.
Aproveitem o jantar! Eu fiz com muito carinho.
— Obrigada, mainha!
— Por nada! — Pisca saindo e puxando Vítor.
Viro para o homem ao meu lado, sorrindo.
— Eu já disse que te amo hoje, meu lobinho?
— Não que eu me lembre, coelhinha. Também não fez mais
aquelas dancinhas no pole dance, que eu tanto gosto.
— Um bom dia para recompensá-lo, não?
— Eu adoraria! — Faz cara de pidão me fazendorir mais forte.
Sentamos para desfrutar da deliciosa comida que só minha
mãe sabe fazer:aquele vatapá de camarão com azeite de dendê. —
Tempero único da minha terra. — Olho para o mar, admirando a
vista, e não posso deixar de me sentir grata pelos bons frutos que
venho colhendo. Eu sofri muito, e se eu pudesse ter chegado aqui
sem passar pelo vale sombrio e tortuoso, eu teria com toda a
certeza cortado o caminho, mas não mandamos no nosso destino.
O que está escrito para cada um de nós, irá acontecer independente
de querermos ou não. O importante para mim é que quando veio a
minha recompensa, fezvaler a pena, pois consegui mudar não só a
minha história de vida, como de várias pessoas ao meu redor, e isso
por si só, é muito mais do que eu desejei e pedi um dia.
Como nossa história de amor, o nosso casamento não poderia
ter sido mais diferenciado. Para não ter confusão e nenhum dos
lados ficarem chateados, decidimos fazer duas cerimônias. A
primeira foi um casamento civil, no estilo do casamento tradicional,
para agradar a famiglia. Foi realizada por um juiz de paz. Não
poderia me casar na igreja católica, pois eu precisaria me converter
ao catolicismo, fazer o catecismo e me batizar de acordo com a
doutrina. Então não seria possível.É claro que deu muito o que falar
e temi até mesmo que pudesse sair uma nova guerra por conta de
divergências religiosas, mas as coisas se acalmaram depois que
cedi a uma festa grandiosa e luxuosa para o povo de lá se mostrar
aos outros membros. Tudo aconteceu em um salão alugado e muito
bem decorado, com direito a bolo, tapete vermelho e vestido de
noiva de alta costura, como manda o figurino e protocolo da máfia.
Diante de quase duzentas pessoas das quais nunca vi em minha
vida, dizemos o tão esperado “sim”finalizandocom a famosa valsa
dos noivos, jogada de buquê e tudo que tínhamos direito.
Hoje acontecerá a segunda cerimônia: um casamento mais
parecido com o estilo do candomblé. Não será o tradicional que
aconteceria no terreiro com o sacerdote responsável e nem teremos
o obi, o fruto sagrado formado por quatro gomos, que na cerimônia
original é comido pelos noivos em agradecimento à bênção após
uma consulta com os orixás se é da vontade deles o casamento.
Foram os sacrifícios que tivemos que fazer para ficarmos
juntos. Apesar de sofrermos muito preconceito, minha religião não
discrimina as outras. Muito pelo contrário. Nós respeitamos e
achamos que toda fé é importante e deve unir as pessoas,
independentemente de suas crenças. Porém, como Vincent não é
um filhode santo, chamamos somente os amigos dele que são mais
próximos e os meus mais íntimos, como todos os colegas da
instituição e seus familiares.
A cerimônia será na praia e em estilo festa havaiana, com
direito a pratos típicos da Bahia, muito axé e outras músicas
brasileiras para animar nossos convidados.
Sento na penteadeira para retocar a maquiagem. Escolhi um
vestido branco, porém não é tradicional como o do civil. Esse é mais
estilo “f
esta ao ar livre”:justo no busto, de estampas florais e muito
longo. Rebeca deu a dica de usar a coroa de flores na cabeça e eu
amei a ideia, pois lembra muito a coroa de obará, que representa as
alianças nos casamentos da minha religião.
Mainha entra no quarto e fica toda boba me olhando, com os
olhos marejados.
— Está tão linda, filha! Oxalá deve estar muito orgulhoso de
você.
— Será que os orixás não irão se irritar por não pedirmos suas
bênçãos?
— Eles são justos e não teriam colocado vocês juntos se não
fosse da vontade deles. Eu desejo que todos os orixás os abençoem
nessa nova caminhada.
— Eu sou agradecida a eles por todas as bênçãos alcançadas.
— Isso é o mais importante! Não esquecer de quem você é e
ser sempre grata por tudo aquilo que lhe for concedido.
Vítor entra no quarto e sorri ao me ver.
— Quem diria que um dia eu ia ter a chance de levá-la ao
altar? Estou muito feliz por você, bonequinha.
— Para! Irá me fazer chorar. E você não vai querer irritar a
Rebeca.
— Aquela mulher é fogo! Em outra encarnação, ela foi um
homem, com toda a certeza.
Rimos da sua analogia.
— Pronta? — Lara pergunta da porta.
— Sim!
— Queremos entregar os presentes das tradições. No outro
casamento, mal chegamos perto de você, e por ser de estilo italiano,
preferimos não nos meter. — Rebeca explica.
— Quais tradições se refere? — pergunto curiosa.
— É uma tradição muito antiga da qual te presenteamos. Diz
trazer boa sorte aos noivos.
— Toda sorte será bem vinda! — Sorrio permitindo e Camilla
bate palmas, feliz.
— Então vamos começar! Esse é seu “algo azul”.— Camilla
entrega um colar com várias pedras na cor azul.
— Lindo! Eu amei! Parecem conchas. — falo admirando as
pedrinhas.
— Esse é o meu. É o seu “algo emprestado”. — Lara me
entrega um par de brincos de pérolas. — Eu ganhei de vovó e
adoraria que você os usasse. Ela me emprestou no meu casamento
e me trouxe muita sorte.
— Muita obrigada, Lara!
— E esse é o seu “algo novo”. — Rebeca me entrega uma
lingerie branca de cinta liga, toda bordada.
— Perfeito, Beca! Acho que vou ter que tirar o vestido para
colocá-la.
Rebeca se joga de joelho no chão.
— Levanta esse vestido, mulher, que eu te ajudo a colocar
rapidinho.
— Mas... O quê? Ai! — dou um gritinho quando ela arrebenta
minha calcinha fio dental.
A meninas riem da minha desgraça.
Vítor sai voando do quarto, resmungando e fazendo todos
rirem da presepada.
— Rebeca, o que você está fazendoaí? — Eduardo pergunta
da porta.
— Ajudando Lorena a trocar de calcinha.
— Pode falar! A boca dela é mágica, não é? — ele fala rindo,
com cara se safado.
— Não é isso que você está pensando. — eu tento explicar.
— Não era para você estar lá embaixo? — Camilla pergunta.
Minha nossa! Minha cara está no chão de vergonha. O
momento é para lá de constrangedor e Rebeca não colabora
enfiada debaixo da saia do meu vestido.
— Gatinha, por mais que eu goste de imaginar você com outra
mulher, Charlotte encheu a frauda e eu não estou afim de tentar
trocar sozinho essa porra e causar o mesmo acidente da outra vez.
— Te vira, Eduardo! Eu estou ocupada, e se eu sair daqui, não
vai ser só a bebê que precisará trocar alguma coisa.
A sala cai na gargalhada.
— Que porra é essa, Rebeca?!
— A sua porra! Não gostou de virar os olhos? Agora aguente
as consequências!
— Oh, mulher dos infernos! — resmunga esticando os braços
com Charlotte para a frente e faz cara de nojo.
— Sai daqui seu, cavalo! Antes que Vincent resolva aparecer e
causar a terceira guerra mundial.
Rapidinho ele some da porta e Rebeca olha sem entender
nada.
— Se eu soubesse que a palavra mágica era “Vincent”, eu
teria dito antes.
Seguro o riso. Acho que ela não sabe da surra que ele levou
na boate, por me encarar, e eu que não vou contar.
— Eu amei! — Olho a Lingerie já imaginando o Vincent
arrancando ela mais tarde.
— Vocês são todas doidas! — Catharina diz tapando a boca e
rindo.
Convidamos o escroto do seu marido somente para servir de
ajuda ao Gabriel em sua investigação. Ele terá muito trabalho para
convencê-la de que o casamento que tem é abusivo. Estamos
fazendo o que podemos para ajudá-la nas terapias, mas a sua
mente é muito fechada ainda, pela religião que segue.
— Vai se acostumando, Cat, que é daqui para pior.
— Olha! Eu não sei muito sobre essas tradições, porque não
tive no meu casamento, mas Rebeca me deu umas dicas e eu
trouxe seu “algo antigo”.— Ela me entrega uma presilha de cabelo
em formato de uma grande rosa vermelha. — É a única coisa mais
antiga que eu tinha e ela foi um presente da minha bisavó no meu
aniversário de quinze anos.
Meus olhos marejam com tamanha delicadeza. É simples,
bonito e de um significado tão grande que nenhum dinheiro compra.
— É perfeita! Vai combinar com o buquê. — A abraço em
agradecimento.
— Chega de chorar! Se não vamos ficar parecendo a Lara
quando acorda. — Rebeca zoa.
— E que jeito eu pareço, Rebeca?! — Lara coloca a mão na
cintura, encarando amiga e nos fazendorir, porque ela parece uma
smurfde tão pequena que é.
— A encarnação da noiva cadáver.
— Eu mereço! Vamos descer antes que eu te jogue pela
janela. E olha que nem sou violenta.
Elas saem do quarto e Vítor entra soltando um assobio.
— Caramba! Todas essas mulheres juntas deixam qualquer
um doido.
Descemos os degraus ouvindo o delicioso batuque dos
tambores. Ligo meu braço ao do meu irmão e caminhamos pelo
tapete de flores. A leve brisa bate em meu rosto, trazendo o cheiro
da água salgada do mar. Sorrio quando vejo Vincent vestido
totalmente fora dos padrões que está acostumado. Ele usa short,
camisa colorida e um colar de flores no pescoço. Os membros do
conselho infartariam se o vissem assim. É incrível como tudo cai
bem nesse homem. Seus olhos não desviam dos meus enquanto
dou passos em sua direção. E quando paramos em frente um do
outro, ele pega minha mão, a beijando.
— Está linda, mio amore
!
— Você também, lobinho.
Nos viramos de frente para o mestre de cerimônia e demos
inícioao casamento. Quando chega as nossas vezes de falar, estou
uma bagunça de lágrimas. Como já trocamos as alianças na
primeira cerimônia, apenas iremos reforçar nossos votos, sem a
pressão de escolher as palavras ou o medo de expressar nossos
sentimentos.
— Vincent, eu jamais imaginei estar aqui um dia. Tudo isso é
muito louco e eu ainda acho que estou sonhando. Eu só tenho a
agradecer aos orixás por terem te colocado em minha vida e me
tirado da prisão em que eu vivia. — Seus olhos amolecem com
minha fala. — Você vive me dizendo que não é bom e que eu
mereço muito mais, e eu vou continuar dizendo que não concordo.
Eu hoje afirmo que você é perfeito para mim e eu te amo
exatamente do jeito que é. Que possamos passar por todas as
turbulências que vier e sair juntos muito mais fortes do outro lado.
Prometo ser sua casa, como você é a minha, e estar do seu lado em
todos os momentos, para resto das nossas vidas.
Ele sorri e me dá um selinho.
— Mia bella ! Eu prometo ser e fazer o melhor para você e te
proteger com a minha vida se preciso for. Estarei ao seu lado em
todos os momentos, e até mesmo naqueles em que eu não puder
demostrar todo o meu sentimento por ti, quero que saiba que em
meu silêncio, eu continuarei te amando. — Ele me beija e somente
para que eu ouça, fala junto aos meus lábios a sua promessa. —
Jurado no sangue e nascido no sangue, por você eu vivo e por você
eu morro.
— Te amo! — digo retribuindo seus beijos.
Foi o mais próximo que pudemos fazerpara lembrar as minhas
origens e ficoumaravilhoso. Mais importante do que nossas crenças
diferenciadas, é o jeito que nosso relacionamento começou e como
foi a construção do nosso amor e respeito um pelo outro ao longo do
caminho. Para mim, isso é mais do que o suficiente para que eu
possa esquecer o passado, porque eu sei, no fundo do meu
coração, que assim como ele luta e morre pela famiglia , cumprirá
sua promessa feita para mim, e eu o amarei mesmo no seu pior,
incondicionalmente.
Temos que nos mudar para a Itália? — Lorena questiona.
Estamos fazendo nossa viagem de lua de mel e estou
mostrando a ela um pouco mais sobre a minha cultura, já que nunca
lhe foi permitido sair do casarão no tempo em que morou aqui.
— O certo seria isso, mia bella . Foi aqui que iniciou a
organização, então é como se fossea matriz. Mas não pretendo sair
de Los Angeles, pois foionde trabalhei para ganhar reconhecimento
e conheci você. Por mais que eu ame a minha terra, aqui não me
traz boas lembranças.
— E como ficará então? — pergunta curiosa.
— Coloquei Riccardo, o filho do Carmo, como subchefe daqui.
Eu e Henrique estaremos sempre de olho nele e em sua
administração.
Ela parece aliviada. Imaginoeu que não seja fácil para ela se
lembrar do que passou aqui nas mãos do Luigi.
Entro na casa onde cresci e tenho uma leve nostalgia quando
olho para as escadas. Parece que vejo papai descendo impecável,
vestido em seu terno, e mamãe logo atrás tirando pelos invisíveis,
apenas para passar as suas recomendações das quais ele fingia
que ouviu, sendo que iria fazer tudo ao contrário e irritá-la
profundamente. Sorrio ao imaginar a cena dele chegando com a
cara mais lavada do mundo, sem um pingo de arrependimento, e
pedindo desculpa por ter feito algo que ela disse para não fazer,
apenas para que não fique dias sem falar com ele.
Chego mais perto da parede onde tem um grande retrato dos
dois comigo mais jovem e observo suas fisionomias.
— Você é a mistura de ambos. — Lorena falaparando ao meu
lado e olhando o retrato também. — Tem a aparência do seu pai,
mas os seus olhos e o seu sorriso puxaram os da sua mãe.
Apesar de Matteo não ser o meu pai biológico, eu puxei mais a
ele na aparência do que a Luigi. E para respeitar sua memória e
tudo o que ele fez por mim e pela minha mãe, o segredo morreu
com Luigi. Para todos os efeitos, eu sou filho de Matteo e Ariella
Lourenço.
— Ela se vangloriava sobre isso.
— Ela era linda. Fico pensando... Se um dia tivermos uma
filha, será que ela terá chances de nascer com esses cabelos de
cachos loiros?
Tento pensar como ela e não me vem na cabeça uma menina
assim, e sim morena, de cabelos escorridos e de profundos olhos
azuis, como os dela. Isso traz outro sorriso aos meus lábios.
Provavelmente eu teria que dobrar a segurança para cuidar da
minha princesinha.
— Todas as vezes que falamos de filhos, você apenas cita
meninas. Por quê?
Ela desvia os olhos.
— É porque eu não consigo imaginar meus filhos chegando
todos ensanguentados como você quando chega de alguns dos
seus trabalhos. Eu infartaria cedo!
A puxo para mim e beijo sua cabeça.
— Você falava isso dos treinamentos e agora implora para
participar.
— Porque quero ser capaz de ajudar se por acaso formos
atacados. E você chama aquilo de treinamento? Na maioria das
vezes termina com nós dois fodendo feito coelhos.
Abro um sorriso predador para ela e passo meu nariz na
extensão do seu pescoço, fazendo-a arfar
.
— Eu não vejo problema nenhum nisso. É a melhor parte do
início do meu dia.
— Sei! Deixa eu aproveitar o momento bem oportuno e te dar
um presente. — Tira da bolsa uma caixa e me entrega.
— É alguma data especial?
— Vai se tornar! — diz sorridente.
Abro a caixa e encontro duas pequenas luvas de boxe dentro
(uma rosa e a outra azul). Olho para ela, tentando entender a dica,
mas nada me vem na cabeça, até que meus olhos batem onde está
sua pequena mão. Sinto o coração acelerado diante da
possibilidade.
— Lorena?! — questiono, já me sentindo emocionado. — Você
está grávida, mia bella?
Ela balança a cabeça confirmando e eu a puxo para mim, sem
saber o que falar. Na garganta um nó se forma de emoção.
— Eu queria que fosse especial e tivesse significado. — fala
com a voz embargada.
— Você é especial, amor, e eu amo tudo o que vier e fazer
parte de você.
— De nós dois! Porque terá um pedacinho de você também.
E eu concordo com ela. Um filho! Meu e dela! Uma mistura de
características interessantes que estou louco para conhecer e ter
em meus braços. Dessa vez eu vou ser mais cuidadoso e os
proteger melhor. Sorrio a beijando e alisando sua barriga, onde
descansa a minha preciosidade.
Sento no sofá olhando Vincent chegar de mais uma de suas
noites sangrentas. As luzes estão apagadas, o que não permite que
ele me veja, mas a claridade da lua lá fora me deixa vê-lo
perfeitamente de onde estou. Senta na poltrona e coloca a mão na
cabeça, pensativo. Todas as vezes são assim e nunca fica mais
fácil.É sempre horrívele pesado, e não tem um jeito melhor de lidar
com isso. Odeio vê-lo tão perdido dentro de si e se condenando por
algo que precisou fazer. Me levanto devagar, vou até onde está e
me ajoelho em sua frente, tomando cuidado para não assustá-lo.
— Você está bem? — pergunto suavemente.
— Não toque em mim, amor. Estou muito sujo e não quero
contaminar você.
A sua voz está distante, como se sua mente não estivesse
aqui.
— Não sinto nojo, Vincent. Me deixe cuidar de você!
Ele levanta a cabeça e me olha sério.
— Me perdoe! Como protegerei vocês, se o perigo vive
batendo na nossa porta? Se eu não consigo ser um bom marido,
como serei um bom pai? — suas palavras são dolorosas e rasgam
meu coração por ele.
— Não faleassim! Vamos tomar um banho e se sentirá melhor.
Pego sua mão e o levo para o chuveiro. Sua respiração está
forte e seus olhos estão sem foco. Ele está se perdendo e é minha
obrigação trazê-lo de volta e mantê-lo controlado. O lavo com
cuidado, passando suavemente a bucha por todo o seu corpo. O
chão branco do banheiro agora está vermelho do sangue que
escorre junto com a água pelo ralo. Tento não prestar atenção nesse
detalhe, para não pirar. Nesse momento é tudo por ele e para ele.
Quando está limpo o suficiente, eu levanto meus olhos e
encontro os seus luxuriosos. Eu o prefiro cheio de tesão do que em
arrependimento.
— Eu preciso de você! — diz me puxando pela nuca e
beijando suavemente meus lábios.
— Então pegue! Me use como quiser para extravasar essa
angústia que sente.
— Não quero machucá-la. — Me abraça apertado.
Eu sei que ele se controla e tenta ser mais cuidadoso agora
que estou grávida, mas eu gosto de todas as suas versões e amo
quando me fode ou me ama. Eu quero tudo dele e estou sempre
disposta por mais. Levanto minha perna e me encaixo em sua
cintura sem tirar meus lábios dos seus. Levo seu membro para
dentro de mim e começo eu mesma a fodê-lo como sei que deseja.
Ele logo me joga na parede e arremete com mais força,me fazendo
gritar com a sua invasão bruta e certeira. Passo minhas unhas por
suas costas, o arranhando de leve e tirando dele um rosnado
animalesco.
— Eu não quero que se segure, Vincent!
Mordo seu pescoço o fazendo gemer mais alto e meter mais
forte em minha vagina que pinga e se contrai querendo explodir em
um orgasmo que só ele é capaz de me dar.
— Vem amor! Me deixe te sentir gozar em meu pau! — Gira
seu quadril e atinge o local que me faz, alguns segundos depois,
estar gritando seu nome.
Meu corpo ondula e eu me deixo vir, o fazendo grunhir e me
acompanhar logo em seguida. A água morna escorre entre nós, o
deixando ainda mais lindo com uma áurea quase selvagem.
— Te machuquei? — pergunta preocupado, me fazendo rir.
— Nem se você quisesse, me machucaria, Vincent. Nós
estamos bem. E você? Está melhor?
Ele abre um sorriso lindo me deixando saber que o tenho de
volta.
— Estou ótimo! Obrigado! — Me beija de novo.
Saímos do banho e fomos em seguida até a cozinha para
prepararmos um lanche.
— Marco anda sumido. Está acontecendo alguma coisa? —
pergunto estranhando seu sumiço daqui.
— Ele está perseguindo sua presa.
— Presa?
— Sim! Ele libertou uma mulher tempos atrás em um dos seus
trabalhos e disse que se a visse de novo, iria matá-la. Agora que ele
a reencontrou, ela foge dele como o diabo foge da cruz por medo
dele cumprir a promessa, e ele está a perseguindo.
— Eu também fugiria. Marco me assusta até hoje.
Ele gargalha.
— Só quero ver a queda dele. Riu tanto de mim, que agora vai
chegar a minha vez de zoar com ele.
— Bom! Quem sabe assim ele amolece um pouco aquele
coração de pedra. Ashley até que tentou, mas não teve nenhum
êxito.
— Nem me fale dessa garota. Só não fui atrás dela porque
você pediu. Espero nunca mais vê-la em minha frente ou não serei
capaz de cumprir minha promessa.
Também espero nunca mais vê-la. Não desejo o seu mal, mas
torço para que o caminho que ela escolheu, tenha realmente válido
a pena ter jogado a nossa amizade fora.Acho que todos nós depois
de tudo que sofremos, merecemos uma segunda chance.
TREZE ANOS DEPOIS
Fim!
NOS BRAÇOS DO MAFIOSO
RENDIDA AO MAFIOSO
HERDEIROS DA MÁFIA
———
Gianna Lourenço