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- As estratégias de ISI adotadas pelos países do Terceiro Mundo conduziram a seu

empoderamento político, que se manifestou na busca por instituições mais condizentes com
seus interesses. Durante a década de 1970, condições financeiras mundiais favoráveis a esses
países aguçaram essa tendência questionadora. Além disso, o contexto da década de 1970 era
de dificuldades monetárias para os EUA e de dificuldades de acumulação para as corporações
dos países desenvolvidos. Essa dupla tendência de empoderamento do terceiro mundo (e da
União Soviética) e de desempoderamento dos EUA fez com que esse país reagisse. A reação
foi a adoção da ideologia neoliberal – que pressupunha o desmonte do Estado
desenvolvimentista, a âmbito internacional; e o desmonte do Estado de bem-estar social a
nível doméstico nos EUA. Os resultados dessa contra-reação produziram um empoderamento
dos Estados Unidos através do dólar. O governo Reagan consolidou o padrão dólar-flexível
aumentando as taxas de juros, sugando todo o capital mundial e atirando os países do terceiro
mundo em crises de endividamento, enquanto o próprio endividamento dos Estados Unidos
passou a ser financiado puramente em moeda emitida domesticamente. “[O] redirecionamento
massivo dos fluxos de capital para os Estados Unidos transformou a ‘enxurrada’ de capital
vista pelos países do sul nos anos 70 na súbita ‘estiagem’ dos anos 80. Essa estiagem [...] foi
possivelmente o fator mais importante na transmissão das pressões do norte para o sul e na
grande mudança de rumo das regiões do sul nos anos 80 e 90”. (p. 9).

- Por que houve, nas décadas de 1980 e 1990, uma dualização no próprio sul global, em que
leste europeu e América Latina tiveram um desempenho econômico catastrófico e o leste,
sudeste e sul asiáticos tornaram-se economias pujantes?
Nos anos 1970 Índia e China afastaram-se dos bancos ocidentais de investimentos e
estiveram alheias à crise de endividamento que afetou as outras regiões. Por isso estiveram
livres do ajuste estrutural imposto ideologicamente por essas instituições, que pedia a venda
forçada de ativos estatais a preços subfaturados. Ao contrário, as reformas efetuadas na Índia
e na China inseriram-nas na globalização estrutural (e não na ideológica) de modo coordenado
com as estratégias nacionais de desenvolvimento, não permitindo liberalizações especulativas
em seus balanços de pagamentos e mantendo a presença do Estado em setores da economia.
Por isso, os balanços de pagamentos desses países puderam ser financiados com a venda de
produtos para o mercado americano e não precisaram competir com os Estados Unidos pelo
capital financeiro mundial para se financiar.
O modelo de crescimento da China não foi, como se costuma dizer, baseado na
exploração de mão-de-obra barata, somente. Mas envolveu também a substituição de
máquinas poderosas e altos executivos com salários astronômicos por um modelo de emprego
em massa de trabalho qualificado munido apenas com furadeiras e chaves inglesas. O
barateamento dos custos nesse modelo chinês é evidente, dado que a mão de obra qualificada
de fato é barata, os gastos com compra e manutenção de máquinas caras são diminuídos e os
custos com salários de altos executivos são eliminados. Isso decorre, é claro, das qualidades
demográficas chinesas, que incluem uma população enorme com treinamento técnico,
altamente qualificada e versátil.

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