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RESUMO
1. Introdução
centrado no sujeito que se diferencia em seu próprio seio, mas que recupera suas
diferenciações, suas contradições, sob uma mesma forma idêntica (tese, antítese,
síntese).
Ao analisar os três aspectos, Bornheim (1983, p. 164) entende que “a tese não
pode ser tomada simplesmente como algo que está aí, um dado passivo ou um ponto de
partida imóvel e eterno: a realidade.” A tese está no processo, integra-o na condição de
afirmação. Com Hegel, a tese está no sujeito, onde a ideia é o real que possui uma base
histórica, pois reflete a ação do homem. Já, para Marx, a tese está no objeto, onde o
homem passa a ser o objeto dos outros homens. Do mesmo modo, a antítese é a negação
da tese, que passa a ser uma negação do próprio ser, permitindo a passagem do não-ser,
como condição material do ser, do contraditório que por sua vez permite o aparecimento
da síntese, como resultado de uma ação transformadora. A antítese nega toda dimensão
anteriormente apresentada pela tese, permitindo o aparecimento da síntese. A síntese é o
processo totalizador enquanto abarca a necessidade da afirmação, da contradição e da
superação como resultado de uma ação transformadora (BORNHEIM, 1983).
Marx (1818-1883) adota a Dialética como um processo crítico-reflexivo pelas
transformações e contradições considerando três aspectos fundamentais: a matéria, a
consciência e a prática social. A matéria serve para designar a realidade objetiva. Já, a
consciência reflete a educação que se realiza na família, na Escola e na sociedade. Ela
está unida à realidade material, e influi sobre os sentidos possibilitando a transformação
das ações sociais. A práxis é uma unidade entre a tese, a antítese e a síntese. Assim, a
tese tanto está no sujeito (posição idealista) e para Marx, a tese está no objeto. A
antítese é a negação da tese, é o contraditório que permite o aparecimento da síntese,
como resultado de uma ação transformadora que se desenvolve pela superação, e
necessita de uma teoria e uma prática em si (TRIVIÑOS, 1987).
Na compreensão de Lukács (2003, p. 67) “a dialética é um processo constante da
passagem fluida de uma determinação para a outra, uma superação permanente dos
contrários, que ela é uma passagem de um para dentro do outro”. Deste modo, pode-se
considerar que a dialética considera as coisas e os conceitos no seu encadeamento, suas
reflexões, suas transformações, seu nascimento, desenvolvimento e decadência. A
dialética é um processo epistemológico crítico essencial, considerando que o
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O chamado saber popular é o "ponto de partida" para a educação, que pode ser
utilizado para estabelecer uma ponte com as classes populares. O "ponto de chegada",
ao qual a educação deve levar as classes dominadas (educandos), é o saber da classe
culta, daí a importância do papel do "professor tecnicamente competente" nessa
pedagogia.
Na PHC, a aprendizagem significativa promove o saber científico com a
realidade, constituindo-se no processo educativo em uma conseqüente aprendizagem
crítica visto que sua questão central são as formas, os métodos e os processos que a
envolvem para o crescimento intelectual do aluno possibilitando sua prática social.
A didática evidenciada pelo método na PHC necessita dos conteúdos que
auxiliam os alunos para compreender a realidade, a prática social, que tem relação direta
com a vivência e a experiência dos alunos em busca do conhecimento sistematizado.
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Vai-se da ação à síntese, ou melhor, unificação entre teoria e prática que apresenta cinco
etapas que vai da Prática Social Inicial à nova postura da Prática Social Final
(SAVIANI, 1999).
A Prática Social Inicial consiste em uma primeira leitura da realidade, um
contato inicial com o tema a ser estudado para motivar os alunos com a finalidade de
conhecer sua prática social imediata, por meio da percepção oral e auditiva nas relações
sociais como um todo. Assim, de acordo com Saviani (1999), o primeiro momento
caracteriza-se como uma preparação, uma mobilização dos alunos para a construção do
conhecimento escolar. Estratégias são organizadas fazendo com que os alunos busquem
o que já conhecem possibilitando um conhecimento significativo para as suas vidas.
A contextualização dos saberes dos alunos implica que o professor,
contextualize o conteúdo programático para a elaboração da problematização, como
segundo elemento da didática na sala de aula, que consiste no questionamento da
realidade e do conteúdo com a finalidade de selecionar as principais interrogações
levantadas na prática social. Caracteriza-se como um elemento importante na transição
entre prática e teoria, fazer cotidiano e cultura elaborada, ou seja, é o início do trabalho
com o conteúdo sistematizado. Assim, a problematização deve “detectar que questões
precisam ser resolvidas no âmbito da prática social e, em consequência, que
conhecimento é necessário dominar” (SAVIANI, 1999, p.80). Para isso, são levantadas
situações problemas que estimulam o raciocínio, a investigação para solucionar as
questões, abrindo o caminho que predispõe o educando para a aprendizagem
significativa. Desta forma, é importante observar como o primeiro momento (Prática Social
Inicial) estabelece uma relação significativa com o segundo momento
(problematização), e assim sucessivamente.
A instrumentalização percorre o caminho através do qual o conteúdo
sistematizado é posto à disposição dos alunos para que o assimilem, o reelaborem e, ao
incorporá-lo, transformem-no em construção pessoal e profissional, pois “trata-se de
apropriar dos instrumentos teóricos e práticos necessários ao equacionamento dos
problemas detectados na prática social” (SAVIANI, 1999, p. 81).
Os alunos buscam a aprendizagem mediada pelo professor e, essa relação
triádica do aluno, professor, conteúdo estará revestida por determinantes sociais e
individuais que irão fazer parte da construção do saber e apreensão do conhecimento.
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Isto implica dizer que nessa relação de aprendizagem não existe elemento neutro, como
afirma Gasparin (2002, p.52), “a aprendizagem assume feições dos sujeitos que
aprendem, do objeto de conhecimento apresentado e do professor que ensina”. Assim, a
aprendizagem assume uma relação de caráter interpessoal, sendo que a ação do
educando é sempre consciente em que todos apresentam marcas de condicionamentos
sejam eles subjetivos, objetivos, político, sociais, econômicos ou culturais.
Fundamentada em Gramsci, Saviani (1999) considera a Catarse uma síntese do
cotidiano e do saber científico, do teórico e do prático a que o educando chegou,
marcando uma nova posição em relação ao conteúdo e a forma de sua construção social:
A catarse ocorre por uma efetiva incorporação dos contextos culturais para a
efetivação ativa na transformação social que consiste no processo de aprendizagem que
segundo Saviani (1999) torna as abstrações em síntese, desde a problematização e a
Instrumentalização:
expressão mais forte de apropriação dos conteúdos, e por isso sabe e aplica com o uso
social dos conteúdos científicos aprendidos, conforme afirma Gasparin (2002, p.145):
[...] sua prática final do conteúdo será sempre uma prática, em maior
medida, pedagógico-escolar e futuramente profissional. Todavia, a
prática do período de formação extrapola a dimensão acadêmica
porque a finalidade da escola, em todos os níveis e áreas do
conhecimento, não é apenas preparar um profissional, mas um
cidadão. Por isso, a prática social final do conteúdo ultrapassa o nível
institucional pra tornar-se um fazer prático-teórico no cotidiano extra-
escolar nas diversas áreas da vida social.
Assim, para atingir a Prática Social Final é necessário que a relação professor-
aluno seja contínua, para observar as mudanças de posturas e ações dos alunos enquanto
profissionais e cidadãos. O momento da catarse consiste na tônica desse processo de
aprendizagem, ou seja, tornar as abstrações em síntese e que neste aspecto, a educação
crítica se revela a partir da realidade histórico-dialética entre educador e educando.
essências e nos fundamentos que historicamente e socialmente são construídos pelo ser
humano.
Os elementos da filosofia crítica são encontrados na educação ambiental em
diversos autores, como podemos perceber na definição elaborada por Trein (2008):
Guimarães (2004) entende que a educação ambiental crítica seja necessária para
o envolvimento de educadores e educandos que possam desenvolver conteúdos
significativos para uma prática educativa significativa:
Senti necessidade de resignificar a educação ambiental como “crítica”,
por compreender ser necessário diferenciar uma ação educativa que
seja capaz de contribuir com a transformação de uma realidade que,
historicamente, se coloca em uma grave crise socioambiental (p. 25,
grifo no original)
Assim, uma vez que nela estão contidos os elementos históricos da sociedade e
do meio-ambiente, a PHC torna-se um elemento fundamental para a compreensão dos
saberes ambientais nas relações entre homem, sociedade e natureza.
Tozzoni-Reis (2007) considera que os pressupostos teóricos propostos por
Saviani influenciaram na elaboração de uma PHC como instrumento de transformação
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social “que vai da prática social inicial (a realidade empírica) à nova prática social
(realidade concreta), pela mediação da teoria (abstrações)” (p. 212).
Neste contexto, a articulação didática dos princípios da PHC com a educação
ambiental, demanda práticas educativas diferenciadas de educadores por meio de uma
formação humana integral construindo o que se denomina professores reflexivos-
engajados. Assim, fundamentada na crítica a sociedade capitalista, a didática da PHC
caracteriza-se pelo fato de que o trabalho educativo esteja voltado para uma educação
emancipatória permeando o caráter político da educação ambiental:
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A PHC concebe o ser humano do ponto de vista onilateral, e como tal o homem
é um sujeito crítico em permanente formação, entendido como um processo de
permanente construção do conhecimento. Assim, nesta perspectiva da PHC, a educação
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ambiental pode ser compreendida como uma mediação para a formação humana na
esfera da teoria e da prática social, a qual está inserida.
Desenvolvida por Saviani, com base nos fundamentos marxistas, a PHC reflete
os valores éticos, políticos e sociais observados através das reflexões que permitem
refletir as condições sociais, econômicas e políticas presentes na sociedade capitalista.
Nesse aspecto, a educação ambiental fundamentada na formação educacional
crítica, deve estar comprometida com uma aprendizagem integral do ser humano.
Assim, na educação pública, os educadores devem ser capazes de desenvolver o
pensamento reflexivo, crítico para promover os valores do conhecimento, éticos,
estéticos, políticos e da cidadania ambiental. Neste aspecto, a PHC torna-se um
processo pedagógico que contribui para a aprendizagem dos educandos ambientais
comprometidos com a realidade e a transformação social.
A compreensão deste processo é um fator fundamental para a integração entre o
educando, o educador e a natureza. Em sua existência histórica, o desenvolvimento da
emancipação dos homens, a PHC contribui para a formação de educandos críticos e
comprometidos com a realidade para o desenvolvimento dos valores ambientais. Na
condição ética é importante que os educadores reconheçam que a educação ambiental
crítica permite a formação de um sujeito comprometido com os valores culturais e
sociais. Enquanto prática política, ela norteia a formação de um sujeito comprometido
com a natureza e a sociedade. É no plano da polis constituída como política, que o ser
humano constrói a sua autonomia perante os outros seres e consequentemente permite a
formação de um sujeito ético perante a natureza e a sociedade.
A realização da ética e da política na Educação ambiental permite compreender
que a PHC contribui para o desenvolvimento de um trabalho educativo crítico,
valorizando educadores e educandos em processo de formação humana. Portanto, a
didática elaborada e a proposta em um planejamento e da prática educativa na PHC,
pode ser realizada com base nos problemas ambientais presentes na comunidade, na
sociedade, na escola e na universidade para a construção de uma educação crítica e
comprometida em ações éticas e políticas visando o desenvolvimento da cidadania
consciente do ser humano e da natureza.
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REFERÊNCIAS
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