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Amuletos, Talismãs e a Magia em Objetos

by Ravn

1 de julho de 2019 Nenhum comentário |

Logo após os banimentos, o próximo passo que costuma a vir em currículos de aprendizado
magístico costuma a ser a consagração – tornar um objeto mundano uma ferramenta mágica.
Este ritual muitas vezes irá gerar um amuleto ou talismã, que estão desde no imaginário popular
até em intrincados diagramas feitos de metais raros. Vamos discutir o conceito desse tipo de
magia e toda a versatilidade que pode assumir.

Omamori para melhorar o desempenho escolar: amuletos são parte do cotidiano japonês

Embora alguns autores gostem de denominar categorias diferentes como “amuleto” ou


“talismã”, devemos nos atentar que etimologicamente ambas as palavras denotam um objeto
– muitas vezes dotado de inscrições – que é carregado por alguém com propósitos de proteção
ou para que provenham algum tipo de bênção (boa sorte, saúde…); o que diferencia os termos é
que “amuleto” possui origem romana, enquanto “talismã” vem do árabe. Tendo isso em mente,
os dois serão usados de forma intercambiável durante o texto e não me atarei a definições
voltadas de forma muito estrita a sistemas ou tradições específicas.
Os talismãs são, em primeiro lugar, a materialização de um conceito, de uma ideia, ou até
mesmo uma lembrança. Podemos dizer que possuem corpo (o objeto em si), mente (os
símbolos, ideias e propósitos que carrega) e espírito (a Vontade do magista e a energia que o
torna ativo). Um amuleto mundano – sem uma consagração apropriada – pode ser visto apenas
como algo para lembrar uma ideia ou fé ou marcar uma ocasião, enquanto aqueles ativados
ritualisticamente podem ser desde baterias energéticas até âncoras ou atratores de um
determinado padrão. O material e a forma que são consagrados, além de aspectos como se
serão inscritos ou não, variam muito de uma tradição/sistema para outro. Enquanto em alguns
lugares será exigido que sejam peças de joalheira ou feitos de metais muito específicos
cravados, o imaginário popular segue associando objetos simples (como um trevo, um pedaço
de uma madeira específica ou parte de um animal) com as funções de amuletos. A carga
emocional também pode influenciar um objeto para este papel, como uma “caneta da sorte”, a
palheta usada por um grande guitarrista, algo herdado de um familiar querido ou obtido em um
momento importante.

Talismãs do ano anterior são preparados para serem queimados em cerimônia de ano novo
lunar, no Japão

Muitos amuletos possuem “prazo” para funcionar; atuarão sobre uma determinada questão ou
um certo período, e depois voltarão a ser objetos comuns. Tradições asiáticas costumam a
confeccionar talismãs durante o ano novo lunar que se referem ao ciclo que se inicia, enquanto
um feito para passar em uma prova ou se curar de uma doença atuarão sobre aquela ação
específica apenas. Estes são consagrados como “baterias”, possuindo uma certa carga de
energia que se esvairá depois do período determinado ou o evento intencionado se concretizar.
Normalmente são de caráter muito pessoal e pela volatilidade da energia presente no objeto
avisos do tipo “ninguém além de você poderá tocar nele” são comuns.

Diversas vias possuem diretrizes sobre o que fazer com o corpo do talismã depois, com formas
cerimoniais de destruí-los ou descarta-los que visam devolver à “fonte” quaisquer resquícios
energéticos que estejam no objeto e assim concluir seu ciclo, marcando também o fim daquele
momento em nossas vidas e a transição para uma nova fase. Muitas vezes, envolverão enterrar
(aos que optarem por este método, por favor usem apenas materiais biodegradáveis!) ou
queimar o amuleto. Há uma atenção especial voltada a esse momento quando serão usados
para coisas que envolvem energias nocivas, como curar uma doença ou expelir energias
maléficas anexadas à aura – nesses casos é os amuletos tendem a puxar para si tais fatores
prejudiciais e sua destruição também envolverá algum tipo de purificação energética.
Nos casos permanentes, podemos mencionar como mais óbvios pingentes de viés religioso –
uma cruz cristã, as guias das religiões africanas, o mjöllnir nórdico, as medalhas de jade dos
monges taoístas… Quando usados com intenção, estes objetos nos mantém sempre alinhados
com a egrégora e suas ideias. São pontos de ancoragem, que atraem determinada vibração para
nós ao invés de serem apenas um acúmulo direcionado de energia. Frequentemente exigirão
manutenção – um amuleto de proteção pode precisar de limpezas energéticas, por exemplo.
Uma firmeza ou outro ponto de poder pode precisar de libações para se manter ativo. Um
talismã de prosperidade pode manter sua vibração por ser usado frequentemente em rituais
voltados para isto. De forma igual a um Instrumento, eles se tornam nossos parceiros e se
desenvolvem magisticamente conosco.

Amuletos chineses de papel

Para aqueles que querem trabalhar com amuletos, o livro Mágicka Visual pode trazer alguns
insights interessantes – porém você não precisa se preocupar com metais caros e técnicas
complicadas. O papel possui propriedades de absorção e retenção energéticas excelentes, e
temos tradições inteiras de magia talismânica na Ásia voltados totalmente a preencher papéis
com encantamentos. E para colocar os amuletos como um fator presente em suas práticas
mágicas, proponho uma prática baseada em magia temporal e ritos de consagração
talismânicos chineses.

Os talismãs possuem a propriedade de reterem em si um momento (ou melhor, sua


configuração energética). Muitas vezes encontramos uma janela astrológica, marco sazonal ou
outro evento de abertura de portais com um potencial muito grande porém não dispomos no
momento de um objeto para consagrar ou simplesmente queremos “guardar” aquela energia
para uma prática posterior. Para resolver essa questão, faça um amuleto de papel composto
com símbolos de sua linha de trabalho que remetam ao momento e ao intento daquela energia
– você criou uma “bateria” que foi carregada com aquele instante. Para consagrar um objeto
posteriormente, coloque o objeto dentro de um caldeirão (ou outro recipiente que possa
concentrar e conter) e destrua o talismã de forma que seus pedaços caiam dentro dele,
direcionando sua energia para o objeto; já para que a energia seja usada em outro tipo de prática
bastaria rasgar o papel para que seja liberada. Um amuleto de papel é especialmente prático
para a coleta de energias de shows musicais, festas e outros eventos para uso posterior,
podendo ainda ser personalizado com algo que remeta ao acontecimento de onde veio a
energia.

Amuleto salomônico

As técnicas envolvendo amuletos estão entre as tecnologias mais versáteis que possuímos na
magia. Existe muito o que podem oferecer e agregar em qualquer tipo de prática, sendo um
campo onde nossa criatividade pode expandir nosso trabalho magístico como um todo. Façam
experimentos e os enxerguem tanto como ferramentas extremamente úteis quanto feitiços
vivos. Busquem situações e técnicas que podem ser melhor aproveitadas com o emprego de
amuletos e criem um verdadeiro arsenal de soluções magísticas.

Esta é apenas uma pequena introdução ao assunto, é possível estender ainda mais e se
aprofundar trazendo a visão animista para debater não apenas a nossa relação com os objetos
como também o espírito que reside neles. Porém, isso ficará para um encontro futuro!

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