Você está na página 1de 12

ARTIGO ORIGINAL | ORIGINAL ARTICLE 429

As redes sociais de apoio para o Aleitamento


Materno: uma pesquisa-ação
Social support networks for Breastfeeding: an action-research

Valeska Cahú Fonseca da Nóbrega1, Ricardo Henrique Vieira de Melo2, Aracelli Laise Tavares
Mendonça Diniz3, Rosana Lúcia Alves de Vilar2

DOI: 10.1590/0103-1104201912111

RESUMO As redes sociais podem ser consideradas teias de relações estabelecidas entre as pessoas,
e suas consequências, nos comportamentos individuais e coletivos. Os estudos sobre redes de
apoio contribuem para desvendar a compreensão sobre as interações sociais, a formação de vín-
culos, as trocas e as reciprocidades, que fazem circular os bens simbólicos e materiais essenciais
à constituição de laços sociais, capazes de fortalecer as práticas cotidianas. O presente artigo
teve como objetivo analisar as redes sociais de apoio ao Aleitamento Materno e desenvolver
ações para seu fortalecimento. Trata-se de uma pesquisa-ação desenvolvida em quatro fases:
exploratória, de planejamento, de ação e de avaliação. Os dados foram coletados por entrevistas,
diário de campo e grupo focal. Foram examinados pela técnica de análise temática de conteúdo.
Os resultados, interpretados a partir de aportes sociológicos da teoria das redes sociais e da
teoria da dádiva, revelaram que a família nuclear possui uma relação muito forte com as nutrizes,
destacando o parceiro e a mãe como integrantes mais influentes na rede social destas. As ações
educativas realizadas constituíram três tipos de atividades, que se complementaram: as visitas
domiciliares, as rodas de conversa e a interação de um grupo virtual. As conclusões afirmam a
importância da rede de apoio para a prática do Aleitamento Materno, envolvendo relações de
reciprocidades positivas, gerando sentimentos de reconhecimento, solidariedade e satisfação.

PALAVRAS-CHAVE Saúde da família. Aleitamento Materno. Rede social.

ABSTRACT Social networks can be regarded as webs of relationships established between people,
and their consequences, in individual and collective behaviors. Studies on support networks con-
tribute to unravel the understanding of social interactions, the formation of bonds, exchanges and
1 Secretaria
Municipal de reciprocities, which circulate the symbolic goods and materials essential to the constitution of social
Saúde – Parnamirim (RN), bonds, capable of strengthen everyday practices. The objective of this article was to analyze the
Brasil.
social support networks for Breastfeeding stimulation and to develop actions to strengthen them.
2 Universidade Federal
This is an action research developed in four phases: exploratory, planning, action and evaluation.
do Rio Grande do Norte
(UFRN) – Natal (RN), Data were collected by interviews, field diary and focal group. They were analyzed by thematic
Brasil. content analysis technique. The results, interpreted from sociological contributions of the theory of
rosanaalvesrn@gmail.com
social networks and the theory of gift, revealed that the nuclear family has a very strong relation-
3 Prefeitura Municipal de ship with the nursing mothers, highlighting the partner and the mother as the most influential
Montadas – Montadas
(PB), Brasil. members in the network social of these. The educational actions performed were constituted of

Este é um artigo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative
Commons Attribution, que permite uso, distribuição e reprodução em qualquer
meio, sem restrições, desde que o trabalho original seja corretamente citado. SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 43, N. 121, P. 429-440, ABR-JUN, 2019
430 Nóbrega VCF, Melo RHV, Diniz ALTM, Vilar RLA

three types of activities, that were complemented: the home visits, the conversations wheels and the
interaction of a virtual group. The conclusions affirm the importance of the support network for
the practice of Breastfeeding, involving relationships of positive reciprocities, generating feelings
of recognition, solidarity and satisfaction.

KEYWORDS Family health. Breastfeeding. Social networking.

Introdução nas relações e, ainda, pela magnitude, fami-


liaridade e reciprocidade de serviços dentro
O termo ‘rede’ é utilizado em diversos campos destas relações. Consequentemente, pode-se
do conhecimento e possui as mais variadas observar uma dicotomia entre os laços sociais
interpretações. As redes podem ser entendidas fortes e os laços sociais fracos, deduzindo que
como um sistema de trocas e de reciproci- a proximidade ou o distanciamento entre os
dades, envolvendo a pessoa, mediante ações atores pode ser capaz de influenciar a quali-
de acordo/desacordo ou de aliança/conflito1. dade das relações de solidariedade, bem como
As pessoas que compõem as redes podem, os laços mantenedores do vínculo social.
em determinadas situações, assumir posições Os laços fortes conservam as tarefas habitu-
de apoio a algum tipo de problema ou neces- ais, o suporte afetivo e o apoio à reprodução da
sidade na referida rede. Por esta razão, são vida familiar. Contudo, redes que contenham
reconhecidas como redes de apoio social, cujos apenas este tipo de laço têm uma predispo-
vínculos interpessoais ocasionam sentimentos sição a se fecharem sobre si mesmas, pois os
de amizade, confiança e solidariedade entre rituais são mais perenes e estáveis, tendendo
os membros dos grupos2,3. a um maior congelamento, pelas influências
Nesta direção, as redes sociais surgem como mútuas e afetividades mais repetitivas. Por sua
um conjunto de relações e intercâmbios entre vez, os laços fracos ampliam o capital social
indivíduos, grupos ou organizações que parti- das pessoas porque multiplicam as relações
lham de interesses comuns, e também podem e permitem o acesso às novas informações e
ser definidas como estratégias utilizadas pela a grupos/recursos sociais distintos. Na trama
sociedade para que seja possível comparti- social, uma configuração ideal deveria abran-
lhar informações e conhecimentos, por meio ger uma bricolagem, de forma balanceada,
de relacionamentos (de estudo, trabalho, entre ambos os laços, para uma melhor resi-
amizade, lazer etc.) entre os atores (pessoas, liência social7.
grupos, organizações, comunidades etc.) que O Aleitamento Materno (AM) proporcio-
as constituem4. na nutrição, vínculo, afeto e proteção para a
Assim sendo, a imagem de teia, de conexão, criança. Amamentar é uma prática complexa,
de fios que se entrelaçam está sempre asso- que abrange dimensões comportamentais,
ciada a algumas denominações, como: rede culturais, sociais e históricas. Desta forma, o
política, rede social, rede de serviço, rede de AM possui diferentes significados, permeados
internet etc., independentemente das percep- de ideologias, crenças e mitos. Ele ainda recebe
ções que lhes são imputadas, em espaços que influências da época e do ambiente em que
podem ser presenciais ou virtuais5. se encontra inserido, pelo contexto de quem
Para Fontes6, a intensidade dos laços sociais vivencia o ato de amamentar8.
pode ser classificada em termos de tempo gasto Na história da amamentação, o homem foi

SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 43, N. 121, P. 429-440, ABR-JUN, 2019


As redes sociais de apoio para o Aleitamento Materno: uma pesquisa-ação 431

instigado a estabelecer alternativas à demanda os conhecimentos, a experiência prática, as


das mulheres que, por qualquer causa, ini- crenças e a vivência social e familiar da ges-
ciavam o desmame precoce. Desde a época tante, com a finalidade de promover educação
da ama de leite até os dias de hoje, fortale- em saúde para o AM, assim como garantir a
cida pelo marketing dos fabricantes de leites vigilância e a efetividade durante a assistência
modificados, a alimentação do lactente tem às nutrizes no pós-parto12.
servido a propósitos que não se circunscrevem Mesmo com todos os incentivos e campa-
exclusivamente às questões ligadas à saúde, nhas para a promoção do AM, a amamentação
denotando, em muitas situações, interesses artificial ainda se faz muito presente, elevan-
relacionados à modulação de comportamento do o coeficiente de mortalidade infantil no
social e à oportunidade de auferir lucros de primeiro ano de vida. Este desmame precoce
toda espécie9. acarreta sérios problemas para a saúde da
Nas últimas décadas, o Ministério da Saúde criança, portanto, é importante conhecer as
vem desenvolvendo iniciativas para qualifi- causas e demais consequências desta prática,
car as ações de promoção e apoio ao AM, por destacando as influências das mudanças
meio do aprimoramento das competências e sociais, da urbanização e do estilo de vida,
habilidades dos profissionais de saúde que nesse processo13.
atuam na rede de atenção básica do Sistema Este artigo aborda o tema das redes sociais
Único de Saúde (SUS)11, tais como: o Programa relacionadas com a ‘amamentação’, destacando
Nacional de Aleitamento Materno; a Iniciativa a importância de uma compreensão ampliada
Hospital Amigo da Criança (IHAC); o Banco de sobre aquelas que influenciam a prática do AM
Leite Humano; o Método Canguru de Atenção na busca e no alcance de confiança, de vínculo,
Humanizada ao Recém-Nascido de Baixo de respeito e da estima, como uma práxis trans-
Peso; e a Iniciativa Unidade Básica Amiga da formadora. O interesse pela efetiva inserção do
Amamentação (IUBAAM). Além dessas, houve apoio ao AM surge da preocupação com os efeitos
também a implantação da Rede Amamenta deletérios do desmame precoce, situação fre-
Brasil, em 2011, e da Estratégia Nacional quentemente observada pela prática na Estratégia
para Promoção do Aleitamento Materno Saúde da Família (ESF)14.
e Alimentação Complementar Saudável Vale salientar que a amamentação não é
no Sistema Único de Saúde – Estratégia totalmente instintiva para o ser humano. Tal
Amamenta e Alimenta Brasil (EAAB), em 2012, ato requer aprendizado para se prolongar com
e de estratégias de mobilização social por meio êxito e precisa de esforço e apoio constante.
da Semana Mundial de Amamentação e do Nas interações no grupo, os saberes são parti-
Dia Nacional de Doação do Leite Humano, lhados com relatos de dificuldades e de suces-
entre outras10. Vale mencionar, ainda, a Rede sos da amamentação. As pessoas vinculadas às
Cegonha (RC), uma estratégia instituída mulheres, no seu cotidiano, como os vizinhos
no SUS pela portaria Ministério da Saúde/ e a família extensiva (tios, primos, amigos),
Gabinete do Ministro nº 1.459/2011, que con- podem influenciá-las, com seus costumes,
siste em uma rede de cuidados que assegura à valores, hábitos e crenças, pois interferem na
mulher o direito ao planejamento reprodutivo decisão da mulher sobre o ato de amamentar
e à atenção humanizada durante a gravidez, o e dar continuidade ao AM15.
parto e o puerpério. Sendo assim, a prática na ESF fez emergir
Recomenda-se, portanto, que, durante o alguns questionamentos, que nortearam a in-
pré-natal, os profissionais de saúde envolvidos vestigação, tais como: ‘Qual a importância das
orientem as mulheres e seus familiares para redes sociais no apoio ao AM? Como fortalecer
o AM, em diferentes momentos educativos. as ações educativas nessas redes? Como for-
Desta forma, a equipe de saúde deve identificar talecer seus fios por meio de tecnologias de

SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 43, N. 121, P. 429-440, ABR-JUN, 2019


432 Nóbrega VCF, Melo RHV, Diniz ALTM, Vilar RLA

comunicação?’. Para responder as questões elaboração da proposta das ações educativas,


propostas, o estudo teve, como objetivo geral, tendo como base as necessidades identificadas.
analisar as redes sociais de apoio ao estímulo A fase de ação compreendeu a execução
e à manutenção do AM e desenvolver ações das ações planejadas, sendo direcionada aos
na perspectiva do seu fortalecimento. Seus encontros educativos (rodas de conversa), às
objetivos específicos foram: mapear as redes Visitas Domiciliares (VDs) e à utilização da
sociais de apoio a mulheres no ciclo gravídico tecnologia de comunicação via aplicativo de
puerperal; desenvolver ações educativas para mensagens instantâneas.
o estímulo ao AM, envolvendo as redes sociais Já a fase de avaliação consistiu em um
de apoio; e analisar os resultados das ações grupo focal com um roteiro composto por
educativas, conforme a visão dos participantes. cinco questões norteadoras para a avaliação
coletiva das ações educativas, conforme a visão
dos participantes.
Métodos As conversas foram gravadas em áudio, e
as falas, transcritas. Também foi utilizado um
Trata-se de uma pesquisa-ação com aborda- diário de campo para registro de observações
gem qualitativa. O estudo foi desenvolvido relevantes. A examinação dos dados foi feita
no contexto da ESF na área de abrangência pela técnica de análise temática de conteú-
de uma Unidade de Saúde da Família (USF) do16, nas fases de: pré-análise; exploração do
de um município da região metropolitana material e tratamento dos resultados obtidos;
de Natal (RN), onde atuam duas equipes de e interpretação. A interpretação dos resulta-
saúde que assistem a uma população total de dos foi feita a partir de inter-relações com os
aproximadamente 7 mil habitantes. aportes sociológicos sobre as redes sociais.
Os participantes da pesquisa foram oito No que se refere aos aspectos éticos, a
mães de crianças com um mês de vida, em pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética
fase de amamentação. Os critérios de inclusão em Pesquisa (CEP) do Hospital Universitário
foram: ter feito o pré-natal na USF; estar na Onofre Lopes (Huol), da Universidade Federal
fase de puerpério e com Aleitamento Materno do Rio Grande do Norte (UFRN), no parecer
Exclusivo (AME); e estar com a criança nº 1251502 (Certificado de Apresentação para
vinculada ao Programa de Crescimento e Apreciação Ética nº 4846215900005282),
Desenvolvimento (CD). seguindo as determinações da Resolução n°
A pesquisa-ação foi desenvolvida cumprin- 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS).
do um itinerário metodológico dividido em Para a preservação do anonimato dos sujeitos,
quatro fases: exploratória; de planejamento; as identidades das falas estão representadas
de ação; e de avaliação. pelos nomes de flores iniciadas pela vogal ‘A’,
A fase exploratória foi direcionada à seleção como uma reverência às seguintes expressões:
das mulheres participantes e ao levantamento apoio, amizade e amor.
de informações. Nessa fase, os dados foram
coletados entre outubro e dezembro de 2015,
por meio de entrevistas semiestruturadas, Resultados e discussões
direcionadas a identificar os perfis das par-
ticipantes, mapear as redes sociais de apoio Na fase exploratória da pesquisa foi feito um
de cada uma delas e levantar as demandas levantamento sobre o perfil das mães par-
educativas iniciais sobre o AM. O mapeamento ticipantes e um mapeamento de suas redes
das redes sociais de apoio foi feito a partir da sociais no intuito de identificar as pessoas
elaboração de ecomapa individual. que poderiam exercer influência sobre elas,
A fase de planejamento foi destinada à em relação ao ato de amamentar.

SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 43, N. 121, P. 429-440, ABR-JUN, 2019


As redes sociais de apoio para o Aleitamento Materno: uma pesquisa-ação 433

O perfil das mães e o mapeamento demais assumiam as funções do lar. Quanto


de suas redes ao período gravídico, todas frequentaram o
pré-natal de baixo risco. Foi possível detec-
Constatou-se que todas participantes eram tar que duas participantes pariram de parto
mães jovens, na faixa etária de 23 a 30 anos, vaginal e seis, de parto cesariano. Todas as
sendo a maioria casada, com grau de esco- crianças nasceram a termo, sendo três do
laridade entre quatro e oito anos de fre- sexo masculino e cinco do sexo feminino.
quência escolar, predominando, assim, o O mapeamento das redes sociais de cada mãe
ensino fundamental. A metade do grupo resultou no desenho de oito ecomapas, que iden-
era composta de primíparas. Sobre a ocu- tificaram suas afinidades e ligações familiares/
pação, apenas três mães trabalhavam fora sociais. O quadro 1 apresenta uma síntese disto,
de casa – uma promotora de vendas, uma destacando os níveis de relação com familiares,
comerciante e uma operadora de caixa – e as amigos e profissionais de saúde.

Quadro 1. Redes sociais das participantes da pesquisa, 2018

Codinome Rede Primária: ‘Relação Rede Primária: Rede Secundária: Rede Secundária:
forte’ ‘Relação fraca’ ‘Relação forte’ ‘Relação fraca’
Acácia Branca Parceiro, Sogra Mãe, Irmã Amigos de trabalho, Vizinhas
Profissional de saúde
Amarílis Parceiro, Sogra, Cunhada, Mãe Profissional de saúde Amigas de trabalho
Irmã
Antúrio Parceiro, Mãe Irmã Profissional de saúde Vizinhas
Acácia Ama- Mãe, Irmã Tia Profissional de saúde Amigas
rela
Angélica Mãe, Tia Irmã Profissional de saúde Amigas
Anêmona Parceiro, Mãe - - Vizinhas
Astromélia Parceiro, Irmã Mãe Profissional de saúde -
Allium Mãe, Irmã Parceiro - -

Fonte: Elaboração própria, 2018.

Em relação à representação da família como profissional tem papel fundamental no incen-


um suporte social, Prates et al.17 destacam que tivo e na orientação do AM, desde a gestação
as puérperas tendem a procurar, primeiramen- até o pós-parto. Isto se faz possível mediante a
te, como rede de apoio social para resolver contribuição de uma educação dialogada, para
questões sobre a amamentação, as familia- a construção da conscientização das mulheres
res que já amamentaram (mães, sogras, avós, acerca da importância da amamentação, tanto
cunhadas e irmãs), ficando os profissionais para o desenvolvimento do seu filho quanto
menos participativos neste processo. para benefício próprio.
Um estudo realizado por Fontes18 consta- Observou-se que a família nuclear possuía
ta a importância do apoio dos profissionais uma relação muito forte com as nutrizes, des-
de saúde para o estabelecimento precoce tacando o parceiro (pai) e a mãe (avó) como
do vínculo mãe/filho, objetivando manter integrantes mais influentes na rede social,
o processo contínuo de amamentação. O possivelmente atuando, como apoio ou não,

SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 43, N. 121, P. 429-440, ABR-JUN, 2019


434 Nóbrega VCF, Melo RHV, Diniz ALTM, Vilar RLA

na prática da amamentação. Identificou-se, saberes existentes. A prática educativa, nesta


também, que 75% das nutrizes citaram os pro- perspectiva, visa ao desenvolvimento da auto-
fissionais da saúde como integrantes da rede, nomia e da responsabilidade dos indivíduos
indicando uma relação próxima. As mães das no cuidado com a saúde, porém, não mais
nutrizes são consideradas como indivíduos pela imposição de um saber técnico-científico
que detêm conhecimentos, os quais estão ba- detido pelo profissional de saúde, mas sim
lizados, principalmente, nas suas experiências pela compreensão direcionada a uma ação
de vida. Com isso, as mães orientam as filhas emancipatória.
ou as mulheres menos experientes acerca das
práticas de cuidado do AM que foram ante- As ações educativas realizadas
riormente validadas por elas e que, dentro
dos seus contextos sociais, são socialmente Durante a fase de planejamento, foram elenca-
aceitas, valorizadas e respeitadas. dos três tipos de atividades educativas, que se
Em outro estudo, Linhares et al.19 eviden- complementaram e foram consideradas como
ciam que muitas mulheres têm buscado co- constituintes da fase de ação da pesquisa: as
nhecimentos e experiências vivenciados por VDs, as rodas de conversa e a interação em
outras pessoas, como partes integrantes nesse grupo virtual.
processo, e os profissionais vêm perdendo sua A VD foi um instrumento de intervenção
credibilidade. Os saberes populares, hábitos, fundamental na saúde da família e na conti-
culturas, costumes e crenças, cada vez mais, nuidade de qualquer forma de assistência e/
têm favorecido, positivamente ou não, a sua ou atenção domiciliar à saúde21. Considerada
própria continuidade, o que gera a necessidade como um espaço de aprendizado, a residência
de uma elaboração de estratégias de promo- também permitiu conhecer de forma mais am-
ção à amamentação, em sua individualidade pliada o modo de vida das nutrizes, com seus
e coletividade. Assim, a rede de apoio social, costumes e hábitos, bem como prover as suas
somada à vulnerabilidade na qual a mulher se necessidades. Dessa forma, elas esclareciam
encontra, pode influenciar diretamente o AM. suas dúvidas, intensificando o apoio ao AM.
Os registros abaixo reforçam este argumento: Assim, alguns mitos e crenças dentro do
contexto do AM, principalmente por parte
O meu peito feriu [...] minha mãe mandou botar dos familiares, foram detectados durante
casca de banana. E minha tia disse para eu dar as VDs. Entre eles: o ‘leite fraco’; o ‘leite in-
chá para ela dormir melhor. (Angélica). suficiente’; ‘o bebê não quis pegar o peito’;
‘não mata a sede do bebê’; e o uso da casca
Já estava dando outro leite ao meu filho e fui ao de banana para sarar as fissuras mamilares.
postinho. E ela [profissional da saúde] me con- Salientou-se, também, a pressão da família
venceu a dar só o meu leite até aos seis meses. para que as nutrizes amamentassem seus
(Astromélia). filhos, responsabilizando-as por esta prática.
Baseado neste contexto, surgiu o mito de que
Considerando que a educação em saúde ‘mãe boa é a que amamenta’.
está relacionada à aprendizagem e é desenha- A roda de conversa ficou conhecida como
da para alcançar uma melhor compreensão uma das formas de compartilhar experiências,
sobre determinados temas e problemas, com que possibilita aprofundar o diálogo, a partir
mudanças de práticas, foram consideradas as dos conhecimentos e informações que cada
demandas das nutrizes e sua rede de apoio, pessoa possui sobre o assunto. Cada integrante
de acordo com sua realidade. Para Soares et tem a oportunidade de falar ou expressar o
al.20, o objetivo da educação em saúde não é o que pensa. Portanto, um método pautado na
de informar para a saúde, mas de transformar construção da criatividade e do compromisso

SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 43, N. 121, P. 429-440, ABR-JUN, 2019


As redes sociais de apoio para o Aleitamento Materno: uma pesquisa-ação 435

social com a liberdade, sendo um dispositivo associado com a caridade. Ao contrário disto,
de uma práxis democrática22. ela envolve um conjunto de fatos complexos e
Durante as rodas, foram identificadas entrelaçados, que integram as diversas dimen-
algumas manifestações de circulação de sões da vida social. A universalidade da dádiva
dádivas, brotando como uma forma carinhosa se manifesta de maneira mais compreensível
de reconhecimento recíproco, capaz de gerar quando são observadas as trocas que se pro-
confiança e pertencimento, em direção ao cessam no dia a dia, e que se organizam por
desenvolvimento de laços de solidariedade e meio da dádiva de partilha (ou partilhada).
ajuda mútua. Foi perceptível uma sensação de É nesta modalidade de dádiva, com relações
bem-estar e de alegria, consequente às trocas mais horizontais, que se pode entender onde
simbólicas de carinho, amor, atenção, compa- se inserem o apoio social e, consequentemente,
nheirismo e amizade. Tomaél e Marteleto23 as redes de apoio26.
constatam que os sujeitos integram as redes O grupo virtual, denominado ‘grupo de
sociais como espaços de trocas coletivas qualifi- apoio ao AM’, foi formado com a concordân-
cadoras de experiências, que revigoram formas cia de todos os participantes, que pactuaram
de sociabilidade e de comunicação, durante in- seus objetivos: trocar experiências, esclarecer
terações que são constantemente redesenhadas. dúvidas e fazer circular atualizações sobre o
Dom ou dádiva são sinônimos, e represen- AM. O aplicativo escolhido foi o WhatsApp,
tam a obrigação de dar, receber, retribuir os pela popularidade, pela facilidade de uso e por
bens simbólicos e materiais de forma contínua, estabelecer rápida comunicação. O cuidado
por meio de relações sociais24. São termos foi implicado nesse grupo com possibilidades
utilizados nas ciências sociais para designar o e limitações, considerando diferentes cultu-
valor de uso dos objetos ou ações por oposição ras, saberes, ideias e envolvendo a relação de
à economia de mercado, que tem por base o cuidado de uns para com os outros. O diálogo
valor de troca. destacado abaixo expressa este sentido:
No campo da saúde, o sistema social da
dádiva pode permitir movimentos simultâneos Pessoal, como faço para aparecer mais leite?
de deslocamentos individuais e de formações Acho que tenho pouco leite. (Allium).
grupais, enquanto nas relações burocráticas
e mercantis, os indivíduos são vistos, quase Fique tranquila, pois quanto mais ele mamar,
sempre, como estranhos. Nas relações sociais, mais vai produzir leite. E lembre-se que o estô-
o tripé dar-receber-retribuir, como uma ação mago dele é pequenino. Veja se está pegando
humana, tece laços de sociabilidade, sejam certo, e se concentre em amamentar como uma
familiares, de amizade ou comunitários, cons- prática de muito amor. (Mediador).
truindo, assim, analogias pessoais. Desta forma,
na revalorização do outro, surge uma necessi- Uma fala de apoio e de orientação, da rede
dade de concepção de uma clínica fundada no virtual, soou no momento exato da necessidade
sistema da dádiva de cuidados, que considera, e, com isso, observou-se um fortalecimento em
no mesmo nível, os bens materiais para cura e manter a amamentação. Muitos questionamen-
os bens simbólicos (atenção, escuta, cuidado, tos foram surgindo e, com o tempo, o grupo
conselhos) como fundamentos igualmente foi interagindo com mais confiança, de forma
relevantes para a saúde25. que os anseios foram emergindo. O desejo
Nesse sentido, a dádiva está constituída de responder aos ensejos da componente do
nas relações de reciprocidade, nas quais cada grupo proporcionou apoio, que se apresentou
um faz circular a solidariedade, seja material como um disparador na circulação da dádiva
e/ou simbólica, de interesse e de ambiguida- e como motivador da sua atuação, tornando
de. Assim, o sentido da dádiva não deve ser visível a prática da reciprocidade:

SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 43, N. 121, P. 429-440, ABR-JUN, 2019


436 Nóbrega VCF, Melo RHV, Diniz ALTM, Vilar RLA

Não sei, mas acho meu leite fraco. Vou marcar A avaliação das ações realizadas
o CD no postinho, para ver se ela ganhou peso.
(Astromélia). Na fase avaliativa, foi possível escutar e discutir
com as mães os efeitos da rede de apoio e das
Amamentei o meu primeiro filho e também pen- ações educativas desenvolvidas nesta rede para
sei assim. Veja se ele está mamando até secar o a amamentação. A partir da análise temática
seio, pois o leite forte, que engorda, vem por últi- dos conteúdos das falas das participantes do
mo. (Anêmona). estudo, emergiram duas categorias: ‘avaliando
as ações educativas’ e ‘a importância da rede
Há de se considerar que a influência na de apoio para o AM’.
rede social pode favorecer ou dificultar o ato Sobre a avaliação das ações educativas, as
de amamentar, pois, quando alguém transmi- atividades de educação em saúde foram bem
te sua experiência, também transmite suas recebidas e ajudaram, em muitos aspectos, na
crenças, os mitos e as tradições enraizadas no manutenção e na continuidade da amamenta-
contexto em que vive, os quais, muitas vezes, ção. Na discussão do grupo focal, algumas refe-
não possuem comprovação científica e diferem rências destacaram as trocas de experiências, a
das recomendações atuais. Portanto, é preciso reciprocidade, o vínculo e o aprendizado mútuo.
destacar, em alguns diálogos, a preocupação Em relação à VD, o grupo mencionou que foi
com a apojadura do leite materno, este que, um momento de contato mais próximo com o
se não aparecer durante a gestação, pode ser profissional de saúde, no próprio lugar onde
desvalorizado e levar a um desmame precoce: a maioria dos problemas acontece. Destacou,
ainda, a importância dos encontros individuais
Na maternidade, eu falava que meu peito estava para o esclarecimento de dúvidas, e expressou a
cortado e ninguém para me ajudar. O bebê pas- sensação de reconhecimento do sentido de ser:
sou muitas horas sem comer, porque não tinha
como eu dar o leite para ele. Sorte foi uma mu- Com a visita, eu me senti importante, porque a
lher, no quarto que eu estava, e deu um leite ao gente pensa que depois que tem o nenê, ninguém
meu bebê. (Angélica). vai se preocupar. Mas não, teve a visita, que
me orientou a como cuidar da criança. (Acácia
Minha mãe disse para eu comer doce, que eu ia Amarela).
dar muito leite. (Acácia Amarela).
Para mim, a visita foi boa, porque eu estava com
Muitas das necessidades foram observadas peito ferido e pude mostrar. Estava com dificulda-
por meio dos diálogos no grupo virtual, tendo de de amamentar, porque doía. Aí, conversamos,
sido levadas, também, para as rodas de conver- e eu comecei a cuidar, e melhorei. (Angélica).
sa e, até mesmo, em casos mais particulares,
para uma segunda VD. O sucesso das práticas em saúde depende
Os vínculos são mais importantes do que não apenas do componente técnico, mas de
os bens doados, pois geralmente envolvem outras tecnologias baseadas na aproximação,
vivências de emoções positivas, durante os no diálogo e na vinculação entre profissio-
relacionamentos interpessoais, capazes de nais, usuários e serviços. Conforme Andrade
produzir e reproduzir laços sociais mediante et al.27, a VD se caracteriza por utilizar uma
redes de apoio, que são aquelas conformadas tecnologia leve, como as mães evocaram na
com sentido de ajuda ou assistência, e que presente pesquisa, permitindo o cuidado à
são compostas por pessoas que colaboram saúde de forma mais humana e acolhedora.
em momentos específicos, demandados por Ela estabelece laços de confiança entre os
alguma necessidade18,24. profissionais e os usuários, assim como entre

SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 43, N. 121, P. 429-440, ABR-JUN, 2019


As redes sociais de apoio para o Aleitamento Materno: uma pesquisa-ação 437

a família e a comunidade, ampliando o acesso chorando e diz: ‘O leite não é suficiente, dê um


da população às ações de saúde, em um dos complemento’. Então, graças a Deus, na hora ‘h’
pontos de sua rede de atenção: o domicílio. o WhatsApp me ajudou e não dei o complemen-
Sobre as rodas de conversa, o grupo desta- to. (Antúrio).
cou terem sido momentos de troca de expe-
riências, de compartilhamento de emoções Ressalte-se a importância de valorizar os
e saberes, de fortalecimento de amizades e contextos nos quais as mães estejam inseridas,
solidariedade: pois elas terão, durante todo o processo de
lactação, a influência de sujeitos que comporão
As rodas de conversas ajudaram também para a sua rede de apoio social, os quais possuirão
amamentação. Fiquei mais por dentro das coisas. inúmeros saberes acerca da amamentação
Uma pessoa ajuda a outra, e é mais e mais co- e dos cuidados com o recém-nascido. E tais
nhecimento. (Acácia Branca). saberes serão confrontados, constantemente,
com os conhecimentos científicos adquiri-
O grupo me ajudou muito. Se fosse pelo conselho dos nos serviços de saúde, podendo acarretar
da minha sogra, eu teria dado mamadeira. O que dúvidas e ansiedades à mulher.
considero mais importante é que eu pensava que, Sobre o uso do aplicativo de comunica-
se as outras estão conseguindo, então, eu vou ção WhatsApp como estratégia para ensino/
conseguir também. (Astromélia). aprendizagem, alguns autores constatam que
esta ferramenta de interação online possibilita
Para Melo et al.28, as rodas de conversa estímulo ao aprendizado, por acontecer em
permitem resgatar espaços democráticos, fa- ambiente virtual, sendo também um meio de
vorecendo a conscientização das pessoas como comunicação que permite um envolvimento
protagonistas e, ao mesmo tempo, possibilitam mais espontâneo no cotidiano das pessoas.
a apreensão das sabedorias vivenciais dos sujei- Configurando um espaço adequado para o
tos que interagem, por meio de interpretações diálogo intersubjetivo, no qual ocorre uma
e compreensões compartilhadas, mediante interlocução virtual, pode ser uma ferramenta
a consideração de que todos são capazes de de auxílio para sanar dúvidas, com a participa-
contribuir, com suas potencialidades, para a ção de um mediador. Pois é se comunicando,
realização de ações úteis e produtivas. trocando mensagens e refletindo em grupo
A respeito do grupo virtual, as participantes – mesmo virtual – que se pode transformar a
relataram que sentiram um grande apoio de educação, com as novas tecnologias que estão
todo o grupo. Destacaram a sua utilidade na presentes no contexto contemporâneo29.
disponibilidade do apoio no momento exato Portanto, o uso de um grupo virtual teve im-
do aparecimento da situação-problema, assim portância enquanto uma tecnologia que atuou
como a sua capacidade de representar um em três sentidos: como instrumento educativo,
elo de continuidade do grupo presencial. Era como meio para fortalecimento dos laços e
como se a roda de conversa continuasse em como espaço virtual para a circularidade da
outros momentos. O grupo virtual fortaleceu dádiva, pois o incentivo à amamentação, com
mais o vínculo e os sentimentos de amizade, o compartilhamento de informações, auxiliou
solidariedade e reciprocidade, já cultivados as mães em momentos de dúvida e de conflito.
nas outras atividades: A dádiva está imbricada nas falas dos sujeitos,
em uma complexa relação com a rede social
Para mim, o grupo do WhatsApp foi o melhor. de apoio ao AM.
Sabe por quê? Na hora do aperreio, vêm aque- Finalmente, em relação à importância da
las pessoas da família que diz: ‘O leite ‘tá fraco, rede de apoio para o AM, todos os sujeitos
dá um complemento!’. A vizinha escuta o bebê reconheceram e valorizaram a pertinência

SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 43, N. 121, P. 429-440, ABR-JUN, 2019


438 Nóbrega VCF, Melo RHV, Diniz ALTM, Vilar RLA

de vínculos mais fortalecidos para o sucesso de reconhecimento, afeto, solidariedade e sa-


desse tipo de aleitamento, contribuindo para tisfação durante a experiência.
o empoderamento individual e coletivo, com
benefícios à saúde do bebê e da mãe. Esse
aspecto foi evidenciado pelas mães. Lacerda Considerações finais
e Martins24 declaram que o apoio social é um
tipo de dádiva de partilha que revela a im- Este estudo permitiu reconhecer a importância
portância das relações sociais no processo da rede social de apoio ao AM, impetrando
de saúde-doença-cuidado, indicando que os ações de educação permeadas pela dádiva.
sujeitos e grupos necessitam uns dos outros Além disso, destacou a rede virtual como
para enfrentar os limites e as dificuldades, no uma ferramenta de peso para o sucesso dessa
cotidiano da vida. A pesquisa mostrou que a empreitada.
rede fez circular formas de apoio emocional Desta forma, o apoio reflete-se no enlace de
e informativo: fios provenientes das redes, em que a dádiva
transita de forma perene, colaborando para o
O que eu aprendi de novo foi não desistir de ama- desenvolvimento da autonomia e para a res-
mentar. Aprendi a continuar e consegui. A rede ponsabilização dos sujeitos em relação ao seu
de apoio foi de grande importância. Nela, eu me autocuidado. Considerando os nós rotineiros
segurei. (Antúrio). que surgem nesse emaranhado de fios, cons-
tatou-se que os mesmos são desatados devido
No começo, eu estava com depressão, e a rede ao compartilhamento de saberes e vivências.
me ajudou a melhorar; não desistir de amamen- Diante das ações educativas, o suporte do
tar, não desistir da vida. (Angélica). grupo virtual constituiu um instrumento fa-
cilitador das relações interpessoais, da troca
Se eu não tivesse tido o apoio da rede, eu acho de experiência e da aprendizagem coletiva. E,
que eu teria dado mamadeira, teria feito mingau como uma tecnologia leve, produziu vínculo,
e dado à minha filha. Recebi muitos incentivos e desenvolvendo a ‘humanescência’, o compro-
aprendi muita coisa na rede. (Amarílis). metimento social e a autonomia.
Ressalta-se a importância de os profissio-
Outro ponto observado foi que, mesmo nais de saúde conhecerem as redes sociais
existindo o papel da mediação, houve uma locais de apoio ao AM durante o pré-natal,
relação horizontalizada entre o grupo, com de forma que estimulem e valorizem a par-
troca de saberes na roda de conversa e no ticipação dessa rede em programas e ações
grupo virtual. Os diálogos foram estabeleci- de incentivo à amamentação, fortalecendo
dos com respeito e credibilidade, uns para o seu processo. O apoio da família nuclear,
com os outros. Os atores nas redes de apoio de amigos, vizinhos e profissionais de saúde
estiveram constantemente transitando entre durante o período de amamentação é im-
as posições de doador e donatário, de modo prescindível, podendo configurar-se como
que a circulação dinâmica de dádivas fez com um determinante na adesão e na manutenção
que as relações estabelecidas, apesar de sua da amamentação.
inerente assimetria, não se cristalizassem em Constatou-se, durante o estudo, a valo-
hierarquia e poder24. rização dos contextos nos quais as nutrizes
As vozes emitidas afirmaram que o apoio estavam inseridas, de maneira que os saberes
da rede foi fundamental para potencializar foram valorizados e partilhados de forma
a prática do AM, pois envolveu relações de segura, evitando gerar dúvidas e incertezas
trocas e pessoalidades, nas quais circularam na prática do AM. Todas as mães envolvidas na
dádivas positivas capazes de gerar sentimentos pesquisa-ação conseguiram finalizar o período

SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 43, N. 121, P. 429-440, ABR-JUN, 2019


As redes sociais de apoio para o Aleitamento Materno: uma pesquisa-ação 439

de amamentação exclusiva da criança aos seis análise e a interpretação dos dados; a revisão
primeiros meses de vida. crítica do conteúdo; e a aprovação da versão
Neste percurso, o estudo evidencia que o final do manuscrito. Melo RHV (0000-0003-
profissional de saúde, aproximando-se do 0595-6020)* contribuiu para a concepção,
usuário, fortalece os laços sociais entre ambos, o planejamento, a análise e a interpretação
fazendo emergir, na troca de dádivas, a força dos dados; a revisão crítica do conteúdo; e a
necessária para sustentar a prática consciente aprovação da versão final do manuscrito. Diniz
e esclarecida do AM no contexto da ESF. ALTM (0000-0002-8976-5338)* contribuiu
para a revisão crítica do conteúdo; e a aprova-
ção da versão final do manuscrito. Vilar RLA
Colaboradores (0000-0002-8393-2561)* contribuiu para a
revisão crítica do conteúdo; e a aprovação da
Nóbrega VCF (0000-0002-6566-3599)* con- versão final do manuscrito. s
tribuiu para a concepção, o planejamento, a

Referências

1. Martins PH. Redes sociais como novo marco inter- 6. Fontes B. Tecendo Redes, Suportando o Sofrimen-
pretativo das mobilizações coletivas contemporâne- to: sobre os círculos sociais da loucura. Sociologias.
as. Cad. CRH. 2010; 23(59):401-418. 2014; 16(37):112-43.

2. Burille A, Gerhardt TE. Experienci(a)ções de reco- 7. Portugal S. Para uma abordagem reticular do cuida-
nhecimento e de cuidado no cotidiano de homens do em saúde. Ciênc. Saúde Colet. 2018; 23(10):3137-
idosos rurais. Physis (Rio J.). 2018; 28(3):1-19. 3139.

3. Vermelho SC, Velho APM, Bertoncello V. Sobre o con- 8. Teixeira MA, Nitschke RG. A prática da amamen-
ceito de redes sociais e seus pesquisadores. Educ. e tação no cotidiano familiar – um contexto interge-
Pesqui. 2015; 41(4):863-81. racional: influência das mulheres-avós. Rev. Kairós.
2011; 14(3):205-221.
4. Santos FC, Cypriano CP. Redes sociais, redes de so-
ciabilidade. Rev. Bras. Ciênc. Soc. 2014; 29(85):63-78. 9. Bosi MLM, Machado MT. Amamentação: um resga-
te histórico. Cadernos ESP. 2005; 1(1):1-9.
5. Gerhardt TE. Situações de vida, pobreza e saúde: es-
tratégias alimentares e práticas sociais no meio ur- 10. Carneiro RG. Dilemas antropológicos de uma agenda
bano. Ciênc. Saúde Colet. 2003; 8(3):713-26. de saúde pública: Programa Rede Cegonha, pessoa- *Orcid (Open Researcher
lidade e pluralidade. Interface. 2013; 17(44):49-59. and Contributor ID).

SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 43, N. 121, P. 429-440, ABR-JUN, 2019


440 Nóbrega VCF, Melo RHV, Diniz ALTM, Vilar RLA

11. Martinelli KG, Santos Neto ET, Gama SGN, et al. tetora do aleitamento materno exclusivo. Rev. Paul.
Adequação do processo da assistência pré-natal se- Pediatr. 2018; 36(1):66-73.
gundo os critérios do Programa de Humanização do
Pré-natal e Nascimento e Rede Cegonha. Rev. Bras. 22. Moura ABF. A reinvenção da roda: roda de conversa:
Ginecol. Obstet. 2014; 36(2):56-64. um instrumento metodológico possível. Rev. Temas
Educ. 2014; 23(1):98-106.
12. Carvalho RAS, Santos VS, Melo CM, et al. Avaliação
da adequação do cuidado pré-natal segundo a ren- 23. Tomaél MI, Marteleto RM. Redes sociais de dois mo-
da familiar em Aracaju, 2011. Epidemiol. Serv. Saú- dos: aspectos conceituais. Transinformação. 2013;
de. 2016; 25(2):271-280. 25(3):245-53.

13. Carvalho MRR, Jorge MSB, Franco TB. “Minha fi- 24. Lacerda A, Martins PH. A dádiva no trabalho dos
lha devolveu minha vida”: uma cartografia da Rede agentes comunitários de saúde. Realis. 2013; 3(1):194-
Cegonha. Interface. 2018; 22(66):757-767. 213.

14. Mazza VDA, Nunes RCT, Tararthuch RZP, et al. In- 25. Martins PH, Cattani AD. Sociologia da Dádiva. So-
fluência das redes sociais de apoio para nutrizes ado- ciologias. 2014; 16(36):14-21.
lescentes no processo de amamentação. Cogitare En-
ferm. 2014; 19(2):232-238. 26. Lopes AS, Vilar RLA, Melo RHV, et al. O acolhimen-
to na Atenção Básica em saúde: relações de recipro-
15. Monte GCSB, Leal LP, Pontes CM. Rede social de cidade entre trabalhadores e usuários. Saúde deba-
apoio à mulher na amamentação. Cogitare Enferm. te. 2015; 39(104):114-123.
2013; 18(1):148-155.
27. Andrade AM, Guimarães AMDN, Costa DM, et al.
16. Minayo MCS. Análise qualitativa: teoria, passos e fi- Visita domiciliar: validação de um instrumento para
dedignidade. Ciênc. Saúde Colet. 2012; 17(3):621-626. registro e acompanhamento dos indivíduos e das fa-
mílias. Epidemiol. Serv. Saúde. 2014; 23(1):165-175.
17. Prates LA, Schmalfuss JM, Lipinski JM. Rede de
apoio social de puérperas na prática da amamenta- 28. Melo RHV, Felipe MCP, Cunha ATR, et al. Roda de
ção. Esc. Anna Nery Rev. Enferm. 2015; 19(2):310-315. Conversa: uma Articulação Solidária entre Ensino,
Serviço e Comunidade. Rev. Bras. Educ. Méd. 2016;
18. Fontes PV. A luta pelo reconhecimento e o paradig- 40(2):301-309.
ma da dádiva. Rev. Bras. Ciênc. Soc. 2018; 33(97):1-18.
29. Paiva LF, Ferreira AC, Corlett EF. A utilização do
19. Linhares FMP, Pontes CM, Osório MM. Construtos WhatsApp como ferramenta de comunicação didáti-
teóricos de Paulo Freire norteando as estratégias de co-pedagógica no ensino superior. In: Anais 5º Con-
promoção à amamentação. Rev. Bras. Saúde Mater. gresso Brasileiro de Informática na Educação. 2016;
Infant. 2014; 14(4):433-9. Minas Gerais: Sociedade brasileira de computação.
2016; [acesso em 2018 nov 2]. p. 751-760. Disponível
20. Soares AN, Souza V, Santos FBO, et al. Dispositivo em: http://br-ie.org/pub/index.php/wcbie/article/
educação em saúde: reflexões sobre práticas educa- view/6998.
tivas na atenção primária e formação em enferma-
gem. Texto & Contexto Enferm. 2017; 26(3):1-9.
Recebido em 15/11/2018
Aprovado em 02/04/2019
Conflito de interesses: inexistente
21. Carvalho MJLN, Carvalho MF, Santos CR, et al. Pri-
Suporte financeiro: não houve
meira visita domiciliar puerperal: uma estratégia pro-

SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 43, N. 121, P. 429-440, ABR-JUN, 2019

Você também pode gostar