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DOI:10.34117/bjdv6n3-352
Recebimento dos originais: 10/02/2020
Aceitação para publicação: 24/03/2020
RESUMO
1 INTRODUÇÃO
O Brasil é um país essencialmente minerador e possui uma vasta variedade de recursos
minerais em seu subsolo, muitos destes, em larga escala. Apesar disso, seu atual contexto
econômico aponta para uma realidade muito aquém do potencial pode atingir. Em 2011, foi
lançada a quarta edição do Plano Nacional de Mineração para 2030 (PNM 2030) com o
objetivo de nortear o setor mineral do país nos próximos 20 anos. O programa apresentou as
perspectivas do governo quanto ao futuro da mineração no Brasil e serviu de base para a
elaboração do Programa de Revitalização da Indústria Mineral Brasileira (2017), estopim das
recentes mudanças (OBSERVATÓRIO ECO, 2010). Embora falhada a tentativa de alteração
do Código de Mineração por meio de medida provisória em 2017, a sua atualização ocorreu
por meio de portarias, resoluções, decretos e leis. Essa revisão movimentou o setor de
mineração do país ao procurar atender demandas ambientais e atualizar procedimentos
considerados defasados (MAIA; REIS, 2018). Dentre as principais modificações para a
indústria do ferro, ressalta-se a Lei nº 13.540/17 de 18 de dezembro de 2017, do Decreto nº
9.406 de 12 de junho de 2018, do Decreto nº 9.587/18 de 27 de novembro de 2018, e da
Resolução nº 4/19 de 15 de fevereiro de 2019. Este estudo teve como objetivo avaliar sob que
aspectos a nova regulamentação mineral favorece ou prejudica a captação de investimentos
para a indústria do ferro, haja vista a importância estratégica dessa commodity para o país. As
exportações do minério de ferro representam 8,82% de todas as exportações do Brasil, atrás
somente da soja (G1, 2018).
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
A Lei nº 13.540/17, resultante da conversão da Medida Provisória nº 789 de 2017,
trouxe relevantes mudanças à Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais
(CEFEM) no que diz respeito a sua forma de cálculo e percentuais das alíquotas incidentes
sobre as substâncias minerais. Sobre o minério de ferro, antes era recolhida uma alíquota de
2% sobre a receita líquida das vendas do bem mineral, deduzidos os tributos de
comercialização e custos com transporte e seguros. Com as mudanças subiu para 3,5% sobre
o faturamento bruto, deduzidos apenas os tributos de comercialização (BRASIL, 2017). Além
de revelar um viés puramente arrecadatório, e de não assistir as empresas já instaladas no país
– que terão de destinar mais recursos a royalties – essa alteração desestimula novos
investimentos e gera ainda mais incertezas frente aos investidores estrangeiros, que passam a
optar por países de maior segurança jurídica.
A forma de cálculo da CFEM não mais deduz os custos com transporte e seguros do
valor a ser repassado. Na prática, essa medida pode comprometer a competitividade de muitas
empresas, e até inviabilizar projetos localizados em áreas com ausência de infraestrutura cujo
custo com transporte e seguros seja elevado (MAIA; REIS, 2018). Apesar disso, a Lei nº
13.540/17 logrou êxito ao incluir na redação a permissão de dedução de 50% da alíquota
quando estéreis e rejeitos forem utilizados em outras cadeias produtivas (BRASIL, 2017).
Em outubro de 2019 a CPRM ofereceu em leilão uma das 30 áreas das quais possui
título minerário: o Complexo Polimetálico de Palmeirópolis, no estado do Tocantins. Apesar
de não ter vínculo com as áreas em “disponibilidade” da ANM este leilão representa suma
importância à mineração do país, uma vez que põe à prova um novo sistema de licitação de
áreas cujo êxito pode também assegurar a hasta de muitas outras – como daquelas a cargo da
Agência (BRITO, 2019; SILVA, 2019).
Outro Decreto de extrema relevância que integrou o pacote de atualizações foi o nº
9.587/18 de 27 de novembro de 2018, que criou a ANM em substituição ao Departamento
Nacional de Produção Mineral (DNPM). A necessidade de uma nova forma de gestão e
regulação do setor mineral há muito tempo é debatida em virtude do estado de sucateamento
do órgão, sua frágil fiscalização, lentidão na análise dos documentos técnicos e à forte
interferência por agentes políticos e econômicos. A nova estrutura visa pôr fim a indicações
meramente políticas que contaminam o corpo técnico da entidade; agir com maior controle,
4 CONIDERAÇÕES FINAIS
À primeira vista, o comparativo dos avanços identificados no novo regulamento com
os recuos apresentados, mostra que a maior parte das mudanças efetuadas condiz com o atual
cenário econômico do país, e, portanto, foram bem-sucedidas em seu objetivo, vide Quadro 1.
Entretanto, após análise mais profunda, observa-se que os dispêndios trazidos pela nova
legislação pesam muito mais na balança, mesmo com a flexibilização de regras antigas e a
criação de um novo órgão regulador.
O aumento nas alíquotas dos royalties, a forma com que estas passaram a incidir, e o
bloqueio por tempo indeterminado de áreas desoneradas por parte do governo federal, apesar
de terem sido medidas justificadas tecnicamente, até o momento não mostraram sua
efetividade. Segundo executivos de várias empresas de mineração, incluindo Vale, Samarco e
CSN – as três maiores produtoras de minério de ferro do país – os aumentos de tributação,
associados com as dificuldades existentes para se conseguir licenças junto aos órgãos
ambientais, não favorecerão novos investimentos no país (RIBEIRO, 2017). Da mesma forma,
quando vedado o acesso a potenciais jazidas, torna-se impossibilitada a entrada de capital e,
consequentemente, novas explorações. Em termos administrativos, como todas as recentes
alterações passam, no momento, a estar sob um novo órgão regulador, é fundamental que este
utilize modelos de gestão de risco modernos que permitam a resolução rápida de problemas;
logo, se torna essencial a implementação de framework que aplique na ANM práticas
observadas em países de estrutura regimental sólida.
REFERÊNCIAS
ICMM (United Kingdon). Sally Johnson. Good Practice Guidance for Mining and
Biodiversity. 2006. International Council on Mining and Metals. Disponível em:
http://www.ibram.org.br/sites/1300/1382/00000740.pdf. Acesso em: 29 fev. 2020.
MACHADO MEYER (Comp.). Governo altera setor mineral por meio de decretos. 2019.
Disponível em: <https://www.machadomeyer.com.br/pt/decisoes/infra/governo-altera-setor-
mineral-por-meio-de-decretos>. Acesso em: 22 ago. 2019.
OBSERVATÓRIO ECO (Brasil). PNM 2030: Brasil e as novas metas para mineração: O
Ministério de Minas e Energia divulga o PNM 2030 (Plano Nacional de Mineração 2030),
programa que norteará o setor mineral brasileiro nos próximos 20 anos. 2010. Disponível em:
<https://observatorio-eco.jusbrasil.com.br/noticias/2565094/pnm-2030-brasil-e-as-novas-
metas-para-mineracao>. Acesso em: 20 ago. 2019.
VALENTE, Jorge et al. Guia Prático para Cálculo de Recursos e Reservas Minerais. 2003.
Disponível em: <http://www.geologo.com.br/JORC.ASP>. Acesso em: 22 ago. 2019.