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CAPÍTULO II: A EXTRUTURA BÁSICA DA

SOCIEDADE E OS PRINCÍPIOS DA JUSTIÇA


Neste capítulo vai-se começar por esclarecer a ideia da Justiça, que é entendida por Rawls como
uma virtude social, ou seja, uma virtude primeira das instituições e, de seguida apresentar-se-á a
ideia da estrutura básica da sociedade, ou seja, a ideia da estrutura básica de uma sociedade bem
ordenada. Segundo Rawls (2003: 13), a ideia da estrutura básica da sociedade serve para
formular e apresentar a justiça como equidade como uma unidade adequada, junto com a ideia da
posição original, ela é necessária para completar outras ideias e completar num, todo racional.
Por fim vai-se discutir sobre os dois princípios da justiça, que são aplicados na estrutura básica
duma sociedade bem ordenada. 

1.A ideia da justiça em John Rawls

Há vários pontos de vistas sobre o conceito de justiça, mas em todos há um ponto em comum.
Justiça esta ligada a ideia de distribuição. Segundo Rawls (1993: 27) a justiça é a virtude
primeira das instituições. Rawls a firma que o conceito da justiça se refere a um equilíbrio
apropriado entre exigências que estão em conflitos. “Rawls não se interessa pela justiça como
virtude dos indivíduos, mas como virtude de uma instituição social” (PERELMAN; 1996: 245).
Definir ″ o que deve ser distribuído", ″ para quem deve ser distribuído", e como deve ser
distribuído" é o próprio do debate da justiça. O conceito de justiça aplica-se sempre que há uma
distribuição de algo que se considera vantajoso ou desvantajoso.

Neste contexto, a identificação dos princípios da justiça é o meio pelo qual se torna possível
determinar o equilíbrio inerente ao conceito da justiça. Rawls acredita que a justiça é a primeira
virtude das instituições sociais, assim como a verdade é a primeira virtude dos sistemas de
pensamentos. Uma teoria por mais é que seja elegante, deve ser abandonada ou abolida quando
for injusta, o mesmo deve acontecer com as leis e instituições, não importa se são eficientes ou
bem elaboradas, devem ser reformuladas ou abolidas quando forem injustas.

Cada pessoa beneficia de uma inviolabilidade que decorre da justiça, a qual nem se quer em
benefício do bem-estar da sociedade como um todo poderá ser eliminada. Por esta razão, a
justiça impede que a perda da liberdade para alguns seja justificada pelo facto de outros
passarem a partilhar um bem maior. Não permite que os sacrifícios impostos a uns poucos sejam
compensados pelo aumento das vantagens usufruídas por um maior número. Assim sendo, numa
sociedade justa a igualdade de liberdade e direitos entre os cidadãos é considerada como
definitiva: os direitos garantidos pela justiça não estão dependente da negociação política ou do
cálculo de interesses sociais (RAWLS; 1993: 27). A teoria da justiça proposta por Rawls postula
a inviolabilidade do indivíduo, assim como a relevância do seu bem-estar para a sociedade.
Rawls deseja o bem-estar do indivíduo, de acordo com as suas liberdades básicas, em
consonância com o maior proveito que a busca pelo bem-estar geral poderia angariar para a
sociedade.

Para Rawls, não adianta viver em sociedade rica, feita a custa de pobreza de muitos, que não
podem compartilhar essa riqueza. Isso seria injustiça segundo o seu ponto de vista. Assim Rawls
afirma que, o único motivo de conservar uma teoria errada é a falta de uma teoria melhor;
analogamente uma injustiça é tolerável quando necessária para evitar a outra pior. Uma vez que a
verdade e a justiça são principais virtudes das actividades humanas, elas não podem ser objectos
de qualquer compromisso. Na concepção do autor, as sociedades actuais raramente são bem
ordenadas. Neste sentido, o que é justo e o injusto deve ser discutido; os homens estão em
desacordo no que diz respeito os princípios que devem definir os termos fundamentais de sua
associação.

E cada membro da sociedade possui a concepção da justiça, isto monstro claramente que estão
pronto para reconhecer e a firmar um conjunto de princípios, que possam distribuir direitos e
deveres fundamentais que determinam a correcta distribuição dos bens e cooperação social. Na
ausência de acordo sobre o justo e o injusto, fica mais difícil para os indivíduos coordenarem
com eficiência os próprios planos de modo a garantir os acordos reciprocamente vantajosos.
Quanto ao objecto da sua teoria! O objecto é claro: ‛ encontrar e desenvolver os princípios
morais dos quais deve partir de uma sociedade justa, justiça essa atingível’ (RAWLS apud
MELO; 2001: 5). Para essa busca de princípios, Rawls sugere a ideia de uma posição original,
que será discutido no capítulo três (3).

Neste caso, Rawls afirma que o objecto da justiça é a estrutura básica da sociedade, a vida em
sociedade oferece vantagens, e não só, oportunidades, direitos, bens escassos cuja distribuição
irracional levaria ao surgimento de desigualdade que não poderia ser justificada por critérios de
mérito ou responsabilidade. Neste sentido, estabelecer a estrutura básica da sociedade como
objecto da justiça equivale em empregar o conceito de justiça a forma como as principais
instituições sociais distribuem os direitos e deveres fundamentais.

A justiça como equidade é, portanto, uma teoria da justiça que parte da ideia de um contrato
social. Os princípios que articulam uma concepção liberal ampla de direitos e liberdades básicas
e, só admitem desigualdades de renda e riqueza que sejam vantajosos para os menos favorecidos.
“ Uma das metas da justiça como equidade é fornecer uma base filosófica aceitável para as
instituições democráticas e, assim responder a questão de como entender as exigências da
liberdade e da igualdade” (RAWLS; 2000: 7). Segundo o autor, a ideia fundamental nesta
concepção de justiça é a ideia da sociedade como um sistema equitativo de cooperação social
que se perpetua de uma geração para outra.

É a ideia organizadora básica central, utilizada para tentar desenvolver uma concepção política
de justiça para um regime democrático: “essa ideia central é elaborada em conjugação de duas
outras fundamentais, a elas associadas: a ideia de cidadãos (…) como pessoas livres e iguais, e a
ideia de uma sociedade bem ordenada, ou seja, uma sociedade efectivamente regulada por uma
concepção pública de justiça” (Ibidem, 8). Na concepção de Rawls, a cooperação social guia-se
por regras e procedimentos reconhecidos, neste caso, aqueles que cooperam aceitam como
apropriados para reger a sua conduta; e não só, a cooperação social são termos que cada
participante pode razoavelmente aceitar, desde que os outros os aceitem. Segundo Sen (2009) a
justiça como equidade de John Rawls é vista como sendo essencialmente uma concepção política
da justiça.
Uma questão básica abordada por Rawls é como as pessoas podem cooperar entre si em uma
sociedade apesar de sustentarem doutrinas abrangentes profundamente contrárias embora
razoáveis? Isto torna possível quando os cidadão compartilham uma concepção política razoável
da justiça, que proporcionam uma base a partir da qual, a discussão pública de questões de
política podem prosseguir e serem razoavelmente decididos.“Termos equitativos de cooperação
social incluem a ideia de reciprocidade ou de mutualidade, todo aquele que cumprir a sua parte,
de acordo com o que as regras reconhecidas o exigem, deve-se beneficiar da cooperação
conforme um critério público e consensual específico” (RAWLS; 200: 8). O autor da
continuidade salientando que a cooperação social também contem a ideia de vantagem ou bem
racional de cada participante. A vantagem racional específica, os que cooperam procuram
promover o ponto de vista de seu próprio bem.

Rawls concebe a sociedade como indivíduos que agem duma forma recíprocas, nas suas
relações, respeitando as regras de condutas estabelecidas, as quais funcionam como base da
coesão social. Neste sentido, a sociedade é uma reunião de cooperações que reconhecem como
vinculativos certas normas que especificam um sistema de colaboração recíproca, voltado a fazer
com que os membros desse sistema obtenham vantagens mútuas.

E Rawls reconhece que além de interesses comuns, a sociedade é marcada por conflitos. Esses
surgem quando as pessoas conseguem de maneira injusta os recurso disponíveis e, quando
percebem que os mesmos, estão sendo mal distribuídos. Segundo Rawls, há necessidade de
estabelecer princípios que determinam a divisão das vantagens entre aqueles que integram o
sistema cooperativo, uma vez que em cada membro estão presentes interesses individuais que
prejudicam a distribuição do produto social. Conclui-se que o papel desses princípios é regular,
ordenar e orientar a escolha de uma constituição política e de optar por elementos principais do
sistema económico e social que viabilizarão a correcta partilha dos benefícios da cooperação
social. 2.A ideia de uma sociedade bem ordenada O que significa dizer que uma sociedade
política é bem ordenada em John Rawls?

Na concepção de Rawls, dizer que uma sociedade política é bem ordenada significa três coisas:
Primeiro (…), trata-se de uma sociedade na qual, cada um a ceita, e sabe também que os outros
aceitam, a mesma concepção política da justiça (e portanto os mesmos princípios da justiça
política). Segundo (…), todos sabem, ou por bons motivos a creditam, que a estrutura básica da
sociedade, ou seja, suas principais instituições políticas e sociais e a maneira como eles
interagem como sistema de cooperação respeitam esses princípios de justiça. Terceiro (…), os
cidadãos tem um senso normalmente efectivo da justiça, ou seja, um senso que lhes permite
entender e aplicar e os princípios da justiça publicamente reconhecidos, e, de modo geral, agir de
acordo com o que a sua posição na sociedade, com seus deveres e obrigações, o exige. (RAWLS;
2003: 11-12) Neste contexto, Rawls afirma que numa sociedade bem ordenada, a concepção
pública da justiça, abastece um ponto de vista comum, ou seja, fornece um ponto de vista aceito
por todos membros da sociedade, a partir do qual cada um pode determinar suas exigências de
justiça política.

E os princípios da justiça que orientam as suas decisões são mutuamente reconhecidos. “Uma
sociedade bem-ordenada é uma sociedade efectivamente regulada por uma concepção pública
(política) da justiça, seja ela qual for” (Ibidem, 13). Para Rawls a combinação de uma concepção
da justiça a uma sociedade bem-ordenada é um relevante critério de comparação entre
concepções políticas de justiça. “A ideia de uma sociedade bem ordenada ajuda a formular esse
critério e a especificar ainda mais ideia organizadora central de cooperação social” (Ibidem, 12)
Segundo Rawls, a ideia de uma sociedade bem ordenada, especifica a ideia de sociedade como
sistema equitativo de cooperação social. A sociedade é concebida como uma associação de
pessoas que reconhecem certas regras de conduta, e na sua maioria agem de acordo com elas.

Embora haja uma cooperação, sempre ela é marcada pelos conflitos e a identidade de interesse
como já se dizia no parágrafo anterior. …é necessário um conjunto de princípios que permitam
optar por entre as diversas formas de ordenação social que determina (…) a divisão dos
benefícios, bem como obter um acordo sobre a repartição adequada dos mesmo. Estes princípios
são os da justiça social: são eles que fornecem um critério para atribuição de direitos e deveres
nas intuições básicas da sociedade e definem as distribuições adequadas dos encargos e
benefícios da cooperação social. (Ibidem, 28). Desta forma pode-se concluir que uma sociedade
é bem ordenada quando é regida por uma concepção pública da justiça, ou seja, trata-se de uma
sociedade em que todos aceitam, e sabem que os outros também aceitam a mesma concepção de
justiça, os mesmos princípios, e todos a creditam que a estrutura básica da sociedade respeita os
princípios. Rawls acredita que nele todos tem o senso da justiça. 

3.A estrutura básica da sociedade


Segundo Rawls (1993: 309) a estrutura básica da sociedade é entendida como uma maneira pela
qual as principais instituições sociais se encaixam num sistema e, a forma pela qual essas
instituições distribuem direitos e deveres fundamentais e moldam a divisão dos benefícios
gerados pela cooperação social. Nela, define-se os termos equitativos: especifica-se os direitos e
deveres que deverão ser garantidos, regulam-se a divisão de bens e a distribuição de cargos. A
estrutura básica da sociedade é uma caracterização vaga formada pela constituição política, pelas
formas de propriedade, pela estrutura da economia, família, em fim, ela é o contexto social de
fundo dentro do qual as actividades de associação dos indivíduos ocorrem, ela é o objecto
primário da justiça política. “A ideia intuitiva é a de (…) a estrutura inclui diferentes posições
sociais e que o homem nascido em diferentes posições tem diferentes expectativas de vida,
parcialmente determinadas, seja pelo sistema político seja pelas circunstâncias económicas
sociais”. (RAWLS apud MATTETONE & VECA; 2005: 391). Essas desigualdades são
particularmente profundas, mas também influenciam as oportunidades iniciais que os homens
têm na vida; por isso não pode ser justificadas por uma referência hipotética as noções de méritos
ou valor. Segundo o autor são essas desigualdades inevitáveis da estrutura básica social que
devem ser aplicados os princípios da justiça.

Segundo Rawls apud Maffetone &Veca (2005: 391) a justiça de um esquema social depende
essencialmente do modo como são repartidos os direitos e os deveres fundamentais, das
oportunidades económicas e das condições sociais nos vários sectores da sociedade. Na teoria da
justiça como equidade, a posição da igualdade original corresponde ao estado natural na teoria
tradicional do contrato social. Esta posição original não é, evidentemente concebida como uma
situação histórica concreta (…) deve ser vista como uma situação puramente hipotética
caracterizada de forma a conduzir a uma concepção da justiça (…), ninguém conhece a sua
posição na sociedade, a sua posição de classe ou estatuto social. Bem como a parte que – lhe
cabe na distribuição dos atributos e alentos naturais. (RAWLS, 1993: 33). De acordo com a
citação, os termos equitativos são determinados pelas partes na posição original. Trata-se de um
experimento mental que serve para o esclarecimento público: para o estabelecimento de
condições equitativas entre cidadãos iguais e também o estabelecimento das restrições
apropriadas, desconhecimento das situações particulares. “Um contrato social é um acordo
hipotético entre todos, e não apenas entre alguns membros da sociedade, e é b) um acordo entre
eles enquanto membros da sociedade e não como indivíduos que ocupam uma determinada
posição ou exerce um determinado papel em seu interior” (RAWLS; 1993: 311). Nela, um
acordo é celebrado por aqueles que estão comprometidos com a cooperação social. Ele é feito
sob condições imparciais, sob o véu da ignorância sendo hipotético, pergunta-se o que as partes
acordariam, não pergunta se o acordo foi ou será celebrado alguma vez. 

Segundo a forma kantiana, na justiça como equidade as partes são consideradas pessoas livres e
iguais, e o conteúdo do acordo consiste nos princípios que devem regular a estrutura básica.
Rawls considera os seguintes pontos: visto que as partes no contrato social sãos pessoas morais,
livres e iguais (racionais) há um bom motivo para tomar a estrutura básica como um objecto
primordial. Em vista das características distintas da estrutura básica, acordo inicial e as suas
condições de operacionalização devem ser entendidas duma forma especial que diferencia esse
acordo com os outros. A estrutura básica molda a forma pela qual o sistema social produz e
reproduz ao longo do tempo, uma certa forma de cultura compartilhada por pessoas com certas
concepções do seu bem. Mais ainda, não se pode ver os talentos e as capacidades dos indivíduos
como dons naturais fixos. Conforme o autor as pessoas engajadas na cooperação, justamente por
poderem-se engajar nesta, devem ser considerados como livres e iguais.

Devem ser considerados como iguais na medida em que se entende que elas têm em grau mínimo
essencial, as faculdades necessárias um senso de justiça e concepção do bem para envolver-se
numa cooperação social; e livres na medida em que vem em si e nos demais a faculdade moral de
ter a concepção de bem e de poderem mudar sem mudar a sua identidade pública e, na medida
em que são considerados como fontes de revindicação legitima. Um dos objectivos fundamentais
da justificação pública é preservar as condições de uma cooperação social efectiva e
democráticos alicerçados no respeito mútuo entre os cidadãos livres e iguais. Segundo Rawls, os
cidadãos são racionais e razoáveis, que possuem juízos reflectidos, e que esses juízos podem se
contradizer entre si, quando isso acontece, ele diz alguns possivelmente tenham que ser revistos
ou retratados para que se possa atingir um objectivo prático da justiça

4. Princípios da justiça em Rawls Os princípios da justiça escolhidos por Rawls, na posição


original, são organizados e formulados de forma serial, para que eles possam aplicar na estrutura
básica da sociedade e desta forma chegar a inferência da sua teoria. Segundo Rawls, os
princípios da justiça seriam aqueles que poderiam ser acordados entre indivíduos de uma
sociedade em uma situação hipotética, aquilo que Rawls chamou de “posição original”. Para
Rawls, esta posição original corresponderia situação em que as pessoas são consideradas como
gentes morais desinteressadas que não conhecem a situação real da vida de cada um. O primeiro
principio proposto por Rawls é o principio da igualdade, que garante igual sistema de liberdade,
e direitos o mais amplo possível, sendo a liberdade igual a todos os indivíduos, e depois anuncia
o princípio da diferença que garante que as desigualdades económicas na distribuição de rendas e
riqueza somente são aceite caso beneficiem especialmente os menos favorecidos, nenhuma
vantagem pode existir moralmente se isto não beneficia aquele em maior desvantagem. 

4.1. O princípio da Igualdade 

Segundo Rawls, este primeiro princípio não só se aplica a estrutura básica da sociedade como
também a constituição, ele abarca elementos constitucionais essenciais, que são os elementos que
o governo e a sua posição leal concordam. Os direitos e liberdades não são negociáveis. Neste
contexto, Rawls anuncia o primeiro princípio da seguinte forma: “cada pessoa tem o mesmo
direito irrevogável a um esquema plenamente adequado de liberdades básicas iguais que sejam
compatíveis com o mesmo esquema de iguais liberdades para todos” (RAWLS, 2003:60).
Segundo Rawls, este primeiro principio de justiça reza que: cada pessoa deve ter um direito igual
ao mais abrangente sistema de liberdades básicas iguais. Essa liberdade igual para todos refere-se
a liberdade política, a liberdade da pessoa etc.

Embora Rawls reconheça ser impossível relacionar a totalidades das liberdades, elenca as mais
importantes: A liberdade política (direito de votar e de ocupar uma função pública) a liberdade
de expressão e de reunião; a liberdade de consciência e de pensamento; as liberdades da pessoa,
que inclui a proibição da opressão psicológica e da agressão física (direito a integridade pessoal),
direito a propriedade privada e a protecção face a detenção e à prisão arbitrária, de acordo com o
princípio do domínio da lei (…) E, de acordo com o primeiro princípio, estas liberdades devem
ser iguais para todos (Ibidem, 68). A Constituição e as leis têm função de garantir o uso livre
destas liberdades. A liberdade deve ser defendida por um sistema de regras que garante o
máximo de liberdade e expressão de si.

Numa sociedade pluralista, onde o modo de ver a realidade varia de acordo com os interesses
pessoais, é necessário que a Constituição seja o referencial para manter a ordem e garantir ao
mesmo tempo, a todas as pessoas, o igual direito a um projecto satisfatório de direitos e
liberdades básicas iguais para todos. Segundo Sen (2009) o primeiro princípio proposto por
Rawls inclui a prioridade de liberdade, atribuindo precedência a liberdade máxima para cada
pessoa sujeita a liberdade semelhantes para todos. A primeira parte do segundo princípio diz
respeito a obrigação institucional de garantir que as oportunidades públicas sejam abertas a
todos, sem que ninguém seja excluído ou prejudicado, em razão de, (…), raça, etnia etc. 

4.2. O princípio da diferença

O segundo princípio aplica-se na distribuição de riquezas e do rendimento, e a concepção das


organizações que se aplica também as diferenças e responsabilidades. Apesar de que a
distribuição de riqueza e rendimento não tenha de ser igual, ela deve ser feita de modo a trazer
benefícios a todos, da mesma forma as posições de autoridade e responsabilidade devem ser
acessíveis a todos.

A segunda parte do segundo princípio (chamado princípio da diferença) está relacionada com a
equidade redistributiva, assim como a eficiência global, e assume a responsabilidade de fazer
com que os membros da sociedade em pior situação sejam beneficiados. “As desigualdades
sociais e económicas devem satisfazer duas condições: primeiro, devem estar vinculadas a
cargos e posições acessíveis a todos em condições de igualdade equitativa de oportunidades e; e,
em segundo lugar, tem de beneficiar ao máximo os membros menos favorecidos da sociedade”
(RAWLS; 2003: 60). Conforme o autor todos os valores sociais, liberdades e oportunidades,
rendimento e riqueza, e as bases sociais do respeito próprio, devem ser distribuídos igualmente,
anão ser que uma distribuição desigual de alguns desses valores, ou de todos eles, redunde em
benefícios de todos.

Desta forma, a injustiça é tida como uma desigualdade que não resulta em benefícios de todos.
Sendo assim, os problemas na distribuição de renda são injusta quando não são para o benefício
de todos, quando as instituições sociais responsáveis pela promoção da justiça valendo-se do
poder que possuem, distorcem e mascaram a realidade para deixar os desfavorecidos de fora das
decisões. Ao fim e ao acabo, terminam por beneficiar-se dessa situação de opressão e exclusão.
Segundo Rawls o problema central é de saber como ordenar as instituições num sistema
unificado, instituições para que um sistema social de cooperação equitativo eficiente e produtivo
possa-se manter no decorrer do tempo de uma geração para outra.

Este é um problema de justiça procedimental pura de fundo, onde se busca organizar a estrutura
básica de uma sociedade de tal modo que quando todos seguem as normas reconhecida, as
distribuições de bens específicas que vem dai são consideradas justas. Rawls parte do
pressuposto de que os menos favorecidos (aos quais o principio da diferença se aplica) são
aqueles que, numa sociedade bem ordenada, ou seja, na qual todos os direitos e liberdades
básicos iguais dos cidadãos e suas oportunidades equitativas estão garantidos, pertencem a classe
de renda com expectativa mais baixas de bens primários.

O princípio da diferença trata-se de uma clara tentativa de legitimar as desigualdades económicas


e sociais presentes na sociedade. Por meio da combinação do princípio da diferença com o
princípio da igualdade equitativa de oportunidades chega-se a igualdade democrática. Rawls
parte do seguinte questionamento: como justificar a desigualdade inicial quanto as expectativas
de vida? De acordo com o princípio da diferença, tal é justificável apenas se a diferença das
expectativas for em benefício do sujeito representativo que estiver na pior posição, neste caso, o
trabalhador não qualificado representativo. A desigualdade de expectativa seria permissível
apenas se a sua redução piorasse ainda mais a situação da classe trabalhadora (Ibidem, 80), O
princípio da diferença sustenta que a desigualdade é justificável apenas se a diferença de
expectativas for vantajosa para aqueles em piores condições.

A permissão de mais expectativas para os mais favorecidos será aceite quando essas expectativas
os encorajam a fazer coisas que elevam as expectativas do menos favorecido. Rawls pondera que
as melhores expectativas daqueles em melhor situação são justas se, e somente se, funcionam
como parte como um esquema que melhora as expectativas dos membros menos favorecidos da
sociedade. “O princípio da diferença é um critério muito especial: aplica-se primeiramente à
estrutura básica da sociedade através de sujeitos representativos cujas expectativas devem ser
analisadas mediante uma lista de bens primários” (Ibidem, 84). Neste caso a distribuição de
direitos, bens, renda ou riqueza, só poderá ser feita de forma diferenciada, se for para melhorar a
situação de todos, Todos devem usufruir os benefícios da cooperação social, sob uma base de
respeito e de cooperação mútua, e quando não houver condições de vantagens iguais, a diferença
só pode coexistir no sistema da ordem social se proporcionar o maior benefício aos membros
mais desfavorecidos da sociedade. Contudo a realidade social demonstra que as vantagens são
em sua grande maioria para aqueles já abastados.

A sociedade deve tentar evitar situações em que contribuições marginais dos que estão melhor
posição são negativas, dado que, em igualdade de circunstâncias, tal surge como um erro mais
grave do que facto de se não atingir a melhor solução quando tais contribuições são positivas. O
aumento das diferenças entre classes viola o princípio da vantagem mútua, bem como o da
igualdade democrática (Ibidem: 81). Neste contexto, está contida no princípio da diferença a
ideia de partilha dos maiores benefícios sociais e económicos entre todos, bem como os
naturalmente favorecidos devem ajudar aqueles menos favorecidos na sociedade. É, sem dúvida,
um princípio de benefício mutuo, que expressa uma verdadeira concepção de reciprocidade e
fraternidade.

Ao longo do tempo uma sociedade deve tomar atitudes para pelo menos preservar ao nível geral
de capacidades naturais e impedir a difusão de defeitos graveis. Sobre o princípio da diferença
pode-se dizer ainda que está subordinado tanto ao primeiro princípio quanto ao segundo; isto
significa que ele funciona quando associado aos dois e no interior de instituições de fundos são
satisfeitos. Aqui pressupõe que a cooperação social é produtiva que todos, mais ou menos
favorecidos, participam dela. A ideia é de que o esquema de cooperação dê maior retorno para os
menos favorecidos, qualquer é que seja retorno aos mais favorecidos.

Os cidadãos na posição original não são identificados por sexo, género etc., porque, ao menos se
pretende, na sociedade bem ordenada este pontos de vistas não são valentes, somente o dos
cidadãos representativos iguais e dos representantes das várias faixas e de renda e riqueza.
Roberto Nozick critica o princípio da diferença de Rawls, propondo neste contexto a concepção
do direito a posses justos. Nozick recomenda que se prepare uma lista dos direitos históricos em
ordem de magnitude e que dê o máximo o que alguém tem direito (NOZICK; 1991: 217). Essa
concepção diz que tudo que ganhar honestamente por meio de trabalho duro e acordos justos é
seu. Se todos ganharem legitimamente o que possuem então a atribuição resultante é justa,
independentemente de quão desigual possa ser.

Ninguém tem direito de tirar suas posses, mesmo se os outros tiverem bem menos. Rawls dedica
muita atenção a explicar por que os menos favorecidos não devem queixar-se de receber menos
(…), a explicação em termos simples: é porque a desigualdade age em seu benefício, o indivíduo
menos favorecido não deve queixar-se dela: ele recebe mais no sistema desigual do que obteria
em um igual (NOZICK; 1991: 213). Nozick apresenta uma alternativa assente em direitos
individuais de propriedades, esses direitos são vistos como direitos pré-políticos, onde cada
indivíduo é dono de si mesmo e não propriedade de outrem, isto implica o direito a vida
liberdade de fazer o que quer consigo mesmo, com seu corpo e seus talentos pessoais, ainda o
direito aos haveres. Tanto Rawls como Nozick concordam ao tratar pessoas como iguais, eles
divergem em quais direitos são mais importantes quando o objectivo é tratar os indivíduos como
fim em si mesmo.

Para Rawls, um dos direitos mais importante é o direito acerta parcela dos recursos da sociedade.
Para Nozick, os direitos mais importantes são os direitos sobre si mesmo, ou seja, os direitos
referente a posse de si mesmo. Rawls considera injusto que os menos favorecidos morram de
fome somente porque não tem nada a oferecer aos outros, ou que crianças não têm direito a
escola e assistência médica pública simplesmente porque são oriundas de famílias pobres.

Para Rawls o papel do estado é reparar as desigualdades existentes na estrutura básica da


sociedade. Neste contexto, pode-se concluir que o objectivo da justiça como equidade é dar
condições justas para que os cidadãos tenham uma vida digna e se vejam como iguais dentro
duma sociedade. Rawls dá preferência a tributação das trocas livres para compensar os
desfavorecidos naturais da sociedade.

Para Nozick porém, isto é considerado injusto porque as pessoas são donas de suas posses.
Assim para Nozick a pessoa é livre para gastar e usar o que tem, ninguém tem o direito de o
impedir, mesmo o governo, não tem direito de tirar esses bens, mesmo que seja para impedir que
os menos favorecidos morram de fome. O segundo princípio da justiça, o da igualdade Equitativa
de Oportunidades se aplica a distribuição de renda e riqueza e organizações que se fazem uso de
diferença de autoridade e de responsabilidade.

A distribuição de renda e de riqueza não deve ser necessariamente igual, mas sim vantajosa para
todos, ainda sendo as posições de autoridade e responsabilidade acessíveis a todos. Em sua obra
Justiça e Democracia, Rawls enuncia o segundo princípio da seguinte forma: As desigualdades
sociais e económicas devem preencher duas condições: em primeiro lugar estar ligadas a funções
e a posições abertas a todos, em condições de justa (fair) igualdade de oportunidade e; em
segundo lugar, deve proporcionar o maior benefício aos membros mais desfavorecidos da
sociedade (RAWLS; 2000: 208) Neste caso, o segundo princípio deve ser entendido de duas
formas: a primeira trata-se da igualdade equitativa de oportunidade propriamente dita; já o
segundo trata-se do princípio da diferença, que surge para legitimar a violação de alguns direitos
em função daqueles menos favorecidos.

Segundo Rawls, todos os valores sociais devem ser distribuídos igualitariamente, assim, dada a
cidadania igual, os cidadãos, não importando sua cor, raça, credo ou riqueza devem ter a
oportunidade de alcançar cargos públicos ou políticos, ter acesso a saúde e a educação. A ideia
de que cargos públicos e posições sociais estejam abertos a todos não se faz completa se também
não coexiste uma oportunidade equitativa de ter a cesso a eles. Assim, aqueles que tem o mesmo
nível de talento e de habilidades, bem como a disposição para usar esses dons deveriam ter as
mesmas perspectivas de sucesso independentemente de sua classe social, de origem, da classe
em que se nasceram e desenvolveram até a idade da razão. …aplicabilidade desse princípio tem
que considerar que em todos os sectores da sociedade deveria haver, de forma geral, iguais
oportunidades de cultura e de realização para todos os que são dotados e motivados de forma
semelhante. As expectativas daqueles com as mesmas habilidades e aspirações não devem ser
afectadas por sua classe social (Ibidem, 216) Para que isso se efective, a organização da estrutura
básica deve impedir a concentração de propriedade e de riqueza dos que levam a dominação
política, e devem garantir iguais oportunidades de educação a todos, deve haver uma adequada
distribuição de direitos, para assim impedir a dominação económica, que leva consequentemente,
a dominação política. Deve, ademais, oferecer boas oportunidades de educação e
profissionalização para todas as pessoas, independentemente de sua classe social, a sociedade
deve também estabelecer, entre outras coisas, oportunidades iguais de educação,
independentemente da renda familiar.
No que diz respeito a este princípio de igualdade de oportunidade, Bobbio expressa-se da
seguinte forma: …não passa da aplicação das regras de justiça a uma situação na qual existem
varias pessoas em competição para a obtenção de um objectivo único, ou seja, de um objectivo
que só pode ser alcançando por um dos concorrentes (…) o princípio da igualdade de
oportunidade, quando elevado a princípio geral, tem como objectivo colocar todos os membros
da aquela determinada sociedade na condição de participar da competição pela vida, e pela
conquista do que é vitalmente mais significativo a partir de posições iguais (BOBBIO; 1996: 31).
Bobbio parte do pressuposto de que no princípio de igualdade de oportunidades há vários
concorrentes que obedecem algumas regras de justas, mas o objectivo é alcançado por um dos
concorrentes, como o sucesso numa corrida, vitória num jogo de futebol ou num duelo, ou
mesmo a vitória num concurso qualquer, e permite também que todos os membros da sociedade
participem na competição pela vida e na conquista do melhor a partir de posições equivalentes.

Em Rawls, o princípio da igualdade de oportunidade é aplicado na atribuição de renda e riqueza


e organizações que fazem uso de diferença de autoridade e responsabilidade. A distribuição de
renda não deve ser necessária igual, mas vantajosa para todos, sobretudo aos menos favorecidos.
Para Bobbio todos membros da sociedade participa na competição com objectivo único,
obedecendo certas regras da justiça, mas nem todos têm a cesso a esses objectivos, quem sai
vitorioso é um dos concorrentes, e para Rawls, todos membros da sociedade devem sair
avantajados, mormente o mais desfavorecidos.

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